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    rasilia - DF

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    entro de esto e studos stratgicos (CGEE)

    residentaucia arvalho into de elo

    iretor xecutivoarcio de iranda antos

    iretoresntonio arlos Filgueira GalvoFernando osme Rizzo ssuno (supervisor do projeto)

    oordenao tcnica / aria ngela ampelo de elodio / Frederico oscano arreto ogueira / uliana arinho ires de Freitas / atiana de arvalho iresraduo / ulia einstockeviso / nna ristina de rajo Rodrigues / eila alhares

    rojeto grfco / ndr cofano / duardo liveiraiagramao / Hudson ereiraapa / duardo liveira

    rasil: a economia natural do conhecimento. - raslia: entro

    de esto e studos stratgicos,

    p. ; il.; cmISBN: ----

    raduo de: razil, the natural knowledge-economy

    . istema de novao - rasil. . incia e ecnologia - rasil.. Poltica ecnolgica - rasil. . tulo. II. raslia-CGEE.

    CDU :. ()

    entro de esto e studos stratgicosSCN Qd , Bl. , d. orporate inancial enter sala -, Braslia, DFeleone: () .http://www.cgee.org.br

    sta publicao parte integrante das atividades desenvolvidas no mbito do ontrato de esto CGEE/MCT/.

    Os direitos da traduo deste trabalho oram cedidos pela emos (www.demos.co.uk) ao . omo editor dostextos, a emos encoraja a circulao ampla do tlas das dias, reservando seus direitos. Os textos contidos nestapublicao podero ser reproduzidos, armazenados ou transmitidos desde que as ontes sejam citadas - incluindo oautor - e que o texto seja disponibilizado na integra e no seja alterado. publicao no pode ser vendida a terceirose sua disponibilizao online deve ser comunicada ao e a emos.

    mpresso em

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    umriopresentao

    recio

    gradecimentos

    ntroduo

    . anorama

    . essoas

    . Lugares

    . egcios

    . ultura

    . olaborao

    . rognsticos

    pndice

    otas

    eerncias

    obre a autora

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    presentao

    presentao

    rasil: a conomia atural do onhecimento constitui o fruto tangvel da parceria estabelecidaentre emos e CGEE para analisar o processo de transformao da inovao do rasil, cada vez maisintenso e de melhor qualidade. O objetivo de configurar o papel que o pas est assumindo nocenrio mundial, neste incio de sculo, caracterizado pela consolidao da chamada economia doconhecimento.

    emos, uma organizao britnica de consultoria e pesquisa, sediada em Londres, desenvolveu oprojeto tlas of deas, com o fim de eplorar as mudanas na geografia global de cincia e inovao,detectando os novos focos e fontes de criao na rea cientfica e tecnolgica no mundo. m suaprimeira fase, o projeto realizou uma avaliao compreensiva sobre a inovao na hina, na ndia ena oria do ul.

    O rasil constituiu um dos focos propostos para a segunda fase, juntamente com a frica do ul

    e os pases slmicos. uscando alcanar os objetivos dessa etapa, a emos convidou o entro deesto e studos stratgicos (CGEE), por seu conhecimento e eperincia em CT&I, e como Orga-nizao ocial que atua no mbito do inistrio da incia e ecnologia (MCT), para colaborar nomapeamento do cenrio de cincia e inovao de base tecnolgica no pas. O entro teve um pa-pel preponderante na identificao de pessoas e instituies com atuao marcante nessa rea, quepudessem colaborar na anlise do desenvolvimento da capacidade de inovao do rasil e prospec-tar suas tendncias de evoluo nos primos 15 anos.

    O projeto, coordenado pelo lado britnico por Kirsten ound, pesquisadora snior da emos, pos-sibilitou identificar oportunidades concretas para colaborao entre cientistas, formuladores de po-lticas e lderes empresariais no rasil, na uropa e no eino nido, alm de propor elementos paraembasar uma agenda de ao, iluminando a poltica e o debate entre os pases envolvidos. eus re-sultados foram publicados na nglaterra, com ampla repercusso naquele e em vrios outros pases.

    om essa traduo para o portugus da publicao inglesa, o CGEE reafirma seu entusiasmo com oprojeto e espera, ao compartilhar suas concluses e recomendaes, no apenas com as comunida-des cientfica e empresarial, mas tambm com a sociedade brasileira, contribuir efetivamente para oaprimoramento da cincia e inovao no rasil.

    Lucia arvalho into de eloPresidenta do CGEE

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    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

    Prefcio

    ste estudo prope a tese de que o rasil configura uma conomia atural do onhecimento. Aointroduzir esse conceito, Kirsten ound constata que o caso brasileiro desafia a viso trivial de umcontinuum de desenvolvimento do qual as economias dependentes de recursos naturais consti-tuem um plo e aquelas baseadas em conhecimento compem o plo oposto. a percepo tooriginal da autora, o pas oferece uma trajetria alternativa caracterizada por um relacionamentode natureza nica entre recursos naturais e conhecimento. Verificando que os bens naturais brasi-leiros so uma rea-chave de oportunidades em cincia e inovao, ela afirma que essa perspectivaleva o rasil a merecer a qualificao proposta. O desenvolvimento brasileiro como economia doconhecimento e como potncia cientfica ser alcanado a partir de sua capacidade de desenvol-ver, sem destruir, seus bens naturais, como biodiversidade e recursos hdricos, de modo que seucaminho em cincia e inovao seja positivamente condicionado por seu ambiente natural nico.

    ssa percepo, esboada em abril do corrente , est em total consonncia com a proposta por uma

    conomia riativa, formulada pelo inistro eis Velloso, apresentada no xX rum acional, emmaio p.p., no qual foram discutidas idias para a modernizao e o desenvolvimento do pas. aconomia riativa, que ambiciona tornar o rasil o melhor dos BRIC, preconiza-se que as aptidesmodernas proporcionadas pela economia do conhecimento devem ser usadas para dar forte conte-do cientfico e tecnolgico aos setores intensivos em recursos naturais, alm de desenvolver vanta-gens competitivas em segmentos intensivos em conhecimento. al confluncia e simultaneidade deconcepes, das quais indcios tnues tambm podem ser detectados em depoimentos transcritosno livro, parece indicar que o novo mundo dos trpicos, na viso de ilberto reyre, est se deline-

    ando em traos cada vez mais fortes. Assim, o Pas do futuro comea a tornar-se presente.

    raduada em studos Polticos e ociais uropeus, Kirsten integrou a equipe do tlas of deas, umprograma amplo sobre cincia, inovao e globalizao, desenvolvido pela emos, na nglaterra.esponsvel inicialmente, pela coordenao dos estudos sobre inovao na ndia, desenvolveu umagudo senso de observao para os elementos essenciais de um ambiente propcio inovao,dentre os quais se destacam a criatividade e diversidade. m visita ao rasil pela primeira vez, emoutubro de 2007, a autora foi gradativamente formando uma viso pessoal sobre o pas duranteduas viagens de campo, realizadas entre novembro de 2007 e maro de 2008.

    ua descoberta do rasil, que a fez ir-se tornando, pouco a pouco, uma crtica contundente daviso europia estereotipada sobre um pas tropical pouco desenvolvido, levou a um deslumbra-mento em relao s conquistas cientficas brasileiras de fronteira e sofisticada inovao queparece brotar aqui em todos os lugares. eu olhar maravilhado traduz-se em um estilo literrio

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    recio

    distante do britnico, generoso em adjetivos e advrbios entusiasmados, revelador de um otimis-

    mo que deveria contagiar todos ns brasileiros, mobilizando-nos para tornar cada vez mais realesta to criativa conomia atural do onhecimento.

    udo isso fez com que fosse muito gratificante, para o CGEE, a parceria com a emos na elaboraodeste trabalho.

    aria ngela ampelo de eloentro de esto e studos stratgicos

    raslia, novembro de 2008

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    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

    gradecimentos

    sta publicao no teria sido possvel sem a parceria com o entro de esto e studos stratgi-cos (CGEE), em raslia. Os agradecimentos vo para a equipe do projeto, em especial para ernandoizzo e aria Angela ampelo de elo, a Lucia arvalho Pinto de elo, pelo apoio entusiasta, e aarlos oraes, arcio de iranda antos, arcelo Poppe, Antnio arlos alvo, Paulo gler, e-gina usmo e rederico oscano arreto ogueira pelas contribuies valiosas. uitas outras pes-soas no entro de esto e studos stratgicos tambm ofereceram grande colaborao.

    Agradeo, ainda, s pessoas que nos guiaram pelos seus sistemas de inovao locais e contriburamde tantas maneiras: ernando abral, Victor Pelaez, Hernan Valenzuela, uillerme Ary Plonsky e Vin-cent rown; a mbaiada ritnica e o ritish ouncil, especialmente nas pessoas de amian Popoloe oberta Kacowicz; aos mais de cem entrevistados de todo o pas, que generosamente cederam seutempo, opinies e idias e cuja contribuio foi fundamental para o sucesso deste projeto; no einonido, aos parceiros e financiadores, UK rade and nvestment-UKI, icrosoft Research, he ritish

    ouncil e o ational ndownment for cience echnology and the rts-NESA; ao nstitut for nginee-ring and echnology, pelo significativo apoio; ick tuart, Phil acaughten, arlos Pach e AndrOdenbreit arvalho, pelos conselhos de especialistas e suporte.

    a emos, sou grata pelas contribuies da equipe Atlas: James Wilsdon, pela colaborao editoriale de pesquisa, e atalie ay e Jack tilgoe, por suas ecelentes idias e recomendaes; harlie Lea-dbeater e uncan OLeary; Julia Weinstock, que ofereceu ecelente apoio com pesquisa e traduo,ao lado das estagirias amsin hislett e vonne uarte; Paul kidmore, pelo apoio essencial com

    pesquisa e conselhos editoriais durante todo o processo.

    Kirsten BoundJulho 2008

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    ntroduo

    ntroduo

    e voc cresceu na Amrica do orte, ensinaram-lhe, certamente, que os irmos Wright, de Ohio,inventaram o primeiro avio o Kitty Hawk , e nele voaram, em 1903. e voc cresceu no rasil,ensinaram-lhe que o verdadeiro inventor foi um brasileiro de inas erais, Alberto antos umont,cujo 14-is subiu ao cu em 1906. sse acirrado debate histrico que se d sobre definies de avio,habilidade de voar sem ajuda, durao de vo e credibilidade de testemunhas, no ser resolvidoaqui. o entanto, trata-se de um eemplo surpreendente da falta de reconhecimento global s con-quistas brasileiras na rea da inovao.

    ais de um sculo depois, em 2005, a herdeira intelectual de antos umont, a mpresa rasileirade Aeronutica (mbraer) criou um novo captulo na histria da aviao quando lanou o panema,primeiro avio movido a biocombustvel. essa vez, o mundo observava. A revistacientific mericareconheceu a inveno como uma das mais importantes do ano.

