aula de narrativa juridica

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5/14/2018 AuladeNarrativaJuridica-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/aula-de-narrativa-juridica-55a93166ad35e 1/17 Aula de NARRATIVA JURÍDICA Prof.a. Nádia N. Pires CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Unidade I – Estrutura das peças processuais - A contribuição das disciplinas de Português Jurídico - Teoria Tridimensional do Direito, gênero e tipologia textuais - Macro-estrutura da petição inicial, da contestação, da sentença, do parecer e do acórdão - Características linguísticas das peças processuais e questões gerais de norma culta jurídico aplicadas ao português Unidade 2 – Tipos de narrativa jurídica - Narrativa jurídica simples - Narrativa jurídica valorada - Características da narrativa da acusação - Características da narrativa de defesa - Modalização Unidade 3 – Características da narrativa jurídica - Polifonia e intertextualidade - Seleção dos fatos juridicamente importantes e dos demais fatos esclarecedores - Organização dos fatos a serem narrados - Uso da pessoa e do tempo verbais - Paragrafação Unidade 4 – Narrativa a serviço da argumentação - Função argumentativa da narração - Relação fato – argumento. - Fundamentação simples: argumentos pró-tese, autoridade e oposição concessiva - Introdução ao texto jurídico argumentativo Unidade I 1. ESTRUTURA DAS PEÇAS PROCESSUAIS 1.1. A Linguagem e comunicação Humana A contribuição das disciplinas de Português Jurídico O que é Linguagem? A linguagem é algo eminentemente social; o homem precisa para viver e comunicar-se com seus semelhantes. Para isso, ele possui um dom natural, inato: a faculdade de (re)criar e manipular sistemas de comunicação. Essa faculdade criativa é chamada de linguagem. O homem é um ser de linguagem. A linguagem pode ser verbal e não verbal, porque a comunicação pode efetuar-se mediante gestos, batidas, assobios, cores e outros sinais (linguagem não verbal), e pode ser feita por meio de palavras (linguagem verbal), esta é especifica do homem e a base da sua comunicação. Linguagem não verbal: É importante salientar que o silêncio, ou melhor, o calar-se é um ato de comunicação, pois o calar-se pode ser considerado como um “ter deixado -de- falar ” ou “o não falar ainda”; é, portanto, uma determinação negativa de falar (Eugênio Coseriu, apud DAMIÃO e HENRIQUES, 2004, p.32). No Direito fala-se em tácita aceitação, tácita recondução, renúncia tácita, tácita ratificação. Magalhães Noronha (1969, apud DAMIÃO e HENRIQUES, 2004, p.32) diz que o silêncio do denunciado pode ser interpretado contra ele. Dentre os códigos não verbais destacamos: a linguagem corporal e a linguagem do Vestuário a) A linguagem corporal (do olhar e mãos) DAMIÃO e HENRIQUES (2004, p.19) afirmam que a falsidade de um depoimento pode revelar-se até mesmo pela transpiração, pela palidez ou simples movimento palbebral. Ressaltam ainda que o profissional do Direito precisa ficar atento para o código cultural das expressões gestuais. Exemplo: A Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS) b) A linguagem do Vestuário De um modo geral, a vestimenta deve adequar-se ao papel social desempenhado. No Direito, a toga é uma forma, um índice da função do juiz; e a cor negra indica seriedade e compostura que devem caracterizar sua imagem profissional. Exemplo: A cor preta no vestuário ainda está associada à idéia de seriedade e respeito. Assim como a cor branca a pureza e paz. O que é Língua? É o tipo de código formado por palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem entre si. A língua representa a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, “que por si só, não pode modificá-la”. O que é Fala? 

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Aula de NARRATIVA JURÍDICA Prof.a. Nádia N. Pires

CONTEÚDO PROGRAMÁTICOUnidade I – Estrutura das peças processuais

- A contribuição das disciplinas de Português Jurídico - Teoria Tridimensional do Direito, gênero e tipologia textuais - Macro-estrutura da petição inicial, da contestação, da sentença, do parecer e do acórdão - Características linguísticas das peças processuais e questões gerais de norma culta jurídico aplicadas ao português

Unidade 2 – Tipos de narrativa jurídica

- Narrativa jurídica simples - Narrativa jurídica valorada - Características da narrativa da acusação - Características da narrativa de defesa - Modalização

Unidade 3 – Características da narrativa jurídica

- Polifonia e intertextualidade- Seleção dos fatos juridicamente importantes e dos demais fatos esclarecedores- Organização dos fatos a serem narrados- Uso da pessoa e do tempo verbais- Paragrafação

Unidade 4 – Narrativa a serviço da argumentação

- Função argumentativa da narração

- Relação fato – argumento.- Fundamentação simples: argumentos pró-tese, autoridade e oposição concessiva- Introdução ao texto jurídico argumentativo

Unidade I1. ESTRUTURA DAS PEÇAS PROCESSUAIS1.1. A Linguagem e comunicação Humana► A contribuição das disciplinas de Português Jurídico► O que é Linguagem? A linguagem é algo eminentemente social; o homem precisa para viver e comunicar-se com seussemelhantes.Para isso, ele possui um dom natural, inato: a faculdade de (re)criar e manipular sistemas decomunicação. Essa faculdade criativa é chamada de linguagem. O homem é um ser de linguagem.A linguagem pode ser verbal e não verbal, porque a comunicação pode efetuar-se mediante gestos,batidas, assobios, cores e outros sinais (linguagem não verbal), e pode ser feita por meio de palavras(linguagem verbal), esta é especifica do homem e a base da sua comunicação.

► Linguagem não verbal:É importante salientar que o silêncio, ou melhor, o calar-se é um ato de comunicação, pois o calar-sepode ser considerado como um “ter deixado -de- falar ” ou “o não falar ainda”; é, portanto, umadeterminação negativa de falar (Eugênio Coseriu, apud DAMIÃO e HENRIQUES, 2004, p.32).

No Direito fala-se em tácita aceitação, tácita recondução, renúncia tácita, tácita ratificação. MagalhãesNoronha (1969, apud DAMIÃO e HENRIQUES, 2004, p.32) diz que o silêncio do denunciado pode serinterpretado contra ele.

Dentre os códigos não verbais destacamos: a linguagem corporal e a linguagem do Vestuárioa) A linguagem corporal (do olhar e mãos)

DAMIÃO e HENRIQUES (2004, p.19) afirmam que a falsidade de um depoimento pode revelar-se atémesmo pela transpiração, pela palidez ou simples movimento palbebral. Ressaltam ainda que o profissional do Direito precisa ficar atento para o código cultural das expressõesgestuais.Exemplo: A Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS)

b) A linguagem do VestuárioDe um modo geral, a vestimenta deve adequar-se ao papel social desempenhado.No Direito, a toga é uma forma, um índice da função do juiz; e a cor negra indica seriedade e composturaque devem caracterizar sua imagem profissional.Exemplo: A cor preta no vestuário ainda está associada à idéia de seriedade e respeito. Assim comoa cor branca a pureza e paz.

► O que é Língua?

É o tipo de código formado por palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas se comunicame interagem entre si.A língua representa a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, “que por si só, não podemodificá-la”.

► O que é Fala? 

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Ao contrário da língua, a fala é um ato intencional, em nível individual, de vontade e de inteligência.Obs.: Saussure (p. 16) afirma e adverte ao mesmo tempo: “A linguagem tem um lado individual eum lado social, sendo impossível conceber um sem o outro”. Vale lembrar que, para Saussure, alinguagem é a faculdade natural de usar uma língua, “ao passo que a língua constitui algo adquirido econvencional” (p. 17).

1.2. A Linguagem jurídica e suas especificidades► O que é Comunicação Jurídica? A busca pela interação social é considerada uma compulsão natural do ser humano, que procura

desenvolver e compartilhar o seu em comum com o próximo. Em resumo, comunicação é a  troca demensagens entre duas ou mais pessoas ou grupos.“(...) Porque o homem é um ser essencialmente político, a comunicação só pode ser um ato político,uma prática social básica. Nesta prática social é que se assentam as raízes do Direito, conjunto denormas reguladoras da vida social” (DAMIÃO e HENRIQUES, 2004, p.19)

► O Ato de Comunicação:A comunicação é, basicamente, um ato de partilha, o que implica, no mínimo, em bilateralidade. É umprocesso feito com base em um sistema de sinais convencionais, pois através de um código que sãotransmitidas as mensagens entre o emissor e o receptor.

