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ATIVIDADES PEDAGÓGICAS NO BERÇÁRIO: PARA ALÉM DO CUIDAR Rivanete Lustosa Andrade Moreno- Graduada-PMCG [email protected] Co-autora- Glória Maria Leitão de Souza Melo- Mestra-UEPB [email protected] RESUMO As crianças de 0-02 anos de idade têm uma capacidade, que não pode ser ignorada, mas aproveitada e valorizada, para que se possa então, desenvolver um trabalho pedagógico com intervenções significativas. Mas, o trabalho pedagógico no Berçário parece desvalorizado e com pouca credibilidade dentro e fora das instituições de educação. Algumas pessoas parecem não acreditar, outras parecem ignorar a existência de uma prática pedagógica no berçário. É como se a função do (a) professor (a) de crianças de até 02 anos fosse apenas cuidar, sem nenhuma ação pedagógica que favoreça o desenvolvimento dessas crianças. Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo discutir as várias possibilidades pedagógicas existentes no berçário que podem favorecer significativamente o desenvolvimento dos bebês. A presente pesquisa, caracterizada como pesquisa-ação, foi realizada numa Creche pública, no município de Campina Grande – PB, a partir da vivência de um Projeto de Atuação e Investigação Docente, elaborado durante o desenvolvimento do componente curricular Prática IV para vivência do Estágio Supervisionado. Assim, observações às crianças – registradas de forma escrita num ‘Diário de Campo’ - mediante o envolvimento destas às atividades e situações planejadas e propostas durante o referido estágio e à nossa própria atuação na condição de professora estagiária/investigadora, serviram de objetos de análises e instrumentos de coleta desse processo investigativo. Crianças de até 02 anos de idade foram os sujeitos envolvidos direto desse estudo. Na análise dos dados, de caráter qualitativo, foi possível constatar que existem várias possibilidades pedagógicas que podem ser desenvolvidas no berçário; que as capacidades das crianças devem ser consideradas e que é possível favorecer, de forma significativa e positiva, o seu desenvolvimento. PALAVRAS – CHAVES: Criança. Berçário. Atividades Pedagógicas. INTRODUÇÃO A educação infantil deve promover de forma integral o desenvolvimento das crianças em seus aspectos psicomotores, sociais e emocionais, levando em consideração sua história, suas especificidades e singularidades, para promover às crianças experiências significativas que favoreçam a sua aprendizagem, seu desenvolvimento. De acordo com Tristão (2006, p. 51) a concepção do (a) professor (a) sobre o bebê influenciará ativamente sobre sua postura e ação pedagógica. São os olhares das professoras que estarão dando sentido a tudo que acontece com as pequenas crianças, podendo cair no turbilhão característico da rotina do trabalho

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ATIVIDADES PEDAGÓGICAS NO BERÇÁRIO: PARA ALÉM DO CUIDAR

Rivanete Lustosa Andrade Moreno- Graduada-PMCG [email protected]

Co-autora- Glória Maria Leitão de Souza Melo- Mestra-UEPB [email protected]

RESUMO

As crianças de 0-02 anos de idade têm uma capacidade, que não pode ser ignorada, mas aproveitada e valorizada, para que se possa então, desenvolver um trabalho pedagógico com intervenções significativas. Mas, o trabalho pedagógico no Berçário parece desvalorizado e com pouca credibilidade dentro e fora das instituições de educação. Algumas pessoas parecem não acreditar, outras parecem ignorar a existência de uma prática pedagógica no berçário. É como se a função do (a) professor (a) de crianças de até 02 anos fosse apenas cuidar, sem nenhuma ação pedagógica que favoreça o desenvolvimento dessas crianças. Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo discutir as várias possibilidades pedagógicas existentes no berçário que podem favorecer significativamente o desenvolvimento dos bebês. A presente pesquisa, caracterizada como pesquisa-ação, foi realizada numa Creche pública, no município de Campina Grande – PB, a partir da vivência de um Projeto de Atuação e Investigação Docente, elaborado durante o desenvolvimento do componente curricular Prática IV para vivência do Estágio Supervisionado. Assim, observações às crianças – registradas de forma escrita num ‘Diário de Campo’ - mediante o envolvimento destas às atividades e situações planejadas e propostas durante o referido estágio e à nossa própria atuação na condição de professora estagiária/investigadora, serviram de objetos de análises e instrumentos de coleta desse processo investigativo. Crianças de até 02 anos de idade foram os sujeitos envolvidos direto desse estudo. Na análise dos dados, de caráter qualitativo, foi possível constatar que existem várias possibilidades pedagógicas que podem ser desenvolvidas no berçário; que as capacidades das crianças devem ser consideradas e que é possível favorecer, de forma significativa e positiva, o seu desenvolvimento.

