aumento do desemprego reduz os pagamentos de salário...

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1 Boletim 962/2016 – Ano VIII – 14/04/2016 Aumento do desemprego reduz os pagamentos de salário- maternidade Saída de brasileiras do mercado formal derruba quantidade de benefícios concedidos em 2015; especialista ressalta que opção por adiar a gravidez também tem impacto para o recuo do auxílio São Paulo - No ano passado, o salário-maternidade foi concedido 574.759 vezes, queda de 9% na comparação com 2014, quando o benefício previdenciário foi provido 631.687 vezes pelo governo federal. O recuo do benefício pago pelo governo acompanha o avanço do desemprego no mesmo período, lembra Marilane Oliveira Teixeira, economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Cerca de seiscentas mil mulheres deixaram de trabalhar no ano passado, é natural que o número de benefícios concedidos diminua também", diz. Por enquanto, nos dois primeiros meses deste ano, 100.551 benefícios foram providos pelo governo. O valor é superior ao registrado nos primeiros bimestres de 2014 e 2015 - 96.668 e 92.400, respectivamente, nos dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS). A especialista ressalta que muitos brasileiros, após perder o emprego com carteira registrada, passaram a fazer parte do mercado informal e deixaram de contribuir para a previdência. Assim, mesmo parte da população que segue

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Boletim 962/2016 – Ano VIII – 14/04/2016

Aumento do desemprego reduz os pagamentos de salári o-maternidade Saída de brasileiras do mercado formal derruba quan tidade de benefícios concedidos em 2015; especialista ressalta que opção por adiar a gravide z também tem impacto para o recuo do auxílio

São Paulo - No ano passado, o salário-maternidade foi concedido 574.759 vezes, queda de 9% na comparação com 2014, quando o benefício previdenciário foi provido 631.687 vezes pelo governo federal. O recuo do benefício pago pelo governo acompanha o avanço do desemprego no mesmo período, lembra Marilane Oliveira Teixeira, economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Cerca de seiscentas mil mulheres deixaram de trabalhar no ano passado, é natural que o número de benefícios concedidos diminua também", diz. Por enquanto, nos dois primeiros meses deste ano, 100.551 benefícios foram providos pelo governo. O valor é superior ao registrado nos primeiros bimestres de 2014 e 2015 - 96.668 e 92.400, respectivamente, nos dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS). A especialista ressalta que muitos brasileiros, após perder o emprego com carteira registrada, passaram a fazer parte do mercado informal e deixaram de contribuir para a previdência. Assim, mesmo parte da população que segue

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no batente deixou de receber o benefício. Com o cenário econômico recessivo, a própria decisão de ter filhos pode ser afetada. Segundo Teixeira, é possível que muitas brasileiras estejam adiando a gravidez "para um momento mais favorável, talvez daqui alguns anos". Para 2016, a tendência é que a concessão do benefício continue caindo, aponta Luiz Marcelo Gois, professor de direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O advogado destaca que a maioria dos brasileiros deixa de contribuir para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) após perder o emprego, ainda que essa possibilidade exista.

O valor nominal, sem correção pela inflação, gasto pelo governo federal com a assistência também cresceu. Entre janeiro e fevereiro de 2016, foram destinados R$ 96,875 milhões, ante R$ 79,591 milhões em igual período de 2015. Na comparação entre 2014 e 2015, o valor nominal ficou estável, ainda que a quantidade de benefícios concedidos tenha diminuído no período. No ano passado, a quantia ficou em R$ 496,630 milhões e, em 2014, chegou a R$ 497,372 milhões. Entretanto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida oficial da inflação no País, acelerou 17% durante os dois anos.

Funcionamento

Ainda que a fonte do benefício seja sempre o INSS, Gois explica que a concessão funciona de maneira diferente, de acordo com a situação da requerente. As mulheres que estejam empregadas devem pedir o salário maternidade na empresa em que trabalham, enquanto as outras seguradas pelo INSS devem fazer a requisição na própria instituição. O pedido pode ser feito 28 dias antes do parto. Em caso de adoção ou aborto não-criminoso, o benefício também pode ser concedido. No primeiro cenário, a requisição deve ser feita a partir do momento da adoção e, na segunda possibilidade, a partir da ocorrência do aborto.

