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 www.cers.com.br  OAB 1ª FASE XVII EXAME Direito Civil Cristiano Sobral 1 DIREITOS DAS OBRIGAÇÕES 1. I NTRODUÇÃ O O direito das obrigações é o ramo do Direito Civil que se ocupa em estudar a relação  jurídica que existe entre devedor e credor, onde este pode exigir daquele o cumprimento de uma prestação, que pode consistir em um dar, um fazer ou um não fazer.  A obrigação tem, portanto, três elementos: devedor, c redor e vínculo jurídico. O vínculo  jurídico é a ligação que exi ste entre o devedor e o credor, que é composta por dois elementos: débito e responsabilidade. Significa que há duas questões ligando devedor e credor: a existência de uma dívida (débito) e a possibilidade de cobrança judicial em caso de inadimplemento (responsabilidade). Tema importante diz respeito à obrigação natural. É a obrigação em que o vínculo  jurídico é formado apenas pelo débito, não existindo responsabilidade. Existe uma dívida, mas, se não for cumprida a prestação, o credor não tem o poder de exigi-la judicialmente. No entanto, se adimplida espontaneamente ou até mesmo por engano, não se pode exigir devolução, pois o débito existe (art. 882 do CC). É o que chamamos de soluti retentio (retenção de pagamento). Exemplo de obrigação natural: dívida de jogo ou aposta.  A obrigação  propter rem (em razão da coisa), como o nome sinaliza, é direito obrigacional (confrontando devedor e credor) e não direito real. Todavia, tem uma especificidade: é a obrigação que surge em razão da aquisição de um direito real. Ao se adquirir um direito real, seu titular adquire algumas obrigações de devedor perante credor. Exemplos: obrigação de pagar condomínio quando se adquire o direito de propriedade de um apartamento ou o dever que o proprietário tem de indenizar o possuidor que realiza benfeitorias em seu imóvel, nos termos destacados em direitos reais neste livro. Como a obrigação  propter rem  surge por força da titularidade de um direito real, acompanha o bem se houver transferência dele, ou seja, o novo titular do direito real a assume. Exemplo: quem compra um apartamento assume as obrigações de pagar condomínio, até mesmo aquelas que estejam em atraso. Cuidado: a obrigação  propter rem não se consubstancia apenas no pagamento de valor pecuniário. Deve ser uma obrigação devedor/credor, mas esta pode ser consubstanciada em um dar (dinheiro ou qualquer bem), um fazer ou um não fazer.  Assim sendo, o respeito às limitações dos direitos de vizinhança são obrigações  propter rem, pois consistem em obrigações de não fazer do proprietário para respeito a direito de vizinhos. 2. MODALIDADE DAS OBRIGAÇÕES  As modalidades de obrigações decorrem de dois tipos de classific ações: básica e especial. Em uma classificação básica, a depender da natureza da prestação, a obrigação pode ser de três tipos: obrigação de dar, obrigação de fazer e obrigação de não f azer. Em uma classificação especial, o CC trata de mais três tipos de modalidades: obrigação alternativa, obrigação divisível ou indivisível e obrigação solidária. 2.1. Obrigação de dar  A obrigação de dar é aquela em que a prestaç ão do devedor consiste na en trega de um bem. A obrigação de dar pode ser de dois tipos: dar coisa certa ou dar coisa incerta. Na obrigação de dar coisa certa, o devedor tem a prestação de entregar um bem específico. Por exemplo, quando alguém vende o cavalo campeão de sua fazenda. Já a obrigação de dar coisa incerta é aquela em que o devedor assume a obrigação de dar um gênero em certa quantidade - por exemplo, quando alguém vende três cavalos de sua f azenda. 2.1.1. Obrigação de dar coisa certa É a obrigação de dar um bem específico, não servindo outro de mesma espécie, como quando uma pessoa vende o cavalo campeão de sua fazenda. Na verdade, há dois tipos de obrigação de dar coisa certa: dar e restituir.  A razão é que quando tenho a obrigação de devolver um bem que recebi, não posso impor a entrega de outro de mesma espécie. Portanto, tenho obrigação de dar coisa certa

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DIREITOS DAS OBRIGAÇÕES

1. INTRODUÇÃO

O direito das obrigações é o ramo do DireitoCivil que se ocupa em estudar a relação jurídica que existe entre devedor e credor,onde este pode exigir daquele o cumprimentode uma prestação,que pode consistir em um dar, um fazer ou umnão fazer.

 A obrigação tem, portanto, três elementos:devedor, credor e vínculo jurídico. O vínculo jurídico é a ligação que existe entre o devedor

e o credor, que é composta por doiselementos: débito e responsabilidade.Significa que há duas questões ligandodevedor e credor: a existência de uma dívida(débito) e a possibilidade de cobrança judicialem caso de inadimplemento(responsabilidade).Tema importante diz respeito à obrigaçãonatural. É a obrigação em que o vínculo jurídico é formado apenas pelo débito, nãoexistindo responsabilidade. Existe uma dívida,mas, se não for cumprida a prestação, o credornão tem o poder de exigi-la judicialmente.No entanto, se adimplida espontaneamente ouaté mesmo por engano, não se pode exigirdevolução, pois o débito existe (art. 882 doCC). É o que chamamos de soluti retentio(retenção de pagamento). Exemplo deobrigação natural: dívida de jogo ou aposta. A obrigação propter rem (em razão da coisa),como o nome sinaliza, é direito obrigacional(confrontando devedor e credor) e não direitoreal. Todavia, tem uma especificidade: é a

obrigação que surge em razão da aquisição deum direito real. Ao se adquirir um direito real,seu titular adquire algumas obrigações dedevedor perante credor.Exemplos: obrigação de pagar condomínioquando se adquire o direito de propriedade deum apartamento ou o dever que o proprietáriotem de indenizar o possuidor que realizabenfeitorias em seu imóvel, nos termosdestacados em direitos reais neste livro.

Como a obrigação propter rem surge por força

da titularidade de um direito real, acompanhao bem se houver transferência dele, ou seja, onovo titular do direito real a assume. Exemplo:

quem compra um apartamento assume asobrigações de pagar condomínio, até mesmoaquelas que estejam em atraso.

Cuidado: a obrigação  propter rem  não seconsubstancia apenas no pagamento de valorpecuniário. Deve ser uma obrigaçãodevedor/credor, mas esta pode serconsubstanciada em um dar (dinheiro ouqualquer bem), um fazer ou um não fazer. Assim sendo, o respeito às limitações dosdireitos de vizinhança são obrigações  propterrem, pois consistem em obrigações de nãofazer do proprietário para respeito a direito devizinhos.

2. MODALIDADE DAS OBRIGAÇÕES

 As modalidades de obrigações decorrem dedois tipos de classificações: básica e especial.Em uma classificação básica, a depender danatureza da prestação, a obrigação pode serde três tipos: obrigação de dar, obrigação defazer e obrigação de não fazer.Em uma classificação especial, o CC trata demais três tipos de modalidades: obrigaçãoalternativa, obrigação divisível ou indivisível eobrigação solidária.2.1. Obrigação de dar

 A obrigação de dar é aquela em que aprestação do devedor consiste na entrega deum bem. A obrigação de dar pode ser de doistipos: dar coisa certa ou dar coisa incerta. Naobrigação de dar coisa certa, o devedor tem aprestação de entregar um bem específico.Por exemplo, quando alguém vende o cavalocampeão de sua fazenda. Já a obrigação de

dar coisa incerta é aquela em que o devedorassume a obrigação de dar um gênero emcerta quantidade - por exemplo, quandoalguém vende três cavalos de sua fazenda.2.1.1. Obrigação de dar coisa certa

É a obrigação de dar um bem específico, nãoservindo outro de mesma espécie, comoquando uma pessoa vende o cavalo campeãode sua fazenda. Na verdade, há dois tipos deobrigação de dar coisa certa: dar e restituir. A razão é que quando tenho a obrigação de

devolver um bem que recebi, não posso impora entrega de outro de mesma espécie.Portanto, tenho obrigação de dar coisa certa

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e) Prestação de dar, melhora do bem (art.237): Devedor de uma fazenda por tê-lavendido ao credor, mas antes da entrega o

bem se valoriza em razão do acréscimo deterra trazido pela correnteza das águas(fenômeno chamado de avulsão). O vendedorpoderá pedir aumento de preço, pois é o donoe ele se beneficia com a vantagem.Se o comprador não aceitar pagar oacréscimo, poderá o vendedor resolver aobrigação, ou seja, desfazer a venda. E se, aoinvés de melhoramento ou acrescido, o bemdeu frutos? Os frutos percebidos ou colhidosantes da tradição são do devedor, pois eleainda é dono do bem, mas se pendente

quando da tradição, será do credor, pois o bemacessório segue a sorte do bem principal. Assim, se o devedor vende uma cadela paraentregar tempo depois e antes da entrega ficaprenha, se na época da entrega o filhote jánasceu será do vendedor, mas se estiver nabarriga da cadela na época da entrega, será docomprador.

f) Prestação de restituir, perda do bem, comculpa do devedor (art. 239): Devedor de umcarro por tê-lo recebido emprestado do credor,mas antes da entrega o destrói porque provocaum acidente de perda total do carro por dirigirembriagado. Será devedor no equivalente(indeniza o valor do carro) acrescido de perdase danos.

g) Prestação de restituir, perda do bem, semculpa do devedor (art. 238): Devedor de umcarro por tê-lo em empréstimo do credor, masantes da entrega o carro cai em ribanceiralevado pela correnteza da inundação

provocada por tempestade. O dono é o credore ele sofre a perda, ou seja, o devedor não teráque indenizá-lo da perda do carro.

h) Prestação de restituir, deterioração do bem,com culpa do devedor (art. 240): Devedor deum carro por tê-lo recebido emprestado docredor, mas antes da entrega o amassa aobater por dirigir embriagado. O credor poderáescolher entre receber o equivalente maisperdas e danos ou aceitar o bem no estado emque se acha acrescido de perdas e danos,

incluindo o abatimento do valor em razão dadeterioração.

i) Prestação de restituir, deterioração do bem,sem culpa do devedor (art. 240): Devedor deum carro por tê-lo recebido emprestado do

credor, mas antes da entrega o carro éamassado por bater em um poste ao serlevado pela correnteza da inundaçãoprovocada por violenta tempestade. O dono éo credor, que sofrerá a perda, pois a lei diz queele receberá o bem deteriorado sem direito deindenização.

 j) Prestação de restituir, melhora do bem (art.241 e 242): Devedor de uma fazenda por tê-larecebida emprestada do credor, mas antes daentrega o bem se valoriza em razão do

acréscimo de terra trazido pela correnteza daságuas (fenômeno chamado de avulsão). Porevidente, será do credor o ganho, pois ele é odono do bem, recebendo-o de volta valorizado,desobrigado de indenizar.Se para o melhoramento ou acréscimo houvetrabalho do devedor, é benfeitoria, razão pelaqual o art. 242 do CC determina aplicar asregras do direito de indenização que opossuidor de boa-fé e de má-fé tem em razãodas benfeitorias que faz no bem (sobre isso,ver o capítulo próprio na parte de direitos reaisneste livro, quando da abordagem dos efeitosda posse).2.1.2. Obrigação de dar coisa incerta

É a obrigação de dar um gênero em certaquantidade, como na venda de três cavalos deuma fazenda. Em dado momento, os bens aserem entregues deverão ser escolhidos, oque chamamos de concentração da prestação. A quem cabe a escolha? A quem definido nocontrato.

Se nada for dito, a escolha caberá ao devedor,que não poderá escolher o pior nem serobrigado a escolher o melhor.

Feita a escolha, a obrigação de dar coisaincerta se transforma em obrigação de darcoisa certa, aplicando-se as regras que lhe sãopróprias.No entanto, se antes da escolha o bem seperder ou se deteriorar, mesmo que por casofortuito ou motivo de força maior, o devedornão se exime de cumprir a prestação, pois o

gênero não perece, podendo o bem sersubstituído por outro da mesma espécie paraser entregue ao credor.

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2.2. Obrigação de fazer

 A obrigação de fazer é aquela em que aprestação do devedor consiste na realizaçãode uma atividade, como na contratação daprestação de um serviço. A obrigação de fazerpode ser de dois tipos: personalíssima(infungível) ou não personalíssima (fungível).Será personalíssima quando só o devedorpuder cumprir a prestação, como nacontratação de um pintor famoso para pinturado retrato do credor em um quadro. Será nãopersonalíssima quando não só o devedor, masoutra pessoa também puder cumprir a

prestação, como a contratação de um pintorpara pintura das paredes de uma casa.

Por que diferenciar? Se for obrigaçãopersonalíssima e o devedor se recusa acumpri-la ou por sua culpa se tornouimpossível, responde por perdas e danos. Sefor obrigação não personalíssima, poderá ocredor optar em reclamar indenização porperdas e danos ou mandar executar às custasdo devedor.Como isso é feito? Ajuizamento de ação comorçamento do serviço, pedindo condenação dodevedor do fazer a pagar. Todavia, se forurgente, poderá o credor mandar executar ofato independente de prévia autorização judicial, buscando em juízo depois oressarcimento do que foi gasto.

 As obrigações de fazer podem serclassificadas em obrigação de meio e deresultado ou de fim. Nas obrigações deresultado, o devedor se vincula a atingir

determinado resultado, sob pena deinadimplemento e, consequentemente, deverde indenizar perdas e danos.Já na obrigação de meio, o devedor não sevincula a atingir determinado resultado, massim a corresponder no meio para atingi-lo, ouseja, a empregar a diligência na busca doresultado. Não responde se o resultado não foratingido, apenas se não empregou a diligêncianecessária.Um advogado ou um médico tem obrigação demeio, enquanto que, segundo a jurisprudência

do STJ, o cirurgião plástico, embora seja ummédico, tem obrigação de resultado, quando

se tratar de intervenção meramente estética ouembelezadora.2.3. Obrigação de não fazer

 A obrigação de não fazer é uma obrigação auma abstenção, por exemplo, não levantar ummuro divisório. Se o devedor descumprir aobrigação, fazendo o que se obrigou a nãofazer, deverá indenizar o credor em perdas edanos?Nem sempre, pois às vezes se tornouimpossível, sem culpa do devedor, abster-sedo ato. Nesse caso, apenas se resolve aobrigação (volta ao estado anterior donegócio), não tendo que indenizar perdas e

danos. Exemplo: a pessoa se viu obrigada alevantar o muro para impedir que a águainvadisse sua casa.Se, porém, simplesmente decidiu fazer o quese obrigara a não fazer, será condenado aindenizar perdas e danos e, se o fizer, consistirem uma obra, poderá o credor pedir judicialmente para desfazê-la. Se for urgente,poderá mandar desfazer independente deautorização judicial, buscando em juízo oressarcimento.2.4. Obrigações alternativas

 A obrigação alternativa é aquela quecompreende duas ou mais prestações, mas seextingue com a realização de apenas umadelas. Exemplo: obrigação de dar um carro ouuma moto. A quem cabe a escolha de que prestaçãocumprir? Em regra ao devedor, pois aobrigação se extingue com ele cumprindo umaou outra prestação. Todavia, o contrato podeprever que a escolha cabe ao credor. É o que

diz o art. 252 do CC, que completa: não podeo devedor obrigar o credor a receber parte emuma prestação e parte em outra.

Importante: o que ocorre quando uma ou todasas prestações não puderem ser cumpridas? Aresposta irá variar se a escolha cabia aodevedor ou ao credor.

a) Impossibilidade de uma das prestações: Sea escolha couber ao devedor, subsiste aobrigação com a outra prestação (art. 253 do

CC).Mesma solução, se a escolha couber ao credore a impossibilidade se deu sem culpa do

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devedor. Todavia, se por culpa dele, o credorpoderá exigir a prestação subsistente ou ovalor em dinheiro da prestação impossibilitada,

acrescido de perdas e danos (art. 255 do CC).Exemplo: devedor de um carro ou uma motodestrói a moto ao dirigir embriagado.Consequência: se a escolha cabe ao devedor,obrigação simples de dar o carro; se cabe aocredor, pode cobrar o carro ou o valor emdinheiro da moto mais perdas e danos. Se amoto foi destruída acidentalmente, mesmocabendo a escolha ao credor, obrigaçãosimples de dar o carro.

b) Impossibilidade de ambas as prestações:

Se a escolha couber ao devedor e este tiverculpa, ficará obrigado a pagar o valor daprestação que se impossibilitou por último,acrescido de perdas e danos (art. 254 do CC).Se a escolha couber ao credor e o devedorculpado, poderá reclamar o valor de qualqueruma delas acrescido de perdas e danos (art.255 do CC, in fine).No entanto, se ambas as prestações tornaram-se impossível sem culpa do devedor,independe de quem cabe a escolha: extintaestará a obrigação, ou seja, desfeito o negócio jurídico (art. 256 do CC).2.5. Obrigações divisíveis e indivisíveis

Obrigação divisível é aquela em que pode serfracionado o objeto da prestação, o que não épossível na obrigação indivisível. Comoexemplo, a obrigação de dar dinheiro éobrigação divisível e a obrigação de dar umcavalo é obrigação indivisível.

Só há importância em determinar o tipo de

obrigação quando houver pluralidade dedevedores e/ou credores. Sendo obrigaçãodivisível, não há problema, pois cada um cobraou é cobrado em sua parte (se não fordeterminada a parte que cabe a cada um,presume-se dividida em partes iguais).Entretanto, sendo obrigação indivisível, comocada um cobrará ou será cobrado em suaparte, já que o objeto não pode ser dividido?

Havendo mais de um devedor em obrigaçãoindivisível, cada um responde por toda a

dívida, pois não há como fracionar a cobrança. Agora, aquele que pagar a dívida, sub-roga-senos direitos do credor perante os demais

coobrigados (art. 259 do CC). Exemplo: seduas pessoas devem um cavalo, qualquer umdeles pode ser cobrado, mas quem pagar

poderá cobrar do outro, em dinheiro, metadedo valor do animal.

Havendo mais de um credor em obrigaçãoindivisível, qualquer um deles poderá cobrar adívida por inteiro, tornando-se devedor peranteos demais credores nas suas respectivaspartes em dinheiro (art. 261 do CC).

2.6. Obrigações solidárias

Na pluralidade de credores ou devedores em

obrigação indivisível, todos são obrigados outêm direito a toda dívida por ser fisicamenteimpossível dividir o objeto da prestação.Todavia, é possível haver obrigação divisívelem que todos são obrigados ou têm direito atoda a dívida por determinação da lei ou davontade das partes: é a obrigação solidária.

Imagine dois amigos devendo vinte mil reais aum credor.Em tese, cada um deve dez mil reais, mas, sefor obrigação solidária, o credor pode cobrartoda a dívida de qualquer deles (quem paga sesub-roga nos direitos do credor perante osdemais devedores).Por outro lado, se um devedor deve vinte milreais a dois amigos, em tese, deve dez milreais para cada um deles, mas, se forobrigação solidária, qualquer dos credorespode cobrar toda a dívida (quem recebe setorna devedor perante os demais credores).

Portanto, haverá solidariedade quando houver

mais de um devedor ou mais de um credorobrigados ou com direito à totalidade da dívida. A solidariedade não se presume, resultandoapenas da lei ou da vontade das partes. Asolidariedade pode ser ativa ou passiva, adepender se a pluralidade está no pólo ativo oupassivo da obrigação.

2.6.1. Solidariedade ativa

É a obrigação em que há mais de um credor,cada um deles com direito a toda a dívida. No

vencimento, qualquer credor pode se antecipare cobrar toda a dívida ou, enquanto nenhum

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deles a cobrar, o devedor se libera pagando aqualquer deles.Quem receber, responde perante os demais

credores, tornando-se devedor nas partes quelhes cabe.

O mesmo ocorre se um dos credores remitir(perdoar) a dívida. Devedor deve trinta milreais a três credores solidários e um delesperdoa toda a dívida.Este se tornará devedor de dez mil reais acada um dos demais credores, como se eletivesse se antecipado e cobrado o devedor(art. 272 do CC). Cuidado: é diferente quandocredor solidário perdoa sua parte. Nesse caso,

subsiste a solidariedade para os demaiscredores depois de sua parte ser descontada.No exemplo citado, o devedor continua a devervinte mil reais a dois credores solidários. A solidariedade é personalíssima, ou seja, seum dos credores falecer e deixar herdeiros,estes não se tornarão credores solidários.Significa que cada um de seus herdeiros sópoderá exigir e receber a quota quecorresponder ao seu quinhão hereditário.Imagine um devedor devendo trinta mil reais atrês credores solidários, sendo que um delesmorre deixando dois filhos.Os filhos não poderão cobrar os trinta mil, poisnão se tornam credores solidários. Cada um sópoderá cobrar a parte que lhe cabe naherança, ou seja, cada um só pode cobrarcinco mil reais.

Todavia, em dois casos, os herdeiros poderãocobrar a dívida toda: se a obrigação forindivisível (exemplo: o devedor deve umcavalo aos três credores solidários) ou,

segundo jurisprudência do STJ, se osherdeiros cobrarem juntos através do espólio,pois no direito das sucessões aprendemos queo espólio se sub-roga nos direitos do de cujos.

Nos termos do art. 271 do CC, convertendo-sea prestação em perdas e danos, nelassubsistem a solidariedade. Imagine umdevedor de um carro a três credores solidários,mas o destrói ao dirigir embriagado. Trata-sede obrigação de dar coisa certa com perda dobem por culpa do devedor.

Conforme visto, torna-se devedor noequivalente acrescido em perdas e danos, noque permanecerá havendo a solidariedade.

2.6.2. Solidariedade passiva

É a obrigação em que há mais de um devedor,

cada um deles obrigados a toda a dívida.Significa que o credor tem direito de exigir dequalquer deles o valor total da dívida, masquem pagar se tornará credor dos demaisdevedores nas suas respectivas partes(internamente não há solidariedade).Se o credor optar cobrar apenas parcialmentede um dos devedores solidários, os demaiscontinuam obrigados solidariamente peloresto.

Se um dos devedores solidários falecer, a

solidariedade é transferida aos seusherdeiros? Não, pois, como visto, asolidariedade é personalíssima.Significa que os herdeiros só podem sercobrados na quota que corresponde ao seuquinhão hereditário. Todavia, há duasexceções: se a obrigação for indivisível (ex:devedores solidários devem um cavalo) ou seos herdeiros forem cobrados juntos através doespólio, pois o direito das sucessões preceituaque o espólio se sub-roga nos deveres do decujos.

 Atenção: a lei dá tratamento diferente quanto àmanutenção da solidariedade no que se refereao pagamento de perdas e danos e de jurosque podem ser irradiados da obrigação, poisnas perdas e danos não subsiste asolidariedade. Mas nos juros, sim.

Se devedores solidários têm obrigação de darum carro e, por culpa de um deles, este édestruído, a obrigação se converte no

pagamento do valor equivalente acrescido deperdas e danos. No valor equivalente, todoscontinuam devedores solidários, mas pelasperdas e danos só responde o culpado (art.279 do CC).Todavia, se um dos devedores solidários dácausa a acréscimo de juros ao valor devido,todos respondem solidariamente pelo valordos juros, pois o pagamento de juros é umaobrigação acessória e o acessório segue asorte do principal (art. 280 do CC).

Importante (art. 285 do CC): Conforme vimos,o devedor solidário que paga a dívida podecobrar dos demais devedores a parte que lhes

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cabe (se nada for dito, presume-se dividida empartes iguais). Todavia, se a dívida solidáriainteressar exclusivamente a um dos devedores

solidários, responderá este por toda a dívidaquando da ação regressiva aos demaiscredores.O exemplo típico é o contrato de fiança.Quando há renúncia ao benefício de ordem,devedor principal e fiador são devedoressolidários. Se o fiador for cobrado, poderácobrar em regresso do devedor principal nãosó a metade da dívida, mas sim sua totalidade,pois é uma dívida contraída no seu exclusivointeresse.Da mesma forma, sendo caso de mais de um

fiador e um deles sendo cobrado pela dívida,só terá ação regressiva contra o devedorprincipal na totalidade da dívida, não tendoação contra os demais co-fiadores.3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

Haverá transmissão da obrigação quandohouver uma substituição subjetiva em seuspolos, ou seja, uma troca de devedor ou decredor. São dois os tipos de transmissão dasobrigações: cessão de crédito e assunção dedívida.Na cessão de crédito há uma substituição nopolo ativo, ou seja, há uma troca de credores,pois o credor cede a um terceiro o seu crédito.Na assunção de dívida há uma substituição nopolo passivo, ou seja, uma troca de devedores,pois um terceiro assume a obrigação dodevedor.3.1. Cessão de crédito

 A cessão de crédito se caracteriza pelasubstituição no polo ativo da obrigação,

havendo uma troca de credores em razão daalienação, gratuita ou onerosa, de um créditoa um terceiro, que se tornará o novo credor daobrigação. A lei permite a cessão do crédito quando a issonão se opuser a natureza da obrigação, a leiou o acordo das partes. Quem cede o créditoé chamado de cedente e quem o recebe échamado de cessionário.

 A cessão do crédito independe daconcordância do devedor.

 A lei exige apenas a notificação da cessão,para que ele não pague à pessoa errada. Casoo devedor não seja notificado e pague de boa-

fé ao antigo credor, ele estará desobrigado, sórestando ao verdadeiro credor cobrar docedente, que indevidamente recebeu o

pagamento.

Em regra, o cedente não responde pelasolvência do devedor, ou seja, caso ocessionário não consiga receber o crédito emrazão da insolvência do devedor, não poderácobrar a dívida do cedente. No entanto, eleresponderá se vier expresso no contrato.Quando o cedente não responde pelasolvência do devedor, a cessão é chamada decessão de crédito pro soluto; quando o cedenteresponde pela solvência do devedor, é

chamada de cessão de crédito pro solvendo.

