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Page 1: Enquadramento Europeu

Conceitos

Enquadramento europeu

Estudo de projetos análogos

Índice1

Page 2: Enquadramento Europeu

1. Resíduos de Construção e Demolição..................................................................................... 3

2. Conceitos e definições: Reutilização | Desconstrução............................................................. 3

3. Panorama de diferentes países europeus: Enquadramento político, legislativo e normativo. 4

3.1. Cenário atual na União Europeia.......................................................................... 4

3.2. Holanda................................................................................................................ 6

3.3. Dinamarca.............................................................................................................6

3.4. Alemanha..............................................................................................................7

3.5. França................................................................................................................... 7

3.6. Espanha................................................................................................................ 8

4. Panorama de Portugal: Enquadramento político, legislativo e normativo...............................9

5. Vantagens e desvantagens da Reutilização de Materiais....................................................... 13

6. Vantagens e desvantagens da Desconstrução........................................................................13

7. Desafios da Desconstrução.....................................................................................................15

8. Viabilidade da Desconstrução................................................................................................ 16

9. Estudo de Projetos Análogos ao Repositório de Materiais.....................................................16

9.1. Casos de estudo 1: Venda de madeira recuperada.............................................17

9.2. Casos de estudo 2: Venda de materiais recuperados.........................................19

9.3. Casos de estudo 3: Organizações sem fins lucrativos de aquisição e troca de

materiais usados.................................................................................................................... 21

9.4. Casos de estudo 4: Centros de desconstrução e de formação............................27

10. Bibliografia........................................................................................................................... 28

1. Resíduos de Construção e Demolição

O setor responsável pela produção de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) em

Portugal e na Europa é o da construção civil, com uma produção anual estimada de 100

milhões de toneladas. (Pinto, 2013: p. 4)

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Page 3: Enquadramento Europeu

O cumprimento ambiental deste setor é de difcil controlo e fiscalização pelo caráter

geográfico disperso e provisório das obras. As caraterísticas dos resíduos do setor da

construção possuem grandes constrangimentos relacionados com a deposição não controlada,

de difcil quantificação e o recurso a sistemas de tratamento de fim de linha. (Idem, p. 4)

Os objetivos nacionais e comunitários são incompatveis com estas práticas

ambientalmente indesejáveis e portanto revela-se imprescindível a preparação de legislação

específica para o fluxo dos RCD. (Idem, Ibidem)

O DL nº 178/2006, de 5 de Setembro define o que são Resíduos de Construção e

Demolição (RCD), como todos os resíduos provenientes de construções, reformas,

manutenções e demolições de edifcios e infraestruturas, especificando quais. Estes resíduos

têm caraterísticas intrínsecas, são muito diversificados e heterogéneos, podem corresponder a

qualquer um dos materiais que integra a construção de um edifcio ou infraestrutura, restos de

embalagens e ainda outros materiais utilizados durante a realização da obra. (Idem, Ibidem)

A composição destes resíduos é muito inconstante devido a fatores como a sua origem

(construção, reabilitação, demolição), as práticas de construção e a época da infraestrutura

demolida. (Idem, Ibidem)

2. Conceitos e definições: Reutilização | Desconstrução

Reutilização directa – é a utilização repetida de um elemento, produto, componente

ou material para a mesma finalidade que a sua utilização inicial. Esta categoria inclui qualquer

tipo de pequenas alterações feitas aos materiais para que estes continuem a desempenhar a

sua função inicial (como por exemplo, diferentes acabamentos, retoques de cor, alterações no

tamanho, etc.).

Reutilização indirecta – é a aplicação do elemento, produto, componente ou material

usado com uma finalidade diferente para a qual foi concebido. Esta categoria inclui todos os

materiais que foram alterados de forma a desempenhar as suas novas funções que, por vezes,

implicam a combinação de um ou mais elementos podendo estes ser de reutilizações directas

ou indirectas, novos ou usados. (Silva, 2011: p. 4)

Desconstrução | Demolição seletiva – desmantelamento cuidadoso, possibilitando a

recuperação dos materiais, promovendo a sua reutilização e reciclagem. Esta técnica possui

grandes hipóteses de crescimento, devido ao aumento de demolições de edifcios, de obras de

reabilitação e de preocupações ambientais, existindo a necessidade de valorização de

3

Page 4: Enquadramento Europeu

resíduos. A sustentabilidade na construção tem sido objeto de estudo nos últimos anos, assim

como minimizar a produção de resíduos.

3. Panorama de diferentes países europeus: Enquadramento político, legislativo e

normativo

A crescente produção de RCD na Europa levou à necessidade de criação de diretivas,

com o objetivo de governar as atividades que possam vir a causar prejuízos ao meio ambiente

e à saúde pública devido à deposição descontrolada, sem triagem na origem dos resíduos e aos

depósitos ilegais.

Não existe legislação específica na Europa para os RSC, apenas regulamentos e

diretivas direcionadas para a fiscalização, reutilização e triagem em obra. Neste contexto

muitos países da União Europeia decidiram criar a sua própria legislação. No entanto, existe

uma lacuna clara em diversos países, como é o caso de Portugal, que aprovou só em 2008

legislação específica, estando ainda no início de um longo percurso até que se consiga

melhores práticas e se alcance os resultados ambicionados. (Teixeira, 2013: p.21)

3.1. Cenário atual na União Europeia

Como referido, não existe legislação específica na Europa, assim, a primeira diretiva

europeia surge em 1975, diretiva 75/442/CEE, criada com o objetivo de acautelar a eliminação

de resíduos, protegendo a saúde humana e o ambiente, harmonizando a legislação europeia,

incentivando a recuperação de resíduos e a sua reutilização de forma a proteger os recursos

naturais. (Idem, ibidem)

Em 1991 entra em vigor uma nova diretiva, a diretiva 91/156/CEE, elaborada com o

intuito de “garantir a correta eliminação dos resíduos, promovendo a sua prevenção,

harmonizar a legislação a nível europeu, criando uma terminologia comum e uma definição de

resíduos, encorajar a reutilização e a reciclagem dos resíduos como alternativa aos recursos

naturais, assegurar que os estados membros da UE se tornem autossuficientes no que se

refere à eliminação dos resíduos. Em 2006 foi publicada a diretiva 2006/12/CE, que revoga a

diretiva 75/442/CE” (Pinto, 2013, p. 19)

Publica-se em 2008 a diretiva 2008/98/EC, com os mesmos objetivos das anteriores,

introduzindo a distinção entre valorização e eliminação, resíduo e não resíduo, clarificando as

definições vigentes, reduzindo a utilização dos recursos naturais e propiciando a aplicação

prática da hierarquia de gestão de resíduos e, assim, a prevenção de resíduos é a primeira

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Page 5: Enquadramento Europeu

prioridade e a reutilização e reciclagem deverão ter prioridade em relação à valorização

energética dos resíduos. Desta forma, a UE passa a ter uma política que privilegia os usos

desses resíduos como subprodutos de modo a poupar os recursos naturais. (Idem, ibidem)

Este ano foi lançado o novo programa-quadro comunitário de investigação e inovação

da União Europeia, o Horizonte 2020, dispondo de um total de 77 mil milhões de euros para

sete anos, período 2014-2020, é o maior instrumento da Comunidade Europeia

especificamente orientado para o apoio à investigação, através do cofinanciamento de

projetos de investigação, inovação e demonstração. O apoio financeiro é concedido na base de

concursos em competição e mediante um processo independente de avaliação das propostas

apresentadas.