Já o valor do salário-maternidade varia de acordo com a situação empregatícia e os ganhos mensais da requerente. As mulheres que estiverem empregadas receberão o salário integral equivalente a um mês de trabalho. Para as seguradas que contribuam facultativamente, o valor será correspondente a um doze avos da soma dos doze últimos salários de contribuição registrados em período inferior a 15 meses. Para Teixeira, o "grande desafio" do salário-maternidade é integrar as mulheres que estejam no mercado informal ao benefício. "São necessárias campanhas mais eficazes, para que as mulheres que trabalham, por exemplo, por conta-própria, comecem a contribuir com a previdência e passem a receber o auxílio".

Desempregadas

As mulheres que deixaram o mercado de trabalho formal e tem, no mínimo, dez meses de contribuição, podem receber o seguro-maternidade, por certo tempo, mesmo sem contribuir para a previdência. Segundo a assessoria do MTPS, "de modo geral, o acesso

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ao benefício continua por um ano, mas o período pode variar de acordo com o tempo e a forma de contribuição". A assessoria informa que o salário-maternidade pode ser protocolado pela internet, no site da previdência, mas os documentos devem ser entregues via correio ou pessoalmente.

Renato Ghelfi

MAN conclui ajustes e agora busca retomada A fabricante dos veículos comerciais da Volkswagen afirma ter feito todas as adequações para se concentrar somente no crescimento. Atualmente, a pl anta de Resende (RJ) opera sem ociosidade São Paulo - Com 80% de ociosidade, a indústria de caminhões continua se adequando. Neste cenário, a líder MAN Latin America (fabricante Volkswagen) saiu na frente e afirma já ter feito todos os ajustes necessários. Agora a meta é retomar o caminho do crescimento. "Já redimensionamos a companhia e nossa obsessão a partir de agora é o crescimento", declarou nesta quarta-feira (13) o presidente da montadora, Roberto Cortes.

A companhia saiu de uma produção recorde de 82 mil caminhões, em 2011, para apenas 18 mil no ano passado. Para se ter uma ideia do tombo do mercado, fabricantes trabalham com uma estimativa de vendas totais, em 2016, de cerca de 60 mil. "Quando fizemos nosso último plano de negócios, não imaginávamos o tamanho da crise atual", pondera Cortes.

Para se adequar ao cenário, a fábrica de Resende (RJ) vem adotando medidas como redução da jornada e adesão ao Programa de Proteção ao Emprego (PPE), entre outras.

Na semana passada, a MAN concluiu seu último programa de demissão voluntária (PDV), com adesão de 400 funcionários. O benefício mínimo é de dez salários, independentemente do tempo de casa, além dos direitos previstos em lei. "Tomamos todas as medidas corretivas necessárias para a sobrevivência da empresa", pondera. "Agora, podemos manter o foco em novos produtos e no crescimento."

A empresa tem capacidade instalada de 400 unidades por dia. Após a eliminação de dois turnos e a redução da velocidade da linha, agora a planta de Resende opera com 110

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unidades produzidas diariamente. "Hoje, a ociosidade é zero na unidade", destaca.

Preço x custos

O presidente da MAN conta que os custos de produção cresceram 50% de 2011 para cá. Além da inflação, a empresa absorveu despesas relacionadas à instalação de tecnologias obrigatórias, como o freio ABS e a nova motorização Euro 5. Ainda assim, os preços apresentaram queda de 6% no mesmo período.

"Por mais que aumentemos a produtividade, os preços continuam com defasagem de no mínimo 20%", revela. "Teremos que repassar ao menos parte do aumento de custos. Todo esse cenário resultou em prejuízo para os fabricantes", pondera Cortes.

A MAN registrou no ano passado o primeiro prejuízo desde que começou a produzir no País em 1996. "Mas agora que estamos ajustados, vamos buscar o lucro. Estamos inclusive negociando com bancos."

Como parte do programa intitulado "Vire a chave", que prevê uma nova fase após os ajustes realizados internamente, a montadora vai priorizar investimentos em novos produtos e na área comercial.

"Vamos entrar em novos segmentos e intensificar a nossa atuação no exterior", garante Cortes. As primeiras ações do programa na área de exportações, conforme apresentação da empresa, mostram que os negócios em andamento giram em torno de 1,2 mil unidades.

A meta da empresa é dobrar o nível de exportações dos atuais 15% da produção para 30% nos próximos três anos. Além disso, internamente a montadora busca alavancar as vendas com ferramentas como o leasing operacional (arrendamento mercantil) para produtos com o selo MAN.

