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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS Edição 93 [03/07/2012 a 11/07/2012]

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Page 1: ASSESSORIA DE IMPRENSA DO GABINETE - … a... · sobre o mito do gaúcho –, mas os principais destaques da seleção são os oito longas brasileiros, que ... Jornal de Brasília

RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 93[03/07/2012 a 11/07/2012]

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Sumário

CINEMA E TV...............................................................................................................4Zero Hora - Brasileiro bom de prêmios............................................................................................4Zero Hora - Rumo à edição de 40 anos..........................................................................................5Jornal de Brasília - O rock de Brasília no Chile...............................................................................6Zero Hora - A vida depois do furacão..............................................................................................6O Estado de S. Paulo - Cineasta brasileiro prepara cinebiografia sobre Dom Pedro II...................7O Estado de S. Paulo - Estrada para a latinidade...........................................................................9O Globo - Fim de férias.................................................................................................................10

TEATRO E DANÇA....................................................................................................12Correio Braziliense - Estrela ascendente......................................................................................12O Estado de S. Paulo - Amores brutos..........................................................................................13O Estado de S. Paulo - Jogos de Cena.........................................................................................14O Estado de S. Paulo - Cisne Negro, passo a passo....................................................................15Brasil Econômico - Espetáculo mistura gritos, sussurros e movimento .......................................16O Estado de S. Paulo - Brasil em imagens...................................................................................17Estado de Minas - Manifestações autênticas................................................................................18Brasil Econômico - Respeitável público, o circo está de volta com novos espetáculos.................19Valor Econômico - Sutil Companhia de Teatro questiona mortalidade humana............................20O Estado de S. Paulo - A boa maré de Lia Rodrigues..................................................................21O Globo - A força da voz do morro................................................................................................22

ARTES PLÁSTICAS...................................................................................................23Correio Braziliense - Os brasileiros de Portinari ...........................................................................23O Estado de S. Paulo - Visconti: vida para a arte..........................................................................23Estado de Minas - Mágico e real...................................................................................................25O Estado de S. Paulo - Para inglês ver.........................................................................................25Folha de S. Paulo - Fazenda pretende criar "Inhotim paulista".....................................................26

MÚSICA......................................................................................................................27Zero Hora - Um revival de Gonzagão............................................................................................27Correio Braziliense - Mestre Hermeto e seus sons.......................................................................28O Estado de S. Paulo - Black Power nas raízes da música pop...................................................29Correio Braziliense - O romantismo dos velhos tempos...............................................................30O Estado de S.Paulo - Disco raro de samba gravado por Plínio Marcos vira CD e show............31Euronews - Gilberto Gil fête 50 ans de carrière en tournée...........................................................32Correio Braziliense - Chiclete eu misturo com banana .................................................................33Correio Braziliense - Esta moça tá diferente.................................................................................34

LIVROS E LITERATURA...........................................................................................36Correio Braziliense - Nobre escritor...............................................................................................36Folha de S. Paulo - Inéditos de Paulo Mendes Campos serão lançados em livro na Flip.............37Folha de S. Paulo - E agora, Flip?.................................................................................................37Correio Braziliense - Sagrada ficção ............................................................................................38Folha de S. Paulo - 'Granta' anuncia na Flip os 20 autores de edição brasileira...........................40Correio Braziliense - Muito prazer.................................................................................................41IstoÉ Dinheiro - Letras e lucros.....................................................................................................42O Estado de S. Paulo - Flip mantém desafio de balancear fama e intimismo...............................43Valor Econômico - A poesia por trás de cidades brasileiras segundo Carpinejar..........................44

ARQUITETURA E DESIGN........................................................................................45Estado de Minas - Pela natureza da forma ..................................................................................45

MODA.........................................................................................................................47Estado de Minas - Luxo mineiro no inverno europeu ...................................................................47

GASTRONOMIA.........................................................................................................47Estado de Minas - BH na rota dos grandes eventos de vinhos.....................................................47The New York Times (Estados Unidos) - Cachaça: Beyond a One-Note Samba..........................48

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OUTROS.....................................................................................................................49Estado de Minas - De olho no mundo...........................................................................................49O Estado de S. Paulo - Todas as artes da serrinha......................................................................50

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CINEMA E TV

Zero Hora - Brasileiro bom de prêmios

Cineasta de 33 anos dirigiu um dos longas nacionais mais premiados dos últimos tempos

Roger Lerina

(03/07/2012) A estreia da jovem diretora Julia Murat no longa de ficção resultou em um dos filmes brasileiros mais premiados dos últimos tempos: desde que passou no Festival de Veneza do ano passado, Histórias que Só Existem Quando Lembradas (2011) acumulou 27 prêmios em mais de 40 festivais mundo afora. Coprodução com Argentina e França, o drama exibido a partir de hoje no Cine

Bancários já passou nos Estados Unidos, na Holanda e na Polônia e ainda vai entrar em cartaz em outros países europeus.

Com apenas 33 anos, Julia é uma veterana: filha da cineasta Lúcia Murat, vive em sets de filmagem desde os 16, trabalhando nas produções da mãe – caso do documentário Uma Longa Viagem (2011), eleito o melhor filme do último Festival de Gramado. Acumulando experiência como assistente de câmara e de direção e como montadora, Julia dirigiu curtas e vídeo instalações antes de debutar no longa, em 2008, com Dia dos Pais. Foi durante as visitas às locações desse documentário de busca pessoal, que registra o abandono de localidades do Vale do Paraíba outrora prósperas graças ao café, que a carioca Julia começou a criar o roteiro de Histórias que Só Existem Quando Lembradas.

Na ficção, a trama se desenrola na decadente Jotuomba, vila fictícia localizada naquela mesma região fluminense de origem da família paterna da diretora. Habitada somente por um punhado de anciãos, a cidade quase fantasma parece parada no tempo. A chegada de Rita (Lisa E. Fávaro), uma jovem fotógrafa interessada em imagens de trens abandonados, vai alterar a rotina dos moradores – especialmente de Madalena (Sônia Guedes), uma velha padeira presa à memória do marido, enterrado em um cemitério sempre trancado.

– Por mais local que a história pareça ser, ela é universal. A morte, o abandono, o tema das pequenas cidades esquecidas por causa do fim das monoculturas acontecem no mundo inteiro. Mas, mesmo assim, foi muito impressionante a ótima recepção que o filme teve em lugares como a Índia – disse Julia em entrevista a Zero Hora.

A carreira exitosa de Histórias que Só Existem Quando Lembradas é empolgante: melhor filme no Festival de Abu Dhabi, a obra recebeu críticas elogiosas em publicações como Hollywood Reporter, Time Out e Variety e no jornal The New York Times. A produção de Julia Murat alinha-se a uma das mais interessantes vertentes do novo cinema autoral brasileiro, na qual jovens realizadores esmeram-se em registrar com uma fotografia requintada mundos arcaicos e distantes das grandes cidades, fixando em imagens a passagem do tempo e capturando na natureza um tipo de animismo. São títulos premiados, como o mineiro Girimunho, de Clarissa Campolina e Helvécio Marins Jr., o cearense Mãe e Filha, de Petrus Cariry, e o fluminense Sudoeste, de Eduardo Nunes – influenciados por um certo cinema asiático como o do tailandês Apichatpong Weerasethakul.

– Se tem algo que une os realizadores da minha geração é a cinefilia. Todos fomos influenciados por esse cinema contemporâneo oriental. O lado maquiavélico disso é que todos os filmes de alguma maneira trabalham com linguagens muito parecidas. No meu caso, isso é bastante evidente: meus filmes têm o mesmo ritmo e a mesma economia de falas – explica Julia.

– O problema é que eles foram criados com a TV e o videoclipe e sentem necessidade de negar essa origem. É uma questão de descoberta de uma outra linguagem – arremata a mãe Lúcia, que também é produtora de Histórias...

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Zero Hora - Rumo à edição de 40 anos

Festival de Gramado anuncia filmes e mudanças para superar a crise do evento

Daniel Feix

(05/07/2012) Diferente até no local do anúncio dos concorrentes, o Festival de Gramado chega à 40ª edição mais promissor do que nas edições anteriores. Ontem, na Cinemateca Paulo Amorim – e não no hotel Sheraton, como nos últimos anos –, os responsáveis pelo evento anunciaram os homenageados e os filmes a serem exibidos entre 10 e 18 de agosto na Serra.

O mutirão que uniu entidades de cinema, prefeitura de Gramado e governo do Estado para realizar o festival, a despeito dos problemas financeiros que determinaram o afastamento dos organizadores após a 39ª edição, deu o tom do anúncio.

– Trata-se de um projeto de festival inteiramente renovado – definiu a nova coordenadora geral, Rosa Helena Volk.

– Fizemos um controle rígido para chegar a um orçamento final razoável, que não nos deixasse devendo algo a alguém após o evento – completou Ralfe Cardoso, o novo produtor do festival, fazendo referência às contas abertas desde 2011. – Não há chance de deixarmos dívidas daqui por diante – completou, anunciando que a 40ª edição custará R$ 2,5 milhões, parte do montante já aprovado na Lei Rouanet e parte ainda pendente de análise no sistema LIC-RS.

Há pelo menos um grande longa entre os cinco latinos selecionados – Artigas, La Redota, do “brasiguaio” César Charlone (de O Banheiro do Papa), um dos mais interessantes filmes já feitos sobre o mito do gaúcho –, mas os principais destaques da seleção são os oito longas brasileiros, que foram escolhidos entre 101 inscritos.

O jovem diretor Matheus Souza, que impressionara com Apenas o Fim, vai competir com Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo com a Minha Vida (que tem Clarice Falcão e Daniel Filho no elenco), enquanto o professor da USP Rubens Rewald, que igualmente se saíra bem na estreia na direção (com Corpo), trará o seu segundo longa a Gramado 2012 (Super Nada, com Marat Descartes e o cantor Jair Rodrigues). A cota gaúcha ficou com a comédia juvenil Insônia, que o cineasta Beto Souza adaptou do livro homônimo de Marcelo Carneiro da Cunha e que tem Luana Piovani no elenco.

Parceiro de Juliana Rojas e Marco Dutra (de Trabalhar Cansa), Caetano Gotardo assina O que se Move, que, conforme o curador Rubens Ewald Filho, é a promessa de “filme mais surpreendente” deste festival.

O aguardado O Som ao Redor, estrelado por Irandhir Santos e dirigido pelo crítico e realizador pernambucano Kléber Mendonça Filho, também integra a seleção. Assim como os documentários Jorge Mautner – O Filho do Holocausto, de Heitor D’Alincourt e Pedro Bial (ele mesmo), já exibido no Festival do Recife, e Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now!, de Ninho Moraes e Francisco César Filho – não confundir com Tropicália, de Marcelo Machado, que já estreou no Rio e em São Paulo e permanece inédito no Rio Grande do Sul.

Haverá ainda uma mostra não competitiva de longas gaúchos recentes, exibidos à tarde no Palácio dos Festivais, que também passa a sediar a tradicional mostra gaúcha de curtas. Outra grande notícia para o público local é a redução no preço do ingresso: de R$ 60 a R$ 120, em 2011, para R$ 10 e R$ 20, neste ano. Grande notícia para o público e para o próprio festival, que assim poderá ter plateias maiores e menos frias do que as dos anos anteriores.

Longas-metragens brasileirosInsônia (RS), de Beto SouzaSuper Nada (SP), de Rubens RewaldO Que se Move (SP), de Caetano GotardoFuturo do Pretérito: Tropicalismo Now! (SP), de Ninho Moraes e Francisco César FilhoEu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo com a Minha Vida (RJ), de Matheus SouzaO Som ao Redor (PE), de Kleber Mendonça Filho

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Colegas (SP), de Marcelo GalvãoJorge Mautner – O Filho do Holocausto (RJ), de Pedro Bial e Heitor D’Alincourt

Jornal de Brasília - O rock de Brasília no Chile

Documentário de Vladimir Carvalho segue trajetória de sucesso com várias exibições

(07/07/2012) A Secretaria de Turismo do Distrito Federal (Setur-DF) e o cineasta Vladimir Carvalho levaram o documentário Rock Brasília – Era de Ouro para uma exibição especial aberta para o público, no Palácio de la Moneda, em Santiago, no Chile. Uma ação conjunta da Setur- DF com o Ministério das Relações Exteriores exibirá a obra, que conta um pouco da história da capital do país e do rock brasileiro para evidenciar a cultura da cidade como um dos atrativos do turismo local.

“Nosso foco será destacar um dos títulos que a capital federal carrega com muito orgulho, o de Capital do Rock. O filme escolhido mostra como a nossa

identidade musical foi desenvolvida à medida que Brasília foi criando uma cara própria”, afirmou o secretário de Turismo, Luis Otávio Neves.

Com imagens de arquivo, filmadas desde o final dos anos 80, o documentário encerra uma trilogia sobre a construção cultural e ideológica de Brasília, formada por Barra 68 – Sem Perder a Ternura e Conterrâneos Velhos de Guerra.

Rock Brasília obra conta a trajetória de bandas como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude. Uma história feita de depoimentos reveladores dos grandes protagonistas do período, como Renato Russo (em imagens raras e inéditas), Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá, Dinho Ouro Preto, os irmãos Fê e Flávio Lemos e Philippe Seabra (Plebe Rude), além dos artistas que se aproximaram dessa turma, como os músicos do Paralamas do Sucesso (Herbert Vianna, João Barone, Bi Ribeiro) e Caetano Veloso.

Rconhecimento

O cineasta paraibano/brasiliense, Vladimir Carvalho, ainda colhe os louros pela realização de seu filme Rock Brasília – Era de Ouro. Premiado no último Festival de Cinema Paulínia (SP), alcançou mais uma láurea com a conquista dos troféus de melhor filme, melhor direção e melhor trilha sonora, no recente Festival de Cinema e Vídeo de Blumenau (SC). Atualmente o filme pode ser comprado ou alugado em DVD.

SAIBA +

Rock Brasília – Era de Ouro abriu o 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.O longa-metragem foi exibido dentro da Mostra Panorama Brasil, no mesmo evento. A produção também entrou em cartaz no circuito comercial dos cinemas, com distribuição da Downtown Filmes.

Zero Hora - A vida depois do furacão

Documentário “Cidade de Deus – 10 Anos Depois” investiga o que aconteceu com os atores do filme

Daniel Feix

(09/07/2012) Em 2002, Cidade de Deus passou como um furacão pelos festivais e pelo circuito de cinemas. Para além do burburinho da crítica, dos debates sobre questões sociais e da aclamação internacional alcançada, seu impacto se fez notar na vida de quem participou da produção.

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A começar pelo diretor, Fernando Meirelles, hoje um dos realizadores latino-americanos de maior prestígio em Hollywood. As grandes histórias de mudança, no entanto, são as dos atores. São eles o foco do documentário Cidade de Deus – 10 Anos Depois, longa que os diretores cariocas Cavi Borges e Luciano Vidigal estão preparando para lançar no Festival de Cannes do ano que vem – o mesmo palco da primeira exibição do filme de Meirelles.

Cavi é o cara por trás da Cavídeo, locadora que virou produtora e uma das referências do jovem cinema nacional. Vidigal é forjado na Nós do Morro, projeto de sociabilização por meio da arte de onde saíram, por alto, 80% dos intérpretes de Cidade de Deus.

– O Meirelles também está no projeto, mas só dando dicas e contatos – relata Cavi. – Ele não quis se envolver diretamente para que o documentário não ficasse assim, chapa branca.

Alguns trechos já postados em sites de compartilhamento de vídeos evidenciam depoimentos variados, das confissões de quem não deu certo como ator e sucumbiu à criminalidade (caso de Rubens Sabino, intérprete do traficante Neguinho) às brincadeiras de quem, diante das dificuldades da carreira artística, não perdeu a capacidade de rir de si mesmo (leia abaixo).

Para além de Alice Braga (Angélica), Jonathan Haagensen (Cabeleira), Darlan Cunha (Filé com Fritas) e Douglas Silva (Dadinho), também se saíram bem no cinema e na TV atores como Renato de Souza (Marreco, integrante do Trio Ternura), que, entre outros trabalhos, fez o longa-metragem Quase Dois Irmãos (2004), e Roberta Rodrigues (Berenice), atriz de novelas como Insensato Coração (2011) e longas como Desenrola (2010). Também o intérprete de Zé Pequeno, Leandro Firmino, seguiu carreira: participou de séries (como A Diarista e A Grande Família) e filmes (como O Homem que Desafiou o Diabo, de 2007). Os três, Renato, Roberta e Leandro, estarão na linha de frente de Cidade de Deus – 10 Anos Depois. Eles e outros dois atores, que após 30 entrevistas foram escolhidos por apresentar “as melhores histórias”. Explica Cavi:

– Vamos focar no Thiago Martins, que mesmo depois de um papel pequeno em Cidade de Deus (Lampião) viu a carreira decolar na TV Globo, e no Eduardo Dornelles, o Piranha. Este era bandido, vivia de crimes antes do filme. Foi escolhido pela cara de mau, como diz o Meirelles, para integrar a gangue do Cenoura. E, após 2002, viu a vida mudar: trabalha com o AfroReggae e ganha a vida dirigindo projetos audiovisuais.

A intenção de Cavi, Vidigal e do produtor e roteirista Luís Carlos Nascimento – ele próprio ator de Cidade de Deus (integrava a gangue de Zé Pequeno) – é usar depoimentos de todos os 30 atores, os outros 25 naturalmente ocupando menos tempo na montagem final. A dificuldade em acomodar tudo em 90 minutos foi determinante para que o documentário não pudesse ser finalizado ainda em 2012, ano do aniversário de uma década. Isso e a falta de dinheiro.

– Ainda nem conseguimos fechar o orçamento – conta Cavi. – Captamos R$ 50 mil com o Canal Brasil e outros R$ 30 mil com amigos e produtoras. E só. Mas vai dar tudo certo. O apelo de Cidade de Deus é incrível, você precisava ver a reação das pessoas em Cannes, em maio, quando eu falava do projeto. Não tem como não dar certo.

O Estado de S. Paulo - Cineasta brasileiro prepara cinebiografia sobre Dom Pedro II

por Luiz Zanin Oricchio

Próximo projeto de Nelson Pereira dos Santos é a cinebiografia de Dom Pedro II baseada na obra do historiador José Murilo de Carvalho

(10/07/2012) Aos 83 anos, o cineasta Nelson Pereira dos Santos ainda nem lançou seu segundo filme sobre Antonio Carlos Jobim – A Luz do Tom, estreia prevista para agosto – e já tem projeto engatilhado para 2013. Nada mais nada menos que uma cinebiografia daquele que, para muitos, foi o mais iluminado estadista brasileiro, Dom Pedro II.

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Dom Pedro de Alcântara que, ao longo de quase 50 anos de reinado, manteve a unidade do país de dimensões continentais, travou uma guerra de cinco anos com o Paraguai e conseguiu conduzir a abolição da escravatura. O filme baseia-se na biografia escrita por José Murilo de Carvalho, membro, como Nelson, da Academia Brasileira de Letras. Carvalho escreveu um perfil elogioso, mas não encomiástico. E foi a própria leitura do texto, de estilo preciso e elegante, que levou Nelson a propor ao colega de fardão transpô-lo para o cinema.

"O livro do Murilo tem uma estrutura muito interessante", diz o cineasta, em conversa com o Estado. "Em vez de estabelecer a cronologia tradicional, ele divide a vida de Dom Pedro em pequenos capítulos temáticos que, aí sim, exibem uma cronologia interna".

A sedução pelo formato pouco usual entre historiadores no entanto levou Nelson Pereira a buscar outras soluções de roteiro. "Imagino, para abrir o filme, a seguinte situação: dia 15 de novembro de 1889, o imperador Dom Pedro II e a família encontram-se aprisionados no Paço Imperial, atual Praça XV, pelos militares que estão proclamando a República no Brasil. Nesse momento, dois tipos de pensamento emergem em sua cabeça: o primeiro, a longa luta travada para abolir a escravidão no Brasil; a segunda volta-se para uma certa senhora baiana e mulata", diz, brincando.

PaixãoDe fato, se pudéssemos adivinhar o que se passava pela cabeça de Pedro, ao ver-se destituído do trono, talvez fossem esses os pensamentos dominantes. A luta para extirpar a chaga da escravidão, e que não foi apenas de Dom Pedro mas de todos os abolicionistas, e a imagem de uma mulher onipresente em sua vida afetiva – a condessa de Barral. A partir desses dois pensamentos convergentes, Nelson pretende reconstruir a trajetória de Pedro de Alcântara, que assumiu o trono brasileiro aos 15 anos de idade e reinou por 49 anos, três meses e 22 dias.

O relacionamento com a condessa de Barral foi quase tão longo quanto o reinado de Dom Pedro. Eles se conheceram em 1856, quando o imperador tinha 31 anos e ela, quase 40. Chamava-se Luísa Margarida Portugal de Barros e era filha de Domingos Borges de Barros, visconde de Pedra Branca. Em comentário que hoje seria tachado de racista, José Bonifácio chamava Domingos de "Visconde de Pedra Parda", o que justifica o comentário de Nelson Pereira sobre a etnia da condessa de Barral. O título, ela o recebera ao se casar com Eugène de Barral, filho do conde de Barral.

"A irmã de Pedro indicou essa condessa como preceptora das suas filhas", diz Nelson. Ela veio da França e assumiu a educação de Isabel e Leopoldina. Encantado com a mulher cosmopolita, não era raro que o monarca acompanhasse as lições que dava às princesas, e assim o caso entre os dois teria nascido.

Nelson lembra, rindo, que Dom Pedro não era lá muito feliz no casamento: "Ele se casou com uma princesa napolitana, Teresa Cristina, que conheceu por retrato, e lhe pareceu bastante bonita. Quando foi ao cais recebê-la, não a achou tão bonita assim... e também claudicava. O Zé Murilo conta tudo isso elegantemente".

De fato, os historiadores registram que Dom Pedro ficou decepcionado com a disparidade entre o retrato e a noiva. Seus conselheiros explicaram ao rapaz que a união de casas reais eram fatos políticos e não assuntos de coração, ou de libido. E assim a vida seguiu. Com o tempo, Pedro desenvolveu grande afeição por Teresa Cristina. Quando ela morreu, em idade avançada, ficou desolado.

Mas paixão mesmo era pela condessa de Barral. Em seu livro, depois de enumerar outros casos amorosos de Dom Pedro, fora do casamento, Carvalho descreve: "A paixão por Barral, no entanto, foi diferente; ultrapassou a atração física, foi eterna, sem deixar de ser chama." A prova dessa combustão está na extensa correspondência entre os dois que, mesmo expurgada das passagens mais íntimas, revela o calor da chama.

GuerraÁrdua foi a campanha do Paraguai, que Dom Pedro teve de enfrentar por cinco anos. "Ele estava empenhado em acabar com a escravidão. Mas aí entra a Guerra do Paraguai e atrasa o processo porque ele tem de fechar com a extrema direita para continuar a campanha. Quando acaba a guerra,

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ele acelera o processo abolicionista", diz Nelson. Quando a Abolição é decretada, ele se encontra na Europa, em mais uma viagem de estudo.

O que ficou foi a imagem do patriarca bondoso e sábio, de barbas brancas, homem de cultura e afável. No entanto, quando deposto, não houve qualquer movimento popular para apoiá-lo.

Destituído, Dom Pedro morreu no exílio, em 1891, e começou a ser reabilitado, de maneira oficial, apenas em 1922, no centenário da Independência. O decreto de banimento foi revogado e os restos mortais puderam ser repatriados. Estátuas surgiram e sua efígie de barbas brancas, ar sábio e bondoso passaram a frequentar os livros escolares e a imaginação histórica dos brasileiros. Poliglota, justo, "republicano" apesar da coroa, cultor das artes e das ciências, honesto e defensor da liberdade de imprensa, mesmo quando por ela atacado e ridicularizado – espanta que, a esta altura do campeonato, o cinema também se interesse por ele?

