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Transcrição Processo Penal I Ciclo Investigativo O inquérito policial se inicia da maneira como a gente estudou (dependendo do tipo de ação penal), o inquérito caminha – a gente estudou as diligências (arts. 6º e 7º, CPP) – e o inquérito acaba. O prazo para o inquérito acabar está no art. 10, CPP. Se o indiciado está solto, o inquérito tem que terminar em 30 dias. Se o indiciado está preso, o inquérito tem que terminar em 10 dias. Esses são os dois prazos principais, mas há outros. Na Justiça Federal, você tem que se basear na lei 5.010/66 que diz que o prazo para o inquérito terminar é de 15 dias, prorrogável por mais 15 (art. 66, 5.010/66). Observem que esse artigo só fala de quem está preso, ou seja, se o indiciado está solto se aplica o prazo do CPP normalmente. O art. 51 da lei 11.343/2006 (Lei de Drogas) também tem outro prazo diferente para o término das investigações. Esses três prazos (CPP, JF e Lei de Drogas) é bom saber de cabeça, pois caem em provas de múltipla escolha. Como tramita o inquérito? O inquérito tramita da seguinte maneira: ele é iniciado na delegacia. Na primeira baixa dele, ele vai para a Justiça, é distribuído a uma Vara onde lá é colocada uma etiqueta (só para haver um juízo prevento) e de lá ele vai para o MP. Mas Mirza, por que o inquérito sobe para cá? Porque, em

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Page 1: Aula 12 - 01.12

Transcrição Processo Penal I

Ciclo Investigativo

O inquérito policial se inicia da maneira como a gente estudou

(dependendo do tipo de ação penal), o inquérito caminha – a gente estudou as

diligências (arts. 6º e 7º, CPP) – e o inquérito acaba. O prazo para o inquérito acabar

está no art. 10, CPP. Se o indiciado está solto, o inquérito tem que terminar em 30 dias.

Se o indiciado está preso, o inquérito tem que terminar em 10 dias. Esses são os dois

prazos principais, mas há outros.

Na Justiça Federal, você tem que se basear na lei 5.010/66 que diz que o prazo

para o inquérito terminar é de 15 dias, prorrogável por mais 15 (art. 66, 5.010/66).

Observem que esse artigo só fala de quem está preso, ou seja, se o indiciado está solto

se aplica o prazo do CPP normalmente.

O art. 51 da lei 11.343/2006 (Lei de Drogas) também tem outro prazo diferente

para o término das investigações.

Esses três prazos (CPP, JF e Lei de Drogas) é bom saber de cabeça, pois caem

em provas de múltipla escolha.

Como tramita o inquérito?

O inquérito tramita da seguinte maneira: ele é iniciado na delegacia. Na primeira

baixa dele, ele vai para a Justiça, é distribuído a uma Vara onde lá é colocada uma

etiqueta (só para haver um juízo prevento) e de lá ele vai para o MP. Mas Mirza, por

que o inquérito sobe para cá? Porque, em tese, ele tem que acabar em 30 dias, mas eu

nunca vi um inquérito terminar em 30 dias. Então geralmente ele começa, passam-se os

30 dias (se o indiciado estiver solto, obviamente), ele vai para a primeira distribuição e

depois para o MP que concede um prazo para que o delegado termine. Esse prazo pode

ser de 30, 60, 90 ou 120 dias. Esses prazos não estão no Código, vai da cabeça do que

decidir o promotor ou procurador da República.

E se o delegado não terminar o que ele tiver que fazer? Aí o inquérito volta para

o MP e ele escreve lá dizendo que não conseguiu terminar porque não deu tempo, por

exemplo. Aí o promotor/procurador pode conceder mais tempo. Ah, Mirza, é por isso

que os inquéritos não andam rápido? É. Tem outros motivos: o número de inquéritos, o

número de pessoas, falta de recursos... enfim, é uma série de motivos pelos quais o

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inquérito demora muito tempo. Teriam algumas soluções? Sim, mas teriam que ser

estudadas.

