aula_1
TRANSCRIPT
Aula 1. INTRODUÇÃO A QUALIDADE
Qualidade é o grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz a requisitos (NBR ISO 9000:2000).
Objetivos da aula
Que o aluno, ao final da aula, consiga:
- Entender o contexto histórico da qualidade dentro de seu conceito atual, comparando-o com a
evolução de outros conceitos que formam surgindo durante o passar dos anos, desde os
primórdios da humanidade;
- Conhecer as abordagens do processo da qualidade e saber analisar as fases da evolução
histórica do processo da qualidade.
DIÁLOGO - Vamos começar a nossa disciplina como se estivéssemos entrando em
uma máquina do tempo. Vamos fazer uma brevíssima viagem. É sempre bom
fazermos esses passeios ao passado para podermos compreender o contexto
daquilo que estamos estudando (de onde vem e por quê). Quando fazemos essas
viagens, voltamos com uma grande riqueza de vivências e entendimentos do nosso
dia a dia.
E você, já arrumou as malas?OK!
1.1. Breve Histórico
Como conceito conhece-se a qualidade há milênios. Os povos egípcio e fenício
estabeleciam métodos de garantir a qualidade de suas habitações. Como o conceito de
qualidade é conhecido há milênios, vamos iniciar a nossa breve viagem ao povo egípcio
(encontramos o conceito, também, no povo fenício).
Ao olharmos a arte egípcia, encontramos métrica, proporção, convenção (que preconiza a
padronização), que são pontos que atendem ao conceito de qualidade, segundo a Norma
de Qualidade ISO 9000 (Qualidade é o grau no qual um conjunto de características
inerentes satisfaz a requisitos - NBR ISO 9000:2000).
Fotografia 1: Pirâmides de Gizé Fonte: www.upload.wikimedia.org/.../ed/Pyramides_gizeh.JPG
Embora presente em várias áreas ao longo dos tempos, só recentemente a qualidade
surgiu como função de gerência formal. A disciplina ainda está em formação. Em sua forma
original, era relativa e voltada para a inspeção, hoje ela é considerada essencial para o
sucesso estratégico. Pegando a máquina do tempo e nos dirigindo aos séculos XIII e XIX
e, mais acentuadamente, ao longo do século XX, observamos que vários foram os enfoques
dados ao gerenciamento da função qualidade nas organizações. Conforme exposto em
Garvin (1992), destacam-se quatro fases: era da inspeção; era do controle estatístico, era
da garantia da qualidade; e era da gestão estratégica da qualidade.
Garvin, em seu livro “Gerenciando a qualidade: a visão estratégica e competitiva” destaca
quatro fases da qualidade no contexto gerencial, que são:
• Era da inspeção;
• Era do controle estatístico
• Era da garantia
• Era da qualidade
1.1.1. Era da Inspeção
Visitando, então, os séculos XVIII e XIX, observamos que tudo era fabricado por artesãos e
artífices. Vemos o surgimento das guildas1 no século XIII, que eram organizações formadas
por negociantes e artesãos, e que desenvolviam a formação profissional baseada no ensino
aos aprendizes de ofícios. Os artesãos eram tanto treinadores como inspetores. O governo
estabelecia padrões (pesos e medidas). Produziam-se pequenas quantidades de cada
produto e as peças eram ajustadas umas as outras manualmente e se faziam as inspeções,
após os produtos prontos. A inspeção era informal.
Figura 1: Guilda de ferreiros na Idade Média Fonte: www.suapesquisa.com/idademedia/guilda.gif
O surgimento da produção em massa trouxe a implementação do conceito de divisão do
trabalho e a necessidade de peças intercambiáveis2. Neste contexto, surgiu, então, a
inspeção formal.
Vamos entrar novamente na nossa máquina do tempo, e nos dirigirmos à metade do século
XIX. Vemos surgir, agora, o moderno sistema industrial. Nos EUA, Frederick Taylor (saiba
1 As guildas, corporações artesanais ou corporações de ofício, eram associações de artesãos de um mesmo ramo, isto é, pessoas que desenvolviam a mesma atividade profissional que procuravam garantir os interesses de classe e regulamentar a profissão. Ocorreram na Europa, durante a Idade Média e mesmo após. Cada cidade tinha sua própria corporação de ofício. Essas corporações tinham como finalidade proteger seus integrantes (http://pt.wikipedia.org/wiki/Guilda, Acesso em: 01/03/2010). 2 Peças intercambiáveis significa a utilização de peças semelhantes numa linha de montagem industrial.
mais) retira o planejamento do trabalho da responsabilidade dos trabalhadores e
supervisores e coloca nas mãos de engenheiros industriais. A produção em linha de
montagem, introduzida por Henry Ford dividia operações complexas em procedimentos
simples. Uma parte desse processo era uma inspeção para separar produtos não-
conformes e conformes. A qualidade era encarada como responsabilidade exclusiva do
departamento de fabricação.