 Todo ato de comunicação envolve sempre seis componentes essenciais: um objeto de comunicaçãomensagem (o texto) com um conteúdo “referente” (o contexto), transmitido ao receptor(recebedor/interlocutor) pelo emissor (Locutor/produtor), o qual serve-se de um código, por meio de um

canal (ou contato).Qualquer falha no sistema de comunicação impedirá perfeita captação da mensagem. Ao obstáculo quefecha o circuito de comunicação dar-se o nome de ruído. ATO DECOMUNICAÇÃO

Referência / Contexto

► O contexto de produção de linguagem na interação socialSempre que escrevemos ou falamos, isto é, produzimos um determinado texto - oral ou escrito,acionamos determinadas representações sobre o contexto de produção desse texto, até mesmoinconscientemente, que vão influenciar diversas das características de nossos textos. Vejamos quais sãoelas:

Primeiramente, o produtor do texto (oral ou escrito) tem, no mínimo, uma representação de si mesmocom uma instância física, como um corpo físico separado dos demais. Mas, ao mesmo tempo, eletambém tem uma representação do papel social que desempenha em uma determinada atividade social(aluno, colega, filho, advogado, médico, etc.), e da imagem que quer passar de si mesmo por meio dotexto produzido (ex.: técnico, competente, indeciso, racional, democrático, etc.)

Em segundo lugar, o produtor do texto também tem representações sobre o seu interlocutor, quereste esteja presente ou ausente na situação física da produção. Essas representações vão, também, nosdois sentidos anteriores. De um lado há uma representação do interlocutor como uma entidade física,mas há também uma representação sobre o papel social que esse interlocutor está desempenhando nainterlocução (pai, professor, juiz, médico, etc.). É lógico que as representações, que o produtor mantémsobre o seu papel e sobre o papel do interlocutor, estão estreitamente relacionadas.

O terceiro tipo de representações diz respeito ao lugar social em que o texto é produzido e em que vaicircular. Do mesmo modo que as anteriores, essas representações seguem em dois sentidos: de um lado,o produtor do texto tem representações sobre o lugar físico em que produz o texto, mas tem tambémrepresentações sobre a instituição social, isto é, a "zona de cooperação social" na qual se desenvolve aatividade humana especifica à qual se articula a atividade de linguagem.

Como exemplos, temos as instituições econômicas e comerciais, instituições políticas e governamentais,instituição literária, instituição acadêmico-científica, instituições de saúde, instituições de repressão justiça e policia, instituição familiar, instituições "mediáticas [midiáticas]” (a imprensa escrita, o rádio, atelevisão), os lugares de lazer, os lugares de práticas de contato cotidiano, etc.

(Projeto de Cultura da Escrita. Instituto Literris/UMC)Referência / Contexto

(pessoas, tempos, espaços e a debreagem)

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Observação:Como já foi dito anteriormente, qualquer falha no processo de comunicação pode prejudicar a perfeitacaptação da mensagem por parte do receptor.A esse obstáculo que compromete o boa recepção do enunciado é dado o nome de ruído, que pode sercausado pela inabilidade do emissor, do receptor ou transtorno no canal.

Exemplos de ocorrência de ruídos:1. Numa sessão de júri, se o juiz não conhecer o código do acusado e o interprete estiver ausente,

suspender-se-á a sessão, pois há ruído impedindo a comunicação. O mesmo ocorre se houver quebra de sigiloentre os jurados. Há interferência negativa no processo de comunicação.

2. Numa projeção cinematográfica : na exibição de um filme falado em inglês (não legendado), acomunicação será plena, parcial ou nula dependendo do domínio do código por parte do espectador.

3. Numa sala de aula: a comunicação não se fará,mesmo com o domínio do código, se o referente forbastante complexo.

1.2. Linguagem do texto jurídicoO uso de quatro formas de tratamento (Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz ) mostra o aparente “excesso”de formalismo na confecção do requerimento e, ao mesmo tempo, deixa uma demonstração de respeitopara com o destinatário.

Quanto ao rigor formal, tem-se que é inerente ao procedimento jurídico. A área do direito é revestida deformalidades e solenidades que a própria lei determina.

(Fonte: Texto extraído do Jus Navigandi)

Duas coisas devem ser consideradas na hora de escrever: técnicas básicas de redação ;

destinatário da mensagem.No tocante ao destinatário da peça judicial, tratando-se de uma autoridade judiciária ou um cidadãocomum, o cliente, que deseja e tem o direito de acompanhar o serviço contratado e a evolução do seuprocesso junto à justiça competente, deve haver uma demonstração de respeito e consideração. Paraque o destinatário da mensagem logre êxito na decodificação, o melhor meio é valer-se o profissional dealgumas técnicas de redação muito úteis na construção de qualquer texto

No tocante as técnicas de elaboração textual, deve se considerar algumas qualidades, características daboa escrita, como clareza, concisão, objetividade, precisão, leveza, elegância e correção. As principaissão: a clareza e a objetividade.

► Características do texto JURÍDICO Clareza: ocorre quando as idéias contidas no texto são facilmente compreendidas pelo leitor. A clareza é um

reflexo direto da organização do pensamento de quem escreve.

Concisão: significa comunicar o essencial empregando uma quantidade reduzida de palavras. O texto concisoé o que evita principalmente: repetições, palavras supérfluas, o uso exagerado de adjetivos e as frases longase confusas.

Objetividade: ocorre quando um texto vai diretamente ao assunto, sem “introduções” e frases iniciaisdesnecessárias.

Adequação: são vários os fatores que levam o falante a adequar sua linguagem: o interlocutor, o assunto, oambiente, a relação falante / ouvinte. Em um ato de comunicação, a presença desses fatores resulta nummaior ou menor grau de formalidade ou informalidade na linguagem.

Correção gramatical : representa a principal característica de um texto.

Observe: Citação de LeisNo texto jurídico (petição, memorial, sentença), a primeira referência deve indicar o número da lei,seguido da data, sem abreviação do mês e ano: Lei nº 4.860, de 26 de novembro de 1965.

Nas referências seguintes serão indicados apenas o número e o ano: Lei nº 4.860, de 1965; ou Lei nº4.860/65.

Os artigos de lei são citados pela forma abreviada “art.”, seguido de algarismo arábico e do símbolo donumeral ordinal (º) até o de número 9, inclusive; a partir do 10, usa-se só o algarismo arábico. Assim: art.1º, art. 2º, art. 3º .... art. 9º; art. 10, art. 11, art. 20, art. 306, art. 909 etc.

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Os incisos são designados por algarismos romanos, seguidos de hífen (ver art. 125 do CPC, abaixo).O texto de um artigo inicia-se por maiúscula e termina por ponto, salvo nos casos em que contiverincisos, quando deverá terminar por dois pontos.Exemplo:

Dispõe o Código de Processo Civil:“Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, competindo-lhe:I - assegurar às partes igualdade de tratamento;II - velar pela rápida solução do litígio;III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça.IV - tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.”

Quando um artigo tiver mais de um parágrafo, estes serão designados pelo símbolo §, seguido doalgarismo arábico correspondente; a grafia é por extenso, nas referências a parágrafo único, parágrafoseguinte. parágrafo anterior e semelhantes.

Ex.: Os §§ 2º e 3º do art. 15...; o parágrafo único do art. 12...As alíneas ou letras de um inciso ou parágrafo deverão ser grafadas com letra minúscula,seguida de parêntese: “De acordo com o § 3º, alíneas a) a c) do art. 20 do CPC (ou alíneas“a” a “c” do CPC).

As datas devem ser escritas por extenso: 2 de maio de 1970 (não se escreve 02 de maio de 1.970); oano não tem ponto, mas o número da lei tem: Lei nº 5.450, de 2 de maio de 1970 (Errado: Lei 5440, de02.05.70 ou 1.970).

Lembrete, para memorizar: “lei” (com i) tem ponto, logo o número da lei também tem ponto (Lei nº

5.450/70); “ano” (sem i) não tem ponto, portanto a indicação do ano não leva ponto (em 2002 o Brasilconquistou o pentacampeonato; 2004 é o ano da Olimpíada de Atenas).

