alan dean foster - alien, o oitavo passageiro

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Alan Dean Foster - ALIEN

Alien, o Oitavo Passageiro

Alan Dean Foster

Crditos da traduo, formatao, pesquisa e disponibilizao: - RTS Romance com Tema Sobrenatural (Orkut)Se for revisar, mantenha os crditos e o link da traduo e disponibilizao.

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Alan Dean Foster - ALIEN

O OITAVO PASSAGEIRO Alan Dean Foster

Ttulo original: Alien Traduo para o espanhol: Juan Jos Utrilla Trejo 1979 by Twentieth Century-Fox Filme Corporation A Jim McQuade... Um bom amigo e companheiro explorador de extremas possibilidades...

ISete sonhadores. Entenda-se que no eram sonhadores profissionais. Os sonhadores profissionais recebem bom pagamento, respeito, so talentos muito bem cotados. Como quase todos ns, estes sete sonhavam sem esforo nem disciplina. Sonhar profissionalmente, de modo que os prprios sonhos possam ser registrados e repetidos para entreter a outros algo muito mais difcil: requer a capacidade de regular os impulsos criadores semiconscientes e de estratificar a imaginao, combinao extraordinariamente difcil de obter. Um sonhador profissional , simultaneamente, o mais organizado de todos os artistas e o mais espontneo. Trama sutil de espectaculacin no direta e torpe como a de voc ou a minha. Ou a destes sete sonhadores. Entre todos, Ripley foi a que chegou mais perto de alcanar esse potencial especial. Tinha certo inato talento para o sonho e mais flexibilidade de imaginao que seus companheiros. Mas carecia de verdadeira imaginao e dessa poderosa maturidade de pensamento caracterstica do pr-sonhador. Ripley era excelente para organizar armazns e carga, para perfurar cartes A em uma cmara de armazenamento B, ou para organizar comboios. Era no armazm da mente onde seu sistema de arquivo se confundia. Esperanas e temores, especulaes e criaes pela metade passavam livremente de um compartimento a outro. A oficial de cdulas Ripley necessitava mais domnio de si mesma. Pensamentos em estado bruto, exuberantes e confusos jaziam esperando ser chamados, apenas sob a superfcie da realizao. Um pouco mais de esforo, uma maior intensidade de autoreconhecimento e Ripley seria uma excelente pr-sonhadora. Ao menos, assim pensava ela ocasionalmente. Em troca, o capito Dallas parecia preguioso e era, por contraste, o mais organizado de todos. E tampouco lhe faltava imaginao. Disso dava prova sua barba. Ningum levava barba nos congeladores. Ningum mais que Dallas. Era parte de sua personalidade, como tinha explicado a mais de um curioso companheiro de vo. E no se separaria do antiquado plo facial como no se separaria de nenhuma outra parte de sua anatomia. Dallas era capito de duas naves: o rebocador interestelar Nostromo, e seu prprio corpo. E ambos permaneceriam intactos no sonho, assim como na viglia. assim, Dallas tinha a capacidade reguladora com um mnimo desejvel de imaginao. Mas um sonhador profissional requer bastante mais que um mnimo e essa uma 2

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deficincia que s pode compensar-se mediante uma quantidade desproporcionada daquela. Dallas no era um prosoador mais realista que Ripley. Kane controlava menos seu pensamento e sua ao que Dallas, e tinha muito menos imaginao. Era um bom funcionrio executivo, mas nunca seria capito. Isso requer certo impulso, unido capacidade de mandar a outros, e Kane no tinha nenhum destes dons. Seus sonhos eram sombras amorfas, translcidas em comparao com as de Dallas, assim como o prprio Kane era como um eco mais tnue, menos vibrante, do capito. Isto no lhe impedia de ser agradvel. Mas pr-sonhar requer certa energia extra, e Kane logo que tinha suficiente para a vida diria. Os sonhos do Parker no eram ofensivos, mas eram menos pastorais que os do Kane. Neles havia pouca imaginao. Eram muito especializados, e estranha vez se relacionavam com seres humanos. No podia esperar-se outra coisa do engenheiro da nave. Seus sonhos eram diretos e de vez em quando desagradveis. Estando acordado, este sedimento profundamente enterrado se mostrava algumas vezes quando o engenheiro estava de mau humor ou irritado. A maior parte do limo e o desprezo que fermentavam no mais fundo da cisterna de sua alma se mantinham bem ocultos. Seus companheiros da nave nunca viam mais frente do Parker destilado que flutuava na superfcie, nunca tinham um espiono do que em suas profundidades fermentava borbulhante. Lambert era mais inspirao de sonhadores que sonhadora em si. No hipersueo, suas inquietas meditaes estavam cheias de conspiraes intersistemticas e fatores de carga que se cancelavam ao tomar nota do combustvel. Ocasionalmente, havia imaginao naquelas estruturas onricas, mas nunca na maneira apropriada para fazer pulsar o corao de outros. Parker e Brett freqentemente imaginavam seus prprios sistemas, mesclando suas tramas com as dela. Ambos consideravam a questo dos fatores de carga e as justaposies espaciais de uma maneira que teria enfurecido ao Lambert se ela o tivesse sabido. guardavam-se para eles tais meditaes no autorizadas, na segurana de seu sonho, diurno e noturno, para no enfurec-la. No teria convencionado perturbar ao Lambert; como navegante do Nostromo, era a principal responsvel por lev-los a todos ss e salvos, e essa era a tarefa mais emocionante e desejvel que qualquer pudesse imaginar. Brett s aparecia como tcnico em engenharia; tal uma curiosa maneira de dizer que era to inteligente e informado como Parker, mas que lhe faltava antigidade. E os dois formavam um casal estranho, pois eram totalmente distintos aos olhos de outros; entretanto, coexistiam e trabalhavam juntos perfeio. Em grande parte, seu triunfo como amigos e colaboradores se devia a que Brett nunca se metia nos terrenos mentais do Parker. O tcnico era to solene e fleumtico em seu aspecto e fala, como Parker volvel e caprichoso. Parker podia falar durante horas a respeito do enguio de um circuito de micronave, amaldioando a seus antepassados at chegar me terra, da que originalmente tinham sado seus constituintes; e Brett comentaria pacientemente: "correto". Para o Brett, essa s palavra era muito mais que uma expresso de seu parecer; era uma expresso de si mesmo, e o silncio era a forma mais poda de comunicao. Na loquacidade estava a demncia. E Ash, por outra parte, que era o oficial de cincias; mas no era isto o que fazia to curiosos seus sonhos. Curiosos, no cmicos. Seus sonhos eram os mais profissionalmente organizados de todos os da tripulao; entre todos era ele quem estava mais perto de alcanar a seu eu acordado. Nos sonhos do Ash no havia absolutamente nenhum engano. 3

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Isso no resultava surpreendente para os que em realidade conheciam o Ash. Entretanto, nenhum de seus seis companheiros de tripulao o conhecia. Ash sim se conhecia bem. De ter sido interrogado, teria podido responder por que nunca poderia chegar a ser um pr-sonhador. Ningum pensou jamais em perguntar-lhe pese ao feito de que o oficial em cincias claramente encontrava o pr-sonho mais fascinante que qualquer deles. Ah! E tambm estava o gato. Seu nome era Jones; era um gato corrente de casa, ou melhor dizendo, gato de nave. Jones era um grande macho amarelado, de pais desconhecidos e hbitos independentes, acostumado aos avatares das viagens da nave e a idiossincrasia de quo humanos viajavam pelo espao. Tambm seu dormir era frio, e sonhava simples sonhos de lugares quentes e escuros e ratos sujeitos gravidade. De todos quo sonhadores havia a bordo, Jones era o nico contente, embora no teria podido chamar-se o inocente. Era uma vergonha que nenhum deles tivesse qualificado como pr-sonhador, pois cada um tinha mais tempo para sonhar no curso de seus trabalhos que uma dzia de profissionais, face ao lento do ritmo de seus sonhos por obra do dormir frio. A necessidade tinha feito que o sonho fosse sua principal vocao. Uma tripulao do espao sideral no pode fazer nos congeladores nada mais que dormir e sonhar. Acaso seguissem sendo para sempre simples aficionados, mas desde fazia tempo eram aficionados competentes. Eram sete. Sete apasibles sonhadores em busca de um pesadelo. Embora tinha uma espcie de conscincia prpria, o Nostromo no sonhava. No o necessitava, assim como no necessitava o efeito de conservao dos congeladores. Se sonhava, tais reflexes sem dvida eram breves e passageiras, j que nunca dormia. Trabalhava e se mantinha, e obtinha que seu complemento humano em hibernao sempre estivesse um passo adiante da morte lhe espreitem que seguia ao dormir frio, como um tubaro cinza segue a um navio no mar. Provas da incessante vigilncia mecnica do Nostromo se achavam em qualquer parte na tranqila nave, nos tnues zumbidos e as luzes que eram como seu flego, a prova de sua sensibilidade instrumental. Aquilo imbua a textura mesma da nave, estendia sensores para revisar cada circuito e cada pea de compresso. Tambm fora havia sensores, apalpando o pulso do cosmos. E aqueles sensores tinham descoberto uma anomalia eletromagntica. Uma parte do crebro do Nostromo era peculiarmente capaz de descobrir o sentido de toda anomalia. E dira que j tinha mastigado esta anomalia. Seu sabor lhe tinha resultado to estranho que tinha examinado os resultados da anlise e chegada a uma concluso. Ativou instrumentos que antes dormiam; circuitos que pouco antes tinham estado em repouso voltaram a regular o fluxo dos eltrones. Para celebrar aquela deciso, bancos inteiros de luzes brilhantes piscaram, sinais de vida de um flego mecnico e inquieto. Soou um "bip-bip" caracterstico, como se at ento s tivesse estado presente um tmpano artificial para ouvir e reconhecer. Era um som que no se ouviu no Nostromo durante algum tempo e isso indicava um acontecimento estranho. dentro desta inquieta garrafa que despertava, onda de sons tnues e de luzes, de aparelhos que conversavam entre si, havia um compartimento especial. E naquela habitao de metal branco havia sete casulos de metal e plstico, cor de neve. Um novo rudo encheu esta cmara, uma exalao explosiva que criou uma atmosfera nova, fresca, respirvel. A humanidade se colocou voluntariamente nesta posio, confiando em pequenos deuses de metal, como o Nostromo, para que lhe dessem flego vital quando no podia obt-lo por si mesmo. 4