Sobre a retomada do mercado, Cortes diz "ter certeza" de que será rápida uma vez que o cenário político tenha uma definição, seja com o impeachment ou não. "Só de ter um fato novo, o Brasil vai voltar a rodar", avalia.

Juliana Estigarríbia

(FONTE: DCI dia 14/04/2016)

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Bimestre depressivo para a indústria

Entre os primeiros bimestres de 2015 e de 2016, a produção industrial caiu 14,2% em São

Paulo, 15,2% em Minas Gerais, 22,5% no Espírito Santo e 28% em Pernambuco e no

Amazonas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesses

Estados, que representam cerca de 40% da produção industrial do País, a queda superou

a média brasileira (11,8%). As agruras da indústria também foram expressivas em

fevereiro, com queda de 2,5% em relação a janeiro e de 9,8% comparativamente a

fevereiro do ano passado.

Entre 15 Estados pesquisados, 12 mostraram recuo na comparação entre fevereiro de

2015 e fevereiro de 2016 e entre os primeiros bimestres dos dois anos. Quedas superiores

a 10% foram frequentes, mas os números mostram a deterioração dos indicadores. No

acumulado de 12 meses até fevereiro, por exemplo, em cinco Estados a queda superou

10% (Amazonas, Ceará, Pernambuco, São Paulo e Rio Grandes do Sul), enquanto na

comparação entre os primeiros bimestres dos dois anos a queda atingiu dois dígitos em

seis Estados (Amazonas, Ceará, Pernambuco, Minas, São Paulo e Paraná).

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) chamou a atenção para o

recuo generalizado do setor secundário, com destaque para a indústria paulista. Esta, na

avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) relativa a 2014, pesa cerca de 21%

na indústria nacional.

Em São Paulo, segundo o Iedi, houve queda em 64% dos setores industriais e em Minas,

em 77% deles. Os piores números foram registrados em veículos automotores e máquinas

e equipamentos, repercutindo em produtos de metal, borracha e plástico e minerais não

metálicos. Outra determinante da queda é a postergação das decisões de investimento,

em especial em equipamentos de transporte como tratores para reboques e

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semirreboques, caminhões e veículos para transporte de mercadorias.

Os recuos também foram substanciais em bens intermediários e de consumo, tanto

duráveis quanto não duráveis, inclusive medicamentos. A alta real de preços de

medicamentos (em parte, via redução dos descontos para remédios de uso contínuo)

deverá provocar novos impactos negativos na produção do setor.

A indústria ilustra a gravidade da crise. Mesmo que a inflação ceda, a correção de rendas

do INSS e de salários parece insuficiente para que os consumidores recuperem poder

aquisitivo e retomem as compras.

Arno vai fechar fábrica na Mooca e cortar 2 mil vag as Unidade será desativada até outubro de 2017, por qu estões de logística; nova fábrica será em Itatiaia, no sul do Estado do Rio

SÃO PAULO - Há 70 anos no bairro paulistano da Mooca, numa avenida que leva o seu

nome, a Arno, tradicional fabricante de eletroportáteis, está de mudança. A empresa vai

fechar as portas da sua unidade na capital paulista e eliminar cerca de 2 mil empregos

diretos e indiretos para abrir uma nova fábrica no município de Itatiaia, no Rio de Janeiro.

A companhia alega, por meio de nota, que “não é mais viável manter uma fábrica na

região central de São Paulo, com perfil urbano e com dificuldades operacionais e

logísticas”. Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres,

a mudança é mais um capítulo da guerra fiscal que geralmente se acirra em momento de

crise. “Não acredito que seja logística. Estamos pedindo uma audiência com o governador

e o prefeito. Não podemos perder esses empregos.”

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Decepção. Às vésperas da aposentadoria, a metalúrgica Irisma Maria da Silva Souza, de

48 anos, dos quais 15 trabalhando na Arno, está prestes a engrossar o grupo de 10

milhões de desempregados que existem hoje no País. “Estou decepcionada. Com 48

anos, onde vou arrumar emprego? Faltam três anos para me aposentar.” Ela trabalha na

montagem de batedeiras e ganha R$ 1,5 mil. O operador de linha de montagem Everson

Vale da Rocha, de 33 anos, há nove na empresa e que tira R$ 1,2 mil trabalhando na linha

de produção, foi surpreendido na quinta-feira da semana passada quando a administração

comunicou que a fábrica será fechada. “A oferta da Arno foi absurda: meio salário mínimo

para quem tem cinco anos de casa”, reclama.

