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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICODRAMA E SOCIODRAMA Curso de Formação em Psicodrama LEANDRO FELIPE DINIZ VIEIRA ÁTOMO COMERCIAL Diagnóstico Sociométrico nas Relações sociais de Psicólogos para o papel de Empreendedor SÃO PAULO 2016

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICODRAMA E SOCIODRAMA

Curso de Formação em Psicodrama

LEANDRO FELIPE DINIZ VIEIRA

ÁTOMO COMERCIAL

Diagnóstico Sociométrico nas Relações sociais de Psicólogos para o papel de

Empreendedor

SÃO PAULO

2016

LEANDRO FELIPE DINIZ VIEIRA

ÁTOMO COMERCIAL

Diagnóstico Sociométrico nas Relações sociais de Psicólogos para o papel de

Empreendedor

Monografia apresentada ao Curso de Formação em Psicodrama

da Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama, como

parte dos requisitos para obtenção do titulo de Psicodramatista

Nível I – Foco Socioeducacional, pela Federação Brasileira de

Psicodrama - FEBRAP.

Orientadora: Mara E. C. Sampaio

SÃO PAULO

2016

2016

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Catalogação da Publicação

VIEIRA, Leandro Felipe Diniz

Átomo Comercial: Diagnóstico Sociométrico nas Relações sociais de Psicólogos para

o papel de Empreendedor / Leandro Felipe Diniz Vieira. São Paulo, 2016.

X fls; 30 cm

Monografia (Formação em Psicodrama Foco Socioeducacional) – Associação

Brasileira de Psicodrama e Sociodrama, São Paulo, 2016. Federação Brasileira de Psicodrama

– FEBRAP

Orientadora Mestre Mara E. C. Sampaio

1. Átomo Cultural 2. Sociometria 3. Redes Sociais 4. Role Playing 4.

Empreendedorismo

LEANDRO FELIPE DINIZ VIEIRA

ÁTOMO COMERCIAL

Diagnóstico Sociométrico nas Relações sociais de Psicólogos para o papel de

Empreendedor

Monografia apresentada ao Curso de Formação em

Psicodrama da Associação Brasileira de Psicodrama e

Sociodrama, como parte dos requisitos para obtenção do

título de Psicodramatista Nível I – Foco

Socioeducacional, pela Federação Brasileira de

Psicodrama - FEBRAP.

BANCA EXAMINADORA

Aprovada em __/__/____

_________________________________________

Orientadora: Mara E. C. Sampaio

________________________________________

José Maria Morais

_________________________________________

Rosa Lídia Pontes

DEDICATÓRIA

À Solange Carneiro Silva, quem me ensinou a ternura da relação, independente de

credo, cor ou classe social. Reproduzo este trabalho como continuidade à sua centelha

divina.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os professores que me propuseram aprendizados sólidos

durante o curso de formação em Psicodrama (Nível I) na ABPS. Foi graças à vocês que

pude conhecer esta teoria fascinante que, atualmente, levo para a vida como uma

primeira formação.

Agradeço às instituições de Psicodrama do Brasil, pela abertura e receptividade

que me deram ao visitá-las e buscar novas redes de relacionamento, permitindo a troca

de conhecimento e um desenvolvimento socionômico sem fronteiras. Em especial, à

Potenciar pelo primeiro contato que pude fazer com a prática e a teoria, à Sociedade de

Psicodrama de São Paulo pela expansividade do conhecimento, e à Associação

Brasileira de Psicodrama e Sociodrama, a qual considero como minha casa de origem

no palco do Psicodrama.

Sou grato à minha orientadora, Mara Sampaio, pela paciência, pela troca e

extrema contribuição para o desenvolvimento não só deste trabalho, como do meu papel

de Administrador e Psicodramatista. Sua abertura e disponibilidade me permitiu muita

segurança e autonomia para o trajeto e alcance de objetivos sociais.

Agradeço aos amigos que construí nesses anos de estudo e lazer no meio

psicodramático, desde os colegas de formação, Patrícia Ruggiero e Marcelo Bastos, até

os amigos que considero não ter fronteiras de instituição ou grupo, Eliane Katinas,

Ivana Sefrian, Flávia Prado, Yudi Yozo, Valéria Drummond, Andréa Claudia Souza, e

todas as redes que se expandem quase que infinitamente. Vocês me deram e me dão

incentivo, ouvidos e orientações fundamentais que formam não só meu papel no

Psicodrama como caráter cidadão para contribuir para a sociedade, dentro das minhas

possibilidades e potencialidades.

Agradeço à minha esposa, Rosemeire Alves Matias, à minha filha de

consideração, Lavinya Alves Martinez Cruz, meus pais e toda minha família de sangue,

pessoas que me dão as condições de ser criativo e espontâneo no meio social e pessoal,

sempre abençoando com muita energia em forma de amor e carinho.

Por fim, agradeço à Vanessa Camilo Ziareski, quem considero como irmã, por

me apresentar o Psicodrama de forma respeitosa e contagiante, sempre aberta a me

ouvir e construirmos juntos uma Socionomia que entendemos ser aplicável nos meios

profissionais e pessoais.

RESUMO

Este trabalho propõe uma reflexão sobre pertinência da socionomia para o

desenvolvimento de conceitos da administração, tendo como objeto demonstrar a

eficácia do Átomo Social como técnica de intervenção psicodramática em gestão

comercial, a partir da experiência com Psicólogos que pretendem empreender

profissionalmente. O método utilizado foi role-playing e, por meio de uma vivência

sociodramática pode-se, com as bases da socimetria, construir a rede social que

potencialize a divulgação do Psicólogo como prestador de serviço de psicoterapia,

exercida de forma autônoma, denominada neste estudo de átomo comercial.

Palavras-chave: sociodrama, sociometria, empreendedorismo, administração, rede

social.

ABSTRACT

This paper proposes a reflection about the relevance of the socionomia to development

of Administration concepts Having as object of study the Social Atom and its

effectiveness as technique of psychodramatic intervention in commercial management,

from experience with psychologists who intend to undertake professionally. The method

used was role-playing and, through a sociodramatic experience, it is possible, with the

sociometryc base, to build the social network that potentiates the disclosure of the

Psychologist as a service provider of psychotherapy, exercised autonomously,

denominated in this study Of commercial atom.

Keywords: Sociodrama, sociometry, entrepreneurship, administration, social network.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................................... 12

2.1. SOCIONOMIA ............................................................................................................... 12

2.1.1. Sociometria .............................................................................................................. 13

2.1.2. Sociodinâmica ......................................................................................................... 16

2.1.3. Sociatria ................................................................................................................... 20

2.2. EMPREENDEDORISMO .............................................................................................. 22

2.2.1. Atitude Empreendedora ........................................................................................... 23

3. OBJETIVO ............................................................................................................................ 25

3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 25

4. MÉTODO .............................................................................................................................. 26

4.1. NATUREZA DA PESQUISA ........................................................................................ 26

4.2. MODALIDADE ............................................................................................................. 26

4.3. ESTRUTURA ................................................................................................................. 27

4.3.1. Contextos ................................................................................................................. 27

4.3.2. Etapas ...................................................................................................................... 28

4.3.3. Elementos ................................................................................................................ 29

4.4. TÉCNICAS BÁSICAS ................................................................................................... 30

4.5. TÉCNICAS UTILIZADAS ............................................................................................ 30

4.6. PÚBLICO ALVO ........................................................................................................... 31

5. RESULTADOS ...................................................................................................................... 32

5.1. AQUECIMENTO INESPECÍFICO ............................................................................... 32

5.2. AQUECIMENTO ESPECÍFICO ................................................................................... 34

5.3. DRAMATIZAÇÃO ........................................................................................................ 37

5.4. COMPARTILHAMENTO ............................................................................................. 42

6. DISCUSSÃO DE RESULTADOS ........................................................................................ 43

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 48

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 50

9

1. INTRODUÇÃO

A história da Educação no Brasil foi formada por heranças de uma sociedade colonial

pautada em relações servis, sucedida por uma sociedade fechada e alienada, produto de culturas

ditatoriais autoritárias (caracterizadas por privilégios, estruturas rígidas e sistemas educacionais

para manter status) do militarismo vivido por longo período no século XX nos países da América

latina. (Freire, 1979). No Brasil, desde o período do Estado Novo na era Vargas, e

posteriormente na ditadura militar, somando quase 30 anos de um período de censura e

autoritarismo.

A herança educacional neste contexto forma uma consciência bancária, definida assim

por Freire (1979) por permanecer vertical, o educando ser um depósito passivo de conhecimento

e reprodutor com consciência ingênua, sem poder de criar e transformar a realidade. A

metodologia de ensino se consolidou em um formato mais focado no desenvolvimento cognitivo

do indivíduo do que na formação de caráter, cidadania e desenvolvimento social. Isso abre um

precedente futuro, tendo cidadãos formados pelo conhecimento específico de diversas disciplinas

e poucas habilidades de convivência, criação e relacionamento com os fatores que levem a

criticidade e autonomia nos papéis sociais. A educação formal no Brasil além de acadêmica é

tecnicista, voltada para preparar um cidadão trabalhador empregado, a serviço de um outro.

No ensino superior, faculdades e universidades formam futuros profissionais de áreas de

atuação que se propõe nos cursos, mas de uma forma cartesiana, dando apenas o subsídio técnico

para o futuro profissional, e não fomentando a autonomia da profissão com, por exemplo,

conceitos de gestão, essenciais para ser empreendedor. A partir do momento que o estudante

conclui seus estudos, é certificado para exercer sua profissão, podendo iniciar a carreira. Mas o

indivíduo se sente desamparado por não ter desenvolvido seu papel empreendedor, não se

sentindo capacitado ou autônomo para gerir seu próprio negócio ou sua profissão.

Este cenário se agrava com a cultura da carteira assinada no Brasil. Aprendemos, desde a

escola básica, que o sucesso está relacionado a um emprego bom, com um bom salário e uma

vida confortável. Esse pensamento se repete no ensino superior, caracterizando o graduado com

condições mais elementares para exercer sua função em prol de um empregador do que para

relacionar-se diretamente com seu cliente, por exemplo. Isso compromete muitas vezes o sonho

da pessoa que ingressa em uma faculdade decidida a exercer sua profissão de forma autônoma,

para atender a sociedade com os seus propósitos e valores, propósito este diferente que

encontrará sendo empregado de uma organização que exigirá desempenho de uma função que

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promoverá apenas produtividade e lucratividade, longe de formar ou desenvolver seu papel

profissional na plenitude.

