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2 Opinião

Assinantes Master de apoio cultural

- Ordem dos Advogados do Brasil - Presidente Prudente

- Toledo Prudente Centro Universitário

- Universidade do Oeste Paulista

Eles disseram

Julho 2019

“O livre-arbítrio absoluto é impossível, mas Nietzsche nos treina a tentar olhar para uma mesma questão de tantas perspectivas diferentes quanto possível, afi m de

obter e decifrar a sua própria. O que na essência chega a ser a utopia dos jornalistas.”

Rubens Shirassu Junior, poeta, jornalista e escritor prudentino

“A crise da democracia é o controle do poder político pelo poder inanceiro, que é cego, que vê só os interesses imediatos, não tem consciência do destino da humanidade. A prova é a degradação da biosfera e que vemos na degradação da Amazônia ou na população das cidades, por exemplo. A religião triunfa no fracasso da modernidade, Vivemos em uma época de cegueira e de sonambulismo. Esta é a verdadeira crise da democracia!”

Edgar Morin, sociólogo e fi lósofo francês, entrevistado pela Folha (24/06), autor do Livro “O Método”, obra em seis volumes

“Com a morte do comunismo, houve um retorno das religiões. Temos o retorno dos evangélicos aqui no Brasil e do islamismo, nos países árabes.

A religião ganha onde a democracia falha. A religião triunfa no fracasso da modernidade.”

Edgar Morin, supra citado, em outro trecho de sua entrevista à Folha

“Se você fi zer uma análise das bobagens que se tem vivido, é um negócio impressionante. É um show de besteiras e isso tira o foco daquilo que é importante.”

General Santos Cruz, demitido por Bolsonaro, depois de ser chamado de “general de bosta” pelo guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho

“Quanto a um presidente em guerra aberta com a educação, a ciência, o meio-ambiente, a saúde, a cultura, os direitos humanos e o senso de ridículo,

tudo levando adiante por sua equipe de idiotas convictos e oportunistas, a crítica que o articulista Luiz Felipe Pondé – representante de uma certa direita – conseguiu fazer foi a de se tratar de um “burro”

que governa “como se estivesse num churrasco”.

Michel Laub, jornalista e escritor, referindo-se à direita brasileira

“Tirar a multa para quem não leva criança na cadeirinha, dobrar o número de pontos para se cassar a CNH, acabar

com radares nas rodovias e outras propostas que Bolsonaro tem feito, não são fruto de uma mentalidade de direita ou liberal, mas de

uma visão do mundo anticivilizatória.”

Antonio Prata, escritor e cronista

“Precisamos contar com um processo penal efetivo, que deveria ser sentenciado em 6 meses e ter um desfecho no prazo máximo de um ano, um ano e meio. Para tanto, os depoimentos

de testemunhas poderiam ser colhidos pelos cartórios de ofício e anexados aos autos do processo.”

Luiz Roberto Barroso, ministro do STF

“Será que não está na hora de termos um ministro da Suprema Corte evangélico?”

Presidente Jair Bolsonaro, o sinistro

“Em uma república laica, é absolutamente irrelevante a fé religiosa que um juiz da suprema corte possa ter...”

Celso de Mello, decano do STF, em resposta à manifestação do nosso presidente

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3Julho 2019 Opinião

Editorial Zelmo Denari [email protected]

A capa desta edição é bastante eloquente: trata-se da edição derra-deira do Pio que, a partir do corrente mês de julho, “entra em recesso”...

Entrar em recesso não signifi-ca, necessariamente, cessar de viver... (que o digam nossos deputados, no Congresso ou nas Assembleias Legis-lativas).

Diria, portanto, com mais propriedade, que nossas futuras edi-ções, por fadiga material, irão sofrer um processo de interrupção, em sua periodicidade. Menos mal diriam al-guns! Lastimável, diriam outros (mas que não são tantos, graças a Deus!)

De todo modo, não pretende-mos ir além destas palavras, até por-que, como dizem os textos bíblicos, “não é por muito falar que seremos ouvidos”.

De todo modo, queremos agra-decer as palavras de apoio e confian-ça que recebemos de nossos amigos e leitores, assim que tomaram conheci-mento da nossa decisão e, ao mesmo tempo, pedimos vênia para transcre-vê-las nesta página.

Como diriam os romanos, dul-cis in fundo*.

Zelmo Denari, editor

*Locução romana, de origem desconhecida, que significa: “o final

é sempre belo”!

Fiquei surpreso ao saber da no-tícia do fim do Pio-pardo, mas entendo que realmente tudo nessa vida tem iní-cio, meio e fim. Sabemos também das atuais dificuldades em se manter uma publicação, mesmo assim o Pio sempre se manteve firme com os seus propósi-tos – Enio Perrone

Agradeço a sua atenção pela in-formação e, com uma ponta de tristeza, como integrante de uma minoria pen-sante de Presidente Prudente e região oeste, sinto a perda do único veículo de opinião, infelizmente.

Fico feliz de ter lido 76 edições do Pio-pardo, pois você realizou o meu sonho de juventude. Tenho também a

satisfação de pertencer a equipe de co-laboradores do jornal! Valeu a pena! Como os gregos antigos e pagãos, brin-demos com vinho vermelho que repre-senta a vida que pulsa nas artérias! Evoé, Baco! – Rubens Shirassu

Só hoje consegui escrever algo sobre o fim do Pio. Não me conformo com isso. Expresso a você meu descon-tentamento com o final do único jornal crítico que tivemos em Prudente. Es-crevi para o Pio com muito prazer. Não sei se a decisão é irrevogável. Espero que vocês repensem e continuem o jor-nal. – Sérgio Gouveia

Tomei um susto quando li hoje, no facebook, a notícia do encerramen-

to da circulação do Pio-pardo. Fiquei e estou triste... Você, Castilho e outros são uma espécies de dramaturgos por-que pegam a vida e faz dela uma peça. O Pio-pardo, a meu ver, é um jornal não apenas um veículo de informações, mas a de criar ideias e pensamentos. – Eustásio de Oliveira Ferraz

Poxa, que notícia ruim, confesso que fiquei triste agora!

Quantos anos que temos nossa parceria, desde quando trabalhava na Gazeta do Povo. Uma pena um jornal de tanta credibilidade como o Pio-par-do parar de circular. Desde já quero agradecer nossa parceria, admiro mui-to o seu trabalho, e de toda equipe é claro. – Rodrigo Fonseca

Sinto muitíssimo pelo fim do Pio, pois me considerava parte da fa-mília... Espero continuar a contar com sua amizade e do Castilho, que prezo muitíssimo. Foi bom enquanto du-rou, mas de vida muito curta para meu gosto. – Mario Cestari

Que tristeza, o consolo é saber que o substituto será tão bom quanto o Pio, pois o prezado sabe editar jornal. Não desista! Sucesso na nova emprei-tada.

O Pio vai deixar saudade. Em minha modesta opinião, ‘baita” jornal alternativo, com alta taxa de inteligên-cia, coisa rara na imprensa contempo-rânea. –

Sandro Villar

Cartas à redação

Editora Pio-pardo CNPJ 17.600.496/0001-37 - Presidente Prudente/SP Telefone (18) 3223-5315 - Whatsapp: (18) 99775-5315Av: Coronel Marcondes - 871 - sala - 131 - 13 andar

Editores: Zelmo Denari - [email protected]é Roberto Fernandes Castilho - [email protected]

Edição: Cristiano Oliveira - [email protected]

Diretor de Criação: Richard de Almeida - [email protected]

Comercial - Nelson Balloni - [email protected]

Diagramação: Insight PropagandaTiragem: 5.000 exemplares - Capa: Richard de Almeida

Os artigos assinados não correspondem necessariamente a opinião do jornal, sendo de inteira responsabilidade de seus autores.

Jornal de opinião facebook.com/jornalpiopardo

Presidente Prudente - Ano 6 - número 77 - Julho 2019

Proposta de intervenção urbana deste tablóide foi encampada pelo prefeito Nelson Bugalho

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4 Julho 2019Política

CARTA À REDAÇÃOVereador Enio Perrone, em carta, rebate crítica do prefeito Nelson Bugalho

Enio [email protected]

Na edição de março de 2019 o Pio-pardo em uma entrevista, o Prefeito Nelson Bugalho ao invés de responder a pergunta do repór-ter que o questionava sobre sua proposta de baixar a contribui-ção sobre o ISS das empresas de transporte urbano de 5% para 2% o que, realmente, traria um impacto importante sobre a arrecadação do município, citou-me nominalmen-te como autor de leis que dão isen-ção ou desconto sobre o IPTU e isto estaria atrapalhando o equilí-brio-financeiro do município. Ata-cou a mim, ao vereador Natanael Gonzaga e a Câmara Municipal em geral. Atacou e não explicou o porquê de tantas benesses à em-presa de transporte urbano.

