ata de audiÊncia - processo n. 1272-2004-110-03-00-8 1 … · trabalhista em face da reclamada...

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455 Rev.Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70, p.455-479, jul./dez.2004 1 - RELATÓRIO A reclamante ajuizou reclamação trabalhista em face da reclamada expondo, em síntese: que trabalhou como repórter, tendo produzido várias fotografias em suas matérias jornalísticas, utilizadas pelo reclamado sem pagamento das mesmas em violação aos artigos 24, 28, 29 da Lei n. 9.610/98, fazendo jus à indenização por danos patrimoniais e morais. Atribui à causa o valor de R$12.000,00. Junta procuração e documentos. A reclamada contestou o feito requerendo a aplicação da prescrição bienal e qüinqüenal. No mérito, contestou todos os pedidos declinados na peça de ingresso dizendo em síntese que a reclamante produzia fotografias para ilustrar suas matérias, sem obrigação em fazê-lo, não tendo tirado todas as fotos que alega. Aduziu que dentro de sua função está compreendida, na pior das hipóteses, a de tirar fotos, inexistindo amparo para indenizações pleiteadas. Requereu a improcedência da ação. Juntou preposição, procuração e documentos. Depoimento pessoal da preposta. Sem mais provas, encerrou-se a fase instrutória. Conciliações sem êxitos. É o relatório. 2 - FUNDAMENTAÇÃO 2.1 - Prescrição Não há como se acolher a prescrição bienal extintiva da ação como pretendido pelo demandado, uma vez que a ação anteriormente proposta pela reclamante, extinta sem julgamento do mérito em face da desistência, produziu o efeito jurídico assegurando a interrupção da prescrição, não obstado pelo fato de ter sido descumprido prazo para juntada de instrumento de procuração pelo procurador da reclamante na ocasião, fato sanável e que não acarretou qualquer prejuízo ao reclamado, tanto que não se insurgiu contra a determinação judicial que deferiu o processamento da ação e posterior extinção em face da desistência, não argüindo qualquer nulidade no feito, incorrendo na preclusão, principalmente em face da inexistência de interposição de recurso no momento legal. Acolhe-se, todavia, a prescrição em relação a eventuais créditos da reclamante vencidos anteriormente a 21.09.1999, em face da data do ajuizamento da ação, nos termos do inciso XXIX do art. 7º da Constituição Federal. ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 1272-2004-110-03-00-8 Data: 22.11.2004 DECISÃO DA 31ª VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE - MG Juiz Presidente: Dr. PAULO MAURÍCIO RIBEIRO PIRES Aos 22 dias do mês de novembro do ano de 2004, às 17h35min, na sede da 31ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte-MG, tendo como titular o MM. Juiz do Trabalho PAULO MAURÍCIO RIBEIRO PIRES, realizou-se o julgamento da reclamação trabalhista ajuizada por Marília Damasceno em face de S/A Estado de Minas. Aberta a audiência, por ordem do MM. Juiz do Trabalho, foram apregoadas as partes, ausentes. A seguir, foi proferida a seguinte DECISÃO:

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70, p.455-479, jul./dez.2004

1 - RELATÓRIO

A reclamante ajuizou reclamaçãotrabalhista em face da reclamadaexpondo, em síntese: que trabalhoucomo repórter, tendo produzido váriasfotografias em suas matériasjornalísticas, utilizadas pelo reclamadosem pagamento das mesmas emviolação aos artigos 24, 28, 29 da Lei n.9.610/98, fazendo jus à indenização pordanos patrimoniais e morais.

Atribui à causa o valor deR$12.000,00.

Junta procuração e documentos.A reclamada contestou o feito

requerendo a aplicação da prescriçãobienal e qüinqüenal. No mérito, contestoutodos os pedidos declinados na peça deingresso dizendo em síntese que areclamante produzia fotografias parailustrar suas matérias, sem obrigação emfazê-lo, não tendo tirado todas as fotosque alega. Aduziu que dentro de suafunção está compreendida, na pior dashipóteses, a de tirar fotos, inexistindoamparo para indenizações pleiteadas.Requereu a improcedência da ação.

Juntou preposição, procuração edocumentos.

Depoimento pessoal dapreposta.

Sem mais provas, encerrou-se afase instrutória.

Conciliações sem êxitos.É o relatório.

2 - FUNDAMENTAÇÃO

2.1 - Prescrição

Não há como se acolher aprescrição bienal extintiva da ação comopretendido pelo demandado, uma vez quea ação anteriormente proposta pelareclamante, extinta sem julgamento domérito em face da desistência, produziuo efeito jurídico assegurando a interrupçãoda prescrição, não obstado pelo fato deter sido descumprido prazo para juntadade instrumento de procuração peloprocurador da reclamante na ocasião, fatosanável e que não acarretou qualquerprejuízo ao reclamado, tanto que não seinsurgiu contra a determinação judicialque deferiu o processamento da ação eposterior extinção em face da desistência,não argüindo qualquer nulidade no feito,incorrendo na preclusão, principalmenteem face da inexistência de interposiçãode recurso no momento legal.

Acolhe-se, todavia, a prescriçãoem relação a eventuais créditos dareclamante vencidos anteriormente a21.09.1999, em face da data doajuizamento da ação, nos termos doinciso XXIX do art. 7º da ConstituiçãoFederal.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 1272-2004-110-03-00-8Data: 22.11.2004DECISÃO DA 31ª VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE - MGJuiz Presidente: Dr. PAULO MAURÍCIO RIBEIRO PIRES

Aos 22 dias do mês de novembro do ano de 2004, às 17h35min, na sede da31ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte-MG, tendo como titular o MM. Juiz doTrabalho PAULO MAURÍCIO RIBEIRO PIRES, realizou-se o julgamento dareclamação trabalhista ajuizada por Marília Damasceno em face de S/A Estado deMinas.

Aberta a audiência, por ordem do MM. Juiz do Trabalho, foram apregoadasas partes, ausentes. A seguir, foi proferida a seguinte DECISÃO:

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70, p.455-479, jul./dez.2004

2.2 - Indenização por danomoral e patrimonial

Trata-se de demanda ajuizadapor jornalista que atuou como repórterperante seu ex-empregador, produzindomatérias jornalísticas, algumasacompanhadas de fotografias.

A pretensão da reclamante é deperceber indenização por danos moraise patrimoniais, escorando-se naalegação de descumprimento dodisposto no artigo 24, inciso II, artigo28 e inciso I do artigo 29 da Lei n. 9.610/98, cujos dispositivos asseguram odireito de reivindicação da autoria daobra intelectual com indicação donome, pseudônimo ou sinal queidentifique o autor e o direito de utilizar,fruir e dispor de obra literária, artísticaou científ ica, dependendo deautorização prévia e expressa do autora utilização da obra, de modo integralou parcial.

O reclamado não contesta o fatode terem sido eventualmenteproduzidas fotografias, por iniciativaprópria da reclamante, alegando tratar-se de condição tácita e implícita docontrato de trabalho, sendo que asfotografias eram produzidas paraenriquecimento das matériasjornalísticas.

Inicialmente, há que se fazeralguma consideração acerca do danomoral.

Com efeito, trata-se de lesão ainteresses de cunho não patrimoniais depessoa física ou jurídica, acarretandodor, angústia, desgosto, afl içãoespiritual, humilhação àquele que sofreo dano. É um atentado a valores comoa saúde, bom nome, integridade física,honra, intimidade.

A ação ou omissão voluntária,negligência ou imprudência que causeprejuízo a alguém enseja a reparação.

Através de normaconstitucional, o art igo 5º, X,estabelece a inviolabil idade daintimidade, honra e a imagem daspessoas, assegurando-se-lhes o direitode indenização pelo dano material oumoral decorrente da violação. O que setutela, portanto, é o direito à intimidade,imagem, honra, ocorrendo dano moralquando se atinge a essência do serhumano, ferindo sua dignidade.

A indagação que se faznecessária em se tratando de dano dizrespeito primeiramente à constataçãoda ocorrência do prejuízo, da lesão.

No âmbito do contrato detrabalho, ganham relevo análises desituações que ensejam as reparaçõesdecorrentes dos infortúnios,principalmente considerando-se oemaranhado de envolvimento entreempregado e empregador, conflitando-se, em vários momentos, o poderdiretivo do empregador com o direito àintimidade e à honra do trabalhador. Emsíntese, há necessidade decomprovação de três elementos paraconfiguração do dano. Em primeiro lugardeve haver comportamento doloso ouculposo do empregador. Em segundolugar, o efetivo prejuízo sofrido peloempregado. Em terceiro lugar, o nexode causalidade entre a condutacomissiva ou omissiva e a lesão.

Feita esta primeira análise, ocaso em questão exige ainda ingressona seara dos direitos autorais de modopercuciente com espeque na Lei n.9.610/98 que regula a matéria.

Com efeito, é incontroverso quea reclamante exercia a função derepórter, produzindo matériasjornalísticas e, independente dadiscussão acerca da quantidadeproduzida, também é incontroversa aprodução de fotografias pela mesma, asquais, em várias ocasiões,

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acompanharam suas matérias,conforme prova constante dos autos edepoimento da preposta.

A primeira questão, portanto, quepoderia ensejar discussão, diz respeitoà autoria das fotos, o que no presentecaso é incontestável, sendo areclamante, portanto, autora de váriasfotografias que acompanharam suasmatérias jornalísticas. Resta, portanto,comprovado ser a reclamante autora devárias obras fotográficas.

O artigo 28 da Lei n. 9.610/98que trata dos direitos autorais éexpresso em dispor acerca daexclusividade do autor em utilizar, fruire dispor da obra artística, prevendo oartigo 29, por sua vez, dependência deautorização prévia e expressa do autor,a utilização da obra para sua reproduçãointegral ou parcial, distribuição paraterceiros para uso ou exploração daobra.

