aumentar os rendimentos e produtividade...

21
39 4. AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE AGRÍCOLAS A I MPORTÂNCIA DA AGRICULTURA NA ECONOMIA 4.1 Timor Leste é um país pequeno (19.000 km2) e montanhoso, escassamente povoado, com diversas características geográficas que o tornam menos que ideal para a produção agrícola – terrenos rochosos e de fácil erosão; solos pobres e precipitação variável, frequentemente imprevisível. Mesmo assim, a economia é predominantemente agrícola, com cerca de 75% da população a viver em zonas rurais, onde praticam agricultura de subsistência ou de pequena escala de arroz, milho, legumes, árvores de fruto e gado. As estimativas para 2000 indicam que a percentagem da agricultura no PIB não petrolífero é de cerca de 26%. 4.2 A maior parte da terra de Timor Leste é dominada pela produção de subsistência de alimentos básicos, tais como mandioca, arroz e batata doce para consumo doméstico. A área estimada cultivada é de 120.000 hectares para milho, 91.000 ha para mandioca e 39.000 ha para arroz. 1 As outras culturas incluem o café (89.000 ha). A maior parte da terra não é utilizada intensivamente e existe potencial para se aumentarem as culturas, as pastagens e a criação de gado. Dos 600.000 ha estimados de terra arável somente se cultivam 40%. Pode existir ainda potencial para diversificar as culturas para consumo local e, possivelmente, para exportação. Grande parte da costa sul é plana, mas a utilização da terra nesta zona é limitada pela disponibilidade errática de água para irrigação e pelo acesso rodoviário deficiente a mercados. A precipitação é abundante mas sazonal, correndo livremente para o mar. A construção de sistemas para captura de água é difícil, porque as chuvas são torrenciais e os cursos de água são instáveis e itinerantes. Assim, muitos agricultores vivem nas terras altas e a grande maioria usa sistemas diversificados de cultura para assegurar a segurança alimentar: cultura itinerante (por abate e queimada) de colheitas irrigadas pelas chuvas, principalmente de milho; cultura de arroz (nas zonas mais baixas e planas); hortas de legumes, mandioca, feijão e milho; galinhas, porcos e, por vezes, búfalos; colecta de produtos florestais, tais como tamarindo, noz molucana, madeira de sândalo e inhames. Nas terras altas também se encontram plantações de café e os cocos encontram-se nas terras baixas. 4.3 Os sistemas de produção agrícola sobrepõem-se, com uma família envolvida em três ou mais actividade agrícolas. As condições climáticas permitem uma cultura de milho e uma ou duas de arroz por ano, bem como uma variedade de legumes, raízes e tubérculos. A precipitação normal de monção cai entre Dezembro e Março, período em que cai mais do que metade da precipitação anual. Mas mesmo durante este período a distribuição pode ser desigual e as secas são comuns. A topografia montanhosa origina uma diversidade de microclimas, que afectam a produção. O arroz geralmente é plantado 1 Grupo de Trabalho de Agricultura do Ministério da Agricultura, Pescas e Florestas: Análise Preliminar do Inquérito aos Núcleos Familiares de Timor Lorosa’e, Março de 2002.

Upload: trannhan

Post on 02-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

39

4. AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE AGRÍCOLAS

A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA NA ECONOMIA

4.1 Timor Leste é um país pequeno (19.000 km2) e montanhoso, escassamente povoado, com diversas características geográficas que o tornam menos que ideal para a produção agrícola – terrenos rochosos e de fácil erosão; solos pobres e precipitação variável, frequentemente imprevisível. Mesmo assim, a economia é predominantemente agrícola, com cerca de 75% da população a viver em zonas rurais, onde praticam agricultura de subsistência ou de pequena escala de arroz, milho, legumes, árvores de fruto e gado. As estimativas para 2000 indicam que a percentagem da agricultura no PIB não petrolífero é de cerca de 26%.

4.2 A maior parte da terra de Timor Leste é dominada pela produção de subsistência de alimentos básicos, tais como mandioca, arroz e batata doce para consumo doméstico. A área estimada cultivada é de 120.000 hectares para milho, 91.000 ha para mandioca e 39.000 ha para arroz. 1 As outras culturas incluem o café (89.000 ha). A maior parte da terra não é utilizada intensivamente e existe potencial para se aumentarem as culturas, as pastagens e a criação de gado. Dos 600.000 ha estimados de terra arável somente se cultivam 40%. Pode existir ainda potencial para diversificar as culturas para consumo local e, possivelmente, para exportação. Grande parte da costa sul é plana, mas a utilização da terra nesta zona é limitada pela disponibilidade errática de água para irrigação e pelo acesso rodoviário deficiente a mercados. A precipitação é abundante mas sazonal, correndo livremente para o mar. A construção de sistemas para captura de água é difícil, porque as chuvas são torrenciais e os cursos de água são instáveis e itinerantes. Assim, muitos agricultores vivem nas terras altas e a grande maioria usa sistemas diversificados de cultura para assegurar a segurança alimentar: cultura itinerante (por abate e queimada) de colheitas irrigadas pelas chuvas, principalmente de milho; cultura de arroz (nas zonas mais baixas e planas); hortas de legumes, mandioca, feijão e milho; galinhas, porcos e, por vezes, búfalos; colecta de produtos florestais, tais como tamarindo, noz molucana, madeira de sândalo e inhames. Nas terras altas também se encontram plantações de café e os cocos encontram-se nas terras baixas.

4.3 Os sistemas de produção agrícola sobrepõem-se, com uma família envolvida em três ou mais actividade agrícolas. As condições climáticas permitem uma cultura de milho e uma ou duas de arroz por ano, bem como uma variedade de legumes, raízes e tubérculos. A precipitação normal de monção cai entre Dezembro e Março, período em que cai mais do que metade da precipitação anual. Mas mesmo durante este período a distribuição pode ser desigual e as secas são comuns. A topografia montanhosa origina uma diversidade de microclimas, que afectam a produção. O arroz geralmente é plantado

1 Grupo de Trabalho de Agricultura do Ministério da Agricultura, Pescas e Florestas: Análise Preliminar do Inquérito aos Núcleos Familiares de Timor Lorosa’e, Março de 2002.

Page 2: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

40

nas zonas mais baixas e quentes, o milho domina as altitudes médias e as culturas de tubérculos encontram-se a altitudes mais elevadas.

4.4 A criação de gado, as pescas e as indústrias florestas não se encontram bem desenvolvidas e contribuem relativamente pouco para o PIB, embora tenham um papel importante na subsistência e na cultura.

4.5 O café e (anteriormente) algum gado vivo são os únicos produtos agrícolas que se exportam. A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade criaram um imperativo para a reabilitação rápida da capacidade agrícola, tanto por razões de segurança alimentar como por razões de geração de rendimentos.

4.6 A Tabela 4.1 apresenta uma desagregação da contribuição do sector agrícola para o PIB de Timor Leste.

Tabela 4.1. Contribuição da Agricultura para o PIB Rural, 1993 & 1999

1993 1999

Subsector Quota (%) Quota (%)

Culturas alimentares 64 61 Culturas não alimentares 20 27 Gado 13 8 Silvicultura 1 2 Pescas 2 2 TOTAL 100 100

Fonte: Autoridade Central Fiscal, ETTA, 2001 Os Sistemas Agrícolas Principais 4.7 Em resposta a uma larga variedade de formações de terreno, solo e clima, os agricultores desenvolveram sistemas agrícolas diversificados para assegurarem a segurança alimentar. Os sistemas tradicionais de produção agrícola geralmente utilizados pelos agricultores de Timor Leste são:

• Cultura itinerante de culturas irrigadas pelas chuvas, principalmente de milho; • Cultura de arroz nas terras baixas, quer irrigado pelas chuvas, quer por irrigação; • Hortas com culturas irrigadas pela chuva de milho, mandioca e feijão, bem como

galinhas, cabras e porcos; • Produção de bovídeos de Bali e de búfalos, também utilizados para revolverem os

arrozais em preparação para o plantio (a técnica de fazer circular muitos animais no campo, chamada rencah) e

• Colecta de produtos florestais, tais como tamarindo, noz molucana, lenha e alimentos de longa duração tais como inhames.

