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Director: Augusto Santos Silva Director-adjunto: Silvino Gomes da Silva Internet: www.ps.pt/accao E-mail: [email protected] Nº 1216 - 24 Março 2004 ASSIM NÃO DR. DURÃO Portugal está hoje mais longe da Europa e os portugueses mais pobres. O Governo de direita está a falhar em toda a linha: no investimento nas pessoas, no desenvolvimento tecnológico, no emprego e na recuperação económica, no combate à fome e à pobreza. Passamos pela vergonha de ser o país que concebeu a Estratégia de Lisboa, hoje a pedra de toque de todas as políticas da União Europeia, e agora sermos quem pior aplica os seus objectivos. Barroso e Portas arrastaram o país na mentira de uma guerra com o argumento de acabar com armas de destruição maciça que afinal não existiam, deixando o mundo mais perigoso e inseguro. No próximo dia 13 de Junho haverá eleições para o Parlamento Europeu, às quais o PS se apresenta com uma lista de grande qualidade. É fundamental que todos os portugueses votem no Partido Socialista, porque é o único que pode vencer a direita e assim dar início a um ciclo eleitoral que leve à derrota nas urnas de uma coligação que tem feito regredir o país de forma inaceitável. É preciso gritar bem alto: “Assim Não, Dr. Durão”. 3 PS confrontou Durão com dois anos de promessas por cumprir PARLAMENTO 4 e 5 Campanha socialista já está em marcha EUROPEIAS 15 PSOE vence eleições legislativas ESPANHA 14 Sérgio Sousa Pinto: votar para fortalecer a democracia e combater os extremismos ENTREVISTA 12 Venha mostrar os seus 50 por cento de responsabilidade na construção do futuro da Europa Participe, de igual para igual, nos debates “Europa: O nosso espaço comum” nas Federações do PS

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Page 1: Augusto Santos Silva Silvino Gomes da Silva Internet: E ... · porque é o único que pode vencer a direita e assim ... a questão da desigualdade social, ... bandeira da justiça

Director: Augusto Santos Silva Director-adjunto: Silvino Gomes da SilvaInternet: www.ps.pt/accao E-mail: [email protected]

Nº 1216 - 24 Março 2004

ASSIM NÃO DR. DURÃO

Portugal está hoje mais longe da Europa e osportugueses mais pobres. O Governo de direita está afalhar em toda a linha: no investimento nas pessoas,no desenvolvimento tecnológico, no emprego e narecuperação económica, no combate à fome e àpobreza. Passamos pela vergonha de ser o país queconcebeu a Estratégia de Lisboa, hoje a pedra detoque de todas as políticas da União Europeia, eagora sermos quem pior aplica os seus objectivos.Barroso e Portas arrastaram o país na mentira deuma guerra com o argumento de acabar com armas

de destruição maciça que afinal não existiam,deixando o mundo mais perigoso e inseguro. Nopróximo dia 13 de Junho haverá eleições para oParlamento Europeu, às quais o PS se apresenta comuma lista de grande qualidade. É fundamental quetodos os portugueses votem no Partido Socialista,porque é o único que pode vencer a direita e assimdar início a um ciclo eleitoral que leve à derrota nasurnas de uma coligação que tem feito regredir o paísde forma inaceitável. É preciso gritar bem alto:“Assim Não, Dr. Durão”. 3

PS confrontouDurão com doisanos depromessas porcumprir

PARLAMENTO

4 e 5

Campanhasocialista já estáem marcha

EUROPEIAS

15

PSOE venceeleiçõeslegislativas

ESPANHA

14

Sérgio SousaPinto: votar parafortalecera democraciae combateros extremismos

ENTREVISTA

12

Venha mostrar os seus 50 por cento deresponsabilidade na construção do futuro da Europa

Participe, de igual para igual, nos debates“Europa: O nosso espaço comum” nas Federações do PS

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2 24 MARÇO 2004ABERTURA

ANTOONIO COLAÇO

PERDÓN, MI QUERIDO RAJOY

- QUEM É QUE TE AUTORIZOU A VOLTAR AFALAR NA RETOMA?! PARECE QUE NÃO LÊSOS JORNAIS E NÃO ANDAS NA RUA?! OUSERÁ QUE SÓ VÊS O CONTRA-INFORMAÇÃO?!

- MAS... Ó CHEFE, EU SÓ QUERIA AGRADAR...

- AGRADAR O QUÊ, HOMEM! UM DESTES DIASAINDA VAMOS TODOS PARA O OLHO DA RUASE CONTINUARMOS A MENTIR AOSPORTUGUESES!

- POIS, POIS! COMO OS ESPANHÓIS ONDE OCHEFE FOI DIZER AO MI QUERIDO MARIANOQUE PODIA CONTAR COM O APOIO DEPORTUGAL E DO PSD...

- CALA-TE COCAS, MALVADO! AH! PERDÃO,DESCULPA, MI MENDESITO!!!

AUGUSTO SANTOS SILVA

OS RESULTADOS ESTÃO À VISTA1. E, como se fosse inesperada, a fome regressou à agenda da

Comunicação Social portuguesa. Vinte anos depois, os jornais tornama falar da fome. Pelo menos 200 mil pessoas estarão em situação deprofunda privação, o último ano (de 2003) agravou enormemente asdificuldades. Dizem-no os especialistas, dizem-no as organizaçõesnão governamentais, dizem-no as redes de solidariedade.Mas dizem mais. Apontam o dedo à crise económica e à escaladado desemprego: 200 novos desempregados por dia, mais 120 mildesde que o actual Governo tomou posse, aproximamo-nos do meiomilhão de desempregados. Aí está com toda a evidência o queacontece quando o abrandamento da economia é acompanhadopor políticas financeiras e orçamentais restritivas, em vez de sercombatido com políticas de estímulo ao investimento e à criação deriqueza e postos de trabalho.E os protagonistas mais qualificados das redes solidárias dizemainda mais. Apontam também o dedo ao retrocesso nas políticassociais: os atrasos de meses no processamento do rendimentomínimo garantido, que, agora que passou a ser chamado deinserção, perdeu precisamente a dimensão essencial da inserção; amenorização da luta contra a pobreza e a exclusão; o discurso políticocontra as supostas regalias, em vez de ser pela defesa dos direitos;o desinvestimento nas políticas de formação e emprego. “EsteGoverno está contra os pobres”, resumiu lapidarmente o sacerdotecatólico que lidera uma das principais organizações de solidariedadesocial.Querem alguns fazer-nos crer que a “retoma” já chegou, queremoutros, ou os mesmos, insinuar que essa coisa do “social” é umtique do passado. Que engano! Nunca como agora a questão social,a questão da desigualdade social, a necessidade de recolocar ainserção e a coesão social na ordem do dia foram tão centrais parao combate político democrático, nunca como agora foi tão actual abandeira da justiça social! Agora que se multiplicam as informaçõessobre o crescimento galopante das bolsas de pobreza, asobreexploração de trabalhadores migrantes caídos nos braços dasmafias, os encerramentos de empresas.A alternativa política que o PS está a construir também passa poraqui: pela revalorização do social, como dimensão-chave dademocracia.

2. O problema do país não se reduz à crise económica e social.

Agravando a crise da economia, minando a confiança das famílias,retirando crédito às instituições, persiste a sina que acompanha oGoverno desde o seu primeiro dia: a falta de credibilidade pessoale política do primeiro-ministro. Como o PS cabalmentedemonstrou, na interpelação parlamentar da passada semana, eneste número do jornal fica recordado, Durão Barroso faltarepetidamente aos compromissos que ele próprio estabelece, nostermos e prazos que prefere. Esquece o que disse ou faz o contráriodo que prometeu. Prometeu baixa de impostos, aumentou-os;prometeu crescimento da economia, o PIB caiu 1,3 por cento noano passado, vivemos a pior crise de há muito tempo; acabavacom a lista de espera para operações, ela aumentou; e poderíamoscontinuar indefinidamente. Envolveu-se e envolveu-nos a todos,entretanto, na aventura da invasão do Iraque, argumentando comumas tais armas de destruição maciça que ninguém conseguedescobrir e arrastando-nos para fora do direito internacional àcusta de uma mentira.O problema político principal do país tem um nome claro: é a faltade credibilidade do primeiro-ministro e do seu Governo.

3. No domingo passado, Durão Barroso escolheu uma realizaçãopartidária, o encontro dos TSD, para anunciar ao país que osfuncionários públicos teriam aumentos salariais reais já em 2005.Assim se vai desmascarando. Mas convém estar muito atento.Convém que denunciemos desde já publicamente o duplo ardil dapolítica económica e financeira da direita. Em 2002, 2003, 2004,maquilhagem do défice por recurso a receitas extraordinárias, partedas quais, como a titularização das dívidas fiscais, começa agora asaber-se que irá trazer maiores encargos no futuro. O corte noinvestimento público e o “discurso da tanga” fizeram o resto: qualpescadinha de rabo na boca, a política trava o investimento e diminuios rendimentos, o que faz baixar os impostos, o que faz cair areceita fiscal, o que aumenta a pressão negativa sobre o défice.Recessão, recessão, sem solução de nenhum problema estrutural,sem verdadeira consolidação das contas públicas. Mas eis que seaproximem as eleições e vereis Durão Barroso a rodopiar sobre sipróprio e a entrar em festança despesista, para que um cheirinho deretoma e benesses para estes e aqueles permitam colher os votos.Vai-lhe correr mal. Como os espanhóis ainda agora mostraram, háníveis de manipulação e oportunismo que nenhum eleitorado tolera.

Querem algunsfazer-nos crer quea “retoma” já chegou,querem outros, ou osmesmos, insinuar queessa coisa do “social”é um tique do passado.Que engano!

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324 MARÇO 2004 INICIATIVA

ASSIM NÃO, DR. DURÃOPara castigar as mentiras de Durão Barroso, as promessasnão cumpridas e a incompetência do Governo, osportugueses devem votar PS nas próximas eleiçõeseuropeias, porque só assim a direita sentirá verdadeiramenteo sabor da derrota.

O apelo ao voto útil no PS a par docombate à abstenção, foram duas daslinhas-força da intervenção do nossosecretário-geral no seu discurso dopassado dia 21, na sessão pública debalanço dos dois anos de Governo dedireita, que decorreu no Centro deCongressos de Lisboa, ocasião em quereiterou a sua proposta a favor doprolongamento do horário de funciona-mento das mesas de voto.Na sua intervenção, Ferro Rodriguessaudou a vitória do PSOE e considerou“insultuosas” para o povo espanhol asteses difundidas por sectores da direita,segundo as quais a vitória socialista nasrecentes eleições espanholas foi antes ada organização terrorista Al-Qaeda. Poroutro lado, defendeu Mário Soares, queem recentes declarações apelou aodiálogo, para lembrar que o fundador doPS “nunca capitulou perante nenhumautoritarismo” e, apesar de “não estarmossempre de acordo com ele”, “ossocialistas respeitam, admiram e gostammuito do seu ex-secretário-geral e antigoPresidente da República”.No plano nacional, o líder socialistacaracterizou os dois últimos anos degovernação como um período de“aumento do desemprego, de cresci-mento das listas de espera nos hospitaise de cortes nos direitos sociais”.Do ponto de vista económico, “o anode 2003 não ficará marcado pelaexistência de um défice de 2,8 por cento,mas pelo decréscimo do Produto InternoBruto em 1,3 por cento”, afirmou, antesde desvalorizar a garantia dada peloprimeiro-ministro de que em 2005 haveráaumento real do poder de compra dostrabalhadores da Administração Pública(ver caixa).A incompetência e a desinformação,aliados à mentira e à manipulação, foramos alvos centrais das críticas de Ferro,que recordou os falhanços nas listas deespera, a errática gestão da crise dosfogos, o desinvestimento nas pessoas enas obras públicas, o clientelismo e oabandono da Estratégia de Lisboa.A terminar afirmou que o PS tem umaequipa para ganhar as europeias,momento que os eleitores vão aproveitarpara mostrar o cartão amarelo ao Governoporque os portugueses merecem um País“melhor do que o que temos”.

O Governo das três mentiras

O cabeça-de-lista do PS às europeias,Sousa Franco, insurgiu-se contra a“venda ao desbarato do patrimóniopúblico” levada a cabo pelo actualGoverno, salientando que “as actuaisprivatizações estão a dar pouca ounenhuma receita, mas podem estar aservir para grandes negociatas e para aperda de comando de sectoresestratégicos da economia”.Na sua intervenção, frequentementeinterrompida por aplausos, SousaFranco acusou o Governo estar a “tentaresvaziar o 25 de Abril e a Constituição”,

dando como exemplos as políticasseguidas nas áreas do emprego, saúde,poder local e direitos sociais, e tambéma proposta de revisão constitucionalapresentada pelos partidos da maioria.Lembrou, ainda, que a Lei das FinançasLocais e a Lei de Bases da SegurançaSocial só foi cumprida pelos governosdo PS.Referindo que uma das “grandesameaças à democracia” é a “mentira”,apontou, a propósito, “três gritantesmentiras” do actual Governo, a primeiradas quais foi o “discurso da tanga”. Éque, frisou, “passados dois anos, pode-se dizer que hoje, sim, é que estamos detanga”.Também o “discurso da retoma”, disse,foi outra mentira, já que o mais recenterelatório do INE esclarece que a quebrada produção foi pior do que se calculava.Por outro lado, a “guerra do Iraque” foiapontada pelo cabeça-de-lista do PS àseleições europeias como a “terceiramentira”, dado que “assentou na mentiradas armas de destruição maciça”. Nestecontexto, defendeu que as próximaseleições europeias “têm de representar ocomeço de uma mudança para melhordo país, porque para mal já basta assim”,exortando os portugueses a mostrarem“um cartão amarelo com sabor avermelho” à governação da direita.O número dois da lista socialista ao PE,António Costa lembrou que o chefe deGoverno, em 2002, quando ainda estavana oposição, aproveitou um funeral deum agente da PSP abatido na Amadorapara prometer a concessão de subsídiosde risco para a polícia.“Durão Barroso já é primeiro-ministrohá dois anos, mas subsídio de risco paraos agentes da PSP nem vê-lo”, referiu,atribuindo também ao Executivo aresponsabilidade pela “demora em oitomeses na nomeação de uma direcçãopara os Serviços de Informações e deSegurança” e por atrasos na reforma das“secretas portuguesas”.“A determinação do PS para combater oterrorismo é total, mas não nos calaremosperante actuações irresponsáveis desteGoverno”, advertiu o actual líder dabancada socialista.“Falhanço total”, foi como, por sua vez, acandidata do PS ao Parlamento Europeu,Elisa Ferreira, qualificou os dois anos dadireita no poder, acusando Durão Barroso

de ter “arrastado Portugal para a recessãoeconómica, com uma política que minaas condições mínimas para umdesenvolvimento sustentado do país”.Passados dois anos, “o balanço édesastroso, a equipa governamental émedíocre e os objectivos são difusos”,disse, acrescentando que “Portugalcaminha sem rumo, com o ‘grandesucesso’ da política de combate aodéfice a ser feito à custa da venda demais activos nacionais e maus negóciosem tempo de saldo”.Perante esta “política de covardia, dementira e de passa-culpas”, Elisa Ferreiradefendeu ser necessário que o PS recebado eleitorado “um mandato inequívoco”,de forma a “reforçar os ideais de paz e dedemocracia social e económica”.

Mobilizar para venceras europeias

Por sua vez, o camarada Jorge Coelhoapelou à “mobilização” de todos ossocialistas, de forma a que o PS vençaas próximas eleições europeias, queconsiderou “um passo de gigante” paraganhar as legislativas, numa intervençãoem que acusou Durão Barroso de ser “ogrande responsável” por uma “políticaneoliberal, fria e tecnocrática” comgraves consequências no plano social.Entre o rol de críticas ao Governo, JorgeCoelho manifestou-se contra a“desregulamentação total” que está a ser

seguida na área da saúde, “criandoportugueses de primeira e de segunda eaumentando as listas de espera”, eacusou o Executivo de perseguir ostrabalhadores que caem no desemprego,retirando-lhes direitos.Salientando ser “absurdo” que DurãoBarroso “continue a desculpar-se como passado, numa tentativa de manipulara verdade”, o deputado socialistaaconselhou o primeiro-ministro a arrepiarcaminho e a pôr os olhos no que“aconteceu em Espanha com o seuamigo e correligionário Aznar”.Já Manuel Alegre desafiou a direcçãodo PS a recusar apelos à unidadenacional, defendendo que os socialistasdevem recusar lógicas do “politicamentecorrecto”, numa intervenção quemereceu forte ovação.Numa referência à actual situaçãointernacional, Alegre referiu que oExecutivo PSD/CDS-PP “quer agoraunidade nacional, tal como OliveiraSalazar a queria no passado”. “Mas esteGoverno degradou a imagem de Portugalno mundo, que tinha sido reconstituídacom a revolução de 25 de Abril de 1974,tornando o país numa espécie de PortoRico da Administração de George W.Bush”, acusou.O deputado José Sócrates fez um ataqueà figura do chefe de Governo,sustentando que a “questão central davida política nacional é a credibilidadee a palavra de Durão Barroso”.

“Será que se pode confiar num primeiro-ministro que não cumpriu as suaspromessas de promover um choque fiscale acabar com as listas de espera”,perguntou, antes de comentar com ironiao slogan do Governo “Portugal em acção”.“Com meio milhão de desempregados,as falências a aumentarem e osretrocessos na educação, na saúde e noambiente, falar-se de Portugal em acçãosó pode ser humor negro”, referiu oparlamentar albicastrense“Uma nódoa” foi a expressão usada porSónia Fertuzinhos para descrever o actualGoverno e a sua actividade ao longo dedois anos, lembrando que Durão Barrosonem foi capaz de usar o tempo de antenapara fazer um balanço, preferindo fugiraos cruéis números da crise económica.Depois de sublinhar a ideia de que aspromessas de rigor e de mudança apenasmaterializaram a diminuição de direitossociais para homens e mulheres, adeputada do PS lembrou que “não háprogresso com discriminação” degénero.Nas políticas para a juventude JamilaMadeira frisou que “nada ficou porcumprir porque, simplesmente, nada foiprometido, tal a negligência em que oGoverno tem votado o futuro de Portugal”.Quanto aos propagandeados sinais deretoma, a líder da JS apenas confessouvislumbrar os do cavaquismo, acusandoo Governo de “esmagar todas as floresde esperança”, com o dramáticoaumento do desemprego, especialmenteentre os jovens licenciados, problemapara o qual a Juventude Socialista vaiapresentar um projecto de resolução noParlamento.Já Joaquim Raposo, presidente daFAUL, defendeu que “a demagogia deDurão e Portas deve ser punida naspróximas eleições europeias, não comum cartão amarelo, mas sim com doisjogos de suspensão”, ao mesmo tempoque lembrou algumas das “dema-gógicas promessas” feitas pelo actualprimeiro-ministro no concelho daAmadora na última campanha eleitoralpara as legislativas.

FERRO INDIGNADO COM FOME EM PORTUGALFerro Rodrigues manifestou-se “estupefacto” com o númerorevelado pela imprensa nacional de 200 mil portugueses apassarem fome, dois anos passados sobre a criação eimplementação de um instrumento fundamental de combateà pobreza e à exclusão que a direita neutralizou, como foi oRendimento Mínimo Garantido.Neste contexto, o líder socialista defendeu categoricamenteo retorno a um Portugal mais solidário, convidando osapoiantes de todos os quadrantes políticos a indignarem-se

com esta situação inaceitável.Por outro lado, reagindo à mais recente promessa de DurãoBarroso de aumento de salários reais na Função Pública parao próximo ano, Ferro explicou que “para que os trabalhadoresda Administração Pública não percam poder de compra faceà altura em que este Governo entrou em funções”, é precisoque os aumentos em 2005 cubram os anos de 2004 e 2003.“Ficamos à espera de aumentos de 8, 9 ou 10 por cento,senhor primeiro-ministro”, desafiou.

As próximas europeias têm de representar o começo de uma mudança para Portugal e um cartão amarelo ao Governo

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4 24 MARÇO 2004

DistritosAVEIRO DEPUTADO AFONSO CANDAL:Vou citar o Dr. Durão Barroso, em Setembro de 2001:“O IC 1 vai ser construído a poente de Estarreja.”“O momento é de escolher a melhor solução e por isso estousolidário, atento e a trabalhar com todos vós, paraconseguirmos que os erros do Governo se corrijam emnome do interesse público”.Esta promessa foi aplaudida em manifestação pelos hojeMinistros Paulo Portas e Marques Mendes.Para cumprir tal promessa propuseram-se construir, emEstarreja, a maior ponte do País, a seguir à Vasco da Gamao que faz corar de vergonha o Presidente da AssembleiaMunicipal e Ministro da Economia.Onde está a ponte Sr. Primeiro-ministro?