Segundo Sampaio (2009), numa visão educacional contemporânea “o empreendedorismo

deve proporcionar aos jovens profissionais a capacidade de planejar sua vida de forma mais

criativa, ser proativo na busca de oportunidades profissionais e, sobretudo, ser inovador e

autônomo”. Foi a partir destas reflexões que o identifiquei a necessidade de contribuir para

emancipação profissional, suprindo a defasagem administrativa na competência essencial para

um público que deveria empreender para exercer suas funções autônomas, especificamente

falando do profissional psicólogo. Assim que conclui sua formação, é de direito exercer sua

profissão de maneira autônoma, sem dependência de um empregador, como ocorre com grande

parte dos brasileiros que buscam uma remuneração pela carteira assinada por uma empresa

pública ou privada.

Considerando a gestão comercial uma das necessidades básicas para empreender, viu-se

na teoria sociométrica uma possibilidade de intervenção que auxilia a visão do Psicólogo para

conhecer suas condições comerciais e, consequentemente, evoluir no papel empreendedor.

Conforme define Sampaio (2009), na educação o “empreendedor passa a ser o adjetivo utilizado

para qualificar uma atitude de um profissional, de alguém que tem uma função e, ao

desempenhá-la, o faz de forma empreendedora”. Para a autora, estas pessoas possuem atitude

empreendedora, pois atuam de forma criativa e diferenciada dos demais profissionais que

trabalham na mesma área. São capazes de criar novos processos e padrões, de revolucionar o

modo de ver e agir no mundo à sua volta.

Para este estudo, o Átomo Social foi aprofundado em uma vivência com Psicólogos, com

o objetivo de fornecer um diagnóstico de relações comerciais dentro de sua rede sociométrica e

estimular sua atitude empreendedora. Mapeando as relações pessoais existentes no seu cotidiano,

o Psicólogo consegue estimular seu papel de empreendedor com algumas relações-chave, o que

permite uma abertura e um potencial de divulgação de seu serviço com as redes sociométricas

para angariar clientes e se posicionar no mercado, denominado como Átomo Comercial para este

estudo.

Este trabalho originou-se do estágio curricular obrigatório na Formação em Psicodrama

Nível I. Na ocasião, foi formatado o curso Transição de Carreira Para Psicólogos, para trabalhar

o empreendedorismo com o Psicólogo formado e com intenção de exercer a profissão de maneira

autônoma. Um dos conteúdos do curso aborda aspectos comerciais do Psicólogo na formação de

sua rede sociométrica, correlacionando a atitude empreendedora com a teoria psicodramática.

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Para isso, o Átomo Social foi a base conceitual e ferramenta de leitura e diagnóstico

sociométrico do papel do Psicólogo Empreendedor.

No capítulo 2, embaso este estudo com a fundamentação teórica, definindo conceitos

referentes à Socionomia, Sociodinânica, Sociatria, e suas composições dentro da teoria

psicodramática, conforme orientação da prática que originou este trabalho, e a prática que

orientou esta pesquisa. Paralelamente, há uma conceituação do Empreendedorismo sob o prisma

socionômico, o que torna possível o levantamento da hipótese proposta por mim.

No capítulo 3, situo o leitor sobre os objetivos propostos, convidando-o a um olhar

curioso que, assim como eu, foi despertado pelas possibilidades de encontro entre teoria, prática

e aprendizado da administração com a orientação teórica e prática da socionomia.

No capítulo 4, abordo considerações referentes ao método utilizado, explicitando como a

vivência discorrida e pesquisada por este trabalho está estruturada dentro dos moldes

socionômicos, incorporando-a assim como pesquisa qualitativa.

No capítulo 5, vemos a prática descrita como resultado da pesquisa proposta, baseando-se

em um recorte do curso que propus para Psicólogos que buscam o empreendedorismo e

originado do estágio curricular exigido para a Formação em Psicodrama (Nível I) da ABPS.

Já no capítulo 6, discorro sobre os resultados atingidos com o trabalho, baseado nas

conclusões e insights principalmente do grupo que compôs e se propôs para esta pesquisa, com

um processamento paralelo do autor correlacionando as teorias pautadas.

Por fim, no capítulo 7, apresento as análises e considerações que reflito não como

conclusão, mas sim como uma gaveta de possibilidades que proponho a sua abertura,

vislumbrando uma infinidade de caminhos, observações e estudos que permeiam numa larga

linha entre a Administração e a Socionomia.

12

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. SOCIONOMIA

A ciência Socionomia foi criada por Jacob Levy Moreno, psiquiatra romeno, radicado

nos EUA na primeira metade do século XX. Segundo Pereira (2009), é o estudo das leis naturais

que regem os sistemas sociais de um modo geral, dos grupos humanos e do desenvolvimento

humano. A Socionomia focaliza a formação psicológica e social do homem a partir da dinâmica

vincular resultante do desempenho de papéis e contrapapéis, constatação efetivada pela

observação do indivíduo inserido na sociedade, considerando os vários “eus” exercidos e

assumidos pela pessoa, a partir do momento que este se relaciona com outras pessoas em

diversos ambientes. Porém, o termo pelo qual sua obra ficou mais conhecida é Psicodrama.

“Um dos problemas básicos que nós, psicodramatistas, enfrentamos é o denominar sob o

mesmo nome fatos muito diferentes.” (BUSTOS, 1982 p.21). Assim começa o primeiro capítulo

do livro de Dalmiro Bustos, psicodramatista argentino de grande importância para a produção de

conhecimento na Socionomia. Tal fato foi registrado há mais de trinta anos, e ainda permeia em

debates e escritos psicodramáticos. Bustos também justifica em sua obra vários fatores que

contribuem para a denominação teórica no Psicodrama.

E isto ocorre, para começar, com o fato absurdo de que, em

“Psicodrama”, a parte denomina o todo. Realmente a denominação

Psicodrama corresponde a uma das técnicas, baseada na ação, que se

encontra incluída em uma obra muito mais ampla que denomina

Sociometria. (Bustos, 1982, p22)

Baseado nisso e nas definições dadas por J. L. Moreno, criador da teoria aqui

apresentada, considera-se que o objeto de estudo deste trabalho está nas relações sociais e

pessoais do ser humano, inserido em um papel social. Por isso, denominamos a Socionomia

como a origem das teorias, técnicas e métodos aqui apresentados.

J. L. Moreno subdividiu sua nova ciência em três subsistemas, tal como situa Gonçalves

(1988): a Sociometria, a Sociodinâmica e a Sociatria, que guardam em comum a ação dramática

como recurso para facilitar a expressão da realidade implícita nas relações interpessoais ou para

a investigação e reflexão sobre determinado tema. De acordo com Moreno (1959), a Sociometria

está incumbida em mensurar as escolhas envolvidas na relação do indivíduo para, de e com o

grupo, enquanto a Sociodinâmica emerge para uma investigação de como funciona a dinâmica e

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consequências destas relações e a Sociatria trabalha com o tratamento em si, propondo a

transformação social.

Os ramos do sistema estão estreitamente relacionados entre si e cada um deles

possui uma série de métodos. A socionomia utiliza métodos sociométricos,

principalmente o Teste Sociométrico e o Teste de Percepção. A Sociodinâmica

emprega a interpretação de papéis. A Sociatria utiliza, principalmente, a

psicoterapia de grupo, o psicodrama e o sociodrama. (Moreno, 1959, p.68)

2.1.1. Sociometria

Mensurar as relações existentes em um indivíduo, grupo, ambiente ou simplesmente no

consciente, é o que traz a relação palpável para um tratamento ou estudo. A Sociometria

completa a Socionomia com sua exatidão lógica e mensurável sobre como conseguimos enxergar

a qualidade das relações existentes, pela simples observação ou até mesmo por interpretação das

partes observadas.

Os papéis e contrapapéis, pessoas com pessoas, pessoas com sentimentos, todas as

possibilidades de relação são medidas em qualidade e, por vezes, quantidade, através das

escolhas entre as partes envolvidas. Tais escolhas podem ser positivas, negativas ou neutras, e

com base em um critério bem definido. Caso o indivíduo precise eleger alguém para fazer um

trabalho, existem pessoas do seu relacionamento que seriam escolhidas de forma positiva,

negativa e neutra. As mesmas pessoas poderiam mudar de escolhas se o critério passasse a ser

uma companhia para uma viagem. Assim, percebe-se a importância fundamental do critério

quando abordamos a Sociometria. Os principais conceitos inseridos na Sociometria serão

descritos a seguir.

2.1.1.1. Tele

Para J. L. Moreno o conceito de tele e a empatia estão relacionados, mas não como

sinônimos. Enquanto a empatia é a capacidade de um indivíduo colocar-se no lugar do outro, a

tele é a empatia nas duas direções entre os indivíduos e no mesmo momento (aqui/agora), isto é,

um indivíduo percebe e é percebido de maneira objetiva e verdadeira pelo outro. Costuma-se

usar como exemplo de empatia quando alguém ajuda uma outra pessoa que, aparentemente, está

fragilizada, exposta ao perigo, ou algo do tipo. Imaginemos que, em um dia de frio, observa-se

uma pessoa exposta ao tempo e aparentemente sofrendo com a temperatura. Em uma situação

empática, alguém se coloca no lugar desta pessoa, se imagina com frio, e fornece um cobertor

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para que ela se sinta melhor. Esta é a empatia. Porém, e se a pessoa exposta ao frio quer estar ali,

aproveitando de alguma forma a baixa temperatura que está sentindo? Ou indo além, está

aguardando a ajuda de uma pessoa específica, e rejeita qualquer auxílio de outros indivíduos? A

relação télica ocorre quando, tanto o ajudado quanto o ajudante, se encontram em um momento

de querer e se escolher para que a ajuda ocorra. Caso contrário, ficam na empatia.

As relações télicas são movidas pela espontaneidade e pelo encontro. A qualidade das

relações é mensurada quando consideramos o fator “tele”. A Tele, ou o tele deriva da

mutualidade das escolhas dentro de uma relação, ou seja, caso o indivíduo “A” escolha o “B” de

forma positiva para fazer uma viagem, e o indivíduo “B” também escolha o “A” de forma

positiva, existe aí uma tele. Da mesma forma que, se ambos houvessem criado uma escolha

negativa, ou neutra, também existe a tele dentro da Sociometria. Quando não há mutualidade nas

escolhas, classificamos como relação incongruente.

A Tele também se torna fundamental na Sociometria para que a saúde das relações seja

buscada com suas mutualidades de escolha, tanto nas formas positivas como nas negativas e

neutras. Não considera saudável uma relação alimentada por uma escolha positiva de uma parte e

neutra ou negativa de outra.

