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PUC - PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE MINAS GERAIS Mestrado de Ensino de Ciências e Matemática - PREPES ATIVIDADES EXPERIMENTAIS DOS LIVROS DIDÁTICOS DE FÍSICA: um olhar através dos parâmetros curriculares nacionais PEDRO RENATO PEREIRA BARROS Belo Horizonte 2009

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PUC - PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE MINAS GER AIS Mestrado de Ensino de Ciências e Matemática - PREPE S

ATIVIDADES EXPERIMENTAIS DOS LIVROS DIDÁTICOS DE FÍSICA: um olhar através dos parâmetros curriculare s

nacionais

PEDRO RENATO PEREIRA BARROS

Belo Horizonte 2009

2

Pedro Renato Pereira Barros

ATIVIDADES EXPERIMENTAIS DOS LIVROS DIDÁTICOS DE FÍSICA: um olhar através dos Parâmetros Curriculare s

Nacionais

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática.

Área de concentração: Ensino de Física

Orientadora: Profª. Dra. Yassuko Hosoume

Belo Horizonte 2009

FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Barros, Pedro Renato Pereira B277a Atividades experimentais dos livros didáticos de física: um olhar através dos parâmetros curriculares nacionais / Pedro Renato Pereira Barros. Belo Horizonte, 2009. 122f. Orientador: Yassuko Hosoume Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática. 1. Educação. 2. Ensino de física. 3. Livro didático. 4. Atividades Experimentais. 5. PCN E PCN+. I. Hosoume, Yassuko. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática. III. Título.

CDU: 53:373

3

Pedro Renato Pereira Barros ATIVIDADES EXPERIMENTAIS DOS LIVROS DIDÁTICOS DE FÍ SICA: um olhar

através dos parâmetros curriculares nacionais

Trabalho apresentado à banca examinadora da Pós-Graduação em Ensino Ciências e Matemática, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.

______________________________________ Profª. Dra. Yassuko Hosoume (Orientadora)

PUC Minas

_______________________________________ Profª Drª Maria Inês Martins (PUC Minas)

_______________________________________ Profª Drª Maria Eugênia Silva Nunes (PUC Minas)

Belo Horizonte, 04 de março 2009

Aos meus pais, Osvaldo e Maria.

Aos meus irmãos Walter, Tarcísio e Jussara.

À minha família, Heloísa, Pedro Henrique e Luís Gustavo,

que com muita paciência partilharam cada passo desta conquista.

AGRADECIMENTOS

À Profª Drª Yassuko Hosoume, pela oportunidade de ser orientado por ela, à

paciência e dedicação que todas às vezes me atribuiu, quando foi preciso.

Ao meu amigo Josué “Mano”, por tudo que vivemos e passamos nesta

caminhada.

A todos os colegas do Mestrado, pela ótima convivência, onde pudemos

cultivar várias amizades.

Aos amigos do CEFET, por tudo que colaboraram para esta conquista.

“Eliminando os ouvidos, as línguas e os narizes, sobram ainda as figuras, os números e os movimentos; mas não os cheiros, nem os sabores ou os sons que, fora do animal vivente, não são mais que nomes”

GALILEU GALILEI

RESUMO

A educação que antes estava pautada no ensino propedêutico ou na preparação para o trabalho, atualmente deve assumir papéis muito mais amplos e desafiadores, isto significa preparar os jovens para a cidadania plena e para o aprendizado permanente. Essa educação pretendida requer mudança de posturas de professores e das escolas, que devem, entre outros aspectos, saber selecionar e utilizar os diversos recursos didáticos para o processo ensino-aprendizagem. Destes recursos, o livro seja talvez o que mais influência fornece na prática docente, ao direcionar o currículo, estabelecer metodologias e fornecer uma visão de ciência. No que diz respeito a esta área, especificamente a Física, uma das qualidades que este livro, segundo o Ministério da Educação (MEC), deve ter, são as atividades práticas, que de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacional do Ensino Médio (PCNEM) devem suscitar nos alunos experiências pedagógicas pautadas em competências e habilidades. Esta pesquisa faz uma reflexão sobre as atividades experimentais propostas nos livros recomendados pelo Programa Nacional Livro para o Ensino Médio (PNLEM/2007), em que utilizamos três dimensões para análise: uma relacionada à representação e comunicação, em que analisamos alguns tipos de linguagens representadas através dos experimentos, outra na investigação e compreensão, em que avaliamos atividades experimentais que procuram desenvolver nos alunos capacidade de investigação, análise e questionamentos e a última na contextualização histórico/social, em que estão as atividades que permitem ao aluno reconhecer a Física dentro de um contexto histórico e de construção humana, compreendê-la como parte integrante da cultura tecnológica e com outras formas de cultura. Alguns resultados apontam que poucas coleções propõem experimentos em que seja necessário fazer medições, coleta e análise de dados, possibilitando ao aluno fazer hipóteses e previsões, poucas experiências trabalham com a interdisciplinaridade e relação da física com outras áreas. Palavras-chave: Ensino de Física; Educação; Livro Didático; Atividades Experimentais; PCN; PCN+.

ABSTRACT

The education that was based on prior education propaedeutic or in preparation for work today must assume roles much more extensive and challenging, this means preparing young people for full citizenship and the permanent learning. This desired education change in attitudes of teachers and schools, which, among other things, may know how to select and how to use various teaching-learning process. From these resources, the book is perhaps the one what more fulfills influence on teaching practice, it can guide the curriculum, establish procedures and provide a science vision. With regard to this area, specifically the physical, one of the qualities that this book, according to the Ministry of Education and Culture (MEC), must have, are the practical activities, which according to the National Curricular Parameters of Secondary Education (PCNEM) should raise the students educational experience based on skills and abilities. This research is a reflection on the proposed experimental activities in the books of the National Book Program for High School (PNLEM), which used three dimensions for analysis: one related to the representation and communication, where we analyze some types of languages represented by the experiments, further research and understanding, which evaluated experimental activities that seek to develop in students ability to research, analysis and interviews and the latest in historical/social context, where are the activities that allow the student to recognize the physical within a historical context and human building, understand it as part of culture and technology with other culture of forms. Some results indicate that few collections, experiments suggests that it is necessary to make measurements, collect and analyze data, where from there the student can make assumptions and estimates, with little work experience and the interdisciplinary relationship with other areas of physics.

Keywords: Physics teaching; Education; Textbooks; Experimental activities; PCN; PCN+.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - Lâmina Bimetálica ............................................................................ 55 FIGURA 2 – Empuxo............................................................................................ 56 FIGURA 3 - O poder das pontas .......................................................................... 58 FIGURA 4 - O Telegráfo Morse............................................................................ 58 FIGURA 5 - O Sopro elétrico................................................................................ 59 FIGURA 6 - Organograma de categorias e sub-categorias de análise ............... 73 FIGURA 7 - Campo magnético de um solenóide ................................................. 75 FIGURA 8 - Observação do céu........................................................................... 75 Figura 9 - A determinação da constante π ........................................................... 76 Figura 10 - Medindo indiretamente uma velocidade escalar média ..................... 77 Figura 11 - Independência das velocidades......................................................... 79 Figura 12 - Construção de uma bússola .............................................................. 79 Figura 13 - Determinação do ponto máximo de um olho...................................... 80 Figura 14 - Observação de alguns planetas a olho nu ......................................... 80 Figura 15 - Determinação do coeficiente de atrito estático .................................. 83 Figura 16 - Queda livre......................................................................................... 84 Figura 17 - Conservação da energia .................................................................... 84 Figura 18 - Calculando a potência de um aparelho.............................................. 85 Figura 19 - O plano inclinado de Galileu .............................................................. 86 Figura 20 - As idéias de Galileu sobre a queda dos corpos ................................. 88 Figura 21 - A terceira lei de Newton ..................................................................... 89 Figura 22 - Medida indireta de distâncias............................................................. 90 Figura 23 - A corrente elétrica em uma solução condutora.................................. 91 Figura 24 - A experiência de Oersted................................................................... 93 Figura 25 - A máquina de Atwood........................................................................ 93 Figura 26 - Ondas eletromagnética ...................................................................... 95 Figura 27 - O campo elétrico nas proximidades da tela de um televisor .............. 95 Figura 28 - Harpa de ar ........................................................................................ 97 Figura 29 - Ponte em arco.................................................................................... 97

LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1- Distribuição dos experimentos nos conteúdos da Física por coleção..63

GRÁFICO 2 - Distribuição dos experimentos por conteúdos da Física.....................64

GRÁFICO 3 - Quantidade de experimentos nos conteúdos específicos por obra.....65

GRÁFICO 4 - Quantidade de experimentos nos conteúdos específicos por obra.....66

GRÁFICO 5 - Quantidade de experimentos nos conteúdos específicos por obra.....67

GRÁFICO 6 - Quantidade de experimentos nos conteúdos específicos por obra.....67

GRÁFICO 7 - Presença das categorias definidas para cada dimensão de análise por coleção................................................................................................................... 102

GRÁFICO 8 - Distribuição dos experimentos nos conteúdos da Física por coleção..................................................................................................................................... 119

GRÁFICO 9 – Presença das categorias definidas para cada dimensão de análise por coleção................................................................................................................... 122

LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Identificação das coleções ....................................................................43 TABELA 2 - Características das coleções.................................................................50 TABELA 3 - Distribuição dos conteúdos específicos da Física em seus respectivos temas ........................................................................................................................61 TABELA 4 - Distribuição das atividades experimentais nos conteúdos da Física.....62 Tabela 5 Identificação das coleções ..................................................................... 112 Tabela 6 Quantidade de exercícios e atividades experimentais nos livros didáticos analisados .............................................................................................................. 117

LISTA DE SIGLAS

DCNEM Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

FNDE Fundação Nacional de Desenvolvimento da Educação

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação e Cultura

PCNEM Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

PCN+ Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros

Curriculares Nacionais

PNLD Programa Nacional do livro Didático

PNLEM Programa Nacional do livro Didático Ensino Médio

PUC Pontifícia Universidade Católica

UEL Universidade Estadual de Londrina

USP Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 14 2 O CONTEXTO DA PESQUISA........................................................................................... 22 2.1 O ENSINO DE FÍSICA A PARTIR DOS PCN E PCN+ .................................................. 22 2.2 As atividades experimentais no ensino da Física..................................................... 26 2.3 O LIVRO DIDÁTICO NO CONTEXTO EDUCACIONAL ............................................ 35 3 OS LIVROS DIDÁTICOS E SUAS ATIVIDADES EXPERIMENTAIS ........................... 42 3.1 Um primeiro panorama....................................................................................................... 44 3.1.1 Obra A ............................................................................................................................. 44 3.1.2 Obra B ............................................................................................................................. 45 3.1.3 Obra F.............................................................................................................................. 46 3.1.4 Obra C ............................................................................................................................. 47 3.1.5 Obra D ............................................................................................................................. 48 3.1.6 Obra E.............................................................................................................................. 48 3.2 Experiências dos livros didáticos: o que são? .................................................................... 53 3. 3 As atividades experimentais e os temas da Física ............................................................. 60 4 ATIVIDADES EXPERIMENTAIS E AS COMPETÊNCIAS INFERIDAS....................... 70 4.1 Elaboração do instrumento de análise ................................................................................ 70 4.2 Exemplos de experimentos das categorias e sub-categorias consideradas......................... 73 4.2.1 Dimensão: representação e comunicação........................................................................ 74 4.2.1.1 Elaboração de Comunicação ........................................................................................ 74 4.2.1.2 Articular Símbolos e Códigos ...................................................................................... 76 4.2.1.3 Leitura e Compreensão................................................................................................. 78 4.2.2 Dimensão: investigação e compreensão.......................................................................... 81 4.2.2.1 Relações, invariantes, transformações e conservações................................................. 82 4.2.2.2 Medidas e Quantificações............................................................................................. 85 4.2.2.3 Modelos explicativos e representativos........................................................................ 88 4.2.2.4 Relações interdisciplinares e interárias......................................................................... 89 4.2.3 Dimensão: contextualização sócio-cultural ..................................................................... 92 4.2.3.1 Contexto Histórico/Social ............................................................................................ 92 4.2.3.2 Relação com a cultura tecnológica ............................................................................... 94 4.2.3.3 Relação com outras formas de culturas ........................................................................ 96 4.3 Análise dos livros e resultados ........................................................................................... 99 4.3.1 Atividades Experimentais nos livros didáticos do PNLEM, de acordo com as habilidades e competências referenciadas pelo PCN e PCN+................................................................... 101 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 105

6 UM TEXTO PARA OS PROFESSORES........................................................................... 108 6.1 Sobre as atividades experimentais nos livros didáticos analisados .................................. 111 6.1.1 Obra A ........................................................................................................................... 112 6.1.2 Obra B ........................................................................................................................... 113 6.1.2 Obra F............................................................................................................................ 114 6.1.4 Obra C ........................................................................................................................... 115 6.1.4 Obra D ........................................................................................................................... 115 6.1.6 Obra E............................................................................................................................ 116 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 126

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1 INTRODUÇÃO

Minha história com a Educação começa muito antes de me formar no curso

superior. Sempre tive o espaço escolar como um ambiente agradável e interessante.

Meus pais se orgulhavam por eu gostar tanto da escola, mas, nunca havia pensado

em ser professor. Comecei a lecionar quando entrei na faculdade de Engenharia,

inicialmente por necessidade, logo, tornou-se uma paixão. Apesar de ter tido

oportunidades, nunca fiz outra coisa profissionalmente. Procuro me aperfeiçoar

sempre, no sentido de entender, avaliar e agir sobre minha prática pedagógica.

As escolas da rede estadual de ensino foram o laboratório de minha

formação, pois nelas iniciei minha carreira e experimentei, ao longo dos anos, os

sabores e dissabores da arte de ensinar. Carentes de recursos e incentivos, estas

instituições eram marcadas pela falta de estrutura e de organização, não havia

laboratórios, ambientes de estudos adequados e nem bibliotecas equipadas com

livros ou outros recursos, das áreas específicas e/ou pedagógicas, que pudessem

auxiliar professores e alunos nas tarefas diárias da escola. Lecionar era mesmo um

desafio, com salas de aulas sempre com mais de quarenta alunos, geralmente

carentes, sem possibilidades de investir em sua formação e com expectativas das

mais variadas (melhoria de vida, exigência dos pais, manter-se no trabalho, entre

outras). Nós, professores, estávamos sujeitos a longas jornadas de trabalho, salários

baixos, pouco incentivo e espaço para nos aprimorar profissionalmente.

Nesse caldeirão de coisas, era preciso lidar, ainda, com o desinteresse dos

alunos pelo estudo da Física, que antes mesmos de ser estudada, tinha o status de

ser difícil e chata; para o aluno, algo longe de sua realidade. Com o tempo, percebi

que não bastava somente tentar ensinar os conceitos da Física aos alunos, era

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preciso mais: era preciso mostrar-lhes sua beleza e utilidade. Então, vi nas

atividades experimentais “a tábua da salvação” e procurei incluí-las em minha

prática. Sem espaço e com número elevado de alunos, esta iniciativa se tornou um

pesadelo para mim, mas, encontrava ótima aceitação pelos alunos, por isso nunca

desanimei de utilizá-las.

Escolas particulares e de outras instâncias governamentais passaram a fazer

parte do meu currículo e, com elas, alunos e comunidade escolar com outras

expectativas. Era preciso aprimorar, trocar experiências com outros professores,

buscar outros caminhos, estar sintonizado com as modificações da Educação e com

o mundo acadêmico. Por isso, a Especialização e o Mestrado no ensino de Física.

Nesse caminho, em que experiência e aperfeiçoamento constituem a base

para o meu fazer pedagógico, me dei conta de que as atividades experimentais,

longe de serem a tábua da salvação, eram mais um recurso a ser utilizado para o

ensino da Física. Recurso importante, pois tem o agrado dos alunos e pode fornecer

subsídios para um ensino significativo.

O contato com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as orientações

educacionais complementares ao PCN, o PCN+, possibilitou-me entender o sentido

de um ensino com significados, sendo aquele que deve procurar desenvolver nos

alunos competências e habilidades para a investigação e compreensão dos

conceitos da Física, dentro de um contexto social, histórico e contemporâneo,

utilizando-se de diferentes formas de linguagem.

Percebemos, portanto, que a Educação pautada no método tradicional, com

formato conteudista, enciclopédico e com pouco espaço à atualização do currículo, já

não tem mais espaço nesse mundo moderno e globalizado, sendo preciso repensar

o ensino, a escola e suas características e funções, como nos apontam os PCN

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(2002), quando afirmam que:

As características de nossa tradição escolar diferem muito do que seria necessário para a nova escola. De um lado, essa tradição compartimenta disciplinas em ementas estanques, em atividades padronizadas, não referidas a contexto reais. De outro lado, ela impõe ao conjunto dos alunos uma atitude passiva, tanto em função dos métodos adotados quanto da configuração física dos espaços e das condições de aprendizado. Estas, em parte, refletem a pouca participação do estudante, ou mesmo do professor, na definição das atividades formativas. As perspectivas profissional, social ou pessoal dos alunos não fazem parte das preocupações escolares; os problemas e desafios da comunidade, da cidade, do país ou do mundo recebem apenas atenção marginal no ensino médio, que também por isso precisaria ser reformulado. (BRASIL, 2002, p.9).

Nessas palavras, fica evidente à distância entre o Ensino Médio e a

realidade dos alunos. Os próprios professores pouco contextualizam seus conteúdos

ao dia-a-dia do educando, as disciplinas se apresentam de forma isolada e não

conseguem uma interdisciplinaridade. (BRASIL, 2002).

Em minha experiência profissional e dentro do conteúdo da Física, percebo

as distâncias da própria disposição dos conteúdos; poucos livros ou professores

arriscam mudar o currículo habitual da disciplina, como, por exemplo, o ensino do

eletromagnetismo, onde, via de regra, os docentes seguem as formas tradicionais

propostas pelos livros didáticos, mas esse conteúdo poderia ser ministrado

considerando os fenômenos presentes em equipamentos, tais como: motor elétrico,

usina hidrelétrica, telecomunicações, entre outros.

Mais de uma vez, vi os meios de comunicação anunciando uma descoberta

da área e o acontecimento nem ao menos ser citado em sala de aula. Estes fatos,

aliados às dificuldades que o conteúdo da Física apresenta, pelo próprio nível de

abstração que exige e a distância da realidade, agravam ainda mais o ensino da

disciplina. Um ensino significativo, de acordo com os PCN+ (2002), vai exigir do

professor a ligação entre conteúdo e cotidiano, possibilitando ao aluno a percepção

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da Física como algo presente no seu dia-a-dia. Abrir espaço para a descoberta, o

envolvimento do aluno e permitir sair do formalismo mecânico e automatizado são os

desafios dessa nova forma de se ensinar.

No entanto, pelo que posso observar por meio de minha prática cotidiana, o

modelo fragmentado e automático é reforçado pelas exigências dos processos

seletivos. Em muitos concursos, ainda prevalece a transmissão de informações sem

muito contexto com a vida do aluno, privilegiando a memorização e a resolução

automática de exercícios. Muitas escolas e pais, preocupados com o ingresso de

seus filhos/alunos no Ensino Superior, preferem que seja mantida uma tradição de

ensino estritamente disciplinar do currículo, chegando a se oporem a um ensino

inovador. Nesse sentido, segundo Fernandes (2004):

Esses vestibulares influenciam diretamente o trabalho desenvolvido em sala de aula, seja através dos seus programas, seja pelas apostilas e livros didáticos que se utilizam de suas provas. Além disso, eles estão presentes na imaginação e no discurso dos pais, alunos, professores, diretores de escola e da mídia. Assim, não podemos negar a influência que esses concursos exercem na educação média. (FERNANDES, 2004, p.3).

O processo ensino-aprendizagem, hoje, se orienta no sentido de

proporcionar conhecimento útil à vida e ao trabalho das pessoas, desenvolvendo a

capacidade para o raciocínio e julgamento, a criatividade, a autonomia, o

aprendizado permanente e constante. O aluno deve, nessa concepção, perceber a

ciência como uma área do conhecimento que interpreta o mundo por meio de

modelos e que se desenvolve com o decorrer do tempo, num processo dinâmico e

com participação de muitos cientistas. (BRASIL, 2002). Para os PCN (1999):

Quando o aprendizado das Ciências e da Matemática, além de promover competências como o domínio de conceitos e a capacidade de utilizar

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fórmulas, pretende desenvolver atitudes e valores, através de atividades dos educandos, como discussões, leituras, observações, experimentações e projetos, toda a escola deve ter uma nova postura metodológica difícil de implementar, pois exige a alteração de hábitos de ensino há muito consolidados. (BRASIL, 1999, p.99).

Portanto, a educação que antes estava pautada no ensino propedêutico ou

na preparação para o trabalho, hoje deve assumir papéis muito mais amplos e

desafiadores. Nesse sentido, o Ensino Médio, nos termos da lei e de sua

regulamentação, passa a assumir, necessariamente, a responsabilidade de

completar a Educação Básica. Isto significa preparar os jovens para a cidadania

plena, para o aprendizado permanente em seus estudos futuros e/ou no trabalho.

Os desafios são grandes, mas não intransponíveis. A consciência de um

projeto político pedagógico adequado, sintonizado com a realidade da escola e suas

necessidades formativas e que envolva toda a comunidade escolar, é um passo

importante na busca desta Educação transformadora, pois nela pode-se contemplar

aspectos interdisciplinares e projetos de toda natureza, que envolvam processos

naturais e tecnológicos do cotidiano do aluno, como nos afirma os PCN+(2002):

Adequar a escola a seu público atual é torná-la capaz de promover a realização pessoal, a qualificação para um trabalho digno, para a participação social e política, enfim, para uma cidadania plena da totalidade de seus alunos e alunas. Isso indica a necessidade de revisão do projeto político pedagógico de muitas escolas que não se renovam há décadas, criadas em outras circunstâncias, para um outro público e para um mundo diferente deste dos nossos dias. (BRASIL, 2002, p.10).

Então, diante do exposto, podemos afirmar que uma nova escola se faz

urgente e imprescindível, devendo ser capaz de realizar as necessidades de seus

partícipes, de promover a participação ativa e comprometida de todos, com o

aprendizado próximo do cotidiano, da comunidade escolar ou das circunstâncias

econômicas, sociais e ambientais da cidade, estado ou país onde se encontra. De

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acordo com os PCN+ (2002):

Os objetivos da nova educação pretendida são certamente mais amplos do que os do velho projeto pedagógico. Antes se desejava transmitir conhecimentos disciplinares padronizados, na forma de informações e procedimentos estanques; agora se deseja promover competências gerais, que articulem conhecimentos, sejam estes disciplinares ou não. Essas competências dependem da compreensão de processos e do desenvolvimento de linguagens, a cargo das disciplinas que, por sua vez, devem ser tratadas como campos dinâmicos de conhecimento e de interesses, e não como listas de saberes oficiais. (BRASIL, 2002, p.11).

Toda essa mudança, como podemos verificar, exige professores preparados,

capazes de entender bem os processos de ensino-aprendizagem, com visão clara

dos objetivos e possibilidades que pretendem alcançar com seus alunos, levando em

consideração as realidades de seu entorno. Faz-se mister, também, que esses

professores saibam avaliar e escolher de maneira adequada e prudente, os diversos

recursos disponíveis para sua prática pedagógica. Dentre esses recursos, talvez o

mais presente nos ambientes escolares, seja os livros didáticos, por trazerem em

seu cerne, uma gama de possibilidades para o ensino de determinada disciplina.

Conteúdos organizados e estruturados, exercícios e atividades experimentais são

elementos que compõem os livros didáticos, direcionando, em muitos casos, o que

se deve ensinar.

Apesar de fazerem parte da realidade dos livros didáticos, a utilização efetiva

das atividades experimentais possui uma característica contraditória, pois, mesmo

ainda não encontrando espaço na prática pedagógica da maioria dos professores,

muitas vezes, a sua presença condiciona a escolha do livro didático por eles. Tanto,

que, mesmo fazendo parte da minha práxis (ainda que timidamente), tenho

encontrado muitas dificuldades em utilizar de maneira dinâmica e eficiente as

atividades experimentais, o que me motivou a enveredar nesse tema – embora seja

20

um assunto bastante pesquisado. Procuramos, com isto, entender melhor que

propostas pedagógicas poderiam estar vinculadas a estas atividades, que

competências e habilidades podemos trabalhar com elas, que Física os livros

didáticos propõe por meio de experimentações.