A Eficiência energética, energia de baixo carbono competitiva e ‘smart cities and

communities’ são três das 12 áreas que vão poder beneficiar de 15 mil milhões anunciados

para o financiamento de projetos no âmbito do Horizonte 2020 para os próximos dois anos e

cujo período de candidaturas já está aberto.

O Horizonte 2020 tem três pilares de ação prioritários:

Pilar I – Excelência Cientfica (com cerca de 32% do orçamento total);

Pilar II – Liderança Industrial (correspondente a cerca de 22% do orçamento);

Pilar III – Desafios Societais (com cerca de 39% do orçamento total).

Neste último estão incluídas as temáticas da energia, ambiente, ação climática,

transportes e eficiência na utilização dos recursos e das matérias-primas, para os quais a

Comissão aloca 2,8 mil milhões a serem utilizados durante o próximo ano.

O objetivo do Horizonte 2020 é estimular a economia europeia com base no

conhecimento e abordar questões que farão a diferença na vida das pessoas.

3.2. Holanda

O sistema holandês é muito organizado e o mais avançado de toda a EU. Os objetivos

criados em 1990 e até 2000 para a reciclagem de RSC foram que foi de 90%, foram atingidos

em 1999. (Teixeira, 2013: p.25)

As medidas tomadas passaram pela obrigação da triagem na origem, surgindo

consequentemente mercados paralelos e atrativos para os produtos provenientes da

reciclagem. Aqui, criaram condições para que as metas fossem facilmente atingidas,

5

Page 6: Enquadramento Europeu

procurando por soluções na origem de forma a eliminar a deposição em aterro destes

resíduos. (Idem, p.25)

Desde 1997, que a Holanda trabalha neste sentido, segundo o Ministry of Housing,

Spatal Planning and the Environment, foi logo proibida a deposição de RCD potencialmente

recicláveis em aterros e mais tarde a deposição de RCD combustveis. Posteriormente em

2001, pela dificuldade de valorização e incineração levantou-se a obrigação no caso de RCD

combustveis e estabeleceu-se uma taxa que chega a atingir os 122€ a tonelada em algumas

cidades do país, tornando assim mais económica a triagem e encaminhamento para

reciclagem. (Idem, ibidem)

Quanto aos outros países europeus, temos diversos casos de sucesso, que criaram

iniciativas para estimular a prevenção e o reaproveitamento dos RCD que serão analisados nos

tópicos seguintes.

3.3. Dinamarca

Outro exemplo de grande importância é a Dinamarca que tem como prática principal

na gestão dos RCD a reciclagem.

Este país introduziu alguns instrumentos muito eficazes que possibilitaram o aumento

da reciclagem destes resíduos de 25% para 92% desde 1990. Os produtores de resíduos são

responsáveis pela seleção e despejo dos mesmos, garantindo maior preocupação por sofrerem

as consequências da má gestão, existe um imposto sobre a produção de resíduos. As taxas

cobradas pelos resíduos entregues nas estações de tratamento, se estes forem separados ou

tiverem como destino a reciclagem, são reembolsadas. Foram também tomadas outras

medidas entre os aterros e os trabalhos de demolição que tornou a aplicação da demolição

seletiva ou desconstrução em maior escala, mesmo quando é mais cara e demorada do que a

demolição tradicional, porque são obtidas grandes poupanças através da redução de custos

para o imposto sobre os resíduos, incineração dos mesmos e de maior venda de materiais

recicláveis. (Idem, ibidem)

3.4. Alemanha

No seio da União Europeia a Alemanha é o país com mais produção de RCD’s, com

cerca de 214 milhões de toneladas, no entanto é dos que tem maior taxa de reciclagem dos

mesmos, atingindo 85% de reutilização e reciclagem. (Idem, ibidem)

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Page 7: Enquadramento Europeu

Os padrões definidos pela Alemanha para o tratamento de resíduos de construção são

muito elevados, existem regulamentações extensivas e que vão muito além das exigências da

EU e em geral são cumpridas. (Idem, ibidem)

As principais implementações passam uma boa documentação do fluxo de resíduos, as

exigências legais dão preferência à reciclagem e reutilização do que à eliminação e

responsabilizaram-se donos de obra e construtores pelo adequado escoamento de resíduos.

Esta última necessita de uma melhoria, porque os resíduos são entregues a serviços de recolha

especializada em cada tipo de resíduo que multiplica os gastos logísticos da recolha, a

otimização poderia passar por colocar toda a responsabilidade de tratamento e separação de

resíduos sob a área de jurisdição de uma das diferentes especialidades ou subempreiteiros ou

de uma empresa de recolha que prestasse serviços à obra como um todo. (Idem, ibidem)

Na promoção para a reutilização de resíduos de construção definiu-se um conjunto de

orientações sobre a reciclagem do Ministério Federal para o planeamento regional, construção

e desenvolvimento urbano (“guideline recycling”). As empresas de recolha necessitam de

várias autorizações e certificações, tal como em Portugal para serem considerados operadores

de resíduos especializados. Existem condicionantes no depósito em aterros quanto à receção

de resíduos misturados, ou não os aceitam, ou exigem pagamentos mais elevados. Estas

medidas favorecem o encaminhamento de resíduos para triagens próprias, obrigando à sua

triagem ou seleção em obra/origem e a uma demolição mais cuidada. (Idem, ibidem)

3.5. França

A legislação francesa é bastante incisiva na gestão de resíduos de construção, incidindo

nas fases de produção, transporte e eliminação ou tratamento, com muitas iniciativas

desenvolvidas nos últimos 6 anos. A implementação deste plano não é uniforme e geral, nem

todas as cidades têm soluções previstas para os resíduos industriais e muitas vezes existe

dificuldade em arranjar espaços livres disponíveis para as várias especialidades da construção.