PALAVRAS – CHAVES: Criança. Berçário. Atividades Pedagógicas.

INTRODUÇÃO

A educação infantil deve promover de forma integral o desenvolvimento das crianças em seus aspectos psicomotores, sociais e emocionais, levando em consideração sua história, suas especificidades e singularidades, para promover às crianças experiências significativas que favoreçam a sua aprendizagem, seu desenvolvimento. De acordo com Tristão (2006, p. 51) a concepção do (a) professor (a) sobre o bebê influenciará ativamente sobre sua postura e ação pedagógica.

São os olhares das professoras que estarão dando sentido a tudo que acontece com as pequenas crianças, podendo cair no turbilhão característico da rotina do trabalho

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diário, tratando-os com um todo homogêneo, ou fomentando experiências para os pequenos, percebendo-os como plurais, heterogêneos.

Assim, é necessário o docente ter um olhar cuidadoso e reflexivo sobre a prática e sobre o bebê, levando em consideração as particularidades de cada uma. Oliveira (2010, p. 51) nos traz que “[...] a criança, desde o nascimento, se indaga sobre o mundo e sobre si mesmas, trilha diversos, transita entre a cultura erudita e a cultura popular, imerge em situações diversas e emociona-se [...], ao mesmo tempo em que vibra com descobertas e reconhece obstáculos [...]”. Como podemos perceber, a criança aprende desde o nascimento e autores como Alaméda (2009) defendem que ainda no útero a criança já começa a apreender o mundo. Mesmo diante de tantos fatores que nos trazem o quanto é importante o trabalho pedagógico com bebês, este parece desvalorizado e desconhecido por algumas pessoas. Percebido tanto em algumas instituições visitadas no período de observação e pesquisa realizado no Componente Curricular Prática IV para vivência do Estágio Supervisionado, como no meu cotidiano, como Professora da Educação Infantil, atuando no Berçário. Deste modo, este trabalho, pretende discutir as várias possibilidades pedagógicas existentes no berçário que podem favorecer significativamente o desenvolvimento dos bebês. Diante destes aspectos, foi desenvolvido o Projeto de Atuação e Investigação Docente na Creche e Pré-escola Municipal Galdina Barbosa Silveira, localizada na Rua Mônaco, sem número, Bairro dos Cuités, Campina Grande, Paraíba, no Berçário, com crianças de 0 a 02 anos, turno tarde, no período de março a junho de dois mil e dez. A pesquisa do tipo pesquisa-ação, segundo Barros e Lehfeld, (2007) é um tipo de pesquisa social, com base empírica que busca a resolução de um problema, na qual o pesquisador é participante ativo dentro da situação de investigação. A pesquisa foi executada através de observação, investigação e atuação docente, que teve como processo avaliativo e para acompanhamento, o diário de campo. A análise de dados realizada foi de cunho qualitativo, através da interpretação dos fatos e atividades vivenciadas.

AÇÃO PEDAGÓGICA NO BERÇÁRIO

O trabalho pedagógico com bebês é bastante complexo, encantador e precisa de um olhar cuidadoso e bem direcionado do educador e educadora para propor e vivenciar atividades pedagógicas significativas. De acordo com Goldschmied e Sonia Jackson (2006), as experiências mais precoces da criança vão afetar o processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança, de forma positiva e/ou negativa, às vezes por toda a vida. É preciso mudar nossa visão e concepção em relação à educação no Berçário e aos bebês. Pois, muitas pessoas não acreditam que haja um processo educativo com crianças de 0 a 02 anos, ao contrário do que diz estudos atuais, que o bebê começa a aprender inclusive, quando ainda está no útero da mãe.