2.1.1.2. Átomo Social e Átomo Cultural

O Átomo Social objetiva explanar as relações do indivíduo em determinado momento

com um determinado critério. Segundo Moreno (1993, p.287), “o átomo social de um indivíduo

é visto como algo que consiste num entrelaçamento de afinidades entre ele e um certo número de

indivíduos e coisas, em numerosos níveis de preferência”.

Com um desenho gráfico expressado por objetos distribuídos, desenho de linhas e pontos

ou, simplesmente, um mapa mental criado no imaginário, é possível trazer à tona pessoas de uma

relação com indivíduo para que sejam mensuradas os tipos, variâncias e qualidades das relações

e, consequentemente, tratadas com base na Sociatria. O átomo social traz à tona um fato do

indivíduo, “pois é constituído de pessoas reais que compõem o mundo pessoal afetivo do sujeito,

suas relações tele” (MENEGAZZO, ZURETTI e TOMASINI, 1995, p. 33). Uma das

ferramentas mais democráticas e flexíveis na Socionomia, com uma variação infinita de

possibilidade de aplicação e leitura, quando consideramos as infinidades de critérios e formas de

desenho gráfico, além das infinitas conclusões, insights, sentimentos, percepções, que o

protagonista pode alcançar com seu Átomo Social.

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Átomo Cultural é a variante do átomo social cujo foco é um determinado papel

relacionado a papéis de outros indivíduos. Ao observar um papel específico de um indivíduo,

pode-se construir uma relação com inúmeros papeis de outras pessoas em um grupo ou

sociedade, formando assim uma teia que denominamos como Átomo Cultural. Segundo Moreno:

O padrão focal das relações de papéis ao redor do indivíduo é chamado de seu

átomo cultural. (...). O adjetivo “cultural” pode ser justificado ao considerarmos

papéis e relacionamentos entre papéis como o desenvolvimento mais importante

dentro de uma cultura específica. A organização sócio-atômica de um grupo não

pode ser separada de sua organização cultural-atômica. Os dois átomos, cultural

e social são manifestações da mesma realidade social. (MORENO, 1993, p.173)

2.1.1.3. Rede Social e Sociograma

Muito antes de se quer imaginarmos a popularização e proliferação das redes sociais no

cotidiano da humanidade, J. L. Moreno apresenta as conexões das relações entre pessoas e a

formação do que conhecemos como Rede Social. Trata-se da composição gráfica que reflete

como pessoas de um determinado grupo ou sociedade estão conectadas e dentro das escolhas

sociométricas citadas anteriormente (positivo, negativo ou neutro).

O conceito de Rede Social está pautado desde a pesquisa e realização do trabalho de J. L.

Moreno realizado durante a vida. Em Moreno (1992), é possível se aprofundar nas diversas

composições de redes sociais resultantes das inúmeras formas de relação e escolhas

sociométricas que podem existir dentro de um grupo específico.

Enquanto a Rede Social apresenta a conexão entre pessoas, o Sociograma é a

representação gráfica dessas relações. Para que tais relações sejam observadas e, assim, tratadas

e tornadas como conhecimento, o Sociograma explana uma construção de como a Rede Social

está composta, facilitando o trabalho de um Diretor, no caso de um Psicodrama, ou até mesmo na

compreensão do protagonista/indivíduo, quando se trata da conscientização de como sua rede

social está composta.

As atuais redes sociais estudadas pelas Ciências das Redes e popularizadas pelas mídias

sociais como Facebook, Twitter, entre outras tantas, teve sua origem reconhecida por Russel

Brandom, identificando J.L. Moreno como o primeiro estudioso a esboçar um Sociograma com

as meninas de Hudson em 1932 (Moreno, Jonathan, 2016). Anos depois, na década de 1960,

Milgram, psicólogo americano, publicou sua pesquisa dos “seis graus de separação”, importante

para a sociologia das relações humanas, onde identifica que, pelas redes sociais, toda pessoa está

até seis graus de distância de qualquer outra. Outro herdeiro da sociometria moreniana é o

sociólogo Ducan Watts, que usa as mídias sociais para estudar as formas que as redes moldam

16

comportamento. Dando sequência às teorias de Milgram, criou o conceito de pequeno mundo

para demonstrar o quanto as pessoas estão ligadas por laços de proximidade entre si. (Moreno, J.,

2016)

2.1.1.4. Expansividade afetiva

Refere à quantidade de afeto, atenção, feedbacks que uma pessoa pode proporcionar

equitativamente a um determinado número de pessoas de sua rede de relações. Segundo Moreno,

é "a energia afetiva que permite que um sujeito ‘retenha' o afeto de outros indivíduos durante um

período de tempo dado."(MORENO, 1993, p.63)

Fator relevante a ser observado por este trabalho é o conceito de expansividade afetiva. A

quantidade de pessoas presentes no primeiro grau de relacionamento demonstra o quanto o

indivíduo explora sua expansividade afetiva. Somando critérios específicos, como “quais pessoas

você considera viável divulgar o seu trabalho?”, apresenta-se uma expansividade afetiva

vinculada ao critério apresentado, não somente às pessoas ali conectadas.

2.1.2. Sociodinâmica

Na teoria socionômica, a Sociodinâmica permeia pela teoria de papéis, a qual

conseguimos compreender de forma mais pragmática os tipos de relações que estamos lidando

em um estudo ou tratamento. J. L. Moreno (1993, p.27) define papel como “a forma de

funcionamento que um indivíduo assume no momento específico em que reage a uma situação

específica, na qual outras pessoas ou objetos estão envolvidos”.

Um fator crucial na Teoria de Papéis é o contrapapel. Destacando especificamente os

papéis saudáveis exercidos social ou psicodramaticamente, o que valida o papel exercido é o

contrapapel que o relaciona. Para sermos pai ou mãe, é preciso haver um filho que o/a valide.

Para sermos marido, é preciso haver uma esposa ou marido que o valide, e assim ocorre também

nos papéis psicodramáticos: para ser carinhoso, existe o ambiente e pessoas que receba tal

carinho. Para ser raivoso, existe o ambiente e a pessoa que recebe tal raiva.

Segundo Moreno (1983), podemos classificar os papéis do indivíduo entre papéis sociais,

psicossomáticos e psicodramáticos, com as seguintes definições:

2.1.2.1. Papéis sociais

17

Os diversos papéis ou “cargos” que assumimos na sociedade, tais como pai, mãe, filho,

empregado, empresário, motorista, comprador, vendedor, etc. São papéis que exercemos em

momentos indefinidos ou pontuais.

Por exemplo, ao embarcar em um voo, assumimos um papel de passageiro. Enquanto

tivermos relação com o voo, companhia aérea ou quaisquer laços de conexão com a viagem,

estamos de forma direta ou indireta assumindo tal papel. Ao término da viagem, encerra-se nosso

papel de passageiro. Agora, imaginemos que tal viagem esteja sendo realizada acompanhada de

seu pai. Seremos filho antes, durante e após a viagem, sem um prazo definido para encerrar.

Assumimos inúmeros papéis sociais e de forma simultânea.

Especificamente neste trabalho, os papéis sociais são claramente estudados quando

consideramos o Psicólogo Empreendedor como foco. A partir do momento que o indivíduo se

forma em Psicologia, possui a condição de assumir um papel social de Psicólogo, dentro dos

padrões éticos e legais da profissão no Brasil.

Segundo Sampaio (et al Gottlieb, 2016), existem papéis transversais que atravessam e

podem complementar outros papéis sociais:

O papel de líder é um deles, assim como de facilitador ou mediador. São papeis

transversais que se manifestam independentemente da formação técnica ou do

cargo. Neste contexto, o papel de empreendedor que pode se manifestar em

qualquer situação da vida profissional, é um papel transversal. (GOTTLIEB ,

2016, p.128)

Mais à frente, quando classificamos o Empreendedorismo, vemos a condição que o Psicólogo

pode ter ao assumir o papel transversal de Empreendedor, quando assume-se a intenção em

tornar concreta sua atuação profissional.

2.1.2.2. Papéis psicossomáticos

São os que mantém o indivíduo em condições básicas de vida. Temos necessidades de

nos alimentar, dormir, urinar, entreter, relacionar. Logo, assumimos papéis psicossomáticos que

suprem tais necessidades. Drummond, Bouchinhas e Novaes (2016) trazem a seguinte definição:

No início, o indivíduo se percebe como um corpo e suas primeiras experiências,

marcadas por vivências corporais, vão delineando seus papéis psicossomáticos:

respiração, amamentação, dormir, tocar e ser tocado, defecar, urinar, etc. Suas

primeiras reações surgem desse contato fisiológico com o mundo, e ele aprende,

a partir daí, a se relacionar consigo mesmo e com os outros. (DRUMMOND,

BOUCINHAS E NOVAES, 2016, p.98)

18

2.1.2.3. Papéis psicodramáticos

Trata-se do comportamento, sentimentos e personalidade do indivíduo. Nos comportamos

de infinitas formas em diversos ambientes, relações com pessoas e momentos da nossa vida.

Determinados estímulos externos podem gerar inúmeras reações de comportamentos e

sentimentos, inclusive para a mesma pessoa em momentos diferentes. Tais comportamentos e

sentimentos é o que podemos chamar de papéis psicodramáticos.

Drummond, Bouchinhas e Novaes (2016) consideram elementos individuais e coletivos

na Teoria de Papéis, os quais podem ser referenciados aos papeis psicodramáticos da seguinte

forma:

Os elementos coletivos classificam a personalidade do indivíduo, independente dos papéis

sociais que ele exerce. A pessoa pode ser amorosa, por exemplo, com o pai, mãe, colega de

trabalho, desconhecido na rua, etc. Isso faz parte de um eixo central do papel

psicodramático, construído pelas experiências vividas no passado e fortalecidas pelas

próprias respostas do indivíduo.

Os elementos individuais compõem determinados comportamentos que existem em maior

ou menor presença em específicos papéis sociais. Mudando o exemplo citado acima, a

pessoa pode ser amorosa no seu papel de filha, mas rancorosa no seu papel de empregada,

e um pouco menos amorosa como amiga, e assim por diante. Trata-se de formas exclusivas

do papel psicodramático que surgem especificamente em determinados papéis sociais.

