atelier do olhar

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PEDRO LOPES Uma nova forma de estar na ótica FORA SUNGLASSES Marca de corpo e alma portugueses CONGRESSO ANO O epicentro do setor durante três dias ALCON Optometria do Minho visita instalações LOOK VISION EDIÇÃO PORTUGAL Nº 31 FEVEREIRO 2015 Distribuição exclusiva a profissionais • Preço de Capa: € 7,50 TM

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Atelier do Olhar

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  • PedroLoPes Uma nova forma de estar na tica

    Fora sungLasses Marca de corpo e alma portugueses

    Congresso anoO epicentro do setor durante trs dias

    aLCon Optometria do Minho visita instalaes

    LooKVIsIon

    edIo PorTugaL N 31 FEVEREIRO 2015D

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    Pedro LopesUma nova forma de estar na tica

    Existe um novo movimento na tica portuguesa. Compe-se de franca juventude e de novas ideias. O nosso radar descobriu esta tendncia no nascimento de um espao em plenos mercado do Bom Sucesso, no Porto. Localizado logo entrada desta rea comercial sui generis, d vontade de transpor a porta. E quando se d esse passo, recebe-nos uma frase de um heternimo de Fernando Pessoa, cravada a relevo nas paredes imaculadas deste novo Atelier do Olhar.

    Fotografia: Miguel Silva

    As linhas clnicas da loja so suspendidas pelo arrojo de marcas singulares, que coloram cada escaparate. E pode dizer-se que esta a imagem do jovem Pedro Lopes, o lder do projeto portuense. Elegante na figura, de um ligeiro e encantador sotaque nortenho, acerca-se do mercado munido de um atrevimento que lhe fez abandonar um lugar que ocupava h 11 anos na frente das vendas da imponente ptica Boavista. So 18 anos de trabalho com culos, que conhecem agora um novo caminho, sua imagem e medida dos seus valores.No foi um sonho consciente que lhe traou este desafio. As circunstncias da vida assim o ditaram, porque na realidade queria emigrar. Acabou por ceder ao amor pela filha adolescente, que precisa do pas de origem e, em vez de ir para longe, estabeleceu a primeira pedra do seu negcio na rea onde passou mais tempo a trabalhar. Com os sons do dinmico mercado do Bom Sucesso como fundo, confessou-nos que, na realidade, um homem desinteressante. Isso deixou-nos intrigados! E numa conversa que flua sempre mais, descobrimos que um romntico inveterado, com sonhos guardados e que, inconscientemente persegue e conquista. muito paternal e conheceu a sua filha ainda jovem, qual se dedicou sempre intensamente. Agora mais do que tudo, muito tico, porque a recente empresa o consome de manh noite, literalmente! No cansa este ritmo? - Nem pensar, talvez pelos 45 anos acuse o cansao, responde-nos com segurana e energia. Por isso, no gosta muito de escapar deste seu projeto em

    construo, mas no deixa de visitar os seus livros e sonhar com pginas escritas tambm por si. que ser tico foi um acaso que seguiu com amor, em parte pela filha. Porm, o sonho ainda ecoa pelo jornalismo e pela redao. Quando fui para a faculdade, para o curso de Relaes Internacionais, foi mesmo porque no entrei em Jornalismo. E claro, porque reservado diz que no aventureiro, ainda nem saltei de paraquedas como ando para fazer h dois anos. Porm, diz isto com o arrojado Atelier do Olhar como fundo e, essa sim, para ns a prova da sua coragem.

    Como que se decide abandonar uma posio segura numa grande empresa e recomear a vida quase do zero?Pela necessidade de fazer algo diferente, embora me tenha custado muito. Queria ir trabalhar para Londres, onde inclusive vive o meu irmo. J tinha estado em Inglaterra em dezembro a criar contactos e a perceber como poderia desenvolver as coisas por l. Inclusive tinha pedido a acreditao do meu curso de Tcnico de tica Ocular na Universidade de Londres, mas ltima da hora o corao comeou a apertar e pensei que se calhar no seria boa ideia. Na hora da deciso pesou a estabilidade da minha filha de 13 anos. Mas, depois de sair de um lugar de topo como a ptica Boavista, para onde se podia ir trabalhar? Ponderei mudar-me para Lisboa, onde h mais variedade no estilo das ticas. A alternativa seria ento lanar-me, na loucura! E aqui estamos.