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As ramificaes desse ser eletrnico semi-consciente provaram ento o ar recm exsudado e o declararam satisfatrio para sustentar a vida de organismos to frgeis como os dos homens. Brilharam novas luzes, fecharam-se mais circuitos. Sem rudo se abriram as capas das sete larvas e as formas que havia dentro, semelhantes a vermes, comearam a sair, uma vez mais, luz. Vistos fora de seus sonhos, os sete membros da tripulao do Nostromo eram ainda menos impressionantes que no hipersueo. Por uma parte, seus corpos escorriam gotas do lquido conservador do crosueo com que os tinham cheio e lubrificado. Por muito analptico que seja, o limo de qualquer classe no favorece a boa apresentao. Por outra parte, estavam nus e o lquido no era bom substituto dos efeitos dessas peles artificiais chamadas roupas que do elegncia e esbeltez. Diabos! Murmurou Lambert, vendo com repugnncia como caam gotas de seus ombros e flancos. Tenho frio! Saiu ento do fretro conservador da vida, em lugar da morte, e comeou a procurar algo em um compartimento prximo. Valendo-se da toalha que encontrou ali, comeou a tirar-se das pernas aquele xarope transparente. por que diabos no pode Me esquentar a nave antes de nos tirar do depsito? Lambert tinha conseguido ficar de p e tratava de recordar onde tinha deixado suas roupas. Bem sabe por que disse Parker, muito ocupado com seu cansao e com o xarope para pensar sequer em contemplar navegante nua. Poltica da Companhia; conservao de energia que pode entender-se por vil avareza. Para que desperdiar o excesso de energia esquentando a seo congelada at o segundo ltimo possvel? Alm disso, ao sair do hipersueo, sempre faz frio. J sabe que o congelador tambm baixa sua temperatura interna. Sim, sei. De todos os modos, estou geada. Lambert sabia que Parker tinha toda a razo, mas lhe desgostou reconhec-lo. Nunca havia sentido grande simpatia para o engenheiro. "Maldita seja, Me!", pensou vendo-se em seu brao a carne de galinha. "Faamos um pouco de calor" Dallas estava enxugando-se, limpando-se em seco os restos daquele xarope do crosueo e tratando de no contemplar nada que os outros no pudessem ver. Tinha-o notado desde antes de sair do congelamento. Assim estava tudo disposto pela nave. O trabalho nos esquentar rapidamente disse Lambert em voz alta. Todos a seus postos! Suponho que recordam para que lhes paga, alm de dormir para esquecer suas preocupaes. Ningum sorriu nem se incomodou em fazer comentrios. Parker jogou um olhar a seu companheiro quem ainda estava sentado em seu congelador. bom dia. Ainda est conosco, Brett? Sim. Temos sorte disse Ripley, estirando-se e fazendo uns movimentos mais estticos que outros. Me alegra saber que nosso melhor conversador est to enganador como sempre. Brett se limitou a sorrir, sem dizer nada. Brett falava tanto como as mquinas a quem atendia; quer dizer, nada, e aquela era uma brincadeira corrente entre a tripulao. Em momentos como esses riam com ele, no dele. Dallas estava fazendo exerccios calistnicos com os cotovelos paralelos ao cho e as mos unidas frente ao esterno. Pareceu-lhe ouvir trovejar seus msculos portanto tempo em repouso. A deslumbrante luz amarela, to eloqente como qualquer voz, monopolizava seus pensamentos. Aqueles pequenos ciclopes eram o modo que a nave 5

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tinha de lhes dizer que os tinha despertado por algo que no era o fim de sua viagem. Dallas se perguntava por que. Ash se sentou e olhou a seu redor, sem nenhuma expresso. Pela animao que denotava seu rosto, bem teria podido estar ainda no hipersueo. Sinto-me como morto disse, observando ao Kane. O oficial executivo estava bocejando, ainda no completamente acordado. A opinio profissional do Ash era que ao executivo em realidade gostava do hipersueo e que se o permitissem, passaria-se toda sua vida como narcolptico. Ignorante da opinio cientfica do oficial, Parker lhe jogou um olhar e falou em tom agradvel. Parece morto. Estava consciente de que seus prprios rasgos provavelmente no eram os melhores. O hipersueo esgotava a pele, assim como os msculos. Sua ateno se voltou para o atade do Kane. O executivo finalmente estava sentando-se. Me alegro de ter retornado disse piscando. Para o que te demora para despertar, bem podamos ter retornado. Kane pareceu ofendido. Essa uma calnia, Parker! Simplesmente, demoro um pouco mais que vocs, isso tudo. De acordo. O engenheiro no insistiu no ponto; voltou-se para capito que estava absorto estudando algo pelo guich. antes de atracar, possivelmente seja melhor ver a situao dos bnus. Brett mostrou certos sinais de entusiasmo, suas primeiras desde que despertava. Sim. Parker continuou colocando-as botas: Brett e eu acreditam merecer uma parte completa. Bonificao completa por misso cumprida, alm de salrio e interesses. Ao menos sabia que o sonho profundo no tinha prejudicado a seu corpo de engenheiros, pensou Dallas cansadamente. No fazia nem dois minutos que tinham despertado e j estavam queixando. Vocs dois recebero aquilo pelo que lhes contratou. Nem mais nem menos, como todos ns. Todos recebem mais que ns murmurou Brett brandamente. Para ele, aquilo tinha sido todo um discurso. Entretanto, no sortiu nenhum efeito sobre o capito. Dallas no tinha tempo para trivialidades nem jogos de palavras semi srios. Aquela luz te pisquem requeria toda sua ateno e ele coordenou seus pensamentos com excluso de todo o resto. Qualquer merece mais que vocs dois. Queixe, se quiser, ante o pagante da Companhia. Agora, v l abaixo. me queixar ante a Companhia murmurou Parker tristemente, observando ao Brett sair de seu atade e comear a enxug-las pernas. Seria o mesmo que tratar de me queixar diretamente a Deus. o mesmo disse Brett, observando uma dbil luz de servio em seu prprio compartimento congelado. Apenas consciente, nu e gotejando lquido, j estava trabalhando arduamente. Era o tipo de pessoa que podia caminhar durante dias com uma perna rota, mas era incapaz de suportar um desculpado que funcionasse mau. Dallas ps-se a andar para a sala central de computadores e falou por cima de seu ombro: Um de vocs dois, brincalhes, traga para o gato. 6

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Foi Ripley quem levantou uma forma solta e amarelada de um dos congeladores. Sua expresso era de ofendida. No tem que te mostrar to indiferente para ele disse dando tapinhas carinhosos ao animal empapado. No uma pea da equipe. Jones to membro da tripulao como qualquer de ns. E mais que muitos disse Dallas, observando ao Parker e ao Brett j completamente vestidos que se afastavam em direo da sala de engenharia. No vem a me tirar o tempo em meus momentos de viglia a bordo para queixar-se de salrios nem de bonificaes. Ripley se afastou com o gato envolto em uma grosa toalha limpa. Jones ia ronronando irregularmente enquanto se lambia com grande dignidade. No era a primeira vez que o tiravam do hipersueo. No momento, toleraria a ignomnia de ser levado assim. Dallas tinha terminado de secar-se; logo oprimiu um boto que havia ao lado de seu atade. Uma gaveta se projetou silenciosamente para frente, sobre molduras quase a prova de frico. Continha suas roupas e alguns objetos pessoais. Enquanto se vestia, Ash se aproximou sem fazer rudo. O funcionrio de cincias baixou a voz e falou enquanto acabava de ajustar uma camisa limpa. Me quer te falar cochichou, e com a cabea assinalou em direo da luz amarela que piscava continuamente no prximo tabuleiro suspenso. J a vi disse Dallas colocando os braos em sua camisa. amarela viva, questo de segurana, no de advertncia. No diga a outros. Se passar algo grave, j o descobriro muito em breve. deslizou-se dentro de uma jaqueta cor marrom sem engomar e a deixou aberta. No pode ser algo muito grave, seja o que seja disse Ash com esperana e voltou a assinalar para a luz que no deixava de piscar. s amarela, no vermelha. No momento reps Dallas, no to otimista teria preferido um bonito e tranqilizador verde. encolheu-se de ombros e tratou de mostrar-se to otimista como Ash. Possivelmente o autochef esteja fala; isso seria uma bno, se considerarmos o que aqui chamam comida. Tratou de sorrir mas no o obteve. O Nostromo no era humano. No jogava brincadeiras a sua tripulao, e no a teria despertado do hipersueo com uma luz amarela de advertncia se no tivesse tido uma razo perfeitamente vlida. Um autochef de cozinha que funcionasse mal no teria sido uma boa razo. OH, bom! depois de vrios meses de no fazer mais que dormir, no tinha direito a queixar-se se agora se requeriam dele vrias horas de verdadeiro e honrado suor... A sala central de computadores se diferenciava pouco das outras salas de viglia que havia a bordo do Nostromo. Um desconcertante caleidoscopio de luzes e telas, aparelhos e alavancas dava a impresso de um enorme salo de festas habitado por uma dzia de rvores de natal brios. Acomodando-se em uma poltrona redonda confortavelmente almofadada, Dallas pensou como proceder. Ash se sentou em frente do banco mental, manipulando controles com mais velocidade e eficincia do que teria podido esperar-se de um homem que acabava de sair do hipersueo. A habilidade do oficial em cincias no tinha rival na operao de mquinas. Tinha uma harmonia especial que Dallas freqentemente lhe invejava. Ainda enjoado pelos efeitos do hipersueo, perfurou uma pergunta inicial; pautas de distoro pareceram perseguir-se atravs da tela e logo se assentaram at formar palavras reconhecveis. Dallas revisou a redao e a encontrou normal: ALERTA FUNO HIPERMONITOR PARA DESDOBRAMENTO E INVESTIGAO DE MATRIZ. 7

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Tambm a nave o considerou aceitvel e a resposta de Me foi imediata: Hipermonitor se dirige a matriz. Colunas de categorizaciones de informao se alinharam para sua inspeo baixo este letreiro. Dallas examinou a larga lista de finas letras, localizou a seo que procurava e datilografou: ALERTA COMANDO DE PRIORIDADE. FUNO DO HIPERMONITOR LISTA PARA INVESTIGAO, respondeu Me. As mentes de computador no tinham sido programadas para ter grande eloqncia e, Me no era a exceo da regra. Aquilo vinha bem a Dallas. No estava de humor para falar bem. Datilografou, concisamente, QUE ACONTECE, ME?, e aguardou... No poderia dizer-se que a ponte do Nostromo fosse espaoso; antes bem, era um pouco menos claustrofbico que as outras salas e cmaras da nave, mas no muito. Cinco assentos redondos aguardavam seus respectivos ocupantes. As luzes brilhavam pacientemente, acendendo-se e apagando-se em tabuleiros mltiplos, enquanto incontveis telas de diversas formas e tamanhos tambm esperavam a chegada de humanos que estivessem capacitados para lhes pedir o que deviam mostrar. Uma grande ponte teria sido uma frivolidade muito custosa, pois a tripulao passava imvel nos congeladores a maior parte do tempo de vo. Estava desenhado estritamente para o trabalho, no para o descanso nem o entretenimento. E quem trabalhava ali sabiam aquilo to bem como as prprias mquinas. Uma comporta selada se deslizou silenciosamente dentro da parede. Entrou Kane, seguido de perto pelo Ripley, Lambert e Ash. Avanaram at seus stios respectivos e se acomodaram depois dos tabuleiros, com a familiaridade de velhos amigos que se sadam depois de uma larga separao. Uma quinta poltrona permaneceu vazio e seguiria assim at que Dallas retornasse de sua conferncia com Me, o computador do Banco Mental do Nostromo. Aquele mote lhe vinha bem, no o tinham posto em brincadeira. A gente ficava muito sria ao falar das mquinas responsveis por manter a vida. Por sua parte, a mquina aceitava a designao com idntica solenidade, embora no com os mesmos tons emocionais. As roupas de todos eram to soltas como seus corpos, imitaes livres de uniformize de uma tripulao. Cada objeto revelava a personalidade de seu portador. Camisas e slacks, tudo enrugado e desgastado por anos de armazenamento. Assim tambm eram os corpos que envolviam. Os primeiros sons falados na ponte em muitos anos resumiram os sentimentos de todos os ali pressente, mesmo que no pudessem entend-los. Jones estava miando quando Ripley o depositou sobre o escritrio. Trocou logo a um ronrono, e se esfregou voluptuosamente contra seus tornozelos ao penetrar subrepticiamente at o assento de respaldo alto. nos conecte. Kane estava revisando seu prprio tabuleiro, acariciando os controles automticos com o olhar em busca de contrastes e incertezas, enquanto Ripley e Lambert comeavam a manipular os controles necessrios. Houve um estremecimento de excitao visual quando novas luzes e cores percorreram painis e telas. Deram a sensao de que os instrumentos estavam agradados pelo reaparecimento de seus equivalentes orgnicos, e se mostravam ansiosos de provar suas habilidades primeira oportunidade. Nmeros e palavras novas apareceram frente a Kane; ele os relacionou com outros bem recordados, que estavam j fixos em seu crebro. At aqui tudo parece bem; nos dem algo o que olhar. Os dedos do Lambert danaram um arpejo sobre toda uma gama de controles. Telas de viso surgiram, vivas, por toda a ponte, suspensas em sua maioria do teto para facilitar 8