Somam-se ainda a estas questões a importância atribuída ao livro didático,

sua ampla distribuição pelos órgãos governamentais e sua incompleteza diante da

Educação pretendida.

Nosso objeto de análise, portanto, foi as atividades experimentais propostas

nos livros didáticos aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático Ensino

Médio (PNLEM/2007). Esses livros foram escolhidos devido a sua abrangência em

todo o território nacional e por ser um material previamente analisado por

especialistas da área.

Para tanto, tomamos como referência os PCN e os PCN+, que nos dizem

muito sobre essa Educação renovadora e nos indicam diversas competências e

habilidades para serem desenvolvidas nos educandos, a fim de dar-lhes uma

formação mais ampla e geral. Além disso, nossa pesquisa teórica perpassa alguns

autores, como, por exemplo, Arruda e Luburú (1998), Borges (2002), Fracalanza e

Megid Neto (2006), entre outros, que farão parte de nossa pesquisa no decorrer de

todo o trabalho. Esses referenciais apontam, também, caminhos para professores e

escolas implementarem tais propostas em seu dia-a-dia e são objetos de estudo no

próximo capítulo.

Já o livro didático e as atividades experimentais com suas concepções, seus

limites, suas funções e papéis são objetos de estudo, onde analisamos esses

recursos no contexto da escola e no ensino da Física, levando em consideração a

visão de vários pesquisadores sobre esses temas.

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No capítulo 2, caracterizamos as obras que estamos analisando. Nele,

podemos verificar o formato de cada coleção – se volume único ou separado - e as

características de cada uma. Também podemos avaliar a quantidade de exercícios e

atividades experimentais que são propostas nesses livros, bem como a relação entre

os conteúdos da Física e essas atividades. Procuramos analisar, também, o perfil

dos autores e o currículo de Física apresentado em sua(s) coleção(ões).

Este capítulo, ainda, nos dará uma visão mais clara sobre as coleções,

podemos inferir, por exemplo, quais enfatizam as atividades experimentais, os

exercícios, se há diferenças na disposição dos conteúdos e quais deles têm maior

número de experimentos, entre outros.

O capítulo 3 apresenta-se com o objetivo de procurarmos compreender a

natureza das atividades experimentais propostas naqueles livros didáticos. Para

tanto, elaboramos instrumentos de análises, tomando como base as competências e

habilidades dos PCN+ que nos serviram como dimensões de análises nessa

pesquisa. Dessa maneira, acreditamos ser possível avaliarmos de maneira mais

eficiente essas atividades e por meio de exemplos, procuramos mostrar ao leitor os

elementos que caracterizam cada atividade experimental nas categorias

consideradas.

Nas considerações finais indicamos novas propostas de possíveis pesquisas

e colocamos as nossas conclusões, ainda que não definitivas, a respeito do tema em

questão.

Por fim, elaboramos um guia de apoio ao professor, produto final deste

trabalho, onde mostramos os principais resultados da pesquisa, fornecendo dados

para que o professor possa comparar as coleções estudadas, a fim de ajudá-lo na

escolha do livro didático que melhor lhe atenda.

22

2 O CONTEXTO DA PESQUISA

2.1 O ENSINO DE FÍSICA A PARTIR DOS PCN E PCN+

O antigo Ensino Médio, amparado pela lei 5692/1971, tinha como principal

objetivo a preparação dos educandos para prosseguir os estudos e/ou seguir uma

carreira técnica. Em 1996, foi criada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDBEN/96), trazendo profundas reformulações no Ensino Médio, que

passa a ser etapa final da Educação básica, tendo como principal objetivo,

“desenvolver nos alunos competências e habilidades para atuarem como cidadãos

ativos e participativos no mundo em que vivem”. (BRASIL, 1999, p.17).

A formação pretendida passa, portanto, a ter um caráter mais geral, que

procura possibilitar aos educandos prosseguir seus estudos ou utilizá-la em

situações no seu trabalho ou vida.

Essa mudança de postura necessitou de um suporte aos professores e

escolas; e com o objetivo de cumprir este papel, foram elaboradas as Diretrizes

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM/1998) e os Parâmetros

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM/1999).

As DCNEM apresentam orientações para os procedimentos a serem

observados na organização curricular e destacam a “necessidade para uma

formação ética, autônoma e crítica” (FERNANDES, 2004, p. 6). Já os PCNEM

apresentam princípios orientadores da organização curricular para cada disciplina,

destacam os fundamentos e procedimentos a serem observados nessa organização,

servem como orientação para os professores para o ensino das disciplinas - que

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podem e devem complementá-las de acordo com sua necessidade e realidade -

trazem listadas competências e habilidades a serem desenvolvidas nos educandos,

preparando-os para serem atuantes no trabalho e na sociedade em que estão

inseridos (FERNANDES, 2004, p.7). Os PCN+ (2002), complementares ao PCNEM,

têm como principal objetivo orientar a ação pedagógica, tomando como foco “para

que ensinar Física” ao invés de “o que ensinar”, explicitando a preocupação em

atribuir ao conhecimento um significado no “momento mesmo de seu aprendizado”.

(BRASIL, 2002, p.61).

Dentro deste novo contexto, o ensino da Física deve possibilitar ao aluno o

desenvolvimento de habilidades e competências na sua vida, proporcionando a

compreensão dos fenômenos de seu cotidiano.

Segundo Kawamura e Hosoume (2003):

O desenvolvimento de competências requer uma adequação dos conteúdos trabalhados em sala de aula. Tradicionalmente, a divisão do conteúdo de Física se fazia em áreas de Mecânica, Termologia, Ótica e Eletromagnetismo. Ensinar Física se resumia a fazer os alunos compreenderem uma série de conhecimentos que, mais tarde, na continuação de seus estudos, seriam retomados de forma mais completa. (KAWAMURA e HOSOUME, 2003, p.24).

Os PCNEM, portanto, organizam o conteúdo do Ensino Médio por áreas de

conhecimento, assim definidas: Linguagens e Códigos e suas Tecnologias, Ciências

Humanas e suas Tecnologias e Ciências da Natureza, Matemática e suas

Tecnologias. Esta forma de agrupar os conteúdos favorece a articulação entre as

disciplinas comuns e a interdisciplinaridade e organiza o aprendizado nas escolas do

Ensino Médio em termos de conjuntos de competências, que são: Representação e

Comunicação; Investigação e Compreensão; e, por último, Contextualização Sócio-

cultural (BRASIL, 1999), explicados, resumidamente, a seguir:

24

Representação e comunicação : conjunto de competências no qual se

pretende que o educando compreenda enunciados, manuais, tabelas, gráficos que

envolvam códigos e símbolos da física e a expressão desse saber. Que seja capaz,

ainda, de expressar-se corretamente por meio de sínteses, esquemas e relatórios,

utilizando a linguagem física adequada e elementos de sua representação simbólica,

e que saiba também conhecer fontes de informações e as formas de obter as mais

relevantes.

Investigação e compreensão : trata-se da investigação e compreensão de

fenômenos físicos, pretendendo desenvolver nos alunos a capacidade de classificar,

organizar, sistematizar dados e fenômenos, identificando regularidades, fazendo

hipóteses e testando-as. Conhecer, compreender e utilizar conceitos físicos,

relacionar grandezas, quantificar e identificar parâmetros relevantes. Compreender a

física presente no mundo vivencial e nos equipamentos e procedimentos

tecnológicos. Investigar situações-problema: identificando a situação, utilizando

modelos físicos, generalizando de uma a outra situação, prevendo, avaliando,

analisando previsões.

Contextualização sócio-cultural : conjunto de competências no qual a

Física deve ser reconhecida como construção humana e determinada por aspectos

históricos, culturais, sociais, políticos e econômicos. O aluno deve ser capaz,

portanto, de emitir juízo de valor em relação a situações sociais que envolvam

aspectos físicos e/ou tecnológicos relevantes e de reconhecer o papel da Física no

sistema produtivo, compreendendo a evolução dos meios tecnológicos e sua relação

dinâmica com a evolução do conhecimento científico.

Os PCN+, que visam auxiliar o trabalho dos professores no que diz respeito

à escolha e organização dos assuntos a serem trabalhados, apresentam algumas

25

formas de organização dos conteúdos em Temas Estruturadores (elementos

estruturadores da ação pedagógica), em número de seis. Cada um destes temas

estruturadores é caracterizado por unidades temáticas que definem os recortes, as

abordagens e os contextos nos quais os temas devem ser trabalhados, a fim de

promover as competências desejadas. São elas:

1. Movimentos: variações e conservações;

2. Calor, ambiente e usos de energia;

3. Som, imagem e informação;

4. Equipamentos elétricos e telecomunicações;

5. Matéria e radiação;

6. Universo,Terra e vida.

No entanto, essa forma de organizar os conteúdos da Física ainda não

encontra espaço nos livros didáticos, que os mantém hierarquizados, numa

seqüência tradicionalmente estabelecida. A grande maioria destes livros informam

que suas propostas concordam com os PCN e com as leis e diretrizes que orientam

a Educação básica e, portanto, estão comprometidos com uma Educação pautada

em competências e habilidades, mas em muitos casos esta informação parece mais

uma propaganda, alguns livros, no entanto, passaram a colocar esta informação em

suas capas, mas nada mudou em seu conteúdo interno.

Com relação à experimentação, os PCN+ ratificam sua importância e atribui-

lhe significados mais amplos, ressaltando a necessidade de estas atividades estarem

alinhadas com as competências e habilidades. De acordo com o documento:

É indispensável que a experimentação esteja sempre presente ao longo de todo o processo de desenvolvimento das competências em Física, privilegiando-se o fazer, manusear, operar, agir, em diferentes formas e níveis. É dessa forma que se pode garantir a construção do conhecimento pelo próprio aluno, desenvolvendo sua curiosidade e o hábito de sempre

26

indagar, evitando a aquisição do conhecimento científico como uma verdade estabelecida e inquestionável. (BRASIL, 2002, p.84).

A experimentação, portanto, diante do que nos afirma os PCN+, é um tipo de

atividade que deve ser preservada no ensino, pois, além de evidenciar o caráter

experimental da Ciência, se constitui numa oportunidade para trabalhar as

competências e habilidades e têm boa aceitação junto à comunidade escolar e

acadêmica.

No tópico a seguir, vamos verificar a importância dada às atividades

experimentais pelos professores, de acordo com alguns autores pesquisados,

procurando analisar a função que deveriam ter e a que normalmente lhe é atribuída.

2.2 AS ATIVIDADES EXPERIMENTAIS NO ENSINO DA FÍSICA

Muitas pesquisas apontam a importância atribuída pela comunidade escolar

às atividades experimentais no âmbito das ações pedagógicas, e confirmam a

crença desta, no favorecimento de que tal procedimento possibilita o ensino da

Física, tornando-o mais atraente e significativo. Essa importância, no entanto,

segundo Borges (2002), não se reflete na prática, pois, apesar de várias escolas

terem kits de laboratório e a maioria dos livros didáticos apresentarem atividades

experimentais em seu texto, poucos são os professores que se arriscam em utilizá-

las. As justificativas para esse contraste são as mais variadas, indo desde a falta de

manutenção e equipamentos de laboratórios, de tempo para organização das

atividades, até a preocupação com o ensino focado no processo seletivo. (BORGES,

2002)

27

Vários enfoques são dados aos laboratórios, uns com maior participação dos

alunos, outros do professor; uns com atividades demonstrativas, outros de

verificação ou investigação. A literatura científica nos indica várias possibilidades de

se trabalhar com laboratórios. De acordo com Alves Filho (2000), os tradicionais ou

convencionais, por exemplo, se caracterizam por apresentarem um roteiro

estruturado e organizado para direcionar os trabalhos dos alunos. Muitas críticas são

dirigidas a estes laboratórios, apesar de encontrar quem acredite na utilidade destes

no processo ensino-aprendizagem, por permitirem que o aluno faça observação e

reflexão, adquira habilidade de manipulação, participe do processo, verifique o

caráter experimental da ciência. As críticas são no sentido de que, sendo

caracterizado por um roteiro pré-estabelecido, pouco espaço há para o aluno intervir

no experimento, ficando difícil a tomada de decisão quanto ao melhor caminho usar

para a realização do experimento ou quais parâmetros analisar, que dados tomar, o

que verificar. (ALVES FILHO, 2000).

Já os laboratórios divergentes, ainda de acordo com o autor, são

diferenciados por serem mais flexíveis, permitindo ao aluno, após familiarização com

o experimento, decidir o que fazer, que objetivos irá estabelecer e que hipóteses

serão testadas, ou seja, todo planejamento será realizado pelos alunos.

O laboratório biblioteca, por sua vez, proposto por Oppenheimer e Correl

(1964) citados por Alves Filho (2000), diferencia-se do convencional, por consistir em

experimentos de execução rápida, permanentemente, montados à disposição dos

alunos, tal como os livros de uma biblioteca. O material oferecido tem como

característica o fácil manuseio, permitindo a execução de dois ou mais experimentos

no espaço do laboratório. Como no tradicional, “este laboratório também oferece um

roteiro estruturado e pouco flexível”, porém, com menos tomada de dados e medidas

28

realizadas. (ALVES FILHO, 2000, p.178)

Há, ainda, laboratórios onde professores e alunos realizam atividades

experimentais fora de um espaço físico estabelecido especificamente para essas

atividades. Geralmente são utilizados equipamentos simples, do cotidiano das

pessoas e de fácil manipulação - os chamados de baixo custo – e podem ser

trabalhados tanto por alunos quanto por professores. Esses são os tipos de

atividades mais encontradas nos livros textos.

Por fim, laboratórios itinerantes, ainda segundo Alves Filho (2000), mostram

aspectos gerais da divulgação científica, de forma lúdica e com um forte caráter

apelativo/atrativo.

Com relação à visão dos professores sobre os laboratórios e o papel

exercido pelos experimentos, Arruda e Laburú (1998) afirmam que muitos deles

acreditam que a atividade empírica constitui o ponto de partida para o

desenvolvimento das teorias e leis da ciência, ou que são o crivo para um conceito

ou modelo serem aceitos na comunidade científica. Esses docentes admitem seu

forte papel de comprovação e sustentação, como se o pesquisador, do nada, sem

conhecimentos prévios, abstraísse da observação e experimentação as leis que

“regem” os fenômenos da natureza ou, ainda, se elas lá estivessem para serem

descobertas, esquecendo-se que são modelos desenvolvidos pelo ser humano, na

tentativa de entender os fenômenos que o cercam.

Koschnitzki (1992), pesquisando professores de 2º grau da área de Ciências,

em escolas públicas do Rio de Janeiro, verificou por meio de entrevistas que para a

maioria deles o conhecimento científico é o que pode ser comprovado pela

experimentação. Arruda e Laburú (1998), em cursos de atualização para professores

do Magistério e de Ciências da região de Londrina, verificaram que os discentes

29

assumem que a experimentação serve essencialmente para comprovar teoria,

facilitar o aprendizado e despertar a curiosidade. Segundo Arruda (1994), a função

da atividade empírica para comprovação de teorias foi verificada também em alunos

do 3º ano do curso de física da UEL (Universidade Estadual de Londrina) (ARRUDA,

1994).

Baseados em pesquisadores da área de Ciências, Arruda e Laburú (1998),

consideram a função do experimento sendo a de ajustar à realidade os esquemas

teóricos. A natureza da atividade experimental, para eles, é impregnada de caráter

teórico, em que hipóteses, leis e teorias, nas quais o cientista dedicou partes do

tempo, subsidiam e dão sustentação ao seu trabalho. Ao se propor a

experimentação, o pesquisador sabe o que procura, parafraseando Rubem Alves,

com sua rede característica e apropriada, sabe que peixe irá pescar. “As teorias são

enunciados acerca do comportamento dos objetos do interesse do cientista e este é

uma pessoa que sabe usar as redes teóricas para apanhar as entidades que lhe

interessam” (RUBEM ALVES, 1994, p.92). Deste modo, o cientista sabe o que irá

observar, que resultados espera encontrar, e, portanto, ignoram, frequentemente,

muitas características de determinado fenômeno. Para Kneller (1978), os cientistas

preferem selecionar algumas propriedades que, em conjunto, formam fenômenos

com regularidade.

A visão do professor quanto ao papel das atividades experimentais em

Ciências e na prática de ensino tem influência direta em seu planejamento escolar e

na concepção de ciência que os alunos vão adquirir. Segundo Borges (2002), as

atividades experimentais sempre estiveram relacionadas com a Física, sendo esta a

área da Ciência que mais uso faz desta prática. Porém, ainda para o autor, acreditar

na equivalência entre a atividade experimental desenvolvida pelos cientistas e as

30

que são propostas e realizadas em sala de aula é um erro. As atividades dos

cientistas são precedidas por exaustivos estudos e pesquisas, de tal modo que, ao

lançar mão do laboratório, o faz de maneira a atender o que for conveniente ao seu

trabalho. A presença dessas atividades na aprendizagem, portanto, está diretamente

relacionada com o papel que o professor atribui às práticas de laboratório.

Além desse caráter de comprovação de teorias, muitos professores e

pesquisadores acreditam na eficácia da experimentação no processo ensino-

aprendizagem, considerando que estas atividades servem de motivação e despertam

a curiosidade, desempenhando função na aquisição de conhecimento pelo aluno,

tornando o ensino mais atraente e participativo. Portanto, o papel que a

experimentação exerce na prática docente tem sido objeto de estudos por diversos

pesquisadores, que procuram compreender a dimensão destas no ensino.

Para Araújo e Abib (2003), embora seja praticamente consensual seu

potencial para uma aprendizagem significativa, observa-se que a experimentação é

proposta e discutida na literatura de maneira bastante diversa quanto ao significado

que essas atividades podem assumir em diferentes contextos e em diferentes

aspectos. A análise do papel das atividades experimentais desenvolvida amplamente

nas últimas décadas revela que há uma variedade significativa de possibilidades e

tendências de uso dessa estratégia no ensino da Física, de modo que essas

atividades podem ser concebidas desde situações que focalizam a mera verificação

de leis e teorias, até situações que privilegiam as condições para os alunos refletirem

e reverem suas idéias a respeito dos fenômenos e conceitos abordados.

É essa concepção, de acordo com os autores, que poderão fazer com que

os alunos atinjam um nível de aprendizado que lhes permitam efetuar uma

reestruturação de seus modelos explicativos dos fenômenos.

31

As atividades de demonstração, na visão de Monteiro; Monteiro e Gaspar

(2003), são frequentes em museus e centros de Ciências. No entanto, seu uso em

sala de aula permite a observação e reflexão sobre os diversos gêneros de discurso

do professor ao apresentar a atividade, “o que influencia a ocorrência de interações

sociais verdadeiras que contribuem (mais significativamente) para o ensino de

Física”. (MONTEIRO; MONTEIRO; GASPAR, 2003, p.1).

A compreensão do laboratório, ora entendido como a solução dos inúmeros

problemas do ensino de Física, ora considerado mero elemento do contexto

metodológico e alvo de profundas discussões sobre o seu papel no contexto do

ensino é destacada por Alves Filho (2000). O autor ainda ressalta que o laboratório

didático, para ser elemento do processo de ensino-aprendizagem de Ciências,

particularmente da Física, deve ser alvo de uma transposição didática diferente

daquela que o introduziu no processo de ensino, com o objetivo de ensinar o método

experimental, e que as atividades experimentais têm função mediadora no ensino de

conteúdos e não do método experimental.

Séré; Coelho e Nunes (2003) discutem o papel da experimentação no ensino

da Física com base em alguns exemplos práticos relacionados com a lei de Snell-

Descartes1, sugerindo diferentes abordagens no ensino experimental desta lei,

mostrando a importância da exploração de aspectos conceituais e procedimentais na

atividade experimental que reflita a atividade científica. Concebe-se a

experimentação, portanto, como uma forma de favorecer o estabelecimento de um

elo entre o mundo dos objetos, o mundo dos conceitos, leis e teorias e o das

linguagens simbólicas.

1 “Relação entre o seno do ângulo de incidência e o seno do ângulo de refração no estudo do fenômeno da refração da luz”. (SÉRÉ; COELHO; NUNES, 2003, p.34).

32

Borges (2002), por sua vez, destaca que os métodos ativos de processo

ensino-aprendizagem são entendidos como se alunos melhor aprendessem pela

experiência direta, na seleção, organização e manuseio de objetos e artefatos. O

autor salienta, ainda, que não somente pelo contato direto podem-se conseguir

atividades que façam sentido para os alunos, mas, também, pelo envolvimento

comprometido com a busca de respostas e soluções bem articuladas.

Utilizando uma abordagem da sociologia, Marineli e Pacca (2006),

apresentam um trabalho sobre uma interpretação para dificuldades e erros

apresentados por estudantes em atividades programadas num laboratório didático. O

entendimento de conceitos típicos de uma aula de laboratório, como medida,

incerteza, flutuação etc., é analisado a partir de material escrito por estudantes, seus

exercícios e relatórios. Esses autores consideram que os erros e as dificuldades

apresentados pelos estudantes no trabalho no laboratório devem-se a uma

concepção de senso comum relativa à Física e à realidade que ela representa e

descreve. Nesse caso, a Ciência é definida dentro de uma esfera de realidade

diferente daquela considerada cotidianamente e, dentro da esfera científica, os

conceitos de medida precisam respeitar critérios adequados e concebidos

cientificamente.

De acordo com os PCN (1999), qualquer tipo de atividade experimental,

deve permitir diferentes formas de percepção qualitativa e quantitativa, de manuseio,

observação, confronto, dúvida e de construção conceitual, bem como a tomada de

dados significativos, com os quais se possa verificar ou propor hipóteses explicativas

e, preferencialmente, fazer previsões. (BRASIL, 1999).

Em termos de atividades experimentais, o Programa Nacional do Livro

33

Didático (PNLD) e o Programa Nacional do Livro Didático do Ensino Médio (PNLEM),

definem alguns critérios para eliminação e qualificação das obras indicadas pelas

editoras, no momento de sua avaliação.

Segundo documentos do Ministério da Educação e Cultura (MEC) (PNLEM,

2008), são considerados critérios de eliminação das obras indicadas para o

Programa as que não apresentarem experimentos factíveis, com resultados

plausíveis, as que transmitam idéias equivocadas de fenômenos, processos e

modelos explicativos. Para não serem eliminadas, portanto, as obras devem

apresentar-se de forma não-dicotômica, privilegiando adequadamente a teoria e a

prática, com uma perspectiva investigativa. Nesses documentos é ressaltada,

também, a importância de se abordar a questão do descarte de resíduos envolvidos,

considerando os impactos ambientais dos mesmos.

Os critérios de qualificação das obras valorizam aquelas que permitirão o

envolvimento do aluno em atividades de formação do espírito científico

(levantamento de hipóteses e maneiras de testá-las, ou em que eles utilizem

evidências para julgar a plausibilidade de modelos e explicações).

Serão valorizadas também, obras que apresentarem uma variedade de

atividades destinadas à avaliação de diferentes aspectos do processo cognitivo,

incluindo atividades práticas, de síntese, de investigação etc. A metodologia deve

estimular o raciocínio, a interação entre alunos e professores e o trabalho

cooperativo. (BRASIL, PNLEM, 2008).

Portanto, seja para ajustar à realidade os esquemas teóricos, facilitar o

aprendizado, despertar a curiosidade ou participação dos alunos, como nos fala

Arruda e Laburú (1998), Borges (2002), entre outros, ou, ainda, afirmar o

experimento como algo intrínseco da Física, no espaço do laboratório ou na sala de

34

aula, a experimentação deve permitir um debate acerca das concepções

espontâneas dos alunos e os modelos propostos pela Ciência, dessa maneira,

podem contribuir para que os alunos evoluam suas concepções de conceitos dos

mais simples para os mais complexos.