O prefeito vetou estas leis, mas os vetos foram derrubados pela Câmara. Entrou com Adins, perden-do 95% delas, esquecendo-se das qualidades do nosso Departamento Jurídico, comandado pelo Procura-dor concursado, Dr. Fernando Mon-teiro. A única lei de minha autoria,

Como bem demonstrado nos quadros acima, pedagogicamente, as isenções frutos das leis municipais criadas pelo Legislativo, concedem descontos no IPTU/Ano no montan-te aproximado de R$ 65 mil/ano, en-quanto que o Executivo para uma úni-ca empresa concederia o que o Legis-lativo não permitiu, cerca de 90 a 100 mil/mês, totalizando, só nessa infeliz proposta a rejeitada pelos vereadores,

R$ 1.200.000.00/ano.Por essas razões, em nome do

contraditório e da democracia e ver-dade dos fatos, solicito o direito de resposta às acusações sem qualquer fundamento.

*Carta enviada pelo vereador

Enio Perrone ao Pio-pardo em res-

posta à entrevista do prefeito publica-

da na edição de março deste ano.

que concede 5% de desconto no IPTU para quem cuida de árvores plantadas na calcada de sua casa, não teve nenhu-ma solicitação por parte dos munícipes, pois depois da derrubada do veto e da Adin, em sua regulamentação ele co-meteu a infantilidade de exigir um lau-

do do CREA para a obtenção do des-conto, com uma taxa de cerca de 700 reais, tornando a lei inaplicável.

Fiz um requerimento solicitando o montante do valor destes descontos, mencionados pelo Prefeito, autorizados pelas leis municipais desta Legislatura

que é o que ele deveria ter feito antes de nos acusar para justificar suas defi-ciências administrativas.

Os quadros das isenções concedidas desmentem o Prefeito

Municipal, veja abaixo:

Total geral de isenções: .............................................1.006.499,77

Total geral deferidos: .............................................................5.063

Total geral indeferidos: ............................................................. 103

Total geral contribuintes: .......................................................5.166

2019 LEI TOTAL

DEFERIDOS TOTAL

INDEFERIDOS TOTAL DE

CONTRIBUINTES VALOR TOTAL

Aposentado – Lei 199/2015

1506 2 1508 535.724,75

Casa de 70m² - Lei

199/2015

3339 69 3408 397.721,59

Câncer/AIDS – Lei

9102/2016

17 12 29 7.711,23

Feira livre – Lei

8920/2015

165 6 171 56.210,86

IPTU Ecológico –

Lei 875/2015

14 3 17 4.621,64

Ponto de ônibus – Lei 4509/2017

22 11 33 4.509,69

Calçada arborizada –

Lei 9297/2017

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5Julho 2019 Judiciário

José Roberto Fernandes [email protected]

Engolindo o Bom PratoTribunal de Justiça manda Poder Público garantir o direito à alimentação implantando programa

Para aqueles (poucos) que ain-da entendem ser impossível o controle judicial das políticas públicas, o notá-vel acórdão do Tribunal de Justiça so-bre a falta do Bom Prato em Prudente demonstrou o quanto estão ultrapas-sados. Este julgamento ocorreu no dia 29 de maio de 2019 e decorre de ação civil pública proposta pela ilus-tre Defensoria Pública de Presidente Prudente que, como já registrei antes, vem prestando excelentes serviços à região. Lembro, por exemplo, da implantação do Ambulatório Médico de Especialidades (AME) em Wen-ceslau, da avaliação oftalmológica de alunos da rede municipal prudentina, dentre muitos outros casos.

No caso do Bom Prato, houve sentença julgando ação improcedente com base naquela velha teoria segun-do a qual o Poder Judiciário não pode se imiscuir nas decisões políticas. É uma compreensão superada segundo a qual só quem pode tomar decisões políticas são os Poderes Executivo e Legislativo. “Governar é escolher”, dizia nos anos 1950 um conhecido autor, e o Judiciário, que não escolhe, apenas se limita a aplicar a lei ao caso concreto. Ora, perante uma Constitui-ção que protege os direitos fundamen-tais como a nossa, esta compreensão mostra-se totalmente equivocada por-que ela já tomou decisões essenciais, afastando a liberdade do gestor.

Então, a Defensoria Pública – representada pelo Defensor Orivaldo Ginel Junior, que mereceria ser eme-dalhado pela Câmara – apresentou recurso de apelação que foi provido pelo TJ com base em diversos funda-mentos. Em primeiro lugar, a defesa da Prefeitura, segundo o acórdão, li-mitou-se a alegar, de forma evasiva e genérica, a ausência de recursos fi-nanceiros.

O Dr. Orivaldo, no entanto, afir-mou e demonstrou que cidades muito menores do Prudente já dispõem do restaurante popular para atender à população carente, tais como Ferraz de Vasconcelos, Barretos, Araçatuba e Jandira. Estes Municípios todos já aderiram ao programa – formatado pelo governo do Estado, em 2000 – o que, segundo o acórdão, permite con-cluir pela capacidade financeira de Presidente Prudente.

Em segundo lugar, a decisão observa que a Prefeitura fez uma op-ção imoral pelos animais em face dos homens.

Com efeito, aderindo às alega-ções do recurso, observou que a Ad-ministração local gastou, em 2018 e 2019, mais de R$ 500 mil para abrigo de animais e alimentação e hidrata-ção de cães e gatos de rua. Ainda que tais verbas fossem “carimbadas”, o Município tem empregado recursos para o atendimento de necessidades

de animais em detrimento da deman-da alimentar de pessoas pobres, o que é absurdo. Ao não trazer o Bom Pra-to, Prudente tomou a decisão política de não alimentar os homens - o que afronta os valores constitucionais li-gados à dignidade da pessoa humana. Por tal motivo, não se poderá afastar a necessidade de controle das políticas públicas quando vão nessa direção torta de desprezar o direito social à alimentação adequada.

Em terceiro lugar, entrando na teoria do Direito Público, a deci-são ressalta que os direitos sociais não podem ficar condicionados à boa vontade do gestor. Registra que ficou comprovada a existência de demanda local em relação à imple-mentação do programa de restauran-te popular e que esta demanda restou insatisfeita pela Prefeitura, que agiu e vem agindo com “inércia e descaso” (estas expressões estão no acórdão). Assim, os Desembargadores vislum-braram a ineficiência administrativa, o descaso governamental com direi-tos básicos, a inoperância na progra-mação orçamentária, determinando o cumprimento de direito fundamental estabelecido em favor das pessoas ca-rentes. Houve “inércia qualificada da administração local”, o que autoriza a intervenção do Poder Judiciário em benefício dos mais pobres.

Bem, o que dizer de uma de-cisão como esta? De início deve-se qualificá-la como histórica porque quebra de vez antigas compreensões como aquela do juiz sentenciante. Depois, sem dúvida será vexatória para a Prefeitura porque ela é vazada em termos fortes e impactantes, que,

com certeza, terão sido recebidos com enorme desagrado por parte do gestor municipal. A censura severa veio do Poder Judiciário.

Porém, mais do que isso tudo, deve-se elogiar o trabalho do Defensor Orivaldo Ginel Junior. Não houvesse ele demonstrado a plena capacidade financeira da Prefeitura (revolvendo as finanças públicas) e o descaso dela com a alimentação dos pobres, com certeza a decisão seria outra. Na ver-dade, quem lê a inicial (55 laudas) e lê o acórdão (16 laudas) percebe, clara-mente, que este aderiu, por completo, às teses da complexa argumentação inicial, cheia de números e de dados, além de sólida base jurídica, tudo para

permitir uma decisão judicial funda-mentada. Enfim, é uma decisão notá-vel que foi gerada a partir do traba-lho igualmente notável de um jovem Defensor Público que honra a nossa cidade. É uma pena que os demais legitimados para a ação civil pública – instrumento que defende os inte-resses coletivos – sejam tão tímidos e hesitantes ao propô-las. Com a De-fensoria não é assim e, atualmente, o Dr. Orivaldo será, com certeza, o mais brilhante operador do Direito atuante na cidade. Por força de atuação dele, o prefeito, com outras prioridades, vai ter de engolir à força o Bom Prato. Já os pobres, idosos, moradores de rua, agradecem.

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Eustásio de Oliveira [email protected]

6 Julho 2019Literatura

O sabor e o saber da bibliotecaDevemos ler os livros em vários tons e declinações, a essencial interrogação sobre a vida e os seus enigmas

Sábado, a minha diarista es-tava limpando a estante de livros e, de repente, um livro caiu com violência no chão. Fiquei preo-cupado porque tenho apego aos livros. Peguei-o. Senti que ele di-zia-me: Areje-me, faz tempo que você não me lê. Folheei e reli uns capítulos porque deixar de ler é morte instantânea. Ler não é ape-nas se informar, é também, e tal-vez, sobretudo, esquecer, e, por-tanto, “chocar-se com aquilo que em nós é esquecimento de nós”. Dos livros que lemos guardamos apenas fragmentos ou suas essên-cias. Quase não guardo detalhes, só a essência. O livro em questão era: “A Intolerância”. “Este livro é fruto de textos reunidos de vários autores, que examinam, “em esca-la mundial”, as raízes históricas, culturais e biológicas da intolerân-cia”.

