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ATOS ADMINISTRATIVOS Apostila II Direito Administrativo I Jur 3211 Prof.ª Pamora Cordeiro 2015

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  • ATOS ADMINISTRATIVOS

    Apostila II

    Direito Administrativo I

    Jur 3211

    Prof. Pamora Cordeiro

    2015

  • ATOS ADMINISTRATIVOS - ATO JURDICO E ATO

    ADMINISTRATIVO - ELEMENTOS DO ATO ADMINISTRATIVO

    CONCEITO. ATRIBUTOS. CLASSIFICAO.

    1. FATO JURDICO E O ATO JURDICO -

    De acordo com Maria Sylvia Zanella de Pietro1, no mbito do direito

    civil o ATO atribudo ao homem e o fato decorre de acontecimentos

    naturais, que independam do homem ou que dele dependam apenas

    indiretamente

    Ao lado dos eventos naturais ou fatos materiais que no produzem

    efeitos jurdicos, existe uma categoria de fatos que interessa ao mundo

    jurdico. So os fatos jurgenos. Esses fatos se referem a acontecimentos,

    condutas ou situaes que so relevantes para o Direito.

    Uma vez que a realidade fenomenolgica ou ftica compreendida em

    um fato jurgeno includa na descrio abstrata da norma como capaz de

    produzir efeitos no mundo jurdico - RESGUARDANDO,

    TRANSFERINDO, MODIFICANDO OU EXTINGUINDO DIREITOS -

    temos um fato jurdico.

    Quando o elemento volitivo, ou seja, a vontade humana for

    predominante para a realizao de um fato jurdico, surge o ato jurdico.

    Assim, Marcos Bernardes Melo2 denomina ATO JURDICO, o fato

    jurdico cujo suporte na realidade tenha como cerne uma exteriorizao

    consciente de vontade, dirigida a obter um resultado juridicamente

    protegido ou no proibido e possvel.

    A declarao de vontade e a licitude do objeto pretendido, de se

    ver, j despontam na idia de ato jurdico. O Novo Cdigo Civil, no

    entanto, completa de maneira cabal a definio dessa categoria de atos.

    *Ao detalhar no dispositivo no art. 104 do Cdigo Civil, os

    requisitos necessrios validade do negcio jurdico:

    Art. 104. A validade do negcio jurdico requer:

    I - agente capaz;

    II - objeto lcito, possvel, determinado ou determinvel;

    III - forma prescrita ou no defesa em lei.

    Os requisitos necessrios validade do ato so, portanto: a) Agente

    capaz; b) Objeto lcito; c) Forma prescrita ou no defesa em lei.

    1 Direito Administrativo, 14 ed., Editora Atlas, 2011. 2 - Teoria do Fato Jurdico, 2 edio, p. 147, Saraiva, 1989.

  • Conjugando as informaes doutrinrias com a normao positiva,

    podemos ampliar ainda mais o contedo dos elementos intrnsecos do ato

    jurdico, facilitando a compreenso.

    De modo que, assim fazendo, as idias se alinham naturalmente no

    seguinte sentido:

    a) ato jurdico o resultado de uma manifestao de vontade que

    produz efeitos legais;

    b) essa vontade, conscientemente declarada, para produzir os

    efeitos pretendidos na ordem jurdica, tem de provir de agente capaz;

    c) o objeto dessa declarao de vontade pronunciada por agente

    capaz deve ser lcito;

    d) a forma de exteriorizao dessa vontade emanada de agente

    capaz visando um objeto lcito, isto , legal - deve ser permitida em lei.

    2. ATO e FATO ADMINISTRATIVO - Transportando essas

    realidades para o campo do Direito Administrativo, passamos a contar com

    os elementos bsicos compreenso do ato administrativo. Pois evidente

    que o ato jurdico, ao ajustar-se ao contexto das relaes jurdicas contidas

    no regime jurdico-administrativo, recebe o tratamento pertinente s

    categorias estudadas, definidas e reguladas nesse sistema.

    Nesse sentido, Maria Sylvia Zanella Di Pietro ressalta que quando o

    fato corresponde hiptese contida na norma legal ele chamado fato

    jurdico e produz efeitos no mundo do direito e, quando produz efeitos no

    campo do direito administrativo, ele um fato administrativo.

    No entanto, se o fato no produz efeitos jurdicos no Direito

    Administrativo, ele chamado fato da administrao.

    De evidente concluso, portanto, que os elementos do ATO

    JURDICO, transpostos para a textura legal do novo regime, adaptar-se-o

    s finalidades bsicas que o norteiam, a partir da noo de interesse

    pblico, nuclear a todo o sistema.

    Assim, o ATO ADMINISTRATIVO uma espcie de ato

    jurdico, marcado pelas caractersticas prprias dos atos que a

    Administrao Pblica pratica nesse regime - o regime jurdico

    administrativo - na prossecuo dos interesses coletivos. Teremos, ento,

    nova configurao de seus elementos, destinada a atender os fins dessas

    relaes jurdicas, da seguinte maneira:

    Declarao de vontade da pessoa = DECLARAO DE VONTADE

    DO ESTADO

    Agente capaz = COMPETNCIA - sujeito

  • Forma livre = FORMA RGIDA

    Objeto lcito = OBJETO LCITO, POSSVEL E DEFINIDO.

    E mais, o motivo e a finalidade, pressupostos indispensveis validade jurdica dos atos praticados pela Administrao Pblica.

    2.1 ATO DA ADMINISTRAO * todo ato praticado no exerccio da funo administrativa ato da

    Administrao.

    * a expresso ato da Administrao mais ampla do que ato

    administrativo, que abrante apenas determinada categoria de atos

    praticados no exerccio da funo administrativa.

    Dentre os atos da administrao, incluem-se aqueles que a envolvem como

    parte e no somente do ponto de vista burocrtico, de mero ato de atuao

    interna, ou seja, podem ser encontrados:

    Atos de direito privado doao, permuta, compra e venda, locao

    Atos materiais da Administrao que envolvem uma execuo como a

    demolio de uma casa, a apreenso de mercadoria, a realizao de um

    servio.

    Atos de conhecimento, opinio, juzo ou valor atestados, certides,

    pareceres

    Atos polticos que esto sujeitos a regime jurdico-constitucional

    Os contratos

    Os atos normativos da Administrao decretos, portarias, resolues,

    regimentos, de efeitos gerais e abstratos.

    Os atos administrativos propriamente ditos.

    dependendo da amplitude da conceituao dada a ato administrativo

    podero ser includas algumas destas categorias.

    2.2 ORIGEM DA EXPRESSO

    Onde existe Administrao Pblica, existe ato administrativo, mas

    nem sempre se usou esta expresso, sendo em outras pocas

    conhecido como atos do Rei, atos do Fisco ou da Coroa.

    O momento histrico exato da utilizao desta expresso no conhecido, mas os primeiros textos legais que falam em atos da

    Administrao Pblica em geral, foram as Leis Francesas de 16/24-

    8-17903 e 3-9-17954 que, por sua vez, deram origem ao contencioso

    administrativo

    3 Vedava aos Tribunais conhecerem de operaes dos corpos administrativos

  • Para separar as competncias houve necessidade de elaborao de listas dos atos da administrao excludos da apreciao judicial

    De acordo com Maria Sylvia, em texto doutrinrio, a primeira meno encontra-se no Repertrio Merlin de jurisprudncia, na sua

    edio de 1812, onde ato administrativo se define como ordenana

    ou deciso da autoridade administrativa, que tenha relao com a sua

    funo.

    Assim, a noo de ato administrativo surgiu juntamente com o prprio direito administrativo, ou seja, a partir da ntida separao

    dos poderes e, via de conseqncia, separao de funes

    subordinando-se cada um delas ao regime jurdico prprio.

    Pode-se dizer, portanto, que a noo de ato administrativo contempornea ao constitucionalismo e a submisso da

    Administrao Pblica ao Direito (Estado de Direito).

    Nesse contexto, vale ressaltar que s reconhecida a existncia do ato administrativo por aqueles pases que existe um regime jurdico-

    administrativo a que sujeita a Administrao Pblica, diverso do

    regime de direito privado.

    3. CONCEITO - Perfeitamente familiarizados com a razo de ser e

    os fins do ATO ADMINISTRATIVO, o momento de conceitu-lo com

    segurana.

    Hely Lopes Meirelles5, define o ato administrativo, como " toda

    manifestao unilateral de vontade de Administrao Pblica, que,

    agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar,

    transferir, modificar, extinguir e declarar direitos ".

    Embora a definio seja satisfatria, uma outra, de Celso Antnio

    Bandeira de Mello6, inteiramente forjada nas oficinas do Direito Pblico,

    parece servir mais ao seu instrumental jurdico, quando diz que Ato

    Administrativo a declarao do Estado ou de quem lhe faa s vezes,

    expedida em nvel inferior lei - a ttulo de cumpri-la - sob regime de

    direito pblico e sujeito a controle de legitimidade por rgo

    jurisdicional.

    Este conceito destaca as seguintes caractersticas extremamente

    relevantes nesses atos jurdicos: a) declarao do Estado ou de seus

    delegados; b) submisso legalidade; c) regime de Direito Pblico,

    portanto sob a gide de finalidade pblica; d) sujeio ao controle do

    Poder Judicirio.

    4 Se proibiu aos tribunais conhecer dos atos da administrao, qualquer que seja sua espcie 5 - Direito Administrativo Brasileiro, 16 edio, RT, 1991, p. 126 6 - Elementos de Direito Administrativo, 2 edio, p. 90, RT, 1991.

  • Vistos dessa forma, no h mais nenhuma dificuldade em conceituar

    os atos administrativos como os atos jurdicos unilaterais que a

    Administrao Pblica pratica, dentro da legalidade e sob o regime

    jurdico administrativo, visando a realizao de interesses pblicos

    definidos.

    3. ELEMENTOS - Os elementos ou requisitos do ATO

    ADMINISTRATIVO, como vimos, so cinco: 1. Competncia; 2. Forma;

    3. Finalidade; 4. Motivo; 5. Objeto. 3.1. COMPETNCIA - o conjunto de atribuies

    correspondentes a um cargo. Em outras palavras, compreende o poder

    conferido ao agente da Administrao para o desempenho de suas funes.

    A competncia sempre definida em lei e deve ser exercitada estritamente

    dentro dos limites legais.

    A professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro7, tece algumas regras

    prprias competncia e necessrias validade dos atos administrativos:

    1)a competncia se refere, na verdade, ao sujeito, a quem atribuda a

    competncia para a prtica do ato no direito brasileiro, quem tem

    capacidade para a prtica de atos administrativos so as pessoas pblicas

    polticas (Unio, Estados, Municpios e Distrito Federal), sendo suas

    funes distribudas entre rgos administrativos e, respectivamente

    entre seus agentes (pessoas fsicas) essa competncia distribuda na

    Constituio e nas Leis; 2) decorre sempre da lei, no podendo o prprio

    rgo estabelecer, por si, as suas atribuies ; 3) inderrogvel, seja pela

    vontade da Administrao, seja por acordo com terceiros; isto porque a

    competncia conferida em benefcio do interesse pblico; 4) pode ser

    objeto de delegao ou de avocao, desde que no se trate de

    competncia conferida a determinado rgo ou agente, com

    exclusividade, pela lei.

