audiÊncia radiofÔnica e a interaÇÃo mediada on ......no atual contexto de convergência...

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019

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AUDIÊNCIA RADIOFÔNICA E A INTERAÇÃO MEDIADA ON-

LINE: a hashtag #ItatiaiaNaCopa como uma estratégia falha1

RADIO LISTENERSHIP AND THE MEDIATED ONLINE

INTERACTION: the #ItatiaiaNaCopa as a failed strategy

Luana Viana 2 Aline Monteiro Homssi3

Resumo: Este artigo analisa as redes formadas a partir do uso da hashtag #ItatiaiaNaCopa,

da Rádio Itatiaia, bem como do perfil @radioitatiaia, com o objetivo de compreender como ocorreu a interação mediada on-line entre os usuários do Twitter e a cobertura jornalística da Copa do Mundo 2018 realizada pela Rádio Itatiaia. Os dados foram coletados no período de 28 de maio a 20 de julho de 2018, pela ferramenta Netlytic e analisados por meio do software Gephi, a partir dos conceitos da Análise de Redes Sociais (RECUERO, BASTOS, ZAGO, 2015). Com a utilização dos conceitos de rádio expandido (KISCHINHEVSKY, 2016) e interação mediada on-line (THOMPSON, 2018), observa-se a formação dessas redes e a forma como a hashtag #ItatiaiaNaCopa gerou baixo engajamento por parte do público da Rádio Itatiaia.

Palavras-Chave: Rádio Expandido. Rádio Itatiaia. Análise de Redes Sociais. Abstract: This article analyzes the networks formed from the use of Radio Itatiaia’s hashtag

#ItatiaiaNaCopa and from the @radioitatiaia profile, with the objective of understanding how mediated interaction occurred between Twitter users and the journalistic coverage of 2018’s World Cup by Radio Itatiaia. The data were collected from May 28th to July 20th, 2018, by the Netlytic tool and analyzed using Gephi software, based on the concepts of Social Network Analysis (RECUERO, BASTOS, ZAGO, 2015). With the use of expanded radio concepts (KISCHINHEVSKY, 2016) and online mediated interaction (THOMPSON, 2018), is possible to observe the formation of these networks and how the hashtag #ItatiaiaNaCopa generated low engagement by Rádio Itatiaia’s audience..

Keywords: Expanded radio. Rádio Itatiaia. Social Network Analysis

1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Comunicação e Cibercultura do XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019. 2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Membro do grupo de pesquisa Convergência e Jornalismo (ConJor – PPGCom Ufop). [email protected] 3 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Membro do grupo de pesquisa Convergência e Jornalismo (ConJor – PPGCom Ufop). [email protected].



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1. Introdução

Em 19 de março de 2018, faltando 88 dias para o início da Copa do Mundo da Rússia,

a Rádio Itatiaia de Belo Horizonte postou em suas redes sociais digitais inserindo a hashtag

“#ItatiaiaNaCopa”. O propósito da emissora era mobilizar os ouvintes a usarem a mesma

ferramenta para promover maior interação com seu público, além de ter seu conteúdo

circulando pela web com mais visibilidade.

No atual contexto de convergência (JENKINS, 2009), os conteúdos tendem a se

espalhar por variadas instâncias midiáticas, contribuindo para a construção de uma cadeia

intermídia. Os meios de comunicação que não investem na circulação de conteúdo em outras

plataformas estão sujeitos a enfrentar uma queda no interesse por parte de seu público, fato

preocupante para as emissoras de rádio, já que estas vêm, cada vez mais, usando estratégias

para rejuvenescer sua audiência, aproximando-se dos ouvintes com, por exemplo, a utilização

de redes sociais on-line.

Essas ferramentas oferecem novas possibilidades de interação e diálogo, promovendo

a interação direta dos usuários com outros consumidores da mídia (QUADROS E LOPEZ,

2014) que, assim como a emissora, possuem representatividade e identidade em rede, o que

faz com que a estrutura vertical previamente delimitada no âmbito massivo se horizontalize

nesses espaços.

Alguns formatos veiculados na grade radiofônica tradicional tendem a estimular mais

o ouvinte a participar da programação, como o esportivo, por exemplo, devido à emoção com

que envolve a audiência e, intrínseco a ele, o futebol. O espaço que este esporte ocupa no

rádio é superior às demais modalidades, seja na transmissão de conteúdos via antena – ou

seja, ondas hertzianas –, seja na produção voltada para o on-line. Esse tema, por proporcionar

grande envolvimento, reflete diretamente na participação do público, que quer contribuir,

opinar e ser ouvido.

Aproveitando a Copa do Mundo de 2018, um megaevento programado, este artigo

compreende as mídias sociais como um espaço propício para interações mediadas on-line

(THOMPSON, 2018) entre emissoras e ouvintes, e a escolha pela hashtag #ItatiaiaNaCopa se

justifica pelo fato de acreditarmos que muitas relações poderiam ser construídas a respeito de

um esporte que mobiliza milhões de torcedores. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar as

redes de conversação a partir da hashtag #ItatiaiaNaCopa para compreender como houve a



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interação mediada on-line entre os usuários do Twitter e a cobertura jornalística da Copa do

Mundo 2018 realizada pela Rádio Itatiaia.

Para essa finalidade, compreendemos a rede não como um resultado da articulação dos

atores, mas sim como um modo de ser apropriado por eles (D’ANDREA, 2016b, p. 125).

Dentre alguns elementos presentes nessa composição, nos interessa observar como a hashtag

#ItatiaiaNaCopa foi utilizada tanto pela Rádio Itatiaia como pelos ouvintes que se conectaram

a ela pelo Twitter durante o período de 28 de maio a 20 de julho de 2018. Os dados foram

coletados a partir da versão paga da ferramenta Netlytic4 e analisados com o auxílio do

software Gephy5.

A proposta metodológica é trabalhar com métodos digitais de pesquisa (ROGERS,

2016) focando na análise de redes sociais (ARS) (RECUERO et al., 2015). Busca-se olhar

para o espaço on-line que pode ser influenciado por construções estabelecidas no rádio

massivo entre emissora e ouvintes, observando a apropriação das redes sociais digitais por

meio de seus atores e as relações criadas nesse ambiente.

2. Rádio expandido para plataformas digitais: um cenário de convergência

Ao longo de sua história, o rádio tem se mostrado um meio de comunicação resiliente:

já que passou – e passa – por constantes transformações a fim de garantir sua sobrevivência.

Ao acompanhar mudanças tecnológicas, sociais e políticas, entre outras, o rádio se moldou

como o conhecemos atualmente: entre outras interfaces, produz conteúdos que se expandem

para diversas plataformas, sem que sua produção esteja limitada ao dial.

Sua presença na web, em smartphones, TVs por assinaturas e redes sociais digitais é

uma das características da sua atual fase de convergência. Ferraretto (2012, p. 6) divide

cronologicamente a história do rádio em quatro momentos:

1) Implantação, do final da década de 1910 até a segunda metade dos anos 1930;

2) Difusão, do início da década de 1930 até a segunda metade dos anos 1960;

3) Segmentação, do final da década de 1950 até o início do século XXI; e

4) Convergência, de meados da década de 1990 até a atualidade.

4 Netlytic é uma ferramenta canadense para monitoramento de mídias sociais, permitindo coletas em até seis tipos de fontes diferentes, entre elas o Twitter, utilizado neste artigo. 5 Gephy é uma plataforma para tratamento e visualização de redes, em forma de grafos.



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Neste trabalho, nos interessa olhar de forma mais detalhada para sua fase mais recente,

a fim de compreendermos algumas das peculiaridades que esse cenário oferece ao rádio,

principalmente no que diz respeito à reconfiguração da audiência. O autor aponta oito6

características que marcam este momento, das quais destacamos três: a redefinição das

transmissões radiofônicas para além das ondas hertzianas; o reposicionamento conceitual

com o meio sendo tomado por sua linguagem específica e não mais apenas pela tecnologia

envolvida; e a valorização da participação do ouvinte (FERRARETTO, 2012, p.21).

A primeira característica, a redefinição das transmissões radiofônicas para além das

ondas hertzianas, pode ser explicada pelas ideias que regem a modificação das mídias e o

surgimento de novas outras, recebendo, por Fidler (1998), o nome de midiamorfose, conceito

que explica as transformações dos meios de comunicação, sendo estas resultados de

interações entre necessidades percebidas, pressões políticas e de competência, e de inovações

sociais e tecnológicas (FIDLER, 1998, p. 21). Algumas dessas mudanças permitem que os

meios passem a coexistir em diferentes plataformas, resultando no que Bolter e Grusin (2000)

chamam de remediação. Esta acontece quando uma mídia representa ou renova as formas de

outra mídia, recebendo um novo propósito, assim como uma estrutura inédita e um uso

original, como é o caso das transmissões radiofônicas via internet, por exemplo.

Kischinhevsky (2016) se apropria das ideias de midiamorfose e remediação para falar

sobre o “rádio expandido”, conceito que explica como essa mídia envolve outras plataformas

não se limitando mais ao dial. Para o autor, o rádio

extrapola as transmissões em ondas hertzianas e transborda para as mídias sociais, o celular, a TV por assinatura, os sites de jornais, os portais de música. A escuta se dá em AM/FM, ondas curtas e tropicais, mas também em telefones celulares, tocadores multimídia, computadores, notebooks, tablets; pode ocorrer ao vivo (no dial ou via streaming) ou sob demanda (podcasting ou através de busca em arquivos ou diretórios). A escuta se dá em múltiplos ambientes e temporalidades, graças a tecnologias digitais que franqueiam também a produção, a edição e a veiculação de áudios a atores sociais antes privados do acesso a meios próprios de comunicação (KISCHINHEVSKY, 2016, p. 279).

6 As demais características são: a hegemonia do sistema capitalista com gestores, crescentemente, voltados à integração de empreendimentos regionais às tendências da globalização; a busca por novas formas de comercialização; a indefinição, no âmbito do negócio, sobre o futuro das transmissões on-line e de suas possibilidades de comercialização; a necessidade de repensar o modelo de financiamento das emissoras comunitárias, educativas, estatais e públicas; e a premência de uma redefinição dos marcos regulatórios em função da nova realidade criada a partir da convergência.



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Tal definição corrobora a ideia de que o rádio se apropria de novas plataformas como

estratégia de engajamento com seu público. No entanto, ainda que o conceito apresentado

observe os novos espaços ocupados, pouco se dedica aos agentes não humanos que os

envolvem e pouco se teoriza sobre as relações que englobam os humanos e não humanos.

Visto isso, leva-se em conta que essas relações são compostas de forma heterogênea e

carregadas de signos nas quais buscamos reflexões sobre essa noção expandida para

apreender fenômenos da comunicação.

A segunda característica apontada por Ferraretto (2012) sobre o rádio em cenário de

convergência é o reposicionamento conceitual com o meio sendo tomado por sua linguagem

específica e não mais apenas pela tecnologia envolvida. A tentativa de conceituar essa mídia

tornou-se um desafio frustrante tanto para a academia quanto para o mercado, já que existem

ínfimas possibilidades de produções em torno da mídia sonora.

Ferraretto (2015, p. 284) adverte que conceituar o rádio é “algo bem mais complexo do

que reduzir o meio à mera descrição das tecnologias empregadas ou à necessidade de

simultaneidade entre emissão e recepção”. A constante metamorfose dessa mídia é uma

ilustração de que conceitos estabelecidos correm seriamente o risco de se tornarem obsoletos

da noite para o dia. Já há algum tempo, as discussões sobre o conceito questionam sua

submissão a uma determinada tecnologia. Meditsch (2010), então, propõe olhar para o uso

social do meio quando se faz alusão a esta mídia, afirmando que o melhor seria

pensar o rádio como uma instituição social, caracterizada por uma determinada proposta de uso social para um conjunto de tecnologias, cristalizada numa instituição. Consideramos hoje melhor ainda pensar esta instituição social como uma criação cultural, com suas leis próprias e sua forma específica de mediação sociotécnica, numa analogia ao que propõe a ciência do jornalismo para definir o jornal (MEDITSCH, 2010, p. 204).

Seguindo essa linha de raciocínio, concordamos que “o rádio, hoje, é considerado como

uma entidade que existe acima e independentemente de suas materializações. Tudo que refere

à sua linguagem, construção, finalidade, seu conteúdo, entre outros, é relevante e compõe a

produção de sentido do radiofônico” (VIANA, 2017, p. 15). Tal fato abre diversas

perspectivas a serem observadas, principalmente aquelas relacionadas ao rádio em

plataformas digitais.

A terceira característica do rádio em cenário de convergência que destacamos, apontada

por Ferraretto (2012), é a valorização da participação do ouvinte. Esse aspecto merece um



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olhar mais detalhado, já que o ouvinte sempre teve um papel ativo e importante ao longo da

história dessa mídia. Desde as primeiras transmissões radiofônicas, o público encontra espaço

para participar da programação e se relacionar com os radialistas, seja pelo tradicional envio

de cartas, ligações telefônicas e visitas à emissora, até a mais recente troca de mensagens

virtuais por meio dos sites de redes sociais. Importante salientar que, para Herrera Damas

(2005), a participação de ouvintes em programas de rádio é mediada pelos profissionais do

meio, que permitem que haja intervenções de conteúdo na programação.

No próximo tópico, apresentaremos um breve panorama sobre as relações entre

ouvintes e emissoras radiofônicas, estabelecidas ao longo dos anos, associando-as aos tipos

de interação propostos por Thompson (2018). O objetivo é apresentar como ocorre a

interação entre ouvinte e emissora nos dias atuais, já que a audiência do rádio é fundamental

para a definição de seu conteúdo.

3. Audiência radiofônica e a interação mediada on-line

Em “A mídia e a modernidade”, Thompson (1998) desenvolve a teoria interacional da

mídia que tem como ideia básica o preceito de que para compreender os meios de

comunicação e o impacto causado por eles, deve-se analisá-los em relação aos tipos de ação e

interação que essas mídias criam e tornam possíveis. O autor distingue três tipos básicos de

interação: face a face; mediada; e quase mediada. Em uma releitura atualizada de sua obra,

Thompson (2018) sugere o acréscimo de mais um, a interação mediada on-line.

Em relação a interação face a face, o autor define três características específicas:

1) ocorre em um contexto de copresença, num cenário espaço-temporal comum; 2) é de caráter dialógico, no sentido de que envolve, pelo menos potencialmente, um fluxo bidirecional de informação e comunicação; e 3) mobiliza uma multiplicidade de sinais simbólicos - gestos e expressões faciais, bem como palavras, cheiros e toques (pelo menos potencialmente) e outros sons e sinalizações visuais (THOMPSON, 2018, p. 19).

Esse tipo de interação ocorre em contexto de copresença e oferece uma gama de

pistas simbólicas completas, além de corresponder a um grau de interatividade dialógico. A

orientação da ação fica restrita a outros presentes no mesmo espaço, ao mesmo tempo. Na

história do rádio, esse tipo de interação ocorre quando os ouvintes iam até as emissoras para

presenciarem a transmissão de programas, como show de calouros e outras atrações de



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auditório. Essa presença vai refletir no conteúdo da programação, já que com uma plateia, a

ideia é entreter e provocar reações diretas no público que podem ser percebidas

imediatamente pelos apresentadores. Essa interação é frequente na era do rádio espetáculo,

que se inicia em 1930 e vai até meados de 1950.

A interação mediada “envolve o uso de um meio técnico de comunicação que permite

que as informações ou os conteúdos simbólicos sejam transmitidos para indivíduos que estão

distantes no espaço ou no tempo, ou em ambos” (THOMPSON, 2018, p. 19). Além dessas

características, esse tipo de interação possui uma gama de pistas simbólicas limitadas com

um grau de interatividade dialógica e uma orientação de ação de um para um. Esse tipo de

interação entre emissora e ouvinte ocorre quando a audiência realiza contato por telefone ou

por e-mail, e quando escrevia cartas.

No caso do rádio, é a telefonia quem abre espaço para a interação síncrona, o que acaba

proporcionando intensos reflexos na programação e no conteúdo. “Com a ampliação das

linhas telefônicas (...) os ouvintes passam a participar mais ativamente. Programas compostos

a partir dos gostos da audiência, com pedidos de música e recados para conhecidos ocupam

cada vez mais os minutos do dial” (LOPEZ et al., 2015, p. 189). Além disso, com a interação

mediada pelo telefone, há uma ampliação na variação das vozes que compõem as narrativas

radiofônicas.

Thompson (2018, p. 20) explica que a interação quase mediada “difere da interação

mediada em dois aspectos centrais: primeiro, é de caráter monológico, no sentido de que o

fluxo de comunicação é em grande parte unidirecional (daí a quase-interação); e segundo, é

orientada a um espectro indefinido de potenciais destinatários”. Portanto, ambas as interações

são estendidas no espaço-tempo e possuem uma gama de pistas simbólicas limitadas. Na

interação quase mediada, o próprio autor inclui o processo de transmissão de conteúdos

radiofônicos ao afirmar que é “uma forma de interação criada pelo tipo de mídia que antes

era chamada de comunicação de massa, como os livros, os jornais, o rádio, a TV e assim por

diante” (THOMPSON, 2018, p. 20).

À luz do progresso digital, do expressivo crescimento da internet e de outras formas de

conversação em rede, Thompson (2018) acrescenta um quarto tipo de interação, a mediada

on-line. Nele, o autor destaca “as novas formas de ação e interação que foram criadas pela

comunicação mediada por computador que ocorre em ambientes on-line” (THOMPSON,

2018, p. 20). No entanto, faz uma ressalva ao afirmar que apesar de ser mediada por



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computadores, essa interação não se restringe a este dispositivo, mas diz respeito à forma de

interação criada por ele. Portanto, pode ocorrer em smartphones, tablets ou outros

dispositivos móveis.

A interação mediada on-line é estendida no espaço e no tempo e possui uma gama de

pistas simbólicas limitada. O grau de interatividade é dialógico com uma interação de ação de

muitos para muitos. Para Thompson (2018), os sites de redes sociais (SRS) constituem o

cenário perfeito para esse tipo de interação mediada:

O Facebook e os outros SRS facilitam uma forma distinta de interação social on-line, criando uma rede em constante expansão de relacionamentos sociais caracterizada por graus variados de familiaridade, fragilidade e pela troca de conteúdo simbólico em múltiplos formatos e modalidades - mensagens, comentários, fotos, vídeos, feeds de notícias, etc (THOMPSON, 2018, p. 21).

Com a expansão do rádio (KISCHINHEVSKY, 2016), essa mídia passa a ser

incorporada em outros espaços, como portais da internet, dispositivos móveis e redes sociais.

Ao se expandir para outras plataformas, os conteúdos, linguagens e rotinas da produção

radiofônica se alteraram. Dentre as transformações ocorridas, têm-se as formas de

envolvimento das emissoras com os ouvintes, já que a mudança no contexto radiofônico por

si só já condiciona alteração nas atividades de interação. O ouvinte, agora um usuário

multiplataforma, divide o mesmo espaço e a mesma posição hierárquica que uma emissora

que expande suas atividades para o meio digital. Ambos tornam-se interagentes, e a interação

entre eles nesse ambiente é considerada media on-line.

As emissoras criam perfis sociais e são vistas como um indivíduo que, assim como o

público, passa a obter representatividade e identidade na web, apropriando-se de redes sociais

on-line tanto para maior aproximação com a audiência, quanto para reconstruir suas próprias

imagens, pois “essas ferramentas também proporcionaram o estabelecimento de espaços de

representação, imbuídos da persona que representam e delimitados como um espaço ‘pessoal’

de ‘fala’ dos indivíduos, os quais se tornam passíveis de estudar pela primeira vez”

(RECUERO et al., 2015, p. 22).

Nos ambientes on-line, encontramos os rastros deixados pelos atores sociais (neste

caso, os ouvintes e as emissoras) cujos efeitos compõem os nossos objetos de estudo. Bruno

(2012, p. 693) acredita que a rastreabilidade digital, em linhas muito gerais, “consiste em

retraçar as ações que múltiplos e heterogêneos atores efetuam, descrevendo as associações e



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redes que se formam na composição de um coletivo qualquer”. A produção desses conteúdos

textuais é marcada por uma coletividade que ganha representatividade na web.

Jenkins (2009, p. 189) afirma que “na cultura da convergência, todos são participantes

– embora os participantes possam ter diferentes graus de status e influência”. Torna-se

relevante apontar quanto dessa participação compõe nosso objeto, para quantificar e

qualificar a relação entre esses usuários, retomando, assim, uma das características mais

essenciais do rádio: a sua interação com a audiência.

Para Quadros e Lopez (2014, p. 170), “das primeiras transmissões radiofônicas até

agora, muitas foram as investidas que buscaram aproximar o ouvinte da programação do

rádio, seja em reportagens de rua, leitura de cartas e fax enviados por ouvintes, ligações

telefônicas (...)”. No entanto, nenhuma dessas tentativas apontadas pelas autoras em

aproximar o ouvinte da programação e da emissora foram capazes de alterar a estrutura

estabelecida pela lógica massiva. Continuavam as ideias baseadas no conjunto emissor,

receptor e canal, acrescidas de estratégias de feedbacks, mas com a mesma estrutura. Este

artigo aponta para outra lógica, uma reticular que coexiste com a massiva.

Ao mensurar esses dados relacionais, é possível observar os rastros deixados pelos

atores e identificar quais são os mais propagáveis. A propagabilidade se refere “aos recursos

técnicos que tornam mais fácil a circulação de algum tipo de conteúdo em comparação com

outros, (...) aos atributos de um texto de mídia que podem despertar a motivação de uma

comunidade para compartilhar material (...)” (JENKINS et al., 2014, p. 25-26), entre outros.

Pode ser definida, inclusive, através do potencial que leva as pessoas a compartilharem

determinado conteúdo midiático por vontade própria.

Ferramentas como mentions, hashtags, retweets, reply, entre outras, compõem alguns

dos itens facilitadores da propagabilidade, da circulação e recirculação de conteúdos, além de

serem rastros deixados na web que permitem observar e entender muito mais sobre

desenvolvimentos gerais na sociedade. Zago (2012, p. 4) denomina como recirculação uma

subetapa da circulação jornalística, na medida em que esta etapa pode continuar, através de

espaços públicos mediados, após o consumo. “A recirculação jornalística compreenderia,

assim, acontecimentos jornalísticos filtrados e comentados por interagentes, que contribuem,

direta ou indiretamente, para aumentar o alcance de uma informação jornalística no Twitter”

(ZAGO, 2012, p. 5).



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A partir da compreensão de que atores além dos humanos – como essas ferramentas

apresentadas na sentença anterior – são importantes fatores para estudo, e de que redes

heterogêneas são formadas em torno de relações, observar o que age como influenciador e

quais os pontos de conexão entre as redes vão dimensionar questões a serem relativizadas

para estudo da audiência radiofônica em cenário de convergência, principalmente por tratar-

se de uma interação mediada on-line que, como visto, pode ser rastreada.

4. Metodologia, análise e discussões

Neste trabalho, a proposta é estudar a mídia valorizando o processo de comunicação e

seus interlocutores, buscando identificar as relações entre os atores de um grupo composto

por ouvintes e emissora, ambos representados na rede. Ao tratar sobre pesquisas

contemporâneas relacionadas ao rádio e a mídia sonora, Kischinhevsky et al. (2015, p. 149)

defendem que a expansão da apropriação radiofônica exige uma abordagem multimétodos, já

que cada faceta do rádio – como produção, transmissão, linguagem, etc – abrange diversas

esferas e que “cada uma destas perspectivas traz consigo um arcabouço teórico-metodológico

específico”.

Como essa pesquisa se limita a investigar apenas a interface do rádio que está voltada

para as redes sociais na internet, com o objetivo de observar a interação entre ouvintes e

emissora nessa plataforma, recorremos aos métodos digitais de pesquisa. Lopez e Freire

(2018) corroboram tal escolha ao afirmarem que

os métodos digitais preocupam-se com objetos caracteristicamente digitais. Desta forma, a transmissão exclusivamente realizada em antena não poderia apropriar-se desta perspectiva, mas a expansão do rádio para as plataformas digitais converte-o em um objeto a ser estudado. Através das redes sociais, por exemplo, é possível compreender as redes estabelecidas por emissoras ou programas radiofônicos, dialogando com as conexões que publicizam e os laços sociais mais permanentes e menos fluidos que proporcionam (LOPEZ & FREIRE, 2018, p. 8).

Além disso, compreendemos redes sociais online como espaço de construção e

manifestação de intertextualidades que são frutos de diferentes influenciadores, por exemplo,

“em um ambiente como o Twitter, incontáveis redes de associações entre agentes humanos e

não humanos se formam simultaneamente” (D’ANDREA, 2016a, p. 101), propiciando a

observação das relações. Então, lançamos mão dessa rede social para observar as relações





criadas entre o perfil da emissora Itatiaia, de Belo Horizonte, e de seus ouvintes durante a

Copa do Mundo de 2018.

Em 19 de março de 2018, a rádio Itatiaia iniciou a contagem regressiva para a Copa do

Mundo de 2018, que aconteceria na Rússia. Faltavam 88 dias para o primeiro jogo e a

emissora lançou a hashtag #ItatiaiaNaCopa (Figura 1). A partir de então, sua presença era

diária nas redes sociais da rádio.

FIGURA 1: Primeira aparição da hashtag #ItatiaiaNaCopa, em tweet publicado pela Rádio Itatiaia em 19 de

março de 2018.

Os dados aqui analisados foram coletados no Twitter, por meio da ferramenta Netlytic,

de 28 de maio a 20 de julho de 2018, contemplando o período de 18 dias antes da abertura

oficial da Copa do Mundo 2018 até cinco dias após o encerramento. Foi coletada a hashtag

#ItatiaiaNaCopa nas modalidades Who Mentios Whom e Who Replies to Whom. Também

foram coletados, no mesmo período e também pela ferramenta Netlytic, informações da conta

@radioitatiaia. Optamos por também analisar o perfil da emissora para aumentar nosso

conhecimento sobre as relações que ela mantém com os usuários e que poderiam refletir nas

redes criadas em torno da hashtag. Os dados coletados foram levados ao software Gephy para

tratamento. Dentro dos métodos digitais de pesquisa, a metodologia utilizada é a Análise de

Redes Sociais, de acordo com Recuero, Bastos e Zago (2015), que utiliza os dados

relacionais (p. 53) entre o conjunto de atores de uma amostra.





As redes observadas em torno da hashtag #ItatiaiaNaCopa e do perfil @radioitatiaia

apresentam, como nós7, os usuários do Twitter que utilizaram a hashtag ou que se

conectaram com o perfil @radioitatiaia durante o período analisado, enquanto as arestas8

apresentam as ligações entre esses usuários. As duas redes analisadas são consideradas

emergentes, visto serem construídas por meio da interação entre os usuários, e não por

associação entre eles.

4.1. #ItatiaiaNaCopa – Who mentions Whom

O dataset com a hashtag #ItatiaiaNaCopa – Who mentions Whom, ao ser levado ao

software Gephy, apresenta 409 nós e 602 arestas. Para a visualização da rede formada, foi

utilizado o algoritmo Force Atlas 2, com dimensionamento 100,00 e as ações de Evitar

sobreposição e Gravidade mais forte. O algoritmo trabalha com a força de repulsão dos nós,

aproximando os que apresentam conexões mais fortes e afastando os que estão mais

distantes.

O usuário @radioitatiaia aparece como o nó do grafo com o maior número de

conexões, o que indica que dela partiu o maior número do usos da hashtag #ItatiaiaNaCopa.

O perfil apresentava, no período da coleta, 1.032.048 seguidores e é, nesta rede, o maior em

tamanho de Grau de Entrada9. Com destaque, aparecem também os usuários @thiagoreisbh,

@wellingcampos, @conmebol e @mineirao.

Os usuários @thiagoreisbh e @wellingcampos são jornalistas esportivos, colaboradores

da Rádio Itatiaia. Estavam, durante o período analisado, a serviço da Itatiaia na cobertura da

Copa do Mundo 2018. @thiagoreisbh tinha, à época, 409.719 seguidores; @wellingcampos

tinha 74.311. O usuário @conmebol é o perfil oficial da Confederación Sudamericana de

Fútbol; enquanto o usuário @mineirao é a conta oficial do Estádio Governador Magalhães

Pinto, conhecido como Mineirão.

7 Os nós, de acordo com Recuero, Bastos e Zago (2015, p. 54), são representações dos atores da rede social escolhida. Aqui, os nós são os usuários do Twitter que utilizaram as hashtags #ItatiaiaNaCopa e #itatiaianacopa 8 As arestas, ainda de acordo com Recuero, Bastos e Zago (2015, p. 54), são representações das conexões estabelecidas entre os atores. Neste caso, representam as ligações entre os usuários (por respostas, menções e retweets, os chamados RTs). 9 O grau de entrada, ou indegree, “[…] representa a quantidade de conexões que um determinado nó recebe […].” (RECUERO, BASTOS & ZAGO, 2015, p. 66). Aqui, os nós são organizados pelo uso da hashtag #ItatiaiaNaCopa.





FIGURA 2: Grafo do dataset #itatiaianacopa – Who mentions Whom após o algoritmo Force Atlas 2. Fonte:

Elaboração própria.

A partir das informações fornecidas pela rede, é possível verificar que a hashtag

#ItatiaiaNaCopa circulou, preferencialmente, pelo perfil @radioitatiaia e por dois de seus

colaboradores, @thiagoreisbh e @wellingcampos, o que é justificável, visto o uso da hashtag

ter sido apresentado como uma campanha da rádio no Twitter. Os dois outros perfis que mais

utilizaram a hashtag #ItatiaiaNaCopa não fazem parte do quadro de colaboradores da Rádio

Itatiaia, mas são perfis ligados ao mundo do futebol. O perfil @conmebol surge na rede a

partir de um tweet de @wellingcampos, que noticia uma decisão da Confederación

Sudamericana de Fútbol, tomada já na Rússia, há três dias o início da Copa do Mundo 2018.

Apesar do teor do tweet remeter à Copa Libertadores da América, torneio de futebol sul-

americano, Wellington Campos utilizou a hashtag #ItatiaiaNaCopa.





FIGURA 3: Tweet de @wellingcampos que cita o perfil @conmebol e a hashtag #ItatiaiaNaCopa. Fonte:

www.twitter.com.

A contribuição de @wellingcampos à rede, utilizando a hashtag #ItatiaiaNaCopa,

ocorreu em 11 de junho de 201810 e envolveu o perfil @conmebol, levando ao

compartilhamento por 47 vezes, além de 19 interações de resposta.

Com o perfil @mineirao acontece algo semelhante. O repórter da Rádio Itatiaia

@thiagoreisbh tweetou um vídeo curto comparando o estádio do Mineirão, situado em Belo

Horizonte/MG, aos estádios da Rússia. Para tanto, linkou na postagem o perfil @mineirao.

A postagem de @thiagoreisbh citando o perfil @mineirao e a hashtag #ItatiaiaNaCopa

(FIGURA 4) foi publicada no dia 19 de junho de 201811, recebendo 28 comentários, e foi

retwettada 47 vezes.

10 Disponível em: <https://twitter.com/wellingcampos/status/1006139331914891265>. Acesso em 10 Fev 2019. 11 Disponível em: < https://twitter.com/thiagoreisbh/status/1009078260058206213>. Acesso em 10 Fev 2018.





FIGURA 4: O repórter @htiagoreisbh linka o perfil @mineirao em postagem utilizando a hashtag

#ItatiaiaNaCopa. Fonte: www.twitter.com.

Essas duas postagens explicam o motivo de perfis que não partilham do trabalho na

Rádio Itatiaia estarem envolvidos em uma rede que utiliza a hashtag criada pela rádio para a

cobertura da Copa do Mundo 2018.

Pelo modo de visualização de tamanho de nó por Grau de Entrada, com o tamanho dos

nós entre 0,5 e 50, a rede se configura de acordo com a Figura 5, abaixo:





FIGURA 5: Grafo do dataset #ItatiaiaNaCopa – Who mentions Whom com tamanho do nó por Grau de Entrada.

Fonte: Elaboração própria.

Na Figura 5 é possível visualizar a Rádio Itatiaia recebendo conexões de usuários da

rede a partir da hashtag #ItatiaiaNaCopa.

Ainda no software Gephy, os dados foram passados pela métrica da modularidade, que,

de acordo com Recuero, Bastos e Zago (2015, p. 84), mostra a formação grupos ao separar e

agrupar os nós da rede. Foram adensados 15 grupos, sendo que cluster formado a partir do nó

Rádio Itatiaia é o maior e mais importante da rede. Os dados podem ser vistos na Figura 6.





FIGURA 6: Grafo do dataset #ItatiaiaNaCopa – Who mentions Whom após o filtro de Modularidade. Fonte:

Elaboração própria.

O grupo formado pelo perfil @radioitatiaia responde por 22,98% da concentração de

conexões da rede.

O tweet com a hashtag #ItatiaiaNaRede que mais recebeu comentários foi publicado

pelo perfil @radioitataia no dia 16 de junho de 201812, marcando os perfis de

@fernandagentil, repórter da Rede Globo, e de @thiagoreisbh repórter da Rádio Itatiaia. A

publicação traz um vídeo com a interação entre os dois repórteres.

12 Disponível em: <https://twitter.com/radioitatiaia/status/1007965365824114689>. Acesso em 10 Fev 2019.





FIGURA 7: Tweet utilizando a hashtag #ItatiaiaNaCopa que mais recebeu comentários durante o período

analisado. Fonte:www.twitter.com

Já o tweet com a hashtag #ItatiaiaNaCopa que mais rendeu compartilhamentos, durante

o período analisado, foi publicado também pelo perfil @radioitatiaia no dia 28 de junho de

201813, com um vídeo que mostra a torcida brasileira cantando em um dos metrôs da Rússia.

Foram 65 retweets.

13 Disponível em: <https://twitter.com/radioitatiaia/status/1012348622397214720>. Acesso em 20 Fev 2019.





FIGURA 8: Tweet com a hashtag #ItatiaiaNaCopa mais compartilhado pelos membros da rede no período

analisado. Fonte: www.twitter.com

4.2. #ItatiaiaNaCopa – Who replies to Whom

O dataset com a hashtag #ItatiaiaNaCopa – Who replies to Whom, ao ser levado ao

software Gephy, apresenta 35 nós e 33 arestas. Para a visualização da rede formada, foi

utilizado o algoritmo Force Atlas 2, com dimensionamento em 100,00 e as ações de Evitar

sobreposição e Gravidade mais forte. Ainda nas ações de visualização de rede oferecidas pelo

software Gephy foram modificados o ranking dos nós, pelo Grau de Saída14 (mínimo de 0,5 e

máximo de 20,0).

14 O grau de saída, ou outdegree, “[…] representa a quantidade de conexões que o nó faz […].” (RECUERO, BASTOS & ZAGO, 2015, p. 66). Aqui, os nós são organizados pelo uso da hashtag #ItatiaiaNaCopa.





FIGURA 9: Grafo do dataset #ItatiaiaNaCopa – Who replies to Whom com Force Atlas 2, pelo Ranking de nós

por Grau de Saída. Fonte: Elaboração própria.

Tanto na visualização da rede por grau de entrada como por grau de saída pode-se ver

que o nó do perfil @radioitatiaia é o que mais recebe e o que mais envia conexões no uso das

respostas utilizando a hashtag #ItatiaiaNaCopa. Nas Figuras 9 e 10, a cor é mais intensa nos

nós com maior atividade na rede.





FIGURA 10: Grafo do dataset #ItatiaiaNaCopa – Who replies to Whom com Force Atlas 2, pelo Grau de

Entrada. Fonte: Elaboração própria.

Pelo ranking de grau, é possível organizar os nós por tamanho, com mínimo 0,5 e

máximo de 20, o grafo é visto de acordo com a Figura 11, que também organiza os grupos de

interação por cores. Novamente, é possível perceber o perfil da @radioitatiaia como o

principal da rede.





FIGURA 11: Grafo do dataset #ItatiaiaNaCopa – Who replies to Whom com Force Atlas 2, por tamanho de nós

em Grau de Entrada. Fonte: Elaboração prória.

Ao levarmos em conta o número inicial de nós e de arestas da rede formada a partir das

respostas utilizando a hashtag #ItatiaiaNaCopa, é possível perceber que a rede é menor e

mais modesta. O perfil @radioitatiaia é o que mais recebeu respostas com a utilização da

hashtag, mas, ainda assim, o número de replies é pequeno.

4.3. Perfil Rádio Itatiaia

O perfil @radioitatiaia também foi coletado, durante o período de 28 de maio a 20 de

julho de 2018, pelo Netlytic. A coleta resultou em uma rede formada por 11.376 nós e por

42.042 arestas. Pelo algoritmo Force Atlas 2, no software Gephy, a rede passou pelas ações

de Dissuadur hubs, Evitar sobreposição, Gravidade mais forte e dimensionamento 100,00.

Por ser uma rede com muitos nós e arestas, foi preciso alterar o dimensionamento para

1000,00, ainda no algoritmo Force Atlas 2. O resultado pode ser visto na Figura 12 abaixo:





FIGURA 12: Grafo do dataset @radioitatiaia – Who mentions Whom com Force Atlas 2, dimensionamento

1000,00, por tamanho de nós em Grau

O perfil @radioitatiaia surge como o maior nó, após o grafo ser organizado por

tamanho, a partir do ranking de grau estar separado entre 05 e 100. O perfil atinge o tamanho

máximo proposto por esta forma de visualização, tal como na Figura 13 abaixo:

FIGURA 13: Grafo do dataset @radioitatiaia – Who mentions Whom com após ser organizado por tamanho de

nó a partir do ranking de grau entre 0,5 e 100.

O filtro de Centralidade de Autovetor, que, segundo Recuero, Bastos e Zago (2015, p.

72) leva em conta tanto as conexões dos nós em avaliação, mas também as conexões

secundárias, apontando os nós mais influentes na rede. Na rede formada a partir de

@radioitatiaia, durante o período analisado, o perfil da rádio é o mais influente, seguido por

mais três perfis de rádios atuantes em Minas Gerais: @radio98oficial, @radioalvorada e

@radiobandnewsfm. Mesmo sendo o perfil mais influente da rede, @radioitatiaia não é o

principal formador de clusters: há outros 14 perfis mais agregadores na rede.





Em 2019, a Rádio Itatiaia completa 67 anos de atuação. Seu sinal hertziano chega a

95% dos municípios mineiros, de acordo com dados de 201615. A transmissão da Rádio

Itatiaia se dá, também, por meio do site, por um aplicativo próprio e por distribuidoras de TV

a cabo. Sua audiência, ainda de acordo com dados de 2016, é composta por 35% de ouvintes

da classe AB, 48% de ouvintes da classe C e 17% das classes DE. A página da rádio do

Facebook, assim como as contas no Twitter, Youtube e Flickr são apresentadas como

diferenciais para possíveis assinantes. Sua programação é composta por jornalismo, esportes,

prestação de serviço e entretenimento.

No dia 28 de maio, dia inicial da coleta, o perfil @radioitatiaia postou 24 vezes. Dessas,

apenas duas relativas à Copa do Mundo de 2018, uma delas convidando para o uso da

hashtag #ItatiaiaNaCopa (Figura 14)16. As demais postagens tratam da greve dos

caminhoneiros e suas consequências (doze postagens), futebol nacional, com ênfase nos

times de Atlético e Cruzeiro (sete postagens), e entretenimento (três postagens).

15 Dados publicados no mídia kit do site da Rádio Itatiaia, publicado em 2016. Disponível em: < http://www.itatiaia.com.br/sobre/midia-kit>. Acesso em: 10 Fev 2019. 16 Disponível em: < https://twitter.com/radioitatiaia/status/1001224351176364033>. Acesso em 10 Fev 18.





FIGURA 14: Postagem realizada em 28 de maio de 2018, no perfil @radioitatiaia. Fonte: www.twitter.com

Em 30 de maio de 2018, o perfil @radioitatiaia publicou 58 postagens sobre futebol

nacional, três sobre a Copa do Mundo, nove com jornalismo e seus com entretenimento e

serviços, totalizando 76 postagens. A data foi marcada pelo sorteio de grupos da Copa do

Brasil e por jogos de Atlético x Sport e Cruzeiro x Palmeiras.

Em 17 de junho de 2018, estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo, o perfil

@radioitatiaia postou três vezes sobre futebol e outros esportes, cinco vezes com conteúdo

jornalístico e 39 vezes sobre a Copa do Mundo. Nas postagens sobre o torneio, chama a

atenção que a Rádio Itatiaia deixe de usar a hashtag #ItatiaiaNaCopa em algumas ocasiões,

como mostra a Figura 1517:

17 Disponível em: < https://twitter.com/radioitatiaia/status/1008320066855809024>. Acesso em 10 Fev 2019.





FIGURA 15: Postagem do perfil @radioitatiaia sobre a Copa do Mundo sem o uso da hashtag #ItatiaiaNaCopa.

Fonte: www.twitter.com.

Assim, demonstra-se que o perfil @radioitatiaia, durante o período analisado, realizou

postagens que não versavam sobre a Copa do Mundo 2018, dando destaque à tradicional

cobertura de jornalismo, esportes, serviços e entretenimento. Por isso, o perfil @radioitatiaia

formou uma rede de 11.376 nós e 42.042 arestas, em oposição à rede criada em torno da

hashtag #ItatiaiaNaCopa, que foi formada por 409 nós e 602 arestas.

De maneira geral, a análise nos mostra que a Rádio Itatiaia não conseguiu engajar seu

público por meio da hashtag #ItatiaiaNaCopa. Isso reflete diretamente nas observações acerca

da interação mediada on-line (THOMPSON, 2018), e, consequentemente, no processo de

circulação e recirculação (ZAGO, 2012) do conteúdo informativo da Itatiaia nos ambientes

digitais, que mostraram-se limitados em relação ao potencial que a emissora pode alcançar no

Twitter de acordo com seu número de seguidores (1.032.048 no período da coleta).

Esse baixo engajamento com seu público mostra um despreparo da emissora em traçar

estratégias para os ambientes on-line. Por outro lado, destacamos o perfil de @thiagoreisbh,

colaborador da emissora que assume um papel mais proativo, sendo determinante para a

ampliação e (re)circulação dos conteúdos. Este protagonismo se caracteriza pelo papel de

mediador que este assume diante de seu público e que traz para o ambiente digital as relações

criadas por meio do rádio massivo.





6. Considerações finais A análise das redes formadas a partir do uso da hashtag #ItatiaiaNaCopa e do perfil

@radioitatiaia no Twitter, entre os dias 28 de maio e 20 de julho de 2018 demonstra que a

Radio Itatiaia, com seu grande número de ouvintes e sua estratégia de publicar nas mídias

sociais, agregando novas plataformas para a escolha do ouvinte, não teve sucesso com a

hashtag #ItatiaiaNaCopa. O perfil @radioitatiaia foi o maior propagador da hashtag, mas não

conseguiu engajar demais usuários do Twitter a também utilizarem essa marca. Os perfis

adicionais que mais tweetaram com ao hashtag #ItatiaiaNaCopa foram os de dois

colaboradores da rádio, enquanto outros dois perfis foram citados juntos à hashtag e, assim,

aparecem em destaque na rede, já que foram compartilhadas mais vezes.

Outro dado importante retirado da análise é que os perfis que interagiram com a Rádio

Itatiaia durante o período analisado não responderam a ela ou aos colaboradores com o uso da

hashtag: a rede formada em torno das respostas é pequena, com 35 nós é 33 arestas.

Durante o período estudado, o perfil @radioitatiaia se manteve ativo, com postagens

que variaram da cobertura da Copa do Mundo aos quatro pilares tradicionalmente cobertos

pela rádio: jornalismo, esportes, serviço e entretenimento. Na rede criada a partir do perfil

@radioitatiaia, é possível verificar sua influência: mesmo que não seja o principal perfil

agregador e formador de clusters, é o mais influente na formação de conexões diretas e

secundárias.

Os números apresentados no mídia kit da Rádio Itatiaia levam em conta o ouvinte

hertziano: mais de dois milhões e meio de ouvintes por mês e a liderança na audiência em

Minas Gerais (dados de 2016). A Rádio Itatiaia é conhecida em Minas Gerais por engajar o

ouvinte, e sua participação ativa nas mídias sociais, com destaque para o Twitter, aqui

analisado, mostram que a emissora está investindo em diferentes plataformas de publicação

de conteúdo. Porém, os dados analisados mostram que, ao menos até 20 de julho de 2018, a

Rádio Itatiaia não alcança o mesmo engajamento de público na internet que tem com o

ouvinte hertziano.

O uso das mídias digitais segue sendo um campo de desafio para as rádios que,

tradicionalmente, emitem a partir de antenas. Porém, também se mostra como um campo de

oportunidades para o engajamento de usuários que podem espalhar seu conteúdo. A Rádio





Itatiaia tem características de possuir público engajado enquanto emissora hertziana,

enquanto demonstra ter o mesmo potencial para ser explorado nas mídias sociais.

Os conteúdos gerados a partir do perfil @radioitatiaia, durante o período estudado,

foram levados a outros usuários do Twitter, a partir do compartilhamento (aqui chamado de

retweet). Fica claro, a partir do que foi visto no estudo da rede formada a partir da hashtag

#ItatiaiaNaCopa, que os colaboradores da rádio são fundamentais no processo de distribuição

do conteúdo, personalizando a rádio e formando, eles mesmos, redes de interesse específicos.

Dessa forma, acreditamos que o público, engajado, é de fundamental importância para o

processo de difusão de conteúdo do perfil. A força das redes de associação é demonstrada,

então, pelos nós e por suas conexões, e pelo potencial de espalhamento dos conteúdos

gerados.

A continuidade do estudo aqui realizado torna-se possível por diferentes vertentes. Uma

delas é pelo impacto do repórter enquanto celebridade. O perfil @thiagoreisbh, colaborador

da Rádio Itatiaia presente na cobertura da Copa diretamente da Rússia, é conhecido do

ouvinte da rádio nas transmissões esportivas pelo contato com o público e a pergunta que

inicia a participação popular: “Seu nome e seu bairro”. Thiago Reis personaliza a Rádio

Itatiaia e é por ela personalizado. O impacto de seu perfil no Twitter para o perfil

@radioitatiaia é uma frente de estudos.

Outra possibilidade de continuar a pesquisa aqui iniciada é pela análise das respostas

que a Rádio Itatiaia oferece aos seus interlocutores nas mídias sociais em que atua. Vimos,

aqui, que a hashtag #ItatiaiaNaCopa suscitou baixo número de respostas ao perfil

@radioitatiaia, mas destacamos que a realização da Copa do Mundo e sua cobertura

jornalística por grandes emissoras de rádio e TV, além de veículos impressos e digitais, pode

ter contribuído para o baixo engajamento. Assim, observar a interação da Rádio Itatiaia com

seus interagentes nas redes pode dar pistas sobre o comportamento da rádio: se tem se

envolvido com as novas plataformas ou se está se posicionando, também aqui, apenas

enquanto emissora de massa.





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