Torres, do sindicato, diz que a proposta foi recusada pelos trabalhadores. “Demos prazo

até o fim do mês para receber outra, caso contrário, entraremos em greve a partir do dia 2

de maio.” A Arno informa que a desativação da fábrica deve ocorrer por fases, no período

de novembro deste ano a outubro de 2017. A companhia, que antes da invasão chinesa

era sinônimo de eletroportátil, foi comprada pelo Groupe SEB, líder mundial do setor, em

1997. Além da Mooca, tem no País fábricas em São Bernardo do Campo (SP) e em

Jaboatão dos Guararapes (PE). A empresa é dona das marcas Rochedo, Clock, Tefal e

Krups.

Terceirizados da Arno também serão afetados Unidade no bairro da Mooca será desativada e vagas, cortadas; são 2 mil empregados no total, dos quais 800 diretos e 1,2 mil indiretos MÁRCIA DE CHIARA - O ESTADO DE S.PAULO

SÃO PAULO - O fechamento da fábrica de eletroportáteis da Arno em São Paulo , no

bairro da Mooca, preocupa também trabalhadores terceirizados como Gerson Silva dos

Santos, de 19 anos, solteiro e que há dois anos e meio trabalha com mensageiro na

empresa. Ele é contratado pela companhia Poupe Impulse. “Gosto de trabalhar aqui, é o

meu primeiro emprego”, diz Santos. Mesmo como terceirizado, ele tinha planos de

continuar trabalhando numa empresa multinacional. “Agora, não sei como vai ser.”

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O administrador de empresas Bruno Silva, de 26 anos, e que há seis meses trabalha na

Arno como prestador da mesma empresa terceirizada de Santos, também está chateado.

“Todo os trabalhadores estão preocupados com o fechamento da fábrica, tem gente para

se aposentar, outros pagando aluguel. Quanto tempo vai demora para arranjar outro

emprego com essa crise”, diz Silva.

Santos conta que há muitos funcionários antigos na empresa, mas, ao longo dos últimos

meses, a companhia foi enxugando o quadro de pessoal.

A Arno não informa o número de trabalhadores que tem na fábrica da Mooca nem o

faturamento da empresa no País.

Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, são 2

mil empregados na unidade da capital paulista, dos quais 800 diretos e 1,2 mil indiretos.

Trabalhadores da Mabe deixam fábrica em Campinas Ex-funcionários da empresa decidiram deixar fábrica de fogões após ordem judicial de reintegração de posse CLEIDE SILVA - O ESTADO DE S.PAULO

SÃO PAULO - Trabalhadores da Mabe, que ocupavam a fábrica de fogões em Campinas

há quase dois meses, deixaram na quarta-feira, 13, as instalações da empresa

espontaneamente. Havia uma ordem judicial para reintegração, mas eles decidiram, em

assembleia, sair por questões de segurança. “Havia riscos de violência e até mortes se a

Polícia entrasse”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Sidalino Orsi Júnior.

A unidade de Hortolândia, que produzia geladeiras, foi desocupada no dia 3. As duas

fábricas do grupo mexicano Mabe, dono das marcas Dako, GE e Continental, foram

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ocupadas em 15 de fevereiro, logo após a decretação da falência da empresa, que demitiu

seus 1,9 mil trabalhadores sem pagar salários atrasados e rescisões. Uma média de 80 a

100 funcionários permaneciam diariamente dentro das unidades.

Em audiência na sexta-feira na 2.ª Vara Cível de Hortolândia ficou acertado que a Capital

Administradora Judicial – que cuida da massa falida – pagará cinco salários mínimos para

cada trabalhador, conforme prevê a lei, assim que for liberado, nos próximos dias, R$ 14

milhões (de um total de R$ 100 milhões) em depósitos fiduciários realizados pela Mabe.

A dívida do grupo é estimada em R$ 42,7 milhões (R$ 19,2 milhões com fornecedores, R$

19 milhões com trabalhadores e R$ 4,5 milhões com matérias-primas).