    * Vale dizer que, de acordo com a melhor doutrina, se h omisso do

    legislador quanto a fixao da competncia para a prtica de determinados

    atos, a competncia do Chefe do Poder Executivo, j que ele a

    autoridade mxima da organizao administrativa.

    * No entanto, a Lei 9.784/998 adotou critrio diverso quanto ao

    processo administrativo, determinando em seu artigo 17, que, inexistindo

    competncia legal especfica, o processo administrativo dever ser iniciado

    perante a autoridade de menor grau hierrquico para decidir.

    * Importante mencionar tambm que as regras sobre

    inderrogabilidade e da possibilidade de delegao e avocao amplamente

    aceitas na doutrina, esto expressas atualmente no direito positivo art. 11

    7 - Direito Administrativo, Atlas, 22 edio, 2009, p. 203. 8 Dispe sobre o processo administrativo no mbito da Administrao Pblica Federal

  • da Lei 9.784/999- a competncia irrenuncivel e se exerce pelos rgos

    administrativos a que foi atribuda como prpria, salvo os casos de

    delegao e avocao legalmente admitidos.

    Sendo uma delegao legislativa expressamente contida na lei, a

    competncia administrativa obedece aos parmetros normativos que

    orientam a organizao da Administrao Pblica. De conseqncia

    obedece aos limites seguintes:

    3.1.1- TERRITORIALIDADE - O agente competente dentro de

    sua jurisdio administrativa (Exemplos: O Secretrio de Segurana

    Pblica do Estado de Gois no pode determinar a abertura de Inqurito

    policial no Estado de Tocantins).

    3.1.2- MATERIALIDADE - Em razo do princpio da

    especializao das atividades administrativas do Estado, o agente tem a sua

    competncia restrita s atribuies do rgo ao qual pertence (Exemplos: O

    Ministro da Educao no pode assinar alvars de autorizao de lavra ou

    pesquisa mineral, competncia que hoje atribuda ao Departamento

    Nacional de Pesquisa Mineral - DNPM, rgo pertencente ao Ministrio

    das Minas e Energia, originariamente competente para o ato).

    3.1.3. TEMPORALIDADE - A competncia do agente pode ser

    limitada ou suspensa por fora de circunstncias administrativas reguladas

    em lei (So exemplos de limitao a proibio para nomear, remover ou

    promover servidores em perodo eleitoral; pena de suspenso, art. 127, II,

    Lei 8.112, afastamento preventivo, art. 147, Lei 8.112, a licena do agente

    ou suas frias).

    3.1.4 - HIERARQUIA - As atribuies so distribudas de forma

    escalonada, de acordo com o grau hierrquico do cargo ocupado pelo

    agente.

    3.2. - FORMA - O modo de exteriorizao do ato administrativo e

    as formalidades que a lei exigir sejam observadas para a sua eficcia

    jurdica, constituem a forma do ato administrativo. A regra geral que ela

    seja escrita, at mesmo para a garantia dos administrados (CF, 5, XXXIV,

    "a" e "b"). Quando a lei exigir a publicao do ato (Exemplos: Decretos,

    Regulamentos, Atos Normativos em geral), a publicao passa a ser uma

    formalidade, um requisito indispensvel sua validade. Podem haver, no

    entanto, atos emitidos em forma de smbolos (placas de trnsito), sinais

    (gestos do guarda de trnsito, apitos, semforos) que traduzem expressa

    manifestao de vontade da administrao destinada a obter um

    determinado comportamento dos administrados, e que so considerados,

    tambm, atos administrativos.

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  • 3.3. - FINALIDADE - Como no existe ato administrativo sem fim

    pblico, finalidade o objetivo a ser alcanado. Toda a atividade

    administrativa teleolgica, isto , visa atingir fins de interesse coletivo. A

    obedincia finalidade pblica do ato a maneira pela qual o

    administrador cumpre a legalidade. Com efeito, o cumprimento substantivo

    da norma legal, no Direito Pblico, pressupe o alcance de seus fins, a

    realizao de seu contedo normativo. E isso s acontece quando o ato

    administrativo atende de forma harmnica, cabal e perfeita,

    finalidade que a lei delegou ao agente pblico para a sua prtica.

    Quando o agente, ao praticar o ato, empresta-lhe um fim diverso daquele

    previsto na norma, temos o desvio de poder, ou desvio de finalidade, vcio

    que vai determinar sua invalidao.

    3.4. MOTIVO - o acontecimento, a circunstncia de fato ou de

    direito que determina a prtica do ato administrativo. Motivo do ato a sua

    causa, a ocorrncia ftica que d suporte declarao jurdica do agente,

    expressa no ato, como sua consequncia. O motivo deve ser existente, real,

    plausvel e consoante com a finalidade que fundamenta a prtica do ato

    administrativo.

    3.5. - OBJETO - o contedo, o resultado jurdico buscado pelo

    ato. A modificao na ordem jurdica que ele produz. O objeto do ato

    administrativo o contedo do ato, ou seja, o prprio ato. O objeto deve ser

    lcito, possvel, com destinatrio certo e definido.

    4. - MOTIVAO E MRITO DO ATO ADMINISTRATIVO 4.1 - MOTIVAO - a descrio dos motivos de fato que

    determinaram a prtica do ato administrativo. A motivao considerada

    importante princpio do Direito administrativo, pois diz respeito

    fundamentao ftica, ou seja, justificao dos motivos que determinaram

    a emisso do ato administrativo. Corresponde, portanto, tanto nos atos

    administrativos vinculados como nos discricionrios, demonstrao feita

    pela Administrao Pblica, que o ato administrativo expedido teve

    assentamento em motivo real, pertinente e legal (Como mencionado em

    sala de aula, esse o entendimento da doutrina majoritria Maria Sylvia

    Zanella Di Pietro, Digenes Gasparini, Lcia Valle Figueiredo, existindo,

    todavia, doutrinadores que entendem que h necessidade de motivao

    somente dos atos discricionrios Jos dos Santos Carvalho Filho). Em

    funo disso, em muitos casos, as razes expendidas pela autoridade

    competente, na emisso do ato, passam a ser importantes parmetros de

    verificao de juridicidade. De tal modo que o ajustamento do "motivo

    legal" ao motivo ftico" s pode ser aferido, para efeito de controle da

    legalidade do ato administrativo, a partir da confrontao dos motivos

  • expostos, com a permisso legal descrita na norma e a ocorrncia

    verificada na realidade.

    4.2. MRITO - Em Direito Administrativo o vocbulo mrito tem

    um sentido prprio, muito peculiar quando aplicado ao ato administrativo.

    Enquanto em Direito Processual, para Jos Frederico Marques10, "mrito

    o fundo do litgio, ou seja, a pretenso que o autor deduz em juzo atravs

    do pedido. a prpria substncia do processo de conhecimento". No

    Direito Administrativo o sentido outro. Mrito, nesse campo, corresponde

    ao juzo de valor emitido pela autoridade competente para a prtica do ato.

    O Mrito administrativo significa, em outras palavras, a valorao das

    razes de oportunidade e convenincia que do suporte aos atos

    administrativos discricionrios. Presente apenas nos atos discricionrios,

    o mrito corresponde ao contedo subjetivo, poltico, da escolha pelo

    agente pblico dentro da margem de liberdade que lhe permitida pela

    legalidade. Relembre-se, no entanto, que essa margem de liberdade por

    onde transita a faculdade de escolha do agente no ilimitada. Ela tem os

    seus fundamentos na legalidade e os seus limites no interesse pblico a ser

    protegido ou alcanado. Novamente entra em pauta, na apreciao da

    legalidade de tais atos ou de aspectos da discricionariedade, como o

    mrito, conceitos ligados moralidade, impessoalidade, finalidade. Como

    se sabe, tais princpios esto, da mesma forma que o mrito, impregnados

    de forte contedo subjetivo. De tal forma que no obstante apreciao do

    mrito do ato administrativo seja vedada ao Judicirio, em alguns casos no

    haver como desvincular-se o exame da legalidade de elementos

    valorativos da discricionariedade.

    ** Possibilidade de controle do ato administrativo pelo Poder Judicirio

    5. -CARACTERSTICAS OU ATRIBUTOS DOS ATOS

    ADMINISTRATIVOS - Como visto anteriormente, o ato administrativo espcie de ato jurdico.

    A distino entre os mesmos observada atravs dos atributos prprios dos

    atos administrativos que o diferenciam dos atos de direito privado.

    - Assim, o ato administrativo possui caractersticas prprias que o

    submetem a um regime jurdico-administrativo ou a um regime jurdico de

    direito pblico.

    - De acordo com Maria Sylvia Zanella Di Pietro no h uniformidade

    entre os doutrinadores sobre quais so os atributos do ato administrativo.

    Alguns falam de executoriedade somente e outros acrescentam a

    legitimidade e executoriedade.

    - Fato que a Administrao Pblica, pelas razes que estudamos

    abundantemente no regime jurdico-administrativo, desfruta de alguns

    10 - Institutos de Direito Processual Civil, Vol. III, 1959, p. 291.

  • privilgios prerrogativas - na ordem jurdica. Consequentemente,

    assistem aos atos que ela pratica, os atos administrativos, algumas

    prerrogativas que os diferenciam dos demais atos jurdicos de Direito

    Privado. O fundamento legal dessas caractersticas ou atributos dos atos

    administrativos a supremacia do interesse pblico sobre o particular

    nas relaes protagonizadas pela Administrao, em nome do Estado.

    - Ou seja, o ordenamento normativo direciona os regramentos no sentido de

    facilitar, tornando gil, expedita, desembaraada, a ao administrativa do

    Poder Pblico. Pretende-se, curial, propiciar o alcance das finalidades

    pblicas de seus atos, dentro da legalidade.

    A complexidade dos interesses geridos pelo Estado contemporneo,

    em uma sociedade onde direitos e obrigaes se tornam cada vez mais

    intrincados e interdependentes, justifica o acautelamento protetivo,

    expedido em favor do interesse pblico e nos estritos limites de permisso

    contida e descrita na norma legal.

    5.1. ATRIBUTOS - PRESUNO DE LEGITIMIDADE,

    IMPERATIVIDADE, EXIGIBILIDADE E EXECUTORIEDADE.

    1. PRESUNO DE LEGITIMIDADE E DE VERACIDADE

    - As expresses legitimidade e veracidade no possuem o mesmo

    significado, pois podem ser desdobradas.