Uma concepção de criança-bebê que ultrapasse a visão de um ser “de quem já se sabe tudo a respeito” exige um olhar diferenciado dos adultos em relação aos momentos da rotina, ou seja, uma “rotina” que leve em conta os anseios dos pequenos. É preciso refletir sobre os modelos vigentes, no mesmo espaço, as mesmas rotinas, em uma lógica que abafa a pluralidade e a diferença, (TRISTÃO, 2006, p. 42).

As concepções que se tem de bebês e sobre o seu processo de aprendizagem vai influenciar na postura pedagógica do educador, pois se ele vê o Berçário como um local, onde nada se aprende e nada se media, que tem como função apenas o cuidar, as pequenas ações, que podem favorecer o processo de aprendizagem, passam despercebidas, pois, geralmente são realizadas sem consciência.

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[...] Educar crianças tão pequenas em ambientes coletivos é uma profissão caracterizada pela sutileza. Isso fica evidente em ações que são imperceptíveis, [...] estabelecendo um diálogo corporal com ele, mas que denotam a capacidade da professora de perceber as crianças e agir de forma a contemplar as necessidades dos pequenos. Essa sutileza está presente em atos cotidianos, aparentemente pouco significativos, mas que revelam a importância do trabalho docente com bebês. Virar uma criança, colocá-la, mais perto do grupo, perceber seus sinais corporais, [...] (TRISTÃO, 2006, p. 40).

Devemos ter na rotina pedagógica no berçário, atividades diferenciadas, da entrada até a saída da criança na creche, vendo nestes momentos uma intencionalidade pedagógica. Por exemplo, o banho pode ter uma intencionalidade pedagógica e feita de maneira diferenciada a cada dia.

As experiências vividas pelas crianças no contexto da creche partirão de uma proposta das professoras ou de uma permissão destas para que os pequenos experimentem, provem, saboreiem, sintam. É fundamental isso, que estas profissionais planejem diversas oportunidades de as crianças realizarem diversas experiências, (TRISTÃO, 2006, p.39).

Os bebês desde cedo estão aprendendo, interagindo, cabe então ao docente proporcionar atividades que estimulem e favoreçam de forma significativa o seu desenvolvimento. E pensar, em atividades que sejam relevantes, é levar em consideração que o bebê é um ser integral, ativo, e que as estimulações podem favorecer o seu desenvolvimento motor, cognitivo, social e afetivo. Porém, para a criança interagir, participar e agir ativamente no processo de aprendizagem, é fundamental um ambiente afetivo, seguro, acolhedor, confiável, pois, a afetividade é um fator significativo no desenvolvimento da criança, que motiva a criança a escolher a atividade que deseja realizar. O docente deve oferecer atividades diversificadas e envolventes, proporcionando um dia repleto de aprendizagens. Através do contato com a escrita e a literatura infantil, com o ambiente natural, da relação com docentes e crianças, dos brinquedos e brincadeiras, das músicas, das conversas, do dançar, enrolar, engatinhar, pular, subir, descer, se arrastar, rabiscar, ler, pintar e se pintar, inventar e reinventar, num ambiente envolto de afetividade, prazer e segurança, ela constrói conhecimentos, e se desenvolve progressivamente. Pois, o bebê mal consegue falar, mais canta, não decodifica mais ler, mal dá os primeiro passos e às vezes nem o dá, mais dança. Não podemos então, subestimá-los, pois eles nos surpreendem e aprendem significativamente, além de nos ensinarem muito. Nesse processo o docente é um mediador, um facilitador das interações e experimentações dos bebês, observando e percebendo suas expressões, potencialidades, necessidades, com um olhar pautado numa formação teórica. INVESTIGAÇÃO E ATUAÇÃO DOCENTE NO BERÇÁRIO: POSSIBILIDADES E DIFICULDADES.