Os agentes envolvidos na recolha e acumulação apresentam às empresas soluções

globais e específicas de tratamento de resíduos e são submetidas à mesma regulamentação

que outras empresas de gestão de resíduos. (Idem, p. 27)

O cumprimento da regulamentação ambiental pelas empresas tem custos, na ordem

dos 3% a 5% do custo total da construção e tem sido desenvolvido um trabalho importante no

que toca à integração da gestão de resíduos nos mercados privados e públicos. (Idem, p. 28)

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Page 8: Enquadramento Europeu

3.6. Espanha

A Espanha tem poucos desenvolvimentos no que respeita à reciclagem de resíduos,

apresenta uma taxa menor que 10%. Tal como Portugal, publicou apenas em 2008 legislação

que regula a produção e gestão do fluxo específico de resíduos. (Idem, ibidem)

Estas medidas foram tomadas como resposta ao aumento da indústria de construção e

consequentemente ao aumento de resíduos e com perspetivas bastante pessimistas. As

autoridades identificam como causas do reduzido aproveitamento de RCD’s: o despejo ilegal

ou descontrolado, sem o cumprimento dos requisitos da legislação de aterro, e as baixas taxas

de admissão em aterros autorizados, que dificultam a sustentabilidade e a rentabilidade da

operação de estações de tratamento de RCD’s. (Idem, ibidem)

A criação da legislação foi também despoletada pelo aumento da iniciativa pública e

privada para a implementação de instalações de tratamento. Os avanços verificaram-se

também ao nível da formação e sensibilização do setor. Introduziram-se taxas para a

deposição em aterros. O Real Decreto 105/2008, de 1 de Fevereiro de 2008, é almejado como

contributo para o desenvolvimento sustentável deste setor, aplica princípios de

responsabilidade do produtor; prevenção de resíduos; responsabilidade entre todos os

agentes inerentes à cadeia de produção e gestão de RCD’s. (Idem, p. 29)

Este regulamento obriga ainda o arquitecto a um estudo sobre a gestão de RCD’s e o

construtor a um plano de gestão de RCD’s, para posterior obtenção da licença de construção,

exigindo a inclusão de dois dados fundamentais: quantidades de resíduos e custo do

tratamento destes. Obriga também à triagem na origem de forma a facilitar a valorização dos

resíduos e a proibição de deposição sem tratamento prévio, desencorajando a deposição de

resíduos reutilizáveis. Prevê ainda a instituição de um mecanismo de controlo vinculado à

obtenção de licenças de construção, onde o produtor, através de uma caução, garante o

cumprimento das exigências de gestão dos RCD’s a ser produzidos no local. (Idem, ibidem)

4. Panorama de Portugal: Enquadramento político, legislativo e normativo

A classificação dos RCD’s tem vindo a sofrer mutações ao longo do tempo. Aprovado

em 1997, como um dos fluxos de RSU no Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos

(PERSU). Considerados mais tarde como Resíduos Industriais (RI), incluídos na categoria de

Resíduos Industriais Perigosos (RIP), pelo Plano Estratégico Sectorial de Gestão de Resíduos

Industriais (PESGRI) publicado pelo Decreto-Lei n.º 516/99, de 2 de Dezembro, revisto pelo

Decreto-Lei n.º 89/2002 de 9 de Abril. Em 2006, com a aprovação do Regime Geral da Gestão

de Resíduos surge a definição de “resíduo de construção e demolição – resíduos provenientes

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Page 9: Enquadramento Europeu

de obras de construção, reconstrução, ampliação, alteração, conservação e demolição e da

derrocada de edificações.”, no Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro. (Idem, p. 30)

Um ano após é estabelecido o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE),

através da Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembro, referindo o Regime da Gestão de Resíduos de

Construção e Demolição (RGRCD), ao longo de alguns artigos deste diploma. (Monteiro, 2011:

p. 25)

Seguidamente, através do Decreto-Lei n.º 18/2008, de 18 de Janeiro, é apresentado o

novo Código dos Contractos Públicos (CCP), referindo várias vezes a importância do PPGRCD

(Plano de Prevenção e Gestão de Resíduos de Construção e Demolição) na gestão de RCD, em

vários artigos deste mesmo diploma.

Só com o pelo Decreto-Lei n.º46/2008, de 12 de Março é publicado um quadro

legislativo específico. Este decreto, alterado pelo Decreto-Lei n.º 73/2011, de 17 de Junho,

estabelece o regime das operações de gestão de RCD, compreendendo a sua prevenção,

reutilização, recolha, transporte, armazenamento, tratamento, valorização e eliminação.

(Teixeira, 2013: p.31)

Para atingir os objetivos presentes no DL nº 46/2008, de 12 de Março 1 existem uma

série de estratégias de prevenção que devem ser implementadas em obra:

Figura 1: Esquema de Prevenção de RCD, Cabaço 2009

O princípio fundamental de gestão de RCD’s do referido decreto é a prevenção da

produção destes resíduos, com redução na incorporação de substâncias perigosas na

construção e também o recurso à triagem na origem e a sistemas já referidos, como a

reutilização, reciclagem ou outras formas de valorização. (Idem, p. 31)

1 Minimizar a produção de resíduos, utilizando práticas ambientais adequadas e facilitando a

reciclagem de materiais e produtos, de forma segura, eficiente e ambientalmente correta; Controlar os

riscos para o ambiente, devido a uma deficiente gestão.9

Page 10: Enquadramento Europeu

Figura 2: Hierarquia de Gestão de RCD, Adaptado de Godinho 2011

Segundo Pinto (2013, p.18) e citando Godinho (2011), quando a triagem não é passível

de ser realizada, deve ser justificada, devendo encaminhar os resíduos para um operador

licenciado, sendo assim, a hierarquia da gestão destes resíduos surge da seguinte forma:

Figura 3: Metodologias e Práticas adotadas na Gestão de Resíduos, Adaptado de Godinho 2011

Este decreto introduziu também uma correlação de responsabilidade na gestão de

todos os intervenientes do ciclo de vida dos RCD’s. O artigo 3º é bem claro e define que em

obras isentas de licença ou de comunicação prévia os RCD’s são da responsabilidade da

entidade que gere os resíduos urbanos (normalmente as câmaras municipais). Por outro lado

sempre que for impossível identificar o produtor do resíduo o seu responsável será o seu

detentor. O mesmo artigo refere ainda que a responsabilidade destas entidades só deixa de

ser vinculativa quando os RCD’s são entregues a uma entidade licenciada para o efeito. O

quadro legislativo publicado considera a correta gestão em obra e valorização dos resíduos

produzidos, assim como a orientação de demolições efetuadas, instituindo o princípio da

gestão e redução na produção de RCD’s. Surge também a obrigação legal de elaboração de um

Plano de Prevenção e Gestão de Resíduos (PPGR) de construção e demolição nas obras

públicas, onde sejam assegurados princípios gerais de gestão de RCD’s e das demais normas

aplicáveis, tendo como responsável pela correta execução o dono de obra. (Idem, p. 32)

Mais recentemente, o Decreto-Lei nº 73/2011, de 17 de Junho, altera o regime geral

da gestão de resíduos e transpõe a Directiva n.º 2008/98/CE, de 19 de Novembro. Este tem

como objetivo clarificar conceitos chave, como as definições de resíduo, prevenção,