    - Enquanto a presuno de legitimidade trata da conformidade do ato com a

    lei, ou seja, presume-se pela natureza do prprio ato administrativo que o

    mesmo sempre nasa legitimo at que se prove o contrrio, a presuno de

    veracidade trata dos fatos alegados pela Administrao para justificar a

    prtica do ato. Em razo desse atributo, como bem observa Maria Sylvia

    Zanella Di Pietro11, presumem-se verdadeiros os fatos alegados pela

    Administrao. Assim ocorre com relao s certides, atestados,

    declaraes, informaes por ela fornecidas, todos dotados de f pblica.

    - Vale dizer que a ordem jurdica considera que os atos administrativos so

    legais e em conformidade com o Direito at prova em contrrio. De fato,

    reconhecida pelo ordenamento essa "conditio-juris" aos atos editados pela

    Administrao. Sendo presuno "juris-tantum", admite prova em

    contrrio. Acontece que essa condio inverte o nus da prova em favor da

    Administrao.

    -Caber sempre ao particular, quando receber uma imputao por rgos ou

    agentes pblicos, provar o contrrio, se lhe interessar.

    -O fundamento da presuno de legitimidade a aceitao do princpio da

    legalidade como pedra de toque do sistema jurdico administrativo. Em

    nvel mais elevado estriba-se no pressuposto de que fim precpuo do

    11 Direito Administrativo, 24 Ed., Editora Saraiva, So Paulo, 2011

  • Estado a realizao do Direito. Por consequente, a Administrao Pblica

    age sempre dentro da lei - seus atos, portanto, presumem-se legais - e

    editados no cumprimento desse desiderato estatal.

    -A inverso do nus de prova, entretanto, no elimina a responsabilidade da

    Administrao Pblica de provar a veracidade da imposio ao

    administrado contida no ato. De tal forma, que a prpria lei prev, em

    vrias circunstncias, a possibilidade de o juiz ou o promotor pblico

    requisitar da Administrao, como no Inqurito Civil Pblico, os

    documentos que comprovem as alegaes necessrias instruo do

    processo e formao da convico do juiz.

    A presuno de legitimidade, entretanto, atua tambm em favor dos

    particulares, em determinadas situaes. Quando os administrados venham

    a contratar com a Administrao, vincular-se a obrigaes ou direitos

    alicerados em atos administrativos ilegais, sem que tivessem

    conhecimento dessa ilegalidade, no podero ser prejudicados. Na anulao

    desses atos, quando so extintos os seus efeitos desde a origem, "ex tunc",

    portanto, os particulares cujos direitos se encontrarem na situao descrita,

    assumem a figura de terceiros de boa-f, protegidos pela ordem jurdica,

    em razo da presuno de legitimidade e que desfrutam os atos da

    Administrao. Claro o fundamento, cada vez mais consagrado na

    jurisprudncia. evidente que descabe ao particular sindicar da legalidade

    dos atos administrativos, escudados que so em presuno iminente,

    genrica e ampla de legitimidade. Via de consequncia, no dever

    responder por efeitos da invalidao de atos ilegais quando estes atinjam

    direitos seus, constitudos em boa f e sob a chancela oficial timbrada, de

    antemo, por legalidade compulsria.

    5.2. IMPERATIVIDADE - a impositividade, o poder de obrigar o

    particular, contido em alguns atos administrativos. Manifestao tpica do

    "Poder de Imprio" estatal, decorre da faculdade que tem a Administrao

    Pblica de impor, unilateralmente, obrigaes aos administrados em nome

    do interesse pblico. A imperatividade, que no est presente nos atos

    administrativos requisitados pelo particular (licena, autorizao,

    permisso, admisso) e nos enunciativos (certides, atestados, pareceres),

    pois caracterstica comum nos atos decorrentes de Poder de Polcia

    administrativa, ou seja, naqueles que impe obrigaes.

    Esse atributo do ato administrativo impositivo, faz com que ele deva

    ser cumprido ou atendido pelo administrado/terceiro independentemente de

    sua concordncia, enquanto no for retirado do mundo jurdico por

    revogao ou anulao, como ensina Hely Lopes Meirelles12. Com esse

    objetivo, a Administrao cria uma srie de instrumentos jurdico-

    12 - Direito Administrativo Brasileiro, RT, 16 edio, 1990, p. 137.

  • administrativos, operacionalizando a sua coercibilidade ou exigibilidade:

    incentivos, sanes pecunirias ou administrativas.

    Ao definir a imperatividade dos atos administrativos Celso Antnio

    Bandeira de Mello13 cita o jurista italiano Renato Alessi, segundo o qual

    essa imposio decorre do chamado poder extroverso aquele que

    permite ao Poder Pblico editar atos que vo alm da esfera jurdica do

    sujeito emitente, ou seja, que interferem na esfera jurdica de outras

    pessoas, constituindo-as unilateralmente em obrigaes.

    5.3. AUTOEXECUTORIEDADE

    - o atributo pelo qual o ato administrativo pode ser posto em execuo

    pela prpria Administrao Pblica, sem necessidade de interveno do

    Poder Judicirio.14

    - Vale dizer que no direito privado so restritas as hipteses de execuo

    sem ttulo, a regra de que sem ttulo, sem execuo. Como exemplos de

    execuo direta podemos mencionar a legitima defesa, o corte de ramos da

    rvore do vizinho que invadem a propriedade alheia, reteno de bagagem

    de hspede que no pague as despesas de hospedagem etc.

    - No caso dos atos administrativos tambm existem as hipteses especficas

    em que a autoexecutoriedade possvel, seno vejamos:

    a) quando as medidas executrias esto previstas em lei. Este o caso dos

    contratos administrativos em que Administrao Pblica dispe de tais

    medidas para garantir a fiel cumprimento dos mesmos, como por exemplo:

    reteno da cauo, utilizao dos equipamentos e instalaes do

    contratado para garantir a execuo do contrato, encampao15, etc.

    Tambm aplicado este atributo em matria de polcia administrativas, em

    normas que preveem por exemplo a apreenso de mercadorias, o

    fechamento de estabelecimentos, a cassao de licena para dirigir, etc.

    b) quando se trata de medida urgente (policia administrativa), nos casos em

    que se a medida auto executria no for aplicada imediatamente poder

    ocorrer maiores prejuzos para o interesse pblico, como o internamento de

    pessoa com doena contagiosa, demolio de prdio que ameaa

    desmoronar, ou de imveis abandonados que representem perigo

    sociedade por vrias razes. .

    Esta prerrogativa do ato administrativo dividida por vrios autores (Hely

    Lopes e Celso Antnio Bandeira de Melo) em executoriedade que

    corresponde ao privilgio da ao de ofcio, que permite Administrao

    executar diretamente a sua deciso pelo uso da fora, e em exigibilidade,

    que o meio indireto pelo qual a Administrao constrange o administrado 13 Curso de Direito Administrativo, Editora Malheiros, 27 Ed., So Paulo, 2010. 14 Maria Sylvia Zanella Di Pietro, idem. 15 Lei 8987/95 - Art. 37. Considera-se encampao a retomada do servio pelo poder concedente durante o prazo da concesso, por motivo de interesse pblico, mediante lei autorizativa especfica e aps prvio pagamento da indenizao, na forma do artigo anterior.

  • a cumprir suas determinaes, como multa e outras penalidades

    administrativas impostas no caso de descumprimento dos atos

    administrativos.

    EXIGIBILIDADE - o atributo segundo o qual a Administrao pode

    compelir o administrado ao cumprimento dos atos imperativos. Para tanto,

    o Poder Pblico cria mecanismos que induzam observncia de normas e

    regulamentos administrativos, impondo medidas restritivas de direito,

    multas e sanes. A exigibilidade decorre da imperatividade e constitui

    uma etapa anterior executoriedade.

    EXECUTORIEDADE Condio que possuem certos atos

    administrativos de produzirem efeitos imediatamente, independente de

    prvia audincia do judicirio. O poder que tem a Administrao de

    executar suas decises hoje amplamente reconhecido na doutrina e na

    jurisprudncia do Direito Administrativo brasileiro, observados, claro, os

    limites legais.

    Na exigibilidade no existe coao material para a execuo do ato

    administrativo, como ocorre na executoriedade. Na primeira, a

    Administrao cria exigncias ou sanes que induzem o administrado ao

    cumprimento do ato (Exemplo: multar pela no construo de caladas

    em imvel urbano; abatimento no imposto correspondente, por manter

    o imvel cercado e limpo; proibio do exerccio de atividade quando

    se descumpre exigncias especficas fixadas pela administrao:

    Higiene - aougues, restaurantes, lanchonetes; Locais e horrios -

    camels, autnomos, feirantes, taxistas).

    A executoriedade, no entanto, pressupe a coero material que

    obriga irresistivelmente o administrado (Exemplo: apreenso de

    mercadoria imprpria para o consumo; fechamento de

    estabelecimento por contrariar a moralidade ou o sossego pblico;

    demolio de construo edificada em desacordo com as normas de

    posturas). Tratando-se de atributo que resulta em restrio a direitos e

    liberdades dos particulares, a executoriedade, como conclui Jos Cretella

    Jnior16, endossando entendimento predominante na doutrina, s pode ser

    exercida: 1) QUANDO HOUVER A AUTORIZAO LEGISLATIVA

    EXPRESSA; 2) INEXISTINDO OUTRA VIA JURDICA; 3) EM

    CASO DE URGNCIA, MOTIVADA POR QUALQUER CAUSA,

    COMO POR EXEMPLO, PERIGO IMINENTE, NECESSIDADE

    PBLICA URGENTE.

    Os remdios judiciais contra abusos da Administrao Pblica no

    exerccio da executoriedade so o Mandado de Segurana, preventivo ou

    16 - Do Ato Administrativo, Jos Bushatsky Editor, 1977, p. 98.

  • repressivo (Constituio Federal, art. 5, LXIX e Lei n .12.016, de 07 de

    agosto de 2009), e o Habeas Corpus, tambm preventivo ou repressivo

    (Constituio Federal, 5, LXVIII). de se lembrar que o dano decorrente

    de ilegtima ou abusiva manifestao de executoriedade pela

    Administrao, dar lugar obrigatoriedade de indenizar o particular

    prejudicado, nos termos do artigo 37, 6 da Constituio Federal.

    5.4 TIPICIDADE

    - o atributo pelo qual o ato administrativo deve corresponder a

    figuras pr-estabelecidas/definidas pela lei como hbeis a produzir

    determinados resultados. Para cada finalidade que a Administrao

    pretende alcanar existe um ato definido em lei.

    -Resulta da obedincia ao princpio da legalidade, afastando a

    possibilidade da Administrao praticar atos autnomos consubstanciados

    na vontade, mas somente aqueles previstos na lei.

    -Serve de garantia para o administrado, impedindo que a

    Administrao pratique atos dotados de imperatividade e

    autoexecutoriedade sem a devida previso legal, afastando assim, pelo

    menos em tese, o abuso de poder.

    - caracterstica existente somente nos atos unilaterais, onde existe

    imposio da vontade da Administrao.