BEJA DEPUTADO LUÍS MIRANDA:Em Junho de 2002, o Senhor Primeiro-ministro garantiu queo Aeroporto de Beja iria ser utilizado pela aviação civil, apartir de 2003.Neste Plenário reconheceu, em Outubro de 2003, ter havidoalguns atrasos, mas previu que a abertura ao tráfego paraJunho de 2004.Estávamos no Outono de 2003. Estamos a entrar naPrimavera de 2004.Para quando, em vez disto [foto de um sobreiro na planíciealentejana], a fotografia de um aeroporto nesta paisagem?

BRAGANÇA DEPUTADO MOTA ANDRADE:Em Março de 2002, o Primeiro-ministro prometeu: “Semcriar mais Institutos o Governo do PSD/PP vai transferirpara o interior alguma massa crítica da nossaadministração” .Em dois anos provou-se o contrário: extinção, transferênciaou paralisia de serviços (Delegação dos AssuntosConsulares, Direcção Comercial dos CTT; Centro de ÁreaEducativa; Delegação Regional da RTP; Escola deFormação de Bombeiros; Instituto de Gestão Financeira daSegurança Social, etc.)O Primeiro-ministro prometeu. Bragança pergunta: Quandocumpre?

CASTELO BRANCO DEPUTADO FERNANDO SERRASQUEIRO:O Dr. Durão Barroso assumiu, em Idanha, o compromissode defesa do interior, afirmando: “como futuro líder doGoverno de Portugal, assumo convosco o compromisso daconstrução do IC31, uma obra fundamental paradesencravar este Concelho, para que ele possa tirar todo opartido do seu extraordinário potencial turístico, cultural,económico e agrícola”.Em Novembro de 2003 o PS propôs a inclusão dessapromessa no PIDDAC. A maioria chumbou. O Concelhocontinua encravado.Até quando Sr. Primeiro-ministro?!

COIMBRA DEPUTADO FAUSTO CORREIA:Em comunicação ao país, pela televisão e em horário nobre,o Primeiro-ministro anunciou, em Julho de 2002, entreoutras obras inadiáveis, o arranque da construção daVariante da Foz de Arouce, na EN 236, permitindo, assim, aadequada, porque mais rápida e mais directa, ligaçãorodoviária da Lousã à Estrada da Beira.O Primeiro-ministro prometeu. Onde está a variante queninguém a vê?

ÉVORA DEPUTADO CAPOULAS SANTOS:O Senhor Primeiro-ministro fez 25 promessas concretas aoscidadãos do Distrito de Évora.Lembro-lhe algumas: conclusão do lanço S. Mancos-Estremoz do IP2; Modernização da linha-férrea entre Évora eLisboa; Construção da linha-férrea Sines-Évora-Espanha;Construção de um Hospital com alto grau de diferenciaçãoem ÉvoraDois anos depois nem uma única foi cumprida.O Primeiro-ministro prometeu. Quando vai honrar a suapalavra?

GUARDA DEPUTADO FERNANDO CABRAL:O Dr. Durão Barroso afirmou na Guarda que, quando oPSD fosse poder, daria incentivos aos técnicos para iremtrabalhar para o interior. Disse mesmo: “ defendo umadiscriminação positiva em termos fiscais (...) também em IRS,(…) para quadros que se venham aqui fixar. Por exemplo, ummédico que venha para aqui, é justo que o Estado lhe dêincentivos fiscais…”Dois anos depois, a falta de médicos é tal que tem levado aoencerramento da maternidade do Hospital da Guarda.O Primeiro-ministro prometeu. A Guarda pergunta ondeestão os incentivos, Senhor Primeiro-ministro?

LEIRIA DEPUTADO JOSÉ MIGUEL MEDEIROS:Em Novembro de 2001 o Dr. Durão Barroso prometeu, naBatalha, que quando fosse Primeiro-ministro avançaria deimediato com a construção da variante ao Mosteiro, naestrada nacional n º 1.Já lá vão dois anos Sr. Primeiro-ministro e a obra ainda nãocomeçou.Pergunto-lhe: Pensa cumprir a sua palavra ou tratou-seapenas de mais uma promessa?

PORTALEGRE DEPUTADO MIRANDA CALHA:O Sr. Primeiro-ministro reuniu o Governo em Fronteira, noDistrito de Portalegre, em Abril de 2003. Prometeu, nacircunstância, o IC13 e a Barragem do Pisão.Nada aconteceu até agora.As promessas estão por cumprir. Até quando Sr. Primeiro-ministro?

PORTO DEPUTADO RENATO SAMPAIO:Na oposição o Dr. Durão Barroso e referindo-se à Rede deAlta Velocidade, afirmava:“No caso de se chegar a conclusão que melhor é de factohaver duas ligações a Madrid, uma de Lisboa e outra doPorto, então haverá que como condição mínima, garantir-seque elas avançam simultaneamente”.Agora, a rede apresentada pelo Governo e as últimas noticiasdesmentem aquela afirmação.Pergunto: A simultaneidade é para manter? ou o Porto fica defora da ligação directa a Madrid?

VIANA DO CASTELO DEPUTADO FERNANDO CABODEIRA:O Dr. Durão Barroso prometeu na campanha eleitoral, entreoutras coisas, a ligação da A3 a Paredes de Coura e VilaNova de Cerveira e a continuidade do IC1 de Viana atéValença.Dois anos depois tudo está parado e o o que temos sãodiferendos entre os Ministérios do Ambiente e das ObrasPúblicas.Para quando o cumprimento desta promessa?

VILA REAL DEPUTADO ASCENSO SIMÕES:O Sr. Primeiro-ministro anunciou que as obrigações do Estado,para com a Casa do Douro, deveriam fazer com que oMinistério das Finanças liquidasse uma dívida de cerca de 11milhões de contos.O Dr. Durão Barroso foi recebido em ombros na cidade daRégua, onde reafirmou o seu compromisso de saldar essadívida que considerou como dívida aos viticultores.Para quando, Senhor Primeiro-ministro, a satisfação doscompromissos assumidos?

VISEU DEPUTADO MIGUEL GINESTAL:Durante a campanha eleitoral, o Dr. Durão Barroso disse quenão queria o Instituto Universitário Público de Viseu, então emvias de para promulgação, e prometeu uma UniversidadePública de raiz.De facto, destruiu o Instituto.Dois anos depois os deputados do PSD querem transferir paraViseu a Universidade Aberta; o Presidente da Câmara de Viseuanunciou não uma , mas duas Universidades, a Ministra doEnsino Superior afirmou, aqui, que não tinha nenhumaproposta em cima da mesa.Neste desnorte, para quando a Universidade, Sr. Primeiro-ministro?

MADEIRA DEPUTADO MAXIMIANO MARTINS:Na campanha eleitoral o Dr. Durão Barroso assumiu ocompromisso de reconhecer o direito de voto, nas eleiçõesregionais, aos residentes no estrangeiro.Os Açores apresentaram a proposta de alteração da leieleitoral e a maioria anunciou que vota contra. Na Madeirarecusam-se, pura e simplesmente, a mudar a lei eleitoral.Como e quando vai cumprir o compromisso assumido?

ÁreasAMBIENTE DEPUTADO PEDRO SILVA PEREIRA:No debate da campanha eleitoral na SIC, com o Dr. FerroRodrigues, a 26 de Fevereiro de 2002, o Dr. Durão Barrosodisse que tinha uma alternativa para a co-incineração eafirmou: “Nós vamos voltar ao processo que estava emcurso“, que era a incineração dedicada.Dois anos depois, o Primeiro Ministro não só abandonou a co-incineração, como abandonou também a incineração dedicada,deixando o País sem solução para os resíduos industriaisperigosos. A pergunta é: porque é que o Dr. Durão Barrosonão está a cumprir o que prometeu?

EDUCAÇÃO DEPUTADA ROSALINA MARTINS:O Senhor Primeiro-ministro afirma, desde 2000, que énecessário um programa de emergência para o ensino damatemática e das ciências. Reafirmou-o na campanha eleitorale no programa do governo. Mas, até agora, o que fez foidiminuir o peso da formação científica no Ensino Secundário, edeixar cair o programa Ciência Viva, que assegurava adivulgação científica nas escolas.Como é possível, Sr. Primeiro-ministro, estar a fazerexactamente o contrário do que prometeu?

EMIGRAÇÃO DEPUTADO CARLOS LUÍS:O Dr. Durão Barroso prometeu às Comunidades Portuguesaapostar na valorização da cultura e da língua portuguesas. Emvez disso, cortou 67% no orçamento, fechou dezenas de cursos,despediu centenas de professores, deixou sem aulas milhares dealunos.Foram encerradas cátedras e dezenas de leiturados.Como pode dar esta machadada na nossa cultura e na nossalíngua?

SAÚDE DEPUTADO LUÍS CARITO:O Dr. Durão Barroso prometeu , em campanha eleitoral e emdebates televisivos, que, em dois anos, acabava com as listasde espera nos nossos hospitais.Dois anos depois a situação agravou-se. As listas de esperaatigem hoje mais de 140.000 pessoas.Este rotundo falhanço é indesculpável!Diga-nos, Sr. Primeiro-ministro, o que vai fazer para resolvereste problema e cumprir a promessa feita aos portugueses.

SEGURANÇA DEPUTADO VITALINO CANAS:No dia 4 de Fevereiro de 2002 foi brutalmente assassinado, naAmadora, o agente da PSP, Felisberto Silva. Dois dias depois,numa manifestação condenável de aproveitamento, dizia oentão candidato a Primeiro-ministro, Durão Barroso, sobre osubsídio de risco para os agentes da PSP: “ Apresentámosessa proposta na Assembleia da República. Vamos com certezapagar o subsídio, é um dos nossos compromissos”.Onde está o subsídio de risco da PSP, Senhor Primeiro-ministro?

18 de Março de 2004

LEMBRA-SE?!SR. PRIMEIRO-MINISTRO

Interpelação do PS ao Governo

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524 MARÇO 2004 PARLAMENTO

INTERPELAÇÃO DO PS AO GOVERNO

MERECEMOSUM PORTUGAL MELHORArrasador, o PS atacou em toda a linha a mágovernação da direita, confrontando o primeiro-ministro com 19 perguntas que constituíramprovas de incompetência e de incumprimento detodas as promessas eleitorais feitas há dois anos.Durão Barroso, mais interessado nas celebraçõesmediáticas do que nos assuntos parlamentares,deixou o hemiciclo e entregue às habilidadesretóricas do ministro Marques Mendes que, semargumentos, não respondeu, pois não poderiajustificar o injustificável.Nesta batalha ganha pelos socialistas, registam-se duas baixas essenciais na coligação: acredibilidade do primeiro-ministro e acompetência do Governo.

O falhanço é evidente. Durão Barroso nãocumpriu nenhum dos compromissosnem concretizou nenhum dos objectivosassumidos, deixando cair noesquecimento as promessas dacampanha eleitoral, no arroganteconforto de uma maioria parlamentar dedireita. Dois anos volvidos, “o país estáfarto de um Governo que se esconde ese desculpa com o passado”.Ferro Rodrigues aconselhou mesmo oprimeiro-ministro a olhar para a vizinhaEspanha, porque, “quando se vota, voltaa surgir a esperança” e “ninguém se deveabster de vos obrigar a mudar” porque“os portugueses merecem um Portugalmelhor”.“O país sem dúvida que precisa de novosprotagonistas políticos em várias áreasda governação. É verdade. Mas, para alémda remodelação de pessoas, aquilo quePortugal precisa mesmo é de umaremodelação da agenda política e daagenda económica”, defendeu o lídersocialista no discurso de abertura dainterpelação do PS ao Executivo, ondedesmontou aquilo que qualificou comoo “embuste eleitoral” de Durão Barroso.A espiral de erros cometidos peloExecutivo de coligação PSD/CDS-PPabrangem domínios como o emprego, asaúde, as políticas sociais, as áreaseconómicas e financeiras, oinvestimento público, as obras públicase teve o seu clímax na Cimeira das Lajesque, lembrou Ferro, “abriu as portas auma guerra que trouxe mais insegurançae mais terrorismo”.O secretário-geral desmontou a estratégiade culpar sempre o antecessor, subli-nhando que “com uma maioria clara naAssembleia da República, se falharam éporque não são capazes de fazer melhor”.Por isso, acrescentou, “é preciso falarverdade. É preciso prometer apenas oque sabemos poder cumprir e é precisoentender que se acenar sempre comamanhãs que cantam, será o principalresponsável pelas amarguras do diaseguinte”.

Para Ferro Rodrigues, a “gestãocatastrófica” da direita, minada porministros e secretários de Estadoincompetentes, será avaliada e penalizadanas urnas, quando os portuguesessomarem ao crescimento de 60 por centode desemprego, o aumento das listas deespera, a erosão das solidariedadesocial, o desinvestimento, a paralisia dasobras públicas, a divergência com amédia europeia, o aumento da cargafiscal sem consolidação das contaspúblicas, o défice ardiloso e seistrimestres consecutivos de recessão.Ao reiterar que o primeiro-ministro sedeixou obcecar pelo défice, o líder doPS aconselhou Durão Barroso a aprendercom as lições recentes dos seus amigosdo PP espanhol, que “tiveram umaresposta clara a manipulação e àarrogância”.Portanto, para Ferro Rodrigues, a direitacomemora assim dois anos de “querer,poder e mandar”, o poder de “nomear edestituir”, mas não o desenvolvimentonem o crescimento do país. E tal é aarrogância cega que o primeiro-ministrode Portugal não aceito o repto de debatercom a oposição, em situação regimentalmenos favorável do que aquela a queestá habituado nos debates mensais daAssembleia da república, preferindoexibir-se em entrevistas televisivas,atitude pela qual mereceu a crítica e olamento do PS.

Credibilidade de Durãoarrasada

No encerramento da interpelaçã, opresidente da bancada socialistareconheceu as qualidades oratórias doministro dos Assuntos Parlamentares,para sublinhar que pior do que asengenhosas e frustradas evasivas deMarques Mendes era mesmo a ausênciado chefe do Executivo “que não quiscomparecer no plenário para, cara a cara,responder pelos seus compromissos”.Depois de “prometer tudo a quase

todos”, Durão Barroso “não cumpriunada a quase nenhuns”, acusou,sentenciando “a credibilidade doprimeiro-ministro sai desta interpelaçãocompletamente arrasada”.Na opinião do líder parlamentar do PS,ter fugido de ouvir a oposição nãopoupará Barroso de ter de ouvir osportugueses nos próximos actoseleitorais, porque “o Governo é mau, osministros são maus e os secretários deEstado são péssimos”.António Costa chegou mesmo a elogiara “missão de sacrifício” do ministro dosAssuntos Parlamentares, lembrando quedurante a governação socialista tambémexercera as referidas funçõesgovernativas e que nesse período nuncasentira tais dificuldades, rematando que“com um primeiro-ministro destes,ninguém pode evitar uma derrotapolítica”.Às alegações de Marques Mendes de queo que não está feito está pelo menos emcurso, Costa respondeu com duasimagens. A primeira, cedida há algunsmeses pelo “Acção Socialista”, mostraum chaparro numa seara alentejana ondedeveria estar já construído o aeroportocivil de Beja. A outra, tirada pelo

deputado Luís Miranda, dias antes doplenário, exibia a mesma paisagem, ondeprometida infra-estrutura aeroportuáriacontinua a ser uma miragem.

O preço da manipulaçãoe da mentira

Mas a ofensiva socialista teve umasegunda frente com a intervenção deJorge Coelho, que centrou as suascríticas nos constantes ataques damaioria contra a governação do PS,revela “uma tentativa de manipular averdade”, lembrando que atitudeidêntica “custou muito ao PP espanhol”.Do alto da tribuna, Jorge Coelho criticouseveramente o discurso mentiroso doGoverno, lembrando que a sistemáticaocultação da verdade e as recorrentestentativas de “enganar a opinião públicanão é o caminho”.O PS não se cala perante a mentira,garantiu, reafirmando ainda a suaconvicção de que os eleitores estãoatentos, e que isto pode resultar no“enterro político” de Durão.Para o dirigente socialista, o discurso da“retoma” do Governo está completa-mente desfasado da realidade nacional,

reveladora de um “falhanço políticocompleto”.Já o deputado José Sócrates secundouesta ideia central que caracterizou obalanço de dois anos de desgovernaçãode coligação afirmando que, em vez deestar a arrumar a casa, o Executivo“arrumou em casa meio milhão deportugueses” desempregados.Em resposta a isto e depois de serconfrontado com uma bateria de 19questões concretas e multissectoriaisrelativas ao trabalho não desenvolvidopela equipa governativa azul-laranja,coube ao ministro Marques Mendes dara cara por Durão Barroso.O ministro dos Assuntos Parlamentaresainda tentou salvar a face do Governo,mas cedo ficou sem argumentos peranteum vasto e diversificado conjunto deperguntas que englobavam desde aspromessas de construção do IC1, doaeroporto de Beja, da linha férrea e dohospital de Évora, do IC31, de alternativapara a co-incineração, do fim de serviçosestatais, dos incentivos para a fixaçãode médicos no interior, do subsídio derisco da PSP, da variante da Foz deArouce, das listas de espera, do TGVentre Porto e Madrid, do programa deemergência para o ensino da matemática,do IC13 e da barragem do Pisão, da Casado Douro, da Universidade de Viseu, atéao corte de 67 por cento no orçamentopara o ensino de português noestrangeiro.Recorreu então a novas promessas definalização desta ou daquela promessaaté ao fim do mandato. Mais tarde,soterrado em perguntas, acabou pordesistir de explicar caso por caso,ficando-se pela reprodução doconhecido discurso de evasão e poracusações gerais de eles “querem maisdespesa”.

MARY RODRIGUES

Com uma maioria clara no Parlamento, se falharam é porque não sabem fazer melhor

Zero promessas cumpridas ao longo dos primeiros dois anos do Governo PSD/PP

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6 24 MARÇO 2004PARLAMENTO

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

MAIORIA DE DIREITA PROMOVE DESIGUALDADE

ACESSIBILIDADES PARADAS NO ALTO MINHO

CONTRATO INDIVIDUAL NA FUNÇÃO PÚBLICA

GOVERNO LEGISLA “COM OS PÉS”

O Governo não só não combate osestereótipos que estão na base dadesigualdade entre as mulheres e oshomens como os promove. Esta aacusação lançada no hemiciclo de S.Bento por Sónia Fertuzinhos, para quem“a coligação é quem mais ordena,mesmo perante a humilhação públicadas portuguesas nas perseguições,inquéritos, acusações e julgamentosque decorrem da aplicação da lei doaborto que a maioria impede que sejaalterada.”A deputada do PS e presidente doDepartamento Nacional de MulheresSocialistas (DNMPS) falava, noParlamento, no período de antes daordem do dia, no passado dia 10, numadeclaração política sobre o DiaInternacional da Mulher, ocasião em queapontou exemplos demonstrativos daatitude apática da direita perante osdireitos das mulheres.“Nestes tempos de crise as mulheres têmsido o rosto do inconformismo”,sublinhou Sónia Fertuzinhos, apontandopara o facto do Governo retribuir estaatitude lutadora com a extinção doprograma Inovar, um projecto que, entreoutras coisas, permitiu formar agentesde segurança na área da violência

respeito à promoção da igualdade degénero é remetido para regulamentaçãoe não consta como princípio estru-turante do Código”, declarou a presi-dente do DNMS para quem “todas asmedidas que tentarem contrariar aevolução da participação das mulheresna sociedade só servem para fragilizar ecomprometer o desenvolvimento e acoesão social”.Relativamente à proposta de Lei de Basesda Família, presentemente em discussãona Comissão Parlamentar de Trabalho,Sónia Fertuzinhos responsabilizou o PSDpor, “amarrado ao conservadorismo” doCDS-PP, “alinhar na ideia de criar ascondições sociais que remetam asmulheres para os cuidados à família eos homens para a garantia do sustentofamiliar”.“Este Governo e maioria de direita nãotêm soluções adequadas para osproblemas do dia-a-dia das pessoas, dasfamílias e das mulheres em particular, arecente posição sobre a despenalizaçãodo aborto acaba com quaisquerdúvidas”, rematou, para reiterar deseguida que “a participação equilibradadas mulheres e dos homens é um critérioda democracia”.

M.R.