2.1.2.4. Desenvolvimento do Papel

O papel, seja ele social, psicossomático ou psicodramático, pode ser treinado pelo

indivíduo que o assume. Tal treinamento se dá pela experiência e convivência do ser humano

com ele, conforme a evolução nas suas relações com os contrapapéis e sua autodisposição para

assumi-lo e desenvolvê-lo. Moreno (1959) classifica o Desenvolvimento do papel em três

instâncias:

a) Role Taking: Assume o papel como modelo, sem variação e sem liberdade. Trata-se de um

papel em fase emergente, quando o indivíduo entende a sua responsabilidade, mas ainda

não se sente apto ou preparado para exercê-la. É comum repetir ações imitadas de outro

19

indivíduo que entende ter o mesmo papel, assim como exemplos de vida que recorda

exercê-lo e a pessoa repete comportamentos e ações quando passa a assumir o papel

específico.

b) Role Playing: atua com certa liberdade em relação ao modelo. O indivíduo já assume sua

responsabilidade e exerce de forma mais autônoma e natural. É percebido por si e pelos

outros um resultado mais efetivo quando exerce seu papel, tendo seus contrapapéis mais

confortáveis com as ações advindas de quem o assume.

c) Role Creating: atua com alto grau de liberdade. O indivíduo vai além das responsabilidades

de seu papel, conseguindo dar novas respostas às situações que apresentam condições e/ou

ambientes até então desconhecidos, não só pelo indivíduo, mas por vezes para o grupo e

sociedade.

2.1.2.5. Espontaneidade, Criatividade e Conserva Cultural

J. L. Moreno (1993) traz em sua obra o que denomina de Teoria Geral da

Espontaneidade. Nela, estudada e aprofundada por estudiosos e teóricos do meio socionômico,

conclui-se a dinâmica entre três fatores que interferem nas respostas do indivíduo em diversas

situações em que seus papéis são expostos, sendo a Espontaneidade, Criatividade e Conserva

Cultural.

O “fator e”, como Moreno (1993) denomina, aborda a espontaneidade como a energia

que projeta a resposta do indivíduo a um determinado evento. Tal resposta pode ter uma certa

dosagem de espontaneidade, assim como pode ser adequada ou não conforme a ação espontânea

surge. Em situações esperadas, eventos prováveis ou situações do acaso (inesperados), o “fator

e” pode estar presente e identificado quando a resposta da pessoa à situação e/ou evento encontre

uma saída saudável tanto para si quanto para quaisquer partes envolvidas.

Já a criatividade aplica-se como novas respostas, ações, construções dentro de um

ambiente habituado a um padrão. Segundo Menegazzo (1995), a criatividade é a disponibilidade

do ser humano para a transformação, um ator criador que, ao realizá-la, integra e modifica seu

contexto no sentido de crescimento e maturação. Não é somente trazer algo diferente, a

criatividade indica a consequência da resposta face às inúmeras possibilidades que desencadeiam

a ela. Uma consequência com representação harmoniosa entre as partes envolvidas, julga-se uma

resposta não somente espontânea, como também criativa.

20

Existe basicamente uma simbiose entre a criatividade e espontaneidade quando o estudo

se debruça em respostas saudáveis a determinadas situações, pois uma resposta que haja apenas

uma das partes, dificilmente pode ser considerada como saudável. Uma resposta impulsiva ou

“espontaneísta”, não pode ser considerada conceitualmente fruto do fator espontaneidade, torna-

se tola. Já uma resposta criativa sem ser espontânea, torna-se inútil, sem vir à tona no ambiente e

situação que o grupo ou sociedade irá absorvê-la de forma adequada e saudável.

Por fim, não há como citar a Criatividade e Espontaneidade sem abordar a Conserva

Cultural. Trata-se de uma concretização ou consolidação de um produto advindo de uma resposta

criativa e espontânea. J. L. Moreno (1993) exemplifica o livro como Conserva Cultural: “A

conserva cultural propõe-se ser o produto acabado e, como tal, adquiriu uma qualidade quase

sagrada. Este é o resultado de uma teoria de valores geralmente aceita”.

No meio socionômico, existe uma distorção sobre a dinâmica entre a Espontaneidade,

Criatividade e Conserva Cultural. Por vezes, encontramos uma espécie de guerra, batalha ou

confronto que coloca a Conserva Cultural como oponente à Criatividade e Espontaneidade. De

fato, a resposta criativa e espontânea se sobressai a uma conserva cultural constituída pelo

ambiente ou indivíduo. Porém, a variação de respostas criativas e espontâneas para uma mesma

situação torna-se limitada, chegando, assim, a um novo padrão, sinônimo de uma nova conserva

cultural. E, de fato, não há criatividade e espontaneidade se não houver uma conserva cultural

para basear a resposta.

2.1.3. Sociatria

Seguindo desta forma, consideramos que, ao trabalhar nas relações grupais com o intuito

de transformar, capacitar, treinar, ou quaisquer formas de mudança que o Diretor queira propor

para um grupo, estamos diretamente relacionados com a Sociatria. Para Nery (2012, p.1) a

Sociatria tem vários métodos de tratamento e aplicações, dentre eles, os também considerados:

Psicodrama, Sociodrama, Axiodrama, Psicodrama Bipessoal, Jogos dramáticos, Role Playing

entre outros.

Junto à teoria sociátrica, o autor define o Psicodrama como método, ou seja, a abordagem

vivencial que assume o “contrato” entre os participantes que ali se propõem a vivência

identificando o método. Conforme o Psicodrama evolui, é fato a sua aplicabilidade além do

campo psicoterapêutico. Atualmente, o tratamento das relações com base na Socionomia

estende-se para grupos diversos, com diversas finalidades sendo aplicável, tais como o

tratamento psicoterapêutico ou relação pessoal, abordado pelo Psicodrama; o tratamento de um

21

papel social ou situação comum a um determinado grupo, abordado pelo Sociodrama; ou

desenvolvimento do conhecimento, considerando a aprendizagem como fator de mudança, cura e

transformação, tal como Psicodrama Pedagógico, método desenvolvido por Maria Alícia

Romaña.

2.1.3.1. Psicodrama

Dentro da divisão da Sociatria, existe uma divisão de métodos para o tratamento das

relações. Entre eles, temos o Psicodrama com o objetivo de trabalhar a relação do indivíduo com

seus aspectos pessoais, comportamentos, características de personalidades ou quaisquer fatores

que envolvam seu psique. Com um método diferente de tratamento, baseado na ação, na

espontaneidade do ser humano e na sua capacidade de expressão e saúde mental e social.

No aspecto histórico e conceitual, o Psicodrama nomeia o todo, tomando muitas vezes a

referência da Socionomia, quase como sinônimos. Isso advém de sua linha histórica da

construção da obra e trabalho de J. L. Moreno, desde suas primeiras intervenções. Psicodrama é

também a denominação do método da ação que no foco terapêutico desvela o individuo como

protagonista na dramaturgia da cena, passando então a relacionar o Psicodrama com intervenções

na relação do indivíduo com o Eu.

2.1.3.2. Sociodrama

O método abordado por este trabalho trata-se de um Sociodrama, uma vez que a proposta

envolve o debate, conscientização e novas respostas para um papel social (Psicólogo), com um

paradigma comum entre estes que o assume (empreendedorismo). Segundo Blatner::

O sociodrama refere-se à investigação psicodramática dos problemas inerentes a

um relacionamento de papéis, sem considerar outras dimensões específicas do

papel das pessoas envolvidas. (...) Já o psicodrama se refere às situações

provocadas pela convergência de múltiplos relacionamentos de papel.

BLATNER, 2012, p.22

Assim, considera-se uma investigação e proposta de tratamento o empreendedorismo

relacionado ao papel do Psicólogo, considerando aspectos sociais e culturais correlacionados a

este papel, e sem considerar o fator pessoal envolvido nele.

22

2.1.3.3. Role Playing

Tem como objetivo propiciar respostas criativas e espontâneas “jogando” no papel, ou

seja, exercitando e vivenciando situações que permitam o contato do protagonista com os papéis

sociais que exerce ou pretende exercer, com a proteção e zelo que o contexto psicodramático

pode oferecer, dentro de uma vivência sociodramática. Conforme Nery e Conceição (2012), “o

role-playing é um método que aprofunda as questões existenciais das relações, e o diretor

envereda por essas profundezas ao trabalhar os papéis sociais e sua rede, de acordo com a

classificação de Moreno.

O Role Playing se enquadra em uma das modalidades mais utilizadas no ambiente

socioeducacional e em especial no contexto organizacional para o desenvolvimento ou “cura” do

papel profissional, objetivando o encontro de novas respostas saudáveis para o indivíduo dentro

do contexto psicodramático, fato que irá auxiliá-lo no seu papel social e, também, inserido no

contexto profissional.

Conforme Datner (2006):

O objetivo do role playing em treinamentos é proporcionar mudanças quanto à

ampliação, oferecendo maiores recursos para esta percepção do fato, dos papeis

envolvidos, das relações entre eles, do seu próprio papel, visando ao

desenvolvimento pessoal e profissional. (DATNER, 2006, p. 55).

2.2. EMPREENDEDORISMO

O Empreendedorismo tende a ser algo simples de ser compreendido na prática, mas

complexo para ser definido na teoria. Vemos muitos exemplos de empreendedorismo,

principalmente quando pesquisado em livros, vídeos, revistas, com pessoas contando um relato

de quando empreenderam e deram certo. Felizmente, é possível encontrar uma definição

consistente do que é o empreendedorismo com profissionais e autores ligados à Socionomia.

Sampaio (2014) traz uma perspectiva do papel empreendedor que existe na sociedade.

Isso nos dá uma conceituação de que o empreendedorismo surge no momento que alguém o

exerce para fazer algo. Na sequência, percebemos uma evolução histórica do conceito e

definição, partindo de assumir riscos pessoais para adquirir determinado bem, passando por

produzir algo que seja da pessoa, como abrir uma empresa, ainda assim com riscos sendo

assumidos, e fechando com uma visão mais atual, sendo algo construído pela inovação, visão de

oportunidade e que gere resultados de acordo com os objetivos do indivíduo que empreende. A

23

autora aponta o elemento qualitativo da definição, “referindo-se a pessoas com propensão e

habilidade para criar, renovar, modificar e conduzir projetos inovadores” (Sampaio, 2014, p.57).

Portanto, o papel empreendedor é assumido quando alguém assume determinado

compromisso de construir algo ou agir de acordo com uma oportunidade encontrada, saindo de

uma conserva cultural para que se atinja resultados positivos, mas com o risco de não ser

atingido, pois tal construção depende de fatores externos e internos não controlados que

definirão a evolução e prosperidade do profissional.

Considerar o empreendedorismo como sinônimo de abrir um negócio é algo totalmente

simplista e incompleto, na sociedade atual. Pessoas assumem riscos e saem de uma conserva

quando buscam um novo emprego em que terá um crescimento pessoal e profissional, por

exemplo, estando assim também empreendendo internamente dentro de uma organização.

