aula projeto editorial 2013

48
Abril 2013 Projeto Editorial Prof. Renato Delmanto [email protected]

Upload: renato-delmanto

Post on 01-Dec-2014

2.674 views

Category:

Education


4 download

DESCRIPTION

Estudo de caso da evolução do Projeto Folha, desde 1981 até 2010 ("O Jornal do Futuro"). Aula ministrada no 3º Ano curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero.

TRANSCRIPT

Page 1: Aula Projeto Editorial 2013

Abril 2013

Projeto Editorial Prof. Renato Delmanto

[email protected]

Page 2: Aula Projeto Editorial 2013

• Fórmula Editorial:

– É o conceito de jornalismo que pretende praticar

– Esse conceito baseia-se nos valores, na missão e crenças do veículo / empresa

– Demonstra como o veículo vê e interpreta os fatos

• Projeto Editorial:

– Permite que o público se identifique com os pontos de vista e posicionamentos do veículo

– Ajuda o público a “entender” os fatos que mais interferem nas suas vidas

• Essa definição é que dá consistência e credibilidade ao veículo

– Qual tipo de jornalismo e qual tipo de cobertura fará

Projeto Editorial

Page 3: Aula Projeto Editorial 2013

Referências

Jornalismo EUA: • O princípio da objetividade tem conseqüências no

estilo de escrever.

• Os dois têm de ser compatíveis. Um deve reforçar o outro.

• “A ideologia do jornalismo americano é de que o repórter de notícias deve reportar, não interpretar. O falso tempo presente das manchetes é simbólico disso; sugere que a reportagem é um flagrante fotográfico, uma imagem perfeita (...). O tempo pretérito na notícia, ao mesmo tempo, dá ao leitor a sensação de que tudo que ele lê é história; pode ser documentado, pode ser confirmado ou ser provado falso. Não é especulação. Não é opinião.”

(C. E. Lins da Silva, “O Adiantado da Hora”)

Page 4: Aula Projeto Editorial 2013

Referências

Jornalismo EUA

• As bases fundamentais do estilo americano de fazer jornalismo são: – Notícias escritas no modo indicativo

– Ordem direta

– Pirâmide invertida

– Lead com resposta às perguntas fundamentais (quem, o que, quando, onde, como e por quê)

– Frases curtas

– Vocabulário simples (C. E. Lins da Silva, Idem)

Jornalismo na Internet – SEO

Page 5: Aula Projeto Editorial 2013

Conceitos

Editorial

• “É o gênero jornalístico que expressa a opinião oficial da empresa diante dos fatos de maior repercussão no momento”. (...)

• Os editoriais não refletem apenas a opinião de seus “proprietários nominais”, mas “o consenso das opiniões que emanam dos diferentes núcleos que participam da propriedade da organização (sócios e controladores)”.

(José Arbex, “Gêneros Jornalísticos na Folha de S.Paulo”)

Page 6: Aula Projeto Editorial 2013

Conceitos

Editorial

• “Editorial é o texto, sempre não-assinado, em que o jornal exprime formalmente a sua opinião”

(Manual de Redação, Folha de S.Paulo)

Page 7: Aula Projeto Editorial 2013

Conceitos

Editorial • O editorial deve ser entendido como um espaço de

contradições. “Seu discurso constitui uma teia de articulações políticas e por isso representa um exercício permanente de equilíbrio semântico”

• Por ser um espaço de contradições, o processo de produção do editorial revela a maneira pela qual a empresa jornalística se insere no mercado e em relação ao Estado, bem como a maneira pela qual a empresa articula-se internamente no sentido de responder às questões colocadas pela conjuntura política e econômica do país.

(José Arbex, “Gêneros Jornalísticos na Folha de S.Paulo”)

Page 8: Aula Projeto Editorial 2013

Conceitos

Editorial • “Acho a opinião do jornal o mais importante. A objetividade

é essencial, na medida humana possível, no noticiário...

• Fala-se muito da imparcialidade na imprensa. Imparcialidade sim, na apresentação da notícia, agora isso não significa neutralidade.

• No caso ‘Estadão’, o que o caracteriza e o deu força durante toda a sua existência foi o fato dele assumir sistematicamente posições quando há confronto de ideias e de concepções políticas.

