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1 ATÉ QUE PONTO A NAVALHA DE OCKHAM É NECESSÁRIA? BORTOLOTTI, Ricardo Gião (UNESP-Assis) Introdução A escolha do tema partiu de uma curiosidade. Lendo sobre Ockham, e a sua famosa navalha, resolvemos examinar os escritos de Peirce a fim de observar se ele tocava no assunto. Até então, não havíamos notado qualquer alusão, a não ser quanto às críticas que o Venerabilis Inceptor remete à teoria dos universais, em Scotus. Para nossa surpresa há, em Peirce, diversas passagens sobre a navalha em seus trabalhos, e muita coisa sobre o nominalismo de Ockham. Para Peirce, a navalha é um bom princípio, mas não deve ser utilizada em todos os casos, pois, segundo o autor, o princípio de parcimônia poderia conduzir o incauto a um tremendo desastre. Na verdade, Peirce não aconselha o seu uso nas questões práticas, nas chamadas “crenças práticas”. Tais crenças não apresentam um corpus fechado e absoluto de conhecimento sobre o mundo, mas são hipóteses acerca do real, cujo propósito é orientar a nossa conduta. Como escolher entre duas hipóteses, as quais apresentam alguns aspectos do real, mas não o todo? Seria desvantajoso para o usuário descartar-se de uma delas, sem, no entanto, utilizar-se, de imediato, conforme manda o seu instinto, da hipótese que se lhe apresentasse mais conveniente, sem apelar para a reflexão. Vale, neste caso, o sentimento. A razão, que almeja demonstrações, permanece em segundo plano. Para Ockham, segundo alguns de seus comentadores, o princípio assume contornos metodológicos, mas ele não descarta o uso metafísico, como podemos observar na crítica que dirige a Scotus e aos realistas. Em outros termos, propor entidades, como “espécies” ou “naturezas”, para mediar entre o que se apresenta aos sentidos e ao nosso intelecto, defendendo a universalidade e a realidade dessas entidades, consiste em ato supérfluo. Da mesma forma, Aristóteles criticava Platão e a realidade das idéias, mostrando que sempre haveria a necessidade de uma terceira entre duas que se apresentavam. Com efeito, o Estagirita tratou de trazer esse universo ideal para o mundo real, do indivíduo, buscando, a partir dessa inversão, alcançar a ciência, que versa sobre universais. Os universais, apesar de sua intervenção, continuam valendo em importância para o conhecimento objetivo. Para

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ATÉ QUE PONTO A NAVALHA DE OCKHAM É NECESSÁRIA?

BORTOLOTTI, Ricardo Gião (UNESP-Assis)

Introdução

A escolha do tema partiu de uma curiosidade. Lendo sobre Ockham, e a sua famosa

navalha, resolvemos examinar os escritos de Peirce a fim de observar se ele tocava no

assunto. Até então, não havíamos notado qualquer alusão, a não ser quanto às críticas que o

Venerabilis Inceptor remete à teoria dos universais, em Scotus. Para nossa surpresa há, em

Peirce, diversas passagens sobre a navalha em seus trabalhos, e muita coisa sobre o

nominalismo de Ockham. Para Peirce, a navalha é um bom princípio, mas não deve ser

utilizada em todos os casos, pois, segundo o autor, o princípio de parcimônia poderia conduzir

o incauto a um tremendo desastre. Na verdade, Peirce não aconselha o seu uso nas questões

práticas, nas chamadas “crenças práticas”. Tais crenças não apresentam um corpus fechado e

absoluto de conhecimento sobre o mundo, mas são hipóteses acerca do real, cujo propósito é

orientar a nossa conduta. Como escolher entre duas hipóteses, as quais apresentam alguns

aspectos do real, mas não o todo? Seria desvantajoso para o usuário descartar-se de uma delas,

sem, no entanto, utilizar-se, de imediato, conforme manda o seu instinto, da hipótese que se

lhe apresentasse mais conveniente, sem apelar para a reflexão. Vale, neste caso, o sentimento.

A razão, que almeja demonstrações, permanece em segundo plano.