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sua leitura. A navegante examinou os olhos quadrados que se achavam perto de seu assento e imediatamente franziu o cenho. Muito do que viu j o esperava, mas no muito. O mais importante, a forma prevista que devia dominar sua viso, estava ausente. Era to importante que negava a normalidade de todo o resto. Onde est a Terra? Examinando cuidadosamente sua prpria tela, Kane notou uma negrume salpicada de estrelas, e alguma coisa mais. Concedendo a possibilidade de que tivessem sado do hiperespacio muito logo, o sistema de que provinham ao menos deveria estar claro na tela. Mas Sol estava to invisvel como a esperada Terra. Voc a navegante, Lambert. diga-me isso voc. Sim, havia um sol central, fixo nas telas mltiplos, mas no era Sol. No era a cor devida, e uns pontos que giravam em rbita a seu redor eram piores ainda. Eram inadmissveis; de outra forma, outra cor, outro nmero. Esse no nosso sistema observou Ripley sombramente expressando o que era bvio. Possivelmente o mau seja nossa orientao, no a das estrelas disse Kane, embora sua voz no parecia muito convincente, nem sequer para ele. Se soube de naves que saem do hiperespacio em sentido oposto ao de seu destino; aquilo poderia ser Centauri, em grande amplificao, e Sol pode estar detrs de ns. Joguemos uma olhada antes de nos deixar dominar pelo pnico. guardou-se de acrescentar que o sistema visvel na tela se parecia tanto ao do Centauri como ao de Sol. As cmaras seladas na maltratada superfcie do Nostramo comearam a mover-se silenciosamente no vazio do espao, procurando atravs do infinito algum indcio de uma Terra clida. As cmaras secundrias do carregamento do Nostromo, monstruoso conglomerado de grosas formas de metal, contriburam sua prpria linha de viso. Os seres vivos de uma poca anterior se teriam assombrado de saber que o Nostromo estava rebocando uma considervel quantidade de petrleo cru atravs do vazio entre as estrelas, em sua prpria refinaria automtica que nunca deixava de funcionar. Aquele petrleo seria j produtos petroqumicos terminados para quando o Nostromo chegasse a sua rbita ao redor da Terra; tais mtodos eram necessrios. Embora a humanidade tinha criado desde muito tempo atrs maravilhosos e eficazes substitutos para impelir sua civilizao, s o tinha obtido depois de que uns vidos indivduos tinham extrado at a ltima gota de petrleo da esgotada Terra. A fuso e a energia solar movia a todas as mquinas do homem. Mas no podiam substituir aos produtos qumicos. Um motor de fuso no podia produzir plstico, por exemplo. Os mundos modernos antes poderiam existir sem energia que sem plsticos. dali a presena do carregamento do Nostromo, comercialmente lucrativo embora historicamente incongruente, e do ftido lquido negro que processava pacientemente. O nico sistema que as cmaras mostravam era o que se achava limpamente colocado no centro de vrias telas, que tinha um desconcertante colar de planetas circundando uma estrela de cor estranha. Agora no havia duvida no crebro do Kane, e menos ainda no do Lambert, de que o Nostromo tinha tomado esse sistema por seu destino imediato. Entretanto, ainda podia ser um engano de tempo, e no de espao. Sol podia ser o sistema localizado na cercania, a direita ou esquerda daquelas estrelas. Havia uma maneira segura de averigu-lo. Ponha em contato com o controle de trfico disse Kane, mordendo o lbio inferior, se podemos detectar algo ali, saberemos que estamos no quadrante correto; se Sol estiver nos arredores, receberemos uma resposta de uma das estaes de substituio do sistema exterior. 9

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Os dedos do Lambert tocaram diferentes controles. Fala o reboque comercial Nostromo do espao profundo, registro N 180246, um e oito zero, dois e quatro seis, em caminho Terra com carregamento de petrleo cru e refinaria apropriada. Chama o controle de trfico da Antrtida. Podem me ler? Mudana. To somente o tnue e contnuo murmrio de sis distantes replicou pelos alto-falantes. Perto dos ps do Ripley, o gato Jones ronronava em harmonia com as estrelas. Lambert tentou de novo. Reboque comercial Nostromo do espao exterior chama controle de trfico Sol/Antrtida. Temos dificuldades de navegao fixa. Chamada de prioridade; por favor, respondam. Uma vez mais, to somente o nervoso sussurro das estrelas. Lambert pareceu preocupada. Mai day, Mai day. O reboque Nostromo chama controle de trfico de Sol, ou a qualquer nave que nos oua. Mai day, responda. A injustificada chamada de auxlio (Lambert sabia que no estavam em perigo imediato) no recebeu nenhuma resposta. Desalentada, apagou o transmissor, mas deixou o receptor aberto em todos os canais, se por acaso alguma outra nave passava perto dali transmitindo. Sabia que no podamos estar perto de nosso sistema murmurou Ripley. Conheo a zona. Com a cabea assinalou a tela que pendurava em cima de sua prpria estao. Isso no fica perto de Sol, e ns tampouco. Segue tentando lhe ordenou Kane, que logo se voltou para enfrentar-se ao Lambert . Ento, onde estamos? deste uma leitura? me d um minuto quer? No fcil. Estamos muito longe. Segue tentando. No deixo de faz-lo. Vrios minutos de intensa busca e cooperao de computadores produziram um sorriso de satisfao em seu rosto. J o encontrei... e a ns. Estamos quase nos Retculas de Z II. Ainda no chegamos ao anel exterior povoado. muito profundo para aferramos a uma bia de navegao, no digamos a uma substituio de trfico de Sol. Ento, que demnios estamos fazendo aqui? perguntou-se Kane, em voz alta. Se tudo estiver bem na nave e no estamos em casa por que nos descongelou Me? Foi s coincidncia, no resposta direta meditao do executivo, mas uma buzina de "ateno estao" comeou seu sonoro e imperativo "bip, bip..." Perto da proa do Nostromo havia uma vasta cmara, quase cheia de maquinaria complexa e poderosa. Ali vivia o corao da nave, o extenso sistema de propulso que capacitava ao navio a distorcer o espao, a esquecer do tempo e a fazer um palmo de narizes metlicos ao Einstein... E s incidentalmente a mover as mquinas que mantinham com vida a sua frgil tripulao humana. No extremo deste complexo, macio e lhe zumbam, havia um cubculo de cristal como um gro transparente no extremo daquele iceberg de hiperimpulso. No interior, acomodados em assentos redondos, descansavam dois homens. Eram os responsveis pela sade e do bem-estar da tripulao da nave, situao da que ambos estavam contentes. Eles a cuidavam, e ela os cuidava. A maior parte do tempo, a nave sabia cuidar-se de si mesmo, o que lhes permitia dedicar seu tempo a obras mais elevadas e dignas de ateno, como beber cerveja ou contar-se contos sujos. No momento, tocava o turno de divagar ao Parker, que pela centsima vez estava contando o conto do aprendiz de engenheiro no prostbulo barato. Era um bom conto 10

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que nunca deixava de provocar um ou dois sorrisos ao silencioso Brett e uma boa gargalhada ao prprio narrador. ...E assim a madame se lana contra mim, preocupada e furiosa ao mesmo tempo dizia o engenheiro e insiste em que vamos resgatar ao pobre estpido. Suponho que no sabia no que se colocou. Como de costume, riu de boa vontade. Voc recorda o lugar. Quatro paredes, teto e piso perfeitamente refletidos, sem cama. S uma rede de veludo suspensa no teto do quarto para limitar as atividades e evitar te choque contra as paredes. Sacudiu a cabea, como desaprovando sua lembrana. Esse no lugar para que se metam aficionados, claro que no! Suponho que este pobre foi levado ali com enganos por seus companheiros de tripulao; por isso depois me contou a moa, enquanto ela se estava limpando, tudo comeou bem. Mas logo comearam a girar, e lhe entrou o pnico. No conseguiam controlar a nave. Ela tratou, mas se necessitam dois para det-la, assim para comear a queda livre. E com os espelhos confundindo seu sentido da posio e todo o resto, alm da queda, ele no podia deixar de vomitar. Parker tomou outra baforada de cerveja. Nunca tinha visto tal desastre em sua vida natural. Esta a hora em que seguem limpando esses espelhos. Sim disse Brett, sonriendo para mostrar sua aprovao. Parker seguia sentado, tranqilo, deixando que os ltimos vestgios da lembrana se dissipassem em sua memria. Tinham-lhe deixado um resduo gratamente lascivo. Distrado, manipulou um computador sobre seu tabuleiro. Uma aprazvel luz verde apareceu em cima e se manteve acesa. Como est sua luz? Verde admitiu Brett, depois de repetir o procedimento de acender e revisar sua prpria instrumentao. A minha tambm disse Parker estudando as borbulhas da cerveja. Vrias horas depois do hipersueo j estava aborrecido. O salo de mquinas se mantinha a si mesmo com tranqila eficincia, e no perdia tempo antes de lhe fazer sentir que ele sobrava. No havia ningum com quem discutir, exceto Brett, e era difcil armar um debate verdadeiramente interessante com um homem que s pronunciava monosslabos e para quem uma frase completa era uma verdadeira tortura. Sigo acreditando que Dallas est passando por cima deliberadamente nossas queixa se aventurou a dizer. Possivelmente no dele dependa que recebamos a bonificao completa, mas ele o capito. Se o desejasse, poderia passar uma solicitude, ou ao menos uma palavra em nome de ns dois. Isso sim que seria uma ajuda. Estudou ento umas cifras. Os nmeros pareciam partir do signo de menos ao signo de mais, de direita a esquerda. A linha vermelha fluorescente corria para baixo do centro e se deteve precisamente em zero, dividindo limpamente em duas a indicao desejada de neutralidade. Parker teria contnuo suas meditaes alternadas com contos e queixa de no ter sido porque o "bip, bip" comeou sbitamente sua chamada monotonia. Diabos! O que passa agora? No pode um ficar a vontade antes de que algum comece a moer? Exato. Brett se inclinou para frente para ouvir melhor, enquanto o locutor se esclarecia uma garganta longnqua. Era a voz do Ripley: Relatrio central. 11