Embora o cedente, em regra, não respondapela solvência do devedor, ele responde pelaexistência do crédito, ou seja, se ceder umcrédito que não existe, aí sim poderá sercobrado pelo cessionário. O cedenteresponderá pela existência do crédito tendo ocedido gratuita ou onerosamente.Se ceder de forma onerosa, responderá tendoagido de má-fé ou até mesmo de boa-fé, poisrecebeu pela cessão, devolvendo o valorauferido. No entanto, na cessão gratuita,como nada recebeu em troca, só responderáse tiver procedido de má-fé, ou seja, se sabiada inexistência do credito que cedeu.

Por fim, na cessão de crédito vigora o princípioda oponibilidade das exceções pessoaiscontra terceiros. O que significa isso? Quandoo cessionário cobrar a dívida do devedor, estepoderá se defender alegando as defesaspessoais que cabiam contra o cedente (art.

294 do CC).Exemplo: o devedor comprou um carro usadodo credor, mas não vai pagar porqueapresentou vício redibitório. Só que o credorcedeu o crédito a um terceiro, que é quemcobra a dívida. O devedor poderá se defendercontra o cessionário alegando o vícioredibitório, mesmo sendo uma defesa pessoalcontra o cedente.3.2. Assunção de dívida

 A assunção de dívida se caracteriza pela

substituição no polo passivo da obrigação,havendo uma troca de devedores. A lei permite

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que terceiro assuma a dívida do devedor, masexige a concordância expressa do credor.No entanto, independe de consentimento do

devedor, podendo a assunção de dívida serpor delegação (com consentimento dodevedor) ou por expromissão (semconsentimento do devedor).

O terceiro que assume a obrigação é chamadode assuntor.Quando ele assume a obrigação, o devedorprimitivo está exonerado, pois deixou de ser odevedor. Todavia, há um caso em que odevedor primitivo não estará exonerado,podendo ser cobrado pelo credor: se a cessão

foi feita a quem insolvente e o credor a aceitoupor não saber do fato.

Com a assunção de dívida, salvoconsentimento expresso do devedor primitivo,estarão extintas as garantias dadas por ele,afinal ele não é mais o devedor. Se asubstituição vier a ser anulada, restaura-se odébito do devedor primitivo, com todas asgarantias que existiam.Exceção: não retornarão as garantias dadaspor terceiros, por exemplo, hipoteca de umbem de terceiro. Exceção da exceção: agarantia dada por terceiro poderá retornar,caso ele soubesse da causa que gerouanulação da substituição.

O assuntor, como novo devedor, poderá alegarque tipo de defesa ao ser cobrado pelocredor? Com efeito, a defesa pode ser de doistipos: comum ou pessoal. Será comum quandofor defesa de qualquer pessoa que venha a sercobrado pelo credor (ex. prescrição da dívida).

Por outro lado, será defesa pessoal quando forexclusiva de uma pessoa (ex. compensaçãode dívida).O assuntor, ao ser cobrado, poderá se valerdas defesas comuns ou das suas pessoais,não podendo se valer das defesas pessoaisque cabiam ao devedor primitivo (art. 302 doCC).4. ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DASOBRIGAÇÕES

O meio normal de extinção da obrigação é o

devedor cumprir a prestação, o quechamamos de pagamento. Note que o sentidotécnico de pagamento difere do seu sentido

leigo, pois pagamento é coloquialmente usadono sentido de dar dinheiro.Pagamento em sentido técnico é cumprir a

prestação, seja um dar (dinheiro ou qualqueroutro bem), um fazer ou até um não fazer.

No entanto, a obrigação pode ser extinta pormeios anormais, havendo extinção daobrigação de uma forma alternativa, de umaforma diferente do que o cumprimento daprestação.São as formas anormais de extinção daobrigação: pagamento em consignação,pagamento com sub-rogação, imputação depagamento, dação em pagamento, novação,

compensação, confusão e remissão.

4.1. Pagamento

Pagamento é o meio normal de extinção daobrigação, ou seja, o cumprimento daprestação (dar, fazer ou não fazer). O CC iniciao tema abordando quem deve pagar (chamadode solvens) e a quem se deve pagar (chamadode accipiens).

O CC trata de quem deve pagar, mas, naverdade, o que se estabelece são regrassobre quem pode pagar. A obrigação pode serpaga por qualquer pessoa que tenha algumtipo de interesse, ou seja, pelo devedor ou porum terceiro. A lei, no entanto, estabelececonsequências diferentes para o pagamentosendo feito pelo devedor, por terceirointeressado ou por terceiro não interessado.Quando se fala em terceiro interessado ou nãointeressado, fala-se em interesse jurídico, pois,se o terceiro paga, algum tipo de interesse ele

tem. O terceiro será interessado quando puderser cobrado pela dívida. Assim, um fiador que paga a dívida doafiançado é um terceiro interessado, mas o paique paga a dívida de um filho maior de idade,embora tenha um interesse sentimental, éconsiderado um terceiro não interessado.

Se o devedor efetuar o pagamento, extintaestará a obrigação e ele estará exonerado.Se um terceiro pagar, também estará extinta,mas ele poderá reaver o valor pago, embora

de forma diferente a depender de quem pagou:se terceiro interessado, sub-roga-se nosdireitos do credor; se terceiro não interessado,

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apenas tem direito de reembolso, não se sub-rogando nos direitos do credor.Em ambos os casos, o terceiro cobra do

devedor o que pagou por ele, mas diferemporque, ao se sub-rogar nos direitos do credor,terá as garantias especiais dadas a ele, o quenão ocorre no mero direito de reembolso.Detalhe: isso ocorrerá se o terceiro pagar emseu nome, pois se pagar em nome do devedor,é considerado uma mera ajuda, não tendodireito de reaver o que pagou. A quem se deve pagar? O pagamento deve serfeito ao credor ou a quem de direito orepresente. Se o pagamento foi feito à pessoaerrada, pagou-se mal e quem paga mal, paga

duas vezes, pois o verdadeiro credor poderácobrá-lo.No entanto, em dois casos, o pagamento feitoa um terceiro libera o devedor: se o credorconfirmar o pagamento ou tanto quanto provarter se revertido ao credor.

Há um caso em que o pagamento é feito a umterceiro e o devedor está liberado, mesmo queo credor não confirme nem se prove a reversãoem seu benefício.É o caso do pagamento feito ao chamadocredor putativo. Putativo vem de  putare, quesignifica crer, acreditar. Haverá credor putativoquando se paga de boa-fé a quem não é ocredor, ou seja, se pagou à pessoa errada,mas havia motivos para acreditar ser ele ocredor. Um exemplo já foi visto quando daabordagem do tema cessão de crédito.Vimos que o devedor não precisa concordar,mas deve ser notificado da cessão de créditopara saber que o credor mudou. Vimos que senão for notificado e de boa-fé pagar ao

cedente, ele está exonerado e a razão ésimples: pagou a credor putativo.

No que se refere ao objeto do pagamento, esteserá o cumprimento da prestação. O credornão é obrigado a aceitar prestação diversa daque lhe é devida, ainda que mais valiosa,afirma o art. 313 do CC. Ainda que a obrigaçãoseja divisível, como dever dinheiro, não pode ocredor ser obrigado a receber nem o devedorser obrigado a pagar por partes, se assim nãose ajustou.

Quem paga tem direito de receber uma provade que pagou. É o que chamamos de

quitação. O instrumento da quitação é o recibo,que sempre pode ser por instrumentoparticular. Se o credor se recusar a dar

quitação, o devedor pode legitimamente retero pagamento enquanto não lhe for dada.

 Assim sendo, em regra, quem prova opagamento é o devedor, apresentando orecibo recebido como instrumento da quitação.No entanto, em três casos haverá presunçãode pagamento, dispensando o devedor deprovar que pagou. Ocorre que é umapresunção relativa, ou seja, aquela que admiteprova em contrário.Desta forma, sendo um dos casos de

presunção de pagamento, não se fixa umaverdade absoluta de que existiu pagamento,mas sim uma inversão do ônus da prova, poiso devedor não precisa provar que pagou, maso credor pode provar que o devedor nãopagou.São os três casos de presunção depagamento:

a) Art. 322 do CC: quando o pagamento for emquotas periódicas, a quitação da últimaestabelece, até em prova em contrário, apresunção de estarem solvidas as anteriores;

b) Art. 323 do CC: sendo a quitação do capitalsem fazer reserva que os juros não forampagos, estes se presumem pagos; e

c) Art. 324 do CC: a entrega do título firmapresunção do pagamento, presunção quepode ser elidida no prazo de sessenta dias.

Para se efetuar o pagamento, importa saber o

lugar do cumprimento da obrigação. É nesselugar que se devem reunir credor e devedor nadata marcada, não podendo o devedoroferecer nem o credor exigir o cumprimento emlugar diverso.

No direito comparado, há dois tipos deobrigação: quérable ou portable. A obrigaçãoquérable  (chamada no Brasil de quesível) éaquela que deve ser cumprida no domicílio dodevedor e obrigação  portable  (chamada noBrasil de portável) é aquela que deve ser

cumprida no domicílio do credor.No Brasil, conforme previsão do art. 327 doCC, em regra as obrigações devem ser

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cumpridas no domicílio do devedor, ou seja,são quesíveis ou quérable. Poderá ser portávelou até em outro local a depender da vontade

das partes, da lei, da natureza da obrigação oudas circunstâncias.Como exemplo, o art. 328 do CC determinaque se o pagamento consistir na entrega deum imóvel ou de prestações relativas a eledeverá ser cumprido onde situado o bem.

4.2. Pagamento em consignação

Consignação de pagamento significa odepósito judicial ou em estabelecimentobancário da coisa devida, o que a lei equipara

a pagamento, extinguindo a obrigação. Odevedor tem não só o dever de pagar, mastambém o direito de fazê-lo para evitar asconsequências de sua mora. A consignação em pagamento é, portanto, umvalioso instrumento para o devedor nãosuportar os encargos moratórios.

Poderá o devedor consignar pagamentobasicamente quando houver mora do credorou algum risco para o devedor na realizaçãodo pagamento direto.Nesse sentido, o art. 335 do CC arrola casosde cabimento da consignação em pagamento:se o credor se recusar sem justa causa areceber o pagamento ou não puder recebê-lo,se o devedor tiver dúvida sobre quem é overdadeiro credor ou se o credor fordesconhecido, entre outros.

Feito o depósito, a princípio, suspende aincidência dos encargos moratórios, mas odevedor deverá propor ação judicial para

discussão da matéria, podendo o credorimpugnar o pagamento, pois só exonera odevedor se observados os mesmos requisitosexigidos para validade do pagamento.Se julgado improcedente, o depósito não teráefeito. O processo tem procedimento especialprevisto no CPC.

4.3. Pagamento com sub-rogação

Pagamento com sub-rogação é a operaçãopela qual o crédito se transfere com todos os

seus acessórios a um terceiro que paga dívidaalheia. Sub-rogar é substituir, o que significaque haverá aqui uma substituição de credor,

extinguindo a obrigação com relação ao credororiginário. A ideia é: A deve a B e um terceiro C paga essa

dívida e agora A deve a C, pois este se sub-rogou nos direitos de B.

Como é uma simples substituição no poloativo, o vínculo se mantém e o novo credortem todos os privilégios e garantias que tinhao credor originário (art. 349 do CC).No entanto, é possível que um terceiro paguedívida alheia e não se sub-rogue nos direitosdo credor, caso em que terá mero direito dereembolso contra o devedor, por não ser umdos casos de pagamento com sub-rogação.

 A diferença é que poderá cobrar dele o quepagou, mas sem ter os privilégios e garantiasdo credor originário, pois surge um novovínculo, uma nova obrigação (de reembolso),extinguindo a obrigação primitiva.

 A sub-rogação pode ser de dois tipos: legal ouconvencional, a depender se decorre de lei ouda vontade das partes.O CC prevê, em art. 346, os casos em que asub-rogação se opera de pleno direito, ou seja,se um terceiro paga a dívida, ele se sub-rogaautomaticamente nos direitos do credorprimitivo, independente da vontade das partes.Se a lei não prevê como caso de sub-rogação,teria o terceiro mero direito de reembolso, masas partes poderão prever a sub-rogação,passando o terceiro a ter os privilégios egarantias do credor primitivo, o que nãoexistiria no mero direito de reembolso.

Como exemplo, trago um caso visto no estudodo pagamento. Se terceiro interessado paga a

dívida do devedor, sub-roga-seautomaticamente nos direitos do credor,mantendo-se os privilégios e as garantias (art.346, III, do CC).Se terceiro não interessado paga a dívida dodevedor, apenas terá direito de reembolso,não se sub-rogando nos direitos do credor(sem os privilégios e garantias do credororiginário).No entanto, se o terceiro não interessadopagar a dívida do devedor condicionado a sub-rogar-se nos direitos do credor, haverá

pagamento com sub-rogação convencional eterá o novo credor os privilégios e garantias docredor primitivo (art.347, II, do CC).

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4.4. Novação

Novação é o meio de extinção da obrigaçãopelo surgimento de uma nova obrigação. Anovação pode ser de dois tipos: objetiva ousubjetiva. A novação é objetiva quando a nova obrigaçãodifere da obrigação anterior pela substituiçãoda prestação (ex. obrigação de dar dinheirotransformada em obrigação de fazer ouobrigação veiculada em cheque substituídapor obrigação veiculada em nota promissória). A novação será subjetiva quando a novaobrigação difere da obrigação anterior pela

substituição do credor (novação subjetivaativa) ou do devedor (novação subjetivapassiva).

Importante: qual a diferença entre pagamentocom sub-rogação e novação subjetiva ativa?Em ambos os casos, há troca do credor, masdiferem porque no pagamento com sub-rogação o vínculo se mantém, havendoapenas a troca de credor, enquanto que nanovação, extingue-se o vínculo anterior,surgindo uma nova obrigação com um novovínculo.Consequência: no pagamento com sub-rogação se mantém para o novo credor osprivilégios e garantias do credor primitivo,enquanto que na novação, extinguem-se osprivilégios e garantias do credor primitivo, nãoas tendo o novo credor.

Do exposto acerca da sub-rogação e novação,podemos chegar a uma conclusão: quando opagamento é efetuado por um terceiro, seja

interessado ou não interessado, ele poderáreaver do devedor primitivo o que por elepagou. A diferença é que quando o pagamento é feitopor terceiro interessado, há pagamento comsub-rogação, enquanto que no pagamentofeito por terceiro não interessado, há novação,pois se extingue o vínculo anterior, surgindouma nova obrigação com um novo vínculo (aobrigação de reembolso).Por isso, o terceiro interessado terá osprivilégios e garantias do credor primitivo, mas

o terceiro não interessado não, a não ser quese valha do pagamento com sub-rogaçãoconvencional, ou seja, condicionando o

pagamento a sub-rogar-se nos direitos docredor.4.5. Imputação ao pagamento

Se um devedor tem várias dívidas diferentescom um credor, mas não lhe entrega valorsuficiente para pagamento de todas, é precisoidentificar quais as dívidas foram extintas.

Imputação ao pagamento é a indicação dadívida a ser paga quando uma pessoa seencontra obrigada por dois ou mais débitoscom o mesmo credor, sem poder pagar todoseles. Note que imputação ao pagamento não ébem um meio de extinção da obrigação, mas

sim a determinação de que obrigação estáextinta quando nem todas forem pagas.

 Antes de a lei definir quais obrigações estãoextintas (imputação legal), as partes têm odireto de definir (imputação convencional). Assim, em primeiro lugar, quem define é odevedor. No seu silêncio, o credor define emquais dá quitação.Se nenhum deles definir, a lei definirá,estabelecendo a seguinte ordem: (i) primeirose pagam os juros vencidos e só depois ocapital; (ii) pagamento imputado às dívidasvencidas há mais tempo; (iii) se todas vencidasno mesmo tempo, a imputação será na maisonerosa (maiores juros ou multas);(iv) se todas no mesmo tempo e mesmos ônus,a lei não dá solução, mas jurisprudência diz serde forma proporcional em cada uma dasobrigações.4.6. Dação em pagamento

Dação em pagamento é a forma de extinção

da obrigação através da qual o credor aceitareceber prestação diversa da que lhe é devida.Conforme visto, nos termos do art. 313 do CC,o credor não é obrigado a aceitar prestaçãodiversa da contratada, ainda que mais valiosa.Porém, nada impede que o credor aceiteprestação diversa, caso em que haveráextinção da obrigação de uma forma anormal,que não pelo pagamento, chamada de daçãoem pagamento.

Conforme será visto em contratos neste livro,

evicção é a perda judicial ou até administrativade um bem em razão de vício jurídico anteriorà alienação. Quem vende não poderia ter

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vendido e quem compra perde para umterceiro, buscando do alienante umaindenização.

Se o devedor dá coisa diversa em pagamentoe o credor a perde pela evicção, restabelece-se a obrigação primitiva, ficando sem efeito aquitação dada, ressalvados os direitos deterceiro (art. 359 do CC).

4.7. Compensação

Compensação é a forma de extinção dasobrigações entre duas pessoas que são, aomesmo tempo, credora e devedora uma daoutra. O meio normal de extinção da obrigação

é o pagamento, ou seja, o cumprimento daprestação.Todavia, quando duas pessoas são devedorase credoras uma da outra, não há sentido queos pagamentos sejam feitos para extinção dasobrigações. Compensam-se as dívidas eextintas estão as obrigações até onde secompensarem.

 A compensação pode ser de dois tipos: legalou convencional, a depender se decorre da leiou da vontade das partes. A compensaçãolegal se dará automaticamente, bastandopresentes os requisitos legais, quais sejam:reciprocidade das obrigações (um deve aooutro e vice versa), liquidez e vencimento dasprestações e envolverem bens fungíveis entresi (não basta serem bens fungíveis,devem ser substituíveis entre si, ou seja,homogêneos, por exemplo, dinheiro pordinheiro ou saca de café por saca de café, nãopodendo ser dinheiro por saca de café).Mesmo ausentes tais requisitos, ainda sim

poderá haver compensação, mas seráconvencional, por depender da vontade daspartes.Nada impede, portanto, haver compensaçãode uma dívida vencida com outra a termo, combens infungíveis ou de natureza diferente(dinheiro por saca de café), mas serácompensação convencional, onde o queimporta é a vontade das partes.

 A reciprocidade é um requisito para acompensação legal, ou seja, devedor deve ao

credor e vice-versa, mas há uma exceção:quando envolver o fiador. O devedor somentecompensa sua dívida para o credor com a

dívida do credor contra ele, mas o fiador podecompensar sua dívida para o credor (é deledevedor porque é fiador) com a dívida que o

credor tem com o afiançado, ou seja,não com ele, pois o fiador não é devedor emcausa própria, mas mero garantidor de umadívida do afiançado (art. 371 do CC).4.8. Confusão e Remissão

Confusão é a forma de extinção dasobrigações por reunirem na mesma pessoa aqualidade de credor e devedor. Imagine um paique deve uma quantia em dinheiro a seu filho,que é seu único herdeiro.Com a morte do pai, o filho assume o débito,

mas ele próprio é o credor, gerando extinçãoda obrigação pela confusão. A confusão podese verificar a respeito de toda a dívida (total)ou só de parte dela (parcial). No exemplocitado, se são dois filhos, tendo o credor umirmão, só haverá extinção da obrigaçãorelativa à metade da dívida (espólio é devedorde metade do valor para o filho credor).

Remissão é a forma de extinção da obrigaçãocom o perdão da dívida pelo credor. Cuidado:não confunda remissão com remição. A causade extinção da obrigação é a remissão, é o atode remitir, que significa perdão, perdoar.Remição ou ato de remir não é causa deextinção da obrigação, pois significa resgate,resgatar.Tanto na confusão quanto na remissão há umaspecto importante para você saber sobreobrigações solidárias. Confusão ou remissãoentre credor e um dos devedores solidários ouentre o devedor e um dos credores solidários:mantém-se a solidariedade entre os demais,

descontada a parte remitida ou da confusãoparcial.

Exemplo: Imagine três devedores solidáriosem trinta mil reais ao pai de um deles(solidariedade passiva). Com a morte do pai oudo filho ou se o pai perdoar só a dívida do filho,os outros dois devedores serão solidários emvinte mil reais. Da mesma forma, imagine queum devedor deve trinta mil reais a trêscredores solidários, sendo um deles o pai dodevedor (solidariedade ativa).

Com a morte do pai ou do filho ou se o paiperdoar só a dívida do filho, os outros doiscredores serão solidários em vinte mil reais.

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5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES

5.1. Diferença entre inadimplemento e mora

Quando o devedor não cumpre a prestação,estamos diante do inadimplemento, que podeser de dois os tipos: absoluto ou relativo.O inadimplemento é absoluto quando aprestação não é cumprida e não é mais útil aocredor que o devedor a cumpra - por exemplo,contratação de cantor para cantar em umcasamento que não comparece à cerimônia.O inadimplemento é relativo quando aprestação não é cumprida, mas ainda é útil ao

credor que o devedor a cumpra, por exemplo,não pagamento de uma dívida em dinheiro nodia do vencimento. O inadimplemento absolutoé chamado simplesmente de inadimplementoe o inadimplemento relativo é chamado demora.

Note que a diferença entre inadimplemento emora reside no critério de utilidade para ocredor. Em ambos os casos, a prestação nãoé cumprida, sendo inadimplemento se aprestação não é mais útil ao credor e mora sea prestação ainda é útil ao credor.

Por que diferenciar mora e inadimplemento?Se o caso é de inadimplemento, como aprestação não é mais útil ao credor, a únicasolução é o pagamento de indenização porperdas e danos (ar. 389 do CC). Por outro lado,se o caso é de mora, cabe o que chamamosde purgação ou emenda da mora. O que éisso? É cumprir a obrigação, porque ainda útilpara o credor, acrescido dos encargos

moratórios.Purga-se a mora pagando-se com retardo,acrescido de: correção monetária, juros demora, perdas e danos decorrentes da mora eeventual honorários de advogado (art. 395 doCC).5.2. Mora

O art. 394 do CC diz que se considera em morao devedor que não efetuar o pagamento e ocredor que não quiser recebê-lo no tempo,lugar e forma que a lei ou a convenção

estabelecer.Note haver mora não apenas quando não sepaga no tempo devido, mas também se não se

paga no lugar e na forma devida. Note aindanão haver mora só do devedor, mas tambémdo credor, que ocorre quando este não quiser

injustificadamente receber o pagamento,sendo o pagamento em consignação a soluçãopara o devedor se livrar dos encargos da mora.

Segundo art. 395 do CC, configurada a mora,o devedor pode purgá-la, cumprindo aprestação acrescida dos encargos moratórios.Todavia, se a prestação tornar-se inútil aocredor, este poderá enjeitá-la e pedir perdas edanos. A razão é simples: se inútil ao credor,deixou de ser mora e se transformou eminadimplemento absoluto.

Como exemplo, imagine uma costureira quedeixa de entregar o vestido de noiva no prazoestipulado. É caso de mora ouinadimplemento? Depende. Se ainda nãohouve a cerimônia, em razão de a datamarcada lhe ser bastante anterior, o caso é demora;se já houve a cerimônia, em razão da datamarcada ter sido na véspera do casamento, ocaso é de inadimplemento, caso em que ocredor poderá rejeitar a coisa e pedir perdas edanos, pois ao se tornar inútil a ela, a mora setransformou em inadimplemento absoluto.

Completa a ideia de mora o art. 396 do CC,que preceitua não incorrer em mora o devedorquando não haja fato ou omissão imposta aele. Significa que a mora é o não cumprimentoculposo da obrigação. Se não há culpa, não hámora.Se uma conta do devedor só pode ser paga nobanco e o vencimento cai em um domingo, ao

se pagar no dia seguinte, não há de se falar emmora, tanto que se paga sem encargosmoratórios.

O art. 397 do CC nos faz perceber haver doistipos de mora: ex re e ex persona. A mora ex re é automática, ou seja, é aquelaque independe de ato do credor para odevedor ser constituído em mora (interpelação judicial ou extrajudicial, notificação, protesto oucitação do devedor). Por sua vez, a mora ex persona  é aquela que precisa de um dos

citados atos do credor para o devedor serconstituído em mora. Quando a mora é ex re equando é ex persona?

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Há dois tipos de obrigações: com dia certo devencimento e sem dia certo de vencimento.

Quando a obrigação tem um dia certo devencimento, o devedor não precisa serconstituído em mora por ato do credor, pois osimples não pagamento no vencimento oconstitui em mora (dies interpellat pro homine,ou seja, o próprio dia interpela o devedor).Por outro lado, quando a obrigação não temdia certo de vencimento, o devedor só estaráem mora se for constituído por ato do credor. Assim, quando a obrigação é com dia certo devencimento, a mora é ex re e quando aobrigação é sem dia certo de vencimento, a

mora é ex persona.

O art. 398 do CC demonstra que a mora é exre quando a obrigação não cumprida decorrede ato ilícito. Com efeito, ato ilícito civil écausar dano a alguém, gerando ao causador odever de indenizá-lo. Poderíamos pensar sercaso de mora ex persona, pois o devedor deveser constituído em mora por um ato do credor,propondo ação judicial (citação válida constituio devedor em mora).No entanto, tal entendimento é equivocado,pois a lei diz que essa mora é automática,independendo de qualquer ato do credor. Oart. neste momento em análise diz que nasobrigações provenientes de ato ilícito,considera-se o devedor em mora desde que opraticou (a responsabilidade de reparar o danofixada na sentença judicial retroage à data doato para aplicar os efeitos da mora).

Os arts. 399 e 400 do CC trazem dois efeitosda mora, um para mora do devedor e outro

para a mora do credor:a) Efeito da mora do devedor (art. 399 do CC):O devedor em mora responde pelaimpossibilidade da prestação, ainda que estase dê por caso fortuito ou força maior.Se a prestação do devedor se torna impossívelsem culpa do devedor, simplesmente seresolve a obrigação sem qualquer ônus a lheser imposto. Todavia, se a impossibilidadeocorrer durante seu atraso, o devedor ficaráobrigado a indenizar o credor pela

impossibilidade da prestação, mesmo que estatenha se dado por caso fortuito ou por forçamaior.