Para Ockham, segundo alguns de seus comentadores, o princípio assume contornos

metodológicos, mas ele não descarta o uso metafísico, como podemos observar na crítica que

dirige a Scotus e aos realistas. Em outros termos, propor entidades, como “espécies” ou

“naturezas”, para mediar entre o que se apresenta aos sentidos e ao nosso intelecto,

defendendo a universalidade e a realidade dessas entidades, consiste em ato supérfluo. Da

mesma forma, Aristóteles criticava Platão e a realidade das idéias, mostrando que sempre

haveria a necessidade de uma terceira entre duas que se apresentavam. Com efeito, o

Estagirita tratou de trazer esse universo ideal para o mundo real, do indivíduo, buscando, a

partir dessa inversão, alcançar a ciência, que versa sobre universais. Os universais, apesar de

sua intervenção, continuam valendo em importância para o conhecimento objetivo. Para

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Ockham, um nominalista1, sabemos da proeminência do indivíduo e do tratamento conferido

aos universais, no seio de sua lógica.

Abordaremos, pois, estes dois pensadores: Peirce e Ockham. Não adentraremos nos

meandros do pensamento de Ockham, mas apenas no que se entende por “navalha de

Ockham”, sua definição e características. Para isso, evidentemente, não precisaremos discutir

Ockham desde seus primeiros escritos, suas teorias etc. Temos consciência das controvérsias

no uso desse princípio, mesmo nos escritos do autor, porém, reservamos o direito de deixar

essa abordagem para o pesquisador especialista. Por conseguinte, este trabalho tratará do que

se entende por “navalha de Ockham”, princípio de parcimônia ou de economia, enunciado por

Ockham em passagens de seus escritos. Procuraremos, no entanto, abordar o seu significado

conforme os contornos ontológicos que assume na discussão dos universais e no

nominalismo.

Esclarecido esse princípio, discutiremos o uso que faz dele Peirce.

1 – A navalha de Ockham

Segundo Vier (1997) e Boehner (1990), este princípio não é originário de Ockham,

mas já se encontra, em formas variadas, nos escritos de Aristóteles e de alguns escolásticos,

como Odo Rigaldus – na versão “Frusta fit per plura quod potest fieri per unum” (“Faz-se

inutilmente com muitas coisas, o que se pode fazer com poucas”) (BOEHNER, 1990, p. XX,

nota 2; apud VIER, 1997, p. 122) – e Duns Scotus – na versão “Nunquam est ponenda

pluralitas sine necessitate” e “Natura non abundat in suplefluia nec deficit in necessariis”

(VIER 1997, p. 122). E, Gilson, na sua majestosa História da filosofia cristã, ao se referir a

Pedro Aureole, atribui a ele o princípio, na forma: “Multitudo ponenda non est, nisi ratio

evidens necessaria illud probet aliter per pauciora salvari non posse” (GILSON, 1955, p. 779;

apud VIER, 1997, p. 122).

Segundo Vier (1997) há, na verdade, duas maneiras de abordar tal princípio: o

ontológico e o metodológico. Estudiosos consagrados discutem sobre a validade do uso desse

princípio na acepção ontológica, especificando a sua aplicação metodológica, uma vez que

não se tem conhecimento do uso da máxima Entia non sunt multiplicanda praeter

necessiatatem, por Ockham. 1 Não desconhecemos as objeções sobre a aplicação do termo “nominalista” a Ockham, porém, neste artigo, referir-nos-emos a ele e a suas teorias como sendo “nominalistas”, como usualmente deparamos em Peirce.

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Sobre o princípio de economia e sua aplicação, por Ockham, Boehner (1990, p. XXI),

na investigação de sua obra, encontra diversas formulações, mas nenhuma que apresentasse o

uso metafísico2. Diante disso, afirma peremptoriamente:

O que Ockham exige nessa máxima é que todo aquele que faz asserção deve ter uma razão suficiente para a sua verdade. A “razão suficiente” se define como (1) a observação de um fato, ou (2) uma intuição (insight) lógica imediata, ou (3) a revelação divina, ou (4) uma dedução a partir destas. Esse princípio de “razão suficiente” é epistemológico ou metodológico; certamente não é um axioma ontológico (BOEHNER, 1990, p. XXI; apud VIER, 1997, 124-125).

Ora, a orientação de Ockham, segundo seus comentadores, é que se respeitem algumas

normas, ou seja, não requerer o princípio de parcimônia para a explicação de um efeito, sem,

no entanto, atentar para uma razão, a qual decorra de uma verdade em si ou de uma

experiência certa (VIER, 1997, p. 125). Em outros termos, deveríamos cuidar para não

multiplicar os termos, criando concepções e mediações sem que haja exigências,

rigorosamente explícitas, conforme os cânones da razão.