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No pode ser a comida, no hora disse Parker confuso. Ou estamos com um carregamento desnivelado ou... Jogou um olhar interrogadora a seus companheiros. Logo o averiguaro disse Brett. Conforme avanavam para o controle, Parker observou as paredes no muito antispticamente limpa do corredor "C", com certo desgosto. Eu gostaria de saber por que nunca baixam aqui. Aqui onde se faz o verdadeiro trabalho. Pela mesma razo que temos que participar do seu. Nosso tempo o seu. Assim o vem eles. Bom, direi-te algo: isto empresta. O tom do Parker no deixou dvida de que estava refirindose a outra coisa que ao aroma com que estavam impregnadas as paredes do corredor. II Embora longe de ser confortvel, o comilo era o bastante espaoso para conter a toda a tripulao. Como poucas vezes tomavam seu mantimentos simultaneamente (o sempre funcional autochef fomentava indiretamente o individualismo nos hbitos alimentares) no tinha sido desenhado para acomodar bem a sete pessoas. Tinham que apoiar-se em um e outro p, chocavam e se empurravam tratando de no ficar nervosos uns aos outros. Parker e Brett no estavam de bom humor e no tentaram dissimular sua irritao, seu nico consolo era saber que nada andava mal em engenharia e que fosse o que fosse para o que os tinham despertado, aquela era responsabilidade de outros. Ripley j lhes tinha informado da ausncia desconcertante de seu persumido destino. Parker pensava que logo teriam que voltar para hiper-sonho, processo confuso e incmodo quando menos, e amaldioou entre dentes. Incomodava-lhe tudo o que se interpor entre ele e o cheque de pagamento que o esperava ao fim de cada viagem. Sabemos que no chegamos a Sol, capito disse Kane falando pelos outros, que olhavam espectadores a Dallas. No estamos perto de casa e entretanto consideraram necessrio nos tirar do sonho. hora de que saibamos por que. -o reconheceu Dallas, logo comentou, em tom importante: Como todos vocs sabem, Me est programada para interromper nossa viagem e nos tirar do hipersueo se surgirem certas condies especficas. Logo fez uma pausa para dar maior efeito e acrescentou: surgiram. Tem que ser algo bastante grave disse Lambert, observando ao gato Jones jogar com o indicador de vigilncia. J sabe voc isso. No fcil tirar do hipersueo a toda uma tripulao. Sempre h algum risco. me fale disso murmurou Parker em voz to baixa que s Brett pde ouvi-lo. Dar- gosto a todos saber continuou Dallas que a emergncia pela que nos despertaram no afeta ao Nostromo. Me diz que estamos em perfeita condio. ao redor da mesa se ouviu um par de vozes que, com alvio, diziam "Amm". A emergncia est em outra parte, especificamente no sistema no determinado em que acabamos de ingressar. Precisamente agora estamos nos aproximando do planeta em questo. Jogou um olhar ao Ash, quem assentiu com a cabea. recebemos uma transmisso de outra fonte. Est mutilada e ao parecer Me necessitou certo tempo para decifr-la, mas definitivamente um sinal de socorro. 12

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Bom, isso no tem nenhum sentido disse Lambert que parecia desconcertada. Entre todas as transmisses padro, as chamadas de socorro so as mais diretas e menos complexas. Como pde ter Me o menor problema para decifrar uma? Me supe que isto no uma transmisso padro. um sinal luminoso e acstica que se repete a intervalos de doze segundos. Isso no usual; entretanto, Me acredita que o sinal no de origem humana. Isso provocou certos surpreendidos comentrios em voz baixa. Ao passar o primeiro sobressalto, Dallas seguiu explicando: Me no est segura, e isso o que eu no compreendo. Nunca tinha visto tanta confuso em um computador. Ignorncia sim, mas no confuso. Acaso seja a primeira vez. O importante que est o bastante segura de que uma chamada de socorro para nos tirar do hipersueo. E isso o que? disse Brett, com soberba insolncia. Kane replicou, com um sotaque de irritao: Vamos, homem! J conhece o manual. De acordo com a seo B2 da Companhia das diretivas em trnsito, estamos obrigados a emprestar toda a ajuda e assistncia que possamos em semelhante situao, j seja humano ou no a chamada. Parker, aborrecido, deu um chute mesa. Diabos! Eu no gosto de dizer isso, mas somos um reboque comercial com um grande carregamento difcil de manipular. No somos uma unidade de resgate. Este tipo de trabalho no est em nosso contrato logo, as sombras se dissiparam de seu rosto. Certamente, se esse trabalho significar um dinheiro extra... Mais te vale ler seu contrato disse Ash, to claramente como o computador principal, da que estava orgulhoso ter que investigar toda transmisso sistemtica que indique uma possvel origem inteligente, sob pena de perda completa do pagamento e as primas devidas terminao de uma viagem. No diz uma palavra a respeito de bonificaes por ajudar a algum em perigo. Parker deu outro chute ao escritrio e manteve a boca fechada. Nem ele nem Brett se consideravam do tipo herico. Algo que pudesse obrigar uma nave a trocar de rota em um mundo estranho podia trat-los a eles de maneira igualmente desconsiderada. No tinham nenhuma prova de que aquela chamada desconhecida fosse para eles; mas sendo um realista em um universo cruel, inclinava-se ao pessimismo. Brett simplesmente via aquele retardo em relao com seu cheque. iremos ver que acontece. Isso tudo o que posso dizer resumiu Dallas, olhando-os um aps o outro. Dallas estava farto dos dois. No gostava daquela demora, nem mais nem menos que a eles, e estava to ansioso por chegar a casa e carregar o carregamento como o estavam eles, mas havia momentos em que desafogar o mau humor chegava a ser quase uma desobedincia. Correto disse Brett, sardnicamente. O que o correto? O tcnico de engenharia no era nenhum nscio. A combinao do tom de Dallas com a expresso de seu rosto indicou ao Brett que era o momento de relaxar a tenso. Correto, veremos o que h... Dallas continuou olhando-o e ento acrescentou com um sorriso: Senhor. O capito voltou seus olhos irritados para o Parker, mas este j se amansou. Poderemos aterrissar ali? perguntou ao Ash. Algum o fez. Isso o que quero dizer acrescentou significativamente. "Aterrissar" o trmino apropriado. Implica uma seqncia de acontecimentos felizmente realizados que 13

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resultam no suave posar-se de uma nave sobre uma superfcie dura. Agora nos achamos ante uma chamada de socorro. Isso implica acontecimentos no muito gratos. Primeiro, vejamos o que est passando. Mas faamo-lo tranqilamente, com cuidado. Sobre a ponte havia uma iluminada mesa cartogrfica. Dallas, Kane, Ripley e Ash se achavam em pontos opostos da bssola, enquanto Lambert se achava sentada em seu posto. Ali est disse Dallas, assinalando com o dedo um ponto brilhante da mesa e olhando a seu redor. H algo que quero que ouam todos. Voltaram a sentar-se, enquanto Dallas indicava algo ao Lambert com a cabea. Seus dedos se achavam sobre um interruptor particular. Bom, ouamos. Cuidado com o volume. A navegante soltou o interruptor. Sons atmosfricos encheram a ponte. Cessaram de repente, para ser remplazados por um som que enviou calafrios costas do Kane e a do Ripley. Durou doze segundos e logo foi remplazado pelos sons atmosfricos. Santo Deus! exclamou Kane com expresso tensa. Lambert apagou os magnavoces. Sobre a ponte voltou a imperar um ambiente humano. Que demnios ? disse Ripley, como se acabasse de ver algo morto sobre um prato . No soa como nenhum sinal de socorro que eu conhea. Assim como o chama Me lhes disse Dallas. Cham-lo "estranho" resulta o cmulo da discrio. Possivelmente seja uma voz. Lambert fez uma pausa, considerou as palavras que acabava de proferir; logo lhe pareceram desagradveis suas implicaes e tratou de fazer como se no as houvesse dito. Logo saberemos. J o estudaram? encontrei a seo do planeta. Logo, Lambert se voltou agradecida para seu tabuleiro, contente de poder enfrentar-se com matemtica e no com pensamentos inquietantes. Estamos bastante perto. Me no nos tivesse tirado do hipersueo se no o estivssemos murmurou Ripley. Vem de ascenso em seis minutos vinte segundos; declnio menos 39 graus, dois segundos. mostre-me isso tudo em uma tela. A navegante oprimiu uma srie de botes. Em uma das telas da ponte algo piscou, e logo apareceu ali um ponto brilhante. Albedo alto. Pode aproxim-lo um pouco mais? No. Ter que olh-lo de longe. Isso o que eu vou fazer. Imediatamente, a tela se concentrou, com um zumbido, no ponto de luz revelando uma forma nada espetacular, ligeiramente ovalada, no vazio. Asno! exclamou Dallas, sem malcia. Est seguro de que isso? um sistema lotado. Isso, exatamente; em realidade s um planetoide. Possivelmente uns doze mil quilmetros, no mais. Tem alguma rotao? Sim. Perto de duas horas, se calcularmos as cifras iniciais. Poderei te dizer algo dentro de dez minutos. Isso basta por agora. Qual a gravidade? Lambert estudou diferentes cifra. Ponto oito e seis; deve ser bastante denso.

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No diga ao Parker nem ao Brett implorou Ripley. Pensaro que metal slido que se desprendeu de alguma parte antes de que possamos verificar nossa chamada desconhecida. A observao do Ash foi mais prosaica: pode-se caminhar sobre ela. Todos se dedicaram a estudar o procedimento de orbitacin. O Nostromo se aproximou daquele pequeno mundo arrastando seu vasto carregamento de tanques e equipe de refinaria. Aproximamo-nos do apogeu vital. Marca. Vinte segundos, dezenove, dezoito... Lambert seguiu contando para trs enquanto seus companheiros se ocupavam a seu redor. rodou 92 graus a estribor anunciou Kane, completamente inexpressivo. O reboque e a refinaria giravam fazendo enormes piruetas na imensido do espao. Uma luz apareceu na proa do rebocador, quando se acenderam por uns instantes seus motores secundrios. Identificada rbita equatorial declarou Ash. Por debaixo deles, aquele mundo em miniatura dava voltas despreocupadamente. me d uma leitura de presso EC. Ash examinou controles e falou sem voltar seu rosto a Dallas: Trs ponto quatro e cinco em abertura EM ao quadrado... Perto de cinco psia, senhor. Grita se trocar. Est preocupado porque a administrao de redundncia esteja incapacitando o controle do CMGS quando estivermos ocupados em outra parte? Sim. O controle do CMG se desconecta pelo DAS/DCS. Aumentaremos com o TAC e dirigiremos por meio do ATMDC e computador de interfase. sente-se melhor agora? muito melhor. Ash era um tipo estranho, frio e de uma vez cordial, mas soberanamente competente. Nada lhe perturbava. Dallas se sentiu crdulo com o apoio do oficial de cincias, que aguardava sua deciso. Preparem-se a limpar da plataforma. Manipulou um interruptor e falou com um pequeno microfone: Engenharia, preparem-se a separar. Alinhamento L no porto, e a estribor verde informou Parker, sem nenhum rastro de seu habitual sarcasmo. Verde na separao umbilical espinhal acrescentou Brett. Estamos cruzando o terminador informou Lambert a todos. Entramos no lado da noite. Abaixo, uma linha escura separou as densas nuvens, lhes deixando um reflexo brilhante em um lado e negro como o interior de uma tumba no outro. J vai subindo, j vai subindo. Mantenha-se disse Lambert manobrando interruptores em seqncia. Sustente-se. Quinze segundos... dez... cinco... quatro... trs... dois... um. Fechamento. Separem! ordenou Dallas, cortante. Minsculas nubculas de gs apareceram entre o Nostromo e a densa massa da plataforma com a refinaria. As duas estruturas artificiais, uma pequena e habitada, a outra enorme e deserta, foram separando-se lentamente. Dallas observou tensamente a separao na tela nmero dois. Cordo umbilical separado anunciou Ripley, depois de breve pausa. Precesin corrigida disse Kane, se tornando para trs em seu assento e relaxando um momento. Toda bem e em ordem. obteve-se a separao. Nenhum dano. 15

