matéria de andrea ramal para folha dirigida

1
Educação FOLHA DIRIGIDA www.folhadirigida.com.br 15 a 21 de novembro de 2011 CADERNO DE RENATO DECCACHE [email protected] Todos sabem que o papel da es- cola é educar. Porém, a educação também vem do berço. Os pais podem (e devem!) auxiliar no processo ensino-aprendizagem. Acompanhar cotidianamente as tarefas e dar autonomia para in- centivar a responsabilidade e a adequação comportamental são detalhes fundamentais para que os pais cumpram seu papel de orientador dos filhos em idade escolar. “Uma boa educação é o resultado de um trabalho bem feito pela escola e pela família”, defende a doutora em Educação pela PUC-Rio Andrea Ramal, autora do livro Depende de Você: Como fazer de seu filho uma histó- ria de sucesso. A ideia de que o envolvimen- to dos pais constitui um fator de sucesso escolar parece cons- tituir um consenso social. Mas no seu reverso encontra-se um conjunto de críticas, relativas à relação que os pais estabele- cem com a escola, bem como ao próprio funcionamento da família. Na cultura ocidental, os pais de hoje demitem-se muitas vezes das suas funções paternais. Atitude que se deve, em parte, à própria concepção do mundo moderno e, por ou- tro prisma, aos condicionamen- tos da sociedade, a que muitos pais estão também sujeitos. Nesta entrevista, Andrea Ramal aborda algumas questões desse difícil relacionamento, dá algu- mas dicas para os pais - que em seu livro divide em dez tópicos - e ainda orienta as duas partes para que se contorne os problemas e a educação funcione como uma sinfonia tocada por uma grande orquestra bem ensaiada. NO LIVRO “DEPENDE DE VOCÊ: COMO FAZER DE SEU FILHO UMA HISTÓRIA DE SUCESSO”, A SENHORA APRESEN- TA ORIENTAÇÕES PRÁTICAS E SEGU- RAS PARA OS PAIS ACOMPANHAREM O DESEMPENHO ESCOLAR DOS FI- LHOS. QUAL A CONTRIBUIÇÃO MAIS IMPORTANTE QUE OS PAIS PODEM TRAZER PARA O APRENDIZADO DOS FILHOS? POR QUÊ? Andrea Ramal - Se os pais dese- jam que seus filhos sejam pessoas de sucesso, isto é, pessoas com- petentes, que se relacionam bem com os demais, com equilíbrio pessoal, autoconfiantes, bem re- solvidas e felizes, eles precisam entender que isso tem a ver com a educação que se recebe. Uma boa educação é resultado de um trabalho bem feito pela escola e pela família. Quanto maior o envolvimento dos pais com o estudo dos filhos, melhores são os seus resultados na escola e também ao longo da vida. O mais importante é a qualidade da pre- sença: o diálogo com o filho, com interesse sobre o que acontece na escola, atenção para ver se ele aprende tudo o que deveria, e a intervenção junto à escola nos momentos de dificuldade. ALÉM DA ORIENTAÇÃO QUE A SENHO- RA CONSIDERA A PRINCIPAL, QUAIS OUTRAS ACREDITA QUE SÃO IMPOR- TANTES? Os pais devem exigir compromis- so dos filhos com os estudos e, ao mesmo tempo, apoiá-los quando surgem problemas, por- que ninguém aprende por cobran- ça, e sim por estar interessado nos conhecimentos novos. Os pais precisam ajudar a organizar a agenda diária dos filhos, colocan- do o estudo no horário nobre, quando a criança e o jovem es- tão bem dispostos. Verificar se os deveres estão feitos, se a maté- ria não está se acumulando para estudar só na véspera da prova. Participar de todas as reuniões de pais e acompanhar o trabalho da escola, para ver se ela oferece um ensino de qualidade, com aulas interessantes, materiais e recur- sos atualizados e bons professo- res. E mostrar ao filho que estu- dar é importante e vale a pena. A SENHORA DEFENDE QUE UMA DAS RAZÕES PARA OS ALUNOS BRASILEI- ROS NÃO APRENDEREM O QUE PODE- RIAM É A FALTA DE ACOMPANHAMEN- TO DA VIDA ESCOLAR DOS FILHOS, POR PARTE DOS PAIS. POR QUÊ? Uma educação de qualidade é o resultado do trabalho de uma equipe: a escola e a família. Para nenhuma delas, educar é fácil, porque os desafios de hoje são diferentes dos de outras épocas. Para formar uma pessoa comple- ta, com as competências neces- sárias para viver bem no mundo de hoje, e com todas as suas di- mensões desenvolvidas (intelec- tual, afetiva, física, social, cida- dã...) a escola e a família preci- sam atuar em conjunto, uma re- forçando o trabalho da outra. O problema é que muitas famílias