A segunda questão que atraidiscussão diz respeito à possibilidadede uso pelo empregador de fotografiasproduzidas pelo empregado que atuoucomo repórter. Neste aspecto, alegislação é omissa. A Lei n. 9.610/98não possui dispositivo que autorize ouimpeça a util ização comum dasfotografias pelo empregado eempregador.

E é neste aspecto que reside ocerne da questão, com contornosespecíficos os quais serão abordados.

Com efeito, conforme aduzidopela própria reclamante na inicial, amesma foi contratada como repórter,produzindo fotografias que foramuti l izadas pelo reclamado, nai lustração de suas matér iasjornalísticas. A função desempenhadapela reclamante, durante oito anos,consistiu, portanto, na elaboração dematérias jornalísticas as quais, emalguns casos, eram acompanhadas de

fotografias. Verifica-se, pois, que aprecípua atividade desempenhadapela reclamante era a at iv idadejornalística, e não de fotógrafa, em quepese terem sido as fotos utilizadas,conforme a própria reclamante admite,para ilustração das matérias. As fotosde autoria da reclamante eram parteintegrante de suas matér iasjornalísticas, as quais enriqueceram,sem dúvidas, os “escritos”, mas demodo acessório e sem aobrigator iedade propalada pelaautora, quanto ao acompanhamentode fotos nas matérias produzidas,inexist indo qualquer prova nestesentido, ônus da reclamante, a teor dodisposto no artigo 818 da CLT.

Frisa-se que o fato de inexistirqualquer prova acerca daobrigatoriedade de produção defotografias pela reclamante em suasmatérias jornalísticas, mediantedeterminação do empregador, empresajornalística, reforça o entendimentosegundo o qual, de modo espontâneo,a reclamante, jornalista, atuando comorepórter, visava enriquecer seu trabalho,propiciando valorização substancial dasmatérias e de sua prestação laboral.

Citado procedimento dareclamante, além de louvável, visto quedemonstrava profissionalismo, é oretrato fiel de seu contrato de trabalho,integrando-se ao mesmo a possibilidadede utilização de fotografias produzidaspara fins exclusivos de matériajornalística, sem que houvesse, frise-se,determinação do empregador para queas matérias jornalísticas fossem sempreacompanhadas de fotos, recebendo aautora através de seu salário pelacontraprestação dos serviços prestadosincluindo-se o direito autoral.

E apenas por amor ao debate,uma vez que a matéria enseja análisessob diversos ângulos, mesmo que

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houvesse determinação do empregadorno sentido de que as matériasjornalísticas se fizessem acompanharde fotografias, a lei dos direitos autoraispermite a cessão dos direitos do autor-empregado para o empregador. Emboraexistam regras com intuito protetivo, arelação específica do caso sob análiseatrai entendimento insofismável de quenenhuma regra estaria sendo violadaquando da util ização de fotosproduzidas pela reclamante na medidaem que utilizadas exclusivamente parafins jornalísticos, em matériaselaboradas pela reclamante, estando,portanto, vinculadas ao seu contrato detrabalho.

Registra-se que não há sequeralegação pela reclamante de máutilização das fotografias ou cessão dasmesmas, de modo indiscriminado, paraterceiros, o que poderia, em tese, atrairentendimento diverso do esposadoneste decisum.

Ao contrário, a reclamante optouem dispor livremente de seus direitosautorais, frisa-se, espontaneamente,inserindo em seus trabalhosjornalísticos as fotografiascorrespondentes às matérias,utilizando-se da faculdade insculpidanos próprios artigos 28 e 29 da Lei n.9.610/98, cuja reprodução da obrafotográfica, por outro lado, foi procedidade modo exclusivo e limitado peloreclamado, ou seja, vinculada àsmatérias jornalísticas elaboradas,amparada no contrato de trabalhofirmado entre as partes.

Além dos fundamentosesposados, é de se entender, porderradeiro, que, caso realmentehouvesse violação a direitos

patrimoniais e morais da reclamante,não teria a mesma permanecido inertedurante quase dez anos, considerando-se o período de oito anos de vínculo deemprego mantido com o reclamado e olapso de dois anos da data de seudesligamento e o ajuizamento dapresente ação, revelando-se, através docitado procedimento, aliado à análiseprocedida, inexistência de máculaensejadora de qualquer reparação atítulo patrimonial e moral.

Em face do exposto, é de seconcluir que os dispositivos legaisindicados pela reclamante não foramviolados, inexistindo lesão a direitopatrimonial ou moral da autora visto quelicitamente veiculadas as fotografias queacompanharam as matériasjornalísticas, não havendo amparo legalpara reparação pretendida a título dedanos patrimoniais e morais oraexpressamente indeferidos.

2.3 - Justiça Gratuita

Preenchidos os requisitos,deferem-se os benefícios da JustiçaGratuita.

3 - CONCLUSÃO

Pelo exposto, julgoIMPROCEDENTE a reclamaçãotrabalhista ajuizada por MARÍLIADAMASCENO em face de S/A ESTADODE MINAS.

Custas pela reclamante noimporte de R$240,00, calculadas sobreR$12.000,00, valor atribuído à causa,isenta.

Cientes as partes (En. n. 197 doTST).

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RELATÓRIO

Camila Marcelina FernandesDiélle aforou demanda em face deBanco ABM Amro Real S/A, postulandoas parcelas trabalhistas descritas nosnúmeros “1” a “13”, de f. 06, da exordial.

Aditamento à inicial à f. 56, coma expressa concordância do Réu.

O Reclamado contestou todos ospedidos.

Laudo pericial às f. 269/276.Foi encerrada a instrução

processual.Razões finais orais.Sem êxito a conciliação.É o breve relatório.Decide-se.

FUNDAMENTOS

Da inépcia da inicial

Rejeita-se.Argüiu o Reclamado a inépcia da

inicial por serem incompatíveis ospedidos de reintegração ecomplementação das verbas rescisórias.

Todavia, tais pleitos foramformulados alternativamente, além deter sido permitida a elaboração dedefesa útil pelo Réu e o provimentojurisdicional de mérito, em conformidadecom a simplificação da petição inicial noprocesso do trabalho, preconizada peloart. 840, caput, da CLT.

Protestos

Protestou o Reclamado contra oindeferimento da oitiva de suastestemunhas com o fim de comprovar acorreção dos cartões de ponto,compensação e correta orientação dobanco para marcação de ponto.

Todavia, mantém-se oindeferimento haja vista que a provadocumental respectiva já se encontrajuntada aos autos, sendo ônus daReclamante desconstituí-la.

Diante do exposto, resta inócuoo protesto formulado pela parte, nãotendo ocorrido qualquer cerceamento dedefesa.

Prescrição

Acolhe-se.Em decorrência do disposto no

inciso XXIX do art. 7º da ConstituiçãoFederal de 1988, e à vista da data depropositura da presente ação (vide f.02), consideram-se prescritos eventuaisdireitos da Autora anteriores a 22 dejunho de 1999.

Da reintegração da reclamante

A presente reclamação foiproposta em 22.06.2004, alegando aReclamante que sua dispensa foiabusiva e discriminatória, tendo em vistaque à época da resilição contratual

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00861-2004-049-03-00-0Data: 13.10.2004DECISÃO DA VARA DO TRABALHO DE BARBACENA - MGJuiz Presidente: Dr. MÁRCIO TOLEDO GONÇALVES

Aos 13 de outubro de 2004, às 17h57min, sob a presidência do MM. Juiz doTrabalho, Dr. MÁRCIO TOLEDO GONÇALVES, procedeu-se ao JULGAMENTO dareclamação ajuizada por Camila Marcelina Fernandes Diélle em face de BancoABM Amro Real S/A.

Partes ausentes.

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padecia de problemas de saúde, tendosofrido várias cirurgias e encontrando-se em tratamento.

Assevera que o Reclamado tinhaciência de seu delicado estado desaúde, conforme notificações eatestados médicos de f. 19, 116, 119 e174/176, mas, mesmo assim, efetuou adispensa com base em irreal “atestadode saúde ocupacional” constante de f.12, o qual não atesta que a Reclamanteestivesse “apta” para a demissão.

O Reclamado argumenta que aAutora se encontrava trabalhandoquando da dispensa e que sua doençanão tem origem ocupacional, nãoimpedindo a rescisão contratual. Alémdisto, sustenta que no momento darescisão do contrato não estava “inapta”para o trabalho.

Ocorre que o documento de f. 12(atestado de saúde ocupacional),contrariamente à fotocópia de f. 123,não revelou a conclusão quanto àaptidão ou inaptidão da Autora para adispensa, e aquele de f. 191, queatestou que esta se encontrava “apta”,se referiu a período anterior a esta. Alémdo mais, o perito oficial atestou, emresposta ao quesito de número 15, de f.274, que no caso da reclamante deveriater sido realizado um exame demissionalmais minucioso.

Ademais, o laudo técnico pericialproduzido nos autos foi conclusivo nosentido de atestar que os tratamentosrealizados pela Reclamante nãolevaram à cura completa de sua doença(vide f. 273) e que esta ainda seencontrava doente, apesar detrabalhando, quando da resil içãocontratual.

À f. 273, aduziu o perito oficialquanto à Reclamante: “...permanecesob tratamento porque não se logrouainda a cura completa de sua doença,apesar das várias cirurgias realizadas”.

À f. 275 foi expresso ao dizer que esta :“...estava trabalhando, porém não sesentia bem e permanecia inseguraquanto ao funcionamento de seuintestino, especialmente quanto àcontinência de fezes”. Destacou o Sr.Perito quanto aos quesitos formuladospelas partes (vide f. 272/275): “Areclamante foi submetida a algumacirurgia na região anal, quantas e emque datas?”