O empreendedorismo deve criar novas respostas e realidades não só para o indivíduo,

como também para a sociedade, agregando valor e benefícios. Existe um grande dilema se as

pessoas nascem empreendedoras ou se aprendem a ser. Considerando o empreendedorismo como

um papel, o levamos para a esfera de qualquer outro papel social existente e, assim como o papel

de advogado, médico, todos são treinados e desempenhados conforme a relação com os

contrapapéis que os afirma. Sendo assim, o papel empreendedor pode ser estimulado pela

educação escolar, quando apresentado para as pessoas no papel de aluno e treinado para que o

desempenhe no momento em que as oportunidades possam aparecer e serem reconhecidas pelo

indivíduo treinado.

Em seu livro, Sampaio (2014) afirma que o Brasil, por um conjunto de razões históricas,

culturais e econômicas, não é um ambiente dos mais favoráveis ao desenvolvimento do espírito

empreendedor. A autora considera que o que viabiliza “a atividade empreendedora em um país é

a existência de um conjunto de valores sociais e culturais capazes de estimular e encorajar a

criação de novas empresas” (SAMPAIO, 2014, p.57). Por isso, a formação profissional não

prepara, nem incentiva um médico, advogado ou psicólogo a empreender.

2.2.1. Atitude Empreendedora

Segundo Sampaio (2014) atitude é a intenção que existe por trás do gesto; a

predisposição para agir motivada por um propósito específico. Uma pessoa terá atitude no

momento que faz o que deseja, isto é, o querer fazer. Quando se trata de atitude empreendedora

um profissional terá que desejar agir de forma com que sua carreira ou consultório (seu próprio

negócio) seja bem sucedido e tenha autonomia financeira a partir de sua atuação.

24

A autora define atitude empreendedora como “a predisposição para agir de forma

inovadora e criativa no seu ambiente, gerando valor para si e para a comunidade” (SAMPAIO,

2014, p.43). Para identificar uma pessoa empreendedora, Sampaio (2014) afirma que são aquelas

que:

• Acreditam na própria capacidade de ser protagonista.

• Valorizam as mudanças.

• São flexíveis e abertas a tudo o que é novo e diferente.

• Priorizam o futuro, o desconhecido.

• Acreditam que são capazes de produzir a própria realidade.

A concepção de atitude empreendedora compactua com princípios e conceitos do

Psicodrama como a importância da espontaneidade-criatividade no desempenho do papel

profissional na sua fase de role-creating, o foco na ação e no aqui-agora em que poderá criar

respostas novas e adequadas a um novo contexto, sendo desta forma semelhante a uma atuação

inovadora e o valor que o empreendedor pode gerar para sua comunidade.

25

3. OBJETIVO

Demonstrar a eficácia do Átomo Social como técnica de intervenção psicodramática em gestão

comercial, a partir da experiência com Psicólogos que pretendem empreender profissionalmente.

3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Explorar a possibilidade de aplicação do Sociodrama com temas administrativos, e de

intervenções organizacionais.

- Criar técnica sociátrica para intervenção sociodramática no desenvolvimento do papel de

empreendedor.

- Propor uma reflexão sobre o uso da Sociometria para o aprendizado e conexões com conceitos

administrativos.

- Compreender a sociodinâmica do papel transversal do empreendedorismo.

26

4. MÉTODO

Foi realizado um Role-playing, utilizando técnicas sociométricas e Jogos Dramáticos. As

práticas trabalhadas foram baseadas em desenvolvimento de papéis e construção da rede

sociométrica no papel profissional.

4.1. NATUREZA DA PESQUISA

Um estudo qualitativo com foco socioeducacional e organizacional desenvolvido por

meio de um curso Transição de Carreira Para Psicólogos, que foi palco da junção entre os

conceitos da Administração com a teoria e prática da Socionomia.

O curso possuiu quatro encontros com enfoques distintos, mas que chegasse a um mesmo

objetivo, que era a capacitação do Psicólogo com conceitos de gestão de negócios para exercer

sua profissão de forma autônoma. Porém, este trabalho apresenta a pesquisa sobre a aplicação da

socionomia no aprendizado da gestão comercial dos Psicólogos, fazendo então um recorte do

segundo encontro do curso.

Valéria Brito e André Maurício Monteiro (1999) apresentam tecnicamente a inserção da

Sociomomia como linha de pesquisa, tanto no sentido quantitativo como qualitativo. Claramente,

este trabalho baseia-se na metodologia como forma e estrutura para uma questão levantada,

enquanto o método discorre no passo a passo para a investigação proposta, orientado na teoria,

técnicas e instrumentos socionômicos.

Por fim, a indagação levantada por este trabalho consiste em validar a eficácia do

sociodrama no encontro do papel profissional do Psicólogo com seus potenciais de divulgação

para o empreendedorismo.

4.2. MODALIDADE

Pautado em um Sociodrama, cujo objetivo é a observação, tratamento e vivência do papel

social do Psicólogo na competência do empreendedorismo exigida na inserção deste papel no

contexto social, o Diretor baseou-se da modalidade de Role Playing para que a experiência e ato

socionômico fosse realizado.

Role-Playing é “o procedimento dramático regulado pelo método da teoria dos papéis

para aprendizagem e estruturação de um papel. Pode ser utilizado para o treinamento de um

27

papel profissional ou de qualquer outro papel social que se queira otimizar” (MENEGAZZO,

1995, p. 113).

4.3. ESTRUTURA

Como metodologia psicodramática, é visto no trabalho a estrutura também comumente

conhecida como 3-3-5, fator que caracteriza o procedimento socionômico no tratamento

proposto pelo ato sociátrico.

A estrutura 3-3-5 simboliza a existência de três contextos, três etapas e cinco elementos

que dão o formato do psicodrama, sociodrama ou psicodrama pedagógico. Tais contextos, etapas

e elementos são explicados a seguir.

4.3.1. Contextos

Trata-se do momento vivido e vivenciado pelas pessoas envolvidas no encontro

psicodramático. O contexto, segundo Gonçalves (1988) é definido como o encadeamento de

vivências privadas e coletivas, de sujeitos que se inter relacionam numa contingência espaço-

temporal. divide-se em:

Contexto Social: quando nós, enquanto indivíduos, estamos envolvidos em situações e

exposições como qualquer outro indivíduo da sociedade. As possibilidades de fatos e ações

interferirem em um, são praticamente as mesmas do que em qualquer outro. Estamos

submetidos a uma mesma condição.

Contexto Grupal: em uma esfera menor, nos agrupamos em diversos momentos com

pessoas que possuímos afinidade por alguma razão que faça sentido, naquela determinada

situação. Imaginemos em um transporte público, especificamente em um ônibus, várias

pessoas seguindo um padrão cultural de educação, respeito e conservas que a situação de

estarmos expostos a outras pessoas nos faz tomar (ou não tomar) determinadas atitudes,

tais como não sentar no chão, ceder espaço para a passagem de outra pessoa, dar sinal

quando deseja desembarcar, etc. Tudo isso pertence ao contexto social. Mas, neste mesmo

ônibus, podem existir pessoas conversando entre si, sobre assuntos que só elas entendem,

como por exemplo, uma festa que acabaram de sair. Qualquer outra pessoa próxima a elas

possuiria dificuldade em ser inserido na conversa e, mesmo que tente, precisaria ser aceita

28

pelas pessoas que ali já estão conectadas. Aqui vemos um contexto grupal, o qual apenas

quando estamos em relação com outra pessoa ou outras pessoas nos permite discutir,

evoluir, construir fatos e coisas.

Contexto Psicodramático: é o ambiente do “como se”, no qual o indivíduo se permite

experimentar situações fora do cotidiano ou fora do ambiente real. Criar situações

hipotéticas, ou vivenciar ações já vividas anteriormente, permite a reflexão do indivíduo

sobre consequências, alternativas, sentimentos, escolhas, decisões, entre outros inúmeros

fatores possíveis envolvidos na situação criada ou reproduzida, mas em um contexto

seguro, que não interfira na relação sua com outras pessoas, e ao mesmo tempo permita o

exercício ante a ação real.

4.3.2. Etapas

A vivência sociodramática, pautada pela teoria sociátrica, passa por três etapas distintas

durante o encontro entre as pessoas e partes envolvidas. São elas:

Aquecimento: o início da vivência, momento que permite a transição entre o contexto

social para o contexto dramático. Considerando que, para a vivência sociodramática

ocorrer, necessita-se a presença dos participantes no contexto dramático, tal etapa é

fundamental para que o encontro ocorra de forma sadia e produtiva. Com a evolução dos

estudos e práticas na socionomia, o aquecimento também se divide entre Aquecimento

Inespecífico (quando o grupo é conduzido do contexto social para o contexto grupal) e

Aquecimento Específico (quando o grupo é conduzido do contexto grupal para o contexto

dramático).

Dramatização: o momento em que o tratamento proposto para o encontro e/ou pelo o grupo

ocorre de fato, com a inserção de técnicas, observações, ações, entre todas as

possibilidades socionômicas, ocorre. Nela, encontra-se técnicas e instrumentos utilizados

para que plateia e protagonista atinjam insights que facilitam na transformação ou novas

respostas em seus papeis vividos.

Compartilhamento: ao término da dramatização, é fundamental que o grupo compartilhe a

experiência vivida no ato socionômico, permitindo-se processar como a vivência o

29

impactou e como pode ser transportado e transferido ao seu cotidiano. É a permissão dada

para a autocompreensão do que foi vivenciado no ato.

4.3.3. Elementos

Enquanto o contexto traz o momento do grupo e as etapas trazem as fases cronológicas

do encontro sociátrico, os elementos dão o formato para o ato, com papéis assumidos pelas

pessoas envolvidas. São considerados os cinco elementos:

Diretor: responsável pela condução da vivência. Cabe ao diretor, além de dominar a teoria

e prática socionômica, estabelecer o contrato com o grupo, conduzi-lo para um

determinado objetivo do encontro e construir os demais elementos que darão forma ao ato.

Ego Auxiliar: enquanto o Diretor se responsabiliza pela condução do grupo e do encontro,

o papel de Ego Auxiliar atua como elemento de relação com o Protagonista, para que o

objetivo do encontro seja alcançado. Caracterizado no papel de uma pessoa específica do

encontro, o Ego Auxiliar atua como observador constante, dando o apoio ao Diretor sendo

em um chamado específico e direcionado do Diretor ao Ego Auxiliar, como em um

momento que considera relevante sua entrada para potencializar o alcance do objetivo

proposto, em uma relação télica tanto com o Diretor quanto com o Protagonista. Porém, o

papel de Ego Auxiliar não necessariamente é assumido exclusivamente e especificamente

por uma pessoa. Pode ser determinado pelo Diretor para um membro específico da plateia,

pelo próprio Diretor ou até mesmo por objetos intermediários.