• A grande força do jornal sempre foi a página 3 e mais do que nunca agora, quando o comprador, o assinante já sabe o que ele vai ler no jornal do dia seguinte quando ele compra ou quando o recebe em sua casa.”

(Ruy Mesquita, entrevista ao Observatório da Imprensa, 2005)

Page 9: Aula Projeto Editorial 2013

Conceitos

Editorial

• “No caso específico da Folha, (o editorial) não tem feição própria, ideologicamente definida, mas optou por uma linha muito mais suscetível às oscilações da opinião pública como estratégia de mercado.”

(José Arbex, Idem)

Page 10: Aula Projeto Editorial 2013

Conceitos

Projeto Editorial • “Os ataques (de jornalistas ao Projeto Folha) são

justificados pelo estilo de administrar a Redação,

considerado ‘desumano’, ‘burocrático’,

‘insensível’, e pelo argumento de que a linha

editorial obedece não a convicções político-

ideológicas, mas sim a razões de mercado, tidas

como indignas por boa parte dos jornalistas que

condenam a própria existência de uma sociedade de

mercado.”

(“Mil Dias”, C.E. Lins da Silva)

Page 11: Aula Projeto Editorial 2013

Conceitos

Marketing Editorial • “A estratégia de mercado posta em andamento pela

imprensa está firmemente ancorada na estrutura

ideológica da notícia (qualquer notícia) e na relação de

solidariedade objetiva entre imprensa e público.

• Em outras palavras, não é a imprensa burguesa quem

institui um público sujeito à estratégia de mercado e às

manipulações que dela decorrem.”

• É o caráter mercadológico da notícia quem institui,

numa ponta, a imprensa burguesa, na outra o público

burguês, e entre ambos uma simbiose de interesses

complementares.” (“Vampiros de Papel”, Otavio Frias Filho, Folha de S.Paulo, 5/08/1984)

Page 12: Aula Projeto Editorial 2013

Contexto

• A Folha é o meio de comunicação menos conservador de toda a grande imprensa brasileira. É o que mais tem-se desenvolvido nestes anos.

• É o mais sensível aos movimentos da opinião pública e é também o mais ágil. Politicamente é o mais arrojado.

• É o que encontra maior repercussão entre os jovens.

• Foi o que primeiro compreendeu as possibilidades da abertura política e o que mais se beneficiou com ela, beneficiando a democratização.

• É o jornal pelo que a maioria dos intelectuais optou.

• É o mais discutido nas escolas de comunicação e nos debates sobre a imprensa brasileira.

(“Projeto Folha - 1984”)

Page 13: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

Contexto • A Folha é o fenômeno mais importante do jornalismo

brasileiro nos anos 80. Foi o jornal que obteve maior crescimento na circulação e publicidade. Foi o veículo que mais provocou polêmicas e repercussões.

• Foi identificada como um jornal de resistência ao regime e “porta-voz” da “sociedade civil”.

• Essa convergências de opiniões entre sociedade e a Folha foi consagrada na campanha das Diretas-já.

(“Mil Dias”, C.E. Lins da Silva)

Page 14: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

Justificativa • A Folha estabelece como premissa de sua linha

editorial a busca por um jornalismo crítico, apartidário e pluralista.

• Essas características, que norteiam o trabalho dos profissionais do Grupo Folha, foram detalhadas a partir de 1981 em diferentes projetos editoriais.

• Desde então, foram produzidos seis textos que procuram traduzir na prática os princípios que constituem, no seu conjunto, o Projeto Folha.

(“Conheça a Folha”, www.folha.uol.com.br)

Page 15: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1981 - “Alguns Passos...” • O objetivo de um jornal como a Folha é, antes de

mais nada, oferecer três coisas ao seu público leitor: informação correta, interpretação competente sobre essa informação e pluralidade de opiniões sobre os fatos.

• Por informação correta entende-se a descrição de tudo aquilo capaz de afetar a vida e os interesses que se acredita serem os dos leitores. Essa descrição é realizada na forma mais sintética, despojada e distanciada possível (embora seja quase sempre impossível atingir a neutralidade absoluta. Ao contrário, isso é raramente factível).

