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Comércio Internacional em Teoria e Exercícios para AFRFB Prof. Thális Andrade Prof. Thális Andrade www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula Demonstrativa Salve, salve concurseiros de todo o Brasil... Mal saiu de cena o concurso de ACE/MDIC e já temos recém saído do forno o edital para Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil (AFRFB). Após quase 3 anos de espera, voltamos com força total para conquistar aquela tão almejada vaga no certame! Muitos que acabaram de prestar a prova do MDIC devem me conhecer das aulas aqui do ponto. Outros, que estejam totalmente imersos nos estudos para AFRFB, talvez ainda não me conheçam. Por isso... “let me introduce myself”. Meu nome é Thális Andrade. Sou mestre em Direito Internacional e integro a carreira de Analista de Comércio Exterior (ACE) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Desde 2009, atuo como professor de DIP e Comércio Internacional em cursos de Pós Graduação pelo Brasil, além de ministrar cursos preparatórios presenciais e aqui no ponto dos concursos. Sobre minha atuação profissional, fui investigador no DECOM/SECEX em processos de defesa comercial e atuei na Secretaria-Executiva da CAMEX com negociações internacionais. Atualmente estou lotado no DECEX, na Coordenação de Normas e Assuntos Econômicos (CONAE). Posso dizer que em todas essas tarefas a interação entre MDIC e RFB é muito próxima, quase simbiótica! Mas além do contato entre as carreiras, o cargo de AFRFB possui um enorme vínculo com a nossa matéria de Comércio Internacional. Em exemplos curtos, podemos citar os procedimentos de defesa comercial, em que vocês cuidarão da arrecadação das medidas de defesa comercial; podemos mencionar ainda a classificação aduaneira/fiscal que vocês farão sobre as mercadorias que entram e saem do país; ou ainda, destacar o controle aduaneiro que vocês exercerão sobre as mercadorias submetidas a regimes aduaneiros especiais. Tudo isso é só para demonstrar a vocês o quanto é fascinante a carreira que vocês pleiteiam a vaga e como é apaixonante a disciplina de Comércio Internacional. Muitos de vocês podem não ser apaixonados pelo tema. Mas, minha tarefa será, além de lecionar esta matéria, aproximar vocês ao máximo dela, pois se

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Comércio Internacional em Teoria e Exercícios para AFRFB Prof. Thális Andrade

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Aula Demonstrativa

Salve, salve concurseiros de todo o Brasil...

Mal saiu de cena o concurso de ACE/MDIC e já temos recém saído do forno o edital para Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil (AFRFB). Após quase 3 anos de espera, voltamos com força total para conquistar aquela tão almejada vaga no certame!

Muitos que acabaram de prestar a prova do MDIC devem me conhecer das aulas aqui do ponto. Outros, que estejam totalmente imersos nos estudos para AFRFB, talvez ainda não me conheçam. Por isso... “let me introduce myself”.

Meu nome é Thális Andrade. Sou mestre em Direito Internacional e integro a carreira de Analista de Comércio Exterior (ACE) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Desde 2009, atuo como professor de DIP e Comércio Internacional em cursos de Pós Graduação pelo Brasil, além de ministrar cursos preparatórios presenciais e aqui no ponto dos concursos.

Sobre minha atuação profissional, fui investigador no DECOM/SECEX em processos de defesa comercial e atuei na Secretaria-Executiva da CAMEX com negociações internacionais. Atualmente estou lotado no DECEX, na Coordenação de Normas e Assuntos Econômicos (CONAE).

Posso dizer que em todas essas tarefas a interação entre MDIC e RFB é muito próxima, quase simbiótica! Mas além do contato entre as carreiras, o cargo de AFRFB possui um enorme vínculo com a nossa matéria de Comércio Internacional.

Em exemplos curtos, podemos citar os procedimentos de defesa comercial, em que vocês cuidarão da arrecadação das medidas de defesa comercial; podemos mencionar ainda a classificação aduaneira/fiscal que vocês farão sobre as mercadorias que entram e saem do país; ou ainda, destacar o controle aduaneiro que vocês exercerão sobre as mercadorias submetidas a regimes aduaneiros especiais.

Tudo isso é só para demonstrar a vocês o quanto é fascinante a carreira que vocês pleiteiam a vaga e como é apaixonante a disciplina de Comércio Internacional.

Muitos de vocês podem não ser apaixonados pelo tema. Mas, minha tarefa será, além de lecionar esta matéria, aproximar vocês ao máximo dela, pois se

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trata de pedra fundamental para o concurso de vocês. Não a subestimem, pois seu conteúdo é deveras importante para qualquer futuro AFRFB que se preze, ok?

Antes de vermos nosso cronograma, vale à pena verificamos as inovações na matéria de Comércio Internacional trazidas pelo novo edital de AFRFB em relação ao último certame de 2009.

Primeiro destaquemos as inclusões:

1º - o novo edital traz de forma explícita os temas “políticas comerciais estratégicas”, “modalidades de tarifas” e “formas de protecionismo não tarifário”. Ao meu ver, tudo isso demonstra o claro propósito de atualizar o programa com o momento protecionista que o país e o cenário internacional estão passando.

2º - inclui-se na parte de integração, as regras específicas do “artigo XXIV do GATT” e da “Cláusula de Habilitação”. Essas regras há muito já são descritas individualmente em nosso curso e certamente serão cobradas pela banca com maior nível de detalhe!

3º - o bloco do “CARICOM” aparece como mais uma possibilidade entre os vários que já eram exigidos pela banca.

4º - aparece o tópico chamado “exportações” e “incentivos fiscais às exportações”. Além disso, aparece o item “importações” e “CIDE-combustíveis”. Esses temas são inéditos para a RFB, mas, para quem já foi nosso aluno, sabe bem que eles foram recentemente exigidos no edital de 2012 do certame de ACE/MDIC.

De outro lado, tivemos a exclusão do tema “valoração aduaneira” e um tema que foi totalmente deslocado para a nova matéria chamada de legislação aduaneira, que exige o conhecimento do Regulamento Aduaneiro por inteiro (Decreto nº 6.759/09). Da mesma forma, não há mais a menção específica a cada regime aduaneiro, aparecendo somente, de forma genérica, a expressão “regimes aduaneiros”.

Percebam ainda que este tema está na disciplina de legislação aduaneira. Ao que parece, a matéria de legislação aduaneira foi introduzida no edital para reafirmar a competência da RFB sobre o tema, evitando a tentativa de outros órgãos em cooptar a área aduaneira para si.

Bom, essas algumas impressões pessoais minhas.

Mas vamos então ao que interessa.

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Para cobrirmos nossa empreitada, dividi nossas aulas em 8 encontros, da seguinte forma:

AULA 0 – 1. Políticas comerciais. Protecionismo e livre cambismo. Políticas comerciais estratégicas. 1.1. Comércio internacional e desenvolvimento econômico. 1.2. Barreiras tarifárias. 1.2.1 Modalidades de Tarifas. 1.3. Formas de protecionismo não tarifário.

AULA 1 (31/07) – 2. A Organização Mundial do Comércio (OMC): textos legais, estrutura, funcionamento. 2.1. O Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio (GATT-1994); princípios básicos e objetivos. 2.2. O Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (GATS). Princípios básicos, objetivos e alcance.

AULA 2 (31/07) – 6. Práticas desleais de comércio. 6.1. Defesa comercial. Medidas Antidumping, medidas compensatórias e salvaguardas comerciais.

AULA 3 (06/08) – 3. Sistemas preferenciais. 3.1. O Sistema Geral de Preferências (SGP). 3.2. O Sistema Global de Preferências Comerciais (SGPC) 4. Integração comercial: zona de preferências tarifárias; área de livre comércio; união aduaneira. 4.1 Acordos regionais de comércio e a Organização Mundial de Comércio (OMC): o Artigo 24º do GATT; a Cláusula de Habilitação. 4.2. Integração comercial nas Américas: ALALC, ALADI, MERCOSUL, Comunidade Andina de Nações; o Acordo de Livre Comércio da América do Norte; CARICOM.

AULA 4 (13/08)– 5. MERCOSUL. Objetivos e estágio atual de integração. 5.1. Estrutura institucional e sistema decisório. 5.2. Tarifa externa comum: aplicação; principais exceções. 5.3. Regras de origem.

AULA 5 (20/08)– 10. Exportações. 10.1 Incentivos fiscais às exportações. 11. Importações. 11.1. Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico. Combustíveis: fato gerador, incidência e base de cálculo. 7. Sistema administrativo e instituições intervenientes no comércio exterior no Brasil. 7.1. A Câmara de Comércio Exterior (CAMEX). 7.2. Receita Federal do Brasil. 7.3 Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). 7.4. O Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX). 7.5. Banco Central do Brasil (BACEN). 7.6. Ministério das Relações Exteriores (MRE).

AULA 6 (27/08)– 8. Classificação aduaneira. 8.1. Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (SH). 8.2. Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM).

AULA 7 (03/09)– 9. Contratos de Comércio Internacional. 9.1. A Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias. 12. Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS 2010).

AULA 8 (10/09) – 13. Regimes aduaneiros.

Então meus amigos, com o edital 2012 de AFRFB na praça, não temos mais tempo a perder. Nossa ideia aqui neste curso é explanar a teoria de cada

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item exigido pela nossa banca, além de resgatar os exercícios realizados pela mesma, seguidos dos respectivos comentários.

Além disso, teremos nosso bom e velho fórum “tira-teima”!

Ou seja, leu os comentários das questões e ainda ficou com dúvidas? Mandem-nas no fórum que responderei o mais breve possível.

Para fechar essa apresentação e seguirmos para nossa aula “degustativa” propriamente dita, encerro com um pensamento de um grande cara, que sem dúvida se aplica ao nosso universo concurseiro.

“O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”. (Albert Einstein).

Portanto, a hora de por em prática os estudos é agora, meus amigos. O estudo de qualidade exige sacrifícios, ausência do lar, dos amigos, de festas, etc...

Mas isso é passageiro, e todo esforço será recompensado!

Vamo que vamo!

Prof. Thális Andrade Julho/2012

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1. Políticas comerciais. Protecionismo e livre cambismo. Políticas comerciais estratégicas. 1.1. Comércio internacional e desenvolvimento econômico. 1.2. Barreiras tarifárias. 1.2.1 Modalidades

de Tarifas. 1.3. Formas de protecionismo não tarifário.

Para esquentar os motores, nesta aula, vamos tratar do tema Políticas Comerciais constantes no edital de AFRFB 2012. É um tema mais simples que as demais aulas, mas prefiro começar por ele, pois é base para tudo que vai vir adiante.

Em outros certames da RFB, era praxe se cobrar uma série de teorias. Neste edital 2012, o tópico teve algumas poucas mudanças, mas a infinidade de teorias de comércio ficou no passado; agora busca-se “direto e reto” do futuro AFRFB a percepção sobre as políticas comerciais passíveis de implementação!

Para começar, busquemos definir alguns conceitos.

Afinal, o que é Comércio Internacional?

Podemos dizer que o comércio é uma via de “duas mãos”, em que ocorre a compra e venda de bens e serviços, bem como dos fluxos financeiros correspondentes, entre os diversos países do planeta. Trata-se de processo resultante da divisão internacional do trabalho, da diferente dotação dos fatores de produção, bem como da diversidade das habilidades adquiridas por seus participantes.

Na atualidade, esse fenômeno cresceu vertiginosamente com os avanços da produção industrial, logística, tecnologia nos meios de pagamento, enfim, pelo fenômeno da globalização que acelerou os processos de trocas entre os países.

A expressão “Comércio Internacional” difere um pouco de “Comércio Exterior”; enquanto a primeira trata desse processo no contexto de todos os países comerciando entre si, num ambiente global, a expressão comércio exterior se vincula as trocas de um determinado país com o resto do mundo. Por isso geralmente usamos a expressão Comércio Exterior Brasileiro, quando

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queremos falar do nosso Brasil como ponto de partida para todas as análises de importações e exportações com nossos parceiros comerciais.

A ideia que reside por detrás dessa necessidade de se intercambiar produtos e serviços deriva do fato de que nós não somos capazes de produzir tudo o que consumimos. Imaginem se precisássemos fabricar nossos sapatos, costurar nossas camisas, cultivar nosso alimento, desenvolver nosso “videogame”, e assim por diante. Pode até existir algum “professor pardal” que consiga essa autosuficiência (rsrs), mas eles são extremamente ineficientes, pois os custos são altos para essa empreitada. Isso porque eles teriam que desenvolver aptidões físicas e intelectuais para aprender cada ofício (fator mão-de-obra), gastar dinheiro em máquinas, fábricas ou equipamentos diferenciados para produção desses produtos (fator capital), além de eventualmente ter que buscar terras cultiváveis e urbanas ou recursos naturais para produzir os alimentos (fator terra).

Esses três elementos são os chamados de fatores de produção.

No entanto, felizmente o ser humano não é bobo, e “percebeu que era difícil produzir tudo o que precisava. Era mais fácil fazer dez coisas iguais do que sete diferentes. Assim, nasceu a divisão do trabalho: um indivíduo produzia apenas um tipo de objeto em quantidade superior as suas necessidades e trocava o excedente. A divisão do trabalho não só aumentou a produtividade como também permitiu a melhora da qualidade. Esses dois fatos proporcionaram maior oportunidade de trocas”. (MAIA, Jaime Mariz. Comércio Exterior e Economia Internacional, Atlas, 2004, p. 20).

Portanto meus caros, desde que os povos pré-históricos passaram a realizar trocas de produtos (escambo) entre habitantes de uma mesma tribo, podemos dizer que existe comércio. A diferença é que hoje realizamos essas trocas não ocorrem sob a base produto por produto, mas sim com base em papel-moeda ou simplesmente por meio eletrônico de pagamento de modo que as fronteiras daquelas tribos da antiguidade hoje foram extrapoladas para fronteiras entre países!

No entanto, a defesa do liberalismo (livre-cambismo), não é uma unanimidade, sofrendo um contraponto constante com o protecionismo.

