matéria de andrea ramal para folha dirigida
DESCRIPTION
Andrea Ramal dá entrevista para a Folha Dirigida no dia 15 de Novembro de 2011.TRANSCRIPT
EducaçãoFOLHA DIRIGIDA
www.folhadirigida.com.br15 a 21 de novembro de 2011
CA
DE
RN
O D
E
RENATO [email protected]
Todos sabem que o papel da es-cola é educar. Porém, a educaçãotambém vem do berço. Os paispodem (e devem!) auxiliar noprocesso ensino-aprendizagem.Acompanhar cotidianamente astarefas e dar autonomia para in-centivar a responsabilidade e aadequação comportamental sãodetalhes fundamentais para queos pais cumpram seu papel deorientador dos filhos em idadeescolar. “Uma boa educação é oresultado de um trabalho bemfeito pela escola e pela família”,defende a doutora em Educaçãopela PUC-Rio Andrea Ramal,autora do livro Depende de Você:Como fazer de seu filho uma histó-ria de sucesso.A ideia de que o envolvimen-to dos pais constitui um fatorde sucesso escolar parece cons-tituir um consenso social. Masno seu reverso encontra-se umconjunto de críticas, relativas àrelação que os pais estabele-cem com a escola, bem comoao próprio funcionamento dafamília. Na cultura ocidental,os pais de hoje demitem-semuitas vezes das suas funçõespaternais. Atitude que se deve,em parte, à própria concepçãodo mundo moderno e, por ou-tro prisma, aos condicionamen-tos da sociedade, a que muitospais estão também sujeitos.Nesta entrevista, Andrea Ramalaborda algumas questões dessedifícil relacionamento, dá algu-mas dicas para os pais - que emseu livro divide em dez tópicos -e ainda orienta as duas partes paraque se contorne os problemas ea educação funcione como umasinfonia tocada por uma grandeorquestra bem ensaiada.
NO LIVRO “DEPENDE DE VOCÊ: COMOFAZER DE SEU FILHO UMA HISTÓRIADE SUCESSO”, A SENHORA APRESEN-TA ORIENTAÇÕES PRÁTICAS E SEGU-RAS PARA OS PAIS ACOMPANHAREMO DESEMPENHO ESCOLAR DOS FI-LHOS. QUAL A CONTRIBUIÇÃO MAISIMPORTANTE QUE OS PAIS PODEMTRAZER PARA O APRENDIZADO DOSFILHOS? POR QUÊ?Andrea Ramal - Se os pais dese-jam que seus filhos sejam pessoasde sucesso, isto é, pessoas com-petentes, que se relacionam bemcom os demais, com equilíbriopessoal, autoconfiantes, bem re-solvidas e felizes, eles precisamentender que isso tem a ver coma educação que se recebe. Umaboa educação é resultado de umtrabalho bem feito pela escola epela família. Quanto maior oenvolvimento dos pais com oestudo dos filhos, melhores sãoos seus resultados na escola etambém ao longo da vida. O maisimportante é a qualidade da pre-sença: o diálogo com o filho, cominteresse sobre o que acontece naescola, atenção para ver se eleaprende tudo o que deveria, e aintervenção junto à escola nosmomentos de dificuldade.
ALÉM DA ORIENTAÇÃO QUE A SENHO-RA CONSIDERA A PRINCIPAL, QUAISOUTRAS ACREDITA QUE SÃO IMPOR-TANTES?Os pais devem exigir compromis-so dos filhos com os estudos e,ao mesmo tempo, apoiá-losquando surgem problemas, por-que ninguém aprende por cobran-ça, e sim por estar interessado nosconhecimentos novos. Os paisprecisam ajudar a organizar aagenda diária dos filhos, colocan-do o estudo no horário nobre,quando a criança e o jovem es-tão bem dispostos. Verificar se osdeveres estão feitos, se a maté-ria não está se acumulando paraestudar só na véspera da prova.Participar de todas as reuniões depais e acompanhar o trabalho daescola, para ver se ela oferece umensino de qualidade, com aulasinteressantes, materiais e recur-sos atualizados e bons professo-res. E mostrar ao filho que estu-dar é importante e vale a pena.
A SENHORA DEFENDE QUE UMA DASRAZÕES PARA OS ALUNOS BRASILEI-ROS NÃO APRENDEREM O QUE PODE-RIAM É A FALTA DE ACOMPANHAMEN-TO DA VIDA ESCOLAR DOS FILHOS,
POR PARTE DOS PAIS. POR QUÊ?Uma educação de qualidade é oresultado do trabalho de umaequipe: a escola e a família. Paranenhuma delas, educar é fácil,porque os desafios de hoje sãodiferentes dos de outras épocas.Para formar uma pessoa comple-ta, com as competências neces-sárias para viver bem no mundode hoje, e com todas as suas di-mensões desenvolvidas (intelec-tual, afetiva, física, social, cida-dã...) a escola e a família preci-sam atuar em conjunto, uma re-forçando o trabalho da outra. Oproblema é que muitas famíliasentregam a responsabilidade deeducar quase totalmente para aescola. Outras gostariam deacompanhar os estudos, mas nãosabem como fazer isso.