Dois anos após a chegada da direita aopoder, o balanço do que foi feito nosector das acessibilidades no e para oAlto Minho resume-se a um conjunto deinterrogações. Nada se avançou e tudopermanece à espera. A estratégia doGoverno para este sector não passa deremendos de ocasião.O deputado Fernando Cabodeira interpe-lou o ministro das Obras Públicas, Trans-portes e Habitação sobre os investimentospúblicos nesta área, em sede da respectivacomissão parlamentar, apontando para aausência permanente de respostas face aproblemas que exigem resolução urgente,como é da manutenção da ponte metálicarodoferroviária sobre o rio Lima – PonteEiffel –, em Viana do Castelo.Recorde-se que, em 24 de Fevereiro,devido à corrosão, partiu-se um cabo de

segurança desta estrutura o que, natural-mente, provocou a preocupação entre aspopulações e as autoridades locais.Neste contexto, Fernando Cabodeiraquestionou a tutela sobre o que pretendefazer e para quando, sem esquecer sublinharas garantias de segurança durante o períodoem que decorram as inspecções e osestudos para a necessária intervenção.Também o IC1 e o IP9 foram referenciados,numa tentativa do parlamentar, de obter doministro uma certeza ou um desmentidosobre a futura cobrança de portagensnestas rodovias.“Algumas entidades ligadas ao Alto Minhotêm falado na possível paragem do TGV nodistrito de Viana do Castelo”, assinala odeputado, que considerou importante ocabal esclarecimento da credibilidadedesta hipótese.

Depois de indagar sobre o que o Governotem feito relativamente à construção deuma transversal que ligue a A3 (no nó deSapardos) a Paredes de Coura e Vila Novade Cerveira, Fernando Cabodeira centrouas suas questões no calendário deexecuções.“Para quando a continuidade do IC28até à fronteira da Madalena (Lindoso,Ponte da Barca)? Para quando aconclusão do IP9 entre o nó de Nogueirae Ponte de Lima? Para quando os acessosde ligação, do lado português, à ponteinternacional Cerveira-Goyan? Paraquando a tão prometida beneficiação daEN 101, entre Braga e Monção?”,questionou, lembrando de seguida que“ao IC1, para norte de Viana do Castelo,não foi acrescentado um únicocentímetro”.

A decisão do Tribunal Constitucional (TC)de chumbar duas normas do diploma sobreo contrato individual na Função Públicafoi saudada com satisfação pelo PS, queacusou o Governo de “legislar com ospés”.“O Governo tem vindo a legislar com ospés em vez de utilizar a cabeça criandocondições para violar os mais elementaresprincípios de constitucionalidade”,afirmou o deputado socialista ArturPenedos.O diploma, para o qual o Presidente daRepública pediu a fiscalização preventiva,

contém inconstitucionalidades por violar“o princípio da proporcionalidade”, deacordo com o parecer do TC.Além de violar esse princípio, quandodetermina a nulidade do contrato detrabalho devido à falta de identificação daentidade que autorizou a contratação, foitambém considerado contrário àConstituição o facto de o diploma prever anulidade do contrato celebrado caso faltea autorização da ministra das Finanças,quando estão em causa determinadasremunerações.Considerando “positivo” o chumbo destas

duas normas, o deputado Artur Penedoslamentou que o Tribunal Constitucionalnão se tenha manifestado sobre outrasmatérias que os socialistas consideram“feridas de ilegalidade e inconstitu-cionalidade”, como o despedimentocolectivo ou a cedência ocasional detrabalhadores.“O PS gostaria que o Governo retirasse destadecisão do TC as devidas consequênciase fizesse uma revisão da proposta de leique apresentou à Assembleia da Repúblicasobre o contrato individual da funçãopública”, considerou Artur Penedos.

doméstica, criar espaços de atendimentoàs vítimas deste flagelo nas esquadras, eincluir a problemática nos currículos dos

cursos de formação dos agentes.Também, segundo a deputada, com onovo enquadramento legal para o

trabalho a população activa feminina éprejudicada. “São-lhe retiradosdireitos” e “grande parte do que diz

JORGE COELHO VOLTAA COORDENAR AUTÁRQUICASA condução do pelouro autárquico do PS está novamente nas mãos deJorge Coelho que se afastara destas funções por motivos de saúde,tendo sido substituído por Maria de Belém.Agora, por iniciativa da antiga ministra da Saúde, que mereceu todo oacolhimento de Ferro Rodrigues, o camarada Jorge Coelho,completamente recuperado, reassume a tarefa de organizar o processotendente ao confronto eleitoral autárquico de 2005.Maria de Belém não se afastará, porém, do processo autárquico, ficandointegrada na equipa de Jorge Coelho que contará também com aparticipação de António Galamba.

O novo Código de Trabalho prejudica as mulheres porque lhes retira direitos

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724 MARÇO 2004

ESTADO LAVA AS MÃOS PERANTE DEGRADAÇÃODOS SERVIÇOS DOS CTT

OPÇÃO DO GOVERNOVAI ACELERAR FALÊNCIAS

JORNADAS PARLAMENTARES DO PS/AÇORES

SOCIALISTAS CRIAM COMISSÃOPARA ASSUNTOS EUROPEUS

Análise e debate de questões relacionadas com a União Europeia e reuniõescom diversas entidades e visitas a várias instituições estiveram no centro das IXJornadas Parlamentares do PS/Açores.Relativamente às questões europeias, os socialistas açorianos analisaram nestasJornadas as mudanças que se prevêem na elaboração da legislação a nívelcomunitário, o que implicará a participação das Assembleias da República eRegional dos Açores.Assim, dado que as Assembleias Regionais vão ter de ser ouvidas neste caso,o PS/Açores vai ter uma comissão especializada para emitir pareceres.Das reuniões destacam-se as realizadas com a Junta de Freguesia de Urzelina,Câmaras Municipais de Calheta e Vela, União de Cooperativas e com osLavradores Jorgenses na Sociedade da Ribeira Seca.Por seu turno, as visitas à Cooperativa dos Lourais, Escola Básica Integrada doTopo, Secção dos Bombeiros Voluntários do Topo, Porto de Vila da Calheta,Porto da Vila das Velas e Escola Profissional da Ilha de S. Jorge contribuírampara um profundo conhecimento das realidades vividas nestas entidades esobretudo mostraram um manancial de projectos para o futuro que espelhambem o muito que se tem feito pelo desenvolvimento dos jorgenses, o queconstitui um capital de esperança.Os deputados socialistas regozijaram-se ainda com o empenhamento dosjorgenses no desenvolvimento da sua terra a que o Governo Regional de CarlosCésar tem dedicado um grande esforço de investimento com vista à qualidadede vida e bem-estar de todos quantos optaram por viver na Ilha de S. Jorge.

A “inaceitável” demissão do Estado nadefesa da qualidade de um serviçopúblico como os CTT, que tem vindo a“deteriorar-se” acentuadamente desde2003 com a conivência do reguladorAnacom, foi criticada pela deputada doPS Leonor Coutinho, salientando que“só campanhas de marketing intensivase pagas a peso de ouro permitemcamuflar a revolta que a degradação dosserviços postais inspira”.Numa intervenção na Assembleia daRepública, a parlamentar socialista referiuque, “pela primeira vez, desde que oscorreios estão sujeitos ao controlo doserviço universal, a qualidade dosserviços postais baixou tão dramatica-mente que os CTT não cumpriram, noano de 2003, as metas de qualidadeglobal de serviço”, acrescentando que“seis dos oito parâmetros de qualidadenão atingiram os objectivos convencio-nados entre a empresa e o regulador”.E adiantou também que “não foramsequer atingidos os padrões mínimosde qualidade no que respeita aos prazosde entrega das encomendas, não foirespeitada a garantia mínima dedistribuição atempada do correio azule foram ultrapassados os prazos

por alteração do Contrato deConcessão, os CTT passaram a poderfechar estações de correios sem aanterior dependência de parecerfavorável da Anacom”.Assim, acusa Leonor Coutinho, “oGoverno lava as mãos, como Pilatos,perante um plano sistemático deredução para metade da rede deestações, deixando delapidar o maioractivo dos correios: a sua rede debalcões”, permitindo deste modo “adegradação da relação de confiançacom os portugueses e as empresasestabelecidas no nosso país”.E sublinha que “esta demissão doEstado ocorre, por ironia, no momentoem que a empresa beneficia de umaredução significativa, dos encargoscom as pensões dos seus funcionáriosque decorre da integração do seu fundona Caixa Geral de Aposentações e a suaassunção pelo Estado”.Face a este quadro, a deputada do PSdiz não querer ser “cúmplice destasituação tenebrosa” e reitera que “nãoé aceitável que o Estado se demita dadefesa da qualidade do serviçopúblico”.

J. C. CASTELO BRANCO

As iniciativas legislativas da maioria dealteração ao quadro legal de falência dasempresas tende a privilegiar a exac-tamente a falência como método deresolução das dificuldades. Este o alertadeixado pelo PS na Assembleia daRepública.“As opções do Governo vão acelerar asfalências, proteger a voracidade doscredores e, inevitavelmente, lançarão parao desemprego cada vez mais trabalha-dores”, disse Osvaldo Castro, nopassado dia 10, durante a discussão, naAssembleia da República, do projectode lei que estabelece o Estatuto doAdministrador da Insolvência.Depois de saudar o que qualificou como“afloramentos da intenção de rigor quese mostra indispensável em área tãomelindrosa como a do direito falimentar”,o deputado do PS aconselhou oExecutivo e a maioria parlamentar que oapoia a mostrarem-se disponíveis para,em sede de especialidade, “acolheremas propostas de correcção e melhoria”da oposição.É que, segundo o coordenador socialistapara a área da Justiça, não podem deixarde ser tidas em conta as legítimasexpectativas dos actuais gestores eliquidatários que, quando admitidos, oforam por períodos de cinco anos comhipótese de renovação por mais cinco.Com a substituição destes profissionaispela figura do administrador deinsolvência, os socialistas alertam parao contra-senso de fazer depender aavaliação de desempenhos do númerode processos executados, uma vez que

a distribuição destes é da competênciados magistrados, mas sem regrasaleatórias, “o que, pode, inadvertida-mente, gerar ou ter gerado discrepânciasnas legítimas expectativas, designada-mente dos liquidatários e gestores hámenos tempo na função”.Depois de propor “o reexame” desteaspecto na especialidade, Osvaldo Castrodestacou , entre o conjunto de alteraçõesprevistas, a criação de uma comissãoúnica, de âmbito nacional, com respon-sabilidade pela admissão à actividade deadministrador da insolvência e pelocontrolo do seu exercício, extinguindo-

se as comissões distritais.“Esta centralização poderá, por um lado,levar ao estrangulamento dos proce-dimentos, mercê de previsíveis afunila-mentos, e, por outro, ao afastamento darealidade concreta do processofalimentar em causa”, considerou,alertando ainda para uma eventual perdade independência na actuação dareferida comissão, atendendo ao factode ela estar na dependência do ministroda Justiça e ser coadjuvada por umsecretário executivo, nomeado peloMinistro da Justiça.

M.R.

máximos de espera média nas estaçõesde correio”.Por isso, “os CTT perderam qualidadeessencialmente nas áreas que maisafectam a confiança da população, arede de balcões, e nas áreas com maiorfuturo e sujeitas à concorrência: asencomendas e o correio prioritário”,disse.Perante este quadro de acelerada“degradação” da qualidade dosserviços prestados, de que é exemplo ofacto de as reclamações terem“triplicado” em 2003, Leonor Coutinhoalertou que “se esta situação não forrapidamente invertida os CTT correm orisco de deixar de ser uma referência anível nacional e internacional e deprestar o serviço de qualidade a quehabituaram os portugueses”.Por outro lado, face “à intenção dosCTT de fecho ou transferência da gestãode 500 estações, cerca de 200 estaçõesem localidades rurais e cerca de 300estações médias”, a deputada do PSrefere que “a actuação dos Estadoparece traduzir um completo abandonode qualquer salvaguarda do interessepúblico”.Com efeito, afirmou, “em final de 2003,

PARLAMENTO

Os CTT deixaram de cumprir as metas de qualidade e os prazos de entrega

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8 24 MARÇO 2004

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iniã

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INICIATIVA

A EUROPAESPAÇO DE JUSTIÇA SOCIAL

FAUL ALERTA

PASSES SOCIAIS EM RISCO

MINISTRO DO AMBIENTE CRIAIMPASSE DO PROGRAMA POLIS

O PS responsabilizou o ministro do Ambiente, Amílcar Theias, pelo “impasse eestrangulamento financeiro do programa de reabilitação e requalificação urbanaPolis”, por permitir o adiamento de vários projectos para o próximo QCA, quecomeça em 2007.O porta-voz do PS para as questões ambientais, Pedro Silva Pereira, lembrou que“estava previsto um ajustamento das dotações do Programa Polis, através deverbas reservadas”, e defendeu que “a notícia do adiamento desses projectosconfirma que o ministro não conseguiu financiamento e perdeu no interior doGoverno a disputa dessas verbas”.“As razões do adiamento não são apenas financeiras, mas sobretudo políticas”,acrescentou, acusando Amílcar Theias de “falta de força política para pôr afuncionar as sociedades Polis e fazer aprovar os planos de pormenor de muitascidades.“O PS vai levantar a questão na Assembleia da República e exigir explicações aoministro do Ambiente sobre este impasse e as suas consequências noscompromissos assumidos junto das populações”, adiantou o deputado socialista.

PS/GUARDA EXIGE DEMISSÃO

GOVERNADOR CIVIL EM SITUAÇÃO ILEGAL

MARCOS PERESTRELLOCandidato ao Parlamento Europeu

A Federação da Área Urbana de Lisboa(FAUL) do PS acusou o Governo dequerer “acabar com o sistema de passessociais” na área metropolitana dacapital, alertando a população para oanúncio, por parte das empresasprivadas de transportes rodoviários, deque tencionam proibir a utilização depasses sociais nos seus autocarros.“A posição das empresas de transportesrodoviários de passageiros produzefeitos 90 dias após a sua comu-nicação, pelo que se torna efectiva apartir de Junho do corrente ano”, sali-entam em comunicado os socialistasde Lisboa.“As cerca de 400 mil pessoas queutilizam mensalmente passes sociaispoderão ser privadas da utilização dospasses sociais ou então sofrer umagravamento significativo dos preços”,alerta a federação socialista, reiterandoa sua oposição frontal a essa possibi-lidade, que considera uma penalizaçãoda classe média e um “incentivo àutilização de viaturas particulares”.Os socialistas acusam ainda o Governode coligação de, “já em 2003”, ter feito“um ataque público ao passe social,querendo fazer depender a sua atribuiçãodos rendimentos dos utentes”, depoisde recordarem que este sistema “foicriado, em 1976, por iniciativa do PS”.Assim, “a FAUL do PS exorta o GovernoPSD/PP a intervir no sentido de manteros passes sociais e alargar o seu âmbitode utilização, adoptando medidasnecessárias para eleger o passe socialcomo um instrumento fundamental napolítica de transportes”.

É preciso salvar antigaSorefame

A Federação da Área Urbana de Lisboa(FAUL) do PS exigiu “medidas imediataspara o sector ferroviário”, acusando oGoverno de não ter tomado “qualqueriniciativa” para resolver o problema dacarteira de encomendas da Bombardier(antiga Sorefame), cujo encerramentofoi anunciado pela administração.A manter-se esta posição, refere a FAULem comunicado, “a empresa lança nodesemprego muitos trabalhadores comas inerentes consequências sociais daíadvenientes para os visados, as suasfamílias, para o concelho da Amadora epara a região de Lisboa”.

A FAUL lembra ainda que “esta situaçãonão é nova”, dado que já em 1996 amultinacional Bombardier “deu sinais defechar a sua unidade fabril da Amadora, oque só não aconteceu graças à interven-ção do Governo socialista que adjudicouà empresa os projectos de construção dascarruagens da Fertagus, de reconversãodas carruagens do Metro de Lisboa e aconstrução das carruagens do projectosuburbano do Porto-CP 2000”.No comunicado, assinado pelopresidente da FAUL, Joaquim Raposo, éainda reclamada “uma política detransportes para as grandes áreasmetropolitanas centrada no comboio ena dissuasão da utilização do automóvelparticular”.

Após a denúncia pública de que o gover-nador civil da Guarda se encontra háquase dois anos numa situação ilegalpor incompatibilidade com as funçõesde autarca em Aguiar da Beira, aFederação da Guarda exigiu que oGoverno esclarecesse se mantinhaJoaquim Cândido Ferreira de Lacerdacomo seu representante no distrito, maseste acabou por suspender o mandatoautárquico.Salientando que incumbe ao governador

O PS foi sempre responsável pelosmomentos de maior progresso do Portugaldemocrático. Foi assim na consolidaçãodo regime democrático, foi assim naadesão à comunidade europeia e foi assimna adesão à moeda única.De 1995 a 2001, Portugal conheceu umperíodo de prosperidade económica eprogresso social que não teve paralelo emqualquer outra fase da nossa históriarecente. O Partido Socialista governou opaís nesse período e ficará ligado ao maioravanço do nosso país no índice dedesenvolvimento humano da OCDE.A governação socialista fez crescer oemprego e o poder de compra dosportugueses, aumentou a protecção socialdos mais desfavorecidos, investiu na educação e na ciência, promovendopolíticas que aceleraram a convergência da nossa economia com a médiaeuropeia.O PS contribuiu decisivamente para a estratégia de Lisboa, a grande metaeuropeia para os próximos anos. Foi a presidência europeia protagonizada peloGoverno do PS, em 2000, que definiu o conhecimento e a qualificação dosrecursos humanos como o único modo de garantir um desenvolvimentoeconómico, humano e social compatível com os conceitos que inspiraram aconstrução da Europa como o mais avançado espaço no mundo, em termos dedireitos sociais, económicos e ambientais.É com estes créditos que o PS se apresentará a votos no próximo mês Junho,denunciando uma governação neo-liberal, enfeudada ideologicamente a umpequeno partido de direita. O desmantelamento do estado social prosseguidopela direita tem trazido desemprego, desprotecção social, definhamento daeconomia e aprofundamento dos problemas orçamentais, apenas disfarçadoscom recurso à venda de património público criado ou valorizado pelos governossocialistas.Os partidos da actual maioria têm vindo a desenvolver uma política internacionalanti europeia e contrária aos interesses de Portugal. O posicionamento do Governoface à invasão do Iraque foi o sinal mais claro do objectivo de enfraquecimentoda União e favorecimento do unilateralismo dos Estados Unidos da América,que procuram exportar o seu modelo de globalização assente na desregulaçãodos mercados e em controlar militarmente zonas estratégicas do globo,permitindo às empresas americanas controlar os recursos, sobretudo energéticos,do planeta.As eleições europeias de Junho de 2004, mais do que uma oportunidade paraos portugueses demonstrarem ao governo o seu desacordo com a políticaprosseguida, são o momento para optar entre um modelo de desenvolvimentoeuropeu, assente num estado forte que assegurem boas condições de educação,saúde e justiça social ou um modelo em que os estados procuram apenas criarcondições para a prosperidade dos interesses financeiros e das grandes empresas.Esta opção terá, como já está a ter, consequências directas na vida diária detodos os portugueses.

O posicionamento do Governo face à invasão doIraque foi o sinal mais claro do objectivo deenfraquecimento da União e favorecimento dounilateralismo dos Estados Unidos da América

civil “impedir, fiscalizar e denunciar, noâmbito das suas competências, situa-ções ilegais que se verificam na pessoado próprio”, os socialistas da Guarda

consideraram que perante esta situaçãonão restava outro caminho que não fossea demissão.Para os socialistas da Guarda, “asresponsabilidades inerentes ao cargo nãosão, de modo nenhum, desculpáveis,sejam quais forem os argumentos quevenham a ser invocados”, e sublinharamque “ninguém pode confiar num titularde cargo público a quem competefiscalizar o cumprimento da lei quandoele próprio a não cumpre”.

www.ge.ps.pt

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924 MARÇO 2004

ANA GOMES EM PENAFIEL

SÃO PRECISAS MAIS MULHERESNA POLÍTICA

Ferro Rodrigues promoveunova reunião com reputadoseconomistas no âmbito doprocesso de revisão doPrograma de Estabilidadee Crescimento, no passadodia 15, em Lisboa, ondeparticiparam António Costa,João Cravinho, José Amaral,Luís Campos Cunha, TeodoraCardoso, José Freire deSousa, Manuel Pinho, ElisaFerreira, Joel Hasse Ferreira,Luís Nazaré, Manuel Baganhae Roberto Amaral. Nesteencontro foi analisadaa situação económica dopaís, as perspectivas dedesenvolvimento paraPortugal e as linhas políticasa seguir visando a revisão doPacto de Estabilidadee Crescimento.