O Estado de S. Paulo - Estrada para a latinidade

Road movie mexicano, Um Mundo Secreto cria metáfora perfeita do evento que viaja por culturas e línguas

(11/07/2012) Luiz Carlos Merten - É no mínimo curioso que o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, cuja sétima edição começa amanhã para convidados no Memorial da América Latina, se inicie sob o signo da estrada, e isso apenas dois antes da estreia de On the Road, que Walter Salles adaptou do livro cult de Jack Kerouac. Salles fez um belo filme baseado na experiência real (e visceral) de jovens norte-americanos que caíram na estrada em busca de liberdade - e deles mesmos. Seu filme é a história de uma amizade, e da sua destruição (e também da imortalização pela arte). E Um Mundo Secreto?

O longa do mexicano Gabriel Mariño teve sua estreia mundial na Berlinale, em fevereiro, integrando a mostra Generation Special. Narra, de forma lírica, a viagem de iniciação de uma garota. No último dia de escola, antes da graduação, ela deixa seu mundo para trás e parte numa viagem de autodescoberta. Maria, de 18 anos, é promíscua e, no fundo, talvez seja essencialmente uma solitária. Ela abandona o caos urbano da Cidade do México e atravessa o deserto de Sinaloa rumo ao vasto oceano. O que busca Maria? Na apresentação de seu filme, em Berlim, Mariño disse que quis traçar um retrato da juventude mexicana. "Há muita violência e instabilidade social no México. Nosso futuro é incerto e, para os jovens, é quase impossível estudar ou trabalhar. Meu filme busca entender quem são os jovens mexicanos, o que sentem e pensam."

Quem pensa em mulheres na estrada lembra-se de Thelma e Louise, as protagonistas de um road movie de Ridley Scott que fez sensação, especialmente entre plateias femininas (e feministas), em 1991. A jornada de iniciação de Maria leva a uma conclusão tão espetacular quanto espiritual. O diretor filma a paisagem mais preocupado em revelar o turbilhão interior que consome Maria. Com o da protagonista, Lucía Uribe, guarde os nomes de Mariño e do fotógrafo - Ivan Hernández. Começando de forma tão auspiciosa, o 7.º Festival Latino-Americano, que vai até dia 19, vai exibir 75 filmes. Você talvez não consiga ver todos, mas vale entender a estrada iniciática de Um Mundo Secreto como uma metáfora - e um convite. É como se o próprio evento convidasse o público a viajar nas imagens dessas dezenas de filmes para compreender o mundo em que vive, e decifrar o enigma da complexidade continental.

Pense em culturas, em línguas. A maioria dos filmes é falada no idioma espanhol, com suas variações. São filmes como o uruguaio 3, de Pablo Stoll; o argentino Um Mundo Misterioso, de Rodrigo Moreno; o chileno O Círculo de Román, de Sebastián Brahm; o equatoriano Pescador, de Sebastián Cordero; e o colombiano Porfírio, de Alejandro Landes. Mas o Festival Latino também fala o português, por meio dos filmes brasileiros que integram a seleção - Hoje, de Tata Amaral, que venceu o Festival de Brasília no ano passado; Rânia, de Roberta Marques, que venceu a mostra Novos Rumos, no Festival do Rio de 2011; e Augustas, que Francisco César Filho adaptou do livro As Estratégias de Lilith, de Alex Antunes.

Gêneros. Querem mais road-movies? A venezuelana Marité Ugas vem para apresentar pessoalmente seu longa O Garoto Que Mente, que também integrou a mostra Generation, em Berlim. O filme conta a jornada de iniciação de um garoto que procura pela mãe desaparecida nos deslizamentos de terras

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que atingiram o departamento de Vargas, após a grande chuva de 1999. Já exibido nos festivais de Tiradentes e do Recife, Estradeiros, belo trabalho de Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro, filma a América Nuestra de forma a mostrar a estrada como metáfora de vida alternativa e negação do consumismo.

Quem disse que o cinema latino-americano não cultiva os gêneros? O cubano Juan dos Mortos, de Alejandro Brugués, mostra Havana decadente, o que não é exatamente uma novidade, mas agora assolada por zumbis, no que vai uma crítica às transformações na ilha, pós Fidel Castro. Maior êxito da história do cinema da Colômbia, O Ermo, de Jaume Osório Márquez, passa-se numa base a 4 mil metros de altura. Um comando militar é enviado para descobrir o que houve com a equipe que lá estava. Encontram um sobrevivente misterioso. Quem é esse cara? Oito curtas integram a série Fronteiras, produzida pelo canal TNT. Cada realizador teve liberdade para fazer seu filme como quisesse e o resultado contempla comédia e até western. Claudia Llosa, a diretora peruana que ganhou o Urso de Ouro com La Teta Asustada, foi de novo premiada em Berlim - ela ganhou neste ano o Teddy Bear, o chamado Urso gay, pelo curta Loxoró, sobre o universo das travestis.

Voltado ao apoio a novos filmes da América Latina, o programa Cine en Construcción ocorre duas vezes por ano, nos festivais de Toulouse e San Sebastián. O 7.º Festival Latino homenageia os dez anos de Cine em Construcción e o faz exibindo o que talvez seja o melhor filme brasileiro desde o início da Retomada - Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes. A sessão será apresentada pela francesa Eva Morsch, que integra o comitê de seleção do programa.

Eva também será jurada numa mostra inédita - Finaliza 2012. Fechada ao público, vai exibir sete longas em finalização e o vencedor vai ganhar R$ 99,4 mil em serviços, justamente para poder ficar pronto. O Prêmio Itamaraty, iniciativa do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, também vai dar R$ 90 mil ao filme vencedor, escolhido entre coproduções recentes, envolvendo pelo menos dois países da América do Sul. Todas as sessões do Festival Latino-Americano são gratuitas.

O Globo - Fim de férias

Rodrigo Fonseca

“CORDA BAMBA — História de uma menina equilibrista”, de Eduardo Goldenstein, leva o universo circense para as telas em outubro: trama retirada do livro de Lygia Bojunga, sucesso nos anos 1980

(11/07/2012) Carente dos filmes outrora bem sucedidos de Renato Aragão e Xuxa, que há tempos deixaram de ser infalíveis nas bilheterias, o cinema infanto-juvenil brasileiro foi buscar na literatura um caminho para se reinventar. Até 2013, cinco longas metragens chegam às telas tendo como matéria-prima romances, contos e até poemas ligados à produção literária nacional sobre a infância e a adolescência. O pacote inclui Best Sellers de várias épocas, passando por hits contemporâneos como “Ela disse, ele disse”, de Thalita Rebouças, fenômenos dos anos 1980 como “Corda bamba”, de Lygia

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Bojunga, e clássicos como “O meu pé de laranja lima” (1968), de José Mauro de Vasconcelos (1920- 1984). E já está engatilhada para 2014 a versão animada dos poemas de “A arca de Noé”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), dirigida por Sérgio Machado e com produção de Walter Salles e da Gullane Filmes.

Paralelamente, dois textos teatrais célebres do imaginário mirim ensaiam uma volta às telas: “Pluft, o fantasminha”, de Maria Clara Machado, e “Os saltimbancos”, a partir da versão musical de Chico Buarque para o texto de Luiz Enriquez e Sergio Bardotti.

— A literatura infanto-juvenil dá ao cinema a chance de oferecer um ntretenimento mais consistente a uma massa de jovens espectadores que pode se tornar o público cativo de nossos filmes amanhã — explica a produtora Sara Silveira, que corre contra o relógio para tirar do papel o livro “O escaravelho do diabo”, baseado no best-seller de Lúcia Machado de Almeida.

Sara produz e Carlo Milani dirige a versão do livro, de trama policialesca. O romance fala da morte com uma linguagem que pôs toda uma geração de leitores, fãs de Lúcia, a refletir sobre a finitude em ritmo de aventura. O projeto de “O escaravelho do diabo” ilustra a diversidade dessa fornada de filmes para a geração dente de leite, que resgatou até a obra de Fernando Sabino (1923-2004), distante do audiovisual há 15 anos. O autor volta a mobilizar a classe cinematográfica a partir de seu livro mais famoso sobre o universo infanto-juvenil: “O menino no espelho”. Neste momento, em Cataguases, o diretor Guilherme Fiúza Z e n h a r o d a u m a adaptação do romance, lançado há 30 anos, narrando as diabruras do pequeno Fernando, personagem principal do longa, confiado a Lino Facioli, um brasileirinho de 11 anos radicado e m L o n d re s , q u e atuou na série “Game of thrones”.

— Desde os anos 1980, a alternativa para fazer filmes infantis no Brasil se resume a Xuxa ou Didi, com raras como “A dança dos bonecos”, de Helvécio

Ratton. Mas no universo de Sabino, que é muito adotado em escolas, há um manancial de histórias escritas com uma simplicidade de garoto, numa prosa sem rendinha e sem babado, que atrai as crianças — diz Fiúza Zenha. — É difícil saber se “O menino no espelho” é um livro para crianças ou um livro atemporal sobre a criança que o Sabino foi. Seu texto é uma reflexão sobre a falta entendimento que nós, meninos ou adultos, temos de nós mesmos.

Fiel ao livro de Sabino, que teve 85 edições, “O menino no espelho” traz Mateus Solano e Regiane Alves como os pais de Fernando (Facioli), que encontra uma solução fora dos padrões da realidade para enfrentar os dilemas da vida de crianças: criar um sósia de si mesmo, chamado Odnanref. Tudo fica mais fácil com Odnanref em campo, até que ele e Fernando se apaixonam pela mesma menina.— Para falar para o público de hoje, eu busquei trazer situações novas, que preservassem a essência do Sabino. Ao falar de outro tempo, os anos 1930, época em que ele foi criança, Sabino trouxe à tona uma delicadeza perdida. É pela delicadeza que o cinema infanto-juvenil brasileiro pode se recriar a partir das páginas da literatura — diz Fiúza Zenha.

Cenário de “O menino no espelho”, Cataguases também serviu de locação para a nova versão de “O meu pé de laranja lima”, romance lançado em 1968 e traduzido para 20 idiomas, que fez do escritor José Mauro de Vasconcelos um campeão de vendas. Prevista para chegar às telas em 14 de dezembro, a adaptação das aventuras do pequeno Zezé (vivido por João Guilherme de Ávila) e seu amigo Portuga (José de Abreu) foi rodada em 2010 por Marcos Bernstein, roteirista de “Central do Brasil” (1998) e realizador do premiado “O outro lado da rua” (2004). Bernstein concebeu o filme para ir além das plateias mirins, abordando os dilemas do fim da infância sem medo da dor.

— Há muitas obras literárias infanto-juvenis que fizeram e fazem parte da vida de uma quantidade enorme de potenciais espectadores, crianças e adultos, mas que não são levadas às telas. “O meu pé de laranja lima” foi um enorme sucesso em sua versão cinematográfica da década de 1970

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“O MEU pé de laranja lima”: adaptação do best-seller estreia em dezembro

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(dirigida por Aurélio Teixeira), e a gente espera que haja espaço para nossa nova interpretação dessa obra que vendeu milhões de exemplares — diz Bernstein.

Também está previsto para estrear neste ano, em outubro, o filme “Corda bamba — História de uma menina equilibrista”, de Eduardo Goldenstein, que leva às telas o universo circense pela ótica da literatura de Lygia Bojunga.

A produção, que teve uma primeira exibição pública no Cine PE, em abril, acompanha os esforços de Maria (Bia Goldenstein, filha do diretor) para recuperar sua memória.

— O filme fala da cura por meio do imaginário, da subjetividade — diz Goldenstein.

Como as novas gerações estão com os olhos mais voltados para a internet do que para as bibliotecas, a adaptação de “Ela disse, ele disse”, de Thalita Rebouças, prevista para chegar às telas em 2013, vai usar a web como ferramenta para construir sua dramaturgia. O projeto, pilotado pelo clã de produtores liderado por Luiz Carlos Barreto, vai usar um blog para se comunicar com os fãs de Thalita, extraindo das conversas o padrão dos diálogos do filme, centrado numa discussão sobre feminino e masculino pelo olhar da juventude.

— A partir da interatividade, vamos tirar o modo de falar dos personagens, o ritmo do filme — explica a produtora Paula Barreto.

Nas incursões do cinema pelo teatro, técnicas de animação se farão presentes em “Os saltimbancos”, que Diler Trindade (produtor dos maiores sucessos de Xuxa e Renato Aragão na Retomada) desenvolve com roteiro do diretor teatral João Falcão. A animação será feita pelo casal Jean Cullen e Marcelo de Moura, integrantes da equipe de “O segredo de Kells”, que disputou o Oscar em 2010. Já a versão de “Pluft, o fantasminha”, com direção de Rosane Svartman (“Desenrola”), vai usar atores para contar as peripécias do espectro com medo de gente. Na semana passada, o projeto ganhou os editais de fomento da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro (R$ 115 mil) e da RioFilme (R$ 120 mil).

— Com clássicos é preciso ter carinho e cuidado. Maria Clara Machado, além da peça, escreveu um livro romanceando o texto, e alternamos os dois como guias nessa empreitada — diz Rosane, lembrando que o maior desafio será retratar o fantasminha com um intérprete de carne e osso. — Esses prêmios que ganhamos possibilitam os diversos testes necessários para acharmos o truque ideal.

TEATRO E DANÇA

Correio Braziliense - Estrela ascendente

Milene Sodré

(03/07/2012) A jovem dançarina goiana Amanda Gomes não cansa de colecionar títulos. A primorosa bailarina acaba de voltar de Istambul, na Turquia, com a medalha de ouro referente ao primeiro lugar no IIBC (Istambul Internation Ballet Competition), conferida pela exímia apresentação do clássico Dom Quixote e do contemporâneo Conflicts. Entre homens e mulheres de todo o mundo, Amanda concorreu com 38 bailarinos na primeira fase, oito na semifinal, e traz para casa a medalha tão cobiçada além de 3 mil euros.

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“O MENINO no espelho”: livro de Fernando Sabino ganha versão até 2013

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Se depender da dedicação da mocinha, ganhar prêmios pode virar rotina. Mês passado, Amanda conquistou outro primeiro lugar, dessa vez em sua categoria (Pas de Deux Avançado) no Festival Internacional de Dança de Goiás, que ocorreu de 6 a 10 de junho no Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia, e reuniu cerca de 4 mil bailarinos de todo o Brasil, Argentina, Chile, Cuba, França e Estados Unidos.

A dançarina clássica iniciou seus estudos de balé aos 7 anos, no Núcleo de Dança Simone Magalhães, em Goiânia, cidade natal. Segundo a professora do núcleo, Eliane Borges, “em pouco tempo ela logo se destacou, não só pelo seu talento, como pela determinação, dedicação e disciplina”. Hoje, com 16 anos, Amanda é considerada uma das bailarinas profissionais mais novas do país, título alcançado em dezembro do ano passado quando recebeu o diploma da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, onde estuda desde 2006.

A instituição, filial do Balé Bolshoi de Moscou (mais antiga e prestigiosa companhia de dança do mundo), conheceu Amanda, na época com apenas 10 anos, numa audição realizada na sede brasileira, em Joinville (SC), onde ficou em nono lugar na categoria feminina e 11º lugar geral, após disputar 40 vagas, com 121 mil candidatos. “Quando entrei para o Bolshoi não tinha noção do que significava, mesmo assim já achei incrível estar entre os melhores bailarinos do Brasil. Hoje, faço parte do corpo oficial do balé, ganho para dançar. A responsabilidade e o compromisso são bem maiores que antes, porém acho tudo melhor e

mais incrível ainda”, revela.

A ingressão no Bolshoi mudou definitivamente a vida de Amanda e levou a jovem bailarina, com o pai e a mãe, a morar no Sul do país. Os pais não discutiram muito sobre largar para trás família, trabalho e amigos e apostar na carreira da filha talentosa. “Desde pequena, os professores e olheiros de balé falam com entusiasmo de Amanda, não poderíamos deixar passar essa oportunidade”, diz o pai orgulhoso e hoje empresário da bailarina, Zeuxis Filho.

Para manter a forma e precisão nos palcos, Amanda se exercita e ensaia oito horas por dia, cinco dias na semana. “Quando tem espetáculo marcado, os ensaios adentram o final de semana, mas isso não me incomoda, muito pelo contrário, o balé é minha alegria, faço com amor, é por isso que me dedico tanto”, diz a bailarina que, além do treino pesado, ainda tem que ficar de olho na balança e na vida social regrada. “Temos um nutricionista no Bolshoi que regula peso máximo e mínimo dos dançarinos para estarmos sempre saudáveis e em forma. Quando tenho tempo livre, prefiro descansar o corpo a sair de casa. Minhas amizades estão todas dentro da escola”.

Amanda, que já se apresentou em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Brasília, Goiânia e Santa Catarina, além de países como Itália, Uruguai e, por último, a premiada Turquia, leva sempre nas malas de viagem as sapatilhas e a determinação de sempre, animada pelo maior sonho da jovem, que é “fazer parte do corpo de balé oficial do Bolshoi de Moscou e dançar até o fim da carreira, lá por volta dos 40 anos, e depois seguir como professora de balé”, revela a premiada bailarina, com ar entusiasta e convicção de quem nasceu para o que faz.

Quando entrei para o Bolshoi, não tinha noção do que significava, mesmo assim já achei incrível estar entre os melhores bailarinos do Brasil"Amanda Gomes, bailarina

O Estado de S. Paulo - Amores brutos

Jefferson Del Rios

Facas nas Galinhas leva ao palco os sonhos de uma gente esquecida

(03/07/2012) O título pouco convidativo Facas nas Galinhas poderia ser Lavoura Arcaica, o nome do poderoso romance de Raduan Nassar. São obras que apresentam um universo rural primitivo feito

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dos ciclos de produção da terra e de uma maneira de viver em que homens e animais estão quase na mesma situação. A peça fez sucesso em Portugal, onde as pequenas propriedades são numerosas e a vida é rústica desde sempre.

A devastadora, mas rentabilíssima agroindústria brasileira de cana, cítricos, soja e pecuária extensiva está a léguas dessa terra entre o bíblico e o medieval. O mau título do bom texto de David Harrower faz lembrar a ficção de José Riço Direitinho, autor português que infelizmente ainda não chegou aqui. É o autor de Breviário das Más Inclinações, onde se revela a existência bruta do campo na descrição do gesto de uma mulher, para evitar a gravidez: "lava-se sempre numa infusão de folhas de arruda, apanhadas ao luar, e bebia tisanas com sementes de funcho e de sargacinhas-dos-montes, para que as regras não lhe faltassem". Ou o que acontece em uma aldeia esquecida: "Numa noite de lua (...). os lobos

desceram à aldeia e entraram em alguns quintais, matando quase todas as aves dos galinheiros. Rondaram as portas dos estábulos, atraídos pelo cheiro dos cordeiros, enquanto os cães uivavam de susto e de morte". Esse é o terreno escuro de Facas nas Galinhas, um lugar vago e sem data da Escócia. Território das fábulas. Nele sobrevivem três pessoas: um casal de agricultores e o dono do único moinho de trigo. O marido é rude e o moleiro (o nome que se dá a quem tem o oficio de moer cereais) tem algo atraente para que o triângulo aconteça.

O sedutor lida com uma máquina surgida no começo dos tempos (gregos e romanos usavam moinhos) e tem o dom da escrita. Tudo o que a mulher deseja é exatamente manejar as palavras para definir suas fantasias. Deixa-se envolver porque, além de desconhecer o carinho masculino, o estranho, visto como um criminoso e explorador da labuta alheia, oferece cordialidade e ainda a ensina usar papel, tinteiro e caneta de pena. Algo mágico fora de uma rotina conjugal de ordens e monossílabos grosseiros. O enredo, como é característico das parábolas, constrói-se nas alusões e subtendidos. O escocês David Harrower, nascido em 1966, é claro: "Não uso o realismo. Quero uma linguagem mais pura, mais poética, que significa mais do que aquilo que parece. E descobri isso escrevendo esta peça".

O grupo Barracão Cultural apresenta uma montagem com o impacto da cenografia de Marco Lima sugerindo simultaneamente grades e a roda de moer grãos, imagem reforçada pela iluminação misteriosa de Marisa Bentivegna. Há, no entanto, um descompasso inicial entre essa parte e a representação. Um marido tosco (Cláudio Queiroz) é mostrado como mal humorado, aos gritos, o que acaba por incomodar. Na realidade, ele é apenas um trabalhador pobre, não o neurótico banal ou o clássico bêbado opressor. Já o moleiro (Thiago Andreuccetti) ostenta demais sua face enigmática. Por fim, a mulher (Eloisa Elena) traduz curiosidade com ares e sorrisos simplórios. O experiente diretor Francisco Medeiros consegue, porém, ajustar a representação na segunda parte, quando cada interprete chega a um nível dramático consistente e o jogo cênico sobe com a devida coerência psicológica e a poesia que o dramaturgo desejou. Mesmo assim, o elenco pode se afinar bem mais.

Por uma via transversa, o espetáculo traz ao palco outras possibilidades em arte dramática. Há no momento uma sofreguidão urbanoide na temporada paulistana, verdadeira enchente de casais desajustados de classe média, carregamentos de peças inglesas com gente amalucada por dinheiro e poder, droga, sexo escapista ou agressor. O apocalipse anda fácil. É tudo verdade, mas com um verniz de modismo e reiteração do obvio. José Saramago chegou aos brasileiros com o romance Levantado do Chão, sobre os camponeses da região do Alentejo. Ao apresentar sua historia, ele escreveu que "um escritor é um homem como os outros. Sonha. E o meu sonho foi poder dizer deste livro: isto é o Alentejo". Facas nas Galinhas parece dizer: isso são sonhos de gente esquecida.

O Estado de S. Paulo - Jogos de Cena

Maria Eugênia de Menezes

(05/07/2012) "É uma espécie de caso de amor", define Enrique Diaz ao discorrer sobre a relação que estabeleceu com a obra do canadense Daniel MacIvor. "Tenho até medo de me tornar diretor de um

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autor só." Depois de montar In on It, sucesso da temporada teatral de 2010, ele estreou em março, no Rio, mais uma peça do dramaturgo: A Primeira Vista, com Mariana Lima e Drica Moraes.

A admiração pelo escritor, contudo, parece longe de se esgotar. A partir do dia 13, Diaz aporta em São Paulo com os dois espetáculos e mostra uma prévia da que deve ser a sua próxima incursão por esse universo: o monólogo Monster. A programação, intitulada Mostra Daniel MacIvor, marca a reabertura do Teatro Alfredo Mesquita, sala que mereceu uma extensa reforma.

"Muito do que ele escreve bate com o que sinto, com a minha maneira de entender teatro", diz o diretor, ator e fundador da Cia. dos Atores. À frente do renomado coletivo, Diaz construiu uma carreira pautada, em muitos sentidos, pela desconstrução. Com Ensaio.Hamlet (2004) esfacelou a peça canônica da dramaturgia universal. Em A Gaivota - Tema para um Conto Curto (2007) manteve a lógica, lançando-se a uma leitura anárquica do clássico de Anton Chekhov.

Com MacIvor, o encenador permanece no território que aparentemente lhe é tão caro: persevera na trilha da metalinguagem, da pesquisa de códigos e da quebra das expectativas do público. Não precisa, porém, empreender nenhuma "desmontagem". Encontra esteio pronto para trafegar por essa seara. "É bom ter o apoio dessa estrutura tão sofisticada. Isso me trouxe uma facilidade. Não tenho que subverter o que ele escreve", comenta.