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Page 11: Enquadramento Europeu

reutilização, preparação para a reutilização, tratamento e reciclagem, e a distinção entre os

conceitos de valorização e eliminação de resíduos, com base numa diferença efectiva em

termos de impacte ambiental, tendo também em conta a hierarquia dos resíduos como

princípio fundamental da política de ambiente. Este diploma veio alterar os Decretos-Lei nº

178/2006, de 5 de Setembro, e o nº 46/2008, de 12 de Março. (Monteiro, 2011: p. 26)

Na legislação atual os resíduos classificam-se segunda a Lista Europeia de Resíduos

(LER), que assegura uma uniformização na identificação e classificação dos mesmos, que por

sua vez facilitam o conhecimento por parte dos agentes económicos do regime jurídico a que

estão sujeitos (Portaria nº 209/2004, de 3 de Março). (Pinto, 2013: p. 6)

Relativamente à utilização dos RCD’s em obra está sujeita a normas técnicas nacionais

e comunitárias, ou às normas do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) devidamente

homologadas pelos responsáveis do governo das áreas envolvidas, nomeadamente a área do

ambiente e das obras públicas. O DL em vigor obriga as operações de RCD’s a licenciamento e

a deposição em aterro apenas após triagem. (Teixeira, 2013: p.32)

Em Portugal só existe demolição seletiva quando se pretende obter os RCD com

viabilidade de aplicação imediata, de outra forma é realizada a demolição global, que consiste

na destruição simultânea de toda a obra, tendo como consequência resíduos heterogéneos,

com separação à posteriori e custos muito mais elevados. (Teodoro, 2011: p.48)

A análise de Portugal no contexto europeu respeitante aos resíduos de construção e

demolição e seu tratamento permite concluir que foram transcritas as normativas europeias,

mas na prática não foram criadas as devidas condições para a sua implementação. Portugal

tem um longo caminho a percorrer, comparando com países como a Dinamarca, Holanda e

Bélgica.

Os problemas relacionados com os resíduos não resultam apenas da sua produção,

mas principalmente do seu insuficiente reaproveitamento como materiais úteis, quando

tecnicamente possível, e de alguma gestão menos adequada, que pode originar impactes

ambientais significativos.

Promover o fecho dos ciclos dos materiais é um aspeto fundamental para garantir uma

gestão de resíduos mais sustentável, direcionando as perdas (materiais e energéticas) para

novas aplicações produtivas reduzindo assim, simultaneamente, a pressão sobre os recursos

naturais e sobre a capacidade da Natureza para regenerar os resíduos.

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Page 12: Enquadramento Europeu

A sociedade em geral, e a sociedade Portuguesa em particular, terão ainda um longo

percurso para concretizar este desígnio. A sociedade contemporânea é ainda profundamente

ineficiente na forma como usa os seus recursos materiais, sendo que atualmente apenas uma

fração muito reduzida dos materiais constituintes dos produtos em fim de vida é reintroduzida

no sistema económico.

No passado dia 15 de setembro (2014) o Governo apresentou o Compromisso para o

Crescimento Verde, que procura "estabelecer as bases para um compromisso em torno de

políticas, objetivos e metas que impulsionem um modelo de desenvolvimento capaz de

conciliar o indispensável crescimento económico, com um menor consumo de recursos

naturais e com a justiça social e a qualidade de vida das populações", documento que se

encontra em discussão pública até ao final do ano. Este projeto, Repositório de Materiais

enquadra-se no espírito desta agenda, contribuindo para muitos dos 13 objetivos fixados e dos

quais se destacam os objetivos 4, 5 e 6, correspondentes à promoção e eficiência no uso dos

recursos.

Figura 4: Compromisso para o Crescimento Verde, 2014

5. Vantagens e desvantagens da Reutilização de Materiais

A reutilização não é a única solução para os problemas dos resíduos, mas seria uma

importante ajuda na sua gestão devido ao aproveitamento de matérias-primas. A reutilização

permite aos materiais serem utilizados pelo menos uma segunda vez, quer sejam aplicados na

mesma função ou noutra distinta.

Monteiro (2011) refere que relativamente à reutilização dos RCD existe uma hierarquia

associada ao potencial de reciclagem que determinado material pode ter (Brito, J., 2006).Desta

forma podemos alinhar os materiais de acordo com a sua reutilização:

A. Reutilizáveis em boas condições e com efeito imediato: algumas componentes

arquitetónicas, madeira, aço e pedra.

B. Reutilização e aplicação proveitosa após processamento: entulho (alvenaria e betão)

e madeira. Deve-se considerar uma subdivisão em material inicialmente contaminado e limpo.

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Page 13: Enquadramento Europeu

Vantagens

São diversas as razões para a recuperação e reutilização de componentes e materiais

de construção, descrevendo-as por ordem de importância:

Redução do impacto ambiental causado pela construção, não requer processos

industriais e reduz os resíduos de construção e demolição;

Benefcios estéticos e funcionais na utilização de matérias não-convencionais;

Benefcios económicos, poupança nas taxas de despejo e armazenamento,

dedução fiscal pelas suas contribuições;

Ajuda de organizações ambientais e governamentais;

Responsabilidade ecológica.

Desvantagens

Equipa Especializada;

Armazenagem correta;

Económicas pela dificuldade de remoção dos materiais ou componentes;

Caraterísticas dos materiais, a remoção pode provocar estragos;

Acaso

6. Vantagens e desvantagens da Desconstrução

Vantagens

Possibilita a reutilização e reciclagem de materiais, devido ao cuidado que é

tido na remoção;

Promove inovação e tecnologia, com a existência de novos materiais de

construção;

Aparecimento de um novo mercado – o de materiais usados ou reciclados, pois

o valor de mercado para os materiais recuperados da desconstrução é maior do que

o dos da demolição;

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Page 14: Enquadramento Europeu

Gera benefcios ambientais, já que a recuperação de materiais ajuda a reduzir

os encargos nos aterros, elimina a necessidade de gastar energia adicional no fabrico

de novos materiais e reduz o consumo de matérias-primas;

Gera benefcios económicos, melhora as economias locais com a criação de

postos de trabalho, pois é um processo que envolve uma quantidade significativa de

trabalho, através da remoção, preparação, classificação e transporte dos materiais

recuperados. Oferece oportunidades para as pequenas empresas a emergir;

Promove a sustentabilidade na construção;

Preserva o Património Cultural, Histórico e Arquitetónico;

Capta um segmento de mercado pouco explorado na reciclagem e reutilização

de materiais de construção;

É exportável em materiais, formação e serviços;

Poderá existir benefcios fiscais envolvidos.