    6. - CLASSIFICAO - Existem vrias classificaes dos atos

    administrativos. Segundo os critrios destacados, que variam entre

    estudiosos, temos uma classificao mais ou menos extensa, mais ou

    menos complicada. O que vale destacar nessas metodizaes didticas, a

    sua utilidade. O quanto contribuem para sistematizar e facilitar a

    demonstrao do estudo proposto.

    Portanto, com algumas modificaes, exemplos e realce das

    caractersticas jurdicas de cada espcie, vamos adotar, quase que

    integralmente, os trabalhos realizados nesse sentido por Maria Sylvia

    Zanella Di Pietro17 e Hely Lopes Meirelles18, que nos parece os mais

    completos e objetivos.

    6.1. - QUANTO AO OBJETO - (PRERROGATIVAS DA

    ADMINISTRAO): ATOS DE IMPRIO E ATO DE GESTO.

    6.1.1. ATOS DE IMPRIO: So aqueles que a Administrao

    pratica usando da sua supremacia sobre o administrado, ou seja,

    compreendem os atos que so praticados com o poder de autoridade, de

    comando, exercido pela Administrao em relao aos particulares.

    Dizem respeito faculdade que possui Poder Pblico de

    obrigar/coagir o administrado a uma determinada ao ou omisso,

    17 - ob. cit. p. 182. 18 - ob. cit. p. 139/173.

  • unilateralmente. Exemplos: imposio de servides, desapropriao, atos

    decorrentes de manifestaes do Poder de Polcia.

    Caractersticas: a) Administrao Pblica atua em regime de

    Direito Pblico, usando de suas prerrogativas; b) so sempre unilaterais

    e revogveis pela Administrao Pblica; c) podem ser gerais,

    individuais, internos, externos, vinculados ou discricionrios.

    Maria Sylvia Zanella di Pietro seriam todos os atos praticados pela

    Administrao com todas as prerrogativas e privilgios de autoridade e

    impostos unilateral e coercitivamente ao particular independentemente de

    autorizao judicial, sendo regidos por um direito especial exorbitante do

    direito comum, porque os particulares no podem praticar atos

    semelhantes, a no ser por delegao do poder pblico.

    6.1.2 - ATOS DE GESTO:

    Atos de gesto so praticados pela Administrao em condies de

    igualdade com os particulares. Visam concretizar os atos de administrao,

    referentes gerncia do patrimnio pblico (atos de administrao dos

    bens e servios pblicos), ou substanciar suas atividades negociais com os

    particulares.A administrao afasta-se de suas prerrogativas, colocando-se

    em p de igualdade com os particulares.

    Exemplos: contratos de compra e venda, locao, dao em pagamento,

    doao.

    Caractersticas: a) regidos pelo Direito Privado; b) antecedidos,

    quando necessrio, de procedimentos administrativos formais (licitao,

    autorizao legislativa); c) no obedecem s normas comuns de Direito

    Pblico vlidas para os demais atos administrativos e so irrevogveis

    quando produzem direitos adquiridos ou so bilaterais.

    Essa classificao caiu em desuso em razo da utilizao (muitas vezes)

    pela administrao de seu poder de imprio ao fiscalizar o uso dos bens

    pblicos ou quando celebra contratos de direito pblico tendo por objeto o

    uso de bens pblicos por particulares ou a concesso de servios pblicos,

    quando fixa unilateralmente o valor das tarifas, quando impe normas para

    realizao dos servios concedidos. Nesse sentido esclarece Maria Sylvia19

    ao mencionar que abandonou-se a distino, hoje substituda por outra:

    atos administrativos, regidos pelo direito pblico, e atos de direito privado

    da Administrao. S os primeiros so atos administrativos; os segundos

    so apenas atos da Administrao, precisamente pelo fato de serem

    regidos pelo direito privado.

    6.1.3 ATOS DE EXPEDIENTE - Atos de rotina interna, sem

    carter vinculante e sem forma especiais. So, portanto, os atos que se

    19 idem

  • destinam a impulsionar os processos administrativos e os papis que

    tramitam pelas reparties. Ex. Despacho de Encaminhamento de um

    processo

    6.2 - QUANTO AOS DESTINATRIOS: atos administrativos

    gerais e individuais.

    6.2.1. - ATOS GERAIS: So aqueles expedidos em carter geral,

    cujos efeitos alcanam todas as pessoas que se encontram em uma

    determinada situao. Correspondem aos atos normativos adotados pela

    Administrao. Exemplos: Decretos, Regulamentos, deliberaes,

    circulares, instrues, regimentos, portarias

    Atos normativos gerais

    Caractersticas que o distinguem dos individuais: a) Equiparao

    lei; para efeito do controle de legalidade, tais atos so semelhantes

    lei. No podem ser impugnados, na via judicial, diretamente pela pessoa

    lesada, somente pela via de arguio de inconstitucionalidade - artigo

    103 da Constituio Federal ilegalidade e inconstitucionalidade

    somente assim possvel pleitear a invalidao direta do ato normativo.

    Apenas quando emanar de suas disposies abstratas e individuais

    um comando concreto que o lesado poder valer-se dos remdios

    constitucionais (Mandado de Segurana, CF, Art. 5, XXIX; Ao

    Popular, CF, Art. 5, XXIII), ou legais (Aes Ordinrias), para invalid-

    los; b) Exigncia de Publicidade: devem ser obrigatoriamente publicados

    no rgo oficial, para que possam produzir os seus efeitos, sob pena de

    invalidade; c) Precedncia Hierrquica: os atos normativos possuem

    ascendncia hierrquica sobre os atos individuais, que no podem dispor

    contra eles ou revog-los; d) Revogabilidade: podem ser revogados a

    qualquer tempo pela Administrao Pblica, ao contrrio dos

    individuais, que sofre limitaes, como por exemplo no podem ser

    revogados os atos que geram direitos subjetivos a favor do administrado, o

    que ocorre praticamente com todos os atos vinculados; e) o ato normativo

    no pode ser impugnado administrativamente, por meio de recursos

    administrativos, ao contrrio do que ocorre com os atos individuais.

    6.2.2. - ATOS INDIVIDUAIS: Atos individuais so os que se

    referem a sujeitos determinados ou a situaes jurdicas concretamente

    individualizadas produzem efeitos jurdicos no caso concreto. Exemplos:

    Decreto de nomeao, Portaria punitiva, Decreto de expropriao, Licena

    para construir, demisso, tombamento, autorizao.

    Caractersticas: a) quando geram direitos subjetivos para seus

    destinatrios (Licena para construir, promoo por mrito, aprovao

    em concurso pblico), podem produzir direitos adquiridos. Como tais, so

  • irrevogveis (Smula 47320 STF); b) quando produzem efeitos jurdicos

    externos Administrao, devem ser publicados (Decretos de

    desapropriao, Alvar de autorizao para lavra).

    6.3. - QUANTO FORMAO DO ATO: ATOS SIMPLES,

    COMPLEXOS E COMPOSTOS.

    6.3.1 - ATOS SIMPLES: Resultam da manifestao de vontade de

    um nico rgo, mesmo que ele seja singular ou colegiado. Exemplos:

    nomeao, deciso de um colegiado administrativo em primeira ou segunda

    instncia, despacho concessrio de frias requeridas, Portaria de promoo.

    Possuem as caractersticas comuns aos demais atos administrativos quanto

    aos efeitos jurdicos e a revogabilidade.

    6.3.2 - ATOS COMPLEXOS: Decorrem de manifestao de dois

    ou mais rgos, cujas vontades se fundem para formar um s ato.

    Representam a soma, a confluncia acordante de duas ou mais vontades

    para formar um s ato administrativo. Exemplos: Decreto assinado pelo

    Chefe do Poder Executivo e referendado por Ministros, Secretrios de

    Estado ou Municipais; Convnios ou acordos firmados entre rgos

    pblicos.

    Duas ou mais vontades para formar um ato nico

    Caractersticas: de Direito Pblico Comuns aos demais atos

    administrativos.

    6.3.3. - ATOS COMPOSTOS: So praticados, tambm, por dois

    ou mais rgos. S que neste caso, a vontade de um rgo auxiliar,

    subsidiria, instrumental em relao ao outro. ENQUANTO NO ATO COMPLEXO FUNDEM-SE VONTADES PARA

    PRATICAR UM S ATO, NO COMPOSTO, PRATICAM-SE DOIS ATOS: UM

    PRINCIPAL E O OUTRO ACESSRIO, ESTE LTIMO PODE SER

    PRESSUPOSTO OU COMPLEMENTAR DAQUELE

    Isto , so emitidos dois atos, de validade interdependente. De tal

    modo que o segundo ato auxiliar ou complementar do primeiro. Sendo

    pressuposto da validade do ato principal, o segundo apenas um adendo.

    Exemplos: Julgamentos administrativos que dependem de homologao

    superior, Pareceres que exigem, da mesma forma, o referendum do Chefe

    do rgo: Atos Concessrios ou Denegatrios em geral, que dependem de

    "visto", para terem eficcia, a nomeao do Procurador Geral da Repblica

    depende da prvia aprovao do Senado (art. 128, pargrafo primeiro da

    CF) a nomeao ato principal, sendo a aprovao previa o ato

    acessrio, pressuposto do principal; a dispensa de licitao, em

    determinadas hipteses, depende de homologao pela autoridade superior

    20 A ADMINISTRAO PODE ANULAR SEUS PRPRIOS ATOS, QUANDO EIVADOS DE VCIOS QUE OS TORNAM ILEGAIS, PORQUE DELES NO SE ORIGINAM DIREITOS; OU REVOG-LOS, POR MOTIVO DE CONVENINCIA OU OPORTUNIDADE, RESPEITADOS OS DIREITOS ADQUIRIDOS, E RESSALVADA, EM TODOS OS CASOS, A APRECIAO JUDICIAL.

  • para produzir efeitos; a homologao ato acessrio, complementar do

    principal.

    ***Em geral os atos que dependem de autorizao, aprovao,

    proposta, parecer, laudo tcnico, homologao, visto, etc, so atos

    compostos.

    6.4. QUANTO AO REGRAMENTO: VINCULADOS E

    DISCRICIONRIOS.

    6.4.1 VINCULADOS ou regrados: So atos administrativos cuja

    edio est condicionada a uma descrio expressamente contida na norma.

    Esto confinados pela lei ou regulamento. Em razo disso, inexiste margem

    de liberdade para o cometimento de tais atos, pelo administrador. Uma vez

    ocorrido o motivo legal circunstanciado na norma, compulsria a emisso

    do ato administrativo correspondente, que a ele se vincula. Como as

    ilegalidades, nesses casos, se devem mais abusos de poder ou vcios de

    forma, torna-se mais fcil o controle jurisdicional dos atos vinculados. A

    simples confrontao do mesmo com a norma legal autorizativa, noticia

    eventuais desconformidades legais. Exemplos: Promoo por tempo de

    servio; aposentadoria; licena para construir.