4.8 Para além destes sistemas de produção, algumas zonas têm plantações extensivas de culturas arvenses – café nas terras altas e cocos nas terras baixas. Algumas são grandes plantações estabelecidas pelos portugueses, mas a maioria são plantações de pequenos agricultores. Os sistemas agrícolas sobrepõem-se, sendo a cultura itinerante a actividade

Page 3: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

41

dominante. Nalgumas zonas do país a cultura itinerante pratica-se numa base sustentável, mas noutras zonas a densidade demográfica (mais do que 50 habitantes por hectare) é demasiado alta para uma cultura itinerante sustentável. Isto faz com que tenha que se promover a conservação e o reassentamento, tal como se aborda mais à frente.

4.9 Geralmente, as hortas têm cerca de 0,25 ha e concentram-se à volta da maioria das povoações rurais.2 Nalgumas zonas funcionam bem e são muito produtivas; noutras parecem ser mais ao acaso. As diferenças relacionam-se com o clima e com a etnia. As hortas também têm árvores frutíferas e pequenos animais. O milho é geralmente consumido pelo agregado familiar, enquanto que a maior parte das culturas de tubérculos se dá aos animais. A estação húmida curta e pouco fiável limita o desenvolvimento das hortas e nas zonas mais secas as cabras substituem os porcos como animal de eleição.

4.10 A cultura do arroz nas zonas alagadas pode ser irrigada ou somente regada pelas chuvas. O milho cultiva-se nas zonas mais elevadas no início da estação das chuvas e a preparação da terra para o arroz verifica-se depois. Depois do arroz estar plantado os agricultores retornam às suas terras altas de cultura itinerante para colherem o milho, antes de regressarem aos arrozais para colher o arroz. Com este sistema, condições climáticas pouco favoráveis para uma cultura, são compensadas por condições favoráveis para a outra. A meta do agricultor não é intensificar a produção, mas sim garantir a segurança alimentar através da diversificação. Mesmo assim, os resultados preliminares do inquérito à pobreza de 2001-02 indicam que 30% dos núcleos familiares continua a ter escassez alimentar durante os tradicionais ‘meses de fome’ (Novembro a Fevereiro) entre as colheitas do arroz e do milho.

Desenvolvimento Pós-Conflito

4.11 Depois do voto para a independência em Agosto de 1999, os adversários da independência lançaram uma violência generalizada em Timor Leste. Muitas pessoas foram mortas e muitas outras foram forçadamente deslocadas para Timor Ocidental. As casas e as propriedades foram queimadas e saqueadas. A agricultura, que já sofria de negligência devido à interrupção política, sofreu mais um golpe quando o gado para consumo e para tracção foi destruído ou removido para Timor Ocidental, quando a maquinaria agrícola e de processamento foi destruída ou roubada, quando os insumos agrícolas (fertilizantes, pesticidas, alfaias) foram removidos ou queimados, quando as existências alimentares e de sementes foram saqueadas e quando os mercados urbanos locais foram incendiados. A maior parte das famílias agrícolas guardava as culturas nas suas casas e assim, o incêndio de aldeias e casas rurais destruíu exis tências vitais de alimentos e de sementes. Só as sementes que se encontravam nas árvores ou enterradas é que sobreviveram e mesmo assim, algumas destas foram consumidas durante a crise, aumentando ainda mais a escassez de sementes para a estação agrícola seguinte. Devido ao grande número de pessoas deslocadas, a falta de mão de obra também constituíu um obstáculo à preparação da terra e à cultura. O Departamento de Agricultura foi saqueado e cerca de 80% do seu pessoal partiu para a Indonésia e nunca regressou. As estradas e as pontes rurais não foram mantidas e tornaram-se intransitáveis, isolando assim os

2 O tamanho médio dos lotes cultivados é de 0,6 – 0,9 ha por núcleo familiar, mas inclui outros lotes para além das hortas.

Page 4: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

42

agricultores dos mercados e das fontes de fornecimento de insumos. Em resultado destas diferentes causas provocadas pelo conflito, a vida rural foi gravemente interrompida e a produção agrícola grandemente reduzida. No início do novo milénio Timor Leste estava ameaçado com desnutrição e fome.

4.12 Depois das hostilidades, a reconstrução do sector agrícola tornou-se num imperativo importante. Este período de reabilitação beneficiou de uma grande infusão de assistência dos doadores e de ONG durante os períodos de emergência e de pós-emergência.

4.13 Em resultado:

• Evitaram-se a fome e a desnutrição, devido à tradição de solidariedade e de partilha nas comunidades, à disponibilidade de culturas tradicionais de longa duração (mandioca) e de alimentos silvestres (sago) e à distribuição gratuita (muitas vezes por helicóptero para zonas remotas) de arroz, óleo de cozinha e outros produtos alimentares fornecidos por agências nacionais e internacionais de auxílio;

• Tem-se verificado uma reconstrução considerável e reposição de infraestruturas rurais e de instalações de processamento agrícola, tais como maquinaria de processamento de café, moinhos de arroz e debulhadoras de milho;

• Muitos agricultores de origam indonésia que se estabeleceram em Timor Leste ao abrigo de esquemas de irrigação deixaram a província, deixando a terra para os seus proprietários originais;

• O Ministério da Agricultura, Pescas e Florestas (MAPF) estabeleceu o pessoal na sua sede e nos distritos, para gerir a reconstrução do sector agrícola.

4.14 Depois da enorme queda de produção em 1998, reflexo de uma seca, e de 1999 devido às disrupções, existe uma incerteza considerável sobre as tendências intermédias da produção (Tabela 4.2). As estimativas do MAPF para a colheita de 2001 indicam uma recuperação total dos níveis de pré-conflito (1997) para a maioria da culturas – com o arroz e o milho a excederem os níveis de 1997. Contudo, as estimativas preliminares do inquérito aos núcleos familiares indicam uma produção e um rendimento das culturas consideravelmente mais baixos durante Agosto de 2000 a Agosto de 2001.3 Embora os sistemas de irrigação tenham sido reabilitados, grandes áreas de terras irrigadas podem ainda necessitar de reabilitação. A recuperação da produção agrícola tem ainda sido limitada pelas dificuldades persistentes de comercialização e, nalgumas zonas, pela falta de preparação do solo.

4.15 A produção de grãos verdes de café manteve-se quase inalterada pelo conflito, mas a destruição da capacidade de processamento e a falta de manutenção rodoviária

3 Dadas as metodologias diferentes, é difícil inferir uma tendência a partir dos dados da Tabela 4.2 e estes devem ser abordados com precaução. É possível que os dados indonésios estivessem inflaccionados e, como as estimativas do MAPF para 2001 foram baseadas nos dados indonésios, estas podem também estar demasiado altas. Além disto, a experiência recente sugere que a taxa de moagem em Timor Leste se encontra mais próxima de 50% do que dos 65% do passado. Isto pode reflectir a deterioração da capacidade de processamento depois da colheita.

Page 5: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

43

causaram inicialmente problemas graves. As cooperativas que processam café fizeram enormes esforços para reporem as fábricas destruídas ou equipamentos roubados e para readquirirem as existências roubadas. A produção em 2001 parece estar, pelo menos, aos níveis pré-conflito.

4.16 A produção de pequenos animais parece ter recuperado. Galinhas, porcos e cabras vêem-se novamente tanto nas zonas rurais como urbanas. Os búfalos e os bovídeos de Bali estão a ser importados sob o ARP e outros foram trazidos dos esconderijos nas montanhas, mas os números totais de animais de porte continuam abaixo dos níveis de antes de 1999.

