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1 Audição pública “Solos contaminados : prevenção da contaminação e remediação dos solos” Relatório da sessão da Assembleia Municipal de Lisboa do dia 16 de Janeiro de 2020, elaborado pelos Deputados Municipais José Inácio Faria e J. L. Sobreda Antunes

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Audição pública “Solos contaminados : prevenção da

contaminação e remediação dos solos”

Relatório da sessão da Assembleia Municipal de Lisboa do dia 16 de Janeiro de 2020,

elaborado pelos Deputados Municipais José Inácio Faria e J. L. Sobreda Antunes

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Na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa (AML) do dia dezasseis de

Janeiro de dois mil e vinte, pelas 17h30, realizou-se uma Audição Pública sobre a

temática “Solos contaminados: prevenção da contaminação e remediação dos solos”.

A gravação vídeo pode ser reproduzida em https://www.am-

lisboa.pt/101000/1/013546,012020/index.htm

I - Antecedentes, proposta de organização e estrutura da Audição Pública

A presente Audição deu continuidade a uma Proposta de Debate de Actualidade

sobre solos contaminados em Lisboa, cuja profusa documentação, com respostas e

esclarecimentos vários, pode ser consultada em https://www.am-

lisboa.pt/301000/1/006850,000257/index.htm. Este anterior Debate de Actualidade, que

teve lugar na reunião da AML de trinta e um de Janeiro de dois mil e dezassete, foi

acompanhado por duas recomendações do Grupo Municipal (GM) do PEV e do Grupo

Municipal do CDS-PP, ambas consultáveis em https://www.am-

lisboa.pt/251000/1/006842,000375/index.htm

A realização da presente Audição Pública foi submetida ao plenário da AML

pelo Grupo Municipal do Partido Ecologista “Os Verdes”, através da Proposta de

deliberação nº 4/PEV/2019 (Anexo I), tendo sido aprovada, por unanimidade, na

reunião de dezasseis de Julho de dois mil e dezanove, vide https://www.am-

lisboa.pt/301000/1/012585,000581/index.htm, e publicada no Boletim Municipal nº

1327, de vinte e cinco de Julho de dois mil e dezanove.

A sua organização foi promovida pela 4ª Comissão Permanente de Ambiente e

Qualidade de Vida, que deliberou sobre a sua estrutura, e cujo programa e lista de

entidades externas convidadas pelo Município podem ser consultados em

https://www.am-lisboa.pt/101000/1/013520,012020/index.htm.

Considerou o GM proponente que os solos constituiam um importante recurso,

representando a sua contaminação um grave perigo para a saúde pública e para o

ambiente.

Destacaram que o projecto legislativo relativo à lei PRoSolos - Prevenção da

Contaminação e Remediação dos Solos - havia estado em processo de consulta pública,

promovido pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), durante um período de dois

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meses, entre quatro de Setembro e quatro de Novembro de dois mil e quinze. Porém,

decorridos mais de quatro anos após a conclusão dessa consulta, e apesar de o relatório

da APA ter sido elaborado em Fevereiro de dois mil e dezasseis - https://zero.ong/wp-

content/uploads/2019/02/2016_02_17_Relatorio_Consulta_Publica.pdf - a lei PRoSolos

continuava sem ser aprovada.

Saliente-se que esta lei, eventualmente necessitando de alguns reajustes, viria

suprir uma lacuna no quadro legislativo nacional, uma vez que previa a emissão de um

certificado de qualidade do solo, por parte da entidade vendedora de um terreno,

sobretudo quando se tratasse de locais onde tivessem funcionado actividades com risco

de contaminação os solos.

Por um lado, a Audição justificar-se-ia por se ter verificado que a cidade de

Lisboa continha áreas com solos contaminados resultantes de actividades económicas

poluentes, algumas entretanto desactivadas, que haviam gerado um lastro industrial

poluente, pelo que se tornava urgente proceder à requalificação e reabilitação desses

solos, como forma de evitar riscos futuros para as pessoas e o ambiente.

Por outro, seria de ter em conta que em processos desta natureza se impunha a

maior transparência, bem como seria urgente prevenir novos focos de poluição

ambiental, observando-se ainda que estas situações vinham suscitando preocupação

junto dos cidadãos, pelo que seria importante que a AML promovesse um espaço de

discussão e informação onde esta matéria fosse abordada.

Recorde-se que, nos anteriores debates realizados na AML, haviam sido

aprovadas, por unanimidade, várias medidas, como a elaboração pela Câmara Municipal

de Lisboa (CML) do mapeamento das obras com risco de conterem solos contaminados

devido a actividades poluentes, a divulgação dessa lista, bem como dos documentos

relativos às medidas adoptadas em caso de contaminação de solos e a apresentação do

caderno de encargos dos concursos lançados e a lançar, para as obras municipais, em

áreas susceptíveis de se encontrarem contaminados.

Acontece que, já após a realização dos anteriores debates, tinham sido registadas

novas ocorrências poluentes na capital. E como as medidas e as iniciativas preventivas

requeridas à CML continuavam sem ser elaboradas e publicamente apresentadas, esta

nova Audição poderia constituir-se como uma nova oportunidade para que todos as

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entidades pudessem expressar as suas sugestões ou propostas, permitindo deste modo ao

Município receber contributos complementares, incluindo de especialistas externos,

concorrendo assim para um melhor desempenho da gestão municipal.

II - Breve descrição da sessão e apresentação inicial dos painéis pela Mesa

A sessão foi presidida, como Moderador, pelo sr. presidente da 4ª Comissão,

DM Luís Newton, (PSD), com o apoio da srª DM Natalina Moura (PS), tendo sido

nomeados como relatores o DM José Inácio Faria (MPT) e o DM Sobreda Antunes

(PEV).

Os trabalhos foram organizados de acordo com a seguinte estrutura:

O painel da Mesa foi constituído por um representante da Câmara Municipal de

Lisboa (CML), como gestores do território, pela Agência Portuguesa do Ambiente

(APA), como entidade reguladora da Gestão Ambiental, pela Associação ZERO, em

representação das Associações de Protecção do Ambiente, por um representante das

associações do sector empresarial, a Associação das Empresas Portuguesas para o

Sector do Ambiente (AEPSA) e, na área da Saúde, pela Associação Nacional dos

Médicos de Saúde Pública.

O Moderador, o DM Luís Newton, no uso da palavra, depois de dar as boas-

vindas a todas e a todos, começou por agradecer a presença das diversas personalidades

convidadas.

Informou que haviam ainda sido notificados, não para a Mesa, mas para terem

também a oportunidade de prestarem contributos relevantes, várias outras entidades e

convidados a título individual, tendo-os de seguida enumerado: Engº Miguel Castelão

da Ambientar, Engº Henrique Graça da DATAGEO (Tecnologias de Geologia e

Ambiente, Ldª), Profª Doutora Alexandra Ribeiro, do Departamento de Ciências e

Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova

de Lisboa, Prof. Doutor Engº Manuel Duarte Pinheiro, do Instituto Superior Técnico,

Doutora Heloísa Oliveira, da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a Ordem

dos Engenheiros, a Ordem dos Médicos, a Associação Portuguesa de Engenharia do

Ambiente, o Laboratório Nacional de Energia e Geologia.

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Destacou ainda um conjunto de entidades que haviam estado envolvidas na

descontaminação dos solos do Parque das Nações, a Plataforma por Monsanto, o

Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o Instituto de Conservação da Natureza e das

Florestas, a Associação Portuguesa de Educação Ambiental, a QUECUS, o GEOTA, a

Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, a

Associação A Cidade Imaginada do Parque das Nações e a Associação Portuguesas de

Engenharia do Ambiente. Lembrou que, para o último painel, estava também prevista a

oportunidade de intervenção das diversas forças políticas representadas na AML.

O Moderador comunicou ainda que, devido à ausência de qualquer representante

da CML, a Mesa iria incluir no painel um membro da Associação Nacional dos Médicos

de Saúde Pública, tendo esclarecido que cada orador iria dispôr de um período inicial de

dez minutos de intervenção e mais três minutos para respostas eventualmente colocadas

pelo público presente.

III - Intervenções das e dos oradora/es convidada/os

O Sr. Moderador começou por dar a palavra à primeira convidada presente na

Mesa, Engª Ana Cristina Carrola, em representação da Agência Portuguesa do

Ambiente (APA).

No uso da palavra, a oradora começou por especificar que se iria cingir a quatro

pontos específicos que a APA, no âmbito da temática em debate, vinha privilegiando.

Numa primeira fase, abordaria o Projecto Legislativo relativo à Prevenção da

Contaminação e Remediação dos Solos - PRoSolos, cujo Relatório de Consulta Pública

elaborado pela APA, que tinha como objectivo salvaguardar o ambiente e a saúde

humana, os guias técnicos que a APA havia desenvolvido, incluindo o atlas da

qualidade do solo, abordando depois algumas perspectivas futuras.

Relevou que, em termos de projecto de contaminação e remediação dos solos,

existia um projecto de Decreto-lei que estabelecia o regime geral de prevenção,

contaminação e remediação dos solos, fixando o processo de avaliação e qualidade de

remediação do solo, bem como a responsabilização pela contaminação assente nos

princípios do poluidor-pagador e da responsabilidade social.

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Clarificou que o projecto de Portaria contemplava os elementos mínimos a

constar na avaliação preliminar do risco, na avaliação detalhada da qualidade do solo,

no relatório de remediação do solo, nos planos de amostragem, de monitorização do

projecto de remediação e no próprio plano de monitorização após a medição do solo,

incluindo os critérios para o cálculo do montante das taxas a aplicar neste regime.

Explicou que o pacote incluía ainda o formulário da avaliação preliminar de

risco de contaminação do solo, que havia passado por uma fase de teste, tendo sido

publicamente apresentado em três de Setembro de dois mil e quinze e em diversas

sessões subsequentes. Indicou que esta iniciativa legislativa surgira após ter estado em

consulta pública e terem sido apreciados os seus contributos. Posteriormente fora feita

uma actualização da avaliação prévia de impacto económico do projecto legislativo, que

incluira uma estimativa da variação dos encargos totais, com a sua adopção pelos

operadores. Afirmou que considerava que o regime geral da gestão de resíduos já

actualizado para o horizonte temporal de 2020 a 2026, com a adopção do PRoSolos, se

traduziria numa poupança efectiva de cerca de quarenta e nove milhões de euros em sete

anos.

Para a oradora, a inovação residia no facto de se poderem agora identificar as

actividades potencialmente contaminantes do solo, que elementos deveriam ser

incluídos na avaliação preliminar, estabelecendo, em sede de todas as avaliações, a

cadeia de responsabilidade pela avaliação da qualidade do solo e a sua eventual

remediação, fixando os valores de referência para o solo, definindo limites de risco,

emissões de declaração e certificado de qualidade do solo, bem como as disposições no

âmbito da transmissão do direito de propriedade do solo e a criação de um atlas do solo.

Acrescentou que nas áreas onde existam indícios de os solos se encontrarem

contaminados com substâncias de risco para a população ou para o ambiente, incluindo

a possibilidade de alteração de aquíferos e aquitardos, era obrigatório proceder-se a uma

avaliação dessa perigosidade, como se encontrava previsto no artigo 25º do

Regulamento do PDM de Lisboa. E, em caso de comprovada actuação de risco, seria

também obrigatória a elaboração de planos de descontaminação dos solos e reposição da

sua salubridade, os quais deveriam sempre anteceder qualquer intervenção urbanística.

Enumerou que o grupo de trabalho incluira a Direcção Geral da Saúde, a

Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, a Comissão de

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Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, a CML e, como

observadora, a Inspeção Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento

do Território.

Num segundo ponto, ressalvou que, como ainda não tinha havido a oportunidade

política de aprovação do projecto legislativo PRoSolos, a APA havia entretanto

elaborado, e disponibilizado na sua página da Internet, ao longo do ano de dois mil e

dezanove, algumas recomendações e guias técnicos que vinham servindo de orientação

para a avaliação da contaminação dos solos e da necessidade da sua eventual

remediação.

Um dos guias definia os valores de referência do solo, o outro reportava-se aos

planos de amostragem e de monitorização do solo e outro que abordava a análise de

risco e os critérios de acessibilidade de risco. Outro dos elementos disponíveis

preconizava as recomendações a adoptar em matéria de licenciamento,

acompanhamento da execução, fiscalização e inspecção das operações urbanísticas, o

qual, tendo já sido revisto em dois mil e dezanove, era aplicável aos municípios que

dispunham nos seus Planos Directores disposições homólogas às do artigo 25º do

Regulamento do PDM do Município de Lisboa.

Quanto ao documento com orientações sobre os parâmetros, este incluía os

elementos a considerar no plano de amostragem, bem como os que deveriam ser

contemplados para a instrução do pedido de licenciamento das operações de

descontaminação de solos. Lembrou que, nos termos do regime geral de gestão de

resíduos, o licenciamento se aplicava, com as devidas adaptações, às operações de

descontaminação de solos, sem prejuízo da aplicação de legislação especial, e que o

licenciamento das operações de gestão de resíduos competia às autoridades regionais de

gestão de resíduos.

Referiu ainda que o requerente de uma operação urbanística deveria incluir cópia

do alvará da licença de descontaminação de solos, a ser emitida pela CCDR-LVT, e que

dos elementos que instruíriam o projecto, deveria constar o pedido de licenciamento

daquela operação no projecto a submeter ao Município, para efeitos da emissão do

alvará de licença e realização da própria operação urbanística.

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Daí que, as orientações constantes do guia técnico contemplavam princípios para

a classificação e encaminhamento dos resíduos, a avaliação da qualidade das águas

subterrâneas, incluindo os licenciamentos das águas contaminadas e como deveriam ser

efetuados, assim como a gestão das águas residuais, a avaliação da qualidade do ar

ambiente e ainda um fluxograma de procedimentos de apoio, no âmbito das operações

urbanísticas em áreas potencialmente contaminadas e com enquadramento legal

aplicável.

Defendeu que o documento possuía um carácter estruturante para a boa instrução

dos pedidos de licenciamento de operações, para a descontaminação de solos no

contexto das operações urbanísticas, onde os regulamentos dos PDM dos municípios

prevessem a avaliação da contaminação dos solos e, em caso de comprovada situação de

risco, a própria elaboração da execução de um plano tendente à sua descontaminação.

Num terceiro ponto, propôs-se a abordar a questão do atlas da qualidade do solo

que, não obstante estar integrado no pacote legislativo, acabava por ter uma vida própria

e ter sido desenvolvido independentemente da aprovação do pacote legislativo. Daí que

o atlas do solo visasse reunir a informação disponível relativa aos locais contaminados

ou potencialmente contaminados, com substâncias químicas exógenas ao sistema ou em

concentrações não naturais, pretendendo-se que facilitasse a sistematização e análise

integrada, bem como a posterior disponibilização da informação.

Esclareceu que o projecto contemplava três fases sequenciais, uma primeira de

recolha da informação, e a caracterização e o mapeamento geográfico dos locais

contaminados e potencialmente contaminados. Uma segunda fase observava a

identificação das prioridades de avaliação e uma terceira fase incluia a avaliação de

referência. Seriam ainda disponibilizados indicadores e relatórios da qualidade do solo.

Como perspectiva futura, e perante o impasse de a tutela estar ainda a ponderar

retomar a renegociação do pacote legislativo, anunciou que a APA iria avançar com o

desenvolvimento de outros guias técnicos, prevendo que em breve estaria disponível no

portal da APA, um novo guia técnico de apoio à elaboração de relatórios finais de

operações de descontaminação dos solos.

Não obstante a evolução que se vinha verificando em anos recentes, no que

respeitava à atenção dada à matriz dos solos e às questões relacionadas com a sua

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contaminação, postulou que os agentes e os Municípios intensificassem acções de

prudência, investindo-se na valência da prevenção, que identificou como sendo onde

claramente poderiam ser conseguidos maiores benefícios, na gestão desta matriz.

Depois de agradecer a explanação da representante da APA, o sr. Moderador do

debate cedeu a palavra ao orador seguinte, Engº Rui Berkmeier, em representação da

ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável.

Para iniciar a sua intervenção, o orador contextualizou que a questão dos solos

contaminados, principalmente na região de Lisboa, era um tema que vinha preocupando

muitos cidadãos, que a Associação havia recebido imensos contactos de munícipes

inquietos, normalmente com a qualidade do ar, principalmente na zona do Parque das

Nações, devido aos odores emanados com a remoção dos hidrocarbonetos.

De seguida, optou por se debruçar sobre a questão do projecto ProSolos,

informando que, mesmo antes de se deslocar para a presente Audição, acabara de ter

uma reunião com a senhora Secretária de Estado do Ambiente, mas que o encontro não

havia sido muito conclusivo. Reconhecia que o Ministério continuava a trabalhar o

tema, mas sem incluir qualquer calendarização, pelo que ninguém podia saber quando

iria ser publicada a legislação.

Relembrou que a questão se vinha arrastando há várias legislaturas, e que já

tivera de emitir vários pareceres sobre o mesmo projecto de legislação referente à

prevenção da contaminação e remediação dos solos. Reconhecendo o papel da APA, a

qual, perante a ausência de legislação específica, sempre ía compilando um atlas do solo

e guias técnicos, recomendou que todos os agentes políticos, assim como as associações

e o sector, fizessem pressão sobre o Governo, para que a tutela rapidamente aprovasse

uma legislação de tão relevante importância.

Destacou que um dos erros maiores havia sido a má classificação dos solos

quanto ao tipo de resíduos, porque durante muito tempo eram classificados pela

possibilidade de serem colocados em aterro, não em função da caraterização lixiviado,

nem de ser ou não um resíduo perigoso. Tal displicência gerara inúmeras situações

complicadas, que fizeram com que muitos solos fossem encaminhados para destinos

incorrectos, muitas vezes apenas se detectando e corrigindo a situação já a meio do

processo de tratamento, e quase sempre apenas devido às denúncias que iam sendo

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feitas. Nesse sentido, apontou o dedo ao Estado, por correr atrás do prejuízo, solução

que de todo deveria ser evitada no futuro.

Quanto ao caso concreto de Lisboa, indicava como uma área assaz complicada a

zona do Parque das Nações, onde haviam sido registados pelo menos dois casos, um

deles relaccionado com o Hospital da CUF Descobertas, que haviam espoletado toda

esta problemática, e na qual, recordava, as autoridades ambientais, a APA, a autarquia e

as autoridades de saúde não haviam assumido um papel eficiente, pois as coisas haviam

decorrido bastante mal.

Neste contexto, questionou como pôde ter sido autorizada uma escavação

daquele género e naquele local. Afirmou ter conhecido várias famílias que, em razão de

causa, tiveram de mudar de casa durante meses, pelo que não conviria abrandar o

acompanhamento e a pressão sobre esta problemática. Assinalou que, no caso do

referido Hospital, inicialmente os solos não estavam a ser correctamente encaminhados,

tendo depois havido uma rectificação.

No segundo caso, referente a uma outra intervenção imobiliária - projecto

Martinhal Residences -, apesar de os solos terem sido bem encaminhados, devido ao

tipo de resíduo ser o mesmo, haviam sido detectados problemas de contaminação

atmosférica e identificado cheiros voláteis muito intensos.

Lembrou que a ZERO pedira à CCDR-LVT e à CML os dados sobre a qualidade

do ar na zona, os quais até estariam dentro dos valores aceitáveis, mas que nunca

haviam sido fornecidos os dados referentes a escavações em zonas reconhecidamente

contaminadas. Perante esta constatação, iriam fazer nova insistência formal, para que os

cidadãos que residissem na envolvente da obra pudessem ficar mais descansados,

sabendo-se que a relação entre o cheiro e a intensidade ou o poluente não era

exatamente equivalente.

Numa perspectiva futura parecia-lhe da maior importância que funcionasse uma

comissão de acompanhamento da gestão das obras no concelho de Lisboa, tendo

estranhado que alguns Grupos Municipais não tivessem contribuído para aprovar uma

recomendação da AML para se avançar no sentido de o executivo camarário promover a

criação dessa Comissão.

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Referiu que o que preocupava os ambientalistas era a questão da transparência

destes processos, para a qual essa Comissão poderia concorrer, com os contributos das

associações de ambiente, de moradores e Juntas de Freguesia, a fim de ser

disponibilizada uma informação básica sobre os processos em curso.

Deu o exemplo, por um lado, da necessidade de acesso a informação sobre as

obras que estivessem a decorrer, nomeadamente aquelas onde tivessem sido

identificadas situações de maior risco de existência de solos contaminados e, por outro

lado, que o Município divulgasse dados mais detalhados sobre o assunto, para que quem

estivesse nessas comissões pudessem ir acompanhando alguns desses processos.

Para o orador, faria mais sentido poderem participar logo a jusante, mal o

problema fosse levantado, ou a partir de queixas da população. Exemplificou de novo

com o caso do Hospital da CUF Descobertas, onde, para além da questão dos odores,

que era o que mais se destacava para as pessoas, havia ficado sem explicação a questão

para onde haviam sido encaminhadas as águas residuais.

Afirmou ter na altura visitado a obra e observado um lago no fundo da

escavação, que estava permanentemente a ser bombeado para uma rede de águas

supostamente pluviais, e disse continuar ainda à espera de conhecer a licença para as

descargas das águas residuais no colector pluvial ou no da CML, sem se saber para onde

é que elas eram descarregadas, visto ter sido uma descarga constante.

Como especialista parecia-lhe óbvio que, para além dos solos contaminados,

suspeitava que as águas teriam elevados níveis de hidrocarboneto, pelo que a partir dos

relatos e das observações efectuadas haviam apresentado queixas pelo facto de a água

ter estado a ser drenada para a zona do Tejo.

Finalizou apelando à transparência, à reposição da Comissão Técnica, ao

fornecimento de informação por parte da CML, incluindo sobre o licenciamento dos

projectos e, principalmente, sobre aqueles que se encontrassem inseridos em zonas onde

se reconhecia ter havido maior risco de existência de solos contaminados.

Depois de agradecer a exposição, o sr. Moderador do debate cedeu a palavra à

oradora seguinte, Doutora Marta Sandim, em representação da Associação das

Empresas Portuguesas para o Sector do Ambiente.

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A oradora começou por alertar que a sua exposição, com projecções (Anexo II),

iria no seguimento das anteriores intervenções, quer da APA, quer da ZERO, a

propósito das metodologias mais correctas para se trabalhar em situações de solos

contaminados, em particular, da sua avaliação, das medidas de remediação, da sua saída

com destino a tratamento, quer em termos de classificação, quer em termos de admissão

de transporte e deposição em aterro.

Assinalou a habitual escassez de informação aquando do início de uma obra,

sendo essencial proceder-se ao histórico do local, ao seu levantamento prévio e das

actividades potencialmente contaminantes que aí pudessem ter existido, exemplificando

com uma zona com passado industrial, sendo relevante conhecer o local de

armazenamento das matérias-primas e da deposição de resíduos, por serem zonas

expectáveis para possuirem maior risco de contaminação, para além da topografia e da

localização do nível freático, e eventual contaminação nas águas subterrâneas.

Indicou que para executar este levantamento existiam equipamentos portáteis de

medição de poluentes, nomeadamente, compostos orgânicos voláteis de metais pesados

no solo, que podiam ajudar, numa análise preliminar, na avaliação, caso a zona estivesse

ou não potencialmente contaminada. E, a partir dessa avaliação, estimar-se-ia se poderia

ou não apresentar risco, quer para a saúde humana, quer para o meio envolvente.

Descreveu a metodologia a aplicar a partir da prospecção de solos, em termos de

sondagens e de amostragem, que deveria ser executada a vários níveis de profundidade

e das respectivas águas subterrâneas e, por vezes, também da rede piezométrica, para

quantificar e qualificar as várias águas subterrâneas em diversos pontos. As amostras

deveriam de seguida ser enviadas para laboratórios acreditados, devendo os resultados

ser depois comparados, em termos de valores de referência, com um dos guias técnicos

da APA. Só na posse dos valores de contaminação se determinaria se essas taxas

ultrapassavam ou não os valores de referência e o que poderiam representar em termos

de saúde humana e para o espaço envolvente, em termos de utilização futura do terreno.

Mencionou a eventual necessidade de mudança na utilização do terreno, bem

como o traçar de novo perfil para toda a obra, a quantificação de custos, os tempos de

intervenção e as técnicas a utilizar, incluindo na quantidade de solos a remediar, in-situ

ou ex-situ, na periferia ou com o envio do solo para o exterior, em temos de tratamento

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por via biológica ou química, no caso das barreiras reativais, do isolamento de materiais

contaminantes e lavagem de solos.

Apresentou fotografias de situações reais ocorridas em Portugal há alguns anos,

denunciando que muitas vezes se optava por retirar os solos o mais depressa possível do

local, para que a obra pudesse rapidamente continuar, poupando-se tempo e dinheiro.

Para a classificação dos solos em termos de perigosidade, haveria que utilizar

um dos guias disponíveis na página da Internet da APA, utilisar os Códigos LER (da

Lista Europeia de Resíduos), normalmente o 17 05 73, no caso de resíduos perigosos,

ou 17 05 04, no caso de resíduos não perigosos.

Tipificou a definição dos parâmetros para a admissão em aterro de inertes, de

resíduos industriais banais, de resíduos não perigosos e para os perigosos, alertando que

por vezes os resíduos perigosos não eram depositados directamente em aterro, antes

sofredo um processo de estabilização prévia.

Explicou como pode ser retirado o resíduo da obra, que em termos de transporte

haveria que obedecer em termos de ADR, que é a legislação, qual o critério exigido pelo

IMT, que obriga a que tanto o motorista, como a viatura, tenham requisitos especiais

para o caso de acontecer algum derrame da carga durante o trajecto da viatura. A

própria viatura, quando em circulação, terá que possuir inscrições sobre a perigosidade

dos resíduos, o uso de certificação de formação ADR do condutor e as guias de

transporte (EGAR) que devem acompanhar todos os resíduos, para que, em caso de

derrame, se saiba quem deverá atuar perante a substância transportada.

Para além disso, as viaturas deverão circular com uma série de requisitos

obrigatórios, tais como uma chapa laranja, quer na traseira, quer na lateral da viatura,

contendo o número ONU com a classe de resíduo, e a característica de marcas de

perigo. Para além destas identificações, as viaturas deverão estar munidas de extintores,

calços para as rodas, kits anti-derrames, líquido para lavagem dos olhos, entre outros.

Destacou que, em termos de classificação dos resíduos, quando o solo vai sair da

obra, considerou como muito importante usar-se como critério de referência o LER, a

classificação de resíduos disponibilizada pela APA e não o antigo Decreto-lei nº

183/2009. Para concluir, mostrou preocupação por, particularmente na maioria das

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situações que se têm verificado em Lisboa, faltar informação prévia sobre os solos,

quando as empresas iniciam uma obra.

Depois de também agradecer a anterior intervenção, o sr. Moderador do debate

cedeu a palavra à oradora seguinte, Doutora Clara Garcia, em representação da

Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública.

Começou por dizer que, na generalidade, os especialistas dos vários níveis da

saúde pública nacional se deparavam com a preocupação de muitas vezes a informação

disponível ser escassa, pelo que sentiam alguma dificuldade em tomarem medidas

preventivas e, concordando com o Engº da ZERO, terem muitas vezes de irem mesmo

atrás do prejuízo.

Reconheceu que muitas das patologias encontradas, nomeadamente do foro

respiratório e saúde do foro digestivo, ou patologia oncológica, em algumas destas áreas

e até algumas das patologias, como em doenças do foro cérebro-cardiovasculares,

poderem ser condicionadas pela exposição àquele tipo de produtos contaminados.

Com efeito, devido aos hidrocarbonetos e outras substâncias poluentes, e apenas

após anos de uma exposição prolongada, quando eram feitos diagnósticos detectavam-

se, invariavelmente, doenças de interstício pulmonar. Apareciam pessoas com

pneumonias, às vezes até casos de reincidência, sendo necessário questionar se o

paciente se lembrava do local onde havia estado exposto, para se conseguir determinar a

etiologia, causas e origens. Susteve não ser muitas vezes determinado a breve trecho

que patologia requeriria a atenção no imediato, embora pudesse haver intoxicações

agudas, entre outros problemas.

Defendeu que todas as medidas de prevenção deveriam se atempadamente

tomadas, pelo que as medidas legislativas iriam de certo ajudar muitíssimo.

Demonstrou preocupação pela ausência de legislação específica e que, como

poderia ainda tardar, seria urgente pressionar no sentido de ela ser aprovada e

implementada, para defesa da saúde humana e do meio ambiente, tendo apresentado

disponibilidade para a Associação integrar os grupos de trabalho necessários para

agilizar os procedimentos preparatórios.

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Acrescentou a ideia de que também em algumas prácticas agrícolas existiam

perigos para a saúde pública, não só através da exposição de quem trabalhasse na

indústria do sector primário, como na exposição directa a certos químicos adversos à

saúde humana.

Quanto aos contaminantes nas águas, por um lado, havia ainda populações que

utilizavam as águas subterrâneas, embora fosse mais reduzido o número daqueles que

dependiam apenas da água proveniente de furos, pois a maior parte da população já era

servida por água canalizada. Mas, por vezes, por desconhecimento das pessoas ou por

não terem outra água à disposição, poderiam também ficar em risco acrescido ao usarem

produtos contaminados, pelo que seria indispensável toda a prevenção.

Finalizou a sua intervenção, voltando a manifestar a disponibilidade da

Associação para prestar contributos para a prevenção, em termos da saúde humana e do

meio ambiente.

IV - Intervenções das entidades, personalidades convidadas e do público

O sr. Moderador e Presidente da 4ª Comissão Permanente de Ambiente e

Qualidade de Vida anunciou de seguida um período com intervenções das entidades,

personalidades convidadas e do público.

Informou que a Mesa continuava a não dispôr da presença do representante da

CML, pelo que iria de novo adiar o momento da sua intervenção. Deu assim início a um

período de interpelação às exposições proferidas pelos membros da Mesa, indicando

que registava duas inscrições de entidades e duas a título individual, dispondo o painel

da oportunidade de depois responder às questões suscitadas.

Seguir-se-ia uma segunda parte com intervenções das restantes entidades

convidadas, que iriam dispôr de três minutos, concluindo-se a Audição com

intervenções por parte dos partidos políticos representados na AML. De seguida passou

a direcção dos trabalhos à srª Secretária da Comissão, a DM Natalina Moura (PS),

tendo-se o sr. Presidente ausentado por eventual motivo pessoal.

A srª Presidente agora em exercício deu então a palavra à srª Cármen Lima, da

QUERCUS.

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A interveniente esclareceu que a sua questão era dirigida à APA.

Informou que a QUERCUS havia acompanhado o processo da obra do Parque

das Nações, do Hospital da CUF Descobertas, da sua ampliação e que, na altura, tivera

oportunidade de visitar a obra e verificado que tinha havido um encaminhamento

externo dos solos contaminados, mas que estando mal classificados, haviam sido

remetidos para destinos não adequados.

Uma vez que tinha havido esse direccionamento incorrecto, questionou qual

tinha sido a medida aplicada para resolver a referida situação e se teria havido alguma

solução de substituir ou de encaminhar esses solos contaminados para um destino

adequado ou se se mantiveram os destinos para os quais os solos tinham sido

inicialmente destinados. De acordo com denúncias recebidas, teriam sido

encaminhados para processos de recuperação paisagística, sem qualquer isolamento ou

preparação do terreno para receber aquele tipo de poluentes.

De seguida a srª Presidente da Mesa em exercício cedeu a palavra ao sr. Carlos

Ardisson, da Associação A Cidade Imaginada Parques das Nações.

O interpelador afirmou ter acompanhado de perto o problema da CUF

Descobertas, caso que considerou ter corrido mal. Relatou que houve moradores a

denunciarem o caso desde Outubro de 2016, por cheirar imenso a combustível, e houve

instituições que fingiram não haver problemas.

A Associação envolveu-se e teve mesmo de chamar a comunicação social,

tendo o assunto entrado na ordem dia a partir de Janeiro de 2017. Na altura, já várias

famílias se tinham mudado dos prédios onde moravam, perante os problemas

respiratórias que tinham ocorrido. Rapidamente perceberam que as instituições não

estavam minimamente preparadas para dar resposta a uma situação daquelas,

empurrando a responsabilidade de um lado para o outro.

A srª Delegada de Saúde Pública teria aconselhado os vizinhos a abrirem as

janelas, para arejar as casas, só que para quem residia em frente o ar que lhes chegava já

vinha contaminado. A Associação contactou com a CUF Descobertas, que não terá tido

o melhor comportamento, quando até vários funcionários e médicos também

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denunciavam que sentiam os cheiros dentro do próprio hospital, dificultando o seu

desempenho.

No Hipermercado, sito nas imediações da obra, onde também fora feita uma

queixa à ASAE, devidos aos odores e por estarem a vender a alimentação com aquele

cheiro, a ASAE terá afirmado que não era competência sua.

Depois, por terem encontrado provas das descargas para o rio, com manchas

visíveis no Tejo, contactaram a Brigada Antipoluição, possivelmente da GNR, que lhes

respondeu ter-se deslocado ao local quinze dias depois e nada ter verificado.

Também o anterior Presidente de Junta de Freguesia afirmara ter na altura ido ao

local e não ter encontrado maus cheiros. Até que surgiu uma reportagem de um canal

televisivo (TVI), que demorou até encontrar quem conseguisse dar uma opinião médica

sobre o caso.

De seguida o interpelador referiu-se ao caso do empreendimento Martinhal,

cujos construtores, tendo conhecimento que os solos poderiam estar contaminados, já

tiveram uma outra abordagem, montando uma estação de medição dos componentes

compostos voláteis no local, utilizando, no entanto, os valores de referência do Canadá.

Concluiu dizendo que haviam passado três anos e continuavam a observar com

muita preocupação que ainda havia muito para fazer, para além da legislação que

faltaria aplicar, com valores de referência, para que se pudesse verificar se as análises

foram ou não adequadas à situação, ou se haviam posto em perigo a vida dos munícipes.

A srª Presidente em exercício, no uso da palavra, cedeu a vez para uma

intervenção da srª Estela Cristina Monteiro, que se encontrava presente a título

individual.

A Munícipe, após agradecer pela pertinência da Audição, dirigiu uma questão à

representante da APA, sobre, se havia solos contaminados do Parque das Nações ao

Campo das Cebolas e até no Poço do Bispo, como podiam os solos seguir para aterros

sem terem sofrido as devidas descontaminações. Quanto às lamas de depuração de

ETAR’s, se a APA também tinha conhecimento de, para além de irem para aterros, se

era verdade estarem a ser depositadas em terrenos descampados.

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A srª Presidente em exercício, deu ainda a palavra ao sr. Joaquim José Chilrito,

presente também a título individual.

Começou por destacar a importância da temática e das entidades envolvidas

perante um assunto premente e de âmbito regional, ou seja, dentro da área

Metropolitana de Lisboa, e não apenas da área da CML.

Aportava, por isso, a questão das escórias de alumínio, em Setúbal. Nos anos 90,

Portugal importara cerca de quarenta e cinco mil toneladas de escórias de alumínio,

através de uma empresa denominada Metalimex. E apesar da opinião pública e dos

media, a realidade é que, trinta anos decorridos, persistiam ao abandono cerca de 50%

deste volume exatamente no mesmo local, ou sensivelmente a um ou dois quilómetros

onde foram inicialmente depositadas.

Haviam sido afectadas zonas residenciais, zonas com aquíferos, com uma

Faculdade e um Politécnico muito próximos, zonas industriais, junto às cerca de vinte

mil toneladas de resíduos de escórias de alumínio que nunca foram tratados, nem

devolvidas.

Colocava, por isso, as perguntas à APA, sobre o que é que estava a ser feito,

qual era a solução final, porque persistiam ao abandono passados três décadas e para

quando seria essa resolução tomada, pois, para si, a opção que estava a ser seguida

correspondia a “varrer para debaixo do tapete” ou a “empurrar com a barriga”.

Demonstrou a sua preocupação por o País estar a receber produtos que não eram

de origem nacional, com designações, especificações e identificadores que não surgiam

na nossa legislação, e se os terrenos de Portugal não estariam a ser utilizados por outros

países.

Findas as interpelações, a srª Presidente em exercício concedeu a palavra para

breves respostas ao Engº Rui Berkmeier.

O representante da Associação Zero esclareceu que, em relação às questões dos

cidadãos da Cidade Imaginária, salientou que o problema para a saúde não eram os

odores, mas antes as substâncias, os compostos orgânicos voláteis, que provocavam

dificuldades.

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Acrescentou que ficara perplexo com uma comunicação da APA, quando esta

afirmou que não havia análises do ar, que a CCDR-LVT fora ao local e não havia

análises, mas para as pessoas não estarem preocupadas com as náuseas.

A informação de que dispunha era de que as obras ainda estariam com

problemas de odores e de libertação de compostos orgânicos voláteis, quando existiam

tecnologias que poderiam permitir reduzir essas emissões, mas que não estavam a ser

aplicadas.

Quanto às lamas da ETAR, era também um tema muito importante, que já

haviam efectuado um levantamento no ano passado sob a questão das lamas, e que

haviam verificado uma situação curiosa e preocupante. No primeiro semestre, metade

das lamas iam para armazenamento, e daí não saíam, tendo o Secretário de Estado da

altura afirmado que elas se evaporavam mesmo no Inverno, o que era deveras estranho.

Mas já de acordo com os dados da APA, referentes ao segundo semestre, já iam todas

para compostagem.

Haviam sido contabilizadas no primeiro semestre quinze mil toneladas para

compostagem, no segundo semestre teriam sido cento e quarenta mil, o que quase lhe

parecia um “Milagre das Rosas”, tendo, de um semestre para o outro, aparecido várias

estações de compostagem, que não existiam no primeiro semestre, após o alerta público

ter sido conhecido, pelo que talvez até não estivessem a tratar as lamas.

Quanto à questão da “Metalimex” prestaria informações depois de se inteirar

melhor.

De seguida a Doutora Ana Cristina Carrola respondeu que também não estava

preparada para naquela altura fornecer todos os dados, mas que quanto à questão do

licenciamento e encaminhamento e da fiscalização seria uma obra que competia à

CCDR-LVT e não à APA.

Considerou que tinha havido algum avanço com o controlo das guias de

acompanhamento de resíduos, apesar de persistir a deficiente classificação de resíduos.

Acima de tudo, tinha tido nota que a classificação de resíduos já não se baseava apenas

nos resíduos de lixiviação para aterro, tendo passado a ser feita com base no guia da

classificação de resíduos, procurando estabelecer essa categorização dos resíduos mais

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corretamente. Afirmou também já terem avaliado a questão das EGAR e de a

classificação dos resíduos não ter sido realizada com deveria ter sido feita.

Relativamente à questão da srª Monteiro, havendo uma classificação correcta

dos resíduos, eles estariam obrigados a ser cobertos, até ao seu destino, por uma guia de

acompanhamento de resíduos, guia que determinava se o destino estava ou não

habilitado a receber a tipologia de resíduos descrita, através de um licenciamento.

Quanto aos aterros, eles estariam licenciados para várias tipologias de resíduos.

Haveria aterros definidos para as lamas da ETAR, e outras hierarquias de resíduos,

embora o aterro devesse ser a última escolha, mesmo não sendo totalmente adequado.

Quanto aos aterros para solos contaminados, existiriam dois no País, na zona da

Chamusca, junto dos CIRVER (Centros Integrados de Recuperação Valorização e

Eliminação de Resíduos Perigosos).

Por outro lado, as lamas poderiam ter o aterro como destino, desde que este

estivesse licenciado e habilitado para o efeito e com condições para as receber, embora

a APA promovesse a sua subida na hierarquia, para serem valorizados e se possível

reciclados.

Quanto ao caso da CUF Descobertas, representara claramente um primeiro

embate destas questões, e por não haver um enquadramento jurídico da questão, a APA

tentara resolvê-lo dentro do possível. Estará a ser utilizado nesta fase o Regime Geral de

Gestão de Resíduos, com a tentativa da APA em ir introduzindo alguns guias de

orientação, sempre tentando que questões como a da CUF Descobertas fossem entrando

na rotina. Por seu turno, já os odores não possuíam qualquer enquadramento legislativo.

De seguida, a srª Moderadora em exercício cedeu a palavra à Doutora Marta

Sandim.

A representante da Associação de Empresas Portuguesas para o Sector do

Ambiente, reconheceu que estavam um bocadinho no fim de linha, quando surgiam os

problemas, ou quando as entidades queriam fazer realmente um projecto de avaliação.

Perante os estudos de avaliação de contaminação de solo e águas contaminadas,

e os projetos de remediação, só devido a factores económicos, ou seja, quando se

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pretendia vender terrenos, seria necessário eliminar passivos ambientais para valorizar

esses terrenos, e só nessas alturas é que seriam convocados.

Em situações como as da Área Metropolitana de Lisboa, só eram chamados apra

acabar com o prejuízo, porque o trabalho prévio não havia sido feito, e se o não era

devia-se, fundamentalmente, a questões económicas. Em relação ao número ONU,

afirmou que as importações não eram da sua competência, pois seria assunto da APA.

Para concluir este painel de respostas, a srª Moderadora em exercício cedeu a

palavra à Doutora Clara Garcia.

A representante da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, fez

notar que gostaria que fosse privilegiada a actuação preventiva, e que careciam de

urgência as medidas legislativas a serem implementadas, bem como tudo aquilo que

estava a ser debatido, e de que iria reportar aos órgãos da sua Associação, acentuando a

disponibilidade para colaborarem nos pareceres que se imponham na defesa e protecção

da saúde humana e do meio ambiente, tendo em vista os impactos a acautelar.

A pedido da representante da Associação Portuguesa do Ambiente, a srª

Moderadora cedeu de novo a palavra à Doutora Ana Cristina Carrola, para uma breve

adenda.

Afirmou que a APA estava a desenvolver o atlas do solo, para que se pudesse

actuar o mais a montante possível, devendo o atlas ter como objectivo identificar

situações de contaminação ou de potencial contaminação, para que pudesse haver uma

actuação mais genérica neste âmbito e não andarem a resolver os problemas de forma

avulsa.

V - Intervenções dos Munícipes

De seguida a srª Moderadora em exercício abriu um período destinado a

intervenções dos Munícipes presentes, também limitadas a três minutos. Começou por

dar a palavra ao Doutor Carlos Costa, em representação do Grupo de Estudos de

Ordenamento de Território e Ambiente e da Associação Técnica para o Estudo da

Contaminação do Solo e Água Subterrânea, com o qual o GEOTA estaria protocolado.

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Como ponto prévio, o sr. Carlos Costa, começou por registar o seu muito

desagrado pelo facto da CML não ter marcado presença nesta Audição Pública, facto

que, do seu ponto de vista, vinha demonstrar o seu completo desinteresse pela matéria.

A segunda questão que pretendeu destacar, e que não entendia, era o facto de o

sr. Presidente da 4ª Comissão de Ambiente e Qualidade de Vida se ter ausentado, sem

ter prestado uma justificação.

Enquanto representante do GEOTA, uma Organização Não Governamental de

Ambiente, pretendia apresentar um caso concreto que ilustraria a forma como o cidadão

em Lisboa vivia perfeitamente desprotegido perante a Lei.

Tratava-se de um jovem casal, que adquirira um apartamento com espaço verde

nas traseiras de uma zona do Beato, e onde nessas traseiras pretendia plantar uma horta

e um jardim. Por precaução, e por sensibilidade, o casal mandara fazer análises ao solo

num laboratório acreditado. Os resultados obtidos indicaram que o solo estava

contaminado com metais, designadamente, bário, cádmio, extremamente contaminado

com chumbo, cobre, zinco e mercúrio e ainda com hidrocarbonetos, designadamente

com benzopireno, um hidrocarboneto aromático policíclico.

Sendo o teor de chumbo de 900 miligramas por quilo, seria particularmente

elevado e impeditivo, de acordo com o que referiu o boletim analítico, de cultivar

vegetais, especialmente culturas de folhas e tubérculos, que acumulariam um maior teor

de chumbo mais rapidamente, e para a jardinagem, com a formação de poeiras em

tempo seco, que também se poderiam deslocar para o ar interno da casa, o que afectaria

crianças pequenas, que poderiam receber mais chumbo do que o desejado, pelo simples

comportamento de levar a mão à boca. Questionou o que poderia um cidadão fazer

perante a situação descrita.

Da parte da CML, não existiria um inventário dos solos contaminados, nem das

áreas potencialmente contaminadas da cidade de Lisboa. Poder-se-ia colocar a hipótese

de se saber como é que aquele solo surgira contaminado nas traseiras de um

apartamento recém-construído na zona do Beato.

Uma hipótese única seria recorrer ao Decreto-Lei nº 46/2008, de 12 de Março, o

qual previa a possibilidade de reutilização de solos e rochas não contendo substâncias

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perigosas, derivados da mera actividade da construção, utilização essa que poderia ser

feita noutras obras, para além da de origem.

Acontece que um solo contaminado com 900 miligramas por quilo de chumbo,

proveniente de uma escavação, teria de ser classificado, perante essa lei, como um

resíduo não perigoso, logo, poderia ser utilizado na execução daquela obra.

Esta situação demostrava como camiões podiam sair de locais com solos

escavados numa determinada obra, e seram considerados como solos não perigosos,

porque estariam abaixo do limiar considerado para perigosidade. No entanto, seriam

solos que simultaneamente poderiam ser considerados como altamente contaminados,

mas que poderiam ir parar às traseiras de qualquer habitação, para um mero arranjo

paisagístico, facto que seria de extrema gravidade.

Terminava perguntando como é que num caso como este, onde o solo não podia

ter sido utilizado noutra obra, nem sair do seu local de origem, e muito menos seguir

para obras congéneres, se os munícipes afinal haviam acedido a camiões dos

empreiteiros, ou podiam ver essas viaturas a passear, em plena cidade de Lisboa, e a

distribuir calmamente os seus solos contaminados pelos quintais dos moradores.

De seguida a srª Moderadora em exercício passou a palavra à Engª Maria João

Batista, em representação do Laboratório Nacional de Energia e Geologia.

A representante do LNEG lamentou não ter podido estar na Mesa, por tal não lhe

ter sido comunicado, mas mesmo assim gostaria de colaborar, por já ter participado em

estudos a montante, e sempre ter defendido a questão da existência de valores de

referência, que se aplicassem ao território português e não fossem utilizados ensaios de

outros países, como havia sido o caso do estudo de Ontário.

Disse que gostaria de salientar que os estudos entretanto feitos eram

dispendiosos, sendo necessário que houvesse um contributo a nível monetário, para que

fosse preparado um trabalho de raiz, em vez de se recorrer a remendos com base no que

teria origem noutros países. O LNEG esperava que agora, com este atlas dos solos da

APA, a situação viesse a ser resolvida a breve trecho.

Reportou que o LNEG participava em projectos europeus, e que Lisboa também

estava nessa rede, e que iriam colaborar na amostragem da superfície dos solos.

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Lamentava apenas a dificuldade na obtenção de financiamento, como outras cidades

europeias havam conseguido, trabalho que mostraria ao Município e às entidades

congéneres da APA noutros países, quais seriam as áreas das cidades que estariam à

partida já bastante contaminadas. Seria uma amostragem bastante representativa, de

elevadíssima densidade, para que houvesse uma forma de actuar mais preventiva.

Em suma, a sua intervenção ia apenas no sentido de se actuar de uma forma mais

preventiva, com estudos que fossem representativos, à semelhança de um outro em que

o LNEG participara, feito pela Universidade de Aveiro, que fora extremamente

importante para mostrar, por exemplo, o nível de contaminação existente nos parques

infantis, nas poeiras dos passeios, e onde foram feitas análises químicas a inorgânicos e

a compostos orgânicos. Teriam de ser consideradas certas zonas de Lisboa com maior

tráfego, zonas de parques onde deveriam ser removidos alguns desses materiais e

substituídos por outros, porque os que lá existiriam estariam extremamente

contaminados. O estudo anterior teria apenas pecado pela falta de amostras, sendo ainda

pouco representativo em termos de número de exemplares analisados.

VI - Intervenções dos Grupos Municipais

De seguida, a srª Moderadora em exercício abriu um período final dedicado a

ouvir as forças políticas representadas na AML, esclarecendo que todos os grupos

municipais se deveriam cingir aos habituais regulamentares três minutos. As

intervenções dos deputados foram transcritas na integra da acta da sessão.

A srª Moderadora começou por dar a palavra ao Grupo Municipal do PEV e, no

uso da palavra, a DM Cláudia Madeira fez a seguinte intervenção:

“Em nome do Grupo Municipal do Partido Ecologista “Os Verdes” saúdo e

agradeço a todos os presentes os contributos que trouxeram a esta discussão.

Não posso também deixar de dizer que é inaceitável que a Câmara Municipal de

Lisboa, que também tem responsabilidade nesta matéria, não se tenha sequer dignado a

estar presente, o que demonstra um total desinteresse e também uma falta de respeito

por esta Assembleia, pelas Associações e pelos cidadãos.

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“Os Verdes” propuseram esta Audição Pública por ser importante dar voz às

Associações e aos cidadãos sobre um problema que afecta a nossa cidade e um recurso

precioso, que são os solos.

Estima-se que haja cerca de 2000 sítios contaminados em Portugal. Lisboa não é

exceção e o problema está longe de estar resolvido. As obras do Hospital CUF

Descobertas foram um exemplo claro do que não devia ter acontecido. Depois da

polémica, fez-se tudo e mais alguma coisa, mas grande parte dos solos contaminados já

não estava no local.

Nessa altura, por proposta do PEV, realizou-se um debate de actualidade, de

onde resultaram recomendações que continuam por concretizar, como a lista das obras

em solos contaminados. Essa informação nunca nos chegou, até ao dia de hoje.

Em Julho de 2019, soube-se de mais uma obra no Parque das Nações, nos

terrenos da Petrogal, em solos contaminados por hidrocarbonetos. Ainda aguardamos

que a Câmara envie a documentação que consta da recomendação aqui aprovada.

E veio agora a público mais uma descoberta de contaminação de solos nas obras

da Fundação Champalimaud. Recorde-se que a Câmara declarou a obra de interesse

excepcional para a cidade. Não pomos em causa a importância do projecto, mas havia

outras preocupações que o Executivo deveria ter tido.

Portugal é dos poucos países da União Europeia sem legislação específica sobre

solos contaminados e não dispõe do mapeamento de áreas contaminadas. Esta Lei está

na gaveta desde 2016, mesmo após a aprovação de um Projeto de Resolução do PEV

para a sua publicação, o que é inadmissível, e o Governo não pode continuar a adiar

mais esta publicação.

Recorde-se também que a Câmara, em resultado das Recomendações aqui

aprovadas, novamente, ficou de exigir a sua publicação. O que foi, entretanto, feito

nesse sentido? Por outro lado, o PDM determina no artigo 25º que é obrigatória uma

avaliação da perigosidade nas áreas onde existiram actividades poluentes e em situação

de risco, sendo obrigatório um plano de descontaminação, antes de qualquer intervenção

urbanística.

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Por que razão isso não foi feito nas obras da CUF Descobertas? Do Campo das

Cebolas? Da Petrogal? Da sede da EDP e da Fidelidade e da Fundação Champalimaud,

entre outras?

A Câmara limita-se a considerar que não há contaminação, mesmo tendo em

conta as actividades que lá funcionaram, e o resultado é que repetidamente várias obras

iniciam-se, e uma avaliação da contaminação e as análises só são realizadas a meio.

Em última instância, nada nos garante que os solos contaminados não são

tratados como inertes e até sem qualquer tratamento usados em novas obras.

Como permitem a Câmara e a CCDR a ausência destes procedimentos? E onde

andam, afinal, o controlo prévio e a fiscalização das operações urbanísticas?

As populações precisam de ter a certeza que o princípio da precaução é

concretizado, precisam de confiar e de ter acesso à informação! Lisboa é a Capital

Verde Europeia e isso não condiz com solos contaminados!

Ser Verde é dar passos para que estas situações sejam resolvidas de forma

sustentável e, após esta audição, conclui-se que há muito por fazer e esclarecer e, desde

logo, Os Verdes consideram fundamental que a Câmara elabore e divulgue a lista das

obras em locais contaminados, que determine que nas operações urbanísticas que

impliquem escavações seja obrigatória a avaliação da contaminação e inventarie os

locais onde funcionaram postos de abastecimento.

Além disso é urgente a publicação da Lei sobre Solos Contaminados e a

constituição de uma Comissão Técnica para a gestão destas situações na Cidade.

Por fim, esta matéria deve ser acompanhada de perto pela Comissão de

Ambiente e Qualidade de Vida, e termino reforçando os agradecimentos a todos os

presentes e apelando a uma maior articulação, rigor e transparência por parte das várias

entidades envolvidas. Falamos de riscos para a saúde pública e o ambiente, falamos de

um perigo silencioso e não pode haver margem para erros, desculpas ou facilitismos,

nem os interesses económicos se podem sobrepor à segurança e à qualidade de vida dos

cidadãos”.

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Posteriormente, a Sr.ª Moderadora deu a palavra à DM Graciela Simões do

Grupo Municipal do PCP que declarou o seguinte:

“Trata-se hoje de uma matéria extremamente gravosa e que não tem merecido a

atenção devida. Solos contaminados são um perigo silencioso porque contaminam não

só o ar ambiente, com a libertação de tóxicos, como os lençóis freáticos, com graves

impactos na saúde pública, pela relação entre os solos, a água e os alimentos.

Há várias fontes poluidoras, mas, neste momento, discutimos exactamente um

que vem a ser alvo de atenção, mas não a merecida, há vários anos, com casos

específicos agora em cima da mesa, e que resultam de passivos industriais.

Acontece que o projecto para os solos ou a legislação devida têm encontrado

entraves vários para a sua aplicação, provavelmente com base na perspectiva de

investimentos a aplicar, tanto tem passivos ambientais, como locais contaminados.

Portugal foi também alvo de uma Auditoria do Tribunal Europeu, em 2018, do

qual resultou um relatório e recomendações, mas nenhuma delas foi levada em conta!

Eu penso que Portugal não pode continuar à espera de 2021, data em que terá a

Presidência do Conselho Europeu, para introduzir matérias nestas questões relacionadas

com a contaminação dos solos, num tal programa de orientações estratégicas, já deveria

ter actuado há muito tempo.

A verdade é que isso não acontece e os solos continuam a ser removidos para

locais não apropriados, atingindo águas subterrâneas, assim como as águas que ficam

nas construções e são bombardeadas depois, provavelmente vão parar ao rio Tejo, e que

correm o risco de entrarem na cadeia alimentar com graves riscos para a saúde pública.

Além disso, continuam as empresas de construção numa atitude de

desresponsabilização, com uma visão de retenção de gastos, é verdade, a não cumprir as

obrigatoriedades de movimentação dos solos contaminados, e com tudo isto onde é que

estão os problemas de saúde ou quem se preocupa com os problemas de saúde que daí

advém? Eles não se veem, poderão não ser imediatos, os cheiros poderão incomodar,

mas são passageiros. Os problemas de saúde é que poderão surgir mais tarde, e serão

graves.

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A comunidade e nestes casos, tanto a comunidade e a saúde pública, e em

primeiro lugar, que aqui nunca ouvi falar, os trabalhadores que estão junto destas

construções, desta remoção de solos, os trabalhadores são aqueles que são mais

prejudicados, ou provavelmente mais tarde terão os seus problemas da saúde bastante

acentuados.

São populações indefesas perante os riscos que correm, mediante a exposição a

estes produtos tóxicos e cancerígenos, com valores limites de exposição não

monitorizados, portanto, muitos deles não são conhecidos, e que se creem, e poderá

acontecer, muito acima dos que estão autorizados, tanto pela Organização Mundial de

Saúde, como por outras entidades, são tóxicos que entram no organismo por via

respiratória, via oral, através da água e dos alimentos e também pelo contacto com a

pele e, por isso, estes trabalhadores correm um risco grave, e com repercussões graves,

tanto a nível do sistema respiratório, do sistema renal, do cérebro, do fígado e mesmo

do desenvolvimento cognitivo nas crianças como é o caso do chumbo.

Há situações que são urgentes implementar, e uma delas consideramos, e é

lamentável que a Câmara Municipal de Lisboa não esteja presente, o mapeamento das

áreas contaminadas no Município de Lisboa. É necessário uma fiscalização contínua ou

uma vigilância sobre as empresas, portanto, dos procedimentos das empresas na

remoção dos solos contaminados, não tratados e a sua deslocação para zonas, muitas

vezes não conhecidas, e também não preparadas para o efeito, criando exactamente

outras situações de risco, que organismos responsáveis, com a capacidade para a

avaliação e o controlo dos processos de contaminação dos solos, actuem

atempadamente, e que é uma correcta classificação dos solos, assim como a aplicação

correcta do código de acordo com as substâncias perigosas que os compõem seja

aplicada, que haja também uma aplicação de uma moldura penal para crimes produzidos

contra a saúde pública nesta actuação que se está a ver em vários casos, e que haja

também uma definição e uma atribuição de responsabilidades em todo o processo dos

solos contaminados.

Eu terminaria com uma proposta para que sejam aqueles trabalhadores, e temos

vários casos, temos da CUF Descobertas, temos em Oeiras, da Autosil, temos agora

vários e vão surgir outros casos, os trabalhadores, a população é mais difícil, não quer

dizer que não seja possível, mas é mais difícil que isto aconteça, propor que se faça uma

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vigilância da saúde dos trabalhadores ao longo de determinados anos, para ver

exactamente quais são as repercussões destes produtos na saúde da população”.

Agradecendo, a sr.ª Moderadora concedeu palavra ao DM Miguel Santos do

Grupo Municipal do PAN que proferiu a seguinte intervenção:

“Eu não me irei alongar muito, apenas tentarei caracterizar aquilo que se está a

passar aqui, e para mim é claro que se resume em poucas palavras, ‘longe da vista,

longe do coração’.

Temos não só relativamente à qualidade do ar, da água, agora temos a questão

dos solos. Alguém consegue imaginar que, na altura em que foi projectada a

descontaminação da zona da Expo a camada que foi contratada seria suficiente? Alguém

pensou que iriam ser feitas caves, ou seja, temos sempre a mesma questão, ver se passa

com o mínimo de investimento que for possível, é isto que repetidamente vai

acontecendo, e é isto que continuamente está a acontecer, neste momento.

Os esforços da APA para introduzir um pacote legislativo, que são obviamente,

extremamente louváveis, continuam a suscitar resistências, mas porquê resistências? Há

um medo de que um destes dias as obras, a análise técnica tenha que ser feita como deve

ser feita, e isso levanta muitos problemas, quando há bocado falaram que a criação da

Comissão Permanente para o acompanhamento das intervenções em terrenos suscetíveis

de terem sido contaminados teve resistências, é um facto! Foram 35 votos contra 33.

Alguém consegue imaginar porque é que 33 pessoas estavam contra a criação desta

Comissão?

Alguém consegue imaginar porque é que a Câmara Municipal não está aqui hoje

presente? Eu acho que um dia vamos conseguir ultrapassar estas questões, mas temo

que o dia não esteja próximo.

Até lá iremos pela nossa parte, no PAN, continuar a fazer com que esta

Comissão de Acompanhamento, que foi aprovada nesta Assembleia, que é do mais

elementar bom senso, a forma como a Comissão está pensada, iremos fazer todo o

possível, e desenvolver todos os esforços, para que esta Comissão possa sair do papel de

uma Recomendação e se possa tornar realidade e, pelo menos, naquelas obras onde se

julga que tenham existido atividades de contaminação, essa Comissão possa aparecer”.

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A sr.ª Moderadora passou de seguida a palavra ao Grupo Municipal do MPT e,

enquanto relator, o DM José Inácio Faria declarou:

“Antes de iniciar a minha intervenção quero também lamentar a ausência da

Câmara Municipal de Lisboa, designadamente dos responsáveis pelos Pelouros do

Ambiente e do Urbanismo, que demonstraram claramente um desinteresse, um total

desinteresse e uma falta de respeito pelos trabalhos desta Assembleia e pelos lisboetas.

Começo por agradecer ao PEV ter proposto esta Audição Pública, agradecer à

Assembleia Municipal de Lisboa, na pessoa do Senhor Presidente da 4ª Comissão

Permanente, o Senhor Deputado Luís Newton, ter aceitado realizá-la hoje, e a todos os

convidados que aceitaram participar nesta importante Reunião cujo contributo muito

contribuirá para a elaboração do um relatório final, que tanto eu como o meu colega

Sobreda Antunes, do PEV, iremos elaborar e apresentar à 4ª Comissão Permanente, e

posteriormente, à própria Sessão Plenária desta Assembleia Municipal.

Este é um tema recorrente nesta casa e para o qual ainda não foi apresentada

uma solução definitiva eficaz e sustentável, trata-se, no entanto, de um assunto de

primordial importância para a nossa Cidade e os lisboetas, como aqui já foi largamente

demonstrado, e trata-se de assunto importante, porquanto foram já identificadas áreas na

cidade de Lisboa com solos contaminados resultantes da actividade humana, entretanto

já em inactividade, mas que deixaram uma pegada ecológica de enorme dimensão

negativa para Lisboa e os lisboetas, e que perdura e prejudica não só a saúde do

ambiente de Lisboa como a própria saúde pública de todos nós.

Pela dimensão do problema e pelo interesse que este tema, que se arrasta há

decénios e tem sido demonstrado pelo população lisboeta, urge assim que o poder

público tome, de uma vez por todas, as medidas necessárias para mitigar os efeitos

nefastos da actividade humana nestas áreas, com a requalificação e reabilitação destes

solos, o que implicará, como é óbvio, uma vontade política séria e comprometida de

todos.

E é por isso que gostaria de reafirmar, em nome do MPT, a oportunidade e a

urgência desta Audição Pública, e assumir na qualidade de relator e DM do Partido da

Terra, MPT, o nosso cumprimento e compromisso em apresentar um relatório final

aglutinador de todas as propostas, sugestões e ideias aqui hoje apresentadas, que servirá

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de documento de trabalho para a elaboração de recomendações a apresentar por esta

Assembleia Municipal às entidades competentes, designadamente ao Executivo

Camarário, ao Governo e às demais entidades com intervenção nesta área.

Existe, como todos sabemos, legislação europeia nacional e local, que, como já

disse, não está a ser implementada nem respeitada.

Nós no Partido da Terra não iremos deixar de denunciar e exigir

responsabilidades e terminaria referindo que o princípio do poluidor/pagador não é uma

mera ficção, e que cumprirá a todos nós, enquanto cidadãos, seja com responsabilidades

políticas ou não, tudo fazermos para que a Lei seja cumprida e, por isso, um bem-haja a

todos vós.

Charles E. Kellogg (cientista do solo, 1902-1980) afirmava que “essencialmente,

toda a vida depende do solo…, não pode existir vida sem solo, nem solo sem vida;

ambos evoluíram juntos”.

Acto contínuo, a sr.ª Moderadora deu a palavra à srª DM que exerce o seu

mandato como independente Teresa Craveiro, que fez a seguinte intervenção:

“O Movimento dos Cidadãos por Lisboa felicita o PEV e felicita a realização da

4ª Comissão desta matéria e, no fundo, aquilo que estamos aqui a observar é que, não

obstante o Plano Diretor Municipal, em 2012, ganha um Prémio da Sustentabilidade da

Nova Zelândia, exactamente porque tem estas preocupações e diversas, para além destas

mais, há aqui um tempo de falta de operacionalidade, independentemente da legislação.

Ou seja, se a Cidade de Lisboa tem mudanças no ponto de vista das indústrias

obsoletas e que se vão urbanizando os terrenos é preciso identificar nas Unidades

Operativas de Planeamento e Gestão, portanto, são claramente os dois Pelouros, não é

só o Pelouro do Ambiente ou do Pelouro do Urbanismo, tem que efectuar toda uma

identificação do que eram os usos anteriores, obsoletos e transformados, para agora o

que são a urbanização.

E há outra matéria aqui que também tem que se colocar, é quem paga

exactamente a descontaminação dos solos, quando eu estou a fazer um Plano da

Matinha, de facto, quem é que vai pagar essa descontaminação? Tem que ser o

promotor e os proprietários, efectivamente, da transformação dos solos que vão pagar

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como se fossem umas mais-valias, portanto, há aqui uma matéria a trabalhar, no ponto

de vista do Urbanismo e do Ambiente, porque senão acaba o público por pagar a

descontaminação, e depois há toda uma mais-valia da transformação de um solo que é

mais barato quando é urbanizado, portanto, há aqui matérias que nos cabem a nós como

Assembleia Municipal, e à 4ª Comissão e à Comissão de Urbanismo, de articular e levar

a esta operacionalização do Plano Director, para que ele não seja apenas uma questão de

prémios, mas, de facto, que se concretize e que traga qualidade de vida, e fico muito

contente da saúde aqui estar porque, de facto, não é possível trabalhar nestas matérias

sem também perceber a fileira da saúde articulada no ar, como já foi aqui levantado, e

na questão dos lençóis de água.

Por último, achar que esta matéria pode ser matéria da Capital Verde, ou seja, a

Capital Verde tem um ano e pode ser um projecto e um programa para a Capital Verde

que nós podemos vir a propor à Câmara, vir a acompanhar na Comissão e a

desenvolver. Muito obrigada pelas vossas iniciativas e obrigada pelos especialistas aqui

presentes, porque aprendemos sempre muito nesta matéria”.

Por fim, concluindo as intervenções dos Grupos Municipais, passou a palavra à

DM Margarida Penedo do Grupo Municipal do CDS que disse:

“No entender do CDS estas áreas de solos potencialmente contaminados são

conhecidas e estão bem delimitadas, são zonas que geralmente no passado tiveram uma

ocupação industrial, isto maioritariamente, depois há alguns casos pontuais de sítios

onde houve bombas de gasolina ou outras actividades de áreas mais pequenas, mas que

de toda a maneira são bem conhecidas, não há nenhum grande mistério quanto aos sítios

onde isto onde isto acontece.

A Câmara Municipal de Lisboa tem aqui algumas coisas que podia fazer, e a

primeira era aparecer, evidentemente, porque, sobretudo quando a sua presença estava

agendada e confirmada.

Isto é um sinal de que a Câmara Municipal de Lisboa não dá uma grande

importância a este problema e podia também publicar ou fornecer aos interessados a

informação toda que possui sobre este assunto, não é isso que aparentemente tem feito,

segundo várias queixas que aqui se ouviram hoje!

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Depois, podia nos seus instrumentos de gestão urbanística e territorial, como o

PDM e Planos de Pormenor, e outros, podia e devia estabelecer manchas de solos

potencialmente contaminados, e depois estas manchas deviam passar a ser consideradas

nas plantas de condicionantes e nas listas das consultas externas a ter em conta quando

os requerentes se apresentassem com um projecto para licenciamento urbanístico.

Houve duas Recomendações que foram aqui apresentadas, uma por nós, CDS-

PP, e outra pelo Partido Ecologista “Os Verdes”, a pedir o mapeamento das zonas

contaminadas, foram apresentadas em Janeiro de 2017, portanto, está a fazer três anos,

fez três anos.

Foram ambas aprovadas por unanimidade. Nenhuma delas teve até hoje qualquer

consequência. A Câmara Municipal de Lisboa podia e devia estabelecer um mecanismo

que tornasse impessoal e burocráticos os processos de licenciamento urbanístico,

independentemente de ser caso a caso com o Grupo Mello, com o grupo A, ou B, ou C,

ou com qualquer outro grande promotor de grandes operações urbanísticas”.

VII - Encerramento da Audição Pública

A srª Moderadora em exercício, agradeceu a todos os intervenientes os seus

contributos. Mais informou que o assunto discutido nesta Audição seria ainda debatido

em sede da 4ª Comissão Permanente onde os deputados que a constituem poderiam

fazer justiça a todo o trabalho inconcluído neste âmbito.

Para concluir os trabalhos, como notas finais, salientou o facto de que,

independentemente da filiação politico-partidária, todos os deputados eleitos pela AML

partilham a preocupação pela problemática dos solos contaminados na cidade de Lisboa

e agradeceu ao GM do PEV pela iniciativa de se realizar uma Audição Pública de onde

resultaram várias sugestões que poderão contribuir para uma maior justiça e

transparência, destacando a criação de uma Comissão de Acompanhamento.

A Audição Pública terminou cerca das vinte horas.

Nota: Logo após a presente Audição Pública de 16/01/2020, realizou-se, na

AML de 4/2/2020, um Debate de Actualidade sobre “Solos contaminados nas obras de

ampliação da Fundação Champalimaud, em Pedrouços”, cujo vídeo poderá ser

reproduzido, a partir dos 16’, IN https://www.youtube.com/watch?v=FHfJmfj7e2o

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VIII - Conclusões e Recomendações

Considerando os “Compromissos para o Crescimento Verde”, nomeadamente

para o PRoSolos, o Pacto Ecológico Europeu como parte integrante da estratégia da

Comissão Europeia na implementação da Agenda 2030 das Nações Unidas e dos

Objectivos do Desenvolvimento Sustentável, conferir IN

https://ec.europa.eu/info/sites/info/files/european-green-deal-communication_en.pdf, o

7º Programa Geral de Acção da União Europeia para 2020, em matéria de ambiente,

“Viver bem dentro dos limites no nosso planeta”, IN https://noctula.pt/prosolos-

prevencao-da-contaminacao-e-remediacao-dos-solos/, e ser Lisboa a “Capital Verde

Europeia 2020”, a AML recomenda à CML que:

1 - Contribua para o Compromisso para com o Crescimento Verde, também no

contexto de Lisboa Capital Verde Europeia 2020.

2 - No âmbito do projecto PRoSolos, defina valores de referência para o solo a

utilizar em Avaliações Exploratórias ou para efeitos da Remediação do Solo.

3 - Inventarie e divulgue a lista de locais potencialmente contaminados,

incluindo onde funcionaram postos de abastecimento de combustíveis, determinando

que, para as operações urbanísticas que impliquem escavações, seja obrigatória uma

avaliação prévia sobre a eventual contaminação.

4 - Para a Remediação de Solos contaminados tenha como objectivos

fundamentais: i) a protecção da saúde pública e do ambiente e ii) a reabilitação do local

afectado de forma a possibilitar o uso futuro do solo em condições ambientalmente

favoráveis.

5 - No redesenvolvimento dos terrenos afectados (brownfields), tendo em vista a

instalação de empreendimentos habitacionais, obrigue ao estabelecimento das condições

necessárias para a realização desses empreendimentos, impondo e fiscalizando o

tratamento da contaminação, de modo a travar os processos de transferência de

poluentes e limitando assim os custos ambientais da remediação.

6 - Defina limiares de aceitabilidade e de não aceitabilidade de risco para a

saúde humana e ou para o ambiente, para efeitos da Avaliação Detalhada.

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7 - Exija e acompanhe a emissão de Declarações de Risco de Contaminação do

Solo e de Certificados de Qualidade do Solo, em cada etapa do processo, permitindo

conhecer, em cada momento, o estado de um determinado solo.

8 - No âmbito da transmissão do direito de propriedade do solo, defina

disposições que acautelam o interesse das partes e da qualidade de vida e do bem-estar

comum dos cidadãos e do ambiente em geral.

9 - Disponibilize informação, de carácter ambiental e prevenção do risco sobre

as obras em curso na cidade, na página interactiva do Município, viabilizando a consulta

no seu portal a todos os interessados.

10 - Garanta o acompanhamento destas matérias e respectivas deliberações pelas

3ª e 4ª Comissões Permanentes, enviando informação periódica a esta AML.

Mais se recomenda que a CML diligencie pela:

11 - Aprovação do Projecto Legislativo relativo à Prevenção da Contaminação e

Remediação dos Solos - PRoSolos.

12 - Constituição de uma Comissão Interdisciplinar Técnica e de

Acompanhamento da Gestão das Obras no Concelho de Lisboa.

O presente relatório foi aprovado por unanimidade na reunião da 4ª Comissão, de 12 de

Março de 2020, estando em condições de ser apreciado e votado em Plenário.

Lisboa, AML, 12 de Março de 2020

O Presidente da sessão Os Relatores

______________________ _________________ _________________

(Luís Newton) (José Inácio Faria) (Sobreda Antunes)

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IX - Anexos

I - Proposta de debate de actualidade sobre ‘Solos contaminados em Lisboa’,

IN https://www.am-lisboa.pt/301000/1/006850,000257/index.htm

II - Recomendação nº 6/131 (PEV) ‘Pela Descontaminação dos Solos em

Lisboa; Pela Protecção da Saúde das Populações e do Ambiente’,

IN https://www.am-lisboa.pt/302000/1/006891,000072/index.htm

III - Recomendação nº 7/131 (CDS-PP) ‘Verificação de Solos Potencialmente

Contaminados’,

IN https://www.am-lisboa.pt/302000/1/006892,000072/index.htm

IV - Recomendação 8/01 (PEV) ‘Devido acompanhamento de solos

contaminados em Lisboa’,

IN https://www.am-lisboa.pt/302000/1/008687,000420/index.htm

V - Proposta nº 4/2019 (PEV) - Audição Pública a promover pela 4ª Comissão

sobre ‘Solos Contaminados: Prevenção da Contaminação e Remediação dos Solos’,

IN https://www.am-lisboa.pt/301000/1/012585,000581/index.htm

VI - Exposição ‘Solos contaminados’, engª Ana Cristina Carrola (APA),

IN https://www.am-lisboa.pt/documentos/1581006424A6aGQ2ak3Vh58QI2.pdf

VII - Exposição ‘Solos contaminados’, drª Marta Sandim (AEPSA),

IN https://www.am-lisboa.pt/documentos/1581006424C9iZC9uz6Si00NF6.pdf

VIII - Recomendação nº 099/10 (PPM) ‘Solos contaminados: referenciação dos

solos contaminados identificados e disponibilização da evolução dos processos de

descontaminação em curso’,

IN https://www.am-lisboa.pt/302000/1/013734,000420/index.htm