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ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA JUNTO ÀS PRÁTICAS HUMANIZADAS COMPLEMENTARES E INTEGRATIVAS NO PRÉ-PARTO E PARTO: RELATO DE EXPERIÊNCIA PSYCHOLOGY ACTIVITIES WITH HUMANIZED, COMPLEMENTARY AND INTEGRATIVE PRACTICES IN THE PREGNANCY AND DELIVERY: EXPERIENCE REPORT Mayane de Oliveira Santiago 1 Liliane Pereira Braga 2 Resumo Grandes são os desafios em praticar o que pregam as políticas de humanização na assistência a mulher no ciclo gravídico-puerperal haja vista a prática biologicista e medicamentosa desnecessária dominante, mas sim, é possível construir uma assistência que integre a mulher biopsicossocialmente, de modo humanizado e especializado, neste período tão ímpar que é a gestação e a parturição na vida da mesma, e é sobre essa possibilidade, que esse relato de experiência discorre, trazendo a atuação de uma Psicóloga Residente na Área de Saúde Materno Infantil, pela EMCM/UFRN, junto às Práticas humanizadas, Complementares e Integrativas no pré-parto e parto, que permeiam a ambiência uso de essências, a cromoterapia e musicoterapia/biomúsica, de modo profissional, interprofissional e multiprofissional, visando a intervenção não medicamentosa para redução da dor e manejo da ansiedade, no pré-parto e parto. Os objetivos alcançados foram: o atendimento humanizado, em consonância com as políticas de saúde materno-infantil no Brasil; criação de um espaço de escuta e intervenção psicológica qualificada, um espaço para o empoderamento da mulher, e com as PIC’s, a redução das intervenções medicamentosas desnecessárias. Os resultados foram observados através do retorno do médico obstetra, registrado em prontuário, bem como, da avaliação psicológica clínica, onde destacou-se redução da carga de estresse; manejo da ansiedade; diminuição da inibição; aumento da capacidade expressiva; aumento da confiança e sentimento de estar ativa e explorando suas potencialidades maternas, auxiliou-se também, na proteção do vínculo mãe- bebê e propiciou-se o sentimento de bem-estar global. Palavras-Chave: Psicologia; Materno-Infantil; Humanização; Terapias Complementares. 1 Psicóloga Residente do Programa Multiprofissional em Saúde Materno-infantil pela EMCM/UFRN (2017/2019). 2 Orientadora, Professora da Escola Multicampi de Ciências Médicas da UFRN, Campus de Caicó. Vice- Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação, Trabalho e Inovação em Medicina da EMCM/UFRN. Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2007) e mestrado e doutorado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2017).

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Page 1: ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA JUNTO ÀS PRÁTICAS …...Rabello e Rodrigues Neto (2012) apontam que na assistência ao trabalho de parto e nascimento, o movimento de humanização vem se

ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA JUNTO ÀS PRÁTICAS HUMANIZADAS

COMPLEMENTARES E INTEGRATIVAS NO PRÉ-PARTO E PARTO: RELATO

DE EXPERIÊNCIA

PSYCHOLOGY ACTIVITIES WITH HUMANIZED, COMPLEMENTARY AND

INTEGRATIVE PRACTICES IN THE PREGNANCY AND DELIVERY: EXPERIENCE

REPORT

Mayane de Oliveira Santiago1

Liliane Pereira Braga 2

Resumo

Grandes são os desafios em praticar o que pregam as políticas de humanização na assistência a

mulher no ciclo gravídico-puerperal haja vista a prática biologicista e medicamentosa

desnecessária dominante, mas sim, é possível construir uma assistência que integre a mulher

biopsicossocialmente, de modo humanizado e especializado, neste período tão ímpar que é a

gestação e a parturição na vida da mesma, e é sobre essa possibilidade, que esse relato de

experiência discorre, trazendo a atuação de uma Psicóloga Residente na Área de Saúde Materno

Infantil, pela EMCM/UFRN, junto às Práticas humanizadas, Complementares e Integrativas no

pré-parto e parto, que permeiam a ambiência – uso de essências, a cromoterapia e

musicoterapia/biomúsica, de modo profissional, interprofissional e multiprofissional, visando

a intervenção não medicamentosa para redução da dor e manejo da ansiedade, no pré-parto e

parto. Os objetivos alcançados foram: o atendimento humanizado, em consonância com as

políticas de saúde materno-infantil no Brasil; criação de um espaço de escuta e intervenção

psicológica qualificada, um espaço para o empoderamento da mulher, e com as PIC’s, a redução

das intervenções medicamentosas desnecessárias. Os resultados foram observados através do

retorno do médico obstetra, registrado em prontuário, bem como, da avaliação psicológica

clínica, onde destacou-se redução da carga de estresse; manejo da ansiedade; diminuição da

inibição; aumento da capacidade expressiva; aumento da confiança e sentimento de estar ativa

e explorando suas potencialidades maternas, auxiliou-se também, na proteção do vínculo mãe-

bebê e propiciou-se o sentimento de bem-estar global.