(“Projeto Folha”)

Page 16: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1981 • Por interpretações competentes entendem-se os

comentários e análises redigidos por profissionais que, conforme os critérios adotados pelo jornal, aliam o domínio sobre uma determinada área do conhecimento ou da atividade humana ao domínio sobre a técnica de escrever.

• Por pluralidade de opiniões entende-se a publicação de textos, artigos, depoimentos, entrevistas etc. que, tomadas em seu conjunto, funcionem como uma reprodução mais ou menos fiel da forma pela qual as opiniões existem e se distribuem no interior da sociedade.

Page 17: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1981 • A ossatura de um jornal, o que lhe sustenta o corpo

dando-lhe consistência e forma, são as reportagens, os textos noticiosos e as fotos de boa qualidade.

• Editoriais e artigos apenas complementam essa ossatura, que segue sendo a essência do jornal.

No Estadão:

“O que o caracteriza e o deu força a Estadão durante toda a sua existência foi

o fato dele assumir sistematicamente posições quando há confronto de ideias e

de concepções políticas.

“A grande força do jornal sempre foi a página 3 e mais do que nunca agora,

quando o comprador, o assinante já sabe o que ele vai ler no jornal do dia

seguinte quando ele compra ou quando o recebe em sua casa.”

Page 18: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1984 - “Depois das Diretas-Já” • As idéias gerais que norteiam o modelo de jornalismo

que vimos procurando pôr em prática estão condensadas a seguir. Trata-se de um jornalismo crítico, pluralista, apartidário e moderno.

• Crítico - Não basta relatar os fatos, é preciso expô-los à crítica. Por definição, qualquer fato jornalístico é objeto da crítica jornalística. Pode ser a crítica realizada por meio da interpretação do fato e da análise de suas causas e consequências. Pode ser crítica que o repórter realiza quando compara fatos, estabelece analogias e veicula diferentes versões. O tom de crítica deve permear o jornal da primeira à última página. Não somos jornalistas para elogiar, mas para criticar.

Page 19: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1984 • Pluralista - O melhor serviço público que um jornal

não-partidário pode fazer é reproduzir, em suas páginas, e na proporção mais exata possível, a forma pela qual as divergências se distribuem no interior da opinião pública. O jornal não quer impor suas opções ao leitor, não quer aprisioná-lo numa camisa-de-força ideológica, não quer tiranizá-lo.

• Apartidário – Ser um jornal apartidário não significa ser um jornal que não toma partido. Pelo contrário, a Folha faz questão de tomar partido no maior número possível de temas. Cada questão é uma questão, e nós tomamos partido em relação a ela especialmente, não em relação à estratégia geral de quem a propõe, seja um partido, um grupo etc.

Page 20: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1984 • Moderno - O sentido de moderno é, no caso, bem

concreto. Jornalismo moderno na medida em que se propõe a introduzir, na discussão pública, temas que até então não tinham ingresso nela. Na medida em que põe em circulação novos enfoques, novas preocupações, novas tendências.

O principal objetivo do nosso trabalho é formar, entre nós, uma opinião pública esclarecida, crítica e atuante.

• É consenso: o ponto frágil da Folha é a informação. Precisamos informar mais e melhor. Temos que publicar textos mais corretos, mais objetivos, mais concisos, mais claros, mais completos e, sobretudo, mais exatos.

Page 21: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1985 - “Novos Rumos” • A crítica mais forte é que revela fatos documentados e

incontestáveis, mostrando a conexão entre eles sempre que essa conexão também estiver comprovada. Tal crítica é mais eficaz do que qualquer crítica adjetiva, baseada em opiniões, travestidas ou não de "interpretação".

• Praticar essa crítica substantiva, contra tudo e contra todos, é obrigação não apenas moral mas política do jornalismo, especialmente em um país que as circunstâncias dotaram tão generosamente de problemas e de possibilidades.

• Do ponto de vista do Projeto, o exercício da crítica não é um direito, mas uma obrigação, assim como o exercício do apartidarismo não é uma regalia, mas um encargo.

Page 22: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1985 • Temos que ampliar o espaço da prestação de serviço

no jornal e aumentar o grau de didatismo. Essas duas características são inestimáveis na luta que visa transformar a Folha num produto de primeira necessidade para o leitor, caminho obrigatório do desenvolvimento e da própria sobrevivência dos jornais.