A SENHORA TAMBÉM RESSALTA QUENOS PAÍSES COM SISTEMAS EDUCA-CIONAIS MAIS AVANÇADOS, A PARCE-RIA ESCOLA/FAMÍLIA FUNCIONA DEFORMA EFICAZ. COMO ESSA RELA-ÇÃO É INCENTIVADA PELAS ESCOLAS,NESSES PAÍSES?Na Coreia do Sul, cujos estudan-tes estão entre os mais bem co-locados do mundo, as escolasoferecem cursos das matériasprincipais, para que os pais acom-panhem o que os filhos apren-dem. Ao mesmo tempo, existempaíses em que funcionam “Esco-las de Pais”, nas quais o colégioensina às famílias como acom-panhar os estudos e também dáorientações sobre problemas dehoje, como uso da internet,bullying, drogas, afetividade eeducação sexual, preconceito,consumismo.
UMA DAS ALEGAÇÕES MAIS COMUNSDOS RESPONSÁVEIS É A FALTA DETEMPO, PELO FATO DE, HOJE EM DIA,PAIS E MÃES TRABALHAREM. AINDAASSIM, É POSSÍVEL ACOMPANHAR, DEFORMA EFETIVA, O TRABALHO ESCO-LAR DOS ALUNOS? COMO DRIBLARESSA DIFICULDADE?Isso é uma questão de priorida-de. O filho precisa caber no pla-nejamento dos pais. Dos dois, nãosó da mãe. Crianças e jovens cujopai se envolve no acompanha-mento da vida escolar, além damãe, têm resultados ainda me-lhores e gostam mais de estudar.Isso não tem nada a ver com ospais morarem com os filhos ouem casas diferentes, e sim com aqualidade da presença, do diálogoe do interesse pelo que os filhosestudam e aprendem.
EM UM DOS CAPÍTULOS, A SENHORAFALA DA SINERGIA ENTRE FAMÍLIA EESCOLA. QUAL A IMPORTÂNCIA DES-SA SINERGIA? PAIS E EDUCADORES,DE FORMA GERAL, ENTENDEM A IM-PORTÂNCIA DELA?Quando a família e a escola edu-cam com os mesmos critérios, asdiferenças entre os dois ambien-tes se reduzem, e quem ganhacom isso são as crianças e os jo-vens. É como uma orquestra: cadainstrumento tem sua parte, e seusom é bonito. Mas quando todostocam juntos, numa emocionantesinfonia, a soma dos esforços émuito mais poderosa do que aspartes. Isso é sinergia. Da mesmaforma, quando a família e a es-cola trabalham alinhadas, podem
atingir resultados melhores doque a soma de seus esforços iso-lados. No livro eu explico comose faz isso na prática.
A SENHORA TAMBÉM APRESENTADICAS PARA OS PAIS ESCOLHEREM AESCOLA DE SEUS FILHOS, EM TODOSOS SEGMENTOS. QUAIS OS ASPECTOSMAIS IMPORTANTES A SEREM LEVA-DOS EM CONTA?São dez critérios, aqui vou des-tacar três deles. Em primeiro lu-gar, o projeto pedagógico, queindica o modelo de educação decada escola. Os pais precisamavaliar se eles se identificamcom esse modelo. Além disso,o espaço físico e os recursos daescola: os alunos precisam sesentir confortáveis no espaço deaprender, que hoje vai além dasala de aula, e inclui laborató-rios, salas de leitura, ambientesdigitais, atividades ao ar livre.Os pais precisam ver ainda se aescola investe na formação con-tinuada dos professores e se es-tes aplicam uma didática atu-al, com aulas interessantes, quefuncionem como desafios e le-vem o aluno a pensar e criar. Nolivro tem muitas dicas sobrecomo perceber isso.
NATURALMENTE, TODO ESTUDANTETEM MOMENTOS DE SUCESSO (QUAN-DO OBTÉM BONS RESULTADOS) E DEDIFICULDADE (QUANDO É REPROVA-DO, POR EXEMPLO) EM SEU DIA A DIANA ESCOLA. COMO OS PAIS DEVEMLIDAR COM ESSAS SITUAÇÕES TÃODISTINTAS?Os bons resultados merecem sercomemorados. Não precisa darpresente a cada nota boa, mas simdemonstrar alegria com o suces-so do filho. Já as dificuldades sãomomentos para dar apoio. Nãoadianta, antes de uma prova di-fícil, colocar pressão, dizendo“vamos ver se agora você acertapelo menos uma questão”. É pre-ciso exigir compromisso com oestudo, mas conscientizandosobre isso ao longo de todo o ano.E quando o aluno é reprovado,quer dizer que, no parecer da es-cola, ele ainda precisa desenvol-ver um conjunto de competên-cias que serão necessárias maisà frente. É hora de respirar fun-do, conversar com a escola e seplanejar em conjunto para queo ano que vem tudo funcionemelhor. Eu questiono algunsprocessos de reprovação, masesse é outro assunto.