Na verdade, como bem colocam os professores Barral e Brogini, o discurso a favor do liberalismo pode ser comparado com a evocação da ida para o plano divino, pois todos são a favor do livre comércio, mas o mais tarde possível. (BARRAL, Manual Prático de Defesa Comercial, 2007).

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Liberalismo x Protecionismo: Considerações iniciais

Como dissemos, vamos abordar brevemente aqui o embate entre a corrente liberal (livre-cambismo) e a corrente protecionista (intervencionista) que permeia toda a história do pensamento econômico.

Muito se defende o liberalismo, mas é difícil encontrar algum país que sustente essa bandeira hoje em dia e não tenha se valido de medidas protecionistas no passado (ou ainda as utilize no presente).

Podemos afirmar então que se os países desenvolvidos tivessem mesmo adotado as políticas que recomendam aos países em desenvolvimento, não seriam as potências econômicas que são hoje. Isso porque muitos desses países, ao longo de sua trajetória de desenvolvimento, recorreram a políticas comerciais e industriais protecionistas, atualmente consideradas políticas "ruins". Como bem define Ha-Joon, os países desenvolvidos, ao pregarem hoje políticas ortodoxas estariam “chutando a escada” para que os países em desenvolvimento não consigam seguir os mesmos caminhos trilhados por eles para se desenvolver.

Por exemplo, de 1820 até 1931, os EUA e alguns outros países hoje desenvolvidos adotaram políticas altamente protecionistas para defender a sua indústria nascente, mas eles alegam que fizeram o contrário: que liberalizaram seus mercados.

É só meia verdade!

De fato os EUA possuem uma das menores tarifas médias da OMC, sendo 3,7% seu imposto de importação médio, enquanto o Brasil aplica em torno de 32%. De outro lado, os EUA são um dos maiores aplicadores de medidas de defesa comercial, bem como possuem diversos programas de subsídios para sua ineficiente agricultura como a famosa lei Farm Bill que perdura até os dias de hoje! Aliás, recentemente, o Senado americano aprovou uma polêmica medida chamada Currency Exchange Rate Oversight Reform Act que visa sobretaxar as importações de países (ex. China) que manipulam suas taxas cambiais. Portanto, alguns países desenvolvidos gostam de “reviver” seu passado protecionista mais do que a gente imagina.

Aliás, outros países desenvolvidos também usaram e abusaram de “pecados” contra o livre comércio no passado. A Alemanha, por exemplo, se utilizou no passado de espionagem industrial patrocinada pelo Estado e a cooptação de trabalhadores da Inglaterra, práticas nada “recomendáveis” nos dias de hoje.

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Para entender esses dois mundos, vejamos as características da primeira corrente: o liberalismo.

Características do liberalismo

São características do liberalismo:

- Mercado livre: Estado não intervém na economia, seja tabelando preços ou criando barreiras alfandegárias;

- Livre Concorrência: preços se formam em função do próprio mercado, o que faz com que somente as empresas eficientes sobrevivam;

- Iniciativa Individual: qualquer indivíduo pode exercer a função que quiser, o que não ocorre no regime corporativista;

- Desregulamentação: Estado deve remover todos os obstáculos legais que cerceiam a atividade econômica.

- Divisão Internacional da Produção: países devem produzir somente o que for economicamente mais conveniente, exportando seus excedentes, gerando diminuição de custos e maior bem-estar social.

Dentre os argumentos a favor do liberalismo temos:

- Divisão internacional da produção: o liberalismo prega a divisão internacional da produção, pois cada país se especializa naquilo que é mais eficiente.

- Melhor uso dos recursos naturais: os recursos naturais pesam bastante na formação do custo, mas a natureza não é igual para todos os países, de modo que o clima e o solo são fatores que determinam produções diferentes.

- Economia de escala: O uso dos dois argumentos anteriores permite a produção em escala, reduzindo-se custos. Diz-se que temos economia de escala quando a expansão da capacidade de produção de uma empresa causa um aumento dos custos totais de produção menor que, proporcionalmente, os do produto.

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A liberalização do fluxo comercial, em ambos os sentidos (exportação e importação) é benéfica para os países, pois as exportações auxiliam o Produto Interno Bruto (PIB) dos países, aumentando o nível de emprego e renda; por outro lado, as importações estimulam a competitividade por melhores preços e qualidades, difundindo o uso de novas tecnologias (“spill over”).

Vejamos agora os argumentos contrários ao liberalismo:

Liberdade escraviza – ocorrem combinações entre particulares como trustes, carteis, oligopólios e dumping, o que influencia a formação de preços. Os benefícios gerados também não são distribuídos de forma igualitária, podendo haver concentração entre as grandes empresas.

Conflitos de interesses – Estado se preocupa com a defesa do emprego, meio ambiente, balanço de pagamentos ao passo que as empresas visam tão somente o lucro, não se preocupando com qualquer valor de interesse público;

Colonialismo – Como as metrópoles precisavam de matéria-prima e as tinham em quantidades insuficientes para seus processos de industrialização, as colônias foram por muito tempo pressionadas a exportar para os países com os quais tinham laços de dependência.

Vejamos agora as características do contraponto à teoria liberal.

Características do protecionismo

Como o próprio nome diz, o protecionismo trabalha com uma lógica de intervenção do Estado na economia, geralmente impondo barreiras à importação de mercadorias ou fazendo aportes governamentais à exportação de seus produtos.

São argumentos a favor do protecionismo:

- perigos decorrentes da divisão da produção: com a divisão da produção, o país não produz tudo que precisa e, em eventual guerra, pode ficar suscetível ao desabastecimento, tal como ocorreu na crise de 1929. No entanto, com a remota

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possibilidade de haver outra guerra, essa motivação fica prejudicada;

- dumping: país fica vulnerável a essa prática desleal de comércio, podendo acabar sua indústria nacional;

- indústria nacional e economia de escala: a intervenção do Estado inibe a formação de trustes, carteis e oligopólios. Além disso, como as multinacionais trabalham com economia de escala, seu baixo custo tende a suplantar a indústria nacional, de modo que só a intervenção do Estado é capaz de dar fôlego aos produtores para concorrerem com essas grandes empresas;

- esgotamento dos recursos naturais: como muitos recursos são limitados, a exploração desenfreada compromete o futuro. Estamos vivenciando este tipo de situação com a exportação de minérios da China para o resto mundo, e o Brasil pode também passar por isso no futuro;

- bens de natureza estratégica: alguns bens como energia, água, e até alguns serviços como telefonia, transporte aéreo, demandam intervenção estatal, pois em condições desfavoráveis, o Estado pode ficar dependente e até vulnerável;

Por outro lado, são argumentos contrários ao protecionismo:

- Divisão da produção: Como já dissemos, a divisão da produção garante eficiência na produção de bens, gerando maior oferta e, consequentemente, escala, baixo preço, e bem estar do consumidor.

- Acomodação da indústria nacional: Como a indústria tem mercado cativo, não precisa melhorar a qualidade do produto. Esse foi o caso típico do setor automobilístico no Brasil que, até o início da década de 90, estava protegido, porém sem inovação, escala e eficiência, foi “engolido” pelo corte de tarifas promovido pelo governo Collor.

- Reserva de mercado e monopólios: No Brasil tivemos na década de 80 a lei de informática que criou uma reserva de mercado para os computadores nacionais, mais prejudicando do que ajudando. Como o protecionismo afasta a concorrência

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estrangeira, acaba incentivando empresas que são únicas produtoras nacionais de determinado produto. Isso tende a gerar elevação de preços, uma vez que só a empresa passa a ser a única fornecedora nesse cenário. Isso tem ocorrido muito com a indústria química.

Feita essa breve comparação entre os dois regimes, temos o aporte teórico necessário para resolver quaisquer questões genéricas sobre essa dicotomia. No entanto, nosso edital de AFRFB 2012 vai além; foca em políticas comerciais específicas, não se ocupando, como já dissemos, das teorias de comércio.

Vamos às políticas então...

Comércio e desenvolvimento econômico

Em nosso edital 2012, novamente aparece explicitamente a relação entre comércio e desenvolvimento econômico. As interações entre esses dois assuntos foi alvo de larga literatura. Veremos as principais relações apresentadas sobre o assunto.

Neste cenário de crise que os países desenvolvidos (especialmente os países europeus e os EUA) o principal problema macroeconômico contemporâneo é a questão do emprego. Da mesma forma, para a maioria da população mundial, que vive na periferia, essa relação é ainda mais importante.

Então, a primeira relação que é importante é que o crescimento/desenvolvimento econômico passa pelo incremento do Comércio Internacional.

Não foi à toa que Adam Smith, em 1776, foi o patrono dessa relação, conjugando a ideia do crescimento econômico baseado no trabalho produtivo. Para o economista, o trabalho é que dava prosperidade econômica ao produzir excedente de valor sobre seu custo de produção mediante a distribuição do trabalho.

Aperfeiçoando as ideias de Adam Smith, David Ricardo, quando tratou de princípios de economia política e tributação em 1817, adicionou a noção de vantagens comparativas e investigou a distribuição desta riqueza produzida entre capitalista, trabalhadores e proprietários de terras. Ricardo então deu destaque ao trabalho ainda que o país fosse ineficiente comparativamente em 2 produtos

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comercializados com outro país. Ele buscou assim a justificar o comércio internacional em qualquer situação produtiva, eliminando a ideia de que o comércio seria um jogo de “soma-zero”, isto é, que um ganha e outro perde. Na verdade, no comércio internacional, todos podem ganhar com ele, ainda que não sejam em igual medida! Tínhamos aí a ideia das vantagens comparativas. Esse modelo continua sendo empregado de alguma forma até hoje, justificando as rodadas de negociação da OMC.

Completando a teoria econômica dos fatores de produção, Stuart Mill propalou o desenvolvimento como fenômeno econômico vinculado ao progresso técnico de distribuição do produto entre capitalistas, trabalhadores e proprietários de terras.

Com a introdução do pensamento marxista, o crescimento econômico dos capitalistas foi justificado pelo aumento do desemprego dos trabalhadores e concentração de renda e riqueza. Para Marx, este empobrecimento da maioria da população acarretaria uma diminuição do consumo e agigantaria a mão-de-obra disponível (exército de reserva), aumentando os conflitos sociais e propendendo para a autodestruição. Por isso, suas ideais seguiram na contramão do liberalismo, devendo o Estado intervir para garantir essa distribuição de riqueza.

Adiante, Joseph Schumpeter trouxe as funções do crédito e do capital na promoção do desenvolvimento econômico, fazendo também a distinção entre crescimento e desenvolvimento.

A partir do século XIX, o contraste de desenvolvimento entre os países mais industrializados e os demais países suscitou o debate acerca da distribuição de renda entre os mesmos.

O liberalismo incontido refletiu-se na quebra da bolsa de Nova York no ano de 1929, fato que desencadeou uma profunda crise na década seguinte e mudança nos rumos da economia. O fato reclamou uma atuação mais efetiva do Estado no campo econômico, com vistas a suavizar as flutuações do capital e complementar os investimentos da iniciativa privada. Este pensamento, cujas lições reverberam até hoje, foi desenvolvido por John Maynard Keynes na sua teoria geral do emprego, do juro e da moeda de 1936.

Até a segunda guerra mundial a moderna teoria do desenvolvimento econômico aliava-se a ideia de crescimento econômico. No pós-guerra, ele foi adquirindo novo sentido de modo que os instrumentos analíticos da teoria econômica ortodoxa eram rebatidos pela revolução keynesiana dos anos 30. Keynes disse então que haviam duas tradições econômicas: a ortodoxa (em que a economia estava plenamente empregada) e outro sistema muito diferente de

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proposições analíticas e prescrições de políticas, que se aplicava quando havia desemprego de recursos humanos e materiais.

A partir dessa ruptura, ao final da Segunda Guerra Mundial, os países subdesenvolvidos começaram a pleitear na esfera internacional uma maior ajuda dos países desenvolvidos. Assim, as origens e os termos do subdesenvolvimento assumiram o centro dos debates em detrimento dos motivos do desenvolvimento.

Neste contexto, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) teve grande influência no diagnóstico dos obstáculos ao desenvolvimento dos países. Com base num conceito de centro-periferia, Raúl Prebisch procurou explicar a forma que os países em desenvolvimento se vinculam economicamente aos países desenvolvidos. A propagação destas ideias ensejou uma batalha dos países periféricos à sua industrialização e desenvolvimento para que lograssem exportações tão competitivas quanto à dos centros industrializados.

Não obstante as ideias “cepalinas” terem sido encampadas na América Latina, como sabemos a previsão de crescimento não se concretizou. O que a América latina experimentou foi um aprofundamento do abismo entre o crescimento econômico (instrumento) e o desenvolvimento (finalidade).

Já nos anos 90, o economista Douglass C. North atribui suma importância às instituições, colocando-as no centro do processo de desenvolvimento ou evolução da sociedade. O ganhador do Prêmio Nobel da Economia de 1993 defendeu que as instituições são mais importantes que as inovações tecnológicas, pois aquelas reduzem as incertezas e limitam as escolhas dos indivíduos.

Na mesma década, outro prêmio nobel foi para o economista hindu Amartya Sen que trouxe uma perspectiva inovadora em Desenvolvimento como Liberdade, descrevendo um conceito de desenvolvimento que extrapola a noção simplista de crescimento econômico, abrangendo a liberdade como um fim e um instrumento para o próprio desenvolvimento (SEN, 2000, p. 10). Para Sen devem ser removidas as principais origens de privação de liberdade como a pobreza. Estas limitam as escolhas e oportunidades das pessoas, impedindo-as de obterem capacidades e exercerem efetivamente sua condição de agente do próprio destino.