► Tratamento formalVossa Excelência: Presidente da República e Vice; Ministros, Governadores e Vices; Prefeitos Municipais;Secretários Estaduais, Membros do Poder Legislativo e Judiciário; Oficiais-Generais.

O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas a essas autoridades é Excelentíssimo Senhor,seguido do cargo respectivo: Excelentíssimo Senhor Presidente do Tribunal de Justiça. As demaisautoridades serão tratadas com o vocativo Senhor, seguido do cargo respectivo: Senhor Juiz, SenhorMinistro.

NOTA – A técnica de citação de leis (itens 2.1.1 a 2.1.8) tem por fundamento as normas constantes daLei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998 (ver abaixo, Redação de Atos Normativos, itens 2.5a 2.5.7).

 Já as regras de tratamento formal (item 2.2) constam da Instrução Normativa nº 4, de 6 de março de1992, da Secretaria da Administração Federal (DOU 9.3.92) e do Decreto Estadual nº 11.074, de 5 de janeiro de 1978.Exemplo de um Ofício Protocolar:

2. Teoria Tridimensional do Direito, gênero e tipologia textuais

2.1. Fatores de contextualidade: a coesão e a coerência no texto jurídicoConcepções sobre a Teoria Tridimensional do Direito, trata-se de  uma concepção de Direito,internacionalmente conhecida, elaborada pelo jusfilósofo brasileiro Miguel Reale em 1968, eposteriormente abordada em diversas obras.

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À época de sua divulgação, tratou-se em verdade, de uma forma absolutamente revolucionária einovadora de se abordar as questões da ciência jurídica, tendo esse pensamento arregimentado adeptose simpatizantes em todo o universo dos estudiosos do Direito.

Segundo a teoria tridimensional, o Direito se compõe de três dimensões. Primeiramente, há o aspectonormativo, em que se entende o Direito como ordenamento e sua respectiva ciência. Em segundo lugar,há o aspecto fático, em que o Direito se atenta para sua efetividade social e histórica. Por fim, em seulado axiológico, o Direito cuida de um valor , no caso, a Justiça.

Dessa forma pode-se dizer que o fenômeno jurídico se compõe, sempre e necessariamente, de um

fato  jurídico (narrativa do fato.); de um valor, que confere determinada significação a esse fato,inclinando ou determinando a ação dos homens no sentido de atingir ou preservar certa finalidade ouobjetivo (valoração desses fatos); e, finalmente, de uma norma, que representa a relação ou medida queintegra os demais elementos (aplicação da norma).

Dito em outras palavras, para os profissionais da área jurídica verificarem se a parte tem ou não direitoque pleteia, deverão passar por três grandes etapas comuns a todas as peças processuais:a) narração dos fatos juridicamente importantes do caso concreto (FATO);b) defesa de uma tese, por meio de texto argumentativo, valrativo (VALOR);c) Aplicação da norma, o que a lei determina (NORMA).Exemplos:

► 1º Caso: Marcela, 36 anos, desempregada, mãe de três filhos (de seis anos, quatro e um ano e meio),gestava o quarto filho. Depois de passar por vaias situações trágicas, entra em trabalho de parto, é levada aum hospital, onde, após o nascimento de seu filho prematuro, pede para segurá-lo – beija-o longamente e

 joga-o para trás. O bebê sofre traumatismo craniano e morre. Um exame realizado pelo Instituto MédicoLegal atesta que essa mãe encontrava-se em estado puerperal.

► 2ª Caso: Adriana, solteira, ao saber de sua gravidez, não conta a ninguém (namorado, pai, mãe, amigas,colegas de trabalho). Sua gravidez era desconhecida por todos. Ao sentir a dor do parto, volta para sua casano intuito de realizar o parto sozinha e jogar a criança em um rio próximo a sua casa. Em decorrências decomplicações resolve puxar á força a criança e a mata afogada em uma banheira de água quente, queusaria para seu parto, em seguida jogou no rio a criança já morta enrolada em saco preto.

Esquema: 

2.2. Gênero e tipologia textuais:

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A NARRAÇÃO NO TEXTO JURÍDICO - A estrutura da narrativa jurídicaDistinção entre gênero textual e tipologia textualA diferença entre gênero e tipos textuais é importante para o profissional do Direito, posto que deveorientá-lo na produção de suas peças processuais, para que possam redigir seus documentos comsegurança, competência e profissionalismo.

► Gêneros de textuaisAutores como Marcuschi (2002) definem os gêneros textuais como uma noção ou forma de orientaçãopara os textos que são elaborados no dia a dia e que apresentam características sociocomunicativasdefinidas pelos conteúdos, propriedade funcionais, estilo e composição (determinando um certo padrão);exercendo uma função social específica. Para Marcuschi essas funções são pressentidas e vivenciadaspor seus usuários.Exemplos: A estrutura textual de um e-mail escrito para uma universidade não é a mesma se o destinatário forum amigo. Ou nos casos abaixo:

1. Noticia- crime; 2. Boletim de ocorrência; 3 Qualificação; 4 Auto de prisão em flagrante; 5. Nota de culpa; 6.Ordem de serviço; 7. Portaria; 8. Procuração; 9. Relatório;10 Auto de busca e apreensão;

Segundo Fetzner (2008), o que pode influenciar a percepção sobre o uso desses gêneros em cadasituação concreta, sobretudo pelos operadores do Direito, é a reunião de cinco fatores relevantes para aprodução exata do sentido e objetivo desse gênero Portanto, devemos considerar:

1. A finalidade de quem produz o texto:Em uma exrordial, o advogado deve expor de forma persuasória (tendenciosa) para o juiz as razões de fato e dedireito que o motiva a acreditar que um direito – objetivo de seu cliente – foi violado e por isso deve ser

ressarcido. Se o mesmo advogado estiver atuando nesse processo, agora em grau de recurso deverá tambémexpor as razões de fato e de direito que sustentam o recurso, mas seu objetivo e intenção já não são mais osmesmos: se antes pretendia mostrar a procedência de seu pedido; agora, que esse último já foi julgado e rejeito,sua finalidade é mostrar (ainda de forma persuasória).que a decisão proferida pelo juiz de primeiro grau não foiacertada. Logo a finalidade de cada peça é diferente, ainda que o texto seja produzido no mesmo processo pelomesmo advogado.

2. O tipo de publicação:Sabe-se que o texto jurídico costuma apresentar uma redação bastante peculiar. A identificação desse gênerotextual não é muito difícil, mesmo para quem não é profissional da área. Não podemos desconsiderar, porém, ainfluência do veículo onde se vai expor/publicar esse conteúdo. Ao tratar do método de fixação do quantumindenizatório, por exemplo, orientado pelo princípio da razoabilidade, um advogado pode dizer a mesma coisacom textos bastante diferentes. É preciso apenas pensar que ele pode falar dessa questão tanto em uma PetiçãoInicial quanto em uma artigo publicado em revista jurídica. Certamente a sua abordagem será diferente, mesmosendo idênticos o tema e a tese defendidos.

3. O público-alvo do texto:É comum os advogados comentarem que convencer juízes não é a mesma coisa que convencer jurados do

 Tribunal do Júri. A condição social, a formação técnica específica, os valores não são os mesmos para os doisgrupos. Vários fatores influenciam a conduta do advogado que atua em uma Vara Criminal ou no Tribunal do Júri.Quem desconsidera isso terá reduzidas suas chances de sucesso.

4. O lugar em que o texto é veiculado:Determinadas comarcas do interior recebem peças processuais cuja fundamentação seria inviável em grandescentros urbanos. Dependendo do lugar em que o texto é veiculado, sua aceitação pode ser maior ou menor. Issoimplica dizer que, ainda que a lei penal, por exemplo, seja a mesma em todo o território nacional, suacompreensão pode estar condicionada a questões de ordem regional. Pense, para ilustrar essa questão, notratamento que pessoas mais humildes dão a seus filhos. Determinadas obrigações que toda criança do campotem poderiam (e o são comumente) ser compreendidas na capital do Rio de Janeiro como exploração do trabalhoinfantil – e lá não são assim visitas.