Desvantagens

Dificuldade na remoção dos materiais, os edifcios existentes e seus

componentes não foram projetados para serem desmontados;

Inexistência de ferramentas para desmontar edificações existentes;

Custo para utilização de aterros é muito baixo;

A desmontagem requer mais tempo que a simples demolição;

Os códigos de obra e os materiais padrão geralmente não

incentivam/estimulam a reutilização de componentes;

Os custos da desconstrução ainda não são bem conhecidos;

Ausência de indústrias com práticas padronizadas;

Benefcios económicos e ambientais da prática da desconstrução ainda não

estão bem claros.

14

Page 15: Enquadramento Europeu

O maior entrave da desconstrução está na forma como até hoje os projetistas e

construtores vêm as suas criações como permanentes, sem preocupação numa futura

desconstrução. Para a superação desta barreira é necessário desenvolver-se técnicas e

ferramentas que possibilitem a realização da desconstrução, a investigação atravessa o mundo

e o poder público deve começar a incentivar esta prática aumentando os valores pagos para

utilização dos aterros e proibindo a eliminação de materiais reutilizáveis. (Teodoro, 2011: p.19)

Desde 1999, que o CIB (International Council and Innovation in Building Construction)

em associação com o Powel Center for Construction and Environment – Universidade da

Florida – Estados Unidos da América, possui um grupo de trabalho sobre desconstrução que

trabalha na produção e análise de informação e programas de reutilização de materiais a nível

mundial, promovendo a desconstrução e a reutilização de materiais como uma alternativa

viável à demolição e aterro. Desde a criação deste grupo de reconhecido mérito internacional

que têm vindo a ser produzidos muitos documentos e difundido muito conhecimento.

Em Portugal a sustentabilidade na construção tem sido alvo de estudo nos últimos

anos.

7. Desafios da Desconstrução

• Edifcios existentes não foram projetados para desmontagem;

• Componentes de edifcios não foram projetados para desmontagem;

• Ferramentas para a desconstrução de edifcios existentes geralmente não existem;

• Os custos para eliminação dos resíduos da demolição são baixos;

• Desmontar edifcios requer mais tempo;

• A recertificação de componentes usados não é frequentemente possível;

• Os códigos de obra não abordam a reutilização de componentes de construção;

• Os benefcios económicos e sociais não são bem estabelecidos.

8. Viabilidade da Desconstrução

A viabilidade da desconstrução exige o envolvimento de todo o setor da construção

civil e das autoridades. Exige também uma nova forma de projetar e de construir. O custo total

para a desconstrução, ao contrário do que possa parecer, é em geral 30% menor que o da

15

Page 16: Enquadramento Europeu

demolição, além de empregar mais mão-de-obra especializada, diminuir custos de transporte

e desmonte, aterros, energia e indústria de reciclagem.

Os arquitetos estão cada vez mais abertos ao design para desconstrução.

Os construtores demoram a aceitar o uso de materiais reciclados e recuperados

(perceção negativa quanto ao preço, qualidade baixa, risco alto, problemas de

dimensionamento)

Os consumidores vêem os materiais como de menor qualidade porém valorizam-nos

por serem ambientalmente corretos

Para estimular a prática da desconstrução sugerem-se iniciativas:

Promover e incentivar pesquisas direcionadas para o desenvolvimento de

novas tecnologias construtivas e ferramentas para a desconstrução;

Desenvolver projetos a pensar num futuro onde exista a desconstrução,

tornando as construções passíveis de desmonte e remonte;

Incentivar o aparecimento de um mercado para materiais e componentes

usados;

Aumento das taxas cobradas para deposição de resíduos nos aterros.

9. Estudo de Projetos Análogos ao Repositório de Materiais

No âmbito da pesquisa efetuada sobre o assunto e procurando projetos similares ou

que se cruzam de alguma forma com esta temática, foram estudados 14 exemplos. Dentre os

quais dez são empresas, quatro vendem madeira recuperada e cinco vendem todo o tipo de

materiais usados, principalmente proveniente de construções antigas e abandonadas. Quatro

dos casos analisados correspondem a organizações sem fins lucrativos, tais como cooperativas

e associações que adquirem e trocam materiais de construção. Por fim, como a pesquisa

englobou também a desconstrução por estar diretamente relacionada com a forma como se

deve recolher estes materiais que nós procuramos, analisamos um caso referente a centros de

desconstrução e de formação para perceber a metodologia envolvida, as vantagens e

desvantagens.

16

Page 17: Enquadramento Europeu

9.1. Casos de estudo 1: Venda de madeira recuperada

A B C D

País Canadá EUA EUA EUA

Cidade Mount Forest, Província de Ontário

São Rafael, Estado da Califórnia

Sede: White City, OregonEscritórios: San Francisco, Seattle, Nova York, Filadélfia e Ásia

Woodsboro,Condado de Frederick, Estado de Maryland

População 4 757 hab 57 713 hab 5 466 hab 1 141 hab

Densidade

Populacional

574,4 hab km² 1 352,95 hab/km² 1 139 hab./km² 620.5 hab./km²

Área 8.282 km² 58,1 km² 4,8 km² 1.84 km2

A. Nostalgic Wood

Vendem pavimentos de madeira antiga recuperada, alguns originais, outros

modificados. Os produtos são únicos na medida em que procuram ir de encontro às

preferências e necessidades específicas dos seus clientes. As madeiras são secas em estufas e

empilhadas até que seja necessário o seu corte de acordo com as encomendas.

B. Black’s Farmwood

Este projeto utiliza madeira recuperada e

reciclada para transformar em pavimentos, vigas,

paredes, móveis, entre outros. Ao longo de 15 anos,

esta empresa familiar tem sido a principal fabricante e

fornecedor de vigas de madeira recuperada,

pavimentos de tábuas largas, mesas e móveis

personalizados, tapumes de celeiro e outras madeiras.

Fundada em 1990. Empresa certificada pela

FSC pelo desenvolvimento de projetos LEED

(Leadership in Energy and Environmental Design -

Padrão para o projeto de construção verde).

Operam num depósito de madeira recuperada e numa fábrica no norte da Califórnia.

Os clientes vão desde residenciais, como proprietários de imóveis do tipo faça-você-

mesmo até grandes clientes comerciais, como a Pixar, Starbucks, Sundance, e Whole Foods.

C. TerraMai

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Page 18: Enquadramento Europeu

Fundada em 1991. Fornece madeira

recuperada de todo o mundo: teca, madeiras

africanas, asiáticas exóticas, pau-brasil, carvalho

branco, e muitas outras espécies. Vários projetos

comerciais e residenciais usam os seus materiais

recuperados para pavimentos, paredes, painéis e

decks.

As atividades desenvolvidas por esta

empresa são as seguintes: venda de madeiras

selecionadas e recuperadas de todo o mundo

através de remoagem da madeira e fabricação de novos produtos (recicla madeiras velhas),

serviços de acabamento das madeiras diferenciados e personalizados, trabalhos

manufaturados personalizados (perfis personalizados, tampos de mesa, bancadas, topos de

bar, degraus de escada e muito mais.), serviços de consultoria e aconselhamento e serviços de

armazenamento e logística de materiais de outras empresas.