Fotografia 2: Linha de montagem em movimento. Fonte: www.artigosbrasil.com.br/21519/quem-foi-henry...
Para refletir: Como será que era a motivação para o trabalho, visto que as pessoas realizavam
operações rápidas e simples? Esta rotina era salutar?
Dica: Caso queira aproveitar mais a nossa viagem, assista o Filme Tempos Modernos de
Charlie Chaplin
1.1.2. Era do Controle Estatístico
Continuando o nosso passeio histórico, chegamos na época entre 1920 e 1940, onde
vemos a tecnologia industrial se transformar rapidamente. A Bell System (empresa que
atuava na rede norte-americana de telefonia) e a Western Electric, seu braço industrial,
mostraram o caminho em controle da qualidade, instituindo um departamento de
engenharia de inspeção para tratar de problemas criados por defeitos em seus produtos e
pela falta de coordenação entre seus departamentos. Em 1931 vemos a publicação da obra
Economic Control of Quality of Manufactured Product, de W.A.Shewhart, representando um
marco no movimento da Qualid
definiu de forma precisa e mensurável o controle da fabricação. Criou poderosas técnicas
de acompanhamento e avaliação da produção diária e propôs diversas maneiras de se
melhorar a qualidade.
1.1.2.1. Controle do processo
Shewhart reconheceu a variabilidade como um fato concreto na indústria e que ela poderia
ser entendida por meio dos princípios da probabilidade e estatística. A questão não era
mais a existência da variação, até certo ponto ela co
as variações aceitáveis das flutuações que indicassem problemas. Dessa análise derivou o
conceito de controle estatístico de Shewhart. Ele formulou técnicas estatísticas simples,
além de métodos gráficos de represen
Gráfico 1. Gráfico de barras, utilizado para controle do estoque mensal.
1.1.2.2. Amostragem
Encarado como segundo elemento crítico no crescimento do controle estatístico da
qualidade o método da amostragem foi desenvolvido pelos engenheiros Harold Dogde e
Harry Roming, pesquisadores da indústria Bell Laboratories. Consistia em inspecionar
determinado número de produtos (amostra) para um lote de tamanho especificado. Se, de
acordo com as tabelas de amostragem o número de produtos defeituosos daquele grupo
0
5
10
15
20
25
30
35
Janeiro
Economic Control of Quality of Manufactured Product, de W.A.Shewhart, representando um
marco no movimento da Qualidade. É dado um caráter científico à disciplina. Shewhart
definiu de forma precisa e mensurável o controle da fabricação. Criou poderosas técnicas
de acompanhamento e avaliação da produção diária e propôs diversas maneiras de se
Shewhart reconheceu a variabilidade como um fato concreto na indústria e que ela poderia
ser entendida por meio dos princípios da probabilidade e estatística. A questão não era
mais a existência da variação, até certo ponto ela continuaria existindo, mas como distinguir
as variações aceitáveis das flutuações que indicassem problemas. Dessa análise derivou o
conceito de controle estatístico de Shewhart. Ele formulou técnicas estatísticas simples,
além de métodos gráficos de representação de valores de produção (ver Gráfico 1).
Gráfico de barras, utilizado para controle do estoque mensal.
Encarado como segundo elemento crítico no crescimento do controle estatístico da
idade o método da amostragem foi desenvolvido pelos engenheiros Harold Dogde e
Harry Roming, pesquisadores da indústria Bell Laboratories. Consistia em inspecionar
determinado número de produtos (amostra) para um lote de tamanho especificado. Se, de
com as tabelas de amostragem o número de produtos defeituosos daquele grupo
Janeiro Fevereiro Março Abril
Economic Control of Quality of Manufactured Product, de W.A.Shewhart, representando um
ade. É dado um caráter científico à disciplina. Shewhart
definiu de forma precisa e mensurável o controle da fabricação. Criou poderosas técnicas
de acompanhamento e avaliação da produção diária e propôs diversas maneiras de se
Shewhart reconheceu a variabilidade como um fato concreto na indústria e que ela poderia
ser entendida por meio dos princípios da probabilidade e estatística. A questão não era
ntinuaria existindo, mas como distinguir
as variações aceitáveis das flutuações que indicassem problemas. Dessa análise derivou o
conceito de controle estatístico de Shewhart. Ele formulou técnicas estatísticas simples,
(ver Gráfico 1).