Por outro lado, experimentalismo puro, sem contexto, usado simplesmente

como fuga do binômio quadro-explanação, com o objetivo de somente tirar o aluno

do estado passivo e inerte da sala de aula, não é eficaz e nem recomendado ao

processo de Educação. Realizar um experimento sem direcionar um debate, sem

promover uma leitura atenta e articulada com os conceitos e o cotidiano dos alunos,

poderá reduzir essa prática a mais um item curricular, que, na visão dos educandos,

pode ser tão chato e sem sentido quanto os conteúdos ministrados de maneira

compartimentalizada e estanque.

Ao propor uma atividade experimental é essencial, segundo Araújo e Abib

(2003), que o professor realize um planejamento anterior, contemplando os objetivos

que deseja alcançar, quais os aspectos metodológicos irá utilizar, como

desenvolverá a atividade, com quais recursos e em que local. Respostas aos

seguintes questionamentos poderão ajudá-lo neste planejamento: será que esta

atividade realmente contribuirá para melhor compreensão da Física? Esta atividade

tem algum significado para os alunos? Ela provocará alguma inquietação? O aluno

se sentirá desafiado ao realizá-la ou acompanhá-la?

Assim, a utilização dos experimentos torna-se uma forma enriquecedora

para ensinar os conceitos da Física, possibilitando aos educandos a confirmação de

conceitos físicos, a instrumentação da área e a correlação desta com seu cotidiano,

compreendendo-a como uma Ciência de seu entorno.

Com presença cada vez maior nos meios escolares, devido à distribuição

35

gratuita pelo governo, os livros didáticos acabam tendo, então, a responsabilidade de

promover estas atividades experimentais, proporcionando a quem tem o livro texto

como única fonte de consulta, a possibilidade de vivenciá-las. O livro didático,

portanto, mais do que nunca, ganha importância no processo de ensino-

aprendizagem e a compreensão do seu papel e sua função torna-se cada vez mais

necessária.

2.3 O LIVRO DIDÁTICO NO CONTEXTO EDUCACIONAL

O contexto educacional atual e as exigências do mundo globalizado

demandam cada vez mais, professores polivalentes, dinâmicos e capazes de se

comprometerem com um ensino que tenha mais sentido e significado para os alunos.

Nessa perspectiva, os materiais de ensino, e em particular o livro didático, têm papel

determinante em sua prática pedagógica, exercendo grande influência no currículo e

conteúdo a ser ministrado pelo professor.

Diversas pesquisas têm corroborado com o exposto acima, apontando o livro

didático como o principal norteador do trabalho do professor, considerando-o como

um apoio fundamental do qual o educador faz uso de diversos tipos de atividades.

Amaral (2006) faz o seguinte relato sobre o assunto:

O livro didático não é o único recurso utilizado, mas continua sendo o mais importante, para a grande maioria dos professores. Nessa condição, comumente ainda é usado como manual completo, ou seja, como fonte de textos, ilustrações e atividades, desenvolvidos quase que na íntegra e na seqüência original. (AMARAL, 2006, p.115).

Nesta mesma linha, Núñez et al (2003) destacam que professores (as)

36

utilizam o livro didático como o principal instrumento de orientação sobre o conteúdo

a ser ministrado, a seqüência desses conteúdos, as atividades de aprendizagem e a

avaliação para o ensino de Ciências.

Moreira (2005) defende princípios para uma aprendizagem significativo-

subversiva em que sugere a descentralização do livro texto e o uso diversificado de

materiais instrucionais, tais como: documentos, artigos, obras de arte e literárias

entre outros. Para este autor, o livro didático simboliza aquela autoridade de onde

“emana” o conhecimento e onde professores e alunos se apóiam em demasia.

Em nossa prática docente, podemos confirmar as situações descritas acima,

nas quais o livro didático ainda é o principal controlador do currículo e, em muitos

casos, o único. O professor tem este instrumento como um porto seguro,

imprescindível ao seu fazer pedagógico, vendo-o como fonte de toda verdade,

esquecendo-se que a Ciência é constituída de modelos que tentam explicar a

natureza. Verifica-se que esse caráter norteador, além de restringir o ensino de

Ciências a apenas uma visão de determinado autor, impossibilita, muitas vezes, a

criatividade e a espontaneidade do professor e do aluno, que seguem a rigor o livro

adotado. (FRACALANZA E MEGID NETO, 2006).

Diante desta realidade, cada vez mais pesquisadores estudam este

instrumento pedagógico, com o objetivo de melhor entender seu uso e o ensino de

seus conteúdos. Fracalanza e Megid Neto (2006) ainda destacam que a investigação

científica sobre os livros didáticos de Ciências cresceu na década de 1980, devido à

ampliação do número de vagas nas escolas de Ensinos Fundamental e Médio,

acompanhada do acentuado aumento de professores com formação deficitária e

pouca possibilidade de atualização adequada, que viam o livro como recurso auxiliar

ao ensino e determinante da prática pedagógica da sala de aula. Estes estudos

37

analisam os livros didáticos em suas diversas dimensões, abordam sobre os

conteúdos, linguagem, figuras, atividades experimentais, contexto histórico, entre

outras possíveis.

Já sobre a transposição didática, Alves Filho (2000) faz uma abordagem

sobre o tema, no âmbito das atividades experimentais e dos conceitos presentes nos

livros didáticos para o Ensino Médio. Segundo esse autor, a transposição didática

descreve um processo de modificação pelo qual o saber é submetido até se tornar

conteúdo de ensino. Destaca, ainda, que negá-la ou ignorá-la é aceitar os conteúdos

científicos contidos nos livros textos como uma reprodução fiel da produção científica

do homem. Ter consciência da transposição didática, bem como da importância das

práticas sociais de referência, é de suma importância para o professor que pretende

desenvolver um ensino mais contextualizado e com conteúdos menos fragmentados

do que aqueles dos livros textos. (ALVES FILHO, 2000).

Nesse sentido, Wuo (2003) faz uma análise sobre os conteúdos abordados

nas obras didáticas de Física, e destaca um núcleo comum composto pelas cinco

áreas da Física clássica: mecânica, termologia, ótica, ondas e eletromagnetismo,

salientando que é menos comum a presença da Física moderna. Ele ressalta, ainda,

que:

Embora a física dos livros reduza a abrangência dos conceitos, não apresente a complexidade da evolução teórica, os antagonismos e contradições entre as idéias, nem por isso se trata de uma vulgarização desse saber. É um conhecimento incompleto, mas não outro, não aborda a totalidade dos traços da esquemática teórica, mas mesmo assim propicia uma acessibilidade ao saber de referência. (WUO, 2003, p.313).

Além disso, alguns trabalhos analisam o papel da iconicidade nos livros

textos para o processo aprendizagem dos alunos. Os resultados que obtiveram,

enfatizam a necessidade de se problematizar tanto as condições sociais de produção

38

das imagens, quanto às condições sociais de produção da leitura das imagens.

Segundo as autoras, a primeira perspectiva chama atenção para a necessidade de

considerar as tecnologias e suas linguagens específicas no entendimento de

imagens e a segunda diz respeito às dimensões envolvidas ao considerarmos a

leitura na perspectiva discursiva, isto é, a relação leitor-texto-autor, sentidos de

leitura, modos de leitura e suas relações com contextos, espaços e finalidades

específicas como, por exemplo, a leitura na escola.

Martins e Ribeiro (2007) realizaram uma análise de algumas narrativas

contidas nos livros didáticos de Física, considerando-as como elemento estruturador

do pensamento e disseminador da cultura cientifica. Com base em um modelo de

análise adaptado da Sociolingüística, discutiram a estrutura e a função de elementos

constitutivos do gênero narrativo, estabelecendo como estes elementos permitem a

contextualização necessária à interpretação da história para fins didáticos. Mediante

estas análises, concluíram que as narrativas podem desempenhar importante papel

na construção de imagens sobre a Ciência e sobre a atividade científica, ressaltando

como as estruturas específicas da narrativa cumprem a função de esclarecer e

organizar idéias, e como tal organização viabiliza a inclusão das narrativas como

mais uma alternativa para o ensino de Ciências.

Esses exemplos mostram a importância que o livro didático adquire no

contexto da escola como ferramenta de ensino e suas várias possibilidades de

apresentar a Ciência. A sua utilização deve ser acompanhada de uma análise, por

meio da qual se possa entender o papel das diversas entidades nele contidas,

avaliar se as atividades experimentais, as imagens que ilustram seus textos - por

exemplo - desempenham um papel significativo para aprendizagem dos alunos.

O livro didático tem seu papel como ferramenta de ensino, reconhecido, não

39

apenas pela comunidade escolar e acadêmica, mas também pelo Governo Federal,

que faz sua distribuição gratuita em larga escala nas escolas públicas e vem

procurando compreender e enriquecer as formas de melhor usá-lo e avaliá-lo.

Desde 1929, existem políticas voltadas para a produção, distribuição e

utilização do livro didático no Brasil, que, em agosto de 1985, começou a ser

chamado de Programa Nacional do Livro Didático – PNLD. Já na década de 1990, o

Governo Federal passou a avaliar os livros indicados para este programa antes de

distribuí-los às escolas.

O Ensino Médio, que a partir de 1996, por meio da Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (LDB), passa a finalizar a Educação básica, também

começou, em 2007, a receber os livros didáticos de Física, através do Programa

Nacional do Livro Didático do Ensino Médio (PNLEM).

A execução do programa é feita pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da

Educação (FNDE), que estabelece regras para inscrição das editoras e coordena

equipes de especialistas para verificar e avaliar as especificações técnicas e físicas

exigidas e os preceitos pedagógicos. Livros que apresentam erros conceituais,

indução a erros, desatualização, incoerência e impertinência metodológica,

preconceito ou discriminação de qualquer tipo, são excluídos do Guia do Livro

Didático, documento que é redigido depois de serem realizadas as avaliações. Estes

guias contêm a relação dos livros selecionados e suas respectivas resenhas que

servirão de base para escolha dos livros didáticos pelos professores em suas

escolas.

Para termos uma idéia da dimensão destes programas no Brasil, o PNLD,

voltado para a Educação fundamental, só em 2007 movimentou R$ 661.411.920,87,

com a aquisição de 110.209.229 de volumes pelo governo. PNLEM, o programa para

40

o Ensino Médio, somou, naquele mesmo ano, R$ 221.540.849,41 para aquisição de

18.248.846 livros e é, segundo Höfling (2006), um dos programas de distribuição de

livros mais amplos do mundo.

A escolha destes manuais escolares pelos professores requer, portanto,

critérios que considerem aspectos relacionados à abordagem didático-pedagógica e

ao contexto da comunidade escolar, levando-se em conta as coleções disponíveis.

O livro texto, como podemos verificar, constitui um material no contexto

educacional, que não deveria ser exclusivista, mas sim alternativo ao processo

ensino-aprendizagem. Para tanto, deve conter variadas propostas metodológicas

para o ensino de seus conteúdos, disseminando uma Ciência construída

historicamente e por vários personagens, portanto, uma construção humana, que se

constrói e reconstrói a todo momento. Deve, ainda, integrar os modelos da Ciência e

as tecnologias e equipamentos do cotidiano e relacionar-se com as diversas áreas

do saber científico.

Porém, segundo Núñez et al (2003), dificilmente o livro didático será capaz

de atender a todas essas demandas, considerando-se que é escrito, segundo, para

um jovem indeterminado, dentro de um mesmo contexto, e portanto, geral, que não

possibilita ao aluno e professor uma vivência com sua regionalidade e

individualidade.

Diante desta incompletude, então, cabe ao professor complementar e

adaptar os conteúdos e atividades do livro, dando-lhes maior proximidade com a

realidade em que estão inseridos, favorecendo a integração dos conteúdos.

No capítulo seguinte, vamos identificar os livros que foram objetos de análise

desta pesquisa, ressaltando algumas características de cada obra (números de

páginas, quantidade de exercícios, quantidade de volumes, entre outras) e dando

41

destaque às atividades experimentais em relação aos temas da Física, a fim de que

o leitor possa conhecer cada livro didático e visualizar, de maneira mais clara, suas

atividades.

42

3 OS LIVROS DIDÁTICOS E SUAS ATIVIDADES EXPERIMENTA IS

Vimos, no capítulo anterior, que o ensino passa por necessárias e

importantes mudanças, não sendo adequado permanecer no velho estilo da

transmissão do conhecimento, no qual o aluno atuava como um depositário dos

saberes do professor, o que Paulo Freire chamou de “educação bancária”. (FREIRE,

1975, p.66). A educação deve se orientar, diante do exposto, no sentido de promover

a formação de um cidadão completo, crítico, atuante e capaz de aprender sempre.

Nesse sentido, e diante desta Educação almejada por nossa sociedade, os

PCN foram elaborados com a intenção de auxiliar o professor neste caminho e

apontar-lhes sugestões que podem ser utilizadas ou aperfeiçoadas.

O livro didático ganha importância dentro desse processo, pois pode trazer,

em seu bojo, diversos tipos de atividades que colaborem para que as competências

e habilidades sugeridas pelos PCN sejam desenvolvidas nos alunos. No rol destas

atividades estão as de caráter experimental, que encontram apoio tanto pelos

docentes quanto pelos discentes.

Com relação aos livros de Física escolhidos para análise, priorizamos os

recomendados pelo PNLEM/2007, totalizando seis coleções, avaliadas por

especialistas de cada área do conhecimento, tendo como parâmetros critérios

estabelecidos pelo MEC. A escolha desses livros se justifica, pois são livros

previamente analisados por especialista da área e com larga distribuição gratuita em

todo território nacional. Sua presença, portanto, é cada vez maior nos ambientes

escolares. Essas são coleções que passam a fazer parte, então, da realidade de

alunos e professores da grande maioria das escolas públicas brasileiras, e, portanto,

43

sua escolha deve ser criteriosa, adequada e precisa.

As coleções estão no formato volume único ou em três volumes, sendo o

primeiro caracterizado por abordar os conteúdos de maneira mais compactados e

sintetizados e possuir um preço mais acessível, por se trata de um livro que será

utilizado nas três séries do Ensino Médio. Anterior à sua distribuição pelo PNLEM, o

volume único destinava-se a atender as escolas públicas e, principalmente, a

Educação de Jovens e Adultos (EJA), devido ao custo, e por apresentar os

conteúdos de forma reduzida e com menor profundidade, adequando a carga horária

disponível para esta disciplina. Os volumes separados para cada série geralmente

apresentam mais conteúdos, com maior profundidade e uma gama maior de

exercícios e atividades experimentais.

Para melhor conhecermos estes livros, a tabela a abaixo (TABELA 1) os

identifica e sublinha algumas características.

TABELA 1 - Identificação das coleções

Autores Título da

Obra Volumes

Cidade / Editora

Nº de Páginas Ano

Obra A Antônio Máximo

e Beatriz Alvarenga

Física Ensino Médio

3 São Paulo/ Scipione

Vol. 1 – 376 Vol. 2 – 400 Vol. 3 – 416

2006

Obra B José Luiz Sampaio

e Caio Sérgio Calçada

Universo da Física

3 São Paulo/

Atual Vol. 1 – 465 Vol. 2 - 520 Vol. 3 – 500

2005

Obra C Paulo César Penteado

e Carlos Magno Torres

Física, Ciência e

Tecnologia

3 São Paulo/ Moderna

Vol. 1 – 230 Vol. 2 – 231 Vol. 3 – 262

2005

Obra D Alberto Gaspar Física 1 São Paulo/

Ática 552 2007

Obra E Aurélio Gonçalves Filho

e Carlos Toscano

Física 1 São Paulo/ Scipione

472 2007

44

Obra F José Luiz Sampaio

e Caio Sérgio Calçada

Física 1 São Paulo/

Atual 472 2005

Estes livros foram avaliados pelo MEC em 2006, quando todos tinham

edição de 2005, porém, os livros que analisamos chegaram às escolas no final de

2007 para serem analisados pelos professores em 2008 e distribuídos pelo governo

em 2009, por isso, alguns têm edição posterior a 2005.

Pela tabela acima, podemos ver que a obra B é aquela mais extensa, tendo,

cada volume, cerca de 500 páginas, o dobro de páginas da obra C, que é da ordem

de 230 páginas. Todas as editoras são de São Paulo. Porém, considerando que a

Ática e Scipione são atualmente da editora Abril, temos 3 editoras distribuindo livros

de Física às escolas públicas do Brasil. Temos também a mesma quantidade de

coleções indicadas em volume único e em volumes separados: metade para cada

tipo.

Se considerarmos que as coleções devem ser utilizadas para os 3 anos do

Ensino Médio, temos, em média, 185 páginas para cada ano na obra D e 160 para

as demais, entre as três de volume único.

A seguir, faremos uma breve caracterização das obras analisadas, para

possibilitar ao leitor uma visão geral das mesmas.

3.1 UM PRIMEIRO PANORAMA

3.1.1 Obra A

A obra A, cujos autores são professores de Física da Universidade Federal

de Minas Gerais, possui orientação para os alunos e professores, por meio da qual

45

procuram esclarecer sobre a melhor maneira de utilizar o curso de Física proposto,

além de ressaltarem a importância de se estudar esta ciência.

O volume 1 está dividido em 4 unidades, onde são apresentados os temas

da mecânica, começando pelo estudo dos algarismos significativos, cinemática, as

Leis de Newton, encerrando com a gravitação universal e hidrostática. Possui cerca

de 965 exercícios teóricos e 36 atividades experimentais.

O volume 2 também está dividido em 4 unidades. A primeira refere-se às leis

de conservação, seguindo com a termodinâmica, ótica e ondas. Possui, ao todo, 947

exercícios teóricos e 51 experimentos.

O último volume apresenta-se com 3 unidades. A primeira aborda os

conteúdos da eletrostática, a segunda, da eletrodinâmica e a última, do

eletromagnetismo e da Física moderna. Este volume possui 990 exercícios teóricos e

37 atividades experimentais. No final de cada volume é apresentada uma lista de

questões de vestibulares e bibliografia para os alunos.

3.1.2 Obra B

A obra B inicia-se com uma apresentação destinada aos professores e

alunos, ressaltando sobre a importância do estudo da e sobre a Física. Expõe uma

visão geral das atividades propostas e traz, no final de cada volume, um manual do

professor, que tem como objetivo esclarecer os principais pontos da obra, além de

orientar na resolução dos exercícios. Segundo os autores, os conteúdos estão

sintonizados com os princípios enunciados nas Leis de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB), Lei 9394/96, Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino

Médio e da SEMTEC/MEC – 1998.

46

A obra é dividida em três volumes. O primeiro apresenta a mecânica, dividida

em 3 unidades, sendo abordado na primeira, o que é Física, unidades das

grandezas e introdução à mecânica. Na segunda, a cinemática; e na última, a

dinâmica. Este volume apresenta 839 exercícios teóricos e 10 atividades

experimentais e traz, também, uma relação de leituras recomendadas ao professor e

de revistas científicas e sites sobre Física.

Cinco unidades compõem o volume 2, sendo as duas primeiras referentes

aos conteúdos da mecânica (gravitação, estática e hidrostática) e as duas últimas

sobre termologia e óptica geométrica. Possui 1375 exercícios e 23 experimentos.

Já o volume 3 traz uma diferença na abordagem dos conteúdos em relação

ao que geralmente se encontra nos temas da eletricidade: primeiro faz um estudo da

eletrodinâmica e depois da eletrostática, ficando a coleção dividida em: circuitos

elétricos, eletrostática e magnetismo, ondas e Física moderna. Este volume tem algo

em torno de 1199 exercícios e 6 atividades experimentais.

Um dos seus autores é bacharel em Física pela Universidade de São Paulo

(USP) e o outro bacharel em Matemática e engenharia elétrica pela mesma

universidade. Ambos são professores de Física na rede particular de ensino desde

1968.

3.1.3 Obra F

Dos mesmos autores acima, temos a obra F, que se caracteriza por ser no

formato de volume único. Possui 472 páginas para as três séries do Ensino Médio.

Inicialmente, os autores fazem uma breve apresentação da obra, onde enfatizam a

formação geral em Física e propõem questões para o vestibular. Apresenta 906

47

exercícios teóricos e 14 atividades experimentais. Está dividida em 6 unidades que

abordam, inicialmente, a mecânica, como tradicionalmente é colocada, a termologia,

a óptica, as ondas, a eletricidade e a Física moderna, tendo a disposição dos

conteúdos o mesmo padrão normalmente encontrado nos livros didáticos. Alguns

boxes sobre as personalidades da Ciência, chamado de história e outros sobre o

cotidiano e aplicações das ciências, caracterizam a obra, que tem também um

manual dedicado ao professor no final, contendo as diretrizes e bases para o Ensino

Médio brasileiro, estrutura da mesma e recomendações de sites, leituras e resolução

de exercícios.

3.1.4 Obra C

A obra C, cujos autores são professores de Física em escolas de nível médio

e de cursos pré-universitários, possui uma apresentação inicial e um roteiro de como

utilizá-la. Caracteriza-se por muitas ilustrações em todo o texto, com boa

diagramação, por meio das quais procuram retratar situações e fenômenos do

cotidiano das pessoas. Os livros são estruturados por unidades, seguindo os

conteúdos tradicionais da mecânica, termologia, ótica e eletromagnetismo,

finalizando com conteúdos relacionados à Física moderna. Esses são volumes que

se diferenciam dos demais por apresentarem outras formas de aprendizagem, tais

como: reportagens, trabalhos em grupo, texto relacionado ao conteúdo no início de

cada capítulo, boxes com perguntas sobre fatos observados no cotidiano, aspectos

dos assuntos em estudo, publicados em jornais e revistas, aplicações tecnológicas e

algumas sugestões de leitura: tudo no final de cada capítulo.

O primeiro volume tem 230 páginas, além do complemento para o professor,

480 exercícios e 17 atividades experimentais.

48

O volume dois possui 214 páginas, 465 exercícios e 8 experimentos e o

último, 262 páginas, 372 exercícios e 6 experimentos.

3.1.5 Obra D

A obra D, o autor é licenciado e mestre em Física pela USP e doutor em

Educação pela mesma universidade. Inicia-se com uma apresentação destinada aos

alunos, onde chama a atenção para a importância de se estudar Física, destacando,

ainda, o caráter histórico-sócio-cultural da disciplina e sua contextualização com o

dia-a-dia, procurando orientar, de maneira geral, sobre as diversas atividades

constantes na coleção. Aos professores recomendam um manual no final do livro

com 208 páginas e com informações sobre os PCN, sugestões para o

aprimoramento e orientações para atividades interdisciplinares e de

contextualização. O livro se encerra com orientações para o desenvolvimento de

cada capítulo e resolução dos exercícios, além de uma extensa lista de referências

bibliográficas.

Este volume dividiu os conteúdos da Física em 46 capítulos, começando

pelo estudo da mecânica, passando por ondas, ótica, termodinâmica,

eletromagnetismo e finalizando com a Física moderna. Tem um total de 971

exercícios teóricos e 62 atividades experimentais.

3.1.6 Obra E

Os autores da obra E, são licenciados em Física pela USP, e fazem uma

abordagem diferenciada para os conceitos da Física em relação ao que

tradicionalmente é exposto. Cinemática, por exemplo, é apresentada em um capítulo

complementar, após os conteúdos de eletromagnetismo estudados na terceira e

49

última unidade. Eletromagnetismo, por sua vez, ao contrário das outras propostas,

começa com o estudo da eletrodinâmica e termina com produção e distribuição da

energia elétrica.

A termodinâmica inicia a unidade 2, com os conceitos de temperatura e calor

e encerra com a dualidade da luz.

Essa é uma forma que chama a atenção pela disposição dos conteúdos,

abordando os conceitos da Física com uma articulação diferente da tradicional. Uma

breve apresentação abre a coleção, com os autores salientando a importância da

Física no desenvolvimento tecnológico do mundo. Ao final do livro, listam a

bibliografia que consultaram e que recomendam, além do manual para o professor,

que chamam de “Assessoria pedagógica”, onde se encontra uma orientação teórico-

metodológica e a estrutura geral da obra, com algumas indicações de sua utilização.