Os seus clientes são corporativos, institucionais, residenciais, comerciais e alojamentos

turísticos. TerraMai trabalha diariamente com empresas de, como Gensler, Callison, Perkins +

Will e outros, em projetos para a Google, a Universidade de Stanford, Ritz-Carlton, da cidade

de Nova York, Disney e muitos outros clientes de renome mundial.

D. Vintage Lumber

O objetivo da Vintage Lumber é o de reutilizar madeira velha obtida a partir celeiros

abandonados desmontados e outros edifcios agrícolas no centro de Maryland. Vendem

madeiras selecionadas e recuperadas de todo o mundo através de remoagem da madeira e

fabricação de novos produtos (recicla madeiras velhas). O interesse expandiu-se para um

produto mais acabado, de largura aleatória para pranchas de pavimento de madeira. O

mercado cresceu até se tornar nacional.

Hoje possui um inventário de madeira antiga e nova de mais de um milhão de pés

cúbicos, tem a capacidade de 20 mil metros quadrados por semana, é um dos maiores e mais

respeitados fabricantes de pavimentos antigos de madeira nova remoída e rústica no país.

Os clientes vão desde proprietários de habitações, empresas, universidades e

organizações em todo o mundo.

18

Page 19: Enquadramento Europeu

9.2. Casos de estudo 2: Venda de materiais recuperados

A B C D E F

País França Inglaterra Inglaterra EUA EUA EUA

Cidade Méry-Corbon,na Baixa-Normandia

L'Hôtellerie-de-Flée,Em Pays de la Loire

Hulme, em Manchester

Kensal Green, em Londres

Berkley,Califórnia

Nova Iorque Fairfax,Califórnia

População 961 hab

487 hab

16, 907 hab 14 915 hab 112 580 hab Região Metropolitana: 19,7 milhões habitantes

7 441 hab

Densidade

Populacional

126,6 hab/km2

33 hab /km2

7, 671 hab

/km2

133,10 hab

/km2

4 151,61

hab/km²

1 305,90

hab/km²

Área 7,59 km²

14,77 km²

2 204 km2 1,12 km2 45,8 km² Região Metropolitana: 8,7 mil km²

5,7 km²

A. BCA-Matériaux Anciens

Empresa composta por 15 profissionais experientes e especializados na recuperação

arquitetónica e fornecimento de materiais antigos franceses. Desde 1995 BCA são

embaixadores para o fornecimento de materiais antigos e nobres em toda a França e no

mundo, especialmente para os EUA, Grã-Bretanha e em toda a Europa, Rússia, Oriente,

Austrália e nova Zelândia.

Dispõe dos seguintes produtos/materiais: lareiras antigas, objetos de arte, elementos

decorativos para interiores e exteriores arquitetónicos, pisos de pedra antigo, piso de madeira

recuperada. Os showrooms que possuem têm 600m2 de exposição, acrescendo ainda vários

hectares no exterior com antiguidades de jardim, pavimentos de pedra, vigas de carvalho, etc,

e, claro, os dois estaleiros onde se tratam todas estas peças.

B. Insitu Manchester

19

Page 20: Enquadramento Europeu

Foi fundada em 1984. O foco principal tem sido sempre o resgate arquitetónico de

peças de design clássico. Foi nomeada a melhor loja de objetos em segunda mão em

Manchester pela Creative Tourist, por ser um negócio de recuperação diferente. Especialista

em pisos de madeira recuperada, portas, radiadores de ferro fundido, vitrais, qualquer coisa

que pode ser salvo de locais de demolição.

C. Retrouvius

A Retrouvius recupera bons materiais e peças bem realizadas; por terem um valor

intrínseco para que sejam corretamente armazenados e inteligentemente reutilizados. No

Retrouvius o stock de produtos está em constante alteração - determinada pela moda, gostos,

desejos, espaço disponível em armazém, e mais do que tudo um pouco de sorte.

Ao longo dos anos Retrouvius tem sido envolvido em variados projetos de habitação e

comerciais. Alguns necessitaram da intervenção de um arquiteto outros foram puramente

decorativos em edifcios do século XV até hoje.

D. Ohmega Salvage

Ohmega Salvage nasceu em 1974. Edifica a comunidade através do comércio com um

modelo de reutilização, reciclagem e troca social. Preservam itens antigos de qualidade

criando recursos para os seus clientes.

F. The Away Station

A missão da “The Away Statio” servir a comunidade e o planeta de forma produtiva e

criativa através da recolha, armazenamento e redistribuição dos subprodutos de consumo. Isto

é feito fornecendo uma forma para que as pessoas facilmente se possam livrar de itens

indesejados, sabendo que esses itens vão para ter um bom uso e não vão para aterro.

Dispõe dos seguintes serviços: organização profissional e doméstica; remoção de

mercadorias de casas, escritórios e locais de construção; consultores para a desconstrução e

construção verde; recolha de itens em empresas, organizações e indivíduos para redistribuí-

los para organizações e indivíduos que estão em necessidade; equipas de desconstrução

qualificadas e compras pela Internet de itens que estão em sites de construção.

Os nossos clientes são a comunidade em geral, servimos todo o tipo de pessoas e

necessidades. As compras por parte dos clientes ajudam a manter o movimento de stock e

permitem a reutilização na Califórnia do Norte.

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Page 21: Enquadramento Europeu

9.3. Casos de estudo 3: Organizações sem fins lucrativos de aquisição e troca de materiais

usados

A B C D E F G

País EUA EUA EUA --- EUA Portugal Portugal

Cidade Boston Baltimore,Estado de Maryland

Phoenix, em Arizona

Glendale, em Arizona

--- Nova Iorque Lisboa Porto

População 5,8 milhões

habitantes

620 961

habitantes

1,445,632 hab

226 721 hab

--- Região Metropolitana: 19,7 milhões habitantes

547 733 hab

237 591 hab

Densidade

Populacional

4 938,99

hab/km²

1 415,25

residências/km²

1,080.2/km2

1 459,4

hab/km²

--- 5 474,59

hab./km²

5 736,14

hab./km²

Área 232,17 km² 238,41 km² 1,338.26 km2

155,74 km²

--- Região Metropolitana: 8,7 mil km²

100,05 km² 41,42 km²

A. BBR Boston Building Resources

Foi fundado em 1978. O Centro de Reutilização em Boston é uma organização sem fins

lucrativos de caridade que aceita doações de materiais novos e usados para revenda. Abriu as

suas portas em 1993 e era conhecido até recentemente como o Centro de Recursos de

Materiais de Construção.

Os parceiros e fornecedores são o público em geral e os profissionais da construção. A

relação estabelecida entre os fornecedores funciona através de doação, quem desmonta é a

pessoa que vai doar o material e quem transporta é a empresa que o recebe.