A complexidade estrutural é um traço que atravessa as criações do dramaturgo. Tanto em In on It quanto em A Primeira Vista existe uma aura de simplicidade. Situações cotidianas. Diálogos cristalinos. Mera aparência. A suposta despretensão recobre um jogo intrincado. Com evoluções e recuos no tempo, múltiplos planos narrativos. Pistas que o espectador é convocado a reunir para surpreender-se ao final.

O Estado de S. Paulo - Cisne Negro, passo a passo

Companhia festeja 35 anos de atuação com quatro de suas maiores obras

Helena Katz

(05/07/2012) Ter conseguido resistir por 35 anos, construindo uma companhia de dança que conquistou um espaço próprio, é o maior orgulho de Hulda Bittencourt, a fundadora do Cisne Negro, que hoje divide a direção com sua filha, Danny Bittencourt. Para celebrar esse percurso de sucesso, remontaram quatro obras de seu extenso repertório e as apresentam de hoje, às 21h, a domingo, às 17h, no Theatro Municipal de São Paulo: Cherché, Trouvé, Perdú (2002, música de Arvo Paart, 18'), de Patrick Delcroix; Shogun (1990, trilha musical reunindo Milton Nascimento e Fernando Brandt, Kôdo e Ondekoza from Sado Island, 6'), de Ivonice Satie; Cânticos Místicos (1989, com excertos do Messias, de Haendel, 29'43''), de Vasco Wellenkamp; e Bailantas, de Ana Mondini (1988, 21', com música ao vivo de e com Gilberto Monteiro (gaita), Eduardo Cantero (violão) e Thiago Moreira (percussão). Os ingressos custam entre R$40 e R$90.

A companhia nasceu em 1977, da reunião de alunos do curso de Educação Física da USP com estudantes do Estúdio Cisne Negro, contrariando a rarefação de elencos masculinos típica da época. Esse diferencial como que prenunciou o cuidado com a formação de bailarinos que se tornaria uma de suas mais fortes contribuições para o desenvolvimento da dança. "Me sinto muito orgulhosa do cuidado que sempre tivemos com a formação de bailarinos", diz Hulda, em entrevista telefônica ao Estado.

Muito emocionada, comenta o programa escolhido para comemorar a data: "Foi uma trabalheira remontar estas quatro criações, pois desejávamos relembrar marcas importantes na nossa trajetória. Mas nunca imaginei que existissem tantos 'órfãos' de Bailantas."

Shogun foi criado por Ivonice Satie em homenagem a seu avô, seu mestre de Iaidô/Shinto-Ryo, arte marcial que utiliza espadas. Cherché, Trouvé, Perdu, de Patrick Delcroix, surgiu com o apoio dos consulados da Holanda e da França. E Bailantas, de Ana Mondini, tem figurinos de Murilo Sola. Trata-se de um programa capaz de demonstrar o ecletismo coreográfico que tem pautado o percurso da companhia, que sempre se destacou por também incentivar coreógrafos brasileiros.

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"Apareceu ontem um bailarino do primeiro elenco, o Jorge Leal, de cabelos brancos, e quase tive um infarto. Ele era o mais baixinho e Arrieta o escolheu para dançar Primeira Oração. Caí em prantos", conta ela. "A nossa situação sempre foi a de superar dificuldades. Acho que sempre fui mais louca do que imaginava. Lembro daquela fase em que o dinheiro de todos foi sequestrado, durante o governo Collor, e que, ao invés de acabar com tudo, conforme Edmundo, meu marido, aconselhava, fui ao banco escondido dele e pedi um empréstimo."

O Cisne Negro encerrou o primeiro semestre de 2012 realizando um fato inédito e conquistando um recorde: precisou dividir-se em duas companhias para atender uma agenda que transbordava e mostrou Vem Dançar e Baobá mais de 90 vezes em 20 cidades brasileiras, dentro do projeto que desenvolve para a formação de plateias.

Para o próximo semestre, a companhia prepara mais uma estreia, e vai participar da Feira Internacional do Livro de Bogotá. E, no ano que vem, retoma suas apresentações no exterior, voltando à Alemanha, onde é sempre bem recebida. "As dificuldades não foram poucas, mas tenho poucas queixas, só as normais de quem trabalha com pessoas diferentes em uma atividade tão pouco estável como a dança, na qual se enfrenta sempre um futuro incerto, sem que o que já se tenha conquistado garanta uma continuidade. Mas hoje, posso garantir que aprendi que o que nos alimenta é a certeza de que o que interessa é dançar. O que interessa é educar."

Cabe agora a Danny Bittencourt, que também coreografa para a Cisne Negro, levar adiante o legado de sua mãe.

Brasil Econômico - Espetáculo mistura gritos, sussurros e movimento

Com trilha sonora inusitada, Companhia Taanteatro, fundada pela coreógrafa Maura Baiocchi, estreia Danças [Im]Puras, esta semana, na capital paulista

Dançarinosdo Taanteatro participaramdacriação doespetáculo,emcartaz até dia22emSão Paulo

Cintia Esteves

(06/07/12) A ideia da coreógrafa Maura Baiocchi, da companhia Taanteatro, era criar um espetáculo de dança livre de referências narrativas ou teatrais. Dar ênfase somente aos corpos dos dançarinos e direcionar a atenção do espectador para seus movimentos era o desafio. Mas aos poucos ela chegou à conclusão de que talvez não fosse possível criar coreografias tão puras. Afinal, cada dançarino já traz consigo sua própria história de vida, suas experiências e, por esta razão, a dança não sairia totalmente imparcial.

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Por este motivo, Maura deixa o público tirar suas próprias conclusões. A começar pelo nome do espetáculo, Danças [Im]Puras, que estreou esta semana em São Paulo, na Galeria Olido. A apresentação é um encadeamento de coreografias coletivas, duos e solos acompanhados por uma trilha sonora assinada pelo compositor brasiliense Cláudio Fialho.

Para compor as músicas, ele misturou sussurros, gritos e outros sons vocais dos seis dançarinos do espetáculo a instrumentos de corda, sopro, percussão e piano. São 70 minutos de música eletrônica que provocam o espectador. “Os artistas fizeram os mais variados sons. O único pedido foi para que eles não reproduzissem músicas conhecidas”, afirma Maura.

O cenário, assinado pelos artistas plásticos argentinos Roque Onofre Fraticelli e Candelária Silvestro, é outro destaque do espetáculo. O casal também é responsável pelos objetos e figurinos do espetáculo. “Roque tem 60 anos e Candelária 35. Esta diferença de idade entre eles deu mais riqueza ao trabalho que desenvolveram juntos”, afirma Maura.

Este ano a Taanteatro completa 20 anos. A companhia já se apresentou em diversos países, entre eles França, Alemanha, Japão, Moçambique, Argentina e Estados Unidos. Maura, sua fundadora, tem no currículo a criação de mais de 90 espetáculos.

Seguindo viagem Após a sequência de apresentações na Galeria Olido, Danças [Im]Puras segue para o Teatro Sergio Cardoso, também na capital paulista, onde se apresenta entre os dias 14 e 22 de julho. Além de Maura Baiocchi, o elenco conta com os dançarinos Valter Felipe, Alda Maria Abreu, Vlamir Sibylla, Roger Valença e Rodolfo Osses.

O Estado de S. Paulo - Brasil em imagens

Em nova peça, Michel Melamed abre mão do texto e evoca o carnaval para refletir sobre situação do País

Maria Eugênia de Menezes

(06/07/2012) Para conseguir dizer o que queria, Michel Melamed preferiu abrir mão das palavras. Em Adeus à Carne ou Go To Brazil, espetáculo que estreia amanhã, o ator e diretor surge distanciado da intensa verborragia que sempre caracterizou sua obra. "Não foi uma decisão deliberada. Mas, durante o processo, me pareceu que não ter um texto era a melhor maneira de abrir o trabalho para múltiplas leituras", comenta o artista.

Desta vez, o olhar ácido de Melamed se volta para o Brasil. Questões prementes da contemporaneidade atravessam a encenação: a truculência da sociedade, a violência, o individualismo exacerbado, os fenômenos de comunicação de massa.

Mas não se pretende que o público receba um discurso unívoco que amarre todos esses temas. "Minha intenção é sempre levar o espectador a fazer a síntese. Servir como estímulo a sua imaginação", define.

A despeito do novo território que demarca, a criação tem vínculo com seus trabalhos anteriores, especialmente com o mais recente deles. Seewatchlook (2011), que foi encenado em Nova York, já surgia como um prenúncio da ausência de texto e da valorização dos elementos não verbais.

Com apelo para linguagens como a dança, a performance e as artes plásticas, a proposta atual guarda lastro da tradição recente das artes cênicas, em especial da visualidade acurada do norte-americano Robert Wilson.

Para construir sua reflexão sobre o Brasil, Melamed vai evocar um de seus símbolos maiores: o carnaval. A festa popular, neste caso, não surge como metáfora de nada. Mas como forma a ser apropriada. "Outras artes, como a música, se relacionam de forma muito mais estreita com o

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carnaval. Minha intenção era ampliar o trânsito entre o sambódromo e o palco. São manifestações tão próximas, não faz sentido que não se trate mais desse vínculo", comenta o diretor.

Munido dessa visão, ele trouxe para a montagem uma forma de organização que é própria dos desfiles das escolas de samba. O elenco, que além de Melamed reúne nomes como Alessandra Colasanti, Bruna Linzmeyer e Giselle Motta, apresenta-se em um cenário formado por seis pistas verticais.

Será aí que cada uma das cenas surgirá como se fosse uma ala: a comissão de frente, o carro abre-alas, a velha-guarda.

Estado de Minas - Manifestações autênticas

Poesia e olhar feminino temperam a trama de Um dia ouvi a Lua

Walter Sebastião

Um dia ouvi a Lua resgata a delicadeza da cultura caipira do povo brasileiro

(06/07/2012) Três canções de Tonico e Tinoco são a fonte de inspiração para a peça Um dia ouvi a Lua, que o grupo paulista Cia. Teatro da Cidade, de São José dos Campos (SP), apresenta de hoje a domingo, no Galpão Cine Horto. São elas: Adeus, morena, adeus, sobre violeiro que prefere continuar errante a se casar; Cabocla Tereza, história de uma mulher assassinada; e Rio pequeno, sobre uma garota que foge com o amado. No espetáculo todas são narradas e encenadas, só que a partir do ponto

de vista feminino. O espetáculo, que tem direção de Eduardo Moreira, ator do Galpão, e texto e dramaturgia de Luiz Alberto Abreu, ganhou indicação para vários prêmios e conquistou alguns como o Myriam Muniz de Circulação, da Funarte.

“Um dia ouvi a Lua traz, com surpreendente sentido poético, a cultura caipira. É convite para entrar em contato com manifestações soterradas no inconsciente, autênticas, que tocam em ancestralidade. É a história dos nossos pais e avós”, conta Eduardo Moreira, lembrando que o samba também tem esse sabor. Ele vê no trabalho dimensão telúrica e “sentimentos profundos da cultura brasileira, que andam muito massacrados pela massificação”. Explica que a montagem não tem nada a ver com as produções sertanejas exibidas no rádio e na TV. O diretor chama a atenção para “a graça e a ingenuidade” da montagem, que, ao vazar um mundo excessivamente regido pelo dinheiro, encanta – e muito.

Trata-se, como explica Eduardo Moreira, de híbrido de narração e interpretação. Os atores são, em certos momentos, contadores de histórias e, em outros, personagens delas. A direção foi no sentido de buscar leituras mais poéticas dos textos e dramaticidade mais potente para as interpretações. “Em teatro, temos de buscar a precisão”, observa o diretor. Com luz suave, figurinos cor de terra e interioranos, construiu-se obra com presença da palavra poética muito elaborada e imagens surpreendentes. Valoriza-se a dimensão musical da peça, inclusive pelo interesse do grupo de São José dos Campos em desenvolver esse aspecto. “A alma brasileira fala muito por meio da música, então é natural que o teatro acompanhe isso”, observa Eduardo.

A Cia. Teatro da Cidade foi fundada em 1990 como grupo estável da Fundação Cassiano Ricardo, em São José dos Campos e se tornou independente em 1993. Trabalha buscando comunicação popular e formação de público. Há uma década desenvolve pesquisa com a linguagem narrativa que permite criar espetáculos nos mais diversos cenários e grande diversidade de público. Já realizaram 17 espetáculos de autores clássicos a contemporâneos, apresentados no Brasil e no exterior. Em 2000, o grupo inaugurou o Centro de Artes Cênicas Walmor Chagas, espaço aberto à comunidade e voltado para difusão cultural.

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Brasil Econômico - Respeitável público, o circo está de volta com novos espetáculos

Projeto da Abracirco, que concorre ao prêmio de Economia Criativa do MinC, propõe levar dança e teatro para o picadeiro

A cidade de São Paulo já abrigou 50 espetáculos circenses na década de1960, mas hoje a estimativa é que não passem de 10

Natália Flach

(09/07/2012) As luzes se apagam e o apresentador anuncia ao respeitável público que o espetáculo já vai começar. Palhaços, bailarinas e contorcionistas entram em cena e se revezam como malabaristas na arte de entreter a plateia. Mas a criatividade dos artistas não se resume a piadas e mágicas apresentadas no picadeiro. Aparece também na

capacidade de se reinventar e de vencer obstáculos.

O circo, que até a década de 1970, era uma das principais fontes de entretenimento no país, perdeu espaço para as horas gastas na frente da televisão e para os passeios em shoppings. Não é surpresa, portanto, que tantas companhias circenses tenham desmontado a lona para sempre. O Brasil já teve 3 mil grupos rodando de Norte a Sul, mas, hoje, a estimativa é que não passem de 1,8 mil. Sozinha, a cidade de São Paulo já abrigou 50 trupes, agora, se for palco de 10 é muito.

Coma chegada do famoso Cirque du Soleil ao país, houve uma redescoberta do circo brasileiro. Camilo Torres, presidente da Associação Brasileira do Circo (Abracirco), diz que o público está voltando a encher as arquibancadas, mas a falta de informação sobre os espetáculos acaba reduzindo as chances de a casa ficar lotada. A proposta da Abracirco – que está disputando Prêmio Economia Criativa, criado pelo Ministério da Cultura – é que haja maior publicidade sobre as apresentações e que o picadeiro também possa ser palco de outras atividades culturais. “O circo pode se transformar em um espaço multimídia com projeção cinematográfica, de dança e teatro. Pode haver transversalidade com outras artes, no dia em que não tiver espetáculo. Pode ainda oferecer oficinas artísticas para as crianças”, sugere Torres.

A expectativa é que a transformação do picadeiro nesse espaço multicultural consiga atrair ainda mais público. “Se a gente ganhar o prêmio do MinC, vamos usar os recursos para investir em propaganda”, promete. Há ainda a possibilidade de melhorar a relação com as prefeituras, que, hoje, é delicada por causa da burocracia municipal. As trupes precisam apresentar um laudo com as características do espetáculo e ainda passar por vistoria do corpo de bombeiros. Isso tudo tem de ser agendado 40 dias de antes de chegar à cidade. A proposta da Abracirco é que haja uma padronização nos documentos requisitados e que o prazo para pedir permissão para se instalar nos municípios seja reduzido para 10 dias.

“O número de artistas na companhia e os croquis da apresentação não mudam de uma cidade para outra. É tudo igual. Não tem necessidade de tanta burocracia. Às vezes, é preciso se locomover rapidamente para outra localidade, porque acabou a temporada, mas não é possível por causa do tempo de carência. Ficar parado só aumenta os custos”, afirma Torres, lembrando que o circo se mantém com o dinheiro arrecadado com a venda de ingressos.

Em média, são realizados de seis a oito espetáculos de quintafeira a domingo. De segunda a quarta-feira, o picadeiro fica com tempo ocioso. “É nesse período que existe a possibilidade de ter outras apresentações. Pode- se fazer também um acordo com as prefeituras para apresentações gratuita em troca da maior agilidade na aprovação da entrada da companhia na cidade. Assim, pode ajudar, inclusive, na inclusão social de crianças e jovens”, acredita Torres.

Essa redescoberta do espetáculo circense tem atraído mais artistas, o que explica o número crescente de escolas de circo espalhadas pelo país. Torres conta que São Paulo tem

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interesseemconstruir uma escola no município. Com relação à presença de animais no picadeiro, o presidente da Abracirco conta que houve uma redução nos últimos anos. “Alegislação sobre isso é deâmbito estadual. Oestado de São Paulo, por exemplo, proíbe. Não existe uma lei federal, mas tem um projeto que está tramitando sobre isso no Congresso”, explica.

Prêmio do MinC

O Ministério da Cultura (MinC) publicou o resultado da primeira fase do edital de Fomento a Iniciativas Empreendedoras e Inovadoras – Prêmio Economia Criativa. Entre 663 inscrições, foram habilitadas 376 iniciativas que concorrerão a um total de 150 prêmios, divididos em duas categorias: 100 na categoria ‘Novos modelos de Gestão de Empreendimentos e Negócios Criativos’, e 50 na categoria ‘Formação para Competências Criativas’.

Na primeira modalidade, o MinC reconhece negócios criativos bem sucedidos, ou iniciativas para solução de problemas em empreendimentos criativos. A segunda categoria seleciona propostas pedagógicas de cursos na área criativa. O Prêmio Economia Criativa inclui também o edital de estudos e pesquisas de economia criativa.

Ao todo o MinC vai premiar 172 iniciativas com R$ 4,1 milhões.

Valor Econômico - Sutil Companhia de Teatro questiona mortalidade humana

Por Daniel Schenker

Guilherme Weber faz homem confrontado com misteriosa doença terminal

(10/07/2012) Felipe Hirsch gosta de realizar projetos que soam impossíveis. "O Livro de Itens do Paciente Estevão" - novo espetáculo concebido pela Sutil Companhia de Teatro e por Sam Lipsyte que estreia nesta quinta-feira no Espaço Sesc, em Copacabana - é um exemplo genuíno.

Os ensaios consumiram mais de dez horas diárias nos últimos meses. Depois dessa imersão, Hirsch afirma que a

encenação, que tem a arriscada duração de 280 minutos, desponta como um trabalho que escapa a formatações, a qualquer esforço de classificação.

"Não se faz teatro tentando acertar, mas apostando numa reflexão ampla e ousada", afirma Hirsch. A empreitada deverá desembarcar em São Paulo no dia 7 de setembro, no Sesc Belenzinho.

Há vínculos incontestáveis entre "O Livro de Itens do Paciente Estevão" e "Hamlet", de William Shakespeare, peça que já tinha sido visitada pela Sutil na montagem de "Estou Te Escrevendo de um País Distante", apresentada em 1997. "De início, não identificamos a conexão com 'Hamlet'. Entretanto, durante o processo percebemos que o percurso épico de 'Hamlet' está todo aqui", diz Guilherme Weber, ator e fundador da Sutil ao lado de Felipe Hirsch.

Dividido em duas partes - Os Princípios e Os Demônios -, o texto de "Paciente Estevão" é centrado na jornada do personagem-título, confrontado com uma misteriosa doença terminal. Após buscar sem sucesso uma cura mística, espiritual, ele é envolvido por uma corporação, que passa a explorá-lo.

"Estevão é um homem que está morrendo, como todos nós. Falamos também sobre o que significa viver sob os domínios de gigantescas corporações que comandam a linguagem e o comportamento da humanidade", diz Guilherme Weber. "O Livro de Itens do Paciente Estevão" se debruça sobre a falsificação das relações no mundo virtual. "Existe uma manipulação de sentimentos no meio virtual, que é onde as pessoas se escondem, dão vazão aos instintos primitivos."

Trata-se de um espetáculo conectado com o presente, mas que, ao mesmo tempo, resulta do percurso atravessado pela Sutil (companhia fundada em Curitiba que completará 20 anos em 2013) e, consequentemente, do próprio Felipe Hirsch.

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"Esse trabalho reflete a minha vida, a minha maneira de lidar com o mundo. É angustiado, catártico. Eu me vejo do lugar da plateia, assistindo a 'Paciente Estevão' há anos e gostando muito. Talvez hoje perceba o espetáculo de maneira mais pesada, com mais responsabilidade do que quando era jovem", afirma Hirsch, que dá continuidade ao elo com parceiros profissionais como Daniela Thomas (na cenografia) e Beto Bruel (na iluminação).

Além de "Estou Te Escrevendo de um País Distante", Hirsch revisita nessa encenação outras montagens da Sutil, uma companhia marcada pelas referências ao universo pop ("A Vida É Cheia de Som e Fúria", "Trilhas Sonoras de Amor Perdidas"), pela sensibilidade feminina ("Por um Novo Incêndio Romântico", "A Memória da Água"), pela gramática dos quadrinhos ("Avenida Dropsie") e pela investigação de textos clássicos ("A Morte do Caixeiro Viajante").

Hirsch procura investir numa relação sensorial com o público, estimulando o espectador a se apropriar das imagens descortinadas diante de seus olhos e, assim, a exercer sua autoria. Apresentado no espaço da arena, "O Livro de Itens do Paciente Estevão" coloca a plateia diante de diversas interferências estéticas.

"O espetáculo propõe uma visão ampla, aberta", afirma Leonardo Medeiros, ator que foi conduzido por Hirsch nos espetáculos "Temporada de Gripe", "Avenida Dropsie" e "Não Sobre o Amor" e agora é o protagonista dessa saga monumental que, porém, não se pretende grandiosa.

"Tenho a sensação de que nossas ideias se expandiram e foram condensadas na encenação. Parece mais pocket do que monumental, apesar de ser o contrário. É como um daqueles quebra-cabeças com 20 mil peças, cada uma com um encaixe específico, difícil de manipular", diz Medeiros, que contracena com Guilherme Weber, Georgette Fadel, Isabel Teixeira, Maureen Miranda, Márcio Vito, Danilo Gran- gheia e Pedro Inoue.

O Estado de S. Paulo - A boa maré de Lia Rodrigues

Companhia que trabalha em favela do Rio mostra dois espetáculos em São Paulo

(11/07/2012) Helena Katz , especial para o Estado - Uma oportunidade para não se perder: a Lia Rodrigues Companhia de Danças mostra, hoje e amanhã no Sesc Belenzinho, Aquilo de Que Somos Feitos (2000), e Piracema (2011), no sábado e domingo.

Embora seja associada ao Rio de Janeiro, onde vive e trabalha, Lia Rodrigues nasceu e se formou na cidade de São Paulo, com a professora Nice Leite, na Escola de Bailados. Criou sua companhia em 1990, já no Rio e, até 2003, como tantas outras, não tinha sede fixa. A escolha do lugar onde se fixar foi determinante na sua trajetória porque passou a ressoar na sua criação artística.

Foi graças ao convite de Silvia Soter, sua dramaturgista, que iniciou uma parceria com a Redes de Desenvolvimento da Maré, e dela resultou a mudança da cia. para o Morro do Timbau, uma das 16 favelas que compõem o Complexo da Maré, bairro da zona norte do Rio com cerca de 130 mil habitantes. O fato de ter começado a conviver diariamente com o ambiente da favela acabou por impactar nas obras que foram surgindo. Pororoca (2009), por exemplo, revela, na forma de dança, a violência do encontro com uma realidade muito distinta daquela da zona sul do Rio, na qual o grupo, até então, existia.