 Apenas em dois casos, estará desobrigado deindenização: quando provar isenção de culpano seu atraso (evidente, pois nesse caso não

há mora, pois a mora é o não cumprimentoculposo da obrigação) e se provar que o danoocorreria mesmo se a prestação tivesse sidocumprida no tempo, lugar ou forma devida, ouseja, mesmo se não houvesse mora.

b) Efeito da mora do credor (art. 400 do CC): Amora do credor, ou seja, se o credor se recusarinjustificadamente a receber o pagamento,gera três efeitos: (i) retira do devedor isento dedolo a responsabilidade pela conservação dacoisa (só indeniza perda ou deterioração do

bem se teve dolo, não respondendo se teveculpa stricto sensu, ou seja, imprudência,negligência ou imperícia);(ii) obriga o credor a ressarcir o devedor dasdespesas que teve para conservar o bem; e (iii)sujeita o credor a receber o bem pelaestimação mais favorável ao devedor se o seuvalor oscilar entre o dia estabelecido para opagamento e o da sua efetivação.5.3. Responsabilidade Civil Contratual

Responsabilidade civil é o dever de indenizarum prejuízo causado. Há dois tipos deresponsabilidade civil: contratual eextracontratual. A responsabilidade civil contratual é aquela emque há um contrato entre as partes, ou seja,um contratante não cumpre o contrato,causando prejuízo ao outro contratante,gerando dever de indenização. A responsabilidade civil extracontratual,também chamada de aquiliana, é aquela emque não existe um contrato entre quem causa

e quem sofre o dano, como no caso de alguémbater no carro de outrem, tendo que indenizá-lo. Responsabilidade civil extracontratual étema do capítulo responsabilidade civil.Responsabilidade civil contratual é estudadaaqui em obrigações, pois ocorre diante demora e inadimplemento.

O contratante que não cumpre o contrato serácivilmente responsabilizado, mas apenas seisso gerar um dano ao outro contratante, poisresponsabilidade civil é o dever de indenizar

um dano causado.Conforme o art. 402 do CC, o inadimplentedeverá indenizar não só o dano emergente,

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mas também os lucros cessantes, que são osdois tipos de dano material. Dano emergente:prejuízo efetivamente experimentado; lucro

cessante: o que se legitimamente se deixou deganhar. A eles se acrescenta dano moral.

Diante de inadimplemento, seja absoluto ourelativo, quem não cumpre o contratocausando dano ao outro contratante deveráindenizá-lo. A questão é: a responsabilidadecivil contratual é subjetiva (depende de culpa)ou objetiva (independe de culpa)?

 A responsabilidade civil contratual é subjetiva,pois só há mora se o não cumprimento da

prestação for culposo. Significa que não hámora e, portanto, não há responsabilidade civilcontratual, se não houver culpa do contratanteem não cumprir a prestação.O mesmo ocorre com o inadimplementoabsoluto, que pode ser culposo (com culpa dodevedor) ou fortuito (sem culpa do devedor),mas, em regra, só haverá obrigação deindenizar se o devedor teve culpa noinadimplemento.Se um cantor é contratado para cantar nocasamento e propositalmente não aparece nacerimônia, será responsabilizado em perdas edanos, mas se não cumpriu o contrato porquefoi sequestrado na véspera, não há de se falarem dever indenizatório.

Importante: O art. 393 do CC dispõe que “odevedor não responde pelos prejuízosresultantes do caso fortuito ou de força maior,se expressamente não se houver por elesresponsabilizado” Note que, conforme visto, aresponsabilidade civil contratual é subjetiva,

mas as partes podem expressamente preverno contrato que o inadimplente responderámesmo que não tenha cumprido o contrato porcaso fortuito ou motivo de força maior, ou seja,sem ter tido culpa, pois caso fortuito ou motivode força maior são situações inevitáveis, que oinadimplente não podia impedir,como no caso do cantor contratado para cantarem um casamento que não cumpre aobrigação por ter sido sequestrado na véspera.

Qual a diferença, então, entre

responsabilidade civil contratual eresponsabilidade civil extracontratualsubjetiva?

Em ambos os casos só há responsabilidadecivil diante da existência de culpa do devedor,mas na responsabilidade civil contratual, a

culpa é presumida. Todavia, é uma presunçãorelativa, ou seja, aquela que admite prova emcontrário, representando, assim, a inversão doônus da prova. Na responsabilidade civilcontratual, basta ao contratante provar que ooutro não cumpriu o contrato.Se este não teve culpa no inadimplemento, eleque prove. Por outro lado, se éresponsabilidade civil extracontratualsubjetiva, a vítima do dano, ao cobrar perdas edanos, deverá provar que o agressor teveculpa ao causar o dano, pois esta não é

presumida.

Quando se diz que a responsabilidadesubjetiva exige a culpa, usa-se o termo culpaem sentido amplo, ou seja, é o dolo ou a culpaem sentido restrito (imprudência, negligênciaou imperícia). A princípio, não há diferença naresponsabilidade civil contratual se oinadimplemento foi por dolo ou por culpa.O art. 404 do CC diz que não interfere no valorda indenização se por dolo ou culpa, pois ovalor da indenização será o valor do danosofrido. No entanto, a lei consagrou umadiferença entre inadimplemento doloso ouculposo no negócio jurídico benéfico, ou seja,no contrato gratuito.

Nos termos do art. 392 do CC, se o contrato éoneroso, o contratante inadimplente respondepor não ter cumprido o contrato por dolo ou porculpa, mas, se for um contrato benéfico ougratuito, a parte que não é favorecida (aquelaque não recebe nada em troca) só responde

pelo inadimplemento se agiu com dolo, ouseja,não será responsabilizado civilmente pelo nãocumprimento do contrato por culpa em sentidoestrito.

 Assim sendo, ao doar um bem, o doador sóresponde pela impossibilidade de entregar acoisa doada, caso tenha agido dolosamente,por exemplo, se destruiu intencionalmenteesse bem.Não responderá o doador, se o bem se

quebrou porque foi negligente ao usá-lo, casoem que simplesmente se resolverá a

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obrigação, desfazendo a doação sem qualquerdever indenizatório ao doador.Se o contrato for de compra e venda e a coisa

se perde com culpa do devedor, vimos que asolução é dar o equivalente acrescido deperdas e danos, que será devido tanto no casode dolo quanto de culpa, ou seja, se quebroupropositalmente ou se por negligência, poiscompra e venda é contrato oneroso.5.4. Cláusula Penal

Conforme vimos, tanto o inadimplementoquanto a mora podem gerar responsabilidadecivil contratual. Em caso de inadimplemento, ocontratante deverá indenizar o outro em

perdas e danos causados pelo nãocumprimento do contrato e, em caso de mora,o devedor poderá purgá-la,cumprindo a prestação com retardado,acrescida de perdas e danos causados pelamora, correção monetária, juros de mora ehonorários advocatícios.

O grande problema na responsabilidade civilcontratual é provar o valor da indenização, ouseja, a extensão do prejuízo causado pelo nãocumprimento do contrato.Para resolver esse problema, a lei traz comosolução a cláusula penal, que é uma multaprefixando o valor das perdas e danos emrazão da mora ou do inadimplemento.

Cláusula penal, portanto, é um pacto inseridono contrato, impondo multa ao devedor quenão cumpre ou que retarda o cumprimento daprestação.Note que há multa tanto para o caso de moraquanto de inadimplemento. Assim, há dois

tipos de cláusula penal: moratória ecompensatória. A cláusula penal moratória épara prefixar perdas e danos em razão damora, ou seja, pelo retardamento nocumprimento da obrigação, e a cláusula penalcompensatória é para prefixar perdas e danosem caso de inadimplemento absoluto, ou seja,pelo não cumprimento da prestação.

Como exemplo, imaginemos um contrato delocação, cuja prestação do locatário é pagar,durante três anos, mil reais por mês ao

locador. Se no contrato houver uma multa novalor de três meses de aluguel para o caso do

locatário devolver as chaves antes do fim docontrato,será uma cláusula penal compensatória, pois

o locatário pagará uma multa por não tercumprido sua prestação, pelo menos em parte.Por outro lado, se houver no contrato umamulta em razão do locatário atrasar opagamento do aluguel por não pagar no dia dovencimento, será uma cláusula penalmoratória, pois o pagamento da multa é para oretardamento no cumprimento da prestação.Note que há dois tipos de cláusula penal, cadauma com uma finalidade específica. Acláusula penal compensatória tem a função decompensar o contratante por não ter o outro

contratante cumprido sua prestação. Já acláusula penal moratória tem a função deintimidar, pois o contratante pagará uma multase retardar o cumprimento da prestação.

O art. 408 do CC demonstra que a cláusulapenal é uma prefixação de perdas e danos eque a responsabilidade civil contratual ésubjetiva, pois diz que incorre de pleno direitona cláusula penal o devedor que culposamentedeixe de cumprir a obrigação ou que seconstitua em mora.Significa que, em caso de inadimplemento, ooutro contratante pode executar a multa,independente de provar a extensão do danoem ação de conhecimento. E a lei vai maislonge ainda com o art. 416 do CC, prevendoque sequer é necessário provar que houvedano, se este foi prefixado no contrato.

Uma questão pode ser levantada: se o prejuízodo contratante for maior do que o valor damulta, poderá ele cobrar a diferença? A

princípio não, pois o parágrafo único do art.416 do CC diz que só poderá cobrar eventualvalor a mais, se esta possibilidade estiverexpressa no contrato.Se assim for, o valor da multa já é objeto deexecução e o valor a mais deverá ser provadoem ação de conhecimento para seguir aexecução por título executivo judicial. Se nãohouver permissivo contratual, limita-se aexecutar a multa.

Há importante diferença na cobrança da

cláusula penal a depender se compensatóriaou se moratória (arts. 410 e 411 do CC): noinadimplemento o credor cobra cláusula penal

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 já me beneficiei do valor das arras, cobroapenas o prejuízo que tive a mais.No entanto, se forem arras penitenciais, há no

contrato previsão de direito dearrependimento, sendo fixado um preço paraisso, ou seja, o valor de arras, não podendo oprejudicado cobrar eventual valor a mais quetenha tido de prejuízo com a desistência dooutro contratante.

Diferença: nas arras confirmatórias (quandonão há direito de arrependimento), ocontratante pode cobrar indenizaçãosuplementar, enquanto que não poderá fazê-lonas arras penitenciais (quando há direito de

arrependimento), pois se fixou um preço paraisso.2.2. Contrato oneroso e gratuito

a) Contrato oneroso: é aquele em que aspartes ganham algo equivalente à suaprestação, ou seja, há equilíbrio econômicoentre as partes porque ambos perdem eganham na mesma proporção econômica, porexemplo, contrato de compra e venda.

b) Contrato gratuito: é aquele em que a partenão ganha algo equivalente à sua prestação,ou seja, há desequilíbrio econômico, pois umadas partes só ganha e uma das partes sóperde, por exemplo, contrato de doação.

2.3. Contrato comutativo e aleatório

a) Contrato comutativo: é aquele em que aspartes podem antever os seus efeitos, ou seja,ao celebrar o contrato, já sabem os efeitos queserão produzidos. Exemplo: contrato de

compra e venda, pois já se sabe que umentrega o bem e que outro entrega o preço.

b) Contrato aleatório: é aquele em que aspartes não podem antever os seus efeitos, ouseja, ao celebrar o contrato não há como saberos efeitos que serão produzidos. A razão ésimples: contrato aleatório é o contrato de risco(álea significa risco).Exemplo: contrato de seguro, pois o seguradopode ou não receber a indenização, adepender se ocorre ou não o sinistro, o que

não se sabe quando o contrato é celebrado.O contrato aleatório pode ser naturalmentealeatório (aleatório típico) ou acidentalmente

aleatório (aleatório atípico). O contrato énaturalmente aleatório quando for da suaessência ser aleatório, por exemplo, contrato

de seguro. O contrato é acidentalmentealeatório quando for da sua essência sercomutativo, mas é aleatório em razão de umacircunstância que lhe é específica.Exemplo: contrato de compra e venda écomutativo, mas o contrato de compra e vendade uma safra que está sendo plantada éaleatório, pois não se sabe qual será aquantidade da produção.

Os arts. 458 a 461 do CC trazem dois tipos decontratos de compra e venda atipicamente

aleatórios: compra e venda de coisa futura ede coisa exposta a risco.

a) Compra e venda de coisa futura: O contratode compra e venda de coisa futura é aleatório,pois não se sabe se a coisa virá a existir e emque quantidade.Pode o contratante assumir o risco da coisanão vir a existir, pagando mesmo assim opreço (chamado de contrato de compra evenda emptio spei ) ou assumir o risco de vir aexistir em qualquer quantidade, pagando opreço se vier a existir em quantidade inferior àesperada, mas não pagando se nada doavençado vier a existir (chamado contrato decompra e venda emptio rei speratae).Em ambos os casos, não pagará o preço semenos do esperado vier a existir por culpa oudolo do contratante. Como exemplo, pense nacompra de peixes que ainda serão pescados,em que se paga o preço mesmo que nenhumpeixe seja pescado (emptio spei ) ou se vier emqualquer quantidade, só não pagando se

nenhum vier (emptio rei speratae).Em nenhum dos dois casos pagará, se oinsucesso total ou parcial decorreu de dolo ouculpa do pescador.

b) Compra e venda de coisa exposta a risco: Ocontrato de compra e venda de coisa expostaa risco é de coisa que já existe, mas éatipicamente aleatório, pois o compradorassume o risco exposto.Exemplo: compra de cerâmica a sertransportada em navio, cujo risco de vir a se

quebrar o comprador assuma. Deverá pagartodo o preço, mesmo que alguns venhamquebrados, a menos que dolosamente o

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vendedor se aproveite, colocando alguns jáquebrados.2.4. Contrato consensual e real

O contrato se forma, em regra, quando a umaproposta se seguir uma aceitação, ou seja,com o acordo de vontade das partes. Essaregra é quebrada em alguns casos, quando oacordo de vontades não é suficiente para aformação do contrato,o que só ocorre com a prática de um atoposterior: a entrega do bem objeto daprestação.

a) Contrato consensual: é aquele que se forma

com o acordo de vontades das partes. É aregra em matéria de contratos, por exemplo, ocontrato de compra e venda.

b) Contrato real: é aquele que se forma com atradição, ou seja, com a entrega do bem, quese segue ao acordo de vontade das partes.São três os contratos reais: mútuo, comodatoe depósito.2.5. Contrato de execução instantânea,continuada e diferida

a) Contrato de execução instantânea: é aqueleque é cumprido em uma só vez, no momentoda celebração do contrato (exemplo: compra evenda com pagamento à vista).

b) Contrato de execução continuada: é aqueleem que a prestação é cumprida em cotasperiódicas (exemplo: compra e venda compagamento parcelado).

c) Contrato de execução diferida: é aquele em

que a prestação é cumprida em uma só vez,mas no futuro (exemplo: compra e venda compagamento a prazo).2.6. Contrato entre presentes e entre ausentes

É uma classificação que se refere à formaçãodo contrato. Pelos nomes, parece quedepende se as partes estão ou não napresença física um do outro.Não é bem assim, pois há tecnologias quefazem com que uma conversa entre pessoasdistantes seja como se estivessem fisicamente

presentes, pois proposta e aceitação se dãoem tempo real.

a) Contrato entre presentes: é aquele em queproposta e aceitação se dão em tempo real,sendo firmado não só entre pessoas

fisicamente presentes, mas também portelefone ou meio de comunicação semelhante(vídeo conferência, chats, entre outros).

b) Contrato entre ausentes: é aquele em queproposta e aceitação não se dão em temporeal, cujos principais exemplos são aquelesformados por carta ou por e-mail.

3. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS

3.1. Princípio da autonomia da vontade

 As partes são livres para contratar, ou seja,contratam se quiserem, com quem quisereme sobre o que quiserem. Isso decorre desimples razão: contrato é um acordo devontades.O limite para suas atuações é a lei e, comoveremos mais à frente, o interesse social e aboa-fé.3.2. Princípio da obrigatoriedade e a teoria daimprevisão ( pacta sunt servanda  x cláusularebus sic stantibus)

 As partes contratam se quiserem, mas, secontratarem, são obrigadas a cumprir ocontrato. O contrato faz lei entre as partes, oque traduz o conhecido  pacta sunt servanda,ou seja, os pactos devem ser cumpridos.Essa é a noção básica do princípio, mas o seuestudo pode e deve ser aprofundado. O atualCC adotou o princípio do pacta sunt servanda,mas não de forma absoluta, pois foi mitigadopela previsão da chamada cláusula rebus sic

stantibus.Para entender essa cláusula, é necessáriauma breve análise histórica. Desde a origemdos contratos, vigora o princípio do pacta suntservanda, ou seja, o contrato sempre fez leientre as partes. No entanto, a Idade Média foiuma época que ameaçou a sobrevivênciadesse princípio, pois foi um período marcadopor constantes guerras e conflitos feudais,o que inviabilizava o cumprimento de umcontrato. Por isso, naquela época, tornou-secomum vir nos contratos com prestação que se

prolongava no tempo uma cláusula liberando ocontratante em caso de ocorrer uma guerra ouconflito feudal, permitindo-lhe pedir o fim do

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contrato. Rebus sic stantibus  significa “coisaassim ficar”, ou seja, o contratante é obrigadoa cumprir o contrato,

mas apenas se a coisa assim ficar. A inovação do atual CC foi tornar a cláusularebus sic stantibus  implícita aos contratos,quando passou a prever a teoria da imprevisãoou da onerosidade excessiva. Se um contratofor assinado e sobrevier fato imprevisível queo desequilibre, tornando-o excessivamenteoneroso para uma das partes e com extremavantagem para a outra, poderá aquela pedir aresolução do contrato (art. 478 do CC).O exemplo típico é o contrato de leasing  de umcarro, com valor atrelado ao dólar (locação

com opção de compra ao fim do contratomediante pagamento de valor residual). Odólar vale um real e passa do dia para noitepara dois reais, dobrando o valor a ser pago.Poderá ser pedida a resolução do contrato combase na teoria da imprevisão ou daonerosidade excessiva.São os elementos necessários para incidênciada teoria da imprevisão ou da onerosidadeexcessiva:

a) Contrato de execução continuada oudiferida: A teoria da imprevisão se aplica acontratos cuja execução se prolongue notempo, ou seja, quando a execução écontinuada ou diferida no tempo.Como o contrato de execução instantânea temprestações cumpridas quando da celebraçãodo contrato, estas não serão atingidas pelo fatoimprevisível superveniente.

b) Prestação excessivamente onerosa parauma das partes: É a ideia da teoria, a

excessiva onerosidade para uma das partes,desequilibrando o contrato.c) Extrema vantagem para a outra parte: Paraa resolução dos contratos, não basta este terficado muito oneroso para uma das partes. Épreciso que, concomitantemente, tenha havidoextrema vantagem para a outra parte. Assimsendo, se o contratante perde seu emprego econsegue outro recebendo metade do salárioanterior, o contrato fica excessivamenteoneroso para ele,mas não poderá pedir a resolução pela

onerosidade excessiva porque não houveextrema vantagem para a outra parte.

c) Fato superveniente e imprevisível: Aresolução do contrato só terá lugar se odesequilíbrio das prestações decorrerem de

um fato superveniente que as partes nãopodiam prever quando da celebração docontrato. Atenção: não confunda teoria da onerosidadeexcessiva com lesão e estado de perigo.Nesses defeitos do negócio jurídico, o ato jánasce viciado, enquanto que na aplicação dateoria ora em estudo, o contrato nasceconforme a lei, mas se vicia por fatosuperveniente. A consequência disso é que nalesão e no estado de perigo o contrato éanulado, enquanto que na teoria da imprevisão

ele é objeto de resolução.Nos citados vícios da vontade, como o ato éinvalidado, a sentença anulatória retroage àdata da prática do ato, desfazendo todos osefeitos produzidos, inclusive os anteriores àanulação. Na resolução do contrato pelaonerosidade excessiva, a sentença nãodeveria retroagir, só aniquilando os efeitos apartir da resolução. Todavia, por expressaprevisão legal,efeitos anteriores à resolução serão desfeitos,pois a lei determina que a sentença retroaja àdata da citação, ou seja, só são preservadosos efeitos anteriores à citação.Importante lembrar que o contrato atingidopela teoria da imprevisão ou onerosidadeexcessiva pode se manter, sem ser objeto deresolução, o que ocorrerá se o contratantebeneficiado concordar com a redução do seuganho, reequilibrando as prestações.3.3. Princípio da relatividade dos efeitos doscontratos

O contrato só produz efeitos em relação àspartes. É por isso que dizemos que o direitocontratual é inter parte  (entre as partes),diferente dos direitos reais, que são direitosoponíveis erga omnes (contra todos).Significa que o contratante só pode opor seudireito contratual ao outro contratante e não apessoas estranhas à relação contratual, poissó as partes podem ter direitos e deveresfrutos do contrato que celebraram.3.4. Princípio da função social do contrato

O contrato não interessa apenas às partescontratantes, mas sim a toda sociedade,porque ele repercute no meio social. Essa é a

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ideia do princípio da função social do contrato,que reflete a atual tendência de sociabilidadedo direito, ou seja,

de subordinação da liberdade individual emfunção do interesse social. Assim sendo, se ocontrato repercute negativamente para asociedade, o juiz pode nele intervir parapreservação do interesse coletivo.Como exemplo, podemos pensar em umcontrato com juros excessivamente elevados.Não é ruim apenas para a parte devedora, maspara toda a sociedade, pois aumenta o risco deinadimplemento, o que aumenta ainda mais os juros, o que dificulta a circulação do crédito,diminuindo os investimentos produtivos e

fazendo com que o Estado não se desenvolva.O juiz,sob o fundamento da função social do contrato,poderá intervir nessa relação entreparticulares, trazendo os juros para valor demercado.O CC, em várias oportunidades, tem regrasque refletem essa tendência da sociabilidadedo direito. É o caso, por exemplo, da teoria daimprevisão, podendo o juiz pôr fim ao contratoem razão do seu desequilíbrio econômico pelasuperveniência de um fato imprevisível. Omesmo ocorre no caso de lesão e estado deperigo, podendo o juiz invalidar o contrato,por uma das partes ter assumido obrigaçãoexcessivamente onerosa em razão dedeterminadas circunstâncias que forçam acontratação.Isso demonstra a preocupação socializante doatual CC, pois, mesmo preenchidos osrequisitos formais de validade do negócio jurídico, a lei pretende amparar um doscontratantes da esperteza ou ganância do

outro ou do prejuízo econômico imprevisívelcom extrema vantagem para o outrocontratante. Qual a razão disso?O Poder Judiciário só pode chancelarcontratos que respeitem não só regras formaisde validade jurídica, mas, sobretudo, normassuperiores de cunho moral e social.Essa concepção social do contrato chega aoseu ápice quando o CC, já em seu primeiroartigo sobre contratos, diz que a função socialdo contrato representa uma limitação naliberdade de contratar (art. 421 do CC). As

partes são livres para, dentro dos limiteslegais, colocarem no contrato as cláusulas que

quiserem, mas a limitação à autonomia davontade não se dá apenas pela lei,mas também pelo interesse social.

Imagine um contrato para a construção de umaobra de vulto ou de uma indústria. Nãoobstante estejam observados os requisitoslegais de validade (agente capaz, objetopossível, determinado ou determinado e formaprescrita ou não defesa em lei), algunsquestionamentos podem ser feitos: e osreflexos ambientais? E os reflexostrabalhistas? E os reflexos sociais? E osreflexos morais, ou seja,no âmbito dos direitos da personalidade? Pormelhor que seja o contrato do ponto de vista

econômico para os contratantes, não se podechancelar como válido um negócio negativopara a sociedade em razão do desrespeito deleis ambientais, que pretenda fraudar leistrabalhistas ou que viole a livre concorrência,as leis do mercado ou postulados de defesa doconsumidor, mesmo sob o pretexto da livreiniciativa. Analisando os exemplos supramencionados,podemos verificar que um contrato que nãocumpre a sua função social pode ser bomapenas para uma das partes, como ocorre como contrato com juros excessivos. Neste caso,caberá ao contratante prejudicado pedir atutela jurisdicional com base na função socialdo contrato. No entanto,até mesmo quando o contrato for bom do pontode vista econômico para ambas as partes,poderá ser alvo de intervenção do juiz, casocontrarie o interesse social, como é o caso deum contrato muito lucrativo, mas que geradanos ambientais ou que fraude leistrabalhistas. A questão é: nesse caso de mútuo

benefício, a quem caberá pedir a intervenção judicial?O papel de guardião do princípio da funçãosocial do contrato deve recair sobre os ombrosdo Ministério Público. A princípio, o  parquet  não teria legitimidade ativa para pedir aintervenção do juiz no contrato, por tratar-se deinteresse privado. Todavia, como o contratotem uma função social, não podendoprejudicar a sociedade como um todo, ointeresse passa a ser coletivo, legitimando aatuação ministerial.

Com efeito, o princípio da função social docontrato possibilita uma nova tendência decontrole dos contratos inaugurada pelo atual

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CC: o dirigismo judicial dos contratos. O quesignifica isso? O contrato sempre sofreucontrole externo, limitando a atuação dos

contratantes. Até então, prevalecia o controlefeito pela lei, razão pela qual esse controle échamado de dirigismo legal dos contratos.Pense, como exemplo, no contrato de locação,onde a lei do inquilinato limita a atuação dolocador. Hoje, com o CC vigente, prevalece odirigismo judicial dos contratos, ou seja, não éa lei que controla o contrato, mas sim o juiz, naanálise do caso concreto.O que torna isso possível é a utilização daschamadas cláusulas gerais ou conceitos jurídicos indeterminados, que tem como

exemplo a função social dos contratos. Sãoexpressões vagas em seu conteúdo, exigindodo aplicador do direito uma análise do casoconcreto para suprir a vacância. A lei diz que ocontrato deve atender a função social, ou seja,não pode ir contra o interesse social.O que é atender ou ir contra o interesse social? A lei não enumera casos, preferindo usar umaexpressão vaga, permitindo ao juiz dizer,analisando o contrato, se ele atende ou não ointeresse social.Em conclusão, não se pretende aniquilar oprincípio da autonomia da vontade ou o pactasunt servanda, mas temperá-lo, tornando-osmais vocacionados ao bem-estar comum, semprejuízo do interesse econômico pretendidopelas partes contratantes. A lei relativiza oprincípio do  pacta sunt servanda  com regrasespecíficas, como a cláusula rebus sicstantibus ou com a previsão da lesão ou doestado de perigo, mas também relativizapermitindo intervenção judicial em uma relaçãoque deveria interessar unicamente às partes

do contrato, mas que interessa a toda asociedade, pois a lei diz que o contrato temuma função social.3.5. Princípio da boa-fé objetiva

Este princípio vem consagrado no art. 422 doCC, que obriga as partes contratantes aagirem de boa-fé quando da celebração de umcontrato. A palavra chave do princípio éconfiança, que significa parceria contratual. Aideia é que os contratantes não são lutadores,um querendo prejudicar o seu adversário,

mas sim parceiros, porque um confia no outro,uma vez que são obrigados a agir conforme osditames da boa-fé.