    A ateno devotada ao panema reflete o crescente interesse no bicombustvel como um fator quepode contribuir para mitigar a mudana climtica e para atender crescente demanda energtica.Para seus defensores, os biocombustveis mais freqentemente o bioetanol e o biodiesel ofere-cem uma fonte de energia mais segura e sustentvel que pode reduzir as emisses de carbono entre50% e 60%, em comparao com os combustveis fsseis.

    e aprender a voar necessidade de lidar com os custos ambientais do vo, inovaes como opanema refletem algumas das tenses da cincia moderna, em que a epanso das fronteiras do

    saber humano est intrinsecamente relacionada ao controle de suas conseqncias. O recenteclamor contra os biocombustveis, acusados de contribuir para a escassez de alimentos por utili-zarem reas anteriormente destinadas a culturas alimentares, indica crescente interdependnciaentre sistemas de cincia e inovao de diversos pases e entre inovao, economia e sustentabi-lidade ambiental.

    Os atuais debates acirrados sobre os biocombustveis refletem a dinmica mais ampla do prprio sis-tema brasileiro de inovao e revelam que conquistas do presente, no rasil, tm razes histricas maisprofundas do que se imagina. emonstram, ainda, que os recursos naturais e os bens brasileiros souma rea-chave de oportunidades em cincia e inovao perspectiva que eleva o rasil condiode economia natural do conhecimento. O mais importante que evidenciam quo oportuna a am-pliao da fora do rasil nessas reas, quando temas como mudana climtica, meio ambiente, escas-sez de alimentos e aumento significativo da demanda global por energia esto na vanguarda da consci-ncia global. O que mudou entre o vo solo do 14-is e o vo solo do panema no foi somente a capa-

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    cidade de inovao cientfica e tecnolgica do rasil, mas a capacidade do resto do mundo de apreciar

    e compreender o potencial dessas inovaes como respostas aos desafios urgentes da atualidade.

    m 1975, para responder ao choque do petrleo de 1973, o governo brasileiro criou o r lcool,programa de promoo do bioetanol cujo intuito era garantir a segurana energtica.1 ma combi-nao de regulao efetiva, subsdios, quebra de taas, epanso de destilarias e desenvolvimentostecnolgicos, como o motor fle, possibilitou, em 2006, que 83% dos carros vendidos no rasil pu-dessem rodar utilizando biocombustveis. Hoje, o pas lder global em produo desses combust-veis e prov aproimadamente 43% da oferta de etanol no mercado internacional.

    videntemente, as conquistas brasileiras na rea de biocombustveis no so o nico aspecto me-morvel em cincia e inovao no pas. O nmero de ps-graduados nas universidades brasileirascresceu dez vezes nos ltimos 20 anos. O nmero de doutores em cincia cresceu aproimadamen-te 12% por ano na dcada passada. O rasil um dos pases que crescem mais rapidamente no mun-do em termos de publicaes cientficas.2

    O rasil est causando impacto em diversas reas, de software tecnologia de clulas-tronco. m-presas como a Petrobras investem, hoje, acima de US$ 1 bilho em Pesquisa e esenvolvimento(&D), anualmente. A mpresa rasileira de Pesquisa Agropecuria (mbrapa) ajudou o rasil a setornar uma das naes agrcolas mais produtivas do mundo. A reforma econmica e uma complealegislao que visa estimular investimento em inovao esto comeando a mostrar resultados.

    Ainda assim, os biocombustveis so como um holofote que focaliza algumas das tenses com asquais o rasil ter de lidar em sua busca por inovaes relevantes. Primeiro, o desafio da competio.

    Quo efetivamente pode ele competir no dinmico cenrio global da cincia, tecnologia e inova-o? Que novos pontos fortes emergiro? O pas pode produzir o nmero requerido de cientistas eengenheiros devidamente capacitados para galvanizar seu crescimento futuro? Aps cinco anos dediplomacia do etanol, como o rasil lidar com a crescente onda de crticas, uma vez que construiusua reputao de pas inovador sobre os biocombustveis? O rasil pode convencer o mundo de suaecelncia tambm em outras reas?

    egundo, o desafio da desigualdade. A gritante concentrao de terras no pas caracterstica doagronegcio que est por trs do etanol representativa da sria desigualdade social e geogrficaeistente. sso se reflete em estratgias para cincia e inovao assim como em outras reas da vidaeconmica do pas. O inistrio da incia e ecnologia planeja abrir um novo centro de tecno-logia de bioetanol, ligado ao ultra high-tech Laboratrio acional de Luz incotron, primo ni-versidade stadual de ampinas, um dos principais atores na evoluo da inovao no rasil. omuito longe dali, porm, uma equipe de jovens inovadores do start-up Agricef est trabalhando no

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    ntroduo

    projeto de um aparelho no-automtico de colheita de cana-de-acar, para aumentar a eficincia

    sem provocar desemprego. Assim, cincia de elite vem sendo desenvolvida bem ao lado de tecno-logias que podem beneficiar os mais pobres.

    erceiro, o desafio de equilibrar inovao em termos econmicos com sustentabilidade ambiental.A f loresta tropical amaznica, em sua maior parte situada em territrio brasileiro, abriga um terode todas as espcies de plantas e contribui com 15% do oignio mundial. A Amaznia um fatorcrucial para o equilbrio do clima global e sua biodiversidade considerada um dos recursos maissignificativos para os princpios ativos de novos remdios e tratamentos. omo o rasil pode as-segurar que crescimento econmico e inovao no sejam alcanados custa de seus bens maispreciosos?

    ma economia natural do conhecimento?

    mbora uma imagem detalhada da cincia e inovao brasileira seja inevitavelmente diversificada,

    o presente estudo permite pensar o rasil como economia natural do conhecimento, o que querdizer que seu sistema de inovao se constri, em grande parte, sobre seus recursos naturais e am-bientais. eralmente, consideram-se economias do conhecimento e economias de recursos natu-rais dois plos opostos no continuum do desenvolvimento econmico. e fato, a distino tnue,uma vez que todas as economias se baseiam na combinao de conhecimento e bens naturais dealguma espcie. o entanto, h uma tendncia a se considerar vantagem comparativa baseada emrecursos naturais como indicativa de uma economia em um estgio de desenvolvimento imaturo,que deve ser superado para se alcanar e epandir as fronteiras das possibilidades tecnolgicas.

    ugere-se, aqui, que o caso brasileiro desafia essa viso linear de desenvolvimento. a trajetria al-ternativa que o pas oferece, a crescente capacidade cientfica e tecnolgica no est separada nemse ope a seus recursos naturais, mas integralmente ligada a eles. e petrleo e hidreltricas abiocombustveis e agricultura, do desenvolvimento da biodiversidade s propriedades de mudanaclimtica da floresta tropical, a inovao brasileira atinge seu auge quando aplica a engenhosidadede seu povo aos seus recursos naturais.

    sta publicao d seqncia primeira fase do projeto tlas of deas, que incluiu estudos sobre de-senvolvimento na hina, ndia e oria do ul3. O foco recai sobre as dimenses cientfica e tecno-lgica da inovao, em vez de ser um esforo abrangente para cobrir todos os aspectos do sistemade inovao brasileiro. videntemente, h muito mais sobre inovao do que simplesmente inciae ecnologia (C&T)4 e h vnculos inequvocos entre progressos em C&T e desenvolvimentos maisamplos no sistema de educao brasileiro e sua capacidade para criatividade, inveno e empreen-

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    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

    dedorismo. Quando apropriado, enfatizam-se esses vnculos e sugerem-se reas para pesquisa mais

    aprofundada, mas por razes prticas a anlise detalhada restringe-se a C&T.

    egue-se a descrio da estrutura da publicao. O aptulo 1 uma tentativa de mapear os in-sumos e resultados da cincia e inovao no rasil, selecionando algumas tendncias e as escolhaspolticas que eplicam esses padres. O aptulo 2 analisa aspessoas que esto por trs da cincia einovao no rasil, eaminando progressos no desenvolvimento de seu capital humano. O aptulo3 volta-se para os lugares onde cincia e inovao acontece no pas, o que inclui tanto centros deecelncia j reconhecidos quanto estrelas em ascenso. O aptulo 4 focaliza o negcio de Pesqui-sa e esenvolvimento, revelando onde esto concentrados os esforos da iniciativa privada em &D,e avalia o ambiente para empreendedorismo. o aptulo 5, demonstra-se que a cultura brasileira importante fonte de potencial inovador. O aptulo 6 identifica novas alianas e entraves para acolaborao cientfica. O aptulo final faz uma apreciao geral dos pontos fortes e fracos da cin-cia e inovao brasileira e oferece um prognstico para o futuro do rasil como economia naturaldo conhecimento.

    ota metodolgica

    ste estudo foi realizado pela emos em colaborao com o entro de esto e studos strat-gicos (CGEE), no rasil. aseia-se em uma reviso da literatura e de fontes da nternet, suplementadapor mais de 100 entrevistas realizadas com tomadores de deciso, empreendedores, cientistas e eco-nomistas em sete cidades brasileiras: raslia, uritiba, lorianpolis, anaus, ecife, io de Janeiro eo Paulo. As entrevistas ocorreram em duas viagens de campo entre novembro de 2007 e maro

    de 2008. ma relao das organizaes contatadas est disponvel no Apndice .

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    . anorama

    . anorama

    s pessoas costumam dizer que o rasil o pas do futuro. u no diria que o futuro chegou,

    mas o futuro est chegando e rapidamente.5

    Quando o escritor austraco tefan Zweig escreveu rasil: O Pas do uturo, nos anos 1930,provavelmente no tinha idia de que seu livro, no imaginrio popular, seria transformado depromessa em maldio. O rasil o pas do futuro, escreveu Zweig, e sempre ser, acrescentamos cnicos.

    medida que o rasil se torna proeminente no palco global, parte desse cinismo comea a ceder.H uma crescente convico entre tomadores de deciso, cientistas e lderes empresariais de que ahistria brasileira no cenrio global da inovao est apenas comeando. o se trata de entusiasmodesmedido ou ecesso de autopromoo. um otimismo modesto, cauteloso, mesclado ao pesarde o pas no ter atingido essa situao mais cedo. medida que o otimismo comea a desbancar

    o cinismo, a mima de Zweig resgatada. m vez de uma elegia a um potencial no preenchido,comea a simbolizar epectativas sobre o que o rasil pode alcanar.

    Para lanar alguma luz sobre o que o futuro reserva, este aptulo mapeia o estado atual do sistemade cincia e inovao no rasil, descreve como esse sistema funciona, quem so seus atores prin-cipais, bem como seus pontos fortes e fracos. amina as tendncias que troueram o rasil at oponto onde se encontra, bem como algumas indstrias e setores-chave que moldaro sua direofutura. omea-se por eaminar o ambiente macroeconmico para cincia e inovao que emergiu

    nos ltimos anos.

    ma nova era de previsibilidade econmica

    A introduo do eal durante o governo do presidente ernando Henrique ardoso, em 1994, con-tribuiu para o fim de uma era de devastadora hiperinflao e crise econmica no rasil. Apesar dostemores de que o Presidente Luiz ncio Lula da ilva, do Partido dos rabalhadores, fecharia o rasil

    para a economia global, quando eleito em 2002, o que se viu foi o prosseguimento ao programa deestabilidade.6 m 2008, o rasil, antes inadimplente, recebeu, pela primeira vez, um investiment gra-de, ou seja, um atestado de que merece crdito internacional, o que poder aumentar ainda maisos importantes incrementos em investimento direto eterno (FDI) que o pas recebeu nos ltimoscinco anos. O eplosivo crescimento da hina e da ndia est impulsionando a economia brasileirapela demanda por commodities, de minrio de ferro a soja.