5. O momento em que o texto é veiculado:Assim como o lugar condiciona os valores predominantes em um texto, o momento de sua produção e o momentode sua leitura podem também influenciar a sua compreensão. Para exemplificar, podemos fazer referência à tesede legítima defesa da honra, costumeiramente definida pelos advogados de maridos que, uma vez traídos,sentiam-se no direito de “lavar a sua honra com o sangue da mulher que praticou o adultério”, como se sobre elastivessem o direito de vida e morte. Hoje, essa tese certamente não tem mais acolhida no Judiciário, mas já tevegrande aceitação. Os valores da sociedade mudam, e isso influencia a produção de o que e como se diz algo

Os documentos jurídicos como Petição Inicial, Contestação, Sentença e muitos outros que compõemo processo pertencem a um único gênero textual: o de Redação Forense. Exemplos de gêneros detextuais que pertencem à comunidade discursiva forense criminal que, por questão de delimitação,apenas as relataremos abaixo:

1. Noticia- crime; 2. Boletim de ocorrência; 3 Qualificação; 4 Auto de prisão em flagrante; 5. Nota de culpa; 6. Ordem deserviço; 7. Portaria; 8. Procuração; 9. Assentada; 10 Relatório; Relatório de ordem de serviço; 11. Distribuição; 12. Liminar

que rejeita a resposta do exceto; 13. Auto de busca pessoal; Auto de busca e apreensão; 14. Requisição de Instauração deInquérito Policial, pelo promotor; Requisição de Instauração de Inquérito Policial, pelo juiz de direito; 15. Despacho dedeferimento de pedido de fiança; Despacho que determina ordem de serviço; Despacho de expediente; Despacho, decisõesinterlocutórias; 16. Exceção de suspeição e de impedimento; Exceção de suspeição e de impedimento, pelas partes; 17.Conclusão dos autos; 18. Termo de fiança; Termo de representação.

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2.3. Tipologia textual: narração, descrição, dissertação, argumentação e injunção.Como vemos em Fetzner (2007), no Direito, é de grande relevância o que se denomina tipologiatextual: narração, descrição, argumentação, injunção e dissertação. O que torna essa questão denatureza textual importante para o direito é a sua utilização na produção de peças processuais, como aPetição Inicial, a Contestação, o Parecer, a Sentença, entre outras, podendo cada uma delasapresentar diferentes estruturas, a um só tempo.

Para melhor compreender essa afirmação, observe o esquema da Petição Inicial e perceba como essapeça pertence a um gênero híbrido do discurso jurídico, o que exige do profissional do direito o domíniopleno desses tipos textuais.

Observe como todos os tipos textuais ocorrem em um único gênero textual: Petição Inicial: 

► Petição Inicial -► Definição: A petição inicial é uma peça escrita, na qual o autor formula o seu pedido, expondo

os fatos e sua fundamentação legal, contra o réu, dando início ao processo“A petição inicial, também chamada de peça de ingresso, peça atrial, peçapreambular ou exordial, dentre outras denominações, é considerada como o

ato jurídico processual mais importante praticado pela parte autora dentro doprocesso, isto porque, em regra, define os limites da litiscontestatio emrelação ao titular do direito perseguido, além de ser o ato por intermédio doqual provoca-se a jurisdição a ser exercida pelo Estado-Juiz”. (BARROS,Leonardo C., 2003)

► REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL Como antedito, é o art. 282 do Código de Processo Civil que regula os requisitos da petição inicial,estatuindo-os um a um, quais sejam:

1) "o juiz ou tribunal a quem é dirigida" (Em CAIXA ALTA);2) as partes: autor e réu – "os nomes e prenomes (Em CAIXA ALTA), e a sua qualificação: estadocivil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu";3) "o fato e os fundamentos jurídicos  do pedido", ou seja, os acontecimentos do conflito quelevam a crer que haja um direit a ser protegido e todos os fundamentos jurídicos com os quais se

pretende mostrar esse dreito;4) "o pedido, com as suas especificações";5) "o valor da causa"(art. 259 do CPC);6) "as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados" (art. 283 doCPC);;7) "o requerimento para a citação do réu" (arts. 213, 219, 222, 224, 231 do CPC);8) declaração do endereço em que o advogado receberá intimações (art. 39, inciso I, do CPC).

Os requisitos acima enfocados podem ser classificados como requisitos internos da exordial que, porseu turno, englobam os requisitos atinentes ao processo e requisitos atinentes ao mérito. Já osrequisitos externos referem-se à forma pela qual deve ser objetivada a peça, ou seja, de forma escrita.

► Sentença jurídica Segundo o conceito antigo, sentença jurídica é o nome que se dá ao ato do  juiz que extingue o

processo decidindo determinada questão posta em juízo, resolvendo o conflito de interesses que suscitoua abertura do processo entre as partes. A sentença assume feições próprias de acordo com os diversossistemas jurídicos existentes, mas em todos eles compreende a finalidade essencial de solucionar umaquestão posta em julgamento.

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Segundo o novo conceito, instituído pela Lei nº. 11.232/2005, sentença é o ato do juiz que implicaalguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei.[1]

3. TIPOLOGIA TEXTUALO conhecimento textual diz respeito, primeiramente, ao tipo de estrutura do texto, que pode ser, como jávimos acima, narrativa, expositiva, descritiva, argumentativa e injuntiva.Narrativa (padrão): tem como características principais: (i) cenário ou orientação, onde acontecem os

fatos e são apresentadas as personagens; (ii) a complicação, que é o processo inicial da trama, aelaboração do enredo; (iii) e a resolução, o desenvolvimento, o desenrolar da trama até o final (entre a

complicação e a resolução está o ápice da trama).Expositiva (dissertativa): é, ao contrário da narrativa, a estrutura que dá destaque às idéias em

detrimento das ações, tornando irrelevante a orientação temporal, por exemplo.Descrição: esse tipo de estrutura, geralmente, é encontrado no interior de uma narrativa ou de uma

exposição, no momento em que um objeto ou uma cena deve ser destacado, particularizado. Injuntiva : é aquela que indica procedimentos a serem realizados. Nesses textos, as frases,

geralmente, são no modo imperativo. Bons exemplos desse tipo de texto são as receitas e os manuaisde instrução.Argumentativa: procura principalmente formar a opinião do leitor, interlocutor, convencendo-o de

que estão de posse da verdade. Argumentar é convencer ou tentar convencer mediante aapresentação de razões, em face das evidências das provas e à luz de um raciocínio coerente econsistente.

De acordo com Travaglia (1991, 2001 e 2003a), os tipos e as espécies compõem os gêneros, ou seja,os tipos e espécies não se apresentam sozinhos, necessitam dos gêneros para tomarem forma. E parafins de trabalho sobre os gêneros textuais próprios da comunidade discursiva forense, é preciso perceberque a tipologia textual serve, como diz Travaglia, para que se compreenda a estrutura de um texto; oselementos tipológicos que estariam presentes na composição de todos ou da maioria dos textosexistentes em nossa cultura/sociedade, independentemente da classificação tipológica desses textos.

Na narração, por exemplo, o que se pretende é dizer os fatos, contar os acontecimentos, o enunciadorse coloca na perspectiva do tempo e a narração instaura o interlocutor como o assistente, “o espectadornão participante”. Sobre este tipo gostaríamos de ressaltar que nos textos forenses as narrativas semostram muito argumentativas e podemos perceber o enunciador como emissor de argumentos no atode narrar. Voltaremos a esta questão ao discutirmos a segunda tipologia proposta por Travaglia (1991).

Unidade 24. – Tipos de narrativa jurídicaCaracterística da Narração Tem por objetivo contar uma história real, fictícia ou mesclando dados reais e imaginários. Baseia-senuma evolução de acontecimentos, mesmo que não mantenham relação de linearidade com o temporeal. Sendo assim, está pautada em verbos de ação e conectores temporais.

A narrativa pode estar em 1ª ou 3ª pessoa, dependendo do papel que o narrador assuma em relação àhistória.Numa narrativa em 1ª pessoa, o narrador participa ativamente dos fatos narrados, mesmo que não seja apersonagem principal (narrador = personagem). Já a narrativa em 3ª pessoa traz o narrador como umobservador dos fatos que pode até mesmo apresentar pensamentos de personagens do texto (narrador= observador).

