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ASSENTAMENTOS HUMANOS ISSN 1517-7432 Vol.8 Nº 1 Out.2006 Revista da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Técnologia Universidade de Marília Marília SP Assentamentos Humanos Marília v8 nº1 Pg. 1-96 2006

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Page 1: ASSENTAMENTOS HUMANOS - unimar.br · Ficha Catalográfica preparada pela Biblioteca Central da Universiade de Marília - UNIMAR Assentamentos Humanos: revista da Faculdade de Engenharia,

ASSENTAMENTOSHUMANOS

ISSN 1517-7432Vol.8 Nº 1 Out.2006

Revista da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e TécnologiaUniversidade de Marília

Marília SP

Assentamentos Humanos Marília v8 nº1 Pg. 1-96 2006

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Ficha Catalográfica preparada pelaBiblioteca Central da Universiade de

Marília - UNIMAR

Assentamentos Humanos: revista da Faculdade de Engenharia,Arquitetura e Tecnologia da Universidade de Marília. v.8, nº1(Out. 2006) - ...Marília: FEAT/UNIMAR, 2006- V.8:il.;27cm.

Semestral

ISSN 1517-7432

1. Arquitetura e Urbanismo - Periódicos. 2.Assentamentos Humanos.I.Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Tecnologia daUniversidade de Marília.II. Universiade de Marília.

Distribuição:Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Tecnologia

FEAT - UNIMARAv. Higyno Muzzy Filho, 1001. Fone: (14) 3402-4044

e-mail: [email protected]

Os artigos são de responsabilidade de seus autores.

O projeto gráfico é fundamentado num modelo da autoria da DesignerCassia Leticia Carrara Domiciano.

A capa, a identidade visual e a editoração foram realizadas pelo diagramador

Marcelo Andrini

CDD 720

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UNIVERSIDADE DE MARÍLIA

Reitor

Dr. Márcio Mesquita Serva

Vice-Reitora

Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva

Pró-Reitora de Pós-Graduação

Profª. Dra. Suely Fadul Villibor Flory

Diretora Administrativa

Bel. Sinara Mesquita Serva

Pró-Reitor de Graduação

Prof. José Roberto Marques de Castro

Pró-Reitora de Ação Comunitária

Profª. Maria Beatriz de Barros Morães Trazzi

FACULDADE DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E TECNOLOGIA

Diretor

Prof. Ms. Odair Laurindo Filho

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Correspondência e artigos para publicação deverão ser encaminhados a:Correspondence and articles for publication shoud be adress to:

Assentamentos Humanos

Sub-Comissão de Pós-GraduaçãoFaculdade de Engenharia, Arquitetura e Tecnologia - Unimar

CEP 17500-000 - Marília - SP -Brasil

E-mail: [email protected]

Comissão Editorial

Alexandre Ricardo Alferes Bertoncini

Irajá Gouvêa

Lúcio Grinover

Maria Alzira Louteiro

Odair Laurindo Filho

Paulo Kawauchi

Renato Leão Rego

Conselho Consultivo

Akemi Ino (EESC-USP)

Alexandre Kawano (POLI-USP)

Bruno Soerensen Cardoso (IPETEC-UNIMAR)

Doris C.C.K. Kowaltowski (FEC-UNICAMP)

Élide Monzéglio (FAU-USP)

Jair Wagner de Souza Manfrinato (FEBa-UNESP)

José Carlos Plácido da Silva (FAAC-UNESP)

Mario Duarte Costa (UFPe-Recife)

Natálio Felipe Koffler (FAAC-UNESP)

Otávio Yassua Shimba (UEL-Londrina)

Rosalvo T. Ruffino (EESC-USP)

Sérgio Murilo Ulbricht (UFSC-Florianópolis)

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SUMÁRIO

Carlos José Pereira

Centro de Vivência e Cultura noJardim Petrópolis em Bauru.

Igor Alexandre Roque Gouvêa

Geoprocessamento - Ferramentafundamental para o planejamentode obras públicas.

Alexandre R. Alferes Bertoncini

Diferentes maneiras de aplicação defluido de corte no torneamento deum aço de dificil usinagem.

Daniela Maria Cação Cambraia

A Necessidade da construção deCentros de controle de zoonoses no Estado de São Paulo.

Irajá Gouvêa

Restauração e reutilização de pré-dios tombados. Estudo de casoSolar “Luiz De Souza Leão”(Tupã/Sp)

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61

67

75

Antonio Carlos Silva Junior

Edifício comercial:- Proposta de tra-balho da disciplina: Projeto VI doCurso de Arquitetura e Urbanismoda Feat – Unimar.

Kátia Emi Kozuma

A geometria nas obras de AntoniGaudi

Wellington César Da Silva

Novo Design

Bruno Montanari Razza

Acessibilidade para obesos:Problemas de acesso e uso deequipamentos por esse grupo deindivíduos

Valter Luís Barbosa

O pensamento ecológico como parteda reflexão para uma discussão Sócio-ambiental

Valter Luís Barbosa

Uma reflexão sobre a relação entreambiente urbano e sustentabilidade(2ª parte)

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Carlos José Pereira 1

Carlos Augusto Razaboni 2

PEREIRA, C.J. Centro de Vivência e Cultura noJardim Petrópolis em Bauru. RevistaAssentamentos Humanos, Marília, v8, nº1, p09-15, 2006.

RESUMO

Trata-se de um trabalho degraduação do curso de Arquitetura eUrbanismo, com a proposta de levar aosbairros onde se localizam as classes demenor poder aquisitivo e nível cultural oestímulo à prática de atividades voltadas àintegração social,cultura e lazer.

ABSTRACT

One is about a work of grad-uation of the course of architecture andurbanism, with the proposal to lead to thequarters where if they locate the minorclassrooms purchasing power and cultural,level, the stimulaton to practical of activi-ties come back to the social integration,culture and leisure

Key Words: culture, entertainment,leisure, social integration

Palavras-chave: cultura, entretenimento,lazer, integração social

A proposta de criar o Centro deIntegração e Cultura como trabalho de con-clusão de curso, partiu da percepção ecomparação entre os diversos bairros dacidade e seus moradores. Em pesquisas

1 Graduando em Arquitetura e Urbanismo da UNIMAR/SP – [email protected] Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela USP , Professor e Orientador do TGI do curso de Arquitetura eUrbanismo da UNIMAR/SP – [email protected]

CENTRO DE VIVÊNCIA E CULTURA NO JARDIMPETRÓPOLIS EM BAURU

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realizadas nestes bairros, nota-se clara-mente os diversos níveis de classes eco-nomicas, resultado das diferenças de poderaquisitivo, cultural, costumes e modo devida. Nos bairros onde se concentram asclasses de nível mais elevado, osmoradores são mais integrados com a cul-tura, existe maior preocupação com asaúde, bem estar, a integração com oseventos culturais e acontecimentos dacidade.

Em muitos casos a localização dosestabelecimentos ligados a estas atividadesestão situados nestes bairros ou próximoscomo em regiões comerciais e de fácilacesso.

Para as classes de menor poderaquisitivo, a realidade é contrária, os esta-belecimentos culturais se localizam maisdistantes, o acesso se torna difícil. A comu-nidade é formada por trabalhadores oudonas de casa com horários restritos devi-dos as atividades profissionais e familiares,o incentivo e divulgação dos eventos nosbairros é falho. Nas localidades periféricaso incentivo à cultura, lazer e informaçãonão possui grandes investimentos por partedo poder público, a maioria dos bairros nãopossem os equipamentos necessários paraas práticas dessas atividades e os poucosque possuem não são administrados corre-tamente pelos administradores do municí-pio.

O programa é voltado principal-mente para a conscientização, formação ecrescimento social, profissional e culturaldas pessoas atendidas pelo Centro deVivência e Cultura.

A principal idéia é o aproveitamentode uma área localizada no centro do bairro,que possa servir de apoio às entidadessituadas nas imediações, tais como a esco-la, igreja e associações de apoio à comu-nidade de modo a criar um espaço qualifi-cado, onde através do incentivo ao esporte,cultura e organização social seus freqüen-tadores possam desenvolver o conheci-mento, o espírito crítico e criativo, a vivên-cia e a afirmação de suas identidades, daconscientização, socialização, transfor-mação social, enfim componentes estes

contribuidores para a cidadania e qualidadede vida das pessoas.

O Jardim Petrópolis, fundado em1974, possui características de um bairrosimples de periferia que apesar da idadenão encontra uma estrutura física estagna-da, tendo ainda um grande potencial decrescimento. Seus moradores são de classemédia baixa, trabalhadores do comércio,indústria, construção civil e prestadores deserviços.

Quanto aos equipamentos urbanospode-se destacar apenas uma escola deensino fundamental e o local onde estásendo proposto este trabalho, um antigocampo de futebol, atualmente utilizadoapenas por pessoas de terceira idade quepraticam exercícios físicos e alguns jovensque praticam atletismo de manhã sob acoordenação de um preparador físico vol-untário.

Nos bairros próximos existemalguns equipamentos como Bibliotecaramal da Prefeitura, associação demoradores com uma pequena sala dereuniões, uma praça no Jardim Progresso,no Jardim Alto Alegre a diversão fica porconta de um enorme canteiro divisor deuma avenida que conta com alguns bancose uma área adaptada pelos seus moradorespara prática de futebol nos finais de tarde.

Sua infra-estrutura não é das piorese o bairro tem todas as ruas asfaltadas,canalizadas e iluminadas, tem sua próprialinha de ônibus urbano circular e conta comalgumas linhas de outros bairros quetrafegam nas imediações.

Os bairros da região poderão contarfuturamente com várias opções de cultura,lazer e geração de renda, além da propos-ta de implantação do Centro de Cultura eVivência, encontra-se em fase de liberaçãode verbas pelo governo estadual e munici-pal para as obras de continuação daAvenida Nações Unidas até a Rodovia Com.João Ribeiro de Barros (Bauru – Marília),nesse trecho de obras está previsto a con-strução de um parque com lago e váriasopções de lazer, existe também a inaugu-ração do novo aeroporto com acesso diretopor essa rodovia.

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Com o novo traçado viário, a regiãocontará com acessos fáceis e integrados

com os principais eixos viários e estabelec-imentos culturais da cidade.

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Figura 01: Rua Zéphilo Grizone esquina com Rua Cap. Mário Rossi

Figura 02: Rua Zéphilo Grizone

Figuras 03 e 04: Imagens internas do terreno a ser implantado o Centro de Vivência e Cultura

Figura 05: Centro Comunitário do Jd. Progresso Figura 06: Praça loc. na Av. Venício Gandolfi

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IMPLANTAÇÃO

O terreno localizado na confluênciadas ruas Zéphilo Grizone com Cap. MárioRossi e Herminio Ramos, entre três bairrosJardim Petrópolis, Alto Alegre e JardimProgresso , trata-se de um lote plano, uti-lizado como campo de futebol alguns anosatrás. Além da localização central no bairroo prédio situa-se entre as principais enti-dades de apoio a população.

Para atender as diversas necessi-dades da população, foram projetadasáreas internas divididas em três prédios eáreas de atividades externas. Os prédiospossuem formas distintas com característi-

cas e funções diferenciadas. Setor de acesso principal do público,

localiza-se o teatro, salas de vídeo,exposições, administração, salas de leitura,computação e estudo, todos interligadospor passarela que possibilita o acesso inde-pendente aos prédios.

A diversidade de formas utilizadasna concepção dos prédios, tem como prin-cipal objetivo, criar valores para cada setore a identidade do conjunto, que o tornauma referência ao bairro e à cidade, e, porfim chamar a atenção das pessoas quepassam por ali provocando a curiosidade defrequentar o local e participar das ativi-dades de integração à comunidade.

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Figura 07: Mapa de Bauru

Legenda1...34 – Quadrante de localização dos bairros / I - Jardim Petrópolis / II- Estação Rodoviária / III-Centro Cultural Municipal / IV-Aéro Clube / V-Unesp / VI- Aeroporto

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O projeto integra áreas internas eexternas, com a proposta de criar espaçosamplos que podem ser utilizados comoáreas de convivência , atividades culturaise a continuação das classes de aprendiza-do.

Apesar da interligação, os prédiospossuem estruturas independentes, comisso criou-se uma modulação para atendera cada programa específico e gerar a har-monia entre os elementos estruturais. Comgrandes dimensões, os materiais utilizados,concreto, aço, vidro e alumínio propor-cionam alto desempenho no resultado final.

COMENTÁRIOS

O empenho do poder públicopara o sucesso desses empreendimentosé relativamente importante, para amanutenção dos locais, viabilização deprojetos, além da inserção de parceriascom outras entidades que possamimplantar projetos de interesse da popu-lação, criar oportunidades, prestarserviços e criar condições de acesso àcultura que ora por falta de tempo,espaço ou condições financeiras passadespercebida pela vida dessas pessoas.

Mais que manifestações artís-ticas é a maneira de se criar condiçõespara tornar a arte um instrumento real

de transformação dos indivíduos, grupose sociedade. Capazes de levá-los aenriquecer intelectualmente, desen-volver uma percepção estética mais apu-rada, proporcionar-lhes uma nova com-preensão das relações sociais, umareleitura do seu “estar” no mundo, per-mitindo-lhes transcender suas condiçõesde origem e formação, dotando-os porconseguinte, de uma consciência maisuniversal.

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Figura 08: Localização

Figura 09: Pavimento Inferior

1.Depósito / 2.Casa de Máquinas / 3.Almoxarifado / 4.Manutenção / 5.Hall / 6.Sanitário / 7.Sl. Aula / 8.Circulação / 9.Reservatório/ 10.Jardim / 11.Pátio / 12.Copa / 13.Sl. Aula / 14.Academia / 15.Secretária / 16.Administração / 17.Estacionamento / 18.Jardim/ 19.Brinquedoteca / 20.Gibiteca / 21.Acervo / 22.Mapoteca / 23.Leitura / 24.Administração / 25.Internet

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Figura 10: Pavimento Térreo

1.Circulação / 2.Palco / 3.Platéia / 4.Foyer / 5.Varanda / 6.Bilheteria / 7.Sanitário / 8.Hall / 9.Camarim / 10.Sala de Vídeo / 11.Sl.Exposições / 12.Depósito / 13.Lanchonete / 14.Sl. Professores / 15.Arquivo-Despejo / 16.Pátio / 17.Associação de Moradores /18.Circulação / 19.Recepção / 20.Administração / 21.Copa / 22.Reunião / 23.Jardim Interno / 24.Diretoria / 25.Depto. Eventos /26.Sl. Estudo / 27.Videos e Periódicos / 28. Trab. Individuais / 29. Sl. Informática / 30. Sl. Vídeos e Palestras / 31.Leitura /32.Passarela / 33.Acesso

Figuras de 11 a 14: Maquete Eletrônica

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BIBLIOGRAFIA

JACOBS, Jane. Morte e vida deGrandes Cidades: Martins Fontes.2001. 384p.

LAMAS, José M. Ressano Garcia.Morfologia Urbana e Desenho daCidade: FCG – JNICT. 1992. 564p.

NAIDE, Patapas Cotrim Correia –Dissertação de mestrado: PaisagemHabitacional e Morfológica Urbana:Um Estudo de Caso em Pirituba. SãoPaulo: FAUUSP, Julho 2001.

ROSSI, Aldo. A Arquitetura daCidade. Tradução Eduardo Brandão.São Paulo: Martins Fontes, 1995.

BONDUKI, N. Origens da HabitaçãoSocial no Brasil, 1998.

TORRE, M. B. L. Della. O Homem e aSociedade. Uma Introdução àSociologia. São Paulo: CompanhiaEditora Nacional, 1986.

CORTOPASSI, E.R. Centro deEsportes, Cultura e MobilizaçãoSocial. Bauru – Unesp (Trabalho deGraduação Integrado do Curso deArquitetura e Urbanismo), 2002.

PEREIRA, Carlos José, Centro deVivência e Cultura – Unimar (Trabalhode Graduação Individual do Curso deArquitetura e Urbanismo), 2005.

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Igor Alexandre Roque Gouvêa 1

GOUVÊA, I.A.R. Geoprocessamento -Ferramenta fundamental para o planejamentode obras públicas. Revista AssentamentosHumanos, Marília, v8, nº1, p17-20, 2006.

RESUMO

A disponibilidade em temporeal de informações sobre a base geográfi-ca, onde a administração pública atua, éhoje essencial para a adequada realizaçãode seus fins.Alguns sistemas de informações de geo-processamento funcionam como ferramen-tas de elevada importância na geração,indicação gráfica e tomada de decisão parao setor público.A criação de um banco de dados com infor-mação socioeconômica, perfil dosmoradores, nível educacional, entre outras,integrada a um sistema de geoprocessa-mento, oferece ao administrador públicocondições de se basear em mapas car-tográficos e informações sociais para real-ização de obras.

ABSTRACT

The availability in real time ofinformation on the geographic base wherethe public administration acts is todayessential for the adjusted accomplishmentof its ends.

Some systems of geopro-cessing information function as tools ofhigh importance in the generation, graphi-

1 Bacharel em Ciências da Computação, Diretor de Área de Tecnologia e Processo da Prefeitura da EstânciaTurística de Tupã.

GEOPROCESSAMENTO - FERRAMENTAFUNDAMENTAL PARA O PLANEJAMENTO

DE OBRAS PÚBLICAS

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cal indication, and taking of decision for thepublic sector.

The creation of a data base,with economic information partner, profileof the inhabitants, educational level,among others, integrated to a geoprocess-ing system, offers to the public administra-tor conditions of if basing on cartographicmaps and social information for accom-plishment of workmanships.

Key Words: geoprocessing, public works.

Palavras-chave: geoprocessamento,obras públicas.

INTRODUÇÃO

O geoprocessamento é o processa-mento informatizado de dados georeferen-ciados. Utiliza programas de computadorque permitem o uso de informações car-tográficas e informações a que se possaassociar coordenadas em mapas ou plan-tas.

Grandes avanços tecnológicos naárea de tecnologia da informação tornaramdisponíveis novos recursos para o proces-samento de informações cartográficas, aum custo acessível para a grande parte dosmunicípios.

O investimento necessário para arealização de um projeto de geoprocessa-mento não deve ser encarado como despe-sa, mas sim como um investimento domunicípio na produção de informações quepor fim irá gerar um grande banco dedados, dando ao órgão público retorno emtermos de receita e políticas públicas.

Em conjunto com o geoprocessa-mento deve vir uma grande pesquisa socialobjetivando agregar informações sobre apopulação, levantando o perfil dosmoradores de cada região da cidade, níveleducacional, renda familiar, problemasestruturais, região com maior número dedeficientes, idosos, jovens, enfim, levantara maior quantidade de dados a respeito dapopulação o que possibilitará ao admin-istrador, direcionar ações públicas e proje-tos de forma específica, ou seja, com

definição de projetos que atendam asnecessidades de seu publico alvo.