Imagine um casal de noivos que compra suasalianças em uma joalheria, optando por ummodelo que é feito com ouro amarelo e ouro

branco. Satisfeitos com a bela aliança, no diada festa do noivado, um casal de amigosinforma que toda aliança com ouro branco ficaamarelada com o decorrer do tempo.Revoltados,reclamam junto à joalheria, que diz nada poderfazer. Os noivos poderão pedir a resolução docontrato de compra e venda, devolvendo asalianças e recebendo seu dinheiro de volta, emfunção da quebra da boa-fé do vendedor, quenão informou um relevante aspecto docontrato, que interferiria na escolha do modelo

da aliança ou na própria realização do negócio.O princípio que rege os contratos é o princípioda boa-fé objetiva, mas, em realidade, existemdois tipos: a objetiva ou a subjetiva. Asubjetiva, como o nome sinaliza, é a boa-féinterior, psicológica, ou seja, o que ocontratante acredita ser correto. Já a objetivalhe é exterior, ou seja, é agir de forma correta,segundo um padrão normal de conduta. A boa-fé que rege os contratos é a objetiva,pois é mais segura, uma vez que não dependedo que pensa o outro contratante, mas sim emverificar se o contratante agiu seguindo umcomportamento normal das pessoas.O que é um comportamento normal? Comosaber se o contratante agiu seguindo umpadrão normal de conduta? É o juiz que dirá naanálise do caso concreto. Com efeito, vimosque a tendência atual em matéria de controlecontratual é o chamado dirigismo judicial doscontratos, em substituição da antigaprevalência do dirigismo legal. Cabe ao juizcontrolar os contratos,

o que lhe é permitido a partir do uso decláusulas gerais ou de conceitos jurídicosindeterminados, que são expressões vagas,reclamando suprimento da vacância peloaplicador do direito na análise do casoconcreto. É o caso não só da função social doscontratos, mas também da boa-fé objetiva. Alei obriga as partes a agirem de boa-fé, sem,no entanto,enumerar as condutas permitidas e proibidassob esse aspecto. Esse papel caberá ao juiz,que poderá intervir em um contrato, podendo

até resolvê-lo, mesmo tendo sido observadosos requisitos formais de validade em uma livrenegociação entre particulares.

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 Atenção: Conforme o art. 422 do CC, a boa-fédeve nortear o comportamento dos

contratantes não só no momento da conclusãodo contrato, mas também durante a suaexecução. É o fundamento da chamadaresponsabilidade civil pós-contratual. Àsvezes, um contrato produz efeitos após a suacelebração, devendo a boa-fé perdurarenquanto durarem esses efeitos.Imagine que uma pessoa compre um carro junto a uma concessionária. O carro quebra,mas não existe peça para reposição e ocomprador não poderá mais utilizá-lo. Elepoderá pedir a resolução do contrato alegando

quebra da boa-fé objetiva em razão de não terinformado fato que poderia ocorrer após aexecução do contrato.Importante: embora não mencionadoexpressamente no art. 422 do CC, a boa- fédeve nortear o comportamento doscontratantes até mesmo antes da proposta. Éo fundamento da chamada responsabilidadecivil pré-contratual, que será analisada a seguirnas considerações sobre a formação doscontratos. Exemplo típico é a proibição dapropaganda enganosa.O contrato celebrado a partir de umapropaganda enganosa poderá ser resolvido arequerimento da parte prejudicada, pois a boa-fé já deve fazer-se presente mesmo durante asnegociações preliminares para uma futuracontratação.4. PRELIMINARES

O CC trata da teoria geral dos contratos a partirdo seu art. 421, iniciando com questõespreliminares. De todos os princípios vistos,

trata do princípio da função social doscontratos e da boa-fé objetiva. A seguir, tratade três temas: contrato de adesão, contratosatípicos e pacto sucessório, o que passamos aabordar.4.1. Contratos de adesão

Contrato de adesão é o contrato elaboradounilateralmente por uma das partescontratantes, opondo-se ao contrato paritário,em que elas elaboram conjuntamente ascláusulas do contrato. Não é um negócio

 jurídico unilateral, pois o aderente,embora não tenha o poder de negociar ascláusulas do contrato, tem que aceitar a

proposta, não perdendo, portanto, suanatureza contratual de bilateralidade.O aderente é parte mais fraca nessa relação

contratual. Para garantir a isonomia materialou real, o CC lhe confere duas proteções:a) Art. 423: quando houver no contrato deadesão cláusulas ambíguas ou contraditórias,deve ser adotada uma interpretação maisfavorável ao aderente.b) Art. 424: são nulas as cláusulas em umcontrato de adesão que estipulem a renúnciado aderente de um direito seu resultante daprópria natureza do negócio.Exemplo: contrato de depósito é aquele emque o depositante entrega temporariamente ao

depositário a guarda e conservação de umbem, que tem o dever de devolver o bem talcomo recebido. Note que é um direito dodepositário receber o bem tal como entregouao depositário. Sendo o estacionamento emestabelecimentos comerciais um contrato dedepósito e de adesão,é nula a cláusula que diz não haverresponsabilidade pelos objetos deixados nointerior do veículo.4.2. Contratos atípicos

O CC, nos arts. 481/853, trata daregulamentação das várias espécies decontrato. Não há como a lei prever todo tipo decontrato, pois este resulta do acordo devontade das partes, que são livres paranegociar de acordo com suas necessidades. Ademais, as alterações da lei não conseguemacompanhar o surgimento de novos contratosem razão da dinâmica social.Contratos típicos são aqueles previstos eregulamentados em lei, enquanto que os

contratos atípicos não os são. São lícitos oscontratos atípicos em razão do princípio daautonomia da vontade.Que normas são aplicadas a eles, já que nãohá regulamentação específica em lei? Nostermos do seu art. 425, as normas gerais doCC, tanto da sua parte geral quanto da teoriageral dos contratos, ora em estudo.4.3. Pacto Sucessório

Pacto sucessório é o contrato que tem porobjeto herança de pessoa viva, sendo também

chamado de  pacta corvina ou pacto deabutres. Nos termos do art. 426 do CC, é um

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contrato proibido por lei, sendo inválido sepraticado. A questão é: será nulo ou anulável? A lei proíbe a prática sem dizer, no entanto, se

nulo ou anulável, razão pela qual éconsiderado nulo pela lei, conforme prevê oart. 166, VII, do CC.Note não poder ser objeto de contrato herançade pessoa viva, ou seja, após morte do decujos, após a abertura da sucessão,os herdeiros podem negociar seus quinhõeshereditários, mesmo antes da individualizaçãoobtida ao fim do inventário com o formal departilha, sendo considerado por lei um contratode bem imóvel (art. 80, II, do CC).5. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

O contrato se forma, em regra, quando a umaproposta se seguir uma aceitação, seja como acordo de vontades das partes. Comoexceção, temos os contratos reais, em queeste acordo não é suficiente para a formaçãodo contrato, o que só ocorre com um atoposterior: a tradição, ou seja,a entrega do bem. É o caso de três tiposcontratuais: mútuo, comodato e depósito.Não confunda a formação do contrato com asua validade. O contrato se formar significapassar a existir no mundo jurídico, obrigandoas partes ao seu cumprimento, enquanto queser válido é estar de acordo com a lei e,portanto,apto a produzir seus regulares efeitos. O art.107 do CC prevê que a validade dos contratosnão exige forma especial, senão quando a leiexigir, ou seja, o contrato se forma com osimples acordo de vontades, mas, em algunscasos, sua validade reclama uma formaespecial para produzir efeitos. Assim,

destacando que em alguns casos deve haveruma forma especial do contrato,o que tratamos aqui é do momento da suaformação, pois passando a existir no mundo jurídico, obriga as partes ao seu cumprimento,sob pena de responsabilidade civil contratual,ou seja, indenização de perdas e danos emrazão da mora ou do inadimplemento (tematratado em obrigações, para onde remetemossua leitura).O CC trata do tema formação dos contratosnos arts. 427/435, mencionando a proposta e

a aceitação. Todavia, a formação do contratonão é composta apenas por esses dois atos.Normalmente existe uma fase prévia, de

negociações preliminares, chamada de fasede puntuação, que poderá culminar naformulação de uma proposta, que, se aceita,

formará o contrato. São as fases quepassamos a estudar.5.1. Fase de puntuação e a responsabilidadepré-contratual

Fase de puntuação é a fase de negociaçõespreliminares que antecedem a proposta,marcada por conversações prévias,ponderações, reflexões, sondagens, cálculos eestudos de viabilidade de negociação futura.Pode resultar, inclusive, em uma minutacontratual se alguns pontos acordados forem

reduzidos a termo, ou seja, a escrito (difere daproposta, pois esta é completa, uma vez bastarum sim para o contrato se formar).Sobrevindo uma proposta à fase depuntuação, esta vincula o proponente, pois, sea outra parte a aceitar,o contrato estará formado e ambos estarãoobrigados em seus termos. A questão é: podemos falar emresponsabilidade civil nesta fase denegociações preliminares pela não conclusãodo contrato? Em regra não, pois não háqualquer problema em se iniciaremnegociações e se perceber a inviabilidade ouinconveniência da contratação.Todavia, em alguns casos, pode haverresponsabilidade civil extracontratual ouaquiliana, pois não há ainda um contrato,sendo chamada de responsabilidade civil pré-contratual.Quando isso ocorre? Quando, nasnegociações preliminares, uma das partes criana outra a justa expectativa de contratação e,

sem qualquer justificativa, por mero capricho,não formaliza a proposta. O fundamento é aquebra da boa-fé objetiva na fase dasnegociações preliminares. Há um abuso dedireito, que é considerado pela lei ato ilícito aensejar responsabilidade civil (art. 187 c/c art.927, ambos do CC). Ora, ao criar a justaexpectativa de contratação, legitima a outraparte a contrair gastos e até a recusar outraspropostas, e não concluir o contrato semqualquer justificativa é causar o quechamamos de “dano de confiança”, em razão

da quebra da boa fé objetiva, que deve nortearo comportamento dos contratantes até mesmoantes da proposta.

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Como exemplo, cito um caso cobrado emprova. Imagine que durante anos umfabricante de extrato de tomate distribui

gratuitamente sementes de tomate entreagricultores de uma região, procurando-os naépoca da colheita para celebrar com elescontrato de compra e venda de toda aprodução de tomate. No décimo ano distribuiuas sementes, mas não apareceu para comprada safra.Procurada pelos agricultores, recusou-se, semqualquer justificativa, a celebrar o contrato.Nesse caso, há responsabilidade civil pré-contratual aquiliana do fabricante de extrato detomate, tendo que indenizar os agricultores em

razão dos prejuízos que resultaram da nãocontratação, como os custos da produção eeventual recusa de venda para outroscompradores.O fundamento da responsabilidade pré-contratual é a violação do princípio da boa-féobjetiva nessa fase de negociaçõespreliminares anterior à proposta, pois ofabricante criou nos agricultores a justaexpectativa de contratação e, sem qualquer justificativa, por mero capricho, não formalizoua proposta de compra e venda.5.2. Pré-contrato ou contrato preliminar

O pré-contrato, também chamado de contratopreliminar ou  pacto de contrahendo, é umcontrato em que as partes assumem aobrigação de celebrar um contrato definitivo nofuturo, por não ser possível a contrataçãoagora ou por não ser o melhor momento.Exemplo: Um time de futebol quer contratar um jogador. Não pode celebrar um contratodefinitivo agora, pois ele tem contrato em vigor

com outro clube. No entanto, poderão celebrarum pré-contrato, em que se obrigam acontratar ao término do contrato em vigor.Caso o jogador negocie seu passe com outroclube ou este não queira mais contratá-lo,haverá descumprimento do contrato, devendoarcar com perdas e danos, que provavelmentevirá pré-fixada em uma cláusula penal.Importante: O pré-contrato deve ter osmesmos elementos do contrato definitivo, àexceção de um deles: a forma. As partes e oobjeto são os mesmos, mas a forma não

precisa ser a mesma.

Se o contrato definitivo tem que ser porescritura pública, nada impede que o pré-contrato seja por instrumento particular.

Qual a importância do pré-contrato? Emprincípio, a responsabilidade civil na fase denegociações preliminares é extracontratual,pois ainda não há um contrato. No entanto, secelebrarem um pré-contrato, as partestransformarão essa responsabilidade pré-contratual em contratual antes mesmo dacelebração do contrato definitivo, pois o pré-contrato é um contrato.Qual a vantagem? A parte prejudicada nãoprecisará provar a culpa do inadimplente nodescumprimento do contrato nem tampouco o

dano, seja sua própria existência, seja a suaextensão. Você lembra o que vimos a respeitodo tema?Lembrando: tanto a responsabilidade civilextracontratual (em regra) como a contratualsão subjetivas, mas esta tem culpa presumida. Assim, se o caso é de responsabilidadecontratual, basta ao contratante prejudicadoprovar o inadimplemento, sem precisar provarque o outro teve culpa no descumprimento docontrato (este poderá elidir suaresponsabilidade provando não ter tido culpa,pois a presunção de culpa é relativa, admitindoprova em contrário, o que representa inversãodo ônus da prova). Por outro lado, se é casode responsabilidade civil extracontratualsubjetiva, a vítima do dano, ao cobrar perdas edanos, deverá provar que o agressor teveculpa em causá-lo. Assim sendo, aresponsabilidade civil contratual é maisvantajosa para quem sofre o dano,pois não precisará provar o difícil elementosubjetivo da culpa. Além disso, como há um

contrato, podemos pré-fixar as perdas e danosem uma cláusula penal, dispensando a parteprejudicada de provar não só o dano, mas,sobretudo, a sua extensão.No supramencionado exemplo da compra dostomates, o fabricante, por ser fase anterior àproposta, tem responsabilidade civilextracontratual, somente sendoresponsabilizado civilmente se os agricultoresprovarem a justa expectativa de contratação ea recusa sem qualquer justificativa,mas também a sua culpa na não celebração do

contrato. No entanto, se na fase denegociações preliminares, as partes reduziremas bases do contrato a escrito em um pré-

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contrato, bastarão provar que o fabricanteassinou um pré-contrato e que houveinadimplemento, além de sequer precisar

provar o dano e a sua extensão, pois poderãoexecutar direto a cláusula penal.O mesmo ocorre no exemplo da contrataçãodo jogador de futebol. Se o clube apenasconversa em negociações preliminares,acertando as bases de um futuro contrato,pode ser que, ao final do contrato em vigor, oatleta quebre a confiança e resolvapermanecer no clube que está ou contratarcom outro. Para responsabilizá-lo civilmente,deverá provar que o atleta não contratouculposamente, mas,

se assinar um pré-contrato, bastará comprovaro inadimplemento, sem sequer precisar provaro dano e a sua extensão.5.3. A proposta

O contrato se forma quando a uma proposta seseguir uma aceitação. É raro uma pessoafazer uma proposta e a outra simplesmente aaceitar, pois é normal se sucederemsucessivas contrapropostas até culminar emuma aceitação final.Essa fase de sucessivas contrapropostas apartir de uma proposta é chamada de fase depolicitação ou fase de oblação. Isso dá nomeaos atores envolvidos: quem faz a proposta échamado de proponente ou de policitante equem a aceita é chamado de aceitante ou deoblato.Na fase de policitação, não deixa de haver umanegociação entre as partes, o que já acontecena fase de puntuação. Ora, qual a diferençaentre a fase de puntuação e a fase depolicitação na formação dos contratos? É a

existência de uma proposta. A fase depuntuação é a fase de negociaçõespreliminares, ou seja, anterior à proposta. Já afase de policitação se dá após a proposta,sucedendo-se sucessivas contrapropostas. Apergunta se mantém: como saber se umaconversa entre as partes já configura umaproposta ou apenas negociações preliminares,que até pode resultar em uma minuta, sereduzido a termo? É a seriedade da proposta.Significa que a proposta é pronta e acabada,abordando todos os elementos do contrato,

pois basta um sim para a formação docontrato. Se isso já existe, é fase depolicitação; se ainda não existe, sendo

conversados apenas alguns pontos docontrato, a fase é de puntuação.O aspecto mais importante da proposta é o seu

aspecto vinculatório, ou seja, a propostaobriga o proponente. Se eu faço uma proposta,crio na outra parte a justa expectativa decontratação, que pode levá-la a contrair gastose até a recusar outras propostas. Feita aproposta, o proponente a ela se obriga, ouseja, se houver aceitação, não poderá alegardesistência ou arrependimento,podendo o aceitante pedir em juízo a execuçãoforçada do contrato ou indenização por perdase danos. Já é responsabilidade civil contratual,pois com a aceitação o contrato se formou,

passando a existir no mundo jurídico. Aproposta só obriga o proponente e a aceitaçãopassa a obrigar ambas as partes. A questão é: a proposta sempre obriga oproponente? Não, pois nos termos do art. 427do CC a proposta não obriga o proponente emtrês casos:

a) Se isso resultar dos termos da proposta: seno próprio corpo da proposta vier expressa anão obrigatoriedade, não cria justa expectativade contratação na outra parte.b) A depender da natureza do negócio: hácertos negócios jurídicos que, por suanatureza, não obrigam o proponente, comoproposta de venda de produto com quantidadelimitada em estoque, a partir do fim do estoque.c) A depender de determinadas circunstâncias:existem certas circunstâncias que fazem comque a proposta deixe de ser obrigatória,estando elas elencadas no art. 428 do CC - aprimeira delas para contrato entre presentes eas três restantes para contrato entre ausentes,

a saber:(i) se feita proposta sem prazo à pessoapresente e esta não foi imediatamente aceita;

(ii) se feita proposta sem prazo a pessoaausente e tiver decorrido tempo suficiente parachegar a resposta ao conhecimento doproponente;

(iii) se feita proposta com prazo à pessoaausente e esta não expedir a resposta noprazo;

(iv) se feita uma proposta entre ausentes eantes dela ou simultaneamente chegar aoconhecimento da outra parte a sua retratação.

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 A proposta fixa o local de formação do contrato(art. 435 do CC). A importância em saber o

local de sua formação é determinar qual leiserá aplicada ao contrato.5.4. A aceitação

Se a proposta obriga apenas o proponente, aaceitação vincula também o aceitante, pois elafaz o contrato se formar, passando a existir nomundo jurídico, estando ambas as partesobrigadas ao seu cumprimento nos termos daresponsabilidade civil contratual. A aceitação pode ser expressa ou tácita.Expressa é a aceitação inequívoca, podendo

ser escrita, verbal ou até gestual (ex. leilão).Tácita é a aceitação presumida pela prática deum ato incompatível com a não aceitação.Exemplo: doação de vaso não aceita de formaexpressa, mas o donatário manda buscá-lo nacasa do doador e o coloca exposto em suasala. É por isso que o art. 111 do CC prevê queo silêncio,embora não seja a regra, até pode valer comoaceitação, mas apenas quando ascircunstâncias indicarem que a pessoa aceitoutacitamente e, evidente, a lei não exijaaceitação expressa.Conforme visto, a proposta obriga oproponente. No entanto, essa obrigatoriedadenão é eterna, mas sim pelo prazo dado. Sehouver aceitação fora do prazo ou até mesmocom modificações, o proponente não éobrigado a concordar, mas se quiser poderáaceitá-la. Por isso, dizemos que a aceitaçãofora do prazo ou com modificações temnatureza de nova proposta.O contrato se forma quando a uma proposta se

seguir uma aceitação. Se o contrato é entrepresentes, fácil será determinar o momento,pois proposta e aceitação se dão em temporeal. E se o contrato for entre ausentes,quando se dá sua formação? Em regra,quando a aceitação é expedida, pois é quandoo aceitante perde o controle de sua vontade.Como exceção, o contrato entre ausentes seforma quando a resposta chegar aoproponente, se assim convencionado entre aspartes.6. CONTRATOS QUE PRODUZEM EFEITOS

 A TERCEIROS

Em razão do princípio da relatividade de seusefeitos, o contrato só atinge as partes, ou seja,só quem é parte pode ter direito e deveres que

dele decorrem. Todavia, há três contratos emque um terceiro é por ele atingido,pois terão direitos e deveres decorrentes deum contrato em que não celebraramoriginariamente:6.1. Estipulação em favor de terceiro: É ocontrato em que um dos contratantes estipulaum terceiro para quem o outro contratantedeverá cumprir a prestação. É um terceiro aocontrato tendo um direito dele decorrente.Exemplo: contrato de compra e venda em queo estipulante determina a entrega do bem para

um beneficiário. Se a prestação não forcumprida, o estipulante poderá exigi-la em juízo.O beneficiário também tem esse poder, desdeque não haja essa restrição no contrato. Casotenha sido retirado do beneficiário esse poder,poderá o estipulante exonerar o devedor decumprir a prestação. E a substituição dobeneficiário é possível? Sim, independente daanuência dele e do outro contratante, sereservar esta faculdade no contrato.6.2. Promessa de fato de terceiro: É o contratoem que um dos contratantes promete que umterceiro cumprirá a prestação para o outrocontratante. É terceiro ao contrato com umdever dele decorrente. Exemplo: contrato pormeio do qual uma das partes promete que seuirmão, um cantor famoso, concederá umaentrevista exclusiva a um programa de rádio.Se o terceiro não cumprir a prestação,o promitente responde por perdas e danos,mesmo que tenha feito todos os esforços parao cumprimento da prestação. O promitente não

responderá, mas sim o terceiro, se este aceitara prestação e depois não cumpri-la. Ademais,o promitente não responde pelodescumprimento da prestação do terceiro se,pendendo sua aceitação, forem casados e, adepender do regime de bens do casamento,a cobrança sobre o promitente recair dealguma forma sobre o terceiro.6.3. Contrato com pessoa a declarar: É ocontrato em que um dos contratantes podeindicar uma pessoa que irá assumir a suaposição no contrato. É um terceiro ao contrato

tendo direitos e deveres que dele decorrem.Exemplo: uma pessoa quer comprar umacasa, cujo dono jamais lhe venderá por

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 Ainda dentro da regra da indenização daintegralidade do dano, o alienante responderáperante o evicto por eventual valorização do

bem entre a época da alienação e da evicção.Se o bem se desvalorizou, o evicto cobrará doalienante o preço que lhe pagou,mas se houver valorização, cobrará o valor dobem da época em que se evenceu, ou seja, daépoca em que perdeu o bem pela evicção.Mais uma vez, ainda dentro da regra daindenização da integralidade do dano, aindaque o bem esteja deteriorado, o evicto poderácobrar do alienante o valor total do bem, amenos que tenha sido causado dolosamentepor ele, quando só poderá cobrar do alienante

o valor que passou a valer o bem. Note que, sea título de culpa em sentido estrito adeterioração,ainda assim o evicto cobrará do alienante ovalor integral do bem.Conforme será visto no estudo da posse nocapítulo de direitos reais deste livro, para onderemetemos a sua leitura, o possuidor querealiza benfeitorias no bem e vem a perdê-lo,tem direito de ser indenizado quando asbenfeitorias forem necessárias e úteis.É o caso que ocorre aqui, pois o evicto tem aposse do bem e a perde para o evictor. Assim, se ele realizou benfeitorias necessáriasou úteis no bem antes da perda, poderáreclamar indenização do evictor. O art. 453 doCC diz que o evicto pode cobrar do alienante oque gastou com benfeitorias necessárias eúteis, se não foram abonadas, ou seja, se nãoforam pagas pelo evictor. No entanto,completa o art. 454 do CC, se as benfeitoriasforam feitas pelo alienante e abonadas, ouseja,

pagas ao evicto pelo evictor, o valor serádeduzido quando o evicto cobrar a indenizaçãodo alienante.

Para cobrar o direito que da evicção lheresulta, o evicto poderá denunciar ao alienanteda lide, para, em caso de sentença decretandoa perda do bem, já determine o juiz nasentença a indenização por ele devida aoevicto. Em havendo sucessivas vendas antesde o dono reclamar o bem, poderá o evictocobrar indenização não só do alienante

imediato,mas também qualquer dos anteriores (art. 456do CC).

Por fim, fechando o tema evicção, precisamosentender o que é evicção parcial, tema que étratado no art. 455 do CC. Haverá evicção

parcial quando o evicto perder apenas parte doque adquiriu na alienação,por exemplo, quando compra cem cabeças degado e perde vinte ou trinta delas pela evicção.Qual a consequência?Depende se a evicção é considerável ouirrisória, pois uma coisa é perder uma ou duascabeças de gado, outra é perder noventadelas. Se a perda for considerável, o evictopode pedir a rescisão do contrato ou restituiçãoda parte do preço correspondente aodesfalque sofrido, ou seja, devolver o que

sobrou e cobrar devolução do que pagou ouficar com oque sobrou e cobrar apenas o equivalente àsua perda. Se, no entanto, a perda for irrisória,só poderá o evicto cobrar a indenização pelaperda sofrida, permanecendo com o quesobrou.8. EXTINÇÃO DO CONTRATO

Extinção do contrato é o fim de sua existência,é a sua morte, é o seu desaparecimento domundo jurídico. Extinção é o gênero, quecontempla várias espécies, pois é a expressãomais ampla para o fim do contrato, seja pelacausa que for.Quando falamos em extinção do contrato, estapode se dar, em princípio, por duas formasdiferentes: por causa anterior ousuperveniente à formação do contrato.Se a causa de extinção do contrato é anteriorou até concomitante à sua formação, temosum caso de imperfeição do contrato, pois ele jánasceu viciado.