Há um uso, exposto no Livro I da Physica, no qual Ockham comenta e critica o

infinitismo de Anaxágoras, que nos parece apropriado citar integralmente:

Este filósofo infere que é melhor considerar o princípio finito, como fez Empédocles (que possui seis princípios: quatro elementos, a luta e a amizade) do que considerar um princípio infinito, como o de Anaxágoras; porque, como podem ser considerados da mesma forma, tanto pelos princípios finitos como pelos infinitos, deve-se evitar a pluralidade de elementos sem que haja necessidade. Por isso, devem-se preferir os finitos, e não os infinitos (Expos. Phys., ms. Berlim lat. 2º 41, f. 97ra; cit. AP. Methke, op. cit, p. 239; apud VIER, 1997, p. 126).

E, Aqui, a terceira razão (i.e., em favor da não infinidade dos princípios das coisas): Faz-se inutilmente com muitas coisas, o que se pode fazer com poucas. Mas tudo o que pode ser considerado por princípios infinitos podem ser salvos pelos finitos, assim como Empédocles, que, a partir de

2 Boehner cita várias passagens da navalha, enunciada por Ockham; nas palavras daquele autor: “‘Plurality is not to be posited without necessity’ (Pluritas non est ponenda sine necessitate), and also, though seldom: ‘What can be explained by the assumption of fewer things is vainly explained by the assumption of more things’ (Frustra fit per plura quod potest fieri per pauciora)”. No entanto, para Boehner, a forma comumente usada: “Entities must not be multiplied without necessity” (Entia non sunt multiplicanda sine necessitate), não parece ser utilizada por Ockham. Ainda, segundo o autor: “What Ockham demands in his maxim is that everyone who makes a statement must have a sufficient reason for its truth, ‘sufficient reason’ being defined as either the observation of a fact, or a deductin from these. This principle of ‘sufficient reason’ is epistemological or methodological, certainly not an ontological axiom.” (BOEHNER, 1990, p. XXI).

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princípios finitos, salvou as aparências, mostrando que Anaxágoras salvou-as a partir de princípios infinitos. Portanto, os princípios são finitos e não infinitos (ibid., f. 98vb; apud VIER, 1997, p. 126)3.

A orientação metodológica é, de fato, aparente no princípio Melius est ponere finita,

no entanto, estaríamos no caminho certo, descartando inteiramente o princípio ontológico das

preocupações de Ockham? O princípio metodológico, com efeito, está no conselho pela opção

da teoria que explique, com a ajuda de “fatores” mínimos (VIER 1997, p. 127)4. Além disso,

segundo Vier, há dois pontos importantes na aplicação do princípio de economia: ajuda na

escolha de teorias e possui uma função crítica na formulação dessas mesmas teorias (VIER

1997, p 128). Uma explicação pode apresentar fatores insuficientemente assegurados pela

razão ou pela experiência, ou, também, apresentar um excesso de fatores para uma explicação,

como a elaborada por Anaxágoras.

Mas, se há razões de sobra para a aplicação metodológica, também não deixamos de

encontrá-las para a aplicação ontológica, como podemos notar pela discussão da questão dos

universais, uma das controvérsias mantidas pelo autor, e debatida por muitos estudiosos,

especialmente Peirce.

Segundo a orientação de Vier, o caráter universal do princípio de economia é

inteiramente válido, na sua aplicação na esfera da metafísica, como também o seria na esfera

da física. Ockham faz isso frente a muitos problemas (VIER, 1997, 131). Assim, Ockham

elimina os fatores mediadores das teorias, como as “espécies”, a “natureza comum”, as

categorias de Aristóteles (permanecendo apenas com duas: a qualidade e a substância), idéias

cosmológicas de Aristóteles (matéria celeste e sublunar) e aqueles ligados ao movimento local

e ao ímpeto5.