RELATÓRIO DO INE REVELA

PORTUGAL TEVE O PIOR DESEMPENHODA ÚLTIMA DÉCADA

Pelo menos 40 por cento de mulheresnas listas das próximas eleiçõesautárquicas e em qualquer órgão dopartido, defende Ana Gomes, para quem“esta não é uma questão de quotas masuma questão de paridade”.A posição da dirigente socialista foiafirmada perante cerca de 250 convivas,no passado dia 13, no habitual jantar-convívio das mulheres do PS de Penafielpara comemorar o Dia Internacional daMulher.Embalada pelo elogio no feminino, acandidata do PS ao Parlamento Europeuconsiderou que “se existissem maismulheres no governo dos países, a nívelmundial, o problema israelo-palestinianotalvez já estivesse resolvido”.“As mulheres percebem que a resoluçãodos conflitos passa pelo diálogo e ir ao

fundo das questões”, explicou de seguida,insistindo na ideia de que “a humanidadedevia mobilizar os talentos das mulherespara resolver estes conflitos”.A candidata socialista não quis tambémdeixar de chamar a atenção para o “ciclo”importante que os socialistas enfrentamcom a oportunidade das eleiçõeseuropeias de 13 de Junho próximo.“É preciso inverter este plano inclinadoem que nós todas estamos, mobilizem asvossas famílias, os vossos maridos, filhospara que se consiga um momento deviragem”, disse, apelando ao voto, numaguerra declarada contra a abstenção.Ana Gomes aproveitou igualmente paraapresentar um novo conceito de deputadoeuropeu: “Para não haver desligamento emanter o contacto com as regiões do país,os deputados do PS não vão para Bruxelas

mas vão a Bruxelas e vêm”.A secretária nacional falou ainda dodesemprego, da globalização, do“atentado ignóbil” de Madrid, doterrorismo, do aborto, da violênciadoméstica, da justiça, da “falsa retoma”anunciada pelo Executivo de direita, daparidade das mulheres na política, daseleições europeias.Satisfeita por estar perante “um PS tãovivo e tão feminino”, Ana Gomes concluiureiterando a sua convicção de que sãoprecisas “mais mulheres na política”.Presentes no jantar-convívio estiveramLuísa Sampaio, presidente da junta defreguesia de Rio Mau, Ana Feijó, doSecretariado distrital do Porto, RosalinaSantos, presidente do DepartamentoFederativo do Porto das MulheresSocialistas e a deputada Paula Cristina.

Portugal está outra vez em recessãotécnica. O relatório trimestral do InstitutoNacional de Estatística (INE) confirman-do que a nossa economia teve em 2003o pior desempenho desde 1993 levou oPS a sublinhar que este é mais um sinalda má governação da coligação PSD/PP.“Andámos para trás dois anos”, referiu oporta-voz do PS, Vieira da Silva, numaalusão à quebra de 1,3 por cento doProduto Interno Bruto (PIB) em 2003,sublinhando ainda o completo falhançodas previsões do Governo, ao lembrarque Durão Barroso esperava em Dezem-bro passado uma descida de um porcento.Com esta descida, lembra, o quarto

trimestre de 2003 é “o sexto seguidocom quebra do PIB”.As afirmações de Vieira da Silva foram cor-

roboradas por Joel Hasse Ferreira, quesublinhou que o relatório do INEdemonstrou que a “crise económica” em2003 foi “brutal” e “mais grave” do que seesperava, tendo destacado a redução do PIBpara “um valor ainda inferior ao de 2001”.O deputado socialista classificoutambém como “extremamente graves”os indicadores que referem que no anopassado se verificou uma descida daprocura interna em 2,9 por cento e umaqueda de 9,5 por cento no que respeita àformação de capital fixo.Joel Hasse Ferreira manifestou-se ainda“surpreendido com a gravidade de oinvestimento ter caído cerca de 10 porcento” no ano passado.

INICIATIVA

CARTÃO AMARELONa última semana, o Partido Socialistalançou uma campanha forte, por todo opaís, utilizando como metáfora a imagemde um cartão amarelo. Vale a pena discutiras razões que nos levam a mostrar umcartão amarelo, a quem e porquê o devemosfazer nesta altura.Um cartão amarelo, naquilo que é umametáfora desportiva, significa umaadmoestação forte, mas que permite aojogador continuar em campo. É, numaaltura em que temos o primeiro acto eleitoraldepois das legislativas de Março de 2002,isso mesmo que está em causa. O PartidoSocialista é favorável à estabilidadegovernativa e, em momento algum, será

um agente de instabilidade e perturbação institucional. Numa democraciaconsolidada como a portuguesa, todo o sistema tem a ganhar com ocumprimento das legislaturas por inteiro e o saudável exercício de alternânciadeve ser feito apenas e só, salvo acontecimentos excepcionais, em eleiçõeslegislativas. Contudo, as eleições europeias do próximo Junho, não servindopara mudar o Governo (que goza duma ampla maioria parlamentar), devem servirpara obrigar o Governo a mudar de linha de rumo, a mudar de protagonistas,mas, essencialmente, a mudar as políticas. O dr. Durão Barroso já disse, aliás,que mesmo que perca as eleições europeias não irá embora, no que é um claroestímulo adicional para todos os portugueses que são críticos desta governaçãomas que consideram, e bem, a estabilidade governativa um valor fundamental.As eleições europeias, servindo para discutir a Europa e as nossas opções parao seu futuro, devem servir, por isso, também para dizer: “Dr. Durão, Assim Não”.Portugal não pode continuar a ir por este caminho.Este cartão amarelo é dirigido essencialmente ao primeiro-ministro, Durão Barroso,pois é ele o principal e último responsável pelo autêntico descalabro governativoem curso e pela incompetência do seu Governo. Em democracia não há mausministros que coexistem com bons primeiros-ministros. Se o Governo é mau éessencialmente porque o primeiro-ministro não é capaz de escolher melhoresministros, não sabe coordenar a acção governativa e, como acontecesistematicamente entre nós, em todos os assuntos complicados, não chama asi a resolução dos problemas, preferindo esconder-se atrás da incompetênciados outros. Um bom primeiro-ministro é capaz de dar a cara e responder aosproblemas mais complicados. O dr. Durão Barroso sempre que deveria surgircomo referencial de estabilidade e de superação das questões mais complexasesconde-se, revelando a sua incapacidade.Mas as razões do cartão amarelo não se prendem apenas com a postura doprimeiro-ministro e com a sua ausência na resposta aos problemas que asfamílias portuguesas enfrentam, prendem-se simultaneamente com as políticaserradas que têm sido seguidas e que têm empurrado o país para as ruas daamargura, para a descrença e para a falta de confiança.Antes de tudo o mais o desemprego. O desemprego que é, não só, uma formabrutal de diminuição das possibilidades de cidadania para milhares deportugueses – pela diminuição de recursos materiais e pelo seu peso simbóliconegativo –, como é também uma ameaça aos próprios alicerces em que assentaa nossa sociedade. O desemprego que aumenta a uma velocidade estonteante,200 novos desempregados todos os dias que passam, um crescimento de pertode 60 por cento em apenas dois anos, caminhando rapidamente para o meiomilhão de desempregados, batendo todos os recordes europeus de crescimento.E essencialmente um crescimento do desemprego face ao qual o Governorevela uma total incapacidade de dar resposta, de contrariar. Um crescimento dodesemprego de que este Governo é também responsável, pelo discurso da tangaque deu cabo da confiança dos agentes económicos e pela obsessão do déficeque deu cabo da economia.Mas um Governo que se deixou obcecar pelo défice merece também um cartãoamarelo. Um Governo que inventou um número artificial de 2,8 por cento parapropaganda interna e para consumo externo e que, para tal, vendeu a preços desaldo activos do país e, contrariamente ao que apregoa, não realizou nenhumaconsolidação orçamental, colocando o défice real em 5 por cento. Um Governoque falhou até naquilo que era o seu principal compromisso e que em nomedesse compromisso deu cabo de tudo o resto.Um primeiro-ministro que fala todos os dias duma retoma que nenhuma famíliaportuguesa conhece. À retoma anunciada em palavras, aquilo que os portuguesestêm para oferecer é aumento de preços, congelamento de salários e perda depoder de compra. Um primeiro-ministro que nos envolveu numa guerra ilegítima,desnecessário e que assentou numa mentira – a existência das famigeradasarmas de destruição maciça – e que em lugar de tornar o mundo mais seguro,tem contribuído para o aumento da insegurança. Um primeiro-ministro queprometeu acabar com as listas de espera na saúde em dois anos e que, em lugardisso, as fez aumentar para 140 mil pessoas. Um primeiro-ministro assim sópode merecer um enorme cartão amarelo.Mostrar um cartão amarelo em Junho ao dr. Durão Barroso é um primeiro sinalde que com esta política Portugal não pode enfrentar o futuro e, fundamentalmente,uma primeira admoestação para que nas autárquicas possamos mostrar umsegundo amarelo, para então sim, nas legislativas, por acumulação de cartões,ou por vermelho directo, mudarmos de Governo para fazer com que Portugalregresse ao futuro.

PEDRO ADÃO E SILVA

O País relativo

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10 24 MARÇO 2004INICIATIVA

Breves

DIRIGENTES NACIONAIS

A dirigente socialista Ana Benaventeparticipou no dia 15, em Lamego, num colóquiosubordinado ao tema “Em busca da qualidadeeducativa”, promovido pelo Sindicato dosProfessores da Região Centro, que contou com aparticipação de cerca de 150 professores.No dia anterior, 14 de Março, Ana Benaventeesteve presente em Lamego num jantar demilitantes socialistas da área da educação.

FEDERAÇÕES

A Federação do Porto do PS condenou “deforma veemente” a condução do processo deescolha de Rui Nunes como presidente daEntidade Reguladora da Saúde (ERS), acusandoo PSD de “corrida despudorada aos lugares dechefia da Administração Pública”.Em comunicado, o PS/Porto considera que “aescolha da personalidade que vai presidir à ERS éno mínimo infeliz”, salientando que “indepen-dentemente dos méritos pessoais e académicosdo escolhido, o facto de se tratar de um dirigentedas estruturas do PSD ligadas à saúde cria umconflito de interesses que nos parece insanável”.

Os socialistas algarvios acusaram o Governoe a Administração Regional de Saúde do Algarvede impedir a consulta do Plano Director Regionalde Saúde a cidadãos e organizações sem acessoà Internet.

A Federação do PS de Santarém manifestou“total solidariedade” ao povo espanhol pelo actoterrorista de 11 de Março e congratulou-se com avitória do PSOE em Espanha, “sinal de que averdade acaba sempre por vencer a mentira”.Os socialistas escalabitanos reiteraram ainda o“repúdio pela teimosia do Governo de direita emprivatizar a Companhia das Lezírias” e manifestarama sua “profunda preocupação pela situaçãoeconómica e social do país”.

A Federação e os deputados do PS eleitos

por Viseu efectuaram uma visita de trabalho àsfreguesias do município de Vouzela. Entre asprincipais preocupações manifestadas pelosdiferentes presidentes de junta, destacam-se osacessos à futura A25, o abastecimento de água esaneamento, as zonas de expansão urbanística, oaproveitamento da energia eólica, a preservação dopatrimónio e a elaboração de um Plano RodoviárioMunicipal e de um Plano de Protecção e Segurança.

CONCELHIAS

A Concelhia de Ourique do PS exigiu a“imediata recolocação em actividade” do Serviçode Emergência Médica Pré-Hospitalar quefuncionava 24 horas por dia no Centro de Saúde deOurique, actualmente inactivo por ordem dacoordenadora da Sub-Região da AdministraçãoRegional de Saúde do Alentejo.

“Verdadeiro bluff” é como o PS/Gaia classifica agestão do Plano Especial de Realojamento (PER)no concelho, acusando a maioria PSD/PP de fazer“propaganda enganosa à custa dos maisnecessitados”.

A Comissão Política Concelhia de Cascaisdo PS aprovou uma moção, por unanimidade, emque “manifesta o seu mais firme repúdio pelosatentados ocorridos em Madrid”, que classificacomo “actos bárbaros e gratuitos”.“Como socialistas democráticos sempreentendemos que os fins jamis justificam os meiose que não há causa que justifique o massacre deinocentes”, refere ainda a moção.

A Concelhia de Tomar do PS emitiu umcomunicado congratulando-se com a “vitóriahistórica do PSOE”, que “demonstra a capacidadedos povos de se livrarem de políticasconservadoras, através da democracia, recusandoa mentira e a conflitualidade como forma de gestãopolítica diária”.

Miguel Coelho e Nuno Cardoso, respectivamente,

presidentes das Concelhias de Lisboa e Porto,reuniram-se no dia 15. Em análise estiveram asestruturas que lideram, o partido e a situaçãopolítica actual.

Numa iniciativa da Concelhia de Lisboa do PS,o dirigente socialista José Sócrates participou nodia 18 de Março num debate sobre a actualsituação política nas instalações das Secções daPenha de França e São João/Beato.

GABINETE DE ESTUDOS

O Gabinete de Estudos do PS promoveu nodia 13 de Março fóruns temáticos sobre Ambientee Desenvolvimento, Saúde e Justiça, e no dia 20sobre Estado Amigo do Cidadão e Segurança dosCidadãos.

MULHERES SOCIALISTAS

No âmbito da campanha para o Parlamento Europeu,o Departamento Nacional das MulheresSocialistas levou a cabo no dia 12, em Faro, e dia19, na FRO, debates sobre a participação dasmulheres na construção de “uma Europa de igualpara igual”.

O Departamento das Mulheres Socialistasdo Porto vai criar um gabinete jurídico de apoioàs mulheres detidas preventivamente.No final de uma visita à ala feminina da cadeia deCustóias, em Matosinhos, a presidente destaestrutura socialista, Maria Rosalina Santos, disse

que o gabinete será composto por quatro juristas,e anunciou a intenção de criar uma linhatelefónica de apoio a esta missão.

O Departamento das Mulheres Socialistasde Coimbra realizou no dia 13 um debatesubordinado ao tema “O desemprego femininono distrito de Coimbra”, que contou com aparticipação de Sónia Fertuzinhos, Vieira daSilva, Ângela Pinto Correia, Maria do Céu CunhaRego, Fátima Carvalho e Helena André.

SECÇÕES

As eleições para a Mesa da Assembleia Geral e oSecretariado da Secção de Benfica e S.Domingos de Benfica vão voltar a repetir-sehoje, dia 24, devido ao facto de nenhuma das trêslistas concorrentes no anterior sufrágio ter obtidomaioria absoluta. Entretanto, saiu mais um númerodo boletim informativo “A Secção”.

Com o objectivo de melhorar a comunicação commilitantes e simpatizantes, a Secção de Campode Ourique está a ultimar a criação de um site ede um blog na Internet, bem como de um boletiminformativo. Entretanto, os serviços desta estruturasocialista foram já informatizados.

AUTARQUIAS

A Câmara Municipal de Aveiro, de maioriasocialista, declarou que recusa receber aincineradora de lixos urbanos sem que o Governo,accionista maioritário do projecto, presteesclarecimentos sobre a opção técnica efinanceira.

O PS ganhou as eleições para a Assembleia deFreguesia de Darque, Viana do Castelo, com1503 votos, contra os 1083 obtidos pela coligaçãoPSD/PP e os 513 da CDU. Com este resultado, oPS alcançou seis mandatos, a coligação de direitacinco e os comunistas dois, o que se traduz numamaioria relativa para os socialistas.

AG

EN

DA

PS SECRETÁRIO-GERAL

26 de Março – 17 horas – Ferro Rodrigues é o orador convidado para o encerramento docolóquio “Portugal, a democracia e a Europa”, organizado pela Fundação Friedrich Ebert, naAssociação 25 de Abril, Rua da Misericórdia, em Lisboa.27 de Março – 20 horas – Com a presença de Ferro Rodrigues e Sousa Franco, promovido pela Casa-Museu João Soares (Quinta do Paul – Ortigosa), realiza-se um jantar-conferência em que António Guterresé o orador convidado para falar sobre “A Globalização e a Reforma do Sistema Internacional de Governo”.

FEDERAÇÕES

24 de Março – 21h00 – A Federação de Setúbal promove um encontro de autarcas do LitoralAlentejano sobre descentralização e organização administrativa do território, no salão nobre daCâmara Municipal de Sines.Reúne os eleitos do PS nas câmaras e assembleias municipais de Alcácer do Sal, Grândola, Santiagodo Cacém, Sines e Odemira.25 de Março – 21h30 – A Federação do Algarve promove uma sessão pública, na BibliotecaMunicipal de Faro, para debater o Plano Director Regional de Saúde do Algarve.28 de Março – 15h30 – Sousa Franco e Capoulas Santos, por iniciativa da Federação do BaixoAlentejo, visitam a Ovibeja.29 de Março – 10h30 – As Federações da Zona Centro – Aveiro, Coimbra, Castelo Branco, Leiria,Guarda e Viseu – reúnem-se em Coimbra para analisar os atrasos do Governo em matéria deequipamento social e a discriminação que o presidente da CCDR está a fazer às câmaras socialistas.14 de Abril – 21h00 – A Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) promove um debate sobre“A Europa como espaço de desenvolvimento e coesão”, no auditório da Biblioteca Municipal deOeiras, com a participação de Elisa Ferreira, candidata ao PE.

CONCELHIAS

27 de Março – 13h00 – A concelhia de Loulé organiza um almoço-debate com Sousa Franco, norestaurante “Os Afonsinhos”, no sítio do Semino, em Quarteira.2 de Abril – 20h00 – A Concelhia de Albufeira promove um jantar-debate, no Hotel Paraíso, em

Albufeira, com a participação de José Sócrates.3 de Abril – 20h00 – A Concelhia de Faro organiza um jantar alusivo ao 25 de Abril, com apresença de Almeida Santos, no Hotel Eva, em Faro.

GRUPO PARLAMENTAR DO PS

31 de Março – Realizam-se as eleições para a Direcção do Grupo Parlamentar do PS.31 de Março – Por iniciativa do Grupo Parlamentar do PS, o plenário da Assembleia da Repúblicadebate a construção do aeroporto da Ota.

GABINETE DE ESTUDOS

26 de Março – 21h15 – O Gabinete de Estudos promove um “Fórum para a Cidadania – AAgricultura e o Desenvolvimento Regional”, no auditório do Pavilhão Multiusos de Trancoso, quecontará com a presença de Capoulas Santos.27 de Março 10h00 e 16h00 – O Gabinete de Estudos conclui a realização de fóruns temáticosdeste mês. “Qualificação dos portugueses” e “Portugal mais competitivo e mais solidário” são ostemas em debate.

SECÇÕES

25 de Março – 21h00 – Os militantes da Secção de Acção Sectorial de Educação do Porto estãoconvocados para uma Assembleia Geral, a realizar-se no auditório da Federação Distrital do Porto.

MULHERES SOCIALISTAS

25, 26, 27 de Março e 5 de Abril – O Departamento Nacional das Mulheres Socialistas organizaum conjunto de debates sobre a Europa nas federações do PS de Leiria (21h00), Portalegre (21h00),Évora (15h00) e Madeira (19h30), respectivamente.29 de Março – 21 horas – O Departamento de Mulheres Socialistas da FAUL realiza uma mesa-redonda sobre “Políticas de Família”, no Clube Vilafranquense, com a participação de Maria do CéuCunha Rego, António Dornelas e Maria da Luz Rosinha.

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1124 MARÇO 2004

«Foi a ETA, não tenhas a menor dúvida.»José Maria Aznar para o director do El Periodico

Público, 17 de Março

«Isso é uma coisa lá deles...»Ivone, portuguesa de 41 anos, sobre os atentados em Madrid

Público

«Este minuto de silêncio foi uma homenagem aos nossos compatriotasespanhóis.»

Comentário de uma funcionária portuguesa do El Corte InglésSIC, 12 de Março

«Estou disponível para fazer campanha com o PSD, o CDS, os socialistasatlantistas. É guerra, é guerra.»

Pacheco PereiraPúblico, 18 de Março

«No CDS já se fala em fusão com o PSD. A comparação que um dirigentefaz é com o PP espanhol, onde tanto há gays como militantes da Opus Deiantilegalização das relações homossexuais.»

Notícia do Público, 17 de Março

«Coligação a caminho do desastre.»Primeira página da revista Visão, 18 de Março

«O Dr. Durão Barroso diz que anda a pôr a casa em ordem. Vê-se logo quenunca ajudou nas tarefas domésticas.»

Sónia FertuzinhosConferência do PS na FIL, 21 de Março

«Cavaco Silva está dentro do prazo.»Nuno Morais Sarmento

Expresso, 13 de Março

«O timing ideal para Cavaco era o dia seguinte às eleições, depois desaber se ganhava ou não.»

Rui Gomes da SilvaExpresso, 20 de Março

«Estou num patamar de tranquilidade.»Santana Lopes

Expresso, 13 de Março

«Eu até alimento muitas polémicas. Por exemplo, agora estou a ler adocumentação da Associação Portuguesa de Medicina Postural, e voulançar outra polémica.»