entregam a responsabilidade de educar quase totalmente para a escola. Outras gostariam de acompanhar os estudos, mas não sabem como fazer isso. A SENHORA TAMBÉM RESSALTA QUE NOS PAÍSES COM SISTEMAS EDUCA- CIONAIS MAIS AVANÇADOS, A PARCE- RIA ESCOLA/FAMÍLIA FUNCIONA DE FORMA EFICAZ. COMO ESSA RELA- ÇÃO É INCENTIVADA PELAS ESCOLAS, NESSES PAÍSES? Na Coreia do Sul, cujos estudan- tes estão entre os mais bem co- locados do mundo, as escolas oferecem cursos das matérias principais, para que os pais acom- panhem o que os filhos apren- dem. Ao mesmo tempo, existem países em que funcionam “Esco- las de Pais”, nas quais o colégio ensina às famílias como acom- panhar os estudos e também dá orientações sobre problemas de hoje, como uso da internet, bullying, drogas, afetividade e educação sexual, preconceito, consumismo. UMA DAS ALEGAÇÕES MAIS COMUNS DOS RESPONSÁVEIS É A FALTA DE TEMPO, PELO FATO DE, HOJE EM DIA, PAIS E MÃES TRABALHAREM. AINDA ASSIM, É POSSÍVEL ACOMPANHAR, DE FORMA EFETIVA, O TRABALHO ESCO- LAR DOS ALUNOS? COMO DRIBLAR ESSA DIFICULDADE? Isso é uma questão de priorida- de. O filho precisa caber no pla- nejamento dos pais. Dos dois, não só da mãe. Crianças e jovens cujo pai se envolve no acompanha- mento da vida escolar, além da mãe, têm resultados ainda me- lhores e gostam mais de estudar. Isso não tem nada a ver com os pais morarem com os filhos ou em casas diferentes, e sim com a qualidade da presença, do diálogo e do interesse pelo que os filhos estudam e aprendem. EM UM DOS CAPÍTULOS, A SENHORA FALA DA SINERGIA ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA. QUAL A IMPORTÂNCIA DES- SA SINERGIA? PAIS E EDUCADORES, DE FORMA GERAL, ENTENDEM A IM- PORTÂNCIA DELA? Quando a família e a escola edu- cam com os mesmos critérios, as diferenças entre os dois ambien- tes se reduzem, e quem ganha com isso são as crianças e os jo- vens. É como uma orquestra: cada instrumento tem sua parte, e seu som é bonito. Mas quando todos tocam juntos, numa emocionante sinfonia, a soma dos esforços é muito mais poderosa do que as partes. Isso é sinergia. Da mesma forma, quando a família e a es- cola trabalham alinhadas, podem atingir resultados melhores do que a soma de seus esforços iso- lados. No livro eu explico como se faz isso na prática. A SENHORA TAMBÉM APRESENTA DICAS PARA OS PAIS ESCOLHEREM A ESCOLA DE SEUS FILHOS, EM TODOS OS SEGMENTOS. QUAIS OS ASPECTOS MAIS IMPORTANTES A SEREM LEVA- DOS EM CONTA? São dez critérios, aqui vou des- tacar três deles. Em primeiro lu- gar, o projeto pedagógico, que indica o modelo de educação de cada escola. Os pais precisam avaliar se eles se identificam com esse modelo. Além disso, o espaço físico e os recursos da escola: os alunos precisam se sentir confortáveis no espaço de aprender, que hoje vai além da sala de aula, e inclui laborató- rios, salas de leitura, ambientes digitais, atividades ao ar livre. Os pais precisam ver ainda se a escola investe na formação con- tinuada dos professores e se es- tes aplicam uma didática atu- al, com aulas interessantes, que funcionem como desafios e le- vem o aluno a pensar e criar. No livro tem muitas dicas sobre como perceber isso. NATURALMENTE, TODO ESTUDANTE TEM MOMENTOS DE SUCESSO (QUAN- DO OBTÉM BONS RESULTADOS) E DE DIFICULDADE (QUANDO É REPROVA- DO, POR EXEMPLO) EM SEU DIA A DIA NA ESCOLA. COMO OS PAIS DEVEM LIDAR COM ESSAS SITUAÇÕES TÃO DISTINTAS? Os bons resultados merecem ser comemorados. Não precisa dar presente a cada nota boa, mas sim demonstrar alegria com o suces- so do filho. Já as dificuldades são momentos para dar apoio. Não adianta, antes de uma prova di- fícil, colocar pressão, dizendo “vamos ver se agora você acerta pelo menos uma questão”. É pre- ciso exigir compromisso com o estudo, mas conscientizando sobre isso ao longo de todo o ano. E quando o aluno é reprovado, quer dizer que, no parecer da es- cola, ele ainda precisa desenvol- ver um conjunto de competên- cias que serão necessárias mais à frente. É hora de respirar fun- do, conversar com a escola e se planejar em conjunto para que o ano que vem tudo funcione melhor. Eu questiono alguns processos de reprovação, mas esse é outro assunto. NO BRASIL, EM