“Submetida por 5 vezes, nos dias25/01, 21/02, 05/06, 30/09 e 19/11/2002...” “...houve perda parcial dostecidos dos esfíncteres...”. “Na ausênciade parte da musculatura esfincteriana oque ocorre? Justifique. ...provocacontração débil do esfíncter interno, comconseqüente retenção prolongada defezes no reto (constipação intestinal), edo externo, que leva à saída das fezesem momentos socialmenteinaceitáveis”. “A Reclamante apresentaausência de parte desta musculatura oufoi feita a reconstituição da mesma?”“Houve perda de parte dos tecidos dosesfíncteres; foi realizada reconstituiçãoparcial...”. “...não foi suficiente, já que aReclamante apresenta dificuldade deevacuar, com retenção das fezes por até8 dias, e incontinência fecal em certasocasiões”.

Como se não bastasse, o própriolaudo do perito assistente indicado peloReclamado corroborou as alegações doperito oficial, ao afirmar, em resposta aoquesito de n. 10, que a reclamante, emvirtude das cirurgias, encontra-se emtratamento até a presente data (vide f.283). E ainda: “que a periciada após ademissão ainda se encontra emtratamento médico e em afastamentoprevidenciário...”.

O próprio Reclamado concordaexpressamente com o laudo pericial def. 276/286, que, inclusive, foi ratificadopor seu assistente técnico.

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Além disto, restou incontroversonos autos que o Réu tinha inteira ciênciada enfermidade da Autora, tendo,entretanto, considerado que tal fato nãoimpedia sua dispensa.

Ficou patente, portanto, que o“Atestado de Saúde Ocupacional - ASO”(docs. de f. 12 e 123) não retrataram,definitivamente, o real e inteiro estadode saúde da obreira, não estando esta“apta” para a demissão, à época.

O fato de a Reclamante estartrabalhando por ocasião dacomunicação da dispensa não significaque estivesse em perfeito estado desaúde, mormente porque sua doença,apesar da gravidade, não inviabilizava,necessariamente, a execução dasatribuições inerentes ao serviçobancário.

Contudo, diante das diversaslicenças, exames e requerimentosformulados pela reclamante (f. 116, 119e 174/176), cumpria ao Reclamadosolicitar a realização de um detidoexame demissional complementar.

A pergunta que deve ser feita é:Pode o empregador, no uso do seupoder potestativo de resilição contratual,rescindir o pacto laboral de umtrabalhador que não tenha condiçõeslaborativas?

No entendimento do Juízo, demodo algum.

Não pode o empregador,objetivando assegurar a produção eevitar licenças sucessivas, descartar oempregado como se fosse mero objeto.

Na verdade, se o empregadornão procedeu a um exame demissionalmais detalhado, foi na expectativa defrustrar o retorno da empregada aoposto de trabalho e, com isso, evitar osincômodos das licenças e afastamentosmédicos iminentes.

Nos tempos modernos, ohomem é detentor de um estatuto que

lhe confere direitos fundamentais naórbita jurídica, devendo ser coibidaqualquer conduta que impliquetransgressão a estes direitosfundamentais.

O próprio Código Civil de 2002preconiza em seu art. 421: “A liberdadede contratar será exercida em razão enos limites da função social do contrato.”E no art. 422: “Os contratantes sãoobrigados a guardar, assim naconclusão do contrato, como em suaexecução, os princípios da probidade eboa-fé.”

Com efeito, este Juízo entendeque o Reclamado não podia efetuar adispensa arbitrária da Reclamante quese encontrava com a saúde debilitadae realizando tratamento de saúde, aindaque por enfermidade não relacionada aotrabalho.

Saliente-se que, privilegiando oprincípio da razoabilidade tão em vogaem nosso ordenamento jurídico, não érazoável o acolhimento da dispensainjusta no momento de maiornecessidade de manutenção doemprego e da fonte de renda.

E o que é mais grave: as provase evidências dos autos são robustas nosentido de que a dispensa não foiapenas arbitrária, mas em efetivadiscriminação à Reclamante em facedos eventuais incômodos que aslicenças e afastamentos médicospoderiam ocasionar.

A conduta do reclamado foi,portanto, flagrantemente abusiva e anti-social e, portanto, contrária aoordenamento jurídico brasileiro e àfunção social dos contratos prevista nonovo Código Civil.

Ocorre que, de acordo com o art.187 do novo Código Civil, constitui atoilícito o exercício abusivo de qualquerdireito fora dos limites da razoabilidade,boa-fé, finalidade social e econômica.

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O dispositivo em tela associadoao já mencionado art. 422 do CCb estáem perfeita harmonia com os princípiosnorteadores do Direito do Trabalho(parágrafo único do art. 8º da CLT),mormente à luz dos princípiosfundamentais da Constituição Federalde 1988, que preconiza a proteção da“dignidade da pessoa humana” (art. 1º,III), dos “valores sociais do trabalho” (art.1º, IV), a construção de “uma sociedadelivre, justa e solidária” (art. 3º, I),erradicação da pobreza e dasdesigualdades sociais (art. 3º, III),devendo a atividade econômica primarpela “valorização do trabalho humano”e “assegurar a todos existência digna,conforme os ditames da justiça social”(art. 170, caput), destacando-se a“função social da propriedade” (art. 170,III) e redução das desigualdades sociais(art. 170, VII).

Nessa ordem de idéias, por setratar de ato abusivo, discriminatório eanti-social, impõe-se declarar a nulidadeda dispensa realizada em 09.10.2003,ficando o Reclamado condenado areintegrar a Reclamante, compagamento dos salários vencidos evincendos, incluindo férias + 1/3, 13ºsalários e FGTS (a ser depositado emconta vinculada).

O Reclamado deverá, ainda,proceder às devidas retificações naCTPS da Reclamante, bem comoexpedir os formulários que se fizeremnecessários para encaminhamento ouregularização de eventual benefício queesta possa fazer jus junto ao INSS, sobas penas da lei.

Dedução

Em face do deferimento dareintegração com pagamento dossalários vencidos e vincendos, autoriza-se a dedução dos valores líquidos pagos

ou creditados em favor da Reclamanteno TRCT de f. 120, 130 e 138 e na GRFCde f. 137, evitando-se bis in idem.

Diante da reintegração, não háque se falar em pagamento da multa de40% sobre o FGTS, a qual, inclusive,deverá ser deduzida porque já quitadanos autos (vide f. 137).

Honorários periciais

Arcará o Reclamado com oshonorários periciais da perícia médica,ora arbitrados em R$1.000,00 (hum milreais), que deverão ser corrigidos naforma que dispõe a OJ n. 198 da SDI-Ido Col. TST.

Indenização por dano moral

Improcede.A Reclamante relatou fazer jus a

uma indenização por danos moraisestimada em R$10.400,00, aoargumento de ter sido dispensada pelaReclamada em gozo de auxílio-doença.

Inicialmente, é de se afirmar queinexiste prova nos autos de que aReclamante tivesse seu contrato detrabalho suspenso por gozo de auxílio-doença na época da dispensa.

Entretanto, em que pese asafirmações autorais, não houvedemonstração de que tal conduta tenhaafetado a esfera moral da empregada,já tendo sido determinada a suareintegração ao emprego conformetópico anterior e, portanto, reparada afalha empresária.

Além disto, a Reclamante não sedesincumbiu de comprovar o efetivosofrimento de dano moral provocado porparte do Reclamado, encargo probatórioque lhe competia. A dor psíquica sofridapela Autora diz respeito ao seu estadode saúde, para o qual não concorreu oReclamado.

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Em que pese o Réu tenha tidouma conduta irregular quando dadispensa da Autora, tal fato será sanadopela sua reintegração ao emprego, apóso término do benefício previdenciário(vide f. 14), não implicando dano moralà Reclamante.

Horas extras

Improcedem.Pretende a Reclamante o

recebimento de horas extras em face documprimento dos horários das 09:00 às17:00 horas, de segunda a sexta-feira, aossábados das 09:00 às 14:00 horas e aosdomingos das 10:00 às 12:00 horas, semintervalo intrajornada. O Réu, por suavez, afirma a celebração de acordos decompensação de jornada e pagamentodas horas extras, em conformidade comos instrumentos coletivos.

Ocorre que, juntados os cartõesde ponto pelo Reclamado (vide f. 155/171), era da Reclamante o ônus decomprovar que estes nãocorrespondiam à realidade, a teor dodisposto no art. 818 da CLT, do qual nãologrou se desincumbir.

A primeira testemunha arroladapela Autora nada provou acerca de seuhorário de trabalho e a sua segundatestemunha, de nome José FranciscoAnacleto dos Santos, não prestoudepoimento convincente ao Juízo,entrando em contradição com o própriodepoimento pessoal da Autora, bemcomo com a inicial (vide f. 293/294).

É que a Reclamante afirma emseu depoimento pessoal (vide f. 293)que trabalhava de 20 a 30 minutos semregistrar o seu horário no início e términoda jornada diária de trabalho, ao passoque a testemunha, prestandodepoimento titubeante, sustenta que viaa Autora trabalhando no horário de09:00 até as 18:00 horas.

Ademais, existem pagamentosde horas extras nos recibos depagamento de salários juntados aosautos (vide f. 140/145), além dosacordos individuais de trabalhoprescreverem que 30% das horas extrasseriam pagas e 70% compensadas (videf. 151 e 153/154).