D. DuarteDNA, 6 de Março

«Não se pode dizer que o 25 de Abril tenha valido a pena.»idem

«Temos andado há 28 anos a não cumprir o ideal democrático.»Maria de Lurdes Pintasilgo

Público, 20 de Março

TRÁS-OS-MONTESVOTADOS AO ABANDONO

Para assinalar estes “dois anos depromessas não cumpridas, de desilusãoe frustração”, o líder parlamentar do PS,António Costa, foi no dia 16 a Bragançapara o “descerramento virtual” de trêsplacas alusivas a obras prometidas nodistrito na campanha eleitoral pelo actualprimeiro-ministro, Durão Barroso.“Este é apenas um exemplo do balançoque podemos fazer distrito a distrito emtodo o país”, afirmou António Costa,sublinhando que à semelhança do queacontece em Bragança, Durão Barroso nãoconcretizou uma única promessa feita deâmbito nacional.Relativamente à situação económica,lembrou que um dos objectivosapresentados por Durão Barroso eraalcançar “um crescimento de dois pontosacima da média europeia”, salientandoque “obviamente o Governo falhou e jáadmite que em 2004 e 2005 Portugal vaicontinuar a crescer menos que a UE”. Oque aumentou, e “de forma acentuada”,sublinhou, foi o desemprego.Por sua vez, o presidente da Federaçãosocialista, Mota Andrade, apontou acriação da Universidade de Bragança, ainstalação da sede do Instituto deConservação da Natureza e a construçãoda Ponte Internacional de Quintanilhacomo algumas das obras prometidas “porum transmontano que por aqui passou,que prometeu tudo, mas que ao longo dedois anos de mandato nada trouxe”.Mota Andrade referiu-se ainda àsacessibilidades como exemplo da “faltade sentido de Estado” do Governo no quediz respeito à “coesão nacional”,considerando “ridículo e anedótico” o factode o ministro das Obras Públicas se terdeslocado a Vimioso para, “com pompa e

circunstância”, inaugurar 4,7 quilómetrosde uma estrada nacional, “uma obra queainda foi adjudicada no tempo do PS”.E lembrou, a propósito, que ao longodestes dois anos não foi lançado umúnico concurso público para aconstrução de qualquer infra-estruturarodoviária.“Não aceitamos que viver no distrito deBragança seja uma fatalidade”, disse,alertando que “com esta política e comeste Governo do PSD/PP caminhosaceleradamente para um atrasoirrecuperável em relação ao resto do paíse da União Europeia”.

Dois anos de esquecimentoe desemprego

Também no distrito de Vila Real os efeitosdo “total abandono” a que foi votadodurante dois anos pelo Governo se fazemsentir, com a região a viver uma gravecrise económica e social.Em conferência de Imprensa destinada afazer o balanço de “dois anos deesquecimento” da coligação de direitaem relação ao distrito, os deputados doPS eleitos pelo círculo eleitoral de VilaReal sublinharam que o distrito é osegundo, em percentagem, com maiornúmero de falências, e é o terceiro commaior número de desempregados,designadamente 12 por cento.Segundo salientou o deputado Pedro SilvaPereira, “as políticas promovidas peloGoverno de Durão Barroso para o distrito,que deu maioria de votos ao PSD, sóvieram agravar a crise económica quetambém se vive nesta região”.Pedro Silva Pereira referiu ainda que é nodistrito de Vila Real que vão encerrar mais

escolas do primeiro ciclo, concretamente340 até 2007, devido a uma “política cega”promovida pelo Governo, que poderá tercomo consequências uma maiordesertificação das aldeias do interior dopaís.Referiu que o distrito é o segundo nasestatísticas de crescimento datoxicodependência e das doençassexualmente transmissíveis, isto aomesmo tempo que os investimentos parao combate a estes flagelos na regiãodiminuíram.Criticou a passagem dos balcões dos CTTpara as juntas de freguesias, e questionouse este agenciamento dos serviços doscorreios não será uma “estratégiameramente economicista”.“Este Governo, que é o mais centralistadesde o 25 de Abril, fez mais mal ao distritode Vila Real em dois anos do que todos osrestantes governos do Portugal demo-crático, tendo ainda a responsabilidade deser o coveiro de uma ideia generosa detransformar o Douro num grande produtocultural e económico, no país e nomundo”, concluiu Pedro Silva Pereira.Já o deputado Ascenso Simões alertoupara a necessidade de discutir novamenteos estatutos da Casa do Douro naAssembleia da República, pois consideraque estes estatutos “estão mal feitos eretiram credibilidade à instituiçãoduriense”.Ascenso Simões desafiou ainda oprimeiro-ministro a apresentar projectospara o desenvolvimento do distrito deVila Real na visita que o chefe doGoverno tem agendada a esta cidade paraa inauguração do Teatro Municipal, umaobra lança pelo Governo socialista.

J.C.C.B.

PS/MADEIRA DENUNCIA ATENTADOS AMBIENTAISE CRESCIMENTO DESORDENADO DA REGIÃOA falta de estratégia do Governo de JoãoJardim para desenvolver a região de“forma integrada e harmoniosa, comgarantias de sustentabilidade”, foicriticada pelo presidente do PS/Madeira.Jacinto Serrão, que falava no âmbito dainiciativa socialista denominada“presidência aberta”, desenvolvida emtodas as freguesias do concelho de SantaCruz, afirmou que o desenvolvimento

regional “não dá garantias de futuro àspopulações”, apontando como um dosproblemas daquele concelho osatentados ambientais verificados no valedo Porto Novo, onde laboram diversasunidades industriais que poluem eprejudicam as potencialidades turísticasdaquele local.O líder dos socialistas madeirensesdefendeu, por isso, ser necessário que

as obras aconteçam “devidamenteplaneadas e estruturadas por forma apreservar a paisagem e dando garantiasde ambiente saudável e qualidade de vidaàs gerações vindouras”.Jacinto Serrão criticou ainda ocrescimento desordenado dos núcleosurbanos, o abandono total do patrimónioda Camacha e a falta de apoio aos idososnas áreas da saúde e segurança social.

Na passagem do2º aniversário das eleiçõeslegislativas que levaram aopoder a coligação PSD/PP, ossocialistas de Bragança e VilaReal fizeram um balançomuito negativo destes doisanos de acção do Governoque se têm pautado por umcomportamento inverso aoscompromissos assumidos,com efeitos no agravamentobrutal das condiçõessocioeconómicas dosrespectivos distritos.

INICIATIVA

O transmontano Durão Barroso prometeu tudo mas nada trouxe para a região

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12 24 MARÇO 2004ENTREVISTA

SÉRGIO SOUSA PINTO EM ENTREVISTA AO “ACÇÃO SOCIALISTA”

VOTAR PARA FORTALECER A DEMOCRACIAE COMBATER OS EXTREMISMOS“Devemos todos apelar incessantemente ao cumprimento dodever cívico” no dia 13 de Junho, afirma o eurodeputadoSérgio Sousa Pinto numa entrevista ao Acção Socialista, emque fala também dos problemas que o terrorismo coloca àUnião Europeia. Para o eurodeputado, votar nas próximaseleições europeias é uma afirmação da vitalidade dasdemocracias, agora combalidas com a ameaça terrorista ecom o ressurgimento dos extremismos. Neste sentido,defende que nestas eleições os políticos façam um esforço depedagogia e eliminem dos seus discursos a demagogiapopulista. Sérgio Sousa Pinto afirma que a União Europeia jádispõe de instrumentos que lhe permitem enfrentar a ameaçaterrorista, sendo apenas necessário a sua plenaimplementação por parte dos Estados-membros, que emalguns aspectos têm manifestado resistência.

Tem a Europa os instrumentosnecessários para combater oterrorismo?A União Europeia (UE) dotou-se a 13 deJunho de 2002 de uma decisão-quadrosobre a luta contra o terrorismo. Oproblema do chamado pacote Vitorinoque continha o mandado de capturaeuropeu, a definição comum deterrorismo e um plano de acção decombate ao terrorismo é que muitosEstados-membros não transpuseram estanorma europeia para o seu direito interno,impedindo, assim, a entrada em vigordestas medidas. Das decisõesanunciadas após o Conselho JAI de 19de Março de 2004, apenas a nomeaçãode um coordenador da luta antiterrorismoé verdadeiramente nova. Todas as outrasmedidas anunciadas são aimplementação de instrumentos jáexistentes. A UE já dispunha, portanto,dos instrumentos necessários - nãoestavam era, por mera culpa dosEstados-membros, a ser correctamenteutilizados.

Na medida em que a ameaçaterrorista está cada vez maispresente na UE o que deve ser feitopara evitar a desestabilização dassociedades europeias?Tomar todas as medidas de ordempreventiva, no plano da segurança, porforma a assegurar a tranquilidade pública.E adoptar, finalmente, uma políticaexterna que resolva os problemaspolíticos (e porventura económicos)que alimentam o terrorismo.

Do seu ponto de vista quais têmsido os obstáculos ao reforço dacooperação policial e judiciáriaentre os Quinze?Fundamentalmente, foram os governosdos Estados-membros que maisatrasaram o necessário reforço destacooperação, por não transporem emtempo útil as normas europeias ou pornão chegarem a acordo. Há, por outrolado, a nível dos serviços policiais ejudiciários uma certa resistência a umamaior troca de informações com outrosserviços. A mudança de mentalidades e

de modo de funcionamento não se fazdo dia para a noite, é um processomoroso mas que é vital para a segurançaeuropeia. Só em conjunto, com trocade informações rápidas, é que a Europapode fazer face ao terrorismo e às novasformas de crime.

De que forma a implementação domandado de captura europeu podetornar o espaço comunitário maisseguro?O mandado de captura europeu entrouem vigor no dia 1 de Janeiro de 2004nos oito Estados-membros queadoptaram as necessárias medidas deintegração da legislação europeia no seuquadro jurídico interno. Esta medida põetermo ao tradicional e moroso processode extradição entre Estados. As suasvantagens são, em primeiro lugar, adespolitização da extradição, visto queo processo é feito entre autoridadesjudiciais, sem que os governos tenham

que se pronunciar. Em segundo lugar, oprocesso passa a ser muito mais eficaz ecélere com prazos e condições arespeitar, previamente estabelecidos.Trata-se, de facto, de uma medidaextremamente importante que só pecapor ainda não ser aplicável a todo oespaço da União devido ao atraso decertos governos na sua ratificação.

Os atentados terroristas que estãoa ocorrer um pouco por todo omundo não são uma outra face daglobalização?

A globalização desregulada gerou umfenómeno de frustração que, de algummodo, concorre para o terrorismo.Nalguns pontos do mundo, a circulaçãode capitais, ou investimentos e a aberturacomercial não geraram prosperidade edesenvolvimento. A verdade é que o atrasode muitas regiões do mundo não podeser exclusivamente atribuído à globa-lização. Do mesmo modo, noutros pontosdo globo – caso do Sudeste asiático – aabertura dos mercados favoreceu grandestaxas de crescimento económico.Por outro lado, a globalização trouxe um

crescimento exponencial do tráfegoaéreo, e dos transportes em geral, queresulta do desenvolvimento acelerado datecnologia e das telecomunicações. Seriamais difícil imaginar o terrorismo globalque hoje existe num mundo anterior àglobalização económica e à circulaçãodos capitais e das tecnologias.No plano cultural, a globalização temperturbado a ordem tradicional, no planodos valores, hábitos, estilos de vida,sendo objecto de uma reacção, por vezesirracional, contra valores de civilizaçãodiferentes.

É a globalização regulável esusceptível de ser colocada aoserviço da diminuição dasdesigualdades e injustiças que háno mundo?Acredito que sim no dia em queacabarem os paraísos fiscais, em quehouver algum controlo dos movimentosde capitais, em que o comérciointernacional obedecer e respeitarmínimos éticos em termos laborais,sociais e ambientais. A actualglobalização tem-se traduzido na meraexportação do modelo neoliberal,agravando as desigualdades entre Nortee Sul e cavando um crescente fossosocial nas sociedades desenvolvidas.Mais concretamente, a globalização teráque passar por um crescimentoeconómico mais bem repartido, quando,por exemplo, os países do Sulconseguirem colocar os seus produtosagrícolas nos mercados do Norte.

Que instrumentos dispõe a Europapara contribuir para a regulaçãoda globalização?A Europa é um gigantesco blocoeconómico mundial. As suas decisões,

A UE já dispunha dos instrumentos necessários para combater o terrorismo, não estavam era a ser correctamente aplicados

Acabar com os paraísos fiscais e controlar os movimentos de capitais contribuiriam para regular a globalização

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1324 MARÇO 2004 ENTREVISTA

MANUEL DOS SANTOS

CUSTOS DO TRANSPORTE RODOVIÁRIOVÃO SER MAIS EQUILIBRADOS

A Directiva “Eurovinheta”, diploma que estabelece um sistema tarifárioaplicável à circulação de veículos pesados nas estradas e auto-estradaseuropeias, vai ser alterada, tendo o eurodeputado Manuel dos Santosapresentado um parecer, já aprovado por larga maioria na Comissão dosAssuntos Económicos, com algumas propostas para melhorar as principaiscausas de desequilíbrio do sector dos transportes.O parecer foi elaborado com base numa proposta da Comissão, que em termosgerais pretende alterar a estrutura e a forma como são aplicadas as taxas emcausa e o modo como são repartidas pelos utilizadores. Pretende-se tambémincluir na directiva os veículos pesados de peso bruto superior a 3,5 toneladase fazer a modelação do valor das portagens em função do tipo de veículo, horade utilização e infra-estrutura utilizada.O documento prevê ainda a atribuição de contrapartidas para compensar umeventual aumento de custos e a afectação directa das receitas das portagens edireitos de uso à melhoria das infra-estruturas existentes e à promoção dotransporte alternativo.

CARLOS LAGE

DECISÃO DA COMISSÃO VAIAFECTAR VINHO DO PORTO

A vulgarização de denominações que apenas dizem respeito ao Vinho do Porto éum erro e poderá pôr em causa a sua imagem a nível internacional, afirma oeurodeputado Carlos Lage, num pergunta dirigida à Comissão Europeia e, naúltima sessão plenária do PE, também numa interpelação ao comissário FranzFischler, exigindo explicações pela autorização agora concedida a produções deoutros países, como os Estados Unidos, África do Sul e Austrália.A preocupação surge pelo facto do último Conselho de Ministros da Agriculturater autorizado a revisão do regulamento sobre rotulagem, que abre a possibilidadede países terceiros produtores de vinho usarem designações como “Tawny”,“Vintage” e “Ruby”, que agora são exclusivas do vinho produzido na regiãodemarcada do Douro e sem que o Governo português tenha tido força suficientepara se opôr àquela decisão.“As modificações adoptadas terão certamente um impacto negativo sobre aprodução e comercialização de todos os vinhos (Porto e Madeira), mas o seuefeito será particularmente sentido no caso do Vinho do Porto, quer por aquiloque ele representa para a economia de uma vasta região do país, quer pela suasreceitas”, afirma o eurodeputado.Assim, Carlos Lage exige que a Comissão dê garantias de que a imagem doVinho do Porto a nível mundial não será afectada, nomeadamente na suagenuinidade, notoriedade e facilidade de reconhecimento pelo consumidor.Com efeito, a proposta de alterar esta regulamentação já tinha sido feita em2002, mas só agora foi aprovada em Conselho de Ministros da Agricultura,onde estava representado Sevinate Pinto.A Comissão Europeia justificou a adopção do regulamento com a necessidadede garantir a conformidade com a legislação comunitária e com os compromissosinternacionais no âmbito da Organização Mundial do Comércio.

em matéria de concorrência – porexemplo quando a Comissão europeiaimpede uma fusão das duas maioresempresas de determinado sector porabuso de posição dominante – afectamglobalmente a economia, protegendo osconsumidores de todo o mundo. AEuropa não deveria esperar pelos EstadosUnidos para se abrir às exportaçõesagrícolas dos países emergentes.Uma Europa sem capacidade militar e sempolítica externa comum limita-sedramaticamente na sua influência. Umacoisa é certa, os Estados isolados –excepção feita aos Estados Unidos, àChina e ao Japão – já não têm papel adesempenhar na regulação global. Porisso precisamos de integração regional ede apoiar organizações como o Mercosul.

Qual o papel que os partidossocialistas a nível mundial podemter neste desafio da regulação daglobalização?O Partido Socialista Europeu já organizouo Fórum Progressista Global ondepretendeu debater a globalização. Ospartidos socialistas só poderão ter umpapel útil se forem capazes de afrontaros baluartes ideológicos e os interessesinstalados associados ao neoliberalismo,em particular os interesses da comuni-dade financeira, já tutelados à escalamundial pelo FMI e pelos dogmas docombate à inflação, do défice zero, daliberalização indiscriminada dosmercados e da flexibilidade laboral.

A partir da Bruxelas, como vê asituação económica e social emPortugal?Portugal vive uma grave crise econó-mica, resultante, fundamentalmente, dosentimento de pânico que o Governo

gerou nos agentes económicos. Não háconfiança sem crescimento económico.Não se vê retoma no horizonte e vamosestar pelo menos cinco anos a afastar-nos da média europeia.

Qual é o seu entendimento sobre oespartilho que as regras do Pactode Estabilidade e Crescimento im-põem às economias, nomeada-mente às mais débeis como aportuguesa?Defendo a regra de ouro, ou seja, o déficedeve ser aferido havendo distinção entredespesas correntes e despesas deinvestimento – nomeadamente aquelasque visam dar cumprimento à estratégiade Lisboa. Considero que o objectivoprevisto de atingir um equilíbrioorçamental (défice zero) é um absurdoeconómico que deve ser eliminado dosTratados.

É voz corrente que a acção doGoverno tem contribuído para adegradação da imagem dePortugal na União Europeia. Qualé a sua opinião?A direita europeia está encantada commais um Governo que segue a cartilhaneoliberal independentemente doimpacto social das suas medidas. Noentanto, o ministro das Finanças francêsjá explicou que não permitirá que, porforça do Pacto de Estabilidade, a Françacometa os mesmos erros que Portugal.Toda a gente percebe que Portugal seafunda na recessão e vende patrimóniopara iludir aparências. Toda a genteaplaude a bem do credo, mas ninguémfaz o mesmo.

Na base da experiência adquiridaao longo dos últimos cinco anos no

Parlamento Europeu, do seu pontode vista o que deve ser mudadopara que este órgão vejareconhecida a importância querealmente tem?Será necessário aumentar os domínios daco-decisão, relançar a integração política,favorecer a criação de uma opinião públicaeuropeia com partidos políticos europeus.Teremos também que estabelecer umarelação entre os resultados das eleiçõeseuropeias e a nomeação da Comissão, oexecutivo europeu.

Sendo a abstenção a tradicionalinimigas das eleições europeias, oque deve ser feito para que oscidadãos tomem consciência daimportância deste sufrágio e vãoàs urnas?Devemos todos apelar incessantemente aocumprimento do dever cívico. Numa épocaconturbada como a nossa, marcada peloterrorismo, pelo ressurgir dos extremismos,sobretudo de direita, é indispensável afirmara vitalidade das democracias. Isso exigedos políticos esforço de pedagogia, umdiscurso argumentativo de racionalidadedirigido à inteligência dos cidadãos e nãodemagogia populista que só descredibili-zará a política.

O que pode o Parlamento Europeuoferecer aos cidadãos da UniãoEuropeia?O papel do Parlamento Europeu érepresentar os cidadãos e fiscalizarpoliticamente o funcionamento dasdemais instituições. Não tem, como ésabido, poderes de iniciativa, o que oafasta do modelo dos parlamentosnacionais. Mas é directamente eleito e éa única instância que goza delegitimidade democrática.

LUÍS MARINHO

APROVADO RELATÓRIO SOBREPOLÍTICA COMUM DE ASILO

Garantir as condições necessárias para a chegada ordenada à União Europeiade pessoas que careçam de protecção internacional, assegurar a partilha deencargos e de responsabilidades inerentes a este processo, quer no interiorda União quer com as regiões de origem e, finalmente, desenvolverprocedimentos mais integrados e eficazes para a admissão e retorno derefugiados, são os três grandes objectivos enunciados no relatório doeurodeputado Luís Marinho, sobre uma nova abordagem para a políticaeuropeia de asilo.O relatório foi aprovado na Comissão das Liberdades Públicas do ParlamentoEuropeu e engloba duas Comunicações da Comissão Europeia que contêmas premissas básicas de uma possível nova definição de regimes de asilona UE, caracterizados por uma melhor gestão, maior acessibilidade eequidade de decisões.Luís Marinho destaca, a este propósito, que deveria competir à UniãoEuropeia, em primeiro lugar, desenvolver uma verdadeira política comumda qual constassem os seguintes elementos: um efectivo sistema europeude asilo; a colaboração com países de origem mediante o tratamentoadequado de questões como os Direitos Humanos e o desenvolvimentodos Estados e regiões de origem e de trânsito; a garantia de tratamento justopara os nacionais de países terceiros que residam legalmente no territórioda UE; a necessidade de uma gestão mais eficaz dos fluxos migratórios emtodas as suas etapas, combatendo a imigração ilegal na origem e lutandocontra os que se dedicam ao tráfico de seres humanos e à exploraçãoeconómica dos imigrantes.