Quando alguém “arranja” os meus livros e, sempre que isso acontece, enfrento sérios proble-mas de consciência e de persona-lidades em jogo. Explico-me: os livros para mim são criaturas vi-vas, com simpatia, predileções e ojerizas pessoais. São proveitosos e guias de caminhos para as nossas vidas. Sim, problemas de consci-ência porque há livros que são tão bons como o Farenhait 451, que não queremos que eles acabem mastigando lentamente cada pala-vra e cada frase para não a deixar fugir antes de lhe tirarmos o que queremos, porque de toda leitura cuidadosa é possível extrair con-clusões das mais diversas. Há li-vros tão maus que por mais que nos esforcemos não dá para ler mais do que uma página por dia, e a leitura arrasta-se mais lentamen-te. Os livros ruins são veneno inte-lectual, são águas sulfurosas: eles estragam o espírito. “Os livros nos deformam, para o bem ou para o mal”.

Na minha estante há um sa-boroso livro de Thomas Merton, o monge que ficou famoso com seu livro-confidência “A Montanha dos Sete Patamares”, onde narra a trajetória de sua conversão ao ca-tolicismo e outros, tipos “leves”, ou seja, aqueles que tratam de coi-sinhas lindas e gostosas, do tipo de Luis Fernando Veríssimo, Seleções Readers Digest. Devemos ler os li-vros em vários tons e declinações, a essencial interrogação sobre a vida e os seus enigmas pairam no ar. “Certos textos ou livros abrem espaços para mil especulações até desaguar na maior certeza possível que se diluirá no oceano do imagi-nário e assim infinitamente”.

Nunca tive problemas com os poetas, sempre os deixo mistu-rados com os romancistas, filóso-fos, teólogos, agnósticos, gnósti-cos, educadores, todos lado a lado: Richard Dawkins, Karl Marx, Bí-blia Sagrada, Joseph Ratzinger, Gustavo Corção, Tristão de Athai-de, modernistas, conservadores, fundamentalistas etc. Todos con-versam e não brigam entre si. Só tenho uma dúvida em deixar jun-tos Saint Exupèry ao lado de Ber-trand Russell, pois o misticismo do primeiro ficaria chocado com o cetiscismo do outro. Minha prate-leira não é cartesiana. É tipo “tora torra”.

Sou inabilitado para falar do livro de James Joyce, o “Ulisses”, mas sou capaz de relacioná-lo aos demais livros. Assim, sei que ele é uma reprise da “Odisséia”, que ele segue a corrente do fluxo da cons-ciência, que sua ação transcorre em um dia, mas que foi escrito em vários anos. Através da leitura de Shakespeare aprendemos que a na-tureza humana é igual em qualquer lugar, cultura e tempo.

E os meus livros continuam na santa paz do Senhor: alinhados em duas estantes, alguns ainda têm páginas lacradas, são virgens, mas as minhas mãos já os acariciaram.

Emprestar livros que não voltam é cortar laços afetivos. Eu já pratiquei a pilhagem de livros e a pilhagem obedece as leis de Lavoisier, segundo a qual nada se perde, nada se cria, mas tudo se transfere de uma estante á outra, num modo contínuo, por toda a eternidade.

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7Julho 2019 Jornalismo

Fabiana Alves, Roberto Mancuzo, Marco Ropelli e João Lucas Folgueiral

As mensagens divulgadas pela plataforma online The intercept Brasil, que evidenciam conversas entre o então juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, causaram impactos impor-tantes em diversas instituições, dada a relevância da operação Lava-Jato na his-tória recente do Brasil e o conteúdo das mensagens.Evidentemente, os meios

jornalísticos, tradicionais e alternativos, noticiaram e discutiram as repercussões das matérias publicadas pelo jornalista Gleen Greenwald, e, como sempre, a opinião pública as interpretou. Interessa a esta coluna, entretanto, entender à luz da teoria jornalística, os fatores envolvi-dos na produção dessa série de reporta-gens.

As mensagens de Moro e Dallagnol

Fator FuroFuro, em jornalismo, é um jar-

gão que se refere a uma informação pu-blicada por um veículo de comunicação antes de qualquer outro. É comum que esses furos, geralmente relacionados a notícias muito relevantes e que deman-dam investigação minuciosa, sejam veiculados pela mídia tradicional, em especial os jornais impressos, seguido dos telejornais. O Intercept, porém, é uma mídia online e alternativa, trabalha com agendamento de notícias diferente

dos veículos corporativos e ainda busca seu espaço de importância no cenário da comunicação no Brasil e no mundo.

Terem protagonizado um furo desta envergadura, é decisivo na afir-mação da comunicação alternativa como uma nova força no universo do jornalismo. Especialmente porque a Internet proporciona agora um prota-gonismo muito maior para quem antes tentava competir em vão com a grande imprensa.

Fator JornalistaO jornalista responsável pelas

publicações, Gleen Greenwald é um velho conhecido das terras tupiniquins. Por aqui, já venceu o prêmio Esso, ao denunciar as investigações crimino-sas realizadas pelo governo america-no a importantes políticos brasileiros. Neste mesmo caso, a organização e veiculação das revelações de Edward Snowden renderam a Greenwald o

prêmio Pulitzer, destinado a quem rea-lize trabalhos de excelência na área do Jornalismo.

É o Oscar no jornalismo in-ternacional. Por este currículo riquís-simo, pela integridade e respeito que Gleen merece e inspira, as revelações ganham mais fôlego e relevância, ain-da que a fonte de todas as informações seja anônima.

Fator FonteDe acordo com o Manual da

Redação da Folha de São Paulo, o si-gilo da fonte é garantido pelo artigo 5°, inciso XIV, da Constituição, mas a responsabilidade judicial sobre uma in-formação anônima é de quem a publi-ca. No caso da série de reportagens do The intercept Brasil, a responsabilidade é de Gleen Greenwald e da equipe de

reportagem do veículo alternativo. Em-bora setores da sociedade joguem dú-vidas severas, um jornalista do calibre de Greenwald dificilmente publicaria informações que pudessem causar a ele qualquer tipo de descrédito. Neste caso o fator jornalista e o fator fonte se com-pletam, confirmando a confiabilidade e relevância das revelações.

O novo O Imparcial

A partir deste mês de junho, o tradicional jornal prudentino O Im-parcial ganhou um novo fôlego. Sob a batuta do experiente jornalista Si-nomar Calmona, a única publicação impressa diária de Presidente Pru-dente terá pela frente o desafio de se reestruturar financeiramente, no campo administrativo e, por que não, também no aspecto jornalístico. Com uma nova perspectiva empresarial, a redação do jornal O Imparcial tem

pela frente a oportunidade de se reco-locar na sociedade como um espaço público de debates de assuntos de in-teresse dos prudentinos e moradores de toda a região.

A concorrência com os outros veículos também deve ser revista. O modelo de negócio e de jornalismo das edições impressas mudou e em dois principais pontos. O primeiro é não ficar correndo atrás de TV, rádio e online em assuntos factuais, já que vai perder por conta do tempo. Deve ser prioridade agora as interpretações dos fatos e não mais o fato em si. Se o trânsito ganha novos radares, a no-tícia já terá sido dada pelos outros ve-ículos e ao impresso caberá discutir o que isso interessa e como afetará o público em geral, por exemplo.

Neste sentido, vem o segundo aspecto. Jornais impressos precisam parar de ficar olhando para o estado, país ou mundo e começar a prestar atenção no “quintal de casa”. A inter-net já dá esta condição ao público.

Presidente Prudente e toda a região têm juntos uma população aci-ma de 1 milhão de habitantes. É um contingente que exige e precisa saber o que acontece ao seu redor. Deixe para a imprensa nacional, o assunto nacional. No máximo repercuta. Hora de arregaçar as mangas e trabalhar!

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8 Julho 2019Cultura

RECANTO POÉTICO

AMANHECERRaymundo Farias de Oliveira*

Um silêncio profundo veste a manhã deste sábado ensolarado. Tão profundo que me permite ou-vir o murmúrio das flores desabro-chando...

Saio a caminhar e, de repen-te, começo a ouvir na copa viçosa da quaresmeira, a maviosa sinfonia de coleirinhas e tico-ticos.

Lá mais adiante, cresce o canto monótono e triste do anu so-litário, em contraste com a alegria dos bem-te-vis em algazarra.