Protagonista: personagem ou tema destacado para as ações dramáticas do encontro. O

Protagonista enquanto pessoa pode ser definido na evolução do ato, enquanto aquecimento,

para que seja trabalhado de forma exemplificada de uma situação vivida pelo grupo,

objetivando o tratamento não só do Protagonista em si, como também de quem o observa.

Já adotando o que é chamado de “Tema Protagônico”, não há uma pessoa eleita como

exemplo, mas utiliza-se jogos e dramatizações que explanam um tema específico inerente a

todos da plateia, podendo, inclusive, variar o protagonista como pessoa em diversos

momentos para que o tema seja pautado e trabalhado.

30

Palco: condições e ambiente criado pelo grupo e Diretor para que as ações dramáticas

ocorram. Imaginando como um take de filmagem, o sociodrama também precisa de um

cenário para que os atores exerçam seu papel. Tal cenário é o que chamamos de palco na

Sociatria.

Plateia: além do Protagonista, o Sociodrama contempla outras pessoas que atuam como

observadores do ato, mas que também se permitam refletir e transformar respostas, ações,

comportamentos, etc, a partir das respostas e ações observadas na dramatização.

4.4. TÉCNICAS BÁSICAS

Durante a condução da vivência, o Diretor pautou-se das técnicas de solilóquio e duplo

para encontrar tanto a matriz dos participantes com seus objetivos quanto para o encontro com

seus papeis profissionais; espelho em momentos necessários para a exposição de suas ações

perante determinadas decisões a serem tomadas, como as divulgações que julgam viáveis serem

realizadas por si; e inversão de papeis quando precisam considerar o posicionamento de pessoas

de sua relação perante suas próprias escolhas, como por exemplo em momentos que consideram

viável o aproveitamento de determinadas pessoas para a potencialização da divulgação do seu

papel profissional.

4.5. TÉCNICAS UTILIZADAS

Foram utilizados Jogos Dramáticos para explorar as etapas de aquecimento e

dramatização, facilitando não somente a transição do grupo entre os contextos, como também a

caracterização dos elementos enquanto protagonista e variação de plateia, ego auxiliar e diretor,

transitados em vários momentos entre todos os participantes, excetuando o diretor que teve seu

papel assumido exclusivamente pelo autor deste trabalho.

Segundo YOZO (1996, p. 17) jogo dramático é “uma atividade que permite avaliar e

desenvolver o grau de espontaneidade e criatividade do indivíduo, através de suas características,

estado de ânimo e/ou emoções na obtenção e resolução de conflitos ligados aos objetivos

propostos”.

31

O Átomo Social também esteve presente para viabilizar o encontro do participante com

seu papel profissional, tendo contato com sua rede social e podendo explorar diversos momentos

de inversão de papeis e insights que o levasse a matriz de identidade.

4.6. PÚBLICO ALVO

A proposta do encontro fez parte do curso Transição de Carreira Para Psicólogos, sendo a

segunda de quatro aulas propostas pelo programa. Tratou-se de um curso didático e reflexivo

sobre a identidade, criatividade e espontaneidade no papel empreendedor do Psicólogo que

pretende estabelecer uma carreira autônoma. O primeiro encontro explorou a identidade do

Psicólogo, focando principalmente na Primeira Fase de sua matriz, explorando sua essência e

intenções futuras do seu papel profissional.

O segundo encontro, destacado por este trabalho, propôs ações comerciais que

possibilitem a consolidação do seu papel de Psicólogo autônomo. As pessoas que compunham o

grupo já se conheciam previamente em decorrência da primeira aula, ocorrida no dia anterior.

Cinco das seis pessoas presentes no primeiro dia estavam no segundo encontro (os nomes aqui

utilizados são fictícios):

Brenda, Psicóloga e Psicodramatista, pretende ingressar na carreira de Psicóloga Clínica,

aplicando a abordagem psicodramática em seus atendimentos.

Bianca, formada em Psicologia, está iniciando sua carreira autônoma com um espaço a ser

preparado para atendimento psicoterápico, unindo a terapia holística, a qual também possui

especialização.

Mônica, Psicóloga Clínica, atende em sociedade em um consultório de Psicoterapia. Está

iniciando sua carreira como profissional autônoma.

Paula, Psicóloga e Psicodramatista, atende como Psicoterapeuta há 2 anos e pretende

iniciar cursos e palestras online com conteúdos voltados para Psicólogos em início de

carreira.

Robson, Psicólogo e Psicodramatista, atua como Docente em cursos de Jovem Aprendiz no

Centro de Integração Empresa Escola. Pretende expandir seu atendimento como

Psicoterapeuta de adolescentes e orientação profissional.

32

5. RESULTADOS

5.1. AQUECIMENTO INESPECÍFICO

O Diretor iniciou a sessão levantando as expectativas dos participantes com o segundo

encontro do curso. As expectativas trazidas foram:

Bianca apresentou como expectativa costurar as definições construídas na identidade do

seu papel de Psicóloga. Uma vez que seus objetivos estavam definidos, pretende-se

construir ações que concretizem o que quer para si como Psicóloga. Complementou o

significado que o encontro anterior fez para ela, causando reflexões que gostaria de

aprofundar em ações para o encontro atual.

Mônica destacou o aprendizado e troca de experiência gerados no primeiro encontro, e sua

expectativa no segundo era que também promovesse tais momentos de troca e

aprendizagem.

Roberto apresentou como expectativa aprofundar o tema proposto, a autopercepção das

suas ações como Psicólogo e o que precisa fazer para despertar seu papel. “Já sei o que eu

quero. Agora, quais são meus caminhos e como me vender”, foram alguns dos discursos

apresentados por ele.

Percepção do Diretor: o grupo estava bem alinhado com o tema proposto no segundo dia,

assim como as vivências planejadas a seguir. Porém, as expectativas bem estruturadas pelo grupo

exigem um conteúdo também estruturado, atendendo alguns pensamentos preliminares em

referência ao tema proposto. O desafio estaria em trabalhar a Gestão Comercial com

participantes que já possuem um conhecimento raso sobre o assunto, e de certa forma uma ideia

conceitual. Assim, precisa-se quebrar as conservas sobre o tema para então explorar novas

respostas de cada um para que o aprendizado e crescimento do papel do Psicólogo

Empreendedor ocorra, referindo-se a ações comerciais.

Jogo Tic Tac Pof Pof: Como proposta de iniciador físico e mental, o Diretor propôs o

jogo cuja ação trata-se de passar um movimento ou um gesto para a roda do grupo. Em círculos,

um primeiro participante faz um movimento que deve ser imitado para o participante seguinte,

até que todos façam o mesmo gesto e movimento.

33

Após a aplicação do jogo, percebeu-se o grupo mais sintonizado com o “aqui agora”,

mais envolvido com no contexto grupal.

Jogo Linha de Palavras - O que a palavra me lembra: Um participante cita uma palavra, e

o participante ao seu lado diz qual palavra é lembrada aquela dita anteriormente. Exemplo:

Participante 01 diz “Escola”, Participante 02 diz “Escola me lembra Sucesso”, Participante 03

“Sucesso me lembra Dinheiro”, e assim sucessivamente. Após quatro rodadas com os

participantes, as etapas retornam até a primeira palavra, inserindo um sentido contrário.

Exemplo: Participante 03 “Eu disse Dinheiro porque ele disse Sucesso”. Participante 02 “Eu

disse Sucesso porque ele disse Escola”.

A proposta do jogo era iniciar a transição entre o contexto grupal e o dramático, também

aquecendo mais profundamente o iniciador mental, já que a dramatização em si exigiria uma

capacidade de raciocínio e correlações para o momento da construção do Átomo Social.

Após o jogo, alguns participantes apresentaram iniciadores emocionais sendo

despertados, com discursos de angústia e ansiedade pelo desafio de lembrar todas as palavras

ditas anteriormente. Porém, o raciocínio de assimilação das palavras confortou-os ao perceber a

facilidade em cumprir o desafio no momento que a palavra do colega ao lado era dita.

Jogo Construindo uma História Coletiva: Um participante cita lugares que frequenta

durante o dia. Cada participante contribui com um local. A história primeira construída foi: “A”

iniciou no quarto, “B” foi ao banheiro, “C” tomou café da manhã na padaria, “D” foi trabalhar

no prédio comercial, foi almoçar no restaurante, depois “X” foi para a clínica, depois para a casa,

e encerra-se o dia. Dá-se um título para o dia. O título dado pelo grupo foi Um Dia Atípico.

Começou outra história, desta vez incluindo uma ação para o lugar. Na primeira história,

a ação era facultativa, agora obrigatória. Iniciou com “X” acordando quarto, depois “X” foi

passear no parque, “X” almoçou no shopping, foi assistir um filme no cinema, depois lanchar no

Outback, depois voltar para casa, depois passear na casa de uma amiga, depois cantar no

Videokê, depois comer pizza na pizzaria, depois descansar em casa, e encerra-se o dia. Dá-se um

título para o dia. O título dado pelo grupo foi Um Feriado.

Uma terceira história foi proposta pelo Diretor, desta vez cada parte devia ser composta

por um lugar, incluindo a ação e uma pessoa. Começou acordar em casa e brincar com os

cachorros, depois ir para o trabalho e conversar com a pessoa responsável pelo bem estar do

ambiente (quem faz o café, cuida da limpeza do local, etc), depois no trabalho, conversou com a

sócia sobre o custo da pessoa responsável pelo bem estar, depois conversou com o cliente, depois

34

foi ao teatro com a esposa assistir uma comédia, depois o Diretor estimulou o grupo sobre outras

pessoas que nos relacionamos no teatro, então a participante seguinte incluiu na história que

começou a reparar no comportamento das pessoas da plateia junto com a mãe, que estava no

teatro, depois a mãe disse que precisava dar uma bronca no irmão, que também estava no teatro,

depois foram no camarim pedir um autógrafo para o Rodrigo Santoro, depois foi para o bar

encontrar a Hellen Roche, encontrou o Daniel Boaventura, depois perguntou para o Garçom

como ele dava conta de tanta gente, depois chamou o táxi para voltar para casa, depois entregou

o cartão de Psicólogo para o taxista, depois chegou em casa e deu comida para os cachorros,

depois foi dormir com o marido, depois recebeu uma ligação do taxista para agendar uma

consulta. Pediu-se um nome para o personagem. O nome dado pelo grupo foi O Psicólogo

Empreendedor.

