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Planejamento Tributário: Prestação de Serviços Personalíssimos e Cessão de Direito de Imagem Rafael Pandolfo Advogado em Porto Alegre Conselheiro Titular do CARF/MF Professor Conferencista do IBET Conselheiro do CONTEC-FIERGS Conselheiro da Fecomércio-RS

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Page 1: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Planejamento Tributário:Prestação de Serviços Personalíssimos e Cessão de Direito de Imagem

Rafael PandolfoAdvogado em Porto Alegre

Conselheiro Titular do CARF/MFProfessor Conferencista do IBETConselheiro do CONTEC-FIERGS

Conselheiro da Fecomércio-RS

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Planejamento Tributário

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Planejamento Tributário É a utilização lícita e legítima de

estruturas jurídicas para reduzir/eliminar o ônus tributário que recai sobre determinada situação.

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Segurança Jurídica e Desenvolvimento

Direito individual – 1ª Geração• É o direito do cidadão de exigir a

intangibilidade do passado e a previsibilidade do futuro.

Direito Difuso – 4ª Geração• É o direito do cidadão de ter um ambiente

fértil ao desenvolvimento econômico, criado pelo respeito às leis, por leis de redação simples e pela estabilidade do sistema jurídico.

Page 5: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Segurança Jurídica e Desenvolvimento

A segurança jurídica de um país o torna atrativos a investimentos, e, por conseguinte, beneficia os cidadãos deste país com uma maior gama de oportunidades econômicas, tanto de trabalho quanto de investimento, proporcionando maior amplitude de escolhas no exercício da liberdade.

Page 6: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Prestação de Serviços x Direitos de Imagem

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Direitos de Imagem x Prestação de Serviços

Direitos Subjetivos

Personalíssimos Direitos morais de imagem

Patrimoniais Exploração econômica da imagem

Serviços

Personalíssimos(infungíveis)

Impessoais(fungíveis)

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Prestação de Serviços Personalíssimos

Contrato oneroso que estabelece uma obrigação de fazer do contratado em relação ao contratante,

Serviço se torna personalíssimo quando o contrato é realizado intuitu personae, ou seja, o contratado é insubstituível na prestação do serviço.

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Direitos de Imagem Duas espécies: Morais e Patrimoniais; Morais: dizem respeito à honra do

detentor e ao controle da utilização da imagem. Indisponíveis.

Patrimoniais: dizem respeito à exploração econômica da imagem. Disponíveis.

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Cessão de Direitos de Imagem

São cedidos (dar temporário/locação) os direitos patrimoniais nos limites do contrato, mas o dono da imagem mantém os direitos morais.

É necessário que o detentor dos direitos de imagem assine todos os contratos envolvendo o uso de seus direitos de imagem, decorrência da indisponibilidade dos direitos morais.

Page 11: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Planejamentos Tributários Envolvendo Prestação de

Serviços Personalíssimos e Cessão de Direito de Imagem

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Lei nº 11.126/05 Art. 129. Para fins fiscais e previdenciários,

a prestação de serviços intelectuais, inclusive os de natureza científica, artística ou cultural, em caráter personalíssimo ou não, com ou sem a designação de quaisquer obrigações a sócios ou empregados da sociedade prestadora de serviços, quando por esta realizada, se sujeita tão-somente à legislação aplicável às pessoas jurídicas, sem prejuízo da observância do disposto no art. 50 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.

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EIRELI Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade

limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País.§ 5º Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional.

Page 14: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Legislação Pertinente

Lei Pelé: Lei nº 9.615/98; Lei de Direitos Autorais: Lei nº

9.610/98; Lei do Bem: Art. 129, Lei nº

11.196/05 Código Civil: Art. 980-A, Lei nº

10.216/02 (EIRELI)

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Estrutura Básica

Atleta Clube

Empresa do Atleta

Cessão de direito de imagem

Dividendos (Isentos)

Vínculo federativo

Salário(27,5%)

Cessão de direito de imagem Pagamento por

uso da imagem do atleta

(14,53%)

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Vantagem Tributação dos valores recebidos

como pessoa jurídica (tributação menor):• Pessoa Física: tabela progressiva, até

27,5%;• Pessoa Jurídica: lucro presumido, carga

tributária final de 14,53% (direito de imagem) / 19,53% (prestação de serviços).

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Caso Bernardo de Mello

BEMEP

A

B

C

Bernardo de Mello

O empresário Bernardo de Mello, sócio majoritário das empresas A, B e C foi contratado para prestar serviço de administração de empresas através da BEMEP Ltda, da qual era sócio majoritário, com 99% das quotas.

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Caso Bernardo de Mello

BEMEP

A

B

C

Bernardo de Mello

No entanto, a BEMEP era empresa fantasma. Não possuía funcionários, sua sede correspondia a uma das empresas administradas e não foram apresentados livros contábeis.

Page 19: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Caso Bernardo de Mello

BEMEP

A

B

C

Bernardo de Mello

Ainda, a remuneração era paga diretamente a Bernardo de Mello pelas empresas administradas.

Acredita-se que o intuito desta estrutura foi contornar o veto à distribuição de dividendos a sócios que estavam sujeitas as empresas A, B e C, pela inadimplência de tributos das empresas, além de reduzir a tributação.

Page 20: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Caso Felipão

Luis Felipe Scolari

Dona Olga

Sociedade Esportiva Palmeiras

L.F. Promoções Serviços e

Participações Ltda.

A empresa L.F. Promoções Serviços e Participações Ltda., pré-existente ao planejamento, firmou contrato com a Sociedade Esportiva Palmeiras, tendo como objeto a prestação de serviços de técnico de futebol pelo seu sócio, Luis Felipe Scolari.