Na Itália, por exemplo, (?) preliminar, o inquérito deles tem que acabar em 6

meses. Se for caso de terrorismo, tem que acabar no máximo em 2 meses. Ah, Mirza, e

se não acabar? Se não acabar, é extinto e acabou. Aqui não. No Tribunal do Júri, só 5%

dos casos são elucidados. Imagina que aqui o inquérito tem uma baixíssima taxa de

solução; só se resolve quando é alguém famoso e vai pra imprensa (ex: Tim Lopes), mas

quando é um cidadão comum fica por isso mesmo e os inquéritos ficam lá entulhando.

Se você for na Central de Inquéritos do Ministério Público Estadual, você verá a

quantidade de inquéritos que existem lá e que ficam nisso, até porque arquivar dá

trabalho. Você tem que estudar o inquérito, tem que ler, tem que fazer uma promoção

alertada... Às vezes o cara tá alia só passando pela central de inquérito, que é um órgão

do MP estadual e que não existe no MPF, que engloba as chamadas PIPs (Promotoria de

Investigação Penal). Cada PIP do Ministério Público é responsável por uma ou mais

delegacias. Então, se for instaurado um inquérito na 4ª DP, ele vai para a 5 ou 4ª PIP

(professor não se recorda com exatidão).

Na área federal não tem PIP, é pelo final do número. Aonde você instaurou o

inquérito vai para o procurador X. Então tem três procuradores que atuam em tal vara.

Pelo final tal vai para o procurador tal. Qual a importância disso? Descobrir o promotor

natural. Isso aqui também é contestável, mas a explicação que se dá é que esse juízo vai

ser o juízo prevento para decretar eventuais medidas restritivas de direito. Percebe, esse

juiz não vai tomar conta do inquérito. Inclusive, o STF decidiu isso há pouco tempo,

aqui no Rio o inquérito nem estava passando mais pelo juiz, estava indo direto do MP

para a Delegacia. O Supremo entendeu que tem que haver esse controle por parte do

Judiciário em decisão recentíssima.

O promotor quando recebe o inquérito pela primeira vez... Hoje o inquérito foi

instaurado aqui na 18ª DP. Passaram-se 30 dias, o inquérito não terminou. Primeira

baixa para o MP, chegou na PIP do MP. Ou então, se você quiser, foi instaurado

inquérito na Polícia Federal – Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros

(DELEFIN) – para apurar se determinada empresa comete crimes financeiros, lavagem

de dinheiro, etc.). O inquérito saiu do DELEFIN, foi para uma vara federal criminal e de

lá foi para o MPF. Ao receber esse inquérito, o promotor ou procurador pode tomar 4

atitudes:

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1. Oferecer denúncia

2. Requerer o arquivamento do inquérito policial

3. Baixar os autos para a delegacia para diligências

4. Declinar da sua atribuição (ex: delegado da Polícia Federal

instaura determinado inquérito para apurar crime ambiental. Quando chega na

mão do procurador, ele diz que não é crime federal, não tem nada a ver comigo,

é crime estadual e devolve o inquérito. O promotor estadual, se aceitar, ok, se

não aceitar, ele suscita um conflito negativo de atribuição)

Não vamos ver o oferecimento de denúncia agora. O arquivamento veremos

daqui a pouco.

Requerimento de diligências

Prestem atenção, tem algumas coisas importantes. A primeira é uma

pergunta acadêmica que tem mais sentido em comarcas menores. Pode o juiz indeferir a

baixa para que volte à delegacia? Lê o art. 16, CPP.

Art. 16.   O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à

autoridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da

denúncia.

O termo utilizado aqui é imprescindível. Imprescindível é aquilo que é

essencial. O que acontece na prática muitas vezes? Verdadeiras barrigadas do delegado

e do promotor/procurador. O cara não está afim de ler, inquérito chega à mão dele e ele

baixa por 120 dias, empurrando para o delegado. Se o delegado também estiver com

preguiça, ele devolve ao fim do prazo dizendo que não deu para fazer nada. Aí volta

para o promotor, que baixa de novo por 120 dias para continuação das investigações...