Repentinamente, os galos invadem a cantoria geral desta ma-nhã com a estridência de suas vozes metálicas. Vão cantando, cantando

aqui e ali... um diálogo sonoro in-terminável! Sempre se comunicam assim, desde os tempos bíblicos, até a chegada dos celulares....

Para minha surpresa, uma pomba-rola alça voo bem aqui na minha frente.

As andorinhas recortam o espaço com seus voos rasantes e vão pousar na antena espetada na cumeeira da casa grande.

Minha caminhada matinal chegou ao fim.

*Poeta e cidadão

venceslauense, entre

“otras cosita más”...

VIDROMara Liz Cunha*

Lembro da cozinhada mesa de vidro

do vinhodo vício

a parede da lavanderia quem diria...

das botasdas roupas no chão

do queijodo beijo

do amassodo cigarro de maço

do estardalhaçome deixou em pedaços

do cansaço e docolchão

*Bibliotecária pela Univ. Estadual de

Marília e pós-graduada pela Unesp daquela cidade.

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9Julho 2019 Fotografia

Adriano Kirihara, fotógrafo e jornalista prudentino, realizou a recente exposição “Um lugar chamado Antártida”, no Prudenshopping, de 1 a 10 de abril, com curadoria de Paulo Miguel.

Para conhecimento do extraordinário trabalho desse brilhante artista prudentino publicamos nesta página algumas das fotos exibidas no referido evento.

ARTE FOTOGRÁFICA

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10 Julho 2019Religião

Zelmo [email protected]

Os caminhos da féEm Prudente existem cerca de 160 templos, sendo 103 evangélicos, 42 católicos e 15 dos demais credos

Subia a avenida Coronel Marcondes, sentido centro, nas proximidades do PUM, e freei meu carro no semáforo de tra-vessia da Manoel Goulart. Da janela do veículo, divisei, à mi-nha esquerda, um velho casarão – pintado em cores escuras, tom avermelhado, quase oculto em meio às folhas de frondosa árvo-re – em cuja fachada lia-se um inusitado título: “ Igreja Evangé-lica dos Edifi cados na Rocha”!

- Pensei: “por que edifi -cados na rocha e não no bronze ou no aço? Por que tantas almas, tantos fi éis, vivamente interessa-dos em conquistarem o paraíso? Como seria esse paraíso, capaz de nos livrar das crepitosas cha-mas do inferno, colocando-nos de joelhos defronte, nada mais, nada menos, que Satanás!

O semáforo logo abriu pas-sagem para os veículos, circuns-tância esta que interrompeu mi-nhas refl exões, libertando-me da profunda letargia religiosa. Foi quando me dei conta de que os evangélicos, em nosso país, cres-ciam de uma forma tão avassa-ladora, que pareciam fadados a conquistar o maior número de fi -éis, no confronto com as demais religiões!

Por essa razão, nesta breve e despretensiosa crônica jorna-lística, permiti-me mensurar a grandeza da religiosidade pru-dentina e pesquisar na Prefeitura (leia-se Luchetti) quantos tem-plos existem em nossa cidade!

Muito embora, no Brasil, de acordo com o último senso realizado pelo IBGE nos idos de

2010, 64,6% dos brasileiros (123 milhões) se declararam católicos, enquanto 22,3% (42, 3 milhões) se disseram pertencentes aos de-mais credos, observo, no entan-to, que esses percentuais, passa-dos 10 anos, devem ter sofrido alterações, pois em nossa cidade – conforme apuramos na Prefei-tura Municipal – existem cerca de 160 templos religiosos, sendo 103 evangélicos ou protestantes, 42 católicos, e somente 15 dos de-mais credos religiosos.

O pior desta história, como a vejo, é que essa explosão dos evangélicos tem refl exos televisi-vos, pois, a cada mês, aumentam as programações do gênero, como o da Igreja Mundial do Poder de Deus, cujo apóstolo, Valdemiro Santiago, é a bonomia personifi -cada e tem forte apelo popular\; o Show da Fé, que ataca com o pastor R.R. Soares – muito mi-longueiro para o meu gosto; além da Igreja Universal do Reino de Deus, através do soi-disant “bis-

po” Edir Macedo, o poderoso, somente para citar os mais bada-lados.

No plano religioso, isto é tudo que a Igreja Católica jamais imaginou que pudesse aconte-cer em terra brasilis, tratando-se, como vejo, de um sério desafi o à hegemonia católica no plano dos cultos.

No entanto, não mais que de repente, os jornais noticiosos nos dão aviso de que uma das igrejas evangélicas, a Universal do Reino de Deus, responde por ações ju-diciais propostas por ex-pastores que afi rmam terem sido forçados, quando não, pressionados pela instituição religiosa a fazer vasec-tomia! E agora José?

Num dos casos mais recen-tes, o Tribunal Regional do Traba-lho condenou a Igreja Universal, em segunda instância, a pagar R$ 115 mil, em indenização por da-nos morais e materiais, a um pas-tor que prestou relevantes servi-ços nos templos de Honduras! O

pastor em causa alegou em Juízo que, para permanecer na igreja os pastores tinham que fazer vasec-tomia.

Não bastasse, há relatos de mutirões de cirurgia de esteriliza-ção, pagas pela referida institui-ção religiosa!

A dúvida que remanesce, para deslinde dos leitores, é a se-guinte: entre o voto de castidade, obrigatório para todos aqueles que se ordenam padres pela Igre-ja Católica, e a vasectomia, obri-gatória para os que preferem ser pastores evangélicos, qual seria a melhor alternativa?

Por outra: ser padre e dizer adeus ao matrimônio ou ser pas-tor, renunciar à fi liação, sem se privar das primícias do casamen-to, é dizer, do eterno feminino!

Não sei qual é a opinião dos leitores, mas, para este escriba, o melhor a fazer não é cantar um tango – como de praxe – mas dan-çar um tango, de preferência em companhia de uma mulher...

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lica dos Edifi cados na Rocha”! - Pensei: “por que edifi -

tantos fi éis, vivamente interessa-

nada menos, que Satanás!

nhas refl exões, libertando-me da

conquistar o maior número de fi -

religiões!

plos existem em nossa cidade!

milhões) se declararam católicos, enquanto 22,3% (42, 3 milhões)

alterações, pois em nossa cidade

42 católicos, e somente 15 dos de-

O pior desta história, como

evangélicos tem refl exos televisi-

as programações do gênero, como

Deus, cujo apóstolo, Valdemiro Santiago, é a bonomia personifi -

pastor R.R. Soares – muito mi-

da Igreja Universal do Reino de

po” Edir Macedo, o poderoso,

tudo que a Igreja Católica jamais

como vejo, de um sério desafi o à hegemonia católica no plano dos

evangélicas, a Universal do Reino de Deus, responde por ações ju-

que afi rmam terem sido forçados,

tomia! E agora José?

tes, o Tribunal Regional do Traba-

em segunda instância, a pagar R$ 115 mil, em indenização por da-

ços nos templos de Honduras! O

pastor em causa alegou em Juízo

mutirões de cirurgia de esteriliza-

ção religiosa!

obrigatório para todos aqueles

ja Católica, e a vasectomia, obri-gatória para os que preferem ser

tor, renunciar à fi liação, sem se

to, é dizer, do eterno feminino!

11Julho 2019 Cotidiano

O estelionatário, este conhecido...Tipos raros de delinquentes que ostentam três características: imprevisíveis, infalíveis e impagáveis

Da redaçã[email protected]

Quem nunca se deparou com um estelionatário? Para identificá-lo ganha curso, em nosso meio social, a expressão “mó um-sete-um” (maior 171), designativa da conduta daque-les que vivem para ludibriar e induzir em erro os incautos e que costumam ser enquadrados no respectivo artigo do Código Penal.

Os estelionatários são tipos raros de delinquentes, pois ostentam três características marcantes, a sa-ber: são imprevisíveis, infalíveis e, no mais das vezes, impagáveis.

Se não vejamos: imprevisíveis porque, comumente, nos grandes cen-tros, para não sermos vitimados por assaltantes, costumamos trancar nos-sas portas e janelas e assim, dificulta-mos, ao máximo possível, o assédio dessa categoria de criminosos. No en-tanto, quando nos defrontamos com os estelionatários, a imprevisibilida-de é a regra, pois raramente sabemos quando estamos sendo envolvidos pe-los mesmos...

Outra característica dos este-lionatários é a infalibilidade, ou seja, quando somos escolhidos como ví-timas, é bastante provável que eles tenham sucesso na empreitada, tendo em vista que, conforme prescreve o tipo penal previsto art. 171 do Códi-go, somos ilaqueados em nossa boa

fé e “induzidos em erro mediante ar-tifício, ardil ou qualquer meio fraudu-lento”.

A terceira característica dos estelionatários é que são impagáveis, pois nos fazem passar por bobos ou, como se costuma dizer, nos fazem de Migué!