Não tendo a Reclamanteapontado qualquer diferença de horasextraordinárias não quitadas ou provadoa existência de sobrejornada além dajornada descrita nos cartões de ponto,outra solução não resta senão oindeferimento do pedido, bem como doscorolários reflexos, visto que merosacessórios do principal.

Salário em atraso no período11.01.2002 a 21.02.2002

Improcede.Postula a Autora o recebimento

da remuneração referente ao período de11.01.2002 a 21.02.2002, aofundamento de que o Reclamado fez orequerimento constante do documentode f. 10 em atraso.

Entretanto, a Reclamante nãocomprovou a culpa do Reclamado pelaconcessão do benefício apenas a partirde 22.02.2002 (vide f. 119) e, além disto,embora a comunicação de f. 10 tenha-se efetivado em 21.02.2002, se referiuexpressamente à correta data deafastamento da Autora, em 11.01.2002.

Ademais, houve o recebimentode remuneração pela Autora nos mesesde janeiro e fevereiro de 2002, ainda quenão integralmente neste último,conforme comprova o documento de f.143 dos autos.

Sendo assim, não demonstradaa responsabilidade do Reclamado emrelação à data da concessão dobenefício previdenciário à Reclamante,impõe-se o indeferimento da pretensão.

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Seguro referente ao auxílio-doença

Improcede.Inicialmente, é de se ressaltar que

o instrumento normativo de f. 20/39 nãose aplica à Reclamante, vigorando emperíodo anterior à sua admissão.

Por outro lado, de acordo com oexpressamente disposto na cláusula 28ªdo instrumento normativo vigente noperíodo de 01.09.2002 a 31.08.2003(vide f. 75), o seguro de vida em gruposerá quitado pelo empregador noperíodo em que o empregado estiverpercebendo auxílio-doença pelaPrevidência Social e desde que nãoesteja percebendo a complementaçãosalarial de que trata a cláusula anterior.(grifo nosso)

Os recibos de pagamento de f.141/142 comprovam que a Autorapercebeu complementação de auxílio-doença no período de novembro de2002 a maio de 2003.

Sendo assim, não vigorando aCCT juntada aos autos nos períodos deafastamento por l icença saúdeanteriores da Reclamante, não faz estajus ao seguro complementar.

Diante do exposto, indefere-se,ainda, o fornecimento de apólice deseguro.

Devolução de cheque

Procede.A testemunha de nome Renato

Garcia de Araújo, em seu depoimentode f. 293, comprovou que o cheque novalor de R$200,00 (duzentos reais)entrou no sistema de compensação.Aliás, o próprio verso do documentoconstante de f. 11 prova que este entrouna compensação.

Por outro lado, o Reclamado nãologrou comprovar irregularidade com

relação a qualquer procedimento daAutora.

Assim, estando a Reclamante naposse do cheque é pressuposto lógicoque o mesmo tenha sido dela deduzido.Não demonstrada sua culpa, o valordeverá lhe ser restituído.

Demais pedidos

Não há que se falar em aplicaçãodas multas previstas nos arts. 467 e 477,ambos da CLT, ante a determinação dereintegração da Autora.

Tendo em vista a declaraçãofirmada à f. 42 defere-se à Reclamanteos benefícios da gratuidade judiciária,em que pese o resultado dado àdemanda.

A reclamada requereu acompensação das parcelas pagas aidêntico título nos autos. O pedidoimprocede tendo em vista que jádeterminada a dedução das parcelasindevidamente quitadas à Autora.

Conclusões

Resolve a Vara do Trabalho deBarbacena julgar procedente em parteo pedido, para condenar o Reclamadoa reintegrar a Reclamante, no prazolegal, após o trânsito em julgado destaDecisão, com pagamento dos saláriosvencidos e vincendos, incluindo fériasmais 1/3, 13º salários e FGTS (a serdepositado em conta vinculada), bemcomo a restituir-lhe o valor de R$200,00referente a ressarcimento de chequedevolvido, com juros e correçãomonetária, tudo nos termos dosfundamentos que fazem parte dopresente decisum para todos os efeitos.

O Reclamado arcará com oshonorários periciais fixados emR$1.000,00, atualizáveis na forma da OJda SDI-I n. 198 do Col. TST.

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Autoriza-se a dedução do IRRFsobre as parcelas deferidas à Autoraque forem tributáveis a cargo desta,mediante comprovação nos autos peloReclamado.

Conforme o Provimento n. 01/99da Eg. Corregedoria Regional, oReclamado deverá proceder aorecolhimento das contribuiçõesprevidenciárias incidentes sobre asparcelas salariais objeto da presentecondenação. Declara-se a naturezasalarial das parcelas referentes aossalários vencidos e vincendos, 13ºsalário proporcional e férias aditadas de1/3 (não indenizadas), eis que as demaisverbas têm natureza indenizatória sobreas quais não incide contribuiçãoprevidenciária. O Reclamado respondepelas cotas do empregado e empregador(aplicação e incidência do § 5º do art. 33da Lei n. 8.212/91 e Decreto n. 3.048/

99). O cálculo de liquidação destacaráem apartado o valor das contribuiçõesprevidenciárias devidas, do qual se darávista ao INSS pelo prazo de 10 dias paramanifestação, considerando-se correto ocálculo caso não haja oposição daqueleórgão no prazo assinado acima.Homologado o cálculo, o Reclamadoserá intimado a recolher o valor dascontribuições apuradas, sob pena deexecução (§ 3º do art. 114 da CF/88,alterado pela EC n. 20/98).

Oficiem-se à DRT e ao INSS comcópias desta Decisão, para asprovidências que entenderem cabíveis.

Custas pelo Reclamado noimporte de R$300,00, calculadas sobreR$15.000,00 que se atribuem àcondenação.

I. as partes.Encerrou-se a audiência. Nada

mais.

I - RELATÓRIO

SINDICATO DOSTRABALHADORES NA INDÚSTRIA DEEXTRAÇÃO DO FERRO E METAISBÁSICOS DE CONGONHAS, BELOVALE E OURO PRETO, qualificado nainicial, ajuizou ação trabalhista contra aCOMPANHIA SIDERÚRGICA

NACIONAL, também qualificada nosautos, na condição de substitutoprocessual, requerendo seja declaradaa ilegalidade da alteração unilateral dajornada de trabalho dos substituídos, deturno de revezamento para turno fixo,com mudança do divisor de 180 para220 para cálculo do salário-hora, bemcomo da distribuição arbitrária dos

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 347/04Data: 29.11.2004DECISÃO DA 2ª VARA DO TRABALHO DE CONGONHAS - MGJuiz Presidente: Dr. ANTÔNIO NEVES DE FREITAS

Aos 29 (vinte e nove) dias do mês de novembro de 2.004, às 17:00 horas,realizou-se, na sede da Segunda Vara do Trabalho de Congonhas-MG, pelo JuizTitular, Dr. ANTÔNIO NEVES DE FREITAS, o julgamento da ação trabalhistaajuizada pelo SINDICATO DOS TRABALHADORES NA INDÚSTRIA DE EXTRAÇÃODO FERRO E METAIS BÁSICOS DE CONGONHAS, BELO VALE E OURO PRETOcontra COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL, tendo sido proferida a seguintedecisão:

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empregados entre os turnos, emdiferentes condições de horário. Emconseqüência postula a condenação dareclamada na reimplantação do regimede turno de revezamento, bem como nopagamento das parcelas relacionadasnas alíneas “c.2.2” a “c.2.2.5.3” e dehonorários advocatícios, pelosfundamentos expendidos na peçavestibular. Atribuindo à causa o valor deR$18.000,00, juntou documentos eprocuração (f. 30/123).

A empresa apresentoucontestação, às f. 131/156, argüindo ailegitimidade ad causam do sindicato parapropor a presente ação, por não estarrepresentando adequadamente acategoria, agindo em abuso do direitosindical. Impugna o rol dos substituídos,alegando que alguns empregados queenumera não se enquadram nos fatosnarrados na exordial, o que tambémconduziria à extinção do processo, semjulgamento de mérito, com relação aostrabalhadores relacionados. No mérito,tece considerações a respeito do trabalhoem turno ininterrupto de revezamento ealega que a alteração no horário detrabalho encontra-se revestida delegalidade, situando-se no campo do ius

variandi da empresa; que o labor emturnos fixos é mais benéfico para oempregado, conforme razões queenumera, colacionando ensinamentosdoutrinários e jurisprudenciais em defesade sua tese. Assevera que não houvequalquer redução salarial, mas somentea supressão da jornada reduzidaconcedida ao empregado submetido aturno ininterrupto de revezamento; que osempregados foram mantidos nos horáriostrabalhados no último dia em que ocorreuo turno de revezamento, inexistindoqualquer seleção ou discriminação.Impugnando, item por item, os pedidosformulados, requereu a improcedência daação. Por cautela, requereu, em caso de

condenação, a observância dosparâmetros enumerados nos itens 73.1 a73.5 da defesa. Juntou documentos às f.157/163.

O autor manifestou-se sobre adefesa e documentos anexados pelaparte contrária (f. 174/180).

Interrogado o preposto dareclamada - f. 184.

Encerrada a instruçãoprocessual e aduzidas razões finaisorais, foi rejeitada a proposta deconciliação renovada pelo Juízo.

II - FUNDAMENTAÇÃO

1 - Dos protestos

A irresignação do reclamante,registrada às f. 185/186, não pode seracolhida.

Inicialmente, não se pode cogitarem cerceio de defesa o fato de o Juizindeferir a produção de provas que selhe afigurem desnecessárias,irrelevantes ou impertinentes, não só emobediência ao princípio da celeridade,como por respeito à seriedadeprocessual, valendo-se do poder que lheé conferido pelo artigo 130 do CPC.