Isso é um absurdo, uma brincadeira, por um motivo muito simples: o que o

procurador/promotor deve fazer é ler o inquérito – dá trabalho, mas é para isso que eles

são pagos – e escrever para o delegado requerendo as diligências necessárias. Aí o

delegado pega aquilo e tem que cumprir. Ao dar uma barrigada – e aí é engraçado

porque depois o próprio MP monta operações para punir o delegado que não fez nada e

para tal o MP põe no mesmo saco o delegado corrupto e o preguiçoso. Imagina o

seguinte: eu mando o cara fazer, colo lá a etiqueta, baixo por prazo de 120 dias. Aí o

cara vê e diz “Quer saber, não vou fazer nada. O cara não me falou o que eu vou

fazer”. Percebe a insensatez e a falta de coerência no decurso da investigação? Quando

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o delegado der o migué (ex: não fiz por motivo X), o promotor deveria pedir novas

investigações, só que isso dá um trabalho do caramba!

Uma vez uma aluna que estagiava no MPF chegou e me disse que o que eu falei

era errado. A chefe dela falou que tudo o que o Mirza disse era uma grande besteira,

pois o inquérito é do delegado, é para ele fazer. Aí eu falei assim “A sua chefe é

preguiçosa, conheço a peça, ela não tá nem aí para nada”. O promotor tem que pegar o

inquérito, ler e pedir o que quer [as diligências]. Isso é exercer o controle externo! É ler

e mandar cumprir. Se o cara não cumpri, o delegado terá que explicar porque não

cumpriu. Agora um não faz nada, o outro também e aí ninguém faz nada. Aí depois vão

dizer que o cara está levando uma grana para não fazer nada. Pode ser. Mas também

pode ser que ele seja vagabundo e não tenha feito nada por preguiça. Os dois estão

errados. Obviamente que o grau de lesividade do corrupto é muito mais elevado. Os

dois são nefastos com o Estado. Aí o MP diz “Ah, você não leu o inquérito?”. E o

delegado diz “Eu li, mas não achei nada. É você quem exerce o controle externo, o que

eu devia fazer aqui?”. E o promotor rebate “Você tá careca de saber o que fazer, você

deixou o inquérito parado...”. Delegado: “É, mas você também deixou”.

O artigo fala em baixar o inquérito para diligências imprescindíveis. São

diligências que o membro do MP, após ler o inquérito, entendeu pertinentes para a

continuação das investigações.

É lamentável a rotina e a prática que se tem, não são todos, óbvios, mas tem

muitos promotores que não leem o inquérito, colocam uma etiqueta e baixam por 90

dias para continuação das investigações. Isso é tenebroso e lamentável.

Voltando a nossa pergunta, pode o juiz indeferir a baixa para a delegacia? Pensa

o seguinte: obviamente no Rio isso seria impossível, mas numa cidade pequena, o

inquérito fica li na sala do juiz e ele vai voltar ou não para que se continue a investigar.

Ele pode ou não indeferir essa baixa? A doutrina se divide em duas posições:

1. O juiz não pode impedir a baixa do inquérito policial porque a

opinio delicti é do MP, ou seja, é o MP quem decide se as investigações

continuam ou não, e ao fazer isso, o juiz está comprometendo a sua

imparcialidade.

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“Mas, Mirza, você não disse que o juiz recebeu o inquérito antes”. Isso é

meramente protocolar. Esse juiz é um juiz de garantias. Se no meio dessas investigações

o MP quiser pedir uma interceptação telefônica ou a prisão do indiciado no meio do

inquérito, ele pedirá a esse juiz prevento. É para o juiz ficar se metendo no meio dessas

coisas? Não, só quando chamado, pois o juiz só exerce jurisdição quando provocado e o

inquérito policial é um procedimento administrativo. Ao se meter nessa baixa, o juiz tá

comprometendo a sua própria imparcialidade.

2. Sim. O juiz também exerce controle sobre essa atividade, então

ele pode não mandar o inquérito, mas não pode obrigar o promotor a denunciar.

Se ele entender que a diligência é prescindível, ou seja, que o inquérito não deve

voltar, ele deve aplicar o art. 28, CPP que a gente vai estudar aqui a pouco.

Pergunta: O juiz teria que ser provocado de qualquer forma, né?

Sem dúvidas. O que acontece é que nas cidades menores, chega para o

MP – ou ele até pega no cartório – e depois ele devolve no cartório, aí a delegacia vai no

cartório buscar.