A CONSTRUÇÃO DE UMAPODEROSA FERRAMENTA

O primeiro passo para a implan-tação do geoprocessamento em umacidade é a obtenção de uma base cartográ-fica a ser informatizada.

Para isso, o ideal é utilizar serviçosde aerofotogrametria (é a cobertura aero-fotográfica executada para fins de mapea-mento. Uma aeronave equipada comcâmaras fotográficas métricas percorre oterritório fotografando-o verticalmente,seguindo alguns preceitos técnicos como:ângulo máximo de cambagem 3º,sobreposição frontal entre as fotos de 60%,sobreposição lateral de 30%.), ou adquiririmagens de satélites, disponibilizadas poralgumas empresas do ramo.

Figura 1 – Imagem de satélite

As imagens obtidas pela fotografiaaérea ou imagens de satélites passam peloprocesso de transformação, para que asfotos sejam convertidas em informaçõescartográficas e são digitalizadas (transfor-madas em arquivo de computador, bancode dados). Caso não se disponha de ima-gens aéreas ou imagens de satélite, é pos-sível utilizar mapas existentes. Com isso orisco de perdas de qualidade das infor-mações em termos de precisão e atualiza-ção aumenta.

É importante ressaltar a importância

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de se implantar o geoprocessamento sobreuma base cartográfica ou imagens atual-izadas. Implantá-lo sobre uma base de máqualidade poderá gerar tomada de decisõesincorretas ou inadequadas. Uma vezdispondo de uma base cartográfica digital-izada, é preciso fazer o tratamento dasinformações, alimentando-a com dados ref-erentes aos lotes, glebas, edificações epropriedades rurais (proprietário, utiliza-ção, dados cadastrais), estradas elogradouros (utilização, tipo de pavimento,sinalização, linhas de ônibus, volume detráfego) e redes de infra-estrutura (dimen-sões e capacidade das redes, equipamen-tos de apoio).

Este tipo de levantamento exige umtrabalho de obtenção de informações atual-izadas (por isso o recurso à aerofotograme-tria ou imagens de satélite é muitovalioso), inclusive contando com levanta-mentos complementares (que pode serfeito, por exemplo, pela equipe de fiscaisda prefeitura ou contratado especial-mente), a utilização do banco de dadostributário que a prefeitura dispõe, deve serapenas uma ferramenta de consulta nessahora, haja vista que estamos trabalhandocom a finalidade de corrigir essa base elevantar dados atualizados.

A UTILIZAÇÃO CORRETA DAFERRAMENTA É FUNDAMENTAL

Figura 2 – Seleção de imóveis

Uma vez implantado o sistema degeoprocessamento e integra-lo com o sis-

tema de tributos municipais, podemosdizer que, encerramos a implantação e pas-saremos a partir de agora a operar e ali-mentar o sistema com informações atuais.

Já podemos nesse momento teridéia de quando o município deixara derecolher, por motivos de atualizaçõescadastrais, construções e ampliações queforam executadas, porém não foi feita aregularização adequada.

Além dos levantamentos e cor-reções feitas pela própria prefeitura comojá foi citado, é muito importante que fiqueclaro para a população que as alteraçõesdetectadas pelos sistemas de informaçõesou de maneira geral, pelo geoprocessa-mento, podem ser contestadas pelosmunícipes, haja vista que o interesse públi-co não é apenas aumentar a arrecadação esim captar os recursos justos e reverter embenefícios para a sociedade.

Depois de realizado uma pesquisaou censo social, e também integrado aosistema de geoprocessamento, podemossaber onde se encontra cada contribuinte,quais são suas necessidades, onde estu-dam seus filhos, qual o posto de saúdemais próximo, enfim, fica muito mais fácilplanejar obras, reformas políticas, segu-rança pública e saneamento, tudo isso uti-lizando ferramentas gráficas, demonstra-tivos e mapas temáticos.

Figura 3 - Logradouros

Utilizando esses mapas o municípiopode ainda disponibilizar imagens cartográ-

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ficas na internet, possibilitando aomunícipe, consultas de obras realizadas ouem realização, pontos principais da cidade,nome de ruas, bairros, postos de saúde,distritos policiais. Podem–se criar para finsturísticos, mapas temáticos com a localiza-ção de postos de informações, pontos turís-ticos, históricos, enfim.

Tendo essas informações nas mãos,o administrador público, cria uma série deoportunidades para mostrar ao contribuinteo que está sendo feito em sua cidade, comoestá sendo gasto o dinheiro público, comosão feitos os projetos sociais e distribuídospara a população, pode ainda, criarserviços pela internet (pagamentos deimpostos, 2º via de carnês, certidões neg-ativas, informações e atualização de cadas-tro, etc.), facilitando a vida do cidadão eabrindo a possibilidade de trabalhar e criarnovas idéias.

SABER O QUE FAZER E COMO FAZER

Através do geoprocessamento, opoder público, pode realizar obras fiéis àsnecessidades da população, pode oferecera ela, soluções que vêem de encontro comsuas dificuldades.

Para que construir um centro deconvivência de idosos em uma região ondea grande maioria é jovem?

Para que construir creches em bair-ros onde a maioria das crianças já freqüen-ta o ensino médio?

Respostas para perguntas comoestas, só podem existir tendo como baseinformações sobre a população. E isso setorna mais fácil quando estas informaçõesestão aliadas a sistemas de informaçõesque ofereçam condições de tomadas dedecisão.

É importante ter informações nasmãos, mas é mais importante saber usá-las. Saber arrecadar de forma justa, ape-nas aquilo que é devido, não é uma tarefafácil, muitas vezes o aumento de tarifas eimpostos, é a forma mais simples deaumentar a arrecadação, porém o geo-processamento oferece condições de bus-

car caminhos para que seja feito apenasaquilo que realmente deve ser feito, emoutras palavras é uma via de duas mãos, ogoverno arrecada de forma justa e concisa,e repassa para população, através de obrase serviços públicos.

O geoprocessamento é um investi-mento com alta taxa de retorno para omunicípio. Do ponto de vista financeiro, emgeral a implantação do geoprocessamentoe a atualização da base cadastral a eleassociada trazem aumento da arrecadação.

Além dos benefícios financeiros, ogeoprocessamento funciona como uma fer-ramenta de aumento da eficiência e daeficácia das ações públicas.

BIBLIOGRAFIA

MOURA, Ana C. M. Geoprocessamentona gestão e planejamento urbano.Belo Horizonte: Ed. da autora, 2003.294p.

ROCHA, Cezar H. B. Geoprocessamentotecnologia transdisciplinar. Juiz deFora-MG: Ed. do Autor, 2002. 220p.

SILVA, Ardemiro de Barros. Sistemasde informações georreferenciadas:conceitos e fundamentos. Campinas-SP: Ed. Unicamp, 2003. 240p.

Departamento de Pesquisa,Desenvolvimento e Normalização Técnica- ST/DN. Glossário sobreGeoprocessamento e Cartografia.Disponível em: <http://www.geominas.-mg.gov.br/glossario/geogloss.html>.Acesso em: 09 de setembro de 2006.

Wikipedia Projects. Enciclopédiadigital. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Aerofotogrametria>. Acesso em: 09 de setembro de2006.

CCUEC – Unicamp. Centro de com-putação, Sistema Rau-tu. Disponívelem: http://www.rau-tu.unicamp-.br/geoproc/>. Acesso em: 10 de setebrode 2006.

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Alexandre Ricardo Alferes Bertoncini 1

Carlos Alberto Soufen 2

Luiz Eduardo de Angelo Sanchez 3

BERTONCINI, A. R. A ; SOUFEN, C. A. ;SANCHEZ, L . E. A. Diferentes maneiras de apli-cação de fluido de corte no torneamento de umaço de dificil usinagem. Revista AssentamentosHumanos, Marília, v8, nº1, p21-32, 2006.

RESUMO

Neste trabalho é estudado ocomportamento da aplicação do fluido decorte em diferentes maneiras e posições naoperação de torneamento. Para isso é mon-tado um sistema composto por uma bombade alta pressão onde o fluido de corte é apli-cado em forma de jato nas três principaisregiões geradoras de calor: interface cava-co-ferramenta; nas costas do cavaco (entrea peça e o cavaco); e no contato peça-fer-ramenta. As variáveis de saída analisadasno trabalho são o desgaste da ferramentade corte, a rugosidade das peças usinadas,a temperatura na ferramenta, as compo-nentes da força de usinagem e as formas decavacos geradas. Dentre os principais resul-tados destaca-se o aumento da vida da fer-ramenta e a diminuição da força de usi-nagem nas aplicações envolvendo o jato defluido de corte com alta pressão, principal-mente na posição do jato entre o cavaco ea ferramenta.

ABSTRACT

In this work the behavior ofthe application of cutting fluid in different

1 Universidade de Marília/Unimar [email protected] Universidade Estadual Paulista/Unesp [email protected] Universidade Estadual Paulista/Unesp [email protected]

DIFERENTES MANEIRAS DE APLICAÇÃO DE FLUIDO DE CORTE NO TORNEAMENTO

DE UM AÇO DE DIFICIL USINAGEM

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ways and positions in the turning process.For that a system is set up composed by ahigh pressure pump where the cut fluid isapplied in jet form in the three main heatgenerating areas: interface tool-chip; inthe backs of the ship (between the pieceand the ship); and in the contact piece-tool. The output variables analyzed in thework are the tool wear, the workpiece sur-face roughness, the relative temperature inthe tool, the components of the machiningforces and the forms of ship generated.

Among the main results aredistinguished out the increase of the toollife and the decrease of the machiningforces in the applications involving the cutfluid jet with high pressure, mainly in theposition of the jet between the ship and thetool.

Key Words: Cutting fluids, tool life,machining force, turning, high pressurecooling.

Palavras-chave: : jato de fluido de corte;vida de ferramenta; força de usinagem;torneamento; alta pressão.

INTRODUÇÃO

No torneamento ocorre intensa ger-ação de calor durante o processo de for-mação e saída do cavaco. O calor produzi-do durante o processo é essencialmenteprejudicial ao processo de usinagem, umavez que sob altas temperaturas a veloci-dade de desgaste da ferramenta é acentu-ada diminuindo a sua vida útil e tornandomuito difícil a manutenção de parâmetrosde tolerância dimensional e de rugosidadeespecificados para a peça (Heisel et al,1998).

Segundo Kovacevic (1995), aremoção de calor na usinagem é o melhormodo para manter a taxa de desgaste sobcontrole. Isto é conseguido através daredução do atrito por meio da utilização defluido de corte que atua tanto na remoçãode calor quanto na lubrificação da interfacecavaco/ferramenta.

Neste sentido, vários métodos, além

do convencional, de remoção de calor têmsido experimentados.

No torneamento, a maneira maiscomum de aplicação do fluido de corte é aconvencional, por inundação (tambémchamada de abundante ou úmida), atuan-do nas “costas” do cavaco. Neste caso, ocalor gerado é extraído juntamente com ocavaco. Entretanto sob altas velocidades decorte constata-se que os fluidos de cortetêm sua eficiência diminuída. Este fatopode ser atribuído à maior taxa de geraçãode calor, a incapacidade do fluido emalcançar as regiões a serem refrigeradas ea tendência do cavaco em movimentoexpulsar o fluido para fora da região decorte. (Kovacevic ,1995)

Com o intuito de aumentar odesempenho das condições de refrigeraçãono torneamento, Pigott & Colwell (1952),utilizaram a aplicação do fluido de corte sobaltas pressões, de aproximadamente 2,5MPa, onde se constatou um aumento davida da ferramenta de 7 a 8 vezes, além damelhora do acabamento superficial e elimi-nação da formação da aresta postiça decorte.

Autores, como Machado & Wallbank(1994), Seah et al (1995) e Li(1996a,1996b), relatam que a vazão e adireção da aplicação do fluido de cortepodem determinar a eficiência das funçõesde refrigeração e redução de atrito. Nestecontexto Machado & Wallbank (1994)empregaram fluido de corte à alta pressão,de 14,5 MPa, dirigido especificamente entreo cavaco e a ferramenta, obtendo com esseprocedimento resultados satisfatórios emrelação ao desgaste de cratera e a mini-mização da formação da aresta postiça decorte. De maneira análoga Li (1995) usoufluido de corte à alta velocidade dirigidoentre o cavaco e a peça a fim de remover ocalor gerado no plano de cisalhamentoprimário de maneira mais eficiente que nosistema convencional, em abundância, oqual originalmente equipa a máquina ferra-menta.

Nos trabalhos de Pigott & Colwell(1952) e Mazurkiewicz et al. (1989), queposicionaram o bico de aplicação do jato de

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fluido distante da ferramenta de corte, enos trabalhos de Machado & Wallbank(1994) e Lindek (1991), que aplicaram ofluido por meio da confecção de um orifíciono porta ferramentas em posição maispróxima à região de corte, observou-setambém um significativo aumento da vidada ferramenta quando comparado ao méto-do convencional de refrigeração.

Quanto à injeção do fluido de corteentre a peça e a superfície de folga da fer-ramenta não se tem informações precisasde seu efeito na literatura, mas Shaw(1986) sugere que o comportamento dofluxo de calor, estabelecido entre a peça ea ferramenta durante a usinagem, é distin-to nos casos onde o estado do desgaste deflanco é pequeno ou acentuado. No inícioda usinagem, com a ferramenta nova, aárea de contato entre a peça e a ferramen-ta é pequena dificultando o estabelecimen-to do fluxo de calor entre eles, ao passoque a ferramenta desgastada apresentamaior área de contato e transferência decalor mais intensa. Neste último caso,supõe-se que o fluido de corte incidindoespecificamente na região desgastada daferramenta entre a superfície de folga e apeça consiga minimizar o desgaste da fer-ramenta.

Sanchez et al (2002) fez um estudocomparando a vida da ferramenta entre asformas de aplicação do fluido de corte MQL,abundante e jato de alta pressão nas trêsprincipais regiões geradoras de calor: inter-face cavaco-ferramenta; nas costas docavaco (entre a peça e o cavaco); e no con-tato peça-ferramenta. Nestes experimen-tos foram constatados que o modo de apli-cação com menor vazão de fluido, como oMQF, mostrou-se vantajoso sobre o métodoabundante, porém inferiores aos de apli-cação com jatos dirigidos com alta pressão.Quanto à posição das aplicações dos fluidosem relação às regiões geradoras de calor, ojato dirigido na interface do cavaco e ferra-menta resultou em redução da temperatu-ra e da velocidade de desgaste da ferra-menta, bastante significativos, em relaçãoaos demais métodos de aplicação de fluidode corte.

Uma vez que o método de aplicaçãode fluido de corte com jato de alta pressãoapresentou melhores resultados, neste tra-balho buscou-se avançar na linha depesquisa de Sanchez et al (2002), estudan-do os efeitos da aplicação de fluido de cortesob alta pressão no processo de tornea-mento de um aço de difícil usinagem,empregando-se pastilha de metal durorevestido. A aplicação se deu direcionandojatos sólidos de fluido de corte de formaindependente nas três principais regiõesgeradoras de calor: zona da interface cava-co-ferramenta, zona de cisalhamentoprimária e zona do contato ferramentapeça. Para cada posição de aplicação vari-ou-se o ângulo de aplicação dos jatos, a fimde analisar os efeitos da mudança dadireção e do posicionamento de cada jatona vida da ferramenta. As variáveis anal-isadas foram o desgaste de flanco da ferra-menta de corte, a rugosidade aritméticados corpos de prova, as componentes daforça de usinagem e a forma dos cavacosgerados. Os resultados destes experimen-tos são comparados aos da pesquisa ante-rior de Sanchez (2002).

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho consistiu no tornea-mento de um aço de difícil usinagem var-iando-se os ângulos de aplicação do fluidode corte em forma de jato, sendo avalia-dos: a vida da ferramenta; a rugosidade;as forças de corte, de avanço e profundi-dade; a temperatura relativa da ferramen-ta de corte; e a análise da forma dos cava-cos gerados. A figura 1 mostra o esquemailustrativo do experimento.

Nos ensaios utilizou-se corpo deprova em aço austenítico endurecido porprecipitação do tipo Cromo-Manganês-Níquel, especificação Villares Metals VV 56,com dureza de 38 HRc; e condutibilidadetérmica (20°C) de 15 W/m.K.

Utilizou-se ferramenta de metalduro revestida, de especificação ISO TNMA160408, revestida com TiCN, Al3O2 e TiN eporta ferramentas modelo MTJNR 2020K16M1, com as seguintes geometrias do

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conjunto: ângulo de posição (χr) de 93°,ângulo de saída (γo) de -6°, ângulo de folga(αo) de 6° e ângulo de inclinação (λs) de -6°. A ferramenta escolhida foi sem quebracavaco.

Figura 1. Esquema da montagem dos ensaios.

Como fluido de corte utilizou-se

uma solução semi-sintética Ultracut 370 daRocol com 2,5 % de concentração.

Para a realização dos ensaios utili-zou-se um torno convencional da marcaRomi, modelo Tormax 30 ao qual foi incor-porado um sistema de refrigeração de fun-cionamento à alta pressão. O sistema éconstituído basicamente de uma bomba deêmbolos da marca Jacto (modelo MB-42),mangueiras de alta pressão e bicos parajatos de fluidos sólidos, marca SpryingSystems, com orifício de 1,0 mm dediâmetro.

Ao redor da máquina ferramentaconstruiu-se uma proteção para impedir

que o excesso de fluido de corte se espal-hasse para fora da máquina e para o inte-rior da caixa de engrenagens, além dainstalação de um sistema de reaproveita-mento do fluido da máquina ferramentapara a bomba de êmbolos.

Construiu-se um dispositivo de fix-ação dos bicos de jato de fluido de cortecapaz de variar precisamente o ângulo deaplicação dos jatos nas três regiões de ger-ação de calor (cavaco-ferramenta, ferra-menta-peça, cavaco-peça).

Mediram-se as forças de usinagematravés de um dinamômetro piezoelétricoKISTLER modelo 9257 BA acoplado a umcomputador com software LabView 6.1 eplaca de aquisição de sinais A/D daNational Instruments.

Mediu-se a rugosidade (Ra) pormédio de um rugosímetro portátil da marcaTaylor Hobson modelo Surtronic3+, comraio da ponta do apalpador de 0,2 _m e“cut-off” de 0,8 mm.

Empregou-se termopar do tipo K(níquel-alumínio/níquel-cromo), comdiâmetro de 1,2 mm para medir as temper-aturas. Fixou-se o termopar num furo feitopor eletroerosão na pastilha, próximo àaresta de corte. O termopar foi calibrado ea temperatura adquirida em computador. Odesgaste da ferramenta foi registrado pormeio de um microscópio óptico, conectadoa uma câmara digital. Tais dispositivosestão expostos na Figura (2).

Os corpos de prova foram confec-cionados com 75 mm de comprimento ediâmetro inicial de aproximados 50 mm e

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Figura 2. Máquina-ferramenta e sistema de alta pressão.

