aula 11 sebenta de bactereologia

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AULA Nº 11 – Genética AULA Nº 11 – Genética Bacteriana Bacteriana Mecanismos de variabilidade nos procariontes Detecção e isolamento de mutantes Mutações e as suas bases químicas Mecanismos de acção dos mutagéneos Mecanismos de reparação do DNA Uso de mutantes em testes de carcinogénese Como é que as bactérias evoluem, sendo organismos procariontes? Para os organismos viverem com estabilidade, é necessário que a sequência de nucleótidos dos genes não sofra alterações em grande extensão. Contudo, alterações na sequência dos genes podem ocorrer e resultar em alterações no fenótipo. Estas alterações podem ser prejudiciais mas as que não o são, são muito importantes para gerar variabilidade e contribuir, assim, para o processo de evolução dos microrganismos. Evolução requer variabilidade Requerendo a evolução variabilidade, face a uma mudança brusca no meio ambiente, as bactérias e outros microrganismos possuem um conjunto de mecanismos geradores de alterações genéticas que conduzem a variantes, 1

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Page 1: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

AULA Nº 11 – Genética BacterianaAULA Nº 11 – Genética Bacteriana

Mecanismos de variabilidade nos procariontes

Detecção e isolamento de mutantes

Mutações e as suas bases químicas

Mecanismos de acção dos mutagéneos

Mecanismos de reparação do DNA

Uso de mutantes em testes de carcinogénese

Como é que as bactérias evoluem, sendo organismos procariontes?

Para os organismos viverem com estabilidade, é necessário que a sequência de

nucleótidos dos genes não sofra alterações em grande extensão. Contudo, alterações na

sequência dos genes podem ocorrer e resultar em alterações no fenótipo. Estas

alterações podem ser prejudiciais mas as que não o são, são muito importantes para

gerar variabilidade e contribuir, assim, para o processo de evolução dos

microrganismos.

Evolução requer variabilidade

Requerendo a evolução variabilidade, face a uma mudança brusca no meio

ambiente, as bactérias e outros microrganismos possuem um conjunto de mecanismos

geradores de alterações genéticas que conduzem a variantes, fornecendo-lhes assim a

possibilidade de ultrapassar situações que ponham em risco a sua sobrevivência. As

variantes com características que melhor se adaptam à nova situação são seleccionadas e

sobrevivem em detrimento das menos adaptadas.

Os principais mecanismos que geram variabilidade, contribuindo assim para a

evolução dos microrganismos são, então:

Variações no Genótipo:

- Mutações

- Recombinações

- Aquisição de novos genes

- Rearranjos intramoleculares (translocação e inversão)

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Page 2: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Variações no Fenótipo (características visíveis):

- Indução enzimática

As recombinações do DNA e as mutações são os mecanismos que mais contribuem para

a evolução.

Fenótipos úteis em Genética Bacteriana

Sabe-se que, mudanças na estrutura das proteínas podem levar a mudanças nas

suas funções que, por sua vez, podem alterar o fenótipo de um organismo (as suas

propriedades visíveis). O fenótipo de um microrganismo pode ser então afectado de

diferentes maneiras.

Mutações morfológicas modificam a morfologia (forma) da colónia ou da célula do

microrganismo.

Figura 1 – Aspecto das colónias.

Esta figura evidencia como o aspecto das colónias da

mesma bactéria é diferente consoante se trate de um

WT (wild type) – organismo não mutante – ou de um

organismo mutante.

NOTA: Wild type (WT) é a forma prevalente de um gene e o seu fenótipo associado.

Mutações letais, quando expressas, resultam na morte do microrganismo.

Mutações condicionadas, são as que são expressas apenas em determinadas condições

ambientais, por exemplo, mutações de letalidade condicionada na E. Coli, podem ser

expressas a altas temperaturas, mas não a baixas temperaturas; esse hipotético mutante

(termossensível) crescerá então normalmente a baixas temperaturas, mas a altas

temperaturas poderá morrer. Utilizam-se mutantes termossensíveis quando se quer

atingir um gene que é essencial à integridade e viabilidade da célula. Ex. gene da DNA

polimerase.

Mutações bioquímicas são mutações que causam uma mudança na bioquímica da célula,

causando frequentemente deficiência ou mesmo inactivando uma via biossintética da

bactéria, ou seja, é eliminada a capacidade da bactéria sintetizar uma macromolécula

essencial, como aminoácidos ou nucleótidos. Os microrganismos que sofrem esta

alteração são chamados mutantes auxotróficos, dizem-se auxotróficos para a molécula

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Page 3: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

que não conseguem sintetizar. Têm um fenótipo condicionado: não crescem num meio

sem a molécula que não sintetizam, mas crescem num meio em que essa molécula esteja

presente. Um outro tipo de mutantes bioquímicos são os chamados mutantes

resistentes. Estes organismos sofrem mutações e adquirem resistência a agentes

antimicrobianos, como antibióticos.