Nesta perspectiva, a renda também é um importantíssimo meio de obter capacidades na medida em que auxilia na conquista e incremento das liberdades substantivas dos indivíduos, permitindo-os imprimirem sua condição de agente na vereda do desenvolvimento. Na busca deste ideal, Amartya Sen distingue cinco liberdades instrumentais que se inter-relacionam e se complementam. Dentre elas, destaca-se a liberdade da facilidade econômica assim traduzida:

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Facilidades econômicas são as oportunidades que os indivíduos têm para utilizar recursos econômicos com propósitos de consumo, produção ou troca [...] À medida que o processo de desenvolvimento econômico aumenta a renda e a riqueza de um país, estas se refletem em intitulamentos econômicos da população. Deve ser óbvio que na relação entre a renda e a riqueza nacional, de um lado, e, de outro, os intitulamentos econômicos dos indivíduos (ou famílias), as considerações distributivas são importantes em adição às agregativas. O modo como as rendas adicionais geradas são distribuídas claramente fará a diferença (SEN, Desenvolvimento como liberdade, 2000, p. 55).

Essa última teoria então se dissocia bastante da ideia de simples pleno emprego provocado pelo comércio, aliando outra noção de liberdade na relação com desenvolvimento econômico.

Munidos do aporte teórico, vejamos as políticas comerciais específicas que põem em prática esta relação entre comércio e desenvolvimento, promovendo o emprego, renda e progresso técnico!

Antes, peço muita atenção ao tema as seguir foi assunto cobrado pela ESAF no último certame e pegou de surpresa muitos candidatos. Agora ele aparece de modo explícito em nosso edital. Portanto, olho vivo nele!

Políticas Comerciais Estratégicas

Na década de 1980 surgiu nos países desenvolvidos um conjunto novo de argumentos sofisticados a favor da intervenção governamental no comércio, num movimento chamado de neoliberalismo. Esses argumentos se concentravam, por exemplo, em setores de alta tecnologia, que haviam se tornado importantes após a criação do chip de silício. Alguns desses argumentos tentavam justificar a intervenção estatal diante de uma falha de mercado, surgindo a chamada política comercial estratégica.

Por essa teoria, por exemplo, uma falha de mercado existente nas indústrias nascentes como a dificuldade de apropriação dos conhecimentos justifica a intervenção governamental (ex. subsídio à pesquisa). Isso porque se a indústria de alta tecnologia gera conhecimento que outras possam se utilizar sem pagar por isso, há um benefício marginal ao se incentivar esse setor, há uma externalidade positiva que se irradia sobre as demais empresas.

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Por outro lado, ao se entrar nesse debate sobre política comercial estratégica estamos também nos afastando, de mundo onde o instrumental teórico das teorias clássicas e neoclássicas, mostra-se eficiente.

Nessa política, a escolha dos instrumentos de política econômica dependem dos objetivos que se pretende atingir com esses instrumentos. Por exemplo, se um governo entende privilegiar como objetivo nacional ser (ou se manter) uma potência mundial, a proteção e estímulo de setores industriais ligados à indústria bélica será uma política razoável. As diversas políticas de governo nos EUA protegendo, subsidiando e apoiando setores industriais militarmente sensíveis são exemplos práticos desse tipo de opção política. No Brasil, isso ocorreu no governo JK em que se buscou estimular uma indústria de bens duráveis, entendendo-se que reduziria os níveis absolutos de pobreza.

Podemos dizer, ainda, que no Brasil as taxas de juros mais competitivas (subsidiadas) para o financiamento ao desenvolvimento e construção de aeronaves é uma política comercial estratégica que merece ser incentivada, pois resulta em bens de alto valor agregado, bem como “espalha” know-how e conhecimento para outras empresas.

Por outro lado, o simples aumento do IPI para o setor automotivo com vistas a encarecer o carro importado e protegendo a indústria automotiva aqui instalada pode ser entendido como de legitimidade questionável se não promover inovação no setor, pois não promove P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), mas apenas cria uma barreira para as montadoras instaladas no país de modo a desestimular o investimento e a concorrência externa para setor.

Vejamos uma questão sobre esse assunto:

(ESAF/AFRFB-2009) A ênfase ao estímulo à produção e à competitividade de bens de alto valor agregado e de maior potencial de irradiação econômica e tecnológica a serem destinados fundamentalmente para os mercados de exportação caracteriza as políticas comerciais estratégicas.

Observem que o item traz exatamente o conceito que foi descrito. Uma política comercial estratégica do Estado é justamente uma escolha acertada sobre bens de alto valor agregado. Ora, se o Estado vai intervir num segmento, que este setor seja então bem escolhido (estratégico), de alto valor agregado e com bom potencial de difusão tecnológica. Ao atuar desta forma, o Estado incentiva a competitividade num segmento capaz de disputar eficientemente o mercado internacional. Correto, portanto, o item!

Além desta política, outros formatos importantes de intervenção estatal ganharam respaldo no passado e ainda perduram até hoje.

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Vejamos onde tudo começou...

Teoria da indústria nascente

Essa tese foi desenvolvida pelo economista alemão Friedrich List, para justificar a proteção às indústrias nascentes da Alemanha no século XIX, por meio da imposição de barreiras às importações, para que não concorressem com as já maduras indústrias inglesas.

Aplicada aos países periféricos, o argumento da indústria nascente se baseia na ideia de que os países em desenvolvimento têm uma vantagem comparativa potencial na manufatura, porém os novos setores manufatureiros desses países não podem, em princípio, concorrer com aqueles setores mais sólidos e firmados nos países desenvolvidos.

Com o objetivo de proteger a indústria nacional da concorrência dessas empresas já estabelecidas, dando ao menos fôlego para tentarem se desenvolver e “ir atrás do prejuízo”, os governos impõem barreiras ao comércio nesses setores nascentes, até que eles ganhem musculatura suficiente para enfrentar a concorrência estrangeira. Dessa forma, a indústria nacional ganha tempo para aprender fazendo (learn by doing), o que permite justificar a proteção a tais indústrias por um longo período, para que o setor se desenvolva e gere inovação, condição indispensável à manutenção da sua competitividade industrial após a abertura do mercado.

Desse modo, faz sentido, de acordo com esse argumento, usar tarifas ou cotas de importação como medidas provisórias para dar início à industrialização. Vale destacar que a cota (ou contingenciamento) é uma das medidas prediletas para esse intento, pois são as mais eficazes para se barrar a importação de determinados produto, pois podem limitar a quantidade do produto importado e não somente encarecer a importação.

Essa foi a forma como três das maiores economias do mundo iniciaram sua industrialização no século XIX. Os EUA e Alemanha tinham elevadas alíquotas de imposto de importação sobre as manufaturas, enquanto o Japão manteve controles de importação amplos até a década de 60.

Hoje em dia, com o impasse da Rodada Doha (veremos nas aulas seguintes) e com a proliferação de acordos regionais entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, a presença da cláusula da indústria nascente tem sido

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frequente para se evitar a súbita enxurrada de produtos e quebra de determinada indústria decorrente da liberalização promovida por esses acordos.

É importante reiterar que essa proteção (seja de natureza tarifária ou não tarifária) não faz nenhum bem a não ser que a proteção em si ajude o setor a se tornar mais competitivo. No entanto, muitos governos a simples proteção do setor sem incentivar a pesquisa e resolver outras questões estruturais que aumentam o custo de produção como carga tributária, previdenciária, logística, custo financeiro, só adiam o problema da falta de competitividade.

Vejamos um item sobre o assunto:

(ESAF/ACE-MDIC/2002) O argumento em favor da proteção às indústrias nascentes ganhou força com a publicação do “Report on Manufactures”, de Alexander Hamilton, que defendeu o desenvolvimento nos Estados Unidos da América e o uso de tarifas para promovê-lo.

A respeito dos instrumentos de proteção a indústrias nascentes é correto afirmar que o argumento que analisa a aquisição de experiência pela economia nacional, baseado no princípio de se “aprender fazendo”, o que permite justificar a proteção a tais indústrias por tempo indeterminado, preferencialmente longo, já que a inovação é condição necessária à manutenção da competitividade industrial.

Percebam, meus caros, que o item estaria perfeito se não fosse o fato da questão inserir que a proteção é por tempo indeterminado. Ora, se a proteção fosse para sempre, não haveria nem sequer motivo para se justificar a proteção no estágio inicial da indústria, uma vez que ela sempre vai gozar desta proteção, certo? Errado, portanto, o item!

Passamos agora a uma política comercial que, com base na ideia das indústrias nascentes, teve muito espaço em países em desenvolvimento, tendo sido implementada, inclusive, no Brasil!

Substituição das importações (deterioração dos termos de troca)

No âmbito da Comissão Econômica da ONU para a América Latina (CEPAL), o economista argentino Raul Prebisch trouxe em 1959 problema da Deterioração dos Termos Internacionais de Troca.

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Para Prebisch, os países produtores agrícolas iriam ao longo do tempo perder com o modelo liberal, uma vez que a procura por produtos primários – geralmente ofertados pelos países em desenvolvimento – tem uma limitação maior (inelástica) que a de produtos industrializados. Em outras palavras, uma vez que o consumidor tenha satisfeito suas necessidades básicas, consumindo alimentos e roupas, o aumento de sua renda não refletirá na procura por esses itens, mas sim, por produtos industrializados de maior valor agregado. Esse é o tipo de produto ofertado pelos países ricos industrializados (conforme colocamos na teoria do ciclo do produto), ou seja, uma vez atendida a necessidade básica do trabalhador, o aumento de sua renda impulsionará o consumo de bens industrializados e supérfluos e não a procura por mais alimentos.

A demanda por produtos agrícolas, portanto, estaciona, ao passo que a por produtos industrializados aumenta.

Assim, a corrente da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) defendeu a tese de que os países em desenvolvimento deveriam se industrializar ou estariam fadados a uma crescente deterioção dos valores de troca, pois os industrializados aumentariam de preço em razão da procura enquanto o preço dos produtos primários estacionariam. Trocando em miúdos, com o passar do tempo, seria necessária a exportação de mais quilos de soja para a China para se comprar o mesmo número de aparelhos de telefone celular.

Entre as décadas de 1960 e 1970 a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) defendia que o desenvolvimento das economias do terceiro mundo passava pela adoção da política de substituição de importações. Esta política permitiria a acumulação de capitais internos que poderiam gerar um processo de desenvolvimento auto-sustentável e duradouro.

Esse argumento embasou o modelo de Substituição das Importações na América Latina. No entanto, pode-se dizer que essa política foi um fenômeno dos anos 30 e do período de guerra, em que a contração da capacidade para importar permitiu que se utilizasse intensamente um núcleo industrial surgido na fase anterior.

A substituição baseava-se na limitações das importações (protecionismo), dando fôlego à indústria nacional para que pudessem concorrer com os produtos fabricados por suas indústrias incipientes. Um dos problemas dessa teoria é que para que o processo ganhe continuidade e atinja seu objetivo, é necessário que o país tenha passado pela primeira fase de industrialização induzida pela expansão das exportações primárias. Além disso, é preciso que essa primeira industrialização tenha alcançado uma certa importância relativa a fim de que o processo de substituição ponha em andamento a segunda fase da

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industrialização. Isso não tem ocorrido porque os países pobres não contam com trabalho qualificado nem com empreendedores ou competência gerencial; para completar, têm problemas de organização social que tornam difícil manter ofertas confiáveis de tudo, desde de peças de reposição até eletricidade.

Sobre a teoria, vale destacar interessante artigo da revista Veja (edição de 7 de outubro de 2009), em que o economista Mailson da Nóbrega bem sintetizou sua implantação no Brasil:

[...] à moda dos planos da era Geisel, criados após a crise do petróleo de 1973-74. As empresas que recebessem incentivos fiscais não podiam importar equipamentos com similar nacional. Resultado: aumento de custos e de prazos de entrega.

Ainda que de forma ineficiente, o Brasil se industrializou via substituição de importações. O impulso inicial foi a dificuldade de importar na I Guerra e na Grande Depressão dos anos 30. Na década de 50, substituir importações virou objetivo nacional. No governo Geisel, tornou-se obsessão. No período Figueiredo, atingiu o auge com a insensata reserva de mercado para a informática.

A industrialização por substituição de importações foi bem-sucedida na Europa e nos Estados Unidos, no século XIX. A estratégia era alcançar rapidamente, sob orientação do estado, a posição dos ingleses, cuja Revolução Industrial havia sido gestada em pelo menos seis séculos de evolução institucional.

Casos de insucesso foram os de países incapazes de identificar e eliminar defeitos do modelo. Ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, a estratégia era prolongada de maneira insustentável, sob influência de grupos e deficiências do governo.

No Brasil, os problemas maiores parecem ter sido a busca da autossuficiência a qualquer custo e o descaso pela educação. Além disso, os vencedores eram escolhidos pela burocracia, que podia ser capturada pelos beneficiários da política. Estudos recentes provam que a substituição de importações foi claramente concentradora de renda.

A Coreia do Sul é uma história diferente. Como o Brasil, adotou o modelo nos anos 50, mas soube mudá-lo. Expôs suas empresas à competição internacional, o que criou incentivos à inovação. Seu êxito não decorreu de políticas industriais, como muitos pensam,

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mas essencialmente da revolução na educação e do legado do domínio japonês (1910-1945), traduzido na formação de recursos humanos, na pesquisa e nas técnicas organizacionais.

Aqui, o apoio à substituição de importações se enraizou por três razões:

(1) a cultura favorável à intervenção estatal;

(2) a influência intelectual da Cepal, cujos estudos diziam que a América Latina perdia com o comércio exterior (a tese se provou errada); e,

(3) o suposto êxito econômico da União Soviética, que viria a entronizar o planejamento estatal nos países em desenvolvimento.

Pois bem.

Analisada essa crítica ao modelo e resumida sua perspectiva histórica, vamos ao aspectos positivos da ação desse modelo:

- produção já possui o mercado cativo do próprio país;

- força produtores estrangeiros a se instalarem no país, atraindo assim investimentos estrangeiros;

- soluciona déficit do balanço de pagamentos na medida em que diminui as importações.

Dentre os aspectos negativos temos:

- produtor protegido tende a ineficiência, pois não investe em tecnologia, dificultando o progresso do seu produto;

- produção voltada ao mercado interno não se beneficia dos ganhos da economia de escala;

A substituição de importações, portanto, acaba por financiar um setor econômico, distorcendo os fluxos comerciais e a alocação eficiente dos fatores de produção. Não é, portanto, um regime que observa a razão econômica do livre comércio.