Dois anos antes, em 2007, a cia. havia se transferido para o Centro de Artes da Maré, em outra das favelas, a Nova Holanda. É neste espaço que, também em 2009, começou o projeto "Dança Para Todos": aulas gratuitas de dança contemporânea, consciência corporal e dança criativa para crianças e jovens do entorno. Em outubro de 2011, esse projeto se transformou na Escola Livre de Dança da Maré, que atende cerca de 200 alunos. Deles, 15 jovens frequentam um curso profissionalizante, voltado para a pesquisa de material criativo, cinco vezes por semana, 4 horas por dia.

A Lia Rodrigues Companhia de Danças representa um segmento muito importante na dança brasileira, na medida em que resiste no formato de uma companhia que, com o seu repertório, vem formando bailarinos e público. No Brasil, dança menos do que deveria. Piracema, por exemplo, foi visto primeiro em Paris e na Bélgica. Nasceu de 11 solos criados pelo elenco, que é formado por Amália Lima, Ana Paula Kamozaki, Lidia Laranjeira, Calixto Neto, Thais Galliac, Jamil Cardoso,

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Leonardo Nunes, Gabriele Nascimento, Paula de Paula, Bruna Thimotheo e Francisco Cavalcanti. Todos os 11 são mostrados ao mesmo tempo, revelando algo muito precioso: que é possível coabitar sem coincidir.

"Como podemos nos relacionar com o que é diferente? Meu trabalho se ocupa disso" diz ela, em entrevista telefônica ao Estado. Em Piracema, a cia. nos fala da necessidade de não sucumbir ao cansaço que o ir contra a correnteza produz. Tal como os cardumes que nadam rio acima, em direção à nascente, debatendo-se e produzindo um rumor característico, buscando as águas mais limpas e mais tranquilas das cabeceiras dos rios para lá desovarem a sua continuidade, transformando a exaustão do seu esforço em um recomeçar da vida. "Nesse percurso, aprendemos a estar próximos, apesar de sozinhos", explica. Em tupi-guarani, pira significa peixe, e cema quer dizer agitação.

No texto que publicou no 7X7 (www.idanca.net), um novo espaço inventado pela coreógrafa Sheila Ribeiro, no qual artistas escrevem sobre artistas, o coreógrafo Wagner Schwartz comentou Piracema: "A peça, revisitando o conceito de 'viver em conjunto', criado por Roland Barthes, inscreve um espaço de narração individual específica. Piracema é um manifesto contra a uniformização."

Quando Piracema é apresentada ao lado de Aquilo de Que Somos Feitos, que se mantém viva e importante ao longo de seus 12 anos de contínuas apresentações, passa a testemunhar uma sobrevivência possível nesses tempos de contínua produção de obsolescência, quando tudo nasce para ser logo descartado. Perceber a necessidade deste tipo de resistência talvez já nos inicie na direção contrária que pode ser transformada em caminho.

O Globo - A força da voz do morro

Barbara Heliodora

(11/07/2012) Quando hoje se fala tanto em comunidades pacificadas e da vontade de incluí-las na vida cultural da cidade, é com respeito que é preciso falar do grupo Nós do Morro, em atividade no Vidigal desde 1986.Com um trabalho que prima pela continuidade e pela qualidade, o grupo tem o mérito de não só de fazer teatro como oferecer cursos e oficinas os mais variados, servindo à comunidade e até formando profissionais das artes cênicas que já ocupam lugar no teatro, no cinema e na televisão.Com “Bandeira de retalhos”, em cartaz no Teatro Maria Clara Machado, o Nós do

Morro nos oferece, depois de um período de dez anos, um texto original a respeito da vida da própria comunidade, no caso, um roteiro cinematográfico escrito por Sergio Ricardo em 1979, agora adaptado para o teatro.

Espontaneidade em cena

O tema é o momento, em 1976, em que houve uma tentativa de expulsar ao menos parte dos moradores do Vidigal de seus barracos, e a unificação do grupo em torno de uma associação de moradores, com o apoio da imprensa e da igreja

católica. O texto é enriquecido por uma série de canções do mesmo Sergio Ricardo, que sublinha o tom de autenticidade do espetáculo.

A encenação é muito bem cuidada, com um ótimo cenário de Rui Cortez, que evoca não só os barracos de moradia e comércio, mas também a bica onde todos vão para buscar água, para beber ou lavar. Os figurinos são de Pedro Sayad e Tita Nunes, que por sua vez lembram os trajes usados naquela época pela população dos morros. A luz de Márcia Francisco é muito boa, e a direção

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musical de Sergio Ricardo e João Gurgel faz preciosa contribuição para o clima especial da peça. A direção, de Guti Fraga e Fátima Domingues, procura preservar a espontaneidade do comportamento dos que bem conhecem o universo do Vidigal, e faz os personagens caminharem em curvas, para dentro e para fora do cenário, quando vão de um ponto a outro, marcando assim as vielas e passagens típicas de uma comunidade onde os barracos são construídos sem planejamento, o que é um ótimo achado.

No elenco, 21 atores, todos formados no e pelo Vidigal, vivem com desembaraço e energia o universo que conhecem muito bem e, portanto, sabem retratar. Não seria justo destacar qualquer deles, já que é principalmente o conjunto que melhor transmite o clima do espetáculo, mas torna-se indispensável dizer que, quando canta ou toca, o conjunto fica particularmente inspirado, e dá ainda mais vida a essa bonita “Bandeira de retalhos”.

ARTES PLÁSTICAS

Correio Braziliense - Os brasileiros de Portinari

Exposição reúne 12 painéis do pintor paulista. Outra mostra destaca bordados sobre a obra do mestre, morto há 50 anos

Milene Sodré

(03/07/2012) Baianos, gaúchos, índios, vaqueiros e seringueiros, entre outros tipos legitimamente nacionais, são apenas parte dos personagens retratados na coleção Cenas Brasileiras, série composta de 12 painéis que constituem uma das mais homogêneas criações do pintor Cândido Portinari, em exposição gratuita no Salão Negro da Câmara dos Deputados, de hoje a 16 de setembro, das 9h às 17h.

A coleção, que faz parte do acervo do Banco Central, estará acessível ao grande público pela primeira vez em sua totalidade. Com Cenas Brasileiras, o artista paulista mais reconhecido no exterior se volta para particularidades regionais, representa o popular, o folclórico, amplia seu universo conceitual, sem abandonar a celebração do país (marca registrada em suas obras).

O conjunto é considerado pelos especialistas um panorama da cultura brasileira, um passeio pelos nossos tipos populares mais comuns, regionais e nacionais. São obras marcadas não só pela temática fortemente identificada com o povo brasileiro, mas também por inovações com o desenho expressivo, de efeitos dramáticos e uso inusitado da forma e da cor.

“Nossa intenção é homenagear o mestre Portinari em seus 50 anos de partida e apresentar à cidade ícones da pintura clássica e moderna, de diferente estilos, porém com mesmo interesse de exaltar o Brasil em suas obras”, esclarece Cazimiro Neto, supervisor do Espaço Cultural da Câmara.

Os painéis de Portinari farão parte da exposição Retratos da Brasilidade que conta ainda com o célebre quadro A Primeira Missa no Brasil, do catarinense Victor Meirelles. Pertencente ao Museu Nacional de Belas Artes (RJ), esta será a primeira exibição da obra em Brasília e apenas a terceira vez que ela sai do museu que a abriga.

A pintura em óleo sobre tela foi feita em Paris. A representação iconografica e imaginária da primeira missa católica realizada em terras tupiniquins começou a ser pintada em 1859 e finalizada em 1861. A tela foi sugestão do amigo e artista plástico Manoel de Araújo que o incentivou a criar algo ligado ao sentimento de brasilidade, dando origem a um dos trabalhos mais conhecidos do imaginário popular.

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O Estado de S. Paulo - Visconti: vida para a arte

Tachado de acadêmico, Eliseu Visconti tem obra revista

(03/07/2012) Na virada do século 20, Eliseu Visconti (1866-1944) foi um dos pintores mais importantes do Brasil. Hoje, um ou outro frequentador do Teatro Municipal sabe que as pinturas monumentais da sala de espetáculos e em parte do foyer são de sua autoria. Italiano radicado no Rio ainda menino, Visconti tinha 56 anos em 1922, na época da Semana de Arte Moderna. Sua obra acabou tachada de acadêmica em meio às inovações técnicas e temáticas da turma de São Paulo, 20, 30 anos mais jovem, e seguiu subvalorizada na segunda metade do século. Quase sete décadas depois de sua morte, essa trajetória está aos poucos mudando de curso. Entre dezembro de 2011 e o fim

do mês passado, uma ampla retrospectiva, "Eliseu Visconti - A Modernidade Antecipada", tomou seguidamente a Pinacoteca do Estado e o Museu Nacional de Belas Artes, as duas instituições que mais obras têm dele. Dela originou-se um belo catálogo. No fim de julho ou início de agosto, será lançada uma nova biografia.

"Eliseu Visconti e Seu Tempo", a única até hoje, foi escrita pelo crítico Frederico Barata e publicada em 1944, logo depois de ele morrer. Tem imprecisões: diz, por exemplo, que o italianinho veio de Salerno com um ano, quando chegou aos sete, com uma irmã mais velha, para viver com outros três irmãos numa fazenda no interior do Rio. A versão falsa era sustentada pelo próprio, que não admitia que sua nacionalidade brasileira fosse questionada. "Eliseu Visconti - A Arte em Movimento", o novo livro, terá uma parte biográfica acurada, uma análise de sua caminhada artística, a cargo da historiadora de arte Mirian Seraphim, especialista em Visconti, e um capítulo dedicado ao Municipal (as pinturas, recuperadas na reforma do centenário do teatro, foram feitas todas em Paris, entre 1905 e 1908, pois o Rio não oferecia condições para um trabalho de dimensões tão grandiosas). Também são desenvolvidos temas como o pioneirismo como designer (fez cartazes publicitários, estampas para tecidos) e a influência do simbolismo em seu trabalho.

Quem está por trás dessa e de outras iniciativas recentes de divulgação de Visconti é o neto Tobias, que herdou do pai, falecido em 2003, a responsabilidade. Nenhum dos dois seguiu o ofício, mas ambos tomaram para si as tarefas de preservar o acervo particular do pintor (correspondências com seus contemporâneos, desenhos, jornais de mais de 100 anos) e de divulgar a obra (estimada em 800 peças).

Tobias - que não chegou a conhecer o avô - está determinado a elevar Visconti a uma posição de destaque na história da arte brasileira. "Com a Semana de 22, ficou perpetuado que tudo que veio antes não era importante, não representava a arte brasileira, era cópia dos europeus", ele avalia. "Na Europa, os impressionistas são considerados modernos; no Brasil, acadêmicos." O primeiro passo, em 2005, foi a criação do site www.eliseuvisconti.com.br, que se tornou uma referência. O próximo será a elaboração do catálogo raisonné. Para isso, ainda falta patrocínio.

Os 90 anos da Semana de 22 vêm suscitando novas leituras do movimento e de seus antecessores. "Diferentemente de outros, Visconti foi reconhecido em vida, terminou a vida numa situação financeira muito boa. Sua obra é universal e eterna", diz Mirian Seraphim, que dedicou mestrado e doutorado na Unicamp à obra. "Visconti não teria por que participar de um movimento de contestação porque nunca se sentiu preso a nada, era livre. Variava as técnicas, usava pinceladas divisionistas quando queria (características do chamado neoimpressionismo). Em Paris, entre 1894 e 1898, frequentou os ateliês mais modernos. Está no marco divisório entre a arte acadêmica e a moderna. O problema é

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Arrojado. Artista ousou em nus como As Duas Irmãs (ou No Verão), exposto no Rio em 1901 e de discreto clima sensual

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que as obras que ficaram na memória das pessoas são as expostas pelos museus, justamente as mais tradicionais, e isso o deixou numa sombra", completa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Estado de Minas - Mágico e real

Sérgio Rodrigo Reis

(05/07/2012) O artista plástico mineiro Vasconcellos conseguiu construir sólida carreira no exterior com uma trajetória peculiar. Desde que se exilou na Dinamarca, por motivos políticos, há 35 anos, ele começou a desenvolver sua arte inspirada no realismo fantástico, motivo de várias premiações internacionais. Até domingo, os mineiros terão oportunidade de conferir esses trabalhos na Pequena Galeria do Teatro da Cidade.

Gravuras, pinturas, desenhos e aquarelas mesclam talento, técnica e olhar apaixonado sobre o mundo. Tem sido assim ao longo dos anos, numa imersão pelo campo do realismo mágico, não raras vezes inspirado pela literatura de Gabriel Garcia Márquez e de Guimarães Rosa. Outra referência é a mulher, que aparece repleta de sutilezas e sensualidade.

O curador da exposição, Pedro Paulo Cava, explica que o figurativo de Vasconcellos surge de névoas quase abstratas, que parecem envolver o universo de suas obras. “Salta um rosto, surge um grupo de pessoas, situações, cenários e objetos displicentemente jogados sobre a tela, que nos chamam a atenção pelo que há de envolvente e atrativo neles”, resume. A Pequena Galeria funciona na Rua da Bahia, 1.341, Centro. Ficará aberta hoje e amanhã, das 14h às 19h; sábado e domingo, das 16h às 21h. Informações: (31) 3273-1050 e www.vasconcellos.dk

O Estado de S. Paulo - Para inglês ver

Rio Occupation London leva 30 artistas do Brasil para ocupar a capital inglesa durante os Jogos Olímpicos

Flavia Guerra

(09/07/2012) Imagine que você more em Londres, e que sua casa vai ser ocupada por artistas que não falam sua língua e cuja cultura você não conhece bem, mas a quem você possa convidar e assistir a uma apresentação no conforto de seu lar. Pode ser uma performance, show, dança ou até refeição. Tudo é filmado, editado e se transforma em um documentário que será exibido em caixas espalhadas por diversos pontos de Londres. Improvável, mas não impossível. E é exatamente isso que a autora e diretora de teatro e cinema Christiane Jatahy pretende realizar a partir de hoje, durante o Rio Occupation London, uma das mais inovadoras ações culturais que o Brasil já realizou em Londres e que integra a programação do Festival London 2012, espécie de Olimpíada Cultural, que levará ao Reino Unido centenas de artistas, famosos e desconhecidos, antes e durante os Jogos Olímpicos.

As intervenções de Christiane Jatahy fazem parte desta ação, que leva outros 29 artistas cariocas de diversas áreas para, durante um mês, ocuparem a capital inglesa. Baseados no Battersea Arts Center (BAC), desenvolverão projetos nas áreas de cinema, música, fotografia, artes cênicas, teatro, design, entre outros. Além de realizarem várias performances em diversos pontos da cidade, farão apresentações em locais como Victoria and Albert Museum, Tate Modern, Southbank Centre, Rich Mix, BAC e uma grande celebração, de 1.º a 3 de agosto, no V22 Summer Club, onde mostrarão o resultado dos projetos desenvolvidos no período. Criado pela Secretaria de Cultura do Rio, o projeto tem produção executiva da organização artística People's Palace Projects em parceria com o BAC e o V22 Summer Club. "Estamos muito felizes. Desde a antiguidade deveria ser assim, mas acabou permanecendo só a parte esportiva dos jogos", conta a secretária de Cultura do Rio, Adriana Rattes.

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Foi em uma das idas de Adriana a Londres que a ideia da Occupation nasceu. "Estava de férias e fui a um encontro em que Ruth Mackenzie, diretora da Cultural Olympiad, falava de seus planos e comentei sobre nossa vontade de realizar algo. Ela então pediu que pensássemos em uma ação. E aqui está. Vai reverberar e deixar suas sementes. E em outubro serão os ingleses que virão ao Brasil com o London Occupation Rio", conta Adriana. Para ela, a parceria é, mais do que levar uma visão contemporânea da arte brasileira, um legado para o Rio 2016.

É exatamente esta reverberação que interessa a Christiane Jatahy. Além de artista convidada, ela é, ao lado do designer e diretor de teatro, cinema, dança e circo Gringo Cardia, diretora artística do Rio Occupation London. Mais que uma lista de medalhões que mostraria o mainstream do que o Brasil vem produzindo, a dupla escalou nomes que, se não têm o apelo pop de astros como Gilberto Gil (que há pouco se apresentou no festival Back 2 Black), possuem potencial para contaminar os londrinos com ações que vão além do "para inglês ver". "Na coletiva de imprensa de lançamento do projeto, no Rio, um jornalista internacional perguntou por que não levávamos orquestras tocando Villa-Lobos, Tom Jobim, etc. Amamos a arte dele, mas queremos mostrar um Brasil pouco conhecido e atual", explica Adriana Rattes.

Na lista de artistas, estão nomes como a cineasta Anna Azevedo, que vai documentar e questionar os clichês de Londres e do Rio; o artista gráfico Breno Pineschi, que instalará grandes cachos coloridos de bananas em diversos pontos da capital inglesa; o bailarino Bernardo Stumpf, que vai ministrar workshops em comunidades e criar, em parceria com dançarinos ingleses, performances que serão apresentadas em lugares não destinados a isso. Christiane acrescenta: "É no nível pessoal, na relação microcosmo de uma casa, de um transeunte, de uma exibição de cinema alternativo no East London, que esta nova arte contemporânea brasileira vai ocupar as mentes de quem vier a descobrir que o Rio, e o País, produzem muito mais que samba."

Folha de S. Paulo - Fazenda pretende criar "Inhotim paulista"

Como no museu mineiro, Serrinha propõe mistura de arte contemporânea e natureza

Silas Martí, enviado especial a Bragança Paulista (SP)

(10/07/2012) Vacas pastam ao longe numa tarde ensolarada de inverno. No meio do mato, está um outdoor com a imagem de uma mula sem cabeça. Perto dali, uma instalação em que o esqueleto de uma casa parece flutuar sobre o campo.

Na fazenda onde acontece agora a 11ª edição do Festival de Arte Serrinha, vem tomando forma uma espécie de Inhotim paulista. Serão obras de 17 artistas espalhadas por um terreno do mesmo tamanho da Disneylândia da arte no interior mineiro, cerca de cem campos de futebol.

"Essa coisa de arte na natureza é a nossa história", conta Fabio Delduque, um dos donos da Serrinha, num passeio pelas terras. "Tem aproximações com Inhotim, mas não temos o capital inicial deles. Lá é mais um museu, aqui as coisas são criadas, são vivas, é um laboratório de experimentação."

De fato, não se compara o orçamento de R$ 1,1 milhão do parque de obras da Serrinha em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, com os R$ 400 milhões despejados no Instituto Inhotim, centro nos arredores de Belo Horizonte, com um dos maiores acervos de arte contemporânea ao ar livre do mundo. Mas artistas de peso na cena do país, como Laura Vinci, Carlos Fajardo, Rochelle Costi e José Spaniol, já estão desenhando seus projetos para o parque onde já estão instalações de Luiz Hermano, que fez a casa flutuante, Bené Fonteles, que construiu um redemoinho de tijolos, e Eduardo Srur, que pôs um barquinho de papel gigante no lago da fazenda. Alguns desses e a maioria

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dos novos trabalhos devem ser feitos com materiais da terra, como tijolos fabricados nas olarias da região, eucaliptos das matas do entorno e formas em taipa de pilão.

OBRAS QUE NASCEM"Todo mundo está desenhando coisas e me mandando", diz Delduque. "As obras estão nascendo agora." Rochelle Costi, que esteve na última Bienal de São Paulo, deve construir duas escadas em espiral em algum ponto da fazenda. Spaniol deve fazer outra escada usando barro moldado ali mesmo. Frans Krajcberg, artista famoso pela militância ecológica e por ter se isolado em um sítio na Bahia, também deve criar para o parque. Suas peças de madeira recuperada, raízes e galhos retorcidos, farão eco ao mobiliário talhado em troncos de árvore do designer Hugo França, o mesmo de Inhotim, que também está na Serrinha. Uma vez instaladas, as obras serão tema de um projeto que pretende levar professores de escolas públicas e outros artistas para cursos na fazenda. "A ideia é desdobrar essas obras em conteúdos", diz Delduque.

MÚSICA

Zero Hora - Um revival de Gonzagão

Filme de Breno Silveira é destaque no centenário de Luiz Gonzaga

Luiz Carlos Merten

(03/07/2012) São 58 CDs, que começam a chegar às lojas em setembro. A Sony, que detém o catálogo da RCA – pela qual Luiz Gonzaga gravou a maior parte de sua obra –, também negociou com a EMI, detentora dos direitos da Odeon, para relançar toda a discografia do rei do baião. Há um revival de Gonzagão, o sanfoneiro do Brasil, aproveitando que em dezembro, dia 13, comemora-se o centenário de seu nascimento. Antes disso, em outubro, Breno Silveira lança Gonzaga, de Pai para Filho.

Prepare seu coração, porque o que vem aí não é pouca coisa. Você pode ter um gostinho do que será Gonzaga, o filme, vendo o vídeo promocional na internet. São imagens impactantes. O diretor Breno Silveira diz que fez o seu longa mais forte. Há sete anos que Gonzagão o assombra. Tudo começou quando ele recebeu, de duas mulheres, um bilhete e uma caixa. “Sabemos que você não quer mais fazer biografias, mas ouça estas fitas”.

A primeira fita era um depoimento de Gonzaguinha, gravado quando ele rumava para o enterro do pai. Gonzaguinha revivia a difícil relação que teve com Gonzagão. Diz que está adentrando um sertão que desconhece. E, olhando pela janela do carro, vê a lua. “O velho Lua (como Gonzagão era chamado) está velando por mim”. Breno admite que se emocionou. As outras fitas registravam um diálogo de Gonzagão com Gonzaguinha. Trata-se de um acerto de contas no qual aflora o grande tema – Gonzaguinha era ou não filho biológico? “Não importa se meu sangue corre em suas veias ou não. Você é meu filho”, diz Gonzagão.

Começou a nascer ali o filme. Outra biografia, como a de 2 Filhos de Francisco, também de Breno Silveira?

– Não faço biografias, conto essas histórias malucas – define o diretor.

Zezé di Camargo e Luciano eram coadjuvantes da própria história em Francisco, centrado na figura de seu pai, que tinha um sonho – fazer dos filhos artistas. Gonzaga é, de novo, sobre uma família fraturada. E, antes de Gonzaga, agora em agosto, Breno estreia À Beira do Caminho, sobre um

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caminhoneiro (João Miguel) que toma sob sua proteção um garoto (Vinicius Nascimento) que procura o pai. À Beira do Caminho não é biografia, mas é o mais puro Breno Silveira, que joga a carta da emoção (sempre), e se beneficia da trilha com canções de Roberto Carlos.

Lançar um filme como À Beira do Caminho, daqui a duas semanas, já tiraria o sono de muito diretor, mas Breno ainda soma à correria do lançamento o estresse da montagem de Gonzaga. Ele costuma demorar na edição de seus filmes. O caso de À Beira do Caminho foi extremo, porque uma tragédia pessoal (a morte da mulher) impediu que, durante um ano, Breno quisesse ver aquelas imagens. O filme é sobre perdas. Gonzaga, agora, está sendo montado rapidamente. São apenas dois meses e meio, e ele já tem de mostrar uma versão do filme na semana que vem.

Como reduzir uma vida como a de Gonzagão em duas horas? Breno gostaria de mais tempo, mas há pressão dos investidores – a prefeitura do Recife, a Globo Filmes – por causa do centenário. Breno fez um épico intimista. Diz que o filme tem “tamanho” e, mesmo assim, Gonzagão não cabe dentro dele. A toda hora surgem novas histórias, ele corta, repõe, testa aqui e ali. Só não quer alterar o formato – Gonzagão, pressionado pelo filho, contando sua história.