Por esta última razão, as pesso-as não gostam de contar ou relembrar como foram vítimas desses delinquen-tes. Fazem-no, a contragosto, no mais das vezes, diante das autoridades po-liciais, onde costumam formalizar as respectivas queixas.

Feitas estas observações intro-dutórias, podemos relatar o caso que chegou ao conhecimento desta Reda-

ção e que envolve a venda de veículo através das redes sociais, via facebook.

Em resposta a um anúncio re-lativo à venda de um carro, a vítima recebe um telefonema do vizinho Es-tado do Mato Grosso do Sul, onde o estelionatário de plantão manifesta seu interesse na aquisição do mesmo. Para consumação da avença bastava que o carro fosse conduzido até a referida cidade.

O local do encontro, um dos melhores restaurantes da referida ci-dade, o estelionatário, trajava calça e camisa de linho e aguardava a chegada triunfal da vítima.

No atendimento, o interessado se apresentou cheio de mesuras, ob-

servando o veículo com atenção e fazendo, com a cabeça, um sinal de aprovação! Em seguida, a vítima é convidada a almoçar no restaurante em questão, explicando o estelionatá-rio à vítima que, após o almoço, iria dirigir o carro para sentir a potência e desempenho do respectivo motor.

Digerido o primeiro prato, so-licitaram a carta para escolha das res-pectivas sobremesas. Enquanto esco-lhiam, o finório, com toda delicadeza, solicitou as respectivas chaves para dar “uma voltinha no quarteirão”... coisa de minutos.

A vítima ficou temerosa, mas, de bom grado, assentiu, como reco-mendam os bons costumes.

As sobremesas encomendadas chegaram às mesas em cerca de dez minutos, que pareceram uma eterni-dade pela ausência do interessado! A vítima começou a transpirar e com muita dificuldade conseguiu comer a sobremesa. Dez minutos depois che-gou ao desespero. Pressurosa, pagou a conta, sem atentar para o respectivo valor e, ato contínuo, saiu em desaba-lada corrida até a Delegacia de Polí-cia mais próxima, onde, na presença do delegado de plantão, formalizou a queixa de estelionato.

Para abreviar este relato, nunca é demais lembrar que nunca mais se teve notícias do veículo que, na opi-nião dos experts, teria desaparecido numa oficina de desmanche... coisas de estelionatário!

Carzuilha de [email protected]

Fala, Carzuilha!SALVE SIMPATIA! Deus

nos acuda! Cocaína num avião da FAB! Agora é “Farinha Aérea Bra-sileira”! Melhor que o helicóptero do sítio do Aécio! Então quando o governo falou que ia acabar com as drogas no país, era levando tudo pra fora! Gostei do plano! E a partir de hoje a gente já sabe: maconha é de esquerda enquanto cocaína é de di-reita! HAHA!

Pior que, após ficar sabendo dessa notícia, me surgiram duas dú-vidas: (1) Acharam 39kg de cocaína e não 40? Quem compra 39kg de alguma coisa? Eu acho que levaram uma parte pra uso pessoal! Vai ver o Weintraub vai usar esse tablete fal-tando pra explicar novos cortes na educação, igual ele fez aquela vez! Ou o Carluxo tá usando pra poder escrever os tweets dele! (2) Com 39kg dentro de um avião, esse cara pagou bagagem extra? Teve de testar os pacotes naquela caixa de papelão do aeroporto pra saber se podia voar? HAHA!

E agora não é mais Lava-Jato, é Vaza-Jato! O Intercept tá soltan-do todas as conversas do Moro – à

prestação ainda! Parece série da Ne-tflix! Tá melhor que o final de Game of Thrones! Eu se tiver de dar nome pra essa série, seria “Governo em Ver-tigem”!

E o Moro já tá com “saudade do que ainda não viveu” com o STF! E indo no programa do Ratinho! Se fizer

DNA vai ver que ele é pai do governo! E inimigo dos “tontos do MBL”! Ali-ás, gostei do discurso dele no Senado! Parecia o Temer falando! Só faltou as mesóclises!

Falando em governo, o Bolso-naro deu a ideia de uma moeda única pro Mercosul. Perfeito! Já transforma

o “portunhol” em linguagem oficial daqui (castelhano não porque é coisa de cubano!) e o alfajor em símbolo gastronômico! E Pedro Juan Cabal-lero como capital pra “negócios”! Aí fica tudo certo!

Depois ele foi pra cúpula do G20. E voltou cheio de colar de ni-óbio! Mostrou até na live do Face-book: tava parecendo apresentador de canal de TV às 3 da manhã! Só faltou os tapetes persas pra vender! Será que foi o presidente da china que repassou as bijuterias pra ele? E será que ele prefere nióbio ou ônix? HAHA! E essa Copa América? Só tá ganhando quem tá indo dormir mais cedo! E a Comembol, que tá lucran-do mesmo com estádio vazio! Mas também, se for pra ver gente de verde e amarelo sem saber o que fazer, eu vou em manifestação! HAHA!

E eu vou nessa! E dessa vez é pra não voltar mais... a crise tá tão feia que até o jornal acabou! Agora vou ter de voltar a trabalhar de verda-de! E não sei quando eu volto, então, vamos ficando por aqui dessa vez!

Até um dia!

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12 Julho 2019História Regional

Zelmo Denari [email protected]

A Farmácia GuarucaiaNesta derradeira crônica no Pio-pardo, explico como meu pai foi bem sucedido na sua profissão

Guarucaia é o nome de uma árvore muito utilizada na arbori-zação urbana, também atribuído à antiga povoação onde nasci.

Nem de uma, nem de outra, pretendo me ocupar nesta coluna, mas sim da Farmácia Guarucaia, nome escolhido por meu pai, Le-onildo Denari, quando, nos idos de 1927, farmacêutico formado, resolveu instalar sua farmácia na referida povoação, já designada Presidente Bernardes.

A escolha do velho não foi obra do acaso, mas determinada pelo fato de que, na referida ci-dade, morava minha mãe, que co-nhecera na cidade de São Carlos e com a qual pretendia “convolar núpcias”. De fato, com ela se ca-sou e desse casamento nasceram 7 filhos, dos quais, fui o quinto de uma série.

Nesta minha derradeira crônica neste tabloide, pretendo somente explicar como meu pai, na qualidade de farmacêutico, foi bem sucedido na sua profissão.

Antes de iniciar suas ativi-dades farmacêuticas, o velho teve a feliz ideia de passar por Cam-pinas onde, no Instituto Penido Burnier, logrou fazer um curso de conhecimentos na famosa clínica oftalmológica. Naquela ocasião, já clinicavam em Presidente Ber-nardes, os médicos doutor Tostes e doutor Guerra, ambos amigos de meu pai.

Deu-se, então, que a farmá-cia do meu pai passou a ser procu-rada por todos os sitiantes que não dispunham de recursos para pagar honorários médicos.

Meu pai, por sua vez, aten-dia a todos os que se serviam das farmácias como lenitivo para seus males e vinham à cidade montados a cavalo, ou tangendo carrocinhas, nas quais traziam esposas e filhos, inclusive recém-nascidos.

Ao longo da minha infância, acostumei-me ver meu pai abrin-do furúnculos, tumores, fazendo curativos até a cicatrização das respectivas feridas, bem como examinando os olhos dos seus pa-cientes.

E nunca é demais esclarecer que, à época, os abcessos eram muito frequentes, porque ainda não haviam sido descobertos os antibióticos, mais precisamente, a penicilina, que só surgiu após a Primeira Guerra Mundial, nos idos

Farmácia Guarucaia – Imagem histórica (1928), restaurada por Foto Imperial

de 1946.Significa dizer que não era

fácil debelar as infecções genera-lizadas que costumavam vitimar a população rural do país, sendo certo que, além de cuidar destas infecções, meu pai se ocupava, também, das dores de olhos, muito frequentes, na população rural.

Recorda-me de uma madru-gada, cerca de 4 horas da manhã, um sitiante, como de costume, co-meçou a gritar: “seu Leonildo, oh! seu Leonildo! ”

Acordei com os repetidos chamamentos e resolvi descer as escadas da nossa casa, acompa-nhando meu pai – que já havia acordado – até a farmácia, no tér-reo.

Foi quando nos deparamos com um pobre coitado que se re-torcia e berrava sem cessar, com os olhos vermelhos e muito in-chados. Meu pai indagou o que havia acontecido, ouvindo, do acompanhante, que ele estava com dor-d’olhos e, desgraçadamente, ouviu o conselho de um amigo, despejando nos olhos sua própria urina!

Meu pai ficou estupefato! De minha parte, pensei em voltar ao quarto, mas resolvi ficar, para saber o desfecho.

