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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia Mecânica ASTRID LORENA TORRES ALBARRACIN Biogás Oriundo de Resíduos Como Vetor Energético no Brasil CAMPINAS 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Mecânica

ASTRID LORENA TORRES ALBARRACIN

Biogás Oriundo de Resíduos Como Vetor

Energético no Brasil

CAMPINAS

2016

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Dedicatória

A Deus por me dar a oportunidade de

realizar meus sonhos e, aos meus pais e

meus irmãos, cujo exemplo e apoio

incondicional me fizeram ser quem sou

hoje.

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Agradecimentos

À minha família pelo incentivo à melhoria contínua em todos os aspectos de vida e à

motivação para novos horizontes.

Ao meu orientador, Prof. Sergio Valdir Bajay, pela constante e sincera demonstração

de amizade, apoio, incentivo, ensinamento e motivação aos desafios deste trabalho.

A todos os meus amigos, de dentro e fora do Brasil, que estiveram presentes durante a

realização de todo o trabalho, acompanhando, e que de alguma forma fizeram parte deste

estudo, em especial a todos os colegas do mestrado, e aos funcionários da Faculdade de

Engenharia Mecânica da Unicamp.

Ao programa do PSE pela oportunidade do curso de mestrado e por contribuir com a

minha formação, em especial a todos os professores que me fizeram aprender algo a mais, e

me forneceram experiências únicas das quais levarei pelo resto da vida como boas

lembranças.

À CAPES pelo apoio financeiro durante o mestrado.

Enfim, a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para o meu sucesso.

A todos amigos e professores que fizeram com que conseguisse tornar meu sonho realidade.

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Resumo

O biogás é uma fonte de energia que pode ser obtida a partir de vários resíduos de

atividades industriais, agropecuárias e florestais e, também, a partir de resíduos sólidos

urbanos.

O biogás pode ser consumido como combustível industrial, alimentando caldeiras,

fornos e secadores, ou ser utilizado, após alguma purificação, como combustível veicular.

Tratamentos mais complexos, que eliminem a umidade e contaminantes e concentrem o seu

teor de metano, podem transformá-lo em biometano, que substitui, ou complementa o gás

natural. Um de seus usos mais difundidos, no Brasil e no mundo, é para gerar energia elétrica.

A sua utilização mais adequada em cada circunstância depende de vários fatores, tais como o

substrato disponível para a sua produção, seus custos, preços dos energéticos concorrentes e

eventuais políticas públicas de fomento a certos usos.

A cadeia de valor da produção e aproveitamento energético do biogás envolve vários

tipos de agentes. Incentivos ao crescimento do mercado do biogás devem atingir, na medida

do possível, a maioria destes agentes. Entrevistas com estes vários tipos de agentes, realizadas

no contexto de um projeto de P&D da ANEEL e analisadas nesta dissertação, indicaram suas

visões sobre as principais barreiras e oportunidades para o crescimento do mercado de biogás

no Brasil.

Com base nestas entrevistas, nas atuais políticas do governo brasileiro que afetam o

biogás e em políticas públicas bem sucedidas para o biogás em outros países, novas políticas,

classificadas em quatro categorias complementares, são propostas para alavancar toda a

cadeia de valor do biogás no Brasil.

Palavras Chave: Biogás; Aproveitamento energético; Resíduos; Políticas públicas.

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Abstract

Biogas is an energy source that can be obtained from several residues of industrial,

agricultural and forestry activities, as well as from urban solid wastes.

Biogas can be consumed as an industrial fuel, feeding steam generators, furnaces and

driers, or can be used, after some purification, as an automotive fuel. More complex

treatments, which eliminate the moisture and contaminants and concentrate its methane

content, can transform biogas into biomethane, which substitutes or complements natural gas.

One of the most widespread uses of biogas, in Brazil and elsewhere, is the generation of

electricity. The most adequate use of biogas in each circumstance depend on several factors,

such as the available type of residue, the production costs, the prices of competing fuels and

the existence of public policies fostering specific uses.

The value chain of biogas production and its use as an energy source engage several

types of agents. Incentives for a growing biogas market should reach, as far as possible, most

of these agents. Interviews with these several types of agents, carried out within a R&D

project regulated by ANEEL and evaluated in this thesis, indicated their views about the main

barriers and opportunities for the growth of the biogas market in Brazil.

Based on these interviews, on the current policies of the Brazilian government

affecting biogas and on successful public policies for biogas in other countries, new policies,

classified into four complementary categories, are proposed to foster the whole value chain of

biogas in Brazil.

Key words: Biogas; Energy recovery; Waste; Public policies.

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Lista de Figuras

Figura 1.1 Oferta Interna de Energia no Brasil em 2014.......................................................... 16

Figura 1.2 Matriz energética mundial em 2014 ........................................................................ 17

Figura 1.3 Distribuição da oferta interna de energia elétrica por fonte no Brasil em 2014 ..... 18

Figura 1.4 Tecnologias para conversão de biomassa em energia ............................................. 20

Figura 1.5 Rotas para utilização de gás do lixo ........................................................................ 23

Figura 2.1 Índices de abrangência da coleta de RSU no Brasil em 2013 ................................. 28

Figura 2.2 Distribuição da destinação final dos RSU coletados em 2013 ................................ 29

Figura 2.3 Quantidade de municípios por tipo de destinação adotada para os RSU em 2013 . 30

Figura 2.4 Municípios com iniciativas de coleta seletiva em 2013 .......................................... 30

Figura 2.5 Opções de comercialização dos energéticos produzidos a partir de RSU .............. 32

Figura 3.1 Hierarquia na gestão dos RSU, segundo a PNRS ................................................... 39

Figura 3.2 Tecnologias utilizadas em biodigestores ................................................................. 41

Figura 3.3 Características técnicas de um aterro sanitário ....................................................... 42

Figura 3.4 Processo de compostagem....................................................................................... 47

Figura 3.5 Diagrama do processo em uma URE com combustão de lixo urbano em grelha e

geração de energia elétrica ....................................................................................................... 48

Figura 3.6 Esquema de um reator pirolítico ............................................................................. 49

Figura 3.7 Processo de gaseificação ......................................................................................... 50

Figura 3.8 Tecnologias de aproveitamento energético de resíduos, a partir da produção de

biogás ........................................................................................................................................ 51

Figura 4.1 Modelos úteis para o cálculo da geração de biogás a partir de aterros sanitários ... 57

Figura 6.1 Agentes que atuam na cadeia de valor na produção de biogás ............................... 77

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Lista de Tabelas

Tabela 2.1 Classificação dos tipos de resíduos para geração de biogás ................................... 26

Tabela 2.2 Produção de biogás por tipo de biomassa ............................................................... 26

Tabela 2.3 Geração de RSU em 2012 e 2013 ........................................................................... 27

Tabela 2.4 Geração de RSU por região em 2013 ..................................................................... 27

Tabela 2.5 Coleta de RSU em 2012 e 2013 .............................................................................. 28

Tabela 2.6 Coleta de RSU por região em 2013 ........................................................................ 28

Tabela 2.7 Volume de esgoto tratado por dia no Brasil em 2008, por regiões ........................ 33

Tabela 2.8 Porcentagens de tratamento de esgoto no Brasil em 2013, por regiões.................. 34

Tabela 2.9 Produção de biogás por tipo de dejeto animal ........................................................ 36

Tabela 2.10 Potenciais para a produção de biogás e bioeletricidade a partir da biodigestão de

diversos tipos de resíduos no Brasil ......................................................................................... 37

Tabela 3.1 Rotas tecnológicas para o aproveitamento de resíduos sem a produção de biogás 51

Tabela 4.1 Valores sugeridos para a constante k, de acordo com o Banco Mundial ............... 53

Tabela 4.2 Quantidades e características dos RSU do problema de otimização ...................... 59

Tabela 4.3 Dados técnicos e econômicos dos módulos de incineração.................................... 60

Tabela 4.4 PCI do RSU por cidade........................................................................................... 61

Tabela 4.5 Resultados obtidos para o cenário em que x1, x2 >= 0 ........................................... 61

Tabela 4.6 Resultados obtidos para o cenário em que x1, x2 >= 1 ........................................... 62

Tabela 5.1 Programas de fomento da EPA para fontes renováveis de energia ........................ 70

Tabela 6.1 Barreiras e oportunidades indicadas por empresas públicas da cadeia do biogás .. 79

Tabela 6.2 Barreiras e oportunidades indicadas por empresas privadas da cadeia do biogás .. 80

Tabela 6.3 Comparação das principais tecnologias para geração de eletricidade a partir do

biogás ........................................................................................................................................ 81

Tabela 6.4 Produção de eletricidade a partir de biogás em alguns países europeus em 2013 .. 82

Tabela 6.5 Usinas de geração de eletricidade a partir de aterros sanitários no Brasil .............. 82

Tabela 6.6 Grupos de pesquisa no Brasil que atuam com elementos da cadeia do biogás ...... 87

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Lista de Abreviaturas e Siglas

ABIOGÁS Associação Brasileira de Biogás

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos

Especiais

ACL Ambiente de Contração Livre

ACR Ambiente de Contração Regulada

AMJG Aterro Metropolitano Jardim Gramado

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

BIMSCHG Bundes-Immissionsschuttzgesetz

CCEE Câmara de Comercialização de energia elétrica

CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CIBIOGÁS Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás

COFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CONFAZ Conselho Nacional de Política Fazendária

CSLL Contribuição Social sobre Lucro Líquido

DNE Direção Nacional de Energia

EEG Erneuerbare-Energien-Gesetz

EEWÄRMEG Emeuerbare-Energien-Wärmegesetz

ENWG Energiewirsstschaftsgesetz

EPA Environmental Protection Agency

EPE Empresa de Pesquisa energética

ETAE Estação de Tratamento Anaeróbico de Efluentes

ETE Estação de Tratamento de Esgoto

GDL Gás do Lixo

GEE Gases de Efeito Estufa

GNV Gás Natural Veicular

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de Transporte

Interestadual Intermunicipal e de Comunicação

IRPF Imposto de Renda de Pessoa Física

IRPJ Imposto de Renda Pessoa Jurídica

IPCC Intergovernmental Panel of Climate Change

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IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano

ISS Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza

ITBI Imposto sobre Transmissão de Bens Inter Vivos

ITR Imposto Territorial Rural

LANDGEM Landfill Gas Emission Model

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MCTI Ministério da Ciência, tecnologia e Inovação

MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

NAMA Nationally Appropriate Mitigation Actions

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico

ONU Organização das Nações Unidas

O&M Operação e Manutenção

PASEP Programas de Formação do Patrimônio do Servidor Público

PCI Poder Calorífico Inferior

PIS Programas de Integração Social

PLANASB Plano Nacional de Saneamento Básico

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

PPA Power Purchase Agreement

PROINFA Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

REIDI Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura

RHI Renewable Heat Incentive

ROC Renewables Obligation Certificates

RPS Renewable Portfolio Standards

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

SEB Setor Elétrico Brasileiro

TMB Tratamento Mecânico e Biológico

UASB Upflow Anaerobic Sludge Blanket

UNFCCC Convenção Quadro da ONU sobre as Mudança do Clima

URE Unidade de Recuperação de Energia

VR Valor de Referência

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Sumário

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16

1.1 Apresentação ................................................................................................................. 16

1.2 Objetivos da dissertação ............................................................................................... 24

1.3 Escopo do trabalho ....................................................................................................... 25

2 RESÍDUOS DISPONÍVEIS PARA A PRODUÇÃO DE BIOGÁS NO BRASIL ............. 26

2.1 Resíduos sólidos urbanos .............................................................................................. 27

2.1.1 Panorama atual dos RSU no Brasil ........................................................................ 27

2.1.2 Aproveitamento energético dos RSU .................................................................... 31

2.2 Esgoto ........................................................................................................................... 32

2.2.1 Panorama atual da coleta e tratamento de esgotos no Brasil ................................. 32

2.2.2 Aproveitamento energético de esgotos .................................................................. 34

2.3 Resíduos industriais ...................................................................................................... 34

2.4 Resíduos agropecuários e florestais .............................................................................. 35

2.5 Potenciais técnicos para aproveitamento energético de resíduos da biomassa no Brasil ........ 36

3 PRINCIPAIS ROTAS TECNOLÓGICAS PARA O APROVEITAMENTO

ENERGÉTICO DE RESÍDUOS .............................................................................................. 38

3.1 Separação dos vários tipos de resíduos ......................................................................... 38

3.2 Biodigestores ................................................................................................................ 39

3.3 Aterros sanitários com aproveitamento energético ....................................................... 41

3.4 Geração de eletricidade a partir do biogás .................................................................... 42

3.4.1 Turbinas a gás ........................................................................................................ 43

3.4.2 Microturbinas a gás................................................................................................ 43

3.4.3 Motores de combustão interna do ciclo Otto ......................................................... 44

3.5 Purificação do biogás .................................................................................................... 45

3.6 Rotas tecnológicas para o aproveitamento de resíduos sem a produção de biogás ...... 46

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3.6.1 Compostagem ........................................................................................................ 46

3.6.2 Unidade de recuperação de energia ....................................................................... 47

3.6.3 Pirólise ................................................................................................................... 48

3.6.4 Gaseificação ........................................................................................................... 49

3.7 Síntese das rotas tecnológicas analisadas no capítulo .................................................. 50

4 MODELOS MATEMÁTICOS PARA ESTIMAR O POTENCIAL DE

APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DE RSU .................................................................... 52

4.1 Modelos para estimar a produção de metano em aterros sanitários ............................. 52

4.1.1 Modelo Scholl-Canyon .......................................................................................... 53

4.1.2 Modelo LandGem .................................................................................................. 54

4.1.3 Modelo adotado pelo IPCC ................................................................................... 55

4.1.4 Considerações gerais sobre os três modelos .......................................................... 56

4.2 Programa que estima o potencial de aproveitamento energético de ETAEs ................ 57

4.3 Otimização do aproveitamento energético de RSU através de UREs .......................... 58

4.3.1 Um estudo de caso ................................................................................................. 59

5 POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS DE FOMENTO À PRODUÇÃO E

UTILIZAÇÃO DE BIOGÁS NO BRASIL E EM PAÍSES SELECIONADOS ...................... 63

5.1 Políticas públicas de fomento ao biogás no Brasil ....................................................... 63

5.2 Alguns países da União Europeia ................................................................................. 65

5.2.1 Alemanha ............................................................................................................... 66

5.2.2 Reino Unido ........................................................................................................... 67

5.3 Estados Unidos ............................................................................................................. 68

5.4 Alguns países asiáticos ................................................................................................. 71

5.4.1 China ...................................................................................................................... 71

5.4.2 Japão ...................................................................................................................... 73

5.5 Alguns países da América Latina ................................................................................. 74

5.5.1 Chile ....................................................................................................................... 75

5.5.2 Uruguai .................................................................................................................. 75

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6 CADEIA DE VALOR NA PRODUÇÃO DE BIOGÁS COMO VETOR ENERGÉTICO

NO BRASIL ............................................................................................................................. 77

6.1 Barreiras e oportunidades segundo as empresas que atuam na cadeia de valor do

biogás .................................................................................................................................... 78

6.2 Geração de eletricidade ................................................................................................. 80

6.3 Produção de biometano combustível ............................................................................ 83

6.4 Fabricantes de equipamentos ........................................................................................ 84

6.5 Empresas de engenharia ou de consultoria que atuam nesta área................................. 86

6.6 Pesquisa e desenvolvimento nesta área no Brasil ......................................................... 87

7 PROPOSTAS DE NOVAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO AO BIOGÁS

COMO VETOR ENERGÉTICO .............................................................................................. 90

7.1 Propostas de novas políticas públicas pelo lado da oferta ............................................ 92

7.1.1 Desoneração fiscal ................................................................................................. 92

7.1.2 Facilidades creditícias ............................................................................................ 96

7.1.3 Apoio para conexão à rede elétrica ........................................................................ 97

7.1.4 Fomento ao desenvolvimento tecnológico ............................................................ 97

7.2 Propostas de novas políticas públicas pelo lado da demanda ....................................... 98

7.3 Propostas de novas políticas públicas transversais ....................................................... 99

7.4 Propostas de novas políticas de cunho ambiental para a gestão de resíduos .............. 100

8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ......................................................................... 102

8.1 Resíduos sólidos urbanos ............................................................................................ 103

8.2 Resíduos agroindustriais ............................................................................................. 104

8.3 Resíduos de esgotos urbanos ...................................................................................... 105

8.4 Recomendações para trabalhos futuros....................................................................... 105

ANEXOS ................................................................................................................................ 112

ANEXO A - Benefícios fiscais para geração de energia elétrica a partir de biogás .............. 113

ANEXO B - Beneficios condedidos em Convênio do Confaz ............................................... 115

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação

As fontes de energia são recursos fundamentais para o crescimento da economia de

um país. Para o caso de países em desenvolvimento como o Brasil é um fator crítico, que pode

afetar distintos setores da sociedade e da economia (COSTA et al., 2012).

Atualmente a produção e consumo de energia são fortemente baseadas em

combustíveis fósseis altamente poluentes que geram gases de efeito estufa (GEE),

representando riscos ao suprimento de longo prazo no planeta. É preciso, por tanto, estimular

a produção de fontes renováveis de energia. Neste sentido, o Brasil está em uma posição mais

confortável do que o resto do mundo, já que a oferta interna de energia proveniente de fontes

renováveis no País em 2014 foi de 39,4% (Figura 1.1), enquanto que a média mundial naquele

ano foi de 14,4% (Figura 1.2).

Figura 1.1 Oferta Interna de Energia no Brasil em 2014

Fonte: EPE (2015)

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Figura 1.2 Matriz energética mundial em 2014

Fonte: IEA (2015)

Para incentivar a utilização de fontes renováveis alternativas na geração de energia

elétrica, o governo brasileiro criou, em 26 de abril de 2002, mediante a Lei no 10.438, o

Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), o qual

posteriormente foi revisado pela Lei n. 10.762, de 11 de novembro de 2003. Após diversas

mudanças efetuadas no modelo institucional do setor elétrico brasileiro, em 2004, a segunda

fase do programa Proinfa, prevista na Lei no 10.438, foi descartada e as fontes renováveis

alternativas passaram a ser incentivadas através de sua participação, com preços-teto

favoráveis, em leilões visando selecionar novas usinas para o parque gerador. Em decorrência

destas ações governamentais, fontes renováveis alternativas, como a solar, a eólica e a

biomassa, passaram a ser vistas pelos empreendedores com uma perspectiva de investimento

mais factível no contexto da geração de energia elétrica no Brasil.

A utilização da biomassa como fonte alternativa aos combustíveis fósseis é uma boa

opção para reduzir os impactos ambientais e contribuir para a sustentabilidade da matriz

energética dos países (FIGUEIREDO, 2011).

Segundo o texto do Acordo de Paris sobre o clima (COP-21), as Partes da Convenção

Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC)1 chegaram a um entendimento relativo

1 O governo brasileiro se comprometeu na COP-21 (21ª Conferência das Partes) a: reduzir, até 2025, as emissões

de GEE em 37%, em relação aos níveis de 2005; atingir, em 2030, uma participação de 45% de fontes

renováveis na matriz energética nacional; aumentar a participação de fontes renováveis não hídricas, incluindo

biocombustíveis, energia eólica e energia solar; fortalecer o cumprimento do Código Florestal, em âmbito

federal, estadual e municipal; fortalecer o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono como a principal

estratégia para o desenvolvimento sustentável na agricultura; promover novos padrões de tecnologias limpas e

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aos termos do mesmo, reconhecendo que as fortes mudanças climáticas, como o aumento da

temperatura na superfície da Terra e uma maior quantidade de catástrofes naturais nos últimos

anos, representam uma ameaça urgente e potencialmente irreversível para as sociedades

humanas e para o planeta e, portanto, requer a cooperação de todos os países para acelerar a

redução das emissões globais de GEE. Uma maior inclusão de fontes renováveis na matriz

energética é um dos principais objetivos para se atingir novas metas de redução destes gases

(UNFCCC, 2015).

As centrais elétricas de serviço público e os autoprodutores no Brasil geraram 590,5

TWh em 2014. As centrais de serviço público foram responsáveis por 84,1% da geração total.

A principal fonte de geração de energia elétrica no País é a hidráulica, que gerou 65,1%2 da

produção total de eletricidade em 2014 (Figura 1.3). A geração elétrica a partir de fontes não

renováveis representou 25,6% do total nacional naquele ano (EPE, 2015).

Figura 1.3 Distribuição da oferta interna de energia elétrica por fonte no Brasil em 2014

Fonte: EPE (2015)

Conforme ilustrado na Figura 1.3, o Brasil continua muito dependente da fonte hídrica

e de usinas termelétricas a gás natural para a geração de eletricidade. É preciso haver uma

maior diversificação para garantir a segurança nacional, além da necessidade de uma maior

inclusão de outras fontes renováveis de energia, além da hídrica, na matriz elétrica brasileira

(MAMEDE, 2013).

ampliar medidas de eficiência energética na indústria; e promover medidas de eficiência na infraestrutura de

transportes e no transporte público em áreas urbanas. 2 A geração de energia elétrica no Brasil a partir da fonte hídrica nos últimos anos foi superior à produção no ano

2014. De acordo com o Balanço Energético Nacional no ano 2013 sua participação foi de 70,6% (EPE, 2014).

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Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, alguns projetos implantados de

“energia verde” podem participar como vendedores de certificados de crédito de carbono no

mercado internacional de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)3. Os certificados

comprovam que o projeto foi desenvolvido de maneira sustentável e que permite a captura de

CO2. Por convenção, uma tonelada de CO2 corresponde a um crédito de carbono. O setor

elétrico pode participar do mercado MDL com usinas movimentadas por fontes renováveis

alternativas, com programas de conservação de energia e projetos de reflorestamento. Os

compradores dos certificados são as companhias situadas nos países desenvolvidos que

podem utilizar os créditos adquiridos para diminuir os compromissos de redução das emissões

(ANEEL, 2008).

Segundo PAVAN (2010), as tecnologias mais conhecidas para a produção de energia a

partir de biomassa, seja calor, eletricidade ou combustível veicular, estão ilustradas na Figura

1.4 e podem ser classificadas em três grupos: i) processos de conversão termoquímica; ii)

processos de conversão bioquímica; e iii) processos de conversão físico-químicos.

Nos processos de conversão termoquímica há a produção de uma quantidade significativa

de calor durante o processamento. Reações endotérmicas e exotérmicas ocorrem nestes

processos, cujos produtos e resíduos incluem gás de síntese (composto de hidrogênio

gasoso, monóxido e dióxido de carbono), resíduos sólidos e, dependendo do processo,

líquidos orgânicos. Estão incluídos neste grupo os processos de incineração, gaseificação,

pirólise e liquefação.

Conversão bioquímica é a transformação de resíduos de biomassa mediante a

decomposição por micro-organismos, acompanhada da produção de líquidos ou gases. A

digestão anaeróbia (sem a produção de oxigênio) e a fermentação pertencem a este grupo.

A digestão anaeróbia, que ocorre em aterros sanitários ou em biorreatores, produz o

biogás. Na fermentação, por sua vez, os açúcares são convertidos em álcool pela ação de

micro-organismos e os componentes finais são separados através de destilação.

Um processo de conversão fisico-química envolve a síntese física e química de produtos,

como a transformação de óleos vegetais em biodiesel. As reações químicas são realizadas,

3 Entre os requisitos gerais que devem ser atendidos por um projeto candidato a receber recursos do MDL estão:

ter a participação voluntária dos atores envolvidos; contar com a aprovação do país onde será implantado; apoiar

os objetivos de desenvolvimento sustentável definidos pelo país onde será implantado; reduzir as emissões de

GEE em relação ao que ocorrerá se ele não dor implementado; contabilizar o aumento de emissões de GEE que

ocorra fora dos limites das suas atividades e que seja atribuível a essas atividades; trazer uma estimativa dos

impactos de suas atividades – as partes envolvidas e/ou afetadas por esses gases impactados deverão ter sido

comprovadamente consultadas; e gerar benefícios climáticos – mensuráveis, reais e de longo prazo (FBB, 2010).

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em geral, através do processo de transesterificação, que, por sua vez, pode empregar

catalisadores alcalinos, ácidos ou enzimáticos e metanol ou etanol.

Os resíduos da biomassa podem ser classificados em: i) primários, que são aqueles

produzidos na agricultura e silvicultura; ii) secundários, os gerados durante o processo

produtivo (indústrias de alimentos, de bebidas, de papéis, entre outras); e, iii) terciários, os

resultantes do pós-uso de resíduos secundários, correspondendo à fração orgânica dos

resíduos sólidos urbanos (PAVAN, 2010).

Figura 1.4 Tecnologias para conversão de biomassa em energia

Fonte: PAVAN (2010)

Países mais desenvolvidos, como a Alemanha, vêm investindo nos últimos anos em

unidades de geração de energia elétrica a partir de biogás. Entre os anos 2000 e 2010, o

número de unidades de biogás aumentou 6 vezes, totalizando aproximadamente 6.000

instalações. Neste período, a capacidade instalada de energia elétrica a partir de biogás

aumentou 39 vezes, atingindo 2,28 GW (BACHMAIER et al., 2013). Dentro do mesmo

período, a participação da geração de energia elétrica a partir de fontes renováveis subiu de

6,3% para 16,8%. O principal instrumento legal responsável por este desenvolvimento é a lei

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alemã sobre fontes renováveis de energia, aprovada em 01 de abril do ano 2000. Ela contém

especificações detalhadas das tarifas feed-in de eletricidade a partir de fontes renováveis de

energia. Desde 2000, estas especificações foram alteradas várias vezes com fortes impactos

sobre a estrutura das plantas de biogás e as matérias primas utilizadas (BACHMAIER et al.,

2013).

O biogás é uma fonte de energia que pode ser obtida a partir de vários resíduos de

atividades industriais, agropecuárias e florestais e, também, a partir de resíduos sólidos

urbanos.