Mutantes auxotróficos e mutantes resistentes são muito importantes para a

genética microbiana devido à facilidade da sua selecção e da sua relativa abundância.

ESQUEMA RESUMO:

Fenótipo (características visíveis)

Afectado de diferentes maneiras, devido a mutações

Mutações morfológicas : alteração do aspecto das colónias

Mutações de letalidade condicionada : expressas apenas em determinadas

condições; dependendo das condições, ou se desenvolvem, ou morrem (fenótipo

condicionado)

Quando se quer atingir um gene que é essencial à integridade e viabilidade da

célula

Mutações bioquímicas :

Detecção, Selecção e Isolamento de mutantes

Mutantes auxotróficosFenótipo condicionado à presença ou ausência da macromolécula não sintetizada

Mutantes resistentes a agentes antimicrobianos

Muito importantes na genética bacteriana

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Page 4: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Gerar e isolar microrganismos mutantes revela-se muito importante, pois o seu

uso e estudo no laboratório e na indústria é de grande interesse.

As bactérias são excelentes modelos para estudar os mecanismos moleculares

subjacentes ao aparecimento de mutações, devido ao facto de serem organismos

haplóides, isto é, possuem uma única cópia de cada um dos genes que formam o seu

genoma. Assim, qualquer mutação adquirida é imediatamente expressa na geração

descendente conduzindo directamente a uma alteração fenotípica, ou seja, uma mudança

de uma característica observável numa espécie, como já foi referido.

Para se estudarem os microrganismos, primeiro têm de ser detectados, depois

isolados eficientemente dos organismos wild type e de outros mutantes sem interesse.

Passa-se agora à descrição de algumas técnicas usadas na sua detecção, selecção e

isolamento.

Como o código genético é degenerado, há mutações que não modificam as

propriedades de uma estirpe bacteriana. A detecção de mutantes numa população

bacteriana requer que as alterações operadas no património genético determinem

mudanças no fenótipo.

Quando se pretende recolher mutantes de um determinado microrganismo, é

necessário á partida, as suas características normais – as características do wild type –

para assim se reconhecer o fenótipo alterado. Os sistemas de detecção nos procariontes

e outros microrganismos haplóides têm de ser simples, porque a mutação tem de ser

detectada imediatamente.

Os mutantes podem ser detectados muitas vezes de uma forma directa – através

da observação visual da cor da colónia, ou de uma forma mais complexa, como é o caso

da técnica utilizada para detectar e isolar mutantes auxotróficos. Esta técnica permite a

distinção entre mutantes e linhagem wild type, tendo por base a sua capacidade de

crescimento na ausência de um produto final biossintético particular. (Figura 2)

Os mutantes lisina auxotróficos, como não têm a capacidade de sintetizar o aminoácido

lisina, não vão crescer num meio mínimo sem lisina (meio sem quantidades adequadas

de lisina) mas vão crescer num meio mínimo com este aminoácido.

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Page 5: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Figura 2 – Isolamento de mutantes auxotróficos. (Lisina negativos)

Como se procede então para isolar os mutantes lisina auxotróficos?

Geram-se os mutantes tratando a cultura com um agente mutagénico;

Semeia-se a cultura contendo mutantes auxotróficos e WT numa caixa de Petri

com meio completo e deixa-se incubar;

Depois das colónias se desenvolverem, coloca-se um veludo estéril na superfície

da caixa de Petri e transferem-se as bactérias para duas caixas de Petri

diferentes. As bactérias são semeadas para as duas caixas na mesma posição que

se encontravam na primeira placa;

Após incubação, verifica-se que há colónias que cresceram no meio mínimo com

lisina, mas que não cresceram no meio mínimo sem lisina – são lisina negativas

(mutantes);

Determina-se então a localização destes mutantes (Lys -) e são depois isolados.

A colheita dos mutantes efectuada após a sua detecção, pode apresentar alguns

problemas práticos, pelo que se deve recorrer a eficientes sistemas de selecção, que

utilizam factores ambientais para separar os mutantes da linhagem wild type. Estes

métodos de selecção envolvem, muitas vezes, o desenvolvimento de resistência ao

stress ambiental ou mutações reversas.

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Page 6: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

As técnicas utilizadas para efectuar a selecção envolvem condições de incubação

que favorecem o crescimento do mutante, enquanto que o wild type não é favorecido.

Muitas vezes, as células wild type são susceptíveis ao ataque de vírus (Figura 3), ou ao

tratamento com antibióticos (Figura 4), sendo assim possível fazer crescer a bactéria na

presença de um desses agentes e observar microrganismos sobreviventes.

Figura 3 – Resistência aos Bacteriófagos.

Bacteriófagos (Fagos) são vírus que lisam e

portanto, matam as bactérias. Ao expor-se

uma cultura de E.Coli num meio contendo

o agente selector Fago T2 e incubando-se

depois, verifica-se que resistem 4 clones -

são os mutantes resistentes a esse fago.