O homem sentou-se numa cadeira próxima à pia, comumente utilizada para curativos, e meu pai começou a fazer a limpeza dos olhos, com algodão e soro fisioló-gico. Durante o tratamento o coita-

do não parava de gemer, repetindo:- Seu Leonildo, ai! seu Leo-

nildo! Depois de alguns minutos, ele

ainda berrava, quando meu pai apa-nhou um pequeno tubo de pomada e aplicou seu conteúdo nos olhos do paciente, cobrindo em seguida os olhos com gases e ataduras.

Cinco minutos depois, o pa-ciente não mais berrava, só gemia! Em seguida, deixou de gemer. Só suspirava... Minutos depois o acompanhante se despediu e, agra-decendo muito meu pai. Subiu na carrocinha, para retornar ao seu destino. Antes de partir, solicitou

que meu pai marcasse na respectiva conta, o atendimento clínico.

Quando subíamos a escada da casa de retorno ao leito, ousei perguntar ao meu pai:

- Pai...o homem berrava tan-to! Que pomada foi aquela que o senhor usou para acabar com o so-frimento do pobre coitado?

Meu pai, com a habitual bo-nomia, respondeu:

- Elementar meu filho... po-mada anestésica.

*Em homenagem ao meu pai, Leonildo Denari.

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13Julho 2019 Meio Ambiente

Da redaçã[email protected]

Devastação das nossas florestasNo Brasil foram desmatados 1,3 milhão de hectares, é o país que mais perdeu árvores no ano passado

Cerca de 12 milhões de hectares de florestas tropicais desapareceram em 2018, o equivalente a 30 campos de fu-tebol por minuto. Só no Brasil, foram desmatados 1,3 milhão de hectares de florestas - é o país que mais perdeu ár-vores no ano passado.

Os dados de 2018 são do Global Forest Watch, atualizado pela Universi-dade de Maryland, nos Estados Unidos. O levantamento mostra o complexo re-trato do desmatamento em áreas densas de florestas tropicais - da Amazônia, na América do Sul, a África e Indonésia.

A maior preocupação apontada pelo relatório diz respeito à destrui-ção continuada das florestas primárias, como são chamadas as áreas com as ár-vores mais antigas e que não são fruto de replantio.

De acordo com o relatório do Global Forest Watch, uma área de flo-restas primárias equivalente ao tama-nho da Bélgica foi destruída em 2018.

Florestas primárias, como mencionado antes, são aquelas que se encontram em seu estado original, que não foram afetadas pela ação humana. Algumas das árvores nessas áreas têm centenas ou até milhares de anos de idade.

Elas são essenciais para a manutenção da biodiversidade - são abrigo de animais selvagens, como onças, tigres, macacos e di-ferentes espécies de aves.

Essas árvores também são essenciais para o controle do aquecimento global, já que arma-zenam dióxido de carbono, des-taca o relatório do Global Forest Watch. Por isso, a perda de mi-lhares de hectares de floresta em 2018 é tão preocupante.

“Para cada hectare perdido, estamos um passo mais próximos dos desastrosos cenários projeta-

dos para o aquecimento global”, diz Frances Seymour.

REPERCUSSÃO DA MATÉRIA - A presente maté-ria reproduz o Relatório anual da Global Forest Watch (Sentinela da Floresta Global), divulgado pela G1 no dia 25 de abril e que, pela importância do seu conteúdo, vai reproduzido em sua íntegra.

No mesmo dia, a TV Globo News entrevistou nosso Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, que, em contraposição ao referido relatório, afirmou que o nosso país é campeão em sustentabilidade e que possuímos um dos maiores patrimônios florestais do mundo. Como se pode constatar, a atuação governamental do nosso ministro do Meio Ambiente tem o sabor de “crime de lesa pátria”.

Brasil é o país com mais desmatamento

Brasil e Indonésia foram res-ponsáveis por 46% do desmatamento de florestas tropicais no mundo em 2018. O percentual é bem menor que o revelado pelo relatório de 2002, que mostrou que só esses dois países foram responsáveis por 71% das perdas de árvores tropicais.

Mas o grande mérito na redução não é do Brasil, e sim da Indonésia, onde a perda de floresta primária foi 40% menor no ano passado que a taxa média entre 2002 e 2016.

O Brasil vivenciou uma queda significativa no desmatamento entre 2007 e 2015, de cerca de 70%. Mas incêndios - muitos deles provocados intencionalmente - provocaram grande aumento entre 2016 e 2017.

A área de floresta primária des-truída no Brasil em 2018 – 1,3 milhões de hectares - foi menor que em 2017. Mas ainda assim está acima da média histórica do país.

“Pode parecer tentador come-morar essa queda nos últimos dois anos, mas quando observamos os úl-timos 18 anos, fica claro que a tendên-cia é de alta no desmatamento. Esta-mos longe de vencer essa batalha”, diz Frances Seymour, do World Resources Institute, que administra o Global Fo-rest Watch. Na Amazônia, especifica-mente, o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) registrou, entre agosto de 2017 e julho de 2018, au-mento no desmatamento de 13,7% em relação aos 12 meses anteriores - o pior resultado em 10 anos.

O Global Forest Wacth destaca que várias áreas de florestas desmata-das em 2018 ficam próximas ou den-tro de territórios indígenas. A reserva Ituna Itata, que abriga índios isolados, perdeu mais de 4 mil hectares em de-corrência de exploração ilegal de ma-deira.

Por que os novos dados da Global Forest Watch são relevantes?

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14 Julho 2019Nacional

ULTIMAS NOTÍCIAS

Nossa Suprema Corte, por aque-las razões, manifestou tendência, logo detectada por experts, de que Lula se-ria libertado pela sua Segunda Turma. No entanto, pairava no ar uma grande interrogação, tendo em vista que os militares não querem soltar Lula, pois temem ser desmoralizada a onda anti-

corrupção. Por outro lado – segundo o analista da Folha, Igor Gielow (25/06) – o general Villas Bôas teme perder o controle da governabilidade, com a liberdade de Lula... Por esta razão, a esquerda deve seguir os próximos me-ses de olho na Suprema Corte, última esperança da libertação de Lula.

A prisão de Lula IA prisão de Lula começa a ser

questionada depois das revelações do Intercept Brasil, sobre conversas con-fi denciais entre o juiz Sérgio Moro e o implacável, mas suspeito, procurador Deltan Dalagnol. As referidas revela-ções, segundo Nelson Barbosa, refor-çam as suspeitas de que, nos últimos anos, houve uma operação política ile-gal contra o PT e Lula. Em uma demo-cracia consolidada, Lula já estaria sol-

to e Moro, afastado de suas funções, pois violou uma penca de artigos do Código de Ética da Magistratura. Para Reinaldo Azevedo (Folha de 21/06) se houver lei neste país e se for obedeci-do o devido processo legal, a condena-ção de Lula é nula.

Finalmente, para Elio Gaspari, a permanência de Moro no governo ofende a moral, o bom senso e a lei da gravidade...

A prisão de Lula II

A crise sempre atualSegundo o historiador prudenti-

no, Marcos Costa, em seu livro “A Cur-vatura da Banana”, editado no ano de 2018, pela Estação Brasil, o Brasil sofre de uma espécie de psicopatia incurável, dividida em ciclos. Se ultrapassamos o quinto ciclo, - de 1965 a 1988 – com a abertura política e a redemocratização, vivemos, atualmente, o sexto ciclo, de 1989 até a presente data, caracterizado por uma crise política, econômica e ética sem precedentes. O Brasil continua po-bre, com 50 mil trabalhadores em con-dições de trabalho análogas à escravidão e 13 milhões de analfabetos. Na opinião do nosso historiador “o Brasil não muda nunca, é a peculiaridade do país, sua na-tureza, como a curvatura da banana”.

Extração ilegal de madeiraA julgar pela recente

operação da Polícia Federal que desarticulou um esque-ma de corrupção envolvendo empresários que davam aval à extração ilegal de madeira na Amazônia e que resultou no bloqueio de R$ 50 milhões de empresas investigadas e na expedição de 23 mandados de prisão preventiva, o desmata-mento daquela região vinha avançando a passos largos, com integral apoio do nosso presidente, Jair Bolsonaro. Im-buído desse propósito, o mes-mo chegou a editar uma me-

dida provisória que devolveu ao Ministério da Agricultura a atribuição de demarcar terras indígenas.

No entanto, até o en-cerramento desta última edi-ção do Pio, fomos salvos pelo gongo: o ministro da Suprema Corte, Luiz Roberto Barroso, determinou, em caráter limi-nar, a suspensão da medida provisória permissiva do des-matamento, baixada pelo nos-so presidente. Trata-se de uma decisão corajosa e que nos per-mite afi rmar: ainda temos Juí-zes na Suprema Corte!