ESPECIAL NO SETOR PÚBLICO, AINDA FALTA A CULTURA DE AS FAMÍLIAS EXERCEREM UMA CO- BRANÇA MAIOR DAS INSTITUIÇÕES, PELA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO DE SEUS FILHOS. POR QUE ISSO ACON- TECE E DE QUE FORMA ESSA CO- BRANÇA CONTRIBUI PARA MELHO- RAR A EDUCAÇÃO DOS ALUNOS? A cultura de cobrança precisa ser construída. Todo cidadão brasi- leiro em idade escolar tem direi- to a uma educação de qualida- de. Mas para exigir qualidade, os pais precisam entender como funciona uma boa escola hoje. Por exemplo, precisa ter espaço físico adequado, ambientes de aprendizagem diversificados, re- cursos como mídias e tecnolo- gias, materiais didáticos atuais, currículo amplo (com conteúdos de música, idiomas, e outros), professores bem preparados e comprometidos com o sucesso de cada aluno. Os pais precisam ver: a escola do meu filho é as- sim? Se não é, exigir mudanças, começando por apresentar as questões nas reuniões de pais. Isso vai estimular as escolas a melhorar e a cobrar das autori- dades mais condições para fazer um bom trabalho. Importante também acompanhar o Ideb da escola do seu filho. SEM DÚVIDA, É IMPORTANTE QUE OS PAIS PROCUREM PARTICIPAR DA EDU- CAÇÃO DOS FILHOS. MAS, NA ME- LHOR DAS INTENÇÕES, ELES TAMBÉM PODEM ATRAPALHAR, EM VEZ DE AJUDAR? COMO? Sim, existe esse risco! Imagine, por exemplo, um pai que faz as tarefas de casa pelo filho, man- da decorar tudo, dá castigo se o filho se esforça, mas não apren- de, e tira a autonomia do alu- no. Fazer os deveres pelo seu filho é passar a ele a ideia de que, para você, ele é incapaz. Também não é bom criticar a escola e os professores na fren- te dele, nem contar com orgu- lho as notas baixas que os pais tiravam quando crianças, nem falar que estudar é chato. Isso não é ajudar, é atrapalhar. A SENHORA DEFENDE QUE, EM CASA, TAMBÉM É POSSÍVEL IMPLAN- TAR UM MODELO DE EDUCAÇÃO CAPAZ DE DESENVOLVER AS COM- PETÊNCIAS QUE CRIANÇAS E JO- VENS PRECISAM PARA SER ADULTOS BEM PREPARADOS PARA O MUNDO DE HOJE. QUE DICAS PRÁTICAS A SENHORA DARIA, AOS PAIS, PARA ATINGIR ESSE OBJETIVO? Uma educação completa vai além dos conteúdos do currículo esco- lar tradicional. Ela inclui ativida- des culturais, como ir ao museu, cinema, teatro, apresentações de música. Implica desenvolver o hábito da leitura, o gosto por uma alimentação balanceada, por um estilo de vida que preserva o bem estar físico e mental, e que não agride o meio ambiente. Educar envolve valores, como o respei- to pelos demais, a tolerância, a capacidade de conviver com as diferenças, o compromisso des- “É como uma orquestra: cada instrumento tem sua parte, e seu som é bonito. Mas quando todos tocam juntos, numa emocionante sinfonia, a soma dos esforços é muito mais poderosa do que as partes” Andrea Ramal: “Quanto maior o envolvimento dos pais com o estudo dos filhos, melhores são os resultados na escola” construir um mundo em que to- dos, e não só alguns, possam vi- ver felizes. É esse modelo de educação que pais e escolas pre- cisam construir juntas. É IMPORTANTE TAMBÉM OS PAIS ES- TAREM ATENTOS A QUE TIPO DE IN- FORMAÇÕES OS FILHOS ACESSAM NA INTERNET? COMO FAZER ESSE MONITORAMENTO SEM INVADIR A PRIVACIDADE DO JOVEM OU DA CRIANÇA? Que pai deixaria seu filho peque- no sozinho em outra cidade, para ele andar por ruas desconhecidas, com milhões de pessoas circu- lando, sem saber onde está e com quem está falando? A internet é parecida com isso, então, é pre- ciso que os pais monitorem o seu uso. Quando se trata de uma criança, os pais precisam saber que sites ela frequenta, a que redes sociais está vinculada. Os pais também podem escolher alguns sites previamente e suge- rir para a criança navegar. Depois, quando ela ganhar autonomia, discernimento e capacidade de crítica, aos poucos, pode nave- gar sozinha. Sinergia, por definição, é o trabalho ou esforço coordenado de vários subsistemas na realização de uma tarefa complexa ou função. O termo, muito usado no mundo empresarial moderno, já vem sendo empregado na educação, onde escola, pais, alunos e sociedade têm responsabilidades compartilhadas, e devem atuar em harmonia Andr ea R amal Como fazer de seu filho um estudante de sucesso DIVULGAÇÃO