Considerando o exemplo de bactérias wild type sensíveis ao antibiótico

estreptomicina:

Como se procede para seleccionar mutantes resistentes a esse antibiótico?

Figura 4 – Mutantes resistentes ao

antibiótico estreptomicina.

Coloca-se em contacto com o antibiótico (estreptomicina neste caso) a cultura de

microrganismos contendo mutantes resistentes ao mesmo; morrem todas as

colónias excepto as resistentes ao antibiótico;

Faz-se a selecção positiva dos mutantes bacterianos com um agente de selecção

– estreptomicina - ou seja, põe-se de novo em contacto o antibiótico com os

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Mutantes resistentes à estreptomicina

Page 7: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

mutantes resistentes ao mesmo e incuba-se. Apenas se desenvolve a linhagem de

microrganismos que não reverteu à mutação, ou seja, apenas se desenvolvem os

microrganismos que continuaram com a mutação após contacto sucessivo com o

antibiótico – são os resistentes ao mesmo. Assim, seleccionam-se os mutantes

resistentes em detrimento dos mutantes que, nalguma geração, reverteram à

mutação, ou seja, nalguma geração deixaram de a ter.

Esta técnica é importante na Quimioterapia, uma vez que, como é sabido, não se deve

abusar dos antibióticos pois, como demonstrado nesta técnica, ao expor-se o antibiótico

aos microrganismos de um modo sucessivo, vão-se eliminando os que não são

resistentes, ficando apenas os que resistem, que poderão então crescer e multiplicar-se

de uma forma mais eficaz.

Também pode ser utilizada esta técnica de selecção no isolamento de reversíveis

à lisina auxotróficos (Lys -). Coloca-se uma população destes microrganismos num

meio sem lisina e deixa-se incubar. Examinando depois o desenvolvimento e formação

das colónias, verifica-se que apenas as células que reverteram à mutação cresceram,

pois têm a capacidade de sintetizar lisina.

Teste de flutuação

As mutações ocorrem independentemente ou dependentemente do agente

selector?

Será que é necessário o contacto com o agente selector para surgir a mutação, ou esta

surge espontaneamente, acontece?

Para se saberem estas respostas realiza-se o teste de flutuação.

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Page 8: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Figura 5 – Teste de Flutuação: 1a experiência (controlo) e 2a experiência.

1a experiência:

Tem-se um caldo de bactérias do qual se tiram alíquotas iguais e semeiam-se

em vários meios iguais com o mesmo agente selector (Fago T1);

Incuba-se. Após incubação, observa-se que houve formação de colónias, mas

a sua quantidade é constante ao longo de todas as placas, ou seja, houve

pouca flutuação no número de colónias.

2a experiência:

Em vários tubos coloca-se a bactéria, onde a replicação de cada um é

independente;

Fazem-se espalhamento dos tubos onde existe 109 bactérias para caixas com

fago T1;

Incuba-se.

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Page 9: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Após incubação obtém-se uma flutuação do número de colónias resistentes nas

caixas. Não se obtém o mesmo resultado em todas as caixas ou seja, o resultado é

diferente em cada tubo. Isto mostra então que as mutações ocorrem

independentemente do contacto com o agente selector (neste caso o fago T1). Não é

por não haver contacto com o agente selector que deixa de haver mutações de

resistência.

Então, a que se deve a variação?

As mutações ocorrem espontaneamente aquando da a replicação do DNA durante o

crescimento. São variáveis, aleatórias, não precisam do agente selector, é uma

questão de probabilidade. Neste caso, ocorreram várias mutações de 103 bact./mL

para 109 bact./mL.

Figura 6 – Teste de

flutuação. Quanto mais

cedo ocorre a mutação,

maior será o número

de mutantes nas

caixas.

O que são então MUTAÇÕES?

Mutações são alterações na sequência nucleotídica de um gene, que ocorrem

espontaneamente durante o processo de replicação do DNA. Estas alterações são

permanentes, constantes (não são fugazes) e podem ser hereditárias (se não fossem

permanentes não poderiam ser hereditárias).

Taxa de mutação é o número de mutações de um fenótipo particular que ocorreram

numa cultura em crescimento, dividido pelo número total de gerações celulares

(divisões) no mesmo intervalo de tempo.

TM = número de bactérias resistentes (mutantes) /Número de gerações celulares

ou

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Page 10: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

a – taxa de mutação

m – número médio de mutações que ocorreram na cultura

N – número total de divisões celulares

O conceito de taxa de mutação é muito importante porque nos dá a probabilidade

de ocorrência de mutações. Perceber esta probabilidade é também muito importante

para detectar bactérias resistentes a um antibiótico e prever, assim, a sua eficácia.

Se a probabilidade é baixa, o antibiótico é bom, se por outro lado, a probabilidade de

ocorrência de mutações é elevada, o antibiótico não é muito bom. Conclui-se assim que

a taxa de mutação é muito útil para se avaliar a performance de um futuro antibiótico.