Gráfico de barras, utilizado para controle do estoque mensal.
Encarado como segundo elemento crítico no crescimento do controle estatístico da
idade o método da amostragem foi desenvolvido pelos engenheiros Harold Dogde e
Harry Roming, pesquisadores da indústria Bell Laboratories. Consistia em inspecionar
determinado número de produtos (amostra) para um lote de tamanho especificado. Se, de
com as tabelas de amostragem o número de produtos defeituosos daquele grupo
fosse maior que o número permissível, todo o lote seria rejeitado. Assim, por exemplo, em
uma linha de produção, a cada dez itens produzidos, como peças de rolamento, retirava-se
uma para pertencer a amostra da produção diária. De forma que, ao final do dia, a
variabilidade da amostra inspecionada deveria estar contida em um intervalo aceitável para
variação do diâmetro.
Gráfico 2: Controle do diâmetro de peças de rolamento.
(Importante) Este método teve aplicação limitada, ele se aplicava aos lotes de produção
individuais, e não a todo nível da qualidade produzido por um processo de fabricação (fim
importante).
Então, um novo conceito foi elaborado, que mede o nível médio de qualidade produzida3
(Average Outgoing Quality Limit – AOQL ) para superar esta deficiência. Ele indicava o
percentual máximo de produtos com defeito que um processo produziria em duas
condições:
• Inspeção por amostragem por lotes;
• A separação individual dos produtos bons dos produtos defeituosos, em todos
os lotes que já tivessem sido rejeitados com base na amostragem.
(Curiosidade) Nem as técnicas de amostragem e nem os gráficos de controle de processo
tiveram muito impacto fora do Sistema Bell Laboratories. Só com o advento da II Guerra
3 LQMR (Limite da Qualidade Média Resultante) é o valor máximo da qualidade média resultante (QMR) de todo um processo de inspeção por amostragem, que é determinada através dos resultados de todos os lotes aceitos e rejeitados, após estes últimos terem sido inspecionados 100% e todas as defeituosas serem substituídas por peças boas.
0
5
10
15
20
0 5 10 15
Mundial, necessidade de produzir armas em grande escala, é que os conceitos de controle
estatístico da qualidade passaram a ter um impacto maior (fim da curiosidade).
1.1.3. Era da Garantia da Qualidade
Nessa fase o movimento da qualidade passa de uma disciplina restrita e baseada na
produção fabril para uma disciplina com implicações mais amplas para o gerenciamento. A
prevenção de problemas continuou sendo seu objetivo fundamental, mas os instrumentos
da profissão se expandiram para muito além da estatística. Quatro etapas se destacaram:
1.1.3.1. Quantificação dos custos da qualidade
Depois de passarmos meio rapidamente pela II Guerra mundial, seguirmos nossa viagem e
chegamos à década de 1950. Nessa época existia a premissa implícita que os defeitos dos
produtos, oriundos do processo produtivo, tinham um custo. Quanto custava os produtos
defeituosos e as falhas era uma questão de opinião. Qual era então o grau da qualidade
suficiente? Em 1951 Joseph Juran estabelece a analogia da economia da qualidade com o
“ouro da mina” e revela que os custos das falhas para se atingir um determinado nível de
qualidade devem ser divididos em custos evitáveis e inevitáveis.
Os custos inevitáveis são aqueles relacionados à:
• Prevenção;
• Inspeção;
• Amostragem;
• Classificação;
• Outras iniciativas de controle da qualidade.
Já os custos evitáveis eram os custos dos defeitos e das falhas dos produtos, como por
exemplo:
• Material sucateado;
• Horas de retrabalho necessárias para se refazer o produto e repará-
lo;
• Processamento de reclamações;
• Prejuízos financeiros resultantes de clientes insatisfeitos.