Tabela 4. 2: Produção Agrícola, 1997 e 2001

1997 2000-2001

Dados Indonésios Dados do MAPF Dados do TLHS

Culturas alimentares

Produção(TM) Rendimento (MT/ha)

Produção(TM) Rendimento (MT/ha)

Produção (TM)

Rendimento

(MT/ha)

Arroz 35.9791 2,7 38.340 2,9 28.927 1,30 Milho 95.0002 1,8 113.527 2,0 68.959 0,57 Amendoim 3.200 1,0 3.301 1,1 1.677 0,51 Feijão de soja 1.200 0,8 821 0,39 Mandioca 66.500 4,0 68.237 4,2 55.349 0,61

Batata doce 16.200 3,9 43.976 4,1 31.663 0,47 Culturas arvenses

Café 9.700 0,20 9.491 0,405 14.984 0,52 Coco 9.900 0,20 8.040 0,702 2.137 1,01 Noz molucana 690 0,20 1.063 0,472 Cacau 42 0,08

Cravinho 12 0,05 Gado Cabeças Galinhas locais 585.355 350.422 Frangos 503.183 NA

Cabras 202.934 131.125 Porcos 362.473 23.912 Vacas 146.557 96.662 Búfalos 73.818 48.452 Cavalos 32.792 20.396

Fontes: Gabinete Central de Estatística da Indonésia, 1998, Serviço de Pecuária da Província de Timor Leste,1998, e UNTAET, estimativas do Ministério da Agricultura, Pescas e Florestas (MAPF), Inquérito aos Núcleos Familiares de Timor Lorosa’e (2001). Números para gado da JICA (2002) O Estudo Integrado do Desenvolvimento Agrícola de Timor Leste. 1 Toma em consideração as estimativas oficiais indonésias de produção de arroz e 50% de taxa de moagem. 2 Esta é uma estimativa revista pelos peritos do MAPF da produção de milho de 1997.

Page 6: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

44

4.17 A produção das hortas também parece ter recuperado, mas lentamente. Embora as árvores de fruto e as culturas de raiz continuem produtivas, as sementes para as culturas anuais não têm estado disponíveis, ou são demasiado caras para os núcleos familiares empobrecidos e sem rendimento em numerário.

ENQUADRAMENTO DE M ÉDIO PRAZO E PRINCÍPIOS

4.18 A reconstrução da agricultura de Timor Leste e o desenvolvimento do resto do sector rural vai levar muitos anos e necessita de assistência externa considerável. Vai ainda necessitar que os agricultores de Timor Leste e os funcionários governamentais adoptem novos hábitos de pensamento.

4.19 Antes do voto para a independência, o governo central indonésio tinha um papel considerável na agricultura de Timor Leste. O governo central fixava os preços pagos pelos consumidores pelos produtos agrícolas básicos e ga rantia rendimentos destes produtos aos agricultores. Também controlava a distribuição dos insumos agrícolas, quer produzindo-os em empresas estatais, quer comprando-os e distribuindo-os, ou através de mecanismos de preços subsidiados. O serviço de extensão agrícola era prestado gratuitamente, mas o comércio interno era fortemente regulado.

4.20 Timor Leste tem a oportunidade de criar um ambiente capacitador, que permita que os agricultores decidam por si o que produzir a como comercializar aquilo que produzem. Este ambiente vai ainda permitir que Timor Leste desenvolva um enquadramento de política agrícola baseado nas melhores práticas globais. Neste novo ambiente, o governo tornar-se-ia o “capacitador” ou “facilitador” do desenvolvimento agrícola e não num mecanismo dominante de tomada de decisões nem no fornecedor de insumos e serviços agrícolas. Depois do período de transição, o seu papel pode bem ser limitado a determinar e a implementar uma política agrícola, supervisionando e financiando os investimentos agr ícolas do governo, estabelecendo e impondo um enquadramento regulatório “leve” (principalmente na gestão dos recursos naturais e nos requisitos de quarentena) e prestando serviços tais como vacinação, recolha e análise de dados, pesquisa adaptativa sobre produtos agrícolas e educação agrícola.

4.21 A adopção de um enquadramento destes baseia-se numa avaliação da capacidade limitada, que não permite o sucesso de intervenções governamentais mais agressivas; na escassez de recursos para poder fazer estas intervenções numa base contínua e na evidência de outras economias pequenas e abertas, que beneficiaram por se regularem pelos sinais do mercado e pelos preços internacionais para orientarem as decisões dos agricultores. Mais ainda, tendo desmantelado o sistema anterior de preços regulados para os insumos e para a produção, parece não haver razão para se retornar a um sistema que é inadequado para as circunstâncias de Timor Leste. Se o arroz deve ou não constituir um caso especial durante a transição, discute-se em pormenor mais abaixo.

4.22 Os princípios seguintes para o médio prazo podem ser um guia útil para Timor Leste na formação do seu novo sistema agrícola – desde que se mantenham em mente características institucionais específicas e o potencial para falhas de mercado:

Page 7: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

45

• A agricultura vai continuar a ser a fonte mais importante de rendimentos para a maioria da população e a principal actividade económica em Timor Leste.

• A produção agrícola e as decisões de preços devem ser tomadas pelo sector privado envolvido na agricultura: agricultores, bancos, empresários, fornecedores e comerciantes. Uma abordagem destas minimiza a procura de recursos governamentais, bem como as oportunidades de corrupção para os funcionários públicos. Esta abordagem implica que tanto o comércio interno como o comércio externo devem ficar relativamente livres de tarifas, quotas e taxas, de forma a permitir que os produtores decidam os seus preços com base nos preços predominantes.

• Se a intervenção pública for apropriada, o modelo deve ser o de financiamento público e prestação privada. Por exemplo, o governo pode querer apoiar actividades de meios de comunicação ou de extensão. Pode fazer isto contratando agentes privados de extensão ou ONG para prestarem estes serviços (tal como o MAPF está actualmente a fazer com as campanhas de vacinação).

• O governo não deve ser dono de empresas geradoras de rendimento, tais como matadouros, armazéns, silos, estaleiros de tractores, ou centros de serviços e equipamentos rurais.

• O desenvolvimento e construção de projectos de infraestruturas físicas ao nível da comunidade devem ser orientados por processos participativos.

4.23 As secções seguintes usam estes princípios como orientação ao abordarem as questões principais do sector rural em Timor Leste, bem como para destacar as actividades prioritárias em que a comunidade doadora se deve envolver ao longo do período de transição.

QUESTÕES DE POLÍTICA NA AGRICULTURA

O Papel do Governo na Agricultura 4.24 Apesar da aceitação geral de um enquadramento que utilize os sinais de preços para orientar a atribuição de recursos, as decisões de investimento e para recompensar os factores de produção, existe um enorme debate sobre a rapidez com que se pode estabelecer uma economia e o papel do governo em orientar e regular os mercados que resultem. Tal como é evidente pela falta de mercados espontâneos para os produtos agrícolas em Timor Leste, os mercados e as instituições (principalmente para a agricultura) levam tempo a desenvolver. É portanto bastante útil reflectir sobre políticas de transição que o governo pode utilizar para auxiliar um desenvolvimento da agricultura, consistente com a meta de longo prazo de um apoio principal em decisões privadas baseadas nos preços internacionais. Isto vai requerer uma disciplina considerável, um enquadramento e prazos claros e um plano de comunicações, para que as pressões políticas não sobrecarreguem a estratégia, quando se considerar a transição completada.

4.25 Tal como o governo e o grupo de doadores internacionais reconheceram, uma das prioridades do período de transição era a necessidade de aumentar a produtividade agrícola que, tradicionalmente, era baixa (Tabela 4.3). Esta é uma altura em que fundos públicos excepcionalmente grandes estão a ser direccionados para a comunidade rural.

Page 8: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

46

São apropriadas despesas públicas únicas para reabilitar e melhorar estradas, pontes, áreas irrigadas, edifícios públicos nas zonas rurais, saneamento e fornecimento de água e de comunicações, mas estas devem ser acompanhadas de planos viáveis para a sua manutenção contínua, quer pelas comunidades com ou sem pagamento do governo, quer pelo sector público. Mas existem ainda mais acções que podem ser justificadas a curto prazo. Pode ser necessário que o governo ajude na reconstrução de armazéns de consumo alimentar; que organize a disponibilidade de fornecimento de insumos em centros regionais, se não surgirem importadores espontâneos e que isente os insumos agrícolas de tarifas de importação; que eventualmente alugue camiões a comerciantes no curto prazo até que eles estabeleçam os seus negócios e que ajude o estabelecimento de serviços bancários rurais. A ideia é restabelecer ou formar o mais rapidamente possível ligações comerciais para os núcleos familiares agrícolas. A secção seguinte sobre as necessidades de assistênc ia e financiamento dos doadores e a Tabela 4.4 dão mais pormenores sobre os programas existentes de assistência de doadores.