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Vejamos um item sobre o tema:

(ESAF/AFRFB/2000) Para explicar a relação entre comércio de produtos primários e industrializados, a Comissão Econômica para América Latina (CEPAL) apresentou uma série de estudos e propostas. Acerca da CEPAL pode-se se afirmar que o comércio internacional tendia a gerar uma desigualdade básica nas relações de troca (uma deterioração nas relações de troca) pois os preços das matérias-primas (dos países em desenvolvimento) tendia a declinar a longo prazo, enquanto o preço dos produtos manufaturados (fabricados em geral em países desenvolvidos) tendia a subir.

Vejam que a ideia do item traz exatamente a ideia da deterioração dos termos de troca (exportar cada vez mais matérias-primas para importar mesma quantidade de produtos industrializados), que serviu de base para a teoria protecionista de substituição das importações. Portanto, correto o item.

Vale ainda destacar que esse espírito de substituição de importações, como bem disse Maílson da Nóbrega, foi largamente apregoado pela Comissão Econômica para América Latina (CEPAL) motivando, inclusive, a criação da ALALC (Associação Latino-Americana de Livre Comércio) em 1960, sendo substituída pela ALADI (Associação Latino-Americana de Integração) em 1980, num processo de transição denominado phase out. As ditaduras nacionais e a indisposição de importar dos países vizinhos não permitiram que o bloco lograsse êxito, demandando-se na sua sucessora uma maior flexibilização das regras para liberalização.

Por fim, para muitos economistas, a prosperidade das economias asiáticas remonta suas origens às políticas que estimularam a substituição de importações e permitiram o desenvolvimento de uma indústria voltada para a exportação, teoria que explicitamos a seguir...

Industrialização voltada para as exportações

Conhecida por muito economistas como simplesmente uma politica comercial “orientada para fora”, esse modelo refutou a crença das décadas de 50 e 60 de que os países em desenvolvimento só poderiam criar bases industriais somente substituindo importações por bens manufaturados domésticos. Em meados dos anos 60 passou-se a crer que as exportações também eram um caminho viável para a industrialização. Segundo o Banco Mundial, as economias que se valeram dessa estratégia são conhecidas como economias asiáticas de alto desempenho (EAAD), crescendo mais de 10% ao ano.

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Nesse rol, podemos distinguir três grupos:

- o Japão (pós 2ª guerra);

- anos 60, os quatro “tigres asiáticos” Hong Kong, Taiwan, Coreia do Sul e Cingapura; e,

- décadas de 70 e 80, a Malásia, Tailândia, Indonésia e China.

É importante ressaltar que esse não é um modelo de livre comércio, pois todas elas ainda possuem tarifas razoavelmente altas, bem como cotas de importação, subsídios à exportação, entre outras barreiras ao comércio. Há, portanto, importante intervenção governamental para que a política tenha êxito!

Vejamos um item sobre o assunto:

(ESAF/ACE/MDIC-2012) Considerando-se a ação governamental no modelo de industrialização orientada para as exportações, é correto afirmar que é de grande alcance, envolvendo o apoio ao desenvolvimento da infraestrutura, a concessão de incentivos fiscais e creditícios, o financiamento da produção e das exportações e investimentos em educação e qualificação profissional.

Observem que o apoio governamental é crucial para o sucesso desta política, atuando justamente em diversos segmentos como forma de garantir competitividade à indústria. Essa ajuda se dá nas mais diversas esferas, estando, portanto correto o item em questão!

Como último comentário, podemos dizer que esse modelo teve mais sucesso que a substituição de importações. No entanto, a alta dependência do comércio internacional torna essas economias mais vulneráveis a crises internacionais que outras como a do Brasil, por exemplo.

Barreiras Tarifárias e Não Tarifárias

Vimos então a dicotomia entre liberalismo e protecionismo; depois verificamos as políticas comerciais que empreendem intervenções do Estado; nesta última parte da aula, falaremos das duas vias para se praticar o protecionismo: as barreiras tarifárias e não tarifárias (BNTs).

O Acordo Geral de Tarifas de Comércio de 1947, assim como seu sucessor (GATT/1994) apregoam há décadas o livre comércio por meio de suas regras.

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Não obstante esse ser o propósito último da instituição, os membros também reconheceram desde o princípio do acordo que em algumas situações conjunturais, determinado membro poderia se valer de barreiras as suas importações, dando lugar ao famigerado “protecionismo”.

Podemos dizer que com a desgravação tarifária promovida ao longo das rodadas do GATT (compromissos multilaterais), por acordos regionais e iniciativas unilaterais, reduziram-se as barreiras tarifárias. Dessa forma, tivemos uma liberalização do comércio promovida por essas reduções tarifárias, especialmente na década de 90, quando do desfecho da Rodada Uruguai.

Por outro lado, na década de 80 tivemos um recrudescimento (aumento) do “neoprotecionismo” em virtude do contexto recessivo herdado da década anterior. Com as sucessivas rodadas do GATT que foram rebaixando as tarifas, os membros passaram a empreender uma forma de protecionismo com outra roupagem (não-tarifário), ou seja, por meio de exigências administrativas (ex. licença de importação, certificado de origem), padrões técnicos (ex. selos de órgãos de metrologia) e de controles relativos às características sanitárias (ex. certificado sanitário) dos bens transacionados, uso abusivo de medidas de defesa comercial como direitos antidumping, ampliação de programas de subsídios à exportação, etc.

Vejamos cada uma delas...

Modalidades de tarifas

A primeira pergunta que devemos ter a noção precisa é o que é uma tarifa?

A tarifa, no comércio internacional, é um encargo financeiro exigido na forma de tributo, para bens transferidos de uma área aduaneira para outra. No Brasil, o termo não deve ser confundido com as tarifas exigidas pelas concessionárias prestadoras de serviço público, mas sim identificadas com o Imposto de Importação (II). Também não se confunde instrumentos de política comercial como medidas antidumping e compensatórias, tampouco com os demais tributos devidos na importação (ex. IPI, ICMS, PIS/COFINS importação, AFRMM, taxa de uso do SISCOMEX) ou ainda os custos do serviço de importação (ex. despesas com despachante aduaneiro, capatazia, armazenagem, etc).

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Embora o termo se aplique também à exportação, usamos a expressão quando nos referimos ao imposto de importação, uma vez que o interesse primordial do GATT e da OMC é regular esse direito na importação de mercadorias, certo?

De modo geral, a sua imposição confere uma vantagem para o produtor doméstico ao inserir um custo ao produto importado, além de aumentar a arrecadação para o governo.

Na sua aplicação em geral, identificamos diversas roupagens que suas alíquotas podem assumir, evidenciando-se diferentes modalidades de tarifas: ad valorem, específica, mista, composta ou “técnica”.

A tarifa ad valorem é um percentual aplicado sobre a base de cálculo. Por exemplo, 35% de imposto de importação sobre o Valor Aduaneiro da mercadoria.

A tarifa específica (ad mensuram) é calculada em unidade de medida, tal como peso, volume, par, etc. Por exemplo, podemos ter a alíquota do imposto de importação em bebidas à base de R$ 12,00/garrafa ou ainda, R$ 5,00/litro. A tarifa ad valorem, por sua vez, é calculada um percentual sobre o valor da mercadoria. Por exemplo, 35% de tarifa para veículos importados. Assim, um veículo que possui como valor aduaneiro R$ 20.000,00, teria uma tarifa de R$ 7.000,00.

Já a tarifa mista é calculada como alternativa entre o direito ad valorem e específico. Dessa forma, se tivéssemos 7% ou R$ 5,00/quilo o que for menor. Podemos também ter uma espécie de tarifa composta, que conjuga uma tarifa ad valorem adicionada ou subtraída de uma tarifa específica.

Por fim, a tarifa técnica é calculada com base em conteúdo específico do produto importado, ou seja, leva em conta seus componentes ou faz referência aos direitos aplicáveis a determinados itens (ex. R$ 0,40/kg de cloreto de sódio).

Seja em qual modalidade for, o efeito da tarifa é aumentar o custo do envio de bens para um país (KRUGMAN, 2010, p. 140). Sendo a forma mais antiga de política comercial, as tarifas têm sido utilizadas como fonte de renda governamental. Até a introdução do imposto de renda, o governo norte-americano aumentou sua receita sobretudo graças às tarifas.

No entanto, destacamos que essa finalidade é mais relevante para países menores, que não possuem seu sistema de arrecadação interna bem desenvolvido. Na verdade, a tarifa tem finalidade extrafiscal, ou seja, o fator arrecadação deve ser secundário, pois o Estado não deve se preocupar com essa

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fonte de receita, mas sim, com a necessidade de estimular ou não determinada indústria nacional. Para tanto, precisar ter agilidade e liberdade para alterar suas tarifas sem se preocupar com questões de segunda ordem, como o caráter arrecadatório.

A importância das tarifas diminuiu nos tempos modernos, já que os governos preferem proteger as indústrias domésticas por meio de outras formas de proteção tais como barreiras não tarifárias, cotas de importação (limitações à quantidade) e restrições à exportação (limitações à quantidade de exportações). No entanto, elas ainda são preferíveis a esses mecanismos pelas seguintes razões (BACCHETTA, Marc. Overview of the economics of international trade, economic research and analysis, WTO:Geneva, 2001):

a) A tarifa gera renda para o governo enquanto a cota não gera renda, mas apenas ganhos para os detentores de licenças de importação;

b) com as cotas o aumento da demanda representa aumento de custos de sua administração, enquanto que na tarifa o aumento de importações representa apenas aumento na demanda e arrecadação;

c) enquanto as tarifas seguem procedimento único e regular, as cotas impõem custos de administração e conformidade a elas.

Vejamos um item sucinto para fechar este assunto:

(Inédita) São modalidades de tarifas as “ad mensuram” e mistas.

Tarifa é sinônimo de Imposto de Importação (II) e, no Brasil, se trata do único tributo que é passível de utilização discriminatória no Comércio Internacional.

Portanto, o II tem seu a consolidação de seu teto negociado junto à OMC, e dele não pode ser extrapolado. Isso não obstante, a OMC não proíbe que os Estados, desde que respeitado este teto, formulem tarifas sobre modalidades diferentes da “ad valorem” (ex. específica, mista, composta ou técnica). Correto portanto o item. Passamos então a forma residual de protecionismo: as BNTs

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Formas de Protecionismo Não Tarifário (BNTs)

As “Barreiras Não Tarifárias” (BNTs) são formas não tão transparentes empregadas pelos países para restringir o fluxo comercial. Para este objetivo, os países se valem de controles ou exigências que constituem obstáculos desnecessários ao comércio internacional. O aumento de sua utilização se deu com a diminuição das tarifas ao longo das rodadas de negociação do GATT.

Os países então passaram a buscar outros subterfúgios para protegerem suas indústrias, criando barreiras de feições preponderantemente não-tarifárias, como procedimentos administrativos, padrões técnicos e sanitários aos bens importados. Justamente para conter seu uso indiscriminado, alguns desses padrões ganharam contornos em acordos multilaterais da OMC.

Agora uma pergunta vem à tona...

Apesar de a OMC pregar o livre comércio ela também permite a adoção de barreiras protecionistas?

De certa forma sim!

Vejam que os acordos da OMC – como TBT e SPS – admitem que em situações excepcionais um membro possa adotar alguma restrição para proteger outro interesse compartilhado pelos membros da organização. No entanto, há diversas obrigações para a imposição dessas barreiras. Nestes acordos também não há a definição do que sejam essas restrições, mas tão somente diretrizes de como fazê-las.

Ainda sobre a ideia de “barreira não tarifária” (BNT), podemos dizer que seu uso se intensificou na década de 80 e tem sido entendida então de forma residual, ou seja, quaisquer medidas que restritivas ao comércio que não sejam tarifas. Apesar da diferença conceitual, tem propósito semelhante às tarifas ao encarecer o produto importado, ou por vezes, inviabilizar sua entrada no território aduaneiro de determinado membro. Nesse caso, a BNT é extremamente gravosa ao comércio, pois muitas vezes se torna um impeditivo à importação.

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Como é uma forma diferente da tarifa para se praticar o protecionismo, as BNTs são identificadas como elementos de um “neoprotecionismo”.

Dentre os exemplos de BNTs, temos:

a) restrições quantitativas (tais como cotas); e,

b) medidas de defesa comercial

c) formalidades aduaneiras

d) exigências de qualidade, metrologia, etc.

A cota é uma das medidas mais eficazes para se barrar a importação de determinados produto, razão pela qual as rodadas multilaterais buscaram torná-las em tarifas (“tarificação”), que era mais transparente e menos impeditiva ao comércio internacional.

Isso porque as cotas são barreiras mais restritivas possíveis ao comércio, pois quando no formato de cota física, elas literalmente impedem a entrada da mercadoria no país. Isso ocasiona uma elevação o preço doméstico do produto importado, além de não conferir nenhuma receita ao governo. Eventualmente, quando o governo promove o leilão destas cotas ou as empresas detentoras desses direitos o fazem, pode se auferir alguma receita com as mesmas. Por outro lado, algumas cotas são vinculadas a faixas de tarifas aplicáveis (cotas tarifárias).

Sobre esta modalidade, temos o exemplo recente das cotas negociadas no marco do ACE-55. Tratam-se de “cotas tarifárias” aplicadas tanto para o Brasil como para o México. Neste caso, acima de determinado volume estipulado para as vendas anuais, as partes e peças automotivas passam de 0% para 35% de II (Portaria SECEX nº 10, de 2 de Abril de 2012).