No filme, Gonzaguinha é interpretado pelo gaúcho Júlio Andrade. O ator queria muito o papel porque seu pai era louco por Gonzaguinha. De pai para filho. E Gonzagão? Breno optou por dois atores, um na fase jovem (Land Vieira), outro maduro (Nivaldo Expedito de Carvalho, o Chambinho, selecionado entre 5 mil sanfoneiros que atenderam ao chamado para teste). Cinco mil! Chambinho canta e toca, mas Breno permitiu-se uma licença poética.

– O pulmão do Lua é uma coisa fora do comum. Chambinho até começa cantando, mas depois Gonzagão toma conta. Usamos as imagens reais. Ele é insubstituível.

Cem anos> O pernambucano Luiz Gonzaga (Exu, 13 de dezembro de 1912 – Recife, 2 de agosto de 1989) foi provavelmente o músico regionalista mais popular do Brasil no século 20.> Gravou 58 discos, que serão relançados até o fim deste ano por uma parceria entre Sony e EMI.> O filme Gonzaga, de Pai para Filho, de Breno Silveira (o diretor de 2 Filhos de Francisco) é outra homenagem neste centenário. Tem estreia prevista para 26 de outubro.

Correio Braziliense - Mestre Hermeto e seus sons

O multi-instrumentista alagoano se apresenta na Sala Villa-Lobos e depois segue para show nos EUA

Irlam Rocha Lima

(03/07/2012) Nada de piano, acordeom, violão ou pandeiro. Ficaram de fora, também, canos, bacias, tampas de panela e outros “instrumentos” pouco convencionais dos quais Hermeto Pascoal costuma tirar sons nas suas apresentações. Em Brincando de corpo e alma, o DVD que lançará em breve, o multi-instrumentista brasileiro extraiu sonoridades do corpo. Isso mesmo, do próprio corpo.

Eventualmente, ele já fazia essas experimentações, inclusive no show que apresentou, há dois anos, na praça do Museu da República. Mas agora levou a ideia às últimas consequências num estúdio em Curitiba, cidade em que está radicado desde 2003. “Para esse DVD, resolvi fazer o registro, em 12 faixas, de sons que emanam do corpo, como assobios, gargalhada, ronco, palmas, batidas cardíacas e movimentos peristálticos, entre outros”, explica Hermeto.

Mesmo não estando programado, é provável que ele crie algum desses sons em show, hoje e amanhã, às 21h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, pelo projeto MPB Petrobras, que completa 15 anos. Hermeto será acompanhado pela banda formada por Itiberê Zwarg (contrabaixo), Márcio Bahia (bateria), Fábio Pascoal (percussão), André Marques (piano), Vinícius Dorin (sax e flauta), e Aline Morena (voz e viola caipira). Quem se apresenta na abertura é o duo brasiliense, formado pelo acordeonista Júnior Ferreira e pelo bandolinista Victor Angeleas.

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Hermeto viveu uma grande emoção no dia 22 último, ao comemorar aniversário, na lona cultural que leva o seu nome, na Praça 1º de Maio, em Bangu, no Rio de Janeiro. “Durante 25 anos, morei no bairro de Jabour, vizinho de Bangu. Lá, vivem meus filhos, netos e bisnetos e muitos amigos. No meio do show, eles levaram um bolo para o palco e cantaram parabéns. Só não chorei porque sou forte na queda”, brinca o genial albino.

Com a agenda lotada de compromisssos até o fim do ano, o músico e sua big band vêm de apresentações no Jazz Sousles Pommiers, na Salle Marcel Helie, festival realizado em maio, na cidade de Constance, na França. Ainda esta semana, eles seguem para São Francisco (Estados Unidos), para show no Palace of Fine Arts. “Temos ido bastante ao exterior nos últimos anos e convites não param de chegar. Mas damos sempre preferência ao Brasil”, afirma.

A companheiraHá nove anos Hermeto mora em Curitiba, com a cantora e instrumentista Aline Morena, a quem conheceu durante um workshop em Londrina, em 2002. “Chamei pessoas da plateia para subir ao palco e fazer um som. Aline subiu com um cano e me pediu para cantar a pouco conhecida Montreux, música que fiz ao participar do festival de jazz daquela cidade suíça. Depois do workshop, fui tocar em Maringá e Aline me acompanhou. Estamos juntos até hoje”, comemora.

“Hermeto gosta de lugares mais tranquilos. Por isso, saímos do apartamento que morávamos no centro de Curitiba e fomos para o bairro de Santa Felicitá. Para mim, é um privilégio conviver com pessoa tão rara, que vive para a música. O criador genial é uma pessoa simples, que gosta de comer frango com farofa e feijão; e que adora o churrasco preparado por meu pai, que mora em Erechim no Rio Grande do Sul”, revela Aline, 32 anos, musa do compositor, arranjador e instrumentista, nascido em Olho d’Água das Flores e criado na Lagoa da Canoa, em Alagoas — hoje, cidadão do mundo.

Hermeto PascoalShow do multi-instrumentista e banda, com abertura do acordeonista Júnior Ferreira e do bandolinista Victor Angeleas, hoje e amanhã, às 21h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 15 anos.

Pratas da casaJovens músicos brasilienses de talento reconhecido, o acordeonista Júnior Ferreira e o bandolinista Victor Angeleas desenvolvem trabalho em que se destacam arranjos originais, belos improvisos e interpretação apurada. A dupla tem se apresentado em vários eventos na capital e está produzindo um disco intitulado Sem fronteiras, com previsão de lançamento para o segundo semestre. No trabalho, ficam evidenciadas influências de mestres como Pixinguinha, Radamés Gnattali, Jacob do Bandolim e Astor Piazzolla. A combinação inovadora entre o acordeon e o bandolim proporciona uma sonoridade inusitada e reflete a originalidade da cultua brasileira.

O Estado de S. Paulo - Black Power nas raízes da música pop

Back2Black amarra bem a proposta de comprovar a onipresença dos sons africanos

Roberto Nascimento

(03/07/2012) É raro ver um show que amarre todas as pontas de um festival como fez o de Gilberto Gil no Back 2 Black, em Londres, neste domingo. Ao fim da noite, todos afluentes musicais que desaguaram no Tâmisa durante três dias de shows - o blues do Mali, o suingue do Congo, as rimas brasileiras - pareciam ter anunciado que um negro cosmopolita de 70 anos, disposição invejável, ainda capaz de dar vida a covers de Bob Marley e composições próprias que já ouvimos dezenas

de vezes, diria o amém final. Isto, sem prepotência ou ufanismo. Gil pediu licença com Realce, se fez à vontade com Tempo Rei e, quando chegou em A Novidade, a terceira, já tinha a plateia de 2,800 pessoas nas mãos. Tocou reggae, forró e ijexá. Mostrou ao público como se dança um cortejo de afoxé. Em suma, simbolizou, em uma escala de maior alcance, a força coletiva, o êxtase rítmico, o

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axé, como diriam os devotos, que vibra ao centro de todas as manifestações musicais africanas presentes na programação do festival.

Muitos na plateia eram brasileiros expatriados, assim como foi Gil, quando mudou-se para cá, em 1969. Dançavam em busca de algo que lembrasse a terrinha e, na medida em que o show decolava, com arranjos renovados de Palco, Drão e No Woman No Cry - os mesmos que Gil tocou em São Paulo, durante a Virada Cultural- encontravam identidade coletiva, "o home away from home", como eles dizem.

Em proporções menores, foi este o clima do primeiro Back 2 Black realizado fora do País. O tempo ajudou, com céus abertos de sexta a domingo sobre o Old Billingsgate Market, o antigo mercado de peixe transformado em caprichada casa de shows. Todos os 7.700 ingressos foram vendidos. Nos três palcos do festival (um à beira do Tâmisa, outro dentro do edifício e um terceiro no subsolo) ouviu-se todos os tipos de ritmos organizados por uma curadoria que tem um olhar conservador sobre a música negra contemporânea, mas que acertou com os feras da world music que contratou. Entre eles, o destaque foi o casal de cegos do Mali, Amadou & Mariam, que fez um show tão benevolente quanto o de Gil.

Outro grande show foi feito pelo congolês Jupiter Bokondi, líder do Jupiter Okwess International, que toca highlife, afrobeat e todos híbridos de afrofunk imagináveis. Jupiter tem uma história interessante. É de uma família de griots, os historiadores e músicos africanos, sobreviveu à guerra civil do Congo e, depois de muitos anos no anonimato, está cotado para ser uma das descobertas da world music com o disco que irá lançar ainda este ano. Outro mestre griot, Toumani Diabaté, também participou do Back 2 Black, em uma mistureba de world music aparentemente inconcebível, que juntou sobre o mesmo palco Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra e o músico malinês.

Embora este encontro da MPB com a kora de Diabaté tenha parecido um pouco forçado, demasiadamente elaborado para atrair fãs de world music, nos momentos em que Diabaté solava não havia dúvidas sobre o fato de estarmos na presença de um mestre. Outro mestre, Vieux Farka Touré, filho do lendário guitarrista malinense Ali Farka Touré, também impressionou com suas pentatônicas do Oeste Africano, que sempre nos lembram de que o blues já era blues muito antes de imigrar para o delta do Mississipi. O show mais insosso ficou por conta de Jorge Ben Jor, que, ao contrário de seu comparsa Gilberto Gil, não teve muito tesão ao tocar seus sucessos. Claro que aqui cabe um desconto. Afinal, tocar Mas Que Nada há mais de quarenta anos não é tarefa fácil. Mas Ben Jor cai em clichês estilísticos com uma banda que pouco faz para ter uma sonoridade individual.

Correio Braziliense - O romantismo dos velhos tempos

(07/07/2012) Completando 12 anos de carreira, o cantor e compositor Eduardo Costa volta às paradas com o lançamento de seu 10º álbum. O CD Pecado de amor traz 16 faixas, sendo que a primeira música de trabalho, Começar de novo, chega bem-sucedida ao ranking das mais pedidas nas rádios especializadas no segmento. Esse é o terceiro CD em que Eduardo confia a produção a César Augusto, que também assina cinco canções. “Ele é um cara renomado, que me conhece e sabe extrair o meu melhor. Ele também é um excelente compositor e nós temos uma ótima sintonia”, elogia o mineiro de Belo Horizonte.

No novo disco, Eduardo aproveita para reafirmar seu estilo romântico, no qual passeia com naturalidade. “Procurei voltar às raízes dos meus primeiros CDs, que eram mais românticos, só que de uma forma mais moderna e madura”, explica o cantor. Contrariando a cadeia produtiva do mercado fonográfico, Edson Vander (nome de batismo de Eduardo) diz fugir da onda do sertanejo universitário. “Eu não gosto de criticar nenhum estilo, pois, por trás de uma música ruim sempre tem uma família sendo sustentada por ela, mas também não faço música só com a intenção de vender e ganhar dinheiro. Hoje, muitos artistas renomados, que nem eram desse segmento, se bandearam para o universitário”, afirma.

O artista explora sua veia de compositor em quatro faixas do disco, Anjo protetor, Eu quero te dizer que sim, Presente de aniversário e Amor além da vida. Apesar disso, prefere não fazer um disco totalmente autoral. “Eu gosto de gravar em cada trabalho quatro ou cinco composições minhas no máximo, para não correr o risco de ficar muito repetitivo. No Brasil, temos vários compositores maravilhosos que estão perdendo espaço, pois muitos cantores estão optando por discos 100%

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autorais”, acredita. Para o músico, a escolha do repertório é a parte fácil do processo. “Quando termino um disco, já começo a pensar no próximo, daí, vou ouvindo e guardando. Quando chega o momento de gravar, já sei exatamente quais canções farão parte.”

Um dos destaque de Pecado de amor fica por conta da participação do sambista Alexandre Pires, que transforma a canção Presente de aniversário em um “sambanejo”. “Eu já havia escrito a música e percebi que era a cara dele. Nós somos amigos e convivemos juntos há muito tempo, quando liguei, ele topou na hora”, conta o sertanejo. Com um trabalho sólido, o cantor parece finalmente ter se livrado das comparações feitas no início da carreira com Zezé di Camargo. “No começo, não havia muitos artistas solos cantando sertanejo, os que existiam, tinham vindo de fatalidades. Com o passar do tempo, as pessoas foram desvinculando a nossa imagem, começaram a gostar e graças a Deus conquistei o meu espaço. Hoje, aprendi a saber o que o público gosta e a fazer música com respeito.”

O Estado de S.Paulo - Disco raro de samba gravado por Plínio Marcos vira CD e show

Lauro Lisboa Garcia

(07/07/2012) Quem quiser saber o nome de Plínio Marcos (1935-1999) nem precisa perguntar para os pagodeiros de um certo lugar. Consagrado autor de clássicos da dramaturgia brasileira, como Navalha na Carne, O Abajur Lilás e Dois Perdidos numa Noite Suja, ele também foi contundente cronista do homem comum de seu tempo e um aficionado do samba paulista. Um importante registro dessa atividade do teatrólogo sai agora do limbo da memória com o relançamento do raro LP Plínio Marcos em Prosa e Samba, Com Geraldo Filme, Zeca da Casa Verde e Toniquinho Batuqueiro. Raro não por ser item

considerado "mosca branca" entre colecionadores, mas pelo valor histórico de seu conteúdo e que poucos conhecem. Lançado pela gravadora Chantecler em 1974, o disco chega enfim ao CD pela Warner, sob a curadoria do músico e pesquisador Charles Gavin, com a colaboração de Aninha Barros, filha de Plínio. "É um registro imprescindível para compreender e discutir a identidade cultural de São Paulo", assinala Gavin.

Balbina de Iansã é outro disco de Plínio ligado ao samba que Aninha e seus irmãos Kiko Barros e Léo Lama pretendem relançar. Prosa e Samba também deve sair novamente em vinil. "Estamos vendo um esquema na República Checa, para poder fazer o disco lá", conta Aninha. "Estamos esperando apoio, vamos ver se a Warner se interessa."

Como lembrou a Aninha o jornalista Tárik de Souza, autor do esclarecedor texto que acompanha o CD, "o próprio paulista não acreditava no samba paulista". "Então foi superimportante esse disco com apoio do meu pai a esses sambistas, para sair daquele círculo de Adoniran Barbosa", de quem Plínio também era amigo, aliás. "São sambistas da maior qualidade que estão esquecidos, e isso é um absurdo."

Na época do show que originou o disco, Plínio mantinha uma coluna no extinto jornal Última Hora. "Nessas colunas ele vai contando todas as histórias, desde anunciar a estreia do show Plínio Marcos e os Pagodeiros, até entrevistas, como a do Zeca. Essas coisas todas a gente pretende colocar no encarte do vinil", diz Aninha. A foto que ilustra esta página, com a presença de Octávio Geraldo (o Talismã), carioca radicado em São Paulo, também deve estar no relançamento em LP.

Um show com direção musical do violonista Kiko Dinucci, em setembro no Itaú Cultural, vai marcar o revival do disco, em que Plínio conta as tocantes histórias dos três sambistas paulistas, todos trazendo para o samba paulistano a bagagem do interior. Essas histórias dão indícios das características do estilo de composição de cada um, entremeando 13 sambas significativos de seu cancioneiro, como documentos de identidade, dessas trajetórias, das migrações.

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"A ideia do show é fazer uma releitura, botar o disco na roda, discutir musicalmente esse álbum", diz Dinucci. Além dele, estarão no palco Juçara Marçal, Thiago França, Rodrigo Campos e Marcelo Cabral. "Estou chamando pessoas da velha guarda ligadas ao samba, que tenham desenvoltura, veneno. Devemos chamar outros convidados ligados ou ao samba paulista, ou à figura do Plínio."

O show deve manter a mesma sequência das faixas do disco, com outras mais e a narração de Plínio em off, já que cada trecho de história tem importante ligação com a música que se segue. "Não queremos que fique com cara de teatro, mas de show mesmo", diz Aninha.

Para Dinucci é impossível reproduzir os arranjos do disco: "Ele é muito peculiar, com músicos e batuqueiros daquela época. Aquele tipo de batucada não se encontra hoje em nenhum lugar, era de uma época em que os ritmistas criavam sua marca registrada. O disco é um dos maiores exemplos da batucada paulista, tem ecos do samba rural, vindo das plantações de café do interior", explica. "E a narração e texto do Plínio parecem um filme. Não me lembro de nenhum disco de samba gravado nesse formato."

Das quebradas do mundaréu. "Eu conto histórias das quebradas do mundaréu. Lá onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos. Falo da gente que sempre pega pior, que come da banda podre, que mora na beira do rio e quase se afoga toda vez que chove, que só berra da geral sem nunca influir no resultado." É assim que Plínio abre sua narrativa, sem meias palavras, como sempre foi.

Aninha tinha um ano quando Prosa e Verso foi gravado, e diz que agora está se aprofundando mais nessa história. Ela lembra que a ligação de Plínio com o samba é anterior a esse disco, e vem da criação da Banda Bandalha. Uma das recordações mais fortes que tem do pai nesse aspecto é do dia de seu velório, no Teatro Sérgio Cardoso, em que os batuqueiros da escola de samba Vai-Vai entraram tocando em sua homenagem, como bem lembra o jornalista, ator e biógrafo de Plínio em seu artigo na página 4 deste caderno, entre outros episódios.

"Meu pai era muito amigo desses sambistas e manteve a amizade com eles até o fim. Eles faziam muitas rodas de samba em casa", conta Aninha. "Tem uma música de Geraldo Filme nesse CD, Silêncio no Bixiga, que me marcou muito. Foi esse samba que a Velha Guarda entrou cantando no velório dele: ‘Plínio Marcos está dormindo.’ Foi bem forte. Inesquecível. Tinha a cara do meu pai."

Acervo

Além dos projetos dos discos, Aninha e seus irmãos trabalham para preservar todo o acervo de crônicas, livros, peças teatrais e outros textos de Plínio, que durante muito tempo viveu de vender de mão em mão os próprios livros, impressos de forma artesanal. Era comum cruzar com ele nas portas de teatros, nas noites do extinto Bar Redondo, na esquina da Avenida Ipiranga com a Rua Teodoro Baima, na frente do Teatro de Arena, de sandália de couro, macacão e bolsa a tiracolo, puxando conversa e oferecendo seus trabalhos. O que os filhos pretendem agora é revelar para outra geração algo mais profundo do que a figura que se tornou folclórica.

Nas caixas de manuscritos e recortes de jornal cuidadosamente organizados pela viúva de Plínio e mãe de seus filhos, a atriz Walderez de Barros, há textos valiosos. Era Walderez quem datilografa os artigos para enviar ao jornal. Esses escritos à mão, caprichosamente, por Plínio servem, como diz Aninha, para provar que, "para quem era tachado de analfabeto", ele tinha uma bela letra. "Queremos conservar isso, digitalizar tudo. O projeto já foi aprovado na Lei Rouanet e agora estamos esperando patrocínio, vamos encaminhar para a Funarte. A ideia é disponibilizar tudo na internet para quem quiser pesquisar."

Euronews - Gilberto Gil fête 50 ans de carrière en tournée

(09/07/2012) Gilberto Gil est actuellement en tournée en Europe. A 70 ans, le chanteur, compositeur et guitariste brésilien fête ses 50 ans de scène.

50 ans de musique d’abord typiquement brésilienne puis inspirée des plus grands artistes du monde entier. Euronews l’a rencontré lors de son passage à Bruxelles.

Isabel Da Silva, journaliste d’euronews :

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Vous inspirez-vous encore des artistes contemporains comme vous vous inspiriez de Bob Marley ou des Beatles à l‘époque?

Gilberto Gil, musicien :Je fais encore très attention au choses qui se passent aujourd’hui, aux courants actuels, comme le hip-hop et toutes les récentes manifestations de musique populaire dans le monde. Mais je dirais que mes sources sont les classiques de la musique populaire brésilienne, les styles américains comme le jazz et le rythme and blues, et les styles d’Amérique centrale comme la salsa et le reggae.

Les chansons de Gilberto Gil ont toujours parlé de politique et d’activisme social, ce qui lui a valu de faire de la prison puis d‘être expulsé sous la dictature militaire à la fin des années 60.

De retour au Brésil en 1972, il a repris sa carrière musicale et son combat politique.

Entre 2003 et 2008, alors que Lula était président, il est même devenu ministre de la Culture.

Gilberto Gil, musicien :Nous nous sommes focalisés sur deux choses : s’assurer que chacun ait accès aux manifestations culturelles, mais aussi que des moyens soient disponibles pour la production culturelle. Ça concerne les artistes déjà établis et reconnus par le public, mais aussi tous les artistes en devenir.

Gilberto Gil participe également au documentaire de Spike Lee, “Go,Brazil,go”. Documentaire qui analyse le nouveau rôle qui incombe au Brésil, en tant que puissance émergente qui occupe une place de plus en plus importante sur la scène internationale.

Gilberto Gil, musicien :C’est un grand melting pot, et c’est exactement ce qui va marquer le monde actuel : la mixité et la pluralité. Le Brésil est comme ça depuis toujours, donc il a cette expérience de nation plurielle qu’il peut transmettre au monde.

Son engagement politique ne l’empêche pas cependant de poursuivre sa carrière de chanteur. Jusqu’ici, Gilberto Gil a sorti 50 albums et remporté 8 Grammy Awards… sans pour autant mettre de côté sa vie personnelle. Le septuagénaire s’est marié 4 fois et a eu 9 enfants.

Isabel Da Silva, journaliste d’euronews :D’ordinaire, vous dites que vieillir ne vous inquiète pas. Peut-être que le fait que votre mère assiste encore à vos représentations à 98 ans explique en partie cette état d’esprit. Mais vous avez dit : “j’ai appris à vivre en accord avec mon âge”. Que vouliez-vous dire?

Gilberto Gil, musicien :J‘étais très curieux étant enfant, j‘étais très actif étant adolescent. A l‘âge adulte, je suis resté curieux mais en faisant plus attention à me former, à apprendre différentes disciplines. Maintenant, à 70 ans, je me considère comme une sorte d’enfant.

La tournée actuelle a débuté au Brésil avant de venir en Europe. Gilberto Gil a notamment prévu 2 concerts en France pour fêter son anniversaire. Le premier à Nice le 12 juillet et le second à Lyon le 26.

Correio Braziliense - Chiclete eu misturo com banana

Jackson do Pandeiro nos deixou há exatos 30 anos, mas seu ritmo continua sendo uma das principais referências da música brasileira

Gabriel de Sá e Maíra de Deus Brito

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(10/07/2012) Jackson do Pandeiro já sabia que queria viver de música quando trocou Campina Grande (PB) e João Pessoa por Recife, em busca do primeiro contrato profissional. O cantor e percussionista tinha escolhido um samba e uma marcha para apresentar numa revista de carnaval, recém-lançada na Rádio Jornal do Commercio, no início dos anos 1950. Contudo, os planos mudaram. A produção pediu para Jackson cantar um coco. Por sorte, tinha um. Ele ensaiou o coro com Luiza de Oliveira e cantou Sebastiana. O “A, E, I, O, U, Ypislone”, composto por Rosil Cavalcanti (com quem Jackson fez dupla), encantou o auditório e explodiu em todo país.

Depois, vieram Forró em Limoeiro, 1x1, A mulher do Aníbal e outros sucessos do artista, precursor do samba-rock e que reinventou a música nordestina ao mesclar coco, baião, xote e rojão. Hoje, completam-se 30 anos sem o rei do ritmo. Apesar de ter morrido praticamente esquecido, foi imortalizado por músicos de todas as vertentes. “Todo show nosso tem que rolar Jackson. Ele dizia que sua música tinha as sete cordas do choro, o cavaquinho do samba e a percussão do baião. Esse lance cênico, caricato, a forma como ele cantava as sílabas, adiantando e atrasando a divisão, é algo bem inventivo”, disse o bandolinista do grupo Casuarina, João Fernando.