Mutações e as suas bases químicas

Substituição de um par de bases

Mutações “frameshift”

As mutações eram inicialmente caracterizadas como alterações nos fenótipos

relativamente ao WT, mas actualmente são entendidas a um nível molecular.

Há vários tipos de mutações. Algumas, apenas causam pequenas alterações no DNA,

por ex. afectando apenas um par de bases do nucleótido numa dada localização. Existem

outras mutações que causam alterações maiores no DNA, mas são menos comuns. Estas

últimas incluem: inserções, delecções, inversões, duplicações e translocações de

sequências de nucleótidos.

As mutações ocorrem espontaneamente e podem ser devidas a erros na

replicação do DNA ou à acção de elementos móveis do DNA, como transposões.

Vão ser focados agora os mecanismos que mais prevalecem.

Substituição de um par de bases

As substituições de pares de bases resultam:

De emparelhamentos incorrectos devido ao tautomerismo das bases

De desaminação das bases no DNA – remoção de um grupo amina

De oxidação das bases – formação de 7,8 –dihidro – 8 – oxoguanina (8 – oxoG)

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Page 11: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Figura 7 – Bases púricas e pirímidicas.

As bases azotadas do DNA, constituintes dos nucleótidos, são

- Adenina e Guanina, designadas por bases púricas, por apresentarem uma estrutura

molecular de anel duplo.

- Timina e Citosina, designadas por bases pirimídicas, por apresentarem uma

estrutura molecular de anel simples.

As ligações entre as duas cadeias da molécula de DNA fazem-se por pontes de

hidrogénio. A Adenina liga-se à Timina através de duas pontes de hidrogénio e a

Guanina liga-se à Citosina por três pontes de hidrogénio.

Emparelhamento incorrecto devido ao tautomerismo das bases

Tautomerismo é uma relação entre dois isómeros estruturais em equilíbrio

químico que rapidamente mudam um para o outro.

As bases podem apresentar duas formas estruturais diferentes, o que pode

provocar erros no emparelhamento. Estes erros na replicação, ocorrem quando uma

base de um nucleótido da molécula padrão adquire uma rara forma tautomérica.

As bases existem tipicamente na forma cetónica, no entanto, podem por vezes

adquirir a forma imínica (A e C) ou enólica (T e G) (Figura 8a)).

Estas alterações tautoméricas podem modificar as características das ligações de

hidrogénio entre as bases, permitindo substituições de purina por purina ou

pirimidina por pirimidina, que podem eventualmente conduzir a uma alteração

estável da sequência de nucleótidos. (Figura 8b)). Estas substituições são

conhecidas por mutações de transição e são relativamente comuns, embora na

maioria dos casos sejam reparadas por funções checkpoint.

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Page 12: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Figura 8 –

a) Tautomerismo e mutações de transição.

Normalmente, os pares AT e GC são formados quando os grupos ceto participam nas pontes de

hidrogénio. Em contraste, na rara forma enólica da Timina, esta forma pontes de hidrogénio com a

Guanina em vez da Adenina (e o mesmo se passa com a rara forma enol da Guanina). Na forma

imínica da Adenina, esta base forma pontes com a Citosina em vez da Timina (o mesmo se passa

com a Adenina).

b) Erros na

replicação

devido ao

tautomerismo das bases.

Mutações como consequência do tautomerismo durante a replicação do DNA. A enolização

temporária da Guanina leva à formação do par de bases A-T no mutante, ocorrendo uma mutação de

transição; a guanina (na forma enol) emparelha com a Timina em vez da citosina. Este processo

requer dois ciclos de replicação; a mutação apenas ocorre se o par de bases anormal G-T na 1 a

geração não for reparado por funções checkpoint.

Desaminação das bases no DNA

Também pode ocorrer a desaminação das bases no DNA, por remoção de um

grupo amina (NH3), causando assim o emparelhamento incorrecto dos pares de

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Page 13: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

bases, resultando em mutações de transição no ciclo seguinte de replicação. (Figura

9).

Figura 9 - Desaminação das bases no DNA

A desaminação da citosina causa um

emparelhamento incorrecto das bases resultando

numa mutação de transição de CG para TA, no

ciclo seguinte de replicação

Oxidação das bases

Outras lesões são causadas por formas reactivas do Oxigénio, como os radicais

livres deste elemento e os peróxidos produzidos durante o metabolismo aeróbio.

Estes podem alterar as bases do DNA e causar mutações. Por exemplo, a Guanina

pode ser convertida (por formas reactivas do Oxigénio) em 7,8 – dihidro – 8 –

oxoguanina (8 – oxoG), que emparelha com a Adenina em vez da Citosina durante a

replicação resultando numa mutação de transição (GC – AT).

Figura 10 – Oxidação de bases - formação de 7,8 – dihidro – 8 – oxoguanina.

As formas reactivas do oxigénio oxidam a Guanina formando o 8 – oxoG que causa emparelhamento

incorrecto das bases resultando em mutações.