4.26 No prazo mais alargado, o governo vai querer ter estabelecidos os fundamentos (investimentos, leis, regulamentos, políticas e boas actividades públicas) que definem o ambiente capacitador para a agricultura. Os investimentos devem incluir o restabelecimento de estações de pesquisa adaptativa e de unidades de formação agrícola, bem como a prestação de serviços de extensão para a agricultura, a gestão de solos e a gestão da auto-suficiência dos núcleos familiares rurais. O governo vai querer estabelecer regras e regulamentos para a agricultura, pecuária, silvicultura, pescas, gestão dos solos, gestão de recursos e conservação. Sempre que possível, o governo deve adaptar regulamentos e políticas existentes utilizadas por outros países como o seu próprio padrão, em vez de criar novos regulamentos por si. Um exemplo pode ser a política de competição. Mais ainda, seria aconselhável reconhecer o procedimento de testes e certificação de outros países, tais como a Austrália, de forma a que Timor Leste não tenha que estabelecer instituições que, de outra forma, seriam necessárias para realizar a sua própria certificação de produtos agrícolas.

4.27 É provável que os subsídios estrangeiros para a agricultura ao longo de 2000-05 sejam consideráveis – excedendo os $10 milhões somente no ano fiscal de 2001-02. É provável que estes subsídios estrangeiros sejam um acontecimento único e, como tal, devem ser utilizados para estabelecer o enquadramento e a infraestrutura para uma agricultura forte e para o desenvolvimento sustentável a prazo mais alargado do sector.

4.28 As metas principais da política governamental devem incluir o alcance de:

• segurança alimentar através de melhorias na produção de um conjunto diverso de alimentos básicos e a restauração dos armazéns familiares e das aldeias.

• melhorias na produção de culturas e animais e na promoção de mercados internos e de alternativas de geração de rendimentos, capazes de gerar rendimento monetário para as comunidades de subsistência.

• melhorias nos sistemas de agricultura itinerante nas terras altas, que melhorem o nível de vida e reduzam a degradação ambiental. Contudo, seria um erro transformar os agricultores itinerantes em agricultores sedentários demasiado cedo. Muitos dos que estão envolvidos na agricultura itinerante em Timor

Page 9: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

47

Leste utilizam métodos sustentáveis e existe evidência de que, no passado, os extensionistas deram maus conselhos a estes agricultores.

Aumentar a Protecção para o Arroz? 4.29 Embora a produção de muitas culturas tenha grandemente recuperado para os níveis anteriores a 1999, o ajuste para os rizicultores parece ter sido particularmente traumático, ou pelo menos, mais publicitado. Embora a produção de arroz em 2001 tenha excedido a produção de 1999 ou de 2000, os agricultores enfrentaram dificuldades na venda dos excedentes, pois as redes de distribuição e comercialização de arroz importado em Dili e nas comunidades das terras altas se encontram mais desenvolvidas. Os produtores locais de arroz enfrentam dificuldades de acesso a mercados, particularmente devido à falta de processamento pós colheita, principalmente embalagem para transporte, bem como pouca familiaridade com a distribuição e com os mercados, dado o sistema regulado anterior. A falta de lojas para compra de insumos e o acesso inadequado a crédito também representam obstáculos significativos. Em contraste, o preço do arroz importado, ao nível do retalhista, não tem sido abaixo dos preços locais – embora isto possa reflectir margens mais altas e lucros maiores para os distribuidores de arroz importado – e o arroz doado gratuitamente e de contrabando reduz a capacidade dos agricultores locais para venderem os seus excedentes.4

4.30 O Anexo 2 fornece mais detalhes sobre as características da produção de arroz e das limitações à comercialização do arroz local no país. Os pontos seguintes resumem o anexo:

• A maior parte da população de Timor Leste é consumidora líquida de arroz, quer local quer importado. Os consumidores/compradores líquidos de arroz dividem-se em diversas categorias, incluindo:5 (i) os pobres das terras altas rurais; (ii) população das terras altas com rendimentos mais elevados provenientes, por exemplo, de café; (iii) não rizicultores das terras baixas, incluindo a população das cidades provinciais e de Dili.

• Os obstáculos principais à melhoria das venda de arroz local nos mercados de Timor Leste, incluem: (i) processamento pós colheita, embalagem e armazenagem disfuncionais; (ii) problemas de distribuição, incluindo redes, estradas e infraestrutura de transporte; (iii) custos de produção do arroz local provavelmente mais elevados do que o arroz importanto, uma vez que a produção estrangeira de arroz é subsidiada.

• A decisão de consumir arroz ou milho não é fixa e parece depender da disponibilidade e do preço; mesmo assim, a maioria das pessoas prefere arroz. Assim, as quotas de consumo de milho e de arroz variam: calcula-se que as comunidades das terras altas consomem 70% de milho e 30% de arroz, enquanto que as quotas de consumo nas terras baixas são de cerca de 50% cada.

4 Existem relatos de grandes quantidades de arroz a serem contrabandeadas através da fronteira a ocidente e por barcaças no leste. 5 Excluindo a comunidade estrangeira, que se espera que diminua e não deve ser um factor na formulação de políticas.

Page 10: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

48

• O consumo actual de arroz está calculado em 78.000 toneladas por ano. A produção local está calculada em 29.000 toneladas (em 2001) e o arroz importado actualmente está em cerca de 50.000 toneladas. A produção, o consumo e as importações foram interrompidas após a violência de 1999, mas a produção recompôs-se e parece estar a voltar aos níves anteriores a 1999; pensa-se que o consumo seja mais elevado do que os níveis anteriores a 1999.

• As importações de arroz são feitas mais por comerciantes privados que respondem a forças de mercado, do que por agências governamentais, doadores ou contrabandistas. Cerca de 57% das importações dos comerciantes vieram do Vietname, 35% da Indonésia e 8% da Tailândia, de acordo com os dados de Controle de Fronteiras da ONU.

• Os preços de retalho do arroz local tendem a ter margens mais baixas do que o arroz estrangeiro. O arroz importado é ligeiramente mais caro nas zonas rurais incluindo o centro, as terras altas e algumas zonas urbanas nos distritos. O arroz importando é mais barato nas zonas urbanas, incluindo Dili/Baucau e no ocidente.

4.31 Para responder às dificuldades enfrentadas pelos rizicultores, o impulso da política deve ser a abordagem de problemas específicos que prejudicam os rizicultores – processamento pós colheita, embalagem, comercialização, acesso a crédito e facilitação da disponibilidade de insumos juntamente com a isenção de direitos de importação nos insumos; ao mesmo tempo, têm que investigar-se as alegações de contrabando. A reabilitação de sistemas de irrigação, desde que se prove a sua sustentabilidade a longo prazo, deve também ser acelerada. Mas como as soluções para estes problemas levam tempo a implementar, levantaram-se pressões fortes para se aumentar a protecção sob a forma de direitos de importação mais altas para o arroz. Se o direito mais alta for modesto e temporário, talvez se possa justificar – para permitir tempo suficiente para se desenvolverem os ajustes acima mencionados.

4.32 Mas também existem contras graves com o aumento dos direitos de importação sobre o arroz, que devem ser considerados antes de tomar qualquer decisão. Primeiro, os rizicultores perfazem somente 26% da população – e a proporção de vendedores líquidos é consideravelmente menor; qualquer aumento aos seus rendimentos, proveniente de uma maior protecção, tem que ser pesado contra a perca do poder de compra do resto da população, particularmente a redução do consumo de arroz pelos consumidores pobres das zonas urbanas e dos agricultores das terras altas (estes últimos sofrem da pobreza mais aguda). Segundo, como se trata de um bem básico de consumo, o aumento dos preços do arroz vai exacerbar os problemas de competitividade discutidos no Capítulo 2. Terceiro, mesmo que se pretenda que o direito mais alto seja temporário, a experiência internacional indica que inverter uma protecção mais alta é na prática muito difícil.

4.33 Isto por sua vez pode promover alterações nos padrões de cultura, não necessariamente benéficos ou sustentáveis a longo prazo. Estes factores sugerem que se deve evitar uma decisão precipitada sobre uma maior protecção e que uma decisão destas deve ser precedida pelo desenvolvimento de meios viáveis de assistir os consumidores de arroz mais pobres, principalmente nas terras altas, que actualmente beneficiam de uma maior disponibilidade de arroz importado.