Em busca de repensar a própria prática e de responder à questão que norteava o nosso projeto (a falta de credibilidade e desvalorização do trabalho pedagógico no Berçário dentro e fora das instituições de educação) elaborado como requisito básico para a conclusão do Componente Curricular Prática IV, na UEPB, período 2009.2, na Habilitação em Educação Infantil, curso de Pedagogia.

Para a citada vivência no campo de estágio adotamos a observação sistemática, qualitativa e reflexiva e o diário de campo, como instrumento de coleta de dados, a partir da nossa própria ação, na condição de professora, de estagiária e de investigadora, sendo as atividades planejadas e propostas às crianças, o envolvimento destas, alvo das nossas observações/investigações.

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Desde muito cedo a criança se comunica, inicialmente através de choros gestos, através do seu corpo e de balbucios até começar a imitir sonoramente as palavras.

É preciso lembrar que, desde o nascimento, já começam a ser construídos sistemas de comunicação entre o bebê e seu entorno social por meio de choros, sorrisos, gestos, etc. - o que vale dizer que a tentativa de comunicar-se, ou seja, de falar é muito precoce. (OLIVEIRA, 2010, p.44)

Assim, a atividade envolvendo conversas diárias constantes, favorece o desenvolvimento da oralidade, a confiança, interação entre bebês e docente, além de criar laços afetivos. Seja na hora da alimentação (perguntando se o alimento está gostoso, falando o nome do alimento, sua temperatura, etc.), na hora do banho, no brincar (você gosta de brincar do brinquedo, nomear o nome do brinquedo) ou em qualquer outra circunstância (conversa sobre a criança, seus parentes, sobre as outras crianças, etc.).

O bebê encontra-se no berço, quando vou pegá-lo, cumprimento com uma boa tarde, ele balbucia e aponta para debaixo do berço. Então, olho e percebo que a chupeta havia caído: - sua chupeta caiu?! Vou pegá-la para você. Entrego a ele, que sorri, tiro-o do berço e levo-o para lanchar. Uma criança chora e aponta para a sacola de chupeta, pedindo-a, ou para o filtro dizendo ‘aua’; outra faz besouro e segura na orelha, demonstrando que deseja dormir; há quem narra fatos com a convicção de que estamos entendo tudo que ele nos fala; [...] (DIÁRIO DE CAMPO, Março/Abril de 2010)

Podemos perceber que quando se estabelece uma relação interativa nas conversas com o bebê, estimulando-o a sorrir, a balbuciar, imitar sons onomatopéicos, etc., e quando se busca compreender o que a criança está dizendo, ela percebe que quando quiser falar, terá adultas atentas para ouvi-la. Cada gesto, cada forma de se expressar tem significados, próprios e diferenciados, dependo da criança que o realiza, da situação, como ocorre com o choro, por exemplo. Nesse processo ela vai aprendendo novas palavras e consequentemente e intrinsecamente desenvolvendo-se cognitivamente, pois, ao falar ela não estar fazendo uma mera repetição, ela está construindo significados sobre a língua falada. Em relação ao brincar as crianças sempre tinham a sua disposição os brinquedos, pois, nas atividades direcionadas se a criança não quisesse participar, mesmo após termos incentivá-la para realizar a atividade, ela poderia brincar. Após a atividade todos se direcionavam para os brinquedos, experimentando, seja com a boca ou com a mão, sentindo sua textura, criando, imaginando e interagindo com as demais crianças e com o adulto. De acordo com BRANDÃO, MELO e MOTA, (2009, p. 41):

Os brinquedos e brincadeiras dizem muito sobre a criança, refletindo sua estrutura mental, cognitiva e afetiva. O brincar por ser uma situação que envolve prazer e favorece o relaxamento, elimina a tensão e estimula a criatividade, o desafio, a ousadia, torna-se do ponto de vista psicológico um fator positivo para o desenvolvimento.

