aula 9-10 ética - oitavo periodo

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 Aula 9-10: CONSTITUINTES DO CAMPO ÉTICO. DEFINIÇÕES E DELIMITAÇÕES: ÉTICA, MORAL E PRAXIS 8º Período de Administração CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. Ática, 1995. VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 9ª edição. São Paulo: Civilização Brasileira, 1986. Esquema de Quadro: 1) Os co nst ituintes do c ampo ético 2) O agente moral 3) Os valo res ou fins éticos 4) Os meios morais 5) Saber teorético 6) Saber prático (práxis) 7) Alguns fundamentos éticos de Aristóteles 1) Os co nst ituintes do campo ético Para que haja conduta ética é preciso que haja o agente consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício. A consciência moral não só conhece tais diferenças mas também se reconhece como capaz de julgar o valor dos atos e das condutas e de agir em conformidade com os valores morais, senso por isso responsável por suas ações e seus sentimentos e pelas conseqüências do que faz e sente. Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida ética. A consciência moral manifesta-se, antes de tudo, na capacidade para deliberar diante de alternativas possíveis, avaliando cada uma delas segundo os valores éticos, e para decidir e escolher uma delas antes de lançar-se na ação. É a capacidade para avaliar e pesar as motivações pessoais, as exigências feitas pela situação, as conseqüências para si e para os outros, a conformidade entre meios e fins, a obrigação de respeitar o estabelecido ou de transgredi-lo. O poder deliberativo e decisório do agente moral é a vontade. O campo ético é constituído pelo agente livre, que é o sujeito moral ou a pessoa moral , e pelos valores e obrigações que formam o conteúdo das condutas morais, ou seja, as virtudes ou as condutas e ações conformes ao bem. 2) O agente moral O agente moral, ou seja, o sujeito moral ou a pessoa moral, só pode existir se preencher as seguintes condições: a) Ser consciente de si e dos outros: isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a si; b) Ser dotado de vontade: isto é: dotado da capacidade para controlar e orientar dese jo s, impu lsos, tendências, paixões, sentimentos pa ra qu e estejam em conformidade com as normas e os valores ou as virtudes reconhecidas pela consciência moral; e dotado da capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis; c) Ser responsável: isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e as cons eqüências dela sobre si e so br e os outr os, assumi-la bem como às suas conseqüências, respondendo sobre elas; d) Ser livre: isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto o poder para escolher entre vários possíveis, mas o pode para autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.

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Aula 9-10: CONSTITUINTES DO CAMPO ÉTICO. DEFINIÇÕES E DELIMITAÇÕES: ÉTICA, MORAL EPRAXIS8º Período de AdministraçãoCHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. Ática, 1995.VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 9ª edição. São Paulo: Civilização Brasileira, 1986.

Esquema de Quadro:

1) Os constituintes do campo ético

2) O agente moral3) Os valores ou fins éticos4) Os meios morais5) Saber teorético6) Saber prático (práxis)7) Alguns fundamentos éticos de Aristóteles

1) Os constituintes do campo ético• Para que haja conduta ética é preciso que haja o agente consciente, isto é, aquele que

conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e

vício.• A consciência moral não só conhece tais diferenças mas também se reconhece como

capaz de julgar o valor dos atos e das condutas e de agir em conformidade com osvalores morais, senso por isso responsável por suas ações e seus sentimentos e pelasconseqüências do que faz e sente.

• Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida ética.• A consciência moral manifesta-se, antes de tudo, na capacidade para deliberar diante

de alternativas possíveis, avaliando cada uma delas segundo os valores éticos, e paradecidir e escolher uma delas antes de lançar-se na ação.

• É a capacidade para avaliar e pesar as motivações pessoais, as exigências feitas pelasituação, as conseqüências para si e para os outros, a conformidade entre meios efins, a obrigação de respeitar o estabelecido ou de transgredi-lo.