Page 11: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

49

O Café como uma Cultura de Especialidade 4.34 O café é a exportação dominante de Timor Leste, com uma estimativa de 25.000 hectares de cafezais produtivos e mais 23.000 hectares de cafezais não produtivos. Cerca de 25.000 famílias agrícolas recebem uma quantia substancial dos seus rendimentos com as pequenas propriedades de café, enquanto que outras 15.000 recebem uma quantia diminuta dos seus rendimentos a partir desta fonte. Os rendimentos da cultura são de cerca de 150 a 200 quilos de grão verde por hectare, menos do que metade do seu potencial se se empregarem melhores técnicas de cultivo. A maior parte dos grandes cafezais estabelecidos durante a época colonial foi abandonada e a colheita docafé é feita pelos agricultores vizinhos.

4.35 Aparentemente, existem muitos factores culturais e sociais complexos, bem como económicos, que afectam a cultura do café em Timor Leste. Os produtores de café são predominantemente pessoas das montanhas, de língua Mumbai, de quem se diz serem “não-mercantis” e que se vêem a si mesmos mais como guardiãos da terra do que como agricultores. Assim, põe-se muito pouco esforço na cultura do café. Os pés de café não são podados nem mulched6, o replantamento quase nunca se faz, não se usam nem fertilizantes nem pesticidas para melhorar o rendimento da cultura e diz-se que as famílias colhem o café somente para as necessidades prementes de contado e não para maximizar lucros. Sem dúvida que se podem também sugerir explicações de natureza mais económica. Durante a maior parte da ocupação indonésia, o ênfase era posto numa grande quantidade colhida, independentemente da qualidade, pois todo o café timorense era enviado para Java para ser misturado. Só nos anos mais recentes é que a emergente organização cooperativa começou a pagar prémios por cerejas de melhor qualidade e a melhorar a qualidade do processamento local.

4.36 Um inquérito representativo recente dos produtores de café, realizado pelo Banco Mundial nas principais zonas produtoras de café, concluíu que a maioria dos agricultores está preparada para investir mais esforço na sua actividade, desde que esse esforço se traduza em maiores rendimentos. Se lhes forem distribuídos gratuitamente pés de melhor qualidade, eles estão dispostos a replantar numa escala significativa. Além disto, a maioria indicou que gostaria de ter acesso a instalações comunais para o processamento das cerejas e, assim, produzir café de melhor qualidade. Quase todos estão dispostos a juntarem-se a uma associação ou outra entidade cooperativa, se isto facilitar o acesso a instalações melhores.

4.37 Devido ao uso baixo de insumos na produção de café e ao clima favorável, o café de Timor Leste pode ser certificado como orgânico e tem boa procura, tanto por esta razão como por causa das suas características de sabor. A procura mundial de produtos orgânicos está a aumentar e o café orgânico de Timor Leste pode tornar-se numa valiosa fonte de rendimentos de exportacão. Actualmente, só cerca de 10% do café de Timor Leste é que é certificado como orgânico, embora todo o café produzido seja, na realidade, orgânico. Os esforços para se aumentar a produção e as exportações de café devem ser 6 NT: o termo mulched aplica-se à técnica de colocar uma camada de matéria vegetal geralmente obtida a partir de palha ou de folhas, destinadas a proteger a sementeira e favorecer o crescimento e desenvolvimento das plantas, protegendo o solo e facilitando a formação de húmus; nalguns casos usa-se o termo português de “palhado”.

Page 12: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

50

feitos cuidadosamente, com base em variedades melhoradas e em melhores práticas agrícolas e não no aumento da aquisição de insumos, tais como fertilizantes ou pesticidas. Seria desejável acompanhar estes esforços com uma campanha que informe os agricultores da importância da certificação orgânica, para que Timor Leste possa obter o prémio orgânico numa larga porção das suas exportações, porque este segmento do mercado global está a crescer.

4.38 Contudo, para o futuro mais imediato, a maior parte dos ganhos de rendimentos podem ser feitos a partir da melhoria da qualidade de processamento, uma alteração que requer investimento na recuperação e na construção de novas instalações comunais, bem como o fornecimento de pés de boa qualidade e conselhos aos agricultores. Se se tiverem disposições adequadas de financiamento, tais como esquemas de microfinanças, parte dos custos destas infraestruturas e serviços adicionais pode ser suportada juntamente pelos agricultores, com o estado talvez a fornecer alguma forma de seguro contra catástrofes.

Potencial do Desenvolvimento das Pescas7 4.39 O sub-sector das pescas não está bem desenvolvido, mas pode muito bem ter o potencial para melhorar a segurança alimentar e para contribuir para o desenvolvimento de pequena escala e de exportações. Timor Leste tem cerca de 650 km de costa, mas muito pouca plataforma continental; alcançam-se profundidades de 200 metros a 2-8 km da costa e profundidades de 2000-3000 metros a 20 km. Os recursos costeiros limitam-se a uma faixa estreita e muito inclinada. As limitadas estatísticas disponíveis sobre a actividade piscatória antes de 1999 apontam para uma frota de cerca de 630 embarcações com motores fora de bordo e 1.387 canoas. Estes dados são para 1997, quando alegadamente 9.066 pescadores pescaram um total de 2.423 toneladas de peixe marinho. Durante os distúrbios de 1999, praticamente todas as embarcações maiores de pesca comercial sairam de Timor Leste, mas consta que existem 24 embarcações na ilha de Atauro, parte de Timor Leste e a poucos kilómetros de Dili.

4.40 O maior problema actual da indústria piscatória é a falta de procura, devido à falta de poder de compra. Os pobres consomem cerca de 10 gramas por semana per capita, enquanto que os ‘ricos’ consomem somente cerca de 190 gramas, de acordo com os dados mais recentes do TLHS de 2001. É provável que a baixa procura local de peixe aumente somente quando os rendimentos globais também aumentarem.

4.41 Um estudo recente do PNUD que se concentrou também nas necessidades e prioridades marinhas de Timor Leste (Avaliando as Necessidades e Prioridades Ambientais em Timor Leste; Dili, 2000) concluíu que o ecosistema marinho de Timor Leste, se utilizado de uma forma planeada e não destrutiva, tem um potencial considerável para apoiar o desenvolvimento económico e para manter a população. Utilizando números retirados de outras zonas semelhantes de águas marinhas, o estudo calcula que mesmo depois de fornecer a população de Timor Leste com o anual mínimo recomendado de consumo de peixe de 13 quilos per capita, as exportações podem ainda

7 Esta secção apoia-se em: “Hera Port Fisheries Facilities Rehabilitation Project,”, ADB e “Fish for the Future: A Strategic Plan for the Fisheries of East Timor;” Departamento dos Assuntos Económicos, Maio de 2001.

Page 13: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

51

ser mantidas.8 A JICA calculou que os donativos recentes de motores e engenhos de pesca (só a China doou cerca de 300 motores fora de bordo, 1.500 redes de emalhe e 3 toneladas métricas de linha) podem motorizar cerca de 40% da frota pesqueira de Timor Leste.9 Isto pode brevemente exaurir os recursos costeiros, indicando a necessidade de se introduzirem já sistemas de gestão. Como as pescas nos recifes de coral são facilmente exauridas, por segurança devia-se restringir este tipo de pesca aos pescadores ind ígenas locais.

4.42 Para além do seu potencial para manter um sector importante da actividade de subsistência, a pesca tem o potencial para criar oportunidades de emprego em actividades relacionadas, tais como, comercialização, processamento, fornecimento, prestação de serviços, etc. Assim que Timor Leste delimitar a sua zona económica exclusiva de pesca, os recursos de alto mar vão estar disponíveis para uma exploração comercial de maior escala, quer por pescadores timorenses quer por, preferencialmente, licens iamento com embarcações estrangeiras de pesca, tal como demonstra a experiência dos países de Ilhas do Pacífico. Os recursos pelágicos de Timor Leste incluem espécies pequenas, tais como a cavala do Índico, carapau branco, sardinhas e atum pequeno e também espécies valiosas de atum grande.

4.43 A Divisão de Pescas do MAPF desenvolveu um plano estratégico para as pescas que tem como objectivo manter os recursos aquáticos de Timor Leste, estabelecer um sector privado rentável na indústria pesqueira, que maximize retornos económicos sustentáveis e que estabeleça jurisdição e controle dos recursos marinhos nas águas de Timor Leste. O papel do governo é limitado à prestação de um ambiente comercial capacitador e um enquadramento, dentro dos quais o sector privado das pescas e negócios associados, possam operar.