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15Julho 2019 Variedades

Sérgio [email protected]

AVENTURAS DE ADÃO E EVA

Crédito foto: Intervenção artística by Nelson

O filme “Nunca aos Domingos”, dirigido em 1960 por Jules Dassin, narra a história de uma prostituta, protagoniza-da por Melina Mercouri, então chamada por Ilia, que exercia sua antiga profissão durante todos os dias da semana, menos aos domingos, dia então dedicado a con-viver com os seus amigos num bar ou na praia do porto grego do Pireu.

Surge no ambiente um norte-a-mericano, chamado Homer, que havia desembarcado na Grécia para pesqui-sar a causa que levou os gregos de hoje a fugir do figurino do passado, não se identificando com Platão, Aris-tóteles e Sófocles.

Homer é protagonizado por Ju-les Dassin que, na vida real, era espo-so de Melina Mercouri. Em razão de seu extraordinário trabalho, Melina recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes. Faço referência às últimas cenas do filme.

Num domingo Ilia vai ao bar encontrar-se com os amigos. Ali está Homer. Todos bem emburrados. Ilia pergunta onde está o músico Táki que já deveria estar tocando o seu instrumento denominado “bazouka”. Os presentes esclarecem que Taki está numa sala dos

Nunca aos domingosFilme narra a história de uma prostituta que exercia sua profissão apenas durante a semana

fundos e que se nega a tocar qualquer mú-sica.

Ilia dirige-se à sala dos fundos e insiste com Taki para que venha ao sa-lão principal apresentar suas músicas. Taki avisa que jamais tocará qualquer instrumento porque não havia estuda-do música, não sabendo o que era col-cheia, semicolcheia, fusa e semifusa. Esclarece que o americano Homer ha-via sentenciado que quem não conhece essas regras não pode tocar qualquer instrumento musical.

Ilia fica brava. Dizendo que Ho-mer estava redondamente errado tanto que os pássaros cantam o dia todo sem

conhecer qualquer nota musical. Ilia acrescenta que os pássaros e os músicos de boteco não conhecem o que é colcheia e semicolcheia mas que, mesmo assim, cantam o dia todo.

Daí se extrai que quem não con-segue apresentar a música tirada da natu-reza, vê-se obrigado a criar a linguagem construída pelos homens. Ilia conclui que quem não tem a música na alma, vê-se obrigado a conhecer a linguagem daque-les que guardam a arte dentro dela.

Taki, convencido por Ilia, volta ao salão principal, toma seu instrumento, põe-se a encantar o domingo dos gregos. O tema já tinha sido referido durante o

filme, ao destacar o aparente conflito existente entre a natureza e a linguagem criada pelos homens para tentar compre-endê-la.

A dificuldade está esparramada por toda parte e já foi objeto do pequeno grande livro “Sobre los limites del lin-guaje normativo”, do aplaudido jurista argentino Genaro Carrió.

Um tema abismal é a definição do limite da existência da norma de conduta que pode apresentar-se como pública ou privada, constitucional ou infraconstitucional, assim evoluindo pelos caminhos indicados pelos méto-dos, muito dos quais se chocam como se estivessem presentes no juízo final.

Seria possível ampliar o discurso de Ilia para acrescentar que alguns seres fazem música naturalmente. E outros não, mas, que assim, acabam inventan-do uma linguagem musical, reduzindo-a às fusas e às colcheias, para que possam lidar com algo que naturalmente não se apresenta em sua alma. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, segundo os lógicos.

O americano Homer acaba por aderir ao ambiente e põe-se a beber e a dançar. Aproxima-se de Ilia e, num arroubo, grita que ela é um “símbolo”. Um dos frequentadores imediatamen-te corrige para dizer que Ilia não é um “símbolo”, mas, sim, uma mulher.

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16 Julho 2019Memória

De repente me dou conta de que poucos, exceto os de minha ge-ração, sabem o significado da “chega-da” de um circo-teatro na aldeia, na década de 1940...

O circo costumava se instalar na rua da minha casa, onde meu pai era o farmacêutico responsável por uma botica, que ainda conserva seu primitivo nome. No mesmo local onde se instalava o circo, encontra-se erguido, hoje, o prédio da Prefeitura Municipal. O circo-teatro, como o próprio nome indica, nada tinha a ver com os circos de hoje, por uma razão muito simples: era formada por duas trupes: uma de comediantes (palha-ços) e trapezistas e outra que podería-mos chamar de artistas, encarregados de montar e representar peças teatrais.

E isto, por incrível que pareça, não acontecia somente nos circos da época, mas também nos parques de diversões. Recorda-me de um deles onde, num pequeno tablado erguido em meio aos jogos e diversões, soava uma campainha nos dando aviso que iria começar a função, vale dizer, um verdadeiro teatro de comédias. Mas não menos divertidos e rocambolescos eram os circos-teatro que chegavam à aldeia. As melhores e mais famo-sas peças circenses eram encenadas nas noites encaloradas de sábado e os circos eram obrigados a manter uma enorme trupe de artistas, cenógrafos, diretores de palco, entre outros.

Juca Gaudério [email protected]

O circo-teatro na aldeiaAs melhores e mais famosas peças circenses eram encenadas nas noites encaloradas de sábado

ATÉ QUE UM DIA – sempre existe um dia, que pode impactar as vidas das pessoas, onde quer que elas se encontrem - o circo que costuma-va afixar em todas as esquinas da aldeia, uma tabuleta de metal divul-gando, em letras garrafais pintadas a cal, o nome da peça a ser encenada no final da semana, revelou o respec-tivo nome: “O céu uniu dois cora-ções”! Foi quando este escriba teve

uma brilhante ideia (em se tratando de um menino da aldeia), logo aco-lhida por todos os coleguinhas: sair pelas ruas, apagando a letra “é” da palavra “céu”, de todas as tabuletas afixadas nas esquinas! Os passantes liam e saiam rindo da palhaçada e, por conta disso, o espetáculo teatral noturno lotou o circo de um tanto, como jamais havia sonhado os donos da trupe circense!

OS ARTISTAS – compreen-dendo os mais categorizados, como técnicos que montavam o circo, apre-sentadores, artistas masculinos e fe-mininos que encenavam as peças te-atrais, além dos trapezistas, palhaços, motociclistas, que se apresentavam no Globo da Morte, inclusive os menos categorizados, denominados amarra--cachorros – se instalavam na aldeia,

alugando quartos ou cômodos em di-versos locais. Muitos desses artistas se integravam de tal forma aos usos e costumes da aldeia, que participavam até dos jogos de futebol, durante os fins de semana! Assim sendo, chegada de um circo era sempre um aconteci-mento marcante, pois sacudia os usos e costumes dos moradores das peque-nas cidades.

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17Julho 2019 Variedades

Sérgio Gouveia

E, embora caias sobre o chão, fremente,/afogado em teu sangue estu-oso e quente, /ri! Coração, tristíssimo palhaço.” Esse trecho, retirado do po-ema “Acrobata da dor”, que foi escrito pelo negro simbolista Cruz e Souza no final do século XIX, parece ser a ordem que temos nos dado hoje em dia: sermos acrobatas da dor; convivermos com o sofrimento e, ainda assim, rirmos; ser-mos palhaços - tristes sim, mas palhaços.

Como se sabe, o Simbolismo – mais chamado de Decadentismo na Europa - é o nome que se dá à esté-tica literária que, no final do século XIX e ainda no início do século XX, foi predominante nas belas letras oci-dentais. Poetas simbolistas retoma-ram temas tristes do ultraromantismo - mas com mais sonoridade e mais intensidade em sua angústia existen-cial – e uniram isso ao rigor formal que os parnasianos haviam realimen-tado. Separaram-se do patriotismo

Acróbatas da dor

quase cego de alguns românticos e do parnasiano Olavo Bilac e afasta-ram-se do descritivismo de paisagens naturais e de objetos sem vida dos parnasianos; mas não se livraram da corrente do formalismo que os pren-deu e os destacou por muito tempo. Suas poesias, em geral evidências da falta de crenças no mundo material, faziam referência a temas místicos e se afastavam dos princípios da lógica e da razão clássica. O indivíduo das poesias simbolistas se sobrepõe ao corpo social no qual ele se insere; a organização do mundo não o satisfaz e ele não se vê encaixado nela; está preso a ela por obrigação existencial, vê-se nela e, não raramente, faz alu-são à morte como boa saída para suas angústias. Sua estética marcada pela musicalidade – aliterações e assonân-cias abundantes – parece ser um con-vite à superação dos limites materiais e, ao mesmo tempo, um alerta muito forte sobre eles.