Gravado por Chico Buarque, Lenine e Elba Ramalho, entre outros, Jackson sentiu, ainda em vida, o carinho que os artistas tinham por ele. Em 1973, no programa Ensaio, da TV Cultura, contou ao diretor Fernando Faro sobre a admiração e a gratidão aos baianos da Tropicália. “Esses rapazes me deram um apoio muito grande. Eles ‘puseram’ a juventude de agora para conhecer Jackson do Pandeiro”, afirmou. Gal Costa gravara a emblemática Sebastiana em seu disco de 1969 e Gilberto Gil cantou O canto da ema e Chiclete com banana em seu Expresso 2222 (1972).

Zé Jack

Nascido em 31 de agosto de 1919, em Alagoa Grande (PB), José Gomes Filho aprendeu a gostar de música com a mãe. Dona Flora Maria da Conceição cantava cocos, acompanhada pelo seu primogênito na zabumba, ganzá e reco-reco. O menino adorava os filmes de bangue-bangue e era fã do ator Jack Perrin. Gostava tanto do caubói norte-americano que todos começaram a chamá-lo de Zé Jack. Dona Flora reclamava do apelido. Mas, apesar dos esforços, ele nunca conseguiu se livrar da alcunha, que transformou-se em Jack do Pandeiro e depois, para “ter uma sonoridade melhor”, em Jackson do Pandeiro.

Jackson conheceu Almira Castilho na Rádio Jornal do Commercio. A ex-professora e radioatriz encantou-se com a malemolência do pandeirista e eles se casaram em 1955. Parceiros nos palcos e estúdios, compuseram cerca de 30 canções e emplacaram hits nas rádios até 1967, quando o casamento terminou. Almira, ao lado do baiano Gordurinha, é a autora de Chiclete com banana. Depois de um período de ostracismo na década de 1970, o rei do ritmo voltou à tona, mas não vendia tanto quanto no início da carreira, quando desbancava grandes cantoras do rádio, como Ângela Maria.

Em junho de 1982, ele se apresentava em Santa Cruz do Capiberibe (PE), quando sentiu “uma tontura danada”. O mal-estar se repetiu em poucos dias. Jackson tinha sofrido dois enfartes. Teimoso, com a saúde debilitada, decidiu vir a um show em Brasília, em 3 de julho. O paraibano cantou por mais de uma hora e tudo parecia bem até o embarque, no dia seguinte. Aparentemente, ele tirava um cochilo na cadeira do aeroporto. Contudo, seu irmão, Cícero, percebeu que ele estava desacordado. Ambulância, hospital e diagnóstico: ele tinha sofrido uma descompensação diabética e entrado em coma. Depois de alguns dias, apresentou melhora e até brincou com a nutricionista, pedindo uma “feijoadazinha”. Porém, o bem-estar era momentâneo: Jackson morreu em 10 de julho de 1982, aos 62 anos.

Correio Braziliense - Esta moça tá diferente

Em novo disco, Negra Li deixa de lado as rimas do rap e investe em canções com pegada mais popular

Gabriel de Sá

(11/07/2012) Liliane de Carvalho, ou apenas Negra Li, saltou aos olhos do grande público quando cantar rap ainda parecia ser coisa só de menino. Mas o hip-hop era pouco para ela. Nascida e criada

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na Vila Brasilândia, na periferia de São Paulo, ela abriu os caminhos para outras garotas, assinou com uma grande gravadora, sampleou Marisa Monte, ficou amiga de Caetano e Nando Reis, atuou no cinema e em série da TV Globo e gravou com o cantor Akon. Volta, agora, aos 32 anos, totalmente repaginada no disco Tudo de novo, desde o mês passado nas lojas, que pode ser visto como uma continuação de Negra livre (2006). Só que o primeiro, apesar de já flertar com a música pop, trazia ainda vestígios do universo primitivo de Negra. A guinada agora é mais radical.

Casada desde 2008 com o regueiro Junior Dread e mãe de família (Sofia tem dois anos), a cantora resolveu assumir influências diversas nesse álbum e diz ter se inspirado em algumas cantoras para interpretar as faixas — de Adele a Elis Regina, passando por Joss Stone e Lauryn Hill. “O Brasil tem MPB, forró, sertanejo… não tem soul, r&b. Então, a gente tem que dar um jeitinho para mudar um pouco o título”, explicou a cantora ao Correio (veja mais ao lado). “A música brasileira está presente ali o tempo todo, mas com uma característica que eu trouxe da música negra americana.”

A cantora prefere chamar seu som de r&b; mas o genérico MPB-soul, já usado para falar dela, também está de bom tamanho. “É ruim ser taxado de alguma coisa, a gente só quer fazer arte. Vocês é que colocam o título. Se eu pudesse, cantaria de tudo. Eu tenho essa versatilidade e a música brasileira é rica pelos diversos ritmos que

contém”, ponderou. A miscelânea musical traz o titã Sérgio Britto como autor em três faixas. Leandro Lehart, Edgar Scandurra, Di Ferrero, Leoni, Léo Jaime, Rick Bonadio (o produtor) e a própria Negra também constam nos créditos como compositores. “Me considero uma cantora mais de feeling do que de técnica”, reconheceu.

Negra Li é dona de seu nariz. Se a repreendem por ter “traído o movimento”, como fazem com todos que começam por um caminho e oscilam no percurso, ela desdenha. “As críticas são bem-vindas, fazem refletir. Lógico que não dá para agradar todo mundo. Mas não foi pensando em agradar que eu corri atrás do meu sonho, foi pensando em ser feliz e em me realizar”, pondera. A atual consagração de camaradas como Criolo e Emicida é motivo de orgulho para ela, uma das primeiras a atingir a mídia de massa com o rap. Paralelamente ao lançamento do disco, Negra Li se prepara para mais um passo na carreira de atriz: está ensaiando para o musical O chapeleiro maluco, que estreia mês que vem. “Eu gosto de atuar. Mas prefiro ser cantora, é mais fácil — o dom veio naturalmente.”

Quatro perguntas // Negra Li

Você é Negra livre mesmo ou pertencer a uma grande gravadora te poda?Quando eu entrei na reunião para assinar com a gravadora, perguntei: ‘Vocês vão me obrigar a sair nua se meu disco não vender?’. Um olhou para o outro, acharam engraçado. Mas nunca houve isso. Eu sou uma pessoa de opinião, comecei no rap. Quem é do rap, uma vez que entra, não perde essa essência, é politizado. A gente não gosta de ser enganado. Eu jamais conseguiria ficar em um lugar onde eu fosse podada. Estamos em 2012, tenho 32 anos e sou mãe. Se eu não estivesse satisfeita com minha gravadora, já teria desfeito o contrato. É tudo minha escolha. Se eu errar, pode reclamar comigo.

As pessoas esperam que quem vem da periferia cante necessariamente as mazelas e a pobreza?Acho que sim, sempre há uma cobrança. Eles veem em quem viveu lá uma esperança, uma espécie de porta-voz. Essa cobrança é natural. A gente tem mesmo que, de alguma forma, falar; porque a gente viveu ali. Mas é um equívoco achar que quem vem da periferia só pode cantar isso. É válido, no cantar, a pessoa se lembrar do lugar de onde veio, das pessoas que deixou lá.

A escolha do Bonadio como produtor é um recado de que você está se desvencilhando mesmo do rap?Não, de jeito nenhum. Eu o procurei por ser fã do trabalho dele. Fui pesquisar e vi que ele tinha trabalhado com os Mamonas, Titãs, Charlie Brown Jr... Em 2010, pedi para minha produtora ligar para ele. Vi que tínhamos muitas coisas em comum: ele começou no rap também. Por ter feito sucesso com bandas pop, acham que ele só sabe trabalhar com isso, mas o Rick tem um repertório extenso.

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Negra Li abriu caminho para garotas como Flora Matos Karol Conká, com uma pegada mais feminina?Não gosto de dizer que comecei nada. Tem sempre alguém antes, que às vezes não conseguiu ter visibilidade. Há muitos anos, mulheres cantam músicas assim nos EUA. Eu fui, sim, a primeira do rap a assinar com uma grande gravadora. Lady Rap sempre foi superfeminina e não é tão conhecida. As mulheres começaram a ter espaço maior e a coragem de serem o que são. Conquistamos essa liberdade.

LIVROS E LITERATURA

Correio Braziliense - Nobre escritorAos 70 anos de idade e 40 de samba, Nei Lopes aprofunda a veia autoral e lança três publicações simultâneas

Gabriela de Almeida e Maíra de Deus Brito(03/07/2012) Nei Lopes tem uma mania que o consome: a leitura. “Leio compulsivamente. Um dia, há muito tempo, comecei a anotar as coisas que lia para compreendê-las melhor”, explica o escritor e compositor, que completou 70 anos em maio e, em 2012, celebra 40 anos de samba e 30 de literatura. Essas anotações resultaram em obras escritas. Mais tarde, Nei sentiu necessidade de tratar as informações acumuladas com mais liberdade. Aí, nasceu o lado ficcional, que já tinha uma vertente de poesia e de canção popular.

Exemplo disso é o romance A lua triste descamba, recém-chegado às prateleiras. Mesclando elementos da realidade com ficção, Nei conta a história de Seu Juvenal, um senhor octogenário que é a memória viva do samba. A partir das lembranças do personagem, o autor mostra o

cenário do samba carioca no início do século 20 e o surgimento da agremiação Irmãos Unidos da Fontinha. “A trama do livro acontece mais ou menos entre as décadas de 1930 e 1940, no eixo Estácio-Oswaldo Cruz, bairros cariocas extremamente importantes na geopolítica do samba. A intenção foi essa mesmo: contar, por meio da ficção, como deve ter sido esse tempo histórico”, explica Nei.

Entrelaçado com os estudos da cultura do Rio de Janeiro, surgiu o Dicionário da hinterlândia carioca. De acordo com o autor, “tudo o que existe de legitimamente carioca no Rio nasceu na hinterlândia (nome técnico para o conjunto dos antigos subúrbios e freguesias da zona norte e da antiga zona rural) e não no litoral”. Dessa maneira, o dicionário valoriza a população dessas regiões e seus costumes — já que ainda existe uma ideia pejorativa de subúrbio como um lugar carente de população pobre e sem educação —, ao apresentar termos ligados à gastronomia, aos bairros, às comunidades, à geografia, à história e à linguagem.

Herança africana“Nasci e cresci no subúrbio e não tenho o menor interesse pelo cosmopolitismo do outro lado da cidade. Por isso, penso e escrevo sobre a minha realidade”, afirma Nei Lopes. Ainda na adolescência, o escritor, nascido em Irajá (Zona Norte do Rio), escrevia poemas “que, às vezes, ganhavam melodia”. Mesma época em que a questão negra despertou-lhe o interesse. “ Foi quando percebi que meus semelhantes eram sempre vistos de maneira muito desfavorável”.

Desde então, as obras abordam a herança africana no Brasil, como no disco A arte negra de Wilson Moreira e Nei Lopes (1980); e nos livros Enciclopédia brasileira da diáspora africana (2004), O negro no Rio de Janeiro e sua tradição musical (1992) e Novo dicionário banto do Brasil (2011). O último, em nova edição revisada e atualizada, corrigiu equívocos da edição anterior e incluiu novos vocábulos.

O Novo dicionário banto do Brasil mostra-se como importante referência da África no português falado no Brasil. Mesmo com essa representatividade, a primeira edição do livro (publicada em 1996)

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foi alvo de críticas de alguns acadêmicos, hoje, superada. “Isso já passou. Até porque, depois de 2001, o Dicionário Houaiss acolheu centenas das hipóteses que eu levantei. E fui mais longe: essa nova edição inclui muitos vocábulos dos léxicos das comunidades quilombolas hoje estudadas no país. Acho que isso pode ajudar muito a estabelecer as origens dessas comunidades”, observa Nei.

Folha de S. Paulo - Inéditos de Paulo Mendes Campos serão lançados em livro na Flip

Carta e poema escritos para o amigo Otto Lara Resende estão reunidos em nova publicaçãoTextos foram escritos quando autor tinha 19 anos e havia acabado de chegar ao Rio, atraído por Pablo Neruda

Marco Aurélio Canônico

(03/07/2012) Poucos dias após chegar ao Rio, em agosto de 1945, atraído pela presença do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) na cidade, o mineiro Paulo Mendes Campos, então com 23 anos, escreveu a seu amigo Otto Lara Resende, movido pelo impacto da mudança de Belo Horizonte. Àquela altura desempregado, morando de favor na casa de Fernando Sabino e ainda distante da publicação de seu primeiro livro ("A Palavra Escrita", de 1951), o poeta e cronista sentia-se exilado, perdido, temeroso quanto ao que viria.

"O coração pesa e se refugia silencioso entre possibilidades e apreensões. Dir-se-ia um coração cansado. Entretanto, meu velho, esse é um valente coração", escreveu o autor na primeira das nove páginas manuscritas de "Carta a Otto ou Um Coração em Agosto". A correspondência entre os dois escritores, encerrada com um poema inédito de Paulo Mendes Campos, chega agora ao público em livro publicado pelo IMS (Instituto Moreira Salles) que será lançado na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que começa amanhã.

"Não é uma carta tradicional, com a informalidade que marcava a correspondência entre eles. É um desabafo no mês da chegada dele ao Rio, com clara intenção literária", diz Elvia Bezerra, coordenadora de literatura do IMS e responsável pela edição. O próprio Campos faz menção jocosa a suas intenções literárias no trecho mais informal da carta, que introduz o poema inédito em homenagem ao "irmão triste e terno": "Otto, mermãozinho, às 6 horas parnasianas de uma tarde carioca me canso de 'literatura' e resolvo fazer literatura. Mas não sei. Então, escreverei um poema. E escrevo pra você."

Acervo Aberto - A publicação de "Carta a Otto" também marca a abertura de parte do acervo de Paulo Mendes Campos, doado ao IMS no início do ano passado. Por ora, estão acessíveis 53 cadernos com poemas, manuscritos, reflexões e estudos. Há ainda 180 itens de correspondência e 360 fotografias que não foram catalogados nem liberados. A quantidade de material inédito e sua relevância ainda precisam ser determinadas pelos estudiosos da obra do mineiro.

Nos cadernos a que a Folha teve acesso exclusivo, estão desde textos escritos em livros escolares -como o inédito "Fugindo de Casa", escrito aos 11 anos, relatando a experiência do título- até rascunhos de poemas mais maduros, como a "Cantiga para Mario Quintana". Há também listas de obras "traduzidas" e "traduzíveis" -de autores como T.S. Eliot, Rimbaud e Apollinaire-, aforismos e "epígrafes possíveis", além de reflexões que mostram a permanência do mesmo estado de espírito que se nota na carta a Otto: "O que leva o escritor a encontrar a palavra certa é o exercício da leitura certa; o que leva o escritor a encontrar a palavra tocante é o exercício das aflições."

Folha de S. Paulo - E agora, Flip?

Ao completar dez anos, na edição que começa hoje em Paraty (RJ), Flip estuda alterações em modelo consagrado por crítica e público

Fabio Victor de São Paulo e Raquel Cozer colunista da Folha

(04/07/2012) Ao ser convidado, no ano passado, para assumir a curadoria da décima Flip, que começa hoje em Paraty com homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade, o jornalista Miguel Conde afirmou que não iria inventar a roda ao assumir a função. De fato, ao longo dos seus dez anos,

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a festa literária consolidou um modelo que pouco se altera ao sabor de curadores ou autores convidados.

É inegável que o formato é um sucesso: a Flip entrou para o calendário cultural do país e continua a agradar público e crítica. Como de costume, os ingressos para as mesas mais concorridas (como as de Jonathan Franzen e de Ian McEwan e Jennifer Egan) acabaram em minutos. Mas é também verdade que, salvo alterações graduais -abertura a linguagens como quadrinhos e urbanismo, por exemplo-, é um modelo engessado.

Os debates têm duração semelhante (de até uma hora e meia), costumam reunir autores com temáticas correlatas, que estejam lançando livro no país, a maioria de um grupo seleto de editoras.O escritor homenageado ganha um miniprograma à parte, com a conferência de abertura (seguida de um show) e duas ou três mesas. O que fazer então na encruzilhada da primeira década? Mexe-se em time vitorioso? A organização estuda alterações para as próximas edições. Uma delas, apurou a reportagem, seria incorporar palestras mais breves, como as do TED (ciclo de conferências criado na Califórnia), de no máximo 18 minutos.

QUÍMICA - A editora inglesa Liz Calder, idealizadora da Flip, afirma que haverá mudanças, mas negou-se a antecipá-las. Ela admite que o atual formato de debate é arriscado por depender muito do desempenho do autor em público e da química com o mediador. "Isso pode ser revisto", disse.Incentivador de primeira hora da festa, cuja primeira edição organizou com Calder, o editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, é um dos defensores de mudanças. "A Flip tem um desafio de se renovar. Não vai virar de ponta-cabeça. Festas literárias são assim, encontros de autor com leitor e ponto. Mas, após dez anos, vale a pena criar outras coisas."

Diretor da Casa Azul, associação que organiza a Flip, o arquiteto Mauro Munhoz considera que há espaço para ampliar o "enraizamento" da festa em Paraty, com foco em educação e desenvolvimento local. Miguel Conde, o atual curador, vai na mesma linha, ao mencionar um maior estímulo a escolas e bibliotecas como o espaço a ser explorado.

Curador das duas primeiras edições (2003 e 2004), Flávio Pinheiro, diretor do Instituto Moreira Salles, defende o modelo, mas ressalva que, ao convidar autores para falar de seus próprios livros, a Flip se pauta pelo mercado. "Por que não trazer autores para falar sobre outros escritores? McEwan já foi a Hay-on-Wye [festival britânico que inspirou a Flip] falar sobre George Orwell. Isso não precisa se restringir à homenagem, sempre a brasileiros." "Do jeito como a Flip é hoje", prossegue Pinheiro, "nunca teremos um debate sobre Georges Perec ou Italo Calvino. É estranho imaginar que a Flip possa completar 20 anos sem debater Borges".

O jornalista Cassiano Elek Machado, curador em 2007, diz que a festa tem dilemas relacionados ao tamanho: por questões estruturais, não pode crescer muito mais e hoje a programação principal não consegue atender a todo o público que vai a Paraty. "Uma saída seria incluir mais autores das mesas principais em mesas paralelas, cada um falando duas ou três vezes ao longo do evento."

Diferentemente da Flip, festivais como os de Hay-on-Wye, Jaipur e Edimburgo comportam vários debates simultâneos na programação principal, a exemplo do que acontece com palcos em grandes festivais de música. O crítico Manuel da Costa Pinto, curador em 2011, opina que um tempo maior para certas mesas seria desejável, dado o esforço para trazer alguns convidados, mas observa ser impossível prever que debates vão render. "Tenho a sensação, portanto, de que não há muito o que mudar."

Correio Braziliense - Sagrada ficção

Em seu primeiro romance, o escritor e jornalista Zuenir Ventura mistura lembranças reais com memórias inventadas para tecer uma trama com intrigas, paixões e...

(05/07/2012) Zuenir Ventura volta e meia contava para um amigo que estava “há três anos” escrevendo um livro de ficção. Contava uma, duas e até três vezes em espaços de um ou dois anos. Quando se deu conta, os “três anos” se tornaram, na verdade 10. Há uma década, ele estava debruçado sobre essa tal ficção passada em uma cidade do interior fluminense dos anos 1930. Aí, calhou de Ventura contar para o editor Robert Feith, da Alfaguara. Revelou, inocentemente, já ter oito

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capítulos. Feith, obviamente, quis ler. Ficou combinado que seria “sem compromisso”. Mas não teve jeito de evitar o “compromisso”. O editor adorou o esboço de livro e Ventura foi obrigado a tocar o romance. E sentiu um alívio danado quando começou a mergulhar na ficção com a maior liberdade do mundo e voltou com um livro leve, de leitura rápida, mas com uma história bem contada. Sagrada família é entretenimento de qualidade, coisa difícil de fazer segundo o autor.

Cotinha e Leninha, as duas irmãs protagonistas, Douglas e Tony, os respectivos namorados, e dona Nonoca, a mãe castradora das meninas, realmente existiram e fazem parte das memórias de infância do escritor, mas as intrigas amorosas que vivem em Sagrada família é pura invenção. E diversão. Namorar em Florida, a cidade fictícia incrustada na serra fluminense, era praticamente fatal na época descrita pelo menino Manuéu, alter ego assumido de Ventura. Não podia beijar, nem segurar na mão, nem ir ao cinema e muito menos sentar no mesmo banco na praça. Quem fizesse ficava “malfadada” e isso era um desastre amoroso: a moça nunca mais casava,

nunca mais namorava e só encontrava rapazes dispostos a “se aproveitar”’. Por essas e outras, a viúva Nonoca impunha às filhas regime de quartel.

Mas Cotinha gostava de Douglas e insistiu. Instaurou uma guerra familiar e casou com o moço. Sem saber, claro, do segredo guardado pela mãe e motivo da arenguiçe que as filhas não compreendiam. Já a obediente Leninha, por respeito à mãe, resistiu a Tony e ficou até a velhice só. Teve fôlego para recuperar o tempo perdido aos 70 anos, mas por curto período. Fazendo de Florida uma típica cidade do interior dos anos 1930, com rígidos valores morais, padrões elevadíssimos de fofocas e mexericos e um ar melancólico de início de século, graças a um sanatório de tuberculosos, Ventura recupera sua própria Friburgo, onde cresceu depois de deixar Minas Gerais em companhia dos pais. Mas o leitor não pode se fiar à memória do autor.

O repórter precisou se desapegar da obsessão jornalística de checar fatos para se soltar na invenção. Como guia, levou o sábio Manoel de Barros, de quem tomou emprestada a epígrafe “Só 10% é mentira. O resto é invenção”. “No jornalismo, a gente trabalha com a memória voluntária. Na ficção, você trabalha com a memória involuntária, aquela memória proustiana que chega sem ser chamada, que aflora. Senti isso muito claramente nessa experiência: o grau de liberdade é realmente muito maior porque você pode botar suas fantasias, pode mentir, o que dá um grande alívio”, confessa. “Tenho 50 anos de jornalismo e persegui a vida toda essa coisa da precisão, de não errar, de não falsear a verdade. Fiquei muito liberto disso e foi muito prazeroso fazer o livro, Sobretudo pela sensação de liberdade.”

Fosse Chico Mendes: crime e castigo ou 1968: o ano que não terminou , Ventura estaria submerso em um processo obsessivo de checagem de fatos. Provavelmente, isso teria atrasado a publicação. No entanto, o autor se sentiu completamente liberto desta fase. Vai aproveitar para falar disso na 10ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no sábado, em uma mesa intitulada Em família na qual terá ainda a companhia de Dulce Maria Cardoso e João Anzanello Carrascoza. Aliás, memória, seja em forma de ficção ou de reportagem, é mesmo com Zuenir Ventura. Durante a festa literária, ele lança um pequeno livro Paraty é uma festa em coautoria com Sérgio Augusto e Humberto Werneck sobre a história da festa.

Ventura participa da Flip desde a primeira edição. Estava lá quando “todo mundo” falou que era fogo de palha, que não podia dar certo uma festa dessas no Brasil, em uma cidade distante do Rio de Janeiro e de São Paulo e cravada no calendário logo depois da Bienal do Livro. Também estava no palco da segunda edição, quando ouviu as mesmas queixas. Ainda participaria de outras três Flips, essas já com auditórios lotados e Paraty em estado quase caótico de tanta gente. Sobre essa saga ele fala nos dois capítulos que lhe couberam dentro da publicação.