4.44 A assistência externa nesta altura deve ser canalizada para o desenvolvimento de um enquadramento regulatório e legal para a gestão pesqueira costeira e investimento no pesca de alto mar. A imposição de regulamentos piscatórios através de parcerias entre o governo, as comunidades e os operadores privados (dispositivos de co-gestão) e o reconhecimento dos direitos de utilizador das comunidades costeiras, provou ser eficaz em muitos países da Ásia-Pacífico. A assistência externa pode ainda ser direccionada para a reabilitação do porto piscatório do porto de Hera, promovendo mais a aquacultura (principalmente de carpa) e melhorando o manuseamento e processamento pós-pesca. Esta separação de funções entre os sectores privado e estatal procura incorporar lições aprendidas com o falhanço de programas de desenvolvimento de pescas noutros países. Em muitos casos, o envolvimento directo de agentes governamentais no sector, em actividades que se sobrepõem com actividades do sector privado, resultou em demasiado pessoal, responsabilidade inadequada e deterioração dos serviços e das instalações. Assim, por exemplo nas novas instalações de Hera, prevê-se que os operadores privados sejam responsáveis por todas as actividades que possam ser comercialmente viáveis, incluindo a construção de embarcações, oficinas, armazéns e fornecimento de

8 Contudo, existe um número de limitações ao desenvolvimento significativo de exportações a curto prazo. 9 JICA (2002) “Study of Integrated Agricultural Development of East Timor.”

Page 14: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

52

combustíveis. Desta forma, cada empresa comercial dentro da zona do porto tem um interesse particular em manter um porto funcional.

Segurança Alimentar

4.45 A falta de poder de compra de Timor Leste é causa de desconforto, mas a dependência do auxílio vai também gerar distorções na migração rural-urbana e nos preços agrícolas. A segurança alimentar consegue-se quando os núcleos familiares são suficientemente produtivos para cultivarem ou comprarem alimentos adequados para as suas famílias. Quando a fome for eliminada, também se elimina a pobreza absoluta. Assim, reduzir a fome e a pobreza através da política alimentar é uma prioridade máxima em Timor Leste.

4.46 Uma política alimentar apropriada é aquela que tem programas ou políticas capazes de lidarem com as contingências alimentares de curto prazo, mantendo ao mesmo tempo uma visão, políticas e acções de longo prazo para o sector agrícola. A discussão seguinte relaciona-se com as contingências alimentares de curto prazo.

4.47 Embora tenha havido debates em Timor Leste e com os seus doadores sobre uma política que assegure a auto-suficiência na produção alimentar, outros países acharam esta abordagem cara e dificil de manter. É cara porque para garantir fornecimentos locais suficientes num ano de baixa produção, as existências têm que ser adquiridas e mantidas nos anos de produção acima da média. Manter existências de cereais é caro em termos de custos de oportunidade de capital e da deterioração física das existências. Mais ainda, a manipulação complexa dos preços e dos dispositivos de compra/venda, têm que ser constatemente feitas pelas autoridades. Existe em todo o mundo um registo de falhanço na gestão de existências públicas.

4.48 Uma abordagem mais recente tem sido estabelecer um fundo de emergência para financiar o apoio à pobreza em alturas de preços altos dos alimentos (escassez), criando ao mesmo tempo condições para uma economia global robusta. Com estas condições, a maioria da população é capaz de comprar comida e os agricultores recebem os sinais correctos de preços para poderem decidir sobre a produção. O fundo de emergência é um fundo público destinado a prestar assistência nos anos de colheitas excepciona lmente pobres àqueles que mais necessitam, que o usam para comprar alimentos básicos no mercado. O governo não precisa de comprar alimentos, nem de armazenar cereais, nem de controlar os preços. Se o governo preferir não fornecer contado, pode fornecer cupões utilizáveis na compra de produtos alimentares, ou pode comprar os alimentos básicos e fornecê- los aos pobres alvo. Contudo, a última opção requer uma burocracia maior para gerir e administrar, do que as outras opções e, assim, pode ser a menos desejável na perspectiva de custos.

4.49 Ao mesmo tempo que o governo estabelece o fundo de emergência, deve procurar aumentar a produtividade nas quintas existentes, assistir com uma maior capacidade de armazenagem agrícola para minimizar percas pós-colheita e prestar aos agricultores conselhos sobre diversificação para outras culturas, principalmente culturas comerciais de exportação. Estes passos são os que mais contribuem para a segurança alimentar.

Page 15: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

53

Posse da Terra

4.50 Nas zonas rurais de Timor Leste não existe cadastro nem titulação formal da terra e somente uma pequena percentagem da terra é que tem um estatuto reconhecido quer sob a lei colonial portuguesa quer sob a lei indonésia. Terra permanentemente cultivada, tais como hortas e arrozais, reconhece-se por costume como propriedade individual. Contudo, a posse da grande maioria da terra rural é determinada pelos direitos de usufruto herdados pelo clã, segundo a lei tradicional.

4.51 Todos os membro de um clã (suco) têm o direito de procurar autorização para cultivarem terra não utilizada dentro do domínio do suco e esta terra não pode ser usada pelo membro de um outro suco, excepto por casamento. Geralmente, os utilizadores só podem plantar culturas anuais, mas também podem plantar culturas arvenses nas suas hortas de 0,25 hectares.

4.52 Existem grandes áreas do país com hortas em sucalcos aparentemente abandonadas e pastagens não utilizadas. Estas são referidas como terra em pousio. Isto surgiu por causa da interrupção das estruturas sociais, do reassentamento e da ausência dos proprietários (os guardiãos tradicionais das terras do clã, que são responsáveis pela distribuição da terra pelos membros do clã).

4.53 Para a agricultura alcançar o seu potencial de desenvolvimento, eventualmente vai ser necessário um sistema de registo que garanta a certeza da posse. Isto vai requerer um estudo dos sistemas de clã e da actual posse da terra, bem como de um processo de adjudicação – um processo caro e de longo prazo. As disposições actuais parecem restringir o uso da terra e da selecção de culturas, mas a situação não necessita de acção imediata.

Organizações de Agricultores e de Comunidades Rurais 4.54 Historicamente, as organizações de agricultores e outras organizações rurais têm sido fracas em Timor Leste. O governo deve apoiar a formação de organizações de agricultores e comunitárias, tais como cooperativas constituídas de acordo com os princípios de Rochdale 10. Outras formas de organização comercial, tais como empresas de responsabilidade limitada, parcerias, associações e ONG devem também ser encorajadas. O apoio a grupos de mulheres tem sido uma forma eficaz de capacitar as mulheres empresárias. O objectivo global destas actividades é proteger a auto-confiança individual e comunitária e desenvolver organizações capazes de implementar projectos financiados pelo governo.

Educação Agrícola 4.55 A extensão agrícola, a capacidade institucional e a prestação de informação agrícola estão a começar a partir de uma base muito baixa e requerem uma grande prioridade no dispêndio do governo. Para equilibrar recursos, podem-se desenvolver parcerias inovadoras com entidades religiosas, doadores internacionais e ONG. Um

10 Ver Abrahamsen, M. A. (1996), Cooperative Business Enterprise, McGraw-Hill, Nova Iorque.

Page 16: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

54

parceiro pode fornecer as instalações físicas, outro parceiro um perito de formação, com o governo a pagar a renda do edifício e outros custos variáveis.

Gestão dos Recursos Naturais 4.56 Devido a uma grave degradação ambiental na maior parte de Timor Leste, são necessários novos planos para o desenvolvimento e protecção de florestas e recursos aquíferos. Esta é uma enorme tarefa, que vai necessitar de um compromisso de anos de Timor Leste e dos seus doadores.

4.57 Florestas. As florestas têm tido um papel significativo no desenvolvimento de Timor Leste. Elas contribuem para a sobrevivência das famílias fornecendo lenha, produtos florestais outros que não madeira, postes e madeira. Muitas espécies valiosas de madeira são indígenas em Timor Leste, tais como teca, pinho vermelho e mogno. As exportações de outros produtos florestais incluem cera e mel.