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variável conforme foram realizados ospasses de usinagem. Para cada passe, avelocidade de corte pôde ser corrigida,através da utilização de um inversor defreqüência. O fluido de corte foi aplicadoem forma de jato sólido concentrado edirigido especificamente em cada uma dastrês principais regiões geradoras de calor,

variando-se os ângulos de aplicação, comuma vazão de 3,92±0,09 L/min.Empregou-se também o fluido de maneiraabundante utilizando-se o sistema conven-cional da máquina ferramenta, com umavazão de 3,84 L/min.

Os parâmetros de usinagem como avelocidade de corte, avanço e profundidadeforam constantes de 172,0, 0,1 mm/rot, e0,43, respectivamente

O critério de fim de vida adotadonos ensaios foi baseado no desgaste deflanco médio da ferramenta (VB) estipula-do em 0,3 mm.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para facilitar a visualização dos

resultados adotou-se figuras ilustrativas,sugestivas das aplicações ensaiadas,mostrando-se a posição, a forma e o ângu-lo das aplicações dos jatos, como mostramas figuras (3), (4) e (5).

O gráfico da Figura (6) apresenta otempo de usinagem para todas as apli-cações quando o desgaste de flanco médio(VB) da ferramenta de corte atingiu o

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Figura 3 – Esquema dos experimentos com jato cavaco – peça.

Figura 4 – Esquema dos experimentos com jato cavaco – ferramenta.

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critério final de vida da ferramenta(0,3mm).

Conforme se observa no gráfico dafigura (6), todas as aplicações com jato, naforma mais favorável de cada uma delas,geraram valores de desgaste de ferramen-

ta muito parecidos, porém com pequenadesvantagem para a aplicação peça-cavacoem relação à aplicação do jato direcionadona interface ferramenta-peça e melhoresresultados para a aplicação direcionada nainterface cavaco-ferramenta. O pior resul-tado apresentou a aplicação abundante.

Nos experimentos pôde-se observarque embora a vazão de fluido de corte pelométodo abundante e jatos sejam as mes-mas, esta última é capaz de atingir demaneira mais intensa e concentrada a zona

primária de cisalhamento, reduzindo aparcela de calor para a ferramenta. Noentanto, o fluido de corte não é capaz depenetrar nas proximidades da aresta decorte onde são desenvolvidas as temperat-uras mais altas da ferramenta. Além disso,o endurecimento do cavaco, provocado

pela ação refrigerante do fluido de corte,pode contribuir no desgaste abrasivo daferramenta, o que favorece o surgimentode desgaste de cratera.

Nota-se também que a aplicação dojato peça-cavaco é a menos eficiente entreos jatos. Esta posição, quando o fluido éjactado a ângulos E e F de zero graus, istoé quando o jato está posicionado perfeita-mente na vertical, é análoga à abundante,em que o fluido de corte atua preferencial-mente no arrefecimento da zona primária

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Figura 6 – Tempo de usinagem para as aplicações quando o desgaste de flanco (VB) da ferramenta atinge 0,3 mm.

Figura 5 – Esquema dos experimentos com jato ferramenta – peça.

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de cisalhamento do cavaco. Porém, quandoo jato foi mudado para a posição cujosângulos de injeção E igual a 10º e F igual a40º observou-se uma melhora acentuadado desempenho deste tipo de jato. Istopode ser explicado pelo fato de que, paraeste tipo de jato, observou-se o surgimen-to de desgaste de cratera acentuado na fer-ramenta (abrasivo). Ou seja, quando jatoatinge a parte posterior do cavaco, a crat-era funciona como uma espécie de alavan-ca facilitando a sua quebra. Isto pôde serobservado analisando-se a mudança dotipo de cavaco ao longo das experiências,que mudaram a forma de cavaco inicial emfita helicoidal longo para fita helicoidalcurto e helicoidal misto com quebradiço àmedida que o desgaste de cratera evoluiucom o tempo de usinagem.

No caso da aplicação jato ferramen-ta-peça, o fluido de corte arrefece mais efi-cientemente a região de contato ferramen-ta-peça auxiliando então, na manutençãodo desgaste de flanco da ferramenta, alémde provavelmente minimizar o atrito nestaregião, embora o fluido de corte não exerçapropriamente esta função. Pelo gráfico dafigura (6) nota-se que a mudança daposição vertical para inclinado, com ânguloB de 11º, deslocando o jato para a superfí-cie de folga e com fluxo do jato com maiorvolume direcionado para a aresta principal,aumentou sensivelmente a vida da ferra-menta. Estas mudanças com certezaaumentaram a eficiência do sistema, umavez que concentrou o fluxo mais na ferra-menta e menos na peça e também mais naaresta principal e menos na arestasecundária de corte da ferramenta. Porém,pôde-se observar também que um ângulode injeção B acima dos 11º a eficiência dojato diminui, pelo fato do fluxo alcançarcom mais eficiência somente a aresta prin-cipal de corte.

A aplicação do jato na posição cava-co-ferramenta apresentou os melhoresresultados em termos de vida da ferramen-ta. Porém foi possível perceber uma melho-ra na eficiência do jato, comparada aosresultados obtidos por Sanchez (2002).Quando se variou a posição do fluxo do flu-

ido no sentido da superfície de saída docavaco e jactando o fluido em ângulos D eE iguais a 20º, conforme mostrado noesquema da figura (4).Dentre os principaisfatores responsáveis pela melhoria dodesempenho desta aplicação, quando sefez a alteração da posição do jato, aponta-se: a melhoria da capacidade do fluido emalcançar a região próxima à aresta decorte; a minimização do atrito na interfacecavaco ferramenta, uma vez que o fluidoparece conseguir maior penetração nestaregião; e a ação da pressão do fluido naparte inferior do cavaco atuando como umquebra-cavaco e reduzindo assim o compri-mento do contato do cavaco com a ferra-menta. Obviamente, o efeito combinado detodos estes fatores faz com que a temper-atura, o desgaste da ferramenta e a forçade corte sejam minorados e conseqüente-mente a vida da ferramenta seja aumenta-da.

A Figura (7) mostra o aspecto dasregiões da ponta da ferramenta e da super-fície de saída, em cada um dos tipos deaplicação de fluido ensaiados, no instanteem que o critério de desgaste de flanco foiatingido, ou ultrapassado (VB = 0,3 mm).

Figura 7 – Desgaste da ferramenta

em função do Tempo de usinagem.

De maneira geral, observa-se queaparentemente não ocorreram desgastesde cratera significativos, sugerindo que odesgaste não envolveu mecanismo de

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difusão na interface cavaco ferramenta.Para as aplicações com jato de fluido decorte a alta pressão sugere-se então que omecanismo preponderante de desgasteseja o abrasivo, normalmente caracteriza-do pela deterioração concentrada da regiãode flanco da ferramenta. Além do aspectodo desgaste apontar para essa possibili-dade, sabe-se, pela micrografia realizadapor Sanchez (2002), que o material usina-do apresenta quantidades de Cromocapazes de precipitar carbonetos. Além dasaltas temperaturas, verificadas na regiãode corte, a presença de carbonetos de ele-vada dureza, como o carboneto de cromo,acentua o mecanismo de desgaste abrasi-vo. Além disso, observou-se na aplicaçãojato peça-ferramenta o aparecimento dearesta postiça de corte e desgaste de ental-he, sugerindo que, para este tipo de apli-cação em particular, envolveu o mecanismode difusão, aumentando a velocidade dedesgaste da ferramenta.

A Figura (8) mostra o comporta-mento relativo das temperaturas relativasda ferramenta de corte, desde o seu conta-to com a peça até atingir a estabilizaçãotérmica.

Figura. 8 – Temperatura de corte em função do tempo.

O método de aplicação jato cavaco-ferramenta mostrou, na posição maisfavorável de cada posição de jato, desem-penho superior frente aos demais por con-seguir atingir diretamente a região dainterface cavaco ferramenta, onde sãodesenvolvidas as maiores temperaturas daferramenta devido ao calor gerado da zonade cisalhamento primária, refletindo obvia-mente num melhor desempenho em ter-mos de menores velocidades de desgaste eforças de usinagem. O jato ferramenta-peça registrou a menor temperatura relati-va dentre todos os tipos de aplicação,mesmo não tendo o melhor desempenhoquanto às outras variáveis de saída medi-das. Este resultado pode ser creditado nãoà maior eficiência térmica deste método,mas ao posicionamento do termopar,inserido no interior da ferramenta, próximo

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Figura 8 – Força de usinagem nas condições mais favorável de cada posição do jato.

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à superfície de folga onde o fluido de corteé dirigido.

Observa-se o comportamento daRugosidade (Ra) no gráfico da Figura (7).

De maneira geral, os experimentosmostraram que sob as condições paradig-mas de usinagem adotadas, as aplicaçõesque empregam o jato de fluido de corte aalta pressão são capazes de manter os val-ores de rugosidade em níveis praticamenteconstantes e padrões bastante baixos,podendo ser comparados aos conseguidoscom operações de usinagem por retifi-cação.

A figura 8 apresenta o comporta-mento das forças de usinagem para as apli-cações mais favoráveis de cada posição deaplicação do jato. Destaca-se a força deusinagem calculada como a soma vetorialdas forças de corte, avanço e profundi-dade: Fu = (Fc2+ Fav2 + Fp2)1/2.

Nota-se pela figura que o comporta-mento da força de usinagem corrobora comos resultados obtidos tanto com o desgastede flanco da ferramenta quanto da rugosi-dade, cujas curvas assumem posiçõesanálogas em seus gráficos.

A aplicação jato cavaco-ferramenta,particularmente se destacou das demais,onde se observa que as forças de usinagemforam significativamente menores e se

mantiveram praticamente constantesdurante a vida da ferramenta. Pode-se afir-mar que este comportamento se dá devidoao fato de que as condições tribológicas cri-adas nesta interface são melhoradas peloacesso mais efetivo do fluido de corte nestaregião e pela facilidade de remoção docavaco.

A figura (9) mostra o aspecto doscavacos produzidos no primeiro passe nasdiferentes aplicações do jato do fluido decorte. A forma dos cavacos pode ser classi-ficada conforme a nomenclatura da normaISO-3687.

De uma forma geral, a forma heli-coidal longo em fita do cavaco pode serconsiderada inerente à operação de tornea-mento sob as condições de corte, geome-tria da ferramenta e material utilizados nosensaios. Como se pode observar, o aspectodos cavacos produzidos no primeiro passedas diferentes posições de aplicação dosjatos apresenta forma helicoidal bemdefinida.

Observa-se que o arrefecimento dascostas do cavaco, na posição jato peça-cavaco, contribui na redução de seu raio decurvatura, como se pôde observar, porexemplo, na aplicação abundante.

Na aplicação com o jato peça-cava-co observou-se que a forma do cavaco é

Figura 7 – Rugosidade das peças usinadas nas condições mais favorável de cada posição do jato.

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inicialmente em fita helicoidal longo. Nestecaso o jato de fluido dirigido nas costas docavaco pressiona-o para baixo impedindo asua curvatura, resultando em cavacos emfita de hélice longa. Porém, este estado semodifica com o surgimento do desgaste decratera da ferramenta. Nos experimentoscom jato peça-cavaco, as formas do cava-co evoluíram de fita helicoidal longo parafita helicoidal curto e helicoidal misto comquebradiço à medida que o desgaste decratera se formava.

Observou-se também que a usi-nagem com o jato de fluido de corte dirigi-do na interface cavaco-ferramenta geracavacos helicoidais curtos tendendo aoscavacos em lascas. Esta forma pode sercreditada à menor resistência mecânica docavaco em sua parte superior, uma vez quesuas costas não são refrigeradas e, portan-to, menos dura, cedendo mais facilmenteao jato de fluido de corte que o empurrapara cima, diminuindo significativamente oraio de curvatura, mas cuja tensão quandoexcedida pode cisalhá-lo.

CONCLUSÕES

Pelos resultados obtidos neste tra-balho, pode-se resumidamente apresentaras seguintes conclusões:

Todas as aplicações com jato, naforma mais favorável de cada uma delas,

geraram valores de desgaste de ferramen-ta muito parecidos, porém com pequenadesvantagem para a aplicação peça-cavacoem relação à aplicação do jato direcionadona interface ferramenta-peça e melhoresresultados para a aplicação direcionada nainterface cavaco-ferramenta. O pior resul-tado apresentou a aplicação abundante.

Notou-se que a aplicação do jatopeça-cavaco é a menos eficiente entre osjatos quando o jato está posicionado per-feitamente na vertical. Porém, quando ojato foi mudado para a posição cujos ângu-los de injeção E igual a 10º e F igual a 40ºobservou-se uma melhora acentuada dodesempenho deste tipo de jato.

No caso da aplicação jato ferramen-ta-peça, notou-se que a mudança daposição vertical para inclinado, com ânguloB de 11º, deslocando o jato para a superfí-cie de folga e com fluxo do jato com maiorvolume direcionado para a aresta principal,aumentou sensivelmente a eficiência dojato em termos de vida da ferramenta.

De maneira geral, observa-se queaparentemente não ocorreram desgastesde cratera significativos, sugerindo que odesgaste não envolveu mecanismo dedifusão na interface do cavaco e ferramen-ta.

Os experimentos mostraram que,sob as condições paradigmas de usinagemadotadas, as aplicações que empregam o

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Figura 9 – Cavacos gerados pelas aplicações: (a) jato peça-ferramenta, (b) jato cavaco-ferramenta e (c) peça-cavaco.

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jato de fluido de corte a alta pressão sãocapazes de manter os valores de rugosi-dade em níveis praticamente constantes epadrões bastante baixos, podendo sercomparados aos conseguidos com oper-ações de usinagem por retificação.

Observou-se também que a usi-nagem com o jato de fluido de corte dirigi-do na interface cavaco-ferramenta geracavacos helicoidais curtos tendendo aoscavacos em lascas.

AGRADECIMENTOS

À empresa Spraying Systems doBrasil Ltda, pela doação dos bicos utiliza-dos neste trabalho.

À empresa Máquinas Agrícolas JactoS.A. pela doação da bomba de êmbolos.

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Daniela Maria Cação Cambraia 1

Carlos Augusto Razaboni 2

CAMBRAIA, D.M.C. ; RAZABONI, C.A. A necessi-dade da construção de Centros de Controle deZoonoses no estado de São Paulo. RevistaAssentamentos Humanos, Marília, v.8, n.1,p.33-42, 2006.

ABSTRACT

According to WHO (WorldHealth Organization), three quarters of thenew diseases which affected men in the lastten years were caused by illnesses trans-mitted through an animal or through ani-mal extracted products. During the last 20years, the relation between men and ani-mals became more intense, demandingnew attitudes like ethics in dealing withanimals, with life, with the environment,with the planet, aiming to preserve publichealth.

In agreement with the pres-ent legislation in Brazil, the counties areresponsible for animal controlling, in orderto avoid many diseases. The ZoonosisControl Centers develop actions for control-ling these animal populations througherrant animal apprehension programs,massive vaccination against rabies, exami-nation material collect, free or low-costcastrations, animal registration, adoption,donation (for animal protection organiza-tions), euthanasia in residual and/or infect-ed animals and health education.

Key Words: Zoonosis Control Centers,Zoonosis, sanitation, public health.

Palavras-chave: Centros de Controle deZoonoses; Zoonoses; Vigilância Sanitária;Saúde pública.

1 Arquiteta e Urbanista pela UNIMAR/SP- [email protected] Mestre pela Universidade de São Paulo e professor no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade deMarília

A NECESSIDADE DA CONSTRUÇÃO DE CENTROS DE CONTROLE DE ZOONOSES

NO ESTADO DE SÃO PAULO

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INTRODUÇÃO

O mundo assiste atualmente a umaepidemia de gripe em aves produzida porum subtipo de um vírus com alta capaci-dade de disseminação, o H5N1, cujo epi-centro localiza-se na Ásia.

Essa situação nos coloca um graveproblema de saúde pública veterinária: aeliminação de 120 milhões de aves, alémda possibilidade futura de uma nova epi-demia global de gripe entre humanos, umapandemia, para a qual temos que nospreparar.

A preocupação com o futuro é apossibilidade de esse subtipo aprender a setransmitir entre seres humanos, situaçãoimpossível de prever se, e quando ocor-rerá.

Mas um vírus na Ásia e na Europapode afetar pessoas que vivem a milharesde quilômetros de distância, na AméricaLatina e no Caribe?

Na opinião dos especialistas emgripes, o risco de a gripe aviária atingiressas regiões atualmente é relativamentebaixo, uma vez que as aves que migramdos Estados Unidos para o sul não inter-agem com as aves a caminho da Américado Norte vindas da Sibéria, onde ocorreuum dos surtos mais recentes (entre aves, enão entre humanos). Entretanto, segundorelatório do grupo de trabalho do BID sobrea gripe aviária, a atual percepção de baixorisco pode mudar, em vista da presença dacepa H5N1 do vírus em aves aquáticas noCanadá.

Além disso, se o vírus sofrermutação, possibilitando a transmissão depessoa a pessoa, o nível de risco mudacompletamente. Nesse caso, a pandemiade gripe poderia se espalhar pelasAméricas sem que existam aves doentes.Basta que uma pessoa enferma viaje paraa região.

“Muitos países da região são vul-neráveis a pandemias globais porque seussistemas de vigilância epidemiológica sãodeficientes, especialmente no que concerneà vigilância animal”, declarou o especialistaem saúde do BID, André Medici.

Entretanto, a saúde não é o únicofator a ser considerado. Uma pandemia degripe aviária também poderia trazer conse-qüências econômicas significativas para aregião.

Para esse duplo cenário, do riscoatual e do potencial risco futuro, o Brasiltem tomado iniciativas desde 2003, quan-do teve início o ciclo de epizootia (epidemiaentre animais) de gripe aviária.

Nossa condição de exportador, e nãoimportador de aves, já atenua a possibili-dade de introdução do vírus, que podeocorrer, por exemplo, por aves selvagensmigratórias.

Diante disso, um plano de emergên-cia destinado ao monitoramento extraterri-torial de uma potencial rota de entrada dainfluenza aviária (gripe aviária) no Brasil,por meio das aves migratórias, começou aser traçado por pesquisadores da Unicampe Universidade do Vale do Rio dos Sinos(Unisinos). Em reunião no Instituto deMatemática, Estatística e ComputaçãoCientífica (Imecc), biólogos, matemáticos,veterinários e ornitólogos discutiram diver-sas questões ligadas ao avanço do víruscausador da doença. Um novo encontrodeverá detalhar as ações, que envolvem oenvio de uma equipe de cientistas àAntártica, onde serão coletadas amostrasde sangue e outros materiais de váriasespécies para a realização de análisevirológica. “Nosso objetivo maior é a pre-venção. Se houver algum risco de ainfluenza aviária chegar ao país, queremosestar preparados para combatê-la da mel-hor forma”, afirmou o diretor do Imecc,João Frederico Meyer.

