aula david hume2015

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DAVID HUME (1711-1776) VIDA: Nasceu na Escócia, filho de uma família abastada. Em 1761 teve suas obras colocadas no Index. Pretendeu ser o Newton da Psicologia, isto é, aplicar o método experimental às ciências morais. Foi secretário da embaixada inglesa em Paris. OBRAS: Tratado sobre a natureza humana – 1734 (Duas primeiras partes) - (Data de publicação - 1739) Ensaios morais, políticos e literários – 1741/2 Uma investigação sobre os princípios da moral – 1751 Ensaios filosóficos sobre o Entendimento humano – 1748. Investigação sobre o entendimento humano – 1758 História da religião natural - 1757 Diálogos sobre a religião natural – 1751 (publicada em 1779) História da Inglaterra – entre 1754 e 1762 A vida de David Hume - 1776 Influências recebidas: A teoria das idéias de Locke, o nominalismo de Berkeley; conheceu Adam Smith; foi amigo de Rousseau, D’Alembert e de Helvétius; leu Virgílio, Horácio, Cícero. Influências exercidas: No criticismo de Kant (1724-1804); na filosofia da ciência de Popper; na semiótica de Peirce. 1

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Page 1: Aula David Hume2015

DAVID HUME (1711-1776)

VIDA: Nasceu na Escócia, filho de uma família abastada. Em 1761 teve suas obras colocadas no Index. Pretendeu ser o Newton da Psicologia, isto é, aplicar o método experimental às ciências morais. Foi secretário da embaixada inglesa em Paris.

OBRAS:

Tratado sobre a natureza humana – 1734 (Duas primeiras partes) - (Data de publicação - 1739)Ensaios morais, políticos e literários – 1741/2Uma investigação sobre os princípios da moral – 1751Ensaios filosóficos sobre o Entendimento humano – 1748. Investigação sobre o entendimento humano – 1758História da religião natural - 1757Diálogos sobre a religião natural – 1751 (publicada em 1779)História da Inglaterra – entre 1754 e 1762A vida de David Hume - 1776

Influências recebidas:A teoria das idéias de Locke, o nominalismo de Berkeley; conheceu Adam Smith; foi amigo de Rousseau, D’Alembert e de Helvétius; leu Virgílio, Horácio, Cícero.

Influências exercidas:

No criticismo de Kant (1724-1804); na filosofia da ciência de Popper; na semiótica de Peirce.

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Page 2: Aula David Hume2015

O empirismo radical de Hume

1. A teoria humeana do conhecimento

1. Impressões (dados dos sentidos, sensações, paixões, emoções, querer): são percepções fortes, claras e distintas, vívidas. As impressões são inatas, originais. Ex.: sensação de calor.

1.1. Impressões de sensação (externa) - dados empíricos - originam-se com a alma).

1.2. Impressões de reflexão (interna – emoções e paixões) Precedem às ideias que lhes correspondem, mas seguem as

impressões de sensação e procedem delas (são cópias da memória e da imaginação). Obs.: as impressões de sensação causam as impressões de reflexão.

2. Idéias – pensamentos: são percepções fracas, imagens, cópias pálidas, debilitadas das coisas. A idéia é um reflexo da impressão. Ex.: idéia de calor.

2.1 A memória e a imaginação não recebem impressões, apenas idéias. Enquanto as idéias de memória são fortes e claras, as idéias de imaginação são fracas e frouxas. Os princípios que regem a imaginação na associação de idéias são três: a) semelhança. Ex.: associar o retrato com o original; b) contigüidade no tempo e no espaço. Ex.: associar César a Cícero, o sino ao campanário; c) causalidade: associar ferida a dor, a fumaça ao fogo.

Todas as idéias são cópias das nossas impressões (dados empíricos); as impressões são causas das idéias, isto é, as idéias dependem das impressões.

Entre as impressões e as idéias existe uma relação de semelhança e de causalidade.

Nega a demonstração da existência das coisas, do “eu” e de Deus. Não existem idéias universais (abstração).2

Dois tipos de percepções: diferença entre sentir e pensar

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As impressões e idéias se dividem em simples e compostas. A única causa é a eficiente. Elimina a distinção entre causa e ocasião. O princípio da

causalidade também atua nos animais.

Os objetos do conhecimento (da razão) são de dois tipos: a) Relação de idéias (verdades matemáticas). Conhecimento

demonstrável.b) Questões de fato. Nestas questões o valor de nosso conhecimento

é subjetivo.(A base do conhecimento são as impressões e as relações entre as idéias). Tudo o que é distinguível no pensamento é separável na realidade.