Palavras-Chave: Psicologia; Materno-Infantil; Humanização; Terapias Complementares.

1 Psicóloga Residente do Programa Multiprofissional em Saúde Materno-infantil pela EMCM/UFRN

(2017/2019). 2 Orientadora, Professora da Escola Multicampi de Ciências Médicas da UFRN, Campus de Caicó. Vice-

Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação, Trabalho e Inovação em Medicina da EMCM/UFRN.

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2007) e mestrado e doutorado

em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2017).

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Abstract

The great challenges are preexisting commitments as policies of humanization in assisting

pregnant women pregnancy-puerperal view the practice biological and drug genetics, but rather,

it is a humanitarian experience that integrates a woman biopsychosocially, in a humanized way

and This is an opportunity for gestation and participation in the life of the same and it is about

this possibility, which is a relationship with the experience, bringing a participation of a

Psychologist in the Maternal and Child Health Area, by EMCM / UFRN, next to the

Humanized, Complementary and Integrative Practices in the Pre- Parto and in the Biomusical,

Professional, Interprofessional and Multiprofessional, with a therapeutic and medication

intervention for the reduction of pain and the management of the child. anxiety, without

prepartum and childbirth. The themes reached were: humanized care, in line with maternal

and child health policies in Brazil; creation of an area of care and qualified psychological

therapy, a space for the empowerment of women and, like the ICP, a reduction of prohibitive

drug emissions. The results, observed, observed through the return of the obstetrician, in

medical records, as well as in the clinical psychological evaluation, where the stress load was

highlighted; anxiety management; inhibition decrease; increased expressiveness; Increased

confidence and power to be active and exploiting their maternal potential, also help in the

protection of the maternal baby and provided the feeling of global well-being.

Keywords: Psychology; Maternal-child; Humanization; Complementary Therapies.

INTRODUÇÃO

As práticas na atenção ao parto e ao nascimento ao longo da história da humanidade

sofreram reveses associados aos contextos históricos, culturais, ideológicos, políticos e

econômicos, e neste revés histórico da parturição se observou que o ciclo gravídico traz consigo

singularidades e demandas específicas na vida de cada mulher. É um momento único, que

configura um novo modelo de necessidades biopsicossociais.

Para Maldonado (1997) o período do pré-parto tem particularidades muito marcantes, a

mulher sente muita ansiedade, o que afeta em especial três componentes: físicos, emocionais e

cognitivos, estes componentes estão intrinsecamente relacionados. O início do trabalho de parto

se constitui em um momento crítico por vários motivos: é sentido como uma situação

fronteiriça, entre quem ela é e quem será após a concretização do nascimento do filho, com

isso, demarca o início de diversas mudanças significativas e envolve vários níveis de

simbolização. Sua principal característica é a irreversibilidade, o aumento da ansiedade ao se

aproximar o momento do nascimento e a insegurança referente à incapacidade de controlar o

desenrolar do trabalho de parto.

Segundo Iaconelli (2012), é habitual que durante a gravidez e, principalmente, o parto

em si seja movido por fatores emocionais que permeiam as expectativas das futuras mães e da

família como um todo. Esses medos e expectativas geralmente estão relacionados com o

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processo de desenvolvimento do bebê, com o momento do parto e com a perspectiva de ser uma

boa mãe.

Por esta razão, o acompanhamento psicológico, bem como uma escuta especial a todo

esse contexto, pode auxiliar a mulher e sua família neste novo mundo de mudanças e de

adaptações. O papel do psicólogo na maternidade é propiciar um espaço de escuta para que a

família possa nomear e atribuir significados àquela situação. A importância deste lugar de

escuta deve ultrapassar as fronteiras do contexto hospitalar, os serviços psicológicos e sociais

devem facilitar o caminho para que as mulheres possam pedir ajuda para lidar com os

fragmentos, “buracos” da história de cada gestação e maternagem (IACONELLI, 2012).

A psicologia, na sua atuação em obstetrícia, busca, segundo Santos (2013) proporcionar

as mães e familiares um espaço de escuta, de acolhimento, de compreensão dos sentimentos,

das fantasias e temores, decorrentes deste período transitório. A atuação do psicólogo

proporciona um espaço ativo, em que a mulher pode compensar os momentos de preocupações

e reveses emocionais maternos, abrindo espaço também para o favorecimento da promoção do

bem-estar da mãe e do bebê (SILVA, 2013).

A configuração de medos, angústias e fantasias da mulher nos momentos que antecedem

o processo de parto, como medo de perder o bebê, medo de não sobreviver, receio de ter uma

infecção, etc., que devem ser trabalhados da melhor maneira possível, visando um parto com

menos dor e sofrimento pelo psicólogo. Além disso, Oliveira (2015) mostra que algumas

intercorrências podem ocorrer, como óbito fetal, natimortalidade e má formação do feto, que

trazem grande sofrimento à mãe, necessitando esta, muitas vezes, de apoio psicológico, para

uma melhor elaboração da perda.