• O poder deliberativo e decisório do agente moral é a vontade.• O campo ético é constituído pelo agente livre, que é o sujeito moral ou a pessoa

moral, e pelos valores e obrigações que formam o conteúdo das condutas morais, ouseja, as virtudes ou as condutas e ações conformes ao bem.

2) O agente moral

• O agente moral, ou seja, o sujeito moral ou a pessoa moral, só pode existir sepreencher as seguintes condições:

a) Ser consciente de si e dos outros: isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a

existência dos outros como sujeitos éticos iguais a si;b) Ser dotado de vontade: isto é: dotado da capacidade para controlar e orientar

desejos, impulsos, tendências, paixões, sentimentos para que estejam emconformidade com as normas e os valores ou as virtudes reconhecidas pelaconsciência moral; e dotado da capacidade para deliberar e decidir entre váriasalternativas possíveis;

c) Ser responsável: isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e asconseqüências dela sobre si e sobre os outros, assumi-la bem como às suasconseqüências, respondendo sobre elas;

d) Ser livre: isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos,atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o

constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto o poderpara escolher entre vários possíveis, mas o pode para autodeterminar-se, dando a simesmo as regras de conduta.

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• A liberdade entendida como capacidade para se autodeterminar faz com que, do pontode vista do agente ou sujeito moral, a ética parta de uma distinção essencial, qualseja, a diferença entre passividade e atividade.

a) Passividade: é aquele que se deixa governar e arrastar por seus impulsos,inclinações e paixões, pelas circunstâncias, pela boa ou má sorte, pela opinião alheia,pelo medo dos outros, pela vontade de um outro, não exercendo sua própriaconsciência, vontade, liberdade e responsabilidade.

b) Atividade: ativo ou virtuoso é aquele que controla interiormente seus impulsos, suasinclinações e suas paixões, discute consigo mesmo e com os outros o sentido dos

valores e dos fins estabelecidos, indaga se devem e como devem ser respeitados outransgredidos por outros valores e fins superiores aos existentes, avalia suacapacidade para dar a si mesmo regras de conduta, consulta sua razão e sua vontadeantes de agir, tem consideração pelos outros sem subordinar-se nem submeter-secegamente a eles, responde pelo que faz, julga suas próprias intenções e recusa aviolência contra si e contra os outros. Numa palavra, autônomo e, como tal,verdadeiramente livre.

3) Os valores ou fins éticos•

O campo ético é constituído por dois pólos internamente relacionados: o agente ousujeito/pessoa moral e os valores ou as virtudes éticas.• Os valores ou as virtudes éticas são considerados os fins da ação ética ou a finalidade

da vida moral.• Do ponto de vista dos valores, a ética exprime a maneira como uma cultura e uma

sociedade definem para si mesmas o que julgam ser o mal e o vício, a violência e ocrime e, como contrapartida, o que consideram ser o bem e a virtude, a brandura e omérito.

• Independentemente do conteúdo e da forma que cada cultura lhe dá, todas as culturasconsideram virtude algo que é o melhor como sentimento, como conduta e como ação.

• A virtude é a excelência, a realização perfeita de um modo de ser, sentir e agir.•

O vício é o que é de pior como sentimento, como conduta e como ação.• O vício é a baixeza dos sentimentos e das ações.• Por realizar-se como relação intersubjetiva e social, a ética não é alheia ou indiferente

às condições históricas e políticas, econômicas e culturais da ação moral.•  Toda a ética está em relação com o tempo e a história, transformando-se para

responder a exigências novas da sociedade e da cultura, pois somos seres históricos eculturais e nossa ação se desenrola no tempo.

4) Os meios morais• Além do sujeito ou pessoa moral e dos valores ou fins morais, o campo ético é ainda

constituído por um outro elemento: os meios para que o sujeito realize os fins.• Costuma-se dizer que os fins justificam os meios, de modo que, para alcançar um fim

legítimo, todos os meios disponíveis são válidos. No caso da ética, porém, estáafirmativa não é aceitável.