• A apreensão pelo leitor deve ser fácil, clara e rápida. Precisamos ter maior preocupação com os números e com a sua exatidão: custos, orçamentos, salários, reivindicações, propostas, acordos, investimentos, datas, tamanhos, medidas, preços, número de pessoas, percentuais - quantidades, enfim. Precisamos adquirir um novo nível de precisão quanto a horários e locais.

Page 23: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1985 • Quanto ao didatismo, é fundamental que os textos

partam sempre do pressuposto de que o leitor não está familiarizado com o assunto e pode nunca ter lido sobre ele antes. Tudo deve ser explicado, esclarecido e detalhado - de forma concisa e exata, numa linguagem tanto coloquial e direta quanto possível.

• A rigor, tudo o que puder ser dito sob a forma de quadro, mapa, gráfico ou tabela não deve ser dito sob a forma de texto.

Page 24: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1986 - “Busca da Excelência” • Vamos insistir na necessidade de modernizar o estilo

jornalístico e de abordar assuntos sob pontos de vista que correspondem às necessidades emergentes na vida do leitor. Vamos procurar enfoques originais e diferenciados. Vamos preservar a atitude editorial de apartidarismo. Vamos manter a preocupação com o didatismo.

• Cada texto publicado na Folha deve ser claro e explicativo o bastante para ser lido com utilidade pelo leigo, sofisticado o bastante para ser lido pelo especialista e enriquecido sempre por uma dimensão de serviço que o fará lido por ambos. (...) É necessário apresentar os assuntos de forma lógica, clara e fácil para quem vai ler.

Page 25: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1988 - “Hora das Reformas” • Segmentamos o jornal em cadernos e suplementos, de

modo a organizar psicologicamente a leitura e atrair novas frações do leitorado.

• O senso do concreto, do prático, do preciso, não se opõe à imaginação; ao contrário, é o que dá conteúdo e interesse jornalístico

• Mais e mais as decisões jornalísticas – seja na edição, seja na pauta – terão um quê de arbitrário: pode-se, a partir de um fato "leve", circunstancial, criar um grande assunto, descobrir uma nova área de interesse.

• Mas para isso é necessário, antes de tudo, ter fatos concretos, solidamente apurados, ricos de detalhe, capazes por si próprios, e não por malabarismos de edição, de despertar o interesse do leitor.

Page 26: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1988 • Todos estamos de acordo com relação à necessidade de

os textos serem completos, exatos e concisos - o leitor é cada vez mais exigente em termos do que ele necessita saber e dispõe de cada vez menos tempo para a leitura de jornais.

• Mas na prática é lamentavelmente grande a quantidade de textos incompletos, parciais, imprecisos e prolixos que publicamos.

• A qualidade da reportagem tem oscilado entre os grandes - e infelizmente eventuais – furos e uma rotina de pautas pouco imaginativas; entre os esforços concentrados das edições de grandes eventos, geralmente bem-sucedidas, e uma sensível precariedade na cobertura do dia-a-dia.

Page 27: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1997 - “Caos da Informação” • A evolução do jornalismo brasileiro na década de 80

culminou com o impeachment do presidente da República em 1992, no qual a imprensa teve papel determinante.

• Firmou-se nos meios impressos o prestígio de um profissionalismo independente, submetido apenas às forças de mercado.

• Entrou em evidência um jornalismo baseado na investigação, nem sempre conscienciosa, de irregularidades na administração pública, divulgadas de forma categórica, às vezes bombástica.

Page 28: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1997 • O jornalismo terá de fazer frente a uma exigência

qualitativa muito superior à do passado, refinando sua capacidade de selecionar, didatizar e analisar.

• É recomendável que a gama de assuntos cobertos até mesmo se reduza em alguma medida, desde que em contrapartida sua seleção seja mais pertinente, e o tratamento que receberem, mais compreensivo.

• Uma tal mudança implica repercussões na pauta, na reportagem, no texto, na edição. É preciso maior originalidade na identificação dos temas a ser objeto de apuração, bem como uma focalização mais precisa de sua abordagem.

Page 29: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

1997 • A transição de um texto estritamente informativo,

tolhido por normas pouco flexíveis, para um outro padrão textual que admita um componente de análise e certa liberdade estilística é conseqüência da evolução que estamos procurando identificar.