Oliveira (2015) relata que, para as mulheres que estão em situação de gestação, o

acompanhamento psicológico representa uma ferramenta facilitadora para a aceitação e melhor

convívio com esta condição e o que dela decorre. O psicólogo possibilitará ao sujeito um

questionamento sobre si próprio e ao mesmo tempo sobre o que o cerca. É uma forma de intervir

para direcionar o indivíduo. Dentro desta atuação, a prática pode ser guiada pela teoria da

Psicoterapia Breve, e técnicas como a Psicoprofilática, de Dessensibilização e Intervenção

Psicológica-Educacional, em paralelo ao uso das PIC´s.

Observando as necessidades de acolhimento e humanização nos serviços de saúde, a

Política Nacional de Humanização (PNH) criada em 2003, busca pôr em prática os princípios

do SUS no cotidiano dos serviços de saúde, bem como na maternidade, produzindo mudanças

nos modos de gerir e cuidar. Traz como uns de seus princípios a transversalidade, bem como

protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos. Princípios estes que

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estão em consonância com o que se preconiza no Programa de Humanização do Pré-Natal e do

Nascimento (PHPN), que veio abarcar a saúde da mulher em seus aspectos globais, focando

aspectos sexuais e reprodutivos, análise das necessidades de atenção à gestante, recém-nascido

e à mãe no puerpério, melhorando o acesso, cobertura e qualidade no atendimento (BRASIL,

2002). Ambos buscam o acolhimento do sujeito na unidade de saúde, e esse acolher, para a

Política Nacional de Humanização (PNH), é reconhecer o que o outro traz como legítima e

singular necessidade de saúde (BRASIL, 2000).

Lançada em 2011 pelo Ministério da Saúde (MS), a Rede Cegonha (RC) é uma

estratégia instituída no Sistema Único de Saúde que vem fortalecer a humanização da saúde

materno-infantil, com objetivo de reduzir a morbimortalidade materna no Brasil. É de

competência dos Estados e municípios sua execução, e vem organizada a partir de quatro

componentes: Pré-Natal, Parto e Nascimento, Puerpério e Atenção Integral à Saúde da Criança

e Sistema Logístico: Transporte e Regulação (BRASIL, 2011).

De acordo com o Relatório 211 da Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal da

CONITEC, de 2016, os profissionais de saúde devem refletir como suas próprias crenças e

valores influenciam em suas atitudes em lidar com a dor no parto, garantindo que seus cuidados

apoiem a escolha da mulher. Para Daher (2016) as estratégias e métodos não farmacológicos

de alívio da dor no trabalho de parto devem ser implementados e sempre que possível ser

oferecido às mulheres, proporcionando condições para o redesenho das unidades de assistência

ao parto. Vários métodos terapêuticos podem ser implementados para o alívio da dor e redução

da ansiedade durante o trabalho de parto, para que assim a mulher tenha o seu lugar de

protagonista do parto e o profissional de saúde deve auxiliá-la neste momento.

Rabello e Rodrigues Neto (2012) apontam que na assistência ao trabalho de parto e

nascimento, o movimento de humanização vem se destacando no cenário internacional e

nacional de várias maneiras, com ênfase na legitimidade científica e defesa dos direitos das

mulheres, e como braço deste grande movimento tem-se a Política Nacional de Práticas

Integrativas e Complementares (PNPIC), aprovada em 2006 com a portaria GM/MS Nº 971, de

3 de MAIO de 2006. O documento traz o desenvolvimento da PNPIC em caráter

multiprofissional para as categorias presentes no SUS como um campo das Práticas Integrativas

e Complementares que contempla sistemas médicos complexos e recursos terapêuticos, os

quais são também denominados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de medicina

tradicional e complementar/alternativa (MT/MCA) (BRASIL, 2006).

Tais sistemas e recursos envolvem abordagens que buscam estimular os mecanismos

naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e

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seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na

integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade, como também a visão ampliada

do processo saúde-doença e a promoção global do cuidado humano, especialmente do

autocuidado (BRASIL, 2006).

Sobre isto, Borges et al., (2011) apontam que as Práticas Integrativas e Complementares

em Saúde (PIC´s) são inseridas como métodos terapêuticos que se embasam em tecnologias

leves, estas, por sua vez vem sendo inseridas nos serviços de saúde por Emerson Merhy, e,

segundo Coelho (2009), a adoção das tecnologias leves no trabalho em saúde perpassa os

processos de acolhimento, vínculo e atenção integral como gerenciadores das ações de saúde

(MERHY, 2006).

Logo, se apresentam de baixo custo financeiro, com evidência cientifica, ressaltando o

conceito de a visão holística humanizada, na qual o usuário, neste caso, a mulher, é vista como

ser biopsicossocial inserida em um meio, e que traz consigo valores singulares que são levados

em conta. Para Bento (2017) algumas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde têm

sido usadas de modo complementar à Medicina Tradicional Ocidental, com o objetivo de

implementar a humanização durante o trabalho de parto através das doulas, que tem inserido

em seus planos terapêuticos os recursos da Medicina Tradicional Chinesa entre os quais:

massagens, cromoterapia, florais, hidroterapia, musicoterapia, entre outros.