5.2. AQUECIMENTO ESPECÍFICO

Diretor desenha a rede social do Psicólogo Empreendedor, considerando os ambientes

que ele vivenciou na história e o grau de proximidade das pessoas que ele se relacionou. A rede

consiste na seguinte base:

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Os ambientes desenhados foram: Casa, Clínica, Bar, Teatro, Taxi. As pessoas apontadas e

suas classificações de proximidade foram:

Casa: cônjuge mais próximo, filhos (cachorros) mais próximos.

Teatro: Artista mais distante, plateia mais distante, filha mais próxima, cônjuge mais

próximo, irmão menos próximo, mãe mais próxima.

Clínica: responsável pelo bem estar menos próxima, sócia menos próxima, clientes

menos próximos.

Bar: artistas mais distantes, garçom mais distante, caixa mais distante.

Táxi: motorista menos próximo.

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Diretor questiona: como fortalecer e expandir seu papel de Psicólogo com as pessoas que

compõem a rede social construída? As pessoas apontadas para este critério foram: sócia, plateia,

cliente, taxista, artista do teatro, garçom e caixa.

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Uma percepção do grupo foi “será que a rede próxima, considerando a família e amigos

pessoais, trazem credibilidade e segurança se divulgarem o Psicólogo? Foi questionado o sigilo

suspeitado pelo possível cliente no momento que o parente divulga o Psicólogo e a qualidade no

serviço, considerando que a indicação viria apenas por ser filho/filha, marido/esposa do

Psicólogo(a).

5.3. DRAMATIZAÇÃO

Com o grupo bem aquecido com a ferramenta e proposta do trabalho, o Diretor propôs

que fosse feita a rede social de cada um. Em uma folha grande de papel, cada participante iria

desenhar:

Seus ambientes de convívio rotineiro, mentalizando exatamente suas rotinas diárias e

semanais. Lugares que costumam frequentar, como trabalho, escolas, grupos de pessoas,

etc.

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As pessoas que se relacionam nesses ambientes, identificadas por grau de proximidade,

conforme a proposta original da rede social.

Algumas questões surgidas no exercício, foram pessoas que se repetem em vários

ambientes, mas que são pontuadas em graus de proximidade diferentes. Tal situação foi

observada e tratada de forma natural pelo Diretor e pelo grupo, pois considera-se perceptível a

diferença do papel social e seus contrapapéis relacionados no ambiente. Uma pessoa é mãe em

casa porque existe o seu filho, mas também é sócia no trabalho porque existe um sócio, e este

sócio pode ser o mesmo filho, por exemplo. Com o filho, a proximidade é alta em casa, mas no

trabalho sua proximidade maior pode ser com os clientes, e o sócio fica em segundo plano.

Foi sugerido pelo Diretor que colocassem os nomes ou iniciais das pessoas que fossem

pontuadas na rede social. Não estava em questão os papeis e contrapapéis, e sim, o

relacionamento, grau de proximidade e ambiente das pessoas convividas. Isso facilitaria no

andamento do exercício, para que fosse algo relevante e útil para trabalhar a divulgação do

Psicólogo Empreendedor, conforme proposta inicial.

Em certos momentos, era percebido pelo Diretor o esforço dos participantes para lembrar

de mais pessoas a serem colocadas em determinados ambientes. Em algumas situações,

inclusive, geradas pelo desconforto de ter observado mais pessoas presentes na rede social de

outro participante. Para isso, o Diretor manteve-se atento para que cada participante

permanecesse conectado com a sua rede social, não havendo certo ou errado, pois tratava-se da

rotina de vida de cada um. Alguns gestos foram aplicados, como a separação dos participantes

entre os espaços da sala, a disposição de materiais individuais para a construção da rede de cada

participante, o contato e relação de corredor entre o Diretor e participantes, etc. Se, naquele

momento, não surgissem mais pessoas para inserir na rede social, é porque, naquele momento

aquela pessoa não tinha a devida relevância para o exercício.

Com a rede social construída, cada participante fez uma análise sobre as pessoas que

colocaram, verificando a possibilidade em trabalhar a divulgação do seu papel de Psicólogo(a).

Até então, não foi estabelecido um tipo específico de divulgação, deixando o grupo livre para

refletir o que cada um entende como divulgação.

Nesse momento, o próprio Diretor estabeleceu um critério de escolha para o grupo. Este

foi o momento essencial para que a sociatria proposta para o grupo fosse atingida, conforme

expectativas do grupo e Diretor para trabalhar as possibilidades de divulgação do Psicólogo

Empreendedor.

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Alguns dilemas voltaram à tona, como “escolher ou não uma pessoa afetivamente

próxima a mim para trabalhar a minha divulgação”. Nesse momento, por ser um exercício

individual, os participantes se sentiram confortáveis em terem escolhas diferentes para o mesmo

contrapapel entre eles, havendo, por exemplo, diferença da relação mãe-filha entre cada um.

A seguir, segue a fotografia dos Átomos Comerciais construídos pelos participantes:

Átomo Comercial: Brenda

Átomo Comercial: Bianca

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Átomo Comercial: Mônica

Átomo Comercial: Paula

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Átomo Comercial: Robson

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5.4. COMPARTILHAMENTO

Ao término da sessão, gerou-se um debate saudável e esperado pelo Diretor quanto à

familiaridade de cada pessoa com os diversos tipos de divulgação. Por exemplo, um dos

participantes se sentia extremamente bem fazendo vídeos, enquanto outros nem cogitavam tal

possibilidade. Tais diferenças foram trabalhadas pelo Diretor para que ficasse cada vez mais

claro que o critério de escolha, neste momento, deveria ser as divulgações que o participante se

sentisse bem em fazer. Com os tipos de divulgação de cada participante listados, a conclusão foi

conectar as pessoas que pretende se divulgar com um tipo de divulgação escolhida.

Cada participante apresentou, de forma resumida, o trabalho que realizou, dando destaque

aos pontos que chamaram atenção. Isso ocorreu de forma espontânea do grupo, precisando de

poucos estímulos do Diretor. Todos ficaram positivamente surpresos com a grande quantidade de

pessoas ao seu redor que pudesse contribuir para a potencialização do papel de Psicólogo. Com

medidas simples de divulgação, era possível tomar atitudes no dia seguinte, sem exigir

investimentos e grandes esforços.

O que o grupo também expôs, entretanto, foi o motivo de não terem tomado tais ações

anteriormente, pois algumas delas, como entrar em contato com uma pessoa razoavelmente

distante para avisá-la que faz psicoterapia, eram ações já pensadas mas não tomadas. Trouxeram

a procrastinação e o boicote como “vilões” das ações, mas justificaram que a ferramenta serviu

de grande apoio para que as atitudes fossem tomadas de forma mais assertiva e determinante

para alcançar seus objetivos profissionais como Psicólogos Empreendedores.

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6. DISCUSSÃO DE RESULTADOS

A responsabilidade pelo atingimento do objetivo do trabalho socionômico recai

basicamente em sua totalidade sobre o diretor, considerando este responsável não somente pela

condução e leitura do grupo durante o ato sociátrico, mas também pela construção da ideia do

evento, o objetivo proposto, o papel a ser assumido como diretor do grupo, a divulgação e

convite das pessoas que possam participar, além da aceitação de participação do evento proposto.

Considero limitada uma visão socionômica circulada em torno da vivência, pois existe uma

dinâmica muito mais ampla e complexa envolvida além do palco.

A socionomia começa desde a ideia que surge de alguém que promove um evento cuja

proposta seja o tratamento das relações baseado no método sociátrico. Cabe também a resposta

criativa e espontânea do diretor, considerando-o como idealizador deste evento citado, e uma

conserva cultural saudável, ao pensar nas regras, condições e limitações que o evento está

sujeito, caso venha a ocorrer. O papel a ser assumido, jogado e, por que não, recriado pelo

idealizador e diretor também permeia pela sociodinâmica, e a sua postura saudável pode

direcionar uma sociometria adequada, quando as pessoas que tomam o conhecimento do evento

se sintam bem conectadas com a publicidade do idealizador, formando assim um grupo com

condições plenas de serem tratadas de acordo com os objetivos do ato.

Isso ocorreu com o diretor do sociodrama discorrido neste trabalho, que se sentiu

confortável em trabalhar o empreendedorismo com Psicólogos, gerando uma reação positiva dos

convidados a participar e dando origem a um grupo maduro de Psicólogos, com especialização

em sua formação mínima e pelo menos cinco anos de experiência. Quanto mais o tempo passa

para o “eu” profissional, mais enraizado em conservas o indivíduo fica ao se tratar de qualquer

trabalho que interfira neste papel.

Por isso, as técnicas possíveis a serem utilizadas logo no início, no AQUECIMENTO

INESPECÍFICO de um sociodrama, podem repelir o público, ao invés de acolher ou envolver,

por estarem com uma espontaneidade reprimida pelo grupo desconhecido e as conservas

culturais do contexto social. Então, a opção utilizada pelo Diretor, em trazer uma conversa

discursiva entre os participantes no início do encontro pode-se considerar adequada, pela

praticidade, tempo disponível e foco em trabalhar o objetivo da vivência.

É preciso respeitar a conserva cultural de pessoas e grupos ao se trabalhar em um

sociodrama, mas é fundamental explorar as quebras dessas conservas, buscando respostas

criativas e espontâneas de cada participante. Neste momento, a aplicação de jogos que pudesse

envolvê-los, integrá-los e, ao mesmo tempo, inseri-los em um ambiente propenso ao aprendizado

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e tais respostas espontâneas coube de uma forma natural, ainda considerando um aquecimento

inespecífico, focado na transição do contexto social para o contexto grupal, e do grupal para o

contexto psicodramático, uma passagem que recai sobre o diretor fazê-la de forma tranquila e

sem traumas para o grupo, mantendo-os conectados e aumentando sua disponibilidade e

confiança na relação com o Diretor e entre os participantes (MORENO, 1993).

A Construção da História Coletiva tornou-se um ponto de transição para a costura da

vivência ao objetivo proposto. Considerando que a história deu subsídios suficientes para

conectar os participantes com os conceitos de rede social e sociometria, com base nos elementos

gerados pela história, tais como personagens, ambientes e suas relações, encontrou-se uma

transição saudável e natural para que a sessão iniciasse seu aquecimento específico. Um fator

também relevante foi a quantidade das histórias a serem criadas, pois enquanto o diretor não

percebeu o grupo realmente pronto para avançar, não foi avançada para a continuidade da

vivência. A inserção gradativa de condições do jogo auxiliou para uma interpretação e adesão

total do grupo.