Os voluntários são uma parte importante da organização: ensinando em oficinas,

servindo no conselho de administração, ajudando com eventos de divulgação, trabalho de

escritório e muito mais.

Oferece, materiais acessíveis, novos e usados, para manutenção da habitação e

requalificações. Mas além da simples compra de produtos, os clientes podem encontrar

aconselhamento especializado, assistência técnica e workshops práticos que ensinam técnicas

de requalificação da casa.

Em 2013 serviram 1.388 proprietários e clientes sem fins lucrativos, totalizaram quase

440 mil dólares em vendas de materiais, 1.560 doadores, evitaram o desperdício para aterro

em materiais recolhidos no valor de 1.658.705 dólares, melhoraram 36 casas e realizaram

diversos workshops.

21

Page 22: Enquadramento Europeu

Recentemente concluíram um projeto de consultoria com Parceiros de Ação

Comunitária, composta por alunos voluntários da Escola de Negócios de Harvard e Kennedy

School, resultando em pareceres e recomendações sobre como melhorar a nossa organização.

As fontes de receita respeitantes à venda de materiais apresentam caraterísticas

peculiares. O Centro de Reutilização tem descontos automáticos, quanto mais tempo um

produto está na prateleira, maior é o desconto (3 semanas diminui em 10%, 4 semanas 20%, 5

semanas 30%, 6 semanas 40%, 7 semanas ou mais 50%).

Outra fonte de receita são os nossos membros, não é preciso ser um membro para

fazer compras em BBR, mas os membros têm descontos e outros benefcios. Existem dois

níveis de associação: Standard e Plus.

Os restantes métodos para obtenção de dinheiro são donativos (de materiais,

financeiros e tempo) e workshops.

B. The Loading Dock

Organização sem fins lucrativos com a missão de melhorar as condições de vida das

famílias, bairros e comunidades, enquanto produz um impacto positivo no meio ambiente,

pelo meio da redistribuição de materiais de construção excedentes

Desde 1984, poupou 32 milhões de dólares a clientes, realizou mais de 250 oficinas de

bricolage e desviou 12 mil camiões de materiais destinados a aterros.

Possui dois prémios de prestgio nacional: Presidential Award for Sustainable

Development & the United Nations Habitat II "Building Communities of Opportunity" National

Excellence Award.

Inspirou programas semelhantes noutras cidades do país e tem escalado pedidos de

informação, prestou assistência técnica a mais de 300 cidades, algumas tão distantes como

Tijuana, no México, St. Johns e St. Croix no Caribe, cinco países da costa ocidental da África,

Hungria e Alemanha.

Em resposta a centenas de pedidos em todo o país para a assistência técnica no

arranque dos programas similares, TLD produziu um manual de como fazer, métodos, práticas

e técnicas estabelecidas na gestão de um programa de reutilização. TLD também possui

passeios educativos para os interessados em iniciar ou expandir instalações de reutilização.

As atividades chave desta organização prendem-se com a desconstrução,

armazenagem, limpeza e tratamento de materiais/produtos, workshops e venda de materiais

de construção usados, bicicletas, livros, materiais perigosos, recheio de casas, etc.22

Page 23: Enquadramento Europeu

Os parceiros são os mais de 400 fabricantes, distribuidores e prestadores de serviços

na região do Médio Atlântico. E os fornecedores são empreiteiros, distribuidores, fabricantes e

proprietários individuais.

É autossuficiente através das taxas de adesão dos membros. As taxas são

normalmente 25-30% da venda a retalho, e refletem os custos de trabalho de seguro,

transporte, processamento e armazenamento de materiais. Outros recursos correspondem à

implementação de novos serviços para os clientes e doadores, incluindo Workshops “faça você

mesmo”, o Programa de Coleta de aterro e recolha da Comunidade Dias. Os recursos

imprescindíveis do projeto são as doações de materiais e os membros. Possuem armazém

próprio com 45.000 metros quadrados e um camião. O voluntariado é fundamental, trabalham

à noite no armazém, em grupo ou individualmente, como formadores, recrutando doações ou

espalhando a palavra.

Os membros incluem organizações de habitação, centros comunitários, grupos de

reabilitação de bairros, entidades sem fins lucrativos, teatros, grupos de idosos, centros de dia,

pessoas e famílias de renda modesta, proprietários, empreiteiros, artistas e entusiastas de

reabilitação histórica/patrimonial.

TLD poupa à habitação de rendas baixas e projetos comunitários mais de 3 milhões de

dólares e resgata mais de 12 mil camiões de materiais de construção de aterros sanitários a

cada ano.

C. Stardust BuildingSupllies

A organização incentiva práticas ambientalmente sustentáveis, oferecendo

desconstrução livre, uma alternativa verde para demolição convencional e serviços de recolha

de doação para evitar o desperdício de materiais de construção utilizáveis.

As atividades chave da organização são a desconstrução e os serviços de recolha e de

doação de materiais de construção utilizáveis.

Os rendimentos gerados a partir das lojas ajudam a apoiar os programas de missão e

da comunidade que fornecem materiais essenciais para organizações sem fins lucrativos locais

que atendem famílias e indivíduos em necessidade.

Os materiais de construção usados, eletrodomésticos e móveis custam de 50% a 80%

abaixo do custo de venda a retalho.

Os Serviços e programas da Stardust são possíveis, em parte, graças ao apoio dos

nossos doadores financeiros e materiais. Estamos verdadeiramente gratos ao grupo

23

Page 24: Enquadramento Europeu

diversificado de indivíduos, empresas e fundações que doam. As doações podem ser de

materiais, dinheiro e tempo. E os voluntários podem desempenhar as seguintes tarefas:

organizador da loja/armazém, mentes criativas para reutilização dos materiais, equipa para

reciclar, assistente de doações, presentes na espécie de assistente.

Criaram um evento designado “Design For Hope”. Design para a esperança é um

evento divertido onde designers de interiores locais são desafiados a criar uma cozinha usando

materiais reciclados e reutilizados nas suas lojas! Em abril passado, um designer inglês ganhou

o segundo projeto anual para a competição Hope. O seu projeto de reutilização será instalado

neste verão numa casa do grupo VALLEYLIFE para adultos com deficiências de

desenvolvimento. Dando a volta pelo meio da reutilização! O evento também inclui um leilão

silencioso com decoração reaproveitada e arte com reutilização de materiais de artesãos e

artistas talentosos!

D. BMRA – Building Materials Reuse Association

É uma Associação de reutilização de materiais de construção. Dispõe de um diretório

de empresas de desconstrução e de reutilização. Lecionam cursos de desconstrução

(descrevem os diferentes tipos de modelos de negócio que são utilizados na desconstrução:

Organizações sem fins lucrativos, com fins lucrativos, equipas de voluntários, construtores,

etc.) e atribuem o certificado de desconstrutores.