3. Crítica ao princípio da causalidade (à metafísica e à ciência experimental)

Se de A segue B, isto não significa que B é produzido por A. É o hábito, o costume que nos dão esta impressão. A noção de causalidade ultrapassa a experiência imediata. Por exemplo, se acendo fogo sob uma barra de metal, concluo (espero) que ela venha a se dilatar. Ora, a conclusão ultrapassa a experiência. O raciocínio experimental conclui o futuro a partir do presente, o que ilógico ou irracional.

A causalidade não é um princípio que rege as coisas, mas algo da natureza humana. A conexão necessária existe no espírito, não nos fatos.

Porém, de onde vem a idéia (o princípio) de causalidade? Qual é a sua origem? A qual impressão corresponde esta idéia? Toda idéia tem sua origem numa impressão, mas nenhuma impressão pode dar origem à idéia de nexo causal. A origem da idéia de causalidade deriva da experiência não cognitiva, mas instintiva; induzimos da existência de um fenômeno (a causa) a existência de outro (o efeito).

O que nos permite inferir da experiência passada previsões para a experiência futura, são os hábitos, a crença em nós gerada pelo efeito da repetição da experiência, e não regras ou princípios de nossa razão. A crença fortalece a conexão imaginativa e leva o intelecto de uma idéia a outra.

A base das ciências naturais é irracional porque a causalidade se apóia na experiência (costume), não na razão. As leis da natureza

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surgem assim. Se a idéia de causalidade não pode ser derivada de uma impressão

ou sensação, então ela não é universal (objetiva), nem necessária, mas particular e contingente. Nem sempre as mesmas causas produzem os mesmos efeitos. A certeza deve ser substituída pela probabilidade.

A idéia de causalidade não existe, é uma ilusão da imaginação e do hábito, isto é, uma ilusão psicológica.

A causalidade tem apenas valor empírico (é um fato psicológico), portanto, subjetivo.

4. Crítica à noção cartesiana de identidade pessoal (do eu)

É a memória que nos instrui acerca da continuidade de nossas

percepções (existência continuada); ela é a responsável pela idéia

de identidade pessoal. A memória e a fantasia unem o que na

realidade está separado. Portanto, o eu não é uma substância. As

percepções constituem o eu, mas não lhes pertencem (isto

implicaria aceitar a substancialidade do eu). Nós percebemos

somente através de percepções, e elas não representam uma

substância espiritual nem material.

Há somente existências fragmentadas (atômicas) unificadas pela

fantasia.

O eu não é algo fixo, mas um feixe de percepções, um fluxo

constante, de estados de consciência que se sucedem. Por isso, não

temos certeza do próprio “eu”, daquilo que ele é. Quando se morre,

o “eu” também morre.

Empirismo fenomenalista: não reconhece valor objetivo aos

conceitos de existência, substância e causa.

A noção de substância não provém dos sentidos, não tem base

empírica.

A relação entre corpo e alma é enigmática.4

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A questão não é a de saber se podemos conhecer o nosso eu, mas

como se forma em nós esta crença.

5. A moral, a religião e a política

Utilitarismo altruísta. O homem é um ser social por natureza. Os vícios e as virtudes também são paixões (amor/ódio; orgulho/humildade).

As virtudes são paixões que causam prazer e os vícios as que causam dor. Por isso, a moral não é uma atividade segundo a razão. A razão não pode exercer influência sobre a vida moral; a razão é escrava das paixões (Tratado da natureza humana,II).

Bom é o que é útil, aprovado pela sociedade. Ex.: justiça; é mau o que é prejudicial à sociedade. Ex.: homicídio.

A origem da religião e da moral está no sentimento. É pelo sentimento de temor e de esperança que criamos a fé e os deuses. Estes princípios são úteis e agradáveis para a maioria. As verdades morais não são eternas. Porém, o que é o bem para o homem?

A existência de Deus não pode ser provada pelo princípio da ordem e pela causa final (Diálogos sobre a religião natural).

Os milagres são impossíveis porque contrariam a experiência, isto é, as leis da natureza.

Recusa a religião revelada e natural. Critica a razão teológica, porque os sofrimentos humanos (os

males) são um argumento contra a Providência divina.

6. Limites da crítica de Hume

O seu ceticismo é um psicologismo; empirismo cético. Parte da causa para o efeito ao invés do efeito para a causa. O princípio de causalidade é auto-contraditório, porque diz que o

valor deste princípio é subjetivo, mas pretende dar uma explicação objetiva para isto.

O “eu” não é um ser, é passivo frente ao conhecimento; algo como uma fita magnética que registra estímulos. O intelecto é uma máquina.

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