1.1.3.2. Controle total da qualidade
A nossa nave, agora, nos direciona para 1956, onde Armand Feigenbaum propõe o
“Controle Total da Qualidade”. Em sua abordagem, a qualidade deixa de ser
responsabilidade de um departamento especializado em controle da qualidade e passa a
ser função de todas as áreas da empresa. Para coordenar as atividades de todas as áreas
da empresa no controle da qualidade. O autor sugere uma estrutura sistêmica: "há
necessidade de um sistema efetivo para integrar esforços relativos ao desenvolvimento,
manutenção e melhoria da qualidade a todos os grupos da organização, de forma a habilitar
áreas essenciais da empresa, como marketing, engenharia, produção e serviços, a
desenvolverem suas atividades a um nível mais econômico possível, com a finalidade
primeira de atender, plenamente, às necessidades do consumidor". O método envolve o
controle de três categorias de atividades:
• Controle de novos projetos;
• Controle de material recebido;
• Controle de produtos ou local da produção.
A alta gerencia era responsável final pela eficácia do sistema. Foi proposta então, tanto por
Juran como por Feigenbaum, uma nova função: a da engenharia de controle da qualidade.
Importante: Começamos a observar então a diferença de conceito, onde saímos da extrema
“especialização” em rotinas simples, para a observância do sistema como um todo, onde o
trabalhador começa a entender que a sua parte tem impacto na qualidade final do produto.
1.1.3.3. Engenharia da confiabilidade
Ainda na mesma época, observando virando os nossos olhares para os Estados Unidos
vemos surgir o movimento da Engenharia da confiabilidade. Este movimento surgiu paralelo
ao movimento de Juran e Feigenbaum pelo Controle Total da Qualidade, quando o
Departamento de Defesa Norte-americano criou um grupo especial de confiabilidade de
equipamentos eletrônicos. Havia uma forte crença em probabilidade e estatística., tinha por
objetivo garantir um desempenho aceitável do produto ao longo do tempo. Enfatizava as
habilidades de engenharia e a atenção para a qualidade durante todo o processo.
1.1.3.4. Zero defeito
Avançando alguns anos, chegamos em 1961 para observarmos o nascimento do
movimento do Zero defeito. Este movimento concentrava-se nas expectativas de
gerenciamento e nas relações humanas. Vem da Martin Company, empresa que fabricava
mísseis para o exercito norte-americano. Ressalta-se a filosofia, a motivação e a
conscientização, dando menos ênfase a propostas especificas e técnicas de solução de
problemas.
Reflexão: Você consegue perceber a diferença entre conscientização e sensibilização?
Qual tem mais eficácia? (fim da reflexão).
1.1.4. Era da Gestão Estratégica da Qualidade
Continuando nossa jornada, vemos que não se pode identificar com precisão os primórdios
da gestão estratégica da qualidade, pois nenhum livro marca a transição. Na realidade,
muitos gerentes norte-americanos parecem acreditar que o último desenvolvimento
importante da disciplina tenha sido a garantia da qualidade. Os programas que adotam no
momento são estritamente parecidos com os que apareceram há vinte anos. Estão
calcados em princípios bem estabelecidos como a coordenação entre funções, zero defeito,
custos da qualidade e controle estatístico da qualidade. Com base nestas evidencias, as
duas ultimas décadas do movimento da qualidade pareceriam ter ido pouco além do
comum, com poucos avanços além da prática anterior (GARVIN, 1992).
Para Garvin (1992) um número cada vez maior de empresas começou a surgir uma nova
visão, que incorpora um notável desvio de perspectiva. Pela primeira vez, diretores em nível
de presidência e diretoria expressaram interesse pela qualidade. Estão associando-a a
lucratividade, definido-a de acordo com o ponto de vista do cliente e exigindo sua inclusão
no processo de planejamento estratégico. No mais radical de todos os avanços, insistem
em que a qualidade seja vista como uma arma agressiva de concorrência. Portanto, a
preocupação básica nessa etapa do movimento da qualidade é o impacto estratégico e a
visão que se tem da qualidade é da oportunidade de concorrência. A ênfase dada é nas
necessidades de mercado e do consumidor. O método utilizado é o planejamento
estratégico, com estabelecimento de objetivos, a educação e o treinamento dos
funcionários.