O papel do Parlamento Europeu é representar os cidadãos e fiscalizar as demais instituições

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14 24 MARÇO 2004

A CONSTITUIÇÃOQUE SAIU DO FRIO

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LUÍS MARINHO

A vitória do PSOE produziu em menos de48 horas mudanças que não secircunscrevem ao universo políticoespanhol. É indisfarçável a expectativa quea nova abertura à Europa, anunciada porRodríguez Zapatero como pedra-de-toquede toda a sua política externa, produziunas chancelarias, nas instituições e noestado de espírito dos que aspiram à rápidasolução do impasse em que a Europa caiu,após a Cimeira de Bruxelas.A questão europeia que nas últimassemanas se reconduziu, em todas ascapitais, às alterações na nomenclaturapolítica e à tradicional dança de cadeiras,própria dos momentos pré-eleitorais, comtodos os episódios burlescos e apatetados em que os políticos se deixam consumir,para gáudio e descrença dos sempre atónitos eleitores, que vão encontrando no risoalgum lenitivo para as agruras da crise, assumiu nas últimas horas uma nova natureza,um novo conteúdo, reconduzida que foi à questão primeira do projecto de Constituição.O problema do bloqueio constitucional, suportado formalmente pelo tandem hispano-polaco, justificou os silêncios, os desvios e a falta de coerência de muitos políticoseuropeus, que viram naquela bizarria uma porta de saída para a sua inépcia europeia euma esplêndida oportunidade para ficarem calados.Parecia que já nada havia a dizer sobre o futuro da Europa, enterrado a preceito pelafragilidade das convicções europeias, dissimuladas em proclamações muito enérgicassobre a política e os interesses nacionais.As eleições que se avizinham serviriam para discutir tudo o que viesse à cabeça doscontendores, desprezando a única circunstância em que os europeus são chamados,verdadeiramente, a decidir da Europa. O diálogo ou debate que deveria mobilizar cerca de500 milhões de cidadãos europeus, analisando, contraditando e aprofundando os desafioscomuns e, com isso, contribuindo para uma indispensável opinião pública europeia,estava, até à vitória de Zapatero, subvertido pelo discurso utilitário dos ganhos eleitorais.O futuro chefe do Governo de Espanha rasgou, sem querer, o grande embrulho com quequeriam camuflar a Europa. Com meia dúzia de frases, pôs a Constituição europeia nocentro do debate, agora que a unidade europeia é mais viável e exige uma Magna Cartapara lhe dar vida.A Europa é uma paixão, porque é uma incerteza. Mas de um dia para o outro, olvidada,esquecida, desprezada, salta para a rua e obriga os políticos e os partidos a explicarem-se perante ela.Zapatero transformou uma campanha eleitoral desinteressante, nacionalista e burocrática,onde aos candidatos não seria exigível o mais pequeno conhecimento das encruzilhadaseuropeias, bastando-lhes repetir até à rouquidão os slogans dos partidos, num grandedesafio para os políticos e para os eleitores.A campanha eleitoral está aí, com todas as grandes questões que têm a ver com o futuroda Europa. Referendo? Ratificação parlamentar? Tratado Constitucional? Constituição?Simples Tratado? Soberania nacional? Primazia do direito europeu? Terrorismo? Espaçode Liberdade? Duplas maiorias? Co-decisão?Tantos temas, quantas as explicações, as opções e a pedagogia. Os cidadãos só vãovotar se perceberem o que está em jogo. Se for mais do mesmo, o interesse é reduzido.Se lhes explicarem, se os convencerem, se os entusiasmarem, irão, como sempre foram,às urnas, votar pelo seu futuro.Para já, é só isto que tenho a agradecer ao meu amigo e camarada José Luis RodríguezZapatero.

O diálogo ou debate que deveria mobilizar cerca de 500milhões de cidadãos europeus, analisando,contraditando e aprofundando os desafios comuns e,com isso, contribuindo para uma indispensável opiniãopública europeia, estava, até à vitória de Zapatero,subvertido pelo discurso utilitário dos ganhos eleitorais.

SOCIALISTAS VOLTAM AO PODER EM ESPANHADEPOIS DE OITO ANOS DE ARROGÂNCIA DO PP

CASACA QUER EVITAR DIFICULDADESPARA PRODUTOS DOS AÇORESCOM AÇÚCARA adopção de uma modificação ao Regulamento do Programa POSEIMA poderá vir adificultar ainda mais a expedição do açúcar produzido e refinado no arquipélago,alertou o eurodeputado Paulo Casaca numa carta dirigida ao Secretário de Estado dosAssuntos Europeus, Costa Neves.O eurodeputado apela ao Estado português para “ponderar de forma mais aprofundadae urgente” as questões em jogo naquele diploma e que defenda na Comissão Europeiaa sua revisão.Segundo Paulo Casaca, com a referida modificação, a expedição de produtos dosAçores que contêm açúcar ficará restringida às bolachas, biscoitos e cerveja de maltedestinados à Guiné-Bissau, Cabo Verde e Marrocos, sendo proibidas todas as restantes.De fora, ficarão mercados de exportação tão importantes como a União Europeia,Canadá e Estados Unidos.

Depois de oito anos de oposição e duasmaiorias absolutas do PP, o Partido Socia-lista Operário Espanhol de RodríguezZapatero, com quem ainda recentementeFerro Rodrigues se encontrou em Madrid,foi um vencedor de alguma forma esperadona sequência dos dramáticos e bárbarosatentados terroristas que fizeram em Madridcerca de 200 mortos e perto de 1500 feridos.Os resultados eleitorais de domingo pas-sado são também a vitória sobre a arrogân-cia política e a manipulação com que oPP de Aznar governou a Espanha, queatingiu o seu epílogo com a tentativa deadiar para o mais tarde possível a revelaçãode que os atentados de Madrid tinha amarca da Al-Qaeda e não da ETA. Conformeafirmou o líder do PSOE, “o apoio e aparticipação da Espanha à guerra do Iraquefoi um erro político; a intervenção militarfoi um erro que pôs em causa a ordeminternacional e o papel das Nações Unidas”.Os espanhóis, que desde a intervençãono Iraque não tinham parado de manifestaro seu descontentamento pelo alinha-mento da Espanha ao lado dos EstadosUnidos numa guerra que se baseou numamentira e colidiu com o direito interna-cional, não perdoaram que compatriotasseus e toda a nação tivesse de pagar umpreço tão elevado por causa de uma opçãopolítica errada.Não foi de estranhar, por isso, que doisdias após a vitória, Zapatero tivessereafirmado aquilo que foi uma promessaeleitoral sua: que as tropas espanholasretirariam do Iraque, se até 30 de Junhoas Nações Unidas ainda não tivessem ocontrolo do país.“Estou preparado para governar e desejoque as pessoas recuperem a confiançana política”, afirmou o futuro primeiro-ministro espanhol, que anunciou que iriagovernar mesmo sem maioria parlamentar.Com efeito, o PSOE conseguiu eleger 163deputados, mais 38 do que nas eleiçõesde 2000, enquanto o PP de Mariano Rajoydesceu de 183 para 148. A tarefa gover-nativa do PSOE parece, no entanto,facilitada, porque diversas forças políticasminoritárias já se dispuseram a colaborarcom o Governo de Rodrigues Zapatero,entre as quais os catalães da Convergência

e União, a Esquerda Republicana daCatalunha e os regionalistas das Canárias.Quanto ao programa de governação,Zapatero começou por afirmar que umadas suas grandes prioridades é o combateao terrorismo. Os outros pontos que referiua seguir são a defesa da dimensão socialpara Espanha, o respeito pela Constituiçãoe a presença na primeira linha da cons-trução europeia.A sua primeira declaração após aconfirmação da vitória foi para pedir umminuto de silêncio: “Para que osatentados de quinta-feira nunca maissejam esquecidos”.

Reacções de Ferro, Soarese Guterres

Ao comentar o resultados das eleiçõesem Espanha e as suas consequências, osecretário-geral do PS, Ferro Rodrigues,afirmou que, se fosse primeiro-ministro,“a GNR nunca teria ido para o Iraque”.Ferro Rodrigues, que felicitou telefonica-mente o líder do PSOE no próprio dia daseleições, fez aquelas declarações antesde uma reunião em Lisboa com econo-mistas, tendo considerado “uma manifes-tação de coerência” a retirada dos militaresespanhóis anunciada por Zapatero, namedida em que se trata de uma promessa

feita durante a campanha eleitoral.Para o secretário-geral do PS, a vitóriaque o povo espanhol deu ao PSOE teve aver, em parte, com o facto de José MariaAznar ter alinhado com uma guerra ilegal.E tratou-se de uma “demonstração daforça da democracia contra a barbárie doterrorismo”. “É a vitória da verdade e dacoerência perante uma campanha demanipulação e de mentiras”, sublinhou.Também o eurodeputado Mário Soaresafirmou que a tragédia de Atocha “tem deser devidamente condenada” e manifes-tou total solidariedade com os familiaresdas vítimas e com o povo espanhol.“O terrorismo é algo de muito estranho,que tem de ser estudado a sério ereprimido com inteligência e de maneiraeficaz”, disse.Por seu turno, o presidente da Interna-cional Socialista, António Guterres, numaconferência que proferiu em Évora sobreglobalização e multilateralismo, conside-rou que “a resposta ao terrorismo não podefazer o jogo do terrorismo”, e criticou aintervenção militar no Iraque, lideradapelos Estados Unidos, que considerou“uma guerra ilegítima”.Guterres considerou ainda as repercussõesinternacionais dos atentados em Madridconstituem um passo mais na derrotapresidencial de George Bush. P.P.

FERRO EM ÉVORA

PARA DERROTAR COLIGAÇÃO DE DIREITANÃO SE PODEM DESPERDIÇAR VOTOS“Não se podem desperdiçar votos. Ninguémestá em condições de derrotar a coligaçãode direita a não ser um grande partido, oPS”, afirmou Ferro Rodrigues na Convenção“Évora, o distrito, a Europa e o futuro”,apelando à concentração do voto no PartidoSocialista nas eleições europeias de dia 13.Além do apelo explícito ao voto útil no PS,Ferro Rodrigues criticou os dois último anosda governação do PSD/PP e considerou serfundamental “vencer a coligação de direitapara que depois seja também possívelganhar as eleições autárquicas de 2005”.Numa intervenção de cerca de meia horaperante uma sala cheia e que contoutambém com a presença de Capoulas

Santos, Carlos Zorrinho e Henrique Tron-cho, o secretário-geral do PS interrogouvárias vezes o que estaria afinal o Governoa comemorar com a deslocação de todosos seus ministros a vários pontos do paíspara assinalar os dois anos de funções dacoligação governamental.“Será que estão a comemorar os efeitosincompetentes do seu discurso da tanga”,questionou, argumentando que essasituação “fez com que as empresas e osinvestidores perdessem a confiança nonosso país”.“Ou será – continuou – que estão acomemorar o logro em que os portuguesescaíram”, alegando que na campanha eleitoral

para as últimas legislativas “nunca foicolocada a hipótese de coligação” entre oPSD e o PP”.Ferro Rodrigues acusou o Governo de terconduzido o país à recessão mais profundaque existiu desde há muitos anos emPortugal, apenas comparável à de 1993.O secretário-geral do PS apresentoutambém algumas propostas para que sejapossível combater a abstenção de formaeficaz, fazendo para isso um apelo aoPresidente da República, de forma a queseja considerada a possibilidade dealargamento do horário de funcionamentodas mesas de voto, de maneira a facilitar aafluência às urnas.

A vitória do PSOE é a da verdade contra uma campanha de manipulação e de mentiras

EUROPA

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1524 MARÇO 2004

TRÊS PERGUNTAS A ANA GOMES

“NÃO SE PODE FAZERO JOGO DOS TERRORRISTAS”

Sem alarmismos, os cida-dãos devem ser informadosdas ameaças e dos perigosdo terrorismo internacionale os governos devem sercapazes de cooperar deforma inteligente. Segundoa secretária nacional do PSpara as Relações Interna-cionais, não nos podemosdeixar tolher pelo medo nemabandonar as regras doEstado de Direito

Como se combate o terrorismo internacional?Com governos competentes, inteligentes e determinados, capazes deperceber o que é o terrorismo internacional e o que são as suas causasprofundas, designadamente conflitos políticos não resolvidos (como oconflito israelo-palestiniano, a ocupação estrangeira do Iraque e regimesditatoriais violadores dos direitos humanos) e gritantes injustiças edesigualdades no mundo que tornam muita gente tão desesperada querecorre ao mais abjecto dos métodos, o terror indiscriminado. Governoscapazes de agir no plano internacional, concertadamente, no sentido defavorecer a resolução desses conflitos, no quadro do direito internacionale com respeito pelos direitos humanos. Governos capazes de dar toda aprioridade ao combate a central internacional do terrorismo que é a Al-Qaeda, e que não desviem meios para focos de conflito que sirvam deatiçamento e fonte de recrutamento dos terroristas (foi isso o que aconteceucom a invasão ilegal do Iraque). Governos capazes de organizar e mobilizarserviços de informação, policias, meios militares e segurança e protecçãocivil em geral para se articularem entre si e com congéneres estrangeirospara antecipar e desarticular possíveis ameaças para agir coordenadamenteem caso de ataque. Governos capazes de informar devidamente os cida-dãos, sem alarmismos, mas não desvalorizando perigos nem ameaças.Com cidadãos devidamente alertados, informados e conscientes de que aameaça terrorista atinge hoje todo o mundo, de que o terrorismo não vaidesaparecer tão cedo, de que sem cooperação internacional designadamenteno domínio da “inteligência” não há combate sério ao terrorismo.

Está a Europa preparada para travar esse combate?Infelizmente não está. Mas tem de se preparar, organizar e articular acelerada-mente. As medidas já anunciadas ao nível da UE são um começo, se seconcretizarem. E devem concretizar. Prioritário é perceber o que é o inimigo,o que é a Al-Qaeda, quais são os seus desígnios e como se alimenta, financiae actua. Para se poder agir politicamente e impedir que continue a conseguirrecrutas por esse mundo fora. Desarticular os esquemas de financiamentodos terroristas é vital e também prioritário - para isso importa abolir o segredobancário, extinguir ou controlar todos os movimentos “off-shores” e tomar anível nacional internacional medidas drásticas para detectar e impedir ofinanciamento de operações e das redes terroristas, frequentemente associadasa outras redes criminosas de tráfico de droga e branqueamento de capitais.

O que deve ser feito em Portugal, tendo em conta o Euro 2004 e oRock in Rio?Tudo o que acima referi a nível global. Prioritário é pôr a funcionar comdirecções competentes os nossos serviços de informação - SIS, SIEDM,PJ, SEF -, e todas a forças de segurança em geral. A coordenação destesserviços é vital, tal como é fundamental melhorar a sua articulação comcongéneres estrangeiros. Se necessário deveríamos chamar especialistasestrangeiros para ajudarem a reestruturar os nossos dispositivos. Especialatenção deve ser desde já dada à detecção dos movimentos de financiamentode eventuais redes terroristas, incluindo seguir a sua eventual conexãocom redes de corrupção, tráfico de droga e branqueamento de capitais.Importa também equipar e treinar urgentemente os corpos policiais diversos(PSP, GNR, Brigada Fiscal, etc.) e também militares para estarem preparadospara detectar e agir em caso e ameaça terrorista. Importa investir nos serviçosde Protecção Civil e Cruz Vermelha Nacional para que estejam preparadospara intervir coordenada e eficazmente em caso de ataque terrorista. E importapor fim manter os cidadãos devidamente alertados e informados para perigospotenciais e sobre modos de agir em caso de ameaça ou ataque. Enfim,importa fazer praticamente tudo o que o actual Governo de Durão Barrosonão fez, sistematicamente desvalorizando a ameaça terrorista.O que não se pode fazer é o jogo dos terroristas: deixarmo-nos paralisar pelomedo, alterarmos a nossa vida, abandonarmos as regras do Estado de Direitoe os Direitos Humanos. Nem pensar cancelar o Euro ou o Rock in Rio.Não haverá terroristas que nos façam cancelar a nossa vida, a nossademocracia.

SOUSA FRANCO

EUROPEIAS SERVEM PARA DESMISTIFICARPOLÍTICAS ERRADAS DO GOVERNO

FERRO REÚNE COM FEDERAÇÕES E CANDIDATOSPARA AFINAR CAMPANHA EUROPEIA

As próximas eleições europeias vão servirpara desmistificar as políticas desas-trosas do Governo do PSD/PP, que emmuitos domínios tem invocado pretextoseuropeus para justificar estratégiaserradas para Portugal, afirmou o cabeça-de-lista do PS ao Parlamento Europeu Sousa Franco, num debate organizadopela Federação da Área Urbana de Lisboaem que participaram também AntónioCosta e Joaquim Raposo.Para Sousa Franco, a prioridade para umpaís como Portugal tem de ser a conver-gência económica e o crescimento, por-que somos quem tem menos direitossociais e o maior aumento da pobreza.“As propostas agora feitas pelo Governoao nível dos salários são um exemplodo aumento da desigualdade e dacolocação em risco da solidariedade,tornando o país mais injusto”, afirmou.Para o cabeça-de-lista do PS aoParlamento Europeu, ao contrário do queo Governo tem afirmado, não existenenhum sinal de retoma. Um país ondeisso acontece – afirma – é em França,que recusou reduzir o investimentopúblico. “Os cortes cegos e a atitude doGoverno travaram o investimento internoe externo e destruíram a confiança dosportugueses”, disse.O ex-ministro das finanças do PS foiparticularmente crítico em relação àquiloa que chamou o “seguidismo” doGoverno de Durão Barroso em relaçãoao Governo espanhol de Aznar, patente,por exemplo, a nível do abandono dasprioridades no domínio das redes viáriastranseuropeias e o adormecimento daconstrução do aeroporto da Ota.O mesmo aconteceu com a demissãodo Governo na possibilidade que tinhade apresentar com sucesso um candidatoa vogal da presidência do Banco CentralEuropeu, o que manifestamente vembeneficiar Espanha.

Relativamente à coligação do PSD/PP,Sousa Franco considera que a influênciado PP tem levado o PSD a assumirposições antieuropeias. “A coligaçãoPSD/PP tem actuado na Europa em actosfundamentais de política como elementode hegemonização de um só Estado naordem internacional, e isso implicatambém menos Europa”, afirmou.“Mais europeísmo não significa perdade identidade portuguesa; pelo contrário,permite que nos afirmemos melhor nomundo”, afirmou.Sousa Franco, tal como António Costa,defenderam também uma campanha comelevação, sem ataques pessoais entre oscandidatos das diferentes listas.

Costa sublinha importânciadas Europeias

António Costa sublinhou a importânciaque as eleições para o ParlamentoEuropeu têm para Portugal e para aEuropa. No caso nacional, porque são

as primeiras que o PS vai disputar contraos partidos da coligação, sendo funda-mental penalizar o Governo pelos seuserros desastrosos para o país e porqueas dimensões nacional e europeia estãocada vez mais entrecruzadas. Por outrolado, são as primeiras de um ciclo que oPS quer que sejam de vitórias eleitorais.São importantes a nível europeu, porquea União está confrontada com umalargamento sem precedentes na suahistória, com os efeitos da globalizaçãoe com um projecto de Tratado constitu-cional. Além disso, a União Europeiaatravessa uma fase de grave crise interna-cional, que teve o seu pior momentocom as consequências da guerra doIraque, que dividiu os Estados-membros.Para António Costa, Portugal tem decontrariar a postura passiva que oGoverno tem tido na União Europeia,deixando que os outros decidiam pornós, e combater a ideia de que somosum país pequeno e periférico

P.P.

Com o objectivo de preparar acampanha para as eleições europeias,o secretário-geral do PS, FerroRodrigues, efectuou durante a últimaquinzena duas reuniões com ospresidentes de federação do PS e umacom os candidatos ao ParlamentoEuropeu, esta realizada em Sintra.Sempre acompanhado pelos primeiroscandidatos da lista e alguns membrosdo Secretariado Nacional, o objectivodos encontros com os presidentes defederação e com os candidatos foidebater as linhas gerais da campanhae recolher contributos para a tornarmais eficaz e assim começar a prepararo terreno para as acções que ao longodos próximos três meses decorrerão portodo o país.A palavra de ordem de ambas as reuniõesfoi a absoluta necessidade de mobilizar

todos os militantes e as estruturas dopartido, dada a importância de que serevestem estas eleições, as primeirasdepois da direita governamental terassumido o poder, com consequênciastão negativas a nível económico e social,de que o aumento sem precedentes dodesemprego constitui a face maisdramática.Entre as orientações já assumidas, está acriação da figura do mandatário concelhioe a recolha de apoiantes para a lista, deforma a alargar a base de apoio do PS.Enquanto os partidos da coligaçãoainda andam à procura de um cabeça-de-lista, o PS já realizou inúmerasiniciativas no âmbito da preparação dacampanha para o Parlamento Europeu,desde debates por todo o país àdivulgação do documento base queconstituirá o manifesto eleitoral.