Consequências da substituição de um par de bases ao nível das

proteínas

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Page 14: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Os efeitos de uma mutação devido á substituição de um par de bases podem ser

descritos ao nível das proteínas. Estes efeitos são visíveis apenas se produzirem uma

mudança no fenótipo.

As mutações nos genes que codificam as proteínas podem afectar a sua estrutura

de diferentes maneiras.

Os tipos mais comuns destas mutações são:

- Mutações silenciosas

- Mutações de sentido falso

- Mutações sem sentido

- Mutações neutras

As mutações silenciosas alteram uma sequência de nucleótidos de um codão, mas

não alteram o aminoácido que é codificado por esse codão. Isto é possível devido ao

facto de o código genético ser degenerado. Como consequência, quando há mais do que

um codão para um determinado aminoácido, uma substituição de um par de bases pode

resultar na formação de um novo codão para o mesmo aminoácido. Por exemplo se o

codão CGU se alterar para CGC, este irá codificar na mesma para o aminoácido

arginina, apesar da mutação ter ocorrido. Este tipo de mutação pode apenas ser

detectado ao nível do DNA ou do mRNA; quando não há alteração ao nível das

proteínas, não há alteração ao nível do fenótipo do organismo, mesmo tendo ocorrido

uma mutação.

As mutações de sentido falso (“missense”) (Figura 11), envolvem uma

substituição de uma base que vai fazer com que o codão resultante codifique um

aminoácido diferente. Por exemplo, o codão GAG, que é específico para o aminoácido

glutamina, pode ser alterado para GUG, que codifica para a valina.

Este tipo de mutações alteram a estrutura das proteínas, no entanto, os efeitos desta

alteração podem variar. Isto porque, o efeito destas mutações na função das proteínas

depende do tipo e da localização da substituição do aminoácido. Por exemplo, a troca de

um aminoácido apolar no interior de uma proteína com um aminoácido polar, pode

drasticamente alterar a estrutura tridimensional da proteína e consequentemente a sua

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Tabela 1 - Consequências da substituição de um par de bases ao nível das proteínas.

Page 15: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

função. Da mesma forma, a troca de um aminoácido crítico no local activo de um

enzima, poderá destruir a sua actividade. Contudo, a troca de um aminoácido polar por

outro, na superfície da proteína, pode não causar efeito algum ou, no caso de acontecer,

ser praticamente imperceptível.

Figura 11 – Substituição de um

par de bases – consequências ao nível

das proteínas: Mutação de sentido

falso.

A substituição de uma base (de A

por G) vai alterar o codão que vai

codificar para um aminoácido

diferente. Neste caso, em vez de

codificar para a isoleucina, vai

codificar para o aminoácido valina.

Este tipo de mutações, actualmente, tem um papel importante para a variabilidade e

portanto para a evolução, porque muitas vezes não são letais, e assim permanecem

no genótipo da espécie.

As mutações sem sentido (“nonsense”) (Figura 12) são resultado de alterações

pontuais no DNA que convertem um codão que codifica para um determinado

aminoácido, num codão “stop” no RNA (UAG, UAA ou UGA), ou seja, introduzem

um triplet de terminação da tradução (UAG, UAA ou UGA), provocando uma

antecipada terminação da tradução. Como consequência, é sintetizado um

polipéptido mais pequeno.

São chamadas mutações sem sentido porque convertem um codão com sentido

num codão sem sentido ou num codão de terminação (ambos interrompem a

tradução, por não especificarem para nenhum aminoácido).

Dependendo da posição relativa da mutação, o fenótipo pode tornar-se mais ou

menos afectado. Muitas proteínas permanecem com alguma função mesmo sem um

ou dois aminoácidos; a completa perda da função resulta normalmente da ocorrência

da mutação perto do início ou no meio do gene.

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Page 16: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Figura 12 - Substituição de um

par de bases – consequências ao

nível das proteínas: Mutação sem

sentido.

A introdução de um codão de

terminação provoca o fim antecipado

da tradução, e consequentemente a

proteína traduzida é mais pequena.

As mutações neutras ocorrem por substituição de uma base por outra, resultando num

triplet que codifica para um aminoácido equivalente; ou seja, um aminoácido com a

mesma carga. Por exemplo, de AAA (Lys) para AGA (Arg), em que a substituição da

adenina pela guanina resulta num triplet que codifica para um aminoácido equivalente.

Por isto, o portador destas mutações não é afectado, contribuindo, assim, estas mutações

para a evolução.

Mutações “frameshift”

Nas mutações “frameshift” não há troca de bases, mas sim inserção ou delecção

de 1,2,4 ou 5 pares de bases (mas não múltiplos de 3) alterando os quadros normais de

leitura e produzindo proteínas ineficazes, anormais. (Figura 13). Deste modo, a

reorganização da sequência de nucleótidos do DNA codificados em triplets vai dar

origem a uma nova sequência de codões diferentes, sem relação com a sequência de

codões original. Consequentemente, a composição em aminoácidos da proteína

codificada é diferente, a partir do local em que ocorreu a mutação. Verifica-se também

que o novo reagrupamento dos nucleótidos em codões origina um codão “stop” que vai

interromper prematuramente a formação da proteína.