Vamos ver agora o final do inquérito policial.

Arquivamento do Inquérito Policial ou das peças de informação

O procedimento do arquivamento está previsto no art. 28, CPP. O

promotor não arquiva, ele requer o arquivamento ao juiz. E aí o juiz se concordar

arquiva, se não concordar, aplica o art. 28, CPP.

Art. 28.   Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia,

requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o

juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do

inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia,

designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de

arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

Outra coisa: o juiz não arquiva o inquérito policial de ofício, do mesmo jeito que

o delegado não pode arquivar inquérito policial (art. 17, CPP). Daí aquela nossa

discussão da (24m12s) que visa burlar o art. 17, CPP. Delegado não arquiva de forma

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alguma e juiz não arquiva de ofício. Membro do MP requer o arquivamento. Se o juiz

concordar, ele arquiva, se não, remete ao Procurador Geral de Justiça.

Qual é o mecanismo do arquivamento? Está no art. 28, CPP. Os autos chegaram

para o promotor/procurador. Ele entende que não há justa causa. Ele achou que aquele

inquérito não achou uma prova mínima do cometimento de crime. Então ele faz uma

petição e requer o juiz o arquivamento do inquérito. O juiz lê e, caso concorde, arquiva

o inquérito policial. Caso não concorde, ele aplica o art. 28, CPP e remete os autos ao

PGJ (procurador geral de justiça), para que ele dê a última palavra, ou seja, para que a

última palavra fique no âmbito do Ministério Público, afim de que se preserve o sistema

acusatório. Se o MP acha que tem que arquivar e o juiz acha que não, cada um tem que

ficar na sua posição. Seria bom que a opinião do juiz fosse a última? Não. Então o juiz

remete os autos ao PGJ para que ele decida em última análise, ou seja, para que essa

divisão seja respeitada. Assim você preserva a autonomia funcional, a autonomia do

MP, mas principalmente o sistema acusatório.

Duas observações:

1. Na área federal, você trabalha com a Lei Complementar 75/93,

art. 62, §4º. Ou seja, na área federal os autos não vão para o PGJ, pois lá não

existe PGJ, nem para o PGR. Os autos vão para as Câmaras de Coordenação e

Revisão do MPF, que fazem as vezes do PGJ. Ex: começou o inquérito na 18ª

DP para apurar alguém que tá fazendo tráfico de entorpecente aqui na sala. Aí

não se achou nenhuma prova e verificou-se que era em outra turma, lá no 8º

período. Então o MP pede o arquivamento. O juiz não concorda, acha que tem

que continuar a investigação. Aí ele aplica o art. 28, CPP e remete ao PGJ.

Chega ao PGJ e ele também acha que tem que arquivar, aí o juiz tem que

arquivar o inquérito. Ou então, o PGJ pode achar que o juiz tem razão e mantém

as investigações. Se for área federal, não é o PGJ, mas sim as Câmaras de

Coordenação e Revisão do MPF, que são procuradores que atuam na segunda

instância e são mais antigos que exercem essa função.

2. Se for caso de atribuição originária ou competência originária dos

tribunais, aí não se aplica o art. 28, CPP. Nesses casos, o procurador determina o

arquivamento. Vamos imaginar que um juiz esteja sendo investigado. O juiz é

investigado no órgão especial do TJ. Se ele tiver que ser denunciado, quem vai

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denunciá-lo? O PGJ que atua no tribunal. Vamos imaginar que depois das

investigações, o PGJ entenda que não é caso de denunciar do juiz. Aí ele

escreveria para o desembargador que, caso discordasse, remeteria para o próprio

PGJ? Não. Então nesse caso, embora o MP coloque na petição que ele requer o

arquivamento, no fundo não é um requerimento, porque o desembargador não

pode não aceitar. Vamos imaginar que tem um Senador sendo investigado no

STF. Quem oferece a denúncia é o PGR, que é quem atua no STF. Ou se você

quiser, é um governador sendo investigado pelo STJ quem atua no STJ são os

subprocuradores da República, que atuam por delegação do PGR. Então não tem

nenhum indício de que o governador cometeu algo. Então o subprocurador da

República – que é o próprio PGR (?, 31m07s) – vai chegar no ministro do STJ e

dizer requerer o arquivamento da investigação. Aí o ministro diria “Não, remeto

ao PGR para que ele decida”. Não faria sentido. No fundo, o

desembargador/ministro não poderia discordar.