Quatro perguntas para Zuenir Ventura

Qual a gênese do livro?

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Claro que tem um ponto de partida, que é a história das duas irmãs, mas a partir daí viajei. A diferença para o trabalho jornalístico é a liberdade que você sente escrevendo, você pode mentir, o que na nossa profissão diária não pode, você fica escravizado, subordinado aos fatos. Sagrada família é meu primeiro romance, mas há 10 anos essa ideia me persegue, meio que como um fantasma permanente.

E como se sentiu com essa história de poder trabalhar com a liberdade?Foi muito prazeroso fazer o livro. Misturei três tipos de memória: as minhas memórias, as memórias emprestadas dos outros e as memórias inventadas. Há algum tempo meu editor ligou querendo saber se um dos episódios mais picantes do livro era verdade. Eu disse: “Não sei Bob”. Ele disse: “Não esconda o jogo”. Eu disse: “Sinceramente, não sei mais”. Perdi um pouco a noção do que vivi, do que viveram e me contaram e do que minha imaginação criou. Então, é o resultado dessa mistura de coisas.

Você acha que o fato de ser jornalista pode ter feito com que você fosse buscar o fio inicial da ficção na realidade?É bem possível porque é uma coisa que está tão incorporada né? Trabalhar com o real, com o concreto, com os acontecimentos e tal, isso acompanha a gente e é bem possível que isso tenha pesado na escolha, no ponto de partida dos personagens. Depois fiquei livre, inventei personagens, histórias, desfechos. O resto, é claro que tem um substrato. Tem muito sexo nessa história, eu mesmo cortei algumas coisas porque iam achar que eu estava fazendo um livro de sacanagem. Mas por quê? Porque toda minha adolescência foi muito reprimida sexualmente, então a gente falava muito de sexo, mas não fazia tanto. É aquela coisa: você fala muito de liberdade quando não tem. Nunca se falou tanto de liberdade quanto no período da ditadura, exatamente pela falta.

É mais fácil escrever ficção que fazer reportagem?É mais trabalhoso fazer jornalismo porque você tem que ficar fuçando o tempo todo, apurando o tempo todo, checando o tempo todo. Claro que apurei também, tem aquele vício nosso. Uma prima me ajudou na pesquisa, ouviu alguns personagens da minha época em Friburgo. Mas usei isso com toda liberdade. Se fosse reportagem teria que ir, ligar outra vez, perguntar de novo. E aqui não. Foi menos trabalhoso do que se tivesse feito um livro de memórias reais. E você sabe como dá trabalho fazer leitura fácil né? Porque você tem que expurgar, cortar, dizer “não isso tá demais”. É muito mais difícil do que escrever fácil.

Folha de S. Paulo - 'Granta' anuncia na Flip os 20 autores de edição brasileira

(06/07/12) Após um ano de suspense, foram anunciados ontem, na Flip, os 20 nomes que integram a edição "Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros" da prestigiosa revista literária britânica "Granta".

Carol Bensimon, Vanessa Barbara (colunista da Folha), Laura Erber, Carola Saavedra, Tatiana Salem Levy e Luisa Geisler compõem o time feminino. Os outros 14 são Cristhiano Aguiar, Javier Arancibia Contreras, Miguel del Castillo, João Paulo Cuenca, Emilio Fraia, Julián Fuks, Daniel Galera, Vinicius Jatobá, Michel Laub, Ricardo Lísias, Chico Mattoso, Leandro Sarmatz, Antônio Xerxenesky e Antonio Prata, colunista da Folha. Eles foram selecionados entre 247 escritores nascidos a partir de 1972 e que enviaram textos para a Alfaguara, que publica a "Granta" no Brasil. Segundo Marcelo Ferroni, editor da casa e um dos jurados, houve uma pré-seleção. Os sete membros do júri avaliaram os 70 textos.

"Os 20 foram escolhidos unicamente com base na qualidade literária", disse Roberto Feith, editor da Alfaguara. "São os nomes que definirão os rumos da literatura brasileira nos próximos anos." Feith contou que, antes do anúncio da "Granta" brasileira, a editora levantou nomes interessantes e a maioria deles enviou textos. Segundo Ferroni, a lista não interferiu na seleção feita a partir dos textos, embora 17 dos 20 estivessem no começo. Além dele, integravam o júri Beatriz Bracher, Benjamin Moser, Cristovão Tezza, Ítalo Moriconi, Samuel Titan Jr. e Manuel da Costa Pinto.

O júri recebeu os textos entre outubro e novembro. Em fevereiro, cada um apresentou seus 20 escolhidos. Todos os que levaram de cinco a sete votos entraram na lista. Os que tiveram quatro votos também, a não ser que algum dos jurados se opusesse ao nome. Na "fase do sigilo", os textos foram formatados antes de avisar os autores, o que ocorreu entre abril e maio, para que lessem os textos finais e dessem informações biográficas.

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Com 10 mil exemplares no Brasil, a edição sairá também nos países de língua inglesa e espanhola e na China. O inglês John Freeman, editor da "Granta", lembrou que "basicamente todos os autores que ganharam o Booker Prize nos últimos anos estavam nas listas de melhores autores de língua inglesa da 'Granta'", como Ian McEwan e Salman Rushdie.

Correio Braziliense - Muito prazer

(08/07/2012) Aos 46 anos, o brasiliense Roger Mello é um dos ilustradores mais talentosos e elogiados do Brasil. Recordista do Prêmio Jabuti (nove), tem mais de 100 livros ilustrados, cerca de 25 escritos e duas indicações como finalista do Prêmio Hans Christian Andersen, espécie de Nobel da ilustração infantojuvenil. Por uma questão de modéstia, até de singeleza, reserva todos os elogios àqueles que admira. A despretensão é tanta que gera um efeito espelhado: os grandes mestres, como o cartunista Ziraldo, tornam-se também os maiores admiradores. “Ziraldo afirmou que a obra de Roger o havia superado há muito”, segreda Ricardo Schöpke, grande amigo e cofundador da Cia. Boto-Vermelho, a qual Mello toma a frente como diretor teatral pela primeira vez, na peça Dispare, em cartaz até hoje no Teatro Oi Brasília. Artista da inquietude, centrífugo por natureza, tem uma candura tão marcante quanto a que imprime em seus livros %u2014 e assim deixa sua arte ir muito além do que chegaria qualquer vaidade.

Caroline Maria

Criador nômadeVocê é mundialmente reconhecido, mas não massivamente conhecido. Por que isso acontece? Diante da quantidade de prêmios, de uma obra tão expressiva…Não sei, é difícil responder. Não me preocupo com isso, gosto de ficar quietinho. Acho que são coincidência. Ziraldo diz que tem um tipo de fama confortável. E olha que é o Ziraldo. Mas ele é um fenômeno fora da regra. A gente não privilegia muito a leitura no Brasil, isso já é uma dificuldade enorme. Bartolomeu Campos de Queirós é um grande escritor que morreu neste ano, um artista absurdo, maravilhoso, e só não passou em brancas nuvens porque é uma pessoa muito forte.

Como foi a experiência com Ziraldo?Foi na Zappin (produtora de Ziraldo), quando eu estava no último ano da Escola Superior de Desenho Industrial. Ziraldo é jornalista, advogado de formação, cartunista… ele pensa o Brasil como um todo. É um cara que adora dar aula. E ele é genial dando aulas. É um grande mestre de gabinete de criação. Ele é um generalista, não um especialista. Vem de uma geração interessada em tudo. Millôr falava que especialista é aquele cara que sabe cada vez mais sobre cada vez menos, até saber tudo sobre nada. Ziraldo me ensinou tudo. Ele fala que acabou de me criar, e é verdade.

Sua arte é muito inquieta. Você transita pela dramaturgia, pela direção, por traços sempre diferentes… Onde você estaciona?Penso na arte como trabalho, não gosto de estar aí pelo coquetel. Uma coisa que dá o clique é fazer o teatro. Antigamente, se uma pessoa fazia design de cartaz ela nascia, crescia e morria fazendo design de cartaz. E a arte tem sido uma coisa cada vez mais sem limites. Falando sobre ilustração e texto verbal, falo para as pessoas: não sei mais a diferença entre palavras e imagens. Para mim, palavras e imagens são a mesma coisa. No jornalismo, isso é muito incorporado. Não é que uma imagem fale mais que mil palavras. É que as duas conversam de uma maneira indissociável. Porque uma é a outra.

Quando é que olhamos para um trabalho e identificamos que ele tem sua assinatura?Sou muito referenciado como artista popular. Esse termo chega sempre um pouco preconceituoso. Sou um cara multireferenciado, já Ziraldo é um artista que persegue um traço. Uma vez, ouvi Ziraldo entrevistando Oswaldo Montenegro e ele perguntou assim: “Quando você é original?”, isso é uma coisa que o perturba muito. E Oswaldo respondeu: “Quando tento imitar alguém que admiro e não consigo”. Isso é genial. Mas eu não tento imitar, fujo disso. E acho também que não sou original. Talvez nos detalhes. Minha originalidade está no rejunte.

Pensando como ilustrador e olhando para Brasília como imagem, onde você acha que a cidade acerta?

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Ela acerta quando o projeto dos criadores dialoga com as pessoas. Quando o Espaço Renato Russo tem uma pixação, um grafismo que encontra o coração da cidade. Acho que Simone de Beauvoir falou que Brasília era uma cidade fadada a nunca ter alma. E vejo a alma de Brasília ali. Assim como vejo a alma de Brasília surgir entropicamente por todos os cantos. A W3 transforma essa coisa que vem pronta. Gosto da W3.

Interessante, porque o cartão-postal de Brasília é exatamente o oposto: uma cidade asséptica, planejada…O registro de Brasília, nas pessoas, é topográfico. A sintaxe que Lucio Costa traz entra pela veia de um Renato Russo, por exemplo, e cria um espaço como esse, que dialoga com o humano da cidade. Clarice Lispector falava isso sobre Brasília: quando nasceu, era fantástica. Mas, depois que a cidade estava pronta, foi preciso fazer um novo cidadão. É o que faz a cidade maravilhosa: essa escala não humana, mas que foi pensada por humanistas. Apesar de ter sido silenciada no AI-5, se você vê os jardins do Burle Marx e os murais do Athos Bulcão, você entende a ideologia deles. Como um decodificador, um leitor de imagens de um livro sem texto.

E onde a cidade erra?Erra quando fecha aquele teatro que funcionava em uma oficina (Teatro Oficina Perdiz), que era um espaço espontâneo e genial de arte… e ninguém faz nada. Erra quando esquece que a cidade é o elemento que dialoga também com a natureza, com o Entorno. Quando as pessoas arrancam as árvores do Cerrado para plantar jardins. Quando não entendem que uma árvore dessas tem anos de existência. Essa falta de conhecimento… O que faz uma pessoa arrancar uma árvore centenária, que é torta porque demorou anos até ficar assim? O Cerrado é a caixa d’água do Brasil.

Você é muito ligado à questão ambiental…Atavicamente. A ecologia pra mim não se separa do humano, assim como a palavra não é diferente da imagem.

Você usou a palavra “entropicamente” quando falou de Simone de Beauvoir. Também trabalhou na peça Entropia, baseada na obra de Erasmo de Rotterdam. Qual a influência desse conceito em sua arte?Essa noção de entropia é muito interessante. Entropia é o desequilíbrio no sistema fechado. É o grau de desordem de um sistema. Quando você arruma sua mala e sai para viajar, por exemplo. Sabe quando você abre a mala e tenta botar tudo de novo e simplesmente não cabe? Isso é entropia. É porque o mundo não cabe dentro da matemática e dentro dos ajustes. O mundo tem uma não matéria, um não fechar que é fantástico. Que é a arte, na verdade. Tem um livro que ilustrei que se chama Vizinho, vizinha. Os dois saíam em horas diferentes, mas era a mesma hora. Um saía quinze pras cinco e outro quatro e quarenta e cinco. A entropia é a diferença entre os dois. Quando você diz quinze pras cinco você está mais atrasado do que quatro e quarenta e cinco.

Você é referenciado como um autor de literatura infantil. Você faz esses livros pensando em quem vai ler?Quem escolhe o livro é o leitor. O escritor não pode impor nada. O escritor não sabe se um livro será um sucesso. Quando Jostein Gaarder escreveu O mundo de Sofia e entregou um livro de 500 páginas, o editor disse que nenhuma criança leria um livro de filosofia daquele tamanho. Hoje, é um dos maiores sucessos da literatura infantojuvenil. Você não tem como prever quem é o seu público e nem como vai ser a recepção do seu livro. Ainda bem que o leitor subverte todas essas expectativas. Aliás, não penso em público-alvo. A palavra já diz o que é, um terror, um lugar onde você dá um tiro. Eu faço para mim e penso “deixa vir, acho que uma criança vai gostar muito disso também”. Mas se eu fizer pensando na criança, eu não vou fazer para ninguém. Eu escrevo para mim. E falo muito sozinho. É isso. Eu escrevo como se estivesse falando sozinho.

IstoÉ Dinheiro - Letras e lucros

Drummond vive. Incentivado por eventos como a Flip, o mercado literário brasileiro cresce e abre espaço para novos modelos de negócio, como as editoras-butiques.

Por Carlos Eduardo Valim e Marcio Orsolini

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(09/07/2012) Na edição que comemorou os dez anos da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o homenageado foi o escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), autor de algumas das mais belas passagens da poesia brasileira, como No meio do caminho, José e Poema de sete faces. Além de celebrar a literatura brasileira e mundial, por meio da participação de autores como o português José Saramago, a festa também se firmou como um privilegiado espaço para prospecção de negócios. Nos cinco dias do evento, que começou na quarta-feira 4, e no qual foram investidos R$ 8,4 milhões, as 28 patrocinadoras usam seus estandes como vitrine para suas obras e para aproximar seus autores do público.

Por conta disso, não seria exagero dizer que a Flip tem sido uma das responsáveis pela efervescência do mercado literário brasileiro. Desde 2003, quando da primeira edição, o setor passou por inúmeras transformações, a começar pela entrada de gigantes globais como a britânica Penguin, a francesa Larousse e a espanhola Planeta. Nesse período, as vendas do segmento deram um salto de 87% para R$ 4,5 bilhões em 2010, último número disponível. Desse total, os livros didáticos responderam por R$ 1,3 bilhão. Esse crescimento animou empreendedores e executivos da área a apostar em novos modelos de negócio como as editoras-butiques. São empresas que fazem poucos lançamentos e contam com um time de autores renomados.

É o caso da jornalista carioca Isa Pessôa, que fundou a Foz Editora, em fevereiro, cujo portfólio inclui 12 autores entre os quais se destacam Chico Buarque, Marcelo Rubens Paiva e Ruy Castro. Eles aderiram ao projeto por confiar na experiência que Isa acumulou ao longo dos 17 anos em que atuou na Objetiva, da qual saiu em 2011, quando vendeu sua participação de 1% no negócio. Foi o compositor de Apesar de você quem ajudou no batismo da empresa que, a princípio, se chamaria Sequoia. “O Chico me falou que o nome era horrível, então resolvi trocar”, diz Isa. Com uma equipe de apenas quatro funcionários, ela diz que não teme ser engolida em um mercado que vem passando por um processo de consolidação e no qual apenas 16 editoras faturam mais de R$ 50 milhões. “A disputa é acirrada, mas leal.”

A primeira obra do catálogo da Foz é um livro de ensaios intitulado Auto-ajuda, do escritor e letrista Francisco Bosco, filho do compositor mineiro João Bosco. O lançamento está previsto para setembro. Até o fim do ano, deverão chegar às prateleiras das livrarias obras assinadas por Marcelo Rubens Paiva e Ruy Castro. “Queremos lançar, no máximo, 20 títulos por ano”, afirma Isa. Outro filão que vem crescendo na esteira do bom momento vivido pelo mercado editorial é o de escritórios especializados no agenciamento de autores. Trata-se de um nicho no qual quem deu as cartas por muitos anos foi Lucia Riff, fundadora da agência que leva seu sobrenome e que comanda a carreira de autores como o gaúcho Luis Fernando Verissimo. É nessa arena que a carioca Luciana Villas-Boas e seu namorado, o advogado americano Raymond Moss, especializado em direito autoral, acabam de ingressar com a Villas-Boas & Moss Literary Agency & Consultancy. Egressa da editora Record, Luciana tornou conhecidos escritores como a gaúcha Lya Luft e o catarinense Cristovão Tezza. “Em geral, o autor não sabe negociar a própria obra”, diz Luciana. “Ganhamos uma comissão pelos contratos fechados com editores e outros produtos culturais se o livro for adaptado para cinema, teatro e tevê”, diz. A empresa, que começou a operar em abril com escritórios no Rio de Janeiro, Nova York e Atlanta, já tem contrato com 25 escritores, incluindo o jornalista Edney Silvestre, autor do best seller Se eu fechar os olhos agora, ganhador do prêmio Jabuti como o melhor romance de 2010.

Tanto Isa quanto a dupla Luciana-Moss estão de olho no crescimento do apetite dos brasileiros pela leitura. De acordo com a edição de 2010 do Censo do Livro, coordenado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), o brasileiro está lendo cada vez mais. Em 2010, último dado disponível, as vendas de livros para o público em geral cresceram 8,3% em relação ao período anterior. O número de leitores é estimado em 50 milhões. Ainda assim, a média é baixa. O brasileiro lê quatro livros por ano, enquanto nos Estados Unidos o número chega a 17. “Temos um mercado potencial muito grande”, diz Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro. “O surgimento de novas editoras traz mais opções para o público e eventos como a Flip chamam a atenção dos leitores.”

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O Estado de S. Paulo - Flip mantém desafio de balancear fama e intimismo

Ubiratan Brasil

(10/07/2012) Aumento de público e problemas na Tenda do Telão; perfeita homenagem a Drummond e decepção com Jonathan Franzen - a Flip, Festa Literária Internacional de Paraty, encerrou sua 10ª edição na noite de domingo com os habituais altos e baixos, mas deixou a impressão de que os acertos foram mais decisivos que os erros. Afinal, poucas vezes um autor foi tão bem homenageado como o poeta de "A Rosa do Povo", com mesas brilhantes analisando sua obra, exposição fotográfica e leitura dos principais poemas antes de cada encontro.

O grande desafio da Flip sempre foi o de apresentar escritores - artistas habituados, por força do ofício, à solidão e ao recato - para uma grande plateia, transformando o evento em algo mediático e popular. Alcançar o equilíbrio da contradição é a meta e, na maioria das vezes, somente após o término do encontro é que se sabe se o alvo foi atingido.

O "problema" foi bem apresentado pelo escritor sergipano Francisco Dantas que, na manhã de domingo, antes de revelar sua predileção por Faulkner e Onetti, lembrou que o escritor não é um ator, pois vive isolado dos vivos mas cercado pelos imaginários. Portanto, não se deve cobrar uma performance inesquecível. Mas, feliz incoerência, Dantas terminou como um dos destaques da Flip.

Também a homenagem a Carlos Drummond de Andrade por conta dos 110 anos de seu nascimento - da conferência de abertura com Silviano Santiago e Antonio Cícero, passando pela modernidade avaliada por Antonio Secchin e Alcides Villaça, até a atualidade do poeta mostrada por Armando Freitas Filho (em vídeo), Eucanaã Ferraz e Carlito Azevedo (que leu, emocionado, um poema seu inédito), a celebração foi impactante e abrangente, unindo o culto com o palatável como, de resto, se caracteriza a obra de Drummond.

Outros encontros acertaram ao apresentar profundidade e bom humor. Como o que reuniu o americano de origem russa Gary Shteyngart e inglês de origem paquistanesa Hanif Kureishi ou, mais cedo no mesmo domingo, o hilariante bate-papo entre a escocesa Jackie Kay e o gaúcho Fabrício Carpinejar, que se tornou o muso desta Flip ao enaltecer, por meio de seus versos, a beleza escondida atrás da feiura - por conta disso, provocou uma invasão na Livraria da Vila da Flip, mulheres em busca de seus livros para serem autografados.

No sentido inverso, reforçando a observação de Francisco Dantas, o espanhol Enrique Vila-Matas ofereceu uma brilhante dissertação sobre literatura na noite de sábado, substituindo, à última hora, a ausência de J. M. G. Le Clézio. Sempre sentado, em tom monocórdio, ele leu suas 13 observações sobre o fazer literário, um conciso mas bem estruturado apanhado a respeito da escrita, o que deliciou apenas um terço da plateia pois o restante deixou paulatinamente a Tenda dos Autores. Curiosamente, o próprio Vila-Matas previu o que aconteceria pois, antes de iniciar a leitura, sabia que ela estava fadada ao fracasso.

Idêntica decepção provocou a mesa que reuniu o poeta sírio Adonis e o escritor Amin Maalouf, na sexta-feira, quando assuntos políticos dominaram a conversa, relegando a segundo plano justamente a poesia, em especial a já clássica criada por Adonis. Já o americano Jonathan Franzen, para esconder seu nervosismo diante de um grande público, que o alçou à condição de estrela da Flip, pareceu optar por uma performance, marcada por pausas e tiradas que, na maioria das vezes, não provocaram o efeito esperado.

Valor Econômico - A poesia por trás de cidades brasileiras segundo Carpinejar

Ele é um tanto amalucado, usa óculos de inseto e roupas gritantes e atende pelo nome de Carpinejar, uma junção dos sobrenomes de dois poetas, Carlos Nejar e Maria Carpi, seus pais.

(11/07/2012) Ou, como ele mesmo se define: "Tenho a risada do Raul Seixas e a tristeza de Álvares de Azevedo. Sou muito contraditório para ser definido. Meu pensamento é feito de verso mesmo. É mais rápido pensar em um poema do que numa frase direta. Sofro muito para me traduzir. Não me restou opção. Nasci numa casa de dois poetas. O almoço era uma aula de história da arte e não

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sabia. O jantar era um curso de escrita criativa e não tinha noção. Ninguém me avisou que nascer era se matricular no abismo". "Já sobre o surgimento do pseudônimo, prefiro o apelido. O apelido é um pseudônimo mais barato. Recebi vários durante a escola e economizei meu nome", diz o escritor, que participou de uma das mesas da última Flip.

Visto assim, Fabricio Carpinejar, de 39 anos, poderia atender perfeitamente ao clichê do poeta imerso no mundo da lua, pendurado nas próprias esquisitices. Mas ele paira acima dessas coisas todas, mostrando uma língua afiada e um poder de comunicação que deixa rastros por onde quer que passe. No meio literário, ele é um acontecimento. Mas é entre os leitores de seus 19 livros que ele faz o maior sucesso, impulsionado também por um blog, programa de televisão, versos e sabedoria de "alta ajuda" no Twitter e fôlego de peregrino.

"Tenho milhagens de senador. Viajo três vezes por semana. Tanto que poderia trabalhar para o 'Guia Quatro Rodas'. Sei avaliar um hotel pelo cheiro", ele diz. Quem não o conhece acha que o poeta está em diversos lugares ao mesmo tempo.

Aproveitando o ensejo, Carpinejar partiu dessa loucura geográfica pessoal para imaginar uma antologia de contos chamada "Bem-Vindo: Histórias com as Cidades de Nomes Mais Bonitos e Misteriosos do Brasil". Nela, reuniu nomes dispersos de autores brasileiros de boas safras para escrever sobre cidades cujos nomes evocam certa poesia e algum estranhamento. Para ser mais exato, a ideia nasceu numa leitura de uma coluna polêmica de Roberto Pompeu de Toledo na revista "Veja".