O biogás pode ser convertido em energia útil como combustível para: (i) motores de

combustão interna, ou turbinas; (ii) queima em fogões, fornos, caldeiras ou secadores; ou (iii)

para transporte, em frotas veiculares. A escolha de uma destas alternativas depende do sistema

de coleta utilizado, do sistema de tratamento do biogás e do sistema de geração, ou

recuperação de energia.

De acordo com Costa (2012), o biogás produzido nos aterros sanitários pela

decomposição anaeróbica da matéria orgânica poderia ser uma ameaça ao ambiente local, se

fosse uma emissão descontrolada, causando danos à vegetação, gerando odores desagradáveis

e oferecendo riscos de explosão em concentrações entre 5% e 15% no ar. Além disso, o

biogás pode ser, também, um problema global, pois é formado por cerca de 50% de metano,

que é um gás causador do efeito estufa.

A disposição final dos resíduos sólidos urbanos (RSU) é um grande problema da

sociedade, que envolve questões ambientais, sociais e de saúde pública. Após a disposição

dos RSU em aterros sanitários, reações bioquímicas passam a ocorrer nos componentes

orgânicos presentes. Em faixa próxima à superfície, devido à presença do ar atmosférico,

ocorre a oxidação aeróbica destes compostos com formação de dióxido de carbono e vapor de

água. Nas camadas mais profundas predomina a ausência de oxigênio, favorecendo a digestão

anaeróbia. A coleta do biogás em aterros sanitários com a finalidade de aproveitamento

energético requer o prévio planejamento da instalação dos equipamentos destinados para este

fim, permitindo ao operador do sistema o monitoramento e o ajuste do fluxo de gás (FEAM,

2012).

O Guia de Orientações para os Governos Municipais do Estado de Minas Gerais

(FEAM, 2012) destaca que a queima do biogás para o aproveitamento energético, ou obtenção

de créditos de carbono gera benefícios ambientais expressos na produção de energia elétrica

ou térmica a partir de um combustível renovável, na redução de odores representados pelas

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emissões fugitivas dos aterros sanitários, bem como na queima de um gás de efeito estufa, o

metano, 21 vezes mais potente que o CO2.

De uma forma geral, o aproveitamento do Gás do Lixo (GDL) apresenta as seguintes

vantagens: redução das emissões de gases de efeito estufa; geração de receita para aterros

existentes; utilização para geração de energia elétrica, ou como combustível; e redução da

possibilidade de ocorrência de autoignição ou explosão, por conta das altas concentrações de

metano. Por outro lado, as desvantagens associadas a este aproveitamento são: recuperação

parcial do gás em aterros, sobretudo naqueles cuja construção não foi projetada para este fim;

alto custo do tratamento necessário para o aproveitamento do gás; e diminuição da

disponibilidade de combustível ao longo da vida útil do projeto (EPE, 2014b).

Outro processo para o aproveitamento energético de RSU utiliza a tecnologia de

biometanização. Esta tecnologia tem como base a geração de biogás a partir da digestão

anaeróbia da fração orgânica de RSU em reatores específicos. A digestão anaeróbia ocorre em

quatro estágios: hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese, com atuação

predominante de diferentes grupos de bactérias em cada estágio (FEAM, 2012).

Dependendo do grau de tratamento realizado, o biogás, de uma forma geral, e o biogás

proveniente de aterros sanitários, em particular, pode ser classificado como de baixa, média,

ou alta qualidade. Conforme indicado na Figura 1.5, quando não há interesse no

aproveitamento energético do GDL coletado em um aterro sanitário, ele é queimado in situ,

transformando o CH4 contido no gás em CO2, que é menos prejudicial ao efeito estufa do

planeta. Um GDL de baixa qualidade pode ser utilizado para aquecimento local, aquecimento

de processos, queimado em caldeiras, cujo vapor pode passar por turbinas a vapor que

acionam geradores elétricos ou, então, ser purificado para se transformar em um biogás de

média qualidade. A utilização de um GDL de média qualidade é mais ampla; ele pode ser

empregado como combustível no aquecimento de processos e em caldeiras, mas também em

turbinas, ou microturbinas a gás e em motores de combustão interna, que podem acionar

geradores elétricos ou, ainda, passar por uma purificação adicional que o transforme em um

biogás de alta qualidade. Finalmente, o GDL de alta qualidade pode ser consumido em células

a combustível, ou no aquecimento de processos, ser injetado em gasodutos, ou ser empregado

em outras aplicações, tais como na produção de metanol, ou como combustível veicular. O

CO2 extraído durante a purificação do GDL pode ser vendido para fabricantes de

refrigerantes.

A produção de energia elétrica a partir de GDL e a venda desta para a rede pública

pode ser uma boa alternativa, especialmente quando o uso final do biogás como combustível

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não for viável. As vantagens do uso do GDL para geração de energia elétrica incluem a

possibilidade de transmissão para longas distâncias, a disponibilidade de tecnologias para

praticamente qualquer tamanho de aterro sanitário, e a alta eficiência energética,

especialmente quando a geração de eletricidade é feita com o uso do ciclo combinado. As

desvantagens desta alternativa de aproveitamento energético do GDL são a necessidade de um

maior investimento de capital e maiores gastos para o pré-tratamento do gás.

Figura 1.5 Rotas para utilização de gás do lixo

Fonte: EPE (2014b)

É importante mencionar que o aproveitamento econômico do GDL oriundo de aterros

sanitários para geração de energia elétrica é limitado a aproximadamente 30 anos, enquanto

que as emissões dos aterros duram mais tempo (EPE, 2014b).

As análises feitas nesta dissertação abrangem o biogás obtido a partir de diversos

substratos. No entanto, algumas partes do trabalho se referem somente ao biogás proveniente

de RSU, por conta de se ter tido acesso a pesquisas de campo e mais estudos de boa qualidade

referentes a este substrato para a produção de biogás no país, do que outros substratos.

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1.2 Objetivos da dissertação

Esta dissertação tem como objetivo geral identificar as principais barreiras atualmente

existentes para a produção e uso energético do biogás no Brasil e avaliar as perspectivas de

uma maior difusão no futuro desta alternativa de suprimento energético, à luz de novas

políticas públicas de fomento, propostas neste trabalho.

Para atingir este objetivo geral, foram formulados os seguintes objetivos específicos:

(i) Análise do atual uso energético do biogás no País e perspectivas para a sua

ampliação no futuro, de acordo com estudos anteriores a este, contemplados na

literatura técnica consultada;

(ii) Processamento e análise das opiniões manifestadas, através de entrevistas, sobre os

temas abordados nesta dissertação, por diversos “stakeholders” que atuam, ou

interferem no mercado de biogás no Brasil – empresas e associações de limpeza

pública, operadores de aterros sanitários, fabricantes de equipamentos para o

processamento e utilização do biogás, empresas de consultoria e de engenharia

especializadas neste ramo, órgãos governamentais que participam da formulação

de políticas públicas que afetam a produção de biogás no País, associações

setoriais que atuam nesta área e ONGs que tem interesse no desenvolvimento deste

setor;

(iii) Apresentação de modelos computacionais que podem ser utilizados em estudos de

aproveitamento energético do biogás e realização de um estudo de caso utilizando

um destes modelos;

(iv) Proposta de novas políticas públicas para fomentar o uso energético de biogás no

Brasil, com base em experiências bem sucedidas em outros países, sintetizadas na

dissertação, e nas sugestões apresentadas pelos stakeholders que participaram do

levantamento mencionado em (ii).

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1.3 Escopo do trabalho

O capítulo dois apresenta as principais matérias-primas que podem ser utilizadas para

obter o biogás no Brasil. Elas contemplam os resíduos sólidos urbanos, esgotos, resíduos

industriais e resíduos agropecuários e florestais.

As rotas tecnológicas que permitem o aproveitamento energético do biogás produzido

a partir dos resíduos apresentados no capítulo anterior são descritas no capítulo três.

Descreve-se a separação dos diversos tipos de resíduos, a tipologia e o funcionamento dos

biodigestores, como se efetua o aproveitamento energético do biogás oriundo de aterros

sanitários, os processos de purificação do biogás para se obter o biometano e, também, o

aproveitamento energético de resíduos sem a produção de biogás.

O capítulo quatro apresenta alguns modelos matemáticos utilizados nos estudos de

aproveitamento energético do biogás, com destaque para o biogás produzido em aterros

sanitários e em estações de tratamento de esgoto. Um destes modelos, utilizando técnicas de

otimização, é ilustrado neste capítulo, à guisa de estudo de caso.

No capítulo cinco são analisadas políticas públicas e programas governamentais de

fomento à produção e utilização de biogás no Brasil e em outros países da União Europeia,

América do Norte, Ásia e América Latina.

A cadeia de valor do biogás como vetor energético no Brasil é discutida no capítulo

seis. Neste capítulo são indicados os principais tipos de agentes que atuam, ou interferem no

mercado de biogás no País. Uma amostra destes agentes foi entrevistada e suas opiniões sobre

barreiras e oportunidades para a expansão deste mercado foi compilada e analisada. O

capítulo se encerra com uma avaliação dos atuais esforços de pesquisa e desenvolvimento

nesta área no Brasil.

A análise das conclusões e recomendações de estudos anteriores a este, descritas na

literatura técnica consultada, as experiências bem sucedidas de políticas públicas e programas

governamentais de fomento ao biogás no exterior e recomendações dos agentes de mercado

compiladas no capítulo anterior permitiram a proposição, no capítulo sete, de novas políticas

públicas e programas governamentais de fomento ao aumento da produção e consumo deste

combustível na matriz energética brasileira.

O capítulo oito contém as conclusões finais deste trabalho e recomendações de

possíveis trabalhos futuros que poderiam ser desenvolvidos a partir desta dissertação.

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2 RESÍDUOS DISPONÍVEIS PARA A PRODUÇÃO DE BIOGÁS

NO BRASIL

Os resíduos orgânicos de origem vegetal, animal, agroindustrial, florestal e doméstico,

entre outros, são matérias primas que podem ser utilizadas no processo de biodigestão. A

Tabela 2.1 apresenta uma classificação dos resíduos aproveitáveis para a geração de biogás.

Tabela 2.1 Classificação dos tipos de resíduos para geração de biogás

Resíduos animais Esterco, resíduos de matadouros, resíduos de peixes

Resíduos vegetais Ervas daninhas, resíduos de colheitas, palhas

Resíduos humanos Esgotos

Resíduos sólidos urbanos Rejeitos de atividades domésticas e de varrição de ruas

Resíduos agroindustriais Vinhoto, melaço, resíduos de sementes

Resíduos florestais Folhas, ramos e cascas de árvores

Resíduos de cultivos aquáticos Algas marinhas, ervas daninhas aquáticas Fonte: MINENERGIA et al. (2011)

As características bioquímicas presentes nos resíduos são as que permitem que ocorra

uma atividade microbiana adequada. Alguns fatores como a temperatura e o pH, afetam a

quantidade de biogás gerada. A Tabela 2.2 mostra a produção de biogás, em m3/t de biomassa,

para vários tipos de matéria-prima.

Tabela 2.2 Produção de biogás por tipo de biomassa

Biomassa Produção de biogás

[m3/ton biomassa]

Fração orgânica dos RSU (lixo orgânico) 150 – 200

Vinhaça, torta de filtro, palha e bagaço (processamento de cana de

açúcar) 20 – 100

Dejetos animais (suínos, bovinos e de aves) 12 – 70

Matadouros (carne, sangue) 30 – 185

Cama de aviário 100 – 200

Resíduos agroindustriais (soro de leite, grãos, cervejeiros, resíduos

de hortifruti) 60 – 110

Resíduos de lavouras (soja, café, mandioca) 50 – 500

Glicerina (produção de biodiesel) 600 – 650

Culturas energéticas (milho, sorgo, triticale) 180 – 220

Lodos de esgoto 40 – 60

Fonte: SEBIGAS (2014)

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2.1 Resíduos sólidos urbanos

Os resíduos sólidos urbanos (RSU) são, em sua maioria, provenientes de atividades

domésticas ou de limpezas nas ruas, incluindo alguns resíduos de atividades comerciais, ou

industriais de similar natureza. Estes resíduos geralmente são compostos por uma fração de

papel, resíduos alimentícios, madeira, papelão, vidro e metais, além de ter uma fração de

derivados do petróleo como plásticos, gomas e telas sintéticas (MORATORIO; ROCCO;

CASTELLI, 2012).

2.1.1 Panorama atual dos RSU no Brasil

A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais

(Abrelpe) compila e publica as estatísticas apresentadas nesta seção (ABRELPE, 2013b). A

geração total de RSU aumentou 4,1% de 2012 para 2013 (vide Tabela 2.3), um incremento

maior do que a taxa de crescimento populacional neste período (3,7%). A Tabela 2.4 mostra a

geração de RSU, em t/dia, nas regiões do Brasil em 2013.

Tabela 2.3 Geração de RSU em 2012 e 2013

Ano Geração de RSU

[t/dia]

Geração de RSU per capita

[kg/hab./dia]

2012 201.058 1,037

2013 209.280 1,041 Fonte: ABRELPE (2013b)

Tabela 2.4 Geração de RSU por região em 2013

Regiões População total

[hab.]

RSU gerado

[t/dia]

Geração de RSU per capita

[kg/hab./dia]

Norte 17.013.559 15.169 0,891

Nordeste 55.794.707 53.465 0,958

Centro-Oeste 14.993.191 16.636 1,109

Sudeste 84.465.570 102.088 1,208

Sul 28.795.762 21.922 0,761

Brasil 201.062.789 209.280 1,041 Fonte: ABRELPE (2013b)

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As quantidades coletadas de RSU no Brasil em 2012 e 2013 estão indicadas na Tabela

2.5. Houve um aumento de 4,4% de 2012 para 2013, revelando uma pequena evolução na

cobertura dos serviços de coleta, ou aumento na geração de resíduos per capita, talvez devido

ao aumento da renda da população, em geral. No entanto, comparando a quantidade gerada

com a quantidade coletada de RSU, é possível observar que quase 20.000 toneladas ao dia

deixaram de ser coletadas no Brasil em 2013. Os dados de coleta por região em 2013 estão na

Tabela 2.6.

Tabela 2.5 Coleta de RSU em 2012 e 2013

Ano Coleta de RSU

[t/dia]

Coleta de RSU per capita

[kg/hab./dia]

2012 181.288 0,935

2013 189.219 0,941 Fonte: ABRELPE (2013b)

Tabela 2.6 Coleta de RSU por região em 2013

Regiões RSU Total

[t/dia]

Coleta de RSU per capita

[kg/hab./dia]

Norte 12.178 0,716

Nordeste 41.820 0,750

Centro-Oeste 15.480 1,302

Sudeste 99.119 1,173

Sul 20.622 0,716

BRASIL 189.219 0,941 Fonte: ABRELPE (2013b)

Conforme indicado na Figura 2.1, as regiões que possuíam os maiores índices de

abrangência da coleta de RSU no Brasil, foram a região Sudeste e a região Sul.

Figura 2.1 Índices de abrangência da coleta de RSU no Brasil em 2013

Fonte: ABRELPE (2013b)

Brasil

90,41%

Norte

80,23%

Nordeste

78,22%

Centro-Oeste

93,05% Sudeste

97,09%

Sul

94,07%

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As três principais formas para a destinação final dos RSU são os aterros sanitários, os

aterros controlados e os lixões. O aterro sanitário é uma técnica de disposição no solo que não

causa danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais. O aterro

controlado é uma forma inadequada de disposição final de resíduos e rejeitos, no qual o único

cuidado realizado é o recobrimento da massa de resíduos e rejeitos com terra. O lixão é

também uma forma inadequada de disposição final de resíduos, que consiste na descarga do

material no solo sem qualquer técnica, ou medida de controle (MMA, 2012).

A destinação final dos RSU no Brasil é ainda, em muitos casos, inadequada; em 2013,

41,7% dos resíduos foram depositados em lixões ou aterros controlados (Figura 2.2). Os

aterros controlados não têm muita diferença com os lixões desde o ponto de vista ambiental e

os danos que eles causam ao ambiente (ABRELPE, 2013b).

Figura 2.2 Distribuição da destinação final dos RSU coletados em 2013

Fonte: ABRELPE (2013b)

A Figura 2.3 mostra a quantidade de municípios por cada tipo de destinação final em

cada região do Brasil em 2013. Observa-se, nesta figura, que a região Nordeste ainda tem

muitos municípios que encaminham seus resíduos para lixões. As regiões Sudeste e Sul são as

que mais têm aterros sanitários.

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Figura 2.3 Quantidade de municípios por tipo de destinação adotada para os RSU em 2013

Fonte: ABRELPE (2013b)

A coleta seletiva e a reciclagem são fundamentais em uma destinação adequada dos

RSU. Em 2013 quase 62% dos municípios registraram iniciativas de coleta seletiva, conforme

ilustrado na Figura 2.4. Os tipos de resíduos mais reciclados são o alumínio, aço e

papel/papelão, com taxas de reciclagem acima de 35%, seguidos pelos resíduos de plástico e

vidro, que alcançam valores próximos a 20% (MMA, 2012). Apesar destas iniciativas de

coleta seletiva, somente 3% do lixo total produzido é reciclado no país, segundo dados do

Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre).

Figura 2.4 Municípios com iniciativas de coleta seletiva em 2013

Fonte: ABRELPE (2013b)

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2.1.2 Aproveitamento energético dos RSU

Os RSU podem ser processados em Unidades de Recuperação de Energia (URE), onde

o vapor produzido pela incineração dos resíduos pode movimentar uma central termelétrica a

vapor, cujo produto final é eletricidade. Estes resíduos também podem ser convertidos em

biogás, em aterros sanitários, ou em biodigestores; o biogás produzido pode ser utilizado

posteriormente para geração de eletricidade, aproveitamento térmico, ou purificação para se

tornar biometano e, eventualmente, ser injetado em redes de gás natural (ABRELPE, 2013a).

Alguns subprodutos do processo de biodigestão, como os biofertilizantes, se não contiverem

contaminantes, podem ser utilizados em cultivos agrícolas.

A energia produzida a partir de URE ou pela biodigestão do RSU tem várias

possibilidades de comercialização, conforme indicado na Figura 2.5. A eletricidade gerada

pode ser toda consumida pelo próprio produtor, configurando uma autoprodução. Ela pode ser

vendida diretamente para a empresa concessionária distribuidora local, por um preço

correspondente ao valor de referência, VR, estabelecido pelo regulador, ou ser intercambiada

com a empresa distribuidora, através de net metering. A eletricidade gerada, sobretudo em

instalações de maior porte, pode, também, ser vendida no mercado de contratação livre, ou no

mercado de contratação regulada, em leilões cujo edital admita este tipo de geração. O

biometano pode ser utilizado como gás natural veicular (GNV) em frotas próprias, pode ser

vendido como GNV, ou para outros usos, e, também, pode ser injetado em redes de gás

natural e vendido em mistura com este combustível fóssil (EPE, 2014a).

O RSU possui uma vantagem econômica em comparação com outras fontes de

biomassa, devido a ser coletado regularmente e seu custeio é considerado uma despesa

pública. Mamede (2013) destaca os enormes ganhos que se pode auferir, em termos de

conservação de energia, com o reaproveitamento de parte dos RSU na indústria.

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Figura 2.5 Opções de comercialização dos energéticos produzidos a partir de RSU

Fonte: EPE (2014a)

2.2 Esgoto

O tratamento do esgoto coletado é condição essencial para a preservação da qualidade

da água dos corpos de água receptores, garantindo a proteção da saúde da população e a

integridade das atividades que envolvem os vários usos dessas águas, tais como abastecimento

humano, dessedentação de animais, irrigação, aquicultura e recreação. Além disso, a ausência

de tratamento adequado dos esgotos favorece a emissão de gases de efeito estufa para a

atmosfera, especialmente de metano (IBGE, 2015).

2.2.1 Panorama atual da coleta e tratamento de esgotos no Brasil

A coleta de esgoto no Brasil atinge somente 48,6% da população brasileira; mais de

100 milhões de brasileiros não tem acesso a este serviço. Nas 100 maiores cidades do país,

mais de 3,5 milhões de brasileiros despejam esgoto irregularmente, mesmo tendo redes

coletoras disponíveis (BRASIL, 2015).

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O Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) prevê metas e recursos financeiros

da ordem de R$ 304 bilhões, ou seja, aproximadamente R$ 15,2 bilhões por ano até 2033,

para que o país atinja a universalização dos serviços de água e esgoto. Nos últimos 10 anos os

investimentos em serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário no país

atingiram uma média de R$ 7,6 bilhões por ano (ABCON; SINDCON).

A produção de esgotos no Brasil atinge 14,5 milhões de m3/dia, equivalente a 5,2

bilhões de m3/ano. O teor médio de sólidos no esgotamento sanitário é 0,1%, dos quais 70%

são de matéria orgânica. Considerando a produção de esgotos indicada acima, o resultado

final é de 2,9 milhões toneladas de matéria orgânica ao ano (BIOMASSA-BR, 2015). Uma

das formas de aproveitamento dessa matéria orgânica é a utilização da digestão anaeróbia para

produzir biogás, que pode ser empregado na geração de energia elétrica, ou como combustível

para uso veicular.

A Tabela 2.7 mostra que a região Sudeste foi a que teve um maior volume de esgoto

tratado por dia em 2008, seguida pelas regiões Sul e Nordeste.

Tabela 2.7 Volume de esgoto tratado por dia no Brasil em 2008, por regiões

Região Volume de esgoto tratado por dia

[m3]

Norte 78.750

Nordeste 1.337.944

Centro-Oeste 682.352

Sudeste 5.017.621

Sul 1.343.923

Brasil 8.460.590 Fonte: IBGE (2008)

Conforme indicado na Tabela 2.8, em 2013 só 39% do esgoto gerado no Brasil foi

tratado. A região com maior porcentagem de tratamento foi a região Sul, que tratou 45,9% da

sua geração de esgoto. Segundo a mesma tabela, naquele ano 69,4% do esgoto coletado foi

tratado no país. A região Sul novamente foi a que apresentou o maior nível de tratamento do

esgoto coletado: 91,6% (SNSA; MCIDADES, 2014).

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Tabela 2.8 Porcentagens de tratamento de esgoto no Brasil em 2013, por regiões

Região Porcentagem de tratamento de esgotos (%)

Em relação ao esgoto gerado Em relação ao esgoto coletado

Norte 14,7 85,3

Nordeste 28,8 78,1

Centro-Oeste 43,9 64,3

Sudeste 35,1 78,9

Sul 45,9 91,6

Brasil 39,0 69,4 Fonte: SNSA; MCIDADES (2014)

2.2.2 Aproveitamento energético de esgotos

O Brasil utiliza sistemas anaeróbios nas companhias de saneamento para o tratamento

de esgotos. O tipo de reator mais empregado nesse tratamento é o de fluxo ascendente e

manto de lodo, denominado UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket). Este tipo de reator

não requer um investimento elevado para a sua construção e seu custo de operação é baixo. O

biogás produzido pode ser utilizado como insumo energético dentro da própria estação de

tratamento de esgoto (ETE), para gerar eletricidade e reduzir os gastos com o seu consumo

(SILVA, T. et al., 2015).

Lodo e escuma são resíduos do tratamento de efluentes em sistemas anaeróbios; sua

disposição final é nos aterros sanitários.

Koga et al. (2015) afirmam que uma ETE de médio porte, composta por reatores

anaeróbios e flotação por ar dissolvido, consegue gerar até 80% da energia elétrica consumida

pela ETE, suprir toda a demanda de energia térmica necessária para a secagem do lodo e,

ainda, gerar um excedente de energia térmica.

2.3 Resíduos industriais

Os efluentes industriais são tratados, em geral, através de lagoas, ou pelos processos

de lodos ativados e filtros biológicos. Atualmente estão sendo bastante utilizados os reatores

anaeróbios, incluindo a autoprodução de energia elétrica com o biogás produzido nos reatores.

As principais fontes de efluentes industriais com elevado potencial de produção de biogás são

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as indústrias de papel e celulose, açúcar e álcool, abatedouros, lacticínios, cervejas, óleos

vegetais e outras indústrias de alimentos e bebidas.

No Brasil, existem 411 usinas de açúcar e álcool que têm produzido em média, nos

últimos cinco anos, 25 bilhões de metros cúbicos de álcool por safra, gerando, além do etanol,

grandes quantidades de rejeitos no processo, principalmente o vinhoto. De acordo com Santos

et al. (2015), os reatores mais utilizados para fazer a digestão anaeróbia neste segmento

industrial são os reatores UASB. Os principais compostos obtidos são o dióxido de carbono, o

gás metano e a água. Quando este gás é queimado, ele libera de 20,9 a 25,1 MJ/m3. Há

contaminantes presentes em sua composição, tais como o ácido sulfídrico (H2S) e a amônia,

entre outros.

2.4 Resíduos agropecuários e florestais

Estima-se que, em 2010, mais de 35% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil

foram ocasionados pelo setor agropecuário (RIBEIRO; COELHO, 2015). Hoje em dia, mais

pesquisadores estão analisando o potencial da digestão anaeróbia de dejetos animais no Brasil,

especialmente para geração de energia elétrica.

Os resíduos agropecuários, como o esterco dos animais, têm a possibilidade de gerar

produtos de elevado valor agregado; os produtos mais conhecidos são o biogás e os

biofertilizantes. As principais vantagens do tratamento de resíduos animais são: a mitigação

da emissão de gases de efeito estufa; se evita a contaminação dos corpos d’água; a mitigação

dos maus odores; se evita a presença de microrganismos patogênicos; e se minimiza a

proliferação de insetos. Um dos principais aproveitamentos do esterco animal é a geração de

energia elétrica utilizando o biogás produzido por meio da digestão anaeróbia (SILVA;

SILVA; FILHO, 2015).