Estas proteínas, vão ser então mais pequenas e diferentes na composição em

aminoácidos. No entanto, se a mutação ocorrer perto do fim do gene, o efeito no

fenótipo pode não ser drástico.

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Page 17: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Figura 13 – Mutações “frameshift”.

Neste caso, a mutação “frameshift” resultou da

inserção de um par de bases (GC). A grelha de

leitura do RNAm produz um péptido diferente

após a adição.

A inserção e delecção acontecem,

por vezes, por escorregamento da

cadeia em formação sobre o DNA

molde. Quando o escorregamento

tem lugar na cadeia DNA molde,

ocorre delecção de bases, quando

ocorre na cadeia que está a ser

sintetizada, vai haver inserção de

bases. (Figura 14)

Figura 14 – Mutações “frameshift”

Agentes mutagénicos

As mutações ocorrem espontaneamente, mas a probabilidade de ocorrerem pode

ser agravada por certos agentes mutagénicos, físicos ou químicos; estas mutações são

denominadas mutações induzidas, em contraste com as faladas anteriormente, que são

espontâneas.

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Page 18: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Os agentes mutagénicos são muito utilizados em Bacteriologia para a

identificação de mutações, devido ao facto de aumentarem a probabilidade destas

ocorrerem.

Virtualmente, qualquer agente que directamente cause danos no DNA, que altere

a sua estrutura, ou, de algum modo, interfira com o seu funcionamento, poderá induzir

mutações. Os mutagénios podem ser classificados de acordo com o seu modo de acção,

e criam lesões em todo o tipo de células, quer sejam procariotas ou eucariotas.

Os agentes mutagénicos, como já foi referido, podem ser físicos ou químicos.

Existem três tipos de agentes químicos:

Análogos das bases

- 5 – Bromo – uracilo

Agentes modificadores do DNA

- Agentes alquilantes – Metil – nitrosoguanidina

- Ácido nitroso

Agentes intercalantes

- Acridinas

- Brometo de etidium

Quanto aos agentes físicos que danificam o DNA

Agentes destruidores da estrutura das bases

- raios UV

- aflotoxina B1

- benzopireno

Análogos das bases

Os análogos das bases são moléculas similares às bases azotadas normais, como

o 5 – bromo – uracilo. Podem ser incorporadas na cadeia polinucleotídica em

crescimento, durante a replicação. Uma vez inseridos na cadeia, exibem, normalmente,

propriedades de emparelhamento diferentes das das bases que substituem e podem

eventualmente, conduzir a uma mutação estável.

Um agente mutagénico análogo de bases muito utilizado é o 5 – bromo – uracilo

(5 – Bu), como análogo da Timina. Este sofre tautomerização (da forma normal

cetónica para a forma enólica) com muito mais frequência que as bases normais.

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Page 19: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

O Uracilo na sua forma normal cetónica, liga-se à Adenina, mas na forma enólica liga-

se à guanina. Modifica-se, assim, o emparelhamento AT para GC devido às formas

tautoméricas do 5 – Bromo – Uracilo. (Figura 15 b))

Figura 15 a) – Mutagénese pelo 5 – Bromo – uracilo.

Emparelhamento da forma normal keto do 5 – Bu com a Adenina e da forma enólica com a guanina em

vez da Adenina.

Figura 15 b) - Mutagénese

pelo 5 – Bromo – uracilo.

Quando a forma cetónica do 5

– Bu é incorporada, em vez da

base Timina, vai ocorrer

tautomerização para a forma

enol e ocorre em consequência,

uma mutação de transição (AT

para GC).

Agentes modificadores do DNA

Estes agentes mutagénicos mudam a estrutura da base e consequentemente

alteram as suas características de emparelhamento. Alguns agentes mutagénicos deste

tipo actuam de um modo selectivo, reagem preferencialmente com algumas bases e

produzem um dano específico no DNA.

Um exemplo é Metil – nitrosoguanidina, que é um agente alquilante que

adiciona grupos metil à Guanina, fazendo com que esta emparelhe com a Timina.

Uma subsequente replicação poderá resultar numa mutação de transição (GC para AT).

(Figura 16).

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Page 20: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Figura 16 – Agente modificador do DNA: Mutagénese pela Metil – nitrosoguanidina.

Outro exemplo de um agente modificador do DNA é o ácido nitroso. Este, retira

os grupos amina da citosina e esta passa a Uracilo que, por sua vez, se liga à adenina em

vez da Guanina. Há uma mutação de transição portanto, de CG para TA.

Figura 17 – Agente modificador do DNA:

Mutagénese pelo àcido nitroso – desaminação.