Pergunta: o promotor natural, no caso, a última palavra deve ser dele?

Aí que tá, nesse caso o promotor natural passa a ser o PGR. Há um

deslocamento. A lei prevê isso de antemão. O que a lei prevê? Se o juiz não concordar,

aplica o art. 28, CPP. Aí ele transfere a promotoria natural para o PGJ.

Comentário inaudível do aluno

Ah, sim. Eu entendi o que você está falando. O art. 28, CPP não deixa de

ser mais um mecanismo de controle do princípio da obrigatoriedade da ação penal. A

ação penal pública é tão importante que o art. 28, CPP diz isso. É claro que a doutrina

costuma dizer que essa é uma função anômala do juiz, pois ele não deveria realizar isso.

Tanto que no projeto de reforma do CPP, o juiz não vai mais poder fazer isso. Se houver

discordância com o que o promotor falou, isso será remetido para o Colégio de

Procuradores, para tirar o juiz dessa função. No fundo, o art. 28, CPP não deixa de ser

uma quebra do sistema acusatório. Quando o promotor quer arquiva e o juiz diz que não

quer, no fundo ele acha que tem alguma coisa contra o investigado. É uma função

anômala porque o juiz sai da função dele de só julgar. Ele tá se metendo. Há um

problema nesse art. 28, CPP.

O art. 28, CPP é exaltado na doutrina como a maior expressão do sistema

acusatório porque é onde você deixa a última palavra com o MP. Só que se você for

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olhar, historicamente falando, esse artigo tem um problema grave. Ele é um artigo que

foi feito para a ditadura e para cercear o MP, porque há um tempo atrás, o Procurador

Geral era demissível ad nutum pelo chefe do Executivo – o governador ia lá, demitia e

colocava quem ele quisesse. Então se tinha um juiz que estava incomodando – a

Magistratura sempre teve suas garantias, o MP só veio a ter com a CF/88... Imagina o

seguinte: tá tendo uma investigação que eu, governador, não gosto. Aí tem um promotor

maluco e eu não consigo falar com ele, tem um juiz que também tá incomodando – ou

não – tem um promotor que está na linha, é gente fina, é amigo do PGJ que fui eu que

nomeei, que eu posso tirar a hora que eu quiser (demissível ad nutum por mim e

substituível a qualquer momento) ... Aí o promotor fala que quer arquivar. O juiz, por

sua vez, fala que o governador é bandido e aplica o art. 28, CPP. Ia aplicar o art.28 e ia

bater aonde?

Para o PGJ, escolhido pelo próprio governador. Então o artigo 28 tem inspiração

fascista e de trambicagem historicamente falando. Só que com o passar do tempo ele foi

elevado ao ato do sistema acusatório.

Para trambique é forte, mas para garantir que coisas que incomodassem não

fosse pra frente, porque? Volto a dizer, hoje em dia não é mais assim. O PGH não é

mais demissível ad nutum, na época que foi feita não se estava incomodando era

mandado embora.

O ministério só ganhou as garantias que tem hoje com a constituição de 88

porque antes disso o ministério público era uma brincadeira, era mandado, era

escolhido, o outro era tirado, trocado. Todas as garantias que o ministério público tem

hoje vieram com a constituição de 1988.

Resposta de um aluno (pergunta inaudível): No EUA não há concurso para o

ministério público ele é nomeado e escolhe pessoas para trabalharem com ele, então

você vai trabalhar com o cara e é obrigado a seguir a linha do cara.

Uma das discussões que se tem hoje aqui, todo mundo também exalta o

promotor natural e gosta e tal. Mas é aquilo que eu já falei em outra aula, o professor

Greco é contrário, porque ele diz que o acaba acontecendo é que cada

promotor/procurador acaba se tornando um “senhorzinho dentro do seu feudo”, então

tem uma política pública importante e tem um promotor público lá no Tocantins que

impetra uma ação civil pública para parar determinada obra porque ele não concorda.