As bactérias metanogênicas, produtoras de metano, atuam de forma diferente dependo

do tipo de biomassa, gerando quantidades variadas de biogás. Os fatores que mais afetam essa

produção são temperatura, presença ou não de oxigênio, nível de umidade, quantidade de

bactérias versus volume de biomassa, entre outros. Na Tabela 2.9 são apresentados dados de

produção de biogás oriundo de diversos tipos de dejetos animais e o percentual de gás metano

presente na quantidade produzida de biogás (MOURA, 2012). O teor de metano contido no

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biogás produzido também varia dependendo da alimentação das espécies. Animais confinados

tendem a produzir quantidades maiores de CH4 (TORRES; SILVA, 2015).

Tabela 2.9 Produção de biogás por tipo de dejeto animal

Biomassa utilizada (dejetos) Produção de biogás (a partir de

material seco em m3/ton)

Percentual de gás metano

produzido

Bovinos 270 55%

Suínos 560 50%

Equinos 260 Variável

Ovinos 250 50%

Aves 285 Variável Fonte: MOURA (2012)

A biomassa florestal é uma fonte renovável de energia, sempre que seja proveniente de

reflorestamentos, ou resíduos da indústria madeireira. Existe um projeto denominado

“Florestas Energéticas” que está sendo desenvolvido pelo CIBiogas (2015), o qual analisa a

viabilidade de produção de florestas energéticas de eucalipto de forma integrada à produção

de biogás a partir de dejetos de suínos. O biofertilizante produzido pelo biodigestor fertiliza o

solo para plantio da floresta e a lenha produzida é utilizada complementarmente ao biogás nas

propriedades rurais e agroindústrias (MARIANI et al., 2015).

2.5 Potenciais técnicos para aproveitamento energético de resíduos da biomassa no

Brasil

Os potencias técnicos para aproveitamento energético de resíduos da biomassa

existentes no país são grandes. A Tabela 2.10 apresenta alguns destes potenciais para a

produção de biogás e bioeletricidade proveniente dos resíduos que poderiam ter uma maior

participação no Brasil. A geração de energia elétrica no Brasil em centrais de serviço público

e autoprodutores atingiu 590,5 TWh em 2014 (EPE, 2015). Isso significa que, se todos os

resíduos mostrados na Tabela 2.10 fossem aproveitados para gerar eletricidade através do

biogás, a contribuição na oferta interna de energia elétrica seria de aproximadamente 70%. É

importante, no entanto, ter em mente que hoje o mercado de biogás tem muitas barreiras e

dificuldades, que são abordadas no capítulo 6 deste trabalho.

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Tabela 2.10 Potenciais para a produção de biogás e bioeletricidade a partir da biodigestão de diversos tipos de

resíduos no Brasil

Setor Tipo de resíduo

Potencial de geração

de biogás

(m3/ano)

Potencial

energético

(GWh/ano)

Resíduos da

pecuária

Aves 2.825.206.740,60 4.040,05

Suínos 2.628.897.610,30 3.759,32

Vaca ordenhadas 3.953.560.106,63 5.653,59

Resíduos

agroindustriais

Açúcar e álcool

(vinhoto) 3.170.179.374,00 4.533,40

Cervejas 267.271.219.337,79 382.197,84

Papel e celulose

(licor negro) 3.578.833.530 5.117,73

Resíduos urbanos Resíduos sólidos

urbanos 5.910.989.797,80 8.452,72

Esgoto 357.126.518 510,69

TOTAL 289.696.013.015,12 414.265,34

Fonte: SENAI (2016)

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3 PRINCIPAIS ROTAS TECNOLÓGICAS PARA O

APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DE RESÍDUOS

Neste capítulo são apresentadas as rotas tecnológicas mais utilizadas para o

aproveitamento energético de resíduos. As tecnologias de maior interesse para esta

dissertação são as que envolvem a geração de biogás como vetor energético.

São descritas, sucintamente, as principias tecnologias empregadas para transformar o

biogás em eletricidade, ou em biometano.

O aproveitamento dos resíduos sólidos urbanos (RSU) é destacado no capítulo, dada

sua especificidade no que se refere à necessidade de separação dos vários tipos de resíduos

que os constituem e à produção de biogás em aterros sanitários.

A Lei Federal nº 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos

(PNRS), tem um papel importante neste contexto, pois estabelece diretrizes para a elaboração

de planos de gestão de resíduos que contemplem metas de redução, reutilização e reciclagem,

entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de resíduos e rejeitos encaminhados para uma

disposição final ambientalmente adequada.

O aproveitamento energético de resíduos deve ser considerado como uma opção

quando os resíduos já estão gerados e são um problema ambiental. É importante destacar, no

entanto, que, no caso dos RSU, a PNRS estabelece uma hierarquia na gestão dos resíduos,

apresentada na Figura 3.1. Pode-se observar, nesta figura, que a produção de energia através

dos RSU não é prioritária. Por outro lado, é importante destacar o elevado potencial de

conservação de energia associado à reutilização e reciclagem dos resíduos.

3.1 Separação dos vários tipos de resíduos

A coleta seletiva foi definida na PNRS como a coleta de resíduos sólidos previamente

separados de acordo com a sua constituição e composição, devendo ser implementada por

municípios como forma de encaminhar as ações destinadas ao atendimento do principio da

hierarquia na gestão de resíduos (ABRELPE, 2013b).

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Figura 3.1 Hierarquia na gestão dos RSU, segundo a PNRS

Fonte: Adaptado de EEA (2013)

As matérias primas utilizadas para gerar biogás geralmente são culturas ou resíduos da

biomassa que requerem alguma separação, ou tratamento prévio antes de passarem pelo

processo de conversão bioquímica. Além disso, no caso dos RSU, nem todos os resíduos

coletados são aproveitáveis para a geração de biogás.

A Lei 12.305 de 2010, em seu Art. 9°, diz que somente deverão ser destinados à

disposição final (aterros sanitários), os rejeitos, ou seja, somente os resíduos que não podem

ter um aproveitamento de qualquer forma. Para os resíduos orgânicos, os tratamentos mais

conhecidos e accessíveis são a compostagem, a biodigestão e a incineração em unidades de

recuperação de energia (UREs). Outras tecnologias, como a pirólise e a gaseificação, são bem

menos utilizadas, devido à sua baixa atratividade econômica para processar este tipo de

resíduo (PRS, 2013).

3.2 Biodigestores

A biodigestão é um processo natural de decomposição da matéria orgânica que ocorre

na ausência de oxigênio, gerando o biogás e um resíduo líquido rico em minerais que pode ser

Prevenção e redução

Preparação para reutilização

Reciclagem

Outros tipos de valorização

Eliminação

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utilizado como biofertilizante. O biogás é composto principalmente por gás carbônico e

metano, ambos amplamente utilizados na indústria. A combustão do metano libera energia

térmica que pode ser convertida em outras formas de energia. Os fatores que mais influem na

produção de biogás são a temperatura, a acidez (pH), a homogeneidade do substrato e a

concentração de oxigênio (PORTAL DO BIOGÁS, 2013).

As tecnologias utilizadas em biodigestores são estabelecidas para cada tipo de

substrato que será empregado para alimentar o fermentador. É necessário conhecer o grau de

umidade do substrato e sua viscosidade e, com isso, escolher entre técnicas de digestão seca

ou úmida. A diferença básica entre estas formas de digestão se dá devido à digestão úmida

ser bombeável e a seca ser empalhável. Apesar de não haver uma definição oficial em função

do porcentual de umidade, na prática a linha divisória entre a digestão seca e a úmida gira em

torno de 30% de matéria seca no substrato. A análise do substrato também ajuda na definição

de como deve funcionar a alimentação do fermentador, que pode ser de forma contínua, semi-

contínua ou descontínua. Cada uma das possibilidades tem vantagens e desvantagens

relacionadas, por exemplo, ao tempo de retenção dentro dos fermentadores, o que pode influir

na quantidade de biogás gerado (PORTAL DO BIOGÁS, 2015).

As composições químicas do substrato, assim como a velocidade de decomposição da

matéria orgânica servem de base para a distribuição das fases do processo de digestão. As

quatro fases (hidrolise, acidogênese, acetogênese e metagênese) podem acontecer de modo

paralelo em um único fermentador, ou serem distribuídas em dois ou mais fermentadores.

Outro fator importante para a escolha do tipo de tecnologia do biodigestor é a temperatura;

segundo este parâmetro, os processos são classificados como psicrofílicos, mesofílicos e

termofílicos. Depois de definir a temperatura do processo é aconselhável mantê-la, pois os

microrganismos responsáveis pela fermentação são muito sensíveis a mudanças de

temperatura. Na Figura 3.2 é apresentado um resumo das tecnologias utilizadas em

biodigestores de acordo com as variáveis do processo (PORTAL DO BIOGÁS, 2015).

Graças às tecnologias atualmente disponíveis, quase todo tipo de resíduo pode ser

tratado. Em geral, os dois tipos de biodigestores mais conhecidos no mercado são os

biodigestores indianos e os biodigestores alemães. O biodigestor indiano não possui

automação nem controle de processo; nesse caso, as bactérias responsáveis pela

decomposição e geração de metano sofrem as influências externas de temperatura, além de

outros processos internos e produzem metano de uma forma muito ineficiente. Por outro lado,

o biodigestor alemão tem automação e controle de processo, cuja finalidade é aumentar a

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eficiência do processo, possibilitando a geração de mais metano com uma quantidade menor

de matéria orgânica (PRS, 2013).

Figura 3.2 Tecnologias utilizadas em biodigestores

Fonte: PORTAL DO BIOGÁS (2015)

3.3 Aterros sanitários com aproveitamento energético

O aterro sanitário é uma técnica de aterramento dos RSU. Este processo consiste

basicamente na compactação dos resíduos no solo na forma de camadas, que periodicamente

são cobertas com terra ou outro material inerte, de modo a produzir uma degradação natural e

lenta por via biológica até a mineralização da matéria biodegradável. O processo exige

cuidados especiais e técnicas específicas a serem seguidas, desde a seleção e preparo da área

até sua operação e monitoramento. Deve funcionar de modo a fornecer proteção ao meio

ambiente, evitando a contaminação das águas subterrâneas pelo chorume, além do acúmulo

do biogás gerado pela decomposição da matéria orgânica em seu interior. O aterro apresenta

como principais características técnicas (FEAM, 2012):

Impermeabilização da base do aterro, que pode ser executada com argila ou

geomembranas sintéticas;

Tecnologias

Umidade do substrato

Digestão úmida

Digestão seca

Alimentação do fermentador

Descontínua

Semi contínua

Contínua

Fases do processo

Monofásico

Bifásico

Trifásico

Temperatura da fermentação

Psicrofílico

Mesofílico

Termofílico

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Sistema de drenos que permite a saída do biogás;

Sistema de coleta de chorume;

Sistema de drenagem de águas pluviais, as quais ao infiltrarem no maciço do aterro

podem gerar instabilidade e o aumento da produção de chorume.

A Figura 3.3 apresenta uma ilustração de setores em implantação, em operação e

concluídos de um aterro sanitário.

Figura 3.3 Características técnicas de um aterro sanitário

Fonte: SEMARH-AL (2015)

O biogás coletado pelos drenos é aproveitado como energético, ou, então, é queimado

em flares, pois o CO2 resultante desta queima é menos prejudicial na formação do efeito

estufa no planeta, do que o CH4 do biogás.

O biogás proveniente dos aterros pode ser empregado como combustível industrial, ou

veicular, para gerar energia elétrica, ou, após um processo de purificação, para se transformar

em biometano e, eventualmente, ser misturado com gás natural.

3.4 Geração de eletricidade a partir do biogás

O biogás produzido nos biodigestores pode ser utilizado como fonte de energia

primária para fornecer energia mecânica em turbinas e motores de combustão interna, os

quais acoplados a geradores elétricos são capazes de produzir energia elétrica. Geralmente o

gás utilizado deve cumprir padrões de qualidade ambiental, além de evitar danificar os

motores ou turbinas. Pelo fato de o biogás ser um gás pobre, que não possui um alto poder

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calorífico comparado com outros gases combustíveis, os equipamentos utilizados (sejam

motores de combustão interna ou turbinas) precisam ser projetados para utilizar este tipo de

combustível. Como a demanda por estes equipamentos ainda não é elevada, há poucos

fabricantes atuando neste mercado.

3.4.1 Turbinas a gás

A turbina a gás é uma máquina térmica que opera segundo o ciclo Brayton. Neste

equipamento se aproveita diretamente a energia liberada na combustão. Os gases da

combustão, que armazenam esta energia, se expandem produzindo potência mecânica no eixo

de uma turbina. O princípio de funcionamento é detalhado a seguir:

Ar é comprimido por um compressor (axial, centrífugo, ou combinado);

Ar comprimido entra na câmara de combustão, onde o combustível é injetado; e

Os gases quentes se expandem na turbina, produzindo potência mecânica.

A turbina aciona um gerador elétrico que produz eletricidade.

As turbinas a gás apresentam eficiências em torno de 20 a 25% quando operadas com

gases de baixo poder calorífico (SALES; ANDRADE; LORA, 2006).

3.4.2 Microturbinas a gás

As microturbinas a gás evoluíram das aplicações da turbina a gás nas indústrias

aeroespacial e automotiva, para as aplicações em sistemas elétricos de potência. Elas

apresentam diversas inovações tecnológicas, como o uso de mancais a ar, ligas metálicas e

cerâmicas resistentes a altas temperaturas, e componentes eletrônicos de potência.

Tal qual ocorre nas turbinas a gás, nas microturbinas o ar é aspirado e forçado para seu

interior a alta velocidade e pressão, sendo, em seguida, misturado ao combustível, que é

queimado na câmara de combustão. Os gases quentes resultantes da combustão são

expandidos na turbina e o calor remanescente dos gases de exaustão pode ser aproveitado para

aquecimento do ar de combustão.

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As microturbinas têm vantagens e desvantagens. Entre as principais vantagens

encontram-se os baixos níveis de ruídos e vibrações, a flexibilidade na utilização de

combustíveis, entre eles o biogás, dimensões reduzidas e a simplicidade de instalação,

podendo ser instaladas em locais cobertos, ou ao ar livre. As emissões de NOx são menores

que 9 ppm nas microturbinas de baixa potência (30 a 100 kW), podendo chegar a 100 ppm

nas de maior potência. Entre as desvantagens, está a necessidade de importação desses

equipamentos, cujas potências hoje disponíveis no mercado situam-se entre 30 kW e 1,0 MW.

Eles têm baixo rendimento elétrico (inferior a 30%), porém, quando são utilizados em

instalações de cogeração, sua eficiência total pode chegar a mais de 80%. As microturbinas

tem alto custo de operação e manutenção, quando comparadas com outras tecnologias

existentes, e precisam de um bom sistema de limpeza do biogás, além do dimensionamento da

microturbina para a queima de um gás de baixo poder calorífico (ICLEI, 2009).

3.4.3 Motores de combustão interna do ciclo Otto

O motor de combustão interna que opera segundo o ciclo Otto é o equipamento mais

utilizado para queima do biogás, devido ao maior rendimento elétrico e ao menor custo

quando comparado às outras tecnologias. Para promover a queima de biogás em motores de

ciclo Otto são necessárias pequenas modificações nos sistemas de alimentação, ignição e taxa

de compressão. Esses motores aspiram a mistura ar-combustível antes de ser comprimida no

interior dos cilindros e a combustão da mistura é dada por centelha produzida na vela de

ignição. Esses motores em geral operam em ciclos de quatro tempos, pois seu funcionamento

ocorre sequencialmente em quatro etapas:

Admissão: abertura da válvula de admissão através da qual é injetada no cilindro a

mistura ar-combustível e o pistão é empurrado para baixo com o movimento do

virabrequim;

Compressão: fechamento da válvula de admissão e compressão da mistura (ordem de

10:1). Antes de o pistão chegar na parte superior de seu curso no cilindro, a vela gera uma

faísca;

Combustão: é neste tempo do ciclo que ocorre a explosão da mistura e expansão dos

gases quentes formados na explosão. Essa expansão dos gases promove uma determinada

força, permitindo que o pistão desça; e

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Exaustão: abertura da válvula de escape, através da qual os gases são expulsos pelo

pistão.

As principais vantagens desta tecnologia para geração de energia elétrica a partir de

biogás já foram mencionadas: melhor rendimento e menor custo unitário de geração do que as

outras alternativas.

As capacidade de geração disponíveis no mercado se situam entre 5 kW e 1,6 MW.

Motores com capacidades superiores a 230 kW, no entanto, precisam ser importados. Uma

outra desvantagem é que as emissões de NOx são elevadas (ICLEI, 2009).

3.5 Purificação do biogás

Apesar de o biogás poder ser utilizado em qualquer aplicação destinada ao gás natural,

para o uso em veículos, ou para a sua mistura com o gás natural, existe a necessidade de

remoção de alguns de seus componentes, tais como: umidade, ácido sulfídrico (H2S),

siloxanos (sobretudo no biogás proveniente de aterros sanitários), dióxido de carbono (CO2) e

partículas.

Na produção de biometano é importante retirar o CO2 do biogás até que a porcentagem

de metano fique próxima à do gás natural, para que possa ser utilizado para os mesmos fins. A

remoção de CO2 do biogás é uma operação unitária em que um componente da mistura é

dissolvido em um líquido e em carbonato de potássio, hidróxido de cálcio, hidróxido de sódio,

entre outros. Entre os métodos físicos, destacam-se os crivos moleculares, separação por

membranas e colunas de absorção. Os métodos físicos são os mais conhecidos e utilizados

devido à fácil regeneração dos agentes utilizados na absorção.

Existem vários solventes que podem ser utilizados para a remoção do CO2. O

polietileno glicol é uma das opções e, atualmente, é a mais utilizada devido à alta solubilidade

de CO2 e H2S. Considerando o custo, a melhor opção a ser utilizada é a água, pois o CO2 e

H2S também são solúveis em água. Um dos fatores mais importantes do processo de absorção

do CO2 é a razão líquido/gás. É definida a quantidade de solvente necessária para absorver

uma determinada quantidade de soluto. Cada soluto possui uma solubilidade a um

determinado solvente e é por meio dessa solubilidade que é determinada a vazão de solvente

necessária para absorver o soluto existente em uma mistura gasosa. A absorção de CO2 pela

água ocorre em pressões elevadas. As colunas de absorção operam, na maioria dos casos, a

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pressões na faixa de 600 a 1.200 kPa, obtendo-se, na saída do sistema, porcentagem de

metano em torno de 95% e 1 a 3% de CO2 (ICLEI, 2009).

Não há tecnologias nacionais comprovadamente eficientes para a purificação do

biogás e com custo competitivo em relação aos combustíveis convencionais. Existem

equipamentos importados que garantam eficiência elevada; no entanto os mesmos nunca

foram testados no Brasil e necessitam de adaptações para as características do biogás nacional

(ICLEI, 2009).

3.6 Rotas tecnológicas para o aproveitamento de resíduos sem a produção de biogás

Existem rotas tecnológicas para o aproveitamento de resíduos que não envolvem a

produção de biogás. As mais utilizadas – compostagem, unidade de recuperação de energia,

pirólise e gaseificação – são descritas nas seções a seguir.

3.6.1 Compostagem

A compostagem é um processo que faz uso de um princípio natural de decomposição

da matéria orgânica na presença de oxigênio. Neste caso, milhares de bactérias atuam

quebrando moléculas até transforma-las em gases (gás carbônico e água) e minerais. O

produto resultante deste processo é um composto orgânico, que, se não houver contaminantes

no substrato que lhe deu origem, pode ser usado como adubo na agricultura. O processo de

compostagem está ilustrado na Figura 3.4.

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Figura 3.4 Processo de compostagem

Fonte: FEAM (2012)

O processo é afetado por fatores como umidade, oxigênio, temperatura, concentração

de nutrientes e o tamanho das partículas. O procedimento envolve duas fases distintas:

degradação ativa (a temperatura deve ser controlada de 45 °C a 65 °C) e maturação ou cura

(caracteriza-se pelo desenvolvimento de temperaturas entre 30 °C a 45 °C, ocorrendo a

umidificação da matéria orgânica estabilizada na primeira fase) (FEAM, 2012; PRS, 2013).

3.6.2 Unidade de recuperação de energia

Em uma unidade de recuperação de energia (URE) ocorre um processo de combustão

controlada, que tem como princípio básico a reação de oxigênio com componentes

combustíveis presentes no resíduo, em temperaturas superiores a 800 °C, convertendo sua

energia química em calor.

O processo de combustão realiza-se em um forno de incineração, composto

basicamente de câmara de combustão (onde os resíduos são inseridos a uma taxa de

alimentação pré-definida e ocorre o processo de queima controlada) e câmara de pós-

combustão (onde se completa a queima controlada de CO e substâncias orgânicas contidas

nos gases procedentes da câmara de combustão).

A combustão em uma URE pode ocorrer em uma grelha, em leito fluidizado (tipo

circulante ou borbulhante), em câmaras múltiplas, ou em um forno rotativo.

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A Figura 3.5 ilustra, esquematicamente, o funcionamento de uma URE com

combustão de lixo urbano em grelha e geração de energia elétrica.

Figura 3.5 Diagrama do processo em uma URE com combustão de lixo urbano em grelha e geração de energia

elétrica

Fonte: FEAM (2012)

Na URE da Figura 3.5, o resíduo é descarregado no silo da usina (1), de onde é

retirado por agarradores mecânicos e jogado em moegas (2). Das moegas o lixo é empurrado

gradualmente para o interior do incinerador (3). O calor produzido pela queima do lixo é

utilizado na caldeira (4) para aquecimento de água e o vapor gerado nesta é conduzido por

tubulações para um sistema de turbina e gerador, para a produção de energia elétrica. Depois

de o lixo ser incinerado, restam sobre as grelhas as escórias, que são drenadas para sistemas

coletores situados abaixo das grelhas (5), resfriadas com água, passando posteriormente por

separadores eletromagnéticos que promovem a extração de metais para reciclagem. Os gases

de combustão são enviados para os sistemas de tratamento e remoção de poluentes (6),

passam por filtros para retenção de partículas finas (poeiras) (7) e são lançados ao meio

ambiente através da chaminé (8) (FEAM, 2012).

3.6.3 Pirólise

A pirólise é um processo de decomposição térmica, na ausência de oxigênio, por fonte

externa de calor, que converte matéria orgânica em diversos subprodutos. O fracionamento

das substâncias orgânicas ocorre gradualmente, à medida que estas passam pelas zonas de

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calor de um reator vertical ou horizontal. Na zona de secagem, parte inicial no reator, as

substâncias orgânicas perdem a umidade, enquanto que na zona pirolítica propriamente dita

(cuja temperatura pode variar de 300 °C a 1.600 °C) ocorrem os processos de volatilização,

oxidação e fusão, resultando em (LIMA, 1995):

Gases não condensáveis, compostos principalmente por nitrogênio e gás de síntese;

Líquido pirolenhoso, obtido pela condensação de gases que se desprendem durante o

processo, com baixo teor de enxofre, composto por ácido pirolenhoso (ácido acético,

metanol, alcatrão solúvel e outros compostos em menor quantidade) e alcatrão insolúvel;

e

Resíduo sólido, constituído por carbono quase puro (carvão vegetal) e, ainda, por vidros,

metais e outros materiais inertes (escória) caso presentes no RSU processado.

Um esquema de um reator pirolítico está ilustrado na Figura 3.6).

Figura 3.6 Esquema de um reator pirolítico

Fonte: ANDRADE (2010)

3.6.4 Gaseificação

Na gaseificação ocorre a conversão da matéria-prima sólida ou líquida em gás por

meio de oxidação parcial, sob a aplicação de calor. Trata-se de um processo termoquímico de

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decomposição de matéria orgânica, de fluxo contínuo ou batelada, sendo a técnica mais

comum a oxidação parcial utilizando um agente de gaseificação (oxigênio, ar ou vapor), em

quantidades inferiores à estequiométrica (mínimo teórico para combustão), para a produção

de syngas, cujos principais componentes são monóxido de carbono e hidrogênio, mas contêm

também dióxido de carbono e, dependendo das condições, metano, hidrocarbonetos leves,

nitrogênio e vapor de água em diferentes proporções.

A Figura 3.7 ilustra esquematicamente o processo de gaseificação.

Figura 3.7 Processo de gaseificação

Fonte: FEAM (2012)

O gás produzido a partir da gaseificação de biomassa tem muitas aplicações práticas,

tais como a geração de energia mecânica e elétrica, a geração direta de calor, ou matéria-

prima para a obtenção de combustíveis líquidos ― como hidrocarbonetos combustíveis

sintéticos (diesel e gasolina), metanol, etanol e outros produtos químicos, através de processos

de síntese química catalítica (FEAM, 2012).

3.7 Síntese das rotas tecnológicas analisadas no capítulo

A Figura 3.8 ilustra o conjunto das rotas tecnológicas usualmente empregadas para o

aproveitamento energético de resíduos através da produção de biogás, enquanto que a Tabela

3.1 resume os principais processos e produtos envolvidos no aproveitamento de resíduos sem

a geração de biogás.

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Figura 3.8 Tecnologias de aproveitamento energético de resíduos, a partir da produção de biogás

Fonte: Elaboração própria

Tabela 3.1 Rotas tecnológicas para o aproveitamento de resíduos sem a produção de biogás

Tecnologia Processo Produtos

Compostagem Decomposição da matéria orgânica na

presença de oxigênio

Gases (gás carbônico e água) e

composto orgânico (rico em

minerais)

URE Reação de oxigênio com componentes

combustíveis presentes nos resíduos

Calor produzido pela queima e gases

da combustão

Pirólise Decomposição térmica, na ausência de

oxigênio, da matéria orgânica

Gases não condensáveis, líquido

pirolenhoso e um resíduo sólido

(cinzas)

Gaseificação

Decomposição da matéria orgânica, através

de oxidação parcial com um agente de

gaseificação

Syngas (hidrogênio e monóxido de

carbono)

Fonte: Elaboração própria

Produção Utilização do biogás

de biogás

Biodigestores

Aterros Sanitários

Purificação do biogás para obtenção de biometano

Geração de eletricidade

Turbinas a gás

Microturbinas a gás

Motores Ciclo Otto

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4 MODELOS MATEMÁTICOS PARA ESTIMAR O POTENCIAL

DE APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DE RSU

Modelos de simulação, ou de programação matemática são essenciais para se estimar

o potencial de aproveitamento energético de qualquer tipo de resíduo.