Nesse caso, o contrato é inválido, podendo eleser nulo ou anulável, a depender do vício. Nãoé tema para aqui ser visto, pois é assunto daparte geral do direito civil, para onderemetemos sua leitura.Se a causa de extinção do contrato ésuperveniente à sua formação, estamostratando de um contrato perfeito, ou seja, quese formou de forma válida, não sendo caso denulidade nem de anulabilidade. O contratoperfeito pode ser extinto de duas formas

diferentes: por execução ou por inexecução docontrato.

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Execução do contrato é quando ele écumprido, o que pode ocorrer pelo pagamentoou até pelas formas anormais de extinção das

obrigações, quais sejam: pagamento emconsignação, pagamento com sub-rogação,novação, imputação ao pagamento, dação empagamento, compensação, confusão ouremissão.Também não é tema para aqui ser tratado, poisé assunto de obrigações, para onderemetemos a sua leitura.O caso é de inexecução quando não hácumprimento de um contrato perfeito, que é otema que aqui estudamos. Perceba aimpropriedade do CC ao tratar do tema sob o

título “da extinção dos contratos”, quando, naverdade, deveria tê-lo intitulado de“inexecução dos contratos” ou até mesmo “daextinção dos contratos pela inexecução”.  A inexecução pode causar três tipos deextinção do contrato: resilição, resolução erescisão. Vamos definir cada um dos institutos,para em seguida aprofundar o estudo.a) Resilição: extinção do contrato por vontadede um ou de ambos os contratantes, ou seja, équando eu termino o contrato porque quero ouquando terminamos porque queremos, sem terqualquer razão jurídica para isso. Exemplo:celebrei contrato de aluguel pelo prazo de trêsanos e decido resili-lo com dois anos porquestão pessoal.b) Resolução: extinção do contrato em razãodo inadimplemento da outra parte, ou seja, umdos contratantes não cumpre o contrato,legitimando a outra parte pedir sua resolução.Exemplo: mesmo contrato de aluguel de trêsanos, resolvido pelo locador em razão doinquilino não pagar o aluguel.

c) Rescisão: não há consenso na doutrinasobre o significado de rescisão do contrato.Muitos usam o termo rescisão como sinônimode extinção do contrato, até mesmo por causaantecedente, sendo, inclusive, o sentido quecaiu no gosto popular, que só fala em rescisãodo contrato quando este chega ao fim. Autoresclássicos, como Orlando Gomes e Caio Mário,no entanto, com base na doutrina italiana,ensinam que rescisão em sentido técnico sóocorre quando um contrato é extinto em casode lesão ou de estado de perigo.

Modernamente, esse não é o entendimento,até porque são defeitos do negócio jurídico,portanto, causas antecedentes ou

concomitantes à formação do contrato, casode invalidade e não de inexecução, quandopressupomos um contrato perfeito.

Outros autores mencionam rescisão comouma espécie de resolução do contrato,significando a resolução culposa ou voluntária,ou seja, quando o contrato é extinto porinadimplemento culposo do outro contratante.O conselho é evitar o uso do termo rescisão,pois, como não há consenso, é um riscodesnecessário em prova.

8.1. Resilição do contrato

Conforme visto, resilição do contrato ocorre

quando há extinção do contrato unicamenteem razão da vontade das partes. A resiliçãopode ser unilateral ou bilateral, a depender sea vontade é de apenas um dos contratantes oude ambos.Não se discute aqui culpa da parte fazendosurgir uma causa de extinção do contrato, poisnão há causa jurídica que motive o seu fim,simplesmente não quero ou não queremosmais.a) Resilição unilateral: ocorre quando apenasuma das partes não quer mais manter ocontrato, sem precisar externar qualquer razãopara isso. O art. 473 do CC diz que se operamediante denúncia notificada à outra parte, ouseja, o contratante deve notificá-laformalmente. A resilição unilateral do contratopode se dar quando a lei permitir ou quandohouver expressa previsão no contrato.Há casos em que a lei permite a resiliçãounilateral do contrato, razão pela qual não serádevedor em perdas e danos à outra parte. Porexemplo: o direito de revogação de contrato de

mandato. Pode a lei não permiti-la, mas avontade das partes sim, quando inserem nocontrato cláusula permissiva, podendo ou nãoser fixada uma multa a ser paga ao outrocontratante se esta ocorrer.Se não houver previsão legal nem contratual,a parte não poderá unilateralmente resilir ocontrato, podendo ser o caso de reclamação judicial para sua execução forçada. Exemplo:contrato de locação em que há previsãoapenas para o locatário o resilir, tendo olocador que esperar o fim do contrato pela total

execução.b) Resilição bilateral: ocorre quando a extinçãodo contrato se dá unicamente por vontade,

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mas de ambas as partes, sendo chamado dedistrato. É um acordo das partes, pondo vim àavença contratual, sem se externar qualquer

causa para isso, razão pela qual, em princípio,nenhuma das partes deve qualquerindenização ao outro contratante. Importantesobre o tema é o art. 472 do CC,que diz que o distrato deverá ser feito namesma forma exigida para ser feito o contrato.Como exemplo, se o contrato de compra evenda de um imóvel de valor superior a trintasalários mínimos deve ser por escriturapública, o distrato assim também deve ser.8.2. Resolução do contrato

Resolução do contrato é a sua extinção emrazão do inadimplemento ou da mora da outraparte. Aqui o contrato não termina apenas emrazão da vontade das partes, pois há umacausa que autoriza uma delas a pedir suaextinção: o não cumprimento do contrato.Esse descumprimento pode ser com culpa ousem culpa do contratante inadimplente, o quefaz com que existam dois tipos de resolução docontrato: com culpa (voluntária) ou sem culpa(involuntária). A grande diferença é que nocaso de resolução culposa, o inadimplenteserá devedor de perdas e danos junto com aresolução,o que não será devido quando a resolução nãofor culposa. Perceba que aqui falamos de morae de inadimplemento, tema que abordamos noestudo das obrigações neste livro, valendolembrar que só há mora e inadimplementoindenizáveis em perdas e danos quando comculpa do devedor, pois, se sem culpa, apenashaverá resolução do contrato.Cláusula resolutória é a cláusula que permite

ao contratante resolver o contrato diante doinadimplemento da outra parte. O contratopode trazer uma cláusula resolutória expressa,mas esta também pode ser implícita aoscontratos.Quando isso ocorre?Todo contrato bilateral tem implícita a cláusularesolutória. A razão é que todo contratobilateral é sinalagmático, o que significa que aprestação de uma das partes é causa daprestação da outra parte. Como uma daspartes só cumpre a sua prestação porque a

outra cumpre a sua, o descumprimentoautoriza a outra parte pedir a resolução docontrato,

mesmo que não tenha nele cláusulapermissiva expressa. Sendo contrato unilateralou plurilateral, necessária a cláusula resolutiva

expressa no contrato, para que uma das partespossa pedir a resolução em razão doinadimplemento ou mora da outra parte.Há vantagem da cláusula resolutória expressaem relação à implícita, o que justifica suainserção inclusive no contrato bilateral. Vindoexpressa no contrato, haverá extinçãoautomática do contrato em caso deinadimplemento, enquanto que, se implícita,depende de interpelação judicial (art. 474 doCC). Além disso, vindo expressa no contrato, já se insere cláusula penal prefixando o valor

da indenização por perdas e danos.8.2.1. Exceção de contrato não cumprido(exceptio non adimplenti contractus)

Se uma das partes é inadimplente, legitima aoutra a pedir a resolução do contrato. Agora,imagine que antes disso o inadimplente ajuízeuma ação cobrando o cumprimento daprestação da outra parte. O que ela poderáfazer? Sendo um contrato bilateral,poderá alegar a exceção de contrato nãocumprido, ou seja, que não cumprirá suaprestação em razão do autor da ação não tercumprido a sua. A razão já foi exposta: como ocontrato bilateral é sinalagmático, a prestaçãode uma das partes é causa da prestação daoutra parte, razão pela qual quem não cumprea sua prestação não pode exigir ocumprimento da prestação da outra parte (art.476 do CC).8.2.2. Resolução sem culpa ou involuntária

 A extinção do contrato se dá pelo

inadimplemento da outra parte, sem ela tertido culpa no descumprimento contratual. Aquinão há indenização por perdas e danos, masapenas resolução do contrato, pois ocontratante quer cumprir o contrato, mas nãoconsegue. Isso ocorre em dois casos:caso fortuito ou motivo de força maior e nocaso de aplicação da teoria da imprevisão ouda onerosidade excessiva.a) Caso fortuito ou motivo de força maior: sãosituações inevitáveis, insuperáveis, queimpedem o contratante de cumprir sua

prestação. Imagine contrato de compra evenda de produto agrícola,

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que não pôde ser entregue em razão deviolenta tempestade que destruiu toda aplantação. Não há culpa no inadimplemento,

havendo simples resolução do contrato,retornando as partes ao estado em que seencontravam antes de sua celebração, semdireito de indenização da parte prejudicada.Cuidado: há dois casos em que haveráresolução sem culpa do contratanteinadimplente, por decorrer de caso fortuito oumotivo de força maior, mas que haverá deverindenizar o outro contratante em perdas edanos, o que já foi visto neste livro, emobrigações, para onde remetemos sua leitura:(i) quando houver previsão expressa no

contrato impondo o dever de indenizar perdase danos pelo seu descumprimento, mesmo emrazão de caso fortuito ou motivo de força maior(art. 393 do CC); e(ii) quando a impossibilidade da prestação sedá por caso fortuito ou motivo de força maiorque ocorre durante a mora do contratante (art.399 do CC).b) Teoria da imprevisão ou da onerosidadeexcessiva: o tema já foi visto neste livro, nestecapítulo dos contratos, quando do estudo doprincípio da obrigatoriedade mitigado pelacláusula rebus sic stantibus, para onderemetemos a sua leitura. É resolução docontrato sem culpa, pois acontece fatosuperveniente e imprevisível que desequilibraeconomicamente o contrato,legitimando o pedido de resolução do contratopelo fato da lei não exigir mais o seucumprimento.8.2.3. Resolução com culpa ou voluntária (que,para alguns autores, é a rescisão)

 A extinção do contrato se dá peloinadimplemento da outra parte, tendo ela culpano descumprimento do contrato. Exemplo:contrato de aluguel resolvido em razão doinquilino não ter pago o aluguel porque nãoquis ou porque foi negligente. A diferença para a resolução não culposa éque aqui o inadimplente, além de suportar aresolução do contrato, deve pagar indenizaçãopor perdas e danos ao outro contratante(embora isso possa ocorrer na resolução semculpa, mas por exceção nos casos

supramencionados).

 A resolução com culpa não pode ser bilateral,apenas podendo ser unilateral. Se ambas aspartes tiverem culpa no inadimplemento, a

culpa será daquele que primeiro tinha aobrigação de cumprir sua prestação. A razãodisso é o princípio da exceção de contrato nãocumprido, pois, se houver prestaçõessimultâneas e um dos contratantes nãocumpre sua prestação,o outro está legitimado a não cumprir a suaprestação.8.3. Efeitos no tempo da resolução e daresilição dos contratos

Havendo resolução do contrato, essa decisão

tem efeito retroativo ou não retroativo?Depende se o contrato for de execuçãoinstantânea, diferida ou continuada.Se o contrato é de execução única, ou seja, deexecução instantânea ou até diferida, adecisão produz efeitos retroativos ou ex tunc ,desfazendo-se o que foi feito até então, poisresolver o contrato é fazer retornar ao estadoem que as partes se encontravam antes da suacelebração. Assim, se estamos diante daresolução de um contrato de compra e venda,o comprador devolve o bem e o vendedordevolve o dinheiro recebido, buscando-seeventual indenização diante da perda oudeterioração do bem ou até em razão de algummelhoramento por que passou.Se, no entanto, o contrato for de execuçãoprolongada no tempo, ou seja, de execuçãocontinuada, os efeitos serão não retroativos ouex nunc , mantendo-se os efeitos até entãoproduzidos. A razão disso é evitar umenriquecimento sem causa de um doscontratantes. Imagine um contrato de locação:

se a resolução tivesse efeito retroativo,faria com que o locador devolvesse o valorrecebido durante o contrato, não tendo como oinquilino devolver o tempo que usou o bem, oque lhe geraria um enriquecimento sem causapor ter alugado o imóvel por um tempo sem porisso pagar.O efeito retroativo (ex tunc ) da resolução doscontratos de execução instantânea ou diferidae o efeito não retroativo (ex nunc ) da resoluçãodos contratos de execução continuada valemtanto para a resolução com culpa quanto para

a resolução sem culpa. A única diferença entreeles é que na resolução culposa o

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inadimplente será devedor de indenização porperdas e danos,o que não ocorre, em regra, na resolução sem

culpa.Cuidado com um detalhe: no caso daresolução sem culpa decorrente da aplicaçãoda teoria da imprevisão ou da onerosidadeexcessiva, para cuja abordagem remetemossua leitura, seja contrato de execuçãocontinuada ou diferida, o efeito será,por expressa previsão legal, retroativa, masaté à data da citação do processo em que ocontratante pede a sua resolução (a teoria nãose aplica aos contratos de execuçãoinstantânea).

E se o caso for de resilição do contrato, adecisão tem efeito retroativo ou nãoretroativo? Quando falamos em resilição,estamos falando de contrato de execuçãocontinuada, pois na resilição o contratantequer interromper o cumprimento da suaprestação prolongada no tempo. Por isso, aresilição do contrato tem efeito não retroativoou ex nunc ,não se desfazendo os efeitos produzidos atéentão, mas apenas afastando a produção deefeitos daí para frente, até porque não háqualquer causa jurídica a gerar o seu término,apenas o acordo de vontades em acabar comum contrato que produziu efeitos normalmenteaté então.CONTRATOS EM ESPÉCIE

Por Cristiano Sobral

1. COMPRA E VENDA (arts. 481 a 532 do CC)

1.1. Conceito

 A definição do contrato de compra e vendaestá conceituada de maneira clara e objetivano artigo 481 do Código Civil:

 Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, umdos contratantes se obriga a transferir odomínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhecerto preço em dinheiro.1.2. Natureza jurídica

a) Contrato bilateral ou sinalagmático  – 

proporciona, reciprocamente, obrigações paraambas as partes.

b) Contrato oneroso  –  gera repercussãoeconômica com a sua elaboração para ambasas partes.

c) Contratos aleatórios ou comutativos – regrageral, os contratos são comutativos em razãodas prestações serem certas. No entanto, apossibilidade de risco não está completamenteexcluída.

d) Contrato consensual  – nasce do consensoentre as partes, uma delas será responsávelem aceitar o preço e a outra a contraprestação.e) Contrato formal ou informal  –  a compra evenda de bens imóveis com valor superior atrinta salários mínimos federais deverá ser

sempre por escritura pública. Todavia, seinferior, a mesma poderá ser feita porinstrumento particular.

f) Contrato instantâneo ou de longa duração – o instantâneo se consumará com a prática doato, o de longa duração, necessita de tempopara se exaurir.

g) Contrato paritário ou de adesão  –  seráparitário quando as partes estiverem em pé deigualdade; já o contrato de adesão ocorreassim que uma das partes estipula ascláusulas e a outra terá somente como escolhaa aceitação das mesmas.1.3. Elementos constitutivos

a) Partes: capazes (aptidão genérica) e alegitimação (aptidão específica).b) Coisa: deve ser disponível para suacomercialização dentro do mercado. O objetotem de ser lícito e determinado oudeterminável. Segundo previsão do artigo 483

do Código Civil, o objeto do contrato para sernegociado no mercado poderá também serfuturo.c) Preço: justo, certo, determinado e emmoeda corrente, de acordo com o artigo 315do Código Civil. Tal elemento possui aindaalgumas regras especiais:

c.1) preço por avaliação  – art. 485 do CódigoCivil;

c.2) preço à taxa de mercado ou de bolsa – art.

486 do Código Civil;

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c.3) preço por cotação  –  art. 487 do CódigoCivil;

c.4) preço tabelado e médio  –  art. 488 doCódigo Civil;

c.5) preço unilateral – art. 489 do Código Civil.1.4. As despesas e riscos do contrato

Salvo cláusula em contrário, as despesas deescritura e o registro ficarão sob aresponsabilidade do comprador, e as datradição, a cargo do vendedor. E quanto aosriscos? Até o momento da tradição, os riscosda coisa cabem por obrigação ao vendedor, e

os do preço, ao comprador.Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes no atode contar, marcar ou assinalar coisas, quecomumente se recebem, contando, pesando,medindo ou assinalando, e que já foram postasà disposição do comprador, correrão por contadeste. Compete também ao comprador osriscos das referidas coisas,se estiver em mora de as receber, logo queordenadas no tempo, lugar e pelo modoajustados. Essa é a previsão legal.1.5. Restrições à compra e venda

a) Venda de ascendente para descendente  – prevê o diploma civil: art. 496.

 Art. 496. É anulável a venda de ascendente adescendente, salvo se os outros descendentese o cônjuge do alienante expressamentehouverem consentido. Parágrafo único. Emambos os casos, dispensa-se o consentimentodo cônjuge se o regime de bens for o daseparação obrigatória.

Conforme previsto, a lei destaca aanulabilidade, mas em quanto tem tempo?Deve ser ressaltado o prazo estipulado noartigo 179 da lei civil, afastando a Súmula n.494 do STF.b) Venda de bens sob administração  –  éproibida pelo artigo 497 do Código Civil. Nessecaso, destaca-se a nulidade!

c) Venda entre cônjuges – reza o artigo 499:“Art. 499. É lícita  a compra e venda entrecônjuges, com relação a bens excluídos da

comunhão.”  d) Venda de parte indivisa em condomínio  – não pode um condômino de coisa indivisível

vender a sua parte a terceiros sem notificar ooutro proprietário da res. O artigo 504 da leicivil salienta a observância do direito de

preferência.1.6. Regras especiais da compra e venda

a) Venda por amostra, por protótipos ou pormodelos – se a venda ocorrer dessa forma, ovendedor assegurará ter a coisa as qualidadesque a elas correspondem. Essa é a regra doartigo 484 da lei civil.b) Venda a contento e sujeita à prova  – entende-se que é aquela realizada sobcondição suspensiva, ainda que tenharecebido a coisa. Aquele que recebe a coisa

será considerado como comodatário. Assim,em caso de descumprimento da mesma,poderá o alienante propor ação para recuperara posse. Observe os artigos 509 a 512 doCC/2002.c) Venda ad mensuram e  ad corpus  –  a admensuram (art. 500, caput ) é aquela em que opreço do bem é medido pela área. Em caso dedescumprimento da mesma, prevê a lei apossibilidade de algumas ações. Quais sãoelas? Ação ex empto  (complementação daárea), Ação Redibitória (extinguir o negócio), Ação Estimatória ou Quanti Minoris (abatimento).Essas ações têm o prazo de um anodecadencial, consoante previsão do artigo501. Na venda ad corpus  (art. 500, § 3º), asmetragens e a área são apenas para localizaro bem, mas não influenciam no preço. Nessavenda não são cabíveis as Açõesretromencionadas.1.7. Cláusulas especiais ou pactos adjetos

a) Retrovenda ou cláusula de resgate  –  pormeio dos arts. 505 a 508 da lei civil, podem serobservados esse pacto acessório. A mesmarecai sobre bens imóveis e o prazo máximopara o retrato será de três anos.Não se trata de cláusula personalíssima, poisa mesma é cessível e transmissível a herdeirose legatários.b) Cláusula de preempção, preferência ouprelação  –  Os artigos 513 a 520 do CCestabelecem esse pacto adjeto que poderárecair sobre bens móveis e imóveis. O prazo

para o exercício do pacto não poderá excedera cento e oitenta dias para os bens móveis edois anos para os imóveis.

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Uma vez pactuado a cláusula e inexistindoprazo estipulado, o direito de preempçãocaducará, se a coisa for móvel, não se

exercendo nos três dias, e, se for imóvel, nãose exercendo nos sessenta dias subsequentesà data em que o comprador tiver notificado ovendedor. Tal direito é personalíssimo, poisnão se pode ceder nem passa aos herdeiros.c) Cláusula de venda com reserva de domínio – a previsão encontra-se nos artigos521 a 528do CC. Recai sobre bens móveis e seráestipulada por escrito, dependendo de registrono domicílio do comprador para valer contraterceiros. O comprador do bem só alcançará apropriedade depois de pagas todas as

parcelas.Uma vez descumprida a mesma e constituídoo comprador em mora, poderá o vendedorpropor ação de cobrança ou busca eapreensão para recuperar a posse do bem.d) Venda sobre documentos ou trustreceipt   – por intermédio dos arartigo 529 ao 532,verifica-se a venda em que a tradição da coisaé substituída pela entrega de um título que arepresenta.

2. TROCA OU PERMUTA (art. 533 do CC)

2.1. Conceito

Nessa modalidade contratual prevista no artigo533 da lei civil, as partes pactuam suasobrigações, remunerando-se, através dacompensação dos ofícios estabelecidos porcada uma delas.Difere do contrato de compra e venda, pois napermuta a contraprestação é feita pelopagamento de um preço em dinheiro.

2.2. Natureza jurídicaa) Contrato bilateral ou sinalagmático  – apresenta, reciprocamente, deveres paraambas as partes, que se obrigam a dar umacoisa recebendo outra diferente de dinheiro.b) Contrato comutativo  –  as partes secientificam de suas obrigações no ato daelaboração, por serem certas e determinadasno ato da celebração.

c) Contrato consensual  –  ocorre com a

manifestação das partes.

d) Contrato formal ou informal, solene ou nãosolene – a lei não impõe maiores formalidadespara a sua celebração;

e) Contrato translativo  –  a transmissão dacoisa ocorrerá com a tradição, trazendoconsigo no contrato.

f) Contrato oneroso  –  apresenta repercussãoeconômica.3. CONTRATO ESTIMATÓRIO (arts. 534 a537 do CC)

3.1. ConceitoEsse contrato pode ser chamado também de

venda em consignação, tem por finalidadevender, em nome próprio, bens móveis depropriedade de terceiros.O proprietário/consignante dará somente aposse do bem ao vendedor/consignatário, nãosendo entregue o domínio da coisa. Suaprevisão está nos artigos 534 a 537 do CódigoCivil.3.2. Natureza jurídica

a) Contrato bilateral ou sinalagmático  – caracterizado pela reciprocidade nasobrigações entre os contratantes.

b) Contrato oneroso  –  proporcionarepercussão econômica.

c) Contrato real  –concretizado com a efetivaentrega do bem.

d) Contrato comutativo  –  as partes sãocientificadas de suas obrigações no ato daelaboração.

e) Contrato informal ou não solene  –a lei nãoimpõe maiores formalidades para a suacelebração.

f) Contrato instantâneo e temporário  –  oprimeiro se consuma com a prática do ato, já osegundo se efetua por meio do termo final paraa venda da coisa consignada.3.3. Efeitos e regras

 – É análogo a uma obrigação alternativa, pois

o vendedor/consignatário poderá devolver ovalor inicialmente estimado ou a própria coisa.

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 –  A coisa deve ser móvel e livre paraalienação, não podendo estar gravada comcláusula de inalienabilidade.

 Atenção! Nesta relação contratual, oconsignante possui o domínio, transferindo aoconsignatário somente a posse do bem móvel.4. DOAÇÃO (arts. 538 a 554 do CC)

4.1. Conceito

 A sua definição encontra-se melhorconceituada no artigo 538 do Código Civil:

Considera-se doação o contrato em que uma

 pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. 4.2. Natureza jurídica

a) Contrato unilateral/bilateral  –  apresentaobrigação somente para uma das partes;porém, no caso de doação modal, ocorre umaimposição para aquele que recebe bens ouvantagens de um ônus.

b) Contrato gratuito – a doação será, em regra,gratuita (excepcionalmente haverá a doaçãomodal, conferindo vantagens a ambas aspartes).

c) Contrato consensual  –é formado pelamanifestação de vontade das partes.

d) Contrato real – ocorre sempre que a doaçãoenvolver bem de pequeno valor seguido de suatradição (doação oral/manual );

e) Contrato comutativo – acontece quando aspartes são cientificadas de suas obrigações noato da elaboração;

f) Formal e solene  – desde que a doação debem imóvel seja superior a 30 saláriosmínimos.

g) Formal e não solene – todas as vezes que obem imóvel for superior a 30 salários mínimos,porém não há necessidade de escriturapública.