4.58 Embora o governo indonésio tenha classificado várias zonas florestais em Timor Leste para protecção como parques nacionais, a desertificação tem-se verificado a passos largos e as práticas de gestão florestal não têm sido sustentáveis. Além disto, grandes áreas das florestas de montanha onde os grupos da resistência se refugiavam forem destruídas por desfolhantes e são agora zonas degradadas de arbustos.

4.59 A recolha de lenha tem sido um contribuinte importante para a desertificação. As necessidades de lenha para cozinhar cresceram tremendamente quando se eliminaram os subsídios para o querosene, o principal combustível utilizado para cozinhar. Têm que ser introduzidas alternativas aceitáveis, tais como fogões a combustível, energia solar e lotes dedicados a lenha, para se reduzir a desertificação. A gestão eficaz das florestas só tem sido conseguida quando a zona florestal é claramente definida e reconhecida pela comunidade.

4.60 Está planeado um inventário florestal para gerar informação mais completa sobre as espécies madeireiras e outros produtos florestais. Estabeleceu-se no MAPF uma Divisão de Florestas, com responsabilidade pela reflorestação, gestão de florestas e de recursos aquíferos e de zonas protegidas; espera-se que esteja completada em 2002 uma revisão da política nacional florestal.

4.61 Recursos Aquíferos. É necessária uma avaliação da degradação dos recursos aquíferos para se planear a reabilitação ambiental. Como esta degradação está ligada à pobreza, ela deve ser analizada juntamente com os resultados da avaliação da pobreza. A informação destas actividades pode ser ligada com as actividades sobre degradação dos solos, para se determinarem áreas prioritárias para intervenção.

4.62 Enquadramento Regulatório. Timor Leste tem que desenvolver um enquadramento regulatório para os seus recursos naturais. O enquadramento deve:

• Reconhecer a importância da sustentabilidade de recursos • Permitir a participação de todas as partes envolvidas • Reconhecer o valor dos sistemas tradicionais de gestão de recursos

Page 17: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

55

• Garantir segurança e certeza dos direitos de utilizador da terra e dos recursos Orientacão Terras Altas ou Terras Baixas 4.63 Muita da assistência prestada no início do pós-conflito aos agricultores orientou-se para a agricultura das terras baixas, principalmente para a produção de arroz irrigado. As escolhas de desenvolvimento de terras baixas ou de terras altas nem sempre são lineares – muitos agricultores vão para as terras baixas produzir culturas comerciais, mas preferem viver nas terras altas, onde muitos têm terras tradicionais e uma horta. Contudo, populações substanciais vivem somente nas terras altas e são muito provavelmente agricultores de subsistência com pouco rendimento em contado – com as excepção dos produtores de café. Estas pessoas tendem a ser as mais pobres, as mais vulneráveis às catástrofes naturais e, nalgumas zonas, podem ser também os maiores contribuintes para a degradação dos recursos naturais.

4.64 O enorme ênfase dado ao investimento em estruturas caras de irrigação de arroz, num país onde o arroz não é o alimento básico nem principal nem tradicional e onde as estruturas estão sujeitas a uma destruição quase certa devido a inundações imprevistas, tem que ser examinado. Isto é particularmente verdade quando os preços mundiais do arroz estão baixos e projectados para permanecerem baixos. Assim que a reabilitação dos sistemas existentes de irrigação estiver completada, os planos para se aumentarem áreas sob irrigação têm que ser cuidadosamente analizados. A taxa de retorno de muitos investimentos novos em irrigação em Timor Leste parecer ser abaixo da taxa de outras alternativas de investimento no sector agrícola. Dada a orientação de alívio da pobreza da maioria do auxílio, os programas que tentam aumentar a resistência das actividades agrícolas das terras altas, minimizar a vulnerabilidade destas comunidades às catástrofes naturais e às variações climáticas e que planeiam a gestão da transição para saída da subsistência, são merecedoras de uma prioridade mais alta.

NECESSIDADES DE ASSISTÊNCIA E FINANCIAMENTO DOS DOADORES

4.65 Os esforços dos doadores para a reabilitação agrícola devem ficar concluídos em meados de 2002 e orientaram-se para a restauração dos bens perdidos e na rápida reabilitação dos serviços, do fornecimento de sementes, infraestruturas e equipamento. Muito do financiamento da assistência foi prestado pelo TFET, pelos governos da China, Japão e Portugal, USAID, PNUD e FAO, bem como com donativos da Noruega e Macau. A distribuição alimentar pós-emergência foi prestada pelo Programa Mundial de Alimentação e por outros programas de ONG.

4.66 Os esforços de reabilitação foram seguidos por um período de transição, que se focou em ajudar o Governo de Timor Leste a implementar as suas políticas agrícolas, regulamentos e funções essenciais do MAPF (tais como regulamentos de bio-segurança, florestas e pescas) e em suavizar a transição de um sector fortemente subsidiado para um sector com financiamento recorrente limitado.

4.67 As actividades de desenvolvimento rural integrado, apoiadas pelos doadores e com um foco de longo prazo, iniciaram-se em finais de 2001 em paralelo com a assistência transitória. No seu núcleo está um programa para elevar os rendimentos rurais

Page 18: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

56

através de actividades que aumentam a produtividade, desenvolvimento rural participativo e gestão dos recursos naturais, que procura encorajar a auto-confinça comunitária e dos núcleos familiares, bem como desenvolver um conjunto diversificado de culturas que proporcionem rendimentos em contado. A manutenção comunitária de pequenos esquemas de irrigação, de estradas de acesso, de sistemas de abastecimento de águas e de gestão de recursos naturais estão a ter apoio que utiliza esta abordagem, através dos projectos financiados pelo TFET (Segundo Projecto de Reabilitação Agrícola), AusAID (Programa de Desenvolvimento Rural de Timor Leste), PNUD/UNOPS (Projecto de Activação Comunitária de Manatuto e Ainaro) e de outros projectos apoiados por Portugal, JICA, ACDI, USAID, Visão Mundial e diversas ONG. Muitos destes programas cobrem dispêndios de capital contra um compromisso claro das comunidades em manterem e gerirem os recursos locais, com o governo a ter um papel capacitador e regulatório. A assistência é para ser prestada de forma monetária e não em géneros e cobre os insumos suplementares e assistência especializada. A mão de obra local, os materiais e outros artigos fazem parte da contribuição em géneros das comunidades (Caixa 4.1). Investimentos adicionais nesta fase podem incluir o estabelecimento de funções governamentais essenciais, tais como a recolha de dados, controle e supervisão dos recursos naturais, pesquisa aplicada essencial, a facilitação de redes de extensão e de informação agrícola e formação de capacidade. Prevê-se que a Unidade de Gestão de Calamidades, em colaboração com o MAPF, vai ocupar-se da gestão de catástrofes.

4.68 Diversas prioridades do sector continuam por financiar pelos doadores. Estas incluem mais assistência técnica para o governo em desenvolvimento de políticas e formação de capacidade para a administração e estabelecimento de uma instituição pública eficaz no MAPF. Também se necessita de assistência para instituições de crédito e poupanças para a população rural, para avaliação dos impedimentos à comercialização e para explorar oportunidades económicas em mercados de nicho. A assistência dos doadores ao sector florestal e à gestão de recursos aquíferos, embora tenha já começado, continua a ser uma lacuna bem nítida. É ainda necessária mais assistência para ajudar o MAPF a estabelecer um sistema eficaz de quarentena e de controle de pragas, um sistema de pré-aviso de catástrofes e de extremos climáticos (tais como secas provocadas pelo El Niño) e para continuar o seu apoio ao GIS e à disseminação de informações. Pode ainda vir a ser necessária alguma assistência para desenvolver mais infraestruturas, tais como um laboratório de pesquisas, um viveiro e centro de sementes e a construção de instalações de matadouro em Dili e noutras cidades importantes, embora a sustentabilidade destas instalações tenha que ser cuidadosamente analizada.

4.69 A tabela 4.3 apresenta as estimativas de assistência dos doadores ao sector agrícola durante 2001-2005.11 Espera-se que este programa seja revisto periodicamente durante o decurso das Missões Conjuntas dos Doadores para a Agricultura.

11 Esta estimativa reflecte os resultados da Missão Conjunta de Doadores da Agricultura em Novembro de 2001. Não inclui programas que se esperam vir a ser aprovados durante 2002/03, mas para os quais não foram ainda assumidos compromissos.