O papel das aves migratórias na dis-seminação dos vírus da influenza de altapatogenicidade não está bem compreendi-do. Aves aquáticas selvagens são hos-pedeiras naturais da doença, e provavel-mente carregaram-na durante anos. Ésabido que esses animais podem albergarcepas H5 e H7, contudo nas suas formas debaixa patogenicidade. Evidências têmdemonstrado que as aves migratóriaspodem ser responsáveis pela introdução decepas H5 e H7 de baixa patogenicidade nos

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plantéis avícolas comerciais, que em segui-da sofrem mutação para cepas de altapatogenicidade.

OMS ALERTA PARA ZOONOSES QUE MATAM EM SILÊNCIO

Diversas zoonoses, como a raiva,continuam matando em silêncio e sãomuito mais perigosas do que a atual epi-zootia de gripe aviária, segundo aOrganização Mundial de Saúde (OMS).

A raiva canina provoca cerca de55.000 mortes por ano no mundo, princi-palmente na África e Ásia, de acordo com aOMS, enquanto que em pouco mais de doisanos o vírus da gripe aviária H5N1 causouuma centena de mortes oficialmente reg-istradas.

Três quartos das novas doenças queafetaram o homem nos últimos dez anosforam causadas pelas moléstias transmiti-das por um animal ou por produtos deorigem animal: o macaco no caso da Aids,os bovinos para a nova variante da doençade Creuzfeldt Jacob, a civeta (tambémchamada de gato-de-algália) e provavel-mente outros animais para a Sars ou pneu-monia asiática, além do morcego para afebre Ebola. Por isto, existe a necessidadede vigiar as zoonoses.

A mudança no habitat dos insetos, o

aquecimento global e outros fatores ambi-entais podem favorecer a propagação dedoenças em novas regiões.

CENTROS DE CONTROLE DE ZOONOSES

O projeto de um Centro de Controlede Zoonoses justifica-se pela preocupaçãoem si com as inúmeras doenças queacometem os animais e com doenças queacometem o homem através dos animais ede seus produtos, e tem como objetivos:

• Prevenção, redução e eliminaçãoda morbidade e mortalidade provocadaspelas várias zoonoses urbanas prevalentes.

• Prevenção, redução e eliminaçãodas causas que constituem sofrimento aosanimais.

• Remoção de cães vagantes ou per-didos nas vias e logradouros públicos.

• Remoção dos cães mordedores,mediante dois ou mais boletins de ocorrên-cia policial.

• Orientação a pessoas agredidaspor animais.

• Vistoria Zoosanitária - Canal paraesclarecimentos e/ou denúncias de maltratos aos animais, a serviço da população.

• Dar alojamento (canis e/ou gatis),proporcionando alimentação, AssistênciaVeterinária com finalidade de cunho epi-

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demiológico e também humanitário, paraposterior adoção.

• Prevenção e AssistênciaVeterinária aos animais pertencentes àpopulação carente.

• Controle de Roedores e Vetores.• Plantão permanente para vaci-

nação das principais Zoonoses de interesseem saúde pública.

• Laboratório, objetivando pesquisadas principais zoonoses da região.

Controle de Zoonoses transmitidasunicamente pelos alimentos de origem ani-mal, das quais estão destacadas as princi-pais na tabela 1.

MATERIAIS E MÉTODOS

• Apoio ao profissional Veterinárionos procedimentos e interventos de segu-rança sanitária em estabelecimentos (carnee derivados, leite e derivados, pescado,etc.) e junto aos criadores.

• Pesquisas de alimentos de origemanimal, comercializados em supermercadose estabelecimentos afins, com o intuito deverificação da higienicidade do produto.

• Apreensão, acomodação e Assis-tência Veterinária para grandes animaissoltos em vias públicas.

Um Centro de Controle de Zoonosesbusca ativar mecanismos de programação

e controle dos vários setores aos quais sepropõe, utilizando-se de recursos humanose instalações condizentes, almejandoalcançar um standard médico-sanitárioideal.

Do ponto de vista epidemiológico,para que isto aconteça, é necessário con-scientizar, educar, esclarecer e principal-mente agir, concretizando assim as açõespropostas.

Do ponto de vista humanitário, criaum elo de solidariedade e respeito paracom os animais dando-lhes tratamentomais digno.

Segundo a ANFAL (AssociaçãoNacional dos Fabricantes de Alimentos paraAnimais de Estimação), estima-se que

existam 11 milhões de gatos no Brasil,enquanto o numero de cães é estimado em27 milhões.

O ciclo de Contágio Ambiente-Animal-Homem requer uma abordagemhigienística global, baseada no ControleSanitário, que é fator preponderante nocombate a este problema.

Desde a década de 70, grandesmetrópoles passaram a sentir necessidadede contar com um Centro de Controle deZoonoses. Essa necessidade, gradativa-mente tem sido sentida também pormunicípios de médio e até mesmo de

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(Tabela 1 – Principais zoonoses transmitidas por produtos de origem animal)

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pequeno porte, muitas vezes com o objeti-vo de uma atuação consorciada entre eles.

Nos últimos 20 anos, a relaçãohomem/animal se intensificou e mudou devalores. A OMS recomenda novas posturas,como ética no trato com os animais, com avida, com o ambiente, com o planeta, sal-vaguardada a saúde pública.

O controle destas populações repre-senta um desafio constante para todas associedades, independentemente do grau dedesenvolvimento sócio-econômico, devidoao grande laço afetivo que caracteriza arelação do homem com os animais, sejamde raça ou não, filhotes ou idosos, machosou fêmeas, soltos ou domiciliados.

A simples remoção desses animaisde estabelecimentos ou locais públicos nãotem demonstrado resultados efetivos nocontrole dessas populações. Os Centros deControle de Zoonoses desenvolvem açõespara o controle dessas populações, atravésde programas de apreensão de animaiserrantes, vacinação massiva contra a raiva,coleta de material para exames de leish-maniose e outras zoonoses, castrações gra-tuitas ou a baixo custo, registro de animais,adoção, doação para entidades de proteçãoanimal, eutanásia em animais remanes-centes e/ou contaminados e educação emsaúde.

De acordo com a legislação vigenteno país, os municípios são responsáveispelo controle populacional dos animais paraque muitas doenças possam ser evitadas,no entanto, a realidade tem mostrado queo controle de populações de animais deestimação somente alcançará resultados sehouver ampla e efetiva participação dasociedade envolvendo proprietários de ani-mais assumindo posturas de posse respon-sável; entidades de proteção animaldifundindo o respeito à vida animal; médi-cos Veterinários cumprindo o papel socialna saúde pública; serviços públicos dequalidade, envolvidos na promoção daSaúde pública, através de projetos educa-tivos de controle de natalidade de popu-lações animais, de medidas corretivas domeio-ambiente e de fiscalização da apli-cação da legislação vigente.

Há que se considerar também, alémdo risco de transmissão de doenças, aspec-tos relativos aos seguintes ítens:

– Agressão (ao homem e outros ani-mais)

– Atropelamentos e acidentes (de-corrente da presença de animais)

– Destino de dejetos e carcaçasAtualmente, muitas das doenças

emergentes ou reemergentes sãozoonoses. Além disso, muitos dos organis-mos oportunistas com os quais as pessoasimunodeprimidas têm se contaminado sãooriundos de animais. As zoonoses con-stituem os riscos mais freqüentes e maistemíveis aos quais a humanidade estáexposta, relacionando-se neste contextocerca de 150 até 180 doenças (SCHEWAB,1984).

A demanda cada vez maior de ali-mentos de origem animal, constitui fatordecisivo para aumentar os riscos deexposição às zoonoses. Outro fator a serponderado diz respeito à urbanização doscentros mais desenvolvidos da esferaindustrial e ao hábito de criar em casa eapartamento animais de estimação taiscomo aves ornamentais, quelônios, ham-sters e até pequenos símios, além de cães,gatos, contribuindo para aumentar aindamais este tipo de risco. Por outro lado, osmeios de transporte; rodoviário, fer-roviário, marítimo e aeroviário favorecem adisseminação destas doenças através dacondução acidental de vertebrados (reser-vatórios) ou invertebrados (vetores) deuma região endêmica a outra indene. Damesma forma a comercialização de animais(importação ou exportação) ou a sua deslo-cação para feiras ou exposições aumenta aprobabilidade de transmissão destasinfecções.

Desta forma, para os próximosanos, a implementação de Centros deControle de Zoonoses deverá ocorrer, e éimprescindível que os municípios se pre-parem para assumir, de forma correta, asatividades pelas quais são responsáveisjunto aos animais.

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CONCEITUAÇÃO

Zoonoses são doenças natural-mente transmissíveis entre animais e sereshumanos. Dentre as zoonoses de relevanteimportância para a Saúde Pública e inci-dentes em área urbanas, destacam-se:

Doenças transmitidas porvetores, são doenças que, para seremtransmitidas ao homem, dependem de um

animal invertebrado que transfere de formaativa um agente etiológico de uma fonte deinfecção a um novo susceptível. As princi-pais doenças transmitidas por vetores são:dengue, febre amarela, malária, leishman-iose e doença de Chagas.

Além de zoonoses, um CCZ deveatuar na prevenção de agravos causadospelos animais peçonhentos como ser-pentes, escorpiões, aranhas e outros comoos causados por lonomias, lacraias, abelhasetc.

Outra atuação será o controle deanimais incômodos, como alguns inver-tebrados (moscas, simulídeos e baratas) evertebrados (pombos e morcegos).

Centros de Controle deZoonoses (CCZs), são instituições munic-ipais, com estrutura física específica e per-

sonalidade jurídica legalmente estabeleci-da, geralmente vinculadas ao órgão deSaúde local (Secretaria, Departamento,Coordenadoria, Divisão), com competênciae atribuição para desenvolver os serviçoselencados nos Programas de Controle deZoonoses, de Doenças Transmitidas porVetores e de Agravos por AnimaisPeçonhentos.

ESTRUTURA FÍSICA

Um CCZ deve dispor de áreas físi-cas, equipamentos e pessoal capacitadopara desenvolver técnicas básicas de labo-ratório, que atendam aos Programas deControle de Zoonoses, de DoençasTransmitidas por Vetores e Controle deAcidentes por Animais Peçonhentos.

Na área de Controle da Raiva, asestruturas físicas se atêm aos aspectos denecrópsia, coleta, acondicionamento, con-servação de materiais e um sistema de reg-istros para o encaminhamento a um doslaboratórios de referência ou a um dos lab-oratórios credenciados, atualmente exis-tentes no Estado de São Paulo (3 de refer-ência e 7 credenciados).

Por se tratarem de unidades que

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(Tabela 2 – Zoonoses de relevante importância para a saúde pública)

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requerem equipamentos especiais,insumos específicos e um treinamento con-tinuado dos profissionais da rede de labo-ratórios de raiva, no Estado de São Paulo,não se recomenda a instalação aleatória denovos laboratórios para diagnóstico deraiva.

No planejamento dos projetosarquitetônicos para o desenvolvimento dastécnicas de trabalho preconizadas para ocontrole da raiva e de outras zoonoses,deve ser levado em conta que, nestesambientes, o trabalho se desenvolve comum vírus de alta patogenicidade, o querequer intensa higienização, assepsia e,mesmo, esterilização, coleta criteriosa deágua servida, de resíduos sólidos e encam-inhamento diferenciado para descarte dosórgãos, tecidos e do próprio animal necrop-siado. Outro ponto a ser enfatizado refere-se à circulação de público e de pessoasestranhas ao serviço, que não podem enem devem ser expostos ao risco dainfecção rábica.

Para os exames de identificação delarvas de insetos, os equipamentos e osrecursos físicos requeridos são de carac-terísticas simples, podendo ser obtidas asinformações necessárias ou a assessoriaespecífica nos órgãos de referência. A áreafísica deverá ser compatível com o númerode pessoas que atuarão neste local de tra-balho, não ter acesso direto para o meioambiente externo, dispor de ventilação, ilu-minação e abastecimento de água com-patíveis com as necessidades, dispor de lig-ações elétricas para aparelhos com volt-agem de 110 e 220 v, fiação terra paracomputadores e outros equipamentos,como microscópios, lupas ou microscópiosestereoscópicos, centrífugas de mesa,armários e bancada para vidraria e outrosmateriais. Junto à área dos laboratórios,deverão ser previstos sanitários masculinoe feminino.

O projeto de arquitetura deve serexecutado somente por arquitetos e engen-heiros civis, inscritos no Conselho Regionalde Engenharia, Arquitetura e Agronomia(CREA), e deverá ter os seguintes requisi-tos:

• Terreno próprio, identificado edestinado por ato legal para a construção euso do CCZ.

• Consulta aos órgãos técnicosmunicipais, estaduais e federais sobre leise decretos que norteiem a construção dosprédios, uso e ocupação do solo, proteçãoaos mananciais etc.

O projeto será elaborado com baseem um dos Programas Funcionais, identifi-cado como adequado ao município.

No Programa Funcional apresenta-do, os ambientes estão dimensionados,com áreas aproximadas, em metrosquadrados, que poderão, de acordo com asnecessidades de cada município, apresen-tar modificações.

Existem referências sobre as áreasmínimas para construção de CCZ, em ori-entações divulgadas pela FundaçãoNacional de Saúde/MS.

As áreas para o serviço de controlede vetores foram dimensionadas pelosparâmetros operacionais apresentados noPlano de Erradicação do Aedes aegypti doEstado de São Paulo – devendo tambématender aos demais Programas de Controlede Artrópodes.

Os alojamentos para animais dev-erão ser dimensionados de acordo com osresultados de levantamentos epidemiológi-cos, censos ou outros métodos de estimati-vas populacionais disponíveis no município.

CCZS NO ESTADO DE SÃO PAULO

O estado de São Paulo possui 645municípios, somente 43 possuem CCZsendo que esses estão localizados próxi-mos da capital. No mapa (Fig. 2) podemosobservar as regiões deficientes de Centrosde Controle de Zoonoses.

As orientações para os projetos deCentros de Controle de Zoonoses (CCZ)foram retiradas do Manual técnico nº2 doInstituto Pasteur.

Os municípios do estado de SãoPaulo foram agrupados em classes popula-cionais, podendo se inserir nos seguintesProgramas Funcionais:

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(Tabela 3 – Programas funcionais)

Municípios acima de 400.000 habi-tantes devem seguir o programa VI,acrescido das especificidades locais.

Além da classe populacional, outrosfatores deverão ser considerados na escol-ha do Programa Funcional, tais como:

• Municípios com maior incidênciade Raiva Humana urbana, Dengue ou out-ras zoonoses, que devem adaptar osProgramas às suas características epidemi-ológicas, pois necessitam de ambientesespeciais como, por exemplo, laboratórios.

• Municípios com população flutu-ante significativa.

• Municípios onde se localizam assedes de Direção Regional de Saúde (DIR).

• Projetos para consórcios demunicípios.

INFRA-ESTRUTURA

Caixa d’água, fossa séptica ou esgoto,drenagem, depósito de lixo, zeladoria ouguarita com sanitárioNota – Os sanitários, vestiários e refeitóriosdeverão ser calculados de acordo com o node funcionários.(1) Valor médio.(2) No canil individual, a área para soláriodeverá corresponder à área de cada canil.(3) No canil coletivo a área para solário,deverá corresponder a no mínimo metadeda área do canil.(4) DML – Depósito de material de limpeza.(5) SM – Sanitário Masculino(6) SF – Sanitário Feminino(7) A lavanderia será opcional, ficando acritério de cada município a higienizaçãodos uniformes dos funcionários de campo(agentes de controle de vetores, e trata-dores de animais) e laboratório.

Os demais fluxogramas, asdescrições dos ambientes constantes nosProgramas Funcionais e outras orientaçõespodem ser encontradas no endereçoeletrônico: http://www.pasteur.saude.sp-.gov.br/

(modelo de fluxograma de ambientes de CCZ e sugestão de áreas mínimas, para um município de 200 a 400.000 habitantes- VI – Municípios de 200 a 400.000 habitantes. (44 animais capturados/dia)(1)

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ZOONOSES E SAÚDE PÚBLICACONSIDERAÇÕES FINAIS

Para se ter uma idéia da importân-cia das zoonoses em Saúde Pública, bastalembrar que, das seis doenças em que anotificação dos casos é exigida univer-salmente, duas pertencem a este grupo, aPeste e a Febre Amarela, e ambas ocorremno Brasil.

Das doenças obrigatoriamente noti-ficáveis de acordo com as Normas TécnicasEspeciais relativas à Preservação da Saúdeno Estado de São Paulo, dez pertencem aoGrupo de Zoonoses a saber: FebreAmarela, Peste, Leptospirose, RaivaHumana, Carbúnculo Hemático,Tuberculose, Brucelose, Ricktesioses,Arboviroses e Doença de Chagas.

De maneira geral, não existemmuitos dados estatísticos disponíveis efidedignos sobre a ocorrência das difer-entes zoonoses no Brasil.

Algumas zoonoses não constituemproblema de saúde pública propriamentedito, porque raros são os casos humanosaté hoje descritos.

A Febre Aftosa enquadra-se nestecontexto; embora não acarrete prejuízosdiretamente à saúde pública é responsávelpor grandes perdas na pecuária, e, conse-quentemente, à economia nacional.

A Raiva Urbana, por outro lado,apresenta coeficientes de morbidade emortalidade baixos, porém, constitui umgrande problema para a Saúde Pública emfunção de letalidade no homem serde100%. Via de regra, nos casos de aci-dentes com animais suspeitos, várias pes-soas são envolvidas, o que acarreta umgrande ônus ao Estado com o tratamentopreventivo aos expostos ao risco deinfecção. Em saúde animal, na raiva sil-vestre (rural) os prejuízos são decorrentesda perda, às vezes, de grande número deanimais de um mesmo rebanho.

A Leptospirose apresentaprevalência moderada nos rebanho: bovinoe suíno. Por sua vez a Brucelose apresentaalta morbidade e baixa mortalidade;todavia é um problema de saúde ao nível

de grupos profissionais, tais como empre-gados de matadouros, granjas leiteiras,veterinários e tratadores de animais, emb-ora acarrete, anualmente, consideráveisprejuízos à pecuária e a suinocultura.

A Tuberculose, além dos prejuízosà indústria animal, determina a redução damão de obra humana disponível para o tra-balho, porquanto após a alta hospitalar oindivíduo nem sempre pode voltar às suasatividades anteriores como é o caso dostrabalhadores braçais.

Em razão dos fatos apresentados,pode-se concluir que qualquer que seja azoonose considerada, de maior ou menorgravidade para o homem e para os ani-mais, ela sempre contribuirá para diminuira produção de bens e serviços com todasas suas conseqüências.

BIBLIOGRAFIA

Reichmann, Maria de Lourdes AguiarBonadia.