Page 21: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Caso Felipão

Luis Felipe Scolari

Dona Olga

L.F. Promoções Serviços e

Participações Ltda.

O fisco considerou que o que havia, na realidade, era uma relação entre o Palmeiras e o técnico, com interposta pessoa para tentar escapar do vínculo trabalhista. Sendo assim, alocou a receita como se do técnico fosse.

Ainda, o fisco identificou que o tipo societário (empresa ltda.) não era compatível com a prestação de serviços intelectuais, motivo que reforçava o caráter simulatório da estrutura.

Sociedade Esportiva Palmeiras

Page 22: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Caso Guga

Gustavo Kuerten

Rodrigo Kuerten

Guga Kuerten Participações e Empreendiment

os Ltda.

B

C

D

E

F

O tenista Gustavo Kuerten constituiu sociedade com seu irmão, empresário e também tenista, Rodrigo Kuerten.

As quotas da empresa eram repartidas igualmente (50% para cada) e esta proporção era respeitada na distribuição de lucros.

Page 23: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Caso Guga

Gustavo Kuerten

Rodrigo Kuerten

Guga Kuerten Participações e Empreendiment

os Ltda.

B

C

D

E

F

O tenista Gustavo Kuerten cedeu os direitos patrimoniais à imagem à empresa, que a explorava mediante contrato com diversas empresas

As rendas de premiação em torneios e com patrocinadores no exterior eram de titularidade do tenista e tributadas na pessoa física.

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Caso Guga

Gustavo Kuerten

Rodrigo Kuerten

Guga Kuerten Participações e Empreendiment

os Ltda.

B

C

D

E

F

Fiscalização entendeu que o uso da sociedade não possuía propósito negocial, e que as rendas deveriam ser tributadas na pessoa física do tenista.

Voto-vencedor do CARF considerou direito de imagem como serviço, quando na verdade é cessão de bem. Ainda, o planejamento possuía propósito negocial (o irmão cuidava dos contratos, enquanto o tenista cedia os direitos de imagem)

Page 25: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Bernardo de Mello

PazFelipão Gustavo Kuerten

Confusão

patrimonial+ - -

Contratante

único/vinculado+ + -

Ausência/poucas

despesas+ + n/a

Número de Sócios/

Proporção no

Capital

+ + -

Incompatibilidade

do tipo societárion/a + n/a

Endereço

irregular+ - -

Objeto contratual:

serviço+ + -

Objeto contratual:

cessão de imagem- + +

Funcionários - n/a +

Resultado: Inválido Inválido Inválido

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Propósito Negocial O elemento mais importante, para o CARF, é a

existência de propósito negocial. Não no sentido de business purpose, ou motivo econômico, conforme a doutrina americana, mas sim motivo extratributário predominante. Se o único motivo é o tributário, então o Conselho tem considerado o planejamento um abuso de forma.

Nem sempre o motivo (motivo real) corresponde à motivação (motivo aparente). Sendo assim, é ônus do fisco comprovar que há diferença entre motivo e motivação, e que aquele é exclusivamente tributário.

Page 27: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Definições para fins tributários

Abuso de Direito/Forma/Fraude à Lei• Utilização de forma jurídica de maneira

“inusual” com o único intuito de atingir resultado tributário menos gravoso do que o da “operação usual”. Utilização de estrutura de forma diferente da para qual foi criada de modo contornar a aplicação de norma tributária mais gravosa.

• Ex.: operação casa-e-separa;

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Definições para fins tributários

Simulação• Incompatibilidade entre as vontades das

partes e o negócio realizado. Pode ser desdobrada em: Relativa (ou dissimulação): quando há negócio

jurídico dissimulado; Ex.: Realiza-se compra e venda, mas o vendedor retorna o

valor pago ao comprador. O que há, em realidade, é doação dissimulada.

Absoluta: quando não há negócio jurídico algum. Ex.: emite-se nota fiscal sem que haja circulação de

mercadoria, para criar crédito escritural de ICMS. Não há negócio qualquer por trás da mercadoria.

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Distinção Simulação — Art. 149, VII, CTN

• Simulação é relatar negócio inexistente.

Dissimulação — Art. 167, CC• Dissimular é modificar os fatos de modo a

ocultar a realidade.

Dissimulação – Art. 116, Pár. Único, CTN• Dissimular é utilizar fato para confundir a

incidência de fato gerador abstrato através de interpretação abusiva.

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Art. 116, par. único, do CTN

Art. 116. omissisParágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária.

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Conceito de dissimulação do pár único do art. 116, do CTN

Ocultar ou encobrir com astúcia; disfarçar; não dar a perceber;calar; fingir; atenuar o efeito de; tornar pouco sensível ou notável; proceder com fingimento, hipocrisia; ter reserva; não revelar os seus sentimentos ou desígnios; esconder-se;

O negócio jurídico é o dissimulador da verdadeira compreensão do fato gerador abstrato. Isto torna tal artigo uma norma antielisiva, pois elisão é exatamente dissimular o fato gerador abstrato através de um conjunto de interpretação abusiva da legislação tributária e utilização de forma que não se enquadre nessa interpretação.

Page 32: Aula do dia 10 06 - professor rafael pandolfo

Eficácia do dispositivo “observados os procedimentos a

serem estabelecidos em lei ordinária.”

Procedimentos a serem estabelecidos, ou seja, que não existiam à época de introdução do artigo. Norma de eficácia contida, portanto. Somente será aplicável quando for devidamente regulada.

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Enquadrando os casos Bernardo de Mello

• Fraude e dissimulação; Caso Felipão

• Fraude à Lei (trabalhista) e Abuso de Forma; Caso Gustavo Kuerten

• Planejamento tributário lícito;

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“Se alguém não sabe para que porto está velejando, nenhum vento é favorável”

Sêneca