• A um texto noticioso mais flexível deve corresponder um domínio superior do idioma, bem como redobrada vigilância quanto à verificação prévia das informações, à precisão e inteireza dos relatos, à sustentação técnica das análises e à isenção necessária para assegurar o acesso do leitor aos diferentes pontos de vista suscitados pelos fatos.

Page 30: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

2006 - “Manual de Filosofia e Formatos” • Em maio de 2006, a Folha distribuiu internamente um

Manual que justificava a implantação de um novo projeto gráfico.

• O “Manual de Filosofia e Formatos” trouxe um completo detalhamento das mudanças implementadas e as razões por que foram feitas.

• O trabalho foi produzido sob orientação da mesma equipe que cuidou da reforma e tem óbvias pretensões didáticas.

• O texto que abre o Manual (“Um Jornal em Duas Velocidades”) dá o tom do que se pretende tanto com o Manual quanto com a reforma em si.

(Baseado em texto publicado em Jornalistas & Cia, Edição 541)

Page 31: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

2006 • Hoje o leitor perde cada vez mais tempo no trânsito,

dedica cada vez mais tempo à sua capacitação profissional, fala cada vez mais tempo ao celular, gasta cada vez mais tempo nos e-mails, despende cada vez mais tempo em novas plataformas de mídia.

• Por conta disso, o público fica extremamente grato toda vez que o jornal faz algo que facilite (não necessariamente acelere ou encurte) a sua experiência de leitura.

• A Folha ostenta um forte capital político e institucional, graças ao projeto editorial inovador e bem-sucedido que disseminou no jornalismo brasileiro conceitos como independência, pluralismo e apartidarismo. Mas outro forte atributo é o fato de ser reconhecido como amigável, clean, divertido, bem diagramado, fácil de consultar.

Page 32: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

2006 • Essa reforma não faz pirotecnia tipográfica nem impõe

contorcionismos morfológicos. Tampouco lança uma cruzada antitexto, pelo contrário.

• A Folha não renunciará ao papel de diário mais influente do Brasil, líder do mercado de quality papers.

• Se o leitor se dispõe a penetrar, digamos, em sete assuntos por edição, cabe ao jornal zelar para que os sete assuntos estejam tratados com sofisticação.

Page 33: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

2006 • Daí a dupla ambição deste projeto: enriquecer o percurso

e impedir a dispersão de quem apenas folheia o produto e, ao mesmo tempo, garantir a satisfação de quem mergulha no conteúdo.

• As novas ferramentas gráficas transcendem o aspecto visual.

• Servem de alavanca para o exercício de um jornalismo mais focado, analítico, minucioso e denso – um desafio que deverá implicar novos procedimentos e um repensar do fazer jornal.

Page 34: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

2008 - Despedida do Ombudsman • “Esta é a 51ª e derradeira coluna dominical que escrevo

como ombudsman. Assumi em 5 de abril de 2007, e o meu mandato se encerrou anteontem. Embora o estatuto autorize a renovação por mais dois períodos, não houve acordo com a direção do jornal para a continuidade.

• A Folha condicionou minha permanência ao fim da circulação na internet das críticas diárias do ombudsman. A reivindicação me foi apresentada há meses. Não concordei. Diante do impasse, deixo o posto. Oitavo jornalista a ocupar a função, torno-me o segundo a não prosseguir por mais um ano. Todos foram convidados a ficar. Sou o primeiro a ter como exigência, para renovar, o retrocesso na transparência do seu trabalho.”

(Mário Magalhães, 06/04/2008)

Page 35: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

2008 - Despedida do Ombudsman • Desde 2000 as críticas (do Ombudsman) vão ao ar.

Por oito anos, os leitores puderam monitorar a atividade cotidiana de quem tem a atribuição de representá-los. Não poderão mais.

• O comando da Folha esgrimiu um argumento para a decisão: no ambiente de concorrência exacerbada do mercado jornalístico, idéias e sugestões do ombudsman são implementadas por outros diários. De fato, isso ocorre. E continuará a ocorrer.

• Quase 20 anos atrás, as críticas ainda denominadas internas eram distribuídas em papel à Redação. Acabavam nas bancadas de outros jornais. Um deles veiculou publicidade alardeando elogio do ombudsman.