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    m 2003, a oldman achs agrupou essas trs economias, juntamente com a ssia, em um clube

    de elite que denominou BRIC (rasil, ssia, ndia e hina). odavia, com base nas taas de cresci-mento econmico, houve quem questionasse se o rasil realmente merecia estar em companhiato ilustre. omparativamente ndia, cuja taa de crescimento foi de 8,7% em 2007, e hina, com11,9%7, os 4,6% do rasil so modestos (embora sejam mais do que o dobro da taa mdia de 2% dosanos 1980).8 A realidade que a taa de crescimento brasileira menor deve-se ao fato de que o pasj mais desenvolvido e urbanizado do que a hina e a ndia. A igura 1 mostra que o boom econ-mico brasileiro aconteceu muito mais cedo do que o da hina e o da ndia.

    mbora o entusiasmo quanto ao crescimento do rasil no seja to ealtado como o dedicado aosseus pares do BRIC, o crescimento hoje firme e a democracia estvel. m comparao com os dias dealta inflao, quando o mais sensato a se fazer com o dinheiro era gast-lo o mais rapidamente poss-vel, investimentos em processos de longo prazo, freqentemente arriscados, de inovao e pesquisacomeam a fazer sentido. ma sntese de dados socioeconmicos est disponvel na abela 1.

    igura 1 omparao entre o crescimento econmico no rasil

    e pases selecionados, 1953-2003

    0

    2000

    4000

    6000

    8000

    10000

    12000

    14000

    16000

    18000

    20000

    Ano

    PIBrealpercapita-considerandopreos

    epoderaquisitiv

    oconstantes(2000)

    Brasil

    China

    ndia

    Coria

    1953 1957 1961 1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989 1993 1997 2001

    onte: Alan Heston, Robert Summers e Bettina Atem, Pen World Table Version 6.2, Center For Internatonal Comparisons of Production,

    Income and Prices da Universidade da Pennsylvania9, Semtembro de 2006.

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    . anorama

    abela 1 ntese de dados socioeconmicos brasileiros

    ado no Fonte

    rescimento do IB (). mdia

    de crescimento anual-(projeo)

    anco undial

    nvestimento strangeiroireto (IED) (ntradas)

    US . bilhes anco entrale IBGEUS . bilhes

    enda acional ruta per capita USParidade do Poder de ompra (C)

    US ,. anco undial

    Populao milhes

    ( urbana) IBGE

    Porcentagem da populao quevive abaio da linha de pobreza

    stimativa

    mais recente-

    anco undial

    surios de internet(por . pessoas)

    anco undial

    Portadores de celular(por . pessoas)

    anco undial

    Porcentagem de casas com T ND

    aa de alfabetizao( populao com mais de anos)

    anco undial

    incia e inovao no Brasil: uma breve histria

    omo a histria de antos umont no aptulo anterior mostra, a ecelncia da cincia e ino-

    vao brasileira no um fenmeno recente. ontudo, em comparao com alguns dos paresdo rasil, relativamente recente. iferentemente da hina e da ndia, as razes da cincia etecnologia brasileira no so antigas. Antes da colonizao europia, as tribos brasileiras, emsua maioria nmades, no ergueram as grandes civilizaes que surgiram em outras partes daAmrica do ul.19

    O regime colonial deiou um legado parco em termos de educao e escolaridade. Os ndices dealfabetizao comearam a ultrapassar os 30% apenas em 1925. ma comparao com a inlndia

    instrutiva. m meados de 1890, considerando a populao de 5 a19 anos de idade, a razo entreos que freqentavam a escola e os que no freqentavam era 0,08 no rasil e 0,12 na inlndia,o que equivale a dizer que, em ambos os pases, para cada criana na escola havia em mdia 9crianas que no a freqentavam. m 1920, a razo triplicou na inlndia, atingindo 0,29; no rasil,subiu para apenas 0,10. m 1940, essa razo saltou para 0,53 na inlndia, subindo para somente0,22 no rasil.20

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    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

    O desenvolvimento lento do ensino bsico equiparvel ao do ensino superior. nquanto co-

    lonizadores espanhis construam universidades em vrios pases da Amrica Latina, a partir dosculo 16, no rasil os portugueses estavam menos interessados em tais investimentos de longoprazo. m sistema universitrio formal s emergiu nos anos 30 do sculo passado, embora algu-mas instituies de medicina e engenharia como o nstituto utant em o Paulo e o nstitutoOswaldo ruz no io de Janeiro tenham sido fundadas no comeo do sculo 20. 21

    O financiamento nacional sistemtico para cincia comeou em 1951, com a criao de duas agn-cias nacionais, o onselho acional de Pesquisa, CNq agora chamado de onselho acional

    para esenvolvimento ientfico e ecnolgico e a CES, a quem foi atribuda a responsabilida-de pela educao em nvel de ps-graduao. O sistema consolidou-se entre o f inal dos anos 1960e o comeo da dcada de 1980, durante o regime militar (apesar dos significativos conflitos entreo governo e a comunidade cientfica), com a fundao da FINE, a agncia brasileira de inovao, ea criao do FUNTEC, posteriormente FNDCT, o fundo nacional para a cincia e tecnologia.

    rincipais marcos brasileiros em cincia e inovao

    CNq (onselho acional de esenvolvimento ientfico e ecnolgico),agncia federal dedicada promoo de pesquisa cientfica e tecnolgicae formao de recursos humanos para pesquisa no pas

    CES (oordenao de Aperfeiaomento de Pessoal de vel uperior), diviso doinistrio da ducao que supervisiona os programas de estrado e outorado.erencia parcerias internacionais entre universidades brasileiras e estrangeiras.

    FES. undao de Amparo Pesquisa do stado de o Paulo, inaugurada em

    FINE (inanciadora de studos e Projetos), fundada em , tambm conhecidacomo Agncia de novao rasileira. esde a ecretaria ecutiva doundo acional de esenvolvimento ientfico e ecnolgico (FNDCT)

    inistrio de incia e ecnologia (MCT)

    onstituio de - determina que cada estado deve criar sua prpria undao de Amparo Pesquisa (F) nos moldes da de o Paulo. A partir desse momento, outras Fs foram criadas

    riao do primeiro fundo setorial (Petrleo) em focado na realizao depesquisa especfica para o setor com a colaborao entre empresas, universidadese instituies de pesquisa. (m j havia fundos setoriais)

    Lei da novao

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    . anorama

    O moderno sistema de inovao no Brasil

    1. tores-chave

    A CES, o CNq e a FINE continuam sendo atores-chave na cincia e inovao brasileira. rabalhamem sintonia com o inistrio da incia e ecnologia (MCT), que tambm coordena a poltica na-cional de cincia e tecnologia, embora vrios outros ministrios coordenem oramentos cientficos,principalmente o inistrio da Agricultura e seu brao de pesquisa, a mbrapa. Os estados tambmdesempenham papel significativo no financiamento de cincia e tecnologia em muitas regies. A

    onstituio de 1988 estipulou que cada estado deveria ter sua prpria agncia financiadora, seguin-do o eemplo pioneiro de o Paulo, em 1962. A undao de Amparo Pesquisa do stado de oPaulo (FES) segue sendo ator fundamental, com oramento comparvel ao do CNq. m conselhode incia e ecnologia de nvel nacional supervisiona a relao entre as diferentes organizaes.

    2. oltica e governana

    os ltimos dez anos, uma srie de polticas e medidas foi instituda para reforar o potencial bra-sileiro em cincia e tecnologia, particularmente pela criao de mecanismos que ligam os diversosatores do sistema de inovao e pelo estmulo ao investimento privado. las incluem:

    Lei da Inovao (2004): oncebida para fortalecer a relao universidade-indstria na pesquisa,promover o uso compartilhado da infra-estrutura de cincia e tecnologia por empresas e institui-es de pesquisa e permitir subveno pblica direta s empresas, assim como aumentar a mobili-dade de pesquisadores no sistema.

    Lei do Bem (2005): Alm de promover incentivos fiscais para investimento privado em &D, provfinanciamento para empresas que contratam mestres e doutores. O subsdio pode atingir 60% dosalrio nas regies orte e ordeste e 40% no resto do pas e vigora por at trs anos.

    rograma de celerao do rescimento ientfico e Tecnolgico PAC da incia (Novem-

    bro de 2007): az parte do Programa de Acelerao do rescimento (C), prev um investimentode $ 41 bilhes at 2010 e tem como uma de suas metas aumentar os investimentos em &D de

    1 para 1,5% do IB at 2010. Abrange a consolidao e epanso do sistema de inovao nacional, apromoo de tecnologias industriais e estratgias prioritrias para &D e C&T, para desenvolvimentoe incluso social.

    oltica de esenvolvimento rodutivo (PDP) (Maio 2008): ssa nova poltica industrial incluimetas de desembolso e iseno fiscal para setores-chave como TI, biotecnologia e energia, assim

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    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

    como planos ambiciosos para aumentar o fluo do comrcio internacional de 1,18%, em 2007,

    para 1,25%, em 2010, particularmente em produtos de alta tecnologia (abela 2). ma de suas me-tas impulsionar em mais de 10% o nmero de micro e pequenas empresas que eportam bense servios, at 2010.

    abela 2 omposio das exportaes nacionais por intensidade tecnolgica, 2005 (%)

    hile rgentina rasil UE- Japo EUA

    Alta ntensidade tecnolgica , , , , , ,

    dia ntensidade tecnolgica , , , , , ,

    aia ntensidade tecnolgica , , , , , ,

    Produtos intensivos em mo-de-obra e recursos naturais

    , , , , , ,

    Produtos primrios , , , , , ,

    o classificados , , , , ,

    onte: presentao de ariano aplano para o CGEE, nicamp, 2007

    nsumos-chave do sistema de cincia e inovao

    apital umano

    O pool de talentos para cincia e inovao epandiu-se enormemente nos ltimos 20 anos. oentanto, o nmero de brasileiros com educao superior ainda apenas equivalente ao da ranae ao da nglaterra, apesar de a populao brasileira ser trs vezes maior do que a desses pases. Oaptulo 3 eplora a questo do capital humano em maior detalhe.

    inanciamento

    O rasil investiu cerca de 1% do IB em &D durante os ltimos cinco anos, com pequenas flutu-

    aes. mbora esse valor represente uma proporo pequena se comparado mdia global darganisation for conomic o-operation and evelopment (ECD) (2,2%), o rasil lder inquestio-nvel na Amrica Latina (igura 2). omo disse o economista Jos duardo assiolato: O ora-mento federal bastante decente para um pas como o rasil. sso notvel quando se consideraque h trinta, quarenta anos, quase no havia infra-estrutura para pesquisa cientfica.22