Agentes intercalantes

Estes agentes induzem distorções no DNA por inserção ou delecção de um único

par de nucleótidos. Colocam-se entre as bases e afastam as duas cadeias de DNA

distorcendo-o, o que resulta numa mutação. Outros exemplos de agentes intercalantes

são acridinas e brometo de etidium.

Agentes destruidores da estrutura das bases

Estes agentes danificam directamente a estrutura das bases; as pontes de

hidrogénio são destruídas, e a lesão no DNA é tão grave que a replicação é inibida.

Por exemplo, por acção dos raios UV (Figura 18), duas Timinas juntas (na mesma

cadeia) que normalmente emparelham com Adeninas, ligam-se entre si por pontes de

hidrogénio (dímeros de timina) e deixam de se ligar às bases complementares. Quando

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Page 21: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

isto acontece, a replicação pára automaticamente. Outros exemplos de agentes

destruidores das bases são aflotoxina B1 e benzopireno.

Figura 18 – Agentes destruidores da estrutura das bases - dímero de Timinas formado por acção dos

raios UV.

Sistemas de reparação do DNA

As células desenvolveram vários mecanismos de reparação do DNA. Muitas

vezes, o DNA danificado é reparado evitando a permanência da mutação.

Se o ciclo de replicação do DNA se iniciar antes da lesão ter sido reparada, a

mutação torna-se estável. Assim, os microrganismos têm de estar aptos a reparar as

alterações que poderão ocorrer na sequência do DNA e que poderão ser letais.

Estar apto a fazer essas reparações é possuir mecanismos apropriados para essa

função.

Existem vários sistemas de reparação do DNA:

“Proofreading”;

Reparação de desemparelhamento dirigida por grupos metilo;

Reparação de bases desaminadas;

Fotoreactivação (fotoliase);

Reparação por excisão;

Reparação por recombinação;

Sistema SOS.

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Page 22: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

“Proofreading” é um sistema de reparação que se deve à capacidade que a DNA

polimerase tem de voltar atrás na cadeia quando se forma uma mutação, reparando-a,

seguindo depois a sua actividade normal. Esta enzima tem, portanto, a capacidade de

remover um nucleótido incorrecto imediatamente após a sua adição à cadeia em

crescimento.

Reparação de desemparelhamento dirigida por grupos metilo

Apesar do contínuo “proofreading”, pode continuar a haver erros durante a

replicação do DNA. As bases erradas introduzidas durante a replicação que a DNA

polimerase não detecta, são detectadas e reparadas por este tipo de sistema. Este sistema

repara pequenos erros (~1 par de bases).

O enzima Mut S reconhece o novo DNA (errado) que está a ser replicado,

enquanto que outro enzima, Mut H, se liga a essa porção da cadeia nova e corta-a. A

DNA polimerase e a DNA ligase preenchem depois a porção que foi cortada.

O sucesso deste sistema de reparação depende da habilidade dos enzimas Mut S

e Mut H para distinguirem, entre a nova cadeia de DNA que está a ser sintetizada e a

DNA molde. Esta distinção é possível porque a nova cadeia que está a ser sintetizada

não possui grupos metil nas bases, enquanto que a cadeia de DNA molde tem grupos

metilo nas bases de ambas as cadeias. Assim, o enzima Mut S reconhece a zona

metilada do DNA (GATC) e a Mut H liga-se a essa sequência, cortando a cadeia não

metilada (cadeia nova). Após a reparação, há transferência de um grupo metilo para a

cadeia recém reparada, permitindo o emparelhamento.

Fotoreactivação (fotoliase)

Os dímeros de timina, formados por acção da radiação UV (agente mutagénico

físico) e as bases alquiladas por acção de agentes alquilantes (químicos), são muitas

vezes corrigidos por reparação directa.

A fotoreactivação é a reparação dos dímeros de timina através da clivagem das

duas pontes entre o dímero, provocando a separação das timinas com a ajuda da luz

visível numa reacção fotoquímica catalizada pelo enzima FOTOLIASE. (Figura 19 a))

Os grupos metilo e outros grupos alquilo podem ser removidos da guanina com a

ajuda de um enzima – alquiltransferase – (Figura 19 b)).

Este dano na guanina provocado por agentes mutagénicos, como a metil-

nitrosoguanidina, pode assim ser reparado directamente.

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Page 23: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Figura 19 – Reparação directa.

a) Reparação dos dímeros de timina pela

fotoliase.

b) Reparação da metilguanina pela transferência

do grupo metilo para a alquiltransferase.

Reparação por excisão

É um sistema de reparação geral que corrige erros que provocam distorções na

dupla hélice. Distinguem-se 2 tipos de reparação por excisão: reparação por excisão de

nucleótidos e reparação por excisão de bases. Distinguem-se pelos enzimas usados para

corrigir os danos no DNA, no entanto, usam a mesma forma de reparação: removem a

porção de DNA danificado da cadeia e utilizam a cadeia complementar intacta como

molde para a síntese do novo DNA.