"Pompeu analisou cidades pelos nomes, chamando atenção daquelas com batismo belíssimo e sugestivo e outras com designações feias e cacofônicas", diz Carpinejar. Pompeu comprou diversas brigas com prefeitos e cidadãos que não ficaram bem na fita, como Sinop, no Mato Grosso, de onde o jornalista recebeu uma carta de repúdio. "Aquilo me intrigou", diz Carpinejar. "Por que não explorar lugares pela sua graça? Convidei os melhores do ofício para viajar nos mistérios de municípios, aproximado o real do imaginado, atiçando a alma aventureira do leitor."

O que saiu daí é uma coleção de histórias escritas à moda antiga, sem nenhum vanguardismo ou digressão pós-moderna. Não há em "Bem-Vindo" nenhum conto capaz de fazer girar ao contrário a roda do mundo literário, nem mesmo atormentar alguma das cidades escolhidas como musas. Ao contrário, as histórias inéditas escritas por Luiz Vilela, Marçal Aquino, Lygia Fagundes Telles, Luiz Ruffato e outros têm um toque de anos 1970, o período em que o conto vigorou no Brasil como ponta de lança na literatura. Isso dará um grande alívio ao leitor desnorteado que vive pulando de romance em romance sem terminar nenhum, na esperança de encontrar uma boa história, nada mais do que isso.

Descalvado, Amparo, Milagres, São José dos Ausentes e até Brasília são algumas das localidades escolhidas. Luiz Vilela escolheu Brasília para ser quase literal, narrando a passagem do protagonista por uma cidade às vésperas do golpe militar. Lygia abraça Descalvado com a poesia meio torta que domina como ninguém. Aquino examina a própria Amparo de nascimento com um olhar quase felliniano. O mineiro Sergio Faraco fala de Inconfidência Mineira numa Ouro Preto que já foi Vila Rica.

Tudo isso caberia numa edição escolar dos anos 1970, e a leitura continuaria sendo boa, simples, confortável. Nada que se pareça muito com a figura pública de Carpinejar. Mas é só prestar atenção numa coisa: ele é um poeta, e fez escolhas de poeta para montar a sua antologia de cidades.

"Há cidades com nomes sugestivos e maravilhosos, que poderei abordar em outro volume, como Rio do Fogo (RN), Morro Cabeça no Tempo (PI), Turvo (SC), Solidão (PE) e Bom Repouso (MG). Não são incríveis? Parecem cidades invisíveis de Italo Calvino. Cidades inventadas por Shakespeare".

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ARQUITETURA E DESIGN

Estado de Minas - Pela natureza da forma

Com 15 anos de mercado e uma trajetória de sucesso internacional, Hugo França alia em seu trabalho preocupação com o meio ambiente e sensibilidade artística

Mírian Pinheiro

Hugo França interpreta a natureza, tornando-a parceira do seu trabalho

(10/07/2012) Seu nome figura entre os mais conceituados do design contemporâneo nacional e hoje está presente em grandes publicações do setor no país e no exterior. Tudo começou nos anos 80, ao se mudar para a praia. Natural de Porto Alegre (RS), o engenheiro industrial Hugo França fez parte da geração de jovens que descobriu Trancoso, no Sul da Bahia, e lá deixou aflorar sua veia artística. “Quando morava lá, tive contato com o enorme desmatamento que ocorria

naquela região. Observando os resíduos de madeira que restavam desta ação, comecei a pensar que todo aquele material poderia ser muito bem aproveitado. E como sempre gostei de madeira, desde a infância, decidi começar a utilizar aqueles blocos abandonados”, relembra. Naquela época e ainda hoje o que o inspira são as formas orgânicas dos resíduos florestais.

Ele conta que já havia uma consciência ambiental ao desenvolver o trabalho, pois achava um absurdo tanto desmatamento quando se poderiam utilizar os recursos naturais de maneira mais responsável. Assim pensa e cria até hoje, numa sinergia total com a natureza. O designer utiliza o pequi-vinagreiro em 95% de sua produção. É sua madeira preferida porque tem características muito particulares, como uma resina oleosa que a torna naturalmente impermeável, “tem texturas e formas incríveis, além de viver até 1.200 anos”, elogia. Esta última característica, em especial, o atrai muito. “É um valor agregado inestimável, madeira de árvores que estavam aqui desde antes do descobrimento do Brasil”, diz, sentindo-se fazendo um trabalho arqueológico quando proporciona o contato das pessoas com o pequi. “Gosto de chamar minhas peças de esculturas mobiliárias. São únicas, produzidas uma a uma; de acordo com as formas originais da madeira, defino se será um banco, uma mesa, uma cadeira...”, comenta.

Suas exóticas peças feitas de madeira de pequi carregam uma aura de brasilidade incomum e contam um pouco da história do Brasil por meio do design. Já são 15 anos de mercado e clientes no Brasil e no exterior. Suas criações podem ser vistas nos parques do Ibirapuera e Burle Marx (em São Paulo), no Museu do Açude (Rio de janeiro) e principalmente em Inhotim (Brumadinho, MG), que tem a maior coleção de obras do artista. Quem conhece Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico – Inhotim provavelmente já teve a oportunidade de se sentar e contemplar o local num dos bancos de Hugo França. Eles estão espalhados pelos jardins do museu. As peças são comercializadas em seu showroom em São Paulo, na loja Projeto D, no Rio de janeiro e na R 20th Century Gallery , em Nova York. A galeria o representa na América do Norte e na Ásia, por meio de uma parceria que o designer tem com a Seomi Gallery.

Casulos Entre seus mais recentes lançamentos, está a linha intitulada ‘Casulo’, que mantém o foco na preservação das formas orgânicas da árvore, mas com uma proposta de mais interatividade. “O meu intuito é oferecer às pessoas uma experiência sensorial no cerne da árvore. Os casulos são ambientes, dentro deles você tem temperatura, cheiro e textura diferentes do ambiente externo”, explica.

Além da visão horizontal do tronco, os casulos de Hugo França possibilitam a experiência de as pessoas penetrarem no interior da árvore, em um espaço que se faz acolhedor sendo também refúgio e isolamento. As peças criadas pelo designer são consequência de sua preocupação com as possibilidades oferecidas pela matéria-prima: árvores centenárias mortas pela ação impensada do homem. Elas são sua inspiração inicial e suas formas, buracos, rachaduras, marcas de queimada e

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da ação do tempo são incorporados às criações. Segundo ele, a intenção não é produzir objetos funcionais, mas levar a árvore de volta ao convívio humano com mais harmonia.

MODA

Estado de Minas - Luxo mineiro no inverno europeu

Coleção de outono-inverno do estilista Gustavo Lins é inspirada em Sèvres e na bola de futebol

Anna Marina

(10/07/2012) Mais uma vez a Embaixada do Brasil abriu suas portas no sofisticado Cours Albert 1º, na Rive Droite, para mostrar à convidados especiais e a mídia internacional, a coleção de Gustavo Lins, o mineiro que conseguiu um feito: ser o único latino-americano a participar do seleto clube de alta-costura da França. Um dos temas da tarde foi a linha de criações inspiradas na porcelana de Sèvres, "bela e frágil como a vida" segundo suas palavras.

Quando esteve aqui no início do ano, Lins contou que estava totalmente envolvido com a pesquisa, cujo resultado pode ser visto em seu desfile do dia 3. Mas como continua muito brasileiro – e muito mineiro –, apesar de morar na Europa há mais de 25 anos, a inspiração principal da coleção foi a geometria da bola de futebol. O que resultou em silhuetas elegantes e limpas, uma constante em suas criações. Elas confirmam sua participação no seleto grupo de estilistas de fama mundial, atento a uma das exigências mais fortes do setor: todas as peças mostradas são únicas e produzidas com acabamento manual.Lins colocou no desfile jaquetas pretas de cetim, bordadas e com peles, blusas leves e túnicas em musseline de seda, casacos de vison turquesa, de corte estruturado.

Batizado de Beleza Selvagem, o conjunto exibiu uma síntese de seu trabalho e sua trajetória: o Brasil, onde ele cresceu e estudou arquitetura, a cultura e as técnicas de costura e seu fascínio pelo quimono japonês e a porcelana. Na avaliação final, o desfile mostrou também uma síntese de seus códigos, como usar peças masculinas, como jaquetas e casacos, para vestir as mulheres, que Lins imagina elegantes, sedutoras e chiques. "Sensuais, mas dignas", resumiu, após o desfile. "As peças femininas um pouco masculinas são mais belas." Embora a cultura europeia e o Japão tenham estado presentes, foi o Brasil que marcou a coleção outono-inverno do estilista. Algumas modelos desfilaram acompanhadas de um jovem elegante, descontraído, esportivo, com uma bola de futebol debaixo do braço, e ao som do ritmo sensual da bossa nova. "Um pedaço de bola de futebol foi o ponto de partida da coleção. Queria dar um toque de nobreza a esse esporte, trazê-lo para a alta-costura."

GASTRONOMIA

Estado de Minas - BH na rota dos grandes eventos de vinhos

(10/07/2012) O estado de Minas Gerais tem registrado aumentos expressivos no consumo de vinhos em todas as categorias de tipos e preços. Em 2011, por exemplo, o volume de vendas de vinhos na Fine Food, empresa distribuidora, cresceu 80% em relação ao ano anterior. Esse crescimento de vendas e consumo no mercado mineiro vem chamando a atenção das grandes importadoras e dos produtores, que têm notado a necessidade de se aproximar ainda mais desse mercado e estão incluindo cada vez mais a capital mineira na rota de importantes eventos de degustação e encontros com produtores internacionais, almoços e jantares harmonizados.

É o caso do Wine Day da Cantu, realizado pela primeira vez em Belo Horizonte no fim de junho. Minas Gerais, que é hoje o terceiro mercado da importadora, abriu a temporada de Wine Days Cantu pelo Brasil, que posteriormente serão realizados também na Bahia e em São Paulo. A Cantu tem 300 rótulos no seu portfólio e apresentou no evento em BH cerca de 150 vinhos de Portugal, Chile, Itália, França, Espanha, Argentina e Uruguai, com preços de R$ 20 a R$ 500. Compareceram em torno de

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250 pessoas, entre proprietários, sommeliers e garçons de restaurantes de Belo Horizonte e do interior de Minas Gerais, representantes de supermercados, enófilos e consumidores finais.

Um importante empresário do vinho de Portugal que esteve no Brasil especialmente para o Wine Day Cantu em BH foi Ricardo Pinto Correa, proprietário da Casa Santos Lima. Também participou do evento, para falar sobre os vinhos da chilena Viña Ventisquero, Nicolas Torres, “brand ambassador” da vinícola no Brasil.

E foi da Casa Santos Lima que veio um dos vinhos mais elogiados do evento, por sua qualidade e bom preço, o Quinta dos Bons Ventos Tinto 2010 (R$ 30,30 a garrafa na Fine Food, fone 31- 2526-3699). Trata-se de um vinho regional alentejano, produzido na região de Lisboa. Muito aromático e complexo, é bem equilibrado, com taninos firmes, bom corpo, fácil de beber. Na boca, mostra canela, chocolate, pimenta e licor. Feito das uvas castelão (periquita), camarate, tinta miúda e touriga nacional. Acompanha bem picanha e filé-mignon grelhados e caças (cordeiro, cabrito, coelho, pato) ou pratos de bacalhau ao forno com azeite.

Outro rótulo interessante que se destacou foi o Ramirana Reserva Cabernet/Carménère 2008 (R$ 48,70 na Fine Food). A linha de vinhos Ramirana, da Viña Ventisquero, é cuidadosamente produzida pelo enólogo Alejandro Galaz em vales com influência costeira, na região central chilena. A temperatura amena de Trinidad, no Vale do Maipo, proporciona amadurecimento mais lento das uvas, trazendo boa acidez e expressão. O resultado são vinhos muito equilibrados, elegantes, frescos, nos quais se destaca o caráter frutado. O Reserva Cabernet/Carménère é criado por 10 meses em barricas. No aroma, destacam-se frutas vermelhas; na boca, especiarias, pimenta negra, baunilha e chocolate. Com estrutura, taninos presentes e boa persistência, harmoniza bem com queijos maduros, carnes vermelhas, cordeiro epratos bem condimentados.

The New York Times (Estados Unidos) - Cachaça: Beyond a One-Note SambaBy Robert Simonson

(11/07/2012) The short history of cachaça consciousness in the United States goes something like this: The new millennium strikes. Americans discover the caipirinha and like it. (Easy.) Americans learn how to pronounce caipirinha. (A little harder.) Americans learn how to pronounce cachaça, the Brazilian spirit you need to make a caipirinha. (Harder still: it’s kah-SHAH-sah. That cedilla is a toughie.)

And that’s about where things stand. Despite a steady climb in sales over the last five years and an expanding number of available brands, cachaça has a narrow user profile. Few liquors are so tied in consumers’ mind to a single cocktail (and in this case, one that may well be past its zenith).

But cachaça may be ready for its second act.

After a long campaign on the part of some of the spirit’s producers and the Brazilian government, the United States decided in April to start the process that will recognize the centuries-old South American distillate of sugar cane juice as a distinctive liquor. No longer will makers be forced to label their wares as “Brazilian rum.” (In return, Brazil will extend similar recognition to America’s bourbon and Tennessee whiskey.)

And in May, Diageo, the giant liquor conglomerate, put its international muscle behind Ypióca, Brazil’s third-largest cachaça brand, buying the company for roughly $470 million. These votes of confidence in Brazil’s national elixir come as the country prepares for its double close-up: the World Cup in 2014 and the Summer Olympics in 2016.

“I think it will be a big boon for cachaça,” Martin Cate, owner of the San Francisco tiki bar Smuggler’s Cove, said of the dual international events.

But to take full advantage of the moment, the spirit will have to first shake off its one-trick-pony image. “It’s analogous to what rhum agricole has gone through here,” said Mr. Cate, mentioning cachaça’s French-Caribbean cousin, which is also distilled from sugar cane juice. “They have their signature

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drink, ’ti punch,” he said, referring to the drink made of rhum agricole, lime and simple syrup. “It’s a great lead-in.”

But that isolates the spirit, he said. “I think cachaça producers are now saying, ‘We can lead with the caipirinha, but we’ve got to go somewhere from there,’ ” Mr. Cate said.

One place they’re going is bars like Mr. Cate’s. The tiki-bar boom of the last few years has handed cachaça a new opportunity. The spirit’s makers hate being bundled up with the rum world. “They always joke that rum should be called Caribbean cachaça, not the other way around,” said Steve Luttmann, founder of the Leblon brand.

But there’s no denying that cachaça slips easily into the exotic rum-soaked world of tiki. At Lani Kai, in SoHo, Julie Reiner blends it with lime juice, calamansi (a tiny citrus fruit native to the Philippines), cream of coconut and litchi juice to make a Bermuda Triangle. PKNY, the Lower East Side tiki bar, sells the Don Gorgon, pairing the spirit with Aperol, lemon juice and simple syrup, and crowning the mix with soda water and grated cinnamon. The menu at Smuggler’s Cove includes a batida, a luscious drink brimming with coconut cream and crushed ice that has a Brazilian pedigree that goes back further than the caipirinha’s.

“Most cocktail bars these days have a cachaça cocktail on the menu that isn’t a caipirinha,” said the mixologist Aisha Sharpe. One of her contributions — a mix of lemon-grass-ginger syrup, lemon juice and watermelon juice called Ooh Yeah — was recently added to the cocktail menu at the Breslin on West 29th Street.

Also raising the spirit’s reputation a bit is the improved quality now reaching American shores. “There’s this perception that cachaça is like rocket fuel,” Mr. Luttmann said. “It’s somewhat deserved, because the ones we were seeing at first were more industrial.”

These workhorses performed fine in caipirinhas, where the rule of thumb is “the worse the cachaça, the better the caipirinha,” according to Dushan Zaric, an owner of the West Village bar Employees Only. The lime and sugar effectively smothered the imperfections in the spirit. But raw power won’t work in drinks like Lazy Lover, a popular Employees Only creation made of cachaça, lime juice, jalapeño-infused green Chartreuse, Benedictine and agave nectar.

“The fine cachaças now available on the market are reminiscent of a rhum agricole,” Mr. Zaric said. “They have a strong grassy note, plus they’re clean. When we want to mix and create a 3-D cocktail, the newer brands work.”

Smuggler’s Cove sells another drink, El Draque, that uses a spirit many Americans don’t even know exists: aged cachaça. “Because most bartenders haven’t been to Brazil, they don’t know the big role aged cachaças play in the culture,” said Dragos Axinte, whose aged Novo Fogo cachaça is kept two years in repurposed bourbon casks.

That may change soon. Matti Anttila, president of Cabana Cachaça, is considering rolling out a line of aged cachaças using different Brazilian woods, the first arriving in 2013. Sao, an organic brand introduced in 2011, will bring out an aged product in a year or so. And Leblon, a leading brand in the United States, will introduce one in August.

Mr. Luttmann views the aged version, which in Brazil is sipped neat, as the solution to cachaça’s limited hot-weather image. “It is still seasonal,” he said. “It’s like the margarita and mojito: when it’s summer, sales go up.”

To further assist the cause of cachaça mixology, Leblon recently introduced a liqueur with a cachaça base, flavored with açai berries. It’s called, appropriately, Cedilla.

Great. One more thing to learn how to pronounce.

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OUTROS

Estado de Minas - De olho no mundo

Ministério da Cultura promete liberar recursos para a divulgação da literatura brasileira no exterior. Projeto contemplará tradutores

(05/07/2012) Quatro novos editais para a promoção da literatura brasileira no exterior devem ser publicados em agosto pelo Centro Internacional do Livro, novo órgão da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), que centraliza as políticas de livro e leitura do governo. Eles serão apresentados amanhã, durante a 10ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

Vitor Ortiz, secretário executivo do Ministério da Cultura, e Galeno Amorim, presidente da FBN, explicaram que um dos projetos prevê o apoio à publicação de brasileiros em países de língua portuguesa. A bolsa de US$ 6 mil deve contemplar 12 obras.

Tradutores estrangeiros empenhados em verter autores daqui para seus idiomas poderão se inscrever no programa de residência. Eles vão receber R$ 15 mil para gastar com passagem e outras despesas. Em contrapartida, tradutores brasileiros devem ser mandados para o exterior.

Escritores do país terão apoio para viajar e divulgar seu trabalho no exterior. Estão previstas 30 bolsas no valor de US$ 3 mil. A ideia é de, além de traduzir e publicar livros, as editoras promoverem a obra convidando os autores para encontros com leitores, afirmou Ortiz.

O último programa compreende bolsas de US$ 8 mil para tradução de livros técnicos. Os investimentos somarão R$ 76 milhões até 2020.

VendaO editor Jonathan Galassi, um dos convidados da Flip, que será encerrada domingo, avisou: “No mercado editorial de hoje não vendemos livros, mas autores”. Ele preside a Editora FSG, casa de dezenas de prêmios Nobel e vencedores do Pulitzer.

“Os leitores gostam de sentir que conhecem os autores, querem ter a ilusão de que têm um contato pessoal. Então, algo como a Flip é importante”, elogiou. Galassi está no mercado há mais de três décadas. Sábado, ele participa de debate promovido pela Companhia das Letras (que edita Franzen no Brasil) ao lado da escritora Annalena McAfee e da agente literária Deborah Rogers, na Casa da Companhia. O tema em discussão será a revolução dos e-books.

“Há declínio nas vendas em livrarias, mas as editoras estão se saindo bem porque os livros digitais parecem estar compensando isso. Não sabemos ainda como eles vão afetar as reedições. Certamente, vão reduzir uma margem desse lucro, não sabemos o quanto”, observou Galassi. Ele defende um intervalo de lançamento entre as versões em papel e digital.

“O fato de que não temos essa janela e de deixarmos a Amazon vender os e-books a subpreços não foi uma decisão inteligente. Acho que estávamos com medo da pirataria, mas sinto que esse é um problema menor que os baixos preços”, advertiu o presidente da FSG.

O Estado de S. Paulo - Todas as artes da serrinha

Fabio Delduque, Curador fala das novidades para a 11ª edição de seu festival

Lauro Lisboa Garcia

(06/07/2012) Com o tema Muitos Irmãos, celebrando "a possibilidade da diferença", o cenógrafo e artista plástico Fabio Delduque realiza a partir de amanhã a 11.ª edição do Festival de Arte Serrinha, em Bragança Paulista, que une diversas modalidades artísticas - música, cinema, fotografia, gastronomia, artes visuais - em oficinas, performances, encontros e shows musicais em vários ambientes. Uma das novidades deste ano é a criação do Parque de Instalações a céu aberto. Outra é

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o Teatro Rural, que será inaugurado no último dia do festival. "São muitas frentes", diz o artista e curador.

A fazenda já tem várias obras de artistas que são resultados de oficinas realizadas nas edições anteriores do festival. Elas estarão juntas no Parque de Instalações. Como será esse parque?

A ideia é que sejam todas peças criadas para o espaço. Existem alguns projetos que já estão até bem desenhados. Dudi Maia Rosa quer fazer duas torres espelhadas. Rochelle Costi quer fazer umas escadas em espiral, Carlos Fajardo quer fazer um trabalho com tijolos. A única obra pronta que a gente levaria para lá seria uma de Frans Krajcberg, mas dependeria de uma doação dele. Estou querendo procurá-lo para mostrar o projeto. Obviamente não temos como adquirir uma obra dele de galeria, mas acredito que ele seja sensível a um projeto como esse.

Por falar em sensibilidade, todo ano é uma batalha conseguir apoio e patrocínio para o festival, que tem procurado unir arte e educação. Este ano você conseguiu maior participação do governo do Estado, por exemplo?

Durante a negociação do festival deste ano tive um monte de reuniões com as Secretarias Estaduais de Cultura e Educação e entendi que tem uma possibilidade incrível de integração. Temos também apoio das secretarias municipais de Bragança. A gente este ano tem um programa de bolsas focado nos professores da rede pública, que são um dos públicos alvos do projeto para o ano que vem. A ideia é ter na Serrinha uma atividade que seja anual, que seja mais concentrada no festival, mas que tenha o ano todo. Existem diversas possibilidades que estamos negociando, dentre elas a Unesp, via Zé Espanhol, Agnus e Sérgio Romagnolo, que são professores artistas. A ideia é que os cursos de extensão universitária possam fazer residência na Serrinha algumas vezes por ano. Vamos fazer uma experiência agora no segundo semestre. Outro ponto é a criação de cursos para formação de professores, que a gente está articulando com as Secretarias de Cultura e Educação. A gente teria um projeto pedagógico criado a partir das obras existentes na Serrinha e outras que virão.

Como é o Teatro Rural? O que está previsto na programação?

O teatro é de madeira e terá um palco que abre para a floresta de eucalipto. Então é tipo um Auditório do Ibirapuera, só que no meio do mato. A inauguração vai ser no último dia do festival. Em dezembro já vamos ter um festival de música instrumental, que terá Yamandú Costa, Trio Curupira e Bocato, entre outros. No ano que vem vai ter uma programação direta de teatro e show mais intimistas e também vai abrir para oficinas durante o festival todo. A capacidade é para 200 pessoas.

A ideia de intercâmbio entre as várias artes é uma das qualidades do festival, como você vê outros festivais pelo Brasil?

Nessa peregrinação anual pelos festivais aprendo muita coisa, mas percebo também que há pouca troca. Participei da última Bienal de São Paulo e conheci no máximo o cara que estava montando a obra do lado da minha. Não existe muito intercâmbio que é o que move o Festival de Arte Serrinha. A ideia também é levar o resultado dos trabalhos na Serrinha para fora. De 30 de agosto a 4 de setembro vai ter uma exposição no Paço das Artes em São Paulo.

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