    Porqu nesta zona?S fazia sentido abrir uma loja no Porto. Aqui esto as minhas referncias e a minha rea de influncia, onde esto os amigos,

    a famlia e os contactos. No podemos descurar essa parte do negcio.

    Como comeou o seu percurso na tica?Comecei por acidente na rea. Alis, nunca pensei na tica para sada profissional. Tudo se desencadeou porque, quando terminei o 12 ano, faltava-me concluir alemo. No queria estar um ano inteiro s com uma disciplina e por isso decidi arranjar um part-time. Fui parar s MultiOpticas. Deu-me uma grande bagagem em termos de conhecimento. L, comecei a inteirar-me um pouco da refrao, da contactologia, do balco e da oficina. E acredito, ainda hoje, que s desta forma se consegue abarcar a interligao entre todas as reas, tornando o trabalho mais fcil e fludo. A fratura entre todas as reas de uma loja de tica no positiva,

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    porque perde-se a noo de alguns conceitos basilares do negcio.

    E de um simples part-time passou a algo mais srio.Sim, trabalhei l trs anos e depois convidaram-me a integrar um novo projeto, numa empresa de Viseu, ligada tambm MultiOpticas. Na altura, dei formao ao irmo da dona da empresa. Gostaram de mim e precisavam de uma pessoa como eu para trabalhar na nova loja que iam abrir em So Joo da Madeira. Isto em 99/2000. Ou seja, trabalhei seis meses em Viseu, a viver num hotel, e depois segui para So Joo da Madeira, onde estive trs anos, at que finalmente consegui o meu objetivo de vir para o Porto atravs da ptica Boavista. Tive que fazer 100 quilmetros todos os dias e tornou-se muito desgastante. Ainda por cima, a minha filha tinha nascido h muito pouco tempo e queria estar mais com ela. Quando integrei a na ptica Boavista foi muito bom.

    Mas no maior que a sua inquietude que nos traz ao Atelier do Olhar.Claro, e a minha famlia acompanhou o meu desejo por fazer algo mais. Comecei a pensar nisto e projetei tudo em dois meses. Demorei mais nas obras que a imaginar o resultado e o que queria. Sa do meu antigo emprego em julho, ainda para ir para Londres. Esta ideia surgiu em setembro. Andei no final do ms de julho e o ms de agosto a processar a ideia o ms do emigrante (risos) e depois em setembro conclui que precisava de um plano B. Como era cliente aqui do mercado, disse para mim, Porque no?.

    Assumiu tudo sem medo? Como se processaram os primeiros passos do negcio?Bem, ainda h questes que me deixam de p atrs, mas a desconfiana natural de quem arranca de fresco. Havia duas lojas por ocupar e uma delas era esta aqui na entrada. Achei estranho estar desocupada. Depois percebi que as portas desta entrada estiveram fechadas durante algum tempo para diminuir a corrente de ar no mercado. E como esta loja foi das ltimas a ser ocupada passava-se pouco aqui e as pessoas valorizavam pouco o espao. E esta a porta mais central. Achei o espao engraado, diferente e nico no Porto, para j. Eventualmente haver um semelhante no Bolho. No temos ambiente de shopping, mas temos horrio alargado. Estamos abertos at s 23 e sexta e sbado at meia noite e tambm funcionamos ao domingo. Temos ainda o hotel e contamos com a alavancagem do turista. So muitos os fatores que fizeram este projeto apetecvel.

    E, felizmente, no est s nesta aventura.A vontade e a ambio para que este projeto cresa, fez com que surgisse uma aliana de elevado valor afectivo e profissional. Uni-me assim ao Rui Almeida que, para alm de ex colega, amigo. Alis, considero-o famlia e por isso decidimos juntar ao meu sonho a sua vontade e capacidade de trabalho, que nada condizem com a idade que apresenta o seu BI. Isso rev-se na energia demonstrada ao abraar um projeto que tem como seu e acredita sem qualquer receio. Depois de iniciar a sua atividade como tico no Ulloa ptico durante seis anos , de 31 anos de tica Boavista e de mais dois num projeto familiar, o Rui reeinventa-se ao integrar o Atelier do Olhar.