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Verifica aqui acrescentou Lambert. E tambm aqui disse, aliviada, Ripley. Dallas jogou um olhar a sua navegante. Est segura que a deixamos em rbita fixa? Eu no gostaria que os duas mil e milhes de toneladas cassem e se incendiassem enquanto ns estamos revisando uns aparelhos l abaixo. A atmosfera no o bastante densa para nos dar um escudo protetor. Lambert revisou os nmeros. ficar ali durante um ano pouco mais ou menos, senhor. Muito bem. O dinheiro est a salvo, e tambm nossa pele. lhe faamos descender. Preparem-se para um vo atmosfrico. Cinco seres humanos se trabalharam em excesso ordenadamente, cada um seguro de sua tarefa. O gato Jones se tornou sobre um tabuleiro e estudou as nuvens que se aproximavam. Est caindo disse Lambert, cuja tenso se achava fixa em um aparelho em particular. Cinqenta mil metros; abaixo, abaixo. Quarenta e nove mil, entramos na atmosfera. Dallas observava seus prprios instrumentos, tratou de avaliar e de memorizar as dzias de cifras que trocavam continuamente. Viajar pelo espao profundo era render a comemorao devido aos prprios instrumentos e deixar que Me fizesse o trabalho forte. O vo atmosfrico era algo totalmente distinto. Para variar, era trabalho do piloto e no de uma mquina. Nuvens cinzas e de cor marrom beijaram a parte inferior da nave. Olhe, no parece estar bem l abaixo. "Tpico de Dallas!", pensou Ripley. L abaixo, em um inferno sombrio, outra nave emitia um chamado de auxlio, regular, desumano, terrorfico. Todo aquele mundo no aparecia nas listas, o que significava que teriam que comear desde o comeo, por questes como peculiaridades atmosfricas, terreno e similares. E entretanto, para Dallas, aquilo "no parecia estar bem". Freqentemente ela se perguntou que fazia um homem to competente como seu capito em uma banheira sem nenhuma importncia, como o Nostromo, por todo o cosmos. A resposta, se Ripley tivesse podido ler no crebro de Dallas, a teria surpreso. lhe gostou. Descida vertical computado e realizado. Ligeira correo de curso informou Lambert. Agora estamos em curso, nos aproximando. Vamos diretamente. Reviso. Como vai com a propulso secundria neste clima? at agora vamos bem, senhor. No posso estar seguro at que estejamos baixo aquelas nuvens. Se podemos nos pr debaixo delas. Basta-me disse Dallas, olhando com o cenho franzido certas cifras; logo oprimiu um boto. As cifras trocaram e seu rosto se iluminou. Faa-me saber se crie que vamos perder o. Farei-o. O rebocador tocou algo invisvel, invisvel para o olho, no para os instrumentos. Vibrou uma, trs vezes, logo se acomodou melhor no denso leito de uma nuvem obscura. A facilidade da entrada era todo um tributo percia do Lambert para planejar e de Dallas como piloto. Mas no durou. Dentro do oceano de ar logo se deixaram sentir enormes correntes. Eles comearam a tropear dentro da nave que descendia. Turbulncias murmurou Ripley, lutando com seus prprios controles. nos d luzes de navegao e aterrissagem disse Dallas, tratando de encontrar algum sentido no redemoinho que obscurecia a tela. Possivelmente possamos descobrir algo visualmente. 16

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No h substituto para os instrumentos comentou Ash. No nisto. Tampouco h substituto para a produo mxima. De todos os modos, quero ver. Umas luzes poderosas surgiram debaixo do Nostromo, mas apenas se perfuraram as quebras de onda de nuvens e no lhes deram o claro campo de viso que tanto desejava Dallas, mas sim iluminaram as telas escuras assim como a ponte e a atmosfera. Lambert j no sentiu que estavam atravessando muito tinta. Parker e Brett no podiam ver a coberta de nuvens do exterior, mas sim podiam senti-la. A sala de mquinas se estremeceu, logo se inclinou para o lado oposto e voltou a vibrar bruscamente. Parker amaldioou entre dentes. O que foi isso? Ouviu? Sim respondeu Brett examinando nervosamente umas cifras. A presso desceu na tomada nmero trs. Certamente perdemos uma couraa. Logo oprimiu botes. Sim, a trs se foi. Est entrando p por essa toma. Fecha-a! Fecha-a! O que crie que estou fazendo? O que nos faltava... Assim agora temos uma dose extra de p. Espero que no haja dificuldades murmurou Brett ajustando um controle. Prescindiremos do nmero trs e arrojarei essa matria quando tratarmos de entrar. De todos os modos h danos disse Parker, a quem no gostava de pensar no que a presena de abrasivos aoitados pelo vento poderia fazer ao revestimento. Atravs de que demnios estamos voando? De nuvens ou de rochas? Se no nos estrelarmos, voc arrumado dlares contra centavos a que em algum circuito teremos um incndio eltrico. Sem inteirar-se das maldies que no cessavam de ouvir-se no quarto de engenheiros, os cinco que se achavam na ponte seguiam tratando de fazer que o rebocador se aproximasse intacto fonte dos sinais. Aproximamo-nos do ponto de origem disse Lambert estudando uns controles. Nos aproximamos de 25 quilmetros. Vinte, dez, cinco... Mais lento e dando volta murmurou Dallas inclinado sobre o leme manual. Corrigir o curso em trs graus, quatro minutos direita. Obedeceu as indicaes. Isso. Cinco quilmetros ao centro do crculo giratrio, e manter-se firmes. Est aproximando-se disse Dallas manipulando novamente o leme. Trs quilmetros, dois disse Lambert que parecia um tanto excitada, mesmo que Dallas no podia dizer se era pelo perigo ou pela cercania da fonte de sinais. Virtualmente estamos circunvolndola por acima. Bom trabalho, Lambert. Ripley, como v o terreno? Busca um lugar para aterrissar. Estou trabalhando, senhor. Ripley provou diversos painis; sua expresso de desgosto se fez mais profunda ao encontrar cifras inaceitveis. Dallas continuava assegurando-se de que a nave conservasse seu branco no centro do crculo de vo, enquanto Ripley tratava de descobrir o sentido daquela superfcie no vista. Linha de viso impossvel. J podemos ver isso murmurou Kane ou mas bem, podemos no v-lo. Os estranhos semiatisbos que os instrumentos lhe tinham dado do terreno no lhe tinham posto de muito bom humor. Os dados ocasionais pareciam indicar uma desolao imensa, um mundo deserto e hostil. O radar est revelando rudos disse Ripley, a quem teria agradado que os aparelhos eletrnicos pudessem reagir s imprecaes to bem como a gente. O sonar tambm 17

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produz rudos. Infravermelhos, mas rudos. No se retirem, vou provar os ultravioletas. O espectro est bastante elevado para que no haja interferncia. Um momento depois da apario de uns dados decisivos de algumas linhas, tranqilizadoras por fim, seguiu a sua vez por umas palavras brilhantemente iluminadas e o desenho do computador. Isso. E onde podemos aterrissar? Ripley parecia completamente tranqilizada. Por isso posso saber, onde vocs queiram. Os dados dizem que debaixo de ns tudo plano, totalmente plano. Os pensamentos de Dallas trocaram para vises de lava tersa, de uma crosta fria mas engaosamente magra que logo que ocultava uma destruio total. Sim, mas o que plano? gua, lava, areia? Cheguemos a uma determinao. Kane. Descenderei o bastante para que percamos a maior parte desta interferncia. Se for plano, poderemos nos aproximar bastante sem problemas. Kane manipulou vrios interruptores. Monitor. Ativao de analtico. Seguimos ouvindo muito rudo. Com cuidado, Dallas aproximou o rebocador superfcie. Ainda ouo rudos, mas comea a melhorar. Uma vez mais, Dallas perdeu altura. Lambert observava os aparelhos. Tinha altura mais que suficiente para elevar-se com segurana, mas velocidade que avanavam, aquilo poderia trocar imediatamente se algo andava mal nos motores da nave ou se chegava a aparecer alguma corrente para baixo. E tambm podia reduzir mais a velocidade; com aquele isso tempo significaria uma crtica perda de controle. Espaoso, espaoso... Isso! Dallas estudou os dados e as linhas que lhe dava a tela de imagens da nave. Estava fundindo-se, mas j no. No por muito tempo, segundo os analticos. Em sua major parte basalto com alguma riolita e ocasionais estratos de lava. Agora tudo frio e slido. No h sinais de atividade tectnica. Logo, Dallas utilizou outros instrumentos para sondar mais profundamente os segredos da pele daquele minsculo mundo. No h enguios importantes debaixo de ns na proximidade contiga. Pode ser um bom lugar para aterrissar. Dallas pensou rapidamente. Est segura dessa composio da superfcie? muito velha para que fosse de outro modo disse a oficial executiva um tanto irritada. Conheo o bastante para descobrir dados de idade junto com a composio. Crie que correria o risco de me colocar com todos vocs em um vulco? Muito bem, muito bem. Sinto muito, s estava comprovando. Desde que estive na escola nunca tenho feito uma s aterrissagem sem mapas e sem raios. Estou um pouco nervoso. No o estamos todos? apressou-se a acrescentar Lambert. E se o tentamos? Ningum ops nenhuma objeo. Descendamos. Entrarei em espiral o melhor que possa com este ar e tratarei de que nos aproximemos o mais possvel. Mas voc, Lambert, mantn um sinal de alerta. No quero que vamos dar contra a parte superior dessa nave que est chamando; me avise da distncia se me aproximar muito. Seu tom era intenso dentro do atestado compartimento.

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fizeram-se ajustes, deram-se ordens que foram executadas por fiis servidores eletrnicos. O Nostromo comeou a seguir uma linha espiral sobre a superfcie, lutando contra ventos e contra rajadas de ar negro em cada metro de caminho. Quinze quilmetros e descendendo anunciou Ripley com voz neutra. Vinte... dez... oito... Dallas tocou um controle. Taxa de perda de velocidade. Cinco... trs... dois. Um quilmetro. O mesmo controle foi alterado novamente. cada vez mais lento. Estou ativando os motores de descida. Tudo fechado disse Kane, que trabalhava crdulo ante seus controles. O descida est monitorado por computadores. Um zumbido tenso e cada vez mais alto encheu a ponte quando Me tomou o controle da nave regulando os ltimos metros do descida com maior preciso que nenhum piloto humano. Estamos descendendo sobre esquis disse Kane. Apaguem os motores. Dallas efetuou uma ltima reviso antes de aterrissar e apagou vrios interruptores. Motores apagados. Os aparelhos de elevao esto trabalhando bem. Uma vibrao contnua encheu a ponte. Novecentos metros e estamos caindo disse Ripley observando seu tabuleiro. Oitocentos, setecentos, seiscentos. Seguiu contando a taxa de descida em centenas de metros. antes de muito, estava contando por dezenas. A cinco metros, o reboque vacilou bamboleando-se sobre seus esquis sobre a superfcie aoitada por uma tormenta e envolta pela escurido da noite. Para baixo. Kane j estava em ao para executar o movimento requerido enquanto Dallas dava a ordem. Um zumbido agudo encheu a ponte. Vrias patas grosas de metal, semelhantes s de um imenso escaravelho, saram por debaixo da pana da nave, e comearam a mover-se angustiosamente perto da rocha ainda invisvel debaixo deles. Quatro metros... Ufff! Ripley se deteve. E deste modo o Nostromo quando os escoras de aterrissagem fizeram contato com a muito duro rocha. Uns enormes amortecedores suavizaram o contato. chegamos. Algo pareceu saltar de seu stio. Provavelmente um circuito pequeno ou possivelmente uma descarga assim que compensada, no calculada com suficiente rapidez. Um choque terrorfico percorreu a nave. O metal do casco vibrou arrancando um terrvel gemido metlico a toda a nave. Perdido! Perdido! gritou Kane, quando todas as luzes da ponte se apagaram. Todos os aparelhos pareceram chiar, pedindo ateno, quando o enguio mecnica foi percorrendo os extremos dos nervos mecnicos interdependentes do Nostromo. Quando o shock chegou a engenharia, Parker e Brett se preparavam a desentupir outras duas cervejas. Uma fileira de tubos alinhados no teto fez exploso. Trs painis do cubculo de controle se incendiaram, enquanto uma prxima vlvula de presso se soltava e logo fazia exploso. As luzes se apagaram enquanto Parker e Brett procuravam provas seus raios de mo e Parker tratava de encontrar o boto que controlava o gerador de feedback que dava energia de emergncia e servio direto aos motores. Na ponte reinou uma confuso controlada. Quando cessaram os gritos e as perguntas, foi Lambert a que expressou o pensamento comum. 19