A teoria dos universais merece um comentário à parte, uma vez que é representativa

do nominalismo, no seio do realismo peirceano. Segundo Ockham, os universais são ficções

mentais, utilizados para falar do conjunto de singulares, que existem de fato. Para o realismo

3 A tradução de ambos os trechos são de nossa inteira responsabilidade. 4 Em Quodl.. VI, q. 6, deparamos com um princípio diferente do da parcimônia, o princípio da plenitude ou da onipotência, o qual afirma “Quodlibet est divinae potentiae atribuendum quod non includit manifestam contradictionem”. Ora, segundo a explicação de Vier (1997, p. 129-130), o Deus cristão é libérrimo, e, por isso, seria impensável limitar o seu poder. Além disso, ainda segundo Vier, a aplicação do princípio de economia a Deus, seria estabelecer uma necessidade ou determinismo, conforme os racionalistas modernos, negando que a criação seja contingente, e Deus é livre para o que desejar, menos a contradição. 5 “Ockham refuta, não só a teoria peripatética que postula um movimento ‘intermediário’ (comunicado ao meio, ou ao ar circundante, através do qual o projétil se move), como também a teoria do ‘ímpeto’...” (VIER, 1997, p. 132). Segundo Vier, Ockham teria antecipado a teoria da inércia (133). Para um estudo da influência das teorias de Ockham no advento do pensamento moderno, confira Ghisalberti (2001).

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escotista, a mediação de “naturezas” ou “essências” é necessária para a constituição da

espécie inteligível e dos conceitos gerais. A natureza comum, como define Scotus, indiferente

e indeterminada, tanto ao singular quanto ao universal, é a solução encontrada para a questão

da predicação de um conceito a indivíduos da mesma espécie, sem que o conceito se perca na

singularidade do ato. Para a individuação da essência, Scotus cunhou o termo “haecceitas”, o

qual não se diferencia realmente da natureza comum, apenas formalmente6. Em suma, não há

distinção real entre a existência e a essência.

Não é preciso estender a discussão além desse ponto, mas apenas atentar para o fato de

que, para Ockham, se as coisas são distintas, então elas devem ser realmente distintas (SL, I,

c. 16). Como o autor não aceita a realidade dos universais, a não ser a dos indivíduos,

mantendo a universalidade apenas no plano da significação, ou seja, da ordem do signo, a

proposta de Scotus não se sustenta. Ademais, nas refutações da realidade dos universais,

Ockham se utiliza, segundo seus comentadores (ARIEW, 1976; BOEHNER, 1990; VIER,

1997) do princípio de plenitude, o qual faculta a Deus liberdade para criar e separar os

indivíduos de suas substâncias, conforme Lhe apraz (SL, I, c. 15).

O princípio de plenitude, amplamente utilizado por Ockham, adensa a discussão,

mostrando-nos que o pensamento de Ockham não deve ser explorado sem o devido cuidado.

A chamada “navalha de Ockham”, atribuída ao gênio lógico do autor, que requeria análise

detalhada das teorias de seus oponentes, interessa-nos enquanto um instrumento para aparar o

excesso de entidades e conceitos. Veremos que Peirce a utilizará em ambas as perspectivas,

mas da forma em que não é encontrada em Ockham, ou seja, Entia non sunt multiplicanda

praeter necessiatatem, a qual seria mais apropriada sob o registro ontológico.

Em resumo, podemos dizer que discussão empreendida por nós apresentou dois

princípios, envolvidos nas teorias de Ockham: o princípio de economia, que pode ser

encontrado em duas perspectivas: metodológica e ontológica – esta última, conforme sérias

objeções (ARIEW, 1976, pp. 16, 17, 18 e19)7; e o princípio de plenitude, que assevera a Deus

6 OCKHAM. Lógica dos termos. Tradução de Fernando Pio de Almeida Fleck. Porto Alegre: EDIPUCS, #16, p. 166. Para essa obra, utilizaremos a sigla SL, seguida por dois números, indicando, respectivamente, a Parte e o capítulo; exemplo: SL, I, c. 22. 7 Ariew (1976, p. 19) cita um trecho de Ockham, a propósito da controvérsia do uso dos princípios: “God does many things by means of more which He could have done by means of fewer simply because He wishes it. No other cause must be sought for and from the very fact that God wishes, He wishes in a suitable way, and not vainly (Super 4 Libros Sententiarum, I. D. 14, Q. 2G.)” Ora, segundo Ariew (1976, p. 20), esse princípio parece contradizer a posição usualmente atribuída a Ockham, pois parece propor a multiplicação de entes, e não o contrário.

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a liberdade absoluta de criar. No próximo item, estaremos interessados no uso peirceano da

navalha de Ockham.

