aula8 8 mitos sobre a língua portuguesa
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Aula8 8 mitos sobre a língua portuguesa PRONATEC METROCAMP Fonte: Preconceito Linguístico: Como é, como se faz. Autor: Marcos Bagno.TRANSCRIPT
Aula 8:
8 Mitos sobre a língua portuguesa
Fonte: Livro Preconceito lingüístico: o que é, como se faz.
Marcos Bagno
Mito n° 1
“A língua portuguesa falada no Brasil
apresenta uma unidadesurpreendente”
Mito n° 1“A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”___________________________________________________________
Este é o maior e o mais sério dos mitos que compõem amitologia do preconceito lingüístico no Brasil. Ele está tãoarraigado em nossa cultura que até mesmo intelectuais derenome, pessoas de visão crítica e geralmente boasobservadoras dos fenômenos sociais brasileiros, se deixamenganar por ele.
Esse mito e muito prejudicial a educacão porque, ao nãoreconhecer a verdadeira diversidade do português falado noBrasil, a escola tenta impor sua norma linguistica como se elafosse, de fato, a lingua comum a todos os mais de 200 milhões debrasileiros, independentemente de sua idade, de sua origemgeográfica, de sua situação socioeconomica, de seu grau deescolarização etc.
Mito n° 1“A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”___________________________________________________________
Ora, a verdade é que no Brasil, embora a língua faladapela grande maioria da população seja o português, esseportuguês apresenta um alto grau de diversidade e devariabilidade, não só por causa da grande extensão territorialdo país — que gera as diferenças regionais.
Como a educação ainda é privilégio de muito pouca genteem nosso país, uma quantidade gigantesca de brasileirospermanece à margem do domínio de uma norma culta. Assim,da mesma forma como existem milhões de brasileiros semterra, sem escola, sem teto, sem trabalho, sem saúde,também existem milhões de brasileiros sem acesso a essa língua, que é a norma literária, culta.
Mito n° 2“Brasileiro não sabe
português /Só em Portugal se fala bem
português”
É a mesma concepção torpe segundo a qual o Brasil é umpaís subdesenvolvido porque sua população não é uma raça“pura”, mas sim o resultado de uma mistura — negativa — deraças, sendo que duas delas, a negra e a indígena, são“inferiores” à do branco europeu, por isso nosso “povinho” sópode ser o que é.
Ora, há muito tempo a ciência destruiu o mito da raça pura, que é um conceito absurdo, sem nenhuma possibilidade de verificação na realidade de nenhum povo, por mais isolado que seja. Assim, uma raça que não é “pura” não poderia falar uma língua “pura”.
Mito n° 2“Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português”__________________________________________________________
Mito n° 2“Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português”__________________________________________________________
O brasileiro sabe português, sim. O que acontece é quenosso português é diferente do português falado em Portugal.
O único nível em que ainda é possível uma compreensãoquase total entre brasileiros e portugueses é o da línguaescrita formal, porque a ortografia é praticamente a mesma,com poucas diferenças. Mas um mesmo texto lido em voz altapor um brasileiro e por um português vai soar completamentediferente.
Nosso país é 92 vezes e meia maior que Portugal, e nossapopulação é quase 20 vezes superior! Quando se trata delíngua, temos de levar em conta a quantidade: só na cidadede São Paulo vivem mais falantes de português do que emtoda a Europa! Além disso, o papel do Brasil no cenáriopolítico-econômico mundial é, de longe, muito maisimportante que o de Portugal. Não tem sentido nenhum,portanto, continuar alimentando essa fantasia de que osportugueses são os verdadeiros “donos” da língua, enquantonós a utilizamos (e mal!) apenas por “empréstimo”.
Mito n° 2“Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português”__________________________________________________________
Mito n° 3“Português é muito difícil”
Mito n° 3: “Português é muito difícil”__________________________________________________________
Como o nosso ensino da língua sempre se baseouna norma gramatical de Portugal, as regras que aprendemosna escola em boa parte não correspondem à língua querealmente falamos e escrevemos no Brasil. Por isso achamosque “português é uma língua difícil”: porque temos dedecorar conceitos e fixar regras que não significam nada paranós.
No dia em que nosso ensino de português se concentrarno uso real, vivo e verdadeiro da língua portuguesa do Brasilé bem provável que ninguém mais continue a repetir essabobagem.