4.3. Espécies de doação

a) pura e simples (art. 543 do CC)  –  o atopossui liberdade plena, não se submetendo acondição, termo ou encargo;

b) contemplativa (art. 540, 1ª parte, do CC) – odoador efetua a mesma por mera liberalidade,expressando o motivo;c) remuneratória (art. 540, 2ª parte, do CC)  – se origina da realização de serviços prestados,cujo pagamento o donatário não pode ou nãodeseja cobrar;

d) ao nascituro (art. 542 do CC)  –  é válidadesde que aceita pelo seu representante legal.Trata-se de modalidade que depende,

necessariamente, de condição suspensivapara vigorar, pois condiciona a validade docontrato de doação ao nascimento do feto comvida;

e) ao absolutamente incapaz (art. 543 do CC) – trata-se de doação pura, não há necessidadeda aceitação do donatário, pois se presumeque o incapaz aceitou, inexistindo prova emcontrário (iure et iure);

f) de ascendente a descendente ou de umcônjuge ao outro (art. 544 do CC)  –  estárelacionado ao adiantamento da legítima, vistoque confere às doações o valor, que dele emvida receberam, sob pena de sonegação. Nãoconfundir esse tipo de doação com a inoficiosaprevista no artigo 549 da lei civil;g) em forma de subvenção periódica (art. 545do CC)  –  trata-se de pagamentos mensais(trato sucessivo) realizados pelo doador aodonatário, extinguindo-se com o falecimentode uma das partes, exceto no caso de

falecimento do doador, que poderáestabelecer aos seus herdeiros a continuaçãodos pagamentos ao favorecido;

h) propter nuptias (art. 546 do CC) – é aqueledirecionado para as núpcias, ou seja, aplicadopara casamento futuro, não vigendo o contratoem caso de não consumação do mesmo;i) com cláusula de reversão ou retorno (art. 547do CC) – trata-se de contrato de doação intuitu personae, desde que a mesma estejadirecionada somente ao donatário, pois caso

ele venha a falecer antes do doador, o bemretornará ao patrimônio deste, ainda que tenhaalienado o imóvel antes da morte;

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 j) universal (art. 548 do CC)  –  é nula talmodalidade, pois a lei veda a doação pelo

doador se ele não possuir bens suficientespara a sua subsistência. Tal medida visatutelar a qualidade de vida do doador (regra emsintonia com o princípio da dignidade dapessoa humana);

l) inoficiosa (art. 549 do CC)  – significa que adoação efetuada ultrapassou o quinhãodisponível para testar. Note: O doador tem R$200 mil reais e faz uma doação de R$ 120 milreais, o ato será válido até os R$ 100 mil reaise nulo com relação aos R$ 20 mil. Atenção! A

 Ação de redução é a que tem como objetivo adeclaração de nulidade da parte inoficiosa.

m) do cônjuge adúltero ao seu cúmplice (art.550 do CC) – é a doação feita entre amantes,geralmente por pessoas casadas comimpedimento de contrair união estável, sendoanulável no prazo decadencial de dois anos. Aanulabilidade do contrato poderá ser propostapelo cônjuge traído ou também pelos herdeirosnecessários.Todavia, a mesma poderá ser convalidada nocaso dos cônjuges estarem separados de fato;

n) conjuntiva (art. 551 do CC)  –  trata-se dadoação de um determinado bem a dois ou maisdonatários, os quais se tornarão cotitulares dobem;

o) modal ou onerosa (art. 553 do CC)  –  éaquela em que o doador atribui ao donatárioum encargo, o qual se torna elemento modaldo negócio jurídico;

p) à entidade futura (art. 554 do CC)  –  aentidade deverá se constituir regularmentecom a inscrição dos atos constitutivos norespectivo registro no prazo máximo de doisanos; no entanto, se ela não estiverdevidamente composta dentro desse prazo ocontrato poderá caducar.4.4. Revogação da doação

São os casos definidos nos artigos 555 ao 564do Código Civil e merecem ser conferidos!

4.5. Hipóteses de irrevogabilidade poringratidão

Conforme o artigo 564 da lei civil, as doaçõesque não serão revogadas por ingratidão serão:

a) as puramente remuneratórias;b) as oneradas com encargo já cumprido;c) as que se fizerem em cumprimento deobrigação natural;d) as feitas para determinado casamento.5. LOCAÇÃO DE COISAS (art. 565 e segs., doCC)

5.1. ConceitoÉ o contrato em que o locador cede aolocatário determinado bem, objetivando que omesmo use e goze da coisa de forma contínua

e temporária, mediante o pagamento dealuguel.5.2. Natureza jurídica

a) Bilateral ou sinalagmático  –  as partespossuem vantagens e desvantagensrecíprocas.

b) Oneroso  –  é essencialmente econômico,isto é, por meio da cobrança de alugueres.

c) Comutativo – as partes são cientificadas desuas obrigações no ato da celebração docontrato de locação.

d) Consensual  –  a vontade das partes é aessência do contrato,e) Informal e não solene  –  inexisteobrigatoriedade de escritura pública comotambém de contrato escrito.

f) Execução continuada  –  as prestaçõesperduram com o passar do tempo.

g) Típico  –  caracterizado por possuirregulamentação legal no Código Civil.

h) Paritário ou de adesão  –  será paritárioquando as partes estiverem em pé deigualdade no ato de estabelecer as cláusulascontratuais e de adesão assim que uma daspartes estipular as cláusulas e a outra somentepuder aderi-las para que se possa obter oobjeto do contrato.5.3. Pressupostos

a) coisa;b) temporariedade;

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c) aluguel.

5.4. Dos deveres do locador

O locador é obrigado a entregar ao locatário acoisa alugada, com suas pertenças, em estadode servir ao uso a que se destina, assegurandoa utilização pacífica da coisa. Devendo olocatário, durante o período contratual, mantera coisa no estado em que se encontra, salvose previsto diversamente em cláusula.5.5. O direito potestativo da reduçãoproporcional do aluguel ou a resolução docontrato

Conforme preceitua o artigo 567 da lei civil, sedurante a locação a coisa alugada fordeteriorada,sem culpa do locatário, a este caberá pedirredução proporcional do aluguel, ou resolver ocontrato, caso já não sirva a coisa para o fim aque se destinava.5.6. Dos deveres do locatário

Os deveres legais estão elencados no rol doartigo 569 do Código Civil:a) servir-se da coisa alugada para os usosconvencionados ou presumidos, consoante anatureza dela e as circunstâncias, bem comotratá-la com o mesmo cuidado como se suafosse;b) pagar pontualmente o aluguel nos prazosajustados, e, em falta de ajuste, segundo ocostume do lugar;c) levar ao conhecimento do locador asturbações de terceiros, que se pretendamfundadas em direito;d) restituir a coisa, finda a locação, no estado

em que a recebeu, salvas as deterioraçõesnaturais ao uso regular.5.7. Locação por prazo determinado

De acordo com a regra prevista no artigo 573do Código Civil, esta modalidade cessa depleno direito com o fim do prazo estipulado,independentemente de notificação ou aviso.

5.8. Aluguel pena

Reza a norma civilista:

 Art. 575. Se, notificado o locatário, não restituira coisa, pagará, enquanto a tiver em seu

 poder, o aluguel que o locador arbitrar, eresponderá pelo dano que ela venha a sofrer,embora proveniente de caso fortuito.

Parágrafo único. Se o aluguel arbitrado formanifestamente excessivo, poderá o juizreduzi-lo, mas tendo sempre em conta o seucaráter de penalidade.5.9. A aquisição do bem por terceiro e acláusula de vigência

Se o bem  –  objeto do contrato  –  for alienadodurante a vigência do contrato de locação, oadquirente não ficará obrigado a respeitá-lo, senele não for consignada a cláusula da suavigência, no caso de alienação, e não constar

de registro.5.10. A sucessão na locação

Destaca o artigo 577 da lei civil: Art. 577. Morrendo o locador ou o locatário,transfere-se aos seus herdeiros a locação portempo determinado. 5.11. Indenização por benfeitorias

Exceto disposição em contrário, o locatáriogoza do direito de retenção, no caso debenfeitorias necessárias, ou no de benfeitoriasúteis, se estas houverem sido feitas comexpresso consentimento do locador, conformeprevê o artigo 578 da lei civil.5.12. A locação na Lei n. 8.245/91

Esta lei se aplica somente nas relaçõeslocatícias de imóvel urbano, consoanteprevisto em seu artigo 1º.

5.12.1. Ações inquilinárias ou locatícias

5.12.1.1. ConceitoSão quatro as ações previstas na lei delocações: a de despejo, a consignatória dealugueres e encargos locatícios, a revisionalde aluguel e a renovatória de imóveis nãoresidenciais. Além dessas, poderão ser propostas também:a ação de execução dos encargos locatícios,conforme disposto no artigo. 585, inciso V, doCPC, e a indenizatória, pelo locatário em facedo locador, alegando que o imóvel locadoapresentava defeitos causadores tanto de

danos morais quanto de materiais.

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Portanto, a Lei n. 8.245/91 é uma normahíbrida, pois cuida de aspectos materiais,procedimentais, como também processuais.

5.12.1.2. Lei do inquilinato: aspectos gerais

 Algumas questões relevantes devem seranalisadas no estudo da Lei 8.245/91. Oprimeiro ponto a ser analisado é o juízocompetente para propor as ações de despejo. Aqui se aplica a regra de competência do foroda situação da coisa,disposta no artigo 95 do CPC, por trazer maiorfacilidade ao juízo a proximidade com o bemobjeto do desalijo.Como previsto pelo artigo 58 da Lei n.

8.245/91, o valor da causa para a propositurada ação de despejo corresponderá a 12 mesesde aluguel, ou, na hipótese do inciso II doartigo 47, a três salários vigentes por ocasiãodo ajuizamento.

Segundo recente entendimento do STJ, odespejo para uso próprio poderá ser propostonos Juizados Especiais Cíveis, posto que osincisos do artigo 3º da Lei n. 9.099/95 não sãocumulativos e o inciso III do mesmo artigo nãopossui limite de valor tanto para bens imóveiscomo para os alugueres vencidos ouvincendos, se os mesmos existirem.Por último, deve ser esclarecido que o recursocontra sentença proferida, nesses casos, seráo de apelação e deverá ser recebido somenteno efeito devolutivo, permitindo assim odiploma legal, a execução provisória do julgado.

5.12.1.3. Espécies

5.12.1.3.1. Ação de despejo (arts. 59 a 66 daLei n. 8.245/91)a) É a única ação que o locador pode sugerirpara recuperar o imóvel objeto da locação.

b) Tem natureza de ação de rescisão dedissolução contratual, com naturezaeminentemente pessoal e não possessória oureal.

c) Segue o rito ordinário, consoante artigo 59da Lei n. 8.245/91.

d) No polo passivo figurará o locatário,sublocatário e/ou quem o tenha legitimamentesubstituído.

e) É permitido o deferimento de medidasliminares inaudita altera pars, conforme § 1º doartigo 59 da Lei n. 8.245/91.f) O despejo também poderá ocorrer pordenúncia cheia ou vazia. A primeira ação estábaseada no artigo 47 da lei do inquilinato; já asegunda está disposta no artigo 6º desta lei;

g) Pode ser proposta ação de despejo por faltade pagamento ou por infração contratual;

pedido para uso próprio; ausência deconservação ou deterioração do imóvel locadoou, ainda, realizar obras sem o consentimentodo locador.

h) A sentença tem caráter mandamental pordispensar a sua fase final de liquidação.5.12.1.3.2. Ação consignatória de aluguéis eacessórios na locação (art. 67 da Lei n.8.245/91)

a) Esta ação tem por característica evitar ainadimplência do locatário através do depósitoefetuado em juízo quando proposta a exordial.

b) Transcorre pelo rito especial.c) Caracteriza-se como uma ação que visa aopagamento indireto da obrigação e tem comoparte autora o locatário.

d) Diversamente da ação consignatóriaprevista no CPC, esta modalidade não temcaráter dúplice, pois a lei preceitua o

cabimento de reconvenção nos termos doinciso VI do artigo 67 da lei do inquilinato.5.12.1.3.3. Ação revisional de aluguel (arts. 68a 70 da Lei n. 8.245/91)

a) Pode ser ofertada tanto pelo locador,buscando o aumento do valor dos alugueres,como poderá ser proposta pelo locatário como objetivo de reduzi-los.

b) Este benefício poderá ser utilizado somentepelo prazo de três anos, ainda que a ação

tenha sido proposta pela parte contrária.c) Segue o rito sumário, conforme artigo 68 dalei do inquilinato.

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d) O juiz fixará o aluguel provisório por meiodos elementos fornecidos pelo autor da ação,

que será devido desde a citação.

e) Na audiência de conciliação, consoanterecente alteração pela Lei n. 12.112/09, deveráser apresentada a contestação, contendo acontraproposta; caso exista discordânciaquanto ao valor pretendido, tentará o juiz aconciliação; em caso de impossibilidade,determinará a realização de perícia, senecessária, designando, desde logo, audiênciade instrução e julgamento.f) O aluguel fixado em sentença retroage à

citação e as diferenças devidas durante a açãode revisão abrangerá os alugueres vincendos,bem como os vencidos e não pagos; asmensalidades locatícias serão pagas comcorreção monetária exigível a partir do trânsitoem julgado da decisão que fixar o novoaluguel; como também serão descontados osalugueres provisórios já satisfeitos.g) No final da ação locatícia serão cobradas asdiferenças locatícias entre o aluguel provisórioe o definitivo.

h) A ação de despejo poderá serfundamentada pelo inadimplemento dosalugueres provisórios.5.12.1.3.4. Ação renovatória de contrato (arts.71 a 75 da Lei n. 8.245/91)

a) Esta ação visa à renovação compulsória docontrato de locação escrito, e não residencial,por prazo determinado, vigendo no mínimo deforma ininterrupta pelo prazo de 5 anos,com exploração da mesma atividade pelo

prazo mínimo de três anos, devendo estademanda correr no rito ordinário.b) Ela deverá ser proposta no prazo máximode 1 ano e 6 meses após o término do contrato.

c) A legitimidade ativa é do locatário.

d) Nesta demanda será fixado o aluguelprovisório a ser devido após o término davigência do contrato de locação.

e) O aluguel fixado na sentença poderá ser

cobrado imediatamente, independentementeda propositura do recurso.

f) Não sendo renovada a locação, o juizdeterminará a expedição de mandado dedespejo, dentro do prazo de 30 (trinta) dias

para a desocupação voluntária, se houverpedido na contestação.6. EMPRÉSTIMO

6.1. Aspectos gerais

Esse tipo de contrato abrange tanto ocomodato como o mútuo. Ambos os institutosse assemelham por terem como objeto aentrega da coisa para ser usada e restituída aodono originário ao final do negócioestabelecido. Diferenciam-se em razão da

natureza da coisa emprestada, pois se o bemfor fungível o contrato será de mútuo e, se omesmo for infungível, comodato.6.2. DO COMODATO (EMPRÉSTIMO DEUSO) (arts. 579 a 585 do CC)

6.2.1. Conceito

 A melhor definição está expressa no artigo 579do CC: Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuitode coisas não fungíveis. Perfaz-se com atradição do objeto.6.2.2. Natureza jurídica

a) Real  –  se perfaz com a tradição do beminfungível.b) Gratuito – como disposto acima, ainda queo comodatário efetue o pagamento dosencargos de comodato (p. ex., condomínio,IPTU, dentre outros), este contrato éconsiderado gratuito.

c) Informal e não solene  –  não possuiformalidade prevista em lei.

d) Unilateral – confere obrigações somente aocomodatário.

e) Personalíssimo – extingue-se com a mortedo comodatário.

f) Fiduciário  –  como o próprio nome diz, ébaseado na confiança entre o comodante ecomodatário.

6.2.3. Legitimação para celebrar o contrato

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Em regra, todos os bens imóveis/móveis sãopassíveis de ser objeto de contrato decomodato, no entanto, excepcionalmente a lei

dispõe que não poderão dar em comodato,sem autorização especial, os bens confiados àguarda dos tutores, curadores e todos osadministradores de bens alheios, em geral.6.2.4. Prazo determinado e indeterminado

Nos casos pactuados por prazo determinado,não poderá o comodante suspender o uso egozo da coisa emprestada antes de findo oprazo convencional, salvo se houver umaurgente necessidade reconhecida pelo juiz.

O comodato poderá não ter prazoconvencionado, e nesse caso se presumirá oprazo através da necessidade da utilização dacoisa.6.2.5. Obrigações do comodatário e ochamado aluguel-pena

O comodatário tem como obrigação conservaro imóvel como se seu fosse, não podendo usá-lo em desacordo com o contrato ou a suanatureza, sob pena de responder por perdas edanos.Este será notificado para que dessa forma sejaconstituído em mora, respondendo tanto peloatraso quanto também pelos alugueres dacoisa que forem arbitrados pelo comodante atéa efetiva entrega das chaves, caracterizando,nesse caso, uma espécie de cláusula penaltípica do contrato de comodato.6.2.6. Responsabilidade do comodatário

Em situação de eminente risco da perda dosbens do comodante e do comodatário, e, este

último, tendo somente como salvaguardar osseus pertences abandonando os docomodante, deverá ser responsabilizado pelodano ocorrido,ainda que se trate de caso fortuito ou forçamaior. Vale enfatizar, que mesmo nestescasos, não será suprimida a culpa docomodatário que pretere a coisa alheiaemprestada em prol de seus pertences.6.2.7. Despesas do contrato

Não é possível o comodatário recobrar do

comodante as despesas feitas com o uso egozo da coisa emprestada.6.2.8. A solidariedade no contrato

Só é possível a existência da solidariedade nocontrato de comodato no caso de duas ou mais

pessoas serem, simultaneamente,comodatárias da mesma coisa, ficandosolidariamente responsáveis para com ocomodante.6.3. DO MÚTUO (EMPRÉSTIMO DECONSUMO) (arts. 586 a 592 do CC)

6.3.1. Conceito

O conceito do contrato de mútuo está previstono artigo 586 do Código Civil: Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas

fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir aomutuante o que dele recebeu em coisa domesmo gênero, qualidade e quantidade. 6.3.2. Natureza jurídica

a) Unilateral  – gera obrigações somente parauma das partes, neste caso, o mutuário.

b) Gratuito – só traz ônus para o mutuante; omutuário irá devolver sem ônus.Excepcionalmente esta modalidade contratualserá onerosa, nas situações de mútuofeneratício ou, como é popularmenteconhecido, empréstimo em dinheiro.

c) Informal e não solene – por inexistir previsãolegal sobre a forma de celebração, podendoser feito por instrumento particular.

d) Real – se concretiza com a entrega do bemfungível.6.3.3. A transferência da coisa

Este contrato se caracteriza pela transferênciado domínio da coisa emprestada ao mutuário,que assume todos os riscos do bem fungíveldesde a tradição.6.3.4. Mútuo feito à pessoa menor

O mútuo realizado por menor de idade, quandonão autorizado por seus responsáveis legais,isto é, aqueles que possuem a sua guarda, nãopoderá ser reivindicado, nem pelo menor nemtampouco por quem possui a sua guarda.Todavia, essa regra possui 5 exceções:

a) se o representante legal do menorposteriormente ratificar a necessidade domútuo;

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b) se o menor se viu obrigado a contrair oempréstimo para os seus alimentos habituais

em razão da ausência de seu representantelegal;

c) se o menor tiver bens ganhos com o seutrabalho, observando-se que a execução docredor não lhes poderá ultrapassar as forças;

d) se o empréstimo reverteu em benefício domenor;

e) se o menor obteve o empréstimomaliciosamente.

6.3.5. A garantia no mútuo e a exceptio nonadimplenti contractus 

Verificando o mutuante que o mutuário poderáinadimplir com o mesmo o contrato firmado,poderá este exigir a garantia legal, podendoser ela real ou fidejussória, com o objetivo debuscar maior segurança jurídica.Contudo, mesmo adimplindo o contrato, se omutuário não cumprir com seu mister, a dívidavencerá antecipadamente ante a exceptio nonrite adimpleti contractus, como disposto noartigo 477 do Código Civil.6.3.6. O mútuo feneratício ou mercantil e alimitação de juros

Versa sobre o mútuo destinado a finseconômicos, cujos juros cobrados presumir-se-ão devidos, podendo até chegar ao limiteprevisto no artigo 406 do Código Civil, sobpena de redução.Segundo entendimento do STJ, os contratos

bancários, que não foram regulamentadospela legislação específica, poderão possuir juros moratórios no limite de 1% para seconvencionar. Além disso, a simplesestipulação de juros remuneratórios superioresa 12% ao ano não traz indícios de abusividade.

O STF ainda entende que a Lei de Usura (DLn. 22.626/33) não é aplicável às instituiçõesbancárias (Súmula n. 596 do STF).6.3.7. Prazo para a realização do pagamentodo mútuo

Inexistindo convenção entre as partes, omútuo será devido:

a) se for de produtos agrícolas, até a próximacolheita quando já estiverem prontos para o

consumo ou para a semeadura;

b) pelo prazo de 30 dias, se ele for de dinheiro;

c) se for de qualquer outra coisa fungívelsempre que declarar o mutuante.7. DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO (arts. 593 a609 do CC)

7.1. Conceito

São aquelas reguladas pelo Código Civil,

como toda espécie de serviço ou trabalholícito, material ou imaterial que pode sercontratada mediante retribuição, e que nãoesteja sujeita às leis trabalhistas ou à leiespecial.

7.2. Natureza jurídica

a) Bilateral – gera deveres a ambas as partes.

b) Comutativo  –  as partes possuem o prévioconhecimento das obrigações contratuais.

c) Personalíssimo/intuitu personae  – deve serprestado somente pelas partes que pactuaramos termos do contrato.

d) Oneroso – possui repercussão econômica.

e) Informal/não solene  –  não tem previsãolegal quanto à sua forma, podendo ser verbal,escrito, ou por instrumento particular.

f) Consensual – deriva da vontade comum daspartes.7.3. Objeto do contrato

Como informado anteriormente, é toda espéciede serviço ou trabalho lícito, material ouimaterial que pode ser contratada medianteretribuição.7.4. A remuneração (a não presunção degratuidade)

 A remuneração será, em regra, paga após a

prestação do serviço, podendo serconvencionada de forma diversa, ou seja, o

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pagamento poderá se concretizar no início dostrabalhos ou,também, ser dividido em três parcelas,

efetuando o pagamento de 1/3 no início, outros1/3 durante a execução dos serviços e orestante ao final.No que tange aos valores devidos, se inexistirestipulação prévia e muito menos apossibilidade de acordo entre as partes,deverá ser proposta ação para que o juizarbitre a remuneração de acordo com ocostume do lugar, o tempo de serviço e suaqualidade.7.5. Prazo máximo do contrato

Prevê a lei civil no caput  de seu artigo 598:

 Art. 598. A prestação de serviço não se poderáconvencionar por mais de quatro anos, emborao contrato tenha por causa o pagamento dedívida de quem o presta, ou se destine àexecução de certa e determinada obra. Nestecaso, decorridos quatro anos, dar-se-á porfindo o contrato, ainda que não concluída aobra. 7.6. Resilição do contrato

O prazo para estabelecer a resilição contratualficará ao arbítrio de ambas as partes, medianteprévio aviso. Entretanto, a lei estipula prazosgerais, caso as partes não pactuempreviamente tais limites:

a) oito dias de antecedência, nas hipóteses deremuneração fixada por tempo de um mês, oumais;

b) quatro dias de antecedência, se aremuneração for ajustada por semana ouquinzena;

c) quando a contratação tenha sido por prazoinferior a sete dias, poderá ser avisado navéspera.7.7. Inexecução do contrato

 A lei civil dispõe que não será contado o tempoem que o prestador de serviço não tenhaefetuado a sua tarefa.

7.8. Amplitude do contrato

Quando nesta modalidade de contrato não seestabelecer a tarefa que o prestador de serviçodeverá executar, entende-se que o mesmo se

obrigou a todo e qualquer serviço compatívelcom as suas forças e condições.7.9. Responsabilidade pela ruptura culposa docontrato

Não poderá o prestador de serviço contratadopor tempo certo ou por obra determinada seausentar sem justa causa antes de preenchidoo tempo ou concluída a obra.

Dessa forma, terá o contratante direito àretribuição vencida, através das perdas e

danos. Essa punição também se aplicará parao caso do prestador ser despedido por justacausa.7.10. Perdas e danos

Nas hipóteses em que o prestador de serviçofor despedido sem justa causa, o contratanteserá obrigado a lhe pagar a integral retribuiçãovencida acrescida da metade da remuneraçãoa que caberia a ele, caso pudesse cumprir como termo legal do contrato.7.11. A declaração formal da dissolução docontrato

 Ao final do contrato, o prestador de serviço temo direito de exigir da outra parte umadeclaração, afirmando que as obrigaçõescontraídas foram finalizadas, bem como se fordespedido sem ou com justa causa.7.12. Exigência de capacitação

Nas hipóteses de prestação de serviço porpessoa que não possua título de habilitação ou

não satisfaça requisitos estabelecidos em lei,não poderá ser cobrada retribuiçãocorrespondente ao trabalho executado porquem o prestou.Se o serviço for prestado de boa-fé, o juizarbitrará compensação razoável, excetoquando a proibição da prestação de serviçoresultar de lei de ordem pública.7.13. Formas de extinção do contrato

 A lei civil estabeleceu algumas formas deextinção do contrato, dentre elas consta a

morte de qualquer das partes, escoamento doprazo contratualmente determinado,conclusão da obra,

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rescisão do contrato mediante aviso prévio,inadimplemento de qualquer das partes ouimpossibilidade da continuação do contrato

motivada por força maior.7.14. Aliciamento do prestador de serviço

 Atente-se para a leitura do artigo 608 doCódigo Civil: Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadasem contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a importância que ao prestadorde serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse decaber durante dois anos.”  7.15. Alienação do prédio agrícola e suasconsequências

Não implica a rescisão do contrato quando oprédio agrícola, local da prestação de serviços,é alienado, salvo no caso em que o prestadoropte em continuar com o adquirente dapropriedade ou com o contratante inicial.8. EMPREITADA (arts. 610 a 626 do CC)

8.1. Conceito

Trata-se de contrato em que ocontratado/empreiteiro se obriga, semsubordinação ou dependência, a realizarpessoalmente ou por terceiros determinadaobra para o dono ou para o empreiteirocontratado, com material próprio ou fornecidopelo dono da obra, mediante remuneraçãodeterminada ou proporcional ao trabalhoexecutado.8.2. Natureza jurídica

a) Bilateral – gera deveres a ambas as partes.

b) Comutativo – possui o prévio conhecimentodas obrigações contratuais.

c) Oneroso  –  proporciona repercussãoeconômica.

d) Informal e não solene  –  não há previsãolegal expressa quanto à sua forma, podendoser verbal, escrito ou por instrumentoparticular.

e) Consensual – deriva da vontade comum das

partes.

f) Instantâneo ou de longa duração – o primeirose consumará com a prática do ato, já osegundo necessita de tempo para se exaurir.

g) Não personalíssimo  –  sua execução podeser confiada a terceiros, sob aresponsabilidade do empreiteiro.8.3. Espécies

a) de lavor  –  neste contrato o empreiteirosomente contribui com o seu trabalho;

b) mista  –  o empreiteiro contribui com o seutrabalho, mas também com os materiaisnecessários para a sua realização;

c) de projeto  –  a obrigatoriedade doempreiteiro é somente entregar o seu projetofinal;

d) instantânea  –  é estabelecida remuneraçãofixa para a execução da obra;

e) por medida/ad mensuram   –  nestamodalidade, a fixação do preço é determinadapelas etapas realizadas, isto é, a remuneraçãoé proporcional ao trabalho executado;

f) por administração – na qual o empreiteiro seencarrega da execução do projeto,pesquisando preço, profissionais, dentreoutros aspectos, sendo remunerado de formafixa ou através de um percentual sobre o custoda obra.8.4. Deveres e direitos do dono da obra

Quando a obra for concluída de acordo com oque foi pactuado inicialmente, o dono da obraserá obrigado a aceitá-la, podendo rejeitá-la

caso o empreiteiro se afaste das instruçõesrecebidas, dos planos dados ou das regrastécnicas em trabalhos de tal natureza.