• Exemplo: suponhamos uma sociedade que considere um valor e um fim moral alealdade entre seus membros, baseada na confiança recíproca. Isso significa que amentira, a inveja, a adulação, a má-fé, a crueldade e o medo deverão estar excluídosda vida moral e, por conseguinte, ações que empreguem essas atitudes e essessentimentos como meios para alcançar o fim (no caso, a lealdade) serão imorais.

• No entanto, poderia acontecer que para forçar alguém à lealdade seria preciso fazê-losentir medo da punição pela deslealdade, ou seria preciso mentir-lhe para que nãoperdesse a confiança em certas pessoas e continuasse leal a elas.

• Nesses casos, o fim – lealdade – não justificaria os meios – uso do medo e da mentira?A resposta ética é não. Por quê? Porque esses meios desrespeitam a consciência e a

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liberdade da pessoa moral, que agiria por coação externa e não por reconhecimentointerior e verdadeiro do fim ético.

• No caso da ética, nem todos os meios são justificáveis, mas apenas aqueles que estãode acordo com os fins da própria ação. Ou seja, fins éticos exigem meios éticos.

• A relação entre meios e fins pressupõe a idéia de discernimento, isto é, quesaibamos distinguir entre meios morais e imorais, tas como nossa cultura ou nossasociedade definem.

• Isso significa também que esse discernimento não nasce conosco, mas precisa seradquirido por nós e, portanto, a pessoa moral não existe como um fato dado, mas écriada pela vida intersubjetiva e social, precisando ser educada para os valores moraise para as virtudes de sua sociedade.

• Poderíamos, entretanto, indagar se a educação ética não seria uma violência.• Em primeiro lugar, porque se tal educação visa transformar-nos de passivos (ou

submetidos à força das paixões) em ativos (ou senhores de nossa razão e liberdade),poderíamos perguntar se nossa natureza não seria essencialmente passional e,portanto, se forçar-nos à racionalidade ativa não seria um ato de violência contra anossa natureza espontânea, já que a violência é forçar alguém a sentir e agir demaneira contrária à sua natureza.

• Em segundo lugar, porque se essa educação visa colocar-nos em harmonia e emacordo com os valores de nossa sociedade, poderíamos indagar se isso não nos

submeteria a um poder externo à nossa consciência, o poder da moral social e, nessecaso, em vez de sujeitos autônomos ou livres, seríamos escravos das normas, regras evalores impostos por nossa sociedade.

5) Saber teorético

• Devemos a Sócrates o início da filosofia moral e devemos a Aristóteles a distinçãoentre saber teorético e saber prático.

Saber teorético: também chamado de contemplativo, é o conhecimento de serese fatos que existem e agem independentemente de nós e sem nossa intervençãoou interferência.Isto é, de seres e fatos naturais e divinos.

6) Saber prático (práxis)• Saber prático: é o conhecimento daquilo que só existe como conseqüência de nossa

ação e, portanto, depende de nós.• A ética e a política são um saber prático.• O saber prático pode ser de dois tipos: práxis ou técnica.• Na práxis, o agente, a ação e a finalidade do agir são inseparáveis ou idênticos, pois o

agente, o que ele faz e a finalidade de sua ação são o mesmo.• Por exemplo: dizer a verdade é uma virtude do agente, inseparável de sua fala

verdadeira; não podemos distinguir o falante, a fala e o conteúdo falado.• Na práxis ética somos aquilo que fazemos e o que fazemos é a finalidade boa ou

virtuosa.• Na técnica, o agente, a ação e a finalidade da ação são diferentes e estão separados,

sendo independentes uns dos outros.• Exemplo: um carpinteiro ao fazer uma mesa, realiza uma ação técnica, mas ele próprio

não é essa ação nem é a mesa produzida por ela.• A técnica tem como finalidade a fabricação de alguma coisa que é diferente do agente

(a mesa não é o carpinteiro, diversamente, por exemplo, de uma ação virtuosa, pois

esta é o ser do próprio agente que a realiza).• Enquanto na práxis a ação e sua finalidade são idênticas (a virtude é a finalidade daação virtuosa), na técnica a finalidade do objeto fabricado é diferente da açãofabricadora (a ação técnica de fabricar uma mesa, por exemplo, implica o trabalho

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sobre a madeira com instrumentos apropriados, mas isso nada tem a ver com afinalidade da mesa, uma vez que o fim que ela terá é determinado pelo uso e pelousuário).