2 – O uso peirceano da Navalha de Ockham

Peirce toca na “navalha de Ockham” em inúmeras passagens de sua obra, e ele a

enuncia da seguinte forma: Entia non sunt multiplicanda praeter necessiatatem (“Não se deve

multiplicar os entes sem necessidade”) (CP-4.1)8, ou seja, uma hipótese não deveria

apresentar qualquer complicação na explicação dos fatos. Segundo Peirce, um declarado

realista, este é um princípio sadio, que deve ser levado em conta pelos lógicos, e que, embora

seja uma regra nominalista, não contradiz a concepção realista. Segundo Peirce, a questão

nominalista é esclarecer se os universais, como “O cavalo”, “a zebra”, etc. estão in re ou in

rerum natura. Ora, a questão, transportada para o cenário da ciência moderna, é se os

universais a chamar a atenção estão na noção de lei e de regularidade (ibidem). Sob essa

perspectiva, o autor enuncia o problema atual:

Grosseiramente falando, os nominalistas concebiam que o elemento geral da cognição era apenas conveniente para entender este ou aquele fato, equivalendo somente à cognição; enquanto os realistas, falando ainda mais grosseiramente, tomam o geral, não apenas como fim ou objeto do conhecimento, mas também como o mais importante elemento do ser (CP-4.1).

Segundo Peirce, quanto ao método científico, parece que os nominalistas estão certos,

afinal os fatos submetidos à generalização passam por uma severa crítica, antes de ser

empregados como premissas. Ora, ainda, conforme o autor, todos deveriam ser nominalistas

até atingirem fatos irreconciliáveis para a sua posição. Na verdade, ele parece correto, até

certo ponto, no âmbito da matemática, por exemplo, enquanto tal ferramenta não exigir um

salto, como o observado pela lógica dos relativos, frente à lógica tradicional, ou seja, uma

mudança de paradigma, a qual envolve novos fundamentos, que não se adéquam a uma lógica

baseada num modelo dual, inteiramente confinada às representações gramaticais, sujeito e

predicado. Segundo Peirce, a partir daí, o nominalista agiria como o ponto cego da retina, que

8 Citaremos os trabalhos de Peirce conforme o padrão aceito pelos seus comentadores: “CP-4.1”, significa Collected Papers, volume 4 e parágrafo 1.

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omite fatos que se fixam à sua volta; o nominalista observaria tudo, sem, no entanto, perceber

os abismos existentes em sua visão de mundo (CP-4.1).

Tal posição não é novidade, pois Peirce repudia o nominalismo. Num texto sobre o

Pragmatismo, um método de tornar claras nossas idéias, conforme o exame das

“conseqüências práticas” de um conceito, o autor, novamente, tece o seguinte comentário, no

qual revela sua insatisfação com o nominalismo e o fio afiado de sua navalha:

Não há dúvida, então, que o pragmatismo abre um fácil caminho para a solução de uma variedade imensa de questões. Mas não se conclui, absolutamente, que isso seja verdadeiro. Ao contrário, alguém pode desconfiar sobre o método que resolve com tanta facilidade as questões mais difíceis, como se fossem problemas fáceis. Não duvido que a navalha de Ockham seja logicamente sadia. Uma hipótese poderia ser despojada de todas as características que não sejam chamadas de “sensatas”, na explicação de fatos observados. Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem; apenas podemos muito bem duvidar se uma simples hipótese pode conter todo fato que é necessário. Certamente muitas hipóteses, que, inicialmente, pareciam unir grande simplicidade com total suficiência, com o progresso da ciência, aparecem excessivamente complicadas. (CP-5.26).

O método preconizado por Peirce busca verificar as conseqüências práticas de um

conceito. Atentemos às palavras do autor:

(...) (a) crença consiste principalmente em ser deliberadamente preparada para adotar a fórmula, acreditada como um guia para a ação. Se isso é verdade da natureza da crença, então, indubitavelmente, a proposição acreditada não passa de uma máxima de conduta. (CP-5.27)

Atentem para o fato de que uma concepção, diante do princípio de economia, deve ser

a mais simples. Isto é o que lhe conferiria validade. A máxima de Peirce proclama que

devemos atentar para as conseqüências práticas de uma concepção, e que tais conseqüências

são, na verdade, o que está implicado na concepção ou crença. Em outros termos, segundo o

autor, teríamos que examinar os concebíveis efeitos práticos que uma concepção poderia

acarretar. Ora, a História mostra-nos que a escolha de teorias não se faz da mesma maneira

pela qual se troca de roupa. A verdade de uma concepção não se apresenta in toto no presente

imediato, mas se manifesta conforme a investigação é conduzida adiante, mobilizando cada

vez mais investigadores, comprometidos com os desdobramentos futuros daquela concepção.