    Escolheu a independncia, mesmo sabendo que um percurso moroso.Sim, sem dvida. Persigo a qualidade de vida e paz de esprito e fazer um trabalho com o qual me identifico. Essa foi a ideia principal. Depois tive

    que tomar alguns caminhos, como a opo de no me associar a grupos, que reconheo que um caminho mais difcil, ou o facto de escolher algumas marcas menos conhecidas. um caminho agreste (risos). Assim assumo a loucura por completo e se correr mal sei que tentei tudo. Mas no vai correr mal. Alis, as pessoas entram aqui e cedem s propostas mais arrojadas sem receio! E tem a ver com o prprio mercado do Bom Sucesso. H uma espcie de filtragem natural. Quem procura este shopping no o cliente do shopping tradicional. Apesar da restaurao ainda ser dominante, o potencial est aqui e quem vem beber um copo ao final da tarde tambm passa pela tica.

    Nota-se que escolheu cuidadosamente as propostas em culos. Sim, porque queria apostar numa vertente mais de design e em produtos que tm fatores diferenciadores. Acima de tudo, tenho que me identificar e gostar dos culos. Caso contrrio, no consigo pass-lo ao cliente. Claro que estudo o mercado e cedo

    a favor dos seus desejos, mas nada que seja totalmente fora do meu radar de escolhas.

    Mas no acha que faz parte do trabalho dos ticos tentar moldar os gostos e conhecimentos dos seus clientes?Sim claro, mas tem que ser de forma paulatina. Podemos demonstrar que o cliente tem a possibilidade de usufruir de um modelo com um detalhe superior e qualidade superior sem ter que andar igual a toda a gente. E no precisa de dar mais dinheiro! Somos ns que temos de fazer essa pesquisa e transmiti-la. E existem muitos profissionais que comeam j a procurar estas peas diferenciadoras para se libertarem da influncia dos grandes grupos, j que estes impem a compra de um determinado nmero de marcas.

    E quanto forte concorrncia que o rodeia?Devo dizer que consegui alugar o espao antes de uma colega que tambm queria abrir aqui uma tica. E, portanto, abriu aqui perto (risos). E at j conversmos e, nestas situaes, acredito que cada um faz o seu caminho sem problema. No me preocupa em absoluto. E at nem acredito na questo das marcas exclusivas de uma s loja, como j me propuseram, porque bom que estas tenham expresso. Valoriza o produto se este estiver presente em bons espaos de venda. Torna o trabalho mais fcil para todos.

    Com os seus anos de experincia, que leitura faz do mercado?Acho que devia estar mais regulado, porque chegamos

    a uma altura em que vale tudo, em termos de oferta de produto e em termos de abertura de lojas. Alis, se calhar, noutra situao, eu no poderia abrir aqui a loja, pela proximidade com outras. Devia haver uma regra nesse sentido. Depois instala-se a concorrncia brava, em que se vende a qualquer preo. E quem quer trabalhar bem, com um bom produto e a cumprir com todos, tem mais dificuldades do que quem faz alguns tipos de malabarismo. Pensei que esta histria da crise ia limpar isto um bocado. Mas isso no aconteceu.

    E considera que pertence a uma nova gerao de ticos?Sim, perteno a uma gerao que est predisposta a aprender com o cliente. que, por vezes, estamos perante quem sabe mais de determinada marca que ns que somos da rea.

    Quanto ao futuro do Atelier do Olhar?Ainda no um projeto acabado porque tenho muito que fazer, mas no quero ter uma cadeia de ticas (risos). No mximo duas.

    E como surgiu o nome?Bem podia dar-lhe uma verso bonita, mas dou-lhe a real (risos). Tudo aconteceu numa noite de copos com um amigo arquiteto, um amigo designer, responsvel pelo logtipo e outro amigo que me est a fazer o site. Queramos um nome original, o que no fcil no meio de quase 2000 ticas. Mas achmos que atelier remetia para o alfaiate e o feito por medida e escolhemos o olhar, porque quase potico.