O BMRA é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover a recuperação,

reutilização e reciclagem de materiais de construção, de forma a, reduzir o consumo de novos

recursos, reduzir os resíduos, criar um mercado de valor agregado e aumentar a relação custo-

eficácia , expandir oportunidades de trabalho e desenvolvimento de competências da força de

trabalho, promover a sustentabilidade das comunidades e do meio ambiente através da

preservação dos recursos.

E. Waste Match

É um serviço gratuito, criado e financiado pelo Departamento de Saneamento da

Cidade de Nova Iorque, que facilita a troca de bens e equipamentos utilizados e excedentes

das organizações que já não precisam deles para outras entidades que necessitam desses

produtos.

As suas atividades passam pela troca de materiais online, serviço gratuito. Quando

possível, usam os seus contactos e experiência para contactar utilizadores e arranjar materiais

com colegas que precisam ou têm materiais. O WasteMatch não compra, vende, armazena

24

Page 25: Enquadramento Europeu

materiais, ou transporta. Presta assistência técnica, realizando uma avaliação inicial do site de

um cliente, na tentativa de reduzir custos de compra, encontrando fontes de equipamentos

usados e bens em excesso e/ou procurando compradores para os equipamentos indesejados

dos clientes.

NYC WasteMatch realiza pesquisa informal para identificar oportunidades de

reutilização e reciclagem de materiais que são difceis de aplicar. Os seus parceiros são o

Centro de reutilização de materiais da cidade de Nova Iorque, um programa do The City

College de Nova Iorque e o Departamento de Saneamento para a Prevenção de Resíduos,

Reutilização e Reciclagem da cidade de Nova Iorque.

F. Ofícios do património e da reabilitação urbana (OPRURB)

Esta associação foi fundada a par de outras pessoas pelo Arquiteto Filipe Mário Lopes,

entretanto contactado por nós para nos contar a sua experiência. Aquando do seu cargo de

diretor municipal da reabilitação urbana da CM de Lisboa exercido entre 1990 a 2000 e tendo

reabilitado cerca de 8000 fogos nos bairros antigos de Alfama, Mouraria, Bairro Alto,

Madragoa e núcleos periféricos, fundou esta associação sem fins lucrativos. Esta atividade

desenvolveu os conhecimentos sobre técnicas e materiais das construções antigas. O

Arquiteto referiu que os materiais eram logo reutilizados e por isso não houve oportunidade

de fazer depósitos de sobras. Referiu também que tem todo o gosto em partilhar a experiência

acumulada com esta atividade apenas a partir de Novembro.

A Associação tem por fim promover a preservação do Património e a Reabilitação

Urbana, investigando sobre o Património e estabelecendo estratégias de Reabilitação Urbana,

sensibilizando Público e Intervenientes, formando estes últimos, promovendo ações de

salvaguarda de património e de bairros antigos.

G. Banco de Materiais da Câmara Municipal do Porto

O Banco de Materiais surgiu da necessidade de se guardarem materiais construtivos e

decorativos com valor patrimonial, como elementos cerâmicos (azulejos, telhas), estuques,

ferros, cantarias lavradas, etc., procedentes de edifcios a alterar ou a demolir. Assim se foram

acumulando materiais de forma repetitiva, sobretudo azulejos, o que determinou que, em

1992, o executivo municipal aprovasse uma proposta de cedência gratuita desses materiais,

aos munícipes que deles necessitem na reabilitação de edifcios.

Este serviço municipal é gratuito e encontra-se disponível a todos os cidadãos no

intuito mútuo da valorização do património da cidade, tem o objetivo de salvaguardar,

25

Page 26: Enquadramento Europeu

valorizar e dar a conhecer os materiais caracterizadores da arquitetura portuense. Desta

forma, a autarquia promove a manutenção da imagem urbana do Porto, onde estes materiais

diferenciam o património edificado.

Além dos elementos de cedência, o Banco de Materiais possui ainda um acervo

museológico considerável, onde se salientam os azulejos (cerca de 17 mil) que vão desde os

motivos hispano-árabes (século XV/XVI), aos padrões dos séculos XVII e seguintes. Contudo, é

o azulejo dito de “fachada” que constitui o maior e mais variado conjunto de exemplares de

fabrico nacional, sobretudo das fábricas do Porto e Gaia (Carvalhinho, Devesas e Massarelos).

Dos restantes materiais que incorporam e enriquecem o Banco de Materiais,

destacam-se ainda as telhas decorativas (242), as placas toponímicas (345) e os ornatos em

estuque (1119), estes últimos recolhidos da oficina Ramos Meira, uma das mais prestigiadas e

última do ramo a extinguir no Porto.

No intuito de divulgar e sensibilizar para a preservação do azulejo, o Banco de

Materiais tem vindo a realizar atividades educativas, tais como visitas guiadas, circuitos pela

cidade, oficinas pedagógicas com escolas, workshops temáticos (limpeza de argamassas), etc.

9.4. Casos de estudo 4: Centros de desconstrução e de formação

A

País EUA

Cidade Detroit

População 50 428 residências ocupadas

Área 370,03 km²

A. Reclaim Detroit

Centro de desconstrução e de formação de desconstrutores.

O foco principal do centro é desviar o máximo de material proveniente de 78.000

construções vazias de Detroit que têm como destino os aterros através da desconstrução.

Atualmente os materiais são armazenados no centro de treinos disponibilizando a madeira

recuperada para venda.

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Page 27: Enquadramento Europeu

10. Bibliografia

MARTINHO, Maria da Graça. 2013. Relatório Final: Estudo para a Conceção Sustentável de

Modelo de Gestão de Resíduos de Construção e Demolição, na Região Norte

Interior – 1ª fase, CCDRN e FCT – Faculdade de Ciências e Tecnologia da

Universidade Nova de Lisboa, Monte da Caparica.

PINTO, Vânia Filipa dos Santos. 2013. Gestão de Resíduos de Construção e Demolição – Parque

Tecnológico de Negócios e de Ourivesaria de Gondomar. Tese de Mestrado em Ciências

e Tecnologia do Ambiente – Especialização em Tecnologias de Remediação Ambiental,

Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Porto.

SILVA, Alexandre Salreta Duarte. 2011. Arquitectura Ecológica – Materiais Não-Convencionais

– A Reutlização dos Materiais na Arquitectura. Tese de Mestrado em Arquitectura de

Interiores pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.

TEIXIEIRA, Carina Catarino. 2013. Gestão de Resíduos de Construção e Demolição em Obras de

Edificação. Dissertação apresentada à Escola Superior Agrária de Bragança para

obtenção do Grau de Mestre em Tecnologia Ambiental, Bragança.

TEODORO, Nuno Filipe Godinho. 2011. Contribuição para a Sustentabilidade na Construção

Civil: Reciclagem e Reutlização de Materiais. Tese de Mestrado em Engenharia Civil

pelo Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.

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Page 28: Enquadramento Europeu

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