De fato, a aplicação da máxima é uma norma sadia, adotada pelo pesquisador, que tem em

mente a busca da explicação mais simples do estado de coisas. Entretanto, veremos que há

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casos em que a urgência determina escolhas, as quais estão mais próximas do sentimento do

que da razão.

Nos CP-5.60, Peirce, expondo novamente o enunciado da navalha, completa seu

raciocínio:

Jamais houve uma máxima lógica mais sadia do procedimento científico do que a navalha de Ockham: Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem. Isto é, antes de você tentar uma hipótese complicada, você poderia verificar se nenhuma simplificação dela explicaria os fatos igualmente bem. Não interessa se, para tal, fossem gastas cinqüenta gerações e árdua experimentação para destruí-la; e não interessa quão incrível possa parecer que aquela hipótese mais simples pudesse ser suficiente, ainda cinqüenta gerações nada são na vida da ciência, que tem todo o tempo para ela; e, in the long run, digo que, em alguns milhares de gerações, o tempo será economizado por proceder de maneira ordenada, efetivando, assim, uma regra inviolável ao tentar, em primeiro lugar, a hipótese mais simples. De fato, alguém jamais estará certo de que a hipótese mais simples não é a verdadeira, até que sua causa tenha sido combatida até o amargo fim. Mas você assinalará o limite de minha aprovação da navalha de Ockham. É uma máxima sadia de procedimento científico. Porém, se a questão fosse sobre aquilo em que alguém deveria acreditar, a lógica da situação deveria tomar outros fatores em consideração. Estritamente falando, a noção de crença está fora da ciência teorética, que tem o estabelecimento de doutrinas como o que se encontra mais próximo dela, e apenas o seu estabelecimento provisório. Comparada com a crença viva, não passa de um fantasma. Se o capitão de um navio a sotavento, em direção à terra, sob uma terrível tempestade, encontra-se em uma posição crítica, na qual ele deve instantaneamente colocar seu leme, escolherá ou a bombordo, agindo conforme uma hipótese, ou a estibordo, agindo conforme a hipótese contrária. A escolha errada poderá decidir a sorte de seu navio. A navalha de Ockham não é equivalente à firme crença do homem do mar. Pois, a crença firme pode salvar o navio, enquanto a Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem não passaria de um modo estúpido de significar naufrágio. Agora, no que concerne à prática real, estamos todos na mesma situação do capitão do navio9.

Dois pontos sobressaem, nessa apresentação: o primeiro apresenta as concepções

científicas como sendo do campo teórico, e, por isso, trabalhadas num contexto específico, no

qual envolve processos de depuração de hipóteses e formulação de teorias. O segundo se

refere à crença prática10, a qual não deixa de lado certas teorias, mas o nível de exigência não

é o mesmo, para a garantia da sobrevivência. Antes de adentrarmos nesses pontos, um

esclarecimento é necessário: a exigência nominalista da navalha teria cortado hipóteses que

9 Itálico nosso. 10 Para Peirce, a crença é um hábito da mente que se contrapõe à dúvida, definida por um estado de hesitação, de indeterminação frente à ação (CP-5.417).

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explicariam, de maneira mais condizente, a realidade. Vejamos como o autor apresenta esse

problema.

Peirce critica a aceitação incondicional da explicação mecânica do real, pois restringe

todos os fenômenos à ação e reação. Para o autor, a realidade é geral, e explicada pela

evolução desses gerais, e não meramente pela ação mecânica. A explicação mecânica é dual e

cartesiana, deixando a desejar quanto à compreensão das leis e sua evolução. Tal posição é

defendida pelo Idealismo Objetivo, cuja tendência era explicar a evolução do universo através

da ação de leis evolutivas ou hábitos. Frente a essa concepção, a separação entre duas

instâncias, mente e matéria, não explicaria satisfatoriamente a origem das leis, nem o

crescimento do universo (CP-6.24-25). Acrescente-se que, uma teoria dualista, e que respeite

a navalha, como dissemos, não aceitaria a realidade dos gerais, reduzindo o mundo físico em

considerações mecânicas, enquanto tais gerais não passariam de ficções mentais. Mas a

consideração do mundo como mera uniformidade, destituída de um propósito futuro, não

explicaria satisfatoriamente a indução, e tenderia a assumir os fenômenos desconectados, com

sua ação atual. Atentemo-nos às palavras de Peirce:

Utilizada assim, a palavra (“uniformidade”) implica em fatos inteiramente desconectados, unidos apenas pela mente. Uma pedra caindo não tem conexão real com outra pedra em direção à terra. Certamente, não há dificuldade em ver que tal teoria das uniformidades seria, longe de ajudar a estabelecer a validade da indução, se consistentemente admitida, uma objeção insuperável para a sua validade. Pois, se dois fatos, A e B, são inteiramente independentes em sua natureza real, então a verdade de B não poderá seguir-se, ou necessariamente ou provavelmente, à verdade de A. Se eu tivesse tentado o experimento com um milhão de pedras, achando que todas elas cairiam quando soltas no ar, pode parecer muito natural crer que quase todas agirão do mesmo modo. Mas, se pudesse ser provado que não há conexão real entre o comportamento de diferentes pedras, então nada haveria para dizer, senão que foi coincidência que milhões de pedras se comportassem da mesma maneira; pois, se houvesse qualquer razão para isso, e elas realmente caíssem, haveria uma razão geral e real. Agora, se todas as pedras caíssem por mero acaso, isso não seria uma razão a mais para supor que a próxima cairia, do que se eu tirasse duas vezes seis, sucessivamente, com um par de dados, seria uma razão para pensar que o próximo lance repetiria o duplo seis. (CP-6.99).

Em outros termos, se o futuro se diferencia do passado, como explicar isso através das

leis de Newton, ou seja, conforme as condições reunidas, como poderíamos retornar ao

passado, uma vez pressuposta a evolução do cosmos? Essa dificuldade em relação à teoria

newtoniana é óbvia. Segundo Peirce, a teoria mecânica, ao usar o princípio da navalha de

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Ockham, criando dualidade e fazendo da mente o depositário das leis, estabeleceu um impasse

que somente poderá ser resolvido pelo Idealismo Objetivo, ou seja, abordando a realidade dos

universais. Atentando às leis, como elemento real, explicaríamos a evolução do universo, e

conseguiríamos prever o futuro a partir de uma hipótese falível e provisória (CP-5.535). Na

verdade, não há, na perspectiva de Peirce, uma teoria completamente satisfatória, a ponto de

explicar os fenômenos em sua integridade, mas, mesmo assim, com uma explicação frágil, ela

não perde sua utilidade; é o que o próprio autor afirma: “... uma teoria não perde

necessariamente sua utilidade por não ser completamente verdadeira.” (CP-7.94). Uma lei,

mesmo como a da atração, não possui números inteiramente redondos (cf. CP-7.95).

Lembremo-nos também das inúmeras teorias que, durante longos períodos, serviram para a

orientação dos homens, e que, com o tempo, foram reveladas insatisfatórias frente a novas

necessidades. Não foi assim com a concepção cosmológica de Aristóteles e de todo avanço da

ciência?

Assim, podemos observar que no plano teórico, mesmo com o rigor das exigências da

Lógica, a possibilidade de novos estudos e resultados não estaria encerrada. Por outro lado, o

cientista não deve adiantar o passo, seguindo o ritmo próprio da pesquisa, que, se orientada

para a verdade, estende-se para o futuro. Mas, se no âmbito das ciências ainda permanece

certa indeterminação, o que dizer do plano de nossas crenças práticas? Com efeito, parece-nos

que o uso absoluto da navalha poderia acarretar problemas graves nessa área, uma vez que

tais crenças estão envolvidas com as questões mais imediatas da vida. Como notamos no caso

do capitão de navio, o fator urgência comandou a sua decisão, a qual, se correta, poderia ter

salvado o navio. Com Peirce:

Na sua própria essência a razão é egoísta. Em muitos assuntos, ela gira em círculos. Não tenho dúvidas de que as abelhas pensam que possuem uma boa razão para fabricar as suas células. Mas estaria muito surpreendido se soubesse que sua razão tivesse resolvido aquele problema da isometria que o seu instinto tinha resolvido. Muitas vezes, os homens imaginam que agem movidos pela razão, quando, de fato, tal razão não é mais do que desculpas inventadas pelo seu instinto inconsciente, a fim de satisfazer a provocação dos “por quês” do ego. A extensão dessa auto-ilusão é tal, como para tornar o racionalismo filosófico uma farsa. (CP-1.631).