Os autores abordam questões sobre avaliação, projetos, textos suplementares,

sugestões de filmes e séries e uma bibliografia indicada ao professor, além de

exercícios resolvidos. A coleção possui 875 exercícios e 38 atividades experimentais.

Nessa caracterização das coleções, foram consideradas como exercícios as

atividades de resolução de exercícios teóricos, em algumas coleções chamados de

problemas e testes, questões, exercícios de revisão etc., e como atividade

experimental aquela que faz uso de algum aparato experimental – descrição ou

montagem – e partir do desenvolvimento ou resultado desta o aluno desenvolva

alguma atividade.

Alguns dados interessantes sobre os autores: somente na obra A os autores

não se formaram na Universidade de São Paulo (USP). Nas demais, todos formaram

nessa instituição, num total de sete, sendo que dois deles não são formados em

Física e sim em engenharia. Os autores da obra A são formados na Universidade

50

Federal de Minas Gerais (UFMG), sendo um na área da Física e outro na área de

engenharia.

Com exceção da obra E, todas desenvolvem os conteúdos de forma bem

semelhante, no estilo tradicional, havendo pequenas diferenças nos conteúdos da

termodinâmica e de eletricidade. Na termodinâmica por exemplo, tem coleção que

segue a seguinte sequência: termometria, expansão térmica, calor e mudança de

fases. Outra já adota essa: termometria, dilatação, estudo dos gases, calor e

mudanças de fases. Em relação à eletricidade, apenas a obra B e a E, preferem um

estudo preliminar da eletrodinâmica antes da eletrostática.

Em relação ao número de experimentos e exercícios presentes, a tabela

abaixo (TABELA 2) permite inferir a importância que cada um deles adquire nas

coleções.

TABELA 2 - Características das Coleções

Volume 1 Volume 2 Volume 3 Autores Nº

Pág. Exerc. Exper

. Nº Pág.

Exerc. Exper.

Nº Pág.

Exerc. Exper.

Obra A 391 965 36 400 947 51 416 990 37

Obra B 465 839 10 520 1375 23 500 1199 6

Obra C 230 480 17 231 465 8 262 372 6

Volumes Únicos

Obra D 552 971 62

Obra E 472 875 38

Obra F 472 906 14

Das coleções em 3 volumes, a de maior número de páginas é a obra B, com

51

cerca de 500 páginas para cada volume e a obra C é a menor delas, com

aproximadamente a metade de páginas da obra B. O que é assustador é a

relevância dada aos exercícios, chegando ao número 1000 em cada série da obra B.

No volume 3 desta obra, este número é de 1199, o que significa que o aluno deve

resolver da ordem de 40 exercícios por semana.

Embora as atividades experimentais sejam bem mais difíceis de serem

realizadas, na perspectiva destas coleções não são tão relevantes. Apenas a obra A

indica, em média, mais de uma atividade de experimentação por semana (mais de

30 por volume). Das coleções em volume único, a obra D é aquela que mais releva

as atividades experimentais, propondo da ordem de 20 por ano.

Existem algumas diferenças no desenvolvimento dos conteúdos em cada

uma das coleções. Por exemplo, a obra E não apresenta relevância na Cinemática,

sendo este conteúdo o último da coleção, vindo após o estudo da eletricidade e do

eletromagnetismo, numa seção a qual os autores chamam de “Capítulos

complementares” e possui uma atividade experimental do total de dez dedicadas à

mecânica, a termodinâmica começa com uma ênfase forte nos conceitos de calor e

temperatura e nos processos de transferências desta energia, os autores optaram

por não dedicarem muito espaço ao estudo de escalas termométricas, em

eletricidade e eletromagnetismo têm-se o primeiro capítulo iniciando com aparelhos e

circuitos elétricos, no segundo é que se estuda eletrização, campo e tensão elétrica,

esta obra possui 38 atividades experimentais e não possui um capítulo dedicado a

Física moderna.

As outras coleções abordam os conteúdos da maneira tradicionalmente

colocados, diferenciando-se em alguns aspectos, como, por exemplo, a obra A dá

bastante relevância às atividades experimentais, sendo 124 no total. Já a obra C

52

apresenta volumes com forte apelo às tecnologias e procura mostrar a aplicabilidade

da Física em diversas situações do cotidiano das pessoas. Os três volumes

apresentam um total de 30 atividades experimentais.

Em cada capítulo do volume único da obra E, propõe-se, pelo menos, uma

atividade experimental, num total de 62.

Na obra F foi verificado um condensamento dos conteúdos e uma escassez

de atividades experimentais, 14 em toda coleção. Já a obra B, dos mesmos autores,

possui 38 atividades experimentais, sendo que o volume 1, dedicado à mecânica,

inicia com uma unidade onde são abordados o que é a Física e um pouco de sua

evolução histórica, unidades de grandezas e conceitos sobre movimento e repouso,

trajetória, entre outros; traz como complemento noções sobre o cálculo diferencial e

integral, derivadas, massa inercial e gravitacional. Os outros conteúdos seguem a

sequência tradicional, os autores optaram por trabalhar uma grande quantidade de

conteúdos da Física, por exemplo, forças elásticas, centro de massa, polias, planos

inclinados, que em alguns livros são omitidos tem espaço na coleção destes autores,

devido à grande abrangência dos conteúdos da mecânica, fez-se necessário que o

volume 2 abarcasse 5 capítulos historicamente trabalhados na mecânica, sendo

eles: gravitação, estática, fluidos em repouso, princípio de Arquimedes, tensão

superficial e fluidodinâmica. Uma diferenciação quanto à sequência dos conteúdos

se observa no volume 3, onde o estudo das ondas vem logo após o de

eletromagnetismo.

É importante ressaltar, também, que todas as obras, com exceção da E,

dedicam um capítulo para a Física moderna/contemporânea.

53

3.2 EXPERIÊNCIAS DOS LIVROS DIDÁTICOS: o que são?

Com relação especificamente às atividades experimentais, vejam as

orientações dos autores com relação ao seu desenvolvimento (Temos que fazer uma

divisão entre as citações, pois elas não podem ficar juntas, afetando a normalização.

Para tanto, deveremos escrever uma a duas linhas entre cada uma delas a fim de

evitar o erro):

Outra atividade importante para facilitar a compreensão e a aprendizagem dos temas apresentados em um capítulo são as experiências propostas no final de cada um. Escolhemos experiências bem simples, que em geral requerem material disponível em sua própria residência, possibilitando, assim, sua realização como tarefa para casa. Não deixe de fazer essas experiências e levá-las à escola para serem discutidas com seu professor e seus colegas. Temos certeza de que essas atividades lhe darão muitos momentos de prazer e lhe permitirão uma visão mais clara e concreta dos fenômenos em estudo. (MÁXIMO e ALVARENGA, 2006).

Quanto aos experimentos, procuramos propor casos que exigem material simples. Se a escola dispuser de um laboratório de Física, seria interessante que o professor executasse, ou orientasse os alunos a executarem, um grande número de experimentos (SAMPAIO e CALÇADA, 2005).

Nos experimentos sugeridos em “proposta experimental”, sejam de demonstração ou de observação e manipulação de situações e equipamentos do cotidiano, os alunos têm contato com diferentes e concomitantes formas de percepção qualitativa e quantitativa, de manuseio, de observação, de confronto, de dúvida e de construção conceitual. Além disso, os estudantes podem coletar dados significativos, com os quais consigam verificar ou propor hipóteses explicativas e, até mesmo, fazer previsões sobre outros experimentos não realizados. Dessa forma, para eles, procura-se habilitar o aluno a desenvolver a capacidade de investigação física, de organizar, identificar regularidades, generalizar de uma a outra situação, prever, avaliar, analisar previsões. Experimentos (verifique se não há vírgula aqui no texto original) de maneira geral, dão uma nova dinâmica às aulas, e é possível sugerir a formação de grupos para realizá-los e coletar dados. (PENTEADO e TORRES, 2005),

54

No fim de cada capítulo são propostas atividades de reflexão, investigação ou experimentação. Sempre que possível, é recomendável que os alunos as realizem em sala de aula. Embora o ideal seja fazer todas as atividades experimentais em sala de aula, sabemos que nem sempre será possível. O professor pode selecionar as que achar mais significativas ou viáveis para a realização em sala de aula e deixar as demais para serem feitas em casa. Uma boa alternativa é propor algumas das atividades a grupos para que as realizem e as apresentem em classe. Uma atividade experimental bem realizada e apresentada, em que se estimulem a discussão e a reflexão de toda a classe, orientada adequadamente pelo professor, pode ter resultados excelentes. Muitas vezes essa forma de apresentação é mais eficiente do que a atividade realizada em pequenos grupos, na qual essa discussão é sempre mais limitada e para a qual o acompanhamento e a orientação do professor é sempre mais difícil (GASPAR, 2007).

Na perspectiva de favorecer um processo de ensino e aprendizagem no qual os (as) alunos (as) tenham um papel ativo, consideramos importante valorizar tanto a reflexão pessoal como a discussão em grupos (na realização de uma atividade experimental ou na discussão de um texto, por exemplo). Sempre que possível há atividades experimentais de fácil execução, quadros com informações adicionais e um conjunto de exercícios que visam fixar a discussão conceitual e consolidar a compreensão dos tópicos tratados (GONÇALVES FILHO e TOSCANO, 2007).

Podemos perceber, portanto, nas citações acima, que alguns autores

dão uma ênfase forte nas atividades experimentais e realçam bem sua importância -

dizendo que elas facilitam a compreensão do conteúdo e da aprendizagem, que

possibilitam situações para o aluno fazer investigação, discutir, trabalhar em grupo

entre outras - e o que os professores podem desenvolver nos alunos (alguns bem

próximos dos PCN). Vemos, também, que há uma tendência de propostas

experimentais com materiais baratos e de fácil acesso, de modo que sua execução

possa ser realizada pelos alunos em casa ou mesmo em sala de aula. Esta

tendência está exemplificada a seguir, onde mostramos dois exemplos retratando

essa dinâmica e os elementos que a caracterizam.

55

O primeiro (FIGURA 1), diz respeito à dilatação térmica em diferentes

materiais, procurando evidenciar uma situação semelhante com a lâmina bimetálica,

e o segundo (FIGURA 2), relaciona-se com empuxo.

FONTE: Alvarenga e Máximo, 2006, p. 66

Figura 1 - Lâmina Bimetálica

É comum encontrar como invólucro dos cigarros, no interior do maço, uma folha que

apresenta duas faces: uma de papel comum e a outra de alumínio, coladas entre si.

Corte uma lâmina desta folha de dupla face e aproxime dela uma chama, como a de uma

fósforo aceso (veja a figura desta experiência). Mantenha a chama a uma certa distância para

evitar que o papel se queime. Observe o que acontece com a lâmina. Em seguida, afaste a chama

e verifique se a lâmina retoma à sua situação inicial ao esfriar.

a) Procure explicar suas observações, lembrando-se de seus conhecimentos sobre

dilatação (veja o problema 7 deste capítulo).

b) De acordo com o que você observou, qual dos dois materiais deve ter maior coeficiente

de dilatação: o alumínio ou o papel?

c) Aqueça, agora, uma fina lâmina feita apenas de alumínio (papel de alumínio). Por que,

neste caso, não ocorre o efeito observado com a lâmina de dupla face?

56

Podemos, por meio de uma experiência simples, verificar o fato de o empuxo do líquido

agir de baixo para cima sobre um corpo nele mergulhado. O procedimento é o seguinte:

I – Com dois ou três canudos de refresco, faça um tubo longo, introduza-o no bico de um

balão de borracha e amarre com linha de costura.

II – A seguir, coloque o balão de borracha vazio numa garrafa plástica vazia de

refrigerante e complete o interior da garrafa com água.

III – Mergulhe a garrafa num recipiente com água,

mantendo para fora a extremidade do tubo.

IV – Assopre na extremidade do tubo, injetando ar

no interior do balão. Observe o que acontece à medida que

o ar entra no balão e explique por que isso acorre.

FONTE: Penteado e Torres, 2005, p.98

Figura 2 - Empuxo

Esses dois exemplos retratam o direcionamento dado às atividades

experimentais, no que diz respeito ao planejamento e desenvolvimento. Como em

todas as atividades das coleções analisadas, essas apresentam elementos

característicos para que os experimentos sejam desenvolvidos pelos alunos: Corte,

mantenha, observe o que acontece, em seguida, afaste, verifique, procure explicar

suas observações, de acordo com o que você observou, elementos verificados no

primeiro exemplo; faça, afaste, mergulhe, assopre, no segundo. Esses elementos

mostram uma abordagem experimental típica para serem realizadas pelos alunos,

diferentes daquelas direcionadas para professores, nas quais não verificamos com

tanta frequência os verbos no imperativo.

No volume 3 da obra A, três experimentos acreditamos ser de difícil

execução pelos alunos, dois por requererem equipamentos especializados que nem

sempre estão disponíveis nas escolas (gerador de Van de Graaff) e um experimento

sobre telégrafo Morse. Em ambos os casos, é sugerida a construção destes

equipamentos, devendo o aluno basear-se somente na descrição e análise de

57

figuras mostrados no texto do experimento ou num tópico especial. No entanto,

acreditamos que dificilmente os alunos conseguirão construir tais aparelhos fazendo

uso somente da descrição e das figuras expostos no livro, pois seriam precisos

esquemas e especificações mais detalhadas e precisas dos diversos componentes

que compõem estes aparelhos e, por isso, os autores, deveriam solicitar dos alunos

o acompanhamento e a ajuda do professor.

Em seguida, descreveremos dois experimentos dessa coleção que julgamos

serem melhores realizados pelo professor ou com sua intervenção: um com relação

ao gerador de Van de Graaff (FIGURA 3) e o outro com relação à construção do

telégrafo Morse (FIGURA 4) proposto pelos autores.

Observação: Para realizar estas experiências, você precisará de um dispositivo que lhe

forneça uma quantidade de carga elétrica bem maior do que aquela que conseguimos obter com

um pente atritado.

Um destes dispositivos é, por exemplo, o gerador de Van de Graaff, que está descrito no

Tópico Especial deste capítulo. Se o laboratório do seu colégio não possui este gerador, você

poderá tentar construí-lo orientando-se pelo Tópico Especial.

Primeira experiência:

O poder das pontas (analisado no tópico especial do capítulo anterior) pode ser usado

para colocar em rotação um pequeno objeto metálico, o qual costuma ser denominado torniquete

elétrico. Procure construir e colocar em funcionamento um torniquete, de acordo com a orientação

seguinte:

1º) Corte um pedaço de lata fina com cerca de 5 cm de comprimento, dando-lhe a forma

mostrada na figura (a) desta experiência. Em sua parte central, faça uma pequena depressão,

como está indicado na figura. Está, então, construído o seu torniquete.

2º) Prenda uma agulha no alto da esfera do gerador de Van de Graaff (você poderá usar,

por exemplo, um fita adesiva), certificando-se de que esta agulha esteja em contato com a esfera

(veja a figura (b) desta experiência).

3º) Apóie a depressão feita no torniquete na ponta da agulha, de modo que ele fique em

equilíbrio praticamente na horizontal. Colocando o gerador de Van de Graaff em funcionamento, o

torniquete entrará em rotação com uma velocidade relativamente elevada.

58

4º) O movimento do torniquete, como dissemos, está

relacionado com o poder das pontas. Nas proximidades das

pontas eletrizadas do torniquete, o ar se ioniza e os íons que

possuem carga de mesmo sinal que as pontas são repelidos por

elas. Estes íons, por sua vez, repelem as pontas (força de

reação), colocando o torniquete em rotação. Observe, em sua

experiência, o sentido de rotação do torniquete e verifique se

está de acordo com esta explicação.

FONTE: Alvarenga e Máximo, 2006, p. 100

Figura 3 - O poder das pontas

FONTE: Alvarenga e Máximo, 2006, p. 270

Figura 4 - O Telégrafo Morse

Na coleção de Sampaio e Calçada (2005a), volume 3, o experimento do

capítulo 11 (condutor em equilíbrio eletrostático), onde é necessário o uso do

gerador de Van de Graaff, a fim de verificar o fenômeno do poder das pontas,

também necessita da intervenção do professor, pois trata-se de um experimento no

qual a figura não ajuda na visualização e compreensão do aparelho e muito menos

No exemplo resolvido no final da secção 23.4 foi analisado o funcionamento de um

telégrafo Morse muito simples, apresentado na fig. 23-31, na verdade, houve um erro na

identificação desta figura o certo é fig. 23-24. Orientando-se pela descrição feita e pela figura

correspondente, procure construir um telégrafo como aquele. Você poderá usa-lo para enviar

mensagens em código Morse a um colega situado a vários metros de distância.

59

de como realizá-la (FIGURA 5). Vejamos este experimento proposto pelos autores:

FONTE: Sampaio e Calçada, 2005a, p. 255

Figura 5 - O sopro elétrico

Acreditamos que seja interessante que o professor, no momento da escolha

do livro que irá adotar para seus alunos, possa ter uma visão geral da proposta de

cada coleção, assim, poderá escolher a que mais aproxime de sua atuação

pedagógica. Fizemos, abaixo, uma análise sobre o direcionamento dado pelos

autores à realização das atividades experimentais – se para o aluno ou professor. É

importante ressaltar, inicialmente, que tanto a coleção destinada aos professores

quanto às dirigidas aos estudantes constituem-se pelas mesmas atividades,

diferenciando apenas pelo manual do professor que traz informações gerais sobre a

proposta da obra, algumas informações sobre os PCN e legislação e dicas de sites e

A fim de se verificar a intensidade do campo elétrico nas pontas de um condutor, pode ser

realizado o experimento descrito a seguir.

O material a ser utilizado compõe-se de uma vela, de um corpo metálico apresentando

uma ponta afilada, de um suporte isolante para apoiar o corpo metálico e um gerador de cargas

elétricas (Van de Graaff). O experimento consiste em ascender a vela, ligar o gerador de cargas

negativas ao condutor e aproximar a vela da ponta deste (figura 11).

Verifica-se que a chama da vela entorta para o lado oposto, como se a ponta metálica a

estivesse soprando. Costumamos chamar a isso de sopro elétrico.

O intenso campo elétrico que se forma nas

vizinhanças da ponta afilada do condutor faz, devido à alta

densidade de cargas de sua ponta, com que o ar se ionize,

tornando-se condutor. Por ali escoam íons negativos em

direção à chama da vela. Eis a explicação do mistério do

sopro elétrico. No caso de o gerador eletrizar o corpo com

carga positiva, também ocorre o sopro, sendo a explicação

para sua ocorrência análoga a essa. Se a ponta não fosse afilada, mas arredondada, o vento se

tornaria mais fraco. Costuma-se também chamar à elevada intensidade do campo nas pontas do

condutor de poder das pontas.

60

livros.

Nenhuma coleção direcionou explicitamente atividades experimentais para

serem realizadas pelos professores ou afirmaram que alguma atividade, apesar de

fazer parte do livro do estudante, precisasse da participação ou colaboração do

professor. A ênfase maior foi na realização das atividades pelos alunos. Talvez por

isso, apresentam uma simplicidade e facilidade de desenvolvimento de quase

totalidade dos experimentos.

3. 3 AS ATIVIDADES EXPERIMENTAIS E OS TEMAS DA FÍSI CA

No documento PCN+ (BRASIL, 2002), no que diz respeito à escolha e

organização dos assuntos a serem trabalhados, são apresentadas formas de

organização dos conteúdos em Temas Estruturadores, sendo eles:

1. Movimentos: variações e conservações;

2. Calor, ambiente e usos de energia;

3. Som, imagem e informação;

4. Equipamentos elétricos e telecomunicações;

5. Matéria e radiação;

6. Universo, Terra e vida.

Cada um destes temas estruturadores é caracterizado por unidades

temáticas, que definem os recortes, as abordagens e os contextos nos quais os

temas devem ser trabalhados, a fim de promover as competências desejadas.

Nenhuma coleção dos livros didáticos estudados divide o ensino da Física

nesses temas, por isso, optamos em fazer a análise segundo os conteúdos

tradicionais da disciplina. Os enfoques e as abordagens que levam à promoção de

competências e habilidades serão identificados no próximo item, pelas categorias de

61

análise elaboradas nas três dimensões definidas pelos PCN: representação e

comunicação; investigação e compreensão e contextualização sócio-cultural.

Procuramos avaliar, primeiramente, que conteúdos de Física os autores dos

livros didáticos estão privilegiando com as atividades experimentais. Para que esta

análise fosse possível, dividimos os temas da Física da seguinte maneira (TABELA

3).

TABELA 3 - Distribuição dos conteúdos específicos da Física em seus respectivos temas

Temas da Física Conteúdos Específicos

Mecânica 1) Movimento Retilíneo Uniforme e Variado

2) Queda Livre e Lançamento Vertical

3) Movimento Circular

4) Leis de Newton

5) Trabalho, Potência, Energia e sua conservação

6) Impulso, Quantidade de Movimento e sua conservação

7) Hidrostática

Termodinâmica 8) Temperatura e Dilatação 9) Comportamento Térmico dos Gases 10) Mudança de Fase e Transmissão de Calor 11) Leis da Termodinâmica

Ondas e Óptica:

12) Movimento Harmônico Simples 13) Ondas mecânicas 14) Luz (espectro, propagação, difusão, interferência, difração e polarização) 15) Espelhos Planos e Esféricos 16) Reflexão e Refração da Luz 17) Lentes

Eletromagnetismo:

18) Eletrostática 19) Associação de Resistores 20) Geradores e Circuitos Elétricos 21) Campo Magnético 22) Corrente Elétrica e Campo Magnético 23) Indução Eletromagnética 24) Ondas Eletromagnéticas

Física Moderna 25) O Espectro Eletromagnético (infravermelho e ultravioleta) 26) Radiação dos Corpos

62

Gravitação Universal

27) Sistemas Planetários 28) Leis de Kepler 29) Lei da Gravitação Universal 30) Satélites e Órbitas

Investigando a incidência de atividades experimentais dentro de cada tema

exposto acima, apresentamos os seguintes resultados (TABELA 4):

TABELA 4 - Distribuição das atividades experimentais nos conteúdos da Física

Conteúdos

Autores

Mecânica Termo-

Dinâmica

Ondas e

Óptica

Eletro-magnetismo

Física Moderna

Gravita-ção Total

Obra A 35 18 29 38 0 4 124

Obra B 21 5 7 6 0 0 39

Obra C 16 1 7 6 0 1 31

Obra D 24 7 14 14 0 1 62

Obra E 10 8 8 12 0 0 38

Obra F 6 1 5 2 0 0 14

Total 112 40 70 78 0 6 308

O gráfico que mostramos abaixo (GRÁFICO 1) mostra a distribuição que

fizemos na tabela acima.

63

05

10152025303540

Mec

ânica

Termod

inâm

ica

Ondas

e Ó

ptica

Eletro

magne

tism

o

Física

Mod

erna

Gravit

ação

Univ

ersa

l

Obra AObra BObra CObra DObra EObra F

FONTE: Dados da pesquisa

Gráfico 1 - Distribuição dos experimentos nos conte údos da Física por coleção

Já a relação percentual das atividades experimentais em cada tema da

Física, está representada no gráfico abaixo (GRÁFICO 2):

64

Distribuição dos Experimentos nos Conteúdos da Física

37%

13%23%

25%

0%

2% Mecânica

Termodinâmica

Ondas e Óptica

Eletromagnetismo

Física Moderna

GravitaçãoUniversal

Gráfico (2)

FONTE: Dados da pesquisa

Gráfico 2 - Distribuição dos experimentos por conte údos da Física

É possível observar que a distribuição das atividades em relação aos temas

não é uniforme, e como tradicionalmente acontece na maioria das coleções, os

temas da mecânica são os mais trabalhados, chegando a mais de 50% na obra B

(21 em 39 = 54%), e de 52% na C (16 em 31). O eletromagnetismo foi o segundo

mais explorado, chegando a acontecer, de nas obras A e E ser 30%, maior que a

presença de atividades dos conteúdos de mecânica nessas duas coleções. Não foi

identificado nenhum experimento relativo ao conteúdo de Física moderna e muito

pouco (2%) em relação aos conteúdos relativos ao tema gravitação universal.