Este capítulo está dividido em três blocos. No primeiro são apresentados três modelos

que têm sido utilizados para estimar a produção de biogás em aterros sanitários. A geração de

biogás em uma Estação de Tratamento Anaeróbico de Efluentes (ETAE) pode ser calculada

com o auxílio de um modelo de simulação descrito no segundo bloco. Na última parte do

capítulo é formulado e aplicado um modelo de programação linear que calcula a geração e

venda de energia elétrica que maximiza a receita líquida de Unidades de Recuperação de

Energia (URE) que incineram parte dos resíduos sólidos urbanos (RSU) disponíveis em

quatro cidades brasileiras.

4.1 Modelos para estimar a produção de metano em aterros sanitários

Os modelos apresentados a seguir são os mais citados na literatura técnica e os mais

utilizados para realizar estimativas do metano produzido em aterros sanitários. Segundo

Figueiredo (2012), as estimativas da produção total de metano e da taxa em que este gás é

gerado podem variar de modelo para modelo. O parâmetro de insumo mais importante, que é

comum a todos eles, é a quantidade do resíduo. Outro fator importante é a quantidade de

tempo estimada entre a colocação do resíduo e o começo da decomposição anaeróbia, ou fase

metanogênica dentro da massa do resíduo. Recomenda-se, em geral, utilizar modelos simples,

que empreguem um número reduzido de parâmetros que possam ser coletados facilmente nas

condições específicas do local.

A geração do biogás em um aterro sanitário é iniciada alguns meses após o início do

aterramento dos resíduos e continua por cerca de 15 anos após seu encerramento. Para cada

tonelada de resíduo disposto em um aterro sanitário são gerados, em média, 200 Nm3 de

biogás. A seguir são descritos, brevemente, os três modelos mais utilizados na realização de

estimativas da produção de biogás em aterros sanitários.

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4.1.1 Modelo Scholl-Canyon

Este modelo é recomendado pelo Banco Mundial. É simples, de fácil aplicação e o

mais empregado pelas agências reguladoras e instituições financeiras que apoiam os projetos

de aproveitamento do biogás de aterros na América do Sul. O modelo baseia-se na premissa

de que há uma fração constante de material biodegradável no aterro sanitário por unidade de

tempo, o que se expressa a partir da seguinte equação (ELK, 2007):

𝑄𝐶𝐻4 = 𝑘 ∙ 𝐿0 ∙ 𝑚 ∙ 𝑒−𝑘𝑡 (4.1)

onde:

𝑄𝐶𝐻4 = metano produzido em um determinado ano (m3/ano);

𝑘 = constante de geração de metano (l/ano);

𝐿0 = potencial de geração de metano por tonelada de lixo (m3/ton);

𝑚 = massa de resíduo depositada no ano considerado (t/ano); e

𝑡 = número de anos após o encerramento do aterro.

Os valores recomendados pelo Banco Mundial para o parâmetro 𝑘 estão indicados na

Tabela 4.1. Segundo o Banco Mundial, os valores de 𝐿0 devem ser estimados com base no

conteúdo de carbono do resíduo, na fração de carbono biodegradável e em um fator de

conversão estequiométrico; desta forma, condições abióticas e operacionais do aterro não

influenciam na determinação deste parâmetro, somente a composição dos resíduos. Valores

comuns neste parâmetro variam entre 125 e 310 m3 de CH4/tonelada de resíduo. Na ausência

de informações detalhadas sobre a composição orgânica dos resíduos, é sugerida a utilização

do valor padrão de 170 m3 de metano por tonelada de resíduo (CASSAÚ FILHO, 2012).

Tabela 4.1 Valores sugeridos para a constante 𝑘, de acordo com o Banco Mundial

Precipitação anual Tipo de resíduo

Relativamente

inerte

Moderadamente

degradável

Altamente

degradável

< 250 mm 0,01 0,02 0,03

> 250 e 500 mm 0,01 0,03 0,05

> 500 e < 1000 mm 0,02 0,05 0,08

> 1000 mm 0,02 0,06 0,09 Fonte: CASSAÚ FILHO (2012)

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4.1.2 Modelo LandGem

O modelo Landfill Gas Emission Model (LandGem) foi desenvolvido pela EPA

(Environmental Protection Agency) e consta na legislação federal dos Estados Unidos da

América (EUA) sobre diretrizes e regras finais para aterros sanitários novos e velhos. É

bastante empregado no mundo, tendo sido utilizado, inclusive, no estudo do potencial de

geração de energia nos municípios brasileiros a partir de biogás de aterros sanitários,

realizado pelo Ministério do Meio Ambiente. A quantidade de metano gerada durante um ano,

𝑄𝐶𝐻4, em m3/ano, é calculada pela seguinte equação cinética de primeira ordem (ELK, 2007):

𝑄𝐶𝐻4 = 𝐿0𝑅(𝑒−𝑘𝑐 − 𝑒−𝑘𝑡) (4.2)

onde:

𝐿0 = potencial de geração de metano por tonelada de lixo (m3/t);

𝑅 = quantidade anual de resíduos depositados no aterro (t/ano);

𝑘 = constante de geração de metano (1/ano);

𝑡 = tempo desde o início da disposição de lixo no aterro (anos); e

𝑐 = tempo desde o encerramento do aterro (anos).

O valor de k na equação (4.2) depende da pluviometria média da região do aterro.

Nesta metodologia, pode-se adotar k = 0,02 1/ano para localidades com pluviometria anual

inferior a 635 mm/ano e k = 0,04 1/ano para regiões com pluviometria anual superior a 635

mm/ano. Estes valores indicam que os resíduos dentro do aterro teriam uma meia vida4 de

aproximadamente 34 anos em regiões com pluviometria anual inferior a 635 mm/ano e, para

regiões com pluviometria superior a 635 mm/ano, uma meia vida de cerca de 17 anos. O valor

padrão para 𝐿0 é de 100 m3 por tonelada de resíduo. Este valor é sugerido por ter

proporcionado as emissões teóricas, ou seja, calculadas através do modelo, mais próximas da

realidade, quando comparadas com dados empíricos de medições de metano em 40 aterros

sanitários (CASSAÚ FILHO, 2012).

4 A meia-vida de um resíduo entrando em decomposição é o tempo que leva para uma quantidade deste resíduo

diminuir pela metade.

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4.1.3 Modelo adotado pelo IPCC

O modelo de cálculo mais simplificado adotado pelo Painel Intergovernamental de

Mudanças Climáticas (IPCC, sua sigla em inglês) permite o cálculo da quantidade anual de

metano gerada em um aterro sanitário, 𝑄𝐶𝐻4, em m3/ano, através da seguinte equação:

𝑄𝐶𝐻4 = (𝑃𝑜𝑝𝑢𝑟𝑏 ∙ 𝑅𝑆𝑈𝑡 ∙ 𝑅𝑆𝑈𝑓 ∙ 𝐹𝐶𝑀 ∙ 𝐶𝑂𝑈 ∙ 𝐶𝑂𝑈𝐹 ∙ 𝐹 ∙ 16/12 − 𝑅) ∙ (1 − 𝑂𝑋) (4.3)

onde:

𝑃𝑜𝑝𝑢𝑟𝑏 = população urbana (número de habitantes);

𝑅𝑆𝑈𝑡 = taxa de geração de resíduos sólidos urbanos por habitante por ano (m3/hab.ano);

𝑅𝑆𝑈𝑓 = fração dos resíduos sólidos urbanos que é depositada em locais de disposição de

resíduos sólidos (%);

𝐹𝐶𝑀 = fator de correção de metano (%);

𝐶𝑂𝑈 = carbono orgânico degradável no resíduo sólido urbano (gC/gRSU);

𝐶𝑂𝑈𝐹 = fração de COU que realmente degrada (%);

𝐹 = fração de CH4 no gás de aterro (%);

16/12 = taxa de conversão de carbono em metano (adimensional)

𝑅 = quantidade de metano recuperado (GgCH4/ano)

𝑂𝑋 = fator de oxidação (adimensional)

A equação (4.3) também pode ser descrita da seguinte maneira:

𝑄𝐶𝐻4 = (𝑃𝑜𝑝𝑢𝑟𝑏 ∙ 𝑅𝑆𝑈𝑡 ∙ 𝑅𝑆𝑈𝑓 ∙ 𝐿0)(1 − 𝑂𝑋) (4.4)

onde:

𝐿0 = 𝐹𝐶𝑀 ∙ 𝐶𝑂𝑈 ∙ 𝐶𝑂𝑈𝐹 ∙ 𝐹 ∙ 16/12 − 𝑅 (4.5)

Quando se considera a variável “tempo”, o método de cálculo é expresso pela equação

(4.6):

𝑄𝐶𝐻4𝑡,𝑥 = 𝑘 ∙ 𝑅𝑥 ∙ 𝐿0 ∙ 𝑒−𝑘(𝑡−𝑥) (4.6)

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onde:

𝑄𝐶𝐻4𝑡,𝑥 = metano gerado no ano t pelo resíduo Rx (ton/ano);

𝑘 = constante de geração de metano (ano-l);

𝑅𝑥 = quantidade de resíduo aterrado no ano x (t);

𝑥 = ano de aterramento do resíduo (ano);

𝐿0 = potencial de geração de metano (m3/t de resíduo); e

𝑡 = ano de cálculo (ano)

Para a estimativa das emissões de metano em um determinado período, somam-se as

emissões anuais:

𝑄𝐶𝐻4 = ∑ 𝑄𝐶𝐻4𝑡,𝑥𝑡,𝑥 (4.7)

4.1.4 Considerações gerais sobre os três modelos

Os parâmetros 𝐿0 e 𝑘 são comuns aos três modelos. Eles são considerados os mais

importantes, pois refletem variações de acordo com o local, o clima e a composição dos

resíduos, entre outros. A constante 𝑘 de geração de metano representa a velocidade de

decomposição biológica dos resíduos após a disposição no aterro sanitário; ela é influenciada

pelo teor de umidade, pela disponibilidade de nutrientes, pelo pH e pela temperatura. Os

valores de 𝑘 variam de 0,01, para aterros secos, a 0,21, para aterros úmidos. Estima-se que

esta margem reflita as diferentes características geográficas da região e certas condições do

aterro. O parâmetro 𝐿0, que é o potencial de geração de metano, está associado à quantidade

de matéria orgânica presente na massa de resíduos. O 𝐿0 pode variar de 1 m3 para aterros com

resíduos com baixa quantidade de matéria orgânica, a 312 m3 para aterros com grande

quantidade de matéria orgânica por tonelada de resíduos.

Os três modelos matemáticos são ferramentas úteis para avaliar o potencial de geração

de metano nos aterros. O êxito de qualquer modelo depende, na maior parte, do nível de

incerteza aceitável, da confiabilidade dos dados de insumo, da experiência do indivíduo que

analisa os dados, bem como do grau de semelhança entre o local em questão e outros locais

que possam ter sido modelados com sucesso (ELK, 2007).

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As principais características dos três modelos descritos nas seções anteriores estão

resumidas na Figura 4.1.

Figura 4.1 Modelos úteis para o cálculo da geração de biogás a partir de aterros sanitários

Fonte: Elaboração própria

4.2 Programa que estima o potencial de aproveitamento energético de ETAEs

Biogás, geração e uso energético – efluentes / resíduo rural, versão 1.0 é um programa

de computador que faz parte dos produtos desenvolvidos pelos convênios firmados entre o

Governo Federal, por intermédio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI e

o Governo do Estado de São Paulo, por intermédio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente

e da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB. O objetivo destes

convênios foi a elaboração de manuais de orientação para o uso do biogás de estações de

tratamento anaeróbio de esgotos e de aterros. Eles foram publicados no diário Oficial da

União de 26 de dezembro de 2001, sessão 3, página 244 (CETESB, 2006).

Este programa permite estimar o potencial de aproveitamento energético de uma

Estação de Tratamento Anaeróbio de Efluentes (ETAE). Registros históricos sobre o

tratamento de efluentes e as emissões de metano da ETAE, assim como a demanda de energia

da estação são requeridas pelo programa.

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Quando se converte a quantidade de biogás em energia disponível na ETAE, são

consideradas algumas perdas possíveis, as quais devem ser informadas no programa. A fase

de escolha da tecnologia de uso energético é dividida em duas: (i) Escolha das quantidades de

energia que serão utilizadas e (ii) Escolha da tecnologia de conversão e uso da energia. Para

definir as quantidades de energia, o usuário pode experimentar diferentes usos, que são

limitados pela quantidade de gás disponível. O período de viabilidade do empreendimento é

definido igual ao período de operação da ETAE. A escolha da tecnologia de conversão

conclui o processo de concepção do projeto. São listadas algumas tecnologias e suas

estimativas de preços, que devem incluir os custos de investimento, operação e manutenção

(CETESB, 2006).

O programa apresenta, como resultado, uma análise que inclui o custo da geração

energética, potenciais ganhos pela venda de Créditos de Carbono e várias outras informações

(CETESB, 2006).

4.3 Otimização do aproveitamento energético de RSU através de UREs

O número de UREs de RSU vem aumentando substancialmente no mundo. Países

como a Suíça e o Japão já projetam para breve atingir mais de 90% de seus resíduos

processados em plantas de tratamento térmico. A maioria das plantas novas incluem sistemas

para recuperação de energia. O uso da incineração para geração de energia elétrica vai

continuar crescendo, enquanto plantas antigas vão sendo substituídas (HENRIQUES, 2004).

Para a incineração interessam as frações do RSU que apresentam elevado poder

calorífico, como plásticos, papel/papelão e borrachas. Em geral, os RSU no Brasil possuem

uma elevada fração de matéria orgânica, a qual, devido à sua elevada umidade, apresenta

baixo poder calorífico em relação a outros componentes do resíduo, requerendo um maior

consumo de combustível auxiliar (FEAM, 2012). Daí a importância dos processos de coleta

seletiva e reciclagem, antes da incineração, para aproveitar algumas frações presentes nos

resíduos e que têm alto potencial energético; a coleta seletiva é imprescindível como fonte de

abastecimento do mercado da reciclagem (CEMPRE, 2013).

As plantas de incineração devem dispor de sistemas de monitoramento contínuo dos

controles operacionais e das emissões atmosféricas geradas. Deve-se monitorar também, com

frequência determinada, a qualidade das águas subterrâneas e superficiais, os efluentes

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líquidos gerados e descartados, o nível de ruído ambiental, a qualidade de ar, solo e até de

alimentos produzidos na área de influência do empreendimento (PARO; COSTA; COELHO,

2008).

A utilização de processos de incineração, como alternativa aos lixões e aterros,

apresenta algumas vantagens desde o ponto de vista ambiental, como: significativa redução da

necessidade de área para a instalação de aterros novos ou de suas expansões; eliminação dos

impactos e custos decorrentes das atividades de cuidado e manutenção de aterros após seu

encerramento; eliminação total dos efeitos de contaminação de águas superficiais e

mananciais subterrâneos de água potável disponíveis; eliminação da emissão de gases pelos

aterros; eliminação dos problemas de natureza social, de higiene e de saúde pública por conta

dos aterros e lixões (LUCKE, 2012).

4.3.1 Um estudo de caso

O problema formulado a seguir visa otimizar, empregando programação linear, o

aproveitamento energético de RSU através do processo de incineração. A população alvo

escolhida foi a das cidades que são capitais da região sudeste do Brasil: São Paulo, Rio de

Janeiro, Vitória e Belo Horizonte. Na Tabela 4.2 são apresentadas as quantidades de RSU

produzidos por cidade, as quantidades de RSU encaminhadas para queima em incineradores e

as composições dos resíduos por cidade.

Tabela 4.2 Quantidades e características dos RSU do problema de otimização

São Paulo

Rio de

Janeiro Vitoria

Belo

Horizonte

Quantidade de RSU

produzidos (kg/h) 839.591,67 726.966,67 13.250,00 205.025,00

Quantidade de RSU

aproveitados na queima

(17,4%) (kg/h)

146.088,95 126.492,20 2.305,50 35.674,35

Composição:

Orgânicos 37,8% 22,0% 56,6% 69,9%

Metais 5,4% 4,0% 0,8% 3,3%

Papel e Papelão 29,6% 23,0% 10,2% 16,8%

Plásticos 9,0% 15,0% 9,9% 1,9%

Vidro 4,9% 3,0% 3,8% 2,5%

Outros 13,3% 33,0% 18,8% 5,6%

TOTAL 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fontes: ABRELPE (2013); BRAGATO (2011)

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No Brasil, 17,4% dos RSU coletados ainda são destinados a lixões (ABRELPE,

2013b). No problema aqui formulado se decidiu destinar esta porcentagem dos resíduos

coletados nas quatro cidades para incineração, simulando possíveis políticas públicas futuras

de eliminação de lixões no país.

O preço da energia elétrica de 169 R$/MWh, resultante do 6° leião de energia de

reserva da CCEE, foi adotado neste problema.

Foram considerados dois módulos incineradores do tipo mass burn, que queimam os

resíduos na forma como são recebidos, com segregação apenas de vidro e metais. As

características técnicas e custos dos dois módulos foram selecionados a partir da literatura

técnica consultada sobre unidades de incineração eficientes e viáveis econômica e

ambientalmente no processamento de RSU.

O problema de otimização aqui formulado foi resolvido utilizando o software Lingo.

O objetivo deste estudo de caso é determinar o número de módulos de incineração de 60 MW

e 120 MW de capacidade instalada de geração de energia elétrica capaz de processar

quantidades pré-especificadas de RSU nas quatro cidades da região sudeste brasileira. A

função objetivo do problema maximiza a receita líquida oriunda da venda da energia elétrica

gerada com estes módulos. Com os dados apresentados, foram inseridas as equações no

software e calculadas as receitas líquidas. A receita líquida se refere à receita bruta obtida

com a venda da energia elétrica gerada menos os custos fixos (investimento e O&M) e

variáveis (O&M). No software, os custos unitários de investimento e custos variáveis de

O&M foram inseridos em R$/kg de capacidade de processamento do lixo e R$/kg de lixo

processado, respectivamente, e o custo fixo de O&M em R$/h.

As capacidades de processamento do lixo, potências instaladas, custos de investimento

e custos fixos e variáveis de operação e manutenção (O&M) para cada tipo de módulo estão

indicados na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 Dados técnicos e econômicos dos módulos de incineração

Módulo 1 Módulo 2

Capacidade (ton/dia) 650 1.300

Potência instalada (MW) 60 120

Custos unitários de investimento (R$/ton. de cap. de processamento) 92,31 75,74

Custos unitários de O&M (R$/ton. de lixo processado) 108,80 95,46

Custos fixos de O&M (R$/h) 1.833,33 2.897,22

Fonte: BDNES (2014)

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Para se calcular a potência gerada nos incineradores é necessário conhecer o Poder

Calorífico Inferior (PCI) do lixo em cada cidade. O PCI depende da composição do lixo e

suas proporções, as quais são apresentadas na Tabela 4.2. A Tabela 4.4 mostra os PCI

calculados para cada cidade.

Tabela 4.4 PCI do RSU por cidade

Cidade PCI (kcal/kg)

São Paulo 2.147,48

Rio de Janeiro 2.151,04

Vitoria 1.828,69

Belo Horizonte 1.645,55

Fonte: Elaboração própria

No problema aqui formulado, a variável de decisão x corresponde à quantidade de

módulos, que se impôs, na resolução do problema, que fosse um número inteiro. Foram

propostos dois cenários para a instalação dos módulos. No primeiro, a variável de decisão x

poderia ter qualquer valor inteiro positivo ou igual a zero (x >= 0). No segundo cenário, a

variável de decisão x foi forçada a ser maior ou igual a um (x >= 1). Isso foi feito com a

finalidade de comparar as distintas configurações de instalações dos módulos que o programa

de otimização poderia indicar e suas diferentes rentabilidades econômicas.

Os resultados obtidos após a simulação, com o software Lingo, do problema

formulado estão indicados na Tabela 4.5 e Tabela 4.6, para os cenários em que x >= 0 e x >=

1, respectivamente. As receitas líquidas foram calculadas para as quatro cidades analisadas

supondo um ano de operação.

Tabela 4.5 Resultados obtidos para o cenário em que x1, x2 >= 0

Quantidade

de

módulos

de 60 MW

Quantidade

de

módulos

de 120

MW

Quant. de lixo

tratada em

cada módulo

de 60 MW

(kg/h)

Potência

gerada em

cada módulo

de 60 MW

(MW)

Quant. de lixo

tratada em

cada módulo

de 120 MW

(kg/h)

Potência

gerada em

cada

módulo de

120 MW

(MW)

Potência

total

gerada

(MW)

Receita

líquida

(Milhões

R$)

São Paulo 1 3 2.016,58 5,04 48.024,12 120,00 365,04 161,181

Rio de

Janeiro 0 3 0 0 42.164,07 105,53 316,60 147,098

Vitória 1 0 2.305,50 4,91 0 0 4,91 - 27,037

Belo

Horizonte 0 1 0 0 35.674,35 68,31 68,31 8,197

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Tabela 4.6 Resultados obtidos para o cenário em que x1, x2 >= 1

Quantidade

de módulos

de 60 MW

Quantidade

de

módulos

de 120

MW

Quant. de

lixo tratada

em cada

módulo de 60

MW (kg/h)

Potência

gerada em

cada módulo

de 60 MW

(MW)

Quant. de lixo

tratada em

cada módulo

de 120 MW

(kg/h)

Potência

gerada em

cada módulo

de 120 MW

(MW)

Potência

total

gerada

(MW)

Receita

líquida

(Milhões

R$)

São Paulo 1 3 2.016,58 5,04 48.024,12 120,00 365,04 161,181

Rio de

Janeiro 2 2 15.301,40 38,30 47.944,70 120,00 316,60 132,156

Vitória 1 1 0 0 2.3305,50 4,91 4,91 - 77,214

Belo

Horizonte 1 1 0 0 35.674,35 68,31 68,31 - 23,004

A Tabela 4.5 e a Tabela 4.6 mostram as quantidades de módulos obtidas pelo

software, as quantidades horárias de lixo que são tratadas nos incineradores, as potências

geradas por cada tipo de módulo, os investimentos realizados e as receitas líquidas resultantes

para cada cidade.

Na Tabela 4.5 se pode observar que na cidade de Vitória a potência gerada é muito

baixa com relação à capacidade dos módulos, sendo inviável fazer o investimento nessa

cidade. A maior quantidade de módulos ocorre na cidade de São Paulo, com 1 módulo de 60

MW e 3 módulos de 120 MW.

Nota-se, na Tabela 4.6, que no cenário em que se impôs x >= 1, as receitas líquidas

diminuem em todas as cidades com exceção de São Paulo, em comparação com o cenário

anterior, e continua sendo inviável economicamente investir em qualquer um destes módulos

na cidade de Vitória. Com esta restrição, o investimento nestes módulos em Belo Horizonte

deixou de ser atrativo. A cidade de São Paulo continua apresentando a maior quantidade de

módulos – 1 módulo de 60 MW e 3 de 120 MW.

Os resultados obtidos para os dois cenários indicam que as maiores receitas líquidas

ocorrem nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, nesta sequência, dada a grande

disponibilidade de lixo nestas cidades. Apesar de bem menos rentável, o investimento em

incineradores na cidade de Belo Horizonte é viável economicamente no primeiro cenário, o

mesmo não ocorrendo com a cidade de Vitória, que possui a menor produção de lixo entre as

quatro cidades. As simulações com os dois cenários também mostraram que vale a pena

investir nos incineradores de 120 MW, dada a economia de escala e a estrutura de custos

adotada no problema para os dois tipos de incineradores considerados.

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5 POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS DE FOMENTO À

PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE BIOGÁS NO BRASIL E EM

PAÍSES SELECIONADOS

Como consequência da crescente conscientização sobre os problemas ambientais em

nível mundial, a maioria de países está incentivando a produção de fontes renováveis de

energia. Isso não pode ser feito sem modificações nas políticas públicas e nos programas

governamentais de tal forma que promovam o uso de fontes renováveis de energia, reduzindo

a dependência das fontes não renováveis. Este capítulo apresenta uma análise das políticas e

programas de fomento ao biogás como vetor energético no Brasil e em alguns países

selecionados.

5.1 Políticas públicas de fomento ao biogás no Brasil

A Lei nº 10.483/2002 criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia

Elétrica (PROINFA), cujo objetivo foi incentivar a participação de produtores independentes

no setor elétrico brasileiro utilizando pequenas centrais hidrelétricas, geradores eólicos e

biomassa.

Em 2004, com a publicação da Lei nº 10.848, houve uma reestruturação do setor

elétrico brasileiro (SEB), que impactou todos os agentes do setor e os consumidores de

energia. Houve também a criação de dois ambientes de comercialização de energia elétrica: o

ambiente de contração livre (ACL) e o ambiente de contração regulada (ACR). No ACR a

energia elétrica é comercializada por meio de leilões, onde as empresas concessionárias

distribuidoras adquirem a energia que necessitam de empresas concessionárias geradoras,

produtores independentes e energia excedente produzida por autoprodutores. No ACL a

energia pode ser comercializada por livre negociação entre agentes comercializadores,

geradores, consumidores livres, agentes importadores e exportadores.