A produção de perícia técnicacom a finalidade de demonstrar osdanos causados pela alteração do ritmocircadiano e o aumento do risco deacidentes do trabalho após a sexta horadiária revela-se despicienda, porquantotal matéria, embora seja de carátercientífico, é genérica, abordada emdiversos anais de medicina, não sefazendo necessária uma pesquisaespecífica para o caso dos empregadosda CSN. Os efeitos das condições detrabalho examinadas neste processosobre o organismo seria comum a todoser humano, não sendo necessária aprova técnica específica para o caso dosautos.

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Por outro lado, conquanto pairecerta controvérsia quanto aostrabalhadores atingidos pela mudançade horário de trabalho, entende esteJuízo que a abrangência subjetiva deeventual sentença condenatória poderáperfeitamente ser delimitada na fase deliquidação, restringindo-se aos obreirosque efetivamente tenham sofrido asuposta lesão de direitos narrada nainicial, sendo desnecessária apretendida juntada de cartões de pontoe recibos salariais dos substituídos.

São impertinentes, pois, osprotestos registrados às f. 185/186.

2 - Da legitimação do Sindicato

A reclamada alega que oSindicato-autor não detém legitimidadepara representar a categoria desubstituídos relacionados às f. 77/84,uma vez que lhes negou o direito dedecidir sobre proposta de negociaçãoda empresa, configurando evidenteabuso de direito (f. 132/137).

Entretanto, nota-se que foramrealizadas duas assembléias paradeliberação de propostas a respeito doturno de revezamento, conformeregistrado nas atas de f. 38/39 e 45/46,as quais foram rejeitadas pelos obreiros.

No entendimento deste Juízorestaram esgotadas as tentativasextrajudiciais de conciliação, inclusiveperante a Delegacia Regional do Trabalhoe Emprego (f. 158), não restandoconfigurada a alegada ilegitimidadesomente porque uma nova proposta daempresa não foi submetida à apreciaçãodos trabalhadores sindicalizados.Principalmente se considerarmos que,na última assembléia realizada, ostrabalhadores aprovaram uma propostamínima, se negando a reapreciar amatéria em patamares inferiores aosreferendados naquela ocasião.

Quanto aos empregados queteriam sido afetados pela alteraçãopromovida pela empresa, conforme jámencionado anteriormente, se acolhidoo pedido formulado na inicial, poderãoser perfeitamente individualizados nafase de liquidação, de acordo com oscritérios que virão a ser estabelecidosnesta sentença, não havendo falar emextinção do feito em relação a este ouaquele substituído que não estariaenquadrado dentro da situação de fatoque originou a presente demanda.

Preliminar rejeitada.

3 - Da alteração da jornada detrabalho - Redução salarial - Ofensaao art. 468 da CLT

Conforme se depreende dostermos da inicial e da defesa, osempregados da reclamada trabalharam,durante longos anos, em turnosininterruptos de revezamento,adotando-se, por força de normacoletiva, nos termos autorizados pelotexto constitucional, uma jornada diáriade oito horas. Não sendo renovada acláusula inserida no instrumentonormativo, que permitia o aumento donúmero de horas diárias de trabalho, aempresa aboliu os turnos derevezamento, passando os operários acumprir jornadas fixas, de oito horas,sendo distribuídos entre os diversosturnos, de acordo com os horários emque trabalharam no momento em quefoi promovida a alteração.

O Sindicato alega que amodificação processada pela empresafoi prejudicial aos empregados, poisprovocou a redução do valor do salário-hora, em decorrência da mudança dodivisor 180 para 220; o aumento da cargahorária, a alteração brusca do ritmocircadiano dos trabalhadores, resultandoem aumento do risco de acidentes do

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trabalho; acrescentando que houvetratamento desigual e discriminatóriodos trabalhadores, ao seremdistribuídos pelos turnos anteriormentemantidos pela empresa (f. 05).

A reclamada sustenta que otrabalhador não adquire direito aotrabalho em regime de turnos derevezamento, por se tratar de jornadaque merece tratamento especial, porensejar prejuízos a sua saúde.Acrescenta que a alteração da jornadade trabalho, transferindo-se oempregado para horários fixos, estariainserida no jus variandi da empresa,decorrente do poder diretivo doempregador (f. 138 e seguintes).

No que diz respeito à primeiraquestão abordada pela empresa, adoutrina e a jurisprudência têm sedemonstrado praticamente unânimes aoreconhecer a nocividade do trabalho emturnos de revezamento, principalmentepor afetar o relógio biológico do serhumano e dificultar a organização davida social e familiar do obreiro. Daí, asupressão desse regime prejudicial aotrabalhador, embora pudesse trazer-lhealgum prejuízo de ordem financeira oumaterial, estaria perfeitamentejustificada pelo ganho obtido no âmbitode sua saúde, reduzindo-lhe osdesgastes físicos, mentais e psíquicos.

Seria semelhante aos casos emque o operário cumpre jornada noturnae é deslocado para o turno do dia, ouainda daquele que trabalha emcondições insalubres e é retirado dessasituação lesiva, deixando de receber,conseqüentemente, o adicional noturnoou de insalubridade, conforme o caso.

Neste sentido situa-se a fartajurisprudência apresentada pelaempresa, a qual conta também com oendosso deste julgador, não se podendocogitar na aplicação do preceito contidono art. 468 da CLT.

No entanto, no caso específicoque ora se examina, o questionamentoque se faz é o seguinte: a alteraçãoprocessada pela CSN visou à melhoriadas condições de trabalho de seusempregados? Proporcionou a retiradados trabalhadores de uma situaçãoprejudicial à saúde, inserindo-os emcondições melhores, de forma a afastara incidência do art. 468 da CLT?

Estamos convencidos de queNÃO!

Primeiramente, não podemosdeixar de expressar nossopressentimento e nossa suspeita nosentido de que a presente demanda éfruto de um embate políticoempreendido entre o sindicato e aempresa, que também vem sendodemonstrado em outras inúmeras açõesque têm sido propostas neste forotrabalhista, ultimamente.

Recusando-se o sindicato,depois de consulta à base dostrabalhadores, em assembléialegitimamente constituída, a renovar acláusula coletiva que permitia a adoçãoda jornada diária de oito horas, emregime de turnos ininterruptos derevezamento, a empresa, em vez demanter os turnos e adequar a jornadaaos ditames do inciso XIV do art. 7º daConstituição Federal, preferiu colocar osempregados em horários fixos,mantendo, entretanto, os mesmosturnos de trabalho.

Se a intenção do sindicato, ao senegar a subscrever aquela cláusula,seria forçar a reclamada a reduzir ajornada diária de trabalho, adaptando-a ao preceito constitucional mencionadono parágrafo anterior; para não securvar ao posicionamento adotado pelaentidade representativa da categoria,que sairia fortalecida nesta “queda-de-braço”, a empresa resolveusimplesmente alterar o regime de

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trabalho que, há anos, prevalecia emsua área de mineração, sem qualquerjustif icativa de ordem técnica ouadministrativa plausível.

Agindo dessa forma, “minaria” opoder político e representativo dosindicato, pois colocaria os trabalhadorescontra sua entidade de classe, sabedorade que a eles não era interessante o novoregime de trabalho, que redundava emperdas salariais e aumento do númerode horas semanais e mensais de labor,com a redução do número de folgasanteriormente concedidas.

Em nenhum momento, quer sejana fase de implantação do novo regimede jornada, quer seja na fase pré-processual, quer seja na contestação,a reclamada fez menção a motivos deordem técnica, administrativa oueconômica que justificasse a bruscaalteração promovida na jornada de seusempregados, o que vem endossar todoo pressentimento, relativo à disputapolítica entre as partes, expostoanteriormente.

Respondido o questionamento arespeito do objetivo da alteraçãocontratual, cumpre-nos verificar se amodificação da jornada de trabalhoefetivamente trouxe benefício à saúdedos empregados, comoperemptoriamente afirma a empresa.

Com efeito, é consenso geral nadoutrina trabalhista que o trabalho emturnos ininterruptos de revezamentopriva o indivíduo do convívio social efamiliar e agride o organismo humano,conforme relatado no documentoanexado pela empresa. Todavia, umaanálise das peculiaridades queenvolvem a alteração da jornada detrabalho demonstra que, in casu, amudança de regime de revezamentopara turno fixo foi desfavorável aosobreiros, em consonância com oparecer juntado com a peça vestibular.

Segundo estudiosos da matéria,o ciclo circadiano está sincronizado coma exposição ao meio ambiente,presença e ausência da luz do sol,hábitos pessoais, condições ambientais,psicológicas e outros.

O trabalho em turnos e o trabalhonoturno exigem dos indivíduosmudanças nos seus horários de acordare de dormir, sendo penoso para agrande maioria dos indivíduos, salvoexceções. Para manter a vigília durantea noite e o sono durante o dia seránecessário ocorrer uma inversão nociclo circadiano, o que significa alterara fisiologia, os hábitos pessoais, sociais,familiares, domésticos, de lazer, etc.Essa inversão demora para ocorrer, equando o indivíduo volta ao horárionormal de vigília-sono ela desaparecerapidamente.

O ritmo de sono está ligado afunções básicas do sistema circadianoe depende de estímulos internos eexternos. Portanto, o ritmo de vigília-sono não pode ser controladovoluntariamente pelo indivíduo que sofreprivação de sono.

A inversão do ciclo vigília-sonoprovoca dessincronização interna dosritmos biológicos que comprometem ofuncionamento de todo o organismo.Fica prejudicado o desempenho físico;há alterações na incidência de doençasmentais, na percepção de dor e noaparecimento de cefaléia; e podemocorrer distúrbios cardiocirculatórios,endocrinológicos e metabólicos,oncológicos, gastrointestinais,nefrológicos e oftalmológicos.