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O gerador secundrio j devia ter entrado em ao disse; logo deu um passo e um de seus joelhos chocou rudamente contra um tabuleiro. por que no entrou em ao? disse Kane, aproximando-se da parede a provas. Os controles de aterrissagem... aqui. Fez correr seus dedos sobre vrias alavancas conhecidas. O perno da ponte de popa... ali. Deveu estar perto... Sua mo se aferrou a uma barra de luz de emergncia e a acendeu. Uma luz mortia revelou vrias silhuetas fantasmales. Com a luz do Kane servindo de guia, Dallas e Lambert localizaram suas prprias barras de luz. Os trs raios se combinaram, dando iluminao suficiente para trabalhar. O que ocorreu? por que no se acendeu o gerador secundrio? E o que causou a fuga? Ripley apalpou o boto de intercomunicao. Sala de mquinas, o que ocorreu? Qual nossa situao? Pssima soou a voz do Parker, atarefada, frentica e preocupada de uma vez. Um zumbido longnquo, como o de asas de um inseto colossal, formou um fundo a suas palavras. As palavras se elevaram e se desvaneceram como se o que falava tivesse dificuldades para manter-se no mbito do microfone de intercomunicao omnidireccional. Maldito p nas mquinas, isso foi o que aconteceu. Entrou quando descendemos. Acredito que no fechamos e abrimos a tempo. Ali h um incndio eltrico. grande foi quo nico Brett acrescentou conversao. A distncia fazia fraco sua voz. Houve uma pausa durante a qual s puderam perceber o sopro dos extinguidores qumicos sobre o magnavoz. Entrada-las se entupiram pde dizer finalmente Brett a seus ansiosos ouvintes. Sobrecalentamiento grave, ardeu toda uma cela. Maldio, tudo est solto aqui...! Dallas olhou ao Ripley. Esses dois parecem bastante atarefados. Algum que me d a resposta crtica. Algo explorou. Quero acreditar que foi s l em seu departamento, mas pde ser pior. No se abriu o casco? Logo aspirou profundamente. De ser assim, onde e de que gravidade? Ripley efetuou uma rpida inspeo dos calibradores de presurizacin de emergncia, logo estudou rapidamente os diagramas de cada cabine antes de sentir confiana para responder com certeza: No vejo nada. Ainda temos toda a presso nos compartimentos. Se houver um buraco, muito pequeno e o automvel-selador j o tampar. Ash estudou seu prprio tabuleiro. Como outros, tinha energia independente para o caso de um enorme enguio como a que estavam sofrendo no momento. O ar em todos os compartimentos no mostra sinais de contaminao da atmosfera anterior. Acredito que ainda temos presso, senhor. a melhor noticia que tive em sessenta segundos. Kane, conta as telas exteriores que ainda tenham energia. O oficial executivo ajustou trs alavancas. Houve uma piscada perceptvel, a viso vaga de tnues forma geolgicas, logo a escurido completa. Nada. Estamos cegos fora, assim como aqui dentro. Teremos que conseguir a energia secundria, ao menos, antes de poder jogar uma olhada aonde estamos. As baterias no bastam nem sequer para imagens mnimas. Os sensores auditivos requeriam menos energia. Levavam a voz deste mundo cabine. Os sons da tempestade e o vento subiram e desceram pelos receptores imveis enchendo a ponte com sons semelhantes aos de dois peixes discutindo sob a gua. Oxal tivssemos chegado com a luz do dia disse Lambert contemplando a escurido. Teramos podido ver sem necessidade de instrumentos. 20

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O que te passa Lambert? perguntou-lhe Kane, pela incomodar. Tem medo escurido? Lambert no sorriu. No me d medo a escurido que conheo, a que me aterra a que no conheo. Especialmente quando est cheia de rudos como essa chamada de auxlio. Logo dedicou toda sua ateno escotilha que estava coberta de p. Sua disposio a expressar os temores mais profundos de todos no melhorou a atmosfera mental dentro da ponte. Muito abarrotada at em seus melhores momentos, tornou-se sufocante na escurido quase total, piorada pelo contnuo silncio de todos. Foi um alvio quando Ripley anunciou: Novamente temos intercomunicao com engenharia. Dallas e os outros a olharam espectadores enquanto ela manipulava o amplificador: voc, Parker? Sim, sou eu. A julgar pelo som, o engenheiro estava muito cansado para falar com sua habitual maneira sarcstica. Como esto ali? perguntou Dallas, cruzando os dedos mentalmente. O que me diz desse incndio? Finalmente o apagamos. Um suspiro de alvio soou como um ventania pelo intercomunicador. Comeou nessa velha linha de lubrificantes que h ao longo das paredes do corredor no nvel C. Por um momento acreditei que nos tnhamos queimado os pulmes. Entretanto, o combustvel era mais magro do que eu acreditava e se consumiu antes de acabar com nosso ar. Os limpadores parecem estar tirando bem o carvo. Dallas se passou a lngua pelos lbios. Que danos h? No se preocupe pelas coisas superficiais. O nico que me preocupa o funcionamento de eficincia e a dificuldade de desempenho. Vejamos... h quatro painis totalmente inutilizados. Dallas pde imaginar ao engenheiro contando as coisas com os dedos antes de informar. A unidade de carga secundria est danificada; ao menos trs celas do mdulo doze desapareceram. Deixou que esse pensamento fora bem captado, e logo acrescentou: Tambm querem saber das coisas pequenas? me dem uma hora e terei uma lista. te esquea disso. No te retire nem um segundo. voltou-se ento para o Ripley: Volta a tentar com as telas. Assim o fez Ripley, sem xito. Permaneceram to s cegas como a mente do contador da Companhia. Teremos que prescindir disso um tempo mais disse Dallas ao Ripley. Est seguro de que isso tudo? respondeu ela ante o microfone. Ripley descobriu que estava sentindo lstima para o Parker e Brett por primeira vez desde que tinham entrado em tomar parte da tripulao. Ou desde que tinha entrado ela, j que Parker tinha entrado antes, como membro complementar do Nostromo. at agora sim. Dallas tossiu ante o microfone. Estamos tratando de recuperar toda a energia da nave. O mdulo doze, ao fundir-se, danificou tudo o daqui atrs. Informaremo-lhes da energia quando soubermos tudo o que consumiu o fogo. O que tem que as reparaes? Podem arrumar-lhe sozinhos?

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Mentalmente, Dallas estava repassando os breves informe do engenheiro. Tinham que reparar os danos iniciais, mas o problema da cela requeria tempo. No queria pensar no que houvesse mal no mdulo doze. No o podemos arrumar tudo aqui atrs, seja o que seja replicou Parker. No disse que pudessem. No espero isso. O que podem fazer? Precisamos reparar um par destes ductos e realinear as tomadas danificadas. Devemos trabalhar nos danos realmente graves. No podemos colocar bem esses ductos sem levar a nave a um dique seco. Faremos o que possamos, com nossos recursos. De acordo. Que mais? J lhe disse isso. O mdulo doze. Direi-lhe isso de uma vez, perdemos uma cela principal. Como? Pelo p? Em parte, sim. Parker fez uma pauta enquanto intercambiava palavras inaudveis com o Brett e logo voltou a enfrentar-se ao microfone: Alguns fragmentos se aglutinaram dentro das tomadas, solidificaram-se e causaram um sobrecalentamiento que causou o fogo. J sabe quo sensveis so estas coisas. Passou diretamente atravs da blindagem e acendeu todo o sistema. H algo que possa fazer? perguntou Dallas. De algum jeito terei que reparar o sistema. No podiam substitui-lo. Acredito que sim. E Brett acredita que sim. Temos que limpar tudo e voltar a criar um vazio e logo veremos se se sustenta. Se permanecer tenso depois de limp-lo, tudo ir bem; se no, podemos tratar de fazer um emplastro de metal. Se resultar que h uma greta com o passar do ducto, ento... Sua voz se desvaneceu. No falemos ainda dos problemas ltimos sugeriu Dallas. nos Dediquemos aos imediatos e esperemos que no haja mais. Por ns, est bem. Correto acrescentou Brett, e sua voz soou como se estivesse trabalhando esquerda do engenheiro. A ponte, corte. Engenharia, corte. Mantenham quente o caf. Ripley desconectou a intercomunicao e olhou espectador a Dallas que estava sentado, pensando, imvel. Quanto demoraremos antes de funcionar, Ripley? Suponhamos que Parker tem razo a respeito dos danos e que ele e Brett podem fazer as reparaes. Ripley estudou os dados e pensou durante um momento. Se eles puderem realinear esses ductos e fixar o mdulo doze at o ponto em que suporte sua parte da carga de energia, calculo que entre quinze e vinte horas. No est mau. Suponhamos dezoito disse Dallas sem sorrir, mas sentia j renascer sua esperana. E o que me diz dos auxiliares? Mais valer que estejam preparados quando recuperarmos a energia. Estou trabalhando nisso disse Lambert fazendo adaptaes nos instrumentos ocultos. Quando tiverem terminado em engenharia, estaremos preparados. Dez minutos depois, um minsculo alto-falante na estao do Kane deixou escapar uma srie de agudos "bips". Kane estudou um aparelho e logo acendeu a comunicao: Ponte, fala Kane. Com voz esgotada mas sem poder ocultar sua satisfao, Parker falou do outro extremo da nave:

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No sei quanto tempo poder sustentar-se. Algumas das fundies que fizemos so bastante speras. Se tudo funcionar como dbito, voltaremos a faz-lo com mais cuidado e faremos permanentes os selos. Agora, j devem ter energia vocs. O executivo oprimiu um boto; as luzes voltaram para ponte e certos instrumentos dependentes piscaram e logo ficaram acesos; houve murmrios e sons dispersos de aprovao de outros. Outra vez temos energia e luz informou Kane. Bom trabalho, vocs dois. Todo nosso trabalho bom replicou Parker. Muito bem. Brett devia estar falando junto ao microfone de intercomunicao, junto aos motores, a julgar pelo zumbido contnuo que formava um elegante contraponto com sua habitual resposta monosilbica. No se entusiasmem muito dizia Parker. Os novos elos devem manter-se, mas no fao promessas. Simplesmente, aqui unimos coisas. Algo novo por l? Kane meneou a cabea e se recordou a si mesmo que Parker no podia ver o gesto. Absolutamente nada. Logo deu uma olhada pela escotilha mais prxima. As luzes da ponte arrojavam seu plido reflexo sobre um quadro de terreno deserto, sem nenhum rasgo notvel; ocasionalmente, a tormenta que aoitava aquela paragem lanava algum fragmento de areia ou de rocha que passava frente escotilha e podia ver-se um breve raio produzido por reflexos. Mas isso era tudo. To somente rocha. No se pode ver muito longe. Por isso vejo, poderamos estar a cinco metros do osis local. Segue sonhando gritou Parker ao Brett e logo acrescentou em tom objetivo: Mantenham-se em contato. Se houver algum problema, faam-nos saber. J lhe enviaremos uma postal disse Kane, e cortou a comunicao. III Teria sido melhor para a paz mental de todos eles deixar que a emergncia continuasse. Novamente com luzes e energia e sem nada que fazer salvo olh-las caras, as cinco pessoas da ponte ficaram cada vez mais inquietas. No havia espao para estender-se e relaxar-se. Um s corredor teria ocupado todo lugar da ponte. assim, ficaram em seus postos bebendo quantidades excessivas de caf servido pelo autochef e tratando de pensar em algo que evitasse a seu ativos crebros concentrar-se na desagradvel situao. Quanto ao que havia fora da nave, possivelmente ali perto, preferiam no fazer especulaes em voz alta. De todos eles, s Ash parecia relativamente contente. Sua nica preocupao momentnea era o estado mental de seus companheiros. No havia verdadeiras instalaes recreativas na nave. O Nostromo era um rebocador, uma nave de trabalho, no de prazer. Quando no estava desempenhando as tarefas necessrias, sua tripulao devia passar seu tempo livre na confortvel matriz do hipersueo. Era natural que um tempo livre, de viglia, pusesse-os nervosos at nas melhores circunstncias, e as circunstncias do momento no eram precisamente as melhores. Ash podia expor uma e outra vez problemas tericos aos computadores sem aborrecer-se nunca. Para ele, o tempo de viglia era estimulante. Alguma resposta a nossas chamadas? perguntou Dallas inclinando-se em sua cadeira para ver de perto ao oficial em cincias. provei todo tipo de respostas do manual, alm da associao livre. Tambm fiz que Me provasse um enfoque codificado estritamente mecanlogo disse Ash sacudindo a cabea, decepcionado. Nada, alm daquele chamado de emergncia, repetido a intervalos, todos outros canais esto em branco, salvo um contnuo telerrumor em 0.3-3. 23

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Me diz que essa a descarga caracterstica da estrela central deste mundo. H por aqui algum ou algo vivo, mas no sabe fazer nada mais que pedir auxlio. Dallas fez um rudo vulgar. Bom, j temos a energia de volta. Vejamos onde estamos. Ripley acendeu um interruptor. Pela escotilha pde ver-se uma cadeia de luzes poderosas, como prolas brilhantes no flanco escuro do Nostromo. Agora eram mais evidentes o p e o vento que s vezes formava pequenos redemoinhos no ar e outras soprava em linha reta e com fora considervel atravs de sua linha de viso. Rochas isoladas, escarpamientos e gargantas eram os nicos rasgos daquela paisagem desolada. No havia sinais de nada vivente nem um manchn de lquen, um arbusto, nada. S vento e p girando em uma noite estranha. No foi um osis disse Kane para si mesmo. Tudo era hirto, montono, inspito. Dallas se levantou, avanou para uma escotilha e contemplou a tormenta que continuava; viu passar ante o cristal fragmentos de rocha. perguntou-se se alguma vez a atmosfera estaria tranqila naquele pequeno mundo. Por isso sabia das condies locais, o Nostromo igualmente teria podido posar-se em metade de um tranqilo dia do vero, mas no era provvel. Aquele globo no era o bastante grande para produzir um clima realmente violento como, por exemplo, o do Jpiter. Consolou-o um pouco pensar que o tempo, l fora, provavelmente no podia ser muito pior. Avaliz-los do clima local eram o principal tema da conversao. No podemos ir a nenhuma parte nisto disse Kane, assinalando a nave ao menos, no na escurido. Ash desviou o olhar do tabuleiro. No se tinha movido, evidentemente estava to tranqilo fsica como mentalmente. Kane no podia compreender como o fazia o oficial de cincias. Se ele no tivesse abandonado seu posto de vez em quando para passear-se um pouco, agora j estaria louco. Ash levantou o olhar e lhe ofereceu uma informao til: Me diz que o sol local sair dentro de vinte minutos; onde vamos, j no ser na escurido. Isso j algo reconheceu Dallas aferrando-se a aquela nova esperana. Se os que pediram auxlio j no podem ou no querem chamar mais, de todos os modos teremos que ir busc-los ou para busc-lo, se o sinal foi produzida por um raio automtico. A que distncia estamos da fonte da transmisso? Ash estudou seus dados e ativou, para sua confirmao, um planador automtico. A perto de trs mil metros, em sua maioria de terreno plano, por isso dizem os exploradores; pouco mais ou menos, ao nordeste de nossa posio atual. A composio do terreno? Parece ser quo mesma determinamos ao descender. Agora estamos posados sobre algo duro. Basalto slido com variantes menores, mesmo que no descartemos a possibilidade de encontrar algumas bolsas amigdaloidades aqui e l. Ento, tomaremos cuidado ao avanar. Kane comparava mentalmente a distncia com o tempo. Ao menos est o bastante perto para poder ir andando. Sim disse Lambert, ao parecer agradada. No me agradaria nada ter que mover a nave. Um descida direto da rbita mais fcil que uma mudana de superfcie a superfcie com este tempo. Muito bem. Agora sabemos que teremos que caminhar. Vejamos atravs do que ter que avanar. Ash, nos d uma anlise atmosfrica preliminar.

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O oficial de cincias oprimiu uns botes. Uma pequena escotilha se abriu na pele do Nostromo. Um pequeno frasco de metal surgiu ao vento durante um minuto, absorveu uma poro do ar daquele mundo e voltou a afundar-se na nave. Essa amostra foi projetada a uma cmara ao vazio. Avanzadsimos instrumentos procederam a esmiu-la. Em muito pouco tempo, aquelas peas de ar apareceram em forma de nmeros e smbolos no tabuleiro do Ash. Ash os estudou brevemente, pediu um dobro anlise de um deles e logo informou a seus companheiros: quase uma mescla primitiva. Muito nitrognio inerte, algum oxignio, alta concentrao de bixido de carbono livre, h metano e amoniaco, parte deste ltimo em estado de congelamento. Ali fora faz frio. Agora estou trabalhando sobre os elementos, mas no espero nenhuma surpresa. Tudo parece bastante normal, mas irrespirvel. Presso? Desde dez quarta de dina por centmetro quadrado. No nos sustentar, a menos que o vento realmente nos levante. Que contedo de umidade? quis saber Kane, e de sua mente desapareceram as imagens de um suposto osis terrestre. Noventa e oito dobro P. Possivelmente no cheire bem, mas mido. Muito vapor de gua. uma mescla estranha. Nunca pensei encontrar tanto vapor coexistindo com o metano. OH, bom! No recomendaria beber de nenhuma fonte, se que existem. Provavelmente no h gua. H algo mais que devamos saber? perguntou Dallas. S que h uma superfcie de basalto, com muita lava endurecida. E ar frio muito por debaixo da linha lhes informou Ash. Necessitaremos roupas para nos enfrentar a essa temperatura. Embora o ar seja respirvel, no provvel que haja nada vivo ali. Dallas pareceu resignado: Suponho que resulta irrazonable esperar algo mais. Quero acreditar que h umas fontes eternas. J h uma atmosfera que faz que a viso seja m. Teria preferido que houvesse ar; enfim, ns no desenhamos estas rochas. Nunca se sabe disse Kane filosofando de novo. Possivelmente essa seja a idia que algum tenha de um paraso. No tem nenhum objeto amaldioar lhes aconselhou Lambert. Teria podido ser muito pior. Logo estudou a tormenta de fora. Tudo ia iluminando-se conforme se aproximava o amanhecer. Certamente, prefiro isto a tratar de aterrissar em algum gigante gasoso, onde teramos tido ventos de trezentos quilmetros por hora em perodos de calma, e dez a vinte gravidades s que fazer frente. Pelo menos, poderemos nos passear sem suporte de gerador e estabilizadores. No sabem o bem que nos foi. curioso, mas no me sinto muito bem replicou Ripley. Preferiria estar no hipersueo. Algo passou junto a seus tornozelos e ela se agachou para acariciar o lombo do Jones. O gato ronronou agradecido. Kane disse animado: Osis ou no, eu me ofereo a sair primeiro. Quero ter oportunidade de ver de perto ao da chamada misteriosa. Nunca se sabe o que se pode encontrar. Jias e dinheiro? disse Dallas, sem poder conter um sorriso; Kane era um notvel sonhador. O se encolheu de ombros. por que no? Bom, j te ouvi. Muito bem. 25

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Ficou aceito que Dallas seria membro da pequena expedio. Deu uma olhada ao redor da ponte em busca de um candidato que completasse o grupo: Vem voc tambm, Lambert? Lambert no pareceu muito contente. Bom. Mas por que eu? por que no voc? nosso especialista em orientao. Vejamos que tal o faz sem seus instrumentos. Ps-se a andar pelo corredor e logo se deteve e disse em tom objetivo: Ah! Algo mais. Certamente nos encontraremos ante um cadver abandonado e um raio de repetio, ou pelo contrrio nestes momentos j teramos ouvido alguns sobreviventes. Mas ainda no podemos estar seguros do que veremos. Este mundo no parece pulular de vida, hostil ou no, mas no correremos riscos desnecessrios. Tiremos algumas arma. Logo vacilou quando Ripley se apressou para reunir-se a eles. Trs o mximo que podem sair da nave, Ripley. Voc ter que aguardar turno. No ia sair lhe disse Ripley. Eu gosto de estar aqui. Simplesmente, fiz j tudo o que pude. Parker e Brett vo necessitar ajuda com o trabalho delicado ao tratar de arrumar esses duelos. L no quarto de mquinas, fazia muito calor face aos melhores esforos da unidade de esfriamento do rebocador. O problema se devia quantidade de fundies que Parker e Brett tinham que fazer e ao minsculo espao em que tinham que trabalhar. O ar perto dos termostatos seguiria comparativamente frio, enquanto que ao redor da prpria fundio todo se esquentaria rapidamente. O fundidor laser no era problema. Gerava um raio relativamente frio. Mas onde o metal se fundia para formar um selo novo, gerava calor, como um derivado. Ambos trabalhavam sem camisa e o suor corria por seus torsos nus. por ali perto, Ripley se apoiou contra uma parede e se valeu de uma ferramenta peculiar para tirar um painel protetor. Complexos adicionados de arames de cor e minsculas formas geomtricas ficaram expostos luz. Duas pequenas sees se carbonizaram. Com outra ferramenta. Ripley tirou os componentes danificados e procurou na capa que levava sob um ombro as substituies adequadas. No momento em que colocava o primeiro deles em seu lugar, Parker fechou o raio laser. Logo, com olho crtico, examinou a fuso. Atrevo-me a dizer que no est mau. Logo se voltou para examinar ao Ripley. O suor fazia que a tnica lhe pegasse ao busto. N! Ripley, tenho uma pergunta para ti. Ela no levantou o olhar de seu trabalho. Um segundo mdulo novo entrou em seu lugar, com um estalo, junto ao primeiro, como um dente que se coloca em sua cavidade. Sim? Estou escutando. Temos que ir com a expedio ou ficaremos aqui at que todo passe? J arrumamos a energia. O resto destas coisas e indicou com um amplo gesto o desordenado quarto de mquinas de cosmticos. Nada que no possa esperar uns quantos dias. Os dois conhecem as respostas disse Ripley voltando a se sentar e esfregando-as mos enquanto os olhava. O capito escolheu a um par, e ali fica tudo. Ningum mais poder sair at que voltem a informar. Trs fora, quatro dentro. Essa a regra. Logo se deteve o pensar sbitamente em algo e os olhou intencionadamente: No est pensando nisso verdade? O que se preocupa o que possam encontrar. Ou todos lhe julgamos mau e realmente um buscador de conhecimentos, um verdadeiro devoto dedicado a fazer retroceder as fronteiras do universo conhecido. Diabos, no! disse Parker que no parecia ofendido no mais mnimo pelo sarcasmo do Ripley. Estou verdadeiramente dedicado a fazer retroceder as fronteiras de minha 26