Narração objetiva X Narração subjetivaobjetiva - apenas informa os fatos, sem se deixar envolver emocionalmente com o que está noticiado. Éde cunho impessoal e direto.subjetiva - leva-se em conta as emoções, os sentimentos envolvidos na história. São ressaltados osefeitos psicológicos que os acontecimentos desencadeiam nos personagens.

Elementos básicos da narrativa:Fato - o que se vai narrar (O quê ?)Tempo - quando o fato ocorreu (Quando ?)Lugar - onde o fato se deu (Onde ?)Personagens - quem participou ou observou o ocorrido (Com quem ?)Causa - motivo que determinou a ocorrência (Por quê ?)Modo - como se deu o fato (Como ?)

Conseqüências (Geralmente provoca determinado desfecho) Narrativa simples ou valorada:A narrativa jurídica deve selecionar os fatos ou eventos envolvidos no caso concreto no momento decompor o relato.

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A narrativa jurídica deve selecionar os fatos ou eventos envolvidos no caso concreto no momento decompor o relato. Somente aqueles considerados importantes para a elucidação ou explicação do fatoprincipal (fato gerador da situação de conflito) devem ser destacados: os chamados fatos importantes.Na seleção dessas informações — é preciso reiterar — depende do fato de a narrativa ser simples ouvalorada.

Estrutura argumentativa da narrativa dos fatos (FETZNER, 2007)1º esquema:

2º esquema:

Em síntese:

Narrativa simples dos fatos Narrativa valorada dos fatos

Narrativa sem o compromisso derepresentar qualquer das partes. Deveapresentar todo e qualquer fato importantepara a compreensão da lide, de formaimparcial.

Narrativa marcada pelo compromisso de expor os fatos deacordo com a versão da parte que se representa em juízo. Poressa razão, apresenta o pedido (pretensão da parte autora) erecorre a modalizadores.

O quê O quê

Quem (ativo e passivo) Quem (ativo e passivo)

Onde Onde

Quando Quando

Como Como

Por quê Por isso

Inicia-se por “trata-se de questão sobre...” Inicia-se por “Fulano ajuizou ação de ... em face de Beltrano,naqual pleiteia ...”

O relatório é um tipo de narrativa em que os fatos importantes de uma situação de conflito devem sercronologicamente organizados, sem interpretá-los (ausência de valoração); apenas informá-los na lide oudemanda processual.

Segundo De Plácido (2006, p. 1192), relatório “designa a exposição ou a narração, escrita ou verbal,acerca de um fato ou de vários fatos, com a discriminação de todos os seus aspectos ou elementos”.

Características mais relevantes em um relatório jurídico:

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Atenção: exceto pela última característica, todas as narrativas jurídicas devem obedecer a essasorientações, sejam elas valoradas ou não.

(FETZNER, 2007)

No discurso jurídico, é necessário ater-se aos fatos do mundo biossocial que levaram ao litígio (FETZNER,2007). Ao procurar um advogado, o cliente iniciará seu relato dos acontecimentos que, em suaperspectiva, causaram-lhe prejuízo do ponto de vista moral ou material.

Contará sua versão do conflito, marcada, geralmente, por comoção, frequentes rodeios e muitaparcialidade. Ao profissional do Direito caberá, em seguida, organizar as informações importantes obtidasnessa conversa, com vistas à estruturação da narrativa a ser apresentada na Petição Inicial.Exemplo de narrativa Jurídica (do cliente)

Eu e Sandra vivemos sob o mesmo teto, como se marido e mulher fôssemos, por mais de dezanos. Para que isso acontecesse, tive de passar por cima de muita coisa. Minha família nãoaceitava nossa união e meu pai dizia, com certa razão, que eu não tinha muito futuro ao lado dela.Sandra estudou pouco e nunca trabalhou de carteira assinada, mas sabe cuidar como ninguém dacasa: duvido que alguém faça uma moqueca melhor que a dela.

Durante a constância dessa união de fato, tivemos filhos e construímos patrimônio. Vivemosbem por alguns anos, quase acreditando que a nossa união seria para sempre, mas, como já dissea música, “o pra sempre sempre acaba... ”. O ciúme que ela sente por mim gerou a discórdia entrenós. Ninguém consegue viver ao lado de uma mulher tão ciumenta. Como ela acha que eu conseguicomprar o que temos hoje? O dinheiro não cai do céu. Tive de trabalhar muito pra conseguir tudo

que temos. E, quando chegava em casa, depois de um dia longo de trabalho, ainda tinha que ouvirque havia demorado muito, que devia estar na vadiagem: isso não é justo.

Por conta de toda essa situação, nós dois viemos aqui ao juiz, diante do Estado, pararequerer o reconhecimento e a dissolução dessa sociedade conjugal, mediante uma sentençahomologatória.

Exemplo de narrativa simples (do advogado)Reconhecimento de Sociedade concubinária.

Os Requerentes viveram como se casados fossem por cerca de 10 anos, mantendo residência,ora no Estado e Cidade do Rio de Janeiro, ora nesta Cidade de Paranavaí. Deste relacionamento,nasceram dois filhos, o primeiro, Joelson, em 09 de fevereiro de 1992, e o segundo, Mariângela, em09 de setembro de 1997, conforme atestam as certidões em anexo.

Ao longo do relacionamento, o casal amealhou bens que constituem o patrimônio comum deambos, sendo que os bens foram sendo registrados em nome ora do primeiro requerente, ora do

segundo, ou ainda em nome dos menores, conforme se evidencia nos documentos em anexo.O casal viveu, portanto, como se casado fosse. Construíram patrimônio, tiveram filhos,viveram sob o mesmo teto, cumpriram aqueles deveres recíprocos inerentes à condição de casados.

Viviam, pois, imprimindo à sociedade a precisa sensação de que constituíam uma nítidafamília conjugal, porquanto organizada nos moldes do casamento tradicional, apenas que subtraídada prévia formalidade de sua pública celebração. Por esse fato, merecem ver reconhecida, porsentença, a sociedade havida, o que se requer.

5. Função argumentativa da narrativa dos fatos: a questão do ponto de vista do narradorSegundo Ducrot (1980), a teoria argumentativa conecta-se à Retórica aristotélica dos Tópicos, queanalisa todo um conjunto de estratégias conclusivas que não se integram no raciocínio lógico.

Essas estratégias centram-se nas relações entre enunciados aceitos como prováveis pelo bom senso deuma época e de relações que fazem com que, a partir de certos enunciados, sejamos orientados emdireção a outros.

Ducrot (1977), de acordo com sua tese geral, os atos de enunciação têm funções argumentativas, isto é,visam levar destinatário a uma certa conclusão ou a desviá-lo dela. Essa função argumentativa implícitatem marcas explícitas na própria estrutura da frase: morfemas e expressões que, para além do seu valorinformativo, servem, sobretudo, para dar ao interlocutor direção na construção do sentido do enunciado.

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A argumentação discursiva faz uso de determinados elementos da língua denominados de operadores econectores argumentativos.Esses operadores argumentativos transformam os enunciados referenciais em premissas das quaispodemos tirar uma conclusão e não outra, situando o enunciado numa certa direção, implicitandodeterminadas conclusões.

Koch (1992, p. 30) se refere à existência de vários operadores argumentativos em um texto, “ paradesignar certos elementos da gramática de uma língua que têm por função indicar a força argumentativados enunciados, a direção (o sentido) para que apontam.”

6. Modalização, polifonia e intertextualidade.Elementos básicos participantes das condições da argumentaçãoAs relações estabelecidas entre o texto e o evento, no momento de constituição da enunciação, quemais se destacam são:

Os implícitos e explícitos:As Inferências (subentendidos);As pressuposições;Os modalizadores que revelam sua atitude perante o enunciado;

O discurso para ser bem estruturado deve conter explícitos e implícitos, ou seja, todos os elementosnecessários à sua compreensão, os quais devem obedecer também às condições de progresso ecoerência, para, por si só, produzir comunicação, em outras palavras, deve constituir um texto. Dentre

esses elementos devemos dar bastante atenção aos implícitos, sobretudo aos pressupostos einferências

a) ImplícitosOs implícitos são aquelas informações que necessitam de um ato de inferência ou de pressuposiçãopara o entendimento, pois não aparecem explicitamente no texto.Exemplo: - A faculdade vai comprar o Manuelzão e Miguilim?

- Está no provão.