Diante de tais colocações, nãopodemos negar que, caso a empresativesse realmente abolido o regime deturnos, colocando todos ostrabalhadores em um só horário - odiurno - não haveria de se questionar arespeito da validade da alteração por ela

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promovida. Estar-se-ia obviamentediante de uma situação de realpreocupação do empregador com asaúde de seus empregados, comintenção nítida de afastar os efeitosnocivos do revezamento de horários noorganismo dos operários. Ainda que issoredundasse em um acréscimo najornada semanal ou uma perdafinanceira indireta.

Porém, no caso em tela, nãopodemos visualizar a situação sob oprisma único da retirada dosempregados do revezamento. Aalteração se deu de forma global e gerouconseqüências diversificadas, emrelação a determinados grupos detrabalhadores.

Inegavelmente, os operários quepermaneceram no turno das 8:00 às16:00 horas foram beneficiados com aalteração: saíram da nocividade dorevezamento e foram inseridos em umajornada normal, estabelecida dentro doritmo circadiano regular do organismohumano, respeitadas suas funçõesbiológicas.

Para os trabalhadores inseridosno turno das 16:00 às 00:00 horas aalteração não pode ser considerada tãobenéfica, pois passaram a cumprir parteda jornada em horário noturno, quetambém é prejudicial à saúde.

Já para os empregadosdestinados ao turno das 00:00 às 8:00horas, de forma alguma pode-se aceitaro argumento de que a modificaçãoprocessada pela reclamada teria sidobenéfica: saíram de uma situaçãoprejudicial à saúde e ingressaram emoutra, já que a jornada de trabalhopassou a ser cumprida em horárionoturno, que também não respeita oritmo espontâneo da espécie humana,com hábitos nitidamente diurnos.

Sebastião Geraldo de Oliveira, anosso ver um dos maiores juristas

brasileiros que se dispôs ao estudo maisaprofundado de questões ligadas àsaúde do trabalhador, em sua célebreobra Proteção Jurídica à Saúde do

Trabalhador, assim abordou o tema:

Os seres vivos estãoajustados aos ritmos da naturezacom períodos alternados deatividade e inatividade,obedecendo a ciclosperfeitamente delimitados. O serhumano não foge a essa regra,ligando-se à atividade durante odia e ao descanso-sono noperíodo da noite. Ao alterar esseritmo pela introdução do trabalhonoturno, o homem passa atransitar no sentido contrário aoda fluência normal da sociedade.[...]

Quando o trabalhadoringressa no trabalho noturnocomeça um confl i to deinformações entre ossincronizadores endógenos,controlados pelo sistemanervoso central, e ossincronizadores ambientais-sociais, acarretando umadessincronia dos ri tmoscircadianos. Com isso, afluência dos diversos ritmoscircadianos perde o compassoe segue em livre curso, comouma grande orquestra semregente. O efeito prejudicial nobem-estar e saúde dotrabalhador é imediato.Primeiramente, nota-se odescompasso do importanteritmo circadiano sono-vigília. Atentativa de adaptação paradormir durante o dia e trabalharà noite gera um sono menor emquantidade e pior em qualidade.Por essa razão, os

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trabalhadores semprereclamam, alegando que o sonodurante o dia não “sustenta”.

A explicação para essefenômeno é que o organismo ficano centro de informaçõesconflitantes: os sincronizadoresendógenos pedem sono erepouso; os sincronizadoresambientais-sociais sugerem aatividade, porquanto a claridadedo dia, a temperatura maiselevada, a maior intensidade dosruídos, os hábitos sociais doshorários de almoço-jantar, omovimento doméstico da família,especialmente das crianças,tudo isso convida para o territórioda vida em ação. “É comum seouvir de um trabalhador relatosde dificuldades para se manteracordado no turno da noite,principalmente entre as 3-4horas da madrugada edificuldades para dormir duranteo dia: sono curto, entrecortado,não recuperador”. [...]

A rigor, não existe umadoença específica daquele quetrabalha à noite ou em turnos,mas as diversas perturbações àsaúde física e mental propiciamo surgimento da fadiga, que podeevoluir para a fadiga crônica,provocando o agravamento deoutras doenças pela baixaresistência imunológica, bemcomo o sofrimento mental eenvelhecimento precoce.(in Proteção Jurídica à Saúde do

Trabalhador, Ed. LTr, 2. edição,p. 147 e 149)

Como se pode observar,permaneceram a agressão biológica eos prejuízos familiares e sociaisdecorrentes da inversão do ritmo

circadiano para os trabalhadoresdistribuídos para os turnos das 16:00 às00:00 e das 00:00 às 8:00 horas,notadamente para estes últimos. Paraesses empregados as condições detrabalho foram ainda mais agravadas,porquanto ao desgaste do labor noturnofoi acrescido o elastecimento da jornadade trabalho.

Portanto, é sofismático oargumento da empresa no sentido deque a adoção de jornada fixa teria sidobenéfica para a saúde dostrabalhadores e justificaria, de per se, aalteração promovida.

Logicamente, embora tenhatrazido benefícios aos empregadosinseridos no turno do dia, a modificaçãonão pode ser considerada benéfica, seexaminada em sua inteireza, pois trouxeconseqüências nocivas à maior partedos empregados, que permaneceu emcondições de trabalho prejudiciais àsaúde.

Além disso, a alteraçãopromovida pela CSN acarretou umaumento do número de horas detrabalho de seus empregados.Anteriormente, embora cumprissemuma jornada de oito horas diárias, comrespaldo em norma coletiva, ostrabalhadores da empresa sesubmetiam a uma escala de trabalhoque lhes proporcionava um númeromaior de folgas semanais, conformecláusula segunda do instrumentonormativo de f. 31 e seguintes. A partirdo estabelecimento da jornada fixa, osobreiros passaram a trabalhar asmesmas oito horas por dia, com apenasuma folga semanal.

E este aumento na carga horáriaé extremamente prejudicial aotrabalhador, ameaçando sua saúde esua segurança, pois lhe rouba o tempo,conforme pertinentemente aduz WagnerGiglio:

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a paz social depende do bem-estar físico e do desenvolvimentoespiritual de todos os sereshumanos, e, para conseguir essedesejado desenvolvimento, ohomem deve aperfeiçoar suasqualidades intelectuais, o queexige tempo; mas o trabalhosubordinado que predomina namoderna sociedade industrialrouba-lhe o tempo. É necessário,portanto, pôr limites razoáveis àatividade de trabalho.( in Jornada de Trabalho e

Descansos Remunerados:perspectiva ibero-americana,São Paulo: LTr, 1996, p. 59-104)

A Magna Carta estabelece que“a dignidade da pessoa humana” e “osvalores sociais do trabalho” estão entreseus princípios fundamentais (art. 1º,incisos III e IV); impõe a “redução dosriscos inerentes ao trabalho, por meiode normas de saúde, higiene esegurança” (art. 7º, XXII) e alça a saúdeà qualidade de “direito de todos e deverdo Estado, garantido mediante políticassociais e econômicas que visem àredução do risco de doença e de outrosagravos” (art. 196).

De acordo com Segadas Vianna,a fadiga é o “esfalfamento físicoresultante de uma atividade continuada,manifestada pela desobediência dosmúsculos às excitações nervosas e poruma sensação desagradável eindefinida. [...] Para outros, a fadiga éum reflexo inibitório causado pela íntimamodificação do bioquimismo, mas todosestão de acordo que sua conseqüênciaé a criação de um estado orgânicoperigoso e que, afetando o sistemamuscular e, de maneira especial, osistema nervoso, provoca a perda dacapacidade de fixação no serviço e dacoordenação de movimentos, dando

causa, também, a acidentes do trabalho.Isso foi comprovado, aliás, em nossopaís, em estudos realizados por ‘ZeyBueno’, que verificou a maior incidênciade acidentes nas últimas horas dajornada, como conseqüência docansaço ou fadiga; ainda do mesmoautor é um excelente estudo sobre aqueda da produção devido à fadiga” -sublinhou-se. (MARANHÃO, Délio,SÜSSEKIND, Arnaldo e VIANNA,Segadas, Instituições de Direito do

Trabalho, v. 2, 14. ed., São Paulo: LTr,1993)

É interessante destacar aadvertência de Mauricio GodinhoDelgado no sentido de que “[...] a açãoadministrativa estatal, através denormas de saúde pública e de medicinae segurança do trabalho que venhamreduzir o tempo lícito de exposição dotrabalhador a certos ambientes ouatividades, não é inválida - nem ilegal,nem inconstitucional. Ao contrário, éfrancamente autorizada (mais:determinada) pela Constituição, atravésde inúmeros dispositivos que seharmonizam organicamente. [...] Éimportante enfatizar que a maior oumenor extensão da jornada atua,diretamente, na deterioração oumelhoria das condições internas detrabalho na empresa, comprometendoou aperfeiçoando uma estratégia deredução dos riscos e malefíciosinerentes ao ambiente de prestação deserviços. Noutras palavras, a modulaçãoda jornada é parte integrante dequalquer política de saúde pública, umavez que influencia, exponencialmente,a eficácia das medidas de medicina esegurança do trabalho adotadas naempresa. Do mesmo modo que aampliação da jornada (inclusive com aprestação de horas extras)acentua,drasticamente, asprobabilidades de ocorrência de doenças

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profissionais ou acidentes do trabalho, aredução da jornada diminui,significativamente, essas probabilidadesda chamada infortunística do trabalho”.(DELGADO, Mauricio Godinho. Jornadade trabalho e descansos trabalhistas, 2.ed., São Paulo: LTr, 1998)

Dessa forma, se o aumento dajornada diária de trabalho, na formacomo implementada pela empresa, estáem descompasso com os preceitosconstitucionais anteriormente citados,acentuando a fadiga do empregado epropiciando a elevação do risco deacidentes e doenças, não se podeinterpretar como benéfica alteraçãocontratual promovida, que redundounuma visível majoração do número dehoras de trabalho.