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O professor Greco informa que era precisa haver uma chefia institucional para

rever essas questões que possui pros e contra as duas posições, mas é uma discussão que

se tem hoje.

Qual a natureza jurídica da decisão que arquiva o inquérito policial?

Essa decisão, vamos imaginar que o juiz concorde. Essa decisão é uma decisão

judicial, mas não é uma decisão jurisdicional. É judicial porque foi a pessoa do juiz que

fez, mas não é uma decisão jurisdicional, porque? Porque o inquérito policial é um

procedimento administrativo, então essa decisão é um procedimento administrativo. E

como tal, não faz coisa julgada material nem poderia fazer porque a coisa julgada

material e o que? Um atributo, uma qualidade de que a sentença de mérito tem, percebe

que nem a sentença terminativa faz coisa julgada material que dirá uma decisão

administrativa no inquérito policial.

A decisão de arquivamento tem uma função importantíssima. Cessar as

investigações sobre aquela pessoa. Você não pode investigar o sujeito, então ela não faz

coisa julgada material, mas ela leva a cessação das investigações. As investigações

param. Elas poderão ser desarquivadas em algumas situações. Prestem atenção que

vocês vão ver em alguns livros que dizem que como ela não faz coisa julgada material

ela esta sujeita a clausula rebus sic stantibus que é uma das maiores burrices que alguém

já falou na vida porque a clausula rebus sic stantibus esta ligada a teoria da imprevisão

lá no direito civil nada tem haver com a decisão de arquivamento (vou colocar isso

numa múltipla escolha na prova para vocês verem como isso é idiota).

Agora isso é o clássico, é o correto. Agora coloca uma observação porque vocês

vão ver algumas aberrações, sobretudo oriundas do STF, porque? O STF em acórdão do

ministro sepulveda pertence que já perdura entende que se o inquérito for arquivado

(escreve o que vou dizer que depois vamos criticar porque está errado) em virtude do

reconhecimento da atipicidade da conduta ou for reconhecida a extinção da punibilidade

essa decisão será imutável e fará coisa julgada material porque isso é melhor para o

acusado. O STF diz que se o inquérito for arquivado por atipicidade, se for reconhecida

a atipicidade na decisão de arquivamento ou se houver extinção da punibilidade na

decisão de arquivamento essa decisão vai fazer coisa julgada material, portanto o cara

não poderá mais ser denunciado por aquele crime.

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Exemplo: Vamos imaginar que começa uma investigação para apurar um

estupro. O Pai contra a filha, ela maior de 19 anos. Durante as investigações a filha com

medo e tal vão lá e diz que não houve estupro nenhum, ou que foi consentido que seja.

Então o que vai acontecer, seria um caso de atipicidade. Então vamos imaginar que a

relação tenha sido consensual em razão de uma nova seita que eles estão fazendo agora

– Ceita pai pavorosos- então houve concessão. No fundo ela foi forçada, mas no

inquérito ela diz que não, os familiares dizem que não.

Aí vem o MP e pede o arquivamento dizendo que o fato é atípico e o juiz

concorda razão pela qual arquiva o inquérito policial reconhecendo a atipicidade. Se

amanhã ou depois surgir uma fraude e de que o pai realmente estuprou. Ele pode ser

processado novamente? Pela posição do STF não, pela posição tecnicamente correta

pode, porque? Qual a posição tecnicamente correta?

Ignora tudo que foi falado, porque? Primeiro, o juiz não pode reconhecer a

atipicidade nessa decisão, porque? Como é que uma decisão administrativa reconhece

mérito, aonde teve instrução para você saber o que aconteceu? Não tem contraditório,

alí não é uma decisão jurisdicional e sim em processo administrativo, então o juiz não

pode reconhecer a atipicidade porque isso se trata de mérito.

A extinção da punibilidade ela pressupõe ação penal em curso. Como vai

extinguir a punibilidade de algo que nem começou?