Vale ressaltar que a aplicação do jogo só foi possível ocorrer de maneira respeitosa entre

os participantes e entre participantes-diretor devido à sequência dada de jogos e trocas realizadas

anteriormente, conseguindo de fato transportar o grupo do contexto social para o dramático.

(GONÇALVES, 1988)

Durante o AQUECIMENTO ESPECÍFICO, houve uma construção mais tecnicista do

átomo social no formato de Rede Social, com o diretor coletando os elementos do átomo do

personagem criado pela história dos participantes para preenchê-lo. Todos se viam como parte da

história e, consequentemente, da Rede Social construída, mas como contribuintes, não como

partes do todo. Cada ambiente e personagem criado foi reflexo de suas vidas pessoais e

profissionais, tornando o grupo cúmplice da rede social que estava sendo construída.

Ao apontar as pessoas da rede social com o critério dado ao diretor (como fortalecer e

expandir seu papel de Psicólogo com as pessoas que compõem a rede social construída), tal

cumplicidade foi identificada pelo debate gerado, com as trocas de olhares e papéis, quando

circulou-se numa condição de “será que meu pai me divulgaria?”, “será que eu quero que minha

irmã me divulgue para seus amigos?”, etc.

Curioso e enriquecedor perceber a imparidade de cada ser humano e a forma como as

conexões de seus papéis se formulam com o tempo. Irmãos não possuem a mesma relação, nem

dentro de uma mesma família. Pais e filhos não possuem a mesma relação, nem com gêmeos.

Isso gera uma condição infinita de possibilidades de aceitação do papel do Psicólogo para a sua

divulgação na sua rede social, com inúmeras teles tanto positivas, negativas quanto neutras, além

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das incongruências que surgem, isso se o trabalho e pesquisa pudessem se estender às relações

apontadas pelos participantes. Com isso, separar o papel de Psicólogo Empreendedor tornou-se

fundamental para que os próprios participantes pudessem se reconhecer como tais, assumindo-o

com base nas suas intenções futuras, suas capacidades de produzir a realidade que intencionam,

serem reconhecidos e fortalecidos pelos contrapapéis que encontrariam em seus átomos, além da

convicção sobre a capacidade de serem protagonistas de seus papéis profissionais (SAMPAIO,

2016).

Por fim, o aquecimento específico permitiu uma compreensão suficiente da forma como a

Rede Social é elaborada, para que os próprios participantes pudessem construir as suas próprias

Redes Sociais e chegarem às suas conclusões. O grupo em si reagiu de forma surpresa ao ver a

ferramenta construída, criando certa ansiedade para olhar suas redes (MORENO, 1992).

Ter construído a Rede Social de modelo até o fim, com o critério das pessoas que o

personagem de exemplo escolheria para se divulgar como Psicólogo, criou de forma indireta

uma condição para a construção das redes de cada um na DRAMATIZAÇÃO, sendo esta

direcionada para as pessoas que eles também considerariam possíveis para a divulgação de seus

trabalhos. Isso gerou basicamente um duplo critério para a rede, sendo colocar pessoas que

possam ajudar na divulgação do seu papel como Psicólogo e colocar pessoas com um vínculo

afetivo, seja pelo aspecto positivo ou negativo.

Algo percebido pelo diretor, durante e após a construção da rede, é que as pessoas com

escolhas positivas e negativas possuem maior representatividade do que as escolhas neutras. Isso

porque existe uma tendência das escolhas neutras não aparecerem nos átomos, quando estes são

construídos. Daí se percebe a capacidade da expansividade afetiva de cada um, conseguindo

guardar na memória e nos critérios um número limitado de pessoas em cada ambiente, e essa

afetividade se divide tanto para o positivo quanto para o negativo. Podemos ter escolhas somente

positivas em determinado ambiente, como também podemos ter escolhas somente negativas, ou

intercaladas, mas praticamente todos os ambientes com uma limitação numérica dessas escolhas.

Isso gera uma questão sobre a importância da participação das escolhas neutras em uma

Rede Social. A resposta encontrada na pesquisa realizada se limitou a condição de trocas de

“destaques” na Rede Social, dando possibilidade para o indivíduo tornar uma escolha negativa

em neutra, para potencializar as escolhas positivas resgatadas do conjunto das neutralidades. Se

transformarmos tal pensamento em uma matriz sociométrica, poderia ilustrar da seguinte forma:

Escolha Negativa Escolha Neutra Escolha Positiva

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Note-se que tal matriz só é válida para as escolhas negativas, quando a intenção é o

tratamento para a troca por uma positiva e considerando determinado critério. No caso da

vivência estudada, quando há intenção do Psicólogo em explorar mais pessoas para que divulgue

seu trabalho e potencialize seu papel profissional, as pessoas que não escolheu para este critério

podem ser substituídas por escolhas neutras, na intenção de trabalhar a sua relação com elas para

que o Psicólogo se sinta confortável em transformá-las em um agente divulgador, ou seja, uma

escolha positiva.

Assim se consolida o que denominei de Átomo Comercial, tendo como referência o

Átomo Social e Átomo Cultural. Baseando-se especificamente no critério de divulgação do papel

profissional, a pesquisa mostrou-se possível explorar as potencialidades do indivíduo em se

promover no papel, conseguindo evoluir no desenvolvimento de sua atitude empreendedora e de

acordo com sua expansividade afetiva ampliar as possibilidade de ser autonomo e bem sucedido

no seu empreendimento (MORENO, 1993) (SAMPAIO, 2014).

A percepção do diretor com o compartilhar dos participantes ficou com “como fazer toda

essa divulgação”. Nisso, o debate centralizou no formato da publicidade de cada um, passando

por uma reflexão profunda sobre a matriz de identidade que cada um construiu para o seu papel

social de Psicólogo:

a) Que Psicólogo quero ser?

b) Quais pessoas considero adequadas para divulgar meu trabalho?

c) Como elas me reconheceriam e me aceitariam como o Psicólogo que quero ser?

Assim, uma nova matriz precisou ser gerada com o formato da divulgação que sentem

confortáveis para suas divulgações:

a) Como quero me divulgar?

b) Tenho condições financeiras e técnicas para montar tais divulgações?

c) A qualidade do material que posso criar é aceitável para o outro?

Considerando que um dos objetivos do Psicodrama é provocar reflexões no indivíduo a

partir do papel que ele exerce na sociedade, o encontro conseguiu alcançar um resultado positivo

devido às reflexões causadas nos participantes. Muitos discursos vieram no compartilhamento,

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como “eu vejo que é possível”, “consigo reconhecer que só depende da minha disposição para

começar”, representando um reconhecimento de que suas ações levarão aos seus propósitos.

Considerando o objetivo do trabalho, o maior indicador positivo foi os participantes terem

reconhecido a existência do papel profissional do psicólogo já existente em suas rotinas atuais. O

que faltava era este olhar dedicado ao papel, possibilitando uma troca de postura frente aos

contrapapéis que os validam como Psicólogos.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o início dos meus estudos no universo da Socionomia, foi reconhecido um grande

potencial na relação entre as teorias socionômica e a administrativa. De fato, ambas as teorias

são pouco reconhecidas como ciência e muito abordadas na prática, detalhes que podem ser

instigantes quando colocadas lado a lado.

Mais instigante ainda, foi ter percebido que, mesmo com tantas possibilidades de aplicação

de conceitos socionômicos em práticas administrativas, é quase nula a quantidade de estudos

aprofundados sobre os entre laços das teorias. Por isso, viso abrir uma gaveta com tal trabalho,

convidando admiradores, conhecedores e sonhadores da Administração a se aventurarem pela

Socionomia, como forma de encontrar uma visão tridimensional e mais qualitativa para as

práticas organizacionais e sociais.

O caminho inverso também fica como convite, uma vez que é percebido a dificuldade em

organização de pensamentos e sensos comuns dentro da Socionomia. Também de fato, existe o

fator criatividade e espontaneidade que permeia no meio psicodramático para que tal

organização não ocorra, mas como uma opinião totalmente pessoal, acredito passar por uma

“desculpa verdadeira” que trava a evolução da socionomia nos quesitos acadêmicos e práticos da

sociedade que está cada vez mais próxima dos conceitos de J. L. Moreno, trazidos há meio

século atrás. Portanto, a Administração e suas formas práticas e metódicas de enxergar o mundo

pode, sim, contribuir para a evolução da Socionomia.

A pesquisa apresentada limitou-se ao campo de Psicólogos, mas foi rapidamente percebida

como aplicável a outras formações profissionais que permitem o empreendedorismo autônomo,

como Fisioterapia, Odontologia, Direito, Medicina, entre tantas outras faculdades que capacitam

a pessoa a exercer tecnicamente sua profissão, mas não aperfeiçoam a pessoa a empreender.

Além do campo empreendedor, o Átomo Comercial como ferramenta pode obter uma variação

de critério com perfeita aplicação, leitura e tratamento, caso substitua o “Comercial” por

qualquer outra forma de estimular uma ação do indivíduo que vá de acordo com seus objetivos

pessoais ou profissionais. Fica, então, o convite para que futuros Psicodramatistas e

Socionomistas apliquem a ferramenta em outros contextos e ambientes, podendo ampliar as

possibilidades deste estudo.

Para mim, fica a gratidão pela oportunidade em concretizar tal experimento e fazê-lo

evoluir em uma continuidade da aplicação, em outros grupos formados com o mesmo objetivo.

Maior gratidão, ainda, está na paixão encontrada pelo mundo fascinante da socionomia e,

principalmente, na sociodinâmica e sociometria. O obscuro me intriga de forma prazerosa,

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podendo nadar de braçadas nesses campos ainda pouco explorados pela ciência social. Muito se

discute, se escreve e se aprofunda na sociatria, mas pouco se concretiza na sociodinâmica e

sociometria, principalmente de forma organizada. Percebo uma possibilidade de estudo

exclusivo na sociodinâmica e sociometria, como formas puras de diagnóstico e observação,

assim como se faz em muitos contextos organizacionais. A união da “Socioadministração” pode

estar com uma semente plantada neste trabalho realizado com delicadeza, ousadia e muito amor

pelas teorias.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Fundamentos históricos, teóricos e práticos. São Paulo: Ágora, 1996.

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Psicodrama: Potencializando Indivíduos e Organizações. 2 Ed. Rio de Janeiro: Wak.

2016.

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Paulo: FiloCzar, 2016.

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