Informações explícitas :- Está no provão

Informações implícitas : - (A resposta é dada como de modo a entender que o livro - Manuelzão eMiguilim (Campo Geral e Uma estória de amor de Guimarães Rosa) - será comprado, pois consta na

bibliografia do Provão do Curso de Letras )b) InferênciaInferência é a operação pela qual, utilizando seu conhecimento de mundo, o receptor (leitor/ouvinte)

de um texto estabelece uma relação não explícita entre dois elementos (normalmente frases outrechos) deste texto que ele busca compreender e interpretar. A inferência pode ser percebida,grosso modo, como mera tentativa de adivinhação. Sendo assim, portanto, sua validade pode sernegada.

Exemplo: Declaração: “Paulo comprou um Clio novinho em folha”.Respostas: -- Paulo é rico (? ou !) - Paulo é melhor companhia que você (? ou !)

As respostas mostram as possíveis inferências feitas a partir da declaração apresentada. Observem que todaspodem ser negadas, isto é, podem ser falseada.

A inferência científica é examinada por Charles Sanders Peirce em diversos trabalhos, sendo definidacomo um ato voluntário que culmina na “adoção controlada de uma crença como consequência de umoutro conhecimento” (PEIRCE, 1975, P. 32).Ele concebe o método científico em termos de deliberada e sistemática “submissão aos fatos”, sejameles quais forem.Obs.: Mas o qual a diferença entre inferência e pressuposição?

c) Pressuposição :Pressuposto é uma afirmação implícita que não pode ser negada pelo texto, porque há um elementolinguístico que o comprova a validade de sua interpretação.Exemplo: - João parou de jogar. (O verbo parou pressupões que João jogava)

Pressupor é literalmente, supor de antemão, ou melhor, é a relação que fazemos através de idéias nãoexpressas de maneira  explícita, as quais decorrem, obviamente, do sentido de certas palavras ou

expressões contidas na frase.Outro exemplo: “Paulo tornou-se um vegetariano convicto e um defensor ferrenho dos animais” .

Informações explícitas: Informações implícitas:- Paulo é vegetariano - Paulo tornou-se algo, logo: mudou de postura sobredeterminado assunto.

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- Paulo é um defensor ferrenho dos animais

O verbo tornar-se significa vir a ser, ou seja, tornar-se vegetariano;implicitamente nos informa que anteriormente Paulo não o era; logo: Paulo era carnívoro, agora não o émais.

d)ModalizaçãoEnfim, modalização é o sustentáculo da enunciação na medida em que ela permite explicitar as posiçõesdo sujeito falante em relação a seu interlocutor, a ele mesmo e a seu propósito (Charaudeau, 1990). É amarca que o sujeito deixa no seu discurso

 As Expressões Modalizadoras: são elementos lingüísticos diretamante ligados ao evento de produção doenunciado; funcionam como indicadores de intenções, sentimentos e atitudes do locutor com relação a seu

discurso; revelam o grau de engajamento do falante em relação ao conteúdo proposicional veiculado.

Tipos Básicos:Epistêmicos: esses revelam o grau de conhecimento do sujeito falante. Expressam certeza ouprobabilidade, pois isso correspondem aos eixos do CRER e do SABER. Modalidades Epistêmicas: referem-se ao eixo do saber ( certeza/ probabilidade );

Crer – eu acho, é possívelProvavelmente virei.

Saber – eu sei, é certo

Virei sem falta.Deônticos: inserem-se no eixo da conduta, expressando obrigatoriedade ou permissibilidade, ou seja,aquilo que se deve fazer. Dentro desse grupo inserem-se os modalizadores apreciativos. Há vários tiposde modalizadores, entre esses podemos citar: advérbios, predicativos cristalizados (é certo),performativos explícitos, verbos auxiliares, verbos de atitude proposicional, modos e tempos verbais Modalidades Deônticas: referem-se ao eixo da conduta (obrigatoriedade/ permissibilidade).

Proibido: Não se deve fumar na sala de espera do consultório

Modalização é o fenômeno pelo qual o locutor expressa sua adesão ao texto. Ou seja, a modalizaçãoexpressa o modo como o sujeito defende seu ponto de vista.

Pelo fato de a modalização expressar o ponto de vista do sujeito, não existe texto sem modalização.Essa pode sim ser mais explícita ou mais discreta. A modalização é expressa por elementos lingüísticos,

chamados modalizadores. Há dois tipos básicos de modalizadores:Como bem coloca a pofa. Margarida Graça, a modalização é uma operação pela qual a relaçãopredicativa é localizada em relação à classe de sujeitos enunciativos que integram o sistema referencial.Da modalização resultam os valores da categoria gramatical modalidade ou valores modais. Amodalização permite o uso de uma expressão que vai suavizar, ou clarificar, a informação veiculadapelo verbo.

O processo de modalização não se verifica somente nos verbos modais (dever, ter de, poder, etc…)ou advérbios (provavelmente, necessariamente, possivelmente, etc.). Pode realizar-se de váriasmaneiras diferentes, como no uso de determinados verbos e adjetivos:Exemplo:

Adjetivos: possível, provável, capaz, ótimo, permitido, obrigatório.Outros verbos: assegurar, crer, precisar de, saber.

Os modos e tempos verbais expressam maneiras diferentes de se posicionar frente a um enunciado. Oindicativo produz efeito de verdade, de certeza. Já o subjuntivo expressa incerteza, possibilidade.Exemplo: O noivo chega às 18h // O noivo chegaria às 18h.

O imperativo exprime ordem, conselho, sugestão, etc., e o infinitivo também serve para reforçar a idéiade verdade.

De acordo com os modalizadores que um autor utiliza, ele pode tornar seu discurso mais polêmico ouautoritário.Exemplo: Prometa que estará em casa hoje à noite. // Promete que estará em casa hoje à noite. // 

Poderia prometer que estará em casa hoje à noite.

6.2. Polifonia e intertextualidade A polifonia na narrativa jurídica

Não podemos iniciar uma análise sobre polifonia e intertextualidade sem deixar de registrar que aconcepção dialógica da linguagem, eassim, o discurso nunca se constrói sobre ele mesmo, mas em vista do outro. É o que Bakhtin (1992)denomina de o grande diálogo da comunicação verbal. Esses conceitos de intertextualidade e polifoniatêm sua origem na concepção de dialogismo de Bakhtin. Apesar da origem comum, são distinguidos emestudos da Lingüística Textual.

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Para Fiorin (2006, p. 181), o termo intertextualidade deve ser reservado apenas para os casos em que arelação discursiva é materializada em textos. Segundo Barros (2003). refere-se à questão da intersecçãodos muitos diálogos no interior de um discurso, do cruzamento das vozes (polifonia) que falam epolemizam em um texto. Nesse sentido, como podemos distinguir a intertextualidade de polifonia.Exemplo:

08/12/2009 - 16h31 Comissária da ONU pede combate mundial à discriminaçãoda Efe, em Genebra

A alta comissária para os Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), a sul-africana Navi Pillay,traçou um panorama sombrio para os direitos humanos no mundo, nesta terça-feira, e lamentou a existência dediscriminação em todos os lugares e em todas as camadas da população.

"Discriminação não faz sentido. Nem humano, nem social, nem econômico. De fato, não tem nenhum sentido,mas segue prevalecendo no mundo todo", disse Navi em entrevista coletiva às vésperas do Dia dos DireitosHumanos, que vai ser comemorado na próxima quinta-feira.

Neste ano, o lema escolhido para comemorar o Dia dos Direitos Humanos foi "abracemos a diversidade,acabemos com a discriminação". "Consideramos necessário refletir sobre a discriminação e alertar sobre seuestado no mundo", disse a alta comissária, que lembrou a Conferência contra o Racismo realizada neste ano, emGenebra.

"É preciso assumir que todos discriminamos, eu, inclusive. Por ter crescido na África do Sul e ter sofrido racismo,eu a, como muitos, considerávamos os brancos em geral como opressores, não como seres individuais. Depois,quando crescemos, o estereótipo se mantém, e é preciso lutar contra ele", disse.

Pillay também disse estar "muito preocupada" com a situação dos imigrantes, especialmente na Europa. "Ospaíses da União Europeia não assinaram a Convenção para a Proteção dos Imigrantes e de suas famílias.Asseguram que é porque ela não distingue imigrantes ilegais de legais, mas eu digo que todos os emigrantes têmdireitos e devem ser protegidos."