• Desta forma, Aristóteles distingue a ética e técnica como práticas que diferem pelomodo de relação do agente com a ação e com a finalidade da ação.

7) Alguns fundamentos éticos de Aristóteles• Aristóteles fez a definição do campo das ações éticas.• As ações éticas são definidas pela virtude, pelo bem e pela obrigação.• Mas também pertencem àquela esfera da realidade na qual cabem a deliberação e

decisão ou escolha.• Quando o curso de uma realidade segue leis necessárias e universais, não há como

nem por que deliberar e escolher, pois as coisas acontecerão necessariamente taiscomo as leis que as regem determinam que devam acontecer.

• Não deliberamos sobre as estações do ano, o movimento dos astros, a forma dosminerais ou dos vegetais. Não deliberamos nem decidimos sobe aquilo que é regidopela natureza, isto é, pela necessidade.

• Mas deliberamos e decidimos sobre tudo aquilo que, para ser e acontecer, depende denossa vontade e de nossa ação.

• Não deliberamos e não decidimos sobre o necessário, pois o necessário é o que é eserá sempre tal como é, independentemente de nós.

• Deliberamos e decidimos sobre o possível, isto é, sobre aquilo que pode ser ou deixarde ser, porque para ser e acontecer depende de nós, de nossa vontade e de nossaação.

• Desta forma, Aristóteles acrescenta à idéia de consciência moral, a idéia de vontadeguiada pela razão como o outro elemento fundamental da vida ética.

• Por isso devemos a Aristóteles uma distinção que será central em todas asformulações ocidentais da ética: a diferença entre o que é POR NATUREZA (ouconforme a physis) e o que é POR VONTADE (ou conforme à liberdade).

• O necessário é por natureza; o possível, por vontade.• Eis porque, desde Aristóteles, afirma-se que a ética se refere às coisas e às ações que

estão em nosso poder.• A importância dada por Aristóteles à vontade racional, à deliberação e à escolha o

levou a considerar, entre todas as virtudes, uma delas como condição de todas asoutras e presente em todas elas: a prudência ou sabedoria prática.

• O prudente é aquele que, em todas as situações, é capaz de julgar e avaliar qual aatitude e qual a ação que melhor realizarão a finalidade ética, ou seja, entre as váriasescolhas possíveis, qual a mais adequada para que o agente seja virtuoso e realize oque é bom para si e para os outros.

•  Tomemos a Ética a Nicômaco, de Aristóteles, nela encontraremos a síntese dasvirtudes que constituíam a excelência e a moralidade gregas durante o tempo daGrécia clássica.

• Nessa obra, Aristóteles distingue vícios e virtudes pelo critério do excesso, da falta demoderação: um vício é um sentimento ou uma conduta excessivos, ou, ao contrário,deficientes;

• Uma virtude, um sentimento ou uma conduta moderados.• Virtude: é uma excelência alcançada pelo caráter, tanto assim que a palavra

grega que a designa é aretê, que quer dizer “excelência”. É a força interiordo caráter que consiste na consciência do nem e na conduta definida pelavontade guiada pela razão, pois cabe a esta última o controle sobre instintose impulsos irracionais descontrolados, que existem na natureza de todo serhumano.

• O sujeito ético não se submete aos acasos da sorte, mas obedece somente à sua

consciência e à sua vontade racional. A busca do bem e da felicidade são a essênciada vida ética.