Terminando a nossa viagem pelo tempo, voltamos e percebemos que a gestão estratégica
da qualidade é, então, mais uma extensão de duas antecessoras do que uma negação
delas. Podemos ver tantos aspectos de garantia da qualidade quanto de controle estatístico
da qualidade em empresas que adotam a nova abordagem. Mas não se deve confundir os
três movimentos. A abordagem estratégica é mais ampla que suas antecessoras, mas
intimamente ligada a lucratividade e aos objetivos empresariais básicos, mais sensível às
necessidades da concorrência e ao ponto de vista do consumidor e, mais firmemente
associada à melhoria contínua.
1.2. As diferentes abordagens da qualidade
As empresas têm a sua existência vinculada à satisfação das necessidades sociais.
Inicialmente, busca-se identificar as necessidades de todas as partes interessadas pelo
desempenho da empresa. Elas são posteriormente classificadas e são definidos os meios
para satisfazê-las. Segundo Garvin, existem, basicamente, 5 definições de qualidade
(GARVIN, 1992):
• Abordagem transcendental: vê a qualidade como um sinônimo de excelência
inata. É não só absoluta, como também universalmente reconhecível, uma marca
de padrões irretorquíveis4 Para Garvin (1992) a visão transcendente incorpora a
premissa5 de que há algo que não varia em função do tempo e que também é
duradoura nos produtos ou serviços de alta qualidade, uma essência que paira
acima das mudanças de gosto ou estilo. A dificuldade desta visão é que ela
proporciona pouca orientação prática;
Exemplos: obras Michelangelo e Portinari, carro Cadillac, refrigerante Coca-Cola; tênis
Nike.
4 Irretorquível: Segundo Houaiss (2004) diz-se daquilo que não se pode contradizer. 5 Premissa: Segundo Houaiss (2004) é um principio que dá base a um raciocínio.
Figura 2: Refrigerante Coca-Cola Fonte: www.cocacola.com.br
• Abordagem baseada na produção: preocupa-se em fazer produtos ou
proporcionar serviços que estão livres de erros, correspondendo precisamente às
suas especificações de projeto. Uma vez estabelecido um projeto ou uma
especificação, qualquer desvio implica queda de qualidade. A excelência é
equiparada ao atendimento das especificações e a “fazer certo da primeira vez”;
Exemplo: Nestes termos, um Fiat Uno Mille bem feito é um carro de alta qualidade,
assim como um Honda Civic.
Figuras 3 e 4: Carros Fiat Uno Mille e Honda Civic Fontes: www.fiat.com.br/ ;www.honda.com.br/.../
• Abordagem baseada no usuário: assegura que o produto ou serviço está
adequado ao seu propósito, considerando a conformidade às especificações e a
sua adequação às expectativas do consumidor. Admite-se que cada consumidor
tenha diferentes desejos ou necessidades e que os produtos que atendam melhor
suas preferências sejam os que eles acham os de melhor qualidade. Esta
abordagem é altamente subjetiva, pois reflete uma visão pessoal da qualidade;
Exemplo: associação entre durabilidade e qualidade inferior, que se modifica com a
produção em massa de artigos de luxo possibilitada pela Revolução Industrial.
Figuras 5 e 6: Cadeiras, em plástico e aço inoxidável Fontes: WWW.palmetal.com.br
• Abordagem baseada em produto: vê a qualidade como um conjunto mensurável
e preciso de características, que são requeridas para satisfazer o consumidor. As
diferenças de qualidade refletem, assim, diferenças da quantidade de algum
ingrediente ou atributo de um produto. Duas conseqüências surgem dessa
associação: uma melhor qualidade só pode ser obtida a um custo mais alto, e; a
qualidade é vista como característica inerente aos produtos, e não como algo
atribuído a eles;
Exemplo: Aparelhos celulares de alta tecnologia são produtos conceituados de melhor
qualidade por terem mais itens acessórios (características secundárias)
.
Figura 7: Aparelho celular modelo última geração Fonte telefonescelulares.blogspot.com/2008/01/celul...
• Abordagem baseada em valor: define a qualidade em termos de custo e preço.
Assim um produto de qualidade é um produto que oferece um desempenho ou
conformidade a um preço ou custo aceitável para clientes com maior poder de
compra. Apesar de sua importância óbvia, esta abordagem é de difícil aplicação
prática, pois envolve dois conceitos relacionados, mas distintos: excelência e valor.
Garvin (1992) cita um estudo de percepções da qualidade dos consumidores norte-
americanos para vinte e oito categorias de produtos, entre eles, os alimentos, o
vestuário, os cuidados pessoais e os produtos de beleza. A conclusão foi de que a
qualidade está sendo cada vez mais motivo de discussão relacionado com o preço.