Page 19: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

57

Caixa 4.1: Princípios da Assistência dos Doadores ao Sector Agrícola

Durante as Missões Conjuntas de Doadores de 2001, concordaram-se com o MAPF os seguintes princípios orientadores da assistência dos doadores ao sector:

• A assistência dos doadores deve passar da reabilitação para a sustentabilidade a longo prazo;

• Tem que se dar um foco maior aos programas de assistência que procuram promover a segurança alimentar num leque alargado de comunidades rurais;

• Os programas que se orientam para produtos agrícolas comerciais vão ter que realizar uma avaliação realista da viabilidade comercial;

• A assistência dos doadores deve procurar aumentar a resistência das comunidades agrícolas e reduzir a sua vulnerabilidade a choques climáticos e económicos;

• Os programas financiados pelos doadores devem procurar reforçar os sistemas tradicionais de gestão e de auto-confiança dentro das comunidades rurais;

• A assistência futura deve basear-se na procura e deve ser integrada, de forma a assegurar que o foco é de desenvolvimento rural e não simplesmente agrícola;

• Deve preferir-se a assistência com base monetária (p.e., a assistência directa às comunidades) em vez da assistência com base em insumos; quando a segunda se tornar necessária, tem que ser apoiada por financiamento adequado e por assistência técnica para a distribuição e para as operações de seguimento e manutenção;

• Quando os programas proporcionarem benefícios a indivíduos ou a grupos familiares relacionados com a geração de rendimentos, os fundos devem ser prestados como crédito e não como subsídios. Os subsídios devem ser reservados para actividades que oferecem benefícios comunitários de base mais alargada;

• Quando as comunidades beneficiam directamente da assistência prestada, a mão de obra não especializada tanto quanto possível não deve ser paga, mas sim prestada como uma contribuição da comunidade. Isto deve ajudar a melhorar a sustentabilidade das intervenções;

• Os programas de assistência devem permitir níveis iguais de desenvolvimento tanto para as comunidades das terras altas como das terras baixas;

• As parcerias entre o Governo, agências de auxílio, ONG, sector privado e comunidades devem ser incentivadas para maximizar o valor da assistência às comunidades rurais.

Fonte: Missão Conjunta Interina dos Doadores de Agricultura em Timor Leste (19-30 de Novembro de 2001). Relatório Final da Missão, 31 de Janeiro de 2002.

Comentários Finais

4.70 O enquadramento básico para a agricultura que se está agora a estabelecer em Timor Leste deve ficar quase completado dentro de dois anos, pavimentando o processo de desenvolvimento de longo prazo do sector. É necessário estabelecer os fundamentos da agricultura para proporcionar segurança alimentar e criação de rendimentos para uma proporção grande da população de Timor Leste. Por sua vez, o aumento da segurança

Page 20: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

58

alimentar vai originar uma fonte significativa de crescimento para o país. Para se conseguir isto, os fundamentos referidos anteriormente têm que estar estabelecidos.

4.71 Ao conceber os seus investimentos, o governo tem que se assegurar de que os custos recorrentes não excedem a capacidade financeira de longo prazo. Os custos recorrentes podem ser geridos mantendo-se o princípio de “quem paga é o utente” – atribuir os custos recorrentes de infraestruturas que têm benefícios privados indentificáveis, tais como irrigação, aos beneficiários. Na verdade, o governo deve tomar mais medidas para transferir a posse de certos bens para a comunidade, que pode passar a ser reponsável pela sua operação e manutenção. A administração deve resistir ao padrão de apoio público à agricultura, seguindo as estruturas pesadas e desnecessárias de muitos países industrializados. Quando a acção pública se justifica, deve pensar-se primeiro em financiamento público mas em prestação privada. As pressões para intervenções governamentais vão ser enormes, pois os agricultores de Timor Leste têm trabalhado numa cultura onde o governo central intervem fortemente nas transacções comerciais. Transformar a mentalidade dos agricultores para uma mentalidade de recompensa com base no esforço dispendido vai ser um desafio.

4.72 Ainda que a agricultura tenha recuperado rapidamente desde 1999 e esteja actualmente a ter um grande influxo de capital externo, não é realista esperar-se que o sector cresça rapidamente numa base sustentável. Com a produção agrícola para a maior parte das culturas importantes já recuperada para os níveis anteriores a 1999, o crescimento potencial vai ser limitado por escassez de capital, limites de conhecimentos e de técnicas da parte dos agricultores (incluindo técnicas comerciais), o inevitável período de ajustamento do regime regulatório anterior e pelos estrangulamentos e deficiências prevalecentes nos sistemas de distribuição e transporte.

4.73 Apesar do significativo programa de investimento de capital planeado pelos doadores, é provável que persista num futuro previsível em Timor Leste um grande sector agrícola de subsistência. Assim, a redução da pobreza rural, a formação de segurança de rendimentos rurais e a geração de desenvolvimento rural vai continuar a ter uma prioridade alta na agenda política.

Page 21: AUMENTAR OS RENDIMENTOS E PRODUTIVIDADE …siteresources.worldbank.org/INTTIMORLESTE/Resources/Chap4... · A posição chave da agricultura na economia e a sua baixa produtividade

59

Tabela 4.3. Financiamento Actual Estimado para o Desenvolvimento Agrícola e Rural, 2001-2005 ($EUA milhões)

Japão TFET Austrália12 FAO USAID13 Portugal PNUD China Outros14 -------Resultado Estimado em $EUA (sujeito a aprovação)---------

Reabilitação (2001) Estradas para mercados rurais 0,5 algum Reabilitação irrigação/água 8,0 algum 6,115 Vacinação 0,4 Sementes/Armazenagem algum 0,516 algum Pecuária 0,2 1,5 Tractores/Maquinaria 0,13 3,0 Ferramentas manuais 0,18 0,2 0,15 algum algum Equipamento de pesca algum 2,0

Distrib.Alimentar pós emergência 0,09 Distribuição de Equipamento Agrícola

Reab. de Mercados Principais 0,75 algum Transição (2001-2002) População vulnerável algum Progs. Piloto comunitários rápidos 0,02 Vacinação sustentável 1,3 Informação aos agricultores 0,8 Facilitação de insumos (fert., pest.) 2,0 2,0 Organização de agricultores 1,1 0,15 algum 0,3 Redução das percas pós colheita 0,09 0,4 algum Microfinanças 0,2 5,0 Política/Estratégia Agrícola 3,74 0,3 0,05 algum Enquadramento Regulatório: Florestas/Zonas Protegidas Pescas 0,21 1,3 Quarentena/Certificação algum algum algum Formação de Capacidade 0,23 0,9 0,03 algum algum Desenvolvimento Sustentável (2001-2005) Desenvolvimento Participativo e Gestão de Recursos Naturais

0,9 9,0 0,15 5,117 1,5

Revisão regulatória 0,15 Controle e Supervisão Pesquisa aplicada 0,33 0,2 0,15 0,92 0,1 Fornecimento de Água Rural e Saneamento

7,5 3,0

Facilitação da extensão 0,15 algum 0,3 Controle/estatísticas/inventários 0,6 Posse da terra 1,9 0,3 Coordenação do sector e parcerias algum Manutenção da irrigação principal Gestão de catátrofes/riscos Gestão de zonas protegidas algum Formação de capacidade e Apoio administrativo

1,0 0,15 algum 0,19

Fonte: Missão Interina Conjunta dos Doadores Agrícolas a Timor Leste (19-30 de Novembro de 2001), Relatório Final da Missão, 31 de Janeiro de 2002.

12 A assistência de doadores australianos inclui actividades financiadas pela AusAID e pelo Centro Australiano de Pesquisa Agrícola Internacional (ACIAR) 13 A USAID está a proporcionar um crédito rotativo de $12 milhões que vai ser dividido de uma forma ainda a ser especificada entre as actividades indicadas no café e no sector de grossistas rurais. 14 Outros inclui doadores não representados nesta missão, mas que se sabe estarem a planear actividades em Timor Leste. Estes incluem: Nova Zelândia, Canadá, Suécia, Noruega, Macau, União Europeia, ADB, o Programa Mundial de Alimentação e outras agências da ONU. 15 $3.36m financiados pelo Japão 16 financiados pelo Japão 17 financiados pelo Japão