(Mário Magalhães, 06/04/2008)

Page 36: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

2008 - Despedida do Ombudsman • Com a difusão por e-mail, será ainda mais difícil conter

a distribuição irregular das anotações do ouvidor. (...) Que segredo sobrevive a centenas de destinatários?

• Já os leitores ditos comuns, os que fazem a fortuna de toda empreitada jornalística de sucesso, serão barrados. A medida não resolve o problema a cuja solução se propõe, mas prejudica quem é alheio a ele.

• A não-renovação do mandato é legítima, respeita a Constituição do jornal. Sua direção tem a prerrogativa de convidar ou não o ombudsman a permanecer. E de estabelecer as normas. Não há quebra de contrato, e sim respeito.

(Mário Magalhães, 06/04/2008)

Page 37: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

2008 - Despedida do Ombudsman • A Folha deu um passo ousado na imprensa brasileira

ao nomear um ombudsman. Radicalizou e tornou públicas as críticas antes limitadas à Redação. Mais do que as colunas dominicais, essa espécie de parecer se destina a uma autópsia das edições. Em minúcias, identifica suas fraquezas, sem desprezar as virtudes. Expõe as vísceras do jornal.

• O desafio do ombudsman é ser a melhor síntese possível dos interesses dos leitores. A eles interessa que o jornal seja bom. Nas críticas, o ombudsman busca contribuir para que o jornal do dia seguinte seja melhor que o da véspera.

(Mário Magalhães, 06/04/2008)

Page 38: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

2008 - Despedida do Ombudsman • O projeto editorial da Folha diagnostica "um jornalismo

cada vez mais crítico e mais criticado". Reconhece que "o leitor fiscaliza a pauta de compromissos" do jornal.

• O ombudsman deve ser um instrumento dos leitores. Se os pronunciamentos semanais ficam inacessíveis, reduz-se a fiscalização dos leitores sobre aquele cuja atribuição é batalhar em nome deles.

• O ombudsman incapaz de zelar pela manutenção da transparência do seu ofício carece de autoridade para combater pela transparência do jornal. Como cobrar o que se topou diminuir?

• A tendência mundial é de expansão da transparência das organizações jornalísticas. A novidade da Folha aparece na contramão. (Mário Magalhães, 06/04/2008)

Page 39: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

2010 - O “Jornal do Futuro”

Page 40: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

2010 - “Sete vidas do Jornalismo” • De tempos em tempos, o "negativismo" da imprensa se

volta contra ela própria. Foi assim sempre que o advento de mudanças tecnológicas veio afetar o modo de transmissão de informações: o telégrafo, o cinema, o rádio, a TV e agora a internet.

• Por décadas, o jornalismo dito de qualidade – que cultiva compromissos com a exatidão do que publica, com a relevância dos temas que aborda, com a manutenção do debate público – foi sustentado por um modelo econômico hoje em risco. Talvez jornais, revistas e livros impressos venham a desaparecer, talvez não. O papel impresso tem o carisma da credibilidade e da duração.

• A fotografia não suprimiu as artes plásticas, nem a TV liquidou o cinema...

(Otavio Frias Filho, 23/05/2010)

Page 41: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

2010 - “Sete vidas do Jornalismo” • Mas é pouco provável que o jornalismo de qualidade

desapareça da face da terra.

• Conforme mais pessoas imergem no oceano de dados na rede, maior a demanda por um veículo que apure melhor, selecione, resume, analise e hierarquize.

• Esse veículo, no papel ou na tela, se chama jornal.

• Um jornalismo de qualidade é dispendioso. Continuará a valer seu preço para aquela parcela crescente de pessoas interessadas em saber mais e melhor.

• Mas, para tanto, é preciso ter a humildade de aprender. Reconhecer que os jornais são muitas vezes cansativos, previsíveis, prolixos, distantes, redundantes, parciais – cifrados para o leigo e superficiais para o especialista. (Otavio Frias Filho, 23/05/2010)

Page 42: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

Lançamento do Caderno 2 - 1986

Page 43: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

Lançamento do Caderno 2 • Capa especial da Ilustrada (100 anos de Coca-Cola)

• Matéria de pé de página sobre o Caderno 2

• “Foi com mal disfarçada preocupação, com o nariz empinado de certa arrogância juvenil que recebemos (na Folha) o Caderno 2.