65

Mecânica

0

2

4

6

8

10

12

1 2 3 4 5 6 7

Conteúdos Específicos

Qua

ntid

ade

de

Exp

erim

ento

s

obra A

obra B

obra C

obra D

obra E

obra F

Excluindo os dois últimos temas, uma distribuição mais homogênea das

atividades experimentais em relação aos temas pode ser observada na proposta da

obra E (variando de cerca de 20% a 30%) e a A (entre 15 e 30%).

A distribuição das atividades experimentais nos temas e sub-temas

considerados estão no Anexo 1 desse trabalho.

Já a distribuição dos experimentos nos conteúdos específicos da Física,

estão relacionados nos 4 gráficos que seguem abaixo (GRÁFICOS 3, 4, 5 e 6).

FONTE: Dados da pesquisa

Gráfico 3 - Quantidade de experimentos nos conteúdo s específicos por obra

66

Termodinâmica, Ondas e Óptica

01

23

456

78

910

8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

Conteúdos Específicos

Qua

ntid

ade

de E

xper

imen

tos

obra A

obra B

obra C

obra D

obra E

obra F

FONTE: Dados da pesquisa

Gráfico 4 - Quantidade de experimentos nos conteúdo s específicos por obra

67

Eletromagnetismo

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

18 19 20 21 22 23 24

Conteúdos Específicos

Qua

ntid

ade

de E

xper

imen

tos

obra A

obra B

obra C

obra D

obra E

obra F

Física Moderna e Gravitação Universal

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

25 26 27 28 29 30

Conteúdos Escpecíficos

Qua

ntid

ade

de E

xper

imen

tos

obra A

obra B

obra C

obra D

obra E

obra F

FONTE: Dados da pesquisa Gráfico 5 - Quantidade de experimentos nos conteúdo s específicos por obra

FONTE: Dados da pesquisa

Gráfico 6 - Quantidade de experimentos nos conteúdo s específicos por obra

68

Em relação ao tema Mecânica, que responde por 37% de todas as

atividades experimentais, o conteúdo específico 4 foi o que mais apresentou

atividades experimentais, sendo vinte e oito do total de cento e doze, seguido do

conteúdo específico 7, com vinte e sete atividades. Somente esses dois conteúdos

representam próximo de 50% das atividades deste tema. O conteúdo que menos

apresentou atividades experimentais propostas foi o 6, num total de quatro

experimentos.

Na análise do tema Termodinâmica, que representa 13% do total de

experimentos, todos os autores indicaram atividades experimentais no conteúdo

específico 8, num total de doze. Entretanto, o item que mais teve atividades

experimentais foi o 10 (17 no total), representando 43%, junto com o conteúdo

temperatura e dilatação somam 73% das atividades deste tema, o com menor

número de atividades é o comportamento térmico dos gases, com apenas cinco

experimentos.

No tema Ondas e Óptica, que representa 23% do total de experimentos, o

conteúdo que teve maior número de representações em atividades experimentais foi

o 15 (17 de 69), ou seja, 25%, seguido dos experimentos relacionados aos

fenômenos do espectro, propagação, difusão, interferência, difração e polarização da

luz, que representam, juntos, 42%. O conteúdo menos apresentado nos

experimentos foi ondas mecânicas, com quatro atividades propostas.

No campo do Eletromagnetismo, 78 experimentos foram dedicados a este

tema, sendo 23 deles somente no conteúdo 18, que junto com o conteúdo 19 e 20

representam 53% das atividades desse tema. O conteúdo 24 apresenta apenas um

experimento. O eletromagnetismo foi o segundo tema com maior número de

atividades experimentais, com 26% do total.

69

Já na Física moderna, não encontramos nenhuma atividade experimental.

Poucos autores sugeriram atividades experimentais no tema gravitação

universal (apenas 6 experiências em todas as coleções, representando 2% do total

de experimentos). A obra A, apresentou 4 desses experimentos, 3 sobre o conteúdo

27 e um sobre o 28 que foi contemplado também na obra C. A obra D apresentou

uma atividade sobre o conteúdo 30. Dos seis experimentos sobre este tema, dois

são iguais e solicitam que os alunos construam uma elipse, utilizando-se barbante,

lápis e tachinhas.

A análise da distribuição das atividades experimentais, segundo os temas da

Física, aponta para mais um resultado bastante interessante que é a constatação de

uma visão hegemônica, ou seja, a relevância dada pelos autores aos mesmos

temas, reproduzindo, em alguns casos, os mesmos experimentos. Os conteúdos que

não foram abordados também se equivalem nas coleções, restringindo o

conhecimento acerca de alguns temas.

70

4 ATIVIDADES EXPERIMENTAIS E AS COMPETÊNCIAS INFERI DAS

Identificar que uma coleção tem maior número de experimentos em relação a

outra já as diferencia em termos de proposta de ensino da Física, pois releva um dos

aspectos da Ciência experimental. Entretanto, também identificamos a existência de

uma visão hegemônica sobre seu papel no ensino em termos de escolha dos

conteúdos da Física a serem privilegiados. Se desejamos conhecer a natureza da

proposição educacional de uma atividade experimental, é necessário identificar os

seus objetivos através das competências que ela pode propiciar.

4.1 ELABORAÇÃO DO INSTRUMENTO DE ANÁLISE

Após a observação e análise preliminar, moldamos nosso olhar para detectar

elementos comuns nas atividades experimentais dos diversos livros, e também

elementos singulares de que poderiam fornecer informações particulares sobre uma

coleção. Este procedimento seguiu de perto as técnicas de análise de conteúdo

proposto por Bardin (1995), definidas pela autora como:

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 1995, p. 42).

Utilizando como referência os PCN, que definem os objetivos educacionais

por meio de competências e habilidades a serem desenvolvidos pelos estudantes,

utilizamos, como dimensão de análise, as suas três áreas de domínio:

representação e comunicação , investigação e compreensão ; e, por último,

contextualização sócio-cultural (BRASIL, 1999).

71

Na primeira dimensão de análise, representação e comunicação , estão as

atividades experimentais que pretendem que o educando compreenda enunciados,

manuais, tabelas, gráficos, que envolvam códigos e símbolos da Física e a

expressão desse saber. Que seja capaz, ainda, de expressar-se corretamente por

meio de debates, sínteses, esquemas e relatórios, utilizando a linguagem física

adequada e elementos de sua representação simbólica e que saiba, também,

conhecer fontes de informações e as formas de obter as mais relevantes.

Devido às características dos experimentos apresentados nas coleções,

definimos para essa dimensão da linguagem três categorias e duas sub-categorias

de análise:

a) as atividades que requerem elaboração de comunicação;

b) aquelas que promovem a articulação de símbolos e códigos da ciência,

tais como: interpretar os dados de uma tabela ou gráfico, representar dados por meio

de equação ou geometricamente;

c) aquelas que procuram desenvolver no aluno a capacidade de leitura e

compreensão de textos. Essa última subdividida em leitura somente textual e leitura

textual com imagem.

Na segunda dimensão, investigação e compreensão, estão as atividades

experimentais, que podem ser inferidas como sendo aquelas que pretendem

desenvolver nos alunos a capacidade de investigar situações-problema como:

identificar situação-problema e utilizar modelos físicos para solução; organizar,

sistematizar dados e fenômenos, identificando regularidades, fazendo hipóteses e

testando-as; compreender a Física presente no mundo vivencial e nos equipamentos

e procedimentos tecnológicos.

Devido às particularidades que apresenta uma atividade experimental,

72

acrescida das características dos experimentos propostos nos livros didáticos em

análise, definimos quatro categorias para melhor compreender a abordagem da

investigação e compreensão:

a) Relações, Invariantes, Transformações e Conservações, atividades

experimentais que permitem ao aluno reconhecer a relação entre diferentes

grandezas, a existência de invariantes, identificar transformações e conservações;

b) Medidas e quantificações, que proporcionam ao aluno a possibilidade de

manusear de forma correta instrumentos de medida, permitindo a coleta de dados,

sua quantificação e comparação, possibilitando aos alunos interpretá-los.

c) Modelos explicativos e representativos, conhecer, interpretar e fazer uso

de modelos explicativos;

d) Relações Interdisciplinares e Interárias, atividades nas quais é possível

reconhecer claramente uma relação com conteúdos da Física, outras disciplinas e/ou

áreas do conhecimento científico.

Na terceira dimensão, contextualização sócio-cultural , estão as atividades

experimentais que propõem o reconhecimento do conhecimento físico como

construção humana e determinada por aspectos históricos, culturais, sociais,

políticos e econômicos; possibilitando emitir juízo de valor em relação a situações

sociais que envolvam aspectos físicos e/ou tecnológicos relevantes e de reconhecer

o papel da Física no sistema produtivo, compreendendo a evolução dos meios

tecnológicos e sua relação dinâmica com a evolução do conhecimento científico.

Essa dimensão classifica as atividades experimentais que fazem parte de um

contexto histórico, relatado ao longo do texto do livro didático ou pelo próprio

experimento, as relacionadas com algum equipamento ou dispositivo do cotidiano

das pessoas e as que estão relacionadas a diferentes formas de cultura, como a

73

música, teatro, museus etc., e que direcionam para as seguintes subcategorias:

Contextualização Histórico/Social;

b) Relação com a Cultura Tecnológica e

c) relação com outras formas de cultura.

O organograma abaixo representa as categorias de análise na dimensão

considerada (FIGURA 6).

FONTE: Dados da pesquisa

Figura 6 - Organograma categorias e sub-categorias de análise

4.2 EXEMPLOS DE EXPERIMENTOS DAS CATEGORIAS E SUB-C ATEGORIAS

CONSIDERADAS

Atividade Experimental

Competências e Habilidades

Representação e Comunicação

Investigação e Compreensão

Contextualização Sócio Cultural

Relações, Invariantes,

Transformações e Conservações.

Contexto Histórico/Social

Elaboração de Comunicação

Articulação de símbolos e códigos

Leitura e compreensão

Medidas e Quantificações

Modelos explicativos e representativos

Leitura Textual com Imagem

Leitura Somente Textual

Relações Interdisciplinares e

Interáreas

Relação com a cultura

Tecnológica

Relação com outras formas de

cultura

74

A seguir, apresentaremos para cada uma das categorias que definem as

dimensões listadas anteriormente, colocando dois exemplos que evidenciam os

elementos que as caracterizam. Os exemplos são de diferentes coleções e as

características serão sublinhadas nos comentários. Uma experiência pode ser

classificada como tendo características nas diversas categorias, pois fazem parte da

dimensão de análise em questão e, portanto, independentes entre si.

4.2.1 Dimensão: representação e comunicação

A transposição da atividade experimental em si para a linguagem escrita, sua

expressão por meio de representações e símbolos, o direcionamento para

elaboração de outras comunicações são características ressaltadas nessa dimensão

de análise. Três categorias foram utilizadas para definir esta dimensão:

4.2.1.1 Elaboração de Comunicação

Atividades experimentais que favorecem o aluno a elaborar comunicações

(sínteses ou esquemas estruturados), por meio das quais, irá expressar-se sobre os

temas da Física trabalhados no ambiente escolar ou fora dele, utilizando-se da

linguagem científica de maneira correta e adequada.

Os exemplos abaixo (FIGURAS 7 e 8) ilustram esta categoria:

Para observar as linhas de campo de um solenóide, modele um com o auxílio de um

pedaço de tubo de PVC de 5 cm de diâmetro ou algo parecido. Utilize um fio sólido de cobre de 2

mm de diâmetro. Prenda-o em uma base de madeira e ligue suas extremidades com fios mais finos

e flexíveis a uma pilha alcalina grande, formando um circuito. Coloque uma chave. Com um

papelão ou uma régua de madeira, faça um apoio horizontal um pouco mais baixo do que a altura

do eixo central do solenóide. Coloque o apoio dentro do solenóide. Veja a figura a seguir:

Ligue a chave e mapeie o campo do solenóide com uma bússola. Procure fazer um

esboço gráfico e justifique suas observações. Se você tiver mais algumas bússolas, coloque-as

75

FONTE: Gaspar, 2007, p. 502

Figura 7 - Campo magnético de um solenóide

FONTE: Alvarenga e Máximo, 2006, p. 229

Figura 8 - Observação do céu

O primeiro exemplo está relacionado com corrente elétrica e campo

magnético e o segundo relaciona-se com a gravitação universal, no qual é solicitada

a observação do céu no período noturno, fazendo uma descrição do modelo dos

gregos sobre o movimento das estrelas. Os elementos que caracterizam estes

experimentos nesta categoria são: “procure fazer um esboço gráfico e justifique suas

observações”, no primeiro experimento, e “descreva como os gregos, em seu

sistema geocêntrico, explicavam o movimento das estrelas observadas por você”, no

segundo.

bússolas, coloque-as sobre o apoio e observe a deflexão das agulhas quando o circuito estiver

ligado.

1º) Procure observar o céu em uma noite em que as estrelas estejam bem visíveis. Fixe sua

atenção em um grupo de estrelas (como o Cruzeiro do Sul ou as Três Marias, ou outro qualquer) e

procure localizar a posição dessas estrelas no céu, usando, como referência, um edifício, ou uma

montanha, ou uma árvore etc.

2º) Cerca de duas horas mais tarde, procure localizar novamente a posição do mesmo

grupo de estrelas. Você percebe a acentuada mudança de posição experimentada pelas estrelas?

3º) Descreva como os gregos, em seu sistema geocêntrico, explicavam o movimento das

estrelas observadas por você.

4º) Segundo as idéias de Copérnico, qual é a causa deste movimento das estrelas?

76

4.2.1.2 Articular Símbolos e Códigos

Esta categoria identifica experimentos que utilizam fórmulas, equações,

códigos e nomenclaturas no desenvolvimento da atividade, verificando, portanto, a

intenção de se desenvolver nos alunos, além da compreensão dos conceitos,

habilidades de manusear e entender símbolos e códigos da ciência e tecnologia

(FIGURAS 8 e 9).

FONTE: Penteado e Torres, 2005, p. 23

Figura 9 - A determinação da constante π

Neste experimento simples você fará medições de comprimento e, com elas, obterá o

valor da constante matemática π (pi).

O número π é dado pela relação entre o comprimento C de uma circunferência (o

perímetro) e seu diâmetro D: π = C/D.

Você precisará de régua milimetrada, fio dental (inextensível) e objetos circulares (pratos,

pires, copos, moedas, latas etc.). Organize uma tabela em que devem constar os dados

apresentados a seguir. Objeto, Diâmetro D, Circunferência C e Valor de π.

Comece pelo prato. Com a régua milimetrada, obtenha a medida D do diâmetro. Para a

medida do comprimento C da circunferência, vá ajustando o fio dental ao redor do prato cobrindo

todo o seu perímetro, estique-o sobre uma mesa e meça-o com a régua.

Com os valores medidos, e usando a relação acima, obtenha o valor de π. Atente para o

uso correto dos algarismos significativos. Repita esse procedimento para os outros objetos

selecionados e obtenha mais valores para a constante π.

Determine π, o valor mais provável de π, fazendo a média aritmética dos valores

obtidos:

nnπππππ ++++= ....321

Compare como o valor conhecido π ~ 3,14159. Qual é

o erro percentual, π

ππ −.100% em sua medida?

77

FONTE: Sampaio e Calçada, 2005a, p. 59

Figura 10 - Medindo indiretamente uma velocidade es calar média

O primeiro exemplo para caracterizar esta categoria traz um experimento

relacionado com algarismos significativos, que, nesta coleção, está situada em uma

unidade chamada os métodos da Ciência física, que evidencia o método científico e

explica o que são modelos, teorias, leis e princípios. Esse conteúdo precede o

estudo da mecânica e tem esta atividade experimental como referência, na maioria

dos livros.

O segundo exemplo trata do cálculo estimado da velocidade média, por meio

do movimento de uma bolinha dentro de um tubo inclinado, tentando ilustrar o

capítulo sobre velocidade escalar, na unidade denominada cinemática.

Medindo indiretamente uma velocidade escalar média

Você vai precisar do seguinte material:

Uma bolinha de vidro;

Um cronômetro (serve o de um relógio eletrônico);

Um pedaço de 1,5m de cano plástico;

Um suporte.

A experiência é muito simples:

Mantendo fixo o cano, inclinado de um ângulo θ, abandonamos a bolinha em A e a

aguardamos em B.

Esse intervalo de tempo é cronometrado. A seguir calculamos a velocidade escalar média:

t

AB

t

dVm ∆

=∆

=

Uma observação: na medida de t∆ ocorrem diversos tipos de erro e de imprecisão. Assim,

recomenda-se que a experiência seja repetida diversas vezes, com a mesma inclinação (θ). Tiramos,

então, a média dos valores de t∆ . Esse valor médio é levado para a equação acima.

Responda:

Qual o valor da velocidade escalar média obtida?

Fixando-se, para a inclinação, um valor θ = 30º, qual

é a velocidade escalar média?

Fixando-se θ = 45º e depois θ = 60º, quais são as

novas velocidades médias?

Quando aumentamos a inclinação θ, o que ocorre

com a velocidade escalar média?

78

Na primeira experiência, os termos que identificam esta categoria são: “neste

experimento simples você fará medições de comprimento e, com elas, obterá o valor

da constante matemática π (pi)”, “π = C/D”, “régua milimetrada”,

nnπππππ ++++= ....321

Na segunda, temos: “ângulo θ”, “A seguir calculamos a velocidade escalar

média”, t

AB

t

dVm ∆

=∆

=, θ = 30º, θ = 45º, θ = 60º. Os itens destacados mostram a

utilização de símbolos da Matemática ou da Física.

4.2.1.3 Leitura e Compreensão

Estão classificadas nesta categoria, atividades experimentais que procuram

desenvolver no aluno a análise e interpretação de textos. Para tanto, dividimos em

duas subcategorias, classificando os experimentos que utilizam apenas leitura, sem

a utilização de imagens (fotos, esquemas, gráficos etc.), possibilitando ao aluno a

compreensão do desenvolvimento do experimento e o entendimento de fenômenos.

Já uma outra subcategoria é a que utiliza-se de texto e imagem com a intenção de

facilitar o entendimento da atividade experimental.

4.2.1.3.1 Leitura textual com imagens

79

Verifique as figuras 10 e 11, a seguir:

FONTE: Sampaio e Calçada, 2005b, p. 59

Figura 11- Independência das velocidades

FONTE: Aurélio e Toscano, 2007, p. 339

Figura 12 - Construção de uma bússola

Os exemplos acima são caracterizados por conterem, além do texto escrito,

a presença de imagens (tabelas, gráficos, figuras, fotos etc.), que devem facilitar a

compreensão da atividade.

Ressaltamos, ainda, que no exemplo 2, é condição necessária ao

funcionamento da bússola, que a agulha esteja imantada.

4.2.1.3.2 Leitura somente textual

Você pode realizar um experimento simples,

análogo ao da figura 54. Coloque duas moedas (não

necessariamente iguais) sobre o tampo de uma mesa, como

ilustra a figura ao lado. Com a ponta do dedo dê um impulso

à moeda A, de modo que ela adquira uma velocidade

horizontal e caia da mesa. Ao mesmo tempo, a lateral de

seu dedo dará um impulso muito pequeno à moeda B, de

modo que esta cairá praticamente na vertical. Você ouvirá

os impactos das moedas no solo ocorrerem

simultaneamente.

Pode-se construir uma bússola com uma xícara, agulha

de costura, rolha e água. Basta colocar água até ¾ da xícara e

fazer uma canaleta na rolha para fixar a agulha. Conforme indica

a figura, a agulha ficará móvel sobre a água.

80

Verifique, agora, a diferença entre os dois, observando as figuras 12 e 13.

FONTE: Sampaio e Calçada, 2005a, p. 494

Figura 13 - Determinação do ponto máximo de um olho

Pegue uma régua pequena (20 cm) com uma das mãos e estique o braço ao máximo,

para que ela fique o mais longe possível de seus olhos. Com a outra mão, tape um dos olhos.

Procure focalizar (enxergar com nitidez) os algarismos e as letras impressos na reguinha. Depois,

comece a aproximá-la lentamente de seu olho, procurando sempre a focalização em cada nova

posição. Você encontrará, com certeza, determinada posição em que a focalização não é mais

possível. Essa posição limite é o ponto próximo de seu olho.

Repita a experiência para o outro olho. Encontre o seu ponto próximo.

Procure avaliar cada uma das distâncias mínimas de visão distinta. Olhos emetropes

apresentarão o mesmo valor. Compare com os valores da tabela já vista e considere como normal

até 25 cm. O olho míope apresentará valor inferior ao da tabela e o olho hipermetrope apresentará

valor superior a 25 cm

Como você deve saber, os planetas refletem a luz do Sol e, por isso, alguns deles podem

ser vistos no céu, mesmo a olho nu, confundindo-se com as estrelas. Entretanto, ao realizar essa

atividade, você aprenderá a distinguir um planeta de uma estrela sem usar aparelhos e poderá, até

mesmo, identificar alguns desses planetas.

1º) Em uma noite de céu sem nuvens, olhando para as estrelas, observe que elas

cintilam, isto é, a luz que elas emitem parece estar piscando continuamente. Os planetas cintilam

muito menos do que as estrelas e, assim, são vistos praticamente como fontes de luz contínua, isto

é, que não piscam. Usando esta informação, faça observações atentas do céu (em horários

diferentes) e tente visualizar algum planeta.

2º) Pelo menos o planeta Vênus pode ser observado com certa facilidade. Vênus aparece

sempre nas proximidades do Sol, podendo ser visto como se fosse uma estrela muito brilhante,

logo após o pôr-do-sol ou, em outras épocas do ano, pouco antes de o Sol nascer. Por isto, este

planeta costuma ser popularmente denominado estrela-d’alva ou estrela vespertina. Usando estas

informações, procure localizar Vênus no céu e perceber o seu movimento em relação às estrelas

(pela repetição de suas observações durante algumas semanas).

3º) Marte e Júpiter também podem ser observados com certa facilidade, se a observação

for feita quando eles se encontram mais próximos da Terra. Marte pode ser identificado por sua

coloração avermelhada e Júpiter, por apresentar-se com brilho bastante intenso (quase igual ao de

81

FONTE: Alvarenga e Máximo, 2006, p. 230

Figura 14 - Observação de alguns planetas a olho nu

O primeiro experimento relaciona-se com os conceitos da óptica,

especificamente aos relacionados com a visão, e o segundo aborda sobre a

gravitação universal, solicitando uma observação do céu. Eles se caracterizam por

proporem o entendimento da atividade e dos conceitos envolvidos apenas pela

leitura do texto, não verificando a presença de outros elementos de linguagem, tais

como: tabelas, diagramas, figuras, fotos etc.

4.2.2 Dimensão: investigação e compreensão

Nesta dimensão, estão atividades experimentais que têm elementos que

permitam ao aluno o desenvolvimento das seguintes competências: estabelecer

relações entre os fenômenos observados e os conceitos estudados, explicar

situações e resolver problemas utilizando conceitos físicos e fazer hipóteses acerca

desses fenômenos, propiciando, assim, o desenvolvimento da observação, a

descrição e a reelaboração de explicações causais, favorecendo uma construção

mais significativa dos conceitos. Quatro categorias delimitaram esta dimensão:

a) Interações, relações e funções; invariantes e transformações,

b) Medidas e quantificações,

Vênus). Embora Júpiter esteja muito afastado da Terra, a facilidade com que pode ser observado é

devida às suas enormes dimensões. Com o auxílio de informações fornecidas pelos meios de

comunicação ou anuários publicados por institutos astronômicos, você poderá ficar sabendo a

melhor época para realizar essas observações. Não deixe, então, de localizar Marte e Júpiter no

céu e de verificar que eles se deslocam em relação às estrelas, com o passar dos dias.

82

c) Modelos explicativos e representativos,

d) Relações interdisciplinares e interarias, explicadas e exemplificadas a

seguir:

4.2.2.1 Relações, invariantes, transformações e conservações

Estão nestas atividades experimentais aquelas em que o aluno possa

reconhecer a relação entre diferentes grandezas, a existência de invariantes que

impõem condições sobre o que pode e o que não pode acontecer em processos

naturais e, por fim, experimentos que procuram desenvolver a capacidade de

identificar transformações e conservações, possibilitando a este fazer previsões em

outras situações.