Upload: bianca-ururahy

Post on 09-Mar-2016

226 views

Category:

Documents


7 download

DESCRIPTION

Andrea Ramal dá entrevista para a Folha Dirigida no dia 15 de Novembro de 2011.

TRANSCRIPT

Page 1: Matéria de Andrea Ramal para Folha Dirigida

EducaçãoFOLHA DIRIGIDA

www.folhadirigida.com.br15 a 21 de novembro de 2011

CA

DE

RN

O D

E

RENATO [email protected]

Todos sabem que o papel da es-cola é educar. Porém, a educaçãotambém vem do berço. Os paispodem (e devem!) auxiliar noprocesso ensino-aprendizagem.Acompanhar cotidianamente astarefas e dar autonomia para in-centivar a responsabilidade e aadequação comportamental sãodetalhes fundamentais para queos pais cumpram seu papel deorientador dos filhos em idadeescolar. “Uma boa educação é oresultado de um trabalho bemfeito pela escola e pela família”,defende a doutora em Educaçãopela PUC-Rio Andrea Ramal,autora do livro Depende de Você:Como fazer de seu filho uma histó-ria de sucesso.A ideia de que o envolvimen-to dos pais constitui um fatorde sucesso escolar parece cons-tituir um consenso social. Masno seu reverso encontra-se umconjunto de críticas, relativas àrelação que os pais estabele-cem com a escola, bem comoao próprio funcionamento dafamília. Na cultura ocidental,os pais de hoje demitem-semuitas vezes das suas funçõespaternais. Atitude que se deve,em parte, à própria concepçãodo mundo moderno e, por ou-tro prisma, aos condicionamen-tos da sociedade, a que muitospais estão também sujeitos.Nesta entrevista, Andrea Ramalaborda algumas questões dessedifícil relacionamento, dá algu-mas dicas para os pais - que emseu livro divide em dez tópicos -e ainda orienta as duas partes paraque se contorne os problemas ea educação funcione como umasinfonia tocada por uma grandeorquestra bem ensaiada.