Dentre os recursos propostos no campo das PIC’s, tem-se a Ambiência, com a produção

de espaços saudáveis e acolhedores, a protagonização dos sujeitos que neles convivem e se

relacionam: os trabalhadores, os usuários e os gestores, pois o conjunto de fatores que englobam

a ambiência funcionam como catalisadores na percepção do ambiente, quando se está

consciente, e foi alcançado com uso de essências no difusor elétrico (BRASIL, 2003).

De acordo com o Ministério da Saúde, a cromoterapia pode ser definida como a

utilização de cores para o tratamento de doenças e harmonização do corpo (BRASIL, 2017),

ela pode ser utilizada para harmonizar o ambiente, tornando-o acolhedor e dessa forma,

proporcionar conforto e tranquilidade. As cores, para Katzer (2016), têm o poder de influenciar

o ambiente e alterar através de seu efeito, as reações, sentimentos e percepções, devido a ação

que elas exercem sobre as pessoas. É usada de acordo com a demanda e com o objetivo a ser

alcançado (HELLER, 2009). Seus elementos repercutem na atividade muscular, mental e

nervosa, além dos efeitos psicológicos desencadeando excitação, calma, melancolia, segurança,

entre outros (MERENDA, 2013).

Na Músicoterapia/Biomúsica, Tabarro et al., (2010) trazem apontamentos de que a

musicoterapia consiste em uma ciência organizada que estuda os efeitos “terapêuticos da

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música nos seres humanos”. Já a biomúsica se aplica as pessoas consideradas saudáveis,

contribuindo no reequilíbrio comportamental destas, diante das pressões e imposições no

contexto da sociedade moderna. A eficácia, para Katzer (2016), da musicoterapia como um

recurso não-farmacológico de intervenção para a redução da dor e ansiedade e para a melhoria

de sentimentos de controle e bem-estar, tem sido amplamente testada e discutida pela literatura

especializada (CAMPOS, 2016).

Deste modo, conforme contribuições Borges et al., (2011) a música, a ambiência, e a

cromoterapia contribui significativamente no processo de alivio da dor, o fortalecimento do

vínculo mãe-bebê, redução da ansiedade e manejo do medo, possibilitando uma conexão não

verbal entre os sujeitos ativos desse processo: mãe e filho.

A política Nacional de Humanização (2003), o Programa de Humanização no Pré-natal

e Nascimento (2002) e a Rede Cegonha (2011) e a Política Nacional de Atenção Integral à

Saúde da Mulher (2004) orientam quanto à assistência ofertada às parturientes em trabalho de

parto, como também os procedimentos a serem adotados durante este processo. Entretanto,

diante da realidade de muitos hospitais e maternidades no Brasil, percebe-se que essas

orientações e diretrizes não tem sido realizadas na prática, trazendo prejuízos, algumas vezes

irreversíveis, tanto a mulher quanto ao bebê, abarcando desde o descaso no acolhimento,

violência obstétrica, deficiência na assistência ofertada, incentivo a passividade da mulher

durante o trabalho de parto e parto, procedimentos invasivos desnecessários como o

descumprimento de leis que asseguram os direitos que as mulheres têm durante este processo,

dentre outros (LEISTER, 2013; SANFELICE et al., 2014; ZANARDO et al., 2017).

Além disso, as instituições hospitalares tendem a voltar sua assistência para a esfera

biológica, ficando os aspectos emocionais e sociais, por vezes, a margem. Para Borges et al.,

(2011), o ambiente em que as mulheres dão à luz, em muitas maternidades do interior do

Nordeste, é geralmente hostil e desagradável, não proporcionando a mulher o conforto,

emocional e psicológico, fundamentais para preparar a mulher para o momento do parto.

Deste modo, faz-se necessário pensar a prática do Psicólogo frente às questões

supracitadas, desde sua intervenção clínica tradicional hospitalar, até as práticas

complementares integrativas, partindo do questionamento: Como atua o Psicólogo frente às

demandas de desumanização e passividade da mulher no pré-parto e parto? Para o alcance da

resolução deste questionamento, traçou-se objetivos. O objetivo geral visou evidenciar e relatar

a possibilidade de atuação prática do psicólogo na maternidade junto as PIC´S.

Os objetivos específicos, propuseram: 1. Relatar a atuação prática do psicólogo na

maternidade com o uso das PIC´s; 2. Ampliar a assistência Psicológica ofertada durante o

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trabalho de parto e parto 2. Relacionar a teoria e prática psicológica, com a atuação em

ambiência, no que tange a aromatização do ambiente, a Cromoterapia e a

Musicoteria/Biomúsica, previstos na Política Nacional de Práticas Integrativas e

Complementares (2006); 4. Ofertar métodos que proporcionam a redução das intervenções

medicamentosas desnecessárias no trabalho de parto e parto.