Orientação para projetos de Centros deControle de Zoonoses (CCZ), por Maria deLourdes Aguiar Bonadia Reichmann,Maria Regina Cardoo Sandoval, DeniseMaria Elizabeth Formaggia, DouglasPresotto, Vania de Fátima Plaza Nunes,Liamara Sirna dos Santos, CarmemMoreno Glasser e Marco Antonio Ferreirada Costa. 2ª ed. São Paulo, InstitutoPasteur, 2000 (Manuais, 2) 45p.il.

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-SISTEMA DE INFORMAÇÃO REGIONALDE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DARAIVA NAS AMÉRICAS – SIRVERA.

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Irajá Gouvêa 1

GOUVÊA, I. Restauração e reutilização de pré-dios tombadosEstudo de caso Solar “Luiz deSouza Leão” (Tupã/SP). Revista AssentamentosHumanos, Marília, v.8, n.1, p.43-49, 2006.

RESUMO

Este trabalho ilustra umproblema comum vivenciado em váriascidades do Estado de São Paulo e em out-ras tantas espalhas pelo Brasil, que apre-sentam elementos arquitetônicos de eleva-da importância histórica, em alguns casos,tombados, comprovando tal importância eque necessitam com urgência de inter-venção física em suas instalações.

O Solar ¨Luiz de SouzaLeão¨, elemento arquitetônico tombadopelo Condephaat, implantado na EstânciaTurística de Tupã, ilustra este fato edemonstra que o impasse por descobrirquem é o responsável pela manutenção doprédio, muitas vezes não é solucionado,gerando um total descuido sobre o bemcultural.

Como em vários paises,entre eles, os Estados Unidos, Canadá,França, Inglaterra e Itália, a solução paraeste tipo de problema está em buscar nainiciativa privada um parceiro, através deconcessão do espaço ou parte dele, doapoio e serviços de entidades culturais eeducacionais e finalmente, do apoio eserviços do Poder Público, através daPrefeitura Municipal e Condephaat.

Esta tríade, iniciativa priva-da, entidades culturais e educacionais epoder público, com certeza, fecham um cír-culo de interesse mútuo, onde a populaçãoserá beneficiada e fortalecida no aspectocultural, arquitetônico e econômico.

1 Arquiteto, Professor Mestre na Faculdade de Engenharia e Arquitetura e Tecnologia da UNIMAR

RESTAURAÇÃO E REUTILIZAÇÃO DE PRÉDIOSTOMBADOS ESTUDO DE CASO

SOLAR “LUIZ DE SOUZA LEÃO” (TUPÃ/SP)

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ABSTRACT

This work illustrates a prob-lem common expierenced in several citiesof the State of São Paulo and in other somuch ones you spread for Brazil, thatyou/they present elements architecturalhigh historical importance, in some cases,tumbled, checking such importance andthat need with urgency of a physical inter-vention in its facilities.

The ¨Luiz de Souza Leão¨,architectural element tumbled byCondephaat, implanted in the TouristRanch of Tupã, illustrates this fact and itdemonstrates that problem for to discoverwho it is the responsible person for themaintenance of the building, a lot of timesit is not solved, generating a total negli-gence on the very cultural.

As in several Countries,among them, United States, Canada,France, England and Italy, the solution forthis problem type is in looking for in theprivate initiative a partner, through conces-sion of the space or it leaves of him, of thesupport and services of cultural and educa-tional entities and finally, of the supportand services of the Power I Publish,through the Municipal City hall andCondephaat.

This triad, private initiative,cultural and educational entities and cannotpublic, with certainty, they close a circle ofmutual interest that only the populationcomes out strengthened and beneficiary inthe cultural, architectural and economicaspect.

Palavras-chave: :Solar, tombamento,restauro, preservação, Condephaat

INTRODUÇÃO

O solar “Luiz de Souza Leão”, con-strução tombada pelo CONDEPHAAT,implantada na Estância Turística de Tupã,Estado de São Paulo, representa um exem-plo típico de paradigma encontrado emvários ambientes urbanos e rurais recon-hecidos por sua importância, distribuídospor todo o País.

Por um lado há o status da cidadepossuir um prédio de real valor históricoreconhecido através de seu tombamento,seja a nível Municipal, Estadual, Federal ouInternacional. Por outro lado, a obrigaçãode manter e dar uma utilização do espaçofísico, integrando aquele elemento tãoimportante as necessidades da comu-nidade.

O que se nota, no caso específico doSolar “Luiz de Souza Leão”, residência dofundador da cidade, já falecido e em outrostantos elementos tombados nos diversoscantos do País, é uma subutilização oumesmo uma utilização errada, desqualifi-cando ou produzindo danos ao patrimônio,em conseqüência um desinteresse porparte da população local e dos gestoresmunicipais ou entidades mantenedora doimóvel. Com o passar do tempo, amanutenção do prédio vai sendo descuida-da, seja por falta de verba, seja por desin-teresse ou mesmo por falta de informação,

Vista Frontal – foto Irajá Gouvêa

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é neste momento, que entra a necessidadede reforma, muitas vezes resultando emrestauro parcial ou total, com reutilizaçãodos espaços através de uma revitalizaçãoda área construída e de seu entorno, inte-grando o patrimônio ao convívio dasociedade presente.

RESTAURAÇÃO

A expressão restaurar significa emarquitetura, a recuperação parcial ou totalde uma construção que esteja desgastadaou deteriorada pelo tempo, através da açãodos ventos, chuva, insolação, movimen-tação de solo ou desgaste natural dosmateriais, ou por outro lado, pelo usointenso e às vezes indevido pelo própriohomem, ou seja, pelo uso constante doimóvel.

Trata-se, portanto de uma recuper-ação, quer seja uma renovação de parte deseus elementos, quer seja pela substituiçãode partes danificadas, com a intenção detornar o imóvel utilizável, ainda que o usodo mesmo não corresponda mais àquelautilização original. É neste ponto queaparece a discórdia ou a divergência entreos profissionais da área envolvidos na recu-peração do patrimônio. Nem todos concor-dam, porém, o correto é que antes de seiniciar um trabalho de restauração em umaconstrução, devemos previamente estab-elecer proposta de reutilização do imóvel.

Em 1964 o II CongressoInternacional de Arquitetura e de Técnicasde Monumentos Históricos (Carta deVeneza) aprovou em seu documento final,o seguinte texto:

¨A conser-vação de monumentos ésempre favorecida quando seatribuí a esses monumentosfunções úteis a sociedade,utilização essa que não podealterar a disposição dos ele-mentos que os compõem,nem o seu ambiente. É pois,dentro desses limites quedevem ser concebidas e

podem ser autorizadas asreformas exigidas pelaevolução dos usos e cos-tumes.¨

Existem, atualmente, duas posiçõesdistintas e divergentes relacionadas àforma de tratar e conduzir uma obra derestauração. Alguns profissionais são deopinião que o restauro deve ser um ato dedevolução ao imóvel, de todas as suas car-acterísticas originais, recuperando fiel-mente todos os detalhes e elementos desa-parecidos ou deteriorados. Ao final dosserviços, teríamos a devolução do prédiocom todos os seus espaços internos recu-perados, da forma como foram construídose utilizados no passado. Reside aí, a fragili-dade desse tipo de trabalho, pois fica todoo espaço construído e restaurado limitadoquanto ao seu novo uso.

A segunda posição baseia-se exata-mente na proposta de uso a ser dada, empleno século XXI, a uma construção antiga.É um ponto de vista que vem sendo discu-tido, teorizado e documentado, dentro deum processo evolutivo, ao longo de todo oséculo XX, em Congressos e Encontros deprofissionais relacionados à preservação erestauração. Alguns espaços, segundo osdefensores dessa posição, devem ser sacri-ficados em sua função original para que asnecessidades atuais sejam atendidas. Obom senso deverá prevalecer na escolha ouna definição: qual espaço terá suas carac-terísticas preservadas e qual será alteradoem atendimento às novas necessidades.

Em caso de adaptação do espaçopara uma nova utilização, não são apenaselementos arquitetônicos a serem retiradosque devem causar preocupação, mas tam-bém, aqueles a serem acrescidos, tudo quetiver que ser acrescentado ao imóvel dev-erá ser feito de forma mais discreta possív-el ou, ao contrário, devem estar a vista eelaborados de forma a demonstrar suacondição de elemento estranho ao conjun-to original, mas necessário a sua boa reuti-lização?

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CONDEPHAATCONSELHO DE DEFESA DOPATRIMÔNIO HISTÓRICO,ARQUEOLÓGICO, ARTÍSTICO ETURÍSTICO

A Lei n° 10.247, de 22.10.1968criou o Conselho de Defesa do PatrimônioHistórico, Arqueológico, Artístico e Turístico– CONDEPHAAT, cuja finalidade é proteger,valorizar e divulgar o patrimônio cultural noEstado de São Paulo. Estas atribuiçõesforam confirmadas, em 1989, pelaConstituição do Estado de São Paulo:

Artigo 261 - O Poder Públicopesquisará, identificará, protegerá e val-orizará o patrimônio cultural paulista,através do Conselho de Defesa doPatrimônio Histórico, Arqueológico,Artístico e Turístico do Estado de SãoPaulo.

Sem dúvida é uma autarquia de ele-vado valor para a cultura e, sobretudo paraa Arquitetura do Estado e do País, reve-lando elementos de nossa história Paulistadistribuídos pelas antigas fazendas de café,regiões de cana de açúcar, cidades históri-cas e até elementos recentes, que apresen-tam elementos marcantes arquitetonica-mente.

No artigo acima descrito, fica claroque o Poder Público, através doCondephaat, pesquisará, identificará, pro-tegerá e valorizará todos os elementosimportantes encontrados em nosso Estado,porém, não existe a preocupação ou aresponsabilidade de manter, preservar oudar manutenção aos imóveis tombadosquando necessários. Assim, quando osinúmeros elementos arquitetônicos tomba-dos, necessitam de reparos, restauros oureformas, procuram o órgão, buscandoajuda financeira, e quase sempre não sãoatendidos, ficando sem solução, pois nem oCodephaat, nem as Prefeituras Municipaispossuem recursos disponíveis para tal fim.Cria-se o impasse, onde buscar tal recurso?

Em Países desenvolvidos, o que

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vemos são apoios de iniciativas privadas ouInstituições Filantrópicas ou ainda, deInstituições Educacionais, que reservamrecursos para manter certas atividades cul-turais e entre elas a de preservação de ele-mentos arquitetônicos.

Portanto, fica claro que oCondephaat, órgão criado para pesquisar,identificar, proteger e valorizar ospatrimônios históricos de nosso Estado,ultrapassando a trezentos elementos tomba-dos, não tem recursos e nem o dever demantê-los, ficando esta incumbência para asociedade local, que deve se mobilizar embusca de parcerias para viabilizar as ativi-dades necessárias à manutenção do imóvel.

SOLAR ¨LUIZ DE SOUZA LEÃO¨

Residência de um dos fundadores doMunicípio de Tupã, hoje Estância Turística,Luiz de Souza Leão idealizou e construiu,em 1933, no centro da cidade então funda-da, sua residência. Um ano antes de suamorte, o fundador fez doação do imóvelpara a Prefeitura Municipal, sendo transfor-mado em Espaço Cultural em 1981.

Em 1969, o Condephaat apósanalise criteriosa, fez o tombamento doimóvel, permitindo o uso após a morte doproprietário como museu.

Arquitetonicamente, o imóvel apre-senta traços característicos de arquiteturamediterrânea com forte influência mourísti-ca. Para os padrões da época de sua edifi-cação, é sem dúvida um elementodestoante de qualquer construção daregião.

O imóvel ocupa uma quadra de 80 x80 metros, apresentando em seu centrouma residência, em seu lado esquerdo umprédio avarandado destinado a salão deleitura e lazer. Ao fundo do prédio principal,depósito, garagem e abrigo de fogão alenha.

Em seu fundo , do lado esquerdo,uma área foi desmembrada para se implan-tar o Museu Histórico e Pedagógico ¨ÍndiaVanuíre¨.

Através de um inventário, podemosobservar suas particularidades e importân-

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cia já comprovada pelo tombamento.InventárioParedesEm tijolo de barro cozido, com

espessura de 25 cm e altura média de pédireito com 3,20m;

RevestimentoReboco irregular sobre as paredes

externas e muro e reboco desempenadosobre as paredes internas;

Azulejo decorado no solar centralcom altura de 1,60m aproximadamente;

Azulejo decorado nos banheiros ecozinha;

ForroForro em tábua de peroba tipo

macho/fêmea;CoberturaEstrutura em madeira com beiral

em madeira forrado, telha de barro tipocapa/canal;

EsquadriasPorta principal em madeira com

bandeira superior em arco, duas folhas;Portas internas em madeira com

batentes em madeira;Janelas de madeira tipo guilhotina

nos dormitórios;Janelas de ferro tipo correr, duas

folhas nos demais ambientes;PisoPiso da varanda e solar interno em

ladrilho cerâmico 5 cores;Piso interno da residência em tábua

de peroba rosa;Piso dos banheiros e salão de jogos

em ladrilho cerâmico vermelho;Piso do depósito, abrigo do fogão a

lenha e garagem em tijolo de barro;Calçamento externo – mosaico por-

tuguês e cimentado desempenado;PinturaCaiação nas paredes externas na

cor rosa;Esmalte verde lousa nas

esquadrias;Látex nas paredes internas na cor

branca;PaisagismoSolar interno – vegetação arbusti-

va e de forração com espécies nativas em

vasos e canteiros e fonte central em con-creto;

Área externa – vegetação arbórea,arbustiva e de forração com espécies exóti-cas e nativas distribuídas ao longo de todaárea com passeios e bancos;

REFORMA EMERGENCIAL

O imóvel apresenta-se totalmentecomprometido, sendo necessário umaurgente reforma em seus diversos aspec-tos:

- infraestrutura – recalque de fundaçãoe alicerces;

- paredes com trincas e fissuras – recal-que de paredes e amarrações

- pisos - umidade do solo e dilatação;- forro - vazamento de telhado- telhado – telhas quebradas, emboça-

mento de capas e calhas danificadas;- esquadrias – batente e guarnições da-

nificadas e portas e janelas apresentandoempenas;

- revestimento – azulejos soltos e rebo-co com trincas e descascado;

- elétrica – fiação deteriorada e lustresquebrados;

- pintura – umidade e desgaste natural;- paisagismo – manutenção de vegeta-

ção de grande porte e implantação de for-ração com diversas substituição,manutenção em calçamento, muro eportões.

VIABILIZAÇÃO DE REFORMAE RESTAURO

Sem dúvida alguma, a populaçãoTupãense, bem como outras cidades comigual problema, acham-se impotentesdiante de tal cenário. Um prédio que repre-senta a história da cidade, com grandeimportância e orgulho, se deteriorando aospoucos e sem qualquer iniciativa por partedo poder público.

O caminho nesse caso e em tantasoutras localidades espalhadas pelo Estadoe País, é a ação da iniciativa privada emparceria com entidades culturais e educa-

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cionais e o poder público através daPrefeitura Municipal e Governo Estadual.

Para se viabilizar tal interesse, a ini-ciativa privada precisa receber em troca,incentivos ou mesmo lucro, que seria nestecaso a concessão do espaço, ou parte delepara exploração comercial, ação esta,muito comum em outros Paises.

As entidades culturais e educa-cionais, através de pesquisa e estudos,ingressariam em primeiro momento, com oprojeto de reforma, restauro e revitalizaçãoda área, produzindo um farto materialdidático e pedagógico. Em segundomomento, estas entidades estariam orien-tando e coordenando a ação de serviçosnecessários para a concretização da refor-ma.

O poder público local, isto é, aPrefeitura Municipal de Tupã, entraria coma viabilização legal através de projeto deLei para se estabelecer a concessão departe do espaço para uma empresa priva-da, bem como suporte técnico e materialnos trabalhos de intervenção.

O poder público Estadual, atravésdo Condephaat, gerenciaria o processo,dando apoio e incentivando empresasinteressadas em explorar tal espaço.

Assim, estaria sendo fechado umcírculo de interesse mútuo, onde asociedade, ansiosa em preservar o espaçotombado, ganharia além do elemento cul-tural restaurado, um elemento comercialque incentivaria o uso de todo o espaçopela população.

CONCLUSÃO

Não basta a cobrança junto aoCondephaat ou Prefeitura Municipal para sereformar ou tentar evitar uma possívelcatástrofe no prédio tombado e que repre-senta parte da História do povo da cidade,região e Estado. Não bastam estudosacadêmicos, profissionais e intervençõesculturais de organizações não governamen-tais. Não basta a procura de doações deempresas dispostas a ajudar de maneiradespretensiosa o aspecto cultural da

cidade. Devemos sim, buscar uma soluçãosólida, eficaz e duradoura para o problema,viabilizando o espaço cultural para as ger-ações vindouras.

Somente através de uma uniãoentre estes vários elementos, trabalhandojuntos e obtendo vantagens em comum, éque conquistaremos a realização da tãoalmejada reforma, restauro e revitalizaçãoda área cultural.

Hoje, cuidar do patrimônio é sabervalorizar os locais de memória, as edifi-cações Históricas, as coleções de objetos eas tradições e costumes que formam aidentidade social e cultural de uma comu-nidade, bem como de seus cidadãos.

BIBLIOGRAFIA

CARTA DE VENEZA. in: PatrimônioCultural – Documentos internacionais enacionais sobre a preservação de bensculturais. São Leopoldo: UNISINOS,1986.

CIAM. Congresso Internacional deArquitetura Moderna.

CARTA de QUITO. In: PatrimônioCultural.

CASTELLS, Manuel. A questão Urbana.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

LE CORBUSIER. A Carta de Atenas. SãoPaulo: EDUSP, 1993

MILARÉ, Édis. Legislação ambiental doBrasil. São Paulo : APMP, 1991.

SANTOS, Wanderley G. dos. Cidadania ejustiça. R. de Janeiro: Campus,1979.

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Antonio Carlos Silva Junior 1

Sergio F. Miquelette Alves 2

JUNIOR, A. C. ; ALVES, S. F. M. EdifícioComercial:- proposta de trabalho da disciplina:Projeto VI do curso de Arquitetura e Urbanismoda FEAT – UNIMAR. Revista AssentamentosHumanos, Marília, v8, nº1, p51-54, 2006.

RESUMO

Um projeto que mistura for-mas rígidas e sinuosas em um mesmo par-tido arquitetônico. Uma proposta esculturalcom formas livres e arrojadas.