Há diversos outros dispositivos do GATT (ex. artigo XX) e acordos do anexo 1A da OMC (ex. TBT e SPS) que dispõem sobre o uso legítimo de barreiras não tarifárias, de modo a minimizar seus efeitos ao comércio. Para tanto, como já dissemos, a BNT precisa seguir diretrizes como estar fundamentada num objetivo legítimo como a proteção à saúde humana e o meio ambiente, além de ser compatível com as regras da OMC.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior exemplifica então algumas dessas diversas outras barreiras:

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- estabelecimento prévio de preços mínimos como referência para a cobrança das tarifas de importação, sem considerar a valoração aduaneira do produto;

- produtos cuja importação é efetuada pelo Estado, em regime de monopólio;

- condicionamento de importações à exportação casada de determinados produtos;

- tratamento favorecido aos produtos nacionais em concorrências públicas (Compras Governamentais);

- exigência de uso de navios ou aviões de bandeira nacional para o transporte das importações.

Podemos destacar no cenário atual o uso distorcido da Licenças de Importação. Exemplo recente foi o abuso por parte do governo argentino que impôs licenciamento de importação para os produtos brasileiros (ex. carnes), suspendendo sua análise e impedindo que esses produtos cruzassem a fronteira entre os dois países. Logicamente, isso trouxe prejuízos irreparáveis ao comércio das duas nações e desgastou ainda mais o relacionamento entre os parceiros comerciais históricos.

Destacamos ainda a imposição de barreiras por via de regulamentos técnicos ou sanitários, os quais ganharam diretrizes nos acordos TBT e SPS da OMC. No entanto, da mesma forma, seu uso distorcido tem prejudicado o comércio. Exemplo disso são as exigências absurdas que a União Europeia já exigiu no passado:

Em 1994, a União Europeia determinou que as bananas importadas deveriam ter, pelo menos, 14 centímetros de comprimento e 2,7 centímetros de largura; obviamente, o tema acabou sendo ironizado por diversos jornais, como o britânico The Sun, que publicou um molde em papel e disponibilizou uma linha telefônica exclusiva para quem encontrasse um exemplar fora das especificações.

Outro exemplo de restrição se trata do art. XVIII do GATT que permite a imposição de barreiras para levar à cabo a política de proteção às indústrias nascentes, que falamos na 1ª parte da aula. A OMC permite, então, em determinadas condições, a imposição de barreiras tarifárias às importações de mercadorias para dar fôlego a um ramo de indústria que precisa de proteção para se desenvolver.

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Barreiras não tarifárias amplamente disseminadas são as medidas para combater as práticas desleais de comércio de dumping e subsídios. Seguindo o procedimento delineado no Acordo Antidumping e Acordo de Subsídios e Medidas Compensatórias, os membros da OMC podem, após a condução de um procedimento de investigação, aplicar sobretaxas na importação de produtos originários de determinadas origens, neutralizando assim os efeitos nocivos dessas práticas. Podemos resumir brevemente que o dumping consiste na exportação a preços menores que o praticado nas vendas internas de determinando membro, e a prática de subsídios consiste no auxílio financeiro governamental a uma indústria ou ramo de indústria.

Para impor sobretaxas nas importações a preços desleais é preciso que elas ainda deem causa a um dano à indústria doméstica do país importador. Além disso, apesar de não ser uma prática desleal de comércio, é possível aplicar medidas de salvaguarda (também por meio de sobretaxa) quandou houver aumento substancial de importações de determinada mercadoria do mundo inteiro que causem ou ameacem causar dano. Mas esse tema é assunto específico do curso de comércio exterior...

No que tange às “barreiras legais” (permitidas pela OMC), os acordos da OMC contemplam as seguintes possibilidades:

a) Exceções Gerais

b) Exceções de Segurança

c) Exceções à Cláusula da NMF (Acordos Regionais de Comércio)

d) Exceções à Balanço de Pagamentos

e) Waivers

As exceções à Cláusula da NMF que permitem a celebração de acordos regionais serão trabalhadas na aula de integração regional.

Analisemos brevemente as demais exceções…

O Artigo XX do GATT/1994 veicula exceções gerais que permitem que os membros tomem certas medidas que, em certas condições, não violariam as disposições do GATT. Seu propósito é assegurar que os compromissos assumidos pelos membros não impeçam que busquem a implementação de políticas públicas

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com objetivos legítimos, tais como a proteção à saúde humana, animal e vegetal, ou a conservação dos recursos naturais não renováveis. O Art. XIV do GATS faz essa exceção de modo similar ao artigo XX do GATT/1994, embora com pequenas diferenças, mas ambas as provisões afirmam o direito dos membros de adotarem medidas não consideradas inconsistentes em relação aos acordos da OMC, desde que observadas determinadas condições.

Além das exceções gerais, um membro da OMC pode adotar uma medida essencial aos interesses de segurança nacional (exceção de segurança), seguindo os propósitos das obrigações constantes na Carta da Nações Unidas de manutenção da paz e segurança. Para comércio de bens, o artigo XXI do GATT/1994 prescreve, por exemplo, a possibilidade do membro tomar qualquer medida para necessária proteção dos essenciais interesses de segurança, incluindo controle de materiais de fissão nuclear e seus derivados, tráfico de armas, munições e outros bens que servem ao propósito de abastecimento de estabelecimento militar.

Resumidamente (pois o tema será alvo de aula específica), temos ainda a exceção para integração regional, por meio da qual os membros da OMC permitem que, em certas condições previstas no artigo XXIV do GATT/1994 e o artigo V do GATS, possam “se esquivar” da cláusula da Nação Mais Favorecida, podendo discriminar tarifas em favor dos países que fazem parte da Zona de Livre Comércio ou da União Aduaneira, sem estender esse privilégio aos demais membros da OMC.

Além disso, a Cláusula de Habilitação de 1979 permite que países em desenvolvimento celebrem acordos de livre comércio de modo mais flexível, sem a exigência de reciprocidade nas concessões tarifárias por exemplo.

Outra exceção é permitida para países com problemas de balanço de pagamentos. Isso porque, em algumas circunstâncias, os países precisam salvaguardar sua posição financeira externa, sendo uma medida eficaz para tanto que adotem restrições às importações. Essa situação é comum quando o país importa mais do que exporta, enviando para o exterior mais divisas do que entram, gerando um déficit de divisas para honrar seus compromissos. Esse desequilíbrio em sua posição pode ser corrigido com a imposição de barreiras às importações, no entanto, há um deslocamento de recursos de sua atividade mais eficiente para a menos eficiente, pois o país deixará de comprar do exterior o produto que é mais barato e investirá na sua indústria que é mais ineficiente. A exceção vai então na contramão da teoria das vantagens comparativas e não pode perdurar indefinidamente.

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Por último, em circunstâncias excepcionais, um membro da OMC pode ser autorizado por outros membros a derrogar (waiver), por um período determinado e sobre certas condições, uma provisão contida no acordo constitutivo da OMC ou seus acordos multilaterais. Os waivers são regidos pelo artigo IX:3 do acordo constitutivo da OMC e é normalmente usado quando não há outra permissão específica para derrogar um princípio ou regra da OMC.

Há uma derrogação da NMF, por exemplo, no que tange à comercialização dos diamantes de sangue (blood diamonds). Nesse caso, alguns países, dentre eles o Brasil, só permitem o comércio de diamantes que seguem o processo Kimberly de certificação de origem desses diamantes. Do contrário, seu comércio é proibido!

Bom pessoal, essa foi nossa aula introdutória.

Espero que tenham gostado.

Não deixem de fazer as questões sugeridas.

Na aula seguinte voltaremos com força total para dar cabo do tema OMC!

Um grande abraço e até a próxima.

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Questões

1. (ESAF/AFRBF/2002-1) Assinale a opção que melhor define "Comércio Internacional".

a) A expressão "Comércio Internacional" designa, unicamente, a troca de mercadorias entre diferentes países, não abrangendo serviços nem aspectos ligados à sua execução, como o transporte e o pagamento.

b) A expressão "Comércio Internacional", refere-se às trocas de mercadorias entre diferentes países exclusivamente por compra e venda internacional e abrange tudo o que for ligado à sua execução, incluindo transporte e pagamento.

c) A expressão "Comércio Internacional" designa a troca de mercadorias e serviços entre os países signatários do GATT.

d) A expressão "Comércio Internacional" designa a troca de mercadorias entre o Brasil e os países do Mercosul.

e) A expressão "Comércio Internacional" designa a troca de mercadorias e serviços de todos os tipos entre diferentes países em tudo o que for ligado à sua execução, incluindo transporte e pagamento.

2. (ESAF/AFRFB/2000) Ao conjunto dinâmico do intercâmbio físico de bens e de serviços, bem como dos fluxos financeiros correspondentes, entre os diversos países, regiões e grupos econômicos do mundo, resultante da divisão internacional do trabalho, da dotação diferenciada dos fatores de produção e da diversidade das habilidades adquiridas por cada participante, poder-se-ia denominar

a) Balança de Serviços

b) Comércio Fronteiriço

c) Comércio Exterior

d) Comércio Intrazonal

e) Comércio Internacional

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3. (ESAF/AFRFB/2000) Julgue as opções abaixo e assinale a correta.

a) O livre-cambismo é uma doutrina de comércio estabelecida através de tarifas protecionistas, a subvenção de créditos, a adoção de câmbios diferenciados.

b) O livre-cambismo rege que a livre troca de produtos no campo internacional, os quais seriam vendidos a preços mínimos, num regime de mercado, se aproximaria ao da livre concorrência perfeita.

c) O livre-cambismo é uma doutrina pela qual o governo não provê a remoção dos obstáculos legais em relação ao comércio e aos preços.

d) O livre-cambismo só beneficia os países em desenvolvimento, que apresentam uma pauta de exportações onde a maioria dos produtos possui demanda inelástica.

e) O livre-cambismo defende a adoção de tarifas em situação de defesa nacional.

4. (ESAF/AFTN/96): O livre-cambismo é uma doutrina de comércio que parte do pressuposto de que a natureza desigual dos países e regiões torna a especialização uma necessidade, sendo o comércio o meio pelo qual todos os participantes obtêm vantagens dessa especialização.

Cada país deveria especializar-se na produção de bens onde consegue maior eficiência, trocando o excedente por outros bens que outros países produzem com mais eficiência. O principal argumento contra o livre-cambismo, desde o século XIX (A. Hamilton e F.List), se concentra na idéia de que:

a) O livre-cambismo é incapaz de promover a justiça social;

b) No livre-cambismo, somente se beneficiam do comércio os países que apresentam uma pauta de exportações onde a maioria dos produtos possui demanda inelástica. Quando isso não ocorre, a concorrência é predatória;

c) O livre-cambismo é bom para os países de economia madura, mas os países com indústrias nascentes necessitam de alguma forma de proteção;

d) O livre-cambismo atende apenas aos interesses dos grandes exportadores, que usam a liberdade econômica para estabelecer monopólios e cartéis;

e) Na verdade não existe livre-cambismo na prática. Todos os países são protecionistas em razão da intervenção do Estado.

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5. (ESAF/AFRF/98) Não é verdadeiro, em relação ao Livre-Cambismo, que:

a) Todas as moedas devem ser conversíveis em ouro.

b) O governo deve remover todos os obstáculos legais para o funcionamento de um comércio livre.

c) Existe uma divisão internacional do trabalho.

d) O governo deve se limitar à manutenção da lei e da ordem.

e) Existe uma especialização de funções, motivada pela distribuição desigual de recursos naturais ou por outros motivos.

6. (ESAF/AFTN/98) Indique a opção que não está relacionada com a prática do mercantilismo:

a) O comércio exterior deve ser estimulado, pois um saldo positivo na balança fornece um estoque de metais preciosos.

b) O princípio segundo o qual o Estado deve incrementar o bem-estar nacional.

c) O conjunto de concepções que incluía o protecionismo, a atuação ativa do Estado e a busca de acumulação de metais preciosos, que foram aplicadas em toda a Europa homogeneamente no século XVII.

d) A riqueza da economia depende do aumento da população e do volume de metais preciosos do país.

e) Uma forte autoridade central é essencial para a expansão dos mercados e a proteção dos interesses comerciais.

7. (ESAF/AFTN/98) Entre as opções abaixo, indique aquela que não constitui argumento utilizado pelo protecionismo:

a) É preciso manter as indústrias de um país em um nível tal que possam atender à demanda em caso de um corte de fornecimento externo devido a uma guerra.

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b) O comércio e a indústria são mais importantes para um país do que a agricultura e, portanto, devem ser submetidos a tarifas para evitar a concorrência com produtos estrangeiros.

c) A adoção de tarifas favorece a criação de empresas nacionais.

d) Quando há capacidade ociosa, as tarifas contribuem para aumentar o nível de atividade e de emprego, e, portanto, de renda de um dado país.

e) As indústrias-chave da defesa nacional devem ser protegidas para evitar a ação de fornecedores estrangeiros.

8. (ESAF/AFRFB/2000) Julgue as opções abaixo e assinale a correta:

a) O livre-cambismo é uma doutrina de comércio estabelecida através de tarifas protecionistas, a subvenção de créditos, a adoção de câmbios diferenciados.

b) O livre-cambismo só beneficia os países em desenvolvimento, que apresentam uma pauta de exportações onde a maioria dos produtos possui demanda inelástica.

c) O livre-cambismo é uma doutrina pela qual o governo não provê a remoção dos obstáculos legais em relação ao comércio e aos preços.

d) O livre-cambismo defende a adoção de tarifas em situação de defesa nacional.

e) O livre-cambismo rege que a livre troca de produtos no campo internacional, os quais seriam vendidos a preços mínimos, num regime de mercado, se aproximaria ao da livre concorrência perfeita.

9. (ESAF/AFRFB/2000) Para explicar a relação entre comércio de produtos primários e industrializados, a Comissão Econômica para América Latina (CEPAL) apresentou uma série de estudos e propostas. Acerca da CEPAL pode-se fazer as seguintes afirmativas abaixo, exceto:

a) A CEPAL teve um papel decisivo na criação da ALALC.

b) Os países produtores de bens primários deveriam diversificar sua produção, deixando de ser produtores de monoculturas.