Agimos, em caso de extrema necessidade, ou frente às questões vitais, em

conformidade com nossos instintos ou sentimentos. É o caso do capitão do navio e do que

Galileo chama Il lume naturale (Cf. CP-1.630). Embora o sentimento seja parte constitutiva

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de nossa cognição, pode ser, com o tempo corrigido pela razão, e a crença formada,

descartada; da mesma forma, dispensamos os resultados da razão, caso não correspondam às

exigências da realidade.

Para Peirce, a ciência pura nada tem com a ação, pois nada é vital para a ciência,

“nada pode ser” (CP-1.635). O cientista aceita uma lista de proposições, inteiramente

provisórias, as quais, a qualquer resistência da experiência, ele estará pronto a descartar.

Algumas proposições mantidas pelo cientista ganham foros de verdade, para a sua satisfação;

porém, sua missão é trabalhar essas proposições ao longo do tempo, enquanto a investigação

da comunidade assim o exigir. Por isso, Peirce afirma peremptoriamente:

Assim, o conhecimento teorético puro, ou ciência, nada tem a dizer, diretamente, sobre os assuntos práticos, uma vez que não é aplicável às crises vitais. Na verdade, a teoria é aplicável aos negócios práticos sem importância, enquanto os assuntos de importância vital devem ser deixados para o sentimento, ou seja, para o instinto. (CP-1.637)

Assim, para a sobrevivência e crises, situações nas quais o sentimento fala mais alto

que a própria razão, seria um tremendo erro aplicar a navalha de Ockham, uma vez que, por

meio dela, teríamos que jogar com a teoria mais simples, esperando, no entanto, que essa

“simplicidade” também conote coerência e completude. Com efeito, o instinto também exerce

um papel essencial na escolha de hipóteses, quando da descoberta científica. E, por que não?

Os pássaros e certos animais migram conforme seus relógios internos, sem que ninguém os

tenha ensinado: é instintivo. Da mesma maneira, o homem, uma criatura dotada de

sentimentos, e que utiliza sua razão na construção de teorias, também não teria algo assim a

orientá-lo, embora de maneira inconsciente?

3 – A guisa de conclusão

A navalha de Ockham constitui uma ferramenta para o nominalista, embora seu

critério deva ser levado em conta dentro de certos limites. Obviamente procurar a depuração

de teorias e trabalhá-las de modo crítico é essencial, colocando-as na rota da verdade; tal é o

papel de todo cientista. Por outro lado, o limite desse critério pode ser traçado pelo realista,

preocupado com a restrição que a escolha da hipótese mais simples poderia acarretar.

Ademais, segundo a aplicação desse critério, a escolha de certas concepções impediria uma

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adequação mais satisfatória da teoria com o real. Além disso, quando se trata de questionar a

realidade e sua generalidade, o princípio de parcimônia não perdoa, preferindo a hipótese

mais simples, rejeitando aspectos importantes, as quais explicariam mais convenientemente a

evolução das leis. Há, inclusive, a questão das crenças práticas, de vital importância. A

aplicação do princípio, nesse âmbito, colocaria em perigo aquele que assim procedesse. Em

muitos casos, a escolha é inconsciente, e só após o trabalho da crítica é que notaríamos e

compararíamos várias hipóteses. Entretanto, a essa altura, já estaríamos no registro da ciência,

que não se atém à utilidade do homem comum e de suas questões de sobrevivência.

Referências

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BOEHNER, Ph. (Ed.). Philosophical writings: a selection/William of Ockham. Tradução, introdução e notas de P. Boehner. Indianópolis: Hackett Publishing Company, 1990.

BURKS, A. (Ed.) Collected papers of Charles Sanders Peirce. Cambridge: Harvard University Press, 1958, v. 7-8.

GHISALBERTI, Alessandro. As raízes medievais do pensamento moderno. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

GILSON, Etienne. History of Christian Philosophy in the Midlle Ages. New York: Random House, 1955.

GUILHERME DE OCKHAM. Lógica dos Termos. Tradução de Fernando Pio de Almeida Fleck. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999.

HARTSHORNE, C. & WEISS, P. (Eds.) Collected papers of Charles Sanders Peirce. 4 ed. Cambridge: Harvard University Press, 1974, v. 1-6.

VIER, Raimundo. A “Navalha de Ockham”. In: GARCIA, Antônio. Estudos de Filosofia Medieval – A obra de Raimundo Vier. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Universidade São Francisco, 1997.

WILLIAM OF OCKHAM. Quodlibetal Questions (Quodl. 6). Traduzido por Alfred J. Freddoso e Francis E. Kelley. New Haven: Yale University Press, 1991.