Naquele mesmo ano, a Lei no 10.847/2004 e o Decreto nº 5.185 criaram a Empresa de

Pesquisa Energética (EPE), que tem como finalidade prestar serviços na área de estudos e

pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético, tais como energia

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elétrica, petróleo, gás natural e seus derivados, carvão mineral, fontes energéticas renováveis

e eficiência energética, entre outras. É a EPE que propõe ao Ministério de Minas e Energia a

realização de leilões no ACR, incluindo a geração a partir de fontes renováveis alternativas,

como o biogás.

Entre as políticas públicas para o desenvolvimento da produção de energia a partir dos

RSU e do biogás de aterro no Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),

promulgada pela Lei nº 12.305/2010, estabelece princípios, objetivos, instrumentos, desde o

ponto de vista econômico, aplicáveis e diretrizes para a gestão integrada e gerenciamento dos

resíduos sólidos, indicando as responsabilidades dos geradores, do poder público e dos

consumidores (DALMO; SANTANA, 2014).

A PNRS estabelece que “Poderão ser utilizadas tecnologias visando à recuperação

energética dos resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido comprovada sua viabilidade

técnica e ambiental, com a implantação de programa de monitoramento de emissão de gases

tóxicos aprovado pelo Órgão Ambiental”.

Como instrumentos econômicos da PNRS, estão previstas várias medidas indutoras ao

aproveitamento energético de resíduos, incluindo:

(i) Incentivos fiscais, financeiros e creditícios;

(ii) Cessão de terrenos públicos; e

(III) Apoio à elaboração de projetos no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

(MDL).

A produção de energia elétrica a partir de RSU apresenta duas características

importantes: a) exige coleta e transporte para concentrar os RSU, pois o conteúdo energético

por unidade de volume é baixo; b) as tecnologias de conversão apresentam forte economia de

escala (o investimento por unidade de insumo cai e as eficiências de conversão aumentam

com a capacidade).

Em abril de 2012, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), publicou a

Resolução Normativa nº 482, que estabelece as condições gerais para o acesso de

microgeração e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica e

define um sistema de compensação de energia elétrica. As fontes de geração utilizando

energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada estão aptas a se conectar à

rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras.

Um incentivo regulatório importante para o desenvolvimento da produção de energia a

partir dos RSU e do biogás de aterro foi a Chamada nº 14 da ANEEL, publicada em 2012.

Esta chamada, intitulada “Arranjos Técnicos e Comerciais para Inserção da Geração de

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Energia Elétrica a partir do Biogás oriundo de Resíduos e Efluentes Líquidos na Matriz

Energética Brasileira” faz parte dos programas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da

ANEEL. Teve como resultado o recebimento de 23 propostas de projetos de P&D,

envolvendo um investimento inicial de R$ 476 milhões e previsão da instalação de 33,7 MW

(ANEEL, 2013).

Segundo a EPE (2008), além dos benefícios ambientais, sociais e da receita pela venda

de eletricidade, um aproveitamento energético de RSU pode se apropriar das receitas dos

créditos de carbono que geram, o que constitui um benefício adicional na equação da

viabilidade econômico-financeira do aproveitamento energético de RSU.

Em 30 de janeiro de 2015 a ANP estabeleceu, mediante a Resolução N°8,

especificações para o biometano destinado à mistura com gás natural. Segundo esta resolução,

o biometano oriundo de resíduos sólidos urbanos, ou de esgotamento sanitário não pode ser

misturado ao gás natural. As especificações da resolução se aplicam ao biometano produzido

a partir de resíduos comerciais e agrosilvopastoris.

5.2 Alguns países da União Europeia

Em 1997, a Comissão Europeia publicou o Relatório Branco5 sobre Fontes Renováveis

de Energia (White Paper on Renewable Energy Sources) em que define a produção de fontes

renováveis de energia como prioritária. Este documento propôs que pelo menos 12% do

consumo energético da União Europeia fosse constituído por fontes renováveis de energia até

2010.

Em 26 de abril de 1999 a União Europeia lançou a Diretiva 1999/31/CE relativa à

deposição de resíduos em aterros. Dentre suas várias demandas, a Diretiva obriga os países

membros da União a reduzirem a quantidade de resíduos sólidos municipais biodegradáveis

aterrados em 25% até 2006, 50% até 2009 e 65% até 2016, em relação à situação de 1995.

Dependendo de sua situação, alguns países membros podem adiar a meta para os anos de

2010, 2013 e 2020, respectivamente. A Diretriz propõe aos países membros que procurem

outras formas de descarte dos resíduos orgânicos produzidos, incluindo compostagem e

biodigestão com aproveitamento energético (CARVALHO et al., 2016).

5 Nome informal de um documento parlamentar que anuncia uma política governamental.

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Uma diretiva do Parlamento Europeu, lançada em 2001, estabeleceu que, até 2010,

pelo menos 22% da eletricidade produzida na União Europeia tinha que vir de fontes

renováveis de energia.

A Comissão Europeia elaborou em 2005 o Plano de Ação para a Biomassa. Este plano

indicou um grande potencial de utilização da biomassa para gerar energia elétrica na União

Europeia. Segundo este documento, a produção de eletricidade a partir da biomassa poderia

crescer de 800 TWh em 2003 para 2.200 TWh em 2010.

Na diretiva sobre fontes renováveis de energia, lançada em 2008, foi estabelecida uma

meta obrigatória para todos os estados membros da União Europeia. Cada país tem que atingir

uma participação de pelo menos 20% de fontes renováveis de energia no seu consumo

energético total em 2020. No setor de transportes, a participação de biocombustíveis tem que

atingir 10%, para se alcançar o objetivo global de uma participação de 20% de fontes

renováveis de energia no sistema energético da União Europeia até 2020. Todos os estados

membros são obrigados a elaborar planos de ação nacionais para fontes renováveis de energia

(ENGDAHL, 2010).

5.2.1 Alemanha

O desenvolvimento das fontes renováveis de energia é um elemento chave da

estratégia energética da Alemanha. Graças a inúmeras medidas de fomento, a participação

destas fontes no consumo total de energia deste aumentou cinco vezes, de 2% em 1990, para

cerca de 10% em 2009 (EC, 2009).

A Lei das Fontes Renováveis de Energia (Erneuerbare-Energien-Gesetz (EEG)),

aprovada em 2000, é a principal política de fomento a estas fontes. Ela estipula tarifas do tipo

feed-in, superiores às pagas pelas fontes convencionais de energia, que os operadores da rede

elétrica devem pagar pelas fontes renováveis de energia introduzidas na rede. Há diferentes

tarifas para as diversas formas de produção de energia renovável, que são pagas ao longo de

contratos de 20 anos de duração. A Lei também assegura o acesso à rede para qualquer

produtor de energia renovável.

Desde 1991 a Alemanha adotou as tarifas feed-in como principal instrumento de apoio

as fontes renováveis de energia. Inicialmente, havia uma única tarifa para todas as tecnologias

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empregando tais fontes, o que acabou por privilegiar o desenvolvimento da energia eólica,

devido aos custos de geração menores.

A tarifa feed-in paga pela eletricidade gerada com gás de aterro sanitário é mais

elevada para usinas com capacidade de geração de até 500 kW, do que para usinas com

capacidade instalada entre 500 kW e 5 MW. As tarifas feed-in são mais elevadas quando se

utiliza tecnologias inovadoras (EEG, 2007).

A Lei da Energia (Energiewirsstschaftsgesetz (EnWG)), na Alemanha, foi emendada

para incentivar o uso do biogás. Além disso, a EEG, a Lei Federal de Controle das Emissões

(Bundes-Immissionsschuttzgesetz (BImSchG)), e a Lei de Aquecimento com Fontes

Renováveis de Energia (Emeuerbare-Energien-Wärmegesetz (EEWärmeG)) geram demanda

para o biometano.

Desde que o biometano oriundo do biogás tenha qualidade semelhante ao gás natural e

quando for técnica e economicamente viável, o biometano tem prioridade de acesso à rede de

gás. Os custos de conexão à rede de gás são divididos entre os fornecedores de biometano e os

operadores da rede. Estes últimos passam a ser os proprietários dos pontos de conexão e

arcam com seus custos de operação e manutenção (EC, 2009).

5.2.2 Reino Unido

O governo do Reino Unido introduziu três tipos de incentivos financeiros para

encorajar o desenvolvimento de fontes renováveis de energia no país: a aquisição obrigatória

de certificados de geração de energia elétrica a partir de fontes renováveis (Renewables

Obligation Certificates (ROC)); o Programa de Incentivo à Produção de Calor a partir de

Fontes Renováveis de Energia (Renewable Heat Incentive (RHI)); e tarifas do tipo feed-in

(FITs) para geradores de eletricidade de pequeno porte, a partir de fontes renováveis.

Os fornecedores de eletricidade no Reino Unido devem adquirir, todo ano, um número

crescente de certificados (ROCs) emitidos por geradores que utilizam fontes renováveis de

energia. A pontuação destes certificados varia de acordo com a fonte e tecnologia utilizados.

Por exemplo, a utilização de gás de aterro para gerar eletricidade tem direito a 0,25

ROC/MWh (OFGEM, 2013).

O Reino Unido criou em 2011 um pagamento aos consumidores que produzirem parte

ou todo o calor consumido na sua habitação ou empresa por meio de fontes renováveis de

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energia. O consumidor/produtor ganha duplamente, pela economia na conta de combustível

fóssil ou eletricidade gasta para produzir calor e pelo pagamento que recebe através do

Programa RHI. Estes pagamentos ocorrem durante 20 anos, a partir do registro do consumidor

como produtor independente.

Existem dois tipos de tarifas feed-in no Reino Unido para geradores de eletricidade, de

pequeno porte, a partir de fontes renováveis de energia: uma tarifa para cada kWh de

eletricidade gerada e uma tarifa para cada kWh de eletricidade vendida para a rede nacional

de transmissão. As tarifas feed-in de geração a partir da digestão anaeróbia são: instalações

com capacidades instaladas menores ou iguais a 250 kW têm direito a 15,16 p/kWh; entre 250

e 500 kW têm direito a 14,02 p/kWh e entre 500 kW e 5 MW têm direito a 9,24 p/kWh

(DALMO; SANTANA, 2014).

A venda da eletricidade gerada a partir de fontes renováveis de energia para a rede

nacional de transmissão requer a assinatura de um Acordo de Compra de Energia (Power

Purchase Agreement (PPA)) entre o gerador e um fornecedor de eletricidade. A conexão do

gerador pode ser na rede de transmissão, em uma rede de distribuição, ou diretamente na

alimentação da instalação do cliente final.

O biometano, no Reino Unido, pode ser injetado na rede nacional de transporte de gás

em alta pressão, ou em uma rede local de distribuição de gás em baixa pressão. Para ser

utilizado nestas redes de gás, o biometano precisa estar compatível com as características do

gás natural, ou seja, estar seco, livre de impurezas e com um teor de metano superior a 95%.

Há poucos veículos a biometano ou gás natural veicular (GNV) no Reino Unido, e a

infraestrutura para o fornecimento de combustível veicular a biometano é escassa. Outros

países, como, por exemplo, a Suécia e a Alemanha, têm investido fortemente na infraestrutura

da cadeia de fornecimento e em estratégias de fomento para o biometano. No final de década

passada havia apenas 15 postos de abastecimento de GNV/biometano no Reino Unido, em

comparação com cerca de 800 na Alemanha (AD, 2009).

5.3 Estados Unidos

A maioria dos estados americanos está fomentando fontes renováveis de energia. O

número de instalações utilizando estas fontes varia muito, refletindo prioridades estaduais, ou

regionais, que nem sempre visam explorar os maiores potenciais técnicos locais.

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De acordo com a agência de proteção ambiental do governo americano (EPA), muitos

estados adotaram Padrões de Fontes Renováveis de Energia em Carteira (Renewable Portfolio

Standards (RPS)). Estes padrões requerem que parte do fornecimento de energia elétrica dos

clientes de empresas concessionárias distribuidoras e outros fornecedores de eletricidade seja

oriundo de recursos renováveis de energia elegíveis (EPA, 2016).

Os Fundos de Benefícios Públicos para as Fontes Renováveis de Energia (Public

Benefits Funds for Renewable Energy) são recursos utilizados pelos estados americanos em

projetos de fornecimento de energia limpa. Os recursos que alimentam os fundos são

usualmente captados através da cobrança de uma pequena taxa sobre as tarifas de eletricidade

dos consumidores.

A Regulação Ambiental Baseada no Produto (Output-Based Environmental

Regulation) estabelece limites de emissões por unidade de energia produzida na saída de um

processo (eletricidade, energia térmica, ou potência no eixo), visando incentivar melhorias na

eficiência de conversão de combustíveis e de fontes renováveis de energia. O objetivo final é

diminuir a poluição do ar.

Padrões de interconexão (Interconnection Standards) têm sido adotados nos estados

americanos para as fontes renováveis de energia. Eles são processos e requisitos técnicos que

delimitam como as empresas de energia elétrica devem tratar as fontes renováveis de energia

que precisam se conectar à rede elétrica. O estabelecimento de procedimentos padronizados

reduz a incerteza e os atrasos que podem surgir com os sistemas de energia renovável durante

o processo de conexão à rede elétrica.

A Medição Líquida (Net Metering) possibilita que consumidores residenciais ou

comerciais que geram sua própria energia elétrica através de fontes renováveis de energia,

como os painéis fotovoltaicos, recebam compensações por excedentes de geração, em relação

ao consumo próprio, injetados na rede pública. Os estados americanos têm adotado regras

para esta medição, que as empresas concessionárias distribuidoras de energia elétrica têm que

seguir, a fim de se ter um controle preciso da quantidade de eletricidade consumida no local e

a injetada na rede. Quando a geração local não é suficiente para atender a demanda do

consumidor, ele utiliza energia da rede pública.

Apesar de ser comum na Europa, Califórnia, Havaí, Vermont e Washington foram os

primeiros estados americanos a adotar tarifas do tipo feed-in, em 2009, para fomentar o

desenvolvimento de fontes renováveis de energia.

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Há, nos EUA, um programa denominado “Propriedade Avaliada com Energia Limpa”

(Property Assessed Clean Energy (PACE)), que financia a instalação de fontes renováveis de

energia e medidas que propiciam ganhos de eficiência energética em imóveis residenciais.

Incentivos financeiros, tais como subvenções, empréstimos em condições favoráveis,

descontos tarifários e isenções fiscais, são disponíveis em alguns estados americanos para

fomentar o desenvolvimento de fontes renováveis de energia.

Alguns dos programas de fomento da EPA para fontes renováveis de energia,

inclusive para o biogás, estão listados na Tabela 5.1.

Tabela 5.1 Programas de fomento da EPA para fontes renováveis de energia

Programas Objetivo

GPP (Green Power

Partnership)

Esta parceria da EPA apoia a aquisição de “energia verde” por instituições,

oferecendo aconselhamento especializado e suporte técnico.

Centenas de empresas, universidades, organizações públicas estaduais e

agências do governo federal já aderiram a este programa voluntário da EPA.

LMOP (Landfill Methane

Outreach Program)

Este programa fomenta o aproveitamento energético do gás de aterros

sanitários, a fim de evitar as emissões de metano dos aterros para a atmosfera,

já que o gás metano é um grande contribuinte para o efeito estufa.

AgStar

Este programa incentiva o uso de tecnologias para recuperação do metano

(biogás) produzido por esterco de animais confinados.

O programa é patrocinado conjuntamente pela EPA, pelo Departamento de

Agricultura e pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos.

Repotenciação de terrenos na

América (Re-Powering

America’s Lands)

Este programa incentiva o desenvolvimento de fontes renováveis de energia

em terrenos de mineração. Ele envolve tanto mineradoras em operação, como

terrenos de mineração contaminados no passado.

Fonte: EPA (2016)

Estabelecido em 1994 como parte dos esforços do país para reduzir suas emissões de

gases do efeito estufa, o LMOP é um programa voluntário que cria parcerias entre estados,

consumidores/provedores de energia elétrica, a indústria do biogás de aterros sanitários e

comunidades. Seus especialistas agem como uma consultoria, disponibilizando uma grande

variedade de ferramentas (técnicas e não técnicas) e apoiando todo o ciclo de

desenvolvimento de uma planta de biogás, dos estudos de viabilidade à operação. Eles

também ajudam a procurar financiamento para os projetos de biogás, apoiam estratégias de

comunicação para a mais ampla aceitação dos projetos e acompanham as mudanças

regulatórias que afetam esta atividade (CARVALHO et al., 2016).

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5.4 Alguns países asiáticos

Nos países asiáticos, assim como no resto do mundo, tem crescido a importância das

questões ambientais. Existem três grandes crises ambientais que a humanidade está

enfrentando: a crise do aquecimento global, a crise de recursos e a crise do ecossistema. Estas

crises estão intimamente relacionadas com os resíduos e sua gestão (PARIATAMBY;

TANAKA, 2014).

O aumento da população e do crescimento econômico nos países em desenvolvimento

pode exacerbar o aquecimento global, aumentar o consumo de recursos e degradar ainda mais

os ecossistemas globais, causando graves carências alimentares e aumento da pobreza.

Neste contexto, os países asiáticos têm enfatizado a necessidade urgente de se criar

uma sociedade baseada na reciclagem e, assim, livrar-se do risco de causar problemas aos

recursos disponíveis, ou ao meio ambiente.

Em alguns países asiáticos, como a Índia, Bangladesh e Vietnã, os resíduos orgânicos

são convertidos, em geral, em fertilizantes, ou passam pelo processo de digestão anaeróbia

para produção de energia. (PARIATAMBY; TANAKA, 2014).

5.4.1 China

A China é uma das maiores nações do mundo, abrangendo uma vasta área, com

nacionalidades e culturas diversificadas e uma população muito grande. Ela também é o maior

país em desenvolvimento e que ainda tem infraestruturas relativamente pobres e uma indústria

pouco desenvolvida (LIANGHU et al., 2014).

A China possui o maior programa de biogás do mundo, com mais de 40 milhões de

biodigestores, a maioria de pequeno porte e utilizando resíduos da agricultura e da pecuária.

Mesmo assim, estima-se que somente 19% do potencial rural do biogás é aproveitado no país

e é com o intuito de aproveitar essa energia que o governo chinês anunciou planos de

aumentar para 80 milhões o número de moradias produtoras e 8.000 a quantidade de plantas

de grande porte. Até 2020, a meta é produzir 45 bilhões de m3 de biogás (CARVALHO et al.,

2016).

A China sofreu um processo de urbanização muito intenso, resultando em uma enorme

geração de RSU. Em termos de gestão de resíduos sólidos urbanos, nenhum país jamais

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experimentou um aumento tão rápido, ou tão grande em quantidade de RSU como a China

está enfrentando agora.

O biogás de RSU chegou de maneira tardia nos planos de biogás do governo, sendo

foco de política pública somente com a legislação de 2006 sobre fontes renováveis de energia.

Essa lei estipula uma meta de 15% de energia oriunda de fontes renováveis no consumo final

energético chinês até 2020. Para incentivar esta atividade, o governo age em duas frentes: (i)

reformas estruturais com o objetivo de reduzir o uso de lixões a céu aberto e aumentar a

quantidade de lixo depositado em aterros sanitários; e (ii) incentivos tarifários para a

eletricidade produzida nos aterros sanitários (CARVALHO et al., 2016).

Os governos locais são responsáveis pela coleta dos resíduos, seu transporte, seu

eventual tratamento e a disposição final. A maior parte dos RSU na China é recolhida e

tratada por empresas estatais pertencentes aos governos locais e os investimentos e custos

operacionais associados têm sido cobertos com recursos dos orçamentos das administrações

locais, situação esta diferente de muitos países industrializados (LIANGHU et al., 2014). Esta

dependência dos orçamentos dos governos locais tem limitado avanços mais rápidos no

tratamento dos RSU naquele país. Além disso, muitos chineses ainda acham que a gestão de

resíduos sólidos é dever do governo.

O governo central e os governos locais têm elaborado políticas públicas incentivando

empresas privadas a investirem no tratamento de RSU, incluindo aterros sanitários e

incineração para geração de energia. A China abriu seu mercado de gestão de RSU para o

setor privado, especialmente para empresas estrangeiras, desde 1990. Estima-se que cerca de

30 a 40% dos projetos de tratamento de RSU são de propriedade do setor privado, ou joint

ventures com o setor público. Empresas com reconhecida competência na França, Japão,

Alemanha e EUA atualmente operam no processamento de RSU na China (LIANGHU et al.,

2014).

Atualmente, aterros sanitários e UREs são as principais formas de tratamento e

disposição final de RSU na China, seguidos pela compostagem e lixões. Em 2010, cerca de

158 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos foram coletados nas cidades chinesas. A

capacidade de tratamento de resíduos sólidos urbanos em 656 municípios atingiu 143 milhões

de toneladas até o final de 2010. Dos resíduos recolhidos naquele ano, 66,94% foram

depositados em aterros sanitários, 16,20% foram incinerados, 1,29% foram compostados e o

resto foi despejado em lixões (LIANGHU et al., 2014).

O Governo da China está fazendo um grande esforço para melhorar o nível de

tratamento do lixo. De acordo o Plano de Vida Urbana, aprovado pelo Conselho da China,

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mais de 2.200 instalações de tratamento de RSU estavam previstas serem construídas nas

cidades chinesas entre 2012 e 2015: 264 UREs com capacidade para processar 223 mil t/dia;

1875 aterros sanitários, que podem receber 323 mil t/dia, e 112 outras instalações com uma

capacidade de tratamento de 35.000 t/dia.

5.4.2 Japão

A gestão de RSU no Japão foi iniciada após a promulgação da “'Lei da remoção da

sujeira” em 1900. Concebida após uma epidemia de disenteria, pragas e outras doenças

infecciosas, esta lei definiu diretrizes para a superação dos problemas sanitários nas cidades

japonesas naquela época.

O Japão é um país densamente povoado, em comparação com outros países do mundo,

com as indústrias e a população concentradas em áreas urbanas. Nas grandes cidades, a

densidade de geração de resíduos é elevada e o espaço disponível para a sua disposição é

muito escasso; assim, a aquisição de locais adequados para o tratamento e disposição final dos

resíduos torna-se um desafio a cada ano. A fim de prolongar a vida dos aterros sanitários

disponíveis, esforços têm sido enveredados para reduzir o volume dos resíduos depositados

nos aterros, por meio de vários pré-tratamentos. A incineração, que pode reduzir bastante o

volume dos resíduos, além de eliminar eventuais riscos biológicos após a sua disposição final,

é utilizado extensivamente no Japão (TANAKA, 2014).

As URE são muito populares no Japão: 79% dos resíduos sólidos urbanos gerados em

2010 foram incinerados em 1.221 unidades e em 306 delas houve a recuperação de energia

(TANAKA, 2014).

A Lei de Gestão de Resíduos do Japão estipula que os cidadãos e as empresas devem

cooperar com o governo central e os governos locais em suas atividades de redução de

resíduos. As empresas devem gerir adequadamente os resíduos deixados como resultado de

suas atividades de negócios e esforçar-se por reduzir a quantidade de resíduos. Elas devem,

também, desenvolver seus produtos e respectivas embalagens de tal forma que não

apresentem dificuldades no seu manuseamento e transformação após o seu descarte pelos

consumidores.

O Japão introduziu uma política de “responsabilidade estendida do produtor” na gestão

de resíduos com a promulgação da Lei de Reciclagem de Recipientes e Embalagens, em 1995.

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Esta lei introduz um sistema de reciclagem em que entidades empresariais especificadas

(fabricantes, varejistas, atacadistas e importadores) têm a responsabilidade de reciclar

recipientes e embalagens, enquanto os municípios têm a responsabilidade pela coleta

ordenada desses itens.

A Lei de Reciclagem de Eletrodomésticos, promulgada em 1998, estabelece um sistema

de recolhimento e reciclagem. O comércio varejista de eletrodomésticos ficou encarregado de

recolher eletrodomésticos usados, enquanto que os fabricantes de eletrodomésticos têm que

reciclar os aparelhos usados. Os consumidores que descartam aparelhos eletrodomésticos

devem pagar o custo da reciclagem (TANAKA, 2014).

5.5 Alguns países da América Latina

A bioenergia têm se tornado em um foco de interesse para os governos de diversos

países no mundo, para investidores privados, para agricultores e para o público em geral,

especialmente por ser una oportunidade de redução das emissões de gases de efeito estufa.

Vários países na América Latina têm políticas de fomento à produção de bioenergia,

utilizando matérias primas e resíduos disponíveis em seu território. Utilizadas de forma

ambiental, social e economicamente sustentável, estas opções energéticas representam boas

oportunidades para o desenvolvimento local e para diversificar as matrizes energéticas locais

e nacionais.

No entanto, o aproveitamento energético do biogás está em sua infância no continente

latino-americano. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e, em menor grau, os

Nationally Appropriate Mitigation Actions (NAMA) dos acordos internacionais de clima sob

gestão da ONU são vistos como fundamentais para o fortalecimento desta atividade no

continente (CARVALHO et al., 2016).

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5.5.1 Chile

O Chile está tentando inserir em sua matriz energética uma maior participação de

fontes renováveis de energia não convencionais. O objetivo para o ano 2020 é atingir até 20%

da matriz com tais fontes (FAO, 2013).

O Chile é um país importador de recursos energéticos, cujos altos preços têm

incrementado os custos marginais de geração de energia elétrica e o preço da eletricidade. O

país, que é membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE), tem um dos preços da eletricidade mais altos da América Latina; eles são superiores

à média do resto de países da OCDE.

Entre as medidas para incentivar as fontes renováveis de energia não convencionais

foram propostas: (i) políticas de longo prazo diferenciadas para cada uma das fontes – solar,

eólica, bioenergia, pequenas centrais hidrelétricas, energia geotérmica e energia maremotriz;

(ii) licitações por grupos de fontes renováveis; (iii) novas linhas de crédito, com

financiamento de órgãos internacionais; (iv) disponibilização de uma plataforma

georeferenciada que identifica locais adequados para a instalação de projetos envolvendo

estas fontes; e (v) subsídios para projetos piloto que permitam recolher experiências e gerar

maior conhecimento sobre as fontes de energia incentivadas.