No que tange os resultados esperados com a implementação das PIC´s, destacam-se:

ampliar a atuação psicológica com uso das PIC´s, estabelecer um equilíbrio entre as demandas

obstétricas, por exemplo, manter a pressão arterial estável antes do parto, preparar para o parto,

com as demandas da mulher, manter-se ativa na parturição; a redução da carga de estresse; o

manejo da ansiedade; a diminuição da inibição; o aumento da capacidade expressiva; o

investimento no sentimento de acolhimento e segurança no espaço; o aumento da confiança na

autoimagem, e sentimento de estar ativa e explorando suas potencialidades maternas, bem como

o fortalecimento do vínculo e manejo para redução da dor (SILVA, 2016; SILVA, 2013;

BORGES et al., 2011; MAFETONI, et al., 2014).

Assim, a escolha deste hospital-maternidade para a intervenção se justifica por ser

cenário de prática do programa de pós-graduação que contempla a instituição, a saber,

Residência Multiprofissional em Saúde Materno-Infantil pela Escola Multicampi de Ciências

Médicas da UFRN. Optou-se por elaborar um relato de experiência diante da carência de relatos

sobre os modos de fazer prático do psicólogo frente as grandes demandas de desumanização na

assistência a mulher no pré-parto e parto.

Evidencia-se aqui, também como justificativa, que o Hospital Regional, referência na

assistência materno infantil na região do Seridó/RN, não possui experiência como hospital

escola, não dispõe de equipe multiprofissional atuando de forma integrada, e conta com forte

resistência dos profissionais para a absorção de novas práticas. Concentra uma alta demanda de

parturientes, e estas, vivenciam contradições em sua assistência.

Vale salientar ainda que, a atuação prática da residente psicóloga na maternidade

perpassou a esfera interventiva convencional, e vem contemplando a inserção das técnicas

humanizadoras presentes nas Práticas Integrativas e Complementares – PIC´S. Esta esfera de

atuação, embora venha ganhando espaço, ainda traz consigo uma carência de produções

científicas do modo de fazer prático do psicólogo junto a mesma, bem como no trabalho

multidisciplinar. Os resultados obtidos com o uso das PIC´s na assistência psicológica no pré-

parto e parto, vem como impulsionador da prática profissional humanizada e descentrada do

modelo clínico tradicional. Deste modo, esse relato de experiência faz-se importante, pois com

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sua divulgação, nortear-se-á a prática do psicólogo que atua na área materno-infantil, e que

busca ampliar sua assistência com o uso das PIC´S.

METODOLOGIA

O referido artigo traz um Relato de Experiência profissional sobre a atuação da

psicologia junto às práticas humanizadas não medicamentosas no pré-parto e parto. O cenário

de prática onde a ação interventiva foi realizada, é um Hospital Regional, situado na cidade de

Currais Novos-RN, na sala de pré-parto e parto. O hospital tem em seu quadro, duas psicólogas

fixas, e recentemente, ao receber a Residência Multiprofissional em Saúde Materno Infantil,

pela UFRN, contava ainda, com dois psicólogos residentes (sendo os dois R2)

A sala de pré-parto dispõe de recepção, sala de avaliação, sala de medicação, duas

enfermarias com seis leitos, sendo três em cada enfermaria. As enfermarias são climatizadas e

com iluminação elétrica. A porta de entrada se volta para o atendimento de média

complexidade, seu público são mulheres em trabalho de parto, ou que precisem de intervenção

medicamentosa por intercorrência gestacional. O perfil de atendimento está direcionado para

gestantes de baixo risco.

Durante a estadia da mulher na sala de parto, ela pode contar com um acompanhante de

sua escolha para estar ao seu lado durante os procedimentos de espera do parto. A rotina deste

setor permite a visita dos pais, sempre em acordo com as demais mulheres que estiverem

dividindo a enfermaria e com o obstetra de plantão. A mulher é admita no serviço, que funciona

24h, é avaliada pelo obstetra plantonista, e quando necessário, é encaminhada a sala de pré-

parto onde recebe os cuidados da equipe Multidisciplinar do Programa de Residência em Saúde

Materno Infantil (Psicólogo, Fisioterapeuta, Enfermeira, Nutricionista, Farmacêutico e

Assistente Social) bem como, da equipe técnica em enfermagem, para iniciar os cuidados

necessários que antecedem o parto. Quando inicia o período expulsivo, a parturiente é

encaminhada para a sala de parto, onde segue recebendo assistência multiprofissional.

A construção do projeto “Ações Interventivas Multiprofissionais na Área Materno

Infantil do Hospital Regional” teve início dia 21 de março de 2018. A seguir imagem 1, com o

fluxograma de planejamento do projeto.

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Imagem 1: Fluxograma com descrição do planejamento do projeto.