O STF erra porque essa decisão não pode reconhecer a atipicidade e mesmo que

reconheça formalmente no papel isso não teria nenhum condão de fazer nada. Mas

Mirza o STF diz que aí é melhor para o acusado. Há melhor para o acusado é rasgar o

processo, tacar fogo na delegacia e o inquérito pegar fogo, todo mundo morrer, enfim,

qualquer coisa é melhor menos ser denunciado por estupro.

Então percebe de que o argumento de que é melhor para o acusado é

estapafúrdio, mas percebe que é uma coisa completamente atécnica porque isso não

pode ter o condão de realmente fazer coisa julgada esse reconhecimento da coisa

julgada. O juiz não pode escrever isso e mesmo que escreve isso não vai ter nenhuma

função prática, mas o supremo entende que tem.

O inquérito é uma decisão administrativa ele não tem resolução de mérito, não

há contraditório. O que tem é uma cessação da investigação a determinada pessoa.

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Exemplo: Vamos imaginar que você foi denúncia e depois foi absolvida amanhã

ou depois você poderá ser denunciada por este fato? Não. Então nesse caso seria

complicado porque você não poderia mais ser investigado por um caso que você se quer

foi processado. Então nós vimos o efeito do arquivamento que é a cessação das

investigações.

Outra questão importante acadêmica que passou por concursos e provas.

Imaginem a seguinte situação. Aplica o at.28 e chega no PGJ:

Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia,

requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o

juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do

inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia,

designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de

arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

Vamos imagina que o PGJ designe outro promotor para oferecera denúncia esse

promotor designado pode se recusar a oferecer a denúncia? Duas posições:

Hipótese acadêmica: Que geralmente o PGJ designa os seus assessores e aí o

cara não vai deixar de fazer o que ele está falando, mas quando não tinha esse esquema

de assessoria o cara designado um promotor para fazer a denúncia. Esse promotor

designado ele está obrigado a oferecer a denúncia.

A posição majoritária: Sim, ele está obrigado, porque ele age por delegação do

PGJ. O PGJ já formou opinio delicti, já acha que é o momento de oferecer a denúncia.

Mas se ele está designando porque ele não faz? Porque ele não quer, ele é o PGJ para

outro fazer. Então esse cara tem que fazer para primeira posição sim, porque esse

promotor é um longa manus do PGJ é como ele só se sentasse para escrever.

A segunda posição é a posição do professor Afranio que entende que não. O

promotor designado não está obrigado a acatar porque ele tem independência funcional.

Volto a dizer, na pratica isso é mais difícil de assistir porque geralmente o PGJ designa

algum assessor dele e não levar aquilo adiante, mas academicamente você essa hipótese.

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Se você olhar o código vai ver que ele é extremamente omisso quanto ao

arquivamento. Quando o promotor tem que arquivar? Quando cabe o arquivamento? É

cabível quando a ação penal for inviável, ou seja, quando a denuncia for ser rejeitada

era certo que o promotor não deveria nem ter oferecido.

Então onde eu vou buscar as causas de arquivamento? Lá no artigo 395 do CPP.

Eles é que te dão a direção para você requer o arquivamento porque o artigo 395 ele é

uma espécie de artigo esmiuçado do antigo artigo 43 que foi revogado. Então se você

olhar ai:

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei

nº 11.719, de 2008).

I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação

penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

Então quando a faltar uma condição da ação ou um pressuposto processual ou

quando falta justa causa aí sim , nessa hipótese o ministério público deve requerer o

arquivamento. Agora preste atenção que me parece que vale a pena vocês completarem

aí de que você também tem que olhar para o artigo 397 que trata das causas de

absolvição sumária.

Pergunto eu pra você. Você como promotor de justiça recebe um inquérito

policial em que uma pessoa foi presa por homicídio e depois foi solta pelo juiz. E aquele

auto de prisão em flagrante há uma legitima defesa.

Tem justa causa o promotor oferecer denúncia a alguém? Claro que não, mas é

caso de absolver sumariamente a pessoa também? Não, porque não dá para fazer isso na

fase do inquérito. O que deveria fazer o promotor era ele requerer o arquivamento do

inquérito policial com base no Art.395, III,CPP. Dizendo, olha não é caso de reconhecer

essa legitima defesa agora porque estamos numa fase administrativa mas está claro que

o fato é de legitima defesa e não faz sentido denunciar esse cara. Razão pelo qual o

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ministério público requer o arquivamento do inquérito policial por justa causa. Não há

prova mínima que há um fato típico, antijurídico e culpável para caracterizar o crime.