O combate à abstenção foi outra daspreocupações constantes nasreuniões, não só porque tradicional-mente as eleições para o PE sãorelativamente pouco participadas,mas também porque decorrem já noperíodo de Verão, com feriados e,desta vez, com a dificuldadeacrescida que decorre da realizaçãodo Euro-2004.No passado fim-de-semana decorreuem Sintra o primeiro encontro entre osecretário-geral e todos os candidatosda lista do PS com o objectivo dediscutir as orientações da campanhae um conjunto de temas que estão naordem do dia na União Europeia,como a Estratégia de Lisboa,segurança, política externa,agricultura, tratado constitucional efundos estruturais.

As propostas governamentais sobre salários promovem a desigualdade e colocam asolidariedade em risco

EUROPA

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16 24 MARÇO 2004

Opi

nião

PARLAMENTO

É PRECISO UMA “VERDADEIRA”DESCENTRALIZAÇÃO PARA PORTUGAL

1.A Europa em busca de umanova política regionalA nova Europa, a Europa alargada, estánum momento de recentragem da suapolítica regional, tanto em matéria deobjectivos, como em termos de “geogra-fia” de aplicação de recursos. As novasperspectivas financeiras que nos propõemencerram o paradoxo de no momento emque se faz o maior alargamento de semprea Europa quer gastar o mesmo ou menosdo seu orçamento do que antes.É evidente a intenção de reorientar osmacro-objectivos europeus, em termosde desenvolvimento regional, de umapolítica de distribuição e coesão para umapolítica de crescimento e competitivi-dade. A Europa quer crescer mais e maisrapidamente e quer distribuir menos por menos centros de necessidade. Querconcentrar investimentos, quer reduzir instrumentos, quer simplificarprocedimentos.Para nós é claro! O que queremos é a aplicação da Estratégia de Lisboa nas suasmúltiplas dimensões de competitividade, inovação, conhecimento, emprego ecoesão. Não aceitaremos que a Europa da competitividade se construa contraa Europa da coesão. Este é o combate dos socialistas na Europa e em Portugal.Esta recentragem política impulsiona a discussão de novos modelos de“governança” territorial, enquanto patamar de concertação de interesses a nívelregional e de uma nova atitude no exercício da governação.Tudo o que aí vem em termos de política regional é novo e requer uma redifinição,por parte dos países e das regiões, dos seus objectivos e das formas de gerir osterritórios e obriga, acima de tudo, a uma visão estratégica nacional de enormeamplitude e virada para o futuro. É preciso sabermos o que queremos para o paíspara sabermos o lugar de cada uma das regiões no projecto de desenvolvimentonacional.

2.Descentralização e regionalização: duas faces da mesmamoedaA realidade actual coloca a necessidade estratégica de adesão de Portugal anovas lógicas de territorialidade e a novos modelos de gestão territorialdescentralizados, dinâmicos e inovadores.É preciso, antes de mais, consolidar “territórios pertinentes”, com massa críticae capacidade de atracção de recursos estratégicos para a competitividade e odesenvolvimento, tanto físicos como imateriais (que garantam as externalidadesde escala e gama) para responder às condições que organizações e indivíduosnecessitam para o bom desempenho das suas actividades.O desafio que está colocado ao país é, pois, o de conseguir consolidar,internamente, uma estrutura regional com escala apropriada, competências,autoridade e poder de decisão que permita redefinir o padrão de desenvolvimentoe gerir os meios necessários à sua concretização e, por outro lado, que amplieresultados e fortaleça as relações de cooperação transfronteiriças e transnacionais.Mas esse desafio só será ganho se formos capazes de gerir mais e melhor osnossos recursos. Este é o desafio que devemos compreender e assumir.Estamos certos que o novo modelo defendido e implementado pelo actualgoverno de “associativismo intermunicipal” não é o mais adequado para umanegociação com esta Europa em busca de uma nova geografia, novos objectivose novos modelos de “governança”.Enquanto a Europa se reconstrói em grandes espaços regionais, nós discutimosa “sub-regionalização do país” em pequenos espaços, sem escala e sem nexoterritorial, sem massa crítica própria, sem uma visão abrangente e sem umaestratégia coerente que enquadrem projectos, iniciativas e acções a concretizar.E, naturalmente, com mais custos e menor racionalidade na aplicação dosdinheiros públicos.O actual Governo com este novo modelo de “descentralização” desestruturouo território em cerca de duas dezenas de unidades subregionais (mais do que osdistritos existentes), perdeu o controlo do processo porque não assegurou a“função de salvaguarda” para o estado (ficou sem a última palavra) e está aconstruir um andar sem discutir o edifício da governabilidade do território noseu todo (não tem noção do que quer). Este modelo vai reduzir a eficiência daacção política (pela geometria variável da desconcentração de competências),vai reduzir a justiça espacial (fracturando o país entre litoral e interior no que dizrespeito a meios) e não dá a capacitação necessária às unidades territoriaisagora criadas.Portugal precisa de uma “verdadeira” descentralização. De uma descentralizaçãoque não represente mais custos mas mais e melhor gestão de recursos. De umadescentralização que represente uma forma mais eficaz e mais solidária de“governança” dos nossos territórios.Portugal precisa agora, mais do que nunca, da regionalização. A regionalizaçãofaz parte das mais profundas convicções do PS. A regionalização fez sempreparte do projecto que o PS defende para Portugal. Não deixemos que a direitamanipule, no discurso e na acção, este nosso projecto nem que abale asnossas convicções. Temos pois a responsabilidade de a colocar de novo naagenda política nacional.As próximas legislaturas europeia e nacional serão marcadas, pois, por umaviragem na política regional.São os socialistas que estão em melhores condições de na Europa como emPortugal defender um política regional que promova a competitividade, a inovaçãoe o conhecimento sem deixar de salvaguardar a coesão económica, social eterritorial entre regiões.

MIGUEL FREITASPresidente do PS/Algarve

REFER NO JAMOR

NEGÓCIO FORA DE CARRIS

SERRA DA ESTRELA

FALTAM EXPLICAÇÕES SOBRE PLANO DE EMERGÊNCIA

VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS

PS EXIGE TOMADA DE POSIÇÃO DE DURÃO BARROSO

CARLOS LUÍS QUER AJUDA PARA PORTUGUESESEXPLORADOS NA HOLANDA

O Governo tem que esclarecer se vão ounão ser construídas oficinas da RedeFerroviária (Refer) no complexo desporti-vo do Jamor. Esta a exigência feita numrequerimento subscrito por três deputadossocialistas e que surge depois de o ministroJosé Luís Arnaut ter desmentido taloperação, tendo em conta cartas doInstituto do Desporto de Portugal, nas quaisse pedem informações sobre a compatibili-dade entre o projecto e o PDM (PlanoDirector Municipal) de Oeiras.Assim, José Lello, Laurentino Dias e Fer-nando Cabral citam mesmo uma notíciado semanário “Expresso”, na qual se fazreferência a uma carta do presidente doIDP (entidade que tem a responsabilidadeda preservação do Jamor), a pedir os ditosesclarecimentos “de modo a instruir o pro-cesso junto da Direcção-Geral doPatrimónio”.O documento, com data de 12 de Março,exige algumas respostas aos ministros-adjunto do primeiro-ministro e das Cidades,

Ambiente e Ordenamento do Território eObras Públicas.A transferência das instalações da Refer,actualmente na Fundição de Oeiras, parajunto das piscinas do complexo do Jamorfoi referida pela Comunicação Social noinício deste ano, mas desmentidas depoispela tutela do sector.Segundo as notícias divulgadas, no lugardeixado pela Refer (na Fundição) seriaconstruído um empreendimentoimobiliário.No requerimento, intitulado “Um Negócio

de Muitos Milhões” e “Negócio Fora dosCarris”, os deputados do PS questionamse, apesar dos desmentidos, este não foium processo que teve “o apoio (senão opatrocínio) do Governo, do Instituto doDesporto de Portugal e da Câmara Municipalde Oeiras”.Esta é a segunda tentativa do PS para obteresclarecimentos. A primeira, a pedido deaudição na Comissão Parlamentar deEducação Ciência e Cultura, do ministro-adjunto foi impedida pelos votos contráriosda maioria parlamentar.

Os deputados do PS eleitos pelo Círculoda Guarda solicitaram ao ministro daAdministração Interna informações sobrea execução do Plano Especial deEmergência para a Serra da Estrela(PEESE) apresentado em 2002, querecebeu parecer favorável dos GovernosCivis de Guarda e Castelo Branco.Em requerimento entregue na Assembleiada República, Fernando Cabral e PinaMoura frisam que até 2002 existiam dois

Planos de Emergência para situaçõesinvernosas, mas que a partir do finaldaquele ano foi elaborado um único planoque, segundo o texto então distribuído,“deveria ser activado sempre que existissea necessidade de resgate de pessoas eoutras situações concretas”.Os deputados socialistas referem-se aoscerca de dez mil hectares de floresta ardidosem fogos florestais no último Verão na áreado Parque Natural da Serra da Estrela e ao

facto de na recente época de Carnaval enos últimos fins-de-semana, devido àqueda de neve, “o pandemónio rodoviário”ter sido “uma constante, pondo em perigovidas humanas e bens materiais”.Pina Moura e Fernando Cabral querem,por isso, saber se o PEESE já foiaprovado pela Comissão Nacional deProtecção Civil, em que data e casoainda não tenha sido aprovado, quais asrazões porque o não foi.

É inaceitável que em prol da coesão deuma coligação de conveniência,responsáveis governativos respondamcom silêncio perante fenómenos deviolência no desporto, alegandodesconhecimento e tentando pacificar aavaliação de comportamentos agressivosque denigram a imagem do nosso país.Assim, António Galamba insta o primeiro-ministro “a pronunciar-se sobre osacontecimentos protagonizados pelopresidente da Câmara Municipal, AvelinoFerreira Torres, no estádio com o seunome, e a explicar se pensa que estes

concorrem para a boa organização doEuro-2004 e para a afirmaçãointernacional do bom nome de Portugal.“Considera ser um bom exemplo paraos espectadores dos fenómenosdesportivos, em geral, e para os jovens,em particular, a imagem de um dirigentedesportivo que num recinto desportivoincita à violência e pontapeiaequipamentos do recinto em fúria contraa arbitragem?”, pergunta o deputadosocialista a Durão Barroso, emrequerimento entregue no Parlamento, nopassado dia 2.

A propósito do mesmo incidente, MiguelCoelho questionou os titulares das pastasdo Desporto e da Administração Internasobre os procedimentos o Governopretende adoptar para que este mesmocidadão não reincida neste tipo deatitudes e sobre as instruções que serãodadas às forças de segurança paraimpedir invasões aos campos de futebol.“Foi alguma vez dada, durante aocorrência dos incidentes, voz de prisãoao invasor do campo de futebol de Marcode Canaveses?”, inquiriu, ainda, odeputado socialista.

A ausência de recursos financeiros ehumanos na Embaixada e no Consuladode Portugal na Holanda para acudir àssituações de muitas centenas deportugueses que assinaram contratos comempresas sem escrúpulos, esteve na origemde um requerimento apresentado pelodeputado socialista Carlos Luís.No documento, em que manifesta a sua

indignação perante este quadro queencontrou recentemente na Holanda, odeputado socialista sublinha que mais umavez tem sido o movimento associativo quede uma forma geral “se tem substituído aopróprio Estado, minorando o sofrimento, aangústia e o desespero de muitoscidadãos”, acrescentando que “a nãosubstituição do técnico de serviço social

no Consulado de Portugal em Roterdãotem agudizado ainda mais esta situação”.Neste contexto, Carlos Luís pergunta àministra dos Negócios Estrangeiros comopensa colmatar esta situação e quer saberpara quando está previsto o recrutamentode um técnico de Serviço Social paraocupar o lugar vago no Consulado-Geralde Portugal em Roterdão.

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1724 MARÇO 2004 ARGUMENTOS

ENSINO SECUNDÁRIO: QUE “REVISÃO”?ANA BENAVENTEA “revisão curricular do ensino secundário” da autoria do Governo do PSD/PP entrará

em vigor no próximo ano lectivo, 2004/2005. Tal “revisão” suscita críticas e interrogações, por cinco razões principais.

1.A primeira razão é a seguinte: está actualmente em discussão na Assembleiada República um projecto de Lei de Bases da Educação. Da autoria do actualGoverno, tal proposta prevê que o ensino secundário passe a ter a duraçãode seis anos (três anos do actual terceiro ciclo e três do actual ensino secundário)e passe a ser obrigatório para todos os alunos até 2010.Ao ser aprovada tal decisão, terá lugar uma “reforma do novo ensino secundário »,nas palavras do ministro David Justino, na própria Assembleia da República.Então que sentido tem iniciar transformações curriculares em 2004/2005 para as“reformar” logo a seguir? Um absurdo… que trará mais instabilidade às escolas eimpedirá que a revisão curricular dê quaisquer resultados positivos. É sinal degrande ignorância e até de algum desprezo pelas escolas e pelo seu trabalhopassar o tempo a decretar alterações sem qualquer atenção às condições (materiaise pedagógicas) e ao tempo necessário para que qualquer transformação, porpositiva que seja, se consolide e possa ser seriamente avaliada.

2.A segunda razão prende-se como modo como o Governo actuou emrelação à revisão curricular.O Governo do PS tinha preparado, aolongo de cinco anos, através de umprocesso participado e fundamentado(com encontros entre escolas,conferências nacionais e interna-cionais e colaboração com associa-ções científicas de docentes), umconjunto de alterações curricularespara o ensino secundário, consa-gradas no DL 7/2001. Tais alteraçõestraduziam ainda as principaisrecomendações de instituiçõesinternacionais como a UNESCO e aUnião Europeia. Numa perspectiva deadequar a escola à diversidade dosseus públicos e à sociedade doconhecimento, assegurando aqualidade da aprendizagem, taistransformações visavam os seguintesobjectivos: valorizar o ensinosecundário, clarificando e diversifi-cando as suas vias, reforçar aformação tecnológica e profissionale assegurar a qualidade e identidade da formação secundária que actualmentemais não é do que um “corredor” para o ensino superior.Ora o actual Governo PSD/PP suspendeu o DL 7/2001 assim que entrou emfunções (através do DL 156/2002) sem qualquer justificação quanto às orientaçõesem causa, apenas com a bandeira “um novo governo, uma nova reforma”. Unsmeses depois, publica um documento intitulado “Reforma do ensino secundário– linhas orientadoras da revisão curricular” que mais não é do que um “remake”empobrecido e remendado do DL 7/2001.É grave que não haja nenhuma continuidade e que a politiquice substitua apolítica educativa responsável. Este modo de agir, contrário aos interesseseducativos, desmoraliza os parceiros educativos e reforça a ideia de que “não sesabe o que se quer »… desprestigiando os responsáveis políticos.

3.A terceira razão tem a ver com o empobrecimento das medidas queagora chegarão às escolas secundárias.Damos três exemplos de tal empobrecimento. O primeiro exemplo tem a vercom a diminuição do número de cursos gerais e tecnológicos e profissionais(que passam de 17 possíveis para apenas 10 possíveis nas escolas públicas),sem qualquer justificação ;E consensual, na sociedade portuguesa, que é preciso desenvolver as formaçõestecnológicas e profissionais dos jovens e que não devem ser apenas as escolasprofissionais a assegurar tal função. Então por que razão desaparecem cursostecnológicos com saídas asseguradas (como Química ou Mecânica)?O segundo exemplo tem a ver com a área de projecto que desaparece do 10º e11º anos e se mantém no 12º ano. Anula-se o objectivo de articulação de saberesdisciplinares em torno de problemas do mundo real (actividade essencial naformação dos jovens para a vida) e torna-se esta área numa disciplina de preparaçãodos exames.O terceiro exemplo tem a ver com a criação de desenhos curriculares “à la carte”nos cinco cursos gerais que provocarão enormes lacunas na formação dosjovens. Pode fazer-se o curso de Ciências e Tecnologias sem fazer Química ouFísica, Biologia e Geologia. Pode fazer-se o curso de Línguas e LiteraturasModernas sem ter Literatura Portuguesa. Sem voltarmos ao caso da Filosofia daqual o Governo prescindia no 12º ano e integrou mais tarde, face às reacçõespúblicas, sem que num caso e noutro se explicasse quais eram os critérios para

tomar essas opções.Estes exemplos sublinham a falta de preocupação com a qualidade e a pertinênciada formação dos jovens, numa atitude de curto prazo pouco informada e que nãooferece qualquer confiança.

4.A quarta razão que causa enorme preocupação é a inexistência, até hoje, deformação de professores para os novos programas e novos desenhos curriculares,mais a mais quando aparece uma disciplina de Tecnologias da Informação e daComunicação (TIC) que exige recursos materiais e práticas pedagógicasadequadas.Está previsto, no actual ensino básico, que todos os alunos obtenham, até ao 9ºano, um certificado de competências em novas tecnologias; também não se vê aconcretização de tal propósito, em vigor no DL 6/2001 e que este Governoesqueceu completamente.Hoje, as tecnologias constituem um instrumento fundamental em todas as árease, portanto, de carácter transversal. Na procura de informação, na sistematizaçãodos conhecimentos, na resolução de problemas, na elaboração de trabalhos, noestudo, as TIC são necessárias em todas as disciplinas. Por que razão só apareceno ensino secundário e como uma disciplina à parte?

Também não há qualquer estimativa de custos nem, sequer, de estratégias deimplementação das alterações curriculares para 2004/2005. Pensará o governoque basta carregar num qualquer “botão” mágico para que as mudanças ocorramnas escolas?

5.A quinta razão, finalmente, diz respeito à ausência de uma concepção coerentede ensino secundário, capaz de articular a educação e a formação e de ter umaidentidade e um valor próprios. As formações foram aparecendo fragmentadas edesligadas (agora os cursos gerais e tecnológicos, depois o ensino artístico, depoiso profissional...) em documentos que se podem consultar no site do Ministério e…mais nada. Nem escolas secundárias, nem centros de formação de professores, neminstituições de ensino superior estão actualmente envolvidas e empenhadas nastransformações do próximo ano lectivo. Nem sequer a administração educativa,aliás. O Ministério tem lançado as medidas para o ensino secundário mais para acomunicação social do que para os parceiros educativos, de modo avulso e disperso,revelando a falta de visão de conjunto e numa ausência confrangedora defundamentação científica e pedagógica do que se anuncia.

Além destas cinco razões, muitas outras há para que o futuro do ensino secundárionos preocupe.Este ano lectivo chegaram às escolas secundárias 11 novos programas e disciplinascom novas designações e cargas horárias (que estavam consagradas no DL 7/2001que o Governo suspendeu) e que foram “metidas a força”, por compromissos com oseditores de manuais, no actual desenho curricular.Sem qualquer avaliação, anuncia-se já que os programas serão revistos após o períodomínimo obrigatório para a sua vigência.Com a aprovação da Lei de Bases da Educação do PSD/PP, novas reformas se seguirãono ensino secundário. Qualquer pessoa de bom senso pergunta: se suspenderam otrabalho feito anteriormente, sem qualquer avaliação, então porque querem agora umareforma curricular em 2004/2005 para, logo a seguir, avançarem com uma outra,ainda desconhecida? Assim, é impossível construir um ensino de qualidade e amelhoria da aprendizagem torna-se uma miragem.Vemos pois que os tempos são de remendos e que de remendo em remendo,chegaremos a um “fato” disforme que não servirá nem aos alunos, nem aosprofessores, nem ao País.