8.5. Responsabilidade do empreiteiro

Existem três pontos a serem analisados:

a) Consoante o artigo 617 do CC:

 Art. 617. O empreiteiro é obrigado a pagar osmateriais que recebeu, se por imperícia ou

negligência os inutilizar. 

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b) O empreiteiro responderá durante oirredutível prazo de cinco anos, pela solidez esegurança do trabalho, como também em

razão dos materiais utilizados; contudo decairáo direito do dono da obra que não propuser aação contra o empreiteiro, nos 180 diasseguintes ao aparecimento do vício ou defeito;cumpre ressaltar que tal responsabilidade éobjetiva segundo a norma do artigo 618 do CC,cuja obrigação é de resultado.c) Se a obra ficar paralisada sem justo motivoresolve-se em perdas e danos, podendo oempreiteiro suspender a obra nos casos doartigo 625 do CC.8.6. Subempreitada

Esta modalidade contratual não possuinatureza personalíssima, podendo a execuçãoda obra ser confiada a terceiros, desde que osmesmos não assumam a direção oufiscalização do serviço, ficando limitados osdanos resultantes de defeitos durante oirredutível prazo de cinco anos.9. DEPÓSITO (arts. 627 a 652 do CC)

9.1. Conceito

Neste contrato, o depositário recebe um objetomóvel para guardar até que o depositante oreclame, sendo em regra gratuito,exceto se houver convenção em contrário e forfruto de atividade negocial ou se o depositárioo praticar por profissão.

9.2. Natureza jurídica

a) Real – depende da entrega da coisa.

b) Unilateral – somente gera obrigações a umadas partes, todavia excepcionalmente nahipótese do artigo 643 do Código Civil, poderáse tornar contrato bilateral imperfeito.

c) Gratuito  – regra geral onera somente umadas partes, havendo extraordinariamenteremuneração ao depositário.

d) Informal  –  não obstante o depositovoluntário se provar por escrito, não háregramento específico para a sua celebração.

e) Não solene – pode ser feito por instrumentoparticular.

f) Personalíssimo – o contrato será ajustado deacordo com o depositário, podendo serafastado quando o depositário for pessoa

 jurídica.

g) Temporário – pode ser estipulado prazo finalou não nesta modalidade de contrato.9.3. Modalidades

a) voluntário  –  decorre da autonomia davontade das partes;

b) necessário  –  não resulta da autonomia davontade, sendo subdividido em:

b.1) legal – origina-se do direito positivo;b.2) miserável  –  sucede de calamidadepública;b.3) hospedeiro  –  depende da guarda dasbagagens de hospedes;

c) regular  –  deriva de bem infungível einconsumível;

d) irregular  –  oriunda de bem fungível ouconsumível;e) judicial – possui como finalidade resguardara coisa até a decisão final judicial, derivandode mandado judicial;

f) bem indivisível  –  diz o artigo 639 da leicivilista:

 Art. 639. Sendo dois ou mais depositantes, edivisível a coisa, a cada um só entregará odepositário a respectiva parte, salvo se houverentre eles solidariedade. g) fechado – conforme o artigo 630 do Código

Civil: Art. 630. Se o depósito se entregou fechado,colado, selado, ou lacrado, nesse mesmoestado se manterá.”  9.4. Direitos e deveres do depositário

 A lei traz ao longo do texto os seguintesdireitos:

a) o depositante terá o direito de obter arestituição sobre as despesas necessárias;

b) direito de retenção do bem depositado parao caso de inadimplemento;

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c) ser remunerado, nas hipóteses que é devidaa remuneração.

 Além disso, terá como dever:

a) custodiar a coisa com o devido zelo;

b) obter autorização do depositante para usara coisa depositada;

c) restituir o bem no prazo final, no localpactuado, se responsabilizando pela coisa atéa sua efetiva entrega.9.5. Direitos e deveres do depositante

Como dever, consta o de pagar pelasdespesas referentes à manutenção dodepósito, bem como sobre os prejuízos que acoisa gerar ao depositário. O depositário tem odireito de ser ressarcido no caso dedeterioração do bem depositado.9.6. Da prisão do depositário infiel

 A presente matéria, objeto de antigascontrovérsias, foi pacificada pela SúmulaVinculante n. 25 do STF estabelecendo que:

Súmula Vinculante n. 25. É ilícita a prisão civilde depositário infiel, qualquer que seja amodalidade do depósito. 9.7. Extinção do depósito

O presente contrato será extinto por resiliçãounilateral, pelo término do prazo estabelecido,pelo perecimento da coisa, morte dodepositário e pela incapacidade civil dodepositário.Importante se faz mencionar a Lei n. 2.313/54,

prevendo que após o prazo de 25 anos, se acoisa não for reclamada, os bens serãorecolhidos ao Tesouro Nacional.10. DO MANDATO (arts. 653 a 692 do CC)

10.1. Conceito

Esta modalidade contratual ocorre enquantoalguém substitui outra pessoa, com podereslegais necessários confiados para agir emnome do representado, atuando consoantesua vontade.

10.2. Natureza jurídica

a) Unilateral  –  gera somente obrigações aomandatário.

b) Gratuito  –  se não ficar estipuladaremuneração, exceto quando se tratar deofício ou profissão lucrativa do mandatário.

c) Oneroso  –  será cabível a remuneraçãopactuada entre as partes e, na ausência, aprevista em lei de acordo com a categoriaprofissional, estabelecendo-se, ainda,conforme os usos e costumes do lugar dacelebração ou por arbitramento judicial.d) Consensual  –  deriva da autonomia davontade das partes.

e) Comutativo – as partes já conhecem os seusefeitos.

f) Preparatório – serve para preparar a práticade um terceiro ato.

g) Informal e não solene  –  inexiste previsãolegal sobre o seu formato.10.3. Espécies

a) Judicial – possui a finalidade de representarperante o Poder Judiciário o outorgante.

b) Legal – não há instrumento por decorrer dalei.

c) Escrito  –  materializado por instrumentopúblico ou particular.

d) Verbal –  inexiste documento escrito, sendoevidenciado por prova testemunhal.

e) Expresso e tácito  –  o primeiro se formaexplicitamente através de sua forma, podendoser verbal ou escrito, entretanto, o segundo sedá com a definição dos deveres emdecorrência de outra pessoa.f) Aparente  –  terá o mandatário o dever deremunerar, adiantar as despesas necessárias,reembolsar as despesas feitas na execução domandato, ressarcir os prejuízos, honrar oscompromissos em seu nome assumidos,vincular-se com quem seu procurador

contratou, responsabilizar-se solidariamentenas hipóteses legais, pagar a remuneração do

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substabelecido e vincular-se a terceiro de boa-fé.g) Salariado –  trata-se de obrigação de meio,

em que a remuneração se dá independente doresultado-fim.

h) Geral  –  engloba todo o patrimônio dooutorgante.

i) Especial – abrange um ou mais negócios domandante.

 j) Conjunto  –  quando há uma pluralidade demandatários que devem participar do atodesignado.

l) Solidário  –  com cláusula in solidum, cadamandatário poderá realizar o misterindependente dos demais.

m) Fracionário – sempre que existir divisão detarefas devidamente delimitada entre osmandatários.

n) Singular – preza pela existência de apenasum outorgado.

o) plural  –  sempre que vários são nomeadosno instrumento de mandato.10.4. Submandato

Contrato acessório ao mandato principal,devendo ser escrito, por meio do instrumentode substabelecimento, e tem como objetoobrigação de fazer fungível. Se houverreservas, tanto o mandatário quanto osubmandatário podem realizar as tarefas.Todavia, quando este instrumento for sem

reservas, o mandatário revoga os seuspróprios poderes perante o mandante,repassando-os para o submandatário.10.5. Obrigações do mandatário

 A lei civil estabelece as regras gerais deobrigações do mandatário nos artigos 667 a674, cuja leitura se faz obrigatória, podendoser listados aqui os principais deveres:

a) agir em nome do mandante dentro doslimites outorgados no instrumento de mandato;

b) ser diligente na execução do contrato eindenizar no caso de prejuízo causado por suaculpa ou de quem substabeleceu;

c) prestar contas com o mandante,transferindo as vantagens provenientes doinstrumento de mandato;

d) se identificar como mandatário peranteterceiros com quem tratar;e) concluir a tarefa a que foi contratado.10.6. Obrigações do mandante

É de extrema importância a leitura dos artigos675 a 681 do CC, podendo ser enumerados

aqui os principais deveres:

a) satisfazer todas as obrigações contraídaspelo mandatário, na conformidade do mandatoconferido, e adiantar a importância dasdespesas necessárias à execução dele,quando necessário se fizer;

b) a pagar ao mandatário pela remuneraçãoajustada e despesas da execução do mandato,ainda que o negócio não surta o esperadoefeito, exceto tendo o mandatário culpa;

c) é obrigatório o mandante ressarcir aomandatário as perdas que este sofrer com aexecução do mandato, sempre que nãoresultem de culpa sua ou de excesso depoderes;

d) o mandante ficará obrigado para comaqueles com quem o seu procuradorcontratou, ainda que o mandatário contrarie asinstruções originárias;

e) o mandatário tem direito de retenção sobrea coisa de que tenha a posse em virtude domandato, até se reembolsar do que nodesempenho do encargo despendido;10.7. Extinção do contrato

O Código Civil regulamenta o tema nos artigos682 a 691 determinando a extinção nashipóteses de revogação, renúncia, morte deuma das partes, interdição de uma das partes,mudança de estado de uma das partes,

término do prazo e conclusão do negócio.11. CONTRATO DE FIANÇA (arts. 818 a 839do CC)

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11.1. ConceitoTrata-se de garantia fidejussória em que um

terceiro (fiador) passa a garantir pessoalmenteperante o credor a dívida do devedor com seupatrimônio, tendo dessa forma umaresponsabilidade sem débito.11.2. Natureza jurídica

a) Gratuito  –  quem obtém o benefício destecontrato é o credor, que tem o seu direito decrédito garantido. Porém, pode ser oneroso,como no caso da fiança bancária. Nessa últimahipótese será aplicada as regras do CDC.

b) Consensual  –  atende à autonomia davontade das partes.

c) Formal  –  exige, minimamente, documentoescrito.

d) Não solene  –  não há necessidade deescritura pública.e) Obrigação acessória  –  a sua existênciadepende de um contrato principal.

f) Típico – possui previsão legal.

g) Fiduciário  –  essencialmente decorre daconfiança das partes.11.3. Seus efeitos e regras

a) As dívidas futuras podem ser objeto defiança, mas o fiador, nesse caso, não serádemandado senão depois que se fizer certa elíquida a obrigação do principal devedor (art.821 do CC).

b) A fiança poderá abranger a totalidade dadívida (total) ou parte da dívida (parcial), sendoa primeira ilimitada e a segunda limitada.

c) O credor possui o direito de examinar aidoneidade da fiança, não podendo serobrigado a aceitá-lo se o mesmo não foridôneo, domiciliado no município onde tenhade prestar a fiança,e não possua bens suficientes para cumprir aobrigação.

d) Se houver insolvência do fiador, o credorpoderá exigir a sua substituição.

e) É inerente à fiança o benefício de ordem,qual seja, o fiador exigir que inicialmente sejaexecutado o bem do devedor para

posteriormente ter o seu patrimônio atingido.

f) A solidariedade não se presume, decorre dalei ou da vontade das partes, logo inexistediploma legal dizendo que o devedor e o fiadorsão solidários; se inexistir no contrato, não sepoderá presumi-los solidários, pois issoviolaria a regra legal.

g) A fiança poderá ser prestada conjuntamentea um só débito, por mais de uma pessoa,importando o compromisso de solidariedade

entre elas se declaradamente não sereservarem o benefício da divisão,respondendo cada fiador unicamente pelaparte que proporcionalmente lhe couber nopagamento.

h) O fiador também tem direito perante odevedor de ser ressarcido de todas as perdase danos que vier a sofrer em razão da fiança.

i) Poderá o fiador promover o andamento daexecução contra o devedor nos casos em queo credor, sem justa causa, demorar a executar.

 j) Segundo a doutrina majoritária, a renúnciaconvencional é nula.

l) A obrigação do fiador passa para osherdeiros, mas fica limitado ao quinhãohereditário (forças da herança).

m) É o único contrato em que há compensaçãosem reciprocidade de créditos e débitos,

podendo ser compensado com o credor o queeste deve ao afiançado.

n) A desoneração de fiador em locação urbanaé regulada pelo artigo 40 da Lei n. 8.245/91,em que o fiador ainda responde no período de120 dias após a sua desoneração,enquanto a da lei civil, o fiador ficará obrigadopor todos os efeitos da fiança, durante 60 diasapós a notificação do credor.

o) Não obstante discussões anteriores acerca

da constitucionalidade da penhora do únicobem imóvel do fiador,

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o STF pacificou este entendimento acerca dapossibilidade, declarando aconstitucionalidade do artigo 3º, inciso VII, da

Lei n. 8.009/90.11.4. Extinção da fiança

São casos de extinção da fiança:

a) resilição unilateral;

b) morte;

c) O fiador pode opor ao credor as exceçõesque lhe forem pessoais e as extintivas daobrigação que competem ao devedor principal,

se não provierem simplesmente deincapacidade pessoal, salvo o caso do mútuofeito a pessoa menor;

d) o fiador, ainda que solidário, ficarádesobrigado se, sem o seu consentimento, ocredor conceder moratória ao devedor; se porfato do credor, for impossível a sub-rogaçãonos seus direitos e preferências; se o credor,em pagamento da dívida, aceitaramigavelmente do devedor objeto diverso doque este era obrigado a lhe dar, ainda quedepois venha a perdê-lo por evicção;

e) em caso de ser invocado o benefício daexcussão e o devedor, retardando-se àexecução, cair em insolvência, ficaráexonerado o fiador que o invocou, se provarque os bens por ele indicados eram, ao tempoda penhora, suficientes para a solução dadívida afiançada;RESPONSABILIDADE CIVIL

1. Conceito A matéria a ser estudada vincula-se ao deverde não causar prejuízo injustamente,buscando-se a indenização pelos danossofridos, com a finalidade de reparação namedida do injusto causado resultante daviolação do dever de cuidado.2. Pressupostos

a) ato ilícito ou conduta;b) culpa;

c) dano;d) nexo causal.2.1. Ato ilícito ou conduta

Conduta contrária ao direito positivado, tendopor elementos a antijuridicidade, ou seja, o ato

ser contrário à ordem jurídica e o agente serimputável, respondendo pelo mesmo porpossuir maturidade e sanidade para a práticados atos civis.2.1.1. Espécies

a) indenizatório – busca a reparação do estadoinicial da vítima (status quo ante);b) invalidante – tem como objetivo a invalidadedo ato praticado de forma ilícita;c) caducificante  –  resulta na efetiva perda dodireito;

d) autorizante – a lei autoriza a prática de umaconduta em rejeição a um ilícito.2.2. Culpa

 A culpa pode ser dividida em dois casos:

a) culpa latu sensu: tem o dolo como suamodalidade mais grave, podendo o mesmo serencontrado nas seguintes formas: –  dolo direto: o agente deseja a prática doilícito;

 – dolo necessário: fala a respeito de um efeitocolateral típico decorrente do meio escolhido eadmitido, pelo autor, como certo ounecessário;

 – dolo eventual: o agente, com a sua conduta,assume o risco do ilícito.b) culpa strictu sensu (mera culpa): o agentepratica o ilícito com a ausência do dever decuidado, gerando as seguintes espécies: – negligência – a conduta é caracterizada pelo

desleixo; – imprudência – a conduta é omissiva; – imperícia – é a falta de habilidade técnica.

Diante do tema abordado, constata-se aexistência de uma classificação referente àgraduação, em que a culpa poderá ser: graveem razão do erro grosseiro, leve diante de faltaevitável e, ainda, levíssima ante a falta deatenção extraordinária. Sendo a indenizaçãoobrigatória em qualquer um desses graus (inlege Aquilia et levissima culpa venit ).

2.2.1. Espécies de culpa strictu sensu 

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a) contratual  –  violação de um dever jurídicooriginariamente estabelecido;

b) extracontratual ou aquiliana  –aquela queocorre sem qualquer estabelecimento derelação jurídica originária;c) in comitendo  – em cometer, culpa por agircom imprudência;

d) in omitendo  –culpa em omitir;

e) in vigilando  – culpa pela vigilância;

f) in eligendo  – culpa pela escolha;

g) in custodiando  –  culpa pela custódia, porguardar;

h) presumida  –  a culpa, nesse caso, éessencial para o dever de reparar, geralmentea lei já faz o juízo de presunção, não sendo amesma adotada pelo CC/02, e, nas situaçõesde previsão em leis esparsas, a doutrinaentende que se considera caso deresponsabilidade objetiva;

i) concorrente –hipótese em que o agente e avítima contribuem para a prática do eventodanoso, sendo devida, segundo a doutrina, adivisão proporcional dos graus de culpa entreeles.2.3. Dano

 As espécies de dano existentes são: material,moral, estético, coletivo e social e a perda deuma chance.

2.3.1. Espécies2.3.1.1. Dano material

Trata-se de uma efetiva lesão patrimonial,podendo ser total ou parcial, suscetível deavaliação pecuniária.2.3.1.1.1. Danos emergentes e lucroscessantes

a) danos emergentes  –  do latim damnumemergens, significa a perda efetivamente

sofrida;

b) lucros cessantes – atinge o patrimônio futuro(ganho esperável), impedindo seucrescimento.

2.3.1.2. Dano incerto

Segundo entendimento do STJ, não se podeindenizar um dano incerto, em razão da próprianatureza da responsabilidade civil, que é aefetiva reparação de dano causado aopatrimônio.2.3.1.3. Dano material futuro

Inexiste a possibilidade desta modalidade,uma vez que somente se pode exigirreparação por danos causados e não por

danos a causar, isto é, que poderão acontecerfuturamente, inexistindo lesão patrimonial.

2.3.1.4. Dano moral

É uma espécie de dano, extrapatrimonial, porviolação aos direitos inerentes à pessoa,contidos nos direitos da personalidade.2.3.1.4.1. Formas de fixação

2.3.1.4.1. Compensatório

São analisados dois requisitosconcomitantemente: extensão do dano +condições pessoais da vítima.2.3.1.4.2. Punitiva

Neste outro ponto, existem dois requisitos:condições econômicas + grau de culpa doofensor.2.3.1.4.2.1. Punitive damages 

Traduzido para a língua portuguesa, danos

punitivos, seria aquilo que a doutrina chama de“dano moral punitivo”.Defende-se o entendimento de que tal institutoseja possível se o juiz entender que diante daproporcionalidade entre a culpa e o dano écabível indenização com o objetivo de punir oagente pela prática.

Todavia, parte da doutrina possuiposicionamento diverso, interpretando que seinexiste previsão no CC/02, logo, não épossível ser adotado, sob pena de configurar

enriquecimento sem causa como disposto noartigo 884 do CC.

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2.3.1.4.2. Dano moral direto e indireto ouricochete

Ocorre o dano moral direto quando o ofendidoé diretamente atingido nos seus direitos dapersonalidade. O sofrimento, a dor e o traumaprovocados pela morte de um ente queridopodem gerar o dever de indenizar. Assim tem se posicionado o Superior Tribunalde Justiça (STJ) ao julgar os pedidos dereparação feitos por parentes ou pessoas quemantenham fortes vínculos afetivos com avítima. Trata-se de dano moral reflexo ouindireto, também denominado dano moral porricochete.

2.3.1.4.3. Dano moral à pessoa jurídica

Não é pacífico o ponto de vista da matériaabordada, sendo majoritário o entendimentode que é possível que a pessoa jurídica possasofrer dano moral, conforme dispõe a Súmulan. 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrerdano moral.”2.3.1.4.4. A não possibilidade de incidência deimposto de renda

O dano moral é uma recomposição de lesão,ainda que extrapatrimonial, e por tal motivo asua indenização não significa um acréscimopatrimonial, não incidindo desse modo noimposto de renda sobre as verbas recebidas atítulo de ressarcimento pelos danos causados.2.3.1.4.5. Dano moral coletivo e social.Diferenças. Posicionamento da jurisprudênciado STJ

O dano moral coletivo é a lesãoextrapatrimonial aos direitos da personalidade

de um determinado grupo, como, por exemplo,discriminação sexual,etnia, religião, dentre outras. Já o dano moralsocial envolve a sociedade, ou seja, um grupoindeterminado, não se podendo medir aquantidade de pessoas lesionadas. Um grandeexemplo, a ação civil pública movida peloMPF/SP, em face da Rede TV, por terentrevistado ao vivo a vítima Eloá no cativeiromomento antes de seu assassinato.Nesta ocasião, foi impossível medir aquantidade de pessoas no país que estavam

assistindo ao programa, sendo indiscutível,ainda, a exposição da vítima em rede nacional,argumentos estes objetos da discussão nos

autos do processo n. 2008.61.00.029505-0,distribuído perante a 6ª Vara Federal Cível deSão Paulo.

2.3.1.4.6. Prova do dano moral

Segundo entendimento pacífico do STJ, odano moral é chamado de in re ipsa(presumido), ou dano na própria coisa,bastando demonstrar unicamente o fato.2.3.1.4.7. A quantificação dos danos morais

No momento de fixar o quantum debeatur , omagistrado deverá estabelecer uma reparaçãoequitativa, baseada na culpa do agente, naextensão e na gravidade do prejuízo causado,

bem como na capacidade econômica daspartes. A indenização deve apresentar um critério derazoabilidade, proporcionalidade e ao mesmotempo necessária à condenação do agente.2.3.1.5. Dano estéticoÉ a efetiva lesão à integridade corporal davítima e, podendo ser indenizável, o dano deveser duradouro ou permanente ou, em algunscasos, impedir as capacidades laborativas.O STJ sumulou o seu entendimento no verbeten. 387, em que: “É lícita a cumulação dasindenizações de dano estético e dano moral.” 2.3.1.6. Perda de uma chance

Ocorre quando a vítima possui uma chanceséria e real, englobando tanto o dano moralquanto o material. Exemplificando: nasOlimpíadas de Atenas em 2004, o maratonistaVanderlei Cordeiro de Lima estava liderando aprova,até que por volta do 36º km de prova, um padreirlandês o empurrou desconcentrando-o e

retirando o ritmo da prova, fazendo com que oatleta conquistasse apenas o bronze.Outro grande exemplo de perda de umachance foi caso no programa “Show do Milhão”(REsp. n. 788.459/BA), em que foi questionadaao participante uma pergunta que não possuíaresposta correta. Nesse sentido, o STJentendeu por reduzir a indenização para ovalor de R$ 125.000,00 (cento e vinte e cincomil reais)de acordo com a probabilidade matemática deo participante acertar, o que, data vênia, saiu

de graça para quem teria o dever de pagar ummilhão de reais.2.4. Nexo causal

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É o vínculo ou relação de causa e efeito entrea conduta e o resultado, existindo diversas

teorias, sendo adotada pela jurisprudência aTeoria do Dano Direto e Imediato. No entanto,é essencial listar as principais teoriasexistentes:

 –  Teoria da equivalência dascondições/conditio sinequa non  – nesta teorianão há diferença entre os antecedentes doresultado danoso, de forma que tudo iráconcorrer para o evento consideradocausador. Ela não é adotada em nossoordenamento.

 – Teoria da causalidade adequada  – adotadapelo CC/02 nos artigos 944 e 945, para estateoria, considera-se como causa todo equalquer evento que haja contribuído para aefetiva ocorrência do resultado. Portanto, paraque ela possa ser adotada, deve-se estardiante de uma causa adequada e apta àefetivação do resultado. – Teoria do dano direto e imediato  – segundoessa teoria, será indenizável todo o dano quese filia a uma causa, ainda que remota, desdeque necessária, encontrando respaldo noartigo 403 do atual Código Civil.2.4.1. Concorrência de causas

a) Subsequentes – é causado pela prática deconduta oriunda de um ato fundamentando porprática posterior.b) Complementares – é gerado pela a práticada conduta de dois ou mais agentes que, sema ajuda do outro, não seria atingido o fimpretendido.

c) Cumulativas – não haveria necessidade daconduta dos agentes somarem-se, em razãode que ambas atingiriam o objetivo-fim damesma maneira.

d) Alternativas – não há como definir o agentecausador do dano.

e) Preexistentes – a conduta do agente por sisó não atingiria o resultado-fim se já existisseoutra causa.

f) Concomitantes  – são causas geradoras dodano que são produzidas ao mesmo tempo.

g) Supervenientes  –  surgem após o eventodanoso.3. O risco

Há diversas espécies de risco dispostas noordenamento jurídico, devendo sermencionadas as principais:

 – risco proveito – todo ônus deve ser suportadopor quem recebe o bônus;

 –  risco profissional  –  deriva das relações detrabalho;

 –  risco excepcional – origina-se de atividades

que exigem elevado grau de perigo; – risco integral – modalidade mais elevada deresponsabilidade objetiva por não admitirexclusão de culpabilidade, em razão de oagente ser o responsável universal, adotadoexcepcionalmente no ordenamento jurídiconas seguintes formas:

 –  dano ambiental: art. 225, § 3º, CF/88 c/c oart. 14, § 1º, da Lei n. 6.931/81, defende que odano ambiental deverá ser reparadoindependentemente de culpa; – seguro obrigatório – DPVAT: Lei n. 6.194/74com posterior alteração pela Lei n. 8.441/92estabelece indenização às vítimas de acidentede veículos automotores independente deculpa ou de identificação do veículo automotor;

 –  danos nucleares  – art. 21, inciso XXIII, “d”,CF, responsabilidade civil por danosnucleares, na qual também foi adotada a teoriado risco integral.4. Responsabilidade por ato próprio

Transcorre por ato do próprio agente, oracausador do dano. Está disposta nos artigos939 e 940 do CC.