• “O texto da tinha o tom de olímpica superioridade: nós, ilustrados, fazíamos a n.º 1 (a Coca-Cola) e os concorrentes eram os imitadores, a Pepsi, o n.º 2 (o nome do caderno ajudava nisso).

• “Foi uma manobra de edição tão autocentrada que acabou incompreensível para a maioria do público.”

(Matinas Suzuki Jr., 06/04/2011)

Page 44: Aula Projeto Editorial 2013

O Projeto Folha

Lançamento do Caderno 2 • “A partir daí, tudo mudou. Se estivéssemos em família,

seria como a chegada indesejada de um irmão mais novo que vai dividir a atenção dos pais (leitores). Concorrência dói. Mas é também desafiadora e leva à procura incessante de se fazer o melhor.

• “Creio que o último quarto de século, tecido na concorrência diária com o Caderno 2, foi mais saudável para a Ilustrada do que aquele breve período em que reinávamos sozinhos. E SP passou a ter o privilégio de ser uma das poucas cidades do mundo que ainda preservam dois cadernos diários de qualidade dedicados à cultura.

• “Nos últimos 25 anos, a cidade ganhou em diversidade, em difusão de ideias e em enriquecimento do seu jornalismo cultural.”

(Matinas Suzuki Jr., 06/04/2011)

(Matinas Suzuki Jr., 06/04/2011)

Page 45: Aula Projeto Editorial 2013

Conclusão

• “A reação a Mil Dias no meio jornalístico teve muito a ver com a polêmica que o Projeto Folha criara na categoria.

• Quebrou paradigmas, contrariou interesses, cometeu injustiças, foi juvenilmente arrogante.

• “Os pressupostos do Projeto Folha foram incorporados na imprensa brasileira, para o bem ou para o mal. Ninguém contesta que ele foi um precursor de tendência.

• “Praticamente tudo que a Folha dos anos 80 fez sob apupos quase generalizados da concorrência acabou, positiva ou negativamente, adotado por ela — textos curtos, uso intensivo de gráficos e tabelas, cadernização do jornal, organização mais racional e metódica que a tradicional da atividade produtiva na redação jornalística e muito mais.”

(Carlos E. Lins da Silva, Mil Dias, Seis Mil Dias Depois)

Page 46: Aula Projeto Editorial 2013

Conclusão

• “À medida que os concorrentes foram se apropriando de características que antes a distinguiam, a Folha achou dispensável ou recomendável não insistir nelas e concentrar esforços em outras áreas, onde os desgastes internos fossem menores e os resultados - especialmente em termos de diferenciá-la aos olhos do público - maiores.

• “Não que o Projeto tenha sido ‘abandonado’. Algumas de suas idiossincrasias mais polêmicas deixaram de ser exigidas (por exemplo, a menção à idade do personagem ou a localização exata dos locais, ambas freqüentemente ridicularizadas pelos opositores do Projeto).

• “Os repórteres e redatores foram incentivados a ousar mais na elaboração do texto, ao contrário do que se fizera durante a fase de implantação do Projeto.”

(Carlos E. Lins da Silva, Mil Dias, Seis Mil Dias Depois)

Page 47: Aula Projeto Editorial 2013

Conclusão

• “O texto e a edição (em 2005) podem até ser melhores que os de 21 anos atrás, mas certamente não atingiram o grau de excelência que almejávamos com o Projeto Folha.

• Para mim, a questão fundamental ao escrever Mil Dias era saber se o Projeto Folha conseguiria melhorar o jornal em si e o jornalismo brasileiro em geral. Arrisco-me a dizer que sim, embora muito menos do que eu vislumbrara.

• “O ponto que importa agora é determinar se ainda é possível para os jornais impressos melhorarem a ponto de garantir sua sobrevivência no mercado.”

• “Sem uma reforma profunda nos jornais, as chances de sucesso ficarão muito reduzidas.

• “Como cidadão e leitor, espero por ela, ao menos na Folha.”

(Carlos E. Lins da Silva, Mil Dias, Seis Mil Dias Depois)

Page 48: Aula Projeto Editorial 2013

Abril 2013

Projeto Editorial Prof. Renato Delmanto

[email protected]