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    . anorama

    igura 2 ntensidade em P&D - comparao entre rasil,alguns pases da OECD e latino-americanos, 2005

    0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

    SuciaFinlndia (2006)

    Japo (2004)Coria do Sul

    Estados UnidosAlemanha

    FranaCanad

    Reino Unido (2004)China

    Espanha

    BrasilPortugal

    Chile (2004)Cuba

    ArgentinaMxico

    Bolvia (2002)Uruguai (2002)

    PanamColmbia (2001)

    Peru (2004)Paraguai

    Equador (2003)

    Gastos com P&D em % do PIB no ano de 2005, a menos daqueles em que outro ano est indicado

    onte: ede de ndicadores de incia e ecnologia (RICYT) http://www.ricyt.edu.ar/interior/interior.aps?ivel1=1ivel2=2dio

    ma=ENG; ational cience oundation, ational cience and ngineering ndicators 2008 http://www.nsf.gov/satistics/seind08/

    cocttoo-o4.htm 23

    O setor pblico tem sido, historicamente, a fonte predominante de financiamento para cincia etecnologia,24 embora a participao do setor privado tenha crescido e a diviso entre investimen-to privado e pblico esteja hoje em aproimadamente 50-50 (igura 3). m novembro de 2007, o

    inistro da incia e ecnologia, ergio ezende, lanou o Plano de Ao para C&T. omo visto,o plano prev que o financiamento para &D deve aumentar de 1 para 1,5% do IB at 2010. Quasemetade do dinheiro deve vir do MCT e do FNDCT e o restante, de outros ministrios e do anco a-cional de esenvolvimento de esenvolvimento conmico (BNDES). Aps 2010, h um compro-misso em manter gastos em $ 15,2 bilhes por ano, mais do dobro do que foi gasto em 2006. sseplano ambicioso tambm levar a uma mudana no investimento privado, que deve saltar de 0,5%a 0,65% do IB. As empresas brasileiras tero que desembolsar cerca de US$ 3,4 bilhes a mais at2010.25 sso marca a continuao de uma tendncia em aumentar gastos com cincia desde 2000,

    como mostra a igura 3.26

    Centro de Gesto e Estudos Estratgicos

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    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

    igura 3 Gastos em P&D dos setores pblico e privado, 2000-2005

    0,00

    5.000,00

    10.000,00

    15.000,00

    20.000,00

    25.000,00

    r

    2000 2003 2005 Ano

    Milhes(R$)

    Setor Pblico

    Setor Privado

    onte: inistrio da incia e ecnologia, ndicadores acionais de incia e ecnologia 27, HTTP://www.mct.gov.br/index.php/

    conten/view/29134.html

    abela 3 ntese dos principais insumos de cincia e inovao

    ado no Fonte

    nvestimento em &D ( IB),

    (, privado) ECD

    nvestimento anual em &D US bilhes C ECD

    ormao anual de capital humanoraduao .estrado .

    Ph .

    SC/SEXEC inistrioda incia e ecnologia

    Pesquisadores(por pessoas na ativa)

    ,

    (a partir de , em )RICT

    inanciamento estadual versus fnanciamento ederal

    O rasil uma federao composta por 27 nidades da ederao (UF), distribudas em cinco regies:orte, ordeste, entro-Oeste, ul e udeste. mbora o aporte federal represente a maior parte

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    dos investimentos em cincia, programas financiados pelo estado so significativos em algumas UF,

    o que contribui para cerca de um tero do investimento pblico em cincia e inovao.32 m oPaulo, o estado mais rico, cujo peso no IB nacional da ordem de 40%, a contribuio estadual re-presenta uma alta proporo do gasto pblico e adicionada ao financiamento federal.33

    O mais recente plano de ao governamental para cincia e tecnologia ressalta 13 reas para inves-timento estratgico: biotecnologia e nanotecnologia; tecnologias da informao e comunicao(TICs); insumos para a sade; biocombustveis; energia (eltrica, hidrognio e energias renovveis);petrleo, gs e carvo mineral; agronegcio; biodiversidade e recursos naturais; Amaznia e emi-

    rido; meteorologia e mudanas climticas; Programa spacial; Programa uclear; defesa nacionale segurana pblica. esde 1999, houve uma mudana na poltica que, em vez de financiar eclusi-vamente a pesquisa acadmica, passou a cobrir a colaborao pblico-privado e &D industrial. Apoltica que se pode considerar de maior impacto no estado atual da &D brasileira foi a criao dosundos etoriais. stabelecidos em 1998, h hoje 16 undos etoriais em reas estratgicas comoenergia, telecomunicaes e TI. les direcionam uma frao do imposto de indstrias-chave paraprojetos de &D selecionados por um comit pblico.34 Os fundos no apenas intensificaram ativi-dades de &D em e-estatais depois da privatizao, como tambm distribuem recursos para &Dpor todo o rasil. Pelo menos um tero de cada undo deve ser gasto nas regies menos desenvol-vidas do orte, ordeste e entro-Oeste do pas. Aproimadamente dois teros desses fundos sousados para joint ventures entre o setor pblico e privado. mbora tenham contribudo com apro-imadamente $ 1,1 bilho por ano para o undo acional de esenvolvimento ientfico e ec-nolgico (FNDCT) entre 2000 e 2005, importante notar que o contingenciamento efetuado pelogoverno subtraiu no passado parte significativa da quantia destinada aos undos etoriais que podeser efetivamente gasta. om a crescente estabilidade econmica, essa quantia contingenciada est

    diminuindo cada vez mais.

    rincipais resultados do sistema de cincia e inovao

    ublicaes

    ma maneira de medir o progresso brasileiro em cincia e inovao olhar para a bibliometria: an-

    lise de publicaes cientficas e citaes. e acordo com o banco de dados hompson ISI, o rasil o 15 maior produtor de publicaes cientficas no mundo.35 ubiu do 23 lugar, em 1999, crescendo8% ao ano (igura 4), superando dramaticamente outros pases latino-americanos e ultrapassou pa-ses com significativas bases acadmicas como lgica e srael.36

    Centro de Gesto e Estudos Estratgicos

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    4

    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

    igura 4 ublicaes brasileiras indexadas pelo SCIE -

    otal e parcela da produo mundial, 1981-2006

    0

    2.000

    4.000

    6.000

    8.000

    10.000

    12.000

    14.000

    16.000

    18.000

    1981

    1982

    1983

    1984

    1985

    1986

    1987

    1988

    1989

    1990

    1991

    1992

    1993

    1994

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    Ano

    Nmerodear

    tigos(linhaazul)

    0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1

    1,2

    1,4

    1,6

    1,8

    2

    Porcentagemdototaldepub

    licaesnomundo(linhalils)

    onte: ISI cience itation ndex xpanded37

    onsiderando que h outras bases de dados no includas nessa anlise, isso no mostra todo oquadro. ma das bases mais interessantes a cientific letronic ibrary nline (ciE).38 rata-sede um sistema de consulta cientfica aberto, criado em 1997, mantido pela FES e pelo entrode nformao Latino-Americano e aribenho de incias da ade (BIREME). ais de 37.000 arti-

    gos esto disponveis para download em portugus, espanhol e ingls; o rasil soma 69% do totaldesses artigos.39

    Pode-se ter uma idia sobre onde reside a fora do rasil olhando as reas da cincia que produzema maioria das publicaes. As maiores concentraes de publicaes brasileiras so em reas comoagricultura, biologia e cincias espaciais e da terra padro de concentrao que alguns analistasbatizaram de modelo bioambiental, tambm encontrado em outros lugares na Amrica Latina.40 importante notar que cincias biomdicas e biotecnologia tendem a produzir mais publicaes no

    mundo inteiro, portanto o elevado nmero de publicaes nesses campos no surpreendente porsi s. ontudo, o peso relativo da cincia agrcola trs vezes maior e o da biologia 2,6 vezes maiornas publicaes do rasil, na comparao com a mdia mundial, ressaltando a vantagem compara-tiva do pas nessas reas da economia natural do conhecimento. H tambm uma srie de contri-buies de impacto (medidas pelo nmero de vezes que artigos subseqentes citaram essas publi-caes) em neurocincias, cirurgia cardiovascular, gentica humana e seqenciamento gentico.41

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    Oitenta por cento dos projetos de pesquisa so desenvolvidos em universidades pblicas e institui-es de pesquisa do setor pblico.42 A distribuio da produo cientfica no uniforme no pas,havendo grande concentrao na egio udeste. A niversidade de o Paulo (US) responde sozi-nha por um quarto do total de publicaes cientficas brasileiras.43 (abela 4)

    abela 4 s 25 instituies brasileiras de pesquisa mais prolfcas, 1991-2003

    osio nstituio orcentagem do total de publicaes

    niversidade de o Paulo (US) ,

    niversidade stadual de ampinas (nicamp) ,

    niversidade ederal do io Janeiro (UFR) ,

    niversidade stadual de o Paulo (nesp) ,

    niversidade ederal do io rande do ul (UFRGS) ,

    niversidade ederal de inas erais (UFMG) ,

    niversidade ederal de o Paulo (UNIFES) ,

    mpresa rasileira de Pesquisa Agropecuria (mbrapa) ,

    niversidade ederal de o arlos (UFSCR) ,

    undao Oswaldo ruz (iocruz) ,

    niversidade ederal de anta atarina (UFSC) ,

    niversidade ederal de Pernambuco (UFE) ,

    niversidade ederal do Paran (UFR) ,

    niversidade ederal luminense (UFF) ,

    niversidade de raslia (n) ,

    niversidade stadual do io Janeiro (UER) ,

    entro rasileiro de Pesquisas sicas (CBF) ,

    Pontifcia niversidade atlica do io de Janeiro (UC-io) ,

    niversidade ederal de Viosa (UF) ,

    niversidade ederal do ear (UFC) ,

    nstituto acional de Pesquisa spacial (npe) ,

    omisso acional de nergia uclear (CNEN) ,

    niversidade ederal da Paraba (UFB) ,

    niversidade ederal da ahia (UFB) ,

    niversidade stadual de aring (UEM) ,

    onte: cience in razil, cientometrics44

    Centro de Gesto e Estudos Estratgicos

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    Cincia, Tecnologia e Inovao

    atentes

    Outro produto fundamental do sistema de cincia e inovao so as patentes. O aumento no n-mero de patentes no conseguiu acompanhar o ritmo do aumento das publicaes, indicandofragilidades potenciais na comercializao do conhecimento. m 2005, o rasil respondeu por 1,8%do total das publicaes indeadas do SCIE, mas por apenas 0,08% dos pedidos de patentes apre-sentados ao UST. A atividade brasileira no campo das patentes triplicou entre 1985 e 2005, taade crescimento superior de seus pares latino-americanos, ico e Argentina. ontudo, seus

    concorrentes em outras regies esto crescendo mais rapidamente. A mais emblemtica ilustra-o disso a oria do ul: em 1985, o nmero de pedidos brasileiros junto UST representava60% do total coreano; em 2005, passou para apenas 2%. m 1985, o rasil tinha quase o dobro depedidos da ndia e ingapura juntos. m 2005, ingapura produzia acima de trs vezes mais que orasil, e a ndia, quase cinco. m 1997, o rasil apresentava mais pedidos de patentes ao UST doque a hina. o entanto, menos de 10 anos depois, a hina j estava produzindo sete vezes maisdo que o rasil (igura 5).