Conforme o primeiro dispositivo, quemdemandar judicialmente contra devedor antesde vencida a dívida, fora dos casos em que alei o permita, ficará obrigado a aguardar ovencimento, bem como pagar as custas emdobro, sendo obrigado ainda a descontar os juros, por serem, até o momento, indevidos.

Já o segundo dispositivo, quem demandar judicialmente por dívida já paga, ainda quesomente parte desta, ficará obrigado a pagar

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ao devedor, no primeiro caso, o dobro do quehouver cobrado. E, ainda, se litigar semressalvar as quantias recebidas ou pedir mais

do que for devido,ficará obrigado a pagar ao devedor oequivalente do que dele exigir. Em ambos oscasos, fica ressalvado se já tiver ocorrido aprescrição. A diferença entre o artigo 940 do Código Civile o parágrafo único do artigo 42 da Lei n.8.078/90, é que o primeiro somente é aplicávela cobranças judiciais e o segundo, a todas as judiciais e extrajudiciais.5. Responsabilidade por ato de outrem ouresponsabilidade indireta

De acordo com os ditames do artigo 932 danorma civilista, é o caso que terceiros praticamo ilícito e o responsável legal responde pelofato, isto é, responde (Haftung ) mesmo sem tercontraído o débito (Schuld ).O CC/02 adotou para esses casos aresponsabilidade objetiva, conforme redaçãodo artigo 933. A responsabilidade solidária prevista no artigo942 da lei civil é aplicável nos casos dosincisos III, IV e V do artigo 932.

Os pais irão responder pelos atos dos filhosque estiverem sob sua guarda e companhia,mesmo que provarem não agir comnegligência. A responsabilidade será objetiva, e os pais irãosubstituir os filhos, consoante a Teoria daSubstituição. A responsabilidade do tutor e curador pelospupilos e curatelados que se acharem sob suaautoridade e companhia é aplicada nos

mesmos moldes que a responsabilidade dosgenitores. Importante ressaltar que inexisteproibição legal sobre direito de regresso emface dos pupilos ou curatelados.No caso do empregador ou comitente, porseus empregados, serviçais e prepostos, noexercício do trabalho que lhes competir ou emrazão dele, o CC/02 inovou.

 Anteriormente, a aplicação do Código Civil de2002, nesses casos, havia a responsabilidadepor culpa in elegendo, como culpa presumida

na forma da Súmula n. 341 do STF que, aofinal, resultava nas mesmas consequências

previstas no atual diploma civil, quetransformou em responsabilidade objetiva. A norma abrange não somente a relação de

emprego, mas toda e qualquer outra relaçãoempregatícia com subordinação, chamada depreposição.

Referente aos donos de hotéis, hospedarias,casas ou estabelecimentos onde se alberguepor dinheiro, mesmo para fins de educação,pelos seus hóspedes, moradores eeducandos, alguns pontos merecem destaque. A responsabilidade é objetiva como acimamencionado. Os hotéis, em especial,responderiam também, caso o CC/02 não

dispusesse sobre essa matéria, de maneiraobjetiva, por força do artigo 14 da Lei n.8.078/90, visto que está presente o risco daatividade desenvolvida.

Tanto nos casos dos hospitais, clínicas eoutros estabelecimentos similares, bem comonas escolas, enquanto estiverem no referidolocal, aplica-se a teoria da guarda.Quando o paciente nos hospitais for menor ouadolescente, deverá ser observado o artigo 12da Lei n. 8.069/90 do ECA:

 Art. 12. Os estabelecimentos de atendimentoà saúde deverão proporcionar condições paraa permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internaçãode criança ou adolescente.  Atualmente, estão na moda os casos debullying , que consiste em apertadíssimasíntese na prática infantil de deboche comisolamento da pessoa naquela comunidade,geralmente ocorrendo nos colégios. Logo há

responsabilidade pedagógica doestabelecimento de ensino, sob pena deinfração administrativa, conforme artigo 245 doECA: Art. 245. Deixar o médico, professor ouresponsável por estabelecimento de atenção àsaúde e de ensino fundamental, pré-escola oucreche, de comunicar à autoridade competenteos casos de que tenha conhecimento,envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente. Pena  – multa de três a vinte salários de referência,

aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Em relação aos que gratuitamente houveremparticipado nos produtos do crime, será

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b) Força maior  –  caracterizada pelainevitabilidade, sobrevém de causa conhecida.

8.5. Culpa exclusiva da vítima

Diferente da culpa concorrente da vítima, aculpa exclusiva da vítima ocorrerá quando elaconcorrer sozinha para a ocorrência do eventodanoso. Há previsão legal neste sentido noartigo 14, § 3º, inciso II, da Lei n. 8.078/90.Um exemplo seria um consumidor que comprauma passagem para um determinado horário enão comparece. A companhia não é obrigadaa devolver o valor da passagem em razão doserviço ter sido prestado adequadamente e o

consumidor não ter se beneficiado pelo seunão comparecimento.Já a culpa concorrente, prevista no artigo 945do Código Civil, ocorrerá se a vítima tiverconcorrido culposamente para o eventodanoso. A indenização será fixada tendo-seem conta a gravidade de sua culpa emconfronto com a do autor do dano.

É importante destacar que se houver previsãolegal de responsabilidade objetiva não sediscute a culpa, exceto quando se tratar deculpa exclusiva da vítima ou culpaconcorrente.8.6. Fato de terceiro

Como o próprio nome diz, um terceiro estranhoà relação jurídica entre a vítima e o fornecedorde bens ou serviços causa dano. Dessa forma,o fato de terceiro não exime o dever deindenizar, mas permite o direito de regressoem face do terceiro.8.7. Cláusula de não indenizar

Somente poderá ser utilizada nas hipóteses deresponsabilidade contratual, em que uma daspartes estabelece cláusula visando aoafastamento do dever de indenizar quandoocorrer o dano.Casos em que não será aceita:

a) cada vez que seu conteúdo tiver por fimexonerar devedor que incorreria emresponsabilidade por dolo ou culpa grave;

b) se houver violação a interesse de ordempública;

c) diante dos hipossuficientes e vulneráveis;

d) nos casos dos artigos 424 e 734 do Código

Civil;

e) nas hipóteses dos artigos 25 e 51, inciso I,da Lei n. 8.078/90;

f) nas condições do artigo 247 da Lei n.7.565/86 (Código Brasileiro de Aeronáutica);

Requisitos para a validade da cláusula de nãoindenizar:

a) bilateralidade do consentimento;

b) que não colida com preceito de ordempública;

c) igualdade das partes;

d) inexistência do escopo de eximir o dolo ou aculpa grave do estipulante;

e) ausência da intenção de afastar obrigaçãoinerente à função.Enunciados sobre Responsabilidade Civil.

37  –  Art. 187: a responsabilidade civildecorrente do abuso do direito independe deculpa e fundamenta-se somente no critérioobjetivo-finalístico.38  – Art. 927: a responsabilidade fundada norisco da atividade, como prevista na segundaparte do parágrafo único do art. 927 do novoCódigo Civil, configura-se quando a atividadenormalmente desenvolvida pelo autor do danocausar a pessoa determinada um ônus maior

do que aos demais membros da coletividade.39 – Art. 928: a impossibilidade de privação donecessário à pessoa, prevista no art. 928,traduz um dever de indenização eqüitativa,informado pelo princípio constitucional daproteção à dignidade da pessoa humana.Como conseqüência, também os pais, tutorese curadores serão beneficiados pelo limitehumanitário do dever de indenizar,de modo que a passagem ao patrimônio doincapaz se dará não quando esgotados todosos recursos do responsável, mas se reduzidos

estes ao montante necessário à manutençãode sua dignidade.

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poderá fixar outra forma de pagamento,atendendo à condição financeira do ofensor eaos benefícios resultantes do pagamento

antecipado.443) Arts. 393 e 927. O caso fortuito e a forçamaior somente serão considerados comoexcludentes da responsabilidade civil quandoo fato gerador do dano não for conexo àatividade desenvolvida.444)Art. 927. A responsabilidade civil pelaperda de chance não se limita à categoria dedanos extrapatrimoniais, pois, conforme ascircunstâncias do caso concreto, a chanceperdida pode apresentar também a natureza jurídica de dano patrimonial. A chance deve

ser séria e real, não ficando adstrita apercentuais apriorísticos.445)Art. 927. O dano moral indenizável nãopressupõe necessariamente a verificação desentimentos humanos desagradáveis comodor ou sofrimento.446) Art. 927. A responsabilidade civil previstana segunda parte do parágrafo único do art.927 do Código Civil deve levar emconsideração não apenas a proteção da vítimae a atividade do ofensor, mas também aprevenção e o interesse da sociedade.447) Art. 927. As agremiações esportivas são objetivamenteresponsáveis por danos causados a terceirospelas torcidas organizadas, agindo nessaqualidade, quando, de qualquer modo, asfinanciem ou custeiem, direta ouindiretamente, total ou parcialmente.448) Art. 927. A regra do art. 927, parágrafoúnico, segunda parte, do CC aplica-se sempreque a atividade normalmente desenvolvida,mesmo sem defeito e não essencialmente

perigosa, induza, por sua natureza, riscoespecial e diferenciado aos direitos de outrem.São critérios de avaliação desse risco, entreoutros, a estatística, a prova técnica e asmáximas de experiência.449) Art. 928, parágrafo único. A indenizaçãoequitativa a que se refere o art. 928, parágrafoúnico, do Código Civil não é necessariamentereduzida sem prejuízo do Enunciado n. 39 da IJornada de Direito Civil. 450) Art. 932, I. Considerando que aresponsabilidade dos pais pelos atos danosos

praticados pelos filhos menores é objetiva, enão por culpa presumida, ambos os genitores,no exercício do poder familiar, são, em regra,

solidariamente responsáveis por tais atos,ainda que estejam separados, ressalvado odireito de regresso em caso de culpa exclusiva

de um dos genitores.451) Arts. 932 e 933. A responsabilidade civilpor ato de terceiro funda-se naresponsabilidade objetiva ou independente deculpa, estando superado o modelo de culpapresumida.452) Art. 936. A responsabilidade civil do donoou detentor de animal é objetiva, admitindo-sea excludente do fato exclusivo de terceiro.453) Art. 942. Na via regressiva, a indenizaçãoatribuída a cada agente será fixadaproporcionalmente à sua contribuição para o

evento danoso.454) Art. 943. O direito de exigir reparação aque se refere o art. 943 do Código Civilabrange inclusive os danos morais, ainda quea ação não tenha sido iniciada pela vítima.455) Art. 944. Embora o reconhecimento dosdanos morais se dê, em numerosos casos,independentemente de prova (in re ipsa), paraa sua adequada quantificação, deve o juizinvestigar, sempre que entender necessário,as circunstâncias do caso concreto, inclusivepor intermédio da produção de depoimentopessoal e da prova testemunhal em audiência.456) Art. 944. A expressão “dano” no art. 944abrange não só os danos individuais, materiaisou imateriais, mas também os danos sociais,difusos, coletivos e individuais homogêneos aserem reclamados pelos legitimados parapropor ações coletivas.457)Art. 944. A redução equitativa daindenização tem caráter excepcional esomente será realizada quando a amplitude dodano extrapolar os efeitos razoavelmente

imputáveis à conduta do agente.458) Art. 944. O grau de culpa do ofensor, oua sua eventual conduta intencional, deve serlevado em conta pelo juiz para a quantificaçãodo dano moral.459) Art. 945. A conduta da vítima pode serfator atenuante do nexo de causalidade naresponsabilidade civil objetiva.460) Art. 951. A responsabilidade subjetiva doprofissional da área da saúde, nos termos doart. 951 do Código Civil e do art. 14, § 4o, doCódigo de Defesa do Consumidor, não afasta

a sua responsabilidade objetiva pelo fato dacoisa da qual tem a guarda, em caso de uso deaparelhos ou instrumentos que, por eventual

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disfunção, venham a causar danos apacientes,sem prejuízo do direito regressivo do

profissional em relação ao fornecedor doaparelho e sem prejuízo da ação direta dopaciente, na condição de consumidor, contratal fornecedor.PosseConceito: A corrente que prevalece na doutrinaé a que sustenta ser a posse um Direito.Domínio fático que a pessoa exerce sobre acoisa. Essas são as premissas apresentadaspor Miguel Reale: 1ª A posse é um domíniofático, ou seja, um fato. 2ª Direito é um fato,valor e norma. Conclusão: A posse é um

Direito.Escolas da Posse:

Subjetiva: Savigny: poder direto ou imediatoque a pessoa tem para dispor fisicamente deum bem com a intenção de tê-lo para si e dedefendê-lo contra a intervenção de quem querque seja. Aqui nos observamos a soma doCORPUS + ANIMUS DOMINI.Para essa teoria o locatário ou mesmo ocomodatário não seriam possuidores, pois nãohaveria qualquer intenção de se tornarproprietário. Também estariam impedidos deingressar com as possessórias.Objetiva: Ihering. Para o defensor basta que apessoa disponha fisicamente da coisa ou quetenha a mera possibilidade de exercer essecontato. Para essa corrente basta o CORPUS.Dessa forma o locatário será possuidor,podendo se valer das Ações possessórias.OBS: Para as defensorias. Sustentar a teoriade Raymond Saleilles. Teoria da FunçãoSocial da Posse. A V Jornada.

492) A posse constitui direito autônomo emrelação à propriedade e deve expressar oaproveitamento dos bens para o alcance deinteresses existenciais, econômicos e sociaismerecedores de tutela.  Artigos que tratam do assunto: 1238 § único,1242 § único, 1228 §§ 4º e 5º. Vamos analisarem aula juntos?

 Atenção! Não podemos confundir o Detentorcom o Possuidor.

 Art. 1.196. Considera-se possuidor todoaquele que tem de fato o exercício, pleno ou

não, de algum dos poderes inerentes àpropriedade.

 Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que,achando-se em relação de dependência paracom outro, conserva a posse em nome deste eem cumprimento de ordens ou instruçõessuas.Parágrafo único. Aquele que começou acomportar-se do modo como prescreve esteartigo, em relação ao bem e à outra pessoa,presume-se detentor, até que prove ocontrário.493)O detentor (art. 1.198 do Código Civil)pode, no interesse do possuidor, exercer a

autodefesa do bem sob seu poder.

Tema de prova! Ocupação irregular em area pública gera posse? STJ REsp 489.732- DF.Diferença da transmudação para a interversãoda posse

 A transmudação se encontra positivada no art.1.198, parágrafo único do Código Civil e ainterversão no art. 1.203 do Código Civil. Nainterversão ou inversão o que ocorre émudança no título da posse preexistente.237 – Art. 1.203: É cabível a modificação do  título da posse  –  interversio possessionis  –  na hipóteseem que o até então possuidor diretodemonstrar ato exterior e inequívoco deoposição ao antigo possuidor indireto, tendopor efeito a caracterização do animus domini .

301  –  Art.1.198. c/c art.1.204. É possível aconversão da detenção em posse, desde querompida a subordinação, na hipótese de

exercício em nome próprio dos atospossessórios.Espécies de possea) Posse direta ou imediata é a daquele quetem a coisa em seu poder, temporariamente,em virtude de contrato ou de direito real (aposse do locatário, por exemplo, que a exercepor concessão do locador  – Código Civil, art.1.197), o usufruto, a servidão.b) Posse indireta ou mediata é a daquele quecede o uso do bem (a do locador). O poderfático é bem menos acentuado.

Importante! !

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Posses paralelas ou desdobramento da posse.Uma não anula a outra. Ambas são posses jurídicas ( jus possidendi ) e têm o mesmo valor.

Tanto o possuidor direto quanto o indiretopodem se valer dos remédios possessórios umem face do outro ou de terceiros. Nessesentido, o entendimento das Jornadas deDireito Civil: Art. 1.197. O possuidor direto tem direito dedefender a sua posse contra o indireto, e estecontra aquele (art. 1.197, in fine, do novoCódigo Civil) (Enunciado n. 76).

c) Posse justa ou limpa é a não violenta,clandestina ou precária (Código Civil, art.

1.200, rol taxativo). É adquirida legitimamente,sem vício jurídico externo.Nota!Em regra, posse justa é uma posse de boa-fé,mas nada impede que haja uma posse justaqualificada pela má-fé. Ex.: aquele que adquireuma propriedade de outrem sabendo ser otítulo proveniente de venda a non domino  épossuidor de má-fé, mas sua posse é justa.d) Posse injusta é adquirida viciosamente (vim,clam, ut precario). Ainda que viciada, não deixade ser posse, visto que a sua qualificação éfeita em face de determinada pessoa. Seráinjusta em face do legítimo possuidor; será,porém, justa e suscetível de proteção emrelação às demais pessoas estranhas ao fato. Assim, mesmo que injusta, poderá ser feito usodas ações possessórias.Nota! A posse pode ser injusta e de boa-fé. Ex.: se“A” furta um bem de propriedade de “B”, a suaposse será injusta e de má-fé. Todavia, se “A”transfere a posse a “C” e este desconhece o

caráter vicioso da aquisição do bem, sua posseserá de boa-fé, apesar de manter o caráterinjusto, que resulta da própria origem daposse.Tipos de posse injusta: –  Violenta: adquirida com a força física ougrave ameaça. Equipara-se ao roubo noCódigo Penal. – Clandestina: adquirida às ocultas, na caladada noite, em estado de indefensão. Equipara-se ao furto do Código Penal. Com relação aesse vício, é importante mencionar a regra do

art. 1.224 do Código Civil. – Precária: adquirida com abuso de confiança.Equipara-se à apropriação indébita do Código

Penal. O vício dessa posse dá-se a partir domomento em que o possuidor precarista serecusa a atender à revogação da situação

possessória que lhe foi conferida. Aqui importadizer que o ônus da prova caberá aodemandante.Nota! A posse somente é viciada em relação a umadeterminada pessoa, ou seja, seus efeitos sãointer partes, não havendo posse injusta emcaráter erga omnes.Sobre o tema, a jurisprudência abaixo:

Civil e processual civil. Possessória.Manutenção de posse. Possuidores que foram

impedidos de efetuar roçado em sua gleba deterras. Situação fática demonstrada através deprova pericial. Possibilidade. Turbaçãoincontroversa.Requisitos do art. 927 do Código de ProcessoCivil demonstrados. Sentença mantida.Recurso desprovido. A comprovação da posse anterior do autor eda turbação praticada pelo réu induz aoacolhimento do pedido de manutenção deposse (CPC, arts. 926 e 927).(...)De acordo com Sílvio de Salvo Venosa, “aposse exige, em princípio, que sua origem nãoapresente vícios. Posse viciada é aquela cujovício originário a torna ilícita.Como alerta Pontes de Miranda (1971, v. 10,p. 120), no mundo fático não existe o justo ouo injusto. Estes são conceitos jurídicos.Procede injustamente aquele que atentacontra o Direito” (Direito civil – direitos reais. 3.ed. Atlas, 2003. v. V, p. 70). (TJSC, ApelaçãoCível n. 2005.008357-3, rel.

Desembargador Marcus Tulio Sartorato, Juizprolator Jeferson Osvaldo Vieira, 3ª Câmara deDireito Civil, j. em 02.10.2007). Afirma-se diante da leitura do art. 1.238 doCódigo Civil que a posse derivada de atos deviolência ou clandestinidade poderá gerarusucapião extraordinária.Pode-se perceber aqui a única hipótese emque o detentor tem a tutela possessória contrao ataque injusto de terceiros. Note-se que nãoautorizam posse a sua aquisição por atosviolentos, ou clandestinos,

senão depois de cessar a violência ou aclandestinidade.

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Maria Helena Diniz nos informa que após umano e um dia do ato de violência eclandestinidade, a posse deixa de ser injusta e

passa a ser justa. Porém filiamo-nos à correntedefendida por Flávio Tartuce, que prega aanálise dessa cessação caso a caso, deacordo com a finalidade social da posse.Carlos Roberto Gonçalves entende que aposse precária não pode ser convalidada, poisa mesma representa um abuso de confiança.Esse não é, porém, o entendimento expostonas Jornadas de Direito Civil. Art. 1.203. É cabível a modificação do título da posse – interversio possessionis – na hipóteseem que o até então possuidor direto

demonstrar ato exterior e inequívoco deoposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini(Enunciado n. 237 da III Jornada de DireitoCivil).Marco Aurélio Bezerra de Mello segue omesmo entendimento do Enunciado acima,informando que o abuso de confiança podecessar por convenção das partes.e) Posse de boa-fé configura-se quando opossuidor ignora o vício, ou o obstáculo queimpede a aquisição da coisa. É de sumaimportância a crença do possuidor de seencontrar em uma situação legítima. O CódigoCivil estabelece presunção ( praesumptio iuristantum) de boa-fé em favor de quem tem justotítulo (título hábil para transferir a propriedade).Ex.: escritura de compra e venda (art. 1.201,parágrafo único). Ex.: possuidor que adquire aposse de determinado imóvel embasada emtítulo de domínio desconhecendo que omesmo é falso. A seguir, jurisprudência sobre o tema:

Processual civil. Posse provisória. Boa-fé.Justo título. Concessão de tutela antecipada.Liminar inaudita altera parte. Conjuntoprobatório favorável. Mandado de manutençãode posse. Inteligência dos artigos 1.201 e1.211 do Código Civil. Presença dos requisitosexigidos a amparar a decisão recorrida.Conhecimento e improvimento do recurso.Precedentes.(...)Maria Helena Diniz trata ainda da presunção

 juris tantum  de boa-fé, ao transcrever aseguinte jurisprudência: “Presume-se que épossuidor de boa-fé aquele que tiver justo

título, ou seja, aquele que tem a aparência detítulo hábil para transferir a posse ou odomínio” (RT, 526:55). A autora explica ainda

que tal presunção é juris tantum porque, casoapareça prova em contrário,desautoriza-se o possuidor (TJRN, Agravo deInstrumento com Suspensividade n.2005.004718-2, rel. Desembargador JoãoRebouças, 3ª Câmara Cível, j. em 24.11.2005,public. 22.03.2006).Nota!Em regra, posse justa é uma posse de boa-fé.Posse de boa-fé = aspecto psicológico +aspecto ético.

 A respeito de justo título, consoante o art.1.201 do Código Civil, observe-seentendimento da Jornada de Direito Civil: Art. 1.201. Considera-se justo título para presunção relativa da boa-fé do possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisiçãoderivada da posse, esteja ou não materializadoem instrumento público ou particular.Compreensão na perspectiva da função socialda posse (Enunciado n. 303 da IV Jornada deDireito Civil).f) Posse de má-fé é aquela em que o possuidortem conhecimento dos vícios na aquisição daposse. A posse de boa-fé se transforma emposse de má-fé desde o momento em que ascircunstâncias demonstrem que o possuidornão mais ignora que possua indevidamente(Código Civil, art. 1.202).Nota!É importante neste tópico ser realizada aleitura dos seguintes artigos: 457, 1.214 e1.219, todos do Código Civil.g) Posse nova é a de menos ano e dia. Não se

confunde com ação de força nova, que leva emconta não a duração temporal da posse, maso tempo decorrido desde a ocorrência daturbação ou do esbulho.h) Posse velha é a de ano e dia ou mais. Nãose confunde com a ação de força velhaintentada depois de ano e dia da turbação ouesbulho.Importante! ! A classificação de posse nova e posse velhasó serve para fixar o procedimento da açãopossessória, não tendo mais efeito na análise

do direito material, consoante regra do art. 924do Código de Processo Civil. Enquanto nãopassado ano e dia da turbação e do esbulho,

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a tutela possessória apenas pode serrequerida mediante o procedimentoestabelecido no art. 926 do Código de

Processo Civil, isto é, o chamadoprocedimento especial. Quando a turbação ouesbulho data mais de ano e dia, não se podeconcluir que o autor não terá direito à tutelaantecipatória. Tudo dependerá do casoconcreto. A doutrina processualista nos informa que,para ser conseguida a tutela antecipatória,exige-se a prova dos requisitos do art. 927 doCódigo de Processo Civil, somados à prova defato caracterizador da urgência. Ainda sobre o tema, válida é a menção de que

o prazo só começa a ser contado a partir doconhecimento da turbação ou do esbulho,pois, em caso de não conhecimento, nãohaverá abertura de prazo. O esbulho para seconcretizar, reúne uma série de atospreparatórios, o prazo de ano e dia deve sercontado do último ato praticado.i) Posse natural é aquela que se constitui peloexercício de poderes de fato sobre a coisa. j) Posse civil ou jurídica é a que assim seconsidera por força da lei, sem a necessidadede atos físicos ou materiais. É a que setransmite ou se adquire pelo título (escriturapública).k) Posse ad interdicta  é a que pode serprotegida pelos interditos ou açõespossessórias, quando molestada, mas nãoconduz à usucapião (a do locatário).l) Posse ad usucapionem é a que se prolongapor determinado lapso de tempo estabelecidona lei, deferindo a seu titular a aquisição dodomínio.Para que ocorra o deferimento da aquisição do

domínio, são necessários o animus e o corpus e ainda a posse mansa e pacífica.Efeitos da posse•  A proteção possessória, abrangendo aautodefesa e a invocação dos interditos;•  Percepção dos frutos;•  Responsabilidade pela perda oudeterioração da coisa;

Enunciado 238, 239 III CJF, Enunciado 495 VCJF.