Resolvemos, para esta categoria, dar três exemplos, e não dois como

fizemos para as outras, porque sentimos necessidade de mostrar experimentos que

evidenciem a relação entre grandezas, que mostram grandezas invariantes e o

processo de transformação e conservação.

83

FONTE: Alvarenga e Máximo, 2006, p. 129

Figura 15 - Determinação do coeficiente de atrito e stático

Neste exemplo (FIGURA 14), temos a relação entre a força de atrito normal

e a superfície na qual o corpo está apoiado. Os elementos que evidenciam esta

categoria são: “Qual é, então, o valor da força de atrito estático máxima, feM, entre o

corpo e a superfície?”, “determine o valor do coeficiente de atrito estático entre o

corpo e a superfície”, “determine o coeficiente de atrito entre o mesmo corpo e outras

superfícies”. Portanto, o aluno deverá reconhecer a relação entre a força de atrito e

normal.

Para determinar o coeficiente de atrito estático entre um corpo pesado e a superfície onde

ele se apóia (o assoalho de uma sala, por exemplo), proceda da seguinte maneira:

1º) Puxando o corpo por meio de um dinamômetro (“balança de verdureiro”), como mostra

a figura desta experiência, e aumentando lentamente o valor da força F, procure ler, no aparelho, o

valor de F no momento em que o corpo entra em movimento. Qual é, então, o valor da força de

atrito estático máxima, feM, entre o corpo e a superfície?

2º) Sustente o corpo pelo dinamômetro e determine o seu peso. Qual o valor da reação

normal, N, da superfície sobre o corpo, quando ele está apoiado nela?

3º) Usando suas respostas às perguntas anteriores, determine o valor do coeficiente de

atrito estático entre o corpo e a superfície.

4º) Repita a experiência e determine

o coeficiente de atrito entre o mesmo corpo e

outras superfícies (uma placa de vidro, uma

folha de lixa etc.).

84

FONTE: Gaspar, 2007, p. 70

Figura 16 - Queda livre

O segundo exemplo (FIGURA 15) mostra que o tempo de queda dos corpos

sem a presença do ar é o mesmo, independente do formato e tamanho destes

corpos, e caem com mesma aceleração: a da gravidade. Portanto, busca-se

trabalhar grandezas invariantes. Os elementos no texto que nos permite classificá-

las nessa categoria são: “mesma aceleração”, “levariam o mesmo tempo”.

Essa experiência ajuda a entender uma conclusão tirada por Galileu há mais de quatro

séculos: se não houvesse a influência do ar,

todos os corpos, de qualquer peso ou forma,

abandonados da mesma altura, levariam o

mesmo tempo para atingir o solo. Em outras

palavras, nesse movimento, conhecido como

queda livre, todos os corpos têm trajetória

retilínea, vertical, e a mesma aceleração: a

aceleração da gravidade (g), cujo valor é,

aproximadamente, g = 9,8 m/s2.

Este experimento mostrará a conservação da energia mecânica em um sistema simples.

Para realizá-lo, você precisará de uma bola de basquete e uma corda de náilon com uns 2 m de

comprimento. Comece por prender firmemente uma das extremidades da corda à bola. Certifique-

se de que a bola não pode se soltar facilmente da corda. Prenda a outra extremidade a um galho

de árvore ou a um ponto qualquer, de modo a criar um pêndulo.

Desloque a bola da posição natural de equilíbrio e, mantendo a corda esticada, posicione-

a junto a seu queixo. Solte a bola sem empurrar, e

permaneça imóvel. A bola irá se deslocar em seu

movimento pendular e, na volta, retornará à posição

inicial, a milímetros de seu queixo.

De acordo com o princípio da conservação da

energia, no retorno a bola não poderá ter uma energia

potencial maior do que a que tinha quando partiu.

85

FONTE: Penteado e Torres, 2005, p. 161

Figura 17 - Conservação da energia

Neste experimento (FIGURA 16), fica clara a intenção do autor em trabalhar

a conservação da energia. Os elementos que podemos classificá-lo nessa categoria

são: “De acordo com o princípio da conservação da energia”.

4.2.2.2 Medidas e Quantificações

Nesta categoria estão agrupadas atividades que favorecem o contato dos

alunos com instrumentos de medição, desenvolvendo habilidades para seu

manuseio e a capacidade de quantificar grandezas.

FONTE: Aurélio e Toscano, 2007, p. 280

Figura 18 - Calculando a potência de um aparelho

Portanto, você não precisa se preocupar, pois ela não atingirá uma altura maior do que a tinha

quando foi abandonada.

1. No relógio de luz de sua residência há um disco que gira quando um aparelho elétrico está funcionando. Combine com as pessoas que moram com você para desligar os aparelhos e as lâmpadas ao mesmo tempo. Em seguida, ligue apenas o chuveiro elétrico. Observe a velocidade do disco. Depois, desligue o chuveiro e acenda uma lâmpada. Compare a velocidade do disco nas duas situações. O que você pode concluir? 2. Aproveitando que todos os aparelhos estão desligados, acenda apenas uma lâmpada, cuja potência está impressa no bulbo, e cronometre o tempo (t1) necessário para que o disco do relógio de luz dê uma volta completa – há uma marca preta no disco que permite saber quando ele completou a volta. Desligue a lâmpada e ligue um aparelho cuja potência você queira determinar. Cronometre o tempo (t2) gasto para o disco dar uma volta completa. (observação: se ele girar muito rápido, cronometre dez voltas completas e depois divida o resultado por este número.) Divida t1 por t2 e multiplique o resultado pela potência da lâmpada para obter a potência do aparelho.

86

Esta experiência é na realidade uma pesquisa das propriedades do MUV. Ela é muito simples e você vai poder realizá-la no seu colégio. Material: Uma tábua de 4,5m x 10cm x 2,0cm, lixada; 2 sarrafos de 4,5m x 8cm x 1,0cm; Uma bola de borracha nº 6; Três cronômetros; Papel milimetrado (ou quadriculado). Descrição da canaleta: Para tentar reproduzir a canaleta do plano inclinado de Galileu, use a tábua com as medidas mencionadas acima. Ao lado da tábua, coloque os dois sarrafos, para a bola não cair pelos lados. Plano inclinado: Fixe a canaleta de tal modo que ela tenha alguma inclinação. Por exemplo, como na figura ao lado. Marcação de abscissas na canaleta: Divida a canaleta de 0,5m em 0,5m, de tal modo que você obtenha nove divisões. Se você usou tábua de menor comprimento, divida-a em nove partes iguais, do mesmo modo. Marque nas abscissas, de cima para baixo: 0, 1, 2,.....,7,8,9. Cuidado na tomada de tempo: É importante que três alunos participem da tomada do mesmo tempo em cada abscissa. Tire uma média aritmética dos três tempos obtidos. Experimento: O experimento consiste em abandonar a bolinha em repouso na abscissa s=0 e medir os tempos em cada abscissa, da primeira à nona. Para aumentar a precisão, meçam o tempo de uma abscissa de cada vez. O experimento deve ser refeito nove vezes. Coleta de dados: Preencha a tabela ao lado. Use a média aritmética de cada tempo. Cálculo de velocidades escalares médias: Usando a equação abaixo, calcule a velocidade escalar média entre a posição inicial (s=0) e cada marca.

t

sVm ∆

∆=

Repita isso da 1ª à 9ª marca. Cálculo da velocidade escalar em cada marca Lembrando que:

0,,2 0

0 =+= vqueaindaevv

Vm

Temos:

22

0 vvVm =+=

87

FONTE: Sampaio e Calçada, 2005a, p. 126

Figura 19 - O plano inclinado de Galileu

O primeiro exemplo acima (FIGURA 17) retrata uma situação cotidiana que é

o consumo de energia de alguns aparelhos comuns nas residências e faz parte do

capítulo sobre aparelhos e circuitos elétricos (eletrodinâmica). O segundo (FIGURA

18) está relacionado ao estudo do movimento uniformemente variado por meio da

simulação dos experimentos de Galileu Galilei sobre plano inclinado.

Nestes experimentos, verificamos o uso de equipamentos para medição de

grandezas, buscam explorar o uso da linguagem matemática, realizando cálculos e

utilizando relações. No primeiro experimento, o aluno tem contato com um

cronômetro, no qual utilizará para marcação de tempo, a potência de um aparelho é

Comparando com a velocidade média obtida em cada marca, temos:

2

v

t

sVm =

∆∆= Daqui tiramos a velocidade em cada uma das 9 marcas.

Ela será o dobro da respectiva velocidade média: v = 2.vm

Verificando o tipo de movimento: Construa em papel milimetrado o gráfico da velocidade em função do tempo, usando a tabela

abaixo:

Provavelmente, os pontos estarão alinhados ou quase alinhados. Neste último caso, trace a reta média. O fato de se obter uma reta oblíqua aos eixos mostra que, no plano inclinado de Galileu, o corpo adquire movimento uniformemente acelerado. Verificando a PA: 1, 3, 5 Voltando à primeira tabela, faça: ∆t = t1ªmarca – 0 Divida sua tabela em intervalos de tempo iguais ao anterior (∆t acima) e verifique as distâncias percorridas. Elas estarão na proporção: 1, 3, 5.

88

estimada a partir destes dados e da potência de uma lâmpada. Os seguintes

elementos definem essa experiência nesta subcategoria: “cronometre o tempo”,

“cronometre dez voltas completas”, “divida o resultado”, “divida t1 por t2 e

multiplique”. Na segunda atividade, é requisitado do aluno que faça medidas, coleta

de dados, construa tabelas e gráfico. Os elementos que caracterizam esse

experimento nessa categoria, são: “divida a canaleta de 0,5m em 0,5m”, “tire uma

média aritmética”, “medir o tempo em cada abscissa”, “Calcule a velocidade escalar

média”. É importante ressaltarmos que a segunda experiência só faz sentido se

considerarmos a aceleração constante.

4.2.2.3 Modelos explicativos e representativos

Atividades experimentais por meio das quais o aluno possa reconhecer,

utilizar, interpretar e propor modelos explicativos para fenômenos ou sistemas

naturais ou tecnológicos.

FONTE: Alvarenga e Máximo, 2006, p. 63

Figura 20 - As idéias de Galileu sobre a queda dos corpos

Você poderá verificar facilmente que as idéias de Galileu sobre a queda dos corpos são

corretas, realizando a seguinte experiência:

1º) Deixe cair, simultaneamente, de uma mesma altura, um livro pesado e uma folha de

papel. Observe a queda de ambos e verifique qual deles chega ao solo em primeiro lugar.

2º) Segure o livro, como mostra a figura, com a folha de papel sobre ele. Solte o livro e

observe a queda. O livro e a folha caíram juntos, conforme afirmava

Galileu? Explique por que isto não aconteceu quando os objetos caíram

separadamente.

3º) Repita a experiência usando, agora, um pedaço de isopor e

uma lata vazia (o isopor deve caber, com folga, dentro da lata). Deixe

cair ambos, em primeiro lugar separadamente e, depois colocando o

isopor dentro da lata.

89

FONTE: Sampaio e Calçada, 2005a, p. 250

Figura 21 - A terceira lei de Newton

No primeiro exemplo (FIGURA 19), o aluno deverá lançar mão do modelo

proposto por Galileu, para explicar o movimento de queda de diferentes objetos.

Seguem os elementos que definem esta experiência nesta subcategoria: “o livro e a

folha caíram juntas, conforme afirmava Galileu? Explique por que isto não aconteceu

quando os objetos caíram separadamente.”

Já o segundo exemplo (FIGURA 20) trata do modelo proposto por Newton

para a interação entre corpos, a terceira lei de Newton (ação e reação), o aluno é

levado a reconhecer através deste experimento este modelo e a frase seguinte o

caracteriza nesta subcategoria: “o ar é lançado para a direita e assim o carrinho

move-se para a esquerda”.

4.2.2.4 Relações interdisciplinares e interárias

São experimentos que expressam de maneira clara a relação dos conceitos

físicos abordados com fenômenos ou conceitos de outras áreas do conhecimento,

permitindo ao aluno reconhecer, na análise de um mesmo fenômeno, as

características de cada Ciência, de maneira a adquirir uma visão multidisciplinar dos

Os aviões a hélice são impulsionados de um

modo diferente dos aviões a jato. As hélices “empurram”

o ar para trás e com isso o avião é impulsionado para a

frente (ação e reação).

Para percebemos melhor esse efeito podemos

montar a experiência ilustrada na figura. Um ventilador é

fixado sobre um carrinho “leve” e que deslize facilmente.

Ligando-se o ventilador, o ar é lançado para a direita e assim o carrinho move-se para a esquerda.

90

fenômenos, evidenciando a interdisciplinaridade das disciplinas.

Nem sempre é possível medir distâncias diretamente. O exemplo mais imediato são as medidas astronômicas, como a distância da Terra à Lua, ao Sol ou aos planetas e às estrelas. Uma das formas de fazer essas medidas é a triangulação. Por esse processo basta conhecer o lado de um triângulo e dois de seus ângulos adjacentes para obter graficamente ou por trigonometria todos os outros elementos. Veja a figura. Conhecidos os ângulos α e β e o segmento AB, denominado linha de base, podemos determinar com facilidade, graficamente ou por trigonometria, os demais elementos do triângulo e obter a altura h, distância da linha de base ao ponto C. A precisão da medida de h depende principalmente da precisão das medidas daqueles ângulos. Na prática, em trabalhos de agrimensura, isso é feito com um instrumento de precisão chamado teodolito, mas é possível realizar essas medidas com uma precisão aceitável construindo um teodolito rudimentar. Para isso você vai precisar de uma régua de madeira de 60 cm ou mais, dois transferidores, dois canudos grossos (para suco), um pedaço de papel camurça preto, um pedaço de fio de linha grosso, um chumbinho de pesca, alfinetes e percevejos. Veja a figura ao lado. Os transferidores (T1 e T2) podem ser fixados com percevejos (P). Os canudos (C), revestidos internamente com o papel camurça preto para evitar reflexos, são os visores do teodolito. Cada canudo deve ser preso por um alfinete (A) ao centro (O) de cada transferidor de maneira que possa girar sem folga. Um pequeno fio de prumo com o chumbinho de pesca deve ser preso à lateral da régua para garantir que ela esteja na vertical quando for feita a medida dos ângulos. A utilização desse teodolito é simples. Mantendo a régua na vertical, visualize com os canudos um ponto a certa distância e meça os ângulos α e β correspondentes. Escolha um ponto a uma distância de cerca de 5 m, no máximo – pontos a distâncias maiores são de difícil visualização com esse teodolito. Uma mancha pequena em uma parede pode ser uma boa referência. Veja a figura. Com os valores de α e β determinamos a distância h do teodolito ao ponto visualizado desenhando o triângulo em escala. Embora seja fácil de fazer, esse desenho deve ser feito com a máxima precisão possível, pois um pequeno erro na representação gráfica do ângulo acarreta um erro muito grande na representação gráfica da altura h triângulo, que, na escala da figura, é a distância do teodolito ao ponto escolhido. É interessante medir essa mesma distância diretamente com uma trena e avaliar o erro porcentual

e%, da medida feita. Para isso utilize a expressão

matemática: %100.%D

D

V

ViVe

−= , em que VD é a

medida direta, feita com a trena, e Vi é o valor de h, indireto, obtido graficamente. Discussão: Em geral, mesmo quando a experiência é bem feita, o erro porcentual pode chegar até a 20%, resultado que seria inaceitável para uma atividade profissional ou de pesquisa. A que fatores você atribui esse erro? Como seria possível minimizá-lo? Que aperfeiçoamentos deveriam ser feitos no seu instrumento para isso? Observação: Você pode ter boas indicações para

91

fundamentar suas respostas medindo outras distâncias e determinando os respectivos erros.

FONTE: Gaspar, 2007, p. 24

Figura 22 - Medida indireta de distâncias

Como você deve saber de seu curso de Química, quando um sal é dissolvido na água ele se separa em íons positivos e negativos, fazendo com que a solução se torne condutora de eletricidade. Então, se introduzirmos nesta solução duas placas metálicas e aplicarmos a elas uma diferença de potencial, os íons se deslocarão para estas placas. Se um destes íons for metálico (íon positivo), ele se depositará sobre a placa negativa (menor potencial). Este fato é utilizado na indústria para recobrir peças com finas camadas metálicas obtendo-se, assim, peças niqueladas,

prateadas, douradas, cobreadas etc. Nesta experiência, você vai cobrir uma peça metálica qualquer como, por exemplo, uma chave, com uma camada de cobre (cobrear a chave). Faça uma solução aquosa de sulfato de cobre (CuSO4, que você pode conseguir no laboratório de Química ou adquirir a baixo custo em casas comerciais especializadas). Introduza, no recipiente que contém a solução, uma placa de cobre e o objeto a ser recoberto (veja a figura desta experiência). Este objeto deve estar desengordurado (use álcool) e bem limpo. Associe duas ou três pilhas secas e ligue o pólo positivo desta associação à placa de cobre e o pólo negativo ao objeto. Como o sulfato de cobre, na solução, encontrava-se

dissociado em íons Cu++ e SO4--, estes íons se movimentam nos sentidos indicados na figura: íons

Cu++ dirigem-se para o objeto (a chave) e depositam-se sobre ele, enquanto os íons SO4--

deslocam-se para a placa de Cu e, reagindo com ela, regeneram o CuSO4. Assim, o cobre da placa passa para a solução e, portanto, através deste processo, ele vai sendo transferido para o objeto. Mantenha ligado durante alguns minutos o circuito que você montou. Depois deste tempo, observe o objeto e verifique que realmente uma camada de cobre se depositou sobre ele.

FONTE: Alvarenga e Máximo, 2006, p. 195

Figura 23 - A corrente elétrica em uma solução cond utora

Estes dois exemplos mostram claramente a relação da atividade

experimental com outras áreas. No primeiro caso (FIGURA 21), a atividade

experimental está relacionada além da Física, com a agrimensura e astronomia: “na

prática, em trabalhos de agrimensura, isso é feito com um instrumento de precisão

chamado teodolito”, “um teodolito rudimentar”, “a utilização desse teodolito é

simples”. Na astronomia, “o exemplo mais imediato são as medidas astronômicas”.

92

No segundo caso (FIGURA 22), vemos o processo de deposição eletrolítico,

que é um processo muito comum nas indústrias que fazem cromagem,

niquelamento, cobreamento etc, que envolvem conhecimentos físicos e químicos

principalmente: “Como você deve saber de seu curso de Química”, “Faça uma

solução aquosa de sulfato de cobre (CuSO4, que você pode conseguir no laboratório

de Química)”.

4.2.3 Dimensão: contextualização sócio-cultural

Nesta dimensão, estão as atividades experimentais que propiciam aos

alunos: reconhecer a Física dentro de um contexto histórico e de construção

humana, compreendendo-a como parte integrante da cultura contemporânea,

relacionando-a com as tecnologias cada vez mais presentes em nosso cotidiano.

Listamos, abaixo, as três categorias que definem essa dimensão.

4.2.3.1 Contexto Histórico/Social

Modalidade que possibilita a contextualização da Física dentro de uma

abordagem sócio-histórica, na qual o aluno possa reconhecer o significado e a

importância que tal experimento teve na época de sua realização, bem como as

dificuldades que o cientista enfrentou para realizá-lo ou comprová-lo,

compreendendo os aspectos históricos da evolução da Ciência.

93

FONTE: Alvarenga e Máximo, 2006, p. 269

Figura 24 - A experiência de Oersted

FONTE: Gaspar, 2007, p. 104

Figura 25 - A máquina de Atwood

Nesta experiência você repetirá as observações feitas por Oersted sobre o desvio de uma agulha magnética quando colocada nas proximidades de uma corrente elétrica. Para fazer previsões sobre o sentido do desvio da agulha, você vai usar a regra de Ampère que foi apresentada neste capítulo. 1º Disponha um fio sobre uma bússola, paralelamente à agulha magnética, e ligue uma de suas extremidades a um dos pólos de uma pilha (veja a figura desta experiência). 2º Suponha que a extremidade livre do fio fosse encostada no outro pólo da pilha (não faça isto por enquanto). Nestas condições, responda:

a) Qual seria o sentido do campo magnético, criado pela corrente no fio, no local onde se encontra a bússola (use a regra de Ampère)?

b) Então, para qual lado desviará o pólo norte da agulha se você fechar o circuito? Feche o circuito e verifique se sua previsão estava correta.

3º Inverta o sentido da corrente e repita os procedimentos indicados anteriormente. O desvio da agulha está de acordo com sua previsão? 4º Faça o mesmo colocando a bússola, agora, sobre o fio. A agulha desviou no sentido que você havia previsto?

A máquina de Atwood é um antigo dispositivo para o estudo de movimentos retilíneos criado em 1784 pelo professor Atwood, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Seu objetivo principal é reduzir a aceleração de queda dos corpos a valores muito pequenos. Dessa forma, ela torna mais cômodo e viável o estudo do movimento retilíneo uniformemente variado. Além disso, como as velocidades são muito pequenas, o efeito da resistência do ar é desprezível. Veja a figura: Em síntese, a máquina é constituída de um suporte vertical de madeira, em geral com mais de 2 m de altura, tendo na parte superior uma polia fixa, muito leve, que pode girar quase sem atrito. Em cada extremidade de um fio muito leve e inextensível que passa pela polia, sem escorregar, é pendurada uma carga de massa M. Sendo as massas rigorosamente iguais, a máquina fica em repouso em qualquer posição em que essas cargas estejam colocadas. Quando se coloca uma pequena sobrecarga de massa m sobre uma das cargas, a máquina começa a se mover vagarosamente, mas com aceleração constante de módulo a, bem menor que o valor do módulo g da gravidade no local.

1. Façam no caderno o esquema das forças que atuam sobre a(s) carga(s) de cada extremidade antes e depois da colocação da sobrecarga.

2. Como diz o texto, sem a sobrecarga a máquina fica em repouso em qualquer posição em que é abandonada. Por quê?

3. Suponham que, antes da colocação da sobrecarga,com a máquina em repouso, empurremos ligeiramente uma das cargas para baixo. Escolham e justifiquem qual das alternativas abaixo descreve corretamente o que vai acontecer com a máquina:

a) Vai descer, mas freando, e logo vai parar; b) Vai descer sem parar, com velocidade constante; c) Vai descer acelerado. 4. Mostrem que, desprezando o atrito, a resistência do ar e a massa da polia, depois de

colocada a sobrecarga o módulo da aceleração adquirida pelas cargas da máquina é

mM

mga

+=

2.

94

A primeira atividade (FIGURA 23) reproduz a famosa experiência de

Oersted, sobre o desvio de uma agulha magnética próxima a um condutor o qual foi

estabelecida uma corrente elétrica. Foi proposta no capítulo sobre o campo

magnético em condutores retilíneos, em espira circular e em solenóides.

A segunda (FIGURA 24) descreve um experimento desenvolvido pelo

professor Atwood para o estudo dos movimentos retilíneos e faz parte do capítulo

que se refere às aplicações das Leis de Newton.

Temos, nestas atividades, um resgate a experimentos que os cientistas

realizaram em suas épocas, colocando, assim, a Ciência dentro de um contexto

histórico e dinâmico, no qual os conceitos e fenômenos físicos são elaborados e

desenvolvidos por milhares de mentes humanas no decorrer do tempo.

Na primeira, temos os seguintes elementos que a caracterizam nessa

subcategoria: “nesta experiência você repetirá as observações feitas por Oersted”.

na segunda, “A máquina de Atwood é um antigo dispositivo para o estudo de

movimentos retilíneos criado em 1784 pelo professor Atwood, da Universidade de

Cambridge, na Inglaterra”.

4.2.3.2 Relação com a cultura tecnológica

Aqui, enquadramos atividades experimentais que relacionam conteúdos da

Física com dispositivos e/ou equipamentos da vida prática, propiciando um

aprendizado útil e significativo à vida e ao trabalho do aluno.