A alta comissária também se referiu às mulheres e à "dupla e múltipla discriminação que elas sofrem no mundotodo". "Embora as mulheres trabalhem dois terços do total das horas trabalhistas em nível mundial, e produzam ametade da totalidade dos alimentos no mundo, recebem apenas 10% das receitas e possuem menos de 1% daspropriedades" no mundo todo, destacou.

Ocorrência de Polifonias

Vozes Conteúdo Informativo Relevância

Autor do texto, jornalistada Efe, em Genebra 

 Texto sobre o discurso da Comissária da ONU, quetenta mobilizar um combate mundial àdiscriminação

Divulgar o movimento de combate àdiscriminação encabeçado pela Comissãopara os Direitos Humanos da ONU.

Navi Pillay, comissária dosDireitos Humanos da ONU

"Discriminação não faz sentido. Nem humano,nem social, nem econômico. De fato, não temnenhum sentido, mas segue prevalecendo nomundo todo"

Posicionamento da ONU em relação aoproblema de discriminação vivenciada porvárias sociedades em todo o mundo

Barros (1999), partindo dessa concepção, comenta que a polifonia caracteriza um certo tipo de texto,no qual não é necessário a materialização das diversas vozes, mas sim a encenação, distinguindo-se,pois, da intertextualidade. Logo: O conceito de polifonia é mais amplo que o de intertextualidade.Enquanto nesta, faz-se necessária a presença de um intertexto, cuja fonte é explicitamente mencionadaou não, (...) o conceito de polifonia, tal como elaborado por Ducrot, (...) exige apenas que serepresentem, encenem, em dado texto, perspectivas ou pontos de vista de enunciadores (reais ouvirtuais), diferentes (...) sem que se trate, necessariamente, de textos efetivamente existentes. (KOCH;BENTES; CAVALCANTE, 2007, p. 79).

Com um certo grau de consciência, no momento de formulação de um discurso, é ativado um complexo jogo dialógico, de onde podem surgir temas, (pré-)conceitos, valores, lugares comuns, conhecimentos,

etc.Exemplo:

Quando um deputado se manifesta na tribuna da Câmara, atrás dele estão posições do partidoao qual pertence, a expressão de interesses de eleitores e grupos de pressão que representa.

Sendo assim, “nossas opiniões” podem não ser tão nossas como imaginamos. A nossa opinião quasesempre resulta dos cruzamentos antes referidos (intertextualidade).

De acordo com Barros (2003), polifonia seria usada para caracterizar um certo tipo de texto, “aquele emque se deixam entrever muitas vozes, por oposição aos textos monofônicos, que escondem os diálogosque os constituem” (p. 5-6). Dessa forma, para a autora, um texto pode ser monofônico (quandoconsegue mascarar as vozes que o constituem), mas jamais monológico, já que o dialogismo é umaspecto constitutivo da linguagem.Exemplo: [...] os frustrados cabalistas do Apocalipse recolheram as premonições, já que o mundo

mais uma vez não acabou [...].Nesta passagem da ordem do expor, há um processo polifônico de pressuposição: se o mundo “mais umavez” não acabou, é porque muitas outras previsões de “final dos tempos” foram feitas anteriormente. É,na verdade, a voz dos apocalípticos que é trazida pela enunciação com a finalidade de dar um tom dehumor, de descontração ao discurso. Segundo Koch (1984), o uso retórico da pressuposição consiste em

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apresentar como já sendo do conhecimento público aquilo que se deseja veicular (no nosso caso, asvárias previsões do final do mundo).

Esses operadores são descritos simplesmente como “conectivos”, “morfemas gramaticais”, comodispositivos (advérbios, conjunções, preposições, pronomes), partículas meramente relacionais quepermitem a conexão ou a ligação recíproca de dois ou mais enunciados.

São esses mesmos componentes que, segundo a Semântica Argumentativa, podem determinar o valorargumentativo de um enunciado.

Elementos lingüísticos que têm o papel de marcar apolifonia:

Conjunçõesconformativas

segundo, conforme, como etc.

Verbos introdutores devozes(dicendi — verbos dedizer)

dizer, falar, afirmar (verbos mais neutros);enfatizar, advertir, ponderar, confidenciar,alegar.

6. Operadores e Conectores ArgumentativosA argumentação discursiva disponibiliza determinados elementos existentes na língua, ora denominados

de operadores e conectores  argumentativos. De maneira que, os operadores argumentativostransformam os enunciados referenciais em premissas das quais podemos tirar uma conclusão e nãooutra, situam o enunciado numa certa direção, implicitam determinadas conclusões.

► Operador Argumentativo é um morfema que, aplicado a um conteúdo, transforma aspotencialidades argumentativas desse conteúdo (cf. Moeshler, 1985, p. 61-2, citado por Marlene Teixeira)

Os operadores argumentativos mais relevantes são: demais, mais, até, até mesmo, nem mesmo,pelo menos, apenas, pouco, um pouco, ainda, já, na verdade e aliás.

DEMAIS: argumenta que o objeto ou ser a que se refere "extrapola os limites", portanto, argumentanegativamente.

MAIS: argumenta que o fato é recorrente.

ATÉ: Institui uma escala de valores. O objeto a que se refere pode estar no topo da lista ou no final. Transmite a avaliação do autor e direciona o ponto de vista do leitor.

APENAS: estabelece uma noção de tempo e pode instituir uma justificativa para um comportamento.

ATÉ MESMO: Argumenta positiva- e negativamente. Refere-se a algo que detem mais importância peloacréscimo ou pela falta de algo ou alguém.

POUCO / UM POUCO: Entre os dois operadores há uma distância. Se o autor aforma que algo é pouco nãohá uma argumentação tão forte quanto em um pouco. Um pouco pode argumentar negativa epositivamente.

AINDA: Aqui há dois sentidos possíveis. Um denota excesso temporal, ou seja, já passou do tempo. Ooutro, introduz mais um elemento no discurso.

 JÁ: Pode marcar uma antecipação ou uma mudança de estado. Pode também marcar uma urgência emrelação a algo.Quando "já" possui valor de "enquanto", ele trata de duas coisas paralelas. Tornando-se nesse caso umconector e não um operador argumentativo.

NA VERDADE: Introduz a versão final de um argumento, apresenta uma nova versão, ou contrapõe doisargumentos.

ALIÁS: Introduz um argumento decisivo. Uma espécie de "golpe final".

► ConectoresConectores são termos que asseguram a ligação de uma frase complexa. Nas palavras da nossagramática normativa, seriam as conjunções de coordenação e subordinação, exprimindo conjunção,disjunção, restrição, oposição, causalidade...

Conectores de CausalidadeMoura Neves considera que a noção de causa abrange não só causa real, como também razão, motivo, justificativa ou explicação. As construções causais podem se dar:a) Entre predicações: causalidade real / efetiva

Não construímos a casa, porque ele foi demitido.Efeito: casa não construída

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Causa real: demissão.

b) Entre proposições: causalidade que decorre da visão do sujeito falante sobre determinado fato.Em dia de tempestade devemos cobrir os espelhos, pois eles atraem raios.

Esse fato não é comprovado cientificamente, depende muito mais das crenças de cada um.

c) Entre enunciados: relacionam-se pelo conector o ato de fala e a causa que o motivou.Lava a roupa para mim, porque não tenho tempo!

As construções de causalidade englobam as orações chamadas pela gramática normativa decoordenadas explicativas.

Conectores de DisjunçãoOs conectores de disjunção ligam duas proposições, estabelecendo alternância entre o elementocoordenado e o elemento anterior.

A marca privilegiada dessa relação é o articulador "ou". Ele pode estabelecer uma relação de hierarquiaentres os termos ou desfazer essa hierarquia.

Para exprimir a disjunção sem hierarquia (ou...ou), existem outros articuladores: seja...seja,quer...quer. Esses têm valor pontual, enquanto que ora...ora tem valor iterativo (repetição no tempo).

Disjunção inclusiva/disjunção exclusiva: Há dois efeitos de sentidos produzidos pelo ou:- ou inclusivo:

Liga duas proposições compatíveis no mesmo universo. Usa-se e/ou para indicar a disjunção inclusiva.Ex.: A conta corrente pode ser movimentada por Augusto ou (e/ou) Amélia.