    Caractersticas: motivao decorrente. Uma vez expedidos com

    adequao ao ordenamento jurdico, e sendo, portanto, perfeitos, vlidos e

    eficazes, so irrevogveis pela Administrao. Produzem direito subjetivo

    que constituem direitos adquiridos dos administrados que preencheram os

    requisitos necessrios edio do ato. o caso tpico de licena para

    construir. Expedida pela administrao em obedincia s condies

    impositivas para a sua legalidade, no pode ser mais revogada. Em caso de

    interesse pblico relevante, a Administrao pode at mesmo desapropriar

    o imvel, promovendo a indenizao tambm decorrente do uso dos

    direitos contidos na licena - a construo.

    6.4.2 - DISCRICIONRIOS: praticados com uma certa margem de

    escolha pela Administrao Pblica, quanto oportunidade e convenincia

    de sua prtica. Temos visto, esses atos permitem ao agente pblico

    competente uma avaliao subjetiva quanto ao motivo e objeto que possam

    determinar, naquele momento, a realizao do interesse pblico a ser

    alcanado. Exemplos: punio disciplinar, promoo por mrito, licena

    para porte de arma, permisso para uso de bem pblico. Assim sendo, o

    administrador pode escolher, diante do caso concreto, uma dentre duas ou

    mais solues, todas vlidas para o Direito. So revogveis pela

    Administrao.

    QUADRO COMPARATIVO ENTRE ATOS VINCULADOS E

    DISCRICIONRIOS21

    21 Manual de Direito Administrativo Alexandre Mazza, Editora Saraiva, So Paulo, 2011.

  • Ato vinculado Ato discricionrio

    Praticado sem margem de liberdade Praticado com margem de liberdade

    Ex: aposentadoria compulsria,

    lanamento tributrio

    Ex: decreto expropriatrio,

    autorizao, permisso

    No tem mrito Tem mrito

    Pode ser anulado, mas no revogado Pode ser anulado e revogado

    Sofre controle judicial Sofre controle judicial, exceto quanto

    ao mrito

    No se confunde com ato arbitrrio

    7. QUANTO AOS EFEITOS: Internos e Externos.

    7.1 - INTERNOS: So os atos administrativos que se destinam a

    produzir efeitos no mbito interno da Administrao Pblica. Apenas

    reflexamente podem repercutir nas situaes jurdicas dos particulares.

    Exemplos: atos relativos aos horrios, locais e condies de funcionamento

    das reparties pblicas - Portarias, circulares e ordens de servio.

    Caractersticas: efeitos jurdicos restritos aos servidores pblicos,

    revogveis, controle jurisdicional amplo, necessitando ou no de

    publicao conforme o caso.

    7.2 -EXTERNOS: Atos cujos os efeitos alcanam os particulares,

    fora da Administrao Pblica. Como modificam situaes jurdicas

    externas, indispensvel sua publicao, para conhecimento prvio dos

    administrados atingidos ou no pelas suas determinaes. Exemplos: Atos

    normativos em matria tributria, Decreto ou Portaria; atos que

    estabeleam; exigncias quanto a posturas municipais; normas de concurso

    pblico do Judicirio.

    8. QUANTO A EXEQUIBILIDADE: Perfeito, Imperfeito e

    Pendente e consumado.

    8.1 PERFEITO

    o ato que foi emitido observando-se todas s exigncias legais e

    regulamentares referentes sua produo. Completou regularmente o seu

    ciclo de formao e encontra-se pronto para operar os seus efeitos.

    *Importante: no confundir ato perfeito e ato vlido o primeiro diz

  • respeito a concluso do ciclo do ato, e o segundo da observncia do

    disposto na lei. Portanto, pode existir ato perfeito, completo em sua

    formao, mas invlido.

    Exemplos: Decreto de demisso de servidor pblico, com base em

    resultados de Processo Administrativo Disciplinar, depois de publicado.

    8.2 IMPERFEITO - Trata-se de ato incompleto, que no est apto

    a produzir efeitos jurdicos porque no completou seu ciclo de formao.

    Ou seja, esto ausentes as condies legais ou regulamentares

    indispensveis sua formao. Tais como: publicao, homologao,

    autorizao.

    Exemplo: Ato normativo antes da publicao

    8.3 PENDENTE - Pendente o ato administrativo perfeito, ou

    seja, que j concluiu seu ciclo de formao e cuja operatividade encontra-se

    na dependncia de termo ou condio resolutiva. O ato pendente o ato

    que j cumpriu adequadamente, em conformidade legal sua formao,

    mas fica suspenso at que ocorra a condio ou termo. No se confunde,

    portanto, com o incompleto, que est parcialmente concludo.

    Exemplos: Ato normativo publicado, cujos efeitos passaro a vigorar

    em determinado tempo, 15 dias, 30 dias, etc

    8.4 CONSUMADO o que j exauriu os seus efeitos. Ele se torna

    definitivo, no podendo ser impugnado, quer na via administrativa, quer na

    judicial; quando muito pode gerar responsabilidade administrativa ou

    criminal quando se trata de ato ilcito, ou responsabilidade civil do Estado,

    independentemente da licitude ou no, desde que tenha causado danos a

    terceiros.

    Outra Classificao quanto aos efeitos Jos dos Santos Carvalho Filho e

    Alexandre Mazza

    9) - Quanto aos efeitos que os atos podem produzir temos:

    9.1) ATOS CONSTITUTIVOS - aqueles que alteram uma relao jurdica, cirando, modificando ou extinguindo direitos. Ex. a

    autorizao, a sano disciplinar, o ato de revogao, admisso de

    aluno em escola pblica.

    9.2) ATOS DECLARATRIOS apenas declaram situao preexistente. Ex. ato que declara que certa construo provoca riscos a integridade

    fsica dos pedestres, ou ato que constata irregularidade em rgo

    administrativo

    9.3) ATOS ENUNCIATIVOS indicam juzos de valor, dependendo, portanto, de outros atos de carter decisrio. Ex. Pareceres.

    10 - CONTROLE PELO PODER JUDICIRIO E LIMITES DA

    DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVA

  • Existe distino entre o controle exercido pelo Poder Judicirio nos atos vinculados e atos discricionrios.

    Nos atos vinculados no existe restrio pois sendo seus elementos definidos em lei, caber ao Judicirio examinar, em

    todos os seus aspectos, a conformidade do ato com a lei, para

    decretar a sua nulidade se reconhecer que tal conformidade no

    existiu.

    Nos atos discricionrios o controle judicial possvel mas ter que respeitar a discricionariedade administrativa nos limites em

    que ela garantida Administrao Pblica pela lei.

    Maria Sylvia Zanella di Pietro22 observa que essa limitao em relao aos atos discricionrios ocorre porque a

    discricionariedade um poder delimitado pelo legislador quando

    este, ao definir um determinado ato, intencionalmente deixa um

    espao livre para deciso da Administrao Pblica, legitimando

    previamente sua opo, ou seja, qualquer delas ser legal.

    Por essa razo no pode o Poder Judicirio invadir esse espao conferido pela lei ao administrador, pois, se assim ocorresse

    estaria alterando, por seus prprios critrios de escolha, a

    opo legitima feita pela autoridade competente com base em

    razes de oportunidade e convenincia que ela, melhor do que

    ningum pode decidir diante de cada caso.

    Assim, quanto ao ato discricionrio o Judicirio pode apreciar os aspectos de legalidade e verificar se a Administrao

    no ultrapassou os limites da discricionariedade hiptese em

    que o Judicirio pode invalidar o ato, porque a autoridade

    ultrapassou o espao livre deixado pela lei e invadiu o campo da

    legalidade.

    Algumas teorias tem sido elaboradas para LIMITAR o exerccio do poder discricionrio a fim de ampliar a possibilidade de sua

    apreciao pelo Poder Judicirio.

    A primeira delas relativa ao DESVIO DE PODER23 que ocorre quando a autoridade uso do poder discricionrio para

    atingir fim diferente daquele que a lei fixou.

    22 Direito Administrativo, 24 ed., Editora Atlas, So Paulo, 2011. 23 Conceito Desvio de Finalidade ou Desvio de Poder verifica-se quando a autoridade, embora

    atuando nos limites de sua competncia, pratica o ato por motivos ou com fins diversos dos objetivados

    pela lei ou exigidos pelo interesse pblico. O desvio de finalidade ou de poder , assim, a violao

    ideolgica da lei, ou, por outras palavras, a violao moral da lei, colimando o administrador pblico fins

    no queridos pelo legislador, utilizando motivos e meios imorais para a prtica de uma ato administrativo

    aparentemente legal. Tais desvio ocorrem quando por exemplo a autoridade pblica decreta uma

    desapropriao alegando utilidade pblica mas visando, na realidade, a satisfazer interesse pessoal

    prprio ou favorecer algum particular com a subseqncia transferncia do bem expropriado; ou quando

  • Quando isso ocorre, fica o Judicirio autorizado a decretar a nulidade do ato, uma vez que a Administrao fez uso imprprio

    da discricionariedade, ao desviar-se dos fins de interesse pblico

    definidos na lei.

    11 - TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES

    Essa teoria considera que os atos administrativos, quando

    forem motivados, ou seja, quando tiverem sua prtica motivada, ficam

    vinculados aos motivos expostos, para todos os efeitos jurdicos24.

    Assim sendo, tais motivos que justificam e do razo a

    realizao do ato, e, por isso mesmo, deve existir uma perfeita

    correspondncia entre eles e a realidade. De acordo com a doutrina todos os

    atos motivados, incluindo-se neste ponto tambm os atos discricionrios,

    ficam vinculados a esses motivos como causa determinante de sua

    consumao e se sujeitam ao confronto da existncia e legitimidade dos

    motivos indicados. Existindo, portanto, desconformidade entre os motivos

    determinantes e a realidade, o ato invlido.

    Assim, essa teoria se relaciona com o motivo do ato

    administrativo, prendendo o administrador aos motivos declarados ao

    tempo da edio do ato, sendo que, por essa razo ele passa a ser sujeitar

    demonstrao de sua ocorrncia. De conseguinte, caso os motivos sejam

    inexistentes ou falsos, o ato pode ser anulado.

    Fernanda Marinela25 ensina que o administrador pode

    praticar o ato administrativo, sem declarar o motivo, nas hipteses em

    que este no for exigido. No entanto, se mesmo no sendo obrigatrio

    ele assim decidir declar-lo, o administrador fica vinculado s razes

    de fato e de direito que o levaram prtica do ato.

    Ex: Se um determinado administrador decide exonerar um

    servidor ocupante de cargo em comisso alegando como motivo a

    necessidade de reduo de despesas com folha de pagamento, cumprindo

    regra para racionalizao de despesas prevista no art. 169 da CF/88, ele no

    poder nomear outra pessoa para o mesmo cargo, como resultado da

    aplicao da teoria dos motivos determinantes, que exige veracidade e o

    cumprimento do motivo alegado.

    Sobre o tema, relevante mencionar o teor do acrdo proferido

    pelo e. STJ publicado em 03/11/2009, seno vejamos: outorgar uma permisso sem interesse coletivo; ou ainda, quando classifica um concorrente por

    favoritismo, sem atender os fins objetivados pela licitao. (Hely Lopes Meirelles. Direito Administrativo

    Brasileiro. Ed. Malheiros, 29 ed., So Paulo 2004) 24 Hely Lopes Meirelles. Direito Administrativo Brasileiro. Ed. Malheiros, 29 ed., So Paulo 2004 25 Direito Administrativo, 4 ed., Editora Impetus, Niteri/RJ, 2010

  • RECURSO EM MANDADO DE SEGURANA N 19.013 - PR (2004/0136853-0) RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ

    RECORRENTE : RONALDO PORTUGAL BACELLAR

    ADVOGADO : ROMEU FELIPE BACELLAR FILHO E OUTRO(S)

    T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DO PARAN

    IMPETRADO : DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA COMISSO DE

    CONCURSOS E PROMOES DO TRIBUNAL DE JUSTIA DO

    ESTADO DO PARAN

    RECORRIDO : ESTADO DO PARAN

    ADVOGADO : CLEIDE ROSECLER KAZMIERSKI

    EMENTA

    ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINRIO EM MANDADO DE SEGURANA.

    SERVIDOR PBLICO ESTADUAL. PROGRESSO FUNCIONAL POR

    MERECIMENTO. DECRETO. DISPOSIO CONTRRIA A LEI. ATO

    ADMINISTRATIVO DISCRICIONRIO.

    MOTIVAO. TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES.

    (...)4. "Ao motivar o ato administrativo, a Administrao ficou vinculada aos motivos

    ali expostos, para todos os efeitos jurdicos. Tem a aplicao a denominada teoria dos

    motivos determinantes, que preconiza a vinculao da Administrao aos motivos ou

    pressupostos que serviram de fundamento ao ato. A motivao que legitima e confere

    validade ao ato administrativo discricionrio. Expostos os motivos, a validade do ato

    fica na dependncia da efetiva existncia do motivo. Presente e real o motivo, no

    poder a Administrao desconstitu-lo a seu capricho. Por outro lado, se inexistente o

    motivo declarado na formao do ato, o mesmo no tem vitalidade jurdica."

    (RMS 10.165/DF, 6. Turma, Rel. Min. Vicente Leal, DJ de 04/03/2002).

    5. No caso dos autos, no mais existindo o nico fundamento em que se embasou o ato

    administrativo, em face da revogao do inciso II do art. 4 do Decreto n. 190/2000,

    inexiste fato concreto que obste a progresso funcional do Impetrante, sendo nulo o ato

    impugnado, por falta de motivao.

    6. Recurso ordinrio conhecido e provido.

    12 - EXTINO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

    12.1. CONSIDERAES GERAIS

    Como visto no tpico anterior, os atos administrativos correspondem

    a declaraes de vontade do Estado destinadas a produzir modificaes na

    ordem jurdica. Essas modificaes, que resultam dos efeitos jurdicos do

    ato, possuem um balisamento claro - definido no ordenamento.

    Preordenam-se realizao de fins de interesse pblico e so limitados

    pela legalidade, entendida esta na sua mais ampla latitude (Finalidade,

    moralidade, razoabilidade, proporcionalidade, motivao, boa-f).

    de fcil constatao que os fins buscados pela Administrao

    Pblica, na tutela dos interesses gerais, podem assentar-se em providncias

    de carter permanente (Desapropriao, nomeao) ou transitrio

    (Permisso, concesso de frias). Por outro lado, a defesa da finalidade

  • pblica pretendida pela Administrao, quando atuante em situaes

    jurdicas concretas no imutvel. Deve acompanhar, na dinamicidade em

    que se verificam as transformaes da realidade ftica, a legtima expresso

    do interesse pblico. Finalmente, nem sempre o ato administrativo editado

    pelo poder pblico se adequa moldura legal traada pelo ordenamento

    para assegurar-lhe eficcia.

    Essa breve viso panormica j sugere inmeras causas de extino

    dos atos administrativos. Vamos analisar cada uma delas, comeando pelas

    mais simples ou comuns.

    12.2 - CAUSAS DA EXTINO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS -

    MODALIDADES

    Procurando sistematizar didaticamente essas causas, vamos adotar,

    classificao feita Celso Antnio Bandeira de Mello26, segundo quem um

    ato administrativo extingue-se por:

    I Cumprimento de seus efeitos, o que pode suceder pelas seguintes

    razes:

    a) esgotamento do contedo jurdico. Fluncia de seus efeitos ao longo do

    prazo previsto para ocorrerem. Ex: o gozo de frias de um funcionrio;

    b) execuo material. Ocorre quando o ato se preordena a obter uma

    providncia desta ordem e ela cumprida. Ex. a ordem, executada, de

    demolio de uma casa.

    c) implemento da condio resolutiva ou termo final Ex: permisso a um

    administrado para derivar gua de um rio, se este no baixar aqum de

    certa cota.

    II- desaparecimento do sujeito ou do objeto. Ex: morte de um

    funcionrio extingue os efeitos da nomeao.

    III retirada, que abrange:

    a) REVOGAO, em que a retirada se d por razes de convenincia e oportunidade;

    b) INVALIDAO, por razes de ilegalidade; c) CASSAO, em que a retirada se d porque o destinatrio

    descumpriu condies que deveriam permanecer atendidas a fim de

    poder continuar desfrutando da situao jurdica.

    d) CADUCIDADE, em que a retirada se deu porque sobreveio norma jurdica que tornou inadmissvel a situao antes permitida pelo

    direito e outorgada pelo ato precedente..

    26 Curso de Direito Administrativo. Ed, Malheiros, 27 ed., So Paulo, 2010.

  • e) CONTRAPOSIO em que a retirada se d porque foi emitido ato com fundamento em competncia diversa que gerou o ato

    anterior, mas cujos efeitos so contrapostos aos daquele. Ex: caso

    da exonerao de funcionrio que tem efeitos contrapostos ao da

    nomeao.

    IV Renncia, pelo qual se extinguem os efeitos do ato porque o prprio

    beneficirio abriu mo de um vantagem de que desfrutava.

    PREVISO LEGAL

    LEI. 9.784/99 e a j citada Smula 473 do E. STF e a Smula 346

    daquela Colenda Corte de Justia.

    CAPTULO XIV DA ANULAO, REVOGAO E CONVALIDAO

    Art. 53. A Administrao deve anular seus prprios atos, quando eivados de vcio de legalidade, e pode revog-los por motivo de convenincia ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

    Art. 54. O direito da Administrao de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favorveis para os destinatrios decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada m-f.

    1o No caso de efeitos patrimoniais contnuos, o prazo de decadncia contar-se- da percepo do primeiro pagamento.

    2o Considera-se exerccio do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnao validade do ato.

    Smula 473

    A ADMINISTRAO PODE ANULAR SEUS PRPRIOS ATOS, QUANDO EIVADOS DE

    VCIOS QUE OS TORNAM ILEGAIS, PORQUE DELES NO SE ORIGINAM DIREITOS;

    OU REVOG-LOS, POR MOTIVO DE CONVENINCIA OU OPORTUNIDADE,

    RESPEITADOS OS DIREITOS ADQUIRIDOS, E RESSALVADA, EM TODOS OS CASOS,

    A APRECIAO JUDICIAL.

    Smula 346

    A ADMINISTRAO PBLICA PODE DECLARAR A NULIDADE DOS SEUS PRPRIOS

    ATOS.

    12.3 - EXTINO PELA ADMINISTRAO

    a) REVOGAO

    a extino, pela Administrao Pblica, de ato administrativo

    legal, por motivo de convenincia e oportunidade. A revogao,

    diferentemente da invalidao, opera seus efeitos a partir da data de

  • vigncia do ato revocatrio. Produz efeitos ex nunc, portanto. Todos

    os efeitos do ato revogado, at aquela data so mantidos, uma vez que

    provm de ato administrativo legal, cujos efeitos tornaram-se

    inoportunos ou inconvenientes para a Administrao por razes de

    ordem administrativa.

    A faculdade de revogar os prprios atos tem fundamento no poder de

    autotutela reservado Administrao Pblica, consagrado na smula 473

    do STF, citada, assim redigida: A Administrao pode anular seus

    prprios atos, quando eivados de vcios que os tornem ilegais, porque

    deles no se originam direitos; ou revog-los, por motivos de convenincia

    ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos

    os casos, a apreciao judicial.

    O fundamento do poder de revogar, de acordo com Celso Antnio

    Bandeira de Mello27, reside na utilizao, pelo agente, do poder

    administrativo contido na mesma regra de competncia que autorizou a

    edio do ato.

    A natureza do poder de revogar , portanto,

    discricionria. So irrevogveis os seguintes atos administrativos:

    a) Vinculados - resultam de comando descrito e preordenado na

    norma, indispensvel atividade administrativa, que s outra norma

    legislativa pode alterar a moldura legal, irretocvel pela Administrao

    (Portaria que concede adicional por tempo de servio;

    licena para construir, Edital de Licitao); b) os que produzem DIREITO ADQUIRIDO para os seus

    destinatrios (Decreto de nomeao de concursado, depois da

    posse; Portaria de promoo por mrito, depois de

    publicada); c) os CONSUMADOS, aqueles que j produziram os seus efeitos.

    (Portaria de frias, depois de gozadas; ordem de demolio de construo

    irregular, uma vez executada);

    d) os MEROS ATOS ADMINISTRATIVOS, cujos os efeitos

    decorrem e so reconhecidos por lei, quando regularmente praticados

    (Certides, Declaraes, Atestados).

    Embora ressinta-se alguma discrepncia quanto competncia para

    revogar ato administrativo, a questo nos parece induvidosa. Estamos de

    pleno acordo com o entendimento jurdico predominante, muito bem

    expresso por Maria Sylvia Zanella Di Pietro28, que cita Miguel Reale ao

    27 Celso Antnio Bandeira de Mello, Elementos de Direito Administrativo, 2 edio, p. 134/135, RT,

    1991. 28 Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Direito Administrativo, p. 188, Atlas, 1990.

  • pontificar que: a competncia para revogar ato administrativo assiste

    tanto autoridade que praticou como ao seu superior hierrquico. Em

    vista das propriedades jurdicas imanentes ao poder hierrquico, que

    concede autoridade superior os poderes de DELEGAO,

    AVOCAO e REVISO de competncias relativas aos

    subordinados, e como a revogao pressupe uma reavaliao

    discricionria dos motivos do ato, no h dvida quanto a esse

    cabimento.

    b) INVALIDAO A invalidao ocorre quando a prpria Administrao Pblica

    extingue o ato administrativo praticado com vcio de ilegalidade ou

    ilegitimidade.

    Com base no poder de autotutela, a Administrao pode rever os

    prprios atos ilegais ou ilegtimos. o que preceitua a smula 473 do STF.

    Esta modalidade de extino do ato administrativo, que alguns

    preferem denominar indistintamente de anulao, sem diferenci-la daquela

    procedida pelo Judicirio, pelos mesmos motivos, pode ocorrer em duas

    hipteses.

    **Quando a ilegalidade constatada pela Administrao em

    decorrncia de seus mecanismos internos de controle, quando apontada

    em RECURSOS ADMINISTRATIVOS ou nasce de REPRESENTAO

    do particular (CF, Art. 5, XXXIV, a29). Em todos os casos, dever da

    Administrao Pblica promover a invalidao do ato ilegal.

    A impositividade absoluta, sob toda a atividade administrativa,

    do princpio da legalidade, no deixa qualquer margem

    discricionariedade, nesta deciso que lhe obrigatria. Os efeitos da

    invalidao repercutem ex tunc, ou seja, a partir da data da emisso

    do ato, desconstitundo todos os seus efeitos.

    Da invalidao resultam as seguintes conseqncias jurdicas a

    serem consideradas no Direito administrativo:

    a) a desconstituio das situaes jurdicas geradas pelo ato

    invalidado no atinge os terceiros de boa-f, pois atua em seu favor a

    presuno de legitimidade dos atos administrativos. De acordo com esse

    princpio presumem-se legais e conformes ao Direito os atos praticados

    pelos agentes pblicos no exerccio de suas funes. Descabe ao

    29 XXXIV - so a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

    a) o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

  • administrado sindicar, em circunstncias normais, a existncia de possveis

    ilegitimidades em atos aparentemente legais e chancelados pela tutela

    oficial. Inequvoca, neste sentido, a lio de Hely Lopes Meirelles30.

    b) a anulao, pela via judicial, de ato administrativo invalidatrio,

    pode reconstituir os efeitos, ou seja, repristinar o ato invalidado. Sujeito,

    em todos os casos, a controle jurisdicional, evidente que a reviso de ato

    invalidatrio no apenas seria possvel, como teria o nico fim de

    reconstituir os efeitos do ato invalidado.

    c) CASSAO

    a forma de extino do ato administrativo determinada pela

    Administrao, em razo de descumprimento de exigncias pertinentes

    manuteno de sua vigncia ou validade. Incidente, em comum, sobre os

    atos discricionrios e precrios (ALVARS, AUTORIZAES,

    PERMISSES) a cassao corresponde a uma sano ao beneficirio

    que inobservou as normas e regulamentos relativos ao exerccio da

    atividade permitida. Caso contrrio, mudana de orientao

    administrativa que determine a reviso do ato ou sua suspenso,

    tratar-se- de revogao.

    Ex: cassao de licena para funcionamento de hotel por haver

    se convertido em casa de tolerncia

    d) DECAIMENTO OU CADUCIDADE

    Esse tipo de extino do ato administrativo ocorre quando

    modificaes na ordem jurdica, posterior sua emisso, torna impossvel

    sua validade. Em outras palavras, a situao jurdica criada pela lei

    superveniente, torna incompatvel a vigncia do ato administrativo. Assim,

    o ato administrativo que autoriza instalao de barracas para vendas de

    bilhetes de loterias, DECAI ou CADUCA nos efeitos que permitia, haja

    vista lei nova que probe instalaes de quaisquer barracas nas caladas da

    cidade.

    Ex: caducidade de permisso para explorar parque de diverses em local que, em face da nova lei de zoneamento, tornou-se

    incompatvel com aquele tipo de uso.

    12.4 - EXTINO PELO JUDICIRIO OU POR ALTERAO NA

    ORDEM JUDICIRIA 30 Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, p. 182/183, 15 edio, RT, 1991.

  • ANULAO

    a extino do ato administrativo pelo Judicirio, mediante

    provocao da Administrao Pblica ou de particular, em razo de vcio

    de ilegalidade ou ilegitimidade.

    A legitimidade, na lio de Hely Lopes Meirelles31, vem quase

    sempre disfarada na legalidade. No facilmente constatvel. Exige que o

    Judicirio penetre no exame dos elementos intrnsecos ao ato. Avalie os

    motivos, disseque os fatos e vasculhe as provas que deram origem prtica

    do ato inquinado de nulidade.

    De fato, apenas as ilegalidades resultantes dos vcios mais comuns

    aos atos administrativos so aferveis no Judicirio sem maiores

    investigaes. So, exemplificativamente, os casos de: vcio de

    competncia - abuso de poder; vcio de forma - Portaria em lugar de

    Decreto; vcio de motivo - inexistncia ou falsidade do motivo alegado;

    vcio quanto ao objeto - objeto impreciso, impossvel ou ilcito.

    A apreciao dos elementos intrnsecos ao ato - motivo, objeto,

    finalidade - bem como a verificao da natureza da causa, que a relao

    de causalidade lgica que conjuga os trs elementos com o substrato

    jurdico do ato, o dever do Judicirio, em todos os casos.

    Vale dizer ainda, como bem coloca a administrativista Maria

    Sylvia32que os vcios no direito civil correspondem aos trs elementos

    do ato jurdico: sujeito, objeto e forma e no direito administrativo

    atingem os cinco elementos formadores do ato, caracterizando assim

    vcios quanto competncia, capacidade (em relao ao sujeito),

    forma, objeto motivo e finalidade.

    Essa concluso exsurge clara do Direito Positivo vigente, com base

    na simples leitura dos seguintes preceitos: - CF, Art. 37 - A administrao pblica direta, indireta ou Fundacional, de

    qualquer dos poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios

    obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade.

    - Lei 4.717/65- ao popular, Art. 2 - So nulos os atos lesivos ao patrimnio

    das entidades do artigo anterior (Pessoas governamentais, entidades da administrao

    indireta ou subvencionados pelos cofres pblicos), nos casos de:

    a) incompetncia;

    b) vcio de forma;

    c) ilegalidade do objeto;

    d) inexistncia dos motivos;

    e) desvio de finalidade.

    Pargrafo nico: Para a conceituao dos casos de nulidade observar-se-o-o

    as seguintes normas:

    31 Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, p. 181, 16 edio, RT, 1990. 32 idem

  • A) a incompetncia fica caracterizada quando o ato no se incluir nas

    atribuies legais do agente que o praticou;

    B) o vcio de formas consiste na omisso ou na observncia incompleta ou

    irregular de formalidades indispensveis existncia ou seriedade do ato;

    C) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em

    violao da lei, regulamento ou outro ato normativo;

    D) a inexistncia dos motivos se verifica quando a matria de fato ou de direito,

    em que se fundamenta o ato materialmente inexistente ou juridicamente inadequada

    ao resultado obtido;

    E) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim

    diverso daquele previsto, explcita ou implicitamente, na regra de competncia.

    A anulao do ato administrativo pelo Judicirio opera ex

    tunc, extinguindo os efeitos do ato anulado desde o momento de sua

    edio.

    O princpio da segurana das relaes jurdicas, no entanto,

    recomenda a estabilidade das relaes constitudas. Luz desse enunciado,

    conforme Celso Antnio Bandeira de Mello33, que atribui ao Direito o

    dever de pacificao dos vnculos contrados, a fim de preservar a ordem,

    que a doutrina e a jurisprudncia vm atuando no sentido de mitigar o rigor

    dessa abrangncia, em alguns casos. A favor dos terceiros de boa-f - cujas

    situaes jurdicas so atingidas pela extino de ato administrativo ilegal-,

    pronuncia-se tanto a doutrina como julgados significativos de nosso

    repertrio jurisprudencial.

    Hely Lopes Meirelles34, menciona o caso de anulao de nomeao

    irregular de funcionrio pblico cujos atos praticados permanecem vlidos

    em relao aos particulares, que no caso so terceiros de boa-f. De fato

    no compete quele que se relaciona com a Administrao Pblica sindicar

    da legitimidade dos atos praticados por agentes que atuam sob a chancela

    oficial e em nome do Estado.

    13. CONVALIDAO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS.

    13.1 INTRODUO

    Antes de mencionar as hipteses de convalidao dos atos administrativos necessrio relembrar os elementos que o

    constituem e que so requisitos para sua validade:

    COMPETNCIA (ou Sujeito); OBJETO, FORMA, MOTIVO E

    FINALIDADE

    Assim, caso haja defeitos no ato administrativo, ou seja, na hiptese do ato ter sido praticado em desconformidade com as

    33 Celso Antnio Bandeira de Mello, Ob. Cit., p. 149. 34 Hely Lopes Meirelles, Ob. Cit., p. 183.

  • exigncias legais, estes atingiro os requisitos acima

    mencionados e sero passveis de anulao ou sero nulos.

    Desta forma, alguns atos maculados por vcios/defeitos podem ser convalidados quando os atos forem anulveis, ou no

    podem ser convalidados nos casos de nulidade absoluta.

    Para melhor entendimento das possibilidades que a doutrina reconhece para a convalidao dos atos administrativos

    maculados por vcios necessrio relembrarmos as hipteses de

    sua existncia positivados na Lei da Ao Popular, seno

    vejamos:

    - Lei 4.717/65-, Art. 2 - So nulos os atos lesivos ao patrimnio das entidades

    do artigo anterior (Pessoas governamentais, entidades da administrao indireta ou

    subvencionados pelos cofres pblicos), nos casos de:

    a) incompetncia;

    b) vcio de forma;

    c) ilegalidade do objeto;

    d) inexistncia dos motivos;

    e) desvio de finalidade.

    Pargrafo nico: Para a conceituao dos casos de nulidade observar-se-o-o

    as seguintes normas:

    A) a incompetncia fica caracterizada quando o ato no se incluir nas

    atribuies legais do agente que o praticou;

    B) o vcio de formas consiste na omisso ou na observncia incompleta ou

    irregular de formalidades indispensveis existncia ou seriedade do ato;

    C) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em

    violao da lei, regulamento ou outro ato normativo;

    D) a inexistncia dos motivos se verifica quando a matria de fato ou de

    direito, em que se fundamenta o ato materialmente inexistente ou juridicamente

    inadequada ao resultado obtido;

    E) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a

    fim diverso daquele previsto, explcita ou implicitamente, na regra de competncia.

    13.2 CARACTERSTICAS DOS VCIOS

    QUANTO AO SUJEITO COMPETNCIA PARA PRATICAR O

    ATO podem ser apontados quatro defeitos principais:

    A) USURPAO DE FUNO PBLICA MAIS GRAVE

    DEFEITO REFERENTE A ESSE REQUISITO DE VALIDADE DO ATO

    ADMINISTRATIVO.

    * Ocorre quando o ato privativo da Administrao praticado por

    particular que no agente pblico.

    * A pessoa que pratica o ato no foi por qualquer modo investida no cargo,

    emprego ou funo ele se apossa, por conta prpria, do exerccio de

    atribuies prprias de agente pblico.

  • CRIME definido pelo art. 328 do CP: usurpar o exerccio de funo

    pblica

    Ex: auto de priso expedido por quem no delegado; multa de trnsito

    lavrada por particular e sentena prolatada por candidato reprovado no

    concurso da Magistratura.

    B) EXCESSO DE PODER

    * Ocorre quando a autoridade pblica, embora competente para praticar o

    ato, ultrapassa os limites de sua competncia exagerando nos meios para

    defender o interesse pblico.

    * O Excesso de pode causar nulidade da atuao administrativa.

    Ex: quando a autoridade, competente para aplicar a pena de suspenso,

    impe penalidade mais grave, que no de sua atribuio; ou quando a

    autoridade policial se excede no uso da fora para praticar ato de sua

    competncia; destruio, pela fiscalizao de carro estacionado em local

    proibido.

    C) FUNO DE FATO

    * aquele ato praticado por individuo que est irregularmente investido no

    cargo, emprego ou funo (vcio de investidura), ainda que sua situao

    tenha toda aparncia de legalidade.

    Ex: cargo que exigia concurso, mas foi provido por nomeao poltica;

    falta de requisito legal para investidura, como certificado de sanidade

    vencido; inexistncia de formao universitria, para funo que a exige;

    idade inferior ao mnimo legal; o mesmo ocorre quando o servidor est

    suspenso do cargo, ou exerce funes depois de vencido o prazo de sua

    contratao, ou continua no exerccio aps a idade-limite para

    aposentadoria compulsria.

    D) INCOMPETNCIA este vcio ocorre como determinado pelo j

    citado pargrafo nico do art. 2 da Lei 4.717/6, ou seja, quando o ato no

    se incluir nas atribuies legais de quem o praticou a incompetncia

    torna o ato anulvel, autorizando sua convalidao.

    QUANTO AO OBJETO * no tocante ao contedo o ato pode ter alm da hiptese de vcio previsto

    na j citada Letra c., pargrafo nico do art. 2 da Lei da Ao Popular.

    (a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em

    violao da lei, regulamento ou outro ato normativo;) outras hipteses de

    ocorrncia.

    Isso porque o objeto deve ser LICITO POSSVEL (DE FATO E DE

    DIREITO), MORAL E DETERMINADO.

  • De acordo com Maria Sylvia Zanella di Pietro35 haver vcio em relao ao objeto quando qualquer desses requisitos deixarem de ser

    observados, o que ocorrer quando for:

    1 proibido por lei; por exemplo: um Municpio que desaproprie bem

    imvel da Unio;

    2 diverso do previsto na lei para o caso sobre o qual incide; por exemplo:

    a autoridade aplica a pena de suspenso, quando cabvel a de repreenso;

    3 impossvel, porque os efeitos pretendidos so irrealizveis, de fato ou

    de direito; por exemplo: a nomeao para um cargo inexistente;

    4 imoral, por exemplo: parecer emitido sob encomenda, apesar de

    entendimento contrrio de quem o profere;

    5 incerto em relao aos destinatrios, s coisas, ao tempo, ao lugar, por

    exemplo: desapropriao de bem no definido com preciso.

    QUANTO A FORMA * Consiste na observncia incompleta ou irregular, ou na omisso de

    formalidades indispensveis existncia ou seriedade do ato.

    o vcio de formas consiste na omisso ou na observncia incompleta ou

    irregular de formalidades indispensveis existncia ou seriedade do ato

    Letra b, pargrafo nico do art. 2 da Lei da Ao Popular.

    QUANTO AO MOTIVO * Ocorre quando houver inexistncia ou falsidade do motivo. A primeira

    hiptese se verifica quando a matria de fato ou de direito, em que

    fundamenta o ato, materialmente inexistente ou juridicamente inadequada

    ao resultado obtido.

    a inexistncia dos motivos se verifica quando a matria de fato ou de

    direito, em que se fundamenta o ato materialmente inexistente ou

    juridicamente inadequada ao resultado obtido; Letra d, pargrafo nico

    do art. 2 da Lei da Ao Popular.

    A segunda hiptese falsidade se d quando o motivo alegado no

    corresponde aquele efetivamente ocorrido.

    Ex: se a Administrao pune um funcionrio, mas este no praticou

    qualquer infrao, o motivo inexistente; se ele praticou infrao diversa, o

    motivo falso.

    QUANTO A FINALIDADE DESVIO DE PODER OU DESVIO

    DE FINALIDADE

    * o vicio definido pela Lei como aquele que se verifica quando o agente

    pratica ato visando a fim diverso daquele previsto, explicita ou

    implicitamente, na regra de competncia Letra e, pargrafo nico do art.

    2 da Lei da Ao Popular.

    * O desvio de finalidade se comprova atravs de indcios, vez que o agente

    no declara de forma explicita sua verdadeira inteno para dar a impresso

    35 Direito Administrativo. 24 ed. Editora Saraiva, So Paulo, 2011.

  • de que o ato legal, como por exemplo: motivao insuficiente,

    contraditria, camuflagem de fatos, inadequao entre os motivos e os

    efeitos etc.

    Ex: desapropriao feita para prejudicar determinada pessoa caracteriza

    desvio de poder porque o ato no foi praticado para atender a um interesse

    pblico; remoo ex officio do funcionrio, permitida para atender

    necessidade do servio, constituir desvio de poder se for feita com o

    objetivo de punir.

    Vcios em Espcie36 DEFEITO CARACTERIZAO CONSEQUNCIA

    Usurpao de funo

    pblica

    Particular pratica ato

    privativo de servidor

    Ato inexistente

    Excesso de Poder Ato praticado pelo

    agente competente,

    mas excedendo os

    limites de sua

    competncia

    Ato nulo

    Funcionrio de fato Individuo que

    ingressou

    irregularmente no

    servio pblico

    Agente de boa-f

    ato anulvel

    Agente de ma-f ato

    nulo

    Incompetncia Servidor pratica ato

    fora de suas atribuies

    Ato anulvel

    Objeto materialmente

    impossvel

    Ato exige conduta

    irrealizvel

    Ato inexistente

    Objeto juridicamente

    impossvel

    Ato exige

    comportamento ilegal

    Exigncia ilegal: ato

    nulo

    Exigncia criminosa:

    ato inexistente

    Omisso de

    formalidade

    indispensvel

    Descumprimento da

    forma legal para

    prtica do ato

    Ato anulvel

    Inexistncia do motivo O fundamento de fato

    no ocorreu

    Ato nulo

    Falsidade do motivo O motivo alegado no

    corresponde ao que

    efetivamente ocorreu

    Ato nulo

    Desvio de Finalidade Ato praticado visando

    fim alheio ao interesse

    Ato nulo

    36 Tabela demonstrativa retirada do livro Manual de Direito Administrativo. Alexandre Mazza. Editora

    Saraiva, So Paulo, 2011

  • pblico

    13.3 - CONSEQUNCIAS DECORRENTES DOS VCIOS

    No do interesse do estudioso do Direito Administrativo o

    aprofundamento sobre determinadas polmicas que consomem pginas e

    pginas das obras de Direito.

    Este tema um deles, vez que traz inmeras divergncias

    doutrinrias.

    preciso lembrar, no ensino do Direito Pblico, a esse respeito, que

    esta sociedade, em razo da extrema rapidez das mudanas de padres

    histricos, culturais, econmicos e sociais, que se verificam, a todo o

    momento, compelida a raciocinar - tambm nas suas relaes jurdicas e

    principalmente em relaes jurdicas mantidas com o Estado - com base em

    padres do sculo XXI.

    Posto isso, parte-se do princpio que existem atos administrativos

    vlidos e invlidos, sendo que estes ltimos recebem diferentes tratamentos

    na ordem jurdica, dependendo do maior ou menor grau de

    desconformidade que apresentarem em relao ao padro legal pertinente.

    Resulta, que os atos invlidos podem ser sanveis ou insanveis.

    Conseqentemente, convalidveis ou no convalidveis.

    Dentro da classificao daqueles que so invlidos acompanha-se o

    categorizado entendimento de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Celso

    Antnio Bandeira de Melo e Cretella Junior, de que existem no Direito

    Administrativo os atos nulos, anulveis e inexistentes.

    CONCEITOS

    ATOS VLIDOS so praticados pela autoridade competente atendendo a todos os requisitos exigidos pela ordem jurdica;

    ATOS NULOS aqueles expedidos em desconformidade com as regras do sistema normativo. Possuem defeitos insuscetveis

    de convalidao, especialmente nos requisitos do OBJETO,

    MOTIVO E FINALIDADE. Ex. ato praticado com desvio de

    finalidade;

    ATOS ANULVEIS praticados pela Administrao Pblica com vcios sanveis na competncia e na forma. Admitem

    convalidao. Ex: ato praticado por servidor incompetente

    ATOS INEXISTENTES37 possuem um vcio gravssimo no ciclo de formao impeditivo da produo de qualquer efeito

    jurdico. Ex: ato praticado por usurpador de funo pblica;

    37 Celso Antnio Bandeira de Mello. De acordo com esse doutrinador esse atos correspondem a condutas

    criminosas ofensivas a direitos fundamentais da pessoa humana, ligados sua personalidade ou dignidade

    intrnseca e, como tais, resguardados por princpios gerais do direito que informam o ordenamento

    jurdico dos povos civilizados

  • 14, CONVALIDAO

    A convalidao a correo de defeito verificado em ato

    administrativo, pela emisso de outro ato com efeito retroativo. A

    convalidao ocorre com freqncia na Administrao Pblica,

    visando o saneamento de falhas que no justificam a anulao do ato

    convalidado, desde que constatadas atempadamente. Isto , antes da

    declarao da invalidade pela Administrao ou de anulao pelo

    Judicirio.

    Esse instituto est previstos na Lei 9.784/99 em seu artigo 55, que

    assim dispe:

    Art. 55. Em deciso na qual se evidencie no acarretarem leso ao interesse pblico nem prejuzo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanveis podero ser convalidados pela prpria Administrao.

    No conceito traado por Maria Sylvia Zanella di Pietro38 temos

    que Convalidao ou Saneamento o ato administrativo pelo qual

    suprido o vcio existente em um ato ilegal, com efeitos retroativos data

    em que este foi praticado.

    Normalmente a convalidao opera sobre vcios formais,

    incompetncia suprvel retroativamente pela autoridade competente para a

    sua prtica, ou a respeito de atos maculados, enfim, com vcios adjetivos

    que no comprometam a licitude das finalidades, do motivo ou do objeto.

    Vale ainda para exemplificao os seguintes casos:

    1) anulao de nomeao irregular de funcionrio pblico e a

    conseqente convalidao dos atos praticados, no resguardo das situaes

    que envolvem terceiros de boa-f;

    2) loteamento irregular, cuja convalidao at o momento da

    anulao e adequao s exigncias legais nas relaes futuras, visa

    resguardar interesse pblico superior, de segurana e estabilidade nas

    relaes jurdicas, bem jurdico indisponvel pela Administrao.

    Como visto, convalidao o suprimento da invalidade de um ato, com efeitos retr