Se tanta gente continua a repetir que “português é difícil”é porque o ensino tradicional da língua no Brasil não leva emconta o uso brasileiro do português. Um caso típico é o daregência verbal. O professor pode mandar o aluno copiarquinhentas mil vezes a frase: “Assisti ao filme”. Quando essemesmo aluno puser o pé fora da sala de aula, ele vai dizer aocolega: “Ainda não assisti o filme do Zorro!”
Porque a gramática brasileira não sente a necessidade daquelapreposição a, que era exigida na norma clássica literária, 100anos atrás, e que ainda está em vigor no português falado emPortugal, a dez mil quilômetros daqui! É um esforço árduo eInútil tentar impor uma regra que não encontra justificativa na gramática intuitiva do falante.
Mito n° 3: “Português é muito difícil”__________________________________________________________
Mito n° 4“As pessoas sem instrução
falam tudoerrado”
Mito n° 4: “As pessoas sem instrução falam tudo errado”_________________________________________________________
Se dizer Cráudia, praca, pranta é considerado “errado”, e,por outro lado, dizer frouxo, escravo, branco, praga éconsiderado “certo”, isso se deve simplesmente a umaquestão que não é lingüística, mas social e política — as'pessoas que dizem Cráudia, praca, pranta pertencem a umaclasse social desprestigiada, marginalizada, que não temacesso à educação formal e aos bens culturais da elite, e porisso a língua que elas falam sofre o mesmo preconceito quepesa sobre elas mesmas, ou seja, sua língua é considerada“feia”,”pobre”,”carente”, quando na verdade é apenasdiferente da língua ensinada na escola.
Mito n°5“O lugar onde melhor se fala
portuguêsno Brasil é o Maranhão”
Não sei quem foi a primeira pessoa que proferiu essagrande bobagem, mas a realidade é que até hoje ela continuasendo repetida por muita gente por aí, inclusive gente culta,que não sabe que isso é apenas um mito sem nenhumafundamentação científica.
O que acontece com o português do Maranhão emrelação ao português do resto do país é o mesmo queacontece com o português de Portugal em relação aoportuguês do Brasil: não existe nenhuma variedade nacional,regional ou local que seja intrinsecamente “melhor”, “maispura”, “mais bonita”, “mais correta” que outra.
Mito n°5: “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”_________________________________________________________
Mito n° 6“O certo é falar assim
porque se escreve assim”
Mito n° 6: “O certo é falar assim porque se escreve assim”____________________________________________________________
Diante de uma tabuleta escrita COLÉGIO é provável que umpernambucano, lendo-a em voz alta, diga CÒlégio, que umcarioca diga CUlégio, que um paulistano diga CÔlégio. E agora?Quem está certo?
Ora, todos estão igualmente certos. O queacontece é que em toda língua do mundo existe umfenômeno chamado variação, isto é, nenhuma língua é faladado mesmo jeito em todos os lugares, assim como nem todasas pessoas falam a própria língua de modo idêntico.
Infelizmente, existe uma tendência (mais um preconceito!)muito forte no ensino da língua de querer obrigar oaluno a pronunciar “do jeito que se escreve”, como se essafosse a única maneira “certa” de falar português.
Mito n° 7“É preciso saber gramáticapara falar e escrever bem”
Mito n° 7: “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”________________________________________________________
É difícil encontrar alguém que não concorde com adeclaração acima. Ela vive na ponta da língua da grandemaioria dos professores de português e está formulada emmuitos compêndios gramaticais.
Se fosse assim, todos os gramáticos seriam grandes escritores (o que está longe de ser verdade), e os bons escritores seriam especialistas emgramática. Ora, os escritores são os primeiros a dizer que gramáticanão é com eles!
Mito n°8“O domínio da norma culta
é um instrumento de ascensãosocial”
Mito n°8: “O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social”___________________________________________________________
Ora, se o domínio da norma culta fosse realmente uminstrumento de ascensão na sociedade, os professores deportuguês ocupariam o topo da pirâmide social, econômica epolítica do país, não é mesmo? Afinal, supostamente, ninguémmelhor do que eles domina a norma culta. Só que a verdadeestá muito longe disso como bem sabemos nós, professores, aquem são pagos alguns dos salários mais obscenos de nossasociedade.
Achar que basta ensinar a norma culta a uma criançapobre para que ela “suba na vida” é o mesmo que achar queé preciso aumentar o número de policiais na rua e de vagasnas penitenciárias para resolver o problema da violênciaurbana.