NO LIVRO “DEPENDE DE VOCÊ: COMOFAZER DE SEU FILHO UMA HISTÓRIADE SUCESSO”, A SENHORA APRESEN-TA ORIENTAÇÕES PRÁTICAS E SEGU-RAS PARA OS PAIS ACOMPANHAREMO DESEMPENHO ESCOLAR DOS FI-LHOS. QUAL A CONTRIBUIÇÃO MAISIMPORTANTE QUE OS PAIS PODEMTRAZER PARA O APRENDIZADO DOSFILHOS? POR QUÊ?Andrea Ramal - Se os pais dese-jam que seus filhos sejam pessoasde sucesso, isto é, pessoas com-petentes, que se relacionam bemcom os demais, com equilíbriopessoal, autoconfiantes, bem re-solvidas e felizes, eles precisamentender que isso tem a ver coma educação que se recebe. Umaboa educação é resultado de umtrabalho bem feito pela escola epela família. Quanto maior oenvolvimento dos pais com oestudo dos filhos, melhores sãoos seus resultados na escola etambém ao longo da vida. O maisimportante é a qualidade da pre-sença: o diálogo com o filho, cominteresse sobre o que acontece naescola, atenção para ver se eleaprende tudo o que deveria, e aintervenção junto à escola nosmomentos de dificuldade.

ALÉM DA ORIENTAÇÃO QUE A SENHO-RA CONSIDERA A PRINCIPAL, QUAISOUTRAS ACREDITA QUE SÃO IMPOR-TANTES?Os pais devem exigir compromis-so dos filhos com os estudos e,ao mesmo tempo, apoiá-losquando surgem problemas, por-que ninguém aprende por cobran-ça, e sim por estar interessado nosconhecimentos novos. Os paisprecisam ajudar a organizar aagenda diária dos filhos, colocan-do o estudo no horário nobre,quando a criança e o jovem es-tão bem dispostos. Verificar se osdeveres estão feitos, se a maté-ria não está se acumulando paraestudar só na véspera da prova.Participar de todas as reuniões depais e acompanhar o trabalho daescola, para ver se ela oferece umensino de qualidade, com aulasinteressantes, materiais e recur-sos atualizados e bons professo-res. E mostrar ao filho que estu-dar é importante e vale a pena.

A SENHORA DEFENDE QUE UMA DASRAZÕES PARA OS ALUNOS BRASILEI-ROS NÃO APRENDEREM O QUE PODE-RIAM É A FALTA DE ACOMPANHAMEN-TO DA VIDA ESCOLAR DOS FILHOS,

POR PARTE DOS PAIS. POR QUÊ?Uma educação de qualidade é oresultado do trabalho de umaequipe: a escola e a família. Paranenhuma delas, educar é fácil,porque os desafios de hoje sãodiferentes dos de outras épocas.Para formar uma pessoa comple-ta, com as competências neces-sárias para viver bem no mundode hoje, e com todas as suas di-mensões desenvolvidas (intelec-tual, afetiva, física, social, cida-dã...) a escola e a família preci-sam atuar em conjunto, uma re-forçando o trabalho da outra. Oproblema é que muitas famíliasentregam a responsabilidade deeducar quase totalmente para aescola. Outras gostariam deacompanhar os estudos, mas nãosabem como fazer isso.

A SENHORA TAMBÉM RESSALTA QUENOS PAÍSES COM SISTEMAS EDUCA-CIONAIS MAIS AVANÇADOS, A PARCE-RIA ESCOLA/FAMÍLIA FUNCIONA DEFORMA EFICAZ. COMO ESSA RELA-ÇÃO É INCENTIVADA PELAS ESCOLAS,NESSES PAÍSES?Na Coreia do Sul, cujos estudan-tes estão entre os mais bem co-locados do mundo, as escolasoferecem cursos das matériasprincipais, para que os pais acom-panhem o que os filhos apren-dem. Ao mesmo tempo, existempaíses em que funcionam “Esco-las de Pais”, nas quais o colégioensina às famílias como acom-panhar os estudos e também dáorientações sobre problemas dehoje, como uso da internet,bullying, drogas, afetividade eeducação sexual, preconceito,consumismo.

UMA DAS ALEGAÇÕES MAIS COMUNSDOS RESPONSÁVEIS É A FALTA DETEMPO, PELO FATO DE, HOJE EM DIA,PAIS E MÃES TRABALHAREM. AINDAASSIM, É POSSÍVEL ACOMPANHAR, DEFORMA EFETIVA, O TRABALHO ESCO-LAR DOS ALUNOS? COMO DRIBLARESSA DIFICULDADE?Isso é uma questão de priorida-de. O filho precisa caber no pla-nejamento dos pais. Dos dois, nãosó da mãe. Crianças e jovens cujopai se envolve no acompanha-mento da vida escolar, além damãe, têm resultados ainda me-lhores e gostam mais de estudar.Isso não tem nada a ver com ospais morarem com os filhos ouem casas diferentes, e sim com aqualidade da presença, do diálogoe do interesse pelo que os filhosestudam e aprendem.