Afastada a premissa relativa aobenefício advindo da supressão dosturnos de revezamento, a matéria emexame cai na vala comum do princípioda inalterabilidade das condições detrabalho de forma unilateral, porimposição do empregador, atraindo aincidência do princípio protetivoinsculpido no art. 468 da CLT.

Quanto à tese referente aoregular exercício do jus variandi, há dese ponderar que, segundoensinamentos do brilhante colegaMauricio Godinho Delgado, em seuCurso de Direito do Trabalho editadopela LTr, as alterações do contrato detrabalho estão condicionadas a trêsdiretrizes justrabalhistas,aparentemente assincrônicas entre si:o princípio da inalterabilidade contratuallesiva, o princípio do direito deresistência do obreiro (jus resistentiae)e o princípio do jus variandi empresarial.

Efetivamente, não se pode negarao empregador a prerrogativa deadequação e redirecionamento daprestação contratual do trabalho, o quelhe é assegurado pelo ordenamento

jurídico vigente (art. 2º da CLT e art. 1º,IV, in fine, da CF/88). Entretanto, asalterações permissivas do exercíciolícito do jus variandi estão circunscritasà ordem normativa ou contratual, sendovedada a implementação demodificações contratuais desfavoráveisao obreiro.

Conforme preceitua o ilustreprofessor e magistrado jubilado, MárcioTúlio Viana, que tanto honra amagistratura trabalhista desta TerceiraRegião, com seus percucientesensinamentos:

Campo do jus variandi é oespaço em branco entre ascláusulas, onde nada se previuespecificamente. Ali oempregador se movimenta,preenchendo os vazios deacordo com a própria vontade. Epor ser assim, talvez se possadizer - por paradoxal que pareça- que a originalidade do contratode trabalho está um pouco “fora”dele, o poder de se exigir o quenão se ajustou. Entenda-se:como ocorre com o poder diretivoem geral, o jus variandi tem fonteno contrato: é contratado. Mas serealiza através da vontade de umsó, exatamente por se situar numcampo em que a outra vontadenão se expressou de antemão.(VIANA, Márcio Túlio.“Fundamentos e tendências doJus variandi”. Revista do Tribunal

Regional do Trabalho da 3ª

Região, ano 26, v. 47/50, TRT/MG, 1988 a junho de 1991, p. 42)

Contrapondo-se àsimplementações ilícitas do empregadorna condução da prestação de laborencontra-se o direito de resistência doobreiro (jus resistentiae).

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Com efeito, conforme bemassinala o já citado autor:

O jus variandi deve ser utilizado“na medida das necessidades daempresa”, sendo inválido seuuso arbitrário, caprichoso,imotivado, discriminatório oupersecutório.(VIANA, Márcio Túlio. Direito de

Resistência, p. 223 e 226)

Além disso, segundo observaHUGO GUEIROS BERNARDES:

A ordem individualmente dadapelo empregador ao empregado,assim como a normaestabelecida para todos ou paraum grupo de empregados, dentrodo poder diretivo e discricionáriodo empregador, tal como vimosconceituando, não podem serprejudiciais porque, pordefinição, não afetam direitoslegais nem contratuais dosempregados. Assim, o caráterinócuo de tais ordens doempregador deve serreconhecido num planoestritamente jurídico e não fático:o prejuízo pode ser manifesto,mas se a determinação é lícita,porque incluída no poderdiscricionário do empregador, ofato do prejuízo é, em princípio,irrelevante para o direito. Eporque será irrelevante para odireito o prejuízo do empregado,se tal direito é essencialmentetutelar deste? A resposta já seencontra na afirmação quefizemos a pouco: o exercício dopoder discricionário patronalexige motivação, moral esocialmente relevante. Assim, oprejuízo do empregado apenas

cede passo à relevância maiordos motivos patronais, que essaé, afinal, a razão de se terreconhecido a existência de umpoder diretivo (grifo nosso).(in O Contrato de Trabalho e sua

Alteração, São Paulo: Ed. LTr,1975, p. 44/45)

A alegação da reclamada nosentido de que, diante da ausência denegociação coletiva a respeito damanutenção do turno de revezamentode oito horas, se viu premida a instauraro turno fixo, com a mesma duração,conforme determina a lei, équestionável. Com efeito, embora oturno de revezamento de oito horassomente possa ser implantado atravésde negociação coletiva, o impassepoderia ter sido dirimido pelamanutenção do turno ininterrupto derevezamento com o pagamento dasduas horas extras excedentes, até seprovidenciar a criação de uma novaturma de trabalho, de modo que a normalegal também teria sido respeitada. Aoque parece, a empresa optou pela saídajurídica que lhe seria menos onerosa,atropelando, entretanto, o direito dosempregados à manutenção da jornadade trabalho que já vinha sendocontratada há vários anos.

A ausência de negociaçãocoletiva não pode se constituirjustif icativa moral e socialmenterelevante, servindo de pretexto para sealterar lesivamente a jornada detrabalho, em detrimento de normasestatais imperativas, de índoleimpeditiva ou proibitiva, queestabelecem limites à alteraçãocontratual em nome do interesse públicode proteger a higidez e a incolumidadeda classe laboriosa.

É pacífico na doutrina ejurisprudência trabalhista que a nulidade

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da alteração do contrato de trabalhoperpetrada de forma unilateral éabsoluta. As cláusulas contratuaispraticadas pelo empregador não podemser alteradas em prejuízo doempregado.

Analisando matéria similar,atinente à alteração contratual, assim jádecidiu o Egrégio Tribunal Regional:

DIREITO DO TRABALHO -PRINCÍPIO DAI N A L T E R A B I L I D A D ECONTRATUAL LESIVA -CRITÉRIO DE REMUNERAÇÃODA COMISSÃO - ART. 468 DACLT. Se a prova dos autosdemonstra que houve prejuízopara o empregado na alteraçãopraticada pelo empregadorquanto ao critério deremuneração de comissões, aprestação jurisdicional devidaserá no sentido de restabelecero critério anterior, maisvantajoso, ainda que a alteraçãotenha contado com a anuênciado empregado, tudo com baseno art. 468 da CLT. A razão estácom o empregado, não só porforça do art. 468 da CLT, mastambém, porque se sabe que ainalterabilidade contratual lesivaé princípio de Direito doTrabalho, assim como aintangibilidade salarial, salvonegociação coletiva, o quechega a estar previsto na própriaConstituição Federal. Essesprincípios têm naturezainformativa e normativa, porquealém de auxiliarem nainterpretação das normasjurídicas, acabam porconsistirem em verdadeiroscomandos do dever-ser jurídicono âmbito trabalhista. Não há

como conferir legitimidade aesse tipo de alteração contratualdentro do Direito do Trabalho, decaráter nitidamenteprotecionista. A relaçãoempregatícia não pode serequiparada à relação jurídicacivil, onde o desequilíbriocontratual causado pormudanças circunstanciaisautoriza a revisão das cláusulascontratuais, em exceção à regrado pacta sunt servanda. Aqui, acondição contratual maisbenéfica reveste-se de direitoadquirido, independentementede circunstâncias alheias àvontade das partes envolvidas.Lembre-se dos Enunciados n. 51e 288 do TST.(01621-2002-110-03-00-0 RO -6ª T. - Rel. Juiz Hegel de BritoBoson- Publ. MG 04.12.03)

ALTERAÇÃO CONTRATUAL -IUS VARIANDI. O ius variandi

do empregador não é absoluto.Ao contrário, tem por limite odirei to de resistência doempregado, devendo serrespeitadas as cláusulas maisvantajosas, já contratadas, sobpena de ofensa ao disposto noart. 468 da CLT, que consagrao princípio da intangibilidade.As cláusulas regulamentaressobre condições de trabalhocriam para os empregados umdirei to contratualmenteadquirido.(TRT-RO-3769/98 - 5ª T. - Rel.Juiz Paulo Roberto SifuentesCosta - Publ. MG 12.06.99)

Especificamente quanto àalteração da jornada de trabalho, ensinaainda MÁRCIO TÚLIO VIANA:

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Se uma cláusula constaexpressamente do ajuste, escapaao campo do ius variandi

ordinário e cai no terreno daimutabilidade unilateral (art. 468da CLT). Pergunta-se: será assimsempre? A indagação faz sentidose observarmos que, entre nós,doutrina e jurisprudência tendema admitir alterações unilaterais nohorário de trabalho, desde quemantido o turno. Ora: como sesabe, quase sempre os contratosexpressos prevêem as horas deentrada e saída do empregado...Estaria correto aquele ponto devista? Note-se que há fortesargumentos em contrário. ParaCAPÓN FILAS, por exemplo, ohorário interfere com a vidapessoal e familiar do trabalhador.Assim, “diante de uma alteraçãode horário por parte doempregador, não precisa otrabalhador demonstrar qualquerdano, já que a decisão não temconteúdo válido”. Ressalva oautor, apenas, que a recusa deveser “fundada”. Para nós, nemtanto ao mar, nem tanto à terra.Apenas variações mínimas sãopossíveis, pois o costume astornou previsíveis peloempregado. Assim, deve-seentender, em princípio, que ele écontratado para trabalhar nãonum horário rígido, masaproximadamente naquelehorário.(Artigo “Onde termina o ius

variandi e começa o ius

resistentiae”, publicado noperiódico O TRABALHO, agosto/2000, p. 986)

Para nós, como dizíamos,apenas variações mínimas são

admissíveis. Quanto ao turno eà jornada, são cláusulas docontrato, só alteráveis por mútuoacordo, e sem prejuízo.(Direito de Resistência, p. 271)

Nesse sentido, não se podeacolher como válida a brusca alteraçãocontratual processada pela CSN, eisque não se trata de exercício legítimodo poder diretivo, não se enquadrandodentro dos princípios que norteiam,definem e delimitam o jus variandi.