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c) Os países em desenvolvimento deveriam abrir suas economias para torná-las mais competitivas e assim conquistarem espaço no comércio internacional.

d) Os países em desenvolvimento deveriam procurar exportar produtos manufaturados.

e) O comércio internacional tendia a gerar uma desigualdade básica nas relações de troca (uma deterioração nas relações de troca) pois os preços das matérias-primas (dos países em desenvolvimento) tendia a declinar a longo prazo, enquanto o preço dos produtos manufaturados (fabricados em geral em países desenvolvidos) tendia a subir.

10. (ESAF/AFRFB/2000) Entre as razões abaixo, indique aquela que não leva à adoção de tarifas alfandegárias.

a) Aumento de arrecadação governamental;

b) Proteção à indústria nascente;

c) Estímulo à competitividade de uma empresa;

d) Segurança nacional (defesa);

e) Equilíbrio do Balanço de Pagamentos.

11. (ESAF/ACE-MDIC/2002) O argumento em favor da proteção às indústrias nascentes ganhou força com a publicação do “Report on Manufactures”, de Alexander Hamilton, que defendeu o desenvolvimento nos Estados Unidos da América e o uso de tarifas para promovê-lo. A respeito dos instrumentos de proteção a indústrias nascentes é correto afirmar que:

a) o argumento que analisa as economias de escala produzidas pela proteção a indústrias nascentes defende como instrumento principal as firmas, em vez de indústrias, uma vez que, ao concentrar os benefícios nas mãos de poucos agentes privados, preferencialmente um monopólio, criam-se condições para que a indústria local se desenvolva mais rapidamente.

b) desde que ocorra, a proteção a indústrias nascentes atinge os resultados pretendidos a custos semelhantes, não importando muito se utiliza instrumentos tais como cotas, subsídios ou tarifas.

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c) o argumento que analisa a aquisição de experiência pela economia nacional, baseado no princípio de se “aprender fazendo”, o que permite justificar a proteção a tais indústrias por tempo indeterminado, preferencialmente longo, já que a inovação é condição necessária à manutenção da competitividade industrial.

d) entre as principais críticas aos instrumentos utilizados para proteger indústrias nascentes estão os argumentos que apontam algumas de suas implicações, a exemplo da dificuldade de se escolher corretamente as indústrias que devem receber proteção, a relutância das indústrias a dispensar a proteção recebida e seus efeitos deletérios sobre outras indústrias.

e) entre as principais críticas aos instrumentos utilizados para proteger indústrias nascentes estão os argumentos que apontam algumas de suas implicações, a exemplo da dificuldade de se combinar as indústrias que devem receber proteção com o modelo de substituição de importações, a concordância das indústrias em dispensar a proteção recebida e seus efeitos deletérios sobre outras indústrias.

12. (ESAF/AFRFB/2000) Durante crise de encomendas à produção interna de determinado produto do país A, ameaçada pelo aumento desproporcional das importações similares dos países B e C, que subsidiam fortemente a produção e a exportação desse produto, as autoridades econômicas do país A, a fim de obterem uma redução imediata da quantidade do produto importado - bem conhecendo a preferência de seus consumidores pela oferta estrangeira e a inferior qualidade da mercadoria doméstica - deverão adotar como medida mais eficaz a seus propósitos

a) o contingenciamento dos produtos importados, fixando quotas ao produto para os países exportadores

b) a criação de subsídios à produção e à comercialização do produto manufaturado no país

c) o aumento da tarifa aduaneira nas posições referentes a esse produto, a fim de encarecer os importados, para benefício da indústria nacional

d) o aumento dos impostos de exportação, a fim de desestimular as exportações do produto doméstico para mercados tradicionais

e) o estímulo à preferência pelo produto nacional, mediante a promoção de sorteios de prêmios para seus consumidores

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13. (ESAF/AFRFB/2000) As Barreiras Não-Tarifárias (BNT) são freqüentemente apontadas como grandes obstáculos ao comércio internacional. Podem vir a se constituir Barreiras Não-Tarifárias (BNT) todas as modalidades abaixo, exceto:

a) Medidas fitossanitárias

b) Normas de segurança

c) Direitos Aduaneiros

d) Sistemas de Licença de Importação

e) Quotas

14. (ESAF/AFRFB/2000) Os fundadores da teoria do desenvolvimento, que provinham principalmente da economia dos anos cinqüenta, como Nurkse, Myrdall, Rosenstein-Rodan, Singer, Hirschmann, Lewis e, certamente, Prebisch, não só centraram sua análise nas diferenças estruturais existentes entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, mas também postularam, a partir de ângulos distintos, que a forma de funcionar dos países desenvolvidos constitui a causa principal do subdesenvolvimento destes últimos.

As estratégias de desenvolvimento recomendadas e seguidas nos países subdesenvolvidos – e especialmente na América Latina – tenderam a ser diametralmente opostas às políticas dos países industriais. Com efeito, devido à tendência secular de deterioração dos termos de intercâmbio dos produtos industriais que os países desenvolvidos exportavam e os bens primários que exportavam os países atrasados, a única solução a médio e longo prazos para estes últimos seria modificar sua inserção na economia mundial, produzindo localmente aqueles bens industriais que antes importavam, através de políticas que procurassem substituir essas importações, criando uma indústria nacional protegida pelo Estado.

a) Por essa razão, países como o Brasil, procuraram dedicar-se somente à produção de um único artigo (soja, por exemplo). Dessa forma, ele poderá utilizar parte dos fatores na produção da soja, mas o restante poderá aplicar na produção de outros artigos, mesmo sofisticados, como automóveis, computadores e aviões.

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b) Por essa razão, a transferência de população do setor primário para o setor industrial contribui, em muitos casos, para a degeneração do nível de vida dessa população.

c) Por essa razão, os governantes dos países subdesenvolvidos procedem unicamente do ponto de vista político, evitando introduzir indústrias em seu país, pois politicamente, não aumentarão seu prestígio junto à população.

d) Por essa razão, os países subdesenvolvidos, pesadamente dependentes da produção e exportação de produtos primários, acabam rejeitando a teoria das vantagens comparativas e procuram industrializar-se a qualquer custo.

e) Por essa razão, os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento procuram manter a capacidade de produzir um único artigo, considerado estratégico, tal como combustível, café, armamento bélico etc., mesmo que tal atitude seja desinteressante em termos puramente econômicos.

15. (ESAF/AFRBF/2002-1) No que se refere ao comércio internacional, a década de noventa foi caracterizada pelo(a)

a) recrudescimento do protecionismo em virtude do contexto recessivo herdado da década anterior.

b) preponderância das exportações de serviços aos países desenvolvidos.

c) tendência à liberalização impulsionada por medidas unilaterais, por acordos bilaterais e regionais bem como por compromissos assumidos multilateralmente.

d) fracasso das negociações multilaterais no marco do GATT.

e) proliferação de acordos de integração econômica entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

16. (ESAF/AFRBF/2002-2) Com relação às práticas protecionistas, tal como observadas nas últimas cinco décadas, é correto afirmar-se que:

a) assumiram expressão preponderantemente não-tarifária à medida que, por força de compromissos multilaterais, de acordos regionais e de iniciativas unilaterais, reduziram-se as barreiras tarifárias.

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b) voltaram a assumir expressão preponderantemente tarifária em razão de compromisso assumido no âmbito do Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT)) de tarificar barreiras não-tarifárias, com vistas à progressiva redução e eliminação futura das mesmas.

c) encontram amparo na normativa da Organização Mundial do Comércio (OMC), quando justificadas pela necessidade de corrigir falhas de mercado, proteger indústrias nascentes, responder a práticas desleais de comércio e corrigir desequilíbrios comerciais.

d) recrudesceram particularmente entre os países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na segunda metade dos anos noventa, em razão da desaceleração das taxas de crescimento de suas economias.

e) deslocaram-se do campo estritamente comercial para vincularem-se a outras áreas temáticas como meio ambiente, direitos humanos e investimentos.

17. (ESAF/AFRFB/2002-2) A literatura econômica afirma, com base em argumentos teóricos e empíricos, que o comércio internacional confere importantes estímulos ao crescimento econômico. Entre os fatores que explicam o efeito positivo do comércio sobre o crescimento destacam-se:

a) a crescente importância dos setores exportadores na formação do Produto Interno dos países; as pressões em favor da estabilidade cambial e monetária que provêm do comércio; e o aumento da demanda agregada sobre a renda.

b) a melhor eficiência alocativa propiciada pelas trocas internacionais; a substituição de importações; e a conseqüente geração de superávits comerciais.

c) a crescente importância das exportações para o Produto Interno dos países; a importância das importações para o aumento da competitividade; e o melhor aproveitamento de economias de escala.

d) os efeitos sobre o emprego e sobre a renda decorrentes do aumento da demanda agregada; e o estímulo à obtenção de saldos comerciais positivos.

e) a ampliação de mercados; os deslocamentos produtivos; e o equilíbrio das taxas de juros e dos preços que o comércio induz.

18. (ESAF/AFRFB/2003) Sobre o protecionismo, em suas expressões contemporâneas, é correto afirmar-se que:

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a) tem aumentado em razão da proliferação de acordos de alcance regional que mitigam o impulso liberalizante da normativa multilateral.

b) possui expressão eminentemente tarifária desde que os membros da OMC acordaram a tarifação das barreiras não-tarifárias.

c) assume feições preponderantemente não-tarifárias, associando-se, entre outros, a procedimentos administrativos e à adoção de padrões e de controles relativos às características sanitárias e técnicas dos bens transacionados.

d) vem diminuindo progressivamente à medida que as tarifas também são reduzidas a patamares historicamente menores.

e) associa-se a estratégias defensivas dos países em desenvolvimento frente às pressões liberalizantes dos países desenvolvidos.

19. (ESAF/AFRFB/2003) Com o surgimento do Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT), iniciou-se um movimento de progressiva liberalização das trocas comerciais em escala global; ainda, após mais de cinco décadas, o protecionismo subsiste e apresenta-se sob novas roupagens. São exemplos de formas contemporâneas de protecionismo observadas no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC):

a) restrições ao investimento e cláusulas sociais nos acordos de integração.

b) o recurso abusivo a medidas anti-dumping e à concessão de subsídios à produção e à exportação.

c) a adoção de quotas e outras restrições de natureza quantitativa.

d) arranjos preferenciais bilaterais e acordos regionais de integração.

e) direitos compensatórios e regras sobre direitos de propriedade intelectual.

20. (ESAF/ACE-MDIC/2002) A respeito dos processos de industrialização por substituição de importações é correto afirmar o seguinte:

a) historicamente, tais processos favoreceram o desenvolvimento tecnológico em escala global, já que as economias mais atrasadas alcançam condições para desenvolver indústrias que passarão a competir com as das economias desenvolvidas.

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b) no que concerne às políticas públicas implementadas pelos governos, assemelham-se aos processos de industrialização baseados em atividades orientadas para exportações. Diferenciam-se apenas pela ênfase na diversificação da pauta de importações.

c) mostraram-se eficientes ao longo do século XX, como ilustra o desempenho dos chamados “Tigres Asiáticos”.

d) aceitando-se que podem ser bem sucedidos, implicam a necessidade da opção, pela sociedade que os implementam, de financiar um setor econômico específico, uma vez que requerem a imposição de políticas que distorcem, a um tempo, os fluxos comerciais e a alocação eficiente dos fatores de produção internos.

e) para que sejam implementados inteiramente, requerem a efetiva realização de uma reforma agrária.

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Questões Comentadas

1. (ESAF/AFRBF/2002-1) Assinale a opção que melhor define "Comércio Internacional".

a) A expressão "Comércio Internacional" designa, unicamente, a troca de mercadorias entre diferentes países, não abrangendo serviços nem aspectos ligados à sua execução, como o transporte e o pagamento.

b) A expressão "Comércio Internacional", refere-se às trocas de mercadorias entre diferentes países exclusivamente por compra e venda internacional e abrange tudo o que for ligado à sua execução, incluindo transporte e pagamento.

c) A expressão "Comércio Internacional" designa a troca de mercadorias e serviços entre os países signatários do GATT.

d) A expressão "Comércio Internacional" designa a troca de mercadorias entre o Brasil e os países do Mercosul.

e) A expressão "Comércio Internacional" designa a troca de mercadorias e serviços de todos os tipos entre diferentes países em tudo o que for ligado à sua execução, incluindo transporte e pagamento.

Comentário: Gabarito letra “E”. Comércio Internacional é mais que comércio exterior. Envolve todas as regras internacionais que o regulam, além de aspectos que lhes dão suporte para que essas regras funcionem, como logística, câmbio, pagamentos, seguros, etc.

2. (ESAF/AFRFB/2000) Ao conjunto dinâmico do intercâmbio físico de bens e de serviços, bem como dos fluxos financeiros correspondentes, entre os diversos países, regiões e grupos econômicos do mundo, resultante da divisão internacional do trabalho, da dotação diferenciada dos fatores de produção e da diversidade das habilidades adquiridas por cada participante, poder-se-ia denominar

a) Balança de Serviços

b) Comércio Fronteiriço

c) Comércio Exterior

d) Comércio Intrazonal

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e) Comércio Internacional

Comentário: Gabarito letra “E”. Como já dissemos, Comércio Internacional é mais que comércio exterior, o que abrange todo tipo de intercâmbio comercial, como bens, serviços investimentos e tudo o mais que dá suporte a essas trocas.

3. (ESAF/AFRFB/2000) Julgue as opções abaixo e assinale a correta.

a) O livre-cambismo é uma doutrina de comércio estabelecida através de tarifas protecionistas, a subvenção de créditos, a adoção de câmbios diferenciados.

b) O livre-cambismo rege que a livre troca de produtos no campo internacional, os quais seriam vendidos a preços mínimos, num regime de mercado, se aproximaria ao da livre concorrência perfeita.

c) O livre-cambismo é uma doutrina pela qual o governo não provê a remoção dos obstáculos legais em relação ao comércio e aos preços.

d) O livre-cambismo só beneficia os países em desenvolvimento, que apresentam uma pauta de exportações onde a maioria dos produtos possui demanda inelástica.

e) O livre-cambismo defende a adoção de tarifas em situação de defesa nacional.