ABSTRACT

One is about a work of grad-uation of the course of architecture andurbanism, with the proposal to lead to thequarters where if they locate the minorclassrooms purchasing power and cultural,level, the stimulaton to practical of activi-ties come back to the social integration,culture and leisure

EDIFÍCIO COMERCIAL

Com 18 pavimentos sendo12 pavi-mentos para escritórios, 4 pavimentos paralojas de departamentos, um restaurante nacobertura com mirante e um amplo esta-cionamento no subsolo para 46 veículos,este edifício possui volumetria que combinaas formas sinuosas encontradas nanatureza e um prisma retangular rígidoprojetado pelo homem. Além da leveza que

1 Graduando do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FEAT – UNIMAR.2 Orientador, Arquiteto, Professor Mestre no Curso de Arquitetura e Urbanismo da FEAT – UNIMAR.

EDIFÍCIO COMERCIAL:- PROPOSTA DE TRABALHODA DISCIPLINA: PROJETO VI DO CURSO DE

ARQUITETURA E URBANISMO DA FEAT – UNIMAR.

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este edifício transmite devido o fato de con-centrar todo o seu peso em apenas oitoapoios, sendo quatro apoios para cadabloco o edifício apresenta um grande bal-anço e grandes panos de vidro comfechamentos em vidro laminados que estãodevidamente orientados para as faces demenor insolação.

Tratando-se de um prédio comercialonde encontramos lojas destinadas ao usopublico e ao mesmo tempo escritórios des-tinados a empresários, foram adotados

alguns conceitos “de público e privado” coma intenção de os usuários e transeuntes nãosaberem distinguir claramente se estãodentro ou fora do edifício. Os quatroprimeiros pavimentos ficaram totalmenteintegrados as vias publicas onde as pes-soas, ao passar pela calçada, muitas vezesnão saberão se estão dentro ou fora doedifício. Isto será possível devido aosgrandes balaços que foram projetados e aogrande jardim com espelho d`água quefazem com que o usuário do edifício tenha a

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sensação de estar em uma grande praça aopassar pela calçada do empreendimento.

O prédio possui core lateral - onúcleo de circulação vertical (escadas eelevadores) ocupa a lateral do edifício. Oprojeto propõe o uso de estrutura de con-creto armado moldado in loco e lajesnervuradas que possibilitara grandes vãossem a intervenção de pilares. O moduloque possui uma leve curva, terá o seuapoio feito por apenas quatro pilares, queforam esquematicamente locados em um

eixo propício para receber todos osesforços.

O partido arquitetônico combina doisvolumes simples, que parecem encaixados:um prisma retangular rígido com 60,00metros de altura e um bloco com uma levecurva que transmite movimento ao edifício,com aproximadamente 9,00 de balanço.Nos primeiros quatro andares, temos lojas,cabine telefônicas, café, livraria, auditórios,acima temos 12 pavimentos de escritóriosonde cada pavimento possui quatro salas

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num total de 48 salas e na cobertura temosum amplo restaurante com pé direito duplocom um belo mirante com uma grandefonte luminosa.

A clássica formaçãobase/corpo/coroamento é visível no edifí-cio. O jogo volumétrico é reforçado pelosfechamentos. O bloco sinuoso recebeuvidros laminados reflexivos em tom azula-do ao longo de toda sua extremidade. Ointeressante é que esta cortina de vidroacompanha a forma sinuosa que este blocopossui dando assim muito mais charme ebeleza ao projeto. A parte prismática tam-bém recebeu uma ampla cortina de vidro,que transmite uma grande imponência paraquem visualiza o edifício. É importantesalientar que desde os primeiros traços osfundamentos do conforto ambiental foramrespeitados. Além disso, o edifício estátotalmente adaptado para pessoas porta-doras de deficiência física ou mobilidadereduzida onde qualquer pessoa poderá selocomover e usufruir de qualquer espaço doempreendimento com segurança e autono-mia. O trabalho foi desenvolvido pelo

aluno Antonio Carlos Silva Junior, nacadeira de Projeto VI sob a orientação doprofessor mestre arquiteto Sérgio FernandoMiquelette Alves, do curso de Arquiteturada Universidade de Marília.

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Kátia Emi Kozuma 1

Tatiana Ortiz Cardia 2

Paulo Kawauchi 3

KOZUMA, K. E. ; CARDIA, T. O. ; KAWAUCHI, P.A geometria nas obras de Antoni Gaudi. RevistaAssentamentos Humanos, Marília, v8, nº1, p55-59, 2006.

RESUMO

Trata-se de um trabalho deIniciação Científica produzido pelas alunas:Kátia Emi Kozuma e Tatiana Ortiz Cárdia,sob o título de “A geometria nas obras deAntoni Gaudi” durante o 5º período de2006

A GEOMETRIA NAS OBRAS DEANTONI GAUDI

Conhecer um pouco a mais sobreAntoni Plácid Guillen Gaudi Cornet é seaprofundar em técnicas extraordinárias,com enorme riqueza de cores, formasgeométricas e texturas, onde até mesmoos mais leigos se encantam com a suagenialidade. Seu caráter observador desco-briu na natureza a perfeição que procurava,tornando suas obras mais firmes, consis-tentes e verdadeiras; longe de ser superfi-cial, buscava a funcionalidade, e a belezacomo conseqüência. Gaudí não teve o dev-ido reconhecimento em vida, não deixounenhum seguidor de seus métodos e con-hecimentos, mas deixou um legado emconstruções rico o bastante para um estu-do intenso desse arquiteto que foi um dosmaiores do século XX.

1; 2. Alunas do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Tecnologia da UNI-MAR.4. Orientador e Professor Doutor no Curso de Arquitetura e Urbanismo da FEAT-UNIMAR

A GEOMETRIA NAS OBRAS DE ANTONI GAUDI

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ANTONI PLÁCID GUILLEN GAUDÍ CORNET

Quem passeia pelas ruas deBarcelona fica encantada com a arquite-tura viva e arrojada do arquiteto catalãoAntoni Gaudí. Com grande sentimento denacionalidade, este colaborou muito paraa historia da arquitetura e a imagem desua cidade.

Experimentava antes de construire não tinha receio de arriscar, buscarnovas formas, brincar com texturas emateriais; experimentou mais do quedesenhou. Gaudí não ficava atrás de umamesa de trabalho projetando, muito pelocontrário: teve poucos desenhos, namaior parte só rascunhos, mesmo porqueele mudava constantemente. Em uma desuas mais importantes obras, a Igreja daSagrada Família, ele fez uma maqueteonde pendurou diversos pesos que corre-spondiam às cargas que os pilares e ascolunas deveriam suportar, com base emseus cálculos.

A partir de materiais simples – oferro e a cerâmica, os mais utilizados peloarquiteto catalão – fez grandes e magnífi-cas obras, resultados de sua enormeimaginação e criatividade.

Teve influências da Arte Nova, dogótico, e mudéjar - uma mescla daarquitetura espanhola e mourisca - masnão é possível encaixá-lo em nenhumestilo definido; Gaudí tem uma arquitetu-ra própria, sem precedentes. A influênciado gótico em sua arquitetura nunca foiuma imitação, mas sim uma inspiraçãopara dela utilizar-se de métodos úteispara a arquitetura do seu tempo. Muitoalém de uma simples cópia, ele aper-feiçoou a técnica utilizada na arquiteturagótica; um exemplo disso são os arcob-otantes, que Gaudí considerava apenasapoios para suportar o peso dasabóbadas, o que achava desnecessário,desenvolvendo a geração de arcos elípti-cos e pilares inclinados, bem como osarcos parabólicos.

Extremamente observador, Gaudí

buscava inspiração na natureza, que diziaele ser perfeita, sempre em harmonia eequilíbrio, pelo fato de ser obra de Deus,aliás, uma outra característica destearquiteto, um religioso, que construiudiversas catedrais e igrejas. E, apesar degostar de se vestir bem e freqüentarlugares requintados (local onde firmoumuitos contatos importantes para suacarreira), ele se considerava “do povo”,sempre se interessando pelos assuntos da

classe mais baixa. Ao contrário da maioria dos

arquitetos que utilizavam a geometria

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CASA BATLLÓ

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euclidiana como base de suas estruturas(módulos quadrados, circulares e até tri-angulares – baseados na matemáticapura), Gaudí extraía do meio natural asua forma de construir (uma ironia, poissuas obras tinham um quê de irreal,ilusório), sempre observando, o que opermitiu estudar e analisar profunda-mente a natureza, dominar a geometriado espaço físico, uma vez que a geome-tria é a essência da arquitetura e parte danatureza; permitiu também ousar emsuas formas, descobrindo estruturasestáveis e seguras, com ritmos e diversi-dades incríveis, baseando-se em fórmulasque tirou da própria natureza. Em suaarquitetura, percebe-se um constante usode hipérboles (curva obtida pela inter-secção de um cone de revolução com umplano cuja diferença das distâncias a doispontos fixos é constante), parábolas(lugar geométrico dos pontos eqüidis-tantes de um ponto fixo – foco – e de umareta fixa – diretriz - ou curva resultante

de uma secção feita em um cone por umplano paralelo à geratriz), espirais (linhagerada por um ponto que se deslocasobre uma semi-reta, que sofre um movi-mento de rotação em torno de suaorigem), elipses (curva obtida pela inter-seção de um cone de revolução com planooblíquo em relação ao eixo e não paraleloà geratriz), catenárias (curva teórica deequilíbrio de um fio pesado, homogêneo einextensível, suspenso pelas duas

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CRIPTA GUELL

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extremidades), sendo, todas estas, for-mas que observou nos contornos natu-rais; são formas simples que, aliadas, for-mam estruturas fortes, sólidas, queresistem através do tempo. Sua aplicaçãoresulta em abóbadas convexas do pórticoda igreja da Colônia Güell e do Templo daSagrada Família; em conóides sinusoidaisdo muro das Escolas Provisórias daSagrada Família e canteiro da SagradaFamília; em conóides helicoidais da esca-da em caracol do El Capricho, escadas emcaracol das torres da Sagrada Família erampas da Casa Milà e do Palácio Guell;em coluna arbórea na coluna retangularda nave lateral do templo da SagradaFamília; em arcos catenários do galpão daCooperativa Operária Mataronense,Colégio das Teresianas, mirante daFazenda Güell, portas do Palácio Güell,cavalariças da Fazenda Güell, escudo daFamília Güell, sótão da Casa Milà, igrejada Colônia Güell e do Templo da SagradaFamília; em abóbadas hiperbólicas da

cobertura das cavalariças da FazendaGüell, portal de carruagens do ParqueGüell, detalhes das colunas do PalácioGüell, e das galerias de janelas e coroa-mento das colunas da Sagrada Família;em colunas de giro duplo do Templo daSagrada Família; em macla de geometriasda combinação de corpos geométricos; emuitas outras formas.

Antoni Gaudí foi um arquiteto arro-jado e um tanto bizarro, morreu deixandoum legado riquíssimo não só para aarquitetura como para os apreciadores daarte e técnica. Suas obras, verdadeirasesculturas, corpos vivos dotados deexcentricidade, fazem parte da con-tribuição deste catalão para a história daarquitetura, da arte e para o estudo datécnica.

ALGUMAS FORMAS GEOMÉTRICASUTILIZADAS POR GAUDI

PARABOLÓIDE HIPERBÓLICO

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PARQUE GUELL

PARQUE GUELL

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PARABOLOIDE DE REVOLUÇAO

ELIPSÓIDE

HIPERBOLÓIDE DE UMA FOLHA

HIPERBOLÓIDE DE DUAS FOLHAS

FORMA HELICOIDAL

BIBLIOGRAFIA

SWEENEY, J. J. SERT, Josep Luíz. AntonioGaudí. Estugarda, 1960.

ZERBST, R. ANTONI GAUDÍ. Takyo:Taschen, 1985.

OHTAKE, T. Exposição Gaudi.Disponível em:http://www.institutotomieohtake.org.brAcesso em 15 out. 2005.

GAUDI, A. Disponível em:http://www.cl.org.br/37gaudi.htm.Acesso em 27 nov. 2005.

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Wellington César da Silva 1

Paulo Kawauchi 2

SILVA, W. C. Novo Design. RevistaAssentamentos Humanos, Marília, v8, nº1, p61-67, 2006.

NOTA EXPLICATIVA

Trata-se de uma atividadeacadêmica proposta na disciplina AnáliseGráfica de Objetos do Curso Superior deTecnologia em Design de Produto, da FEAT– UNIMAR., realizado pelo aluno WellingtonCésar da Silva (2º termo 2006). A 1ª e 2ª fase do trabalho proposto foi exe-cutada em classe e consistiu de levanta-mentos (desenhos, análises e dimensiona-mentos) de elementos da prancheta emuso na sala de projeto sala 406 do Bloco IV.A 3ª fase consistiu em buscar alternativaspara melhoria da atual prancheta em uso ena 4ª fase, em executar o resultado obtidopor meio da técnica gráfica. Na seqüênciasão apresentadas as soluções da últimafase sob o título de NOVO DESIGN.

NOVO DESIGN

Com o objetivo de melhorar odesign da bancada de desenho da institu-ição de ensino unimar,foi realizado umestudo avançado para unir o design, prati-cidade e custo.

Levando em consideração as carac-teristicas da bancada atual podemos notarque esta não possui nenhuma marca dedesign e nem praticidade funcional demanuseio.

O grande objetivo é aproximar ascaracteristicas do passado em design atual.

1 Aluno do 2º Termo do Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto da FEAT – UNIMAR2 Professor da disciplina: Análise Gráfica de Objetos do Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto daFEAT – UNIMAR.

NOVO DESIGN

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A seguir será apresentado atravésde imagens um novo conceito de designpara bancada de desenho.

Com o auxilio de software de Cad3D foi realizado o modelamento tridimen-sional coforme imagens abaixo.

VISTA EXPLODIDA DOS COMPONENTES MECÂNICOSCARACTERISTICAS DE SUAMONTAGEM

VISTA 3D PROJETADAVIISTA FRONTAL

VISTA 3D PROJETADAVISTA LATERAL DIREITA

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VISTA 3D PROJETADAVISTA SUPERIOR

VISTA 3D PROJETADAVISTA INFERIOR

DETALHAMENTO DOS COMPONETESVISTA 3DPRANCHA DE DESENHO

Nº01-ESCALA 1:10

DETALHAMENTO DOS COMPONETESVISTA 3DBRAÇO GIRATÓRIO DA PRANCHA

Nº02 - ESCALA 1:10

DETALHAMENTO DOS COMPONETESVISTA 3DMANCAL FIXO POSICIONADORNº03-ESCALA 1:4

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DETALHAMENTO DOS COMPONETESVISTA 3DEXTRUTURA TUBOLAR

Nº04-ESCALA 1:10

DETALHAMENTO DOS COMPONETESVISTA 3DBASE APOIO ESQUERDO

Nº05-ESCALA 1:5

DETALHAMENTO DOS COMPONETESVISTA 3DBASE APOIO DIREITO

Nº06-ESCALA 1:5

DETALHAMENTO DOS COMPONETESVISTA 3DPÉ DE APOIO

Nº07-ESCALA 1:1

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DETALHAMENTO DOS COMPONETESVISTA 3DTRAVA DA EXTRUTURANº08-ESCALA 1:5

DETALHAMENTO DOS COMPONETESVISTA 3DACESSÓRIOS

Sistema mecânico funcional paranova bancada de desenho foidesenvolvido um sitema de inclinaçãorapida onde o projetista com umpequeno esforço de rotação naprancha ele conse atingir umainclinação de 0 á 360°.

DETALHES

LOGOTIPO

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ART FINAL

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Bruno Montanari Razza 1

Cristina do Carmo Lucio 2

José Carlos Plácido da Silva 3

Luis Carlos Paschoarelli 4

RAZZA, B. M. ; LUCIO, C. C. ; SILVA, J. C. P. ;PASCHOARELLI L. C. Acessibilidade para obe-sos: problemas de acesso e uso de equipamen-tos por esse grupo de indivíduos. RevistaAssentamentos Humanos, Marília, v8, nº1, p67-73, 2006.

RESUMO

A obesidade pode ser classi-ficada como uma pandemia crescente nomundo todo, podendo ser caracterizada,principalmente, por uma conseqüência doestilo de vida contemporâneo. Neste con-texto, observa-se uma aparente inade-quação de produtos a essa expressiva faixada população, dada sua diferenciação físicaem relação aos demais indivíduos. Diante aessa situação, o presente estudo objetivaapresentar uma revisão da relação entre aobesidade e as questões de acessibilidade eusabilidade de equipamentos e produtos,contribuindo para uma reflexão projetualnas áreas da engenharia, da arquitetura edo design.

ABSTRACT

Obesity can be classified asan increasing pandemic disease in theworld, characterized by a consequence ofthe contemporary life style. In this context,there is an inappropriation of productsdesigned for this wide range of population,because of their physical differences in

1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenho Industrial - Laboratório de Ergonomia e Interfaces / FAAC-UNESP - [email protected]

2 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Desenho Industrial - Laboratório de Ergonomia e Interfaces / FAAC-UNESP - [email protected]

3 Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Desenho Industrial - Laboratório de Ergonomia e Interfaces / FAAC-UNESP - [email protected]

4 Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Desenho Industrial - Laboratório de Ergonomia e Interfaces / FAAC-UNESP - [email protected]

ACESSIBILIDADE PARA OBESOS: PROBLEMAS DEACESSO E USO DE EQUIPAMENTOS POR ESSE

GRUPO DE INDIVÍDUOS

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relation to the other individuals. Facing thissituation, the present study presents arevision of the relation between obesity andquestions of accessibility and usability ofequipments and products, contributing fora reflection in the areas of engineering,architecture and design.

Key Words: accessibility, usability, obesi-ty, ergonomic design

Palavras-chave: acessibilidade, usabili-dade, obesidade, design ergonômico

INTRODUÇÃO

A obesidade é uma doença desen-cadeada por muitos fatores e já pode serconsiderada uma pandemia, pois atingeinúmeros países no mundo, com predom-inância em países desenvolvidos (EUA) eem desenvolvimento (Brasil).

A última pesquisa divulgada pelaNational Center for Health Statistics nosEUA mostra que 30% dos adultos norte-americanos acima de 20 anos são obesos(IOTF, 2006). Galvão (2006b) relata, a par-tir de estudo do CDC, que 71% dos home-ns, 61% das mulheres e 33% das criançasestão acima do peso nos EUA, e que o mer-cado de bens e serviços voltados à obesi-dade nesse país movimenta cerca de US$117 bilhões anualmente, valor equivalenteao PIB do Chile.

Estudo divulgado em Bruxelas, pelaComissão Européia, mostra que o númerode obesos está aumentando de modo pre-ocupante na Europa: um em cada quatrohomens é obeso e uma em cada três mul-heres tem excesso de peso (FOLHAONLINE, 2006). No Brasil havia, em 2002,40,6% de indivíduos adultos com mais de20 anos acima do peso e 11% de obesos(BRASIL, 2004).

A obesidade pode dar seqüência aosurgimento de graves problemas de saúde,tanto transtornos físicos quanto psicológi-cos, visto que o obeso sofre preconceito ediscriminação devido a seu aspecto físico.Além desses problemas, freqüentementeesse indivíduo enfrenta dificuldades na

acessibilidade e usabilidade de produtos eequipamentos desenvolvidos para a consid-erada faixa média da população.