O brincar é fundamental e favorece o desenvolvimento integral da criança, sendo uma atividade que deve ser realizada, oportunizada todos os dias, no qual também se aprende regras, a dividir brinquedos e os educadores. Ao tocar os brinquedos as crianças estão aprendendo diferenças, texturas, favorecendo o desenvolvimento da percepção visual, pois, observam detalhes, observam o deslocamento do brinquedo feito pela professora, os que emitem sons, a percepção auditiva e o gosto pela música, estimulam a criança a se locomover, e a si perceber existente como pessoa no mundo, que tem regras, principalmente com a mediação da professora em uma disputa de brinquedos. Brincando a criança aprende e desenvolve a várias linguagens, a imaginação e se socializa. Várias atividades foram realizadas com o intuito de estimular o gosto pela leitura e linguagem literária, favorecer o desenvolvimento da linguagem oral, da imaginação, da criatividade, da curiosidade, das múltiplas linguagens. “É na relação lúdica e prazerosa da criança com a obra literária, onde sonho, fantasia e imaginação se misturam numa realidade única, que temos possibilidade de vivenciarmos junto às crianças pequenas a leitura por

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prazer [...]” (BRANDÃO. 2009 p.120). Assim, o contato da criança desde pequena com a contação e leitura de histórias, manuseio de livros, de forma lúdica, é fundamental para formar leitores competentes. A contação da história de Dona Baratinha foi realizada, utilizando como recurso, a luva de fantoches. O manuseio de livros, revistas, catálogos, propicia a criança o contato com a escrita, realizar o movimento de pince, observar figuras, etc. Nesta atividade as crianças ficaram livres para explorar os livros que estavam a sua disposição, escolhendo-os e aprendendo a tomar. A leitura de livros, proporcionando a criança desde pequena se inserir num mundo encantado da leitura e da escrita de forma significativa. Outro momento bastante significativo foi o contato das crianças com o livrão, feito com TNT e materiais em várias texturas com as figuras de animais (fotos 01, 02, 03). “A criança pega o livrão, abri na primeira página, ver o cachorro passa a mão sobre ele, ao mesmo tempo em que imita o latido. Aos poucos vão chegando mais e mais crianças, que também imitam os animais, interagem uns com os outros e com o livrão, compartilhando-os. No momento de guardar, algumas crianças começaram a chorar, a reclamar, então foi devolvido a eles. Após um bom tempo foi guardado, reclamaram, porém, desta vez não foram atendidos” (DIÁRIO DE CAMPO, 26-05-2010). As atividades propostas no berçário contemplam e favorecem o desenvolvimento sensório-perceptivo, psicomotor, emocional e social. Vejamos mais uma das atividades que foram realizadas com a intenção de favorecer o desenvolvimento integral da criança, cujo objetivo às vezes não foi alcançado. A caixinha de sachês com diferentes odores, fortes, fracos de ervas, perfume, álcool, sabonete, foi apresentada as crianças, que se aproximaram e sentaram. Primeiro foi apresentado todos os cheiros juntos (foto0 4), logo após, cada sache, era sentido pelas crianças (foto 5). Este tipo de atividade favorece a distinção dos cheiros, a relação da criança com o meio.

Foto 01 foto 02 foto 03 foto 04 foto 05

De acordo com Kaercher (2001), é através dos sentidos, das percepções que as crianças na faixa etária de 0 a 02 anos, aprendem e apreendem o mundo e as informações, as histórias contadas e impressas. Por isso, proporcionar o contato de forma prazerosa com o livro na rotina do Berçário é essencial para uma prática pedagógica qualitativa. As crianças além de estarem enriquecendo as experiências de sensações táteis, também estão aprendendo ciência, matemática, ampliando o vocabulário, etc. Colando, recortando, fazendo rabiscos, pinturas que a criança desenvolve a motricidade fina, a sensibilidade, o cognitivo, “o vocabulário visual”, as percepções, noção espacial, entra em contato com as cores, texturas... de forma lúdica e prazerosa. “As crianças relaxaram e sentiram prazer e alegria em realizar esta atividade pintando no espaço delimitado, aprendendo a gostar e fazer artes, noções de espaço, pintando fora do espaço e também seus corpos e os corpos das outras com entusiasmo, brincando com as cores e com o os pincéis.” (DIÁRIO DE CAMPO, 15-04-2010).