5.5.2 Uruguai

No Uruguai, em 1º de outubro de 2002 foi aprovada a Lei 17.567, que fomenta o

desenvolvimento dos biocombustíveis:

Art. 1° - É declarada de interesse nacional a produção em todo o território do país,

de combustíveis alternativos, renováveis e substitutos dos derivados do petróleo,

elaborados com matéria nacional de origem animal ou vegetal.

Art. 2° - O Poder Executivo, através do Ministério da Indústria, Energia e

Mineração, do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca, do Ministério da

Habitação, Ordenamento do Território e Meio Ambiente, junto com os

representantes da Administração Nacional de Combustíveis, Álcool e Portland,

analisarão a viabilidade, os requerimentos, exigências e o regime jurídico aplicável

para o desenvolvimento da produção, distribuição e o consumo de biodiesel no país.

Art. 3° - O Poder Executivo pode exonerar total ou parcialmente, de todo tributo que

cobram aos combustíveis derivados do petróleo, até cem por cento (100%) do

combustível alternativo elaborado por derivados de matéria prima nacional de

origem animal ou vegetal. No ano 2006 se estabelecerão as Diretrizes de Estratégia

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Energética pelo Poder Executivo, com a finalidade de estabelecer um Plano

Energético Nacional abrangente e de longo prazo.

Em novembro de 2007, foi promulgada a Lei Nº 18.195, com o objetivo de fomentar a

produção, a comercialização e a utilização de agrocombustíveis com matérias primas

nacionais. No ano seguinte, foi publicado o Decreto N° 523/008, que regulamenta aspectos

relacionados com os agrocombustíveis.

Ainda em 2008, a Direção Nacional de Energia (DNE), pertencente ao Ministério da

Indústria, Energia e Mineração, propôs ao poder executivo políticas energéticas de curto,

médio e longo prazo e um plano estratégico baseado em quatro eixos: diretrizes definidas pelo

Estado, com a participação de agentes privados; diversificação da matriz energética (fontes e

fornecedores); promoção da eficiência energética; e garantia de acesso universal de todos os

setores sociais à fontes de energia de boa qualidade.

Em 2010, o governo uruguaio formou a Comissão Multipartidária do Setor Energético.

Chegou-se a um consenso com todos os partidos políticos do país com representação

parlamentar sobre a necessidade e relevância de se ter esta política energética e seu

correspondente plano estratégico.

Das metas de curto prazo da política energética uruguaia para 2015 destacam-se: (i) a

participação das fontes renováveis deve atingir 50% energia primaria produzida no país; (ii)

fontes renováveis não convencionais, como a energia eólica, resíduos de biomassa e micro-

geração hidráulica devem ser responsáveis por, pelo menos, 15% da geração de energia

elétrica; e (iii) ao menos 30% dos resíduos agroindustriais e urbanos do país devem ser

utilizados para gerar diversas formas de energia, transformando um passivo ambiental em um

ativo energético.

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6 CADEIA DE VALOR NA PRODUÇÃO DE BIOGÁS COMO

VETOR ENERGÉTICO NO BRASIL

Conforme ilustrado na Figura 6.1, há vários tipos de agentes que compõem a cadeia de

valor na produção de biogás como vetor energético: produtores de biogás a partir dos vários

tipos de substratos, fabricantes de equipamentos, empresas de engenharia, empresas de

consultoria, instituições de pesquisa e vários níveis de governo (instituições dos governos

federal, estadual e municipal).

Figura 6.1 Agentes que atuam na cadeia de valor na produção de biogás

Neste capítulo são analisadas algumas características destes agentes, assim como suas

opiniões sobre as principais barreiras e oportunidades encontradas no desenvolvimento desta

atividade no Brasil.

Operadores de aterros sanitários

Estações de tratamento de esgoto

Instalações agrícolas que geram dejetos

Empresas agroindustriais que geram resíduos

Empresas que desenvolvem projetos de engenharia para a cadeia do biogás

Fabricantes de equipamentos para a cadeia do biogás

Empresas de consultoria que atuam nesta área

Insituições de pesquisa que atuam nesta área

O governo

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Estas opiniões, no caso do biogás oriundo de aterros sanitários, foram compiladas

através de entrevistas realizadas no âmbito de um projeto sobre política industrial, inserido na

Chamada ANEEL n° 14/2012 sobre: “Desenvolvimento de arranjos técnicos e institucionais

para o aproveitamento de biogás, através da geração de energia elétrica, oriundo de resíduos

sólidos urbanos” (CARVALHO et al., 2016a). As informações sobre o biogás produzido a

partir de outros substratos foram obtidas na literatura técnica consultada.

Um aterro sanitário é, de fato, um biodigestor ineficiente, que apresenta muitas perdas

e cujo controle da produção de biogás é precário. A produção de biogás com outros tipos de

resíduos - agrícolas, industriais, ou o esgoto - requer a utilização de biodigestores projetados

para as suas características.

O biogás pode ser queimado em caldeiras, fornos ou secadores e, para este tipo de

utilização, não precisa de muito tratamento prévio. O seu uso na geração de eletricidade já

requer um nível mais elevado de tratamento. A transformação do biogás em biometano,

sobretudo quando se pretende misturá-lo com o gás natural, requer um processo de

purificação que o deixe com propriedades físicas e químicas próximas das do gás natural.

Neste capítulo há duas seções que tratam dos dois vetores energéticos usualmente

comercializados a partir do biogás: a geração de eletricidade e a produção de biometano.

6.1 Barreiras e oportunidades segundo as empresas que atuam na cadeia de valor do

biogás

As Tabelas 6.1 e 6.2 listam barreiras e oportunidades apontadas por representantes de

empresas públicas e privadas, respectivamente, que atuam na cadeia de valor do biogás.

De acordo com as informações resumidas nas Tabelas 6.1 e 6.2, observa-se que tanto

empresas públicas como empresas privadas tem percepções semelhantes sobre algumas

barreiras e oportunidade na cadeia do biogás no país.

Uma destas percepções é que o governo deve modificar algumas políticas públicas

vigentes e criar outras para incentivar melhor os produtores de biogás, assim como os

investidores em sua cadeia produtiva.

É notória a ausência de fiscalização no cumprimento das metas propostas até hoje. Isso

pode ser constatado em diversos projetos viáveis de produção de biogás que não se

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materializaram, assim como nas dificuldades que têm sido encontradas para se estabelecer

parcerias entre entidades públicas e privadas nesta área.

Tabela 6.1 Barreiras e oportunidades indicadas por empresas públicas da cadeia do biogás

Barreiras Oportunidades

- Preços baixos da eletricidade.

- Taxação alta sobre os equipamentos.

- Falta de mão de obra especializada.

- Preços elevados da tecnologia utilizada.

- Necessidade de coleta seletiva de resíduos.

- A população não acredita nos gestores públicos.

- Os municípios não possuem recursos para o setor.

- Falta de visão ou interesses políticos mal

intencionados.

- Falta de informação sobre o aproveitamento do

biogás.

- Falta de regulamentação sobre a injeção de

biometano na rede de gás natural.

- Falta de parcerias entre empresas, universidades,

etc.

- Desconhecimento técnico sobre o real potencial

de aproveitamento do biogás.

- Falta de tecnologia nacional.

- Deficiência de recursos humanos no setor do

biogás (falta de capacitações)

- Falta de participação do biogás na matriz

energética.

- Desconhecimento de instalações em empresas

industriais que estão utilizando seus resíduos para a

geração de biogás, para consumo próprio.

- Falta de um plano específico para o biogás com

metas exclusivas sobre a geração, a qualidade, seus

usos finais e as perspectivas em todos os setores

envolvidos com o biogás

- Fazer parcerias com entidades públicas e

privadas, incluindo universidades.

- O aproveitamento do biogás permite mitigar

impactos ambientais dos resíduos, gerar

eletricidade, calor ou mesmo gás natural.

- Será um atrativo para os governos e empresários

gerar eletricidade de forma descentralizada.

- A lei favorece os aterros sanitários para o

aproveitamento do biogás.

- Desenvolvimento de tecnologias nacionais para

biodigestão.

- Uma boa gestão de resíduos evita contaminação

da água e melhora a saúde geral da população.

- Optar por financiamento externo. Existem países

que possuem linhas de financiamento e

transferência tecnológica para países em

desenvolvimento.

- Após um processo de purificação o biometano

poderá ser injetado na rede para mistura com gás

natural.

- O potencial de resíduos orgânicos no Brasil é

muito grande.

- Reduzir os custos operacionais das ETEs

gerando sua própria energia elétrica.

- Incentivar novos empreendedores,

conscientizando-os sobre a redução de custos que

se tem por utilizar o próprio biogás em seus

processos produtivos.

Atualmente, muitos equipamentos utilizados na produção e purificação do biogás

estão sendo importados. Logo, enquanto eles não forem fabricados no país, os tributos

incidentes sobre os equipamentos importados precisam ser reduzidos a fim de fomentar a

ampliação de instalações produzindo este energético.

A falta de mão-de-obra especializada é outra barreira apontada tantos pelos

representantes de empresas públicas como os das empresas privadas.

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6.2 Geração de eletricidade

Tabela 6.2 Barreiras e oportunidades indicadas por empresas privadas da cadeia do biogás

Barreiras Oportunidades

- Complexidade das leis brasileiras com

relação à tributação e leis ambientais /

regulatórias.

- Intermitência na geração do biogás.

- Presença de contaminantes como

siloxanos no biogás gerado em aterros

sanitários.

- Falta de interesse público por esse tipo de

energia.

- Os equipamentos devem ser importados.

- Elevada carga tributária.

- Falta de fiscalização do setor, para que

sejam cumpridas as metas estabelecidas.

- Falta que o poder público analise melhor

as propostas recebidas.

- Problema com o porte das instalações. É

complicado viabilizar projetos abaixo de 1

MW, no caso dos aterros sanitários.

- Falta de assessoramento para o processo

de geração do biogás.

- Problemas técnicos na conexão com a

rede de distribuição.

- Falta de profissionais qualificados.

- Falta de incentivos para o setor do biogás.

- Falta conhecimento sobre as tecnologias

existentes, suas capacidades, limitações e

potencial.

- Falta de parcerias com entidades de

pesquisa, empresas, universidades, etc.

- Falta de conscientização das empresas

sobre a contaminação causada ao se verter

os efluentes industriais nos corpos da água.

- O Brasil é um grande consumidor de energia

elétrica e térmica.

- Fazer parcerias entre empresas estrangerias e

empresas locais.

- Aproveitar outras fontes de energia junto com a

geração de biogás (por exemplo, instalação de

painéis solares).

- Aplicação de melhores tecnologias para a

deposição de resíduos e melhorar a captação do

biogás.

- Tratar o biogás antes de enviar aos motores

(retirar umidade).

- O Brasil possui capacidade de desenvolver

motores semelhantes aos usados hoje no setor.

- Desenvolver atividades de pesquisa sobre

cogeração.

- Possibilidade de venda do biometano.

- Considerar o biogás como substituto do gás

natural.

- Trabalhar com consultores internacionais que

têm maior experiência no setor.

- Produção contínua de energia através do biogás.

- Aproveitar as linhas de crédito para processos

tecnológicos por meio de instituições

governamentais.

- A recuperação do CO2 pode ser outra fonte de

renda para as empresas do setor.

- O governo está se mobilizando para trazer

tecnologias estrangeiras para o país.

- A conversão de biogás em energia elétrica reduz

as emissões de GEE.

- Existe o Programa de Agricultura de Baixo

Carbono do MAPA.

A geração de eletricidade pode se dar por meio de turbinas a gás, microturbinas ou

motores de combustão interna que operam segundo o ciclo Otto. Cada uma destas tecnologias

tem vantagens e desvantagens quando operam com biogás. Elas estão indicadas na Tabela 6.3,

junto com faixas de variação de seus custos unitários de geração com este tipo de

combustível.

Com as informações da Tabela 6.3 é possível escolher alguma das três tecnologias,

levando em consideração o porte e as restrições econômicas do projeto.

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Tabela 6.3 Comparação das principais tecnologias para geração de eletricidade a partir do biogás

Vantagens Desvantagens

Custos Unitários de

geração

(USD/ kWh)

Motores de

combustão

interna

- Baixo custo de capital

- Confiabilidade

- Menos requisitos para

processar o combustível

- Maiores emissões de

NOx

- Custos de manutenção

mais elevados

0,04-0,07

Turbinas a gás

- Emissões menores de

NOx

- Baixos custos de

manutenção

- Maior resistência à

corrosão

- Tecnologia somente

adequada a grande escala

- Consumo de energia

para comprimir o gás

0,04-0,07

Microturbinas

- Modularidade

- Mínima manutenção

- Menos emissão de

poluentes

- Capacidade de queima de

biogás com baixo teor de

metano

- Eficiência menor

- Mais sensível à

contaminação por

siloxanos

0,07-0,14

Fonte: CARVALHO et al. (2016a)

O uso energético do biogás em cada país depende de suas prioridades em relação a

este combustível e das políticas públicas de fomento vigentes. A Tabela 6.4 mostra a geração

de eletricidade a partir de biogás em 2013 em alguns países europeus e a distribuição entre os

substratos utilizados na produção do biogás. Pode-se observar que a Alemanha é o maior

gerador de eletricidade com este insumo, entre os países indicados na tabela, seguido pelo

Reino Unido e Itália. Em alguns destes países, como o Reino Unido, a Itália, a França e a

Espanha, os aterros sanitários são a principal fonte de produção de biogás para a geração de

eletricidade, enquanto que em outros países, como na Alemanha, Holanda, República Tcheca

e Dinamarca a maior parte do biogás utilizado na produção de eletricidade provém de

resíduos da agropecuária.

No Brasil a geração de energia elétrica a partir desta fonte ainda é bem reduzida. Há

apenas 73 MW de capacidade instalada, o que representa 0,0006% da capacidade instalada

total. A parcela que vem do biogás de aterro corresponde a 90,4% (a maioria nos estados de

São Paulo e Minas gerais), a que vem do biogás de esgotos é 5,4% e o biogás que vem de

outros meios (como atividades rurais) é 4,2%. Existem oito aterros produzindo eletricidade no

Brasil (Tabela 6.5).

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Tabela 6.4 Produção de eletricidade a partir de biogás em alguns países europeus em 2013

País Total

(GWh/ano)

% de biogás

produzido em

aterros

% de biogás

produzido por

esgotos

% de biogás

produzido por

outros meios

Alemanha 19.426 3 10 87

Reino Unido 5.735 84 16 -

Itália 3.405 69 1 30

França 1.117 71 12 17

Holanda 1.027 11 18 71

República Tcheca 929 13 15 72

Espanha 875 60 6 34

Austria 625 3 10 87

Bélgica 600 35 50 15

Polônia 430 35 11 54

Dinamarca 343 5 20 75 Fonte: INNOVARELAB (2014)

Tabela 6.5 Usinas de geração de eletricidade a partir de aterros sanitários no Brasil

Usina Proprietário Cidade Capacidade

instalada (kW)

% do

total

São João

Biogás

São João Energia

Ambiental S.A. São Paulo - SP 24.640 37,3

Salvador Termoverde Salvador

S.A. Salvador - Ba 19.730 29,8

Bandeirantes Biogás Energia Ambiental

S.A. São Paulo - SP 5.000 7,6

Asja BH Consórcio Horizonte Asja Belo Horizonte - MG 4.278 6,5

CTR Juiz de

Fora

Valorgas – Energia e

Biogás Ltda Juiz de Fora – MG 4.278 6,5

Guatapará Guatapará Energia S.A. Guatapará – SP 4.278 6,5

Uberlândia Energas Geração de

Energia Ltda Uberlândia – MG 2.852 4,3

Itajaí Biogás Itajaí Biogás e Energia

S.A. Curitiba - PR 1.065 1,6

Total 66.121 100

Fonte: QUADROS; TAVARES; et al. (2015)

Há algumas décadas atrás existiam algumas centrais de incineração de lixo no Brasil,

que foram desativadas por não satisfazerem a legislação ambiental mais recente do país. Uma

Usina de Recuperação Energética (URE), com 20 MW de capacidade instalada, está sendo

instalada na cidade paulista de Barueri, utilizando tecnologia moderna cujas emissões

atendem à legislação ambiental brasileira. A usina irá incinerar o lixo urbano não reciclável

das cidades de Barueri, Carapicuíba e Santana do Parnaíba e gerar 17 MWmédios de potência

bruta. Da energia elétrica produzida, 87% será comercializado no mercado atacadista livre,

enquanto que o restante será consumido na própria usina.

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O Brasil já realiza leilões de energia elétrica, no mercado atacadista regulado, para

adquirir energia proveniente de fontes renováveis de energia, incluindo a biomassa e seus

resíduos. Preços-tetos diferenciados têm sido fixados pelo governo para as diferentes fontes

de geração que têm participado destes leilões. Os preços-tetos fixados para a geração a partir

de biogás não têm sido considerados atrativos o suficiente pelos potenciais investidores neste

tipo de geração. O estabelecimento de preços-tetos compatíveis com a realidade de custos

deste tipo de usina seria a principal política pública de fomento à demanda de eletricidade

gerada através de biogás que o Ministério de Minas e Energia poderia promover no país.

Atualmente existem apenas duas políticas públicas no Brasil que fomentam a oferta de

eletricidade produzida com biogás. Os projetos de geração de energia elétrica utilizando

biogás recebem um desconto de 100% nas tarifas de utilização da rede de transmissão de

energia elétrica (TUST) e/ou redes de distribuição (TUSD). As usinas de biogás de resíduos

sólidos urbanos também têm direito a receber os benefícios de redução de impostos do

Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (REIDI)

(QUADROS; TAVARES; et al., 2015).

6.3 Produção de biometano combustível

O biometano combustível pode ser produzido em qualquer região do país e não precisa

de uma extensa malha dutoviária para o seu escoamento, como o gás natural, desde que

existam locais de demanda próximos. Outra vantagem do biometano é que ele pode ser

produzido a partir de vários tipos de resíduos, disponíveis em todas as regiões do Brasil.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP),

regulamentou, através da Resolução 08/2015, a qualidade que o biometano precisa ter para ser

comercializado no Brasil.

Segundo Mariani et al. (2015), o potencial técnico de produção de biometano a partir

de resíduos da pecuária pela rota de biodigestão, mediante a produção de biogás, é de 14.274

mil m3/dia de CH4, que corresponde a 16,34% da produção total de gás natural no Brasil em

2014 (MME, 2015).

No estado do Rio de Janeiro, a Lei 6.361/2012 obriga as concessionárias de

distribuição de gás canalizado a comprarem biometano (referido como gás natural renovável

(GNR)), até o limite de 10% do volume distribuído por cada concessionária, desconsiderando

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o volume utilizado para a geração termelétrica. O estado de São Paulo lançou o Programa

Paulista de Biogás, por meio do Decreto N° 58.659/2012, o qual tem como objetivo estimular

a utilização deste recurso determinando um porcentual mínimo de biogás a ser adicionado no

gás canalizado comercializado no estado (VEIGA; MERCEDES, 2015). Estas iniciativas,

embora louváveis, criaram exigências sem um conhecimento adequado de como e se é

possível atendê-las.

Atualmente a ANP não recomenda a mistura do gás natural com biometano obtido a

partir de resíduos sólidos urbanos, por conta de um grande número de possíveis

contaminantes, como os siloxanos, e a indefinição, no momento, de como suas concentrações

poderiam ser medidas e controladas no país. Por outro lado, a Agência não coloca restrições

quanto ao seu uso como combustível, sem estar misturado com o gás natural. Logo, projetos

como o do Aterro Metropolitano Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, podem ser realizados.

A partir do encerramento das atividades do aterro, em 2012, foi colocada uma planta de

purificação de biogás que fornece, via gasoduto dedicado, biometano diretamente para a

refinaria Duque de Caxias, da Petrobras, localizada próxima ao aterro (VEIGA; MERCEDES,

2015).

A Associação Brasileira de Biogás (Abiogás) está integralmente de acordo com a

Resolução 08/2015 da ANP. Os siloxanos, além de contaminarem o meio ambiente, danificam

os motores de combustão interna em que forem utilizados como combustíveis. A Abiogás

afirma que é muito mais barato purificar o biogás do que realizar a retifica do motor com

frequência. Os custos de manutenção dos motores são superiores aos custos dos filtros para

extrair os siloxanos. É importante aproveitar a resolução da ANP para desenvolver

tecnologias nacionais nesta área (QUADROS; TAVARES; et al., 2015).

Percentuais mínimos obrigatórios de mistura de biometano com o gás natural

dividiram as opiniões dos entrevistados no projeto sobre: “Desenvolvimento de arranjos

técnicos e institucionais para o aproveitamento de biogás, através da geração de energia

elétrica, oriundo de resíduos sólidos urbanos” (CARVALHO et al., 2016a). Para os que são

contrários, este tipo de medida não colabora com o estabelecimento de uma base competitiva

para o mercado de biometano, tal qual aconteceu com o bioetanol na época do Proalcool.

6.4 Fabricantes de equipamentos

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A cadeia de valor da produção de biogás contempla a fabricação de equipamentos e

componentes para aterros sanitários, equipamentos e componentes utilizados nos tratamento

de purificação do biogás, motores de combustão interna e turbinas a gás, e os biodigestores

utilizados para gerar biogás a partir de esgoto, resíduos agroindustriais, lixo urbano, entre

outros tipos de resíduos.

Existem empresas que fabricam equipamentos e componentes para a produção e

utilização do biogás há muito tempo no Brasil e outras que têm interesse de entrar neste

mercado no país.

Empresas como a Pentair e a Evonik atuam na área de tratamento e purificação do

biogás. Elas afirmam que esta é a melhor opção econômica, comparada com os outros

projetos de aproveitamento energético de biogás. No entanto, as incertezas e os riscos ainda

são altos neste mercado no país e os investidores têm escolhido projetos com riscos menores,

como a geração de eletricidade com o biogás. A Pentair e a Evonik são conscientes de que o

biogás oriundo de aterros sanitários contém teores elevados de contaminantes (siloxanos, H2S,

VOCs, etc.), dificultando a geração de um biometano de boa qualidade. Entre as principais

barreiras está a falta de equipamentos de purificação fabricados no país, forçando estas

empresas a importar todo o material que utilizam. Outra barreira, segundo estas empresas, são

os impostos elevados, que diminuem muito a margem de lucro. Há, também, dificuldades com

a logística, pois, devido à falta de dutos de transporte do biogás, a fonte geradora precisa estar

próxima da fonte consumidora, ou, alternativamente, próxima a tubulações de

transporte/distribuição de gás natural.

A maioria de motores de combustão interna empregados nos processos de geração de

energia elétrica a partir de biogás é fabricada por grandes empresas como a Caterpillar e a

General Electric. Para o uso adequado destes equipamentos é preciso fazer um tratamento

prévio do biogás, por conta do alto teor de contaminantes. Existem algumas empresas

nacionais que fabricam motores de pequeno porte capazes de suportar o biogás. Duas

vantagens comparativas destes motores é que eles são de fácil manutenção e existe a

possibilidade de se operar vários motores em paralelo, reduzindo o tempo de parada da

operação. Por outro lado, motores de grande porte como os fabricados pela Caterpillar e a

General Electric não são fabricados no país, por conta da ainda pequena escala de seu

mercado. Um crescimento acelerado deste mercado com projetos de grande porte poderia

justificar economicamente a fabricação de motores de elevada capacidade no Brasil. Uma

alternativa, por enquanto, poderia ser a fabricação de alguns componentes no país, sobretudo

os que são mais utilizados nos procedimentos de manutenção. O maior problema com os

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motores, do ponto de vista dos fabricantes, são os contaminantes contidos no biogás, que

comprometem a vida útil dos motores.

Existem empresas no Brasil, como a Sansuy, a Methanum, a Foxx Haztec e a AgE,

que fabricam biodigestores. Algumas delas têm parcerias com universidades e centros de

pesquisa para desenvolver e melhorar tecnologias de biodigestão no país. O desenvolvimento

de biodigestores nacionais de RSU constitui um desafio importante para o avanço tecnológico

destes equipamentos no Brasil. Diversas tecnologias dominadas no exterior, quando aplicadas

no Brasil mudam as características do produto final e diminuem a sua eficiência; é

fundamental que haja um esforço de tropicalização destas tecnologias. Uma questão essencial

na utilização de biodigestores para processar RSU é uma boa separação prévia dos resíduos,

de forma que os biodigestores só processem resíduos devidamente triados.

6.5 Empresas de engenharia ou de consultoria que atuam nesta área

A Solvi, Veolia, Foxx Haztec, Ener e AB Energy são empresas de engenharia que

atuam na cadeia de valor do biogás. Nas entrevistas concedidas no âmbito do projeto sobre

política industrial, inserido na Chamada ANEEL n° 14/2012 (CARVALHO et al., 2016a;

QUADROS et al., 2016), representantes destas empresas mencionam que diversos fabricantes

de equipamentos para a cadeia do biogás no exterior não possuem conhecimento sobre o

mercado de biogás no Brasil. Segundo estes representantes, a maioria dos equipamentos

utilizados na cadeia do biogás poderia ser fabricada no Brasil e os produzidos localmente são

de boa qualidade. O problema é a notória prática no país de se importar equipamentos,

diminuindo o potencial produtivo nacional.

Ainda de acordo com os representantes das empresas de engenharia consultados, as

tecnologias utilizadas na cadeia de valor do biogás são plenamente dominadas. Um desafio,

no caso do biogás produzido em aterros sanitários, é a remoção do alto teor de contaminantes

presentes neste gás, já que sua remoção aumenta significativamente os custos dos projetos.

Segundo eles, as maiores incertezas residem na evolução futura das políticas públicas para o

biogás no Brasil.