NO BRASIL, EM ESPECIAL NO SETORPÚBLICO, AINDA FALTA A CULTURA DEAS FAMÍLIAS EXERCEREM UMA CO-BRANÇA MAIOR DAS INSTITUIÇÕES,PELA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO DESEUS FILHOS. POR QUE ISSO ACON-TECE E DE QUE FORMA ESSA CO-BRANÇA CONTRIBUI PARA MELHO-RAR A EDUCAÇÃO DOS ALUNOS?A cultura de cobrança precisa serconstruída. Todo cidadão brasi-leiro em idade escolar tem direi-to a uma educação de qualida-de. Mas para exigir qualidade, ospais precisam entender comofunciona uma boa escola hoje.Por exemplo, precisa ter espaçofísico adequado, ambientes deaprendizagem diversificados, re-cursos como mídias e tecnolo-gias, materiais didáticos atuais,
currículo amplo (com conteúdosde música, idiomas, e outros),professores bem preparados ecomprometidos com o sucessode cada aluno. Os pais precisamver: a escola do meu filho é as-sim? Se não é, exigir mudanças,começando por apresentar asquestões nas reuniões de pais.Isso vai estimular as escolas amelhorar e a cobrar das autori-dades mais condições para fazerum bom trabalho. Importantetambém acompanhar o Ideb daescola do seu filho.
SEM DÚVIDA, É IMPORTANTE QUE OSPAIS PROCUREM PARTICIPAR DA EDU-CAÇÃO DOS FILHOS. MAS, NA ME-LHOR DAS INTENÇÕES, ELES TAMBÉMPODEM ATRAPALHAR, EM VEZ DEAJUDAR? COMO?Sim, existe esse risco! Imagine,por exemplo, um pai que faz astarefas de casa pelo filho, man-da decorar tudo, dá castigo se ofilho se esforça, mas não apren-de, e tira a autonomia do alu-no. Fazer os deveres pelo seufilho é passar a ele a ideia deque, para você, ele é incapaz.Também não é bom criticar a
escola e os professores na fren-te dele, nem contar com orgu-lho as notas baixas que os paistiravam quando crianças, nemfalar que estudar é chato. Issonão é ajudar, é atrapalhar.
A SENHORA DEFENDE QUE, EMCASA, TAMBÉM É POSSÍVEL IMPLAN-TAR UM MODELO DE EDUCAÇÃOCAPAZ DE DESENVOLVER AS COM-PETÊNCIAS QUE CRIANÇAS E JO-VENS PRECISAM PARA SER ADULTOSBEM PREPARADOS PARA O MUNDODE HOJE. QUE DICAS PRÁTICAS ASENHORA DARIA, AOS PAIS, PARAATINGIR ESSE OBJETIVO?Uma educação completa vai alémdos conteúdos do currículo esco-lar tradicional. Ela inclui ativida-des culturais, como ir ao museu,cinema, teatro, apresentações demúsica. Implica desenvolver ohábito da leitura, o gosto por umaalimentação balanceada, por umestilo de vida que preserva o bemestar físico e mental, e que nãoagride o meio ambiente. Educarenvolve valores, como o respei-to pelos demais, a tolerância, acapacidade de conviver com asdiferenças, o compromisso des-
“É como uma orquestra: cada
instrumento tem sua parte, e seu
som é bonito. Mas quando todos
tocam juntos, numa emocionante
sinfonia, a soma dos esforços é muito
mais poderosa do que as partes”
“
”
Andrea Ramal: “Quanto maior o envolvimento dos pais com o estudo dos filhos, melhores são os resultados na escola”
construir um mundo em que to-dos, e não só alguns, possam vi-ver felizes. É esse modelo deeducação que pais e escolas pre-cisam construir juntas.
É IMPORTANTE TAMBÉM OS PAIS ES-TAREM ATENTOS A QUE TIPO DE IN-FORMAÇÕES OS FILHOS ACESSAMNA INTERNET? COMO FAZER ESSEMONITORAMENTO SEM INVADIR APRIVACIDADE DO JOVEM OU DACRIANÇA?Que pai deixaria seu filho peque-no sozinho em outra cidade, paraele andar por ruas desconhecidas,com milhões de pessoas circu-lando, sem saber onde está e comquem está falando? A internet éparecida com isso, então, é pre-ciso que os pais monitorem oseu uso. Quando se trata de umacriança, os pais precisam saberque sites ela frequenta, a queredes sociais está vinculada. Ospais também podem escolheralguns sites previamente e suge-rir para a criança navegar. Depois,quando ela ganhar autonomia,discernimento e capacidade decrítica, aos poucos, pode nave-gar sozinha.
Sinergia, por definição, é o trabalho ou esforço coordenado de vários subsistemas na realização de uma
tarefa complexa ou função. O termo, muito usado no mundo empresarial moderno, já vem sendo empregado na educação,
onde escola, pais, alunos e sociedade têm responsabilidades compartilhadas, e devem atuar em harmonia
Andrea Ramal
Como fazer de seu filho um
estudante de sucesso
DIVULGAÇÃO