Em seus estudos sobre antropometriade obesos, Menin et al. (2005) discorrem queos problemas de acessibilidade enfrentadospor esses indivíduos têm levado empresáriosa investirem no aperfeiçoamento de novastecnologias de serviços e produtos, comoguindastes com capacidade até 500 kg paratransferir pacientes obesos da cama para amaca ou cadeira de rodas, conforme podeser observado em Pastore (2003).

Apesar dessas iniciativas, Feeney(2002) alerta que as empresas não têmconhecimento sobre as características físi-cas e cognitivas desse público, como suaspreferências, circunstâncias em que viveme dados de seu estilo de vida, e descon-hecem os métodos para adquirir tais dados,o que impossibilita a produção de equipa-mentos adequados.

Nesse contexto, são apresentadasas questões de acessibilidade relacionadasà obesidade, pois é entendida como sendoa atividade que abrange todas as variáveisque influenciam o funcionamento humanoem seu meio, de forma que quanto maiorfor a acessibilidade dos objetos, melhor setornará a interface desses às mais difer-entes habilidades individuais (OSTROFF,2001 apud GERENTE; BINS ELY, 2004);requisito que deve ser aplicado a essa faixacrescente da população.

Dessa forma, o presente estudobusca uma reflexão embasada em revisãobibliográfica e tem por objetivo apresentaros problemas da obesidade e sua relaçãocom a acessibilidade através da apresen-tação de um princípio teórico. Visa tambémcontribuir para o início de novas discussõesacerca desta temática nos aspectos projet-uais da engenharia, da arquitetura e dodesign, pois, apesar de ser um tema degrande importância social, há ainda poucosestudos tratando dessa problemática.

A OBESIDADE

A obesidade é uma doença crônicagrave (WHO, 1998), catalogada no CID

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(Código Internacional de Doenças) sobcódigo E-66, afetando crianças e adultosem proporções epidêmicas e já é consider-ada um dos maiores problemas de saúdenos EUA e na maioria dos países desen-volvidos, crescendo drasticamente princi-palmente os casos de obesidade mórbida.

Em termos clínicos, a obesidadepode ser definida como a deposição exces-siva de gordura no organismo, levando auma massa corpórea que ultrapassa em15% a considerada ideal, podendo desen-cadear-se, segundo Poston II e Foreyt(1999), por diversas razões: determinantesmicro-ambientais (família) e macro-ambi-entais (sociedade), propensão genética,distúrbios metabólicos, distúrbios psíquicos,adoção de hábitos das culturas ocidentais,como sedentarismo e ingestão de alimentosconstituídos de grande quantidade de açú-cares e gorduras, entre outros.

Dentre os problemas de saúde maiscomuns, estão os diabetes, a hipertensãoarterial, o aumento de triglicérides e coles-terol, problemas ortopédicos, problemascardíacos, diversos tipos de câncer, baixaqualidade de vida, depressão, morte pre-matura, problemas biomecânicos, o quepropicia o desenvolvimento de patologiasarticulares como o reumatismo, e outros(BUCICH; NEGRINI, 2002).

A obesidade também está relaciona-da às condições sociais dos indivíduos e,segundo Snyder (2004), é mais acessívelmanter dietas ricas em açúcar e gordura,se comparada a dietas a base de grãosintegrais, peixes, vegetais frescos e frutas,entendidos como meios naturais de pre-venir a doença.

A Comissão da União Européiaexpõe propostas para combater o problemana Europa, como estimular uma vida maissaudável, com prática regular de esportes ealimentação balanceada, implantação deatividade física nos locais de trabalho,estimulação do uso da bicicleta como meiode transporte entre a casa e o local de tra-balho, entre outras (FOLHA ONLINE, 2006).

A ACESSIBILIDADE FRENTE ÀOBESIDADE

Para efeito de entendimento, a NBR9050 de 2004 (ABNT, 2004) define acessi-bilidade como sendo a “possibilidade econdição de alcance, percepção e entendi-mento para a utilização com segurança eautonomia de edificações, espaço, mobil-iário, equipamento urbano e elementos”.Essa norma enquadra o obeso (PessoaObesa - P.O.) na classificação de “pessoacom mobilidade reduzida”, ou seja, toda“aquela que, temporária ou permanente-mente, tem limitada sua capacidade derelacionar-se com o meio e de utilizá-lo” daforma como se apresenta à maioria daspessoas.

Silva (2004), de modo maisabrangente, descreve a acessibilidadecomo o meio de alcançar a igualdade deoportunidades e participação plena emtodas as esferas sociais, incluindo o desen-volvimento social e econômico do país. Masinfelizmente a teoria não é o que se aplicade fato.

O que há em termos de Legislação eNormas Técnicas no Brasil

Algumas leis e decretos vigoram emalgumas cidades brasileiras, com o objetivode melhorar o acesso dos obesos, envol-vendo o aperfeiçoamento na prestação deserviço pelas empresas de transporte cole-tivo urbano (desobrigação de passageirosobesos à passagem pelas catracas e assen-tos especiais), reserva de assentos emespaços culturais e salas de projeção,adaptação de camas de uso hospitalar aesse público específico (Lei 10622 de18/12/2003, JUIZ DE FORA, 2003) e obri-gatoriedade de todos os hospitais pos-suírem macas dimensionadas para essesindivíduos (Lei 13.234 de 06/12/2001, SÃOPAULO, 2001).

Apesar da existência dessas leis edecretos, Bucich e Negrini (2002) afirmamque não há na ABNT (Associação Brasileirade Normas Técnicas) uma norma específica

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com parâmetros de diferenciação quanto àforma, dimensões e requisitos de resistên-cia para confecção de produtos e equipa-mentos destinados aos obesos, ou seja, háleis tangentes aos produtos e equipamen-tos destinados a esses indivíduos, mas nãohá base técnica específica de referênciaque valide sua usabilidade.

Consta na NBR 9050 de 2004(Acessibilidade a edificações, mobiliário,espaços e equipamentos urbanos) queespaços em locais de reunião pública (cin-emas, teatros), e locais de esporte, lazer eturismo, devem ser destinados a P.O., comespecificação de onde devem estar instala-dos e referências quanto à largura,resistência e espaço livre frontal (item8.2.1.3.3 - largura equivalente à de doisassentos, espaço livre frontal de no mínimo0,60 m e devem suportar carga de no mín-imo 250 kg).

Analisando esta norma, verifica-sequão dramática é a situação da acessibili-dade para obesos, pois até mesmo nesta,consta uma quantidade insuficiente deassentos para obesos a serem obrigatoria-mente reservados em espaços públicos –1% em 2004, sendo que em 2002 o Brasiljá apresentava 11% da população sob essacondição.

Outra questão importante é que asespecificações quanto ao tamanho eresistência se enquadram a pessoas comobesidade nível III (mórbida) acima de IMC60, enquanto que a grande quantidade deobesos se enquadra entre os níveis I e III,com IMC até 40, ou seja, até cerca de 130kg (para pessoas com 1,80 m).

O que se pretende apresentar é quepoderiam ser disponibilizados esses assen-tos dispostos na norma em quantidadesmenores e os demais assentos com dimen-sionamento menor do que especificado emenos resistentes, dispensando grandesespaços e gastos desnecessários commateriais, possibilitando fornecer, dessaforma, mais assentos, mais conforto e,conseqüentemente, mais acessibilidade.Essas providências reduziriam, também, oconstrangimento de pessoas com obesi-dade grau I e II de terem que ser deslo-

cadas a uma assento duplo por questão depoucos centímetros, segregando-a.

O que pode ser feito

Para que as leis e decretos apresen-tados sejam cumpridos de forma integral esatisfatória, é necessária a correta apli-cação de parâmetros antropométricos con-fiáveis da população em questão, resolven-do os problemas tangentes ao mau dimen-sionamento através da identificação dosprodutos e equipamentos que apresentamproblemas de interface, considerando que oprincipal problema de usabilidade e acessi-bilidade dos obesos está relacionado justa-mente às questões dimensionais dos pro-dutos, normalmente produzidos para afaixa média da população (PASCHOARELLIet al., 2004).

Galvão (2006a) enfatiza que, alémdos graves problemas de saúde pública, oobeso enfrenta, conforme citado, sériosconstrangimentos na utilização desses pro-dutos, principalmente os obesos mórbidos,que encontram dificuldades na utilização demobiliários, vestimentas, equipamentosmédico-hospitalares, como aparelhos detomografia, raio-x, ressonância magnéticae produtos para reabilitação, como cadeirasde rodas, andadores, macas, e outros. Hávários relatos de pacientes que não puder-am realizar determinados exames, pois não‘cabiam’ nos equipamentos.

Por essas razões, várias empresasestão se especializando em produtos eequipamentos para obesos; entretantomuitos desses produtos são inacessíveis àcamada economicamente menos favoreci-da, pois normalmente são mais caros pordemandarem mais e melhores materiais naconfecção.

Exemplo dessa situação são asindústrias automotivas, que estão pro-duzindo carros mais largos, todos comextensores de cintos de segurança. Essescarros são mais viáveis em termos de con-forto para o obeso, entretanto são muitomais onerosos, atendendo exclusivamentea uma faixa economicamente privilegiadada população. Outros exemplos são a

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indústria do vestuário, onde até roupas debebês são confeccionadas no tamanhoGGG, e carrinhos de passeio e cadeirasmais largas e resistentes (GALVÃO,2006b).

Bins Ely e Dischinger (1999, apudGERENTE; BINS ELY, 2004) afirmam que aacessibilidade tem por finalidade propor-cionar segurança, igualdade e independên-cia, diminuindo dificuldades e permitindoparticipação igualitária, ou seja, uma vidamais próxima do considerado normal. OCentro de Design Universal daUniversidade Estadual da Carolina do Norte(EUA) desenvolveu sete princípios paradeterminar e garantir usabilidade e acessi-bilidade de produtos, ambientes e sis-temas: uso eqüitativo; flexibilidade no uso;uso simples e intuitivo; informação percep-tível; tolerância ao erro; baixo esforço físi-co; e tamanho e espaço adequados paraacesso e uso (STORY et al., 1998).

É importante que se indique queprodutos fabricados a partir desses con-ceitos não devem ser apenas resistentes aopeso e ajustáveis na largura, mas tambémpermitir alternância de posições do corpo,de forma a não exercer compressões prej-udiciais da circulação sanguínea, oferecen-do design seguro e compatível às necessi-dades das pessoas como um todo (BUCI-CH; NEGRINI, 2002); além disso, devemapresentar-se confortáveis e eficientes,esteticamente agradáveis e com preçoacessível à maioria das pessoas, pois docontrário não podem se enquadrar na cat-egoria de produtos acessíveis e com boausabilidade.

A partir do que foi discorrido acercada situação atual dos obesos frente àusabilidade e acessibilidade de produtos eserviços, e do que tem se apresentado nomercado para este público, verifica-se quehá inadequação e uma possível soluçãoseria desenvolver, primeiramente, maisestudos de antropometria de obesos paraconhecimento da real condição física, comconhecimento da porcentagem brasileiraem cada grau de obesidade, viabilizando adisponibilização adequada de assentos emlocais públicos e produção de produtos em

geral com dimensionamentos proporcionaisà real situação, possibilitando na seqüênciaa atualização da norma apresentada e cri-ação de uma específica.

DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há uma infinidade de produtosimpróprios para os obesos, o que levaindústrias a investirem nesse segmento demercado bastante lucrativo, conforme jáapresentado, mas não há estudos quecomprovem a eficiência desses produtos eequipamentos produzidos. Considerandoque não há norma técnica específica queregulamente padrões de tamanho especifi-camente para esses indivíduos, os produtosestão sendo fabricados sem quaisquercritérios, podendo causar transtornos aoseu público alvo.

É preciso que os produtos e equipa-mentos sejam adequados a essa grandeparcela da população, pois, apesar de serum problema de saúde pública que precisaser resolvido, a solução não se dará emcurto prazo, nem tão pouco é de simplesresolução, e os indivíduos que nela seencontram não podem esperar.

Deve-se pensar o obeso como ummembro capaz da sociedade, com diferen-ciais físicos que precisam ser respeitados,afinal é um indivíduo que consome, queproduz através de seu trabalho e quecumpre com todas as suas obrigações soci-ais como todo mundo e, portanto, tem odireito de ter suas necessidades e anseiossupridos de forma igualitária, ainda quepara isso sejam necessárias certas adap-tações específicas em determinadas situ-ações. O posto de trabalho ocupado por umobeso, por exemplo, deve permitir ou facil-itar o desenvolvimento de suas habilidadese capacidades individuais.

Também é de fundamentalimportância vencer o preconceito e a seg-regação atuais e começar a desenvolverprodutos que incluam indivíduos obesos,considerando que ninguém está livre dedesenvolver esse problema ou ter ummembro de sua família acometido pelo

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mesmo, e que ninguém se encontra nessacondição porque quer ou porque não seimporta. A construção de um ambiente ple-namente acessível a esses indivíduos tam-bém não deve ser encarada como um estí-mulo à doença, mas uma garantia de mel-hor qualidade de vida e conforto psíquico.

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Valter Luís Barbosa 1

Antônio Fernandes Nascimento Júnior 2

BARBOSA, V. L. e NASCIMENTO JÚNIOR, A. F. Opensamento ecológico como parte da reflexãopara uma discussão sócio-ambiental. RevistaAssentamentos Humanos, Marília, v8, nº1, p75-87, 2006.

RESUMO

Este artigo procurarámostrar a evolução do pensamento ecológi-co, suas principais vertentes que levaram àdiscussões a respeito da questão ambientalnecessárias para o entendimento da prob-lemática sócio-ambiental.

ABSTRACT

This article will show the evo-lution of the environment thought, yourmain followers that will take to discussionabout the environment question importantto the knowledge the social-environmentimplication.

A proposta de criar o Centro deIntegrO ser humano, através da sua cul-tura, reproduz o seu habitat numa lógicaproporcionada pela razão que vai transfor-mando o espaço físico em social, modifi-cando assim o significado da natureza parasi mesmo ao apropriar-se dela como mer-cadoria inesgotável sem se preocupar coma preservação do ambiente.

Dessa forma, o processo dedegradação ambiental acelerou-se e trouxeimplicações sociais para o homem, levan-do-o a procurar soluções para a pro-blemática sócio-ambiental. O equilíbrio da

1 Geógrafo, Mestre em Planejamento Urbano, Doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar.

2 Professor Assistente Doutor da Área de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional: Assentamentos Humanos – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação – UNESP, Campus de Bauru-SP.

O PENSAMENTO ECOLÓGICO COMO PARTE DAREFLEXÃO PARA UMA DISCUSSÃO

SÓCIO-AMBIENTAL

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biodiversidade, a finitude dos recursos nat-urais e a sustentabilidade do ecossistematornaram-se os assuntos prioritários dasagendas, debates e conferências mundiais.

IMPLANTAÇÃO

Com a modernização da sociedade,calcada no processo de industrialização, ohomem aperfeiçoou as técnicas de domi-nação da natureza, produzindo a suahistória. Pensando num projeto de desen-volvimento e num crescimento econômico,o homem aumentou o seu conhecimentodos fenômenos naturais e acelerou a apro-priação do ambiente, tornando-o objeto deexploração, contribuindo de forma substan-cial para a degradação da natureza e deseu próprio desequilíbrio.

Segundo CARLOS,

A relaçãohomem-natureza, na per-spectiva histórica, coloca-nosdiante de um duplo proces-so: a naturalização dohomem/humanização danatureza. Artificialmentepensa-se hoje que a sepa-ração homem-natureza é umfato indiscutível. O que nãopassa de uma simplificação:é bem verdade que asociedade supre suas neces-sidades a partir de produtoscada vez mais industrializa-dos – objetos humanos, nãomais imediatamente natu-rais, pois a natureza deixa deestar diretamente no cotidi-ano do homem (CARLOS,1994 p.76).

Por meio da técnica, o homem man-teve a sua inter-relação com a natureza,com o mundo abiótico e com outros seresvivos, ampliando neste sentido os seusconhecimentos a respeito de determinadoslocais. As formas como se estabeleceramas relações técnicas da sociedade e o seuambiente não deveriam ser esquecidas

nem a necessidade de se respeitar às leisfísico-químicas e biológicas, do contrário,as relações sociais e as técnicas, como pro-duto dialético, podem produzir diferentesresultados, ora desenvolvendo-os, ora tor-nando-os mais agudos.

Segundo FOLADORI,

As relaçõestécnicas são aquelas que oser humano estabelece comos outros seres vivos e com omeio abiótico no processo deprodução de sua vida; asrelações sociais são aquelasque se estabelecem entre osseres humanos para omesmo fim (FOLADORI,2001, p.17).

É com este jogo dialético entrerelações sociais e a técnica, que asociedade e o seu ambiente vão sendo con-struídos, criando resultados, orafavoráveis, ora desfavoráveis.

FOLADORI explica ainda que:

A revoluçãomais importante operadacom o surgimento do gêneroHomo não foi a fabricação deinstrumentos, mas a conse-qüência que isso trouxe paraas relações entre con-gêneres. A regulação dasrelações entre congêneres serealizou cada vez mais combase na distribuição decoisas matérias e cada vezmenos a partir de leis biológ-icas. A história das relaçõessociais de produção mostramúltiplas formas de dis-tribuição dos meios de pro-dução, restringindo, segundoo caso, o acesso de uns eoutros grupos sociais e esta-belecendo assim relaçõesparticulares de dependência,hierarquia e exploração. Comisso, as relações sociais

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comandaram as relações téc-nicas e, daí, o comportamen-to com o meio ambiente emgeral (FOLADORI, 2001,p.85).

Os problemas ambientaiscomeçaram a aparecer: espécies animaissendo dizimadas, florestas inteiras sendodestruídas, montanhas de espumas nave-gando pelos rios, pragas desconhecidastomando conta das plantações, temperat-uras e estações se descaracterizando.

A civilização, agora, industrializadase (des) naturaliza, a humanidade se dis-tancia do conceito de biodiversidade. Osfrutos do capitalismo desenfreado sãoinviáveis para um desenvolvimento emconsonância com os recursos naturais,mantendo a sua expansão e re-produção.

O caos ambiental se instalou e urgiua necessidade de estudos e de pesquisasque viessem alertar aos habitantes doplaneta quanto aos perigos destas atitudesinconseqüentes. Aumenta a preocupaçãodos cientistas com a questão ecológica e asua conservação.

Vários movimentos em prol do meioambiente, o surgimento de “PartidosVerdes” com um discurso ambientalista,organizações não-governamentais ouempresas apareceram na sociedade paraquestionar as práticas “modernas” deexploração dos recursos naturais e parabuscar o desenvolvimento sustentável.