Os representantes das empresas de consultoria consultadas, como a Fral Consultoria,

mencionam que há uma grande demanda por apoio em questões relacionadas ao

licenciamento ambiental, monitoramento de curto, médio e longo prazo e a estruturação de

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projetos de aterros sanitários. Diversas empresas, públicas e privadas, estão contratando

consultorias especializadas para determinar quais são as melhores soluções para seus resíduos

sólidos urbanos. Atualmente existe uma grande carência de recursos humanos nesta área,

constituindo uma oportunidade para que as empresas de consultoria ofereçam cursos e

treinamentos.

Há, também, no caso dos RSU, a necessidade de se fazer campanhas de educação, para

que a população compreenda melhor sua responsabilidade na gestão dos resíduos. A

conscientização da população é peça fundamental de qualquer política de gestão de resíduos.

Outro ponto importante destacado pelos representantes das empresas de consultoria é a

dificuldade para se obter financiamento para seus projetos de biogás. Uma linha específica de

financiamento para o biogás incentivaria mais investimentos nesta atividade.

Atualmente as empresas de engenharia e consultoria fazem muitos projetos para o

setor industrial, onde as empresas aproveitam seus resíduos para a geração de biogás como

fonte de energia térmica para suas caldeiras, fornos, etc. Não existem estatísticas sobre o total

desta produção de biogás para consumo interno a partir de resíduos industriais.

6.6 Pesquisa e desenvolvimento nesta área no Brasil

A Tabela 6.6 lista grupos de pesquisa, ou laboratórios no Brasil que vêm trabalhando

com elementos da cadeia do biogás obtido, sobretudo, a partir de resíduos sólidos urbanos.

Esta tabela também mostra a instituição a que pertence o grupo, ou laboratório, o estado da

federação onde está localizada a instituição e o ano de início das atividades do grupo, ou

laboratório.

Tabela 6.6 Grupos de pesquisa no Brasil que atuam com elementos da cadeia do biogás

Estado Instituição Grupo de Pesquisa ou Laboratório Ano

Bahia (BA) Universidade Católica do

Salvador (UCSAL)

Laboratório de Solos 2002

Universidade Federal da

Bahia (UFBA)

Laboratório de Geotécnia Ambiental 1999

Rede de Tecnologias Limpas (TECLIM) 1997

Ceará (CE) Universidade Federal de

Ceará (UFC)

Grupo de Pesquisa em Separação por Adsorção

(GPSA)

1999

O nome do grupo de pesquisa não está

disponível

Nd

Pernambuc

o (PE)

Universidade Federal de

Pernambuco (UFPE)

Grupo de Geotécnia Ambiental

(GEAM/BUFPE)

1994

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Grupo de Processos e Tecnologias Ambientais

(GPTA)

Nd

Grupo de Resíduos Sólidos da UFPE

(GRS/UFPE)

1994

Laboratório de Métodos Computacionais para

Geomecânica (LMCG)

2003

Minas

Gerais

(MG)

Univesidade Federal de

Minas Gerais (UFMG)

Laboratório de Microbiologia (DESA) 2000

O nome do grupo de pesquisa não está

disponível

Nd

Soluções Integradas para a Gestão de Resíduos

Sólidos (SIGERS) – engenharia de transporte

2001

Soluções Integradas para a Gestão de Resíduos

Sólidos (SIGERS) – engenharia sanitária e

ambiental

2001

Universidade Federal de

Viçosa (UFV)

Grupo de Pesquisa em Qualidade Ambiental

(GPQA)

2012

O nome do grupo de pesquisa não está

disponível

Nd

O nome do grupo de pesquisa não está

disponível

Nd

Rio de

Janeiro

(RJ)

Instituto Nacional de

Tecnologia

O nome do grupo de pesquisa não está

disponível

Nd

Universidade Estadual do

Rio de Janeiro (UERJ)

Laboratório de engenharia Sanitária (LES) 1993

Universidade Federal do

Rio de Janeiro (UFRJ)

Grupo de Estudo sobre Tratamento de Resíduos 1998

Instituto Virtual Internacional de Mudanças

Globais (IVIG/COPPE)

1999

Laboratório de Maquinas Térmicas (LMT) Nd

Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente

(LIMA)

1997

São Paulo

(SP)

Universidade de São

Paulo (USP)

O nome do grupo de pesquisa não está

disponível

Nd

Centro Nacional de Referência em Biomassa

(CENBIO)

1996

Laboratório de Mecânica de Solos, do

Departamento de Getecnia, Escola de

Engenharia de São Carlos

Nd

O nome do grupo de pesquisa não está

disponível

Nd

Centro de Pesquisa em Resíduos Sólidos

(NEPER)

2003

Laboratório em Geosintéticos da ESSC/USP 2001

Universidade Estadual

Júlio de Mesquita Filho

(UNESP)

Grupo de Otimização de Sistemas Energéticos

(GOSE)

2002

O nome do grupo de pesquisa não está

disponível

nd

Santa

Catarina

(SC)

Universidade Federal de

santa Catarina (UFSC)

Laboratório de Pesquisa em Resíduos Sólidos

(LARESO)

1995

Nd: dado não disponível

Fonte: Elaboração própria com dados de QUADROS; VIEIRA; et al. (2015)

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A relação universidade/instituto de pesquisa-empresa é, via de regra, realizada de

forma esporádica, visando resolver problemas pontuais, salvo na área rural, onde é possível

encontrar vários projetos de produção de biogás, realizados em parceria com a Embrapa,

visando à geração de energia elétrica e calor a partir de dejetos de suínos, gado e aves.

O mercado de fornecedores de equipamentos e serviços para a cadeia do biogás no

país é dominada por players internacionais. Detentores de conhecimento e tecnologia

maduros e tendo centros de pesquisa localizados sem seus países de origem, esses têm sido

atraídos ao Brasil por meio dos programas governamentais de incentivo ao desenvolvimento

tecnológico da indústria nacional de biogás (CARVALHO et al., 2016a).

Segundo Carvalho et al. (2016), como a indústria nacional do biogás ainda é incipiente

no país e dependente de tecnologia externa, os relacionamentos dos grupos de pesquisa têm

sido mais intensos com os órgãos governamentais de financiamento à pesquisa, do que com

empresas. Estes órgãos têm buscado estimular a nacionalização de tecnologias e o

fortalecimento da interação entre as empresas e as instituições de ciência e tecnologia.

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7 PROPOSTAS DE NOVAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE

FOMENTO AO BIOGÁS COMO VETOR ENERGÉTICO

Um conjunto adequado de políticas públicas requer a adoção de uma visão de futuro

que norteará seus objetivos de curto, médio e longo prazo. Esta visão precisa considerar as

diversas fontes de biogás pelo território nacional e sua característica descentralizada. O maior

potencial, em termos de volume (mais de 80%), se encontra em atividades agrícolas, mas

como os desafios técnicos e econômicos do biogás são semelhantes, os agentes que atuam na

cadeia de valor do biogás podem diversificar sua base de clientes e fortalecer seus modelos de

negócio. As políticas de apoio ao aproveitamento energético do biogás oriundo dos vários

substratos precisam se relacionar entre si e facilitar a participação de empresas nacionais e

estrangeiras.

Por outro lado, o planejamento governamental precisa considerar o biogás como uma

fonte de energia com desafios e particularidades distintas de outras fontes de biomassa. O

aproveitamento energético do biogás ainda é precário no país, sendo necessários instrumentos

de fomento que considerem explicitamente este início de desenvolvimento tecnológico. Em

suma, o governo precisa de uma estratégia para o aproveitamento energético de biogás com

objetivos claros de curto, médio e longo prazos e instrumentos adequados para atingi-los.

Estes esforços dotariam o país com uma fonte descentralizada de energia caracterizada

por certa versatilidade, pois poderia ser usada de formas diversas. Além de poder ser

consumido como gás industrial, o biogás pode ser usado para gerar eletricidade, ou ser

refinado para gerar biometano, dependendo de sua qualidade e quantidade e das

particularidades do projeto. Esta versatilidade é importante para o país superar diversos dos

seus desafios de infraestrutura. Por exemplo, no caso do biometano, sua produção local

permitiria contornar as dificuldades decorrentes da ausência de uma rede de gasodutos

suficientemente extensa pelo território nacional.

As informações contidas nos capítulos anteriores permitem detectar as principais

barreiras que obstruem avanços no desenvolvimento dos elementos que compõem a cadeia de

valor do biogás como vetor energético. Neste capítulo são propostas novas políticas públicas

que têm como objetivo superar estas barreiras e fomentar, de uma forma mais eficaz do que

ocorre atualmente, o biogás como vetor energético no Brasil.

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Tendo como ponto de partida o relatório técnico intitulado “Políticas industriais,

tecnológicas e energéticas de fomento ao aproveitamento energético do biogás de resíduos

sólidos urbanos”, apresentado no âmbito de um projeto de P&D da Chamada ANEEL n°

14/2012 (CARVALHO et al., 2016b), foram identificadas quatro categorias de políticas

públicas que podem fomentar, com distintas perspectivas, a produção e uso energético do

biogás no Brasil a partir de vários tipos de resíduos.

As políticas pelo lado da oferta atuam diretamente sobre os fabricantes de

equipamentos, construtoras e operadoras de biogás. Elas melhoram a competitividade destes

elementos da cadeia de valor do biogás por meio de ações que atuam diretamente no

desenvolvimento de novas tecnologias, tornando-as mais baratas e acessíveis, ou nos

indicadores de rentabilidade, graças a subsídios fiscais ou creditícios.

As políticas pelo lado da demanda atuam no fim da cadeia criando consumidores para

o produto “biogás”, mesmo sendo ele mais caro do que outras fontes de energia. Uma maneira

de se atingir este objetivo é estabelecer tarifas do tipo feed-in, ou preços-tetos em leilões,

superiores aos preços médios pagos por energéticos tradicionais, concorrentes com o biogás, e

rateando o sobrecusto com um conjunto amplo de consumidores. Outro instrumento que tem

sido utilizado em alguns países é fixar um valor máximo de emissões de gases que causam o

efeito estufa para cada participante do setor energético e criar um mercado onde é possível

realizar transações de certificados de emissões. Para atingir suas metas, muitos agentes vão

adquirir, neste mercado, certificados de fontes de baixas emissões e menos competitivas,

como é o caso do biogás (CARVALHO et al., 2016b).

Na terceira categoria se encontram as políticas transversais. Elas atuam ao longo da

cadeia de valor do biogás e, em geral, são complementares com outras políticas

governamentais. Nesta categoria se enquadram as campanhas de comunicação, que ajudam na

aceitação social dos projetos de aproveitamento energético de biogás, publicações, cursos e

treinamentos sobre diversos aspectos tecnológicos ou mercadológicos desta atividade.

Ademais, informações técnicas ou de mercado são de grande ajuda para empresas e

comunidades que desejam implantar uma instalação de produção e uso energético do biogás

(QUADROS; TAVARES; et al., 2015).

Outro tipo de políticas de apoio ao biogás são as políticas de cunho ambiental para a

gestão de resíduos de uma forma geral, ou algum tipo de resíduo em particular, como os

resíduos sólidos urbanos. Estas políticas visam a redução de impactos ambientais negativos

através de uma gestão sustentável dos resíduos. Em geral estas políticas contemplam o reuso e

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a reciclagem, quando aplicáveis, e o aproveitamento energético dos resíduos, como

importantes fontes renováveis de energia.

7.1 Propostas de novas políticas públicas pelo lado da oferta

Os principais instrumentos de ação para novas políticas públicas de fomento ao biogás

pelo lado da oferta são: desoneração fiscal; facilidades creditícias; apoio para a conexão com

a rede elétrica; e fomento ao desenvolvimento tecnológico. Cada um destes instrumentos são

discutidos nas seções a seguir.

7.1.1 Desoneração fiscal

Muitos agentes que atuam na cadeia de valor do biogás concordam que uma das

principais barreiras que inibem uma utilização mais significativa deste energético no Brasil é

o alto nível de impostos que incidem sobre esta atividade e que precisariam ser reduzidos. A

incidência de impostos em projetos nesta área pode encarecer bastante seus custos.

A concessão de benefícios fiscais pode representar um fator determinante para o

sucesso de políticas de fomento à produção de energia elétrica, ou biometano a partir de

biogás.

7.1.1.1 Tributos federais

A concessão de benefícios em âmbito federal é a mais adequada e eficiente,

comparada com as demais esferas federativas, pelas seguintes razões:

a. Possibilidade de instituir benefícios de abrangência nacional, permitindo atingir um maior

número de contribuintes e, também, evitando guerra fiscal entre as unidades federativas.

Ao mesmo tempo, é possível que sejam instituídos benefícios a determinada região, que

visem corrigir desequilíbrios socioeconômicos;

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b. A concessão dos benefícios não depende de anuência dos demais entes federativos, a

exemplo do que ocorre com o ICMS, que requer unanimidade para a aprovação de

convênio no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz);

c. Maior capacidade de desoneração da cadeia do biogás, decorrente da maior quantidade de

tributos federais incidentes sobre os contribuintes (IRPJ/CSLL, PIS/COFINS, IPI,

Imposto de Importação, Contribuição Previdenciária, etc.);

d. Maior flexibilidade para direcionar os benefícios. Os diversos tributos federais permitem

desonerar todas as etapas da cadeia produtiva, desde a realização de investimentos e

aquisição de bens e serviços até a produção e comercialização da energia elétrica gerada,

ou do biometano produzido.

Seguem alguns exemplos de benefícios já previstos na legislação (vide Anexo A), dos

quais poderiam se valer as empresas geradoras de energia elétrica, ou produtoras de

biometano a partir do biogás:

(i) A redução da carga tributária do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da

Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) pode ser feita por diferentes métodos.

Tanto pode haver a redução direta sobre os valores apurados, como pode haver a redução

das bases de cálculo, por exemplo, excluindo a tributação sobre determinadas receitas ou,

ainda, pela possibilidade de depreciação acelerada de bens.

(ii) Reduções do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) podem ser utilizadas como forma

de incentivar a captação de investimentos para determinadas áreas de interesse

econômico. Projetos de geração de energia elétrica, ou produção de biometano a partir de

biogás podem se aproveitar de investimentos por meio de emissão de debêntures, ou por

fundos de investimento feitos por pessoa física.

(iii) A desoneração da Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do

Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP) e da Contribuição para o Financiamento da

Seguridade Social (COFINS) pode atingir diferentes etapas da cadeia de valor do biogás.

Pode haver isenção das contribuições incidentes sobre a receita auferida pela

comercialização de energia elétrica, ou biometano, sobre a receita da venda de bens e

serviços para o ativo ou que sejam insumos, incluindo o biogás, às geradoras de energia

elétrica, ou produtora de biometano, ou ainda as contribuições incidentes sobre a

importação de bens e serviços pelas geradoras ou produtores de biometano.

(iv) As operações com energia elétrica são imunes à cobrança do Imposto sobre Produtos

Industrializados (IPI), possíveis benefícios fiscais de IPI podem ser instituídos sobre o

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imposto incidente sobre a aquisição de bens para integração do ativo das geradoras de

energia elétrica a partir do biogás, seja em operações internas ou em importações.

(v) O Imposto de Importação é um tributo federal de função marcadamente extrafiscal que

tem como fato gerador a importação de produtos estrangeiros. A alíquota do Importo de

Importação incidente na importação de bens que não tenham similar produzido no país

pode ser reduzida pela aplicação do regime ex-tarifário. Coordenado pelo Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), este regime consiste na

redução temporária de alíquotas de importação de bens de capital, de informática e

telecomunicação. Incluir dentro desse regime, não somente os bens de capital de maior

volume, mas também as peças de reposição necessárias seria uma das possíveis opções

abertas ao governo.

(vi) Isenção do Imposto Territorial Rural (ITR) pode ser concedida como forma de reduzir o

ônus sobre a propriedade destinada à geração de energia elétrica, ou produção de

biometano a partir do biogás. Esta isenção poderia ser aplicada para privilegiar o

investimento em determinadas áreas.

7.1.1.2 Tributos estaduais

O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de Transporte Interestadual

Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) é um imposto de competência estadual. Ele tem

como principal fato gerador a circulação de mercadorias, incluindo a energia elétrica e o

biometano, além dos serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.

Como regra geral, as alíquotas nas operações internas aos estados variam entre 17% e

18% e, nas operações interestaduais podem ser de 12%, 7% ou 4%, dependendo do estado de

origem, destino e da procedência da mercadoria. No âmbito estadual, o principal tributo

utilizado para conceder estímulos a determinado setor da economia é o ICMS. No entanto, a

concessão de benefícios depende de autorização do Conselho Nacional de Política Fazendária

(Confaz), composto pelas Secretarias de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal, mediante

a celebração de Convênio ICMS, o que requer unanimidade para aprovação.

A utilização do ICMS como ferramenta de estímulo a determinado setor permite

relativa flexibilidade para direcionamento dos benefícios concedidos. Com efeito, a

desoneração pode ser aplicada, por exemplo, sobre a aquisição de bens para implantação de

usinas geradoras de energia elétrica, ou produtoras de biometano, a aquisição do biogás e até a

comercialização destes energéticos.

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Existem alguns exemplos, no Anexo B, de benefícios concedidos com base em

Convênio do Confaz que poderiam ser adotados para a geração de energia elétrica a partir do

biogás.

A redução do ICMS permitiria evitar alguns dos efeitos decorrentes da cobrança em

cascata do imposto. No caso dos RSU, há cobrança de ICMS sobre a coleta, transporte e

aterramento de resíduos, bem como sobre o biogás, o que inviabiliza muitos investimentos

nesta área por conta da elevação dos seus custos, em comparação com as receitas obtidas com

a venda da energia elétrica, ou do biometano.

No âmbito estadual, a medida mais importante seria a isenção de ICMS para projetos

de geração de energia elétrica por biogás por um período de 10 anos, como já acontece em

Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco e Goiás. O Confaz precisa estar ativamente envolvido

para que a prática seja adotada em todo o território brasileiro.

Na prática recente no país, de injeção de eletricidade na rede pública por instalações de

micro, ou minigeração de consumidores e a posterior compensação desta geração como

crédito na fatura emitida pela concessionária local, alguns estados brasileiros cobram o ICMS

sobre o consumo total, sem levar em conta a injeção da geração do consumidor na rede.

Dezoito governos estaduais, mais o governo do Distrito Federal, concordaram em taxar com o

ICMS só a aquisição líquida de eletricidade pelo consumidor (Convênio Confaz 16/2015).

Esta prática deveria ser generalizada para todos os estados, fomentando todas as tecnologias

aplicáveis, inclusive a de geração com biogás.

7.1.1.3 Tributos municipais

O Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) incide sobre a prestação

onerosa de serviços previstos em lei complementar. Atualmente, a Lei Complementar n°

116/03 traz a lista de serviços tributados pelo ISS.

Como regra geral, o ISS é recolhido ao município em que se encontra o

estabelecimento do prestador, exceto nos casos expressamente previstos por lei complementar

em que a competência é atribuída ao município do local da prestação do serviço. Suas

alíquotas são definidas pela legislação de cada município, de acordo com o serviço prestado,

não podendo ser superior a 5% nem inferior a 2%.

A produção e comercialização de energia elétrica, ou biometano não é atividade sujeita

à incidência do ISS, principal tributo de competência municipal, o que torna a concessão de

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benefícios fiscais municipais menos adequada à instituição de política de estímulo econômico

desta atividade.

Uma alternativa seria a redução do ISS incidente sobre serviços prestados aos

produtores, ou ainda aplicáveis a contratos de concessão de obra pública ou de parcerias

público-privadas que envolvam projetos de geração de energia elétrica, ou produção de

biometano a partir do biogás.

Além do ISS, os governos municipais ainda cobram o Imposto Predial e Territorial

Urbano (IPTU) e o Imposto sobre Transmissão de Bens Inter Vivos (ITBI). As

municipalidades podem criar incentivos fiscais para desonerar os imóveis utilizados para a

geração de energia elétrica, ou a produção de biometano a partir do biogás, seja pela

concessão de isenção do IPTU ou do ITBI. O IPTU incide sobre a propridade predial e

territorial urbana, enquanto o ITBI incide sobre a transmissão onerosa de bens. Estes impostos

têm menor impacto na carga tributária total da empresa geradora de energia elétrica, ou

produtora de biometano, mas podem ser utilizados, também, como forma de atração de

investimentos para determinada área.

7.1.2 Facilidades creditícias

Para se fomentar uma maior inserção do biogás na matriz energética é necessário que

haja crédito, em condições favoráveis, aos projetos nesta área.

A Finep, por exemplo, apoia o desenvolvimento de novas tecnologias de tratamento de

RSU, podendo prover recursos para soluções novas para o país.

O BNDES, em razão de sua capacidade de financiamento e sua capilaridade nacional,

seria essencial para financiar grandes projetos de gestão de resíduos em geral. A criação de

novos fundos, ou organismos para financiar as atividades de geração de biogás a partir de

qualquer tipo de resíduos seria muito bem vinda.

Um exemplo deste tipo de apoio ocorre na Grã-Bretanha. O governo britânico optou

por políticas de fomento à oferta de biogás mais focada em subsídios e crédito favorável,

sobretudo para o aproveitamento energético de aterros sanitários, por conta da farta

disponibilidade de crédito no país.

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7.1.3 Apoio para conexão à rede elétrica

As dificuldades enfrentadas por geradores de menor porte para que sua energia chegue

à rede nacional de eletricidade também é um problema experimentado pelos produtores de

eletricidade a partir de biogás. Por parte das concessionárias de energia elétrica, se tem muitos

gargalos para fazer tal conexão virar realidade. As exigências aos projetos de conexão à rede

frequentemente são exageradas, além de que a demora nas respostas aos questionamentos

técnicos dificultam muito o processo.

Entre algumas soluções possíveis para este problema, se pode destacar o

desenvolvimento de um padrão para os projetos de conexão das usinas de biogás à rede das

concessionárias de energia elétrica, a criação de um ambiente de diálogo entre as partes e a

intermediação feita por especialistas da ANEEL e ONS.

7.1.4 Fomento ao desenvolvimento tecnológico

Ao longo da cadeia de produção existem oportunidades para o desenvolvimento

tecnológico no aproveitamento energético do biogás no país. Entre estas oportunidades

destacam-se os motores específicos para o biogás, biodigestores projetados para cada tipo de

resíduo e sistemas de purificação do biogás.

Atualmente, algumas destas tecnologias já estão sendo desenvolvidas no Brasil, mais o

desafio, para as autoridades públicas, reside em acelerar estes processos.

É importante destacar o fomento a parcerias entre a área acadêmica e o setor industrial,

para o desenvolvimento destas tecnologias. A maioria das empresas que participam da cadeia

do biogás no país não praticam estas parcerias, limitando-se a importar os equipamentos que

necessitam.

A FINEP, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

e as fundações estaduais de amparo à pesquisa têm um importante papel na aproximação entre

as comunidades acadêmica e empresarial, além de financiar projetos de interesse para a cadeia

do biogás.

Em destaque se encontram também as incubadoras ligadas a universidades, ou outras

instituições de pesquisa. Sua importância na criação de empresas de base tecnológica que

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possam oferecer bens e serviços inovadores à região, país ou mundo não pode ser

subestimado, razão pela qual elas têm ganhado cada vez mais atenção por parte de

formuladores de políticas de P&D.

7.2 Propostas de novas políticas públicas pelo lado da demanda

Algumas tecnologias consideradas mais “sustentáveis”, notadamente a energia eólica,

têm se destacadas nos leilões de energia organizados pelo governo no Ambiente de

Contratação Regulada (ACR). Em relação ao biogás, o “6º Leilão para Contratação de

Energia de Reserva”, realizado em 31 de outubro 2014, foi o único leilão, até agora, que

contemplou explicitamente o biogás produzido por resíduos sólidos urbanos, resíduos

vegetais/animais e estações de tratamento de esgoto. Entretanto, o preço teto de R$

169,00/MWh foi considerado baixo demais pelos potenciais investidores em usinas de biogás,

não havendo nenhum participante. Até o momento, todos os projetos de geração de energia

elétrica através de biogás optaram pelo Ambiente de Contratação Livre (ACL) para venda de

sua geração, em razão dos maiores preços praticados nesse mercado.

De uma forma similar ao que foi feito para a indústria eólica nacional, o governo deve

organizar leilões de energia elétrica com tetos de preços condizentes com os custos mais

elevados das usinas que geram eletricidade a partir do biogás e que contemplem biogás

oriundo de diversas fontes.

Existe a necessidade de regulamentação do biometano proveniente de resíduos,

especialmente o oriundo de RSU, por conta dos contaminantes. A Resolução 08/2015 da ANP

ainda mantém o biogás de RSU sob regime de uso experimental. Isso pode mudar nos

próximos anos em decorrência do trabalho da própria ANP e da Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT), por meio de sua Comissão de Estudo de Injeção de Biometano em

Redes de Gás Natural. Atualmente os riscos percebidos pelo empresariado brasileiro ainda são

consideravelmente elevados. Independentemente de como essa percepção mude no futuro, é

importante que o mercado esteja minimamente estruturado e regulado para que as empresas

possam participar.

O governo federal não é a única instituição governamental que pode fomentar o

biometano. Em função de suas características de monopólio natural , a distribuição de gás

canalizado é regulada pelos estados. Como resultado, governos estaduais podem influenciar

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consideravelmente esta atividade, desde que ela não fira as exigências técnicas da ANP e as

legislações federais existentes.

Embora a extensão da rede de gasodutos no país seja limitada, alguns estados

poderiam incentivar o uso de biogás refinado de fontes variadas. Após a realização de um

estudo prévio, isso poderia ser uma estratégia de valorização do biogás, que leve em conta as

forças, fraquezas e oportunidades existentes nos estados.