Comentário: Gabarito letra “B”. Livre-cambismo é o mesmo que livre comércio, ou seja, governos devem remover todos os obstáculos para que as trocas ocorram livremente, sem barreiras. Da mesma forma, devem eliminar apoios governamentais como subsídios que distorcem os preços internacionais. Ao fazê-lo, os bens ficam sujeitos a um regime livre concorrência de modo só irá permanecer aqueles que obtiverem preços mínimos (mais competitivos). A regra geral, portanto, é que os governos façam a menor intervenção possível nos mercados.

4. (ESAF/AFTN/96): O livre-cambismo é uma doutrina de comércio que parte do pressuposto de que a natureza desigual dos países e regiões torna a especialização uma necessidade, sendo o comércio o meio pelo qual todos os participantes obtêm vantagens dessa especialização.

Cada país deveria especializar-se na produção de bens onde consegue maior eficiência, trocando o excedente por outros bens que outros países produzem com mais eficiência. O principal argumento contra o livre-cambismo, desde o século XIX (A. Hamilton e F.List), se concentra na idéia de que:

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a) O livre-cambismo é incapaz de promover a justiça social;

b) No livre-cambismo, somente se beneficiam do comércio os países que apresentam uma pauta de exportações onde a maioria dos produtos possui demanda inelástica. Quando isso não ocorre, a concorrência é predatória;

c) O livre-cambismo é bom para os países de economia madura, mas os países com indústrias nascentes necessitam de alguma forma de proteção;

d) O livre-cambismo atende apenas aos interesses dos grandes exportadores, que usam a liberdade econômica para estabelecer monopólios e cartéis;

e) Na verdade não existe livre-cambismo na prática. Todos os países são protecionistas em razão da intervenção do Estado.

Comentário: Gabarito letra “C”. O principal argumento contra o Livre-cambismo é que algumas economias ainda não atingiram um estado de maturação suficientes para enfrentar a voraz concorrência internacional, encontrando-se, portanto, num estágio de indústria nascente. Assim, necessitam de proteção temporária até que ganhem musculatura suficiente para enfrentar a concorrência externa.

5. (ESAF/AFRF/98) Não é verdadeiro, em relação ao Livre-Cambismo, que:

a) Todas as moedas devem ser conversíveis em ouro.

b) O governo deve remover todos os obstáculos legais para o funcionamento de um comércio livre.

c) Existe uma divisão internacional do trabalho.

d) O governo deve se limitar à manutenção da lei e da ordem.

e) Existe uma especialização de funções, motivada pela distribuição desigual de recursos naturais ou por outros motivos.

Comentário: Gabarito letra “A”. No livre comércio, o governo não deve intervir na atividade econômica e portanto, remove as formas de protecionismo (obstáculos). Há também uma divisão do trabalho e ainda uma dotação de fatores naturais que podem levar à especialização de cada país. No entanto, não é pressuposto dessa doutrina a necessidade de que todas as moedas sejam conversíveis em ouro. Lembremos que em 1971, sentindo que suas reservas de ouro estavam baixando rapidamente, e que outros países poderiam também pedir a conversão, o governo Americano decidiu unilateralmente acabar com a livre conversão dolar-ouro, o que pôs fim ao sistema Bretton Woods. Todavia, esse fato de modo algum acabou com o livre cambismo.

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6. (ESAF/AFTN/98) Indique a opção que não está relacionada com a prática do mercantilismo:

a) O comércio exterior deve ser estimulado, pois um saldo positivo na balança fornece um estoque de metais preciosos.

b) O princípio segundo o qual o Estado deve incrementar o bem-estar nacional.

c) O conjunto de concepções que incluía o protecionismo, a atuação ativa do Estado e a busca de acumulação de metais preciosos, que foram aplicadas em toda a Europa homogeneamente no século XVII.

d) A riqueza da economia depende do aumento da população e do volume de metais preciosos do país.

e) Uma forte autoridade central é essencial para a expansão dos mercados e a proteção dos interesses comerciais.

Comentário: Gabarito letra “C”. Apesar de ser tema que não aparece mais em nosso edital, o assunto sempre constou em provas da RFB como de ACE. A título de informação, mantemos então essa questão, só para lembrar que o mercantilismo não era homogêneo, pois se manifestou de diversas formas como o bulionismo (metalismo), o colbertismo e o mercantilismo comercial ou marítimo.

7. (ESAF/AFTN/98) Entre as opções abaixo, indique aquela que não constitui argumento utilizado pelo protecionismo:

a) É preciso manter as indústrias de um país em um nível tal que possam atender à demanda em caso de um corte de fornecimento externo devido a uma guerra.

b) O comércio e a indústria são mais importantes para um país do que a agricultura e, portanto, devem ser submetidos a tarifas para evitar a concorrência com produtos estrangeiros.

c) A adoção de tarifas favorece a criação de empresas nacionais.

d) Quando há capacidade ociosa, as tarifas contribuem para aumentar o nível de atividade e de emprego, e, portanto, de renda de um dado país.

e) As indústrias-chave da defesa nacional devem ser protegidas para evitar a ação de fornecedores estrangeiros.

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Comentário: Gabarito letra “B”. O protecionismo, de modo geral, não aborda qual setor será privilegiado pela proteção. Isso só aparece com as novas correntes (ex. políticas comerciais estratégicas). O protecionismo, como ideia geral, busca apenas proteger sua indústria doméstica da concorrência com os importados, bem como garantir artificialmente o mercado para os seus produtos nacionais (ex. subsídios à produção).

8. (ESAF/AFRFB/2000) Julgue as opções abaixo e assinale a correta:

a) O livre-cambismo é uma doutrina de comércio estabelecida através de tarifas protecionistas, a subvenção de créditos, a adoção de câmbios diferenciados.

b) O livre-cambismo só beneficia os países em desenvolvimento, que apresentam uma pauta de exportações onde a maioria dos produtos possui demanda inelástica.

c) O livre-cambismo é uma doutrina pela qual o governo não provê a remoção dos obstáculos legais em relação ao comércio e aos preços.

d) O livre-cambismo defende a adoção de tarifas em situação de defesa nacional.

e) O livre-cambismo rege que a livre troca de produtos no campo internacional, os quais seriam vendidos a preços mínimos, num regime de mercado, se aproximaria ao da livre concorrência perfeita.

Comentário: Gabarito letra “E”. Como dissemos, o Livre-cambismo é o mesmo que livre comércio, ou seja, governos devem remover todos os obstáculos para que as trocas ocorram livremente, sem barreiras. Da mesma forma, devem eliminar apoios governamentais como subsídios que distorcem os preços internacionais. Ao fazê-lo, os bens ficam sujeitos a um regime livre concorrência de modo só irá permanecer aqueles que obtiverem preços mínimos (mais competitivos). A regra geral, portanto, é que os governos façam a menor intervenção possível nos mercados.

9. (ESAF/AFRFB/2000) Para explicar a relação entre comércio de produtos primários e industrializados, a Comissão Econômica para América Latina (CEPAL) apresentou uma série de estudos e propostas. Acerca da CEPAL pode-se fazer as seguintes afirmativas abaixo, exceto:

a) A CEPAL teve um papel decisivo na criação da ALALC.

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b) Os países produtores de bens primários deveriam diversificar sua produção, deixando de ser produtores de monoculturas.

c) Os países em desenvolvimento deveriam abrir suas economias para torná-las mais competitivas e assim conquistarem espaço no comércio internacional.

d) Os países em desenvolvimento deveriam procurar exportar produtos manufaturados.

e) O comércio internacional tendia a gerar uma desigualdade básica nas relações de troca (uma deterioração nas relações de troca) pois os preços das matérias-primas (dos países em desenvolvimento) tendia a declinar a longo prazo, enquanto o preço dos produtos manufaturados (fabricados em geral em países desenvolvidos) tendia a subir.

Comentário: Gabarito letra “C”. A CEPAL apoia a industrialização dos países em desenvolvimento (diversificação do perfil agrícola para produção industrial de manufaturados), com base na substituição das importações, ou seja, por meio de protecionismo. Isso porque julgava que os países em desenvolvimento possuíam um perfil exportador de commodities enquanto, os desenvolvidos, de produtos industrializados. Essa relação, no longo prazo, levaria a uma deterioração dos termos de troca (seria preciso exportar cada vez mais produtos agrícolas para comprar a mesma quantidade de bens industriais). Com esta bandeira, assumiu um papel decisivo na criação da ALALC, que permitiu integração entre as nações latino-americanas sem observância da NMF.

10. (ESAF/AFRFB/2000) Entre as razões abaixo, indique aquela que não leva à adoção de tarifas alfandegárias.

a) Aumento de arrecadação governamental;

b) Proteção à indústria nascente;

c) Estímulo à competitividade de uma empresa;

d) Segurança nacional (defesa);

e) Equilíbrio do Balanço de Pagamentos.

Comentário: Gabarito letra “C”.

Sobre a letra “A”, destacamos que o aumento da arrecadação governamental não é utilizado como motivo para o aumento de tarifas no comércio exterior. Por isso mesmo o II é classificado como um tributo extrafiscal. Todavia, é claro que seu aumento incrementa as receitas do governo num primeiro momento, mas perceba que ele desestimula a importação, o que, pode inclusive, representar queda nas receitas em razão da diminuição do volume de importações. Portanto, a

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regra é que o aumento de tarifas não constitui em saída para aumentar arrecadação governamental!

Da mesma forma, o aumento de tributos não estimula a competitividade. Isso porque competitividade não tem a ver com o fato de encarecer a entrada de produtos estrangeiros, pois as tarifas apenas mascaram um cenário de ineficiência daqueles produtores diante do comércio exterior. Para dar competitividade é preciso estimular a redução de custos de produção nacional como a desoneração tributária, melhoria infra-estrutura logística, ampliação de linhas de financiamento à inovação, etc.

11. (ESAF/ACE-MDIC/2002) O argumento em favor da proteção às indústrias nascentes ganhou força com a publicação do “Report on Manufactures”, de Alexander Hamilton, que defendeu o desenvolvimento nos Estados Unidos da América e o uso de tarifas para promovê-lo. A respeito dos instrumentos de proteção a indústrias nascentes é correto afirmar que:

a) o argumento que analisa as economias de escala produzidas pela proteção a indústrias nascentes defende como instrumento principal as firmas, em vez de indústrias, uma vez que, ao concentrar os benefícios nas mãos de poucos agentes privados, preferencialmente um monopólio, criam-se condições para que a indústria local se desenvolva mais rapidamente.

b) desde que ocorra, a proteção a indústrias nascentes atinge os resultados pretendidos a custos semelhantes, não importando muito se utiliza instrumentos tais como cotas, subsídios ou tarifas.

c) o argumento que analisa a aquisição de experiência pela economia nacional, baseado no princípio de se “aprender fazendo”, o que permite justificar a proteção a tais indústrias por tempo indeterminado, preferencialmente longo, já que a inovação é condição necessária à manutenção da competitividade industrial.

d) entre as principais críticas aos instrumentos utilizados para proteger indústrias nascentes estão os argumentos que apontam algumas de suas implicações, a exemplo da dificuldade de se escolher corretamente as indústrias que devem receber proteção, a relutância das indústrias a dispensar a proteção recebida e seus efeitos deletérios sobre outras indústrias.

e) entre as principais críticas aos instrumentos utilizados para proteger indústrias nascentes estão os argumentos que apontam algumas de suas implicações, a exemplo da dificuldade de se combinar as indústrias que devem receber proteção

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com o modelo de substituição de importações, a concordância das indústrias em dispensar a proteção recebida e seus efeitos deletérios sobre outras indústrias.

Comentário: Gabarito letra “D”.

A letra “A” está errada, pois esse instrumento não faz distinção entre firmas e indústrias. Isso vem da teoria dos ganhos de escala que é uma teoria liberal. A proteção à indústria também não implica monopólio nacional, pois pode haver concorrência internamente.

Sobre o erro da letra “B”, sabemos que a cota é o instrumento mais gravoso ao comércio internacional, pois em dado momento não permite mais a entrada de determinado produto. Seu custo, no entanto, é menor que o do subsídio, pois, neste, o governo (por meio dos recursos pagos pela sociedade) financiará a produção. Assim, os diferentes mecanismos de proteção da indústria possuem custos diferentes para a sociedade.

Sobre o erro do item “C”, a OMC permite essa proteção, no entanto, ela deve ser por prazo determinado.

A letra “D” está correta, pois, a grande dificuldade do governo é escolher corretamente as indústrias que devem receber proteção (ex. setor automotivo e têxtil no Brasil serão um dia competitivos?). Além disso, as indústrias que recebem a proteção são as mais articuladas junto ao governo, havendo, consequentemente, forte relutância em dispensar a proteção recebida. A alocação ineficiente dessa proteção, consequentemente, pode encarecer outras indústrias que dependiam daquele insumo, gerando efeitos negativos.

O erro da alternativa “E” está em dizer que a crítica a essa teoria seria a dificuldade em combinar os instrumentos de proteção a indústria com o modelo de substituição de importação. Não há problema algum nessa combinação, tanto que ela foi feita no passado por diversos governos, dentre eles o Brasil.

12. (ESAF/AFRFB/2000) Durante crise de encomendas à produção interna de determinado produto do país A, ameaçada pelo aumento desproporcional das importações similares dos países B e C, que subsidiam fortemente a produção e a exportação desse produto, as autoridades econômicas do país A, a fim de obterem uma redução imediata da quantidade do produto importado - bem conhecendo a preferência de seus consumidores pela oferta estrangeira e a inferior qualidade da mercadoria doméstica - deverão adotar como medida mais eficaz a seus propósitos

a) o contingenciamento dos produtos importados, fixando quotas ao produto para os países exportadores

b) a criação de subsídios à produção e à comercialização do produto manufaturado no país

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c) o aumento da tarifa aduaneira nas posições referentes a esse produto, a fim de encarecer os importados, para benefício da indústria nacional

d) o aumento dos impostos de exportação, a fim de desestimular as exportações do produto doméstico para mercados tradicionais

e) o estímulo à preferência pelo produto nacional, mediante a promoção de sorteios de prêmios para seus consumidores

Comentário: Gabarito letra “A”. Com já dissemos, a cota (contigenciamento) é a medida mais eficaz para se fazer protecionismo, pois, quando for atingido o seu limite, a cota literalmente proíbe a entrada do produto no país, seja qual for o preço a ser pago!