A imagem 1, traz o fluxograma contendo o planejamento do projeto, a sua intervenção

prática começou em 16 de abril de 2018 e foi finalizada dia 27 de fevereiro de 2019 quando se

encerra o programa de residência em Saúde Materno-Infantil o qual encabeça a intervenção. A

aquisição e os custos dos materiais foram com recursos próprios dos residentes. Para que

houvesse o início das intervenções, foi realizado o envio do projeto para a direção do hospital

e para a coordenação do programa de residência, em seguida, foi realizada reunião com a equipe

de preceptores, bem como com os profissionais que integram o quadro efetivo da sala de parto,

que mesmo resistentes, presos a condutas biomédicas e organicistas, concordaram com a

execução do mesmo.

Dentro desse grande projeto, encontra-se a intervenção psicológica aqui relatada. O

material instalado e adquirido ficou de doação para o referido hospital. Durante as intervenções,

a equipe do setor esteve participativa (enfermeiros, obstetras, psicólogo), tirando dúvidas e

recebendo os devidos esclarecimentos acerca das indicações e possibilidades de uso das PIC´s,

o que viabilizará a continuidade da realização destas ações.

A seguir, a imagem 2 com o fluxograma assistencial na maternidade:

1. Reunião de planejamento

com a equipe de residentes;

2. Elaboração do projeto: “Ações Interventivas

Multiprofissionais na Área Materno Infantil do Hospital Regional”.

3. Reunião com a equipe

de Preceptores

4. Envio do projeto para Coordenação da

Residência, e Envio para a Direção do Hospital.

6. Apresentação para equipe fixa

do setor.

7. Compra de materiais com

recursos próprios e instalação

Fonte: Dados do autor, 2019.

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Imagem 2: Fluxograma com descrição assistencial na maternidade.

A imagem 2, traz o fluxograma da assistência integrada multiprofissional e profissional

da Psicologia. As intervenções psicológicas eram realizadas desde o acolhimento da paciente

na recepção, onde é feita a escuta psicológica breve e anamnese junto à enfermagem, com

ênfase na queixa e motivo da ida a maternidade. Após o acolhimento, foi realizada uma triagem

pelo obstetra plantonista, momento em que se avalia o quadro da paciente e decide se permanece

assistida ou se é encaminhada para um serviço de alta complexidade.

Os residentes acompanham a evolução médica acerca do estado gravídico da mulher e

a partir daí, ficando no serviço, a paciente é encaminhada junto com seu acompanhante para a

sala de pré-parto ou diretamente para a sala de parto, a depender da indicação obstétrica. A

psicologia retoma o lugar assistencial, ofertando seu serviço através do estabelecimento do

contrato terapêutico, explicando acerca da confidencialidade do atendimento e do respeito à

decisão da mulher sobre a continuidade do atendimento psicológico.

Depois de esclarecidas as questões éticas do atendimento psicológico com base na

RESOLUÇÃO do CFP Nº 010/05, e aceita, por parte da mulher, deram-se as intervenções,

divididas em três momentos: Momento 1: Estabelecimento do foco; Momento 2: Escolha da

técnica; Momento 3: Oferta dos métodos presentes nas Práticas Integrativas e Complementares.

Momento 1, com o estabelecimento do foco: Aqui foi realizado o atendimento focal,

após avaliada capacidade egóica do paciente, a sua percepção do ambiente, a sua avaliação

de valores e seus sentimentos, os quais devem estar equalizados e presentes e com a formação

da aliança terapêutica, foi traçado um plano de ação mediante as demandas apresentadas, as

EQ

UIP

E

MU

LT

IDIS

CIP

LIN

AR 1.Acolhimento

2. Breve anamnese

3. Triagem obstétrica

4. Encaminhada a sala de pré-parto com acompanhante

EN

TR

AN

DO

NA

P

SIC

OL

OG

IA

5. Escuta psicológica

6. Estabelecimento do contrato terapêutico IN

TE

RV

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ÇÃ

O 7. Momento 1: Estabelecimento do foco;

Momento 2: Escolha da técnica;

Momento 3: Oferta dos métodos presentes nas Práticas Integrativas e Complementares.

Fonte: Dados do autor, 2019.

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mais comuns são: Os medos, angústias e fantasias da mulher nos momentos que antecedem o

processo de parto, como medo da dor, medo de perder o bebê, medo de não sobreviver, receio

de ter uma infecção, etc.

Momento 2 com a escolha da técnica: Após realizada o diagnóstico inicial e

estabelecimento do foco terapêutico, caso seja necessário, a psicóloga responsável lança mão

de teoria, como a Psicoterapia Breve e de técnicas como, O Método de Intervenção Psicológica-

Educacional (IPE); A Técnica de Dessensibilização e o Método Psicoprofilático. A escolha da

técnica seguirá mediante a demanda observada pela Psicóloga e da qual melhor se enquadre na

questão a ser trabalhada e nos resultados a serem alcançados.