Além disso, o critério - ou a faltade critério - utilizado pela empresa paradistribuir os empregados nos diversosturnos fixos de trabalho gerou umasituação de desigualdade,discriminando os trabalhadores,causando uma insatisfaçãogeneralizada e criando condições parao embate interpessoal entre aquelesque foram, de forma injustificada,prejudicados ou beneficiados com amodificação impingida, o que fere oprincípio isonômico insculpido no art. 5ºda Constituição da República.

Por todo o exposto,reconhecendo-se ilícita, do ponto devista do Direito do Trabalho, a alteraçãoda jornada promovida pela reclamadae considerando-se também a violaçãodo princípio da igualdade,constitucionalmente assegurado, julga-se procedente o pedido formulado noitem “c.2.1” da inicial, condenando-se aempresa na obrigação de retornar osempregados atingidos pelo ato patronallesivo para o regime de turnosininterruptos de revezamento, comobservância da jornada especialestabelecida no inciso XIV do art. 7º daConstituição Federal.

Em se tratando de medida quevisa à proteção da saúde dosempregados, com intuito de se evitarematé mesmo os riscos de acidentes no

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trabalho, a implementação da medidaora determinada deve se dar da formamais rápida possível.

Não sendo intenção deste Juízoafetar o processo produtivo da empresade forma a inviabilizar ou prejudicar oempreendimento, entendo ser razoável aestipulação de um período para areclamada proceder às devidasadequações em sua esfera administrativa,inclusive promovendo a contratação denovos trabalhadores, caso sejanecessária a criação de uma nova turma.

A nosso ver, levando-se emconta o pequeno período de tramitaçãodo presente feito, o prazo razoável paraa CSN adaptar a jornada de trabalho deseus operários seria de 120 (cento evinte) dias, a contar da publicação destasentença.

Dessa forma, estabelece-se oprazo de 120 (cento e vinte) dias,contados da publicação da presentedecisão, para que a empresa cumpra aobrigação determinada por este Juízo,sob pena de arcar com o pagamento demulta diária no valor de R$ 5.000,00(cinco mil reais), em favor do sindicatoautor.

Muito embora não se coloquecomo fator decisivo para a solução dodissídio, é de bom alvitre que seenfrente o argumento apresentado pelosindicato, no sentido de que amodificação implementada pelaempresa teria redundado no aviltamentodo valor da hora trabalhada, até mesmocomo forma de se evitar o futuro manejode embargos de declaração.

Pelos elementos constantes dosautos, não se verifica a alegada reduçãosalarial. Conforme disposto na cláusula5ª do ACT 2002/2004, que vigorou até17.06.04, a empresa sempre utilizou odivisor 220 para cálculo do salário-horados empregados submetidos a turnosininterruptos de revezamento (f. 33).

Por outro lado, equivoca-se oautor ao alegar que a utilização dodivisor 220, depois de determinada noProcesso 275/04 a adoção do divisor180, poderia se traduzir em redução dovalor do salário-hora dos empregados,anteriormente submetidos a turnosininterruptos de revezamento. Naaludida demanda, julgada por estemesmo Juízo, a empresa defendeuveementemente a tese no sentido deque o divisor a ser aplicado seria 220,com base nas normas coletivas detrabalho até então firmadas com osindicato. Todos os pagamentosefetuados pela CSN observaram estedivisor. Realmente foi determinada autilização do divisor 180 para apuraçãodas horas extras excedentes à sextadiária, porém isso se limitou ao curtoperíodo de um mês, em que osempregados da CSN laboraram emturnos de revezamento de oito horasdiárias, sem o amparo de negociaçãocoletiva. Entretanto, cessado o motivoque ensejou a imposição do divisor 180,restou elidida a obrigatoriedade de aempresa adotar este divisor, uma vezque não mais se configurou a jornadaespecial de seis horas prevista no incisoXIV do art. 7º da Constituição Federal.Além do mais, a questão ainda seencontra sub judice, tramitando aindaaquela ação, em grau de recurso.

Se os empregados nuncareceberam a hora de trabalho calculadacom o divisor 180 - mesmo após amencionada decisão proferida no Proc.275/04 -, não se pode cogitar na alegadaredução salarial.

Quanto às parcelas pretendidasno item “c.2.2” (“c.2.2.1” a “c.2.2.5.3”),não são devidas aos substituídos.

Apesar de se ter declarado ailegalidade da alteração da jornadaadotada pela reclamada, restaincontroverso nos autos que os

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empregados da empresa se encontram,deste o mês de julho/2004, laborandoem turnos fixos, não se caracterizandoo regime de turnos ininterruptos derevezamento, que seria indispensávelpara o enquadramento do empregadona jornada especial prevista no incisoXIV do art. 7º da Constituição daRepública.

Não se configurando o turnoininterrupto de revezamento, não há dese cogitar em jornada de seis horas e,portanto, não há direito dos empregadosao recebimento, como extras, da sétimae oitava horas de trabalho. Tampoucoexiste espaço para a utilização do divisor180 pretendido pelo Sindicato, enquantodurar o período de trabalho em turnosfixos.

Indeferem-se, pois, os pedidosformulados no item “c.2.2” e seusdesdobramentos.

4 - Da abrangência da sentençacondenatória

Constituindo-se controvérsia emtorno dos empregados que teriamsofrido a alteração contratual lesiva eque, portanto, poderiam figurar comosubstituídos nesta ação, faz-senecessária a determinação dostrabalhadores que seriam alcançadospelos efeitos da sentença ora proferida.

Como brilhantemente expôs ocolega José Quintella de Carvalho, MM.Juiz Titular da Primeira Vara do Trabalhode Congonhas, ao julgar açãosemelhante a esta (Proc.00275-2004-054-03-00-0):

Na substituição processual peloSindicato, o conjunto desubstituídos é determinávelindependentemente daapresentação de lista, atéporque, em se tratando de

direitos individuais homogêneos,a sentença deve ser uniformepara todos os empregadosdetentores do direito que temuma origem comum, cuja lesãodecorre de ação ou omissão quealcança igualmente, de formacomum, a todos eles.

Portanto, na forma dos arts. 95e 100 da Lei n. 8.078/90 (CDC),que integram o seu Capítulo II(das ações coletivas para adefesa de interesses individuaishomogêneos), aplicáveissubsidiariamente, já que asações coletivas permitemsentença genérica (art. 95) e ahabilitação de interessados emfase de liquidação (art. 100),todos os substituídos quereúnam as três condiçõesestabelecidas poderão sehabilitar em fase de liquidação,independentemente defigurarem na relação trazida coma petição inicial, ou mesmoserem incluídos na liquidaçãopromovida pelo próprio substitutoprocessual.

A fim de se evitar dúvidas quantoà abrangência da determinaçãoemanada desta decisão, o conjunto desubstituídos alcançados pela presentesentença se determina pelopreenchimento dos seguintes requisitos:

a) Pertençam à categoriaprofissional representadapelo Sindicato reclamante.

b) Sejam empregados da Cia.Siderúrgica Nacional,contratados até a data dapropositura da ação, lotadosna Mineração Casa de Pedra(item 1 da inicial).

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c) Tenham trabalhado emregime de turnosininterruptos de revezamentoaté o mês de junho/2004,sendo transferidos paraturnos fixos de oito horas.

d) Mantenham vínculo deemprego com a reclamada nadata em que se expirar oprazo estabelecido para ocumprimento da obrigaçãoemergente desta sentença,ou na data em que a empresacumprir a determinaçãodeste Juízo, caso esse fatoocorra em época anterior.

5 - Dos honorários advocatícios

Não obstante o cancelamentodo En. 310 do TST, a jurisprudência doTST tende no sentido de que oshonorários advocatícios, na Justiça doTrabalho, são devidos somente nashipóteses de assistência judiciáriaprestada pelo sindicato da categoriaprofissional ao trabalhador beneficiárioda justiça gratuita, nos moldes da Lein. 5.584/70.

No presente caso o sindicato nãoestá prestando assistência judiciária aqualquer trabalhador, mas atuandocomo parte, agindo em nome próprio,como titular do direito de ação, hipótesenão contemplada na legislação em vigor

para assegurar o direito de receber averba honorária.

Julga-se improcedente o pedidoformulado no item “c.2.3”.

III - CONCLUSÃO

Pelo exposto, rejeitando aspreliminares invocadas na contestação,julgo PROCEDENTE, EM PARTE, opedido formulado na presente açãotrabalhista para condenar a reclamada,COMPANHIA SIDERÚRGICANACIONAL, na obrigação de cancelara alteração promovida na jornada detrabalho dos substituídos, retornando osempregados ao regime de turnosininterruptos de revezamento, com aobservância da jornada especialestabelecida no inciso XIV do art. 7º daConstituição da República, no prazo de120 (cento e vinte) dias, contado dapublicação desta sentença, sob pena dearcar com o pagamento de multa diáriafixada em R$5.000,00 (cinco mil reais);tudo de acordo com os comandos dafundamentação, que integram a partedispositiva desta sentença para todosos efeitos.

Custas de R$360,00, pela ré,calculadas sobre R$18.000,00 (dezoitomil reais), valor atribuído à causa.

Cientes as partes (En. 197 doTST).

Encerrou-se.