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Foto 06- pintando foto 07- aprendendo a manusear o pincel foto 08- painel de cores No fazer artísticos, as crianças desenvolvem sua expressividade. De acordo com Cunha (2009) a modalidade da pintura possibilita o fazer e o pensar artístico e a elaboração de seu vocabulário pictórico, sendo também uma modalidade visual. A arte com papinha foi feita no corredor da creche em cima de um grande pedaço de lona, limpo e bem lavado, para sujar menos o ambiente na tentativa de evitar mais problemas com o pessoal de apoio que faz a limpeza. As crianças foram levadas para o local e esperamos ver suas reações.

As crianças observaram a papinha rosa e aos poucos foram se aproximando, primeiro com a ponta dos dedos da mão e/ou dos pés, para verificar a consistência, em seguida colocaram as mãos, depois passaram sobre o seu, corpo, o do colega, deitara, andaram sobre, rolaram com o auxilio, engatinharam. Divertiram-se, interagiram umas com as outras com a professora e com o espaço, sorriram, experimentaram e aproveitaram muito, inclusive as que haviam chorado para não pintar a mão, (DIÁRIO DE CAMPO, 27-04-2010).

Foto 09- aproximando-se foto 10- experimentando foto 11- interagindo

Na atividade com a trama feita com elástico, “foi proposto às crianças atravessarem os elásticos, procurando e experimentando formas diferenciadas de passar pelos obstáculos. Algumas passaram em pé, outras engatinharam, abaixava-se, uma delas passou variadas vezes, experimentando formas diferenciadas. Há aquelas que inicialmente tiveram receio, observaram o espaço, as outras crianças fazerem, e com incentivo se aventuraram. Nesta atividade com a trama as crianças usaram a criatividade para vencer o obstáculo (solucionar problemas), noção espacial, raciocínio lógico-matemático, motricidade ampla (equilíbrio) de forma ativa e intencional” (DIÁRIO DE CAMPO, 06-05-2010).

Foto 12- em pé foto 13-engatinhando foto14-voltando foto 15- procurando espaço A atividade supracitada foi bastante rica, as crianças aprendem, se desenvolvem brincando, controlando e adequando seu corpo aos espaços e limites. Porém, a trama deveria ter sido feita no corredor completo.

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Através da interação com o mundo: objetos, pessoas, cultura, os bebês aprendem sobre a natureza e sociedade. Quando estão brincando com areia, com água, cuidando do corpo e sendo cuidado, etc., estão trabalhando ciências. Quando brincam, falam, dançam, cantam, se deparam com regras, etc. estão aprendendo sobre sociedade. Na hora do banho, geralmente tentamos fazê-lo de forma prazerosa e pedagógica: conversamos sobre suas roupas, nomeamos as partes do corpo, que estão sendo lavadas, suas roupas, sobre seu encontro com a mãe ou pai, como ela está bonita, cheirosa, permitimos que brinquem com a água, peguem o sabonete realizando o movimento de preensão e aprendendo a cuidar do seu corpo... As crianças sorriem, balbuciam, falam, movimentam-se, cantam. Ao tentar pegar o sabonete as crianças o deixam escorregar, às vezes conseguem segurá-lo ou para garantir que ele não vai cair, segura-o com uma mão e com a outra passa a mão no sabonete e depois no corpo. (DIÁRIO DE CAMPO, 26-05-2010). Na medida do possível tentamos fazer com que o banho também seja um momento que favoreça de forma positiva o desenvolvimento da criança. Porém, algumas vezes por causa da pressa das mães e da cobrança da instituição, este momento fica mecânico, uma fábrica de dar banhos e arrumar. Mas, um fator que nos favorece é que levamos uma criança por vez ao banho. Para apresentar a comunidade escolar, o trabalho pedagógico desenvolvido no Berçário foi realizado uma exposição fotográfica, na creche, e entregue as mães CD com as fotos das suas crianças. Pudemos perceber que a as condições físicas e matérias da instituição também influenciam no processo pedagógico. “Algumas vezes, as condições estruturais são realmente impeditivas. Entretanto, é bastante tênue a fronteira entre os reais impedimentos estruturais e a acomodação ou temor de fazer diferente, ou ainda, o deixar, que a rotina atropele oportunidades de novas experiências.” (TRISTÃO, 2006 p. 42). Mesmo assim, não nos acomodamos, procuramos nos subsidiar fora da instituição, com recursos e meios próprios, para que as atividades fossem realizadas com o intuito de possibilitar as crianças uma riqueza de experiências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Sabemos que o trabalho pedagógico no Berçário nos dar a possibilidade de aprender, de acompanhar e favorecer o desenvolvimento de crianças que evoluem tão extraordinariamente. Os bebês têm uma inteligência sensório-motora e aprendem e apreendem o mundo físico e social desde o teu nascimento, se não até antes. Mas que as pessoas desconhecem e/ou ignoram. Diante das atividades realizadas pudemos perceber que é brincando e interagindo com o objeto de conhecimento, com as pessoas que a crianças vão se desenvolvendo de forma integral, além de ter sido constatado e demonstrado, que existem várias possibilidades pedagógicas para se trabalhar com os bebês e que foram descritas apenas algumas das várias existentes. Para que as pessoas acreditem numa educação como processo e perceberem que as crianças de 0 a 02 anos aprendem, e muito, será um longo processo, mas, aos poucos, esta visão limitada vai sendo quebrada e elas vão percebendo que no Berçário se cuida, mas também se educa, e promove aprendizagem. É importante ressaltar que as condições físicas e materiais da instituição também interferem no processo pedagógico, pois, uma das grandes dificuldades encontradas para realizar as atividades foi à falta de brinquedos e outros materiais na instituição, e um ambiente que fosse mais adequado e propício para as crianças explorarem, se movimentarem.