Momento 3, com a oferta à parturiente das possibilidades de métodos não

farmacológicos disponíveis no serviço, e dos quais a psicologia pode fazer uso de forma

consciente, em consonância com a equipe e com o que tange a Política Nacional de Práticas

Integrativas e Complementares (2006), bem como pela equipe multidisciplinar, para alívios dos

sintomas que por ela forem apresentados, por exemplo: medo, ansiedade, dor intensa,

hipoatividade, etc.A partir da queixa ou da demanda médica, visando sempre a evolução

positiva do trabalho do parto e o bem-estar psíquico da paciente foi ofertado a

Músicoterapia/Biomúsica, por meio de uma caixa de som portátil, que pode ser direcionada

para uso, tanto na sala de pré-parto quanto sala de parto. Juntamente com a caixa, há um

pendrive, existe uma lista prévia de músicas para cada possível demanda que surja, bem como

há possibilidade de a parturiente escolher a música que deseja ouvir naquele momento único de

sua vida. É ofertado também a Ambiência com uso de essências no ar por meio de um difusor

elétrico portátil, que assim como a caixa de som, também pode ser transportada para a sala de

parto ou permanecer no pré-parto, no caso das que vão realizar parto cesariano, onde são

gotejadas essências direcionadas ao objetivo a ser alcançado, atuando também como

catalisadores na percepção do ambiente.

Por último o serviço dispõe da Cromoterapia – terapia das cores, por meio de uma

lâmpada instalada em paralelo a iluminação já existente, não sendo substitutiva, mas

complementar, regulada e ajustada por controle remoto, onde é possível escolher a cor e a

intensidade da luz. Esse método vem sendo usado para harmonizar o ambiente, tornando-o

acolhedor, confortável e tranquilo.

As cores influenciam também as reações, sentimentos e percepções, por isso o uso das

cores deve ser realizado de acordo com a finalidade a que se deseja, pois, seus elementos

repercutem na atividade muscular, mental e nervosa, além dos efeitos psicológicos

desencadeando excitação, calma, melancolia, segurança, etc. Ressalta-se aqui, a possibilidade

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de negativa da mulher em usar desses mecanismos, negativa essa que é ouvida e respeitada.

Bem como a decisão de encerrar a qualquer momento ou trocar o método, uma vez que este

esteja de acordo com a finalidade almejada, é também respeitado e acatado.

A seguir, as imagens 3, 4 e 5, com os instrumentos que foram usados para a realização

dos atendimentos nos três momentos supracitados.

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2019.

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2019.

Imagem 3: Difusor elétrico de essências

Imagem 4: Lâmpada multicor para Cromoterapia.

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A oferta de métodos não farmacológicos disponíveis no serviço, expostos nas figuras

acima, foi realizada em conjunto com a equipe multidisciplinar que estiver responsável pelo

setor (Enfermagem, Fisioterapia, Farmácia, Nutrição, Serviço Social), proporcionando uma

ampla gama de olhares técnicos e diferenciados, em prol da saúde e do bem-estar

biopsicossocial da parturiente, do seu RN e dos familiares. A atuação da equipe se dá de modo

paralelo, e se necessário pela interconsulta ou atendimento individualizado. As práticas vão

desde a oferta dos métodos não farmacológicos, acima citados, até pontos específicos de cada

profissão. Acerca da atuação das áreas multiprofissionais, todas atuam em consonância com a

equipe responsável pelo setor (técnicos e médico obstetra) e de acordo com a singularidade do

quadro clínico e a dos desejos de cada mulher.

As possibilidades interventivas se deram de modo individual e multiprofissionais,

formando uma assistência, que se entrelaça para proporcionar um serviço completo e humano,

a saber: A enfermagem atua diretamente com o farmacêutico, nas questões de procedimentos e

preparação de medicamentos. A psicologia atua junto ao serviço social e a enfermagem, no

acolhimento e nas orientações gerais. A nutrição atua junto à enfermagem na avaliação das

condições clínicas, e junto à fisioterapia no que tange a alimentação e a realização dos

exercícios – Todos participam da anamnese inicial junto ao obstetra e todos atuam de modo

interprofissional e multiprofissional na assistência materna-infantil.

Todos atuam conjuntamente com a parturiente e sua família, na troca de informações e

conhecimentos, integrando e fomentando o saber e a prática, como o que concerne a vigência

prática da Política de Humanização (PNH) e o Programa de Humanização do Pré-Natal e do

Nascimento (PHPN), frisando a atuação transversa, enfatizando o protagonismo, a

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2019.

Imagem 5: Caixa de som portátil e pendrive.

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corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos, fomentando o cuidado materno -

infantil multiprofissional integrado, com acolhimento e vínculo, norteado por práticas

humanizadas e seguras, com incorporação de condutas acolhedoras e não-intervencionistas,

colocando a mulher enquanto sujeito desejo e ativa em seu processo de parturição.