A experiência de ler e enten-der os simbolistas é, sem sombra de dúvidas, um grande convite para en-contrar beleza na tristeza e, mais que isso, perceber que é impossível ser feliz o tempo todo. Alguns concluirão - após boa convivência com os brasi-leiros Cruz e Souza e Alphonsus de Guimarãens e com o francês Charles Baudelaire - que a morte é realmente o melhor que nos pode acontecer em vida. Outros concluirão que é melhor ler esses textos do que acompanhar os noticiários que nos mostram quão desrespeitados somos diariamente. Outros tantos - que nunca aprenderam a ler bons textos, a ler o mundo e a se ler – já concluíram que são sábios fe-lizes; asseguram que os admiradores desses textos difíceis da literatura são tontos, loucos, desocupados. Tristes conclusões.

Um grito parado no Ar

“Polícia mata, trabalhador produz”. Era assim que gritavam os estudantes de universidades pú-blicas brasileiras na década de 90 enquanto faziam seus protestos contra os abusos policiais e contra a ineficácia dessa instituição naquela época. Hoje seus protestos seriam chamados de balbúrdia pelos mais equilibrados; os mais exaltados chamariam as ações daqueles jo-vens de atos de vandalismo e até diriam que eles não sabem de nada - nem mesmo a fórmula da água, nem mesmo quanto é 7x8.

Aqueles que eram estudantes naquela época, contudo, hoje são pais de família, são trabalhadores, têm responsabilidades e não saem às ruas para protestar - no máximo fazem um passeio dominical com a família e chamam isso de manifes-tação pacífica. Eles continuam sa-bendo que há abuso policial por aí;

mas não os denunciam. Continuam sabendo que nosso aparelho poli-cial é ineficaz; mas se calam. Não ficam indignados com isso, afinal, não são eles as vítimas comuns dos abusos policiais.

A universidade pública da-quela época lhes deu possibilidade de ascenderem socialmente e de se equilibrarem economicamente.

Os estudantes daquela época são os quarentões de hoje; são os tiozões da Sukita a se incomodarem com sua pouca libido, com sua meia realização e com sua parca vida. Querem correr a 140 km/h em seus carros com airbags para se sentirem em altas aventuras. Querem liber-dade para xingar os pobres que os incomodam no trânsito. Querem segurança em seus condomínios fechados. Se gritassem contra a po-lícia, não gritariam mais “polícia mata”; gritariam “polícia multa”.

Não é bonito ser feio

“Você pensa que é bonito ser feio.” Essa frase é cantada pelo cômi-co Batoré e pode ser entendida como uma interrogação ou como uma afir-mação. No contemporâneo, parece mais coerente interpretá-la como uma afirmação.

Há muita gente que pensa ser bonito não ler, não estudar, não res-peitar as ciências, não valorizar a diversidade, não valorizar princípios éticos nos relacionamentos humanos, não respeitar normas de conduta ne-cessárias em processos jurídicos e não dialogar com seriedade epistê-mica. Há muita gente que pensa ser bonito não saber o que é seriedade epistêmica.

Há muita gente que pensa ser bonito defender o uso descontrolado de agrotóxicos, facilitar o porte e a posse de armas, condenar réus a partir de indícios e não de provas, diminuir o controle de velocidade nas rodovias e até mesmo acabar com o exame to-xicológico para motoristas de ônibus

e caminhões - um importante instru-mento para evitar ébrios dirigindo nas ruas e estradas do país. Há muita gente

que pensa ser bonito não saber o que é ébrio. Para essa muita gente esdrúxu-la que conhece Batoré, não conhece o

senso crítico e pensa tudo isso aí, vai um pedido com palavras do próprio co-mediante: Ah, para, ô !!!

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18 Julho 2019Curtas

[email protected] Denari

Na Nigéria, onde 93 milhões de pessoas vivem em pobreza extrema, segundo dados do monitor World Po-verty Clock e não usufruem de sane-amento básico, a médica Nkasi Nebo distribuiu nos últimos sete meses, 2 mil coletores menstruais às africanas moradoras de comunidades rurais afastadas, que foram recebidos com muito alegria pela nigerianas, porque é feito de silicone, material que pode ser usado no colo do útero, com o formato de um copinho, sem proble-

ma de infecção. As nigerianas mais pobres utilizam panos como absor-ventes menstruais, o que causa pro-liferação de bactérias que costumam causar a síndrome do choque tóxico, além de infecções urinárias. Pontos para o novo projeto nigeriano, que poderia ser desenvolvido em nosso país, onde, nas camadas mais pobres da população, vivenciamos o mesmo problema de educação sexual.

(Folha de 3/06 ).

Cabeças de abóboraAdélio Bispo, autor da faca-

da que vitimou nosso presidente, foi julgado, considerado inimputável, e condenado a passar o resto da vida no manicômio judiciário. Bolsonaro ponderou que vai recorrer da decisão porque se trata de um crime cometi-do contra um candidato à Presidência da República... Por sua vez, Lula dis-se que “aquela facada tem uma coisa

muito estranha, uma facada que não aparece sangue, que o cara é protegido por seguranças...” Como se depreende das respectivas respostas, Lula e Bol-sonaro são dois “cabeças de abóbora” (ou de “zucca”, como costumam dizer os italianos), incapazes de compreen-der que o algoz é um desequilibrado mental. Bem observados, cada um à sua maneira, são dois idiotas.

O jornal noticioso local, O Imparcial, informa que a Pro-curadoria Geral da Justiça in-gressou com uma Adin junto ao Tribunal de Justiça, com o obje-tivo de ser declarada inconstitu-cional o abono salarial pago aos servidores municipais ativos, no valor correspondente a 75% dos respectivos vencimentos. O refe-rido abono, no entendimento da Procuradoria da Justiça tem vício de origem, pois foi instituído por meio de decreto do chefe do Po-der Executivo no dia 31 de maio de 1996, há cerca de 23 anos e depois convertido na Lei munici-pal nº 4.546 de 1997. No entendi-mento da PGJ trata-se de preceito inconstitucional, por ofender aos princípios da moralidade, razoa-bilidade e do interesse público...

Uma bomba no município

A notícia mais triste deste inverno

Nos últimos três anos, quase dobrou o número de moradores de rua da cidade de São Paulo. No final de 2018, os assistentes sociais mu-nicipais constataram que cerca de 105,3 mil pessoas foram abordadas nas calçadas da cidade.

O fato determinante para o aumento da população de rua é o desemprego, porque serve como ca-talizador de conflitos familiares. Se-

gundo o professor de Psicologia da USP, Jorge Broide, “o que faz uma pessoa ir para a rua é o rompimen-to de uma série de vínculos além do familiar, que serão refeitos apenas com pessoas que se encontram na mesma situação.”

Tendo presente a atual crise que atravessa nosso país, os núme-ros do corrente ano podem surpre-ender os assistentes sociais.

O presidente da Funai, o general da reserva Franklimberg de Freitas, foi um dos primeiros a ser fritado pelo nos-so presidente, que anunciou em junho sua saída do cargo. O general queixou--se, publicamente, do secretário espe-cial de Assuntos Fundiários – nosso conterrâneo, Nabhan Garcia – que se-gundo ele “saliva ódio aos indígenas”, com as seguintes palavras: “quem as-sessora o senhor presidente não tem co-nhecimento de como funciona o arca-bouço jurídico que envolve a FUNAI”.

Ousamos discordar do ilustre ex--presidente: nosso conterrâneo, Nabhan Garcia, tem perfeito conhecimento do papel que deveria desempenhar na FU-NAI, qual seja, o de acabar com o DPT – Departamento de Proteção Territorial daquele órgão, encarregado de proteger a população indígena e demarcar suas terras. Cumpriu sua missão e, assim como nosso presidente, será julgado pelos nossos pósteros.

O exterminador de índios

O substituto do absorvente vaginal

Nabhan Garcia

Presidente da Funai,

o general da reserva

Franklimberg de Freitas

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19Julho 2019 Literatura

O triunfo da direita

PIO – Bob, você pode nos explicar o signifi cado da sigla LGBTI?

BOB CRASY – Muito fá-cil:

L signifi ca lésbica: ou seja, mulher que gosta de mulher;

G signifi ca gay: ou seja, homem que gosta de homem;

B signifi ca bissexual, ho-mem ou mulher que gosta do mesmo sexo ou do sexo oposto;

T signifi ca transexual, ho-mem ou mulher, com caracterís-ticas sexuais do sexo oposto, e

I – signifi ca intraculo...homem ou mulher que gosta de sexo anal !

Advogado de Nájila, livrando-a do assédio da

imprensa no caso Neymar

Diante de um pe-queno número de fi éis o pastor exclamou:

- Quem quiser ir para o céu, levante a mão.

Todos os fi éis le-vantaram suas mãos, à exceção de um matuto sentado na primeira fi -leira. O pastor, então, indagou por que ele não queria ir para o céu?

- O senhor não entendeu, padre, que-ro ir para o céu... mas depois de morrer. No momento, não quero participar dessa excur-são...

A primeira vez numa aldeia O primeiro encontro

O sermão paroquial

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20 Julho 2019Humor

Richard de [email protected] bico