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conta bancria. assim... O que me diz de uma repartio em caso de que encontrassem algo valioso? Ripley parecia aborrecida. No se preocupe. Os dois recebero o que lhes corresponda. Logo comeou a procurar na sacola de ferramentas certo mdulo em estado slido, para encher a ltima seo machucada na parede da nave. No trabalho mais anunciou Brett sbitamente at que nos garantam partes iguais. Ripley encontrou a pea que procurava para coloc-la na parede. A cada um de vocs seu contrato lhes garante que recebero uma parte de tudo o que encontremos. Ambos sabem. Agora, deixem-se disso e voltem a trabalhar. Logo se deu volta e comeou a assegurar-se de que os mdulos recm assegurados funcionassem bem. Parker a olhou duramente e abriu a boca para dizer algo, mas o pensou melhor. Ela era a encarregada das garantias. Tornar-lhe em contra no serviria de nada. O tinha exposto seu argumento sem xito. Mais valia deixar as coisas ali, por muita raiva que sentisse. Sabia proceder lgicamente quando a situao o exigia. Com violncia acendeu o raio laser e comeou a selar outra seo do ducto quebrado. Brett, encarregado da energia da fundio, disse sem dirigir-se a ningum em particular: Correto. Dallas, Kane e Lambert avanaram por um estreito corredor. Agora levavam botas, jaquetas e luvas, alm de suas calas isolantes de trabalho. Levavam pistolas laser, verses em miniatura do fundidor que estavam usando Parker e Brett. detiveram-se ante uma macia porta, marcada com smbolos e palavras: CMARA DE PRESSO: SOLO PESSOAL AUTORIZADO. A Dallas sempre resultava divertidamente redundante a advertncia, pois a bordo da nave no podia haver mais que pessoal autorizado, e qualquer autorizado para estar a bordo podia penetrar na cmara de presso. Kane tocou um interruptor. Surgiu da parede um escudo protetor e revelou trs botes ocultos debaixo. Oprimiu-os em sucesso. Houve um chiado e a porta se apartou. Todos entraram. Sete trajes ao alto vazio se achavam dispostos nas paredes. Eram volumosos, incmodos e absolutamente necessrios para aquele passeio se os clculos do Ash a respeito do que podia haver no exterior eram sequer aproximados. ajudaram-se uns aos outros a entrar naquelas peles artificiais e revisaram as funes uns de outros. Logo, chegou o momento de fic-los cascos; isto se fez com a devida solenidade e cuidado; cada um, a sua vez, assegurou-se de que tanto ele como seu vestido estivessem hermeticamente colocados. Dallas revisou o casco do Kane, Kane revisou o do Lambert e ela o fez com o do capito. Levaram a aquele cabo jogo com a maior seriedade; os viajantes do espao pareciam trs smios que se imitassem uns aos outros, por ltimo se acomodaram os reguladores automticos. Logo os trs estiveram respirando o ar inerte, mas saudvel, de suas respectivos tanques. Com uma mo enluvada, Dallas ativou o comunicador interno do casco: Estou transmitindo. Ouvem-me? Estamos recebendo anunciou Kane, e logo fez uma pauta para adaptar a energia de seu prprio microfone. Me ouve? Dallas assentiu com a cabea e se dirigiu para o Lambert que ainda no tinha falado. Estou recebendo disse, sem tratar de ocultar seu descontente. No se tinha reconciliado formando parte da expedio. 27

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Vamos, Lambert disse Dallas, tratando de Te anim-la escolhi por suas habilidades, no por seu alegre carter. Obrigado pelo completo disse ela secamente. por que no pde escolher ao Ash ou ao Parker? Provavelmente lhes teria encantado ir. Ash tem que permanecer a bordo; j sabe. Parker tem quehacer no quarto de mquinas e no poderia orientar-se sem instrumentos em uma bolsa de papel. No me importa se amaldioar a cada passo que d. Simplesmente te assegure que encontremos a fonte desse maldito sinal. Sim, divertidsimo. Muito bem, nisso ficamos, ento. Manten longe das armas a menos que te diga o contrrio. Esperas encontrar tipos amistosos? perguntou Kane, duvidando. Esperamos o melhor, antes que o pior disse Dallas, e logo tocando-os controles externos do traje, abriu outro canal. Ash est a? Foi Ripley a que respondeu: Vai caminho cmara de cincias. lhe d um par de minutos. Com cuidado disse Dallas voltando-se para o Kane. Fecha a escotilha interna. O executivo tocou os controles necessrios e a porta se deslizou atrs deles, at ficar fechada. Agora, abre a exterior. Kane repetiu o procedimento que lhes tinha dado entrada eclusa. depois de oprimir o ltimo boto, permaneceu de p junto com os outros e esperou. Inconscientemente, Lambert oprimiu seu traje contra a porta interna da cmara, em reao instintiva a quo desconhecido podia haver fora. A escotilha exterior se deslizou at ficar aberta. Nuvens de p e de vapor apareceram girando ante os trs seres humanos. A luz da preaurora era da cor de uma laranja queimada. No era a jovial e reconfortante cor amarela do sol, mas Dallas tinha esperanas de que aquilo melhorasse quando o sol seguisse subindo. Dava-lhes luz suficiente para ver, embora no havia grande coisa que ver naquele ar denso e cheio de partculas. Saram plataforma de um elevador que corria entre pernas de pau de suporte. Kane tocou outro interruptor. A plataforma descendeu, e uns sensores colocados em seu interior indicaram onde estava o cho. Computou a distncia, e se deteve quando sua base parecia beijar o ponto mais alto de uma pedra negra. Encabeados por Dallas, mais por hbito que por um procedimento formal, avanaram cuidadosamente at chegar prpria superfcie. A lava era dura sob suas botas. Ventos com fora impetuosa os aoitavam enquanto observavam o panorama varrido pelo vento. No momento no puderam ver nada mais que o que acontecia suas botas, formando parte de uma neblina cor alaranjada e marrom. "Que lugar to deprimente!", pensou Lambert. No era precisamente aterrador, embora a incapacidade de ver longe sim resultava desconcertante. Fez-lhe pensar em um mergulho de cabea noturno em guas infestadas de tubares. Nunca se sabia o que podia lhe sair a um de entre as trevas. Possivelmente estava prejulgando, mas no lhe pareceu. Em toda aquela terra no havia nem uma s cor viva. Nem um azul, nem um verde; to somente uma contnua mescla de amarelo, alaranjado e marrons e cinzas cansados. Nada para animar o olho mental que, a sua vez, pode tranqilizar os prprios pensamentos. A atmosfera era da cor cinza de um experimento fracassado, o terreno do das excrecencias compactas de uma nave. Sentiu lstima de tudo o que pudesse viver ali. face falta de provas em algum sentido, tinha a sensao de que nada vivia por ento naquele mundo. 28

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Possivelmente no tivesse razo. Possivelmente aquele fosse o conceito do paraso que pudesse ter alguma criatura desconhecida. Se tal resultava o caso, pensou que no gostaria de muito a companhia de semelhante criatura. Em que direo vamos? O que? A neblina e as nuvens se mesclaram com seus pensamentos, mas conseguiu desfazer-se deles. Por onde tomamos, Lambert? disse Dallas, contemplando-a fixamente. Estou bem. Pensava muito. Em sua mente tinha visualizado seu posto a bordo do Nostromo. Aquele assento com seus instrumentos de navegao, to sufocante e limitado em condies normais, e agora lhe parecia um pedao do paraso. Verificou uma linha que havia na tela de um pequeno aparelho que tinha sujeito a sua cintura. por ali. Nessa direo disse, assinalando. Seguimo-lhe disse Dallas colocando-se detrs dela. Seguida pelo capito e pelo Kane, ps-se a andar em metade da tormenta. Assim que abandonaram a massa protetora do Nostromo, a tormenta os rodeou por todos lados. Ela se deteve, molesta, e manipulou os instrumentos de seu traje. Agora no posso ver nada. A voz do Ash soou, inesperadamente, em seu casco. Acende o buscador. Est sintonizado com a chamada de auxlio. te deixe guiar, e no interfira. Eu j o tenho feito. J est aceso e sintonizado respondeu ela com violncia. Crie que no conheo meu trabalho? No quis ofender respondeu o cientista. Ela grunhiu e ps-se a andar entre a neblina. Dallas falou dirigindo-se ao microfone de seu casco: O rastreador est trabalhando bem. Seguro que nos ouve bem, Ash? dentro da cmara de cincia da parte baixa da nave, Ash desviou seu olhar das figuras obscurecidas pelo p que se afastavam lentamente e contemplou o tabuleiro brilhantemente iluminado que tinha em frente. Na tela apareciam claras e ntidas as imagens estilizadas. Tocou um controle e houve um ligeiro rudo quando a cadeira correu ligeiramente sobre seus trilhos, alinhando-se precisamente com a tela iluminada. Vejo-te claramente na borbulha. Leo claramente, e os sons so altos. Boa imagem na tela daqui. No acredito te perder. A nvoa no o bastante espessa, e no parece haver muita interferncia aqui na superfcie. O sinal de auxlio est em uma freqncia distinta, por isso no h perigo de interferncia. Parece-me bem disse a voz de Dallas, deformada pelo microfone. Estamos recebendo claramente. Ter que assegurar-se de manter aberto o canal. No queremos nos perder aqui. Verificarei. Se for necessrio darei instrues a todos a cada passo. No se preocupem, enquanto no passe nada. Bom, Dallas fora. Dallas deixou aberto o canal da nave e viu que Lambert o observava do visor de seu traje. Estamos perdendo o tempo. Ter que mover-se. Lambert se deu volta sem dizer uma palavra, sua ateno voltou a concentrar-se no rastreador, e ps-se a andar pelo limo frouxo. A gravidade ligeiramente inferior eliminava o peso dos trajes e os tanques mesmo que todos seguiam perguntando-se pela composio de um mundo to pequeno que, entretanto, podia gerar tanta gravitao. Mentalmente, Dallas se reservou tempo para fazer uma anlise geolgica profunda. Possivelmente fora a influncia do Parker, mas a possibilidade de que aquele mundo 29

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contivera grandes depsitos de muito valiosos metais pesados no podia passar-se por alto. Certamente, a Companhia se adotaria todo o descobrimento, pois a expedio se feito com equipe da Companhia e com o tempo da Companhia. Mas podia significar alguma generosa bonificao. Sua parada no intencional podia resultar proveitosa, depois de tudo. O vento os empurrava, aoitando-os com p e piedrecillas como uma chuva slida. No posso ver alm de trs metros em qualquer direo murmurou Lambert. Deixa de lhe queixar se ouviu a voz do Kane. Eu gosto de me queixar. Vamos! Deixem de atuar como dois meninos. Este no o lugar. Entretanto, um bonito lugarcillo disse Lambert, sem deixar-se intimidar. No quebrado pelo homem nem pela natureza. Muito bom lugar para estar... se fosse uma rocha. Pinjente que j basta. Lambert se calou, mas no deixou de queixar-se entre dentes. Dallas podia lhe ordenar deixar de falar, mas no deixar de resmungar. de repente, a seus olhos chegou uma informao que momentaneamente apartou suas idias de seus queixa do lugar. Algo tinha desaparecido da tela do rastreador. O que acontece? perguntou Dalla