EM UM DOS CAPÍTULOS, A SENHORAFALA DA SINERGIA ENTRE FAMÍLIA EESCOLA. QUAL A IMPORTÂNCIA DES-SA SINERGIA? PAIS E EDUCADORES,DE FORMA GERAL, ENTENDEM A IM-PORTÂNCIA DELA?Quando a família e a escola edu-cam com os mesmos critérios, asdiferenças entre os dois ambien-tes se reduzem, e quem ganhacom isso são as crianças e os jo-vens. É como uma orquestra: cadainstrumento tem sua parte, e seusom é bonito. Mas quando todostocam juntos, numa emocionantesinfonia, a soma dos esforços émuito mais poderosa do que aspartes. Isso é sinergia. Da mesmaforma, quando a família e a es-cola trabalham alinhadas, podem

atingir resultados melhores doque a soma de seus esforços iso-lados. No livro eu explico comose faz isso na prática.

A SENHORA TAMBÉM APRESENTADICAS PARA OS PAIS ESCOLHEREM AESCOLA DE SEUS FILHOS, EM TODOSOS SEGMENTOS. QUAIS OS ASPECTOSMAIS IMPORTANTES A SEREM LEVA-DOS EM CONTA?São dez critérios, aqui vou des-tacar três deles. Em primeiro lu-gar, o projeto pedagógico, queindica o modelo de educação decada escola. Os pais precisamavaliar se eles se identificamcom esse modelo. Além disso,o espaço físico e os recursos daescola: os alunos precisam sesentir confortáveis no espaço deaprender, que hoje vai além dasala de aula, e inclui laborató-rios, salas de leitura, ambientesdigitais, atividades ao ar livre.Os pais precisam ver ainda se aescola investe na formação con-tinuada dos professores e se es-tes aplicam uma didática atu-al, com aulas interessantes, quefuncionem como desafios e le-vem o aluno a pensar e criar. Nolivro tem muitas dicas sobrecomo perceber isso.

NATURALMENTE, TODO ESTUDANTETEM MOMENTOS DE SUCESSO (QUAN-DO OBTÉM BONS RESULTADOS) E DEDIFICULDADE (QUANDO É REPROVA-DO, POR EXEMPLO) EM SEU DIA A DIANA ESCOLA. COMO OS PAIS DEVEMLIDAR COM ESSAS SITUAÇÕES TÃODISTINTAS?Os bons resultados merecem sercomemorados. Não precisa darpresente a cada nota boa, mas simdemonstrar alegria com o suces-so do filho. Já as dificuldades sãomomentos para dar apoio. Nãoadianta, antes de uma prova di-fícil, colocar pressão, dizendo“vamos ver se agora você acertapelo menos uma questão”. É pre-ciso exigir compromisso com oestudo, mas conscientizandosobre isso ao longo de todo o ano.E quando o aluno é reprovado,quer dizer que, no parecer da es-cola, ele ainda precisa desenvol-ver um conjunto de competên-cias que serão necessárias maisà frente. É hora de respirar fun-do, conversar com a escola e seplanejar em conjunto para queo ano que vem tudo funcionemelhor. Eu questiono algunsprocessos de reprovação, masesse é outro assunto.

NO BRASIL, EM ESPECIAL NO SETORPÚBLICO, AINDA FALTA A CULTURA DEAS FAMÍLIAS EXERCEREM UMA CO-BRANÇA MAIOR DAS INSTITUIÇÕES,PELA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO DESEUS FILHOS. POR QUE ISSO ACON-TECE E DE QUE FORMA ESSA CO-BRANÇA CONTRIBUI PARA MELHO-RAR A EDUCAÇÃO DOS ALUNOS?A cultura de cobrança precisa serconstruída. Todo cidadão brasi-leiro em idade escolar tem direi-to a uma educação de qualida-de. Mas para exigir qualidade, ospais precisam entender comofunciona uma boa escola hoje.Por exemplo, precisa ter espaçofísico adequado, ambientes deaprendizagem diversificados, re-cursos como mídias e tecnolo-gias, materiais didáticos atuais,

currículo amplo (com conteúdosde música, idiomas, e outros),professores bem preparados ecomprometidos com o sucessode cada aluno. Os pais precisamver: a escola do meu filho é as-sim? Se não é, exigir mudanças,começando por apresentar asquestões nas reuniões de pais.Isso vai estimular as escolas amelhorar e a cobrar das autori-dades mais condições para fazerum bom trabalho. Importantetambém acompanhar o Ideb daescola do seu filho.

SEM DÚVIDA, É IMPORTANTE QUE OSPAIS PROCUREM PARTICIPAR DA EDU-CAÇÃO DOS FILHOS. MAS, NA ME-LHOR DAS INTENÇÕES, ELES TAMBÉMPODEM ATRAPALHAR, EM VEZ DEAJUDAR? COMO?Sim, existe esse risco! Imagine,por exemplo, um pai que faz astarefas de casa pelo filho, man-da decorar tudo, dá castigo se ofilho se esforça, mas não apren-de, e tira a autonomia do alu-no. Fazer os deveres pelo seufilho é passar a ele a ideia deque, para você, ele é incapaz.Também não é bom criticar a

escola e os professores na fren-te dele, nem contar com orgu-lho as notas baixas que os paistiravam quando crianças, nemfalar que estudar é chato. Issonão é ajudar, é atrapalhar.

A SENHORA DEFENDE QUE, EMCASA, TAMBÉM É POSSÍVEL IMPLAN-TAR UM MODELO DE EDUCAÇÃOCAPAZ DE DESENVOLVER AS COM-PETÊNCIAS QUE CRIANÇAS E JO-VENS PRECISAM PARA SER ADULTOSBEM PREPARADOS PARA O MUNDODE HOJE. QUE DICAS PRÁTICAS ASENHORA DARIA, AOS PAIS, PARAATINGIR ESSE OBJETIVO?Uma educação completa vai alémdos conteúdos do currículo esco-lar tradicional. Ela inclui ativida-des culturais, como ir ao museu,cinema, teatro, apresentações demúsica. Implica desenvolver ohábito da leitura, o gosto por umaalimentação balanceada, por umestilo de vida que preserva o bemestar físico e mental, e que nãoagride o meio ambiente. Educarenvolve valores, como o respei-to pelos demais, a tolerância, acapacidade de conviver com asdiferenças, o compromisso des-

“É como uma orquestra: cada

instrumento tem sua parte, e seu

som é bonito. Mas quando todos

tocam juntos, numa emocionante

sinfonia, a soma dos esforços é muito

mais poderosa do que as partes”

Andrea Ramal: “Quanto maior o envolvimento dos pais com o estudo dos filhos, melhores são os resultados na escola”

construir um mundo em que to-dos, e não só alguns, possam vi-ver felizes. É esse modelo deeducação que pais e escolas pre-cisam construir juntas.

É IMPORTANTE TAMBÉM OS PAIS ES-TAREM ATENTOS A QUE TIPO DE IN-FORMAÇÕES OS FILHOS ACESSAMNA INTERNET? COMO FAZER ESSEMONITORAMENTO SEM INVADIR APRIVACIDADE DO JOVEM OU DACRIANÇA?Que pai deixaria seu filho peque-no sozinho em outra cidade, paraele andar por ruas desconhecidas,com milhões de pessoas circu-lando, sem saber onde está e comquem está falando? A internet éparecida com isso, então, é pre-ciso que os pais monitorem oseu uso. Quando se trata de umacriança, os pais precisam saberque sites ela frequenta, a queredes sociais está vinculada. Ospais também podem escolheralguns sites previamente e suge-rir para a criança navegar. Depois,quando ela ganhar autonomia,discernimento e capacidade decrítica, aos poucos, pode nave-gar sozinha.

Sinergia, por definição, é o trabalho ou esforço coordenado de vários subsistemas na realização de uma

tarefa complexa ou função. O termo, muito usado no mundo empresarial moderno, já vem sendo empregado na educação,

onde escola, pais, alunos e sociedade têm responsabilidades compartilhadas, e devem atuar em harmonia

Andrea Ramal

Como fazer de seu filho um

estudante de sucesso

DIVULGAÇÃO