SECRETÁRIA NACIONAL

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18 24 MARÇO 2004

A ADMINISTRAÇÃO E O CIDADÃO A administração do Estado padece, ainda hoje, de algumas concepções filosóficasherdadas de um passado não tão distante como algumas vezes se pensa.Há duas questões-base sobre as quais urge reflectir para se poder inverter a situação,sob pena de que qualquer reforma conduza a um inevitável fracasso:O princípio de que todo e qualquer cidadão é, por definição, sujeito de desconfiança,e o princípio de que a administração existe para o exercício de uma autoridade quedeve relegar para segundo plano os interesses, anseios e necessidades de qualquercidadão individualmente considerado, ou de qualquer iniciativa de carácter individualou colectivo.Atentas estas duas questões fulcrais, a exigirem uma verdadeira “revolução cultural”,as opções a prosseguir delinear-se-ão de uma forma mais simples e mais transparente.Não tenhamos a ilusão de que o caminho é curto e fácil. Mas urge trilhá-lo semmais delongas, mas também sem precipitações que possam pôr tudo em causa.Caminhando no sentido da inversão daqueles conceitos, isto é, de que todo ocidadão é, à partida, digno de confiança, e de que a administração existe tão só paraservir o cidadão, ter-se-á, então, de criar condições para que a máquina do Estadoseja uma amiga que existe para facilitar a vida ao cidadão, mas que actuaráinexoravelmente sempre que o cidadão transgrida e ponha ilegitimamente em causao interesse colectivo.Para que estes novos conceitos sejam efectivados, necessário se torna tomar medidasnos seguintes items: desburocratização; descentralização; fiscalização; avaliação.Mas aqueles que querem aproveitar a necessidade urgente de uma verdadeira reformado Estado para tudo privatizar e aqueles que defendem a aplicação a papel químicode todos os procedimentos da iniciativa privada à administração pública não estão,de uma forma consciente ou inconsciente, a colaborar na prossecução daqueledesiderato, mas a criar um clima de agitação social e de confusão funcional.Há regras de transparência de que a administração não deve nem pode abdicar. Doisexemplos de confusões indesejáveis para quem faz do progresso e da solidariedadesociais valores que devem iluminar nas boas escolhas políticas. O primeiro: não sedeve confundir a necessária e salutar introdução do contrato individual de trabalhona administração pública com a forma como este Governo a efectiva, criandoemprego mais precário e com menos garantias do que as existentes nas empresasprivadas, uma lógica que fará do Estado um dos piores patrões portugueses.O facto de ser sempre trazida à colacção, como um mau exemplo do funcionamentoda máquina do Estado, a prestação dos cuidados de saúde, constitui um segundoexemplo, entre vários possíveis.Atentemos nesta situação, deveras singular.De todos os serviços colocados pela administração ao serviço dos cidadãos, aprestação de cuidados de saúde é o único sector em que Portugal integra o pelotãoda frente do “ranking” mundial.A evolução dos indicadores de saúde, em poucos anos, alcandorou Portugal denação terceiro-mundista a uma das mais evoluídas à escala mundial.A esperança média de vida à nascença é hoje, em Portugal, superior à dos EstadosUnidos e a mortalidade infantil é claramente inferior à daquele potentado mundial.Em comparação, a literacia - tal como a formação profissional e a produtividade -não acompanhou nem de perto nem de longe esta evolução, muito embora oMinistério da Educação seja mais caro do que o Ministério da Saúde. Isto nãosignifica que a sanha privatizadora em relação à Saúde se deva transferir para aEducação, mas tão-só que se afigura despropositado que, tanto do ponto de vistaeconómico como social, a política de saúde seja subordinada acriticamente aoscustos suportados pelo Estado.O estudo comparativo do funcionamento e dos resultados, entre o Hospital Amadora/Sintra e o Hospital Garcia da Orta, efectuado por uma equipa dirigida pelo prof.Correia de Campos, não permite sustentar que a gestão privada seja melhor do quea pública.Carece, pois, de fundamento, perante resultados comprovados, a asserção de que agestão privada seja mais competente do que a pública, num país em que os gestorese a produtividade são dos piores da União Europeia.Um estudo publicado recentemente pelo prof. Manuel Villaverde Cabral demonstra,igualmente, que os cidadãos que utilizam os serviços públicos de saúde têm, sobreos mesmos, uma opinião mais favorável do que a opinião publicada.

A Saúde é um dos sectores em que todos os dias se ouvem e se ouvirão queixas decidadãos.Entre as centenas ou milhares de actos praticados diariamente haverá sempre algumque dará azo a reclamações, muitas vezes, aliás, sem qualquer fundamento. Masisso não é maleita de que os cuidados de saúde sejam a única vítima.Em cada minuto que passa muitas centenas de aeronaves cruzam os ares. A notíciasó acontece quando algo corre mal com alguma delas.Do mesmo modo, os cuidados de saúde não constituem notícia quando todos osdias, milhares de actos correm bem.Mas há interesses privados - que seriam louváveis se concomitantes com os públicos- que diariamente promovem a manipulação da opinião pública, num sector a queos cidadãos são particularmente sensíveis.Vem isto a propósito do argumento ideológico de que o Estado não está vocacionadopara gerir determinados serviços e equipamentos, devendo, nesses casos, sersubstituído pela iniciativa privada ou social podendo, ou não, consoante as situações,assumir uma posição de partenariado.Nestas circunstâncias, o Estado deve assumir uma função reguladora, de forma a tersempre em linha de conta, em primeira mão, os interesses do cidadão utilizador e,em segundo lugar, a universalidade do acesso aos bens públicos e,concomitantemente, salvaguardando a livre e sã concorrência entre prestadores deserviços, sejam eles públicos ou privados.E de novo aqui trago à colacção as questões relacionadas com a política de saúde.O diploma que cria a entidade reguladora da saúde é demonstrativo do que não deveser feito, pois é o exemplo de como o Estado se demite das suas obrigações perantea comunidade, simulando, ardilosamente, que está empenhado em cumpri-las.Outros sectores há em que o Estado nunca poderá alienar as suas funções de gestore actor, sob pena das disfunções criadas em sujeição ao objectivo do lucro virema pôr em causa, de forma extremamente grave, direitos constitucionalmenteconsagrados.Para que uma verdadeira reforma seja feita, ela terá de ter o apoio dos cidadãos noseu conjunto, mas também dos funcionários públicos.Uma reforma, seja ela qual for, não pode ser prosseguida contra os seus própriosagentes.A reforma da administração tem de ser enquadrada pelos administrados.Que se criem verdadeiros movimentos de opinião em torno desta questão crucialpara o nosso desenvolvimento.Que estes movimentos de opinião sejam constituídos por cidadãos agrupados emtorno de interesses comuns e não de interesses corporativos - que são legítimos -mas que bastas vezes conflituam com o interesse colectivo.Que nesse debate se inclua a questão do custo financeiro das diferentes propostas,parece de elementar bom senso. Mas, já agora, que se aprenda com o que se passounoutros países e se perceba que os aspectos a considerar, nem são apenas financeiros,nem são todos de curto prazo.Quem garante que o sector privado é capaz de tais melhorias na gestão de serviçosaté agora públicos de forma a que, garantindo o lucro que é inerente à iniciativaprivada, manter e ir melhorando, para voltar ao exemplo da saúde, os níveis deresultados de que beneficia toda a população?O debate de que precisamos não pode ser unidireccional. Pela minha parte,gostaria que esclarecesse com todo o rigor possível que ineficiências e quecustos de funcionamento derivam de bloqueios que não podem ser ultrapassadosno quadro do sector público. Mas não gostaria menos que, no país em que ainiciativa privada dá, há tantos anos, tão maus exemplos na melhoria deprodutividade empresarial, se discutirem, com detalhe, os motivos que levamalguns a acreditar tão firmemente que a privatização assegurará sempre melhoresresultados - quer no plano económico, quer no plano social - do que uma gestãopública de melhor qualidade.Todos reconhecem a necessidade imperiosa da reforma da máquina pública. Masserá que há de facto uma consciencialização do que significa, de como deve serlevada a cabo e, sobretudo, que prioridade de interesses deve garantir?Que este modesto contributo possa servir para que o PS seja o agente dinamizadordeste debate.

RUI CUNHA

Aqueles que queremaproveitara necessidade urgentede uma verdadeirareforma do Estado paratudo privatizare aqueles quedefendem a aplicação apapel químico de todosos procedimentos dainiciativa privadaà administraçãopública não estão, deuma forma conscienteou inconsciente,a colaborar naprossecução daqueledesiderato, mas a criarum clima de agitaçãosocial e de confusãofuncional.

POLÉMICAS

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1924 MARÇO 2004

Opi

nião

TRIBUNA LIVRE

SERÁ QUE OS FINS JUSTIFICAMSEMPRE OS MEIOS?O Governo, com a ajuda de uma certa comunicação social, pretende fazer passar a mensagem de que o factode se prever para 2003 um défice na ordem dos 2,8 por cento constitui um resultado extraordinário, como setodos os problemas do país estivessem resolvidos. Tentam mostrar que, por arte, engenho e competênciaabsoluta da sra. ministra das Finanças, se conseguiu algo que ninguém, dizem eles, pensaria poder serpossível. Inclusivamente, numa revista de referência, à ministra das Finanças foi atribuída a seta de sentidoascendente por ter garantido “uma meta que era, politicamente, fundamental para o país, além de obter umaimportante vitória pessoal (...) independentemente das receitas extraordinárias e outros recursos contabilísticos”.Ora, de facto, eu até concordaria com esta visão se partilhasse, como parece partilhar o autor de tal “classificação”,da teoria de que “os fins justificam os meios”. Porque se assim fosse, poderíamos até acabar com os acidentesnas estradas portuguesas se fosse proibida a circulação de automóveis ou com os incêndios se abatêssemos,na totalidade, a nossa floresta.Imaginemos agora um casal comum português, que vive num apartamento comprado através de um empréstimobancário a 30 anos. Suponhamos ainda que este casal tem dois filhos em idade escolar, que vive o seu dia-a-dia de forma controlada e estável, tendo mesmo a possibilidade de tirar 15 dias de férias por ano, nas praiasdo Sul do país. Consideremos que, por obsessão de um dos cônjuges, o casal definia como objectivo o déficezero, ou seja, decidia pagar, por exemplo, num prazo de dois anos a sua própria casa ao banco!Para tal, no primeiro ano venderam o carro, a mobília da sala, o televisor e até as bicicletas com que os quatromembros da família, no Verão, faziam os seus passeios. Venderam o computador, as máquinas da louça e daroupa. Passaram a usar luz de vela e a tomar banho só ao fim-de-semana para cortar nas despesas correntes.Jantar fora deixou de poder acontecer e as férias habituais de há 15 anos até à data, pela primeira vez, não foramrealizadas. Como as medidas não estavam a ser suficientes, no segundo ano os certificados de aforro quetinham sido adquiridos há duas décadas e que valiam já mais de 10.500 euros, foram vendidos ao vizinho dafrente, um capitalista oportunista, por 5000 euros. As jóias de família, em ouro, foram entregues numa casa depenhores. O filho mais velho, que tinha um problema de asma, deixou de usar a bomba porque não havia dedinheiro para a comprar e o mais novo, com duas cáries dentárias, não foi ao dentista por falta de verba. Osfilhos nunca mais foram ao cinema nem a visitas de estudo na escola e a mãe deixou de ir ao cabeleireiro e àesteticista. Carne só ao sábado e peixe ao domingo, de quinze em quinze dias. Nos outros dias pão e sopa, semalho francês para não ser muito dispendiosa.Na verdade, passados dois anos, o objectivo foi atingido. Conseguiram juntar todo o dinheiro para pagar a casana totalidade. O défice, finalmente, chegou a “zero”. Não devem nada a ninguém, nem mesmo ao banco. Noentanto, a história está longe de ter um final feliz! O marido foi despedido porque demonstrava comportamentosagressivos e à esposa foi diagnosticada uma depressão nervosa. O casal acabou por se divorciar pela degradaçãodo ambiente familiar, o filho mais velho agravou uma asma crónica e o mais novo, farto de viver numa casacomo a dele, começou a consumir drogas pesadas. Não terminou a escolaridade obrigatória e foi preso, maistarde, por assaltos à mão armada.Será que os objectivos que são traçados por alguém legitimam, por si só, qualquer medida? Será que em nomede tais objectivos, são legítimas determinadas medidas? Será que os fins justificaram sempre os meios?

Luís Miguel FerreiraS. João da Madeira

PORTUGAL E A PROIBIÇÃODO VÉU ISLÂMICO EM FRANÇA

A Assembleia Nacional francesa aprovoua proibição do uso de símbolos religiososostensivos em determinadas repartiçõespúblicas com destaque para as escolaspúblicas.Esta votação foi quase esmagadora comdeputados da direita e da esquerda avotarem do mesmo lado, o que deixoumuita gente que não conhece a realidadee a história francesa muito surpresa.Esta votação foi precedida de umprofundo estudo por um “conselho desábios” nomeados para o efeito quedepois de uma análise profunda seinclinou para a recomendação daproibição dos símbolos religiosos nosreferidos locais. Sendo esta medida degrande impacto para os muçulmanosque, ainda hoje, não distinguem bem areligião da política, o que os cristãos já

fazem há algum tempo.Todos os intervenientes nesta decisão levaram em consideração váriospontos, nomeadamente que é fundamental para o reforço da comunidadefrancesa como nação que a escola se imponha como espaço de laicismoe da igualdade de oportunidades, ponto de encontro para a criação daidentidade do cidadão francês, sem esta base comum não há comunidade.Pode-se neste caso perguntar se estes valores na área da relação com areligião são da nação francesa, são europeus ou são universais? Porque éque quase só a França é que toma estas medidas? Estas perguntas sãoimportantes porque a França desde a Revolução Francesa no séc. XVIII quese intitula a grande portadora dos valores universais.É importante realçar que não é a razão única da religião que levou a estadecisão, mas também a luta contra a submissão e a dominação total damulher muçulmana por parte do homem.Com situações que para o nosso ”modus vivendi” são autênticas aberraçõescomo sejam a proibição que os homens em particular e a sociedade árabee islâmica em geral exerce sobre a mulher para não poderem ir a médicoshomens, ou de tratarem de qualquer problema mais íntimo sem seremacompanhadas pelos homens da família.Transformando-se estas comunidades muçulmanas essencialmentedescendentes do Magrebe, que hoje em França representam cerca de cincomilhões de pessoas, em que a maioria já nasceram em França, num caso deestudo e de acesa polémica.Era bom para a França e para o mundo que esta decisão tivesse sucesso eque realmente a base em que assenta a interligação de uma nação, possaser universal e sirva como fundamento do convívio entre as pessoas e ascomunidades, já que sem um espaço de valores e de princípios comunsdificilmente conseguiremos viver em sociedade e melhorar a nossacivilização.Para já em Portugal este problema não se coloca, mas é importante queaprendamos com a nossa história e com aquilo que os outros vão fazendoneste campo.As experiências de Portugal, neste campo, foram traumáticas, tanto no séc.XIX, no tempo da implantação do liberalismo, como na sequência do 5 deOutubro de 1910 com a implantação da República, a relação do Estadocom a Igreja foi tumultuosa e radical com acusações mútuas.Levando a Igreja Católica a reorganizar-se e a contra-atacar o Estadoutilizando para tal o enorme poder que detinha junto das populações, frutodo poder do transcendente que dizem representar e de muitos séculos adivulgar a sua doutrina.Assim, ambos os regimes na luta com a Igreja acabaram por perder noessencial.Só o 25 de Abril de 1974 conseguiu, aproveitando com estas experiências,uma relação evolutiva com a Igreja, o que ajudou à implantação gradual dolaicismo, única forma de, em liberdade, conseguir ir separando o que é doEstado do que é da Igreja.E é pensando nestas experiências portuguesas, que é preocupante o quepode acontecer em França, pois tanto pode levar a que as jovensmuçulmanas deixem de frequentar escolas públicas, e passem a frequentaras escolas acopladas às mesquitas, transformando-se estas, cada vezmais, em centros de recrutamento de radicais islâmicos, para a lutacontra a civilização laica ocidental. Isto é que o Estado francês ou qualqueroutro Estado, que queira ter esperança no futuro, não pode permitir. Oupode, na melhor das hipóteses, esta lei dar o argumento que as raparigasdas famílias islâmicas precisam para deixar o véu em casa e despojadasdesse símbolo lutar pela sua emancipação e afirmação na sociedade livrefrancesa.A ver vamos, era bom que tudo corresse bem, para exemplo futuro, esperemosque Deus ajude nesta evolução complexa, era bom para quase todos,inclusive para Ele.

RICARDO GONÇALVESDEPUTADO DO PS À ASSEMBLEIA

DA REPÚBLICA ELEITO PELOCÍRCULO DE BRAGA

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SOCIALISTAS EM PESO NO LANÇAMENTODA ÚLTIMA OBRA DE MANUEL ALEGREJorge Sampaio, Mário Soares, FerroRodrigues e Almeida Santos Rodriguesforam alguns dos muitos amigos,camaradas e admiradores da obra literáriade Manuel Alegre que estiveram presentesna sessão de lançamento do seu últimoromance, intitulado “Rafael”, que tevelugar na biblioteca do Palácio Galveias,em Lisboa.“Rafael” é um romance autobiográfico emque Manuel Alegre evoca sobretudo osanos de exílio em Argel. O nome doprotagonista, revelou o autor, foi inspiradono marinheiro português que surge na“Utopia”, de Thomas More.“Rafael sou eu e são muitos. Muitos queaqui estão e muitos que já cá não estão”,declarou o deputado socialista naapresentação da sua mais recente obra.

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20 24 MARÇO 2004BLOCO DE NOTAS

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A VERDADE VEM SEMPRE AO DE CIMA

LÍDIA JORGE:MAIS UM PRÉMIO PARA O VENTO ASSOBIANDO NAS GRUAS

por ISABEL PIRES DE LIMASUGESTÕES

O vento assobiando nas gruas é o insólito título do último romance da consagradaLídia Jorge, publicado há já mais de um ano, nos finais de 2002, e com o qual aautora arrecadou uma série de merecidos prémios, o mais recente dos quais, oprémio Correntes d’ Escritas. Aproveito para lembrar que este é um prémioinstituído pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, no âmbito da louváveliniciativa anual chamada Correntes d’ Escritas – Encontro de Escritores deExpressão Ibérica que, de há cinco anos a esta parte, o pelouro da cultura dareferida Câmara tem a capacidade e a coragem de organizar, conseguindo congregardurante uma semana, naquela cidade nortenha, várias dezenas de escritoresprovenientes de vários continentes em várias dezenas de actividades de naturezamuito diversa.Ora, o romance de Lídia Jorge, que eu já tive ocasião de recomendar nesta colunacomo leitura de Verão, venceu o prémio em questão, entre cerca das 70 obras deficção a concurso, provenientes dos mais diversos países de expressão ibérica, oque me faz voltar a insistir na sugestão da sua leitura com um pouco mais dedetalhe.Trata-se de um longo romance de mais de 500 páginas, de uma excepcionalqualidade, manifestada na mestria da construção narrativa, da criação de ambientes,do desenho de personagens, do entrelaçamento de temáticas intimistas com temáticassociais que guinda definitivamente Lídia Jorge a um lugar cimeiro não apenas danarrativa de língua portuguesa mas da narrativa de expressão ibérica, no caso, e eudiria da narrativa contemporânea, sem mais restrições.

Nele se desenha um vasto fresco sobre o Portugal contemporâneo através da históriaque une na diferença dois jovens oriundos de universos aparentementeirreconciliáveis: uma jovem diferente, porque oligofrénica, da alta burguesia algarviae um jovem diferente pela cor, de origem cabo-verdiana, que trabalha com gruas.Procede Lídia Jorge no romance a uma revisitação de temas que lhe são caros comoo confronto entre mundos e ordens diversas, o universo das margens, o mistério, aviolência do poder e da ambição, tudo isso caldeado numa história de família enuma história de amor.Este é um livro sobre a(s) diferença(s) sociais, rácicas, culturais e consequentementesobre a(s) identidadde(s), mas é também um livro sobre o poder criador da linguagem,da palavra (e da sua privação) na auto-configuração do sujeito. É um romance quenos confronta com um novo Portugal muticultural, onde a diferença emergente éperturbadora da(s) velha(s) orden(s), no seio do qual decorre uma belíssima históriade amor de alguém – Milena, uma oligofrénica como se disse – que, no contactocom a diferença social e cultural, se torna capaz de assumir a sua própria diferençaindividual e de aceder ao amor. Porque o romance de Lídia Jorge é também umabelíssima história de um amor singular, nascido “no lugar inóspito das bermas”, nolugar perigoso das “gruas”onde um vento que ameaça de morte “assobia”.Romance cruel e lírico este, onde se cruzam interrogações sobre as identidadessociais e rácicas e sobre as fronteiras da normalidade com um cântico ao poder doamor para transpor fronteiras.Insisto, leitura longa, mas a não perder e que ajuda a pensar o Portugal de hoje.

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Basta olhar para a série dos crescimentos económicos anuais entre 1996e 2003 para compreender claramente que com o Governo socialista, maisinteressado nas pessoas do que nas contabilidades, a economia cresciae o bem-estar aumentava.Foi preciso chegar a dupla Durão Barroso/Ferreira Leite para que o País nãosó comecasse a divergir da UE, como até entrasse em recessão.Em 2003 o PIB não cresceu, caiu. Caiu 1,3 por cento.

Ao contrário do que a dra. Ferreira Leite matraqueia, a “obsessão” em cumprir“aparentemente” a regra dos 3 por cento do défice, mesmo quando a economiaestá em crise, não é uma preocupação dos países mais desenvolvidos da Europa.Aliás, em toda a UE, a política financeira portuguesa é apresentada como exemplodaquilo que não se deve fazer, sob pena de agravar a recessão.Os 3 por cento não podem ser uma vaca sagrada!

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