    igura 5 endncia em pedidos de patente junto ao USPTO -

    omparao entre o rasil e pases selecionados, 1985-2005

    0

    2000

    4000

    6000

    8000

    10000

    12000

    1985

    1986

    1987

    1988

    1989

    1990

    1991

    1992

    1993

    1994

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    Ano

    NmerodeinscriesdepatentesnaUSPTO

    Coria

    Reino Unido

    Frana

    Finlndia

    China

    ndia

    Brasil

    onte: ompndio das statsticas de Patentes da ECD 200745. TT://www.oecd.org/document/10/0,3343,en 2649 34451 1901066 1

    1 1 1,00.html

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    . anorama

    abela 5 ntese dos principais resultados de cincia e tecnologia

    Nmero no Fonte

    mero de publicaes cientficasindeadas pelo cience itationnde panded (SCIE)

    .(, da produoglobal)

    RICT

    rescimento em nmero de publicaescientficas indeadas pelo cienceitation nde panded (SCIE)

    - lanzel, W. et al

    mero de pedidos de patentejunto ao nited tates Patent andrademark Office (UST)

    ECD ompendium ofPatent tatstics

    rescimento em nmero de aplicaesde patente - nited tates Patentand rademark Off ice (UST)

    -ECD ompendium ofPatent tatstics

    Mapeando as fronteiras: retratos da cincia

    evisto o carter geral do sistema de cincia e inovao brasileiro, til eaminar em detalhe algunsde seus campos de fronteira.

    Biocombustveis

    omo discutido neste estudo, grande parte dos debates polticos e cientficos d-se em torno dosbiocombustveis. O CGEE, que acaba de completar importante estudo sobre o futuro do bioetanolno rasil, estima que, nos ltimos 30 anos, US$ 207 milhes tenham sido investidos em pesquisa narea de biocombustveis. a mais recente poltica de desenvolvimento industrial nacional (publicadaem maio de 2008), o governo comprometeu-se a aumentar a produo de etanol para 23,3 bilhesde litros at 201048. O rasil diferencia-se de outros pases produtores de biocombustvel no s pelovolume de sua produo, mas principalmente pelo uso de cana-de-acar na produo do etanol epela biotecnologia de cana requerida. m 2003, cientistas brasileiros completaram a identificao de

    40.000 genes da cana-de-acar. omparado ao bioetanol norte-americano, produzido a partir domilho, o bioetanol proveniente da cana-de-acar apresenta balano energtico cinco vezes maior.49O rasil tem uma histria mais recente com o biodiesel do que com o etanol. O primeiro programade produo e utilizao de biodiesel, o NB, foi lanado em 2005; 2% do diesel de petrleo deveroser substitudos pelo biodiesel de origem vegetal, um aumento de 5% at 2013.50

    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia Tecnologia e Inovao

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    Cincia, Tecnologia e Inovao

    Quo sustentveis so os biocombustveis?

    Os dilemas relativos aos impactos sociais e ambientais dos biocombustveis so muitos. er desas-troso se plantios servirem para encher o tanque do carro de ricos enquanto pobres passam fome,como argumentam alguns ativistas. o entanto, trata-se de uma situao complea, na qual o de-bate freqentemente muito simplificado, negligenciando outras causas polticas e comerciais dainsegurana alimentar.

    m algumas situaes, subsdios para a produo de biocombustvel poderiam causar impacto so-

    bre a oferta de alimentos. lobalmente, porm, apenas 1% das terras cultivveis est sendo utilizadoatualmente para produo de biocombustveis, com uma previso de cobertura da ordem de 3 ou4% em 2030. o rasil, a cana-de-acar usada para o bioetanol utiliza apenas 5% da rea cultivadano pas.51 Vinte bilhes de litros de bioetanol so produzidos em 3,5 milhes de hectares. aseando-se na eperincia brasileira, para atingir uma mistura de 10% de bioetanol de cana-de-acar nospadres de consumo de gasolina atuais, menos de 25 milhes de hectares seriam necessrios. emtodos os modelos de cultivo, porm, sero baseados no brasileiro. H tambm preocupaes am-bientais referentes ao uso da gua e de fertilizantes.

    ultivar sua posio de liderana em biocombustveis, particularmente o papel de consultor que opas vem assumindo entre os pases em desenvolvimento, traz uma grande responsabilidade para orasil. preciso garantir que a indstria seja de fato sustentvel e liderar pelo eemplo na maneiracomo equilibra prioridades concorrentes.

    ronmetro para a cincia

    H um ponto alm do qual a produo atual de biocombustveis no poder aumentar sem colo-car em risco a biodiversidade e as terras disponveis para a produo de alimentos. essa a razopela qual as pessoas esto to interessadas nos biocombustveis de segunda gerao que podemproduzir mais energia sem aumentar as reas de cultivo ou sem utilizar culturas alimentares. H doisprincipais desafios cientficos no caso do etanol. Primeiro, reduzir os requisitos de rea cultivvel,fertilizante base de nitrognio e gua. egundo, encontrar maneiras de utilizar a planta inteira naproduo de combustvel, incluindo a celulose e a lignina que so resduos pelos mtodos de pro-

    duo atuais. Alm disso, em vrios pases h pesquisas para encontrar novas fontes de biocombus-tvel, tais como algas freqentemente denominadas de terceira gerao.

    azer frente a esses desafios provavelmente demanda uma combinao de melhoria e engenhariagenticas, assim como desenvolvimentos no campo da hidrlise (reao qumica que utiliza guapara desagregar um composto). O rasil erroneamente visto como um pas cujos esforos esto

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    . anorama

    sendo concentrados apenas em melhorar a eficincia dos biocombustveis de primeira gerao,

    porm eibe um corpo considervel de pesquisas e um forte cluster de pesquisa especializada devanguarda nos estados de o Paulo e io de Janeiro. mportantes instituies so a niversidadede o Paulo (US), a niversidade stadual de ampinas (nicamp), a niversidade do stado deo Paulo (nesp), o nstituto Agrnomo de ampinas (IC), a mbrapa e o entro de ecnologiada ana (CTC), que, em 2008, anunciou a abertura de uma planta piloto para o bagao resduo decelulose resultante da produo do etanol da cana-de-acar. O ugarcane ES roject (SUCEST), daFES, envolvendo uma rede de 50 laboratrios, est ativo desde 1999 e hoje a maior iniciativa de-dicada ao estudo do genoma da cana no mundo. A Petrobras gasta 5% de seu oramento de $ 1

    bilho para &D em pesquisas com biocombustveis.

    Alm da iniciativa BIEN, da FES slida parceria pblico-privada voltada pesquisa em bioenergia,que envolve mais de cem cientistas paulistas e o maior produtor de usinas de etanol , desenvolvimen-tos recentes incluem a abertura, inicialmente planejada para agosto de 2008, do entro de incia eecnologia do ioetanol (CTBE). O entro deve ser instalado nas vizinhanas do Laboratrio acionalde Luz incrotron em ampinas que, alm de sua fonte de luz, tambm abriga um laboratrio de bio-logia molecular estrutural e um centro de nanotecnologia. om um oramento inicial de $ 130 mi-lhes, os estudos do entro vo abranger desde novas formas de produo de etanol at pesquisasbsicas com nano e biotecnologia. O entro concebido como cerne nacional para desenvolvimentode capacidades, a fim de acelerar solues sustentveis para produo de bioetanol.

    esquisas com biodiversidade

    Apesar dos avanos na rea de qumica sinttica, cientistas continuam entusiasmados com os micro-

    organismos e plantas como fontes de novas drogas. O incrvel acervo brasileiro em biodiversidadecompreende quase um quarto da totalidade de plantas, animais e microorganismos encontrados emhabitat natural em todo o mundo. uitos programas e projetos para o uso de componentes da bio-diversidade esto sendo desenvolvidos nas ltimas duas dcadas, impulsionados por agncias federaise estaduais. m 1994, o governo brasileiro criou o Programa acional para iversidade iolgica, oPronabio,52 que, por sua vez, levou criao de programas como o iota, da FES.53 O nstituto a-cional de Pesquisa da Amaznia (IN) tambm vem catalogando biodiversidade h dcadas.

    ecentemente, o CGEE foi indicado pelo inistrio da incia e ecnologia para dar orientao tc-nica e organizacional para a criao de redes de inovao baseadas na biodiversidade amaznica nasreas cosmtica, fito-farmacutica e de bebidas no-alcolicas. ontudo, estabelecer um arcabouolegal para a comercializao bem sucedida desses produtos tem sido um processo difcil, aumentan-do a tenso na colaborao internacional, como se ver no aptulo 7.

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    anotecnologia

    O apoio coordenado do governo brasileiro para a nanotecnologia comeou em 2001, com a criaode quatro redes nacionais de nanotecnologia e nanocincia que ligam hoje aproimadamente 40institutos de pesquisa por todo o rasil. m estudo recente feito pela oordenao do Programade Pesquisa em incias atas (CCEX) do CNq identificou que essa rede de nanotecnologia con-ta com mais de 2.200 membros. Os focos de grande parte desse trabalho cientfico so materiais,dispositivos (incluindo eletrnicos e ticos) e nanobiotecnologia.54 m 2004, os esforos brasileirosem nanocincia e nanotecnologia foram classificados como medianos em comparao com os pa-

    ses em desenvolvimento55. m 2006, um artigo publicado na revista ature, medindo o nmero depublicaes produzidas sobre nanocincia entre 1999 e 2004, colocou o rasil em 20o lugar em umrankingde 33 pases. os ltimos quatro anos, houve um apoio significativo do MCT, do MEC e dasfundaes estaduais para essa rea de pesquisa.56

    A abela 6 ilustra os investimentos do MCT em nanotecnologia entre 2001 e 2007. O salto dado em2005 reflete o investimento considervel feito por laboratrios regionais e estratgicos (NS, INME-TR, mbrapa e CBF), totalizando cerca de US$ 32 milhes. m 2008, a Petrobras criou sua prpriarede de nanotecnologia, que provavelmente ter um efeito positivo.57

    As principais reas a serem beneficiadas com pesquisas no campo da nanocincia no rasil so aaeroespacial, manufatura de materiais, catlise, qumica, ttil, farmacutica e cosmtica. ontudo, ainfra-estrutura fsica, poltica e legal para a nanocincia e para a nanotecnologia ainda muito recen-te e teme-se que ainda reste um bom tempo at que se possa ter aplicao industrial generalizada.