Serão criadas também duas comissões de trabalhadores de ambas fábricas que vão

acompanhar a administradora nos trabalhos de levantamento dos bens do grupo. Serão

ainda dadas baixa nas carteiras profissionais dos funcionários.

De acordo com a Capital, após essa etapa será realizada assembleia com os credores

habilitados na massa falida (fornecedores e trabalhadores) para decidir o futuro da

empresa. Será avaliado se o que sobrou em ativos será leiloado ou reativado em uma

nova fábrica.

Inicialmente, a massa falida pretendia retomar parcialmente a produção, com menos da

metade dos funcionários, para tentar fazer caixa, mas o sindicato não aceita a proposta.

“Só aceitamos se todos os trabalhadores voltarem”, afirmou Orsi. Segundo ele, se os

salários não forem pagos integralmente, os trabalhadores voltarão se mobilizar.

O responsável pela massa falida informou que, paralelamente a essas ações, os

acionistas e diretores da Mabe responderão pela falência. A administradora já entregou à

Justiça a relação de executivos que devem ser intimados.

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Desemprego entre executivos chega a 20% no País Pesquisa da Hays mostra que, em dezembro de 2015, t axa de desocupação em cargos mais altos, de analistas a presidentes, dobrou em relação ao ano a nterior RENATO JAKITAS - O ESTADO DE S. PAULO Se as estatísticas gerais de desemprego no Brasil estão hoje em cerca de 9%, a situação parece ainda mais difícil para os profissionais que atuam em cargos de média e de alta gestão. Levantamento da consultoria de recursos humanos britânica Hays, em parceria com a ESPM, aponta que 20% dos analistas, gerentes e presidentes de empresas instaladas no País chegaram ao fim de 2015 desempregados. O dado é o mais alto da série histórica, iniciada há cinco anos, e mostrou que o total de profissionais sem vagas nos mais altos níveis hierárquicos mais do que dobrou em um ano. O estudo ouviu 3,2 mil executivos de 400 empresas de grande, médio e de pequeno portes pelo Brasil, com concentração de 83% das respostas na região Sudeste. O universo dos entrevistados contemplou 32% de analistas e especialistas, 53% de coordenadores e gerentes e 15% de diretores e presidentes. Salários. O estudo mostrou também que, entre os entrevistados que se mantiveram no emprego, sete em cada dez tiveram perda real de salário no ano passado. Segundo a pesquisa, 72% tiveram aumento salarial de até 10% - abaixo do acumulado da inflação oficial, de 10,67%. Em 2014, 46% dos entrevistados haviam tido perdas salariais. Na opinião da gerente sênior da Hays, Caroline Cadorin, os dados só vieram confirmar o que o mercado já sentia na prática. “É a realidade que a gente sente no nosso dia a dia. Essa é uma pesquisa que representa bem a realidade nacional e, no ambiente corporativo, mostra o movimento de corte de empregos e redução de custos para tentar contornar a crise.”

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Além da taxa de desocupação, Caroline chama a atenção para uma movimentação que a executiva considera atípica dentro das corporações, marcada sobretudo por um rearranjo organizacional. “A gente capturou um movimento de ‘juniorização’ de profissionais. Algumas empresas cortaram posições ocupadas por profissionais sênior para substituí-los por funcionários menos experientes, que ganham menos”, diz Caroline. Ao longo de 2015, 37,18% dos profissionais demitidos tinham acima de 51 anos. “Mas a estratégia teve seu preço. Algumas empresas observaram que a ‘juniorização’ traz uma economia imediata, mas não se sustenta no médio prazo”, diz a especialista, que já observa um retorno na procura por profissionais mais experientes para algumas vagas em aberto. Outra tendência, apontou a Hays, foram os acúmulos de função. “O que percebemos é que o mercado teve muita movimentação lateral, pessoas assumindo mais áreas, mas sem reflexo no aumento de salário”, ressalta a gerente da Hays. Benefícios. Para compensar a falta de atratividade dos programas de remuneração, as empresas têm ampliado benefícios. Segundo Gabriel Vouga Chueke, coordenador do Observatório das Multinacionais Brasileiras da ESPM, a pesquisa retrata o retorno de algumas políticas, como a de oferta de carros corporativos. “Houve um curioso aumento de 26% de oferta de carros corporativos entre 2014 e 2015. O trabalho remoto também cresceu bastante: 10%.”

(FONTE: Estado SP dia 14/04/2016)

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