95

FONTE: Cabral e Lago, 2004, p. 482

Figura 26 - Ondas eletromagnética

FONTE: Sampaio e Calçada, 2005b, p. 284

Figura 27 - O campo elétrico nas proximidades da te la de um televisor

Estes experimentos mostram uma relação de equipamentos e dispositivos

que fazem parte da vida das pessoas, como o microondas na primeira, que compara

o aquecimento da água e do gelo por meio deste eletrodoméstico, e que faz parte do

capítulo sobre interação da radiação com a matéria (FIGURA 25). O segundo

(FIGURA 26), cujo objetivo é verificar a existência de um campo elétrico em uma

determinada região, faz uso da tela de uma TV, que ao ser ligada eletriza-se. Por

vezes, essa situação já foi verificada por muitas pessoas – ao se aproximar o braço,

por exemplo, da tela – mas, na maioria das vezes, sem uma explicação convincente

sobre o fenômeno.

Vimos que as microondas podem ser usadas para aquecer e até ferver água. Este é o princípio pelo qual elas são usadas para aquecer e cozinhar alimentos ricos em água. Entretanto, o gelo não absorve eficientemente as microondas, e podemos verificar isto com um experimento simples. Para demonstrar isso vamos ferver água em recipiente de gelo. Como fazer Inicialmente, pegue um copinho de plástico com água e coloque no congelador por algumas horas para que se forme um bloco de gelo. Retire o gelo do copo plástico e faça um pequeno furo em seu centro, raspando-o com uma colher. Ponha água nesta cavidade e coloque o gelo dentro do forno de microondas. Ligue o forno e observe que a água ferve, mas o gelo não é afetado diretamente pelas microondas.

Nessa experiência o objetivo é detectar a existência de um campo elétrico nas

proximidades da tela de um televisor ligado.

A experiência é muito simples: corte uma tira de papel sulfite. Aproxime-a da tela de um

televisor desligado. Mantendo-a a uns 5 cm da tela, ligue o televisor.

O que ocorreu? Como explicar? Quais os fenômenos envolvidos?

A explicação é relativamente simples: quando ligamos o televisor, um canhão eletrônico

dispara elétrons contra a tela a fim de formar as imagens. Esses elétrons geram um campo

eletrostático. Estando a tira de papel imersa nesse campo, ela sofrerá uma indução eletrostática e

será fortemente atraída para junto da tela.

96

Estas atividades evidenciam a relação entre equipamentos tecnológicos

presentes no dia-a-dia das pessoas e os fenômenos da Física. No primeiro exemplo,

vemos a diferença em ferver a água e fazer o degelo, usando a energia de um forno

microondas: “vimos que as microondas podem ser usadas para aquecer e até ferver

água”, “ponha água nesta cavidade e coloque o gelo dentro do forno de microondas”.

No segundo experimento, vemos que a tela do televisor se eletriza ao ligarmos,

dando origem a um campo elétrico nas suas proximidades: “nessa experiência o

objetivo é detectar a existência de um campo elétrico nas proximidades da tela de

um televisor ligado”.

4.2.3.3 Relação com outras formas de culturas

Nesta subcategoria, estão classificados os experimentos que relacionam os

conceitos físicos com aspectos da cultura de nosso tempo. Pretendemos verificar se

há experimentos, nos livros didáticos analisados, que se relacionam com as artes,

com a música, museus etc., visto que uma das competências que devem ser

desenvolvidas nos alunos, segundo os PCN (1999), é a capacidade de eles

reconhecerem a Física como parte integrante de nossa cultura.

97

FONTE: Gaspar, 2007, p. 247

Figura 28 - Harpa de ar

Veja as fotos:

Elas mostram uma exibição no Exploratorium, um dos mais conhecidos museus de ciências

do mundo, localizado na cidade de São Francisco (EUA). Trata-se do Voussoir arch bridge, título que

pode ser traduzido como Ponte em arco de voussoir (voussoir é o nome em inglês dado aos blocos

trapezoidais de pedra com os quais se construía esse tipo de ponte).

A foto da esquerda mostra a ponte montada com cinco voussoires de isopor, vazados,

encaixados entre dois suportes fixados rigidamente na base da montagem. Dois semi-arcos ficam em

baixo para auxiliar a montagem; a armação de tubos atrás da montagem serve para dar maior

segurança às crianças que sobem nessa ponte. A foto da direita mostra três crianças sentadas sobre

a ponte, já sem a proteção dos semi-arcos, que estão afastados.

Essa exibição é dirigida às crianças e seu objetivo é dar a elas algumas idéias iniciais sobre

a estática e as leis de Newton. Em geral, elas montam a ponte e depois sentam-se ou andam em cima

Um pedaço de cano PVC aberto em ambas as extremidades é um filtro sonoro que só

reforça as freqüências naturais de oscilação dos sons do ambiente com as quais entra em

ressonância. Conhecendo as freqüências da escala

musical e a expressão l

nvfn 2

= , pode-se

determinar o comprimento dos tubos para que

produzam uma escala. Depois, basta montá-los em

conjunto, como se fosse uma harpa, e passando-os

junto ao ouvido, num lugar bem barulhento, ouvir os

tons da escala.

98

dela – em museus e centros de ciências como esse uma discussão mais aprofundada das causas da

estabilidade dessa estrutura depende do interesse das crianças ou de seus professores.

Aqui propomos que o seu grupo analise a estabilidade dessa ponte com base no que foi

estudado neste capítulo e seguindo os passos indicados a seguir:

Considerem o bloco central isoladamente e construam no caderno o esquema gráfico das

forças que atuam sobre ele.

Suponham que um garoto de 40 kg esteja em cima desse bloco e que os ângulos das faces

do bloco central com a horizontal sejam iguais a 14º. Determine as forças exercidas sobre esse bloco

central pelos blocos adjacentes. Desprezem o peso do bloco e considerem sen 14º = 0,24 e cos 14º =

0,97.

O bloco central é chamado de pedra angular, expressão que com o tempo adquiriu outros

significados. Relacionem o significado adquirido por essa expressão com a forma dessa pedra e a

função que ela exerce em estruturas como a da ponte.

FONTE: Gaspar, 2007, p. 95

Figura 29 - Ponte em arco

A primeira atividade (FIGURA 27) ilustra o capítulo sobre o som, que faz

parte da segunda unidade da obra D, cujo objeto de estudo é ondas e óptica. A

segunda (FIGURA 28), que também é da mesma obra, está na primeira unidade e

trata da mecânica, ilustra o tema peso e equilíbrio estático.

Estes experimentos estão relacionados à música e à atividades

desenvolvidas em museus de Ciência e os elementos que a caracterizam são: “para

a experiência do som”, “um pedaço de cano PVC aberto em ambas as extremidades

é um filtro sonoro que só reforça as freqüências naturais de oscilação dos sons do

ambiente com as quais entra em ressonância. Conhecendo as freqüências da escala

musical e a expressão l

nvfn 2

= , pode-se determinar o comprimento dos tubos para

que produzam uma escala. Depois, basta montá-los em conjunto, como se fosse

uma harpa, e passando-os junto ao ouvido, num lugar bem barulhento, ouvir os tons

da escala”. Para a atividade no museu temos: “elas mostram uma exibição no

99

Exploratorium, um dos mais conhecidos museus de ciências do mundo”, “em museus

e centros de ciências como esse uma discussão mais aprofundada das causas da

estabilidade dessa estrutura depende do interesse das crianças ou de seu

professores”,

4.3 ANÁLISE DOS LIVROS E RESULTADOS

A analise dos livros didáticos indicados pelo PNLEM/2007 teve como base

os PCN+, por acreditarmos na importância destes parâmetros no contexto

educacional. Para que pudéssemos conhecer a proposta de cada coleção dentro da

estratégia de ensino que utiliza os experimentos, realizamos a análise de cada livro,

a fim de que pudéssemos perceber as proposta dos autores, bem como quais os

parâmetros dos PCN+ foram mais ou menos abordados.

Acreditamos que seja interessante que o professor, na escolha do livro a ser

adotado para seus alunos, possa ter uma visão geral da proposta de cada coleção.

Assim, poderá escolher a que mais aproxime de sua atuação pedagógica. Fizemos,

abaixo, uma análise do direcionamento dado pelos autores à realização das

atividades experimentais – se para o aluno ou professor. É importante ressaltar,

inicialmente, que tanto a coleção destinada aos professores quanto às dirigidas aos

estudantes constituem-se pelas mesmas atividades, diferenciando apenas pelo

manual do professor, que traz informações gerais sobre a proposta da obra, algumas

informações sobre os PCN e legislação e dicas de sites e livros.

Analisando a obra A, percebemos que dos 123 (cento e vinte e três)

experimentos propostos, 3 (três), sob nosso ponto de vista, seriam melhor

desenvolvidos pelo professor, pelo simples fato de necessitarem de equipamentos

100

específicos de laboratórios ou uma confecção difícil dos mesmos, visto que não há

subsídios para sua construção. No entanto, 120 (cento e vinte), ou seja, 97 % dos

experimentos, podem ser realizados pelos alunos.

A obra B apresentou um total de 39 (trinta e nove) experimentos, sendo dos

quais, apenas 1 (um) julgamos não ser de fácil execução pelos alunos, pois

necessita, também, de equipamentos específicos, e 38 (trinta e oito), portanto,

podem ser realizados pelos alunos.

Já a obra C, com um total de 31 (trinta e um) experimentos, a obra D, com

62 (sessenta e dois), a obra E, com 38 (trinta e oito) e a obra F, com 14 (quatorze),

apresentaram todas as atividades experimentais sem nenhum problema para

realização dos alunos.

Nenhuma coleção direcionou explicitamente atividades experimentais para

serem realizadas pelos professores ou colocaram que alguma atividade, apesar de

fazer parte do livro do estudante, precisasse da participação ou colaboração do

professor. A ênfase maior foi na realização das atividades pelos alunos. Talvez por

isso, apresentam uma simplicidade e facilidade de desenvolvimento de quase

totalidade dos experimentos.

Verificamos, portanto, uma matriz padrão utilizada pelos autores, que

direcionam os experimentos para que a organização e a realização sejam feitas

pelos alunos, como se, assim, melhor contribuíssem para a aprendizagem dos

conteúdos da Física. Entretanto, como salienta Borges (2002), a aprendizagem

acontece não somente pelo contato direto do aluno na realização do experimento,

mas, também, pelo envolvimento comprometido com outras formas de

experimentação, permitindo ao mesmo não somente o manuseio, mas também, e

principalmente, a interpretação, discussão e compreensão dos fatos e fenômenos

101

analisados.

Outro aspecto que vale a pena ressaltar é que a abordagem de conceitos e

fenômenos físicos em seu aspecto conceitual, sem uma aproximação com a

linguagem matemática, representam 73% das atividades, contra 27% quantitativas –

aquelas que fazem uso do aparato matemático. Isso nos indica, também, uma

tendência em direcionar a aprendizagem dos alunos num contexto mais conceitual

dos fenômenos, sem se valer do formalismo matemático. Verifica-se em algumas

coleções uma simplificação exagerada do experimento, do tipo: “jogue um objeto

para cima e verifique que tipo de movimento ele possui. O que se pode dizer sobre o

tempo de subida e descida”. Experimentos assim induzem aos alunos a

responderem o que viram em sala de aula e não o que vêm na atividade, já que

analisar os tempos de descida e de subida e mesmo o tipo de movimento, neste

caso, não é tarefa fácil. Nos parece que ter a atividade experimental no livro texto se

tornou um imperativo, mesmo que seja simplesmente por estar lá, cumprindo uma

exigência contratual.

É necessário também trilhar novos e diferentes caminhos, que podem nos

aproximar de outros espaços de aprendizagens, não encontrados nos textos atuais.

Propostas experimentais direcionadas e organizadas para a realização dos alunos e

professores em conjunto, por exemplo, onde se tenha uma maior troca e

relacionamento entre ambos, não são oportunizadas nas coleções analisadas.

4.3.1 Atividades Experimentais nos livros didáticos do PNLEM, de acordo com

as habilidades e competências referenciadas pelo PC N e PCN+

O gráfico abaixo (GRÁFICO 7) mostra as categorias e sub-categorias

102

presentes nas atividades experimentais em cada coleção analisada.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

EC ASC LT LTI RITC MQ RII MER CHS RCT RFC

Categorias e Sub-categorias

Pre

senç

a em

cad

a ob

ra

Obra AObra BObra CObra DObra EObra F

FONTE: Dados da pesquisa

Gráfico 7 - Presença das categorias definidas para cada dimensão de análise

por coleção

Onde as categorias e sub-categorias foram assim definidas :

EC – Elaboração de Comunicação

ASC – Articular Símbolos e Códigos

LT – Leitura Textual

LTI – Leitura Textual com Imagem

RITC – Relações, Invariantes, Transformações e Conservações

MQ – Medidas e Quantificações

MER – Modelos Explicativos e Representativos

103

RII - Relações Interdisciplinares e Interarias

CHS – Contextualização Histórico/Social

RCT – Relação com a Cultura Tecnológica

RFC – Relação com outras Formas de Cultura

As análises das atividades experimentais foram norteadas pelas

competências dos PCN+ e subdivididas por categorias, a fim de que pudéssemos

melhor investigá-las.

Os seguintes resultados puderam ser encontrados: atividades

experimentais que procuram desenvolver no aluno habilidades e competências para

reconhecer a relação entre diferentes grandezas à existência de invariantes, bem

como identificar transformações e conservações de determinadas grandezas,

representaram 46% do total das 308 atividades experimentais analisadas. Este dado

nos aponta que um número significativo de experimentos está adequado a estas

importantes habilidades e competências sugeridas pelo PCN+.

Os experimentos que tem como objetivo a coleta de dados, sua análise,

formulação e/ou resolução de problemas, totalizaram 29% de todas as atividades,

mesmo percentual verificado nas atividades que solicitam a elaboração de um

esquema, desenho, tabela ou gráfico. De um modo geral, podemos dizer que essas

atividades estão reduzidas à comprovação de algum fenômeno ou lei da Física e,

geralmente, sem muitos problemas para o aluno chegar à relação de causa e efeito,

pois sempre vem após o estudo sobre determinado conteúdo. Por exemplo: não é

difícil ao aluno chegar à conclusão da curvatura da folha aluminizada do papel de

cigarro logo após ter estudado lâminas bi-metálicas.

Portanto, atividades experimentais que procuram desenvolver nos

104

alunos a capacidade de utilizar modelos da Física para explicar determinado

fenômeno e as que buscam desenvolver capacidade de elaborar sínteses, resumos,

relatórios ou mesmo expressar-se oralmente, representam cerca de 40% de todas

atividades propostas, respectivamente. Esse índice mostra o interesse dos autores

no desenvolvimento de atividades com essas habilidades e competências.

A interdisciplinaridade está presente em 21% dos experimentos, 32%

faz uso somente de texto na descrição da atividade e 68%, além da linguagem

escrita, faz uso também de ícones, com a intenção de facilitar a compreensão do

experimento, apesar de a grande maioria não apresentar riqueza de detalhes nas

imagens.

Pouco espaço há para experimentos contextualizados historicamente

ou que fazem uma relação com outras áreas do conhecimento, reforçando, assim,

erroneamente a idéia de uma Física atemporal, idealizada por poucas e privilegiadas

mentes humanas, neutra e absoluta, sem relação com outras Ciências.

Por fim, notamos a pequena relação das atividades experimentais com

a cultura contemporânea, como as artes, o cinema, o folclore, o esporte, entre tantas

outras.

105

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades experimentais constituem um recurso importante no

processo ensino-aprendizagem, na opinião da grande maioria dos agentes que

fazem parte da comunidade escolar, principalmente alunos e professores, que vêm

nessas atividades uma maneira mais dinâmica de ensinar e aprender conceitos.

Surpreende-nos o quanto elas são bem recebidas pelos alunos, que chegam a

cobrá-las em nossa prática docente, diferentemente das aulas teóricas. Como um

pré-requisito nas obras indicadas para o PNLEM, fazem parte do contexto do livro

didático, uns valorizando-as mais, outros menos. Há, por exemplo, coleção que

possui um total de 124 experimentos, enquanto outra, apenas 14. Apesar desses

fatos concretos, elas ainda não encontram solo fértil para se desenvolver de maneira

vigorosa e útil, não cumprindo, portanto, o papel que deveria ter na Educação

brasileira.

Ficou evidente para nós, que a principal estratégia de ensino adotada

pela grande maioria dos autores das coleções analisadas é aquela que deixa a cargo

do aluno todo o desenvolvimento da atividade experimental. Essa proposta

pedagógica repousa na idéia de que o aluno aprende melhor se manusear os

instrumentos e prover as atividades.

Acreditamos que não somente esses tipos de atividades são

importantes dentro do processo ensino-aprendizagem, mas que podem dividir

espaço com outras formas de experimentação – demonstração por parte do

professor, descrição de experimento, por exemplo – que, se bem planejadas,

também podem desenvolver várias habilidades nos alunos.

106

De maneira geral, as obras analisadas propõem atividades

experimentais com ênfase nas competências e habilidade dos PCN, mesmo que de

maneira fragmentada. Por exemplo: a capacidade de elaborar comunicações está

presente em mais de 40% das atividades de metade das obras analisadas, o que

mostra a importância dada a essa competência pelos autores.

Outro dado significativo e que abrangeu todas as coleções é a

apresentação de imagens nos textos dos experimentos, procurando facilitar o seu

entendimento.

As coleções apresentam atividades nas quais os alunos podem colher

dados, analisá-los e com estes articular símbolos e códigos da Ciência. No entanto,

essas ainda aparecem de maneira fragmentada explorando pouco outras

competências.

Observa-se uma ênfase maior, em atividades com caráter puramente

conceitual, solicitando explicação oral ou escrita por parte do aluno sobre algum

fenômeno ou situação. Havendo, no entanto, menor número de atividades que

solicitem a execução de cálculo, medidas e a elaboração de gráficos e tabelas.

De um modo geral, as atividades experimentais são simples, com

material bastante acessível, o que, de certo modo, facilita a execução das mesmas.

As coleções se preocuparam em propor atividades com pelo menos

uma figura, desenho ou esquema que ajudasse na compreensão dos experimentos.

Um outro ponto importante desta análise é que em todas as categorias

que representam as dimensões analisadas, têm-se pelo menos quatro coleções.

Apesar de cumprir um importante papel com relação às competências e

habilidades sugeridas pelos PCN, algumas considerações ainda precisamos fazer

sobre as obras analisadas:

107

Situações de desafio, em que é proposta a solução de um problema

com o auxílio do experimento, ou que a atividade abra possibilidades para escolhas

de experimentações diferentes, são raras.

Inter-relacionar atividades experimentais com diferentes conteúdos da

Física e entre áreas da Ciência, são competências pouco exploradas.

As figuras que ilustram os experimentos deveriam possuir maior

riqueza de detalhes.

Salientamos, também, que as atividades experimentais são importantes e

podem fazer diferença no processo ensino-aprendizagem. Para tanto, os livros

didáticos desempenham um grande papel quando as coloca em seu texto: transpô-

las para o contexto escolar, numa linguagem fácil e com equipamentos acessíveis,

não é tarefa simples. Mas não podemos prescindir de detalhes, de explicações e de

possibilidades, que sejam mais especulativas e que consigam desenvolver nos

alunos a capacidade de argumentar, discutir, questionar e extrapolar o que foi

proposto. Como sugestão, acredito que cada coleção deveria ter um manual

separado sobre essas atividades, em que estas e outras questões possam ser

abordadas, contribuindo de maneira significativa para o trabalho docente.

Enfim, sabemos que todo tipo de análise é permeada pela subjetividade e,

portanto, passíveis de interpretações variadas. Procuramos desenvolver um trabalho

em que o leitor e/ou professor possa se apoiar em relação às atividades

experimentais propostas nos livros didáticos indicados pelo PNLEM, mas que pode e

deve refletir criticamente e concordar ou não com as idéias e reflexões indicadas

aqui. Possibilitar um espaço de reflexões e questionamentos já é uma grande

colaboração desta pesquisa ao ensino da Física.

108

6 UM TEXTO PARA OS PROFESSORES

Professor, este texto foi produzido com intenção de auxiliá-lo na

escolha do livro do Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio

(PNLEM/2007), em relação às atividades experimentais que cada coleção traz em

seu interior.

Analisamos essas atividades tomando como referência as

competências e habilidades sugeridas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCN), que dão subsídios para professores e escolas desenvolverem um ensino de

forma mais contextualizada e significativa, aproximando-se da realidade dos alunos.

Essas competências dizem respeito à necessidade de trabalhar nos

alunos a capacidade para investigar fenômenos ou problemas, propor soluções e

hipóteses, representá-los usando de maneira adequada a linguagem da Ciência,

entre outras.

Esta forma de conduzir o processo de ensino oportuniza uma formação

mais ampla ao estudante, potencializando a aquisição de capacidades para ser um

cidadão autônomo, crítico, ético e atuante na sociedade.

Você há de concordar que isto realmente é necessário, pois não dá

mais para termos uma Educação pautada na transmissão do conhecimento de

maneira compartimentalizada e estanque, destinando ao aluno o papel de mero

coadjuvante do processo ensino-aprendizagem. É preciso que todos participem.

Como professor há mais de 12 anos, tenho vivido muitas angústias em

minha caminhada, entre elas a necessidade de me adequar a esses novos desafios.

Diante da necessidade dessas mudanças o ensino da Física exige uma

109

contextualização entre o dia-a-dia dos alunos e o conteúdo programático,

favorecendo a percepção deste último em sua realidade. Talvez nossa missão

principal seja a de despertar no aluno o desejo de compreender o mundo por meio

da Física e, para isso, precisamos favorecer a atuação deles como construtores de

seu conhecimento.

Um dos recursos que nós, professores, podemos utilizar para esse

ensino diferenciado e contextualizado, são as atividades experimentais, que devem

ser coerentes e fazerem sentido para os alunos.

A escolha de um livro didático, muitas vezes, está condicionada à

existência dessas atividades em seu texto, porém, a sua utilização precisa ser

realmente efetivada.

Bem sabemos que o livro didático e suas propostas experimentais não

conseguem dar conta de todas essas características. Como educadores, sabemos

da sua incompletude. No entanto, é um recurso para nos auxiliar em nossa prática

docente e que, por isso, merece especial atenção.

O livro não deve ser exclusivista, mas sim alternativo ao processo

ensino-aprendizagem. Deve, para tanto, disseminar uma Ciência construída

historicamente e por vários personagens: uma construção humana, que se constrói e

reconstrói a todo momento. Ele deve, ainda, integrar os modelos da Ciência e as

tecnologias e equipamentos do cotidiano e relacionar-se com as diversas áreas do

saber científico.

De acordo com os PCN, qualquer tipo de atividade experimental, deve

permitir diferentes formas de percepção qualitativa e quantitativa, de manuseio,

observação, confronto, dúvida e de construção conceitual, bem como a tomada de

dados significativos, com os quais se possa verificar ou propor hipóteses explicativas

110

e, preferencialmente, possibilitar previsões.

Professor, fique atento para que, ao utilizar uma atividade experimental,

esta seja explorada de forma a permitir um debate acerca das concepções

espontâneas dos alunos e dos modelos propostos pela ciência. Dessa maneira,

podemos contribuir para que os alunos evoluam em suas concepções, progredindo

de conceitos mais simples para os mais complexos.

Evite experimentalismo puro, sem contexto, usado simplesmente como

fuga do binômio quadro-explanação, com o objetivo de tão somente tirar o aluno do

estado passivo e inerte da sala de aula. Isto não é eficaz e nem recomendado ao

processo de Educação. A atividade experimental pode e deve ter dimensões maiores

e mais importantes do que estas, com significados coerentes e claros para os

alunos.

Realizar um experimento sem pensar nessas questões, sem direcionar

um debate, sem promover uma leitura atenta e articulada com os conceitos e o

cotidiano dos alunos, poderá reduzir esta prática a mais um item curricular, que, na

visão dos educandos, pode ser tão chato e sem sentido quanto os conteúdos

ministrados de maneira compartimentalizada e estanque.