- ou exclusivo:Liga duas proposições não compatíveis no mesmo mundo. Ou seja, somente uma das alternativas épossível.Ex.: Não sei se compro um carro azul ou vermelho. (posted by Raquel @ 8:28 AM 1comments)

8. A função argumentativa da narração: a questão do ponto de vista.8.1. A questão do ponto de vista Como foi visto acima, embora a narrativa de certas peças processuais não admita uma atividadepersuasória expressa, tem diluído, em seu conteúdo, grande poder de convencimento, já que dos fatossurgem os direcionamentos da argumentação e as informações necessárias para que uma tese sejacompreendida e aceita.

Na narrativa jurídica, o ponto de vista do narrador, ainda que não venha expresso diretamente, podeestar sugerido não só pela seleção vocabular, como também pela seleção dos fatos a serem narrados.

Esse ponto de vista, conduzido pelo transcurso do tempo, abre espaço para a aceitação de uma tese, quesomente poderá ser exposta em outro momento e em outro discurso: o argumentativo.Observe o esquema que traduz esse raciocínio.Exemplo: caso concreto

8.2. A narração a serviço da argumentação: a formulação dos argumentos nafundamentação simples.

As características da argumentação simples:A fundamentação simples é aquela que propicia a subsunção do fato à norma, por meio de um raciocíniosilogístico (premissa maior, premissa menor e conclusão). Em outros termos, basta, no primeiroargumento, apresentar o ponto de vista que se pretende defender e os três fatos de maior relevânciapara conseguir defender essa tese; no segundo argumento, deve-se aplicar a norma ao caso concreto pormeio de um procedimento demonstrativo silogístico (“Ocorreu x. Ora, a lei é clara quando diz que y.

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Então, z.”); o terceiro argumento é reservado à tentativa de enfraquecer a argumentação da parteadversa.

9. TIPOS DE ARGUMENTOS9.1. ARGUMENTOS DE AUTORIDADE:Consiste em um recurso linguístico que utiliza a citação de autores renomados e de autores de um certodomínio do saber para fundamentar uma idéia, uma tese, um ponto de vista.Exemplo: Segundo Freire, ”Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção

ou sua construção” (2001, p. 24-25).

Esse tipo de argumento é constituído com base nas fontes do direito e/ou em pesquisas científicascomprovadas.

“A Constituição é muito clara quando diz que a vida é um bem inviolável. Uma sociedadedemocrática defende esse direito e recorre a todos os meios disponíveis para que a vida sejasempre preservada e para que qualquer atentado a esse direito seja severamente punido. No casoem questão, Teresa foi atacada de maneira covarde e violenta, porque não dispunha de meiospara ao menos tentar preservar sua vida. Portanto, o réu desrespeitou a Constituição Brasileira eincorreu no crime de homicídio doloso previsto no artigo 121 do Código Penal Brasileiro”.

2. ARGUMENTO BASEADO NO CONSENSO:Consiste no uso de proposições evidentes por si mesmas ou universalmente aceitas como válidas, paraefeito de argumentação. No entanto, não se deve confundi-los com declarações sem base científicas e devalidade discutível.

 Exemplo: A educação é o alicerce do futuro. (refere-se a uma idéia aceita como válida )É importante observar que o argumento de senso comum consiste no aproveitamento de umaafirmação que goza de consenso; está amplamente difundida na sociedade.

“A sociedade brasileira sofre com a violência cotidiana em diversos níveis e não tolera maisessa prática. Certamente, a violência é o pior recurso para a solução de qualquer tipo deconflito. Uma pessoa sensata pondera, dialoga ou se afasta de situações que podemdesencadear embates violentos. Não foi essa a opção de Anísio. Preferiu pegar uma faca e,como um bárbaro, assassinar a mulher, evitando todas as outras soluções pacíficasexistentes, como a imediata separação que o afastaria definitivamente de quem o traiu.Aceitar sua conduta desmedida seria instituir a pena de morte para a traição amorosa”.

3. ARGUMENTO BASEADO EM PROVAS CONCRETAS:Apoia-se em evidências dos fatos que corroboram a validade do que se diz. Deve enfatizar-se, que não sepodem fazer afirmações sem apoio de dados consistentes, fidedignos, suficientes, adequados e

pertinentes.Exemplo: Pesquisas do Banco Mundial mostram que a jornada escolar é curta e uma baixa proporção do

tempo é gasta em tarefas propriamente escolares (CASTRO, Cláudio Moura. a hora na sala deaula. veja, 8 mai. 2002, p. 20)

1.1.Argumentos Baseados em fatos: é quando nos baseamos em fatos.

Fato: um acontecimento que foi registrado e documentado.

Para analisar como no direito utilizamos os argumentos baseados em fatos, devemos observar doiscontextos diferentes: 1) Na praxes jurídica, 2) Fora da praxes jurídica.1) Na praxes jurídica: em uma ação ou processo judicial, em uma audiência (pragmática do direito) nesse

caso, todo fato precisa ser comprovado. Precisamos apresentar provas que tenhamrelação direta com os fatos alegados.

(um registro do fato – relação direta): documentais, periciais, testemunhais etc.

2) Fora da praxes jurídica: é quando o profissional não está inserido na pragmática do direito, massimplesmente está defendendo uma opinião acerca de um assunto ou uma questãode interesse social e jurídico. O profissional do direito está sempre envolvido emtemas polêmicos, que fomentam divergências e controvérsias. Questões como: penade morte, legalização dos jogos de azar, desarmamento, são exemplos disso. E oprofissional do direito não pode ficar alheio a essas questões, cabe a ele discuti-las esobre elas apresentar suas opiniões. Nesse sentido, o profissional

Tese: sou a favor da maioridade aos 16 anos.Argumento: Nos últimos anos, o índice de criminalidade juvenil aumentou 60%2. É um aumentobastante significativo. Adolescentes andam armados, à espera de uma vítima.

4. ARGUMENTOS DA COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA:Consiste no uso da linguagem adequada à situação de interlocução. A busca dos efeitos argumentativosenvolve uma conduta quanto à escolha das palavras, locuções e formas verbais. A escolha de um termoem detrimento de outro implica no cruzamento dos planos estilísticos e ideológicos na direção dodiscurso PERSUASIVO (CITELLI, 1999, p. 69).

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5. ARGUMENTO PRÓ-TESECaracteriza-se por ser extraído dos fatos reais contidos no relatório. Deve ser o primeiro argumento acompor a fundamentação. A estrutura adequada para desenvolvê-lo seria: tese + porque + e também+ além disso. cada um desses elos coesivos introduz fatos distintos favoráveis à tese escolhida.Exemplo: “Anísio cometeu um crime doloso inaceitável, repudiado com veemência pela sociedade, porque

desferiu três facadas certeiras no peito de sua companheira, e também porque agiu covardementecontra uma pessoa desarmada e fisicamente mais fraca. Além disso, ele já estava desconfiado docaso extraconjugal da mulher, o que afastaria a hipótese de privação de sentidos”.

6. ARGUMENTO DE OPOSIÇÃOApoiada no uso dos operadores argumentativos concessivos e adversativos, essa estratégiapermite antecipar as possíveis manobras discursivas que formarão a argumentação da outra partedurante a busca de solução jurisdicional para o conflito, enfraquecendo, assim, os fundamentos maisfortes da parte oposta. Compõe-se da introdução de uma perspectiva oposta ao ponto de vistadefendido pelo argumentador, admitindo-a como uma possibilidade de conclusão para, depois,apresentar, como argumento decisório, a perspectiva contrária.Exemplo: “Embora se possa alegar que Teresa tenha desrespeitado Anísio, traindo-o com outro homem em

sua própria casa, uma pessoa de bem, diante de situações adversas, reflete, pondera, o que a impedede agir contra os valores sociais. Eis o que nos separa dos criminosos. É certo que o flagrante de umatraição provoca uma intensa dor, porém o ato extremo de assassinar a companheira, por suadesproporção, não pode ser aceito como uma resposta cabível ao conflito amoroso”.

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<http://www.boletimjuridico.com.br/ doutrina/texto.asp?id=1311> Acesso em: 3 mai. 2010.

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 Texto extraído do Jus Navigandi http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2341

pt.wikipedia.org/wiki/Linguagem_jurídica

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