Há autores que acham o contrário. Algumas pessoas acham que para o cara é

melhor ele ser denunciado aí o cara responder a denúncia e ele ser absolvido

sumariamente no caso do art.397, porque como e absolvição sumaria vai fazer coisa

julgada material, então para o cara é melhor dizendo que ele agiu em legitima defesa do

que ter essa decisão administrativa ocuando por aí. Mas por outro lado você pensa o

seguinte o cara vai ser denunciado né, então ai vai ficar de como funciona melhor na sua

cabeça.

A denúncia é a narrativa do crime e o crime é um fato típico, antijurídico e

culpável, ou seja, o cara ter que narrar o crime com todas as suas circunstancias. Se

você olhar o artigo 41 com calma ele diz que a denúncia diz que conter o fato criminoso

com todas as suas circunstancias. Não tem como fazer isso se as circunstancias são

favoráveis ao cara.

Para o professor, na cabeça dele, fica melhor fazer uma conjugação do artigo

395 com o artigo 397. Porque algumas hipóteses podem levar ao arquivamento do

inquérito policial.

Então agora uma ultima coisa aqui. Teve uma fato de que o professor Hélio

tornaghi deu um parecer sobre esse assunto onde a situação foi o seguinte: havia um

inquérito policial onde havia 5 indiciados no inquérito policial e chegou na mão do

promotor e ele denunciou 4 e deixou um de fora e nada falou sobre o que estava de

fora. O processo começou a andar esse promotor entrou de férias e entrou outro

promotor. Quando esse promotor foi consultar os autos e verificar o que tinha

acontecido percebeu que ficou um cara de fora aí ele foi e aditou a denuncia para incluir

essa pessoa que estava fora aí o Hélio tornaghi foi chamado a dar um parecer que

entendeu que nessa hipótese teria ocorrido o arquivamento implícito, porque essa pessoa

a não ser denuncia implicitamente o inquérito foi arquivado em relação a ela porque se

ela não foi denunciada é porque não havia justa causa para denuncia. Então o professor

Hélio tornaghi criou a figura do arquivamento implícito. Essa posição é minoritária.

Mas outros autores como Pacelli, Tourinho Filho não concordam com o

arquivamento implícito porque ele não tem base legal. É claro que o que tornaghi

explicou e uma verdade, mas é correto o sujeito ficar com uma espada de damit na sua

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cabeça por anos, imagina o seguinte no exemplo que eu acabei de dar de perigar essas 4

pessoas que foram indiciadas serem absolvidas, portanto terem uma vida tranquila dali

pra frente e o outro que não foi denunciado ficar esperando o dia que alguém iria

denuncia aditando a denunciando, percebe, é uma insegurança jurídica completa. O

arquivamento implícito é “um castigo” pela desídia do MP.

Esse arquivamento que tornaghi achou num primeiro momento chama-se

arquivamento implícito subjetivo porque diz respeito a pessoas, mas logo em seguida

ele estendeu o parecer dele dizendo que você pode ter também o arquivamento implícito

objetivo que é em relação a parte. Exemplo – você esta sendo investigado em relação a

dois fatos criminosos e o ministério público da procedimento a um e deixa o outro de

fora, quanto a esse outro haveria arquivamento implícito. É por este motivo quem

trabalha no ministério púbico estadual e ministério publico federal vira e mexe uma

promoção ao excelentíssimo senhor juiz denúncia separada em quatro laudas; dois a não

inclusão de fatos ou pessoas não implica em arquivamento implícito. O cara faz essa

ressalva, pra quê? Para amanha ou depois se ficar um fato de fora ou uma pessoa que na

hora ele esqueceu isso não significar arquivamento implícito, mas volto a dizer o

seguinte, porque se isso subir até o STF ele também não concorda com arquivamento

implícito, nem o STJ nem o STF (apenas uma posição doutrinaria e mesmo assim não é

por toda doutrina).