    abela 6 nvestimento do governo brasileiro em pesquisa em nanotecnologia, 2001-2006es Financiadas ramento

    edes de nanotecnologia - milhes

    nstitutos do ilnio - , milhes

    edes de nanotecnologia - milhes

    undos setoriais - , milhes

    esenvolvimento de anocincia e Programa de anotecnologia - Plano Plurianual ( -) , milhes

    undos setoriais - , milhesRE novao - , milhes

    Programa acional de anotecnologia - , milhes

    nstitutos do ilnio e editais na rea de microeletrnicos - , milhes

    dital do Programa acional de anotecnologia , milhes

    otal - (US milhes) , milhes

    onte: anoforumEULA58

    . anorama

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    . anorama

    esquisa com clulas-tronco bases frmes

    m 2003, um projeto de colaborao entre a niversidade ederal do io de Janeiro e a niversi-dade do eas descobriu que clulas-tronco podem ser teis no tratamento de doenas cardacasterminais, o que constitui marco importante para essas clulas. mbora o lado brasileiro da parceriatenha focalizado basicamente testes clnicos, isso atraiu a ateno do governo e alertou para o po-tencial brasileiro neste campo de pesquisa.59 m 2004, o governo brasileiro lanou um programa deUS$ 4.3 milhes que visava financiar pesquisa em rede sobre o uso de clulas-tronco no tratamentode doenas de corao. omo resultado, h hoje um importante programa de clulas-tronco em

    cardiologia.60 O professor r. Jos Krieger, que coordena um prolfico grupo de pesquisa no ncor,hospital de pesquisas de doenas cardiolgicas com mais de 3.000 leitos em o Paulo, est geran-do tanto interesse, que uma instituio do governo de ingapura o procurou para oferecer-lhe umasubveno. O financiamento adequado aqui, disse ele, mas isso no acontece do nada e issonem estava na minha especialidade! sso mostra que ns estamos no radar.

    sse conhecimento est se estendendo para alm da cardiologia. m 2007, cientistas da niversida-de de o Paulo que trabalham em parceria com um grupo de norte-americanos realizaram a pri-meira tentativa bem sucedida do uso de clulas-tronco para tratamento de diabetes.

    nquanto pesquisas com clulas adultas avanam consideravelmente, h muita controvrsia no to-cante a pesquisas com clulas embrionrias, desde que, em 2005, a Lei de iossegurana, que se re-feria principalmente ao plantio de organismos geneticamente modificados, passou a permitir tam-bm pesquisas com clulas embrionrias. O Procurador-eral da epblica levou o inistrio daade a recorrer da deciso, alegando que era inconstitucional e um atentado ao direito vida. m

    maio de 2008, a deciso foi revogada e o upremo ribunal ederal decidiu em favor de pesquisasutilizando clulas embrionrias. o se sabe quo rapidamente esse campo ir progredir no rasil.

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    . essoas

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    A fumaa do cigarro da professora ertha ecker desfaz-se preguiosamente em meio estimulantepaisagem da praia de opacabana que se avista do seu apartamento. o seu vestido estampado dezebra e sapatos combinando, parece em tudo uma acadmica aposentada. as uma enorme pilhade livros e papis na mesa atrs dela conta uma histria diferente. ertha trabalha arduamente emum relatrio que est preparando para o ministro-chefe da ecretaria de Assuntos stratgicos, o-berto angabeira nger, sobre o desenvolvimento futuro da regio amaznica. endo se dedicado

    durante muitos anos a essa rea complea de pesquisa e poltica, ertha se diz uma autodidata. uacarreira acadmica cresceu com o sistema. Quando ela se formou, no comeo de 1950, a educaosuperior no rasil estava em sua adolescncia. Quando fez seus estudos para a livre docncia, em1970, ela e seus colegas eram um grupo seleto. omo muitos de seus contemporneos, ela fez seups-doutorado no eterior, no MIT, em 1980, mas retornou para se tornar professora. O sistema uni-versitrio no qual ela trabalha hoje irreconhecvel, se comparado ao que ela freqentou algumasdcadas atrs: no primo ano, 10.000 doutores e 30.000 mestres vo se diplomar.

    O presente aptulo sobre capital humano no rasil. ele, analisa-se a importncia crucial que oaumento de mo-de-obra altamente qualificada nos ltimos 30 anos teve para o sistema de inova-o. Alm de mapear essas tendncias entre a elite bem qualificada, o aptulo eamina tambm osesforos para liberar o potencial de todo o povo brasileiro. omo uma economia natural do conhe-cimento, o rasil reconhece a necessidade de ampliar seu entendimento sobre um sistema nacionalde inovao como um sistema que realmente incorpora toda a nao.

    assa crtica, no em massa

    O sistema educacional brasileiro desenvolveu-se lentamente, em seu incio, devido a circunstnciashistricas.61 o entanto, houve uma transformao nas ltimas duas dcadas. O nmero de dou-tores e mestres que o rasil produz hoje dez vezes maior que 20 anos atrs. m comparao a1960, quando eistia apenas um curso de ps-graduao, em 2004, havia 1.900 cursos disponveisde mestrado e 988 de doutorado.62 O nmero de doutores em cincia cresceu acima de 12% ao ano

    durante a ltima dcada.63

    A educao superior no rasil epandiu-se dramaticamente nas ltimas duas dcadas. m 2004, asuniversidades brasileiras tinham mais de 4 milhes de alunos matriculados. O governo federal man-tm 44 universidades (pelo menos uma em cada uma das 27 nidades da ederao, mas at 11em estados desenvolvidos, como inas erais) e 39 entros de ducao cnica. H 2.165 univer-

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    sidades no pas no entanto, 89% delas so privadas e no so orientadas para cursos tcnicos.64 A

    educao superior privada aumentou enormemente na ltima dcada, com 50% das matrculas emo Paulo e 84% no rasil inteiro, de 1998 a 2002.65

    Os cursos de ps-graduao so rigorosamente avaliados pela CES66 a organizao do inistrioda ducao responsvel por coordenar a educao em nvel de ps-graduao e dois teros delesso classificados no mnimo como de padro internacional. o obstante, a qualidade dos cursosde graduao mais varivel.

    Apesar de ser um dos maiores pases do mundo em termos geogrficos, a vantagem comparativado rasil em cincia no est no puro peso dos nmeros. ua populao de 190 milhes de habi-tantes ofuscada pela da ndia e pela da hina. m realidade, como revela a igura 6, o nmero depessoas com educao superior no rasil equivale ao da nglaterra e da rana.67

    igura 6 omparao entre a populao com educao superior no rasil

    e em pases selecionados, 2000

    EUA

    China

    ndiaR

    ssiaJ

    apo

    Filip

    inas

    Alemanha

    Bras

    il

    Cori

    adoS

    ulReino

    Unido

    Tailndia

    Mxico

    Frana

    Outros

    onte: NSF e ndicadores de ngenharia 200868

    Paulo igueiredo, professor da undao etlio Vargas no io de Janeiro, a mais antiga escola deadministrao pblica do rasil, est atualmente trabalhando com colegas para modelar a ofertade capital humano. les esto analisando no s o aumento em nmeros, mas tambm sua ade-quao sociedade brasileira. merge um padro claro de oferta e demanda muito diferente daseconomias asiticas.

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    ases asiticos so muito bons em produo em larga escala e de grande volume. rasil

    simplesmente no consegue competir com isso. or isso, precisamos de uma nova viso. ossaviso para 2050 a de pesquisas de ponta em indstrias de recursos naturais, como a biotecno-

    logia, biocombustvel, processamento alimentar e ao um modelo muito sofisticado de P&D

    para recursos naturais... o podemos competir com a sia em microeletrnica portanto

    precisamos saltar para um novo paradigma tecnolgico.69

    A materializao desse projeto necessitar de mo-de-obra tcnica altamente qualificada, pormainda escassa.70 A fim de otimizar o impacto do aumento progressivo de capital humano, h dois

    desafios que o rasil precisa enfrentar. O primeiro absorver esse capital em reas do sistema nasquais ele pode criar mais impacto, assim como atrair a dispora cientfica brasileira potencial. O se-gundo aprofundar o fornecimento de capital humano pela nfase continuada em educao bsicae no tratamento da desigualdade.

    bsorvendo os diplomados, atraindo a dispora

    as naes mais avanadas cientificamente, a maioria do pessoal que se dedica a &D trabalha nosetor de servios. o rasil, a maioria est na educao superior e na administrao pblica, comosugere a igura 7.

    igura 7 istribuio de doutores no mercado de trabalho brasileiro

    47%

    48%

    4%

    1%

    AdministraoPbli

    ca

    Educao

    Sade

    Indstria

    onte: Viotti, . nd aessa a . (2008). aractersticas do mprego dos outores rasileiros: CGEE71

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    O rasil precisa mudar essa distribuio e aumentar a quantidade de cientistas que trabalham naindstria. H novos subsdios considerveis disponveis para empresas que contratam mestres edoutores, como discutido no aptulo anterior, mas no h ainda evidncias significativas de que ospadres de contratao das empresas estejam mudando.

    Assim como absorver os novos grupos de diplomados internos, o rasil poderia aproveitar mais ofluo de sua dispora cientfica. O papel crucial das disporas chinesa e indiana em seus recentessucessos cientficos, tecnolgicos e empresariais est bem documentado.72 A ndia criou um minist-

    rio unicamente dedicado a organizar polticas relacionadas a remessas e fluos de investimento oinistrio dos ndianos no terior. A he ndus ntrepreneurs (i) uma organizao empreen-dedora formada por indianos que vivem na regio do Vale do ilcio. omposta de 12.000 pessoas ,espalhadas por 49 unidades em 11 pases, apoiou a criao de negcios que valem mais de US$ 200bilhes. A hina dispe de etensas polticas para atrair cientistas egressos conhecidos como tar-tarugas marinhas, incluindo esquemas que oferecem generosos incentivos financeiros. O rasil, po-rm, no parece usar qualquer dessas atraes.

    e acordo com um estudo recente, a cada ano, entre 140.000 e 160.000 brasileiros diplomados dei-am o pas em busca de oportunidades profissionais em outros pases.73 o entanto, essa fuga decrebros no ainda uma preocupao importante. m parte, isso se deve a que uma grande parcelados estudantes brasileiros que estudam fora retorna ao pas depois de concludos seus estudos. Pa-dres de financiamento tambm parecem estar mudando, com a CES cobrindo os custos de umnmero menor de estudantes no eterior. Alguns sugerem que essa reduo no financiamento vaise refletir na diminuio da taa de retorno de estudantes, que se sentiro menos obrigados a voltar.

    ontudo, isso pode no ser de todo mal, desde que eles permaneam conectados. O diretor do la-boratrio de gentica molecular e cardiologia do ncor, r. Jos Krieger, e-aluno de tanford e Har-vard, sente que a dispora tem um efeito misto na cincia: m certa medida, eu gostaria que maiscientistas f icassem no eterior por mais tempo eles so colaboradores importantes para ns.