13. (ESAF/AFRFB/2000) As Barreiras Não-Tarifárias (BNT) são freqüentemente apontadas como grandes obstáculos ao comércio internacional. Podem vir a se constituir Barreiras Não-Tarifárias (BNT) todas as modalidades abaixo, exceto:

a) Medidas fitossanitárias

b) Normas de segurança

c) Direitos Aduaneiros

d) Sistemas de Licença de Importação

e) Quotas

Comentário: Gabarito letra “C”. Como o nome diz, BNT é o que não é tarifa (direito aduaneiro). Seu conceito é residual e inclui, portanto, todas as formas de protecionismo que sejam diferentes diferentes do Imposto de Importação (tarifa).

14. (ESAF/AFRFB/2000) Os fundadores da teoria do desenvolvimento, que provinham principalmente da economia dos anos cinqüenta, como Nurkse, Myrdall, Rosenstein-Rodan, Singer, Hirschmann, Lewis e, certamente, Prebisch, não só centraram sua análise nas diferenças estruturais existentes entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, mas também postularam, a partir de ângulos distintos, que a forma de funcionar dos países desenvolvidos constitui a causa principal do subdesenvolvimento destes últimos.

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As estratégias de desenvolvimento recomendadas e seguidas nos países subdesenvolvidos – e especialmente na América Latina – tenderam a ser diametralmente opostas às políticas dos países industriais. Com efeito, devido à tendência secular de deterioração dos termos de intercâmbio dos produtos industriais que os países desenvolvidos exportavam e os bens primários que exportavam os países atrasados, a única solução a médio e longo prazos para estes últimos seria modificar sua inserção na economia mundial, produzindo localmente aqueles bens industriais que antes importavam, através de políticas que procurassem substituir essas importações, criando uma indústria nacional protegida pelo Estado.

a) Por essa razão, países como o Brasil, procuraram dedicar-se somente à produção de um único artigo (soja, por exemplo). Dessa forma, ele poderá utilizar parte dos fatores na produção da soja, mas o restante poderá aplicar na produção de outros artigos, mesmo sofisticados, como automóveis, computadores e aviões.

b) Por essa razão, a transferência de população do setor primário para o setor industrial contribui, em muitos casos, para a degeneração do nível de vida dessa população.

c) Por essa razão, os governantes dos países subdesenvolvidos procedem unicamente do ponto de vista político, evitando introduzir indústrias em seu país, pois politicamente, não aumentarão seu prestígio junto à população.

d) Por essa razão, os países subdesenvolvidos, pesadamente dependentes da produção e exportação de produtos primários, acabam rejeitando a teoria das vantagens comparativas e procuram industrializar-se a qualquer custo.

e) Por essa razão, os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento procuram manter a capacidade de produzir um único artigo, considerado estratégico, tal como combustível, café, armamento bélico etc., mesmo que tal atitude seja desinteressante em termos puramente econômicos.

Comentário: Gabarito letra “D”, pois a substituição das importações pretende uma industrialização a qualquer preço em diversos segmentos de sua economia, sem observar as vantagens comparativas que possuem.

A letra “A” está errada, pois a ideia é se voltar a produção interna de todos os artigos que antes eram importados, não se limitando a um único. Por esse motivo a letra “E” também está errada.

A transferência do setor primário para o industrial pode sim ocorrer, mas não implica degeneração da sua qualidade de vida (ex. êxodo rural muitas vezes é bem sucedido para os que migraram do campo para a cidade). Portanto a “B” também está errada.

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Na “C”, a ideia é justamente industrializar o país para não ficar dependente da exportação de produtos primários, podendo sim atrair empresas para que ali produzam, gerando empregos.

15. (ESAF/AFRBF/2002-1) No que se refere ao comércio internacional, a década de noventa foi caracterizada pelo(a)

a) recrudescimento do protecionismo em virtude do contexto recessivo herdado da década anterior.

b) preponderância das exportações de serviços aos países desenvolvidos.

c) tendência à liberalização impulsionada por medidas unilaterais, por acordos bilaterais e regionais bem como por compromissos assumidos multilateralmente.

d) fracasso das negociações multilaterais no marco do GATT.

e) proliferação de acordos de integração econômica entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Comentário: Gabarito letra “C”. A década de 90 foi um momento ímpar na história do a liberalização do comércio internacional, pois tivemos o desfecho da Rodada Uruguai, criando a OMC (liberalização multilateral), diversos acordos regionais celebrados (ex. MERCOSUL, NAFTA), além de o governo Collor ter reduzido unilateralmente nossas tarifas de importação. Portanto, não houve recrudescimento (aumento), mas sim, diminuição do protecionismo!

Lembramos que países desenvolvidos é que são grandes exportadores de serviços para os países em desenvolvimento, tornando errada a letra “B”.

Vale destacar que na letra “E”, ainda que tenham ocorrido alguns acordos desse formato (ex. NAFTA), a proliferação de acordos de integração econômica entre países desenvolvidos e em desenvolvimento vem com vigor na década seguinte. Portanto, ficamos com a “C” que é a mais correta.

16. (ESAF/AFRBF/2002-2) Com relação às práticas protecionistas, tal como observadas nas últimas cinco décadas, é correto afirmar-se que:

a) assumiram expressão preponderantemente não-tarifária à medida que, por força de compromissos multilaterais, de acordos regionais e de iniciativas unilaterais, reduziram-se as barreiras tarifárias.

b) voltaram a assumir expressão preponderantemente tarifária em razão de compromisso assumido no âmbito do Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT))

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de tarificar barreiras não-tarifárias, com vistas à progressiva redução e eliminação futura das mesmas.

c) encontram amparo na normativa da Organização Mundial do Comércio (OMC), quando justificadas pela necessidade de corrigir falhas de mercado, proteger indústrias nascentes, responder a práticas desleais de comércio e corrigir desequilíbrios comerciais.

d) recrudesceram particularmente entre os países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na segunda metade dos anos noventa, em razão da desaceleração das taxas de crescimento de suas economias.

e) deslocaram-se do campo estritamente comercial para vincularem-se a outras áreas temáticas como meio ambiente, direitos humanos e investimentos.

Comentário: Gabarito letra “A”, pois ela bem identifica a ideia das BNTs. Com a diminuição das tarifas negociadas a cada rodada, os países passaram a lançar mão de novos artifícios para protegerem seus mercados, proliferando as BNTs. Aliás, elas não encontram amparo para correção de desequilíbrios comerciais ou falhas de mercado, mas sim para corrigir desequilíbrios no balanço de pagamentos, práticas desleais de comércio e como proteção à indústrias nascentes.

Sobre a letra “D” elas não ocorreram somente entre membros da OCDE, mas em relação a todos os países.

Na “E”, de fato, houve um deslocamento para outros temas como meio ambiente (selo ambiental), direitos humanos (produtos pago com salários em condições dignas) e investimentos (exigências de conteúdo nacional). Não vislumbramos o erro dessa alternativa. De todo modo, na dúvida, sempre há uma alternativa melhor e a letra “A” pega “na veia” o conceito que procuramos.

17. (ESAF/AFRFB/2002-2) A literatura econômica afirma, com base em argumentos teóricos e empíricos, que o comércio internacional confere importantes estímulos ao crescimento econômico. Entre os fatores que explicam o efeito positivo do comércio sobre o crescimento destacam-se:

a) a crescente importância dos setores exportadores na formação do Produto Interno dos países; as pressões em favor da estabilidade cambial e monetária que provêm do comércio; e o aumento da demanda agregada sobre a renda.

b) a melhor eficiência alocativa propiciada pelas trocas internacionais; a substituição de importações; e a conseqüente geração de superávits comerciais.

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c) a crescente importância das exportações para o Produto Interno dos países; a importância das importações para o aumento da competitividade; e o melhor aproveitamento de economias de escala.

d) os efeitos sobre o emprego e sobre a renda decorrentes do aumento da demanda agregada; e o estímulo à obtenção de saldos comerciais positivos.

e) a ampliação de mercados; os deslocamentos produtivos; e o equilíbrio das taxas de juros e dos preços que o comércio induz.

Comentário: Gabarito letra “C”.

Na letra “A”, a estabilidade cambial não explica o efeito positivo do comércio sobre o crescimento, mas é uma condição necessária para que as trocas internacionais possam crescer cada vez mais. O Comércio Exterior (no caso do Brasil) também tem uma relevância pequena no PIB (cerca de 10%). Isso depende do perfil de cada país. No Chile, essa participação é de 60% do PIB. Portanto, errado o item.

O item “B” está errado, pois a substituição das importações é uma forma protecionismo.

No item “C”, está certo dizer que o comércio permite a concorrência com produtos importados, e também tem o viés de exportação que aproveita os ganhos de escala da indústria.

O erro da assertiva “D” está no fato de que o comércio não implica necessariamente no aumento da demanda agregada (PIB), pois ela depende de outros fatores como investimentos, consumo e gastos do governo. Mesmo com comércio superavitário, é possível que o consumo (que representa 70% do PIB) tenha uma retração que diminua portanto a demanda agregada no total. Portanto, errado o item.

Já o erro da letra “E” está no fato de que o comércio não importa necessariamente em taxas de juros equilibradas. Veja o caso do Brasil que possui uma das taxas mais altas do mundo. Uma das causas da alta taxa é a necessidade de financiar a dívida pública, atraindo capital para o país. Essa atração de capital por sua vez, faz com que o real se valorize frente ao dólar, promovendo as importações. Portanto, esse equilíbrio é uma equação que não é respondida pelo comércio exterior. Errada portanto esta alternativa.

18. (ESAF/AFRFB/2003) Sobre o protecionismo, em suas expressões contemporâneas, é correto afirmar-se que:

a) tem aumentado em razão da proliferação de acordos de alcance regional que mitigam o impulso liberalizante da normativa multilateral.

b) possui expressão eminentemente tarifária desde que os membros da OMC acordaram a tarifação das barreiras não-tarifárias.

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c) assume feições preponderantemente não-tarifárias, associando-se, entre outros, a procedimentos administrativos e à adoção de padrões e de controles relativos às características sanitárias e técnicas dos bens transacionados.

d) vem diminuindo progressivamente à medida que as tarifas também são reduzidas a patamares historicamente menores.

e) associa-se a estratégias defensivas dos países em desenvolvimento frente às pressões liberalizantes dos países desenvolvidos.

Comentário: Gabarito letra “C”. Como já dissemos, com a redução das tarifas o protecionismo continua hoje sob novas roupagens, que são as Barreiras Não Tarifárias (ex. licenças, certificados, controles, padrões de metrologia, defesa comercial, etc).

19. (ESAF/AFRFB/2003) Com o surgimento do Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT), iniciou-se um movimento de progressiva liberalização das trocas comerciais em escala global; ainda, após mais de cinco décadas, o protecionismo subsiste e apresenta-se sob novas roupagens. São exemplos de formas contemporâneas de protecionismo observadas no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC):

a) restrições ao investimento e cláusulas sociais nos acordos de integração.

b) o recurso abusivo a medidas anti-dumping e à concessão de subsídios à produção e à exportação.

c) a adoção de quotas e outras restrições de natureza quantitativa.

d) arranjos preferenciais bilaterais e acordos regionais de integração.

e) direitos compensatórios e regras sobre direitos de propriedade intelectual.

Comentário: Gabarito letra “B”. O recurso abusivo ao antidumping e os subsídios são hoje a preocupação da OMC dentre as formas contemporâneas de protecionismo.

20. (ESAF/ACE-MDIC/2002) A respeito dos processos de industrialização por substituição de importações é correto afirmar o seguinte:

a) historicamente, tais processos favoreceram o desenvolvimento tecnológico em escala global, já que as economias mais atrasadas alcançam condições para desenvolver indústrias que passarão a competir com as das economias desenvolvidas.

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b) no que concerne às políticas públicas implementadas pelos governos, assemelham-se aos processos de industrialização baseados em atividades orientadas para exportações. Diferenciam-se apenas pela ênfase na diversificação da pauta de importações.

c) mostraram-se eficientes ao longo do século XX, como ilustra o desempenho dos chamados “Tigres Asiáticos”.

d) aceitando-se que podem ser bem sucedidos, implicam a necessidade da opção, pela sociedade que os implementam, de financiar um setor econômico específico, uma vez que requerem a imposição de políticas que distorcem, a um tempo, os fluxos comerciais e a alocação eficiente dos fatores de produção internos.

e) para que sejam implementados inteiramente, requerem a efetiva realização de uma reforma agrária.

Comentário: Gabarito letra “D”.

A letra “A” está errada, pois a escolha do processo de industrialização por substituição das importações atrasa o desenvolvimento tecnológico (não há investimento em inovação, mas mera proteção). O processo de industrialização por substituição de importações que favorece a acomodação da industria nacional, não incentivando o desenvolvimento tecnológico.

A “B” está errada, pois a industrialização por substituição e industrialização orientada para exportações são totalmente opostas; enquanto a primeira orienta para o mercado interno, a segunda procura o mercado externo. E mais. Enquanto a primeira promove uma defasagem tecnológica da indústria nacional a segunda não, pois expõe seus produtos à concorrência estrangeira.

O erro da “C” está no modelo escolhido. Os “Tigres asiáticos” optaram pela industrialização voltado à exportação.

O erro da “E” está em colocar a reforma agrária como condição, o que não é verdade.

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Gabarito

1. E

2. E

3. B

4. C

5. A

6. C

7. B

8. E

9. C

10. C

11. D

12. A

13. C

14. D

15. C

16. A

17. C

18. C

19. B

20. D