Os movimentos verdes e, de modogeral, as principais lutas ecológicas inicia-ram-se nos Estados Unidos da América(EUA). Mas para muitos, foram nos anos 70com a crise do petróleo, é que aparecerammais publicações de literaturas abordandoassuntos envolvendo os problemas ambi-entais como: Nosso Futuro Comum (1987),Uma Só Terra (1972), os Relatórios da ONUe Os Limites do Crescimento (1972).

Assim, as questões ecológicas foramcrescendo para além dos partidos políticosde esquerda e de direita, ou seja, das suasideologias. Também na Europa, em l968,começou um novo enfoque para a ecologia.

Para SILVA (1978) a ciência ecológ-

ica é um fato político, influenciado pelasciências exatas sempre em conjunção comuma escola filosófica apesar dos ecologis-tas “puristas” não aceitarem o fator políticocomo parte integrante das análises naecologia a qual interessa a toda asociedade e visa à transformação radical daordem social, política e econômica nomundo contemporâneo.

O emprego da palavra ecologia demaneira mais prescritiva é uma variaçãosutil. Até nos anos 90 confundia-se otermo, produzindo uma relação descon-fortável ao se estabelecer uma divisãoentre os que a percebiam como ciência e osque misturavam as descobertas científicascom grandes doses de teoria normativa(VICENT, 1995).

O termo “ecologismo” vem do gregoOIKOS (que significa habitat) e LOGOS(que significa ciência, argumento). Oprimeiro a usar a palavra ecologia foiHaeckel (1860), zoólogo e filósofo alemão,que estudou as relações entre os organis-mos e o seu meio ambiente cuja análiselevou à compreensão da chamada teia davida onde o primeiro cumpre o seu papel nacadeia alimentar e o outro no processo detransformação da natureza através de suaevolução social, direcionando um novoobjetivo para a ecologia que seria esclare-cer o vínculo homem-ambiente, tratandoem sua complexidade o aspecto biológico esocial.

Entretanto, é necessário compreen-der que as bases científicas da ecologia deHaeckel ainda estão relacionadas à idéia deecossistema do modelo darwiniano, isto é,do evolucionismo, da visão sistêmica clás-sica baseada no princípio de “economia” danatureza vinda do dinamismo da relaçãodos seres vivos entre si e com o seu ambi-ente físico e natural.

Para tanto, busca-se ir além pelasexplicações de natureza epistemológica emetodológica das ideologias para a com-preensão do homem com sua natureza eidentificar que o mundo da ciência e danatureza não pode ser visto como uma uti-lização técnica (NASCIMENTO JUNIOR,1996).

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Segundo ODUM,

A ecologia é oestudo do “lugar onde sevive”, com ênfase sobre “atotalidade ou padrão derelações entre os organismose o seu ambiente”; a civiliza-ção depende da natureza.Mesmo com o avanço da tec-nologia, necessita dos ciclosvitais para a sua manutençãocomo é o caso do ciclo daágua e do ar (ODUM , 1988,p.1).

Os ecologistas vêm denunciandocom o passar do tempo as diversas formasdo pensamento e as diferentes concepções.Eles o fazem consoante os valores e princí-pios de seus detratores (GONÇALVES,1996). Por isso, as discussões das relaçõesentre homem-natureza e suas contradiçõesnão tem sido tarefa de uma única ciênciaexplicar e entender as suas causas, masenvolve seus interesses em muitos aspec-tos.

Várias correntes e pensamentospolíticos feitos por ecologistas, em suamaioria, a preocupação estava centrada napreservação associada ao desenvolvimentoindustrial: como o homem e os ecossis-temas, na questão da sustentabilidade doambiente, são atingidos por esse conceitode mundo nas suas diferentes formas deconstrução e do pensamento da sociedade.

A ecologia desde os tempos maisremotos como nas sociedades primitivas,voltava-se para a compreensão do ambi-ente natural, para o estudo dos animais edos vegetais a partir do instante em queoutras ciências como a Geografia, aEngenharia do Meio Ambiente, aSociologia, a Arquitetura e a Psicologia têmprocurado analisar a cidade e sua relaçãocom seus respectivos objetos.

A diferença observada no campodas ciências biológicas, físicas ou naturaiscom as humanas e sociais tende a aumen-tar a dificuldade de compreender os fenô-menos em sua totalidade. A fragmentação

ainda é posta pelos estudos da Geografiafísica e a humana.

De todo modo, o pensamento arespeito da ecologia passa a ter umafunção interdisciplinar ao envolver váriasciências: a Biologia, a Geografia, oUrbanismo e a Economia. É um novoenfoque dado às ciências sociais e aosestudos ecológicos, métodos que venhamdas ciências naturais para diminuir acerteza social e a política na análise (FOL-LARI, 1993).

Segundo MENDONÇA,

Enquanto ciên-cia que tem por objeto deestudo as relações entre ohomem e o meio, numa trocasimultânea de influências, ageografia se encontra preocu-pada com a compreensão dosaspectos naturais do planetatanto em suas especificidadesquanto no seu inter-rela-cionamento e configuraçãogeral; também a sociedade,parte integrante deste inter-relacionamento, assumeimportantíssimo papel nocontexto geográfico, dividindoigualmente com o quadro físi-co do planeta o rol de preocu-pações desta ciência (MEN-DONÇA, 1992, p. 17).

Contudo, em virtude das condiçõesprecárias ambientais, desenvolveu-se naEuropa, a idéia de uma vida mais simplesconforme o modelo das antigas comu-nidades camponesas que produziam para asua própria subsistência sendo umatendência futurista, alarmante e ilusóriaque espalhava incertezas quanto ao fim doplaneta, prevendo-se a superpopulaçãocom a insuficiência da água e dos alimen-tos para alimentá-la. Profetizava-se tam-bém a guerra nuclear.

Este modelo sugerido por umasociedade mais estável no ambiente rural,chamado “o retorno ao primitivo”, foi con-trário ao desenvolvimento da ciência e da

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tecnologia. Outros temas tornaram-secomuns entre os ecologistas, compartilhan-do uma mesma causa, como por exemplo,a luta contra a energia atômica, as centraisnucleares e o crescimento econômicodesenfreado.

Duas propostas diferentes no quetange ao pensamento ecológico aparecer-am na época: a primeira foi aquela em quese dispunha a natureza como um bem aserviço do homem e como um valor instru-mental à medida que o mesmo necessi-tasse. A segunda foi a visão antropocêntri-ca de mundo: a natureza só existiriaporque o homem lhe dava um significado,atribuindo-lhe uma importância.

Em outro paradigma, estavam ascorrentes ecológicas envolvidas com aholística onde o homem fazia parte de umtodo, não sendo o mais importante, massim, a ecosfera a qual não deveria serusada aos fins humanos: uma visãoecocêntrica. Buscava-se uma mudançametafísica na consciência ecológicahumana.

Havia ainda a Eco-Filosofia ou o“expansionista moral” em favor da liber-tação dos direitos dos animais.Diferentemente da corrente “holística” queprocurava o valor além dos homens e dosanimais na tentativa de explicar os proble-mas ecológicos do momento.

Em seguida, formou-se um grupo depessoas que não concordava com adepredação ambiental, mas também nãoagia para interromper os estragos.Conhecido como “capitalismo verde” prop-unha-se a manutenção do “status quo” dosistema econômico capitalista onde per-maneceria a necessidade de continuar, deproduzir e de consumir sem levar em con-sideração as contradições de classes exis-tentes na sociedade (WALDMAN, 1992).

Para WALDMAN,

Atrelado ao“status quo”, o capitalismoverde considera possíveldeter o processo de devas-tação prescindindo (oumesmo antagonizando) os

demais movimentos popu-lares. A “defesa do meioambiente” ganha conteúdoabsolutamente inodoro einofensivo, perfeitamenteassimilável pelos estratosdominantes. Propondo nomáximo medidas paliativas epontuais que são evidentessua despreocupação comuma reformulação da relaçãohomem/natureza, pois emseu cerne estão interessessecularmente predatórios(WALDMAN, 1992, p.30).

A ideologia de preservação semalteração nas estruturas econômicas fioubem clara nas formas de se pensar omundo e na visão dos que professavam o“capitalismo verde”, ao contrário dos outrostipos de conduta ecológica mais crítica e detransformação do ambiente pelas lutaspopulares de caráter classista e social.

Criou-se a ilusão de que o problemaambiental era externo ao homem, deixan-do de lado a compreensão da crise do sis-tema como um todo. Para a classe burgue-sa, o “capitalismo verde” foi a forma maiscômoda de se “envolver” com a ecologia.

Assim, SANTOS tece o seguintecomentário:

Com a pre-sença do Homem sobre aTerra, a Natureza está sem-pre sendo redescoberta desdeo fim de sua História Natural ea criação da Natureza Socialao desencantamento doMundo com a passagem deuma ordem vital a umaordem racional. Mas agora,quando o natural cede lugarao artefato e a racionalidadetriunfante se revela atravésda natureza instrumentaliza-da, esta, portanto domestica-da, nos é apresentada comosobrenatural (SANTOS, 1993,p.15-16).

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Havia também o movimento ecológi-co mais extremista e violento. Provinha dosEstados Unidos e muitos absurdos forampropostos, por exemplo: a propagação dasdoenças como a AIDS e a reintrodução devírus no meio ambiente, esperando que anatureza pudesse se reconstituir. Na época,as pessoas que eram contra ao processo deindustrialização eram rotuladas como gru-pos eco-facistas.

A ecologia tem chamado a atençãoda sociedade mundial para as condições aqual se encontra envolvido todo o planeta ea utilização dos seus recursos. Da escassezaté as formas de uso e apropriação danatureza são temas que produzem difer-entes ideologias, misticismos, racismos ereligiosidades com propostas que tendem aobscurecer e tornar mais difusa e aparentea discussão, diminuindo o grau de consci-entização da sociedade e de todos os seg-mentos envolvidos.

Para VICENT,

A ecologiatambém tende a combinarexcepcionalmente o respeitopela autonomia local dascomunidades com uma men-sagem mundial. Além disso,todas as escolas ecológicaslevantam questões quantoaos limites do crescimentoeconômico em sociedadesindustrializadas. Isso, porsua vez, leva à reflexõescríticas acerca dos padrõesde consumo, da produção naindústria e na agricultura, douso da energia e da naturezada tecnologia, do conceito detrabalho, dos padrõesdemográficos e, finalmente,do crescimento populacional(VICENT, 1995, p..224).

Entretanto, a questãoecológica encontra-se ainda permeada pormitos que tem como proposta a proteçãoda natureza e esta sendo a única salvaçãopara a humanidade.

Segundo DIEGUES,

Quando se falaem mito moderno, refere-sea um conjunto de represen-tações existentes entresetores importantes do con-servacionismo ambiental denosso tempo, portador deuma concepção biocêntricadas relaçõeshomem/natureza. Esse mitotem raízes profundas nasgrandes religiões, sobretudona cristã, e está associado àidéia do paraíso perdido(DIEGUES, 2001, p.53).

Em época de globalização, damundialização do capital em todos os pon-tos e lugares do planeta, o ambientetornou-se refém do sistema econômicoporque a natureza agora não é mais natu-ral, mas é aquela produzida pelas açõeshumanas historicamente concretizadas.

A situação se agrava na medida emque os governos têm sido omissos em suaspropostas para reverter o quadro dadestruição da natureza e produzirrespostas adequadas para os problemasambientais.

Para os adeptos dos movimentosem prol da conservação dos ecossistemas,o entendimento dos processos históricosocorridos em determinado lugar não éimportante, porém os interesses do capitalprivado têm sobressaído na resolução dosproblemas ecológicos integrados àsintenções das leis do próprio sistemaeconômico que irá regular a sociedade.Todavia, com projetos apoiados tecnologi-camente, surgirão alternativas realmenteeficazes (FOLLARI, 1993).

Segundo SANTANA,

O discurso emdefesa do meio ambienteestá sujeito a alguns equívo-cos freqüentemente associa-dos a posturas isoladas dahistória, isto é, que negligen-

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ciam o passado. O processoevolutivo do relacionamentohomem/natureza é transpar-ente quando expõe que aseparação entre eles implicaa reivindicação de um equi-líbrio perdido. De fato, gener-aliza-se o esquecimento deque se vive em um entornoconstruído. Não obstante achamada natureza mágica enatureza racional ainda coex-istirem é válido afirmar queuma segunda natureza sub-stituiu o antigo espaço natu-ral (SANTANA, 1996, p.49).

Entretanto, é a partir destas con-cepções anteriormente comentadas quevão se estabelecer vários movimentos con-trários à destruição da natureza na defesada intocabilidade do ambiente de um mod-elo conservacionista das áreas naturais.

A DISCUSSÃO MUNDIAL:CONFERÊNCIAS E AGENDASAMBIENTAIS

A partir do momento em que osecologistas, tanto na Europa Ocidentalcomo nos Estados Unidos e no Canadá seatentaram para as questões ambientais, osoutros países também seguiram estamesma premissa, dando lugar a uma novaconcepção de mundo onde o cidadãocomeça a pressionar os governos para queo mesmo externasse em seu discurso noParlamento, ações voltadas para a criaçãode leis relacionadas ao meio ambiente.

Várias categorias sociais se organi-zaram na tentativa de minimizar o impactona natureza. O capital, por sua vez, passoua apoiar os movimentos ecológicos, visan-do sempre ao seu interesse econômico e àpolitização dos mesmos produzidos emparte pela inserção e aprofundamento dasquestões sociais e econômicas.

Sendo assim, acabaram por deslo-car o eixo dos setores de inspiração essen-cialmente existenciais e interesses ligados

aos grandes capitalistas para segmentosque procuraram encontrar um referencial àmelhoria das questões sociais e ambien-tais.

Foi através da Conferência deEstocolmo em 1972 que o mundo passou adiscutir as propostas de uma nova políticae uma consciência ecológica para ahumanidade e não apenas o crescimentoeconômico, pois começa a perceber a fini-tude dos recursos naturais e passa a ques-tionar as diversas correntes do pensamen-to, desde aquelas como a cartesiana queenvolve a natureza como um simples recur-so, até a corrente marxista por esta darênfase à teoria do valor-trabalho e colocara natureza como um recurso disponívelpara sempre.

Os movimentos ecológicos e pacifis-tas propuseram reflexões e ações coletivas(VIOLA, 1987) que ultrapassaram as fron-teiras de classe (profissionais de alta qual-ificação, estudantes, camponeses, “colarin-hos brancos”, funcionários públicos,operários versus empresários, executivos),sexo (homens e mulheres), raça (minoriasétnicas) e idade (jovens estudantes, cri-anças e até aposentados).

A Conferência de Estocolmo em1972 foi importante para a busca desoluções técnicas necessárias à questãodas desigualdades sociais e econômicasmundiais (RODRIGUES, 1993, p.119). Foi oprimeiro passo para uma reflexão interna-cional ligada ao desenvolvimento, ao equi-líbrio do planeta e à busca de soluções parareverter o quadro de comprometimentocom a degradação ambiental e o futuro dasociedade.

Apesar do evento da Conferência deEstocolmo ter ocorrido na Suécia com osrepresentantes dos países mais ricos, foiválido para enfocar os caminhos que sepretendiam alcançar nos cuidados com aTerra da perspectiva preservacionista coma preocupação do crescimento econômico edos limites ecológicos para a idéia de con-servacionismo, do eco-desenvolvimento eda temática social envolvida.

Em 1983 foi criada a - ComissãoMundial sobre o Meio Ambiente e

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Desenvolvimento. Esta comissão tevecomo objetivos o seguinte:

1. reexaminar as questões críticasrelativas ao meio ambiente e desenvolvi-mento;

2. formular propostas realistas, sug-erindo novas formas de cooperação inter-nacional, orientando políticas e ações nosentido de mudanças necessárias;

3. dar à sociedade uma compreen-são maior desses problemas a partir deempresas, governos e entidades de modogeral.

Nesta Comissão Mundial, ampliou-se a idéia de “desenvolvimento sustentáv-el” que passou a fazer parte da pauta dasdiscussões tanto dos países desenvolvidosquanto dos subdesenvolvidos como se podeverificar pelo envolvimento de todos nestabatalha para a conservação da vida noplaneta.

A partir do Relatório Brundtland em1987, o meio científico se propôs a avançarnas questões entre o desenvolvimento e aracionalidade econômica com o uso dosrecursos naturais do planeta e entre osdiversos organismos internacionais eOrganizações Não-Governamentais –ONG’s.

Na Conferência de l989, aAssembléia Geral das Nações Unidas esta-beleceu um encontro mundial com os país-es desenvolvidos e alguns países do mundoeconomicamente dependentes, industrial-izados ou não para obter estratégias dereversão dos processos de degradaçãoambiental. Dos documentos assinados paraa preservação e desenvolvimento susten-tável está a Agenda 21 que estabeleceunormas para se evitar o esgotamento dosrecursos naturais de maneira predatória.

A Agenda 21 teve como objetivomudar, a princípio, em países desenvolvi-dos, o nível de consumo e de produção,estabelecendo políticas adequadas dedesenvolvimento, evitando desta forma adegradação ambiental no mundo. Comoparte de suas propostas, havia a análise daquestão urbana quanto aos assentamentoshumanos e aos problemas ambientais emrelação ao crescimento das cidades e sua

sustentabilidade, propondo metas para aspolíticas de habitação, saneamento e douso das novas tecnologias.

Este documento, a Agenda 21, fir-mou uma mudança significativa às modali-dades de consumo da indústria, dos gover-nos, das famílias e da sociedade, propondoalterações a partir do uso eficiente dosrecursos naturais, dos recursos renováveis,da diminuição dos dejetos e do fortaleci-mento dos valores que apoiassem o con-sumo ecológico e sustentável (FRANCO,2001).

Na década de 90, o mundo voltou arepensar o seu modelo de desenvolvimen-to e a questionar suas formas de utilizaçãodos recursos oferecidos pela natureza e ofim dado pelo homem às reservas flo-restais, aos mananciais, à utilização dosolo, ao destino do lixo urbano, às áreasinsalubres e suas conseqüências para ahumanidade.

Uma dessas reflexões a respeito doscaminhos a serem trilhados pela sociedademundial se deu na cidade do Rio de Janeiro,chamada de Conferência de Cúpula daTerra, conhecida como Rio-92, reunindomais de 102 chefes de Estado e atraindomais de quinze mil pessoas.

A Rio-92, evento oficial das NaçõesUnidas, foi somente uma reunião formal.Na verdade, tinha como proposta a dis-cussão do modelo político vigente, isto é,aquele em que as divisões econômicas esociais entre os países tendem a aprofun-dar a pobreza, a fome, a doença e o anal-fabetismo, deteriorando os ecossistemasde que depende a vida na terra.

No dizer do secretário geral da con-ferência, Maurice Strong, a colaboraçãoentre os países é fundamental, sendo que,jamais será possível sem a inter-relação ea parceