(atual)3 artigo enquadramento

Upload: samuel-de-paula-faria

Post on 01-Mar-2018

236 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    1/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 1

    ENQUADRAMENTO DE CORPOS DE GUA E ESTUDO DE IMPACTO

    AMBIENTAL: vinculaes com o planejamento de recursos hdricos

    Paulo Romero Guimares Serrano de Andrade1

    RESUMO---Uma das preocupaes da sociedade mundial a de promover o uso sustentvel dagua, buscando compatibilizar a oferta e a demanda, considerando que a disponibilidade hdricadepende da reposio natural da gua nos mananciais superficiais e aqferos subterrneos. Pelacrescente utilizao quantitativa e o decrscimo qualitativo dos recursos hdricos no Mundo, faz-se

    necessrio a aplicao de diversos instrumentos de controle do uso da gua. O enquadramento decorpos de gua em classes, segundo os usos preponderantes, previsto na Resoluo CONAMA No.357/05 um dos instrumentos para estabelecer metas de garantia de nvel de qualidade gua que

    possa assegurar seus variados usos. A Lei No. 9433/97, conhecida como a Lei das guas do Brasil,determina que a gesto de recursos hdricos seja integrada com a gesto ambiental, definindo que oscorpos de gua sejam enquadrados segundo a legislao ambiental. O presente trabalho analisaaspectos do processo de planejamento de recursos hdricos e a sua relao com o enquadramentoqualitativo das guas, comentando aspectos conceituais, prerrogativas legais e o atual estgio doenquadramento de corpos de gua no Brasil e no Estado da Bahia. Abordagens sobre a evoluohistrica, conceitos, definies e aspectos legais dos EIA/RIMA como instrumentos de

    planejamento, so brevemente tratados.

    ABSTRACT ---One of the concerns of the world society is the one of promoting the maintainableuse of the water, looking for the offer and the demand, considering that the water supplying dependson the natural replacement of the water in the superficial springs and water underground. For thegrowing quantitative use and the qualitative decrease of the water resources in the World, it is donenecessary the application of several instruments of control of the use of the water. The framing ofwater bodies of in classes, according to the preponderant uses, foreseen in the ResolutionCONAMA No. 357/05, is one of the instruments to establish goals of warranty of quality level tothe water that can assure their varied uses. The Law No. 9433/97, the Law of the Waters in Brazil, it

    determines that the administration of water resources is integrated with the environmentaladministration, according to the environmental legislation. The present work analyses aspects of theclassification of the water according to preponderant uses, as instrument of management of waterresources, commenting on conceptual aspects, legal prerogatives and the current apprenticeship ofthe framing of bodies of water in Brazil and in the Bahia State. Approaches about the historicalevolution, concepts, definitions and legal aspects of EIA/RIMA as planning instruments, they aretreated shortly.

    Palavras-chave:recursos hdricos, enquadramento, instrumentos de planejamento

    _______________________1) Professor Adjunto do Centro de Cincias Exatas e Tecnolgicas - CETEC da Universidade Federal do Recncavo da Bahia - UFRB, Campus

    Universitrio, Rua Rui Barbosa, no. 710, 44380-000 Cruz das Almas - BA. E-mail: [email protected]; [email protected].

    pg 13

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    2/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 2

    1 - INTRODUO

    A gua um recurso encontrado na natureza de grande relevncia para a sobrevivncia da

    humanidade. Faz-se necessrio que a demanda por gua no exceda a oferta, j que este recurso

    renovvel, porm no inesgotvel nos aspectos de qualidade. Em pocas passadas, as pequenas

    necessidades hdricas podiam ser atendidas pelas disponibilidades naturais sem maiores

    investimentos que aqueles necessrios para a captao da gua.

    Nas regies onde havia relativa abundncia de gua, o desenvolvimento econmico foi mais

    intenso, gerando aumento populacional, resultando na reduo das disponibilidades em alguns

    locais. Ao longo da histria, a maioria dos projetos de aproveitamento de recursos hdricos se

    caracterizou por interferir, prejudicialmente, nos sistemas scio-ambientais. A sociedade moderna

    ampliou consideravelmente a diversidade de usos das guas, fazendo com que o quadro ficasse

    complexo com o aparecimento de demandas conflitantes.

    A atual preocupao da sociedade mundial a de promover o uso sustentvel da gua,

    buscando a compatibilidade entre a oferta (quantitativa e qualitativamente) e a demanda,

    considerando que a disponibilidade hdrica depende da reposio natural da gua nos mananciais

    superficiais e aqferos subterrneos. Tendo em vista a crescente utilizao quantitativa e o

    decrscimo qualitativo dos recursos hdricos no Brasil e no Mundo, faz-se necessrio a aplicao de

    diversos instrumentos de controle do uso da gua. Dentre estes instrumentos destacam-se o

    enquadramento dos corpos hdricos em classes de qualidade, adequados aos diversos usos da gua,

    sendo amplamente entendido que esse enquadramento tambm um importante instrumento de

    planejamento.

    A Lei No. 9433, de 08/01/2007, conhecida como a Lei das guas, que cria no Brasil a Poltica

    Nacional de Recursos Hdricos, prescreve no seu Art. 3 - inciso III, que a gesto de recursos

    hdricos deve ser integrada com a gesto ambiental; no Art. 9, que os corpos de gua sero

    enquadrados em classes, segundo os usos preponderantes da gua; e no seu Art. 10, que as classes

    de corpos de gua sero estabelecidas pela legislao ambiental.A grave crise scio-ambiental que o planeta atravessa leva formulao de novos mtodos e

    instrumentos que minimizem ao mximo os impactos ambientais gerados pela implantao e

    operao de empreendimentos potencialmente poluidores. O Estudo de Impacto Ambiental e o

    respectivo Relatrio de Impacto sobre o Meio Ambiente (EIA/RIMA) so instrumentos legais de

    gesto ambiental introduzidos pioneiramente em 1969 na legislao ambiental norte-americana,

    atravs no National Environmental Policy Act NEPA. No Brasil, o EIA ganho funo e amplitude

    atravs da Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispe sobre a Poltica Nacional do MeioAmbiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao.

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    3/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 3

    Vale ressaltar que o enquadramento dos corpos hdricos tambm referncia para o Sistema

    Nacional de Meio Ambiente, pois representa padres de qualidade da gua para as aes de

    licenciamento e monitoramento ambiental, entre outras. Tanto a Poltica Nacional de Recursos

    Hdricos quanto a Poltica Nacional do Meio Ambiente, pelas Leis 9.433/97 e 6.938/81,

    respectivamente, tm entre seus principais objetivos assegurar atual e s futuras geraes anecessria disponibilidade de gua, em padres de quantidade e qualidade adequados aos

    respectivos usos humanos. Neste contexto, o presente trabalho apresenta uma anlise de aspectos do

    processo de planejamento de recursos hdricos e a sua relao com o enquadramento qualitativo das

    guas, comentando-se sobre aspectos conceituais, prerrogativas legais e o atual estgio do

    enquadramento de corpos de gua no Brasil e no Estado da Bahia. Abordagens sobre a evoluo

    histrica, conceitos e definies e aspectos legais dos EIA/RIMA como instrumentos de

    planejamento, so brevemente tratados.

    2 - O PROCESSO DE PLANEJAMENTO DE RECURSOS HDRICOS

    Em recursos hdricos, o processo de gesto, no sentido lato, a forma pela qual se pretende

    equacionar e resolver as questes de escassez relativa dos recursos hdricos, mediante

    procedimentos integrados de planejamento e administrao, ou gerenciamento (Barth, 1987). O

    mesmo autor define que o planejamento de recursos hdricos entendido como o conjunto de

    procedimentos organizados que visam ao atendimento das demandas de gua, considerada adisponibilidade restrita deste recurso, revestindo-se de especial complexidade. So atividades

    prprias da atividade: o inventrio de recursos hdricos (disponibilidades); a avaliao da qualidade

    da gua dos corpos hdricos; a estimativa das demandas; a formulao de planos (objetivos, metas,

    balanos oferta x demanda, usos consuntivos, etc.); o controle e avaliao do plano (andamento dos

    projetos, obras), e o encaminhamento poltico-institucional (elaborao de normativos para

    concretizar o plano, instrumentos de acompanhamento do plano, divulgao social, etc.).

    A Figura 1 esquematiza as aes e diversos setores que atuam e interagem no processo deplanejamento de recursos hdricos. Segundo Lanna (1999), observa-se pela figura que existem trs

    meios onde o processo de desenvolve: 1) o social e poltico, que estabelece e processa as demandas

    da sociedade, e de seus representantes polticos; 2) o meio tcnico, onde so realizadas as anlises

    tcnicas que subsidiam o plano; 3) o meio deliberativo, onde so tomadas as decises, os estudos

    tcnicos devem ser aprovados e o plano deve ser selecionado entre as alternativas propostas.

    Importante focar algumas das aes desenvolvidas no meio tcnico, onde o plano

    desenvolvido com a dinmica de um carrossel, girando da esquerda para a direita,

    permanentemente, j que planejar um processo contnuo de tomada de decises e de suas

    adaptaes a um futuro incerto.

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    4/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 4

    Figura 1 Processo de planejamento de recursos hdricos (adaptado de Lanna, 1999)

    O processo de planejamento no meio tcnico se inicia pela avaliao das disponibilidades

    hdricas, estabelecendo-se cenrios setoriais alternativos em que as demandas setoriais so

    consideradas a partir de polticas e planos formalmente preparados. Um dos cenrios setoriais

    seria ditado pela poltica ambiental, que devem permear os diversos setores. As polticas e planos

    analisados definem um quadro de demandas quali-quantitativas a serem supridas pela gua

    disponvel, que estabelecero metas de uso, controle e proteo das guas, de natureza qualitativa equantitativa.

    vlido observar que as diretrizes qualitativas visam ao atendimento de diversos requisitos

    relacionados aos aspectos fsicos, qumicos, biolgicos e toxicolgicos da gua para torn-la apta

    para os mais distintos usos: potabilizao, irrigao, equilbrio do ecossistema, harmonia

    paisagstica, navegao, etc., e so relacionadas gua em estado bruto, no ambiente, ou a gua a

    ser fornecida para determinado fim, aps o tratamento necessrio. No primeiro caso, lida-se com o

    processo de enquadramento de corpos de gua em classes de usos preponderantes de acordo com os

    usos aos quais se destinam. Na outra situao trata-se com as exigncias de qualidade para a gua

    fornecida para determinada finalidade.

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    5/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 5

    O planejamento das guas deve ser orientado estrategicamente tambm por diretrizes

    quantitativas que devem dispor, basicamente, sobre: i) prioridades de atendimento a demandas

    quantitativas de uso da gua; ii) garantias de atendimento s demandas; iii) eficincia de uso da

    gua; iv) racionamento de demanda; v) proteo contra inundaes, etc. Por elas devem ser

    estabelecidas quais demandas hdricas devero ser atendidas e em que quantidade, com quaisgarantias, ao longo do perodo de operao do sistema hdrico. No caso de gua potvel, existem

    determinaes apresentadas na Portaria No. 36 de 1990 do Ministrio da Sade.

    2.1 - Marcos do enquadramento dos corpos de gua no Brasil

    O primeiro sistema de enquadramento no pas foi estabelecido em 1955 pelo Decreto Estadual

    24.806, que cria o sistema de classificao dos corpos dgua do Estado de So Paulo e o

    Conselho Estadual de Controle de Poluio.Na esfera federal, o primeiro sistema de enquadramento dos corpos dgua se deu pela Portaria

    GM 0013, de 15 de janeiro de 1976, do Ministrio do Interior MI (BRASIL, 1976) que

    classificava as guas doces em classes conforme os usos preponderantes a que as guas se

    destinam.

    Na dcada de 1980, com a instituio da Poltica Nacional de Meio Ambiente, o Pas passou a

    contar com um arcabouo legal para o tratamento das questes ambientais, o que colaborou

    tambm para impulsionar a formulao de novas normas relativas gesto das guas.

    Enquadramento dos corpos dgua da bacia do rio Paranapanema realizou-se em 1980, e do rio

    Paraba do Sul, em 1981, conforme as classes estabelecidas pela Portaria No. 013/MI.

    Em 1986 foi pela editada a Resoluo No. 20 do Conselho Nacional do Meio Ambiente -

    CONAMA (1986) que substituiu a Portaria No. 013 do Ministrio do Interior. Esta resoluo

    estabeleceu uma nova classificao para as guas doces, bem como para as guas salobras e

    salinas do Territrio Nacional, sendo definidas nove classes, segundo os usos preponderantes a

    que as guas se destinam.

    Em 1989 o IBAMA realizou o enquadramento dos corpos dgua de domnio da Unio na Bacia

    do Rio So Francisco, segundo as classes da Resoluo CONAMA n 20 (IBAMA, 1989).

    Em 1988, a Constituio Federal deu atribuio Unio para instituir o Sistema Nacional de

    Gerenciamento de Recursos Hdricos.

    A Resoluo No. 12/2000 do Conselho Nacional de Recursos Hdricos estabeleceu os

    procedimentos para o enquadramento dos cursos dgua em classes de qualidade, definindo as

    competncias para elaborao e aprovao da proposta de enquadramento e as etapas a serem

    observadas (CNRH, 2000), como segue: i) diagnstico do uso e da ocupao do solo e dos

    recursos hdricos na bacia hidrogrfica; ii) prognstico do uso e da ocupao do solo e dos

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    6/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 6

    recursos hdricos na bacia hidrogrfica; iii) elaborao da proposta de enquadramento; e iv)

    aprovao da proposta de enquadramento e respectivos atos jurdicos.

    Em 2005, a Resoluo CONAMA No. 357 revoga a Resoluo CONAMA No. 20/86,

    apresentando aspectos conceituais novos. Define esta Resoluo, no seu Art. 38, que o

    enquadramento dos corpos de gua dar-se- de acordo com as normas e procedimentos

    definidos pelo Conselho Nacional de Recursos Hdricos (CNRH) e Conselhos Estaduais de

    Recursos Hdricos; determina ainda que os efluentes no podero conferir ao corpo de gua

    caractersticas em desacordo com as metas obrigatrias progressivas, intermedirias e final, do

    seu enquadramento.

    A Resoluo CONAMA No. 397, de 03/04/08, altera o inciso II do 4o e a Tabela X do 5o,

    ambos do Art. 34 da Resoluo do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA no 357/05,

    que dispe sobre a classificao dos corpos de gua e diretrizes ambientais para o seuenquadramento, bem como estabelece as condies e padres de lanamento de efluentes.

    3 - ASPECTOS CONCEITUAIS DO ENQUADRAMENTO DOS CORPOS DE GUA

    O enquadramento tem previso legal na Lei Federal 9433/97. Sua regulamentao se d

    atravs da Resoluo CONAMA No. 357, de 17 de maro de 2005, para guas superficiais, e da

    Resoluo CONAMA No. 396, de 03 de abril de 2008, para guas subterrneas. Os Quadros 1 e 2, a

    seguir definem as classes e alguns parmetros para a gua doce.

    O enquadramento dos corpos dgua o estabelecimento do nvel de qualidade (classe) a ser

    alcanado ou mantido em um segmento de corpo dgua ao longo do tempo, e visa, pelo

    preconizado no Art. 9 da Lei Federal No. 9.433, assegurar s guas qualidade compatvel com os

    usos mais exigentes a que forem destinadas e a diminuir os custos de combate poluio das

    guas, mediante aes preventivas permanentes. O enquadramento pode ser considerado como um

    pacto social na medida em que os anseios da comunidade, muitas vezes conflitantes, so expressos

    em metas de qualidade de gua. Da mesma forma, mais do que uma simples classificao, oenquadramento dos corpos dgua deve estar baseado no necessariamente no seu estado atual, mas

    nos nveis de qualidade que deveriam possuir ou ser mantidos para atender s necessidades

    estabelecidas pela comunidade.

    A classe do enquadramento a ser alcanada no futuro, para um corpo dgua, dever ser

    definida em um pacto construdo pela sociedade com poderes para deciso levando em conta as

    prioridades de uso da gua. A discusso e o estabelecimento desse pacto devem ocorrer dentro dos

    Comits de Bacias Hidrogrficas, fruns estabelecidos pela Lei No. 9.433/97. A aprovao final doenquadramento acontece no mbito dos Conselhos Estaduais de Recursos Hdricos (CERHs) ou do

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    7/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 7

    Conselho Nacional de Recursos Hdricos (CNRH), conforme o domnio do curso dgua (estadual

    ou federal, respectivamente).

    Quadro 1 - Classes de enquadramento para a gua doce (Resoluo CONAMA 357/05)

    Quadro 2 - Parmetros ambientais de qualidade de gua doce (Resoluo CONAMA 357/05)

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    8/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 8

    As metas de qualidade da gua indicadas pelo enquadramento constituem a expresso dos

    objetivos pblicos para a gesto dos recursos hdricos. Deste modo, essas metas devem

    corresponder ao resultado final de um processo que leve em conta os fatores ambientais, sociais e

    econmicos. Segundo Granziera (2001), o enquadramento dos corpos dgua possui um sentido de

    proteo, no da gua propriamente, mas da sade pblica, pois evidente a preocupao emsegregar a gua que pode ser utilizada para, por exemplo, irrigar hortalias que so consumidas

    cruas ou aquelas que servem para abastecimento para consumo humano. Outro aspecto relevante

    que o enquadramento representa, indiretamente, um mecanismo de controle do uso e ocupao do

    solo, j que restringe a implantao de empreendimentos cujos usos sejam incompatveis com a

    classe de enquadramento.

    Alm disso, o enquadramento permite uma melhor adequao de custos de controle da

    poluio, j que possibilita que os nveis de controle de poluentes exigidos estejam de acordo comos usos que se pretende dar ao corpo dgua nos seus diferentes trechos. Segundo PORTO (2002), o

    enquadramento de corpos dgua realciona-se com o conceito de planejamento, tendo as seguintes

    caractersticas:

    Representa a viso global da bacia, j que para se tomar a deciso de quais so os usos

    prioritrios em cada trecho de rio necessrio olhar o todo, numa viso de macro-escala;

    Representa a viso futura da bacia e, portanto, podem ser planejadas metas de qualidade a serem

    alcanados no mdio e longo prazo;

    Tem que fazer parte do Plano da Bacia, como garantia de integrao entre os aspectos

    quantitativos e qualitativos do uso da gua.

    A importncia do enquadramento reforada por sua relao com os demais instrumentos da

    Poltica Nacional de Recursos Hdricos. Alm da estreita relao com os planos de recursos

    hdricos, o enquadramento tem influncia sobre a outorga e a cobrana pelo uso dos recursos

    hdricos. A relao do enquadramento com a outorga foi estabelecida pela Lei No. 9.433/97 que

    estabelece que toda outorga (Art. 13) ...dever respeitar a classe em que o corpo de gua estiver

    enquadrado.... Portanto, as anlises de pedidos de outorga, seja de captao de gua ou de

    lanamento de efluentes, devero considerar as condies de qualidade estabelecidas pela classe de

    enquadramento. A relao entre o enquadramento e a cobrana pelo uso de recursos hdricos se

    estabelece de duas maneiras: i) diretamente, j que as classes de enquadramento podem ser

    consideradas na frmula de cobrana pelo lanamento de efluentes; ii) indiretamente, j que sero

    cobrados os usos sujeitos a outorga, a qual deve considerar as classes de enquadramento.

    O enquadramento tambm um instrumento de convergncia entre as Polticas de MeioAmbiente e de Recursos Hdricos visto que tem repercusso operacional sobre os rgos do Sistema

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    9/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 9

    Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

    Hdricos - SINGREH, cuja normatizao compete ao CONAMA e ao CNRH, bem como aos

    conselhos ambientais e de recursos hdricos em mbito estadual. A aprovao do enquadramento de

    um corpo de gua no deve ser vista como uma ao finalstica, mas deve ser considerada como um

    passo na aplicao desse instrumento. Desta forma, a publicao da Resoluo CONAMA No.357/2005 representou um importante avano em termos tcnicos e institucionais para a gesto da

    qualidade das guas. Entre estes avanos destacam-se:

    A criao de novas classes para guas salinas e salobras;

    A incluso de novos parmetros de qualidade de guas e a reviso dos parmetros da Resoluo

    CONAMA n 20/86, utilizando como referncia os mais recentes estudos nacionais e

    internacionais;

    A definio que devem ser selecionados parmetros prioritrios para o enquadramento;A definio de que metas de qualidade da gua devero ser atingidas em regime de vazo de

    referncia, excetuados os casos onde a determinao hidrolgica dessa vazo no seja possvel

    (ex: reservatrios);

    A definio do conceito de progressividade para o alcance das metas de enquadramento.

    Com relao aos parmetros prioritrios, Enderlein et al. (1997) mencionam que quanto mais

    simples for a definio das metas de qualidade, mais eficiente ser este instrumento, sendo essencial

    manter o foco do problema em um nmero pequeno de variveis de qualidade da gua, o que auxilia

    na adoo de solues com maior eficincia econmica. Neste contexto, a Resoluo CONAMA

    No. 357/05, estabelece que ...o conjunto de parmetros selecionado para subsidiar a proposta de

    enquadramento do corpo de gua dever ser representativo dos impactos ocorrentes e dos usos

    pretendidos e ...com base nos parmetros selecionados, dar-se-o as aes prioritrias de

    preveno, controle e recuperao da qualidade da gua na bacia, em consonncia com as metas

    progressivas estabelecidas pelo respectivo Comit da bacia em seu Plano de Recursos Hdricos, ou

    no programa para efetivao do enquadramento.

    Segundo Barth (2002), o enquadramento pode ser visto como uma meta a ser alcanada, ao

    longo do tempo (progressivamente), mediante um conjunto de medidas necessrias, entre as quais,

    por exemplo, programas de investimentos em tratamento de esgotos. Portanto, caso o corpo de gua

    enquadrado j apresente as condies de qualidade mnimas exigidas para a sua classe, as aes de

    gesto devero respeitar e garantir a manuteno dessas condies.

    Por outro lado, se as condies de qualidade estiverem aqum do limites estabelecidos para a

    classe em que o corpo hdrico foi enquadrado, ressalvados parmetros que no atendam aos limitesdevido s condies naturais, devero ser buscados investimentos e aes de natureza regulatria,

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    10/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 10

    necessrios ao alcance da meta final de qualidade da gua desejada. As metas progressivas, como

    ilustradas na Figura 2, podem vir ento ao encontro das necessidades do setor de saneamento uma

    vez que possibilitaro a implantao das Estaes de Tratamento de Esgotos em etapas, desde que

    aprovadas pelos Comits de Bacia, e compatveis com os demais usos da gua.

    Figura 2 - Metas progressivas de qualidade da gua no tempo (Costa e Brando, 2007).

    3.1 - Perspectivas para o enquadramento dos corpos de gua

    Apesar do instrumento de enquadramento de corpos de gua existir no Brasil desde 1976 na

    esfera federal, ainda muito pequena a implementao deste instrumento, tanto nos corpos dguafederais como nos estaduais. Mesmo entre as bacias enquadradas, vrias necessitam de atualizao

    pois foram enquadradas segundo sistemas de classificao que foram substitudos pela legislao

    mais recente. Quanto situao atual do enquadramento dos corpos de gua estaduais, segundo

    estudos feitos pela da Agncia Nacional de gua - ANA (2005), somente onze estados (Figura 3)

    apresentavam normativos enquadrando os corpos de gua.

    Com relao aos corpos de gua federais, na dcada de 80 foram desenvolvidos estudos dos

    principais mananciais hdricos brasileiros para fornecer elementos aos futuros trabalhos de

    planejamento da utilizao integrada destes recursos. Foram enquadrados os rios federais das bacias

    do Paranapanema, Paraba do Sul e So Francisco. Posteriormente, os corpos de gua da Bacia do

    Rio So Francisco foram enquadrados pelo IBAMA em 1989, segundo as normas estabelecidas pela

    Resoluo CONAMA N 20, de 1986 (IBAMA, 1989).

    As demais bacias, Paranapanema e Paraba do Sul, necessitariam de atualizao de seus

    enquadramentos, pois os mesmos foram feitos segundo a Portaria do Ministrio do Interior No. 13,

    de 1976, anterior Resoluo CONAMA No. 20, de 1986, conforme Figura 4 (ANA, 2005).

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    11/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 11

    Figura 3 - Estados que possuem os corpos de gua enquadrados na legislao utilizada

    Figura 4 Bacias que possuem os corpos dgua federais enquadrados e a legislao utilizada

    Mesmo entre as bacias enquadradas, vrias necessitariam de atualizao, visto enquadradas

    que foram segundo sistemas de classificao, agora substitudos pela legislao mais recente. Os

    motivos desta situao so, principalmente, o desconhecimento sobre este instrumento, a falta de

    pessoal habilitado, as dificuldades metodolgicas para sua aplicao e a prioridade de aplicao de

    outros instrumentos de gesto, em detrimento dos instrumentos de planejamento. Vale ressaltar que

    a Portaria MINTER 13/76, anterior Resoluo CONAMA 20/86. A ANA (2005) conclui que:

    i) das 27 unidades da federao, 18 tratam do enquadramento como um instrumento da Poltica

    Estadual de Recursos Hdricos;

    ii)em 15 unidades da federao, fica explicito que o enquadramento far parte do Plano de

    Recursos Hdricos;

    iii) a deliberao proposta de enquadramento, cabe ao Comit de Bacia Hidrogrfica ou

    organizao similar em 24 das 27 unidades da federao, para encaminhamento para aprovao

    do Conselho Estadual de Recursos Hdricos ou rgo similar.

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    12/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 12

    3.2 Uma viso do enquadramento dos corpos de gua na Bahia

    A evoluo da questo no Estado da Bahia pode ser resumida como segue: a) pela Lei n

    6.855, de 12/05/1995 (cria a Poltica, o Gerenciamento e o Plano Estadual de Recursos Hdricos),

    no se considerava o enquadramento dos cursos dgua em classes de uso como um dos

    instrumentos da poltica estadual de recursos hdricos, embora que o enquadramento seria utilizado

    no clculo para determinao da cobrana pelo uso da gua; b) a Lei No. 8.194, de 21/01/02, no seu

    Art. 11, inciso VI, preconizava que ao Conselho Estadual de Recursos Hdricos - CONERH, entre

    outras competncias, caberia aprovar o enquadramento dos corpos de gua do domnio estadual,

    com base nos usos preponderantes; c) a Lei No. 10.432, de 20/12/06, preconiza no seu Art. 5 / III

    que um dos instrumentos da Poltica Estadual de Recursos Hdricos o enquadramento dos corpos

    de gua em classes, segundo seus usos preponderantes, complementando no seu Art. 10 que o

    enquadramento ser feito de forma a: I) estabelecer os nveis de qualidade a serem mantidos ou

    alcanados em compatibilidade com os usos mais exigentes a que as guas forem destinadas; II)

    ser exeqvel frente capacidade de mobilizao de recursos financeiros; III) reduzir os nveis de

    poluio das guas atravs de aes preventivas permanentes, definindo noPargrafo nicoque o

    CONERH estabelecer o enquadramento dos corpos dgua, com base na legislao ambiental

    pertinente, mediante proposta dos Comits de Bacias Hidrogrficas, ouvido o Conselho Estadual

    de Meio Ambiente CEPRAM.

    Na Bahia j foram enquadrados corpos de gua em bacias nas Regies de Planejamento eGesto das guas do Leste e do Recncavo Norte e Inhambupe, no perodo entre 1997-1998, ainda

    sob a gide da Resoluo CONAMA No. 20/86. Cabe ressaltar que este enquadramento foi

    realizado sem contar com a participao popular ampla e efetiva, o que justifica a readequao do

    enquadramento dos corpos de gua legislao de recursos hdricos mais atual. Vale observar que,

    segundo a Resoluo CONAMA 357/05, em seu Art. 42, enquanto no aprovados os respectivos

    enquadramentos, as guas doces sero consideradas Classe 2, as salinas e salobras Classe 1, exceto

    se as condies de qualidade atuais forem melhores, o que determinar a aplicao da classe mais

    rigorosa correspondente.

    Entre marcos legais mais recentes no Estado da Bahia, vale destacar: a) a Lei No. 11.050 de

    06/06/08, que alterou a denominao, a finalidade, e a estrutura organizacional da Secretaria de

    Meio Ambiente e Recursos Hdricos SEMARH, que atribui ao Instituto de Gesto das guas e

    Clima (ING), entre outras competncias: Art.11/XI acompanhar a implementao das metas

    progressivas e obrigatrias de enquadramento de corpo dgua em classes segundo seus usos

    preponderantes; b) a Lei No. 11.612, de 08/10/09, no seu Art. 15 que o CONERH aprovar o

    enquadramento dos corpos dgua em classes, segundo seus usos preponderantes, com base na

    legislao ambiental pertinente, mediante proposta dos Comits de Bacia Hidrogrfica,

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    13/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 13

    observado o disposto no Art. 75, inciso VI, que diz que o enquadramento dos corpos dgua em

    classes, segundo seus usos preponderantes, seja procedido mediante manifestao prvia do

    Conselho Estadual de Meio Ambiente - CEPRAM e articulao entre as entidades gestoras de

    recursos hdricos e de meio ambiente. At recentemente cabia ao ING, na ausncia de Agncia

    de Bacia, propor aos Comits de Bacia Hidrogrfica alternativas de enquadramento dos corpos degua nas classes de uso, ficando para o respectivo Comit selecionar uma alternativa de

    enquadramento que seria submetida ao CONERH para aprovao.

    Esta estrutura de articulao agora est alterada, visto que a Lei No. 12.212, de 04/05/11, pelo

    seu Art. 103 cria o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hdricos INEMA, uma autarquia

    vinculada Secretaria do Meio Ambiente - SEMA, sendo extintos o ING e o IMA. Ao INEMA,

    pelo Art. 106, inciso I, cabe a competncia de executar as aes e programas relacionados

    Poltica Estadual de Meio Ambiente e de Proteo Biodiversidade, da Poltica Estadual deRecursos Hdricos, da Poltica Estadual sobre Mudana do Clima e da Poltica Estadual de

    Educao Ambiental; pelo seu Art. 106, inciso VI promover a gesto das guas superficiais e

    subterrneas de domnio do Estado; pelo seu Art. 106, inciso XIII coordenar, executar,

    acompanhar, monitorar e avaliar a qualidade ambiental e de recursos hdricos.

    4 O EIA / RIMA

    No processo de planejamento de recursos hdricos, como ilustrado pela Figura 1, preciso

    estabelecer metas de uso, controle e proteo das guas, referenciando-se a necessidade de

    indicadores para anlise de impactos ambientais, o que remete para estudos das provveis

    modificaes nas diversas caractersticas scio-econmicas e biofsicas do meio ambiente, que

    podem resultar de um projeto para aproveitamento de recursos hdricos. Neste particular, faz-se

    necessrio uma abordagem sobre a evoluo, os conceitos e legislao que fazem do EIA e RIMA

    verdadeiros mecanismos de planejamento.

    4.1 - Evoluo histrica

    No Brasil, a utilizao dos recursos do meio ambiente caracterizou-se pela explorao

    desordenada e predatria. Aps a independncia em 1882, tanto o governo imperial como a

    Repblica, tinham como preocupao primeira em consolidar a ocupao do vasto territrio, que

    era praticamente despovoado. A expanso das atividades agrcolas e pecurias ignorou qualquer

    cuidado com a proteo do meio ambiente, levando a destruio de novas reas cobertas por

    florestas.

    parou aqui!

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    14/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 14

    Aumentando ainda mais a degradao e explorao, as primeiras unidades industriais foram

    implantadas como se os recursos naturais fossem inesgotveis. Nesse processo todo, criou-se um

    paradigma de que a devastao da natureza e a poluio tinham como significado progresso e

    desenvolvimento (Siqueira, 2002). A partir de 1930, comea a haver por parte do governo

    iniciativas que visam controlar alguns recursos naturais. Isto se d com a elaborao de leis quereceberam a denominao de cdigos, como: i) em 1934 criam-se o Cdigo das guas e o Cdigo

    da Minerao; ii) em 1934, tambm publica-se o primeiro Cdigo Florestal; iii) em 1937 vem o

    Cdigo da Proteo ao patrimnio Histrico; iv) em 1938 tem-se o Cdigo da Pesca.

    A gesto dos recursos naturais, entretanto, era precria, servindo apenas para preservao de

    reservas para uso futuro. A partir da promulgao em 1965 do Estatuto da Terra e o Cdigo

    Florestal, deu-se inicio moderna legislao ambiental, dando condies para que o poder Pblico

    pudesse interferir nas atividades econmicas que modificam o meio ambiente. O processo deAvaliao de Impacto Ambiental AIA (que hoje um dos instrumentos mais importantes da

    Poltica Nacional de Meio Ambiente) entretanto no contava com instrumentos jurdico-legais que o

    regulamentassem.

    Na verdade, o que pode se considerar como marco, a partir do qual se iniciou o processo de

    busca dessa regulamentao, pode-se dizer que foi a criao em 1973 da Secretaria Especial de

    Meio Ambiente (SEMA), a qual passou a atuar como rgo onde se centralizava as aes

    governamentais ligadas temtica do meio ambiente (La Rovere, 2001). O embasamento jurdico

    que introduziu a AIA ocorreu com a Lei 6803/1980, que dispunha sobre a criao de zoneamento

    industrial em zonas de poluio critica. Essa lei fazia a abordagem de como deveria delimitar e

    autorizar a implantao de zonas estritamente industriais, cobrando-se estudos especficos para sua

    adoo, dentre os quais a avaliao dos impactos ambientais.

    Apesar de ser limitadora no que diz respeito a sua abrangncia, ficando restrita apenas a

    atividade industrial em zonas de poluio critica, deu-se o avano pela Lei No 6938/81, de

    31/08/1981, que dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, a qual instituiu tambm o

    Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA. Esta Lei tambm criou o Conselho Nacional de

    Meio Ambiente CONAMA. A Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente sofreu sua

    regulamentao em 1983 com o Decreto Lei Federal No. 88351, que versou sobre a execuo,

    estrutura, atuao e o licenciamento de atividades potencialmente degradadoras do meio ambiente.

    A Poltica Nacional do Meio Ambiente em seu Art. 8, Inciso I, d competncia ao

    CONAMA para estabelecer normas e critrios para o licenciamento de atividades efetiva ou

    potencialmente poluidoras. Em seu inciso II, reza que deve-se determinar, quando julgar

    necessrio, a realizao de estudos das alternativas e das possveis conseqncias ambientais de

    projetos pblicos ou privados, requisitando aos rgos federais, estaduais e municipais, bem assim

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    15/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 15

    a entidades privadas, as informaes indispensveis para apreciao dos estudos de impacto

    ambiental, e respectivos relatrios, no caso de obras ou atividades de significativa degradao

    ambiental, especialmente nas reas consideradas patrimnio nacional.

    Dessa forma o CONAMA editou resolues estabelecendo, definindo e responsabilizando,

    por critrios e diretrizes gerais, atividades e normas para o licenciamento de atividades efetiva oupotencialmente poluidoras. Dentro dessas Resolues, podem ser citadas: i) a Resoluo No. 009,

    de 03/12/87, que disciplina a realizao de audincias pblicas, para a exposio do RIMA; ii)

    Resoluo No. 289, de 25/10/01, que estabelece diretrizes para o Licenciamento Ambiental de

    Projetos de Assentamentos de Reforma Agrria; iii) Resoluo No. 305, de 12/06/02, que Dispe

    sobre Licenciamento Ambiental, Estudo de Impacto Ambiental e Relatrio de Impacto no Meio

    Ambiente, de atividades e empreendimentos com Organismos Geneticamente Modificados e seus

    derivados.

    4.2 -Aspectos concei tuais do EIA / RIMA

    A Constituio Federal brasileira, promulgada em 1988, estabelece em seu Art. 225 que

    todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e

    essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de

    defend-lo e preserv- lo para as presentes e futuras geraes e para assegurar a efetividade

    desse direito, incumbe ao Poder Pblico: ... exigir, na forma da lei, para instalao de obra ouatividade potencialmente causadora de significativa degradao do meio ambiente, estudo prvio

    de impacto ambiental, a que se dar publicidade (Art. 225, 1, Inciso IV). A expresso

    EIA/RIMA bastante difundida e estas siglas referem-se ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e

    ao Relatrio de Impacto Ambiental (RIMA). Segundo Fornasari Filho & Bitar (1995), o EIA na

    Legislao Federal segue os seguintes termos, apresentados aqui de forma sintetizada:i) referente

    a um projeto especfico a ser implantado em determinada rea ou meio; ii) trata-se de um estudo

    prvio, ou seja, serve de instrumento de planejamento e subsdio tomada de decises polticas na

    implantao da obra;iii) interdisciplinar; iv) deve levar em conta os segmentos bsicos do meio

    ambiente (meios fsico, biolgico e scio-econmico). Deve seguir um roteiro que contenha as

    seguintes etapas:

    Diagnstico ambiental da rea de influncia do projeto (zoneamento ambiental);

    Avaliao de impacto ambiental (AIA);

    Medidas mitigadoras, e Programa de monitoramento dos impactos.

    Impactos Desfavorveis e Previso de Oramento

    Medidas Compensatrias; Distribuio dos nus e Benefcios Sociais do Projeto

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    16/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 16

    Definies:

    o EIA , indiscutivelmente, um dos instrumentos mais importantes de atuao

    administrativa na defesa do meio ambiente introduzidos no ordenamento jurdico brasileiro pela

    legislao ambiental. Alguns autores consideram o EIA como o verdadeiro mecanismo de

    planejamento, na medida em que se insere a obrigao de levar em considerao o meioambiente antes da realizao de obras e atividades e antes da tomada de decises que possam ter

    algum tipo de repercusso sobre a qualidade ambiental (Mirra,1998 apud Oliveira e Medeiros,

    2007).

    O RIMA deve refletir e traduzir as concluses do Estudo de Impacto Ambiental - EIA (art.

    9 da Resoluo 001/86 do CONAMA); o EIA realizado previamente ao RIMA, sendo a base

    para elaborao do relatrio.

    Existem diferenas claras entre esses dois instrumentos, sendo que a principal que o EIA

    apresenta uma abrangncia maior, englobando o RIMA em seu contedo. No geral, entende-se que

    o Estudo de Impacto Ambiental EIA, compreende o levantamento da literatura cientfica e legal

    pertinente, trabalhos de campo, anlises de laboratrios e a prpria redao do relatrio. O RIMA

    "transmite - por escrito - as atividades totais do estudo de impacto ambiental, importando acentuar

    que no se pode criar uma parte transparente das atividades (o RIMA) e uma parte no

    transparente das atividades (o EIA). Dissociado do EIA, o RIMA perde validade" (Fornasari, 1995).

    O EIA/RIMA, em sntese, nada mais que um estudo das provveis modificaes nas

    diversas caractersticas scio-econmicas e biofsicas do meio ambiente que podem resultar de um

    projeto proposto (Milare, Benjamim, 1993 apudd Oliveira e Medeiros, 2007). Ainda segundo estes

    autores, a obrigatoriedade desses estudos significou um marco na evoluo do ambientalismo

    brasileiro, dado que, at meados da dcada passada, nos projetos de empreendimentos apenas eram

    consideradas as variveis tcnicas e econmicas, sem qualquer preocupao mais sria com o meio

    ambiente e, muitas vezes, em flagrante contraste com o interesse pblico.

    Como reforo, Rohde (2002) demonstra que os EIA/RIMA so necessrios para estabelecer

    a avaliao de impacto ambiental, [...] formado por um conjunto de procedimentos que visa

    assegurar, desde o incio do processo, a realizao do exame sistemtico dos impactos ambientais

    de uma determinada ao proposta [...] e de suas alternativas. Independente do ponto de vista de

    cada autor quanto a estes termos e seus conceitos, verifica-se a interdependncia entre o EIA e o

    RIMA, ou seja, no possvel elaborar um RIMA sem a realizao de um EIA.

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    17/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 17

    4.3 - Contedo bsico do estudo de impacto ambiental

    A Resoluo No. 001/86 do CONAMA diz que "o estudo de impacto ambiental ser

    realizado por equipe multidiscilinar habilitada, no dependente direta ou indiretamente do

    proponente do projeto e que ser responsvel tecnicamente pelos resultados apresentados". O

    Estudo de Impacto Ambiental um documento pblico, mesmo sendo elaborado por particulares,

    portanto a pena por falsificao na elaborao do EIA, omissiva ou ativa, referente a de

    documento pblico. A Resoluo No. 001/86, estabelece que o EIA dever obedecer a algumas

    diretrizes gerais, a saber: i) identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados

    nas fases de implantao e operao da atividade e ii) definir os limites da rea geogrfica a ser

    direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada rea de influncia do projeto,

    considerando, em todos os casos, a bacia hidrogrfica na qual se localiza. A mesma Resoluo, em

    seu Art. 6, estabelece que o EIA desenvolver, no mnimo, as seguintes atividades tcnicas:diagnstico ambiental da rea de influncia do projeto, anlise dos impactos ambientais do

    projeto e de suas alternativas, definio das medidas mitigadoras dos impactos negativos e

    elaborao do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos.

    Resumidamente e independentemente das especificidades postas pelos objetivos do

    empreendimento, um roteiro de elaborao do contedo bsico deve considerar (Oliveira e

    Medeiros, 2007):

    i.

    Informaes Gerais: Identificao do Empreendedor; Identificao do Empreendimento;Localizao e Vias de Acesso; Responsabilidade Tcnica; Justificativa; Histrico da rea;

    Projetos Co-localizados;

    ii. Alternativas Tecnolgicas-Locacionais; Previso das Etapas de Planejamento, Implantao e

    Operao; Enquadramento na Legislao Ambiental e de Uso e Ocupao do Solo;

    iii. Caracterizao Tcnica do Empreendimento: apresentar a caracterizao do empreendimento

    nas fases de planejamento, implantao, operao e, se for o caso, de desativao. Quando a

    implantao ocorrer em etapas, ou quando forem previstas expanses, as informaes devem

    ser detalhadas para cada uma delas;

    iv. Definio das reas de Influncia dos Impactos Ambientais: deve considerar os meios

    antrpico, fsico e biolgico e seu grau de detalhamento vai depender muito da atividade

    proposta, dos fatores ambientais influenciados e da metodologia proposta pela equipe tcnica

    responsvel pelo estudo e pela definio dessas reas;

    v. Diagnstico Ambiental da rea de Influncia: devero ser apresentadas a descrio e anlise

    detalhadas dos atributos ambientais de forma sistmica, caracterizando a situao ambiental da

    rea de influncia, anteriormente implantao do projeto proposto. Devem ser considerados

    os meios scioeconmico, cultural, fsico e biolgico;

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    18/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 18

    vi. Identificao e Avaliao dos Impactos Ambientais: identificao das alteraes ambientais

    prognosticadas no empreendimento, considerando a sua valorao e interpretao, de acordo

    com metodologia especfica, nas fases de planejamento, implantao e operao e

    desmobilizao, se for o caso, do empreendimento.

    vii.

    Proposio de Medidas Mitigadoras e de Controle Ambiental: devem ser explicitadas asmedidas que visam minimizar os impactos adversos identificados e quantificados no item

    anterior. A compensao ambiental que pode ser exigida ao empreendedor, dependendo do tipo

    e local da atividade, deve ser aqui colocada. Devem ser consideradas as fases de planejamento,

    implantao, operao e desmobilizao ou desativao, caso seja necessrio.

    viii. Programa de Acompanhamento e Monitoramento Tcnico-Ambientais dos Impactos: devero

    ser apresentados os programas de monitoramento do desenvolvimento dos impactos ambientais

    positivos, negativos e indefinidos causados pelo projeto, considerando todas as suas fases deexecuo.

    4.4 - Aspectos legais do EIA/RIMA

    A Avaliao de Impactos Ambientais trata-se de um importante instrumento de gesto

    ambiental, porm, com alto grau de complexidade dentro do processo de elaborao de

    EIA/RIMAs para efeito de licenciamento ambiental de atividades potencialmente poluidoras. No

    Brasil, as trs esferas de governo (Unio, Estados/Distrito Federal e Municpios) possuemlegislao especficas. Os nveis em que os temas so tratados nos diferentes diplomas legais vo do

    mbito nacional (Unio), regional (Estados e Distrito Federal) at o local (Municpios). A Unio

    fixa diretrizes gerais e estabelece as responsabilidades prprias, bem como dos Estados e

    Municpios. J as outras duas esferas fixam normas complementares, podendo ser mais restritivas

    (nunca o contrrio).

    Alm das constituies federal e estaduais e das leis orgnicas municipais, outros diplomas

    legais tratam dos aspectos ambientais, como as leis ordinrias e decretos (ou regulamentos). Desta

    forma, os profissionais que trabalham na rea ambiental tm de estar atentos e conhecer as

    exigncias, normas e procedimentos legais federais e as que cada estado e/ou municpio

    estabelecem para a instalao e funcionamento de um determinado empreendimento (Barros &

    Monticelli, 1998). O IBAMA/MMA o rgo executor do Sistema Nacional do Meio Ambiente -

    SISNAMA e tem a atribuio de dar apoio ao MMA na execuo da Poltica Nacional de Meio

    Ambiente. tambm responsvel pela proposio de normas e padres de qualidade ambiental e

    pelo disciplinamento, cadastramento, licenciamento, monitoramento e fiscalizao dos usos e

    acessos aos recursos ambientais, bem como pelo controle da poluio e do uso de recursos hdricos

    em guas de domnio da Unio (Decreto n. 3.059, de 14 de maio de 1999).

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    19/20

    XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 19

    5 - CONCLUSES

    De tudo o que at foi comentado, percebe-se que o enquadramento dos corpos dgua

    representa um papel central no novo contexto de gesto da qualidade da gua do Pas, por se tratar

    de um instrumento de planejamento que possui interfaces com os demais aspectos da gesto dos

    recursos hdricos e a gesto ambiental. Embora o instrumento de enquadramento de corpos de gua

    existir no Brasil desde 1976, ainda singela a implementao deste instrumento. Os motivos disso

    so principalmente o desconhecimento sobre tal instrumento, as dificuldades metodolgicas para

    sua aplicao e a prioridade de aplicao de outros instrumentos de gesto, em detrimento dos

    instrumentos de planejamento.

    Este processo envolve uma mudana em relao ao modo como a gesto da qualidade da gua

    vem sendo feita no Basil ao longo das ltimas dcadas. Segundo Costa (2005) apud Costa e

    Brando (2007), a gesto da qualidade da gua no Brasil encontra-se em um momento de

    mudana de paradigma, em que um sistema baseado principalmente nos instrumentos de comando-

    controle passar a conviver com um sistema descentralizado, com foco em instrumentos

    econmicos e de planejamento. De tudo que foi abordado, pode-se inferir que a implementao da

    gesto de qualidade da gua no Pas nos prximos anos ser um processo que exigir um grande

    esforo em termos institucionais, tcnicos e de participao social.

    AGRADECIMENTOS

    Pelo apoio concedido, o autor agradece Universidade Federal do Recncavo da Bahia

    UFRB.

    BIBLIOGRAFIAANA - Agncia Nacional de guas. Panorama do Enquadramento dos Corpos dgua. Estudo

    Tcnico de Apoio ao Plano Nacional de Recursos Hdricos. [Disponvel em:

    http://www.ana.gov.br/pnrh_novo/Tela_Apresentacao.htm]. Braslia. 2005.BARTH, F. L.; POMPEU, C. T.; FILL, H. D.; TUCCI, C. E. M. & BRAGA JR., B.P.F. Modelos

    para Gerenciamento de Recursos Hdricos. NOBEL/ABRH, Coleo ABRH de Recursos Hdricos,

    Vol. I, 526 p. 1987.

    BRASIL. Resoluo No. 12 do Conselho Nacional de Recursos Hdricos CNH. Estabelece

    procedimentos para o enquadramento de corpos de gua. 2000.

    CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE CONAMA. Resoluo No. 357 [Disponvel

    em: http://www.mma.gov.br/port/conama/index.cfm]. 2005.

  • 7/25/2019 (Atual)3 Artigo Enquadramento

    20/20

    COSTA, M. P.; SILVA, L. H. P.; BUBEL, A. P. M.; BRANDO, V. S.; ACSELRAD, M. V.

    Proposta de enquadramento dos corpos dgua da bacia do rio So Francisco. Anais - VII Simpsio

    de Recursos Hdricos do Nordeste, So Lus-MA. ABRH. 2004.

    COSTA, M. P., BRANDO, V. S. Enquadramento dos corpos dgua no Brasil - situao atual e

    perspectivas. Anais - XVII Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos. So Paulo. ABRH. 2007.FORNASARI FILHO, N.; BITAR, O. Y. O meio fsico em estudos de impacto ambiental-EIAs. In:

    BITAR, O. Y. (Coord.). Curso de geologia aplicada ao meio ambiente. So Paulo: ABGE e IPT,

    cap. 4.1, p.151-163. 1995.

    GRANZIERA, M. L. M. Direito de guas: disciplina jurdica de guas doces. Atlas. So Paulo. 245

    p. 2001.

    LANNA, A. E. L. Gesto das guas. UFRGS. 235p. 1999.

    LA ROVERE, E. L. Metodologia de Avaliao de Impacto Ambiental. Srie Meio Ambiente emDebate, 37. Ed. IBAMA, Braslia. 2001.

    LOUCKS, D. P.; STEDINGER, J. R; HAITH, D. A., Water Resouces Systems Planning and

    Analysis, Prentice Hall, New Jersey. 1981.

    OLIVEIRA, F. F. G., MEDEIROS, W. D. A. Bases terico-conceituais de mtodos para avaliao

    de impactos ambientais em EIA/RIMA. Mercator - Revista de Geografia da UFC, ano 06, no.11. p.

    79-92. 2007.

    PLANO DE GUAS DO BRASIL Vamos cuidar de nossas guas. CD didtico produzido pela

    Secretaria de Recursos Hdricos e Ambiente Urbano do Ministrio do Meio Ambiente.

    [www.mma.gov.br/srhu]. 2007.

    PORTO, M. Sistemas de Gesto da Qualidade das guas: Uma Proposta para o Caso Brasileiro.

    So Paulo,. 131p. Tese (Livre Docncia). Escola Politcnica da Universidade de So Paulo

    Departamento de Engenharia Hidrulica e Sanitria. 2002.

    REBOUAS, A. C.; BRAGA, B.; TUNDISI, J.,G. (1999). guas Doces no Brasil: capital

    ecolgico, uso e conservao. Academia Brasileira de Cincias Instituto de Estudos Avanados da

    USP. So Paulo. Escrituras Editora. 716p..

    ROHDE, G. M. Estudos de Impacto Ambiental: a situao brasileira em 2000. In: VERDUM,

    Roberto; MEDEIROS, Rosa Maria Vieira (Orgs). RIMA, Relatrio de Impacto Ambiental:

    legislao, elaborao e resultados. 4 ed. (ver. ampl). Porto Alegre: UFRGS. p. 41-65. 2002.

    TONET, H. C. E LOPES, R. G. F. Alternativas organizacionais mais adequadas para viabilizar o

    uso dos instrumentos de Avaliao de Impactos Ambientais e Gerenciamento de Bacia

    Hidrogrfica. Texto de Consultoria em Gesto Pblica para Projeto de Tecnologias de Gesto

    Ambiental do IBAMA. Braslia, DF. 1994.