Exemplo: Clientes com maior poder de compra valorizam carros mais caros por
inúmeros motivos que vão desde a estética até a funcionalidade.
Figura 8: Carro Mitsubishi, modelo Pajero Dakar Fonte www.antigosautoclubesp.com.br/curiosidade_det...
1.3. Panorama Mundial e Nacional
A abertura dos mercados e a evolução tecnológica compreendem elementos que favorecem
a produtividade e a competitividade. Neste sentido, as organizações procuram desenvolver
constantemente maiores níveis de eficiência e identificam tendências de mercado na
intenção de aproximarem-se das demandas dos clientes e de suas expectativas.
Conway (1996) diz que a qualidade não é mais apenas uma palavra inócua, usada em
marketing, ela também é uma questão de sobrevivência. Existe a necessidade de adotar
novas práticas de gestão, rompendo com paradigmas que foram implantados na época do
surgimento da administração cientifica. Um novo sistema de administração é defendido
baseado no conceito de qualidade. Apenas as empresas de alta qualidade, realizando
trabalho de alto gabarito, poderão sobreviver a competição global. A busca obsessiva pela
eliminação dos desperdícios, redução dos custos e conseqüente aumento da produtividade,
originou um novo conceito de qualidade: a qualidade total. A qualidade total é caracterizada
pelos seguintes fatores:
• Excelência nos processos;
• Cultura de melhoria contínua (kaizen);
• Criação de um melhor relacionamento entre clientes e fornecedores;
• Envolvimento de todos os trabalhadores;
• Clara orientação para o mercado.
Os melhores exemplos de gestão pela qualidade total, originariamente, vieram das
empresas japonesas, que foram ensinadas, nos anos 40 e 50, pelos mestres americanos
Deming e Juran, ignorados, inicialmente, em seu país de origem (CONWAY, 1996). Depois
que os japoneses já estavam trabalhando por uns 10 ou 15 anos, os resultados começaram
a aparecer nos mercados em todo o mundo. As pessoas começaram a ver nomes
diferentes em propagandas e em produtos; nomes como Toyota, Mitsubishi e Sony.
Figura 9: Carro Toyota modelo Publica (antecessor do modelo Corolla).
Fonte www.antigosautoclubesp.com.br/curiosidade_det...
Em muitas indústrias, como a automobilística, a da construção naval, a de eletrônicos, a
metalúrgica, acontecia uma verdadeira revolução e uma invasão de produtos japoneses. No
entanto, quase ninguém no resto do mundo percebeu o que estava acontecendo. Nas
palavras de Conway (1996, pág. 43) “os americanos atribuíram tudo a mão de obra barata
dos concorrentes do que a seu sistema administrativo obsoleto e complacente”. Apenas na
década de 70 é que a surdez norte-americana começou a mudar num processo lento e
gradativo de convencimento dos empresários, pois muitos deles consideravam que o
processo era tão estranho ao pensamento administrativo convencional que não julgavam
possível fazê-lo funcionar em suas empresas (CONWAY, 1996).
No Brasil, com a adoção do Código de Defesa do Consumidor, que entrou em vigor a partir
dos anos 90, as organizações modificaram seus modelos de gestão estratégica e
operacional na intenção de manter seus posicionamentos no mercado.
1.4. Resumo
O capítulo mostrou a evolução do conceito de qualidade e sua importância ao longo do
tempo, sendo caracterizado, basicamente, por quatro eras: a da inspeção; a do controle
estatístico; a da garantia da qualidade; e por fim a da gestão estratégica da qualidade. Em
resumo, o conceito evolui de uma visão fechada e restrita, como a de um problema a ser
resolvido, por ocasião de uma inspeção informal, até ser encarado como uma oportunidade
de concorrência e representa uma mudança paradigmática ao propor um novo sistema
administrativo.
ATIVIDADES:
1. A partir da conceituação feita pelo autor David Garvin (1992) apresentada no item 1.2
deste capítulo responda: Quais as diferentes abordagens do conceito de qualidade ?
Comente a respeito de cada uma delas.
2. O item 1.1 deste capítulo trata sobre a evolução histórica do movimento da qualidade,
onde se destacam quatro fases: era da inspeção; era do controle estatístico, era da
garantia da qualidade; e era da gestão estratégica da qualidade. Desenvolva uma breve
análise de cada uma destas fases.