    Alguns cientistas egressos j esto causando agitao na comunidade cientfica brasileira. m janeirode 2008, a cientific merican revelou os planos do neurocientista iguel A. L. icolelis, baseado naniversidade de uke, que pretendia construir um instituto de neurocincia proof-of-concept em

    atal o plo de um cluster de vrios projetos neurocientficos que, juntos, comporiam um cam-pus do crebro. 74 m agosto de 2007, icolelis j havia angariado US$ 25 milhes para sua fundaosem fins lucrativos, incluindo uma soma considervel doada pela viva de um dos maiores magnatasbrasileiros, o banqueiro dmond afra. O plano de longo prazo de icolelis envolve a criao de umarede de cidades da cincia espalhadas pelas regies mais pobres do rasil, cada uma com uma es-pecializao diferente, de nvel internacional. O sucesso de cientistas da dispora quase sempre gera

    . essoas

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    algum tipo de tenso na comunidade cientfica local que sente, algumas vezes justamente, que suas

    realizaes esto sendo ofuscadas . ntretanto, sem dvida h enormes benefcios em se abraaremas oportunidades oferecidas pela comunidade da dispora.

    Os indicadores da educao superior contam uma histria importante acerca do topo da rvore.mbora as elites nacional e global representem uma importante parte do spectrum da cincia etecnologia no rasil, os fundamentos de longo prazo para o crescimento futuro esto refletidos naqualidade da educao bsica. A despeito de melhorias considerveis nessa rea, h ainda um lon-go caminho a ser percorrido. Os quatro milhes de matrculas em nvel superior anualmente so

    apenas uma frao, em torno de 10%, da populao potencial de estudantes em idade entre 18 e 24anos do rasil. Aprofundar e ampliar o acesso educao de qualidade continua crucial.

    proundamento

    O rasil realizou enormes avanos na proviso universal de educao bsica. nquanto um quintodas crianas de 7 a 10 anos de idade no freqentava a escola em 1980, em 2002 essa frao havia

    sido reduzida para 3%.75 A renda da populao pobre est crescendo a taas chinesas, de acordocom alguns analistas,76 e programas sociais macios de transferncia de renda, tais como o olsa Fa-mlia, parecem estar provando seu sucesso.77 o entanto, a desigualdade continua gritante. ome-seo caso de o Paulo: a cidade com o maior nmero de helicpteros, depois de ova York, permi-tindo que eecutivos muito bem pagos evitem o trnsito nas horas de pico, enquanto 1,7 milho depessoas ainda vive em favelas.

    mbora as favelas brasileiras tenham se tornado clebres em filmes como idade de eus, de er-nando eirelles e Ktia Lund, o rasil no o nico pas com esse problema de etrema desigual-dade. egundo estimativas recentes, hina e ndia tm uma proporo maior de populao favela-da.78 as a desigualdade importa para cincia e inovao e afeta o rasil de modo particularmenteadverso. m relatrio recente da ECD comparou os efeitos da desigualdade no desempenho daeducao cientfica de diversos pases. Apesar de todos os pases apresentarem algum grau de visde classe, o estudo revelou que a desigualdade contribua significativamente para a m desempenhoagregada no rasil. Os gastos brasileiros em educao cientfica por aluno so comparativamente al-

    tos, mas esse investimento no est surtindo os efeitos desejados por conta da desigualdade em suaproviso. e o rasil fosse to igualitrio como a mdia dos pases da ECD, seu desempenho geralem cincia e educao melhoraria um pouco mais de 30 pontos.79 triste observar que, apesar daepanso e melhoria do sistema educacional brasileiro nos anos recentes, as taas de desigualdadecontinuam similares as de quando ertha ecker era estudante.80

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    . Lugares

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    . Lugares

    o se pode falar sobre o rasil como um nico sistema de inovao. Voc precisa entender as

    diferenas existentes dentro dele.os assiolato, nstituto de conomia, UFRJ

    o se espera encontrar uma cidade no meio de uma floresta. o entanto, depois de voar sobrenada alm de uma densa floresta e rios por horas, visitantes que chegam a anaus, na Amaznia,

    pousam em uma cidade cosmopolita de 1,6 milhes de habitantes. e no se espera encontrar civili-zao, tampouco se espera microeletrnica, mas ony, G e amsung possuem plantas instaladas nabem sucedida zona franca da cidade. omo sede do nstituto acional de Pesquisas da Amaznia(IN), a cidade orgulha-se por uma das mais importantes instituies de pesquisa do pas.

    o obstante, a produo cientfica da Amaznia no pode competir com o volume de pesquisasinternacionais sobre a regio. A bacia amaznica provavelmente um dos lugares mais estudados domundo. ela pode ainda produzir muitas surpresas, como ilustra uma reportagem de maio de 2008

    sobre uma tribo at ento considerada desconhecida que vive no estado do Acre, perto da fronteiraperuana. sso causou impacto, embora se tenha descoberto, posteriormente, que essa tribo j haviasido documentada por especialistas.81

    O rasil ainda est eplorando as fronteiras de seu prprio territrio, ao mesmo tempo em queeplora as f ronteiras da cincia. endo, geograficamente, o quinto maior pas do mundo, possui setemil e quinhentos quilmetros de costa e faz fronteira com dez pases. ua populao, de 190 milhesde habitantes, vive predominantemente na costa atlntica das regies udeste e ordeste. A regioorte, que contm uma densa floresta e a bacia amaznica, uma das cinco regies, alm do ridoordeste, das montanhas e planaltos do entro-Oeste e do ul e do litorneo udeste.

    A cincia e inovao brasileira est fortemente concentrada no udeste do pas: em o Paulo, noio de Janeiro e em inas erais, mas mudanas esto a caminho. O rico ul, onde os estados doParan, anta atarina e io rande do ul oferecem alguns dos melhores ndices de qualidade devida do pas, est revelando sua promessa para inovao. oncomitantemente, um dos maiores

    projetos do mundo de difuso nacional de pesquisa e investimento para inovao est em desen-volvimento. O mapa da criao do capital humano, por tanto tempo to concentrado no udeste,est comeando a mudar graas aos grandes volumes de recursos que esto sendo direcionadosa regies subdesenvolvidas, como o orte e ordeste, onde alguns clusters impressionantes estoemergindo no apenas em anaus. ste aptulo eplora esses padres e concentraes, realan-do os hotspots em cincia e inovao eistentes e futuras estrelas em ascenso (apa 1).

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    apa 1 idades que se destacam em incia e novao

    As diferenas fsicas entre as regies correspondem a profundas diferenas socioeconmicas,como ilustra a abela 7. O udeste no apenas mais populoso que outras regies: tambm

    mais rico, mais urbanizado e tem melhor nvel educacional. m contraste, as regies orte e or-deste so mais pobres, mais rurais e eibem rendas per capita aproimadamente duas vezes me-nores que as do udeste. aas de pobreza so tambm mais altas de um quarto a um terodos lares beneficiam-se de algum programa social e taas de analfabetismo so entre duas equatro vezes mais altas.

    Regio Centro Oeste

    Regio Nordeste

    Regio Norte

    Regio Sudeste

    Regio Sul

    Manaus

    Brasilia

    Campinas

    Curitiba

    So Jos dos Campos

    So Paulo

    Joinville

    Florianpolis

    Recife

    Santa Ritado Sapuca

    . Lugares

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    abela 7 Variao regional dos indicadores socioeconmicos

    egio

    opulao total,

    (milhes depessoas)

    PIB per capita,4 ($)

    axa derbanizao,

    ()

    axa deanalabetismo

    em pessoascom mais de anos,

    ()

    ares que sebenefciaram de

    programas deassistnciasocial,

    ()

    orte , , , , ,

    ordeste , , , , ,

    entro-Oeste , , , , ,

    udeste , , ,

    ul , , , , ,

    BRASIL 7, ,7 , ,4 ,

    onte: B

    Alm da variao entre regies, h tambm uma considervel gama de variao econmica dentro

    das regies , como mostra a abela 8. mbora o rasil seja lingisticamente homogneo, etnicamen-te heterogneo, como herana da imigrao, no fim do sculo 19 e comeo do sculo 20, provenienteda uropa, do Japo e do Oriente dio e, antes disso, do colonialismo e do trfico escravo.

    abela 8 Variao egional da desigualdade e da diversidade tnica

    egio

    esigualdadede renda

    oefcientede Gini

    omposio tnicaiversidade

    tnica

    rancos Negros ardos siticos/ndios

    ndice deracionaliza-o racial

    aproximado

    orte , , , , , ,

    ordeste , , , , , ,

    entro-Oeste , , , , , ,

    udeste , , , , , ,

    ul , , , , , ,

    BRASIL , ,47 , ,4 , ,7

    onte: IBGE

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    enda e riqueza no rasil esto distribudas desigualmente. O coeficiente de ini brasileiro medidade desigualdade que vai de 0 (igualdade absoluta) a 1 (desigualdade absoluta) situa-se consisten-temente entre os mais altos do mundo e, como se pode ver na abela 8, h pouca variao no graude desigualdade das regies brasileiras.

    oncentrao e diuso de C&T

    sses padres de diversidade econmica e social dentro e entre as regies refletem-se na distribui-

    o dos insumos para cincia e inovao e na intensidade dos resultados. omo se pode ver na a-bela 9, o udeste recebe a parte do leo do capital humano e financeiro para cincia e inovao e,ainda, responde por quase metade do nmero total de matrculas em educao superior, um terodo total de incubadoras e aproimadamente 70% dos gastos do governo federal com C&T.

    abela 9 Variao egional da desigualdade e da diversidade tnica

    egio tividades deinovao nserotecnolgica apital humano Financiamento

    (atentes por

    milhes de

    pessoas)

    (surios deinternet /por pessoas)

    Matriculadosno ensino

    superior/ por pessoas)

    arcela donmero totalde estudan-

    tes em cursossuperiores

    Nmero deincubadoras

    ()

    articipaonos gastos

    governamen-tais em C&T

    orte . . . , . ,

    ordeste . . . , . ,

    entro-Oeste . . . , . ,udeste . . . . . ,

    ul . . . . . ,

    onte: nep, MCT, IBGE

    Outra maneira de se avaliar a concentrao da capacidade cientfica e inovadora no ul e no udeste mediante uma comparao internacional. A igura 8 faz o benchmarkingda performance de cada

    uma das regies brasileiras em relao a uma medida comum de atividade cientfica o nmero depublicaes indeadas pelo SCIE em comparao a alguns pases. Os resultados so conclusivos.

    A egio udeste sozinha produz mais publicaes do que muitos pares latino-americanos do rasil,como ico, Argentina e hile. ua produo cientfica maior ou comparvel a de vrios pases(menores) da CDE, incluindo ova Zelndia, rlanda, oruega, inamarca, inlndia e ua.