RESULTADOS

Após a realização das intervenções, com a continuidade do atendimento psicológico no

pós-parto no alojamento conjunto, com a realização de uma avaliação do estado psíquico antes

e depois da assistência, registrado em prontuário, bem como da análise psicológica do discurso

das mulheres, foi possível alcançar os objetivos previstos: Proporcionar um atendimento

humanizado e dentro do que se pregam as políticas de saúde materno-infantil no Brasil;

Proporcionar um espaço de escuta e intervenção psicológica qualificada; Através das práticas

integrativas e complementares, reduzir as intervenções medicamentosas desnecessárias e trazer

a ambiência para o trabalho de parto e ampliar o arcabouço teórico acerca da temática, que

ainda encontra-se escasso.

Constataram-se, também, as possibilidades de prática possíveis para um cenário de

assistência humanizada e assistida no trabalho de parto de forma, disciplinar, interdisciplinar e

multidisciplinar. Todos foram sendo alcançados dia-a-dia por meio das intervenções

supracitadas, e do feedback positivo da equipe fixa do setor, do obstetra que passa pelo plantão

e dos discursos observados nas parturientes, das avaliações psicológicas realizadas antes e

depois da assistência, trazendo a efetividade e o reconhecimento da eficácia dos serviços

ofertados, durante e depois do parto, e oportunizando a continuidade das ações.

Através das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde – PIC´s, associadas à

escuta qualificada, foi possível estabelecer um equilíbrio entre as demandas obstétricas e as

demandas da mulher com o que se pede na PNH e na PHPN. Bem como obter uma devolutiva

positiva por parte da equipe, que ampliou seu fazer mecânico e medicalizante, e aderiu de forma

satisfatória as PIC´s, participando da aplicação, quando possível, e solicitando em prontuário a

avaliação da realização da mesma. Através da observação e avaliação psicológica clínica,

obtivemos redução da carga de estresse; manejo da ansiedade; diminuição da inibição; aumento

da capacidade expressiva; sentimento de acolhimento e segurança no espaço; aumento da

confiança na autoimagem, e sentimento de estar ativa e explorando suas potencialidades

maternas, auxiliou-se também, na proteção do vínculo mãe-bebê e propiciou-se o sentimento

de bem-estar global.

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Com isso, é possível inferir que a psicologia, com sua teoria e prática, traz seu saber a

fim de favorecer ações humanizadas e acolhedoras em Saúde Mental no pré-parto e parto,

trazendo seu saber de modo interventivo e na atuação inter e multidisciplinar. Poucos foram os

achados teóricos acerca da intervenção do psicólogo no pré-parto e parto, principalmente no

modo prático de fazer a teoria vigorar, o que evidencia uma carência exponencial de relatos

práticos na área da psicologia, deste modo, essas ações contribuem para o fortalecimento da

Psicologia como ciência e fomentam a prática institucional da mesma, bem como embasam e

norteiam futuras atuações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este relato de experiência poderá minimizar a lacuna do conhecimento existente na área

e, dessa forma, desvelar, conscientizar e problematizar, a possibilidade de uma assistência mais

sensível às necessidades do sujeito, enquanto mulher e mãe, fortalecendo e legitimando a

Psicologia enquanto profissão que integra, de forma efetiva, uma equipe multidisciplinar com

atuação em saúde materno-infantil.

Acrescenta-se também, a possiblidade de se realizarem novos estudos, relatos e

pesquisas, dentro da temática aqui proposta, que se desvelou tão rica e motivadora, dentro de

um contexto de grandes enfretamentos, que por vezes dificultaram ações, de condutas

engessadas e profissionais que estão há muito tempo no serviço, e encontravam-se

desmotivados e desacreditados no SUS humanizado, integrado e multiprofissional. Criou-se

estratégias de, por meio de rodas de conversa, manejo de discurso, fortalecimento teórico,

feedback da obtenção de resultados imediatos na assistência ao parto, conseguir a superação

das limitações e dificuldades, levando adiante o projeto.

Com isso, é possível inferir que grandes são os desafios em praticar o que pregam as

políticas de humanização na assistência a mulher no ciclo gravídico-puerperal. Esse ciclo abre

discussão para a forma de se lidar com as angústias de representações impensáveis, que

ultrapassam a subjetividade individual da mulher, repercutindo nos procedimentos

institucionais ligados aos cuidados com a parturiente.

Mais do que condenar as práticas hospitalares ultrapassadas ou desprovidas de

evidencias científicas, há que se refletir sobre os conteúdos inconscientes, que podem atravessar

a situação, obscurecendo o olhar e a prática, para que assim se possa proporcionar um espaço

humano, um lugar de expressividade e de investimento em si, é uma possibilidade para qualquer

área profissional, que traga a humanização em sua prática. O sentimento de segurança e de estar

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sendo assistida vai além de intervenções orgânicas e medicamentosas, por isso, viu-se que sim,

é possível proporcionar um espaço que integre a mulher biopsicossocialmente, de modo

humanizado e especializado, neste período tão ímpar que é a gestação e a parturição na vida da

mesma.

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