7.3 Propostas de novas políticas públicas transversais

Esta categoria de políticas públicas pode ajudar muito o crescimento da cadeia de

valor do biogás, complementando as políticas pelo lado da oferta e pelo lado da demanda.

Comunicação, disseminação de informações e treinamento são elementos

fundamentais para o fortalecimento da gestão de resíduos,de uma forma geral.

A mudança de comportamento é uma das bases para o sucesso das novas políticas

propostas. Para motivar tal mudança é fundamental a estruturação de campanhas permanentes

de comunicação em ambientes públicos, escolas, museus, dentre outros.

Além da disseminação de informações, vale destacar que o Brasil carece de centros de

referência sobre o biogás. O Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás

(CIBiogás) é uma iniciativa de destaque, que contempla atividades de diversas naturezas,

incluindo análises laboratoriais, disseminação de conhecimento e desenvolvimento de

projetos na área. Considerando a diversidade do território nacional e a variedade de projetos

possíveis com esse tipo de energia, o exemplo do CIBiogás poderia ser replicado para outras

regiões do país.

Além de centros de referência, é necessário estruturar cursos de graduação, pós-

graduação e cursos técnicos em quantidade suficiente. É notória a falta de profissionais

qualificados sobre assuntos ligados ao aproveitamento do biogás. Suprir essa carência é um

dos caminhos importantes para aumentar a quantidade de projetos de aproveitamento

energético do biogás.

É importante se fortalecer a administração municipal, capacitando prefeitos, gestores e

agentes públicos, visto que a demanda por soluções tecnológicas na gestão de resíduos passa

necessariamente pelas entidades do governo. Os estados também possuem um papel

importante dentro desses esforços de comunicação. Os estados podem publicar documentos

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100

que auxiliem entidades públicas e privadas em suas tomadas de decisões sobre a estruturação

de projetos de aproveitamento energético do biogás a partir de resíduos. Além disso, os

estados e os municípios precissam ter informações sobre a qualidade do biogás, que depende

do tipo de resíduo utilizado, e os usos que podem dar a este biogás.

O Brasil não tem instâncias governamentais adequadas para gerir programas de

eficiência energética e de fomento a fontes renováveis de energia, como a energia solar e o

biogás, que ainda precisam de estímulos do governo para ocupar um espaço significativo na

matriz energética nacional. O governo federal poderia criar uma agência executiva, ligada ao

Ministério de Minas e Energia, para administrar tais tipos de programas, no âmbito da

administração federal. Alguns governos estaduais com interesse de criar este tipo de programa

em sua alçada administrativa poderiam criar agências executivas estaduais. Diversos países da

União Europeia, como a Alemanha, França e Dinamarca, têm tido muito sucesso na gestão

destes programas governamentais através de agências executivas, em várias instâncias

administrativas. Um dos objetivos destas agências é criar parcerias público-privadas para

auxiliar na implantação dos programas. Parcerias com universidades e instituições de pesquisa

também são comuns, para fomentar projetos de P&D e oferecer cursos e programas de

treinamento.

7.4 Propostas de novas políticas de cunho ambiental para a gestão de resíduos

Em relação às políticas de fomento ao tratamento e disposição final adequados para os

resíduos sólidos urbanos (RSU), o foco do governo deve ser o cumprimento das exigências

estabelecidas na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), ainda não respeitadas em sua

integridade. O país já possui um marco regulatório adequado para este tipo de resíduo, mas

são recomendadas metas mais ambiciosas para o aproveitamento energético do biogás, através

das diversas tecnologias que podem ser usadas para esse fim. Uma boa parte da contribuição

energética dos RSU advém da reciclagem.

Atualmente, uma grande parcela da população brasileira ainda não conta com serviços

de coleta e tratamento de esgotos e estes são a principal causa da poluição nos rios do país.

Avanços nas políticas públicas de saneamento, nas diversas esferas governamentais, e mais

recursos investidos nesta área são essenciais para reduzir esta poluição. A geração de energia

elétrica com o biogás produzido nas estações de tratamento de esgotos pode atender ao

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consumo interno deste energético nas estações e os excedentes desta geração podem ser

vendidos para a rede pública, propiciando uma significativa fonte de receitas.

Na área rural, esterco, outros resíduos da pecuária, e resíduos da agricultura também

provocam a poluição de fontes hídricas e emitem gases que causam o efeito estufa (GEEs). O

tratamento destes resíduos através da biodigestão e o uso do biogás resultante como

combustível, ou para gerar energia elétrica diminuem substancialmente estes problemas

ambientais e constituem novas fontes, locais, de suprimento de energia.

Em síntese, grande parte dos diversos tipos de resíduos da biomassa que não estão

sendo tratados de alguma forma está causando contaminação dos recursos naturais e/ou

problemas de saneamento para a população. Políticas públicas visando uma gestão sustentável

destes resíduos trazem não só benefícios ambientais, como, também, oportunidades de se

explorar uma significativa fonte renovável de energia: o biogás.

As preocupações crescentes sobre os impactos das mudanças climáticas têm levado

países e empresas a adotarem ações cada vez mais agressivas de controle de suas emissões de

gases que causam o efeito estufa. Os governos, de maneira unilateral ou conjuntamente, têm

estruturado políticas climáticas diversas, incluindo medidas de apoio mútuo, metas de redução

de emissões de GEEs e ações de adaptação frente aos impactos climáticos.

O acordo internacional de maior envergadura é a Convenção-Quadro das Nações

Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC no original em inglês), assinado por quase

todos os países do mundo, inclusive o Brasil.

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) tem tido um papel importante na

produção e aproveitamento de biogás no Brasil. Este mecanismo é um dos incentivos

internacionais utilizados para que empresários pudessem desenvolver projetos que trouxessem

benefícios ambientais, econômicos e sociais para o país. O MDL tem alavancado projetos de

aproveitamento energético de biogás proveniente de suinocultura, avicultura e de aterros

sanitários.

Qualquer novo acordo climático internacional deverá estruturar mecanismos de apoio

mútuo entre os países. Isso levará à criação de novos sistemas internacionais de cap-and-trade

(incluindo uma nova fase para o MDL), que poderão beneficiar tanto países desenvolvidos

como em desenvolvimento. O Brasil ganhou bastante experiência com os acordos

internacionais de clima e suas repercussões nas políticas nacionais. Continuar ativamente

nesse processo internacional trará muitos benefícios ao país.

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8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O potencial existente no Brasil para geração de biogás a partir de resíduos

agropecuários, resíduos agroindustriais, lixo orgânico e esgotos urbanos é substancial.

O crescimento do ainda incipiente mercado de biogás no país pode agregar valor a

toda a cadeia produtiva deste energético e minimizar a poluição e a emissão de GEEs

associadas à atual gestão inadequada da maioria dos resíduos que servem de substratos para

produzir o biogás.

O biogás pode ser consumido como combustível industrial, alimentando caldeiras,

fornos e secadores, ou ser utilizado, após alguma purificação, como combustível veicular.

Tratamentos mais complexos, que eliminem a umidade e contaminantes e concentrem o seu

teor de metano podem transformá-lo em biometano, que substitui, ou complementa o gás

natural. Um de seus usos mais difundidos, no Brasil e no mundo, é para gerar energia elétrica.

A sua utilização mais adequada em cada circunstância depende de vários fatores, tais como o

substrato disponível para a sua produção, seus custos, preços dos energéticos concorrentes e

eventuais políticas públicas de fomento a certos usos.

Conforme ilustrado no capítulo 4 desta dissertação, modelos de simulação e de

programação matemática são ferramentas essenciais para se estimar o potencial de

aproveitamento energético dos resíduos e para auxiliar no dimensionamento econômico e

localização ótima dos empreendimentos.

O estabelecimento de parcerias entre os setores público e privado é necessário para

diminuir os riscos nos projetos e atrair investidores.

A cadeia de valor da produção e aproveitamento energético do biogás, apresentada no

capítulo 6 da dissertação, envolve vários tipos de agentes. Incentivos ao crescimento do

mercado do biogás devem atingir, na medida do possível, a maioria destes agentes.

Entrevistas com estes vários tipos de agentes, realizadas no contexto de um projeto de P&D

da ANEEL e analisadas nesta dissertação, indicaram suas visões sobre as principais barreiras

e oportunidades para o crescimento do mercado de biogás no Brasil.

Com base nestas entrevistas, nas atuais políticas do governo brasileiro que afetam o

biogás e em políticas públicas bem sucedidas para o biogás em outros países, analisadas no

capítulo 5, novas políticas, classificadas em quatro categorias complementares, são propostas

no capítulo 7 para alavancar toda a cadeia de valor do biogás no Brasil.

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As próximas seções trazem conclusões deste trabalho por tipo de substrato utilizado

para a produção do biogás e algumas recomendações para trabalhos futuros.

8.1 Resíduos sólidos urbanos

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) modificou estruturas viciadas e

pouco eficazes de gestão de resíduos sólidos no Brasil. No entanto, há um longo caminho pela

frente para se ter sua plena implementação. É mais um caso, no País, de uma legislação

avançada que ainda não está sendo cumprida.

Um dos grandes desafios para os RSU é a aplicação da PNRS nas numerosas pequenas

cidades do País, que precisam se organizar na forma de consórcios para poderem implantar

projetos de escala suficiente que permitam um razoável retorno econômico e consigam

financiamento em condições favoráveis.

Projetos abrangentes de tratamento e disposição final de RSU podem obter recursos

associados a seus benefícios ambientais, que incluem créditos de carbono, e sua eventual

contribuição como fonte renovável de energia.

Tal qual está ocorrendo na China, o Brasil também precisa buscar a iniciativa privada,

sobretudo na forma de parcerias público-privadas, para poder implantar, com a rapidez

necessária, bons projetos de tratamento e disposição final de RSU, com aproveitamento

energético sempre que for viável economicamente.

A diversidade econômica e social das cidades e regiões do Brasil abre espaço para que

mais de uma tecnologia de aproveitamento energético de RSU se desenvolva no País,

aproveitando, da melhor forma possível, as especificidades locais.

O Brasil não possui atualmente tarifas do tipo “feed in” para incentivar fontes

renováveis de energia, em geral, e RSU, em particular, mas tem realizado leilões de energia

com tetos de preço diferenciados para fomentar diversas fontes renováveis alternativas. O

mecanismo de leilões diferenciados tem algumas vantagens em relação à aplicação de tarifas

do tipo “feed in”. O desafio reside em uma especificação adequada dos parâmetros dos

leilões, o que depende de um bom conhecimento das ofertas dos competidores e de políticas e

metas de longo prazo para estas fontes, hoje inexistentes no País.

Tal qual o Japão, o Brasil também tem legislação sobre responsabilidade estendida do

produtor, mas a sua aplicação ainda está restrita a alguns poucos produtos, como pneus,

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recipientes de lubrificantes, recipientes de pesticidas agrícolas, pilhas, etc. e com graus de

sucesso bastante diferenciados. A experiência do Japão pode ser muito útil ao Brasil tanto

para ampliar substancialmente a relação de produtos e embalagens cobertas por este tipo de

legislação, como para operacionalizar as práticas associadas.

A coleta seletiva de RSU, seja por parte da população que a produz, ou por

recicladoras, ainda é muito limitada no Brasil. Fomentar esta prática, através de legislação e

incentivos econômicos, deve ser uma das principais ações futuras da PNRS.

8.2 Resíduos agroindustriais

Estabelecimentos de médio e grande porte de algumas agroindústrias da cadeia

alimentícia, tais como os produtores de derivados da carne, açúcar e cervejas,

tradicionalmente utilizam biodigestores para tratar parte de seus resíduos. O biogás produzido

em geral é utilizado, nestas instalações, como combustível em caldeiras e secadores. Estes

estabelecimentos são bem organizados no país e possuem uma cadeia de suprimento de

equipamentos e serviços bem estruturada, inclusive para a produção de biogás.

O mesmo já não ocorre em um grande número de estabelecimentos de pequeno porte

nestes e em outros segmentos da indústria alimentícia, que possuem, no seu agregado, um

grande potencial, ainda não explorado, de produzir biogás a partir de seus resíduos. Estes

estabelecimentos requerem a atenção de políticas públicas voltadas para o fomento da

produção de biogás no país.

A pecuária confinada, sobretudo de suínos e aves, também possui um potencial

significativo de produção de biogás, a partir dos dejetos destes animais, e posterior utilização

do biogás para gerar energia elétrica. Pequenos produtores vizinhos precisam se consorciar

para explorar de forma econômica este potencial. A experiência recente, bem sucedida, de

pequenos produtores de suínos no oeste do estado de Santa Catarina precisa ser difundida e

replicada em outras regiões do país. Políticas públicas de fomento ao biogás precisam ser

direcionadas para este segmento da pecuária.

A produção de biogás com resíduos de agroindústrias e da pecuária confinada tem um

subproduto de grande importância econômica e ambiental, que é o biofertilizante.

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8.3 Resíduos de esgotos urbanos

Os esgotos constituem uma fonte importante para a geração de biogás pelo alto teor de

matéria orgânica.

A produção de energia elétrica proveniente do biogás gerado diminui os custos

operacionais das estações de tratamento de esgoto (ETEs), já que essa energia é empregada no

próprio processo de tratamento do esgoto. Excedentes, em relação ao consumo próprio, de

energia elétrica gerada podem ser vendidos para a rede pública.

Esta prática ainda é pouco difundida nas ETEs do Brasil. A superação do enorme

déficit que o país tem na coleta e tratamento dos esgotos traz, em seu bojo, um potencial

significativo de geração de energia elétrica com o biogás que pode ser gerado com este

substrato. Novas políticas públicas de fomento ao biogás neste setor tem que assegurar que as

futuras ETEs contemplem este processo.

8.4 Recomendações para trabalhos futuros

Este trabalho realizou uma avaliação ampla e geral sobre a cadeia de valor do

aproveitamento energético do biogás que pode ser produzido a partir de vários tipos de

resíduos da biomassa no Brasil. As atuais políticas públicas de fomento a esta atividade no

Brasil e em outros países foram analisadas, com vistas à proposição de novas políticas para

alavancar o mercado do biogás no país, que ainda é incipiente.

Estudos futuros podem utilizar os resultados alcançados neste trabalho como ponto de

partida para análises mais detalhadas dos possíveis impactos destas políticas no potencial de

produção de biogás a partir de cada um dos substratos aqui descritos e os correspondentes

benefícios econômicos e ambientais. Modelos de simulação, ou de programação matemática,

como os apresentados no capítulo 4 desta dissertação, são ferramentas essenciais para a

realização destes estudos.

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ANEXOS

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ANEXO A - Benefícios fiscais para geração de energia elétrica

a partir de biogás

Imposto de

Renda Pessoa

Jurídica (IRPJ)

Incentivo à

inovação

tecnológica

Base legal: Art. 17 e seguintes da Lei n° 11.196/05

Abrangência: Pessoas jurídicas com investimento em

inovação.

Benefício: (i) dedução de valor correspondente à soma dos

dispêndios realizados no período de apuração com pesquisa

tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica

classificáveis como despesas operacionais; (ii) redução de

50% do IPI incidente sobre equipamentos, máquinas,

aparelhos e instrumentos destinados à pesquisa e ao

desenvolvimento tecnológico; (iii) depreciação integral, no

próprio ano da aquisição, de máquinas, equipamentos,

aparelhos e instrumentos, novos, destinados à utilização nas

atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de

inovação tecnológica; (iv) amortização acelerada no período

de apuração em que forem efetuados, dos dispêndios

relativos à aquisição de bens intangíveis, vinculados

exclusivamente às atividades de pesquisa tecnológica e

desenvolvimento de inovação tecnológica; (v) redução a zero

da alíquota do imposto de renda retido na fonte nas remessas

efetuadas para o exterior destinadas ao registro e manutenção

de marcas, patentes e cultivares.

Superintendência

do

Desenvolvimento

da Amazônia e

Superintendência

do

Desenvolvimento

do Nordeste

Base legal: Art. 1° da MP 2199-14/01

Abrangência: Projetos considerados prioritários para

desenvolvimento regional, situados na área de atuação da

Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

(SUDENE) e da Superintendência de Desenvolvimento da

Amazônia (SUDAM).

Benefício: Redução em 75% do IRPJ e do adicional

calculados com base no lucro da exploração, por dez anos.

Imposto de

Renda de Pessoa

Física (IRPF)

Investimento em

debêntures e

fundos de

infraestrutura

Base legal: Lei 12.431/11

Abrangência: Investimento em debêntures emitidas por SPE

ou de fundos de investimento em direitos creditórios,

relacionados a investimentos em infraestrutura e em Fundos

de Investimento em Participações em Infraestrutura – FIP-IE.

Benefício: (i) redução à zero da alíquota de imposto de renda

das pessoas físicas sobre os rendimentos decorrentes de

debêntures emitidas por SPE ou de fundos de investimento

em direitos creditórios, relacionados a investimentos em

infraestrutura; (ii) redução à zero da alíquota de imposto de

renda sobre o ganho de capital auferido por pessoa física na

alienação de quotas de FIP-IE.

Contribuição

para os

Programas de

Integração

Social e de

Programa

Prioritário de

Termeletricidade -

PPT

Base legal: Lei n° 10.312/01

Abrangência: Usinas integrantes do Programa Prioritário de

Termoeletricidade (PPT)

Benefício: Redução a zero das alíquotas de PIS/COFINS

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Formação do

Patrimonio do

Servidor Publico

(PIS/PASEP) /

Contribuição

para o

Financiamento

da Seguridade

Social

(COFINS)

incidentes sobre a receita bruta decorrente da venda de gás

natural canalizado ou carvão mineral, destinados à produção

de energia elétrica pelas usinas integrantes do PPT.

Imposto sobre

Produtos

Industrializados

(IPI)

Regime Especial

de Incentivos para

o

Desenvolvimento

de Usinas

Nucleares

(Renuclear)

Base legal: Artigos 14 a 17 da Lei 12.431/11, regulamentada

pelo Decreto 7.832/2012

Abrangência: Pessoas jurídicas habilitadas pela RFB, que

tenham projeto aprovado para obras de infraestrutura no

setor de geração de energia elétrica de origem nuclear.

Benefício: (i) suspenção do IPI incidente na saída do

estabelecimento industrial ou equiparado, quando a aquisição

no mercado interno for efetuada por pessoa jurídica

beneficiária do Renuclear; (ii) suspensão do IPI incidente no

desembaraço aduaneiro, quando a importação for efetuada

por pessoa jurídica beneficiária do Renuclear; (iii) suspenção

do Imposto de Importação, quando os referidos bens ou

materiais de construção forem importados por pessoa

jurídica beneficiária do Renuclear. A suspensão dos impostos

é convertida em isenção após a utilização ou incorporação do

bem ou material de construção na obra de infraestrutura.

Demais Formas

de Possíveis

Benefícios

Regime Especial

de Tributação para

o Incentivo ao

Desenvolvimento

e à Produção de

Fontes

Alternativas de

Energia Elétrica

(REINFA)

Base legal: Projeto de Lei do Senado n° 311/09

Abrangência: Pessoa jurídica que exerça atividade de (i)

pesquisa, desenvolvimento e produção de equipamentos

utilizados na geração de energia eólica, solar e marítima,

bem como de novas tecnologias ou materiais de

armazenamento de energia; (ii) geração de energia elétrica

por PCHs ou por fonte eólica, solar, marítima e térmica; ou

(iii) produção de veículos tracionados por motor elétrico,

híbridos ou não.

Benefício: (i) Isenção de PIS e COFINS incidentes sobre a

receita da atividade beneficiada; (ii) isenção de PIS e

COFINS incidentes sobre a receita da venda, no mercado

interno, de bens utilizados nas atividades previstas, quando

adquiridos diretamente pela beneficiária do REINFA; (iii)

isenção de PIS-importação e COFINS-importação incidentes

sobre os bens, sem similar nacional, e serviços necessários às

atividades previstas, quando importados diretamente pela

beneficiária do REINFA; (iv) isenção do Imposto de

Importação devido sobre a importação de bens, sem similar

nacional, necessários às atividades previstas, quando

importados diretamente pela beneficiária do REINFA; (v)

isenção do IPI na importação de bens necessários às

atividades previstas, quando importados diretamente pela

beneficiária do REINFA, bem como os veículos tracionados

por motor elétrico, híbridos ou não.

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ANEXO B - Beneficios condedidos em Convênio do Confaz

Base

Legal Abrangência Benefícios

Convênio

ICMS

101/97

Estados e Distrito

Federal

Isenção do ICMS nas operações com equipamentos para o

aproveitamento de energia solar e eólica especificados pelo

Convênio. Manutenção do crédito do imposto nas operações

beneficiadas.

O benefício somente se aplica às máquinas, aparelhos e

equipamentos industriais isentos ou tributados à alíquota zero do

IPI.

Convênio

ICMS n°

7/11

Estado do Rio

Grande do Sul –

usina termelétrica

especificada no

Convênio

- Isenção do ICMS nas importações do exterior de máquinas,

aparelhos, equipamentos, suas partes e peças e outros materiais,

constantes do Anexo Único, quando adquiridos para a construção

da usina.

- Isenção do ICMS relativo ao diferencial de alíquotas nas

aquisições interestaduais de máquinas, aparelhos, equipamentos,

suas partes e peças e outros materiais, constantes do Anexo Único,

adquiridos para a construção da usina.

- Redução da base de cálculo do ICMS nas operações internas com

os produtos e destinatários indicados nos incisos anteriores, de

forma que a carga tributária resulte em 12%.

Convênio

ICMS n°

40/11

Amapá e Ceará

Autoriza os Estados a conceder:

- Isenção do ICMS devido nas importações de máquinas,

aparelhos, equipamentos, suas peças e outros materiais, sem

similar produzido no País, quando adquiridos para a construção da

usina termelétrica no Estado.

- Isenção do ICMS relativo ao diferencial de alíquotas devido nas

aquisições interestaduais de máquinas, aparelhos, equipamentos,

suas partes e peças e outros materiais, adquiridos para construção

da usina termelétrica.

- Redução da base de cálculo do ICMS, de até 100% (cem por

cento), nas operações internas, com produtos destinados à

construção da usina termelétrica, nos termos e condições

estabelecidas na legislação.

Convênio

ICMS n°

42/12

Minas Gerais, Rio

Grande do Sul e do

Paraná – Centrais

Geradoras

Hidrelétricas –

CGHs ou Pequenas

Centrais

Hidrelétricas –

PCHs

Autoriza os Estados a conceder isenção de ICMS nas saídas

internas e relativamente ao diferencial de alíquotas das máquinas,

aparelhos e equipamentos industriais relacionados em Anexo

único. A isenção se estende à importação de mercadorias também

relacionadas no Anexo único, desde que não tenham similar

produzido no País.

Os benefícios somente se aplicam às máquinas, aparelhos e

equipamentos industriais: (i) Isentos ou tributados à alíquota zero

do Imposto sobre produtos Industrializados – IPI segundo a TIPI –

Tabela de Incidência do Imposto sobre produtos Industrializados;

(ii) Destinados a Centrais Geradoras Hidrelétricas – CGH’s ou a

Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCH’s, definidas conforme

Resolução ANEEL n° 652/2003.

Convênio

ICMS n°

112/13

São Paulo e Mato

Grosso – biogás

Autoriza os Estados a conceder redução da base de cálculo de

ICMS nas saídas internas com biogás e gás metano, de forma que

a carga tributária resulte em 12% do valor da operação.

Convênio Amazonas, Bahia, Autoriza os Estados a conceder redução da base de cálculo do

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ICMS

18/92

Mato Grosso do

Sul, Paraiba,

Paraná, Rio Grande

do Sul, Santa

Catarina e Sáo

Paulo

ICMS, de tal forma que a incidência do imposto resulte no

percentual de 12% nas saídas internas com gás natural.

Convênio

ICMS n°

58/02

São Paulo – usinas

especificadas no

Convênio

Autoriza o Estado a conceder isenção do ICMS relativo ao

diferencial de alíquotas e à importação, bem como a conceder

redução da base de cálculo nas operações internas, relativamente a

fornecimento de mercadorias a usinas produtoras de energia

elétrica. Limitado às usinas e aos bens especificados no Convênio.

Convênio

ICMS n°

19/02

São Paulo – usina

especificada no

Convênio

Autoriza o Estado a conceder isenção do ICMS relativo à

importação de máquinas, aparelhos, equipamentos, suas partes e

peças, sem similar produzido no país, para usina produtora de

energia elétrica. Limitado à usina e aos bens especificados no

Convênio.

Convênio

ICMS n°

64/02

Paraíba – usinaa

especificada no

Convênio

Autoriza o Estado a conceder redução da base de cálculo do

ICMS, em até 40%, nas operações com mercadorias e bens

destinados à construção, operação e manutenção das instalações de

transmissão de energia elétrica. O benefício será aplicado nas

operações de importação apenas quando o bem importado não

possuir similar nacional. Limitado à empresa e aos bens

especificados no Convênio.

Convênio

ICMS n°

7/04

Minas Gerais –

usina especificada

no Convênio

Autoriza o Estado a conceder isenção do ICMS relativo ao

diferencial de alíquotas e à importação e redução da base de

cálculo do ICMS nas operações internas com mercadorias e bens

destinados à aplicação no Programa de Governo ao Noroeste

Mineiro. Os benefícios serão aplicados nas operações de

importação apenas quando o bem importado não possuir similar

nacional. Limitado à empresa e aos bens especificados no

Convênio.

Convênio

ICMS n°

45/05

Goiás Autoriza o Estado a conceder redução de base de cálculo do ICMS

incidente nas operações internas com energia elétrica de modo que

a carga tributária seja equivalente à aplicação do percentual

mínimo de 26% sobre o valor das operações.

Convênio

ICMS n°

19/06

Goiás e Rio de

Janeiro

Autoriza os Estados a conceder isenção do ICMS correspondente

ao diferencial de alíquotas na operação de entrada de

equipamentos e componentes para o aproveitamento da energia

solar que específica. Limitado à empresa e aos bens especificados

no Convênio.