Ao decidirem propor uma atividade experimental, é essencial que se

realize um planejamento, contemplando os objetivos a serem alcançados, os

aspectos metodológicos a serem utilizados, como desenvolverá a atividade, com

quais recursos e em que local. Também respostas aos seguintes questionamentos

poderão ajudá-lo nesse planejamento: será que essa atividade realmente contribuirá

para melhor compreensão da Física? Esta atividade tem algum significado para os

alunos? Ela provocará alguma inquietação? O aluno se sentirá desafiado ao realizá-

la ou acompanhá-la?

111

6.1 SOBRE AS ATIVIDADES EXPERIMENTAIS NOS LIVROS DI DÁTICOS

ANALISADOS

A análise que apresentaremos a seguir não tem intenção de apontar o

melhor ou pior livro didático de Física, e sim evidenciar propostas pedagógicas

implícitas em seu texto, com o objetivo de auxiliá-lo na escolha do livro que melhor

lhe atenda.

Os livros de Física escolhidos para análise foram os aprovados pelo

Programa Nacional do Livro Didático Ensino Médio (PNLEM/2007), totalizando seis

coleções, que foram avaliadas por especialistas de cada área do conhecimento,

tendo, como parâmetros, os critérios estabelecidos pelo MEC.

As coleções estão no formato volume único ou em três volumes. O

primeiro se caracteriza por abordar os conteúdos de maneira mais compactada e

sintetizada e possuir um preço mais acessível, pois trata-se de um livro que será

utilizado nas três séries do Ensino Médio. Anterior à sua distribuição pelo PNLEM, o

volume único destinava-se a atender as escolas públicas e principalmente a

Educação de Jovens e Adultos (EJA), devido ao custo, e por apresentar os

conteúdos de forma reduzida e menor profundidade, adequando a carga horária

disponível para esta disciplina. Os volumes separados por série geralmente

apresentam mais conteúdos, com maior profundidade e uma gama maior de

exercícios e atividades experimentais.

A seguir (TABELA 1), faremos uma breve caracterização das obras

analisadas, para possibilitar ao leitor uma visão geral das mesmas.

112

TABELA 5 - Identificação das coleções

Autores Título da

Obra Volumes

Cidade / Editora

Nº de Páginas Ano

Obra A Antônio Máximo

e Beatriz Alvarenga

Física Ensino Médio

3 São Paulo/ Scipione

Vol. 1 – 376 Vol. 2 – 400 Vol. 3 – 416

2006

Obra B José Luiz Sampaio

e Caio Sérgio Calçada

Universo da Física

3 São Paulo/

Atual Vol. 1 – 465 Vol. 2 - 520 Vol. 3 – 500

2005

Obra C Paulo César Penteado

e Carlos Magno Torres

Física, Ciência e

Tecnologia

3 São Paulo/ Moderna

Vol. 1 – 230 Vol. 2 – 231 Vol. 3 – 262

2005

Obra D Alberto Gaspar Física 1 São Paulo/

Ática 552 2007

Obra E Aurélio Gonçalves Filho

e Carlos Toscano

Física 1 São Paulo/ Scipione

472 2007

Obra F José Luiz Sampaio

e Caio Sérgio Calçada

Física 1 São Paulo/

Atual 472 2005

6.1.1 Obra A

Os autores da obra A são professores de Física da Universidade

Federal de Minas Gerais. A obra possui orientação para os alunos e professores, por

meio da qual esclarecem a melhor maneira de utilizar o curso de Física proposto,

além de ressaltarem a importância de se estudar esta ciência. No final do livro, há

uma lista de questões de vestibulares e bibliografia para os alunos. O volume 1 está

dividido em 4 unidades, onde são apresentados os temas da mecânica, começando

pelo estudo dos algarismos significativos, sendo apresentada, na sequência, a

cinemática, com movimento retilíneo e curvilíneo, as Leis de Newton; encerrando a

unidade com a gravitação universal e hidrostática. O volume (2) está dividido

também em 4 unidades. A primeira refere-se às leis de conservação, depois

113

termodinâmica, ótica e ondas. O último volume tem 3 unidades, sendo que a primeira

aborda os conteúdos de carga, campo e potencial elétrico; a segunda, corrente e

força eletromotriz; e a última, campo magnético, indução eletromagnética e Física

moderna.

6.1.2 Obra B

A obra B, da qual um dos autores é bacharel em Física pela

Universidade de São Paulo (USP) e o outro bacharel em Matemática e engenharia

elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, ambos professores

de Física na rede particular de ensino desde 1968, inicia-se com uma apresentação

destinada aos professores e alunos, ressaltando a importância do estudo da e sobre

a Física, expondo uma visão geral das atividades propostas. No final de cada livro,

há o manual do professor, com o objetivo de esclarecer os principais pontos da obra,

além de orientar na resolução dos exercícios. Traz uma relação de leituras

recomendadas ao professor e de revistas científicas e sites sobre a disciplina.

O volume 1, cujo tema é mecânica, está dividido em 3 unidades, que

abordam, na primeira, o que é Física, unidades das grandezas e introdução à

mecânica; na unidade 2, cinemática, com os movimentos uniforme e variado; na

unidade 3, as leis de Newton, leis de conservação da energia, do movimento e

centro de massa. O volume 2 dedica os 5 primeiros capítulos aos conteúdos da

mecânica, abordando gravitação, estática dos corpos rígidos e hidrostática; depois

inicia-se a termologia com a térmica, prosseguindo com dilatação, calorimetria,

mudança de estado e transmissão de calor, as leis dos gases e da termodinâmica.

Encerra-se o volume com o estudo da óptica geométrica. O volume 3, traz uma

114

diferença na abordagem dos conteúdos em relação ao que geralmente se encontra

nos temas da eletricidade: primeiro faz uma abordagem da eletrodinâmica e depois

da eletrostática, ficando a coleção dividida em: circuitos elétricos, eletrostática e

magnetismo, ondas e física moderna.

6.1.2 Obra F

Dos mesmos autores acima, temos também a obra F, onde os autores fazem

uma breve apresentação da obra, enfatizam a formação geral em Física e apresenta

subsídios para o vestibular. Este livro está dividido em 6 unidades, abordando

inicialmente a mecânica, começando pela cinemática escalar e vetorial, passando

pelas leis de Newton, conservação da energia e do movimento, gravitação, estática e

finalizando com a hidrostática. A segunda unidade trata da termologia, começa-se

pela termometria, o estudo do calor, as leis dos gases e da termodinâmica; a terceira

propõe o estudo da óptica. Na unidade 4, o tema é ondas, a penúltima, o estudo da

eletricidade, a partir de carga elétrica, passando pela força, campo, potencial e

corrente elétrica, resistores, circuitos, finalizando com ondas eletromagnéticas. Por

fim, na Física moderna, são estudados os conceitos da teoria da relatividade,

mecânica quântica e das partículas elementares, trazendo, ainda, alguns boxes

sobre as personalidades da Ciência, chamado de história e outros sobre o cotidiano

e aplicações das Ciências.

O livro do professor vem com manual contendo as diretrizes e bases para o

Ensino Médio brasileiro, estrutura da obra, recomendações de sites e leituras, e

resolução de exercícios.

115

6.1.4 Obra C

Na obra C, os autores são professores de Física em cursos pré-universitários

e escolas públicas. Um é bacharel e mestre em Física pela USP e o outro

engenheiro naval, também pela USP. Os livros possuem uma apresentação inicial e

um roteiro de como utilizá-los. Caracterizam-se por muitas ilustrações em todo o

texto, boa diagramação, procuram retratar situações e fenômenos do cotidiano das

pessoas.

Os livros são estruturados por unidades, seguindo os conteúdos tradicionais

da mecânica, termologia, ótica e eletromagnetismo, finalizando com conteúdos

relacionados à Física moderna. São volumes que se diferenciam dos demais por

apresentarem outras formas de aprendizagem, tais como: reportagens, trabalhos em

grupos, texto relacionado ao conteúdo no início de cada capítulo, boxes com

perguntas sobre fatos observados no cotidiano, aspectos dos assuntos em estudo

publicados em jornais e revistas, aplicações tecnológicas e algumas sugestões de

leitura, tudo no final de cada capítulo.

6.1.4 Obra D

A obra D, cujo autor é licenciado e mestre em Física pela USP e doutor em

Educação pela mesma universidade, inicia-se com uma apresentação destinada aos

alunos, onde chama a atenção para a importância de se estudar Física, destacando,

ainda, o caráter histórico-sócio-cultural da disciplina e sua contextualização com o

dia-a-dia do aluno. A obra procura orientar, de maneira geral, sobre as diversas

atividades constantes na coleção. Aos professores, é recomendado um manual, no

final do livro, com 208 páginas, com informações sobre os PCN, sugestões para o

aprimoramento e orientações para atividades interdisciplinares e de

116

contextualização. O livro encerra com orientações para o desenvolvimento de cada

capítulo, resolução dos exercícios e uma extensa lista de referências bibliográficas.

Seguem a sequência tradicional dos livros de física, começando-se pelo estudo da

mecânica, passando por ondas, ótica, termodinâmica, eletromagnetismo e

finalizando com a Física moderna.

6.1.6 Obra E

A obra E, cujos autores são licenciados em Física pela USP, sendo que um

deles é mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal

de São Carlos. Essa obra diferencia-se das outras coleções por abordar os conceitos

da Física numa sequência diferente da tradicional. Cinemática, por exemplo, é

apresentada em um capítulo complementar, após os conteúdos de

eletromagnetismo, que, por sua vez, ao contrário das outras propostas analisadas,

começam com o estudo da eletrodinâmica por meio dos aparelhos e circuitos

elétricos, depois os conceitos de campo, tensão e corrente elétrica, passando pelo

magnetismo e eletricidade e terminando com produção e distribuição da energia

elétrica. A termodinâmica inicia-se com os conceitos de temperatura e calor. Uma

breve apresentação abre a coleção, em que, os autores salientam sobre a

importância da Física no desenvolvimento tecnológico do mundo. Ao final do livro,

listam a bibliografia que consultaram e que recomendam, além do manual para o

professor, chamando de “Assessoria pedagógica”, onde consta uma orientação

teórico-metodológica e a estrutura geral da obra com algumas indicações de sua

utilização. Os autores ainda abordam questões sobre avaliação, projetos, textos

suplementares, sugestões de filmes e séries, e uma bibliografia indicada ao

117

professor, além de exercícios resolvidos.

É importante ressaltar que consideramos como exercício as atividades de

resolução de exercícios teóricos, em algumas coleções chamadas de problemas e

testes, questões, exercícios de revisão etc. e como atividade experimental, a que faz

uso de algum aparato experimental – descrição ou montagem – e, a partir do

desenvolvimento ou resultado desta, o aluno desenvolva alguma atividade.

Em relação ao número de experimentos e exercícios presentes, a tabela a

seguir permite inferir a importância que cada um deles adquire nas coleções.

TABELA 6 - Quantidade de exercícios e atividades ex perimentais nos livros didáticos analisados

A partir deste quadro você poderá verificar qual coleção dispõe de mais

exercícios e qual possui mais atividades experimentais, podendo ter uma visão

acerca destes dados.

Podemos observar por esta tabela, que a coleção que mais apresenta

atividades é a obra A, propondo, em média, 24 exercícios por semana e 4

Volume 1 Volume 2 Volume 3 Autores Nº

Pág. Exerc. Exper. Nº

Pág. Exerc. Exper. Nº

Pág. Exerc. Exper.

Obra A 376 965 36 400 947 51 416 990 37

Obra B 465 839 10 520 1375 23 500 1199 6

Obra C

230 480 17 231 465 8 262 372 6

Volumes Únicos

Obra D 552 971 62

Obra E 472 875 38

Obra F 472 906 14

118

experimentos por mês. A obra com menor número de atividades é a F, que possui,

em média, 8 exercícios/semana e 5 experimentos por mês. A obra B tem, em média,

28 exercícios/semana e 1 experimento/mês; Os três volumes representados pela

obra C apresentam 11 exercícios/semana e 1 experimento/mês. Os volumes únicos

foram divididos por 3 para termos a média por ano. Assim, a obra D obteve 8

exercícios por semana e 2 atividades experimentais/mês, e a E, 7 exercícios/semana

e 1 experimento/mês.

Nenhuma coleção dos livros didáticos divide o ensino da Física em temas

estruturadores, como propõe os PCN+. Por isso, optamos por fazer essa análise

segundo os conteúdos tradicionais da Física. Os enfoques e as abordagens que

levam à promoção de competências e habilidades serão identificados logo depois,

pelas categorias de análise elaboradas nas três dimensões definidas pelos PCN:

representação e comunicação; investigação e compreensão e contextualização

sócio-cultural.

O gráfico abaixo (GRÁFICO 1) nos mostra, de maneira sintetizada, como

estão distribuídas as atividades experimentais nos temas da Física.

119

05

10152025303540

Mec

ânica

Termod

inâm

ica

Ondas

e Ó

ptica

Eletro

magne

tism

o

Física

Mod

erna

Gravit

ação

Univ

ersa

l

Obra AObra BObra CObra DObra EObra F

Gráfico 8 - Distribuição dos experimentos nos conte údos da Física por coleção

Desse modo, podemos observar que a coleção A é a que tem maior número

de experimentos em todos os temas, que foram contemplados com experimentos.

Em contrapartida, a obra com menor número de atividades experimentais em todos

os temas que tiveram experimentos é a F, totalizando apenas quatorze em toda a

obra.

O tema gravitação universal só tem atividades experimentais nas obras A, C

e D, sendo 4 na primeira e 1 para as outras duas.

A análise da distribuição das atividades experimentais, segundo os temas da

Física aponta para mais um resultado bastante interessante, que é a constatação de

uma visão hegemônica, ou seja, a relevância dada pelos autores aos mesmos

temas, reproduzindo, em alguns casos, os mesmos experimentos. Os conteúdos que

não foram abordados também se equivalem nas coleções, restringindo o

120

conhecimento acerca de alguns temas.

Professor, como você já sabe, utilizamos como referência os PCN que

definem os objetivos educacionais por meio de competências e habilidades a serem

desenvolvidos pelos estudantes, divididos em três dimensões de análise, conforme

as áreas de domínio: representação e comunicação, investigação e

compreensão ; e, por último, contextualização sócio-cultural (BRASIL, 1999).

Devido às particularidades que apresenta uma atividade experimental,

acrescida das características dos experimentos propostos nos livros didáticos em

análise, definimos quatro categorias para melhor compreender a abordagem da

investigação e compreensão :

a) Relações, Invariantes, Transformações e conservações, atividades

experimentais por meio das quais o aluno possa reconhecer a relação entre

diferentes grandezas, a existência de invariantes, identificar transformações e

conservações;

b) Medidas e quantificações, que proporciona ao aluno a possibilidade de

manusear de forma correta instrumentos de medida, permitindo a coleta de dados,

sua quantificação e comparação, possibilitando aos alunos interpretá-los.

c) Modelos explicativos e representativos, que permitem ao aluno conhecer,

interpretar e fazer uso de modelos explicativos;

d) Relações Interdisciplinares e Inter-áreas, que são aquelas atividades em

que é possível reconhecer claramente uma relação com outras áreas do

conhecimento científico.

Na contextualização sócio-cultural , estão as atividades experimentais que

propõem o reconhecimento do conhecimento físico como construção humana e

121

determinada por aspectos históricos, culturais, sociais, políticos e econômicos;

possibilitando ao aluno emitir juízo de valor em relação a situações sociais que

envolvam aspectos físicos e/ou tecnológicos relevantes e de reconhecer o papel da

Física no sistema produtivo, compreendendo a evolução dos meios tecnológicos e

sua relação dinâmica com a evolução do conhecimento científico. Esta dimensão

classifica as atividades experimentais que fazem parte de um contexto histórico,

relatado ao longo do texto do livro didático ou pelo próprio experimento, podendo ser

as relacionadas com algum equipamento ou dispositivo do cotidiano das pessoas e

as que estão relacionadas a diferentes formas de cultura, como a música, teatro,

museus etc., que direcionam para as seguintes subcategorias:

a) contexto histórico,

b) relação com a cultura tecnológica e

c) relação com outras formas de cultura.

No gráfico (GRÁFICO 2) abaixo é apresentado um diagrama que mostra as

categorias de análise na dimensão considerada em relação coleções analisadas:

122

GRÁFICO 9 - Presença das categorias definidas para cada dimensão de análise por coleção

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

EC ASC LT LTI RITC MQ RII MER CHS RCT RFC

Categorias e Sub-categorias

Pre

senç

a em

cad

a ob

ra

Obra AObra BObra CObra DObra EObra F

Onde as categorias e sub-categorias foram assim definidas :

EC – Elaboração de Comunicação

ASC – Articular Símbolos e Códigos

LT – Leitura Textual

LTI – Leitura Textual com Imagem

RITC – Relações, Invariantes, Transformações e Conservações

MQ – Medidas e Quantificações

RII - Relações Interdisciplinares e Interarias

MER – Modelos Explicativos e Representativos

CHS – Contextualização Histórico/Social

RCT – Relação com a Cultura Tecnológica

RFC – Relação com outras Formas de Cultura

123

Os seguintes resultados podem ser apurados:

Das obras analisadas, as que têm maior número de atividades que procuram

desenvolver nos alunos a capacidade para elaborar comunicações (EC), seja por

meio da escrita ou da fala, são as obras C e E, apresentando mais de 50% de suas

atividades em cada uma. Por outro lado, a coleção que aqui denominamos obra F

chama a atenção por não conter atividades que contemplem essa habilidade.

O número de experimentos que contemplam a competência para articular

símbolos e códigos se destaca na obra D, perfazendo um total de 50%, quase o

dobro das demais coleções. Observando o gráfico nos itens leitura texto e texto

imagem, é facilmente perceptível o grande número de atividades acompanhadas de

alguma imagem, sendo que apenas a obra E enfatiza o texto em detrimento da

imagem.

No item relações, invariantes, transformações e conservações, que fazem

parte da dimensão investigação e compreensão, verificamos que 3 coleções se

destacam no número de atividades propostas, sendo que a obra D apresenta de

60% e as outras duas, A e C, apresentam, em média, 50% de suas atividades.

Analisando a presença de medidas e quantificações, percebemos que

nenhuma obra alcançou 50%, sendo importante ressaltar que este item visa

proporcionar ao aluno aprender a selecionar e utilizar instrumentos de medição e de

cálculo. A que mais contemplou esta categoria foi a coleção D, com pouco mais de

40%.

No gráfico 2, acima, percebemos que todas as coleções apresentaram

experimentos que procuram estabelecer relação entre conhecimentos

interdisciplinares com outras áreas do conhecimento (Relações Interdisciplinares e

124

Inter-áreas), no entanto, se apresentam em pequena quantidade, sendo que o maior

percentual é pouco mais de 30%, representado pela coleção D.

Quando falamos de modelos explicativos e representativos, estamos nos

referindo a experimentos nos quais o aluno faz uso dos modelos da Física para

explicar e representar algum fenômeno. Neste item, as obras C, E e A alcançaram

algo em torno de 60%, 50% e 40%, respectivamente, destacando-as em detrimento

das demais. Um dado importante é que a coleção F não contemplou esta categoria.

Ainda analisando o gráfico anterior, examinemos a dimensão

contextualização histórico/social. Notamos o pequeno número de experimentos que

a privilegiam, sendo que os maiores índices são das obras B e D, onde, em ambas

não se alcança 20%.

Já no item relação com a cultura tecnológica, é discrepante o número de

atividades das coleções com relação à coleção C, que não alcançou 10%. No

entanto, se destacam as coleções D, E e F, com praticamente 50% para cada uma.

Em relação com outras formas de cultura, é fácil notarmos o pequeno

número dos experimentos que apresentam esse item, sendo que apenas 4 obras o

representaram. O maior índice é da obra D, alcançando 12% do total de suas

atividades experimentais.

Os dados acima considerados procuram dar uma visão mais detalhada das

atividades nas obras consideradas. Pretendemos, com esta análise, tornar mais

evidente as características de cada coleção, podendo você, professor, escolher a

que melhor lhe atenda, conforme sua proposta pedagógica.

Enfim, sabemos que todo tipo de análise é permeada pela subjetividade e,

portanto, possível de interpretações variadas. Procuramos desenvolver um trabalho

no qual o leitor e/ou professor possa se apoiar em relação às atividades

125

experimentais propostas nos livros didáticos indicados pelo PNLEM, mas que pode e

deve refletir criticamente e concordar ou não com as idéias e reflexões postas neste

trabalho.

126

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128

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129

Anexo1 - Classificação das atividades experimentais em relação aos conteúdos da física. Mecânica

Obra A Obra B Obra C Obra D Obra E Obra F TOTAL

a) 1 2 2 3 1 1 10

b) 2 2 0 3 0 1 8

c) 10 3 4 4 5 2 28 d) 3 1 1 2 0 1 8 e) 5 1 2 4 1 1 14 f) 3 0 0 1 0 0 4 g) 6 10 4 5 3 0 28 h) 5 2 3 4 0 0 14

TOTAL 35 21 16 26 10 6 114 a) Velocidade Escalar Média, Movimento Retilíneo Un iforme e Variado

b) Queda Livre e Lançamento Vertical

c) Leis de Newton d) Movimentos Curvilíneo e Composto e) Trabalho, Potência, Energia e sua conservação f) Impulso, Quantidade de Movimento e sua conservaç ão g) Hidrostática h) Outros

Termodinâmica

Obra A Obra B Obra C Obra D Obra E Obra F TOTAL

a) 4 2 1 1 3 1 12

b) 3 0 0 1 1 0 5

c) 9 3 0 1 4 0 17

130

d) 2 0 0 4 0 0 6

TOTAL 18 5 1 7 8 1 40

a) Temperatura e Dilatação

b) Comportamento Térmico dos Gases

c) Mudança de Fase e Transmissão de Calor

d) Leis da Termodinâmica

Ondas e Óptica

Obra A Obra B Obra C Obra D Obra E Obra F TOTAL

a) 2 0 0 4 0 0 6

b) 4 0 1 2 0 1 8

c) 3 1 2 2 4 0 12

d) 7 1 2 2 1 4 17

e) 4 1 0 2 1 0 8

f) 2 1 1 2 1 0 7

g) 7 3 1 0 1 0 12

131

TOTAL 29 7 7 14 8 5 70

a) Movimento Harmônico Simples

b) Ondas Mecânicas

c) Luz (espectro, propagação, difusão, interferênci a, difração e polarização)

d) Espelhos Planos e Esféricos

e) Reflexão e Refração da Luz

f) Lentes

g) Outros

Eletromagnetismo

Obra A Obra B Obra C Obra D Obra E Obra F TOTAL

a) 9 5 2 3 2 2 23

b) 9 0 0 4 5 0 18

c) 5 0 0 1 0 0 6

d) 3 1 1 0 4 0 9

e) 7 0 1 4 1 0 13

f) 4 0 1 2 0 0 7

g) 0 0 1 0 0 0 1

h) 1 0 0 0 0 0 1

TOTAL 38 6 6 14 12 2 78

a) Eletrostática

132

b) Corrente Elétrica (circuitos simples, associação de resistores, resistência elétrica)

c) Geradores

d) Campo Magnético

e) Corrente Elétrica e Campo Magnético

f) Indução Eletromagnética

g) Ondas Eletromagnéticas

h) Outros

Física Moderna

Obra A Obra B Obra C Obra D Obra E Obra F TOTAL

a) 0 0 0 0 0 0 0

b) 0 0 0 0 0 0 0

TOTAL 0 0 0 0 0 0 0

a) O Espectro Eletromagnético (infravermelho e ultr avioleta)

b) Radiação dos Corpos

133

Gravitação Universal

Obra A Obra B Obra C Obra D Obra E Obra F TOTAL

a) 3 0 0 0 0 0 3

b) 1 0 1 0 0 0 2

c) 0 0 0 0 0 0 0

d) 0 0 0 1 0 0 1

TOTAL 4 0 1 1 0 0 6

a) Sistemas Planetários

b) Leis de Kepler

c) Lei da Gravitação Universal

d) Satélites e Órbitas

134