Este sistema pode reparar praticamente todas as lesões por distorção do DNA.

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Page 24: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Reparação por recombinação

Este tipo de reparação corrige os danos do

DNA quando ambas as bases estão em falta ou

danificadas, ou se há um “gap” por lesão

(lacuna na cadeia de DNA). Neste tipo de

reparação, a proteína RecA vai cortar uma peça

da cadeia de DNA molde da molécula irmã

(não mutada) e coloca-a na “gap” de forma a

reparar a zona danificada. (Figura 20). Embora

as bactérias sejam haplóides, uma outra cópia

do DNA danificado está disponível, pois foi

recentemente replicada, ou porque a célula está

a crescer rapidamente e como o tal, tem mais

que uma cópia do seu cromossoma. O dano

remanescente pode posteriormente ser reparado

por outros sistema de reparação.

Figura 20 – Reparação por recombinação.

Processo de reparação SOS

Apesar de existirem muitos sistemas de reparação, por vezes o dano no DNA do

organismo é tão grave que estes sistemas, descritos anteriormente, não são capazes de

reparar o erro completamente. Nestes casos, em que a célula está em perigo de não

funcionar devido ao aparecimento de mutações, a síntese do DNA pára completamente,

e o sistema SOS é activado. Este sistema é complexo, e é um exemplo de regulão.

A resposta deste sistema é dependente da actividade da proteína RecA. Esta

proteína reguladora liga-se à zona lesada do DNA, cliva-a e assim inicia a reparação por

recombinação (descrita atrás). Simultaneamente, a proteína RecA exerce uma função

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Page 25: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

proteolítica que destrói a proteína repressora LexA. Esta proteína repressora regula

negativamente a função de muitos genes envolvidos na síntese e reparação do DNA

(liga-se a estes e impede a sua expressão). Assim, os primeiros genes a serem transcritos

são os que codificam para as proteínas Uvr (necessárias para a reparação por excisão),

bem como os genes envolvidos na reparação por recombinação. Para dar tempo para a

célula reparar o DNA, a proteína SfiA é também produzida; SfiA bloqueia a divisão

celular.

Este sistema é denominado de sistema SOS porque é activado numa situação de

vida ou morte para a célula; se este sistema falhar, a célula morre.

Este processo de reparação é muito propenso a erros que podem levar a novas

mutações, no entanto, o risco de morte da célula devido às falhas na replicação, é maior

do que o risco causado por possíveis mutações geradas por esse processo. Este, constitui

assim, uma das causas de variabilidade.

Figura 21 – Processo de reparação SOS.

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Page 26: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

Teste de mutagenicidade de AMES

Um maior entendimento dos mecanismos que induzem as mutações e o cancro,

têm estimulado esforços para a identificação de carcinogéneos ambientais. A

observação de que muitos agentes carcinogénicos também são mutagénicos, é a base

para a detecção de potenciais carcinogéneos pelo teste de mutagenicidade, ao mesmo

tempo que se adquire vantagem nas técnicas de selecção bacterianas.

O teste de Ames desenvolvido por Bruce Ames em 1970, tem sido muito usado

para testar carcinogéneos; é um ensaio de reversão de mutações utilizando algumas

espécies de Salmonella enterica, tendo cada uma delas uma diferente mutação no meio

com histidina.

Este teste (Figura 22) consiste

em fazer uma cultura de, por

exemplo, auxotróficos de

histidina (Salmonella

Typhimurium) que são

incapazes de sintetizar

histidina. Esta cultura é

semeada para dois meios: no

meio A, existe uma quantidade

mínima de histidina; no meio B

existe uma quantidade mínima

de histidina mais o agente

mutagénico em estudo.

Após incubação por 2 ou 3 dias a 37ºC: Figura 22 – Teste de Ames.

nas primeiras horas, verifica-se que houve crescimento de todos os auxotróficos

de histidina, pois existia ainda histidina no meio;

quando a histidina acaba, apenas os revertentes que readquiriram a capacidade

de sintetizar histidina continuaram a crescer e produziram colónias visíveis. As

colónias que sobreviveram no meio A, são colónias de microrganismos

designados

revertentes espontâneos,uma vez que adquiriram espontaneamente a mutação

que lhes permitiu sintetizar histidina. As que sobreviveram no meio B (maior

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Page 27: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

quantidade), são de microrganismos que se dizem revertentes induzidos pois a

mutação foi adquirida através do agente mutagénico.

A mutagenicidade pode ser avaliada por comparação com a percentagem de revertentes

espontâneos: quanto maior o número de colónias, maior a mutagenicidade da

substância.

Bibliografia usada para a aula nº 11:

Slides das Teóricas

Apontamentos da respectiva aula

Prescott, Harley, and Klein’s MICROBIOLOGY , de Joanne M. Willey, Linda

M. Sherwood e Christopher J. Woolverton, Edição Internacional – 5ª edição,

McGrawHill, Cap. 13

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Page 28: AULA 11 Sebenta de Bactereologia

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