    . Lugares

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    m contraste, a egio orte produz menos do que o ruguai, apesar de ter uma populao cincovezes maior, enquanto o ordeste produz menos de 60% das publicaes do hile, apesar de suapopulao ser mais de trs vezes maior.

    igura 8 ublicaes indexadas pelo SCIE -

    omparao entre a regies brasileiras e pases selecionados, 2002

    0

    5000

    10000

    15000

    20000

    25000

    30000

    Bo

    lvia

    Equa

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    ana

    Cazaquisto

    SriLa

    nka

    P

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    Ge

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    NORTEDOBRASIL

    Uruguai

    Usbequ

    ito

    Lb

    ano

    Letnia

    Islndia

    Indon

    sia

    Banglad

    esh

    Alg

    ria

    Qunia

    C

    uba

    Estnia

    BRASILCENTRAL

    Litunia

    Paquisto

    Colum

    bia

    Malsia

    Venezuela

    Marro

    cos

    NORDESTEDOBRASIL

    Bulg

    ria

    ArbiaSau

    dita

    Tailndia

    Eslovquia

    Romnia Ir

    C

    hile

    SULDOBRASIL

    E

    gito

    Portugal

    Ucrnia

    fricado

    Sul

    NovaZelndia

    Hun

    gria

    Cingap

    ura

    Irla

    nda

    Noru

    ega

    Argen

    tina

    Mxico

    Gr

    cia

    Finlndia

    Dinamarca

    Turquia

    Israel

    Blgica

    Polnia

    SUDESTEDOBRASIL

    Sua

    Su

    cia

    Coriado

    Sul

    ndia

    PasesBa

    ixos

    Austrlia

    R

    ssia

    Espa

    nha

    Nmerodepublicaes

    onte: ISI cience itation ndex xpanded, acessado via Web of cience (2008); nformao sobre as regies brasileiras pela apesp 88

    uperar o predomnio do udeste e garantir que oportunidades para descobertas cientficas estejammais bem distribudas entre as regies brasileiras uma tarefa de grande envergadura. o obstante,o governo est empenhado em um dos maiores esforos do mundo para descentralizar a produodo conhecimento. m elemento-chave dessa poltica a reserva de no mnimo um tero dos re-cursos dos undos etoriais para investimentos nas regies menos desenvolvidas orte, ordestee entro-Oeste.

    vidncias demonstram que a descentralizao est comeando a acontecer. esde 1995, todasas 27 nidades da ederao brasileiras contam com ecretarias de incia e ecnologia. sso

    gerou um momentum significativo nos ltimos anos.89

    omo mostra a abela 10, o sistema deeducao superior cresceu mais rapidamente fora de o Paulo. atrculas em nvel universi-trio no orte aumentaram 124% entre 1998 e 2002, enquanto esse crescimento foi de 46% noestado de o Paulo.

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    Para um quadro mais abrangente, a abela 11 mostra que, em uma gama de indicadores quanti-dade de incubadoras, gastos governamentais, nmero de patentes e publicaes , o udeste estcrescendo mais lentamente que qualquer das outras regies. O problema que a regio que estcrescendo mais rapidamente o ul, que j a segunda mais desenvolvida. Alm disso, o udesteest to mais na frente, que essas taas de crescimento diferencial tero que ser sustentadas por umbom tempo para a disparidade diminuir.

    abela 10 Nmero e taxa de crescimento de estudantes de graduaono stado de o aulo, no rasil e egies

    Mudana -

    o Paulo (S) 7.7 , . ,4 4

    udeste (eceto S) . , . ,

    orte . . ,

    ordeste . , . ,

    ul . , . ,

    entro-Oeste . , . ,

    BRSI .. ..

    onte: apesp ndicadores de incia, ecnologia e novao no estado de o aulo

    abela 11

    endncias em descentralizao da atividade cientfcaNmero dencubadoras

    atentes ublicaes Gastos

    egio1999

    2006

    Crescimento

    1990

    2001

    Crescimento

    1998

    2002

    Crescimento

    2000

    2004

    Crescimento

    orte 4. , 4 4 4, 4 4, . 4.4 ,

    ordeste . 4, 4 , 4 , .7 4.4 ,

    entro-Oeste . 7, 4, 4 4 ,7 .4 .7.4 ,

    udeste 7. , .774 .7 ,4 7.7 . , 4.47 . 47,

    ul 7. 7, , .4 . 7, 7. . ,

    onte: nprotec90, MCT91, apesp92

    . Lugares

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    aminada a variao entre as diversas regies brasileiras em nvel macro, faz-se agora uma anlisemais refinada dos hotspots de inovao em todo o pas.

    o aulo outro pas93

    O estado de o Paulo, no udeste do pas, rene mais de 20% da populao brasileira. Quase 11milhes de pessoas vivem na regio metropolitana de o Paulo, uma das cinco maiores cidadesdo mundo.94 O estado responsvel por mais de um tero do IB brasileiro. omo resultado de

    sua demografia e poder econmico, o Paulo domina a cincia e inovao no rasil e gasta maisem pesquisa e desenvolvimento do que qualquer pas latino-americano, ecluindo o rasil. as oitouniversidades brasileiras que mais publicaram (abela 4), cinco esto em o Paulo. ma nica uni-versidade paulista, a US, responde por mais de um quarto da produo cientfica total do pas e oestado possui o maior nmero de empresas inovadoras.

    Para determinar o peso do predomnio de o Paulo, tomou-se por base uma srie de indicadoresde cincia e inovao patentes domsticas, matrculas em educao superior, gasto pblico total

    (federal e estadual) em cincia e tecnologia e nmero de publicaes indeadas pelo SCIE e calcu-lou-se a parcela do total das atividades que cabe a cada estado.

    A igura 9 mostra os resultados. Os estados so ordenados no eio horizontal de acordo com suamdia dessas quatro medidas de atividade em cincia e inovao. O eio vertical mostra a parcelaque corresponde a cada um deles. O que surpreendente em relao a esse grfico que ele revelauma clssica distribuio do tipo cauda longa. A distribuio normal, usada para caracterizar mui-tos fenmenos como I ou altura centrada em um valor mdio, e ocorrncias etremas soraras. essa propriedade que lhe d sua popular forma de sino. Popularizadas originalmente comoPrincpio de Pareto, ou regra do 80-20 (batizada com o nome do economista Vilfredo Pareto, queformulou essa regra aps descobrir que 80% da riqueza estava concentrada em 20% da populao)e, mais recentemente, em livros como o de hris Anderson, he ong ail;95 essas distribuies des-crevem fenmenos que no esto centrados em um valor mdio; em vez disso, valores pequenosso comuns, valores grandes so muito raros e valores medianos no so significativos. A igura 9mostra que a atividade de cincia e inovao no rasil caracterizada por uma distribuio desse

    tipo: o Paulo no apenas gasta e produz mais; o estado gasta e produz exponencialmente mais.

    laramente, isso tambm reflete outras concentraes, principalmente de populao: o Paulo muito maior. om 20% da populao nacional, o estado responde por 44% das patentes domsti-cas, 45% do gasto total com cincia e tecnologia e 46% das publicaes indeadas pelo SCIE.

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    igura 9 istribuio de atividades de incia e ecnologia no Brasil

    0,000

    0,050

    0,100

    0,150

    0,200

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    0,350

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    0,500

    SoPaulo

    RiodeJaneiro

    MinasGerais

    RioGrandedoSul

    Paran

    SantaCatarina

    DistritoFederal

    Pernambuco

    Bahia

    EspiritoSanto

    Gois

    Cear

    Par

    Amazonas

    Paraba

    RioGrandede

    MatoGrossodoSul

    MatoGrosso

    Maranho

    Piau

    Alagoas

    Sergipe

    Rondnia

    Tocantins

    Acre

    Roraima

    Amap

    Parceladototal

    Patentes domsticas (2006)

    Matriculados em curso superior, 2003

    Gastos em C&T, 2005

    Publicaes da SCIE, 1998-2002

    onte: atentes INPI; atriculados em curso superior em C&T MCT; publicaes do SCIE ISI96

    A maior implicao dessa anlise para o sistema de cincia e inovao brasileiro reforar o pontolevantado anteriormente: mdias so profundamente duvidosas. o Paulo realmente outro pas.

    H diversas razes para o sucesso cientfico do estado. om as plantaes de caf, no incio, e depoiscom a indstria, o Paulo um dos estados mais ricos desde o fim do sculo 19. o comeo dosanos 1880, sua taa de alfabetizao era de 42%, enquanto no resto do pas essa taa era de 15,3%97.Os imigrantes que vieram para o Paulo no incio do sculo 20 povoaram a US e galvanizaram aelite local, fazendo da niversidade uma instituio de classe mundial desde o incio.98 as o com-promisso de longo prazo com o financiamento para cincia em nvel estadual que diferencia oPaulo dos outros estados.

    A FES foi criada em 1962 com um oramento de US$ 2,6 milhes soma considervel para a po-ca. Antes disso, o governo do estado havia assumido o compromisso de reservar 1% de seu IB parainvestimentos em cincia e tecnologia. omo mostra a igura 9, esse volume de financiamento estem uma escala que nenhum outro estado atinge, mesmo atualmente, e foi liberado com uma regu-

    laridade anual jamais igualada pelos financiamentos federais que costumavam flutuar.

    Por todo o estado, atividades no campo da cincia e tecnologia esto concentradas em uma sriede plos metropolitanos, a seguir apresentados.

    . Lugares

    i

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    ampinas

    m julho de 2000, a revista ired ungiu a niversidade stadual de ampinas, nicamp, como oMIT brasileiro.99undada em 1966, a universidade contribui com 17% das publicaes brasileiras in-deadas e com 10% dos doutores do pas. estaca-se entre as demais universidades do rasil porabrigar quase tantos estudantes na ps-graduao (cerca de 15.000) quanto na graduao (cerca de17.000). A nicamp faz mais pedidos de patente do que qualquer outra universidade brasileira, dosquais 40% provm do nstituto de Qumica. ua incubadora, nova, est funcionando desde 2003 ej merece crditos por um conjunto de empresas bem sucedidas, como a llelyx.

    llelyxFundada em Fevereiro de 2002 por um pequeno grupo de bilogos moleculares, a llelyx

    hoje emprega mais de 110 pessoas em ampinas. uma empresa totalmente brasileira que

    trabalha com vrios parceiros internacionais. deres em genmica de plantas, os fundado-

    res foram responsveis em parte pelo seqenciamento da bactria Xylella fastidiosa que

    causa prejuzos de milhes ao plantio de frutas ctricas descoberta que lhes rendeu a pri-

    meira pgina da revista ature em ulho de 2000 100.

    Apesar desses avanos, ampinas ainda mais conhecida por seusclusters de telecomunicao e TIe atrai uma multido de multinacionais conhecidas da rea de eletrnica de alta tecnologia, comoIBM, Lucent, amsung, otorola, ell, Huawei, 3 e eas nstruments.

    Outro valioso trunfo o Laboratrio acional de Luz ncrotron, at recentemente o nico a tra-balhar com essa fonte de luz (um tipo de acelerador de partculas) no hemisfrio ul. O laboratriotambm conta com um centro para microscopia eletrnica com o mais poderoso microscpio daAmrica Latina e abrigar tambm o novo entro de incia e ecnologia do tanol.

    cidade de o aulo

    A niversidade de o Paulo atende a 75.000 alunos em 11 camp