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Portanto, é fundamental para todo docente que trabalha no Berçário conhecer e refletir sobre as teorias direcionadas ao processo histórico, pedagógico e de desenvolvimento dos bebês como meio de conhecê-los melhor, valorizá-los, vê-los como seres históricos, que sabem algo, que são ativos e capazes, além de tornar mais significativa a prática pedagógica. Adquirindo assim um olhar sensível, pautado numa formação teórica, que tem em vista um desenvolvimento apropriado e de significados, buscando uma educação de qualidade. Deste modo, precisamos de práticas pedagógicas, na qual o docente é mediador e respeita o bebê com um ser ativo, pensante, sujeito social que produz conhecimentos e é o protagonista do processo de aprendizagem. REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS

ALAMÉDA, Antoine. Comunique-se com seu filho de 0 a 5 anos. trad. Adail Sobral e Maria Stela Gonçalves. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

BARROS, Aidil J. da S. Fundamentos de Metodologia Científica. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

BRANDÃO, Soraya M. B. de A. O livro literário na Educação Infantil: ressignificando a prática pedagógica. In: BRANDÃO; MELO; MOTA (Orgs.). Ser criança: repensando o lugar da criança na educação infantil. Campina Grande: EDUEPB, 2009.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998, 3 v.

CUNHA, Suzana R. V. pintando, bordando, rasgando, desenhando e melecando na educação infantil. In: ______ (Org.) Cor, som e movimento: a expressão plástica, musical e dramática no cotidiano da criança. Porto Alegre: Mediação, 1999. (Cadernos Educação Infantil, v. 8)

KAERCHER, Gládis E. E por falar em literatura... In: KAERCHER, Gládis; CARMEM, Craidy. (orgs.) Educação infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.

KRAMER, Sonia. De que professor precisamos para a Educação Infantil? Uma pergunta, várias respostas. In. Revista Pátio Educação Infantil. ano 1, nº 2, Ago/2003.

OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos. Educação infantil: fundamentos e métodos. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

TRISTÃO, Carolina Dias. A sutil complexidade das práticas pedagógicas com bebês. In: ______ [et al.] (Orgs.). Infância Plural: crianças de no nosso tempo. Porto Alegre: Mediação, 2006.

GOLDSCHMIED, Elinor; JACKSON, Sonia. Educação de 0 a 3 anos: o atendimento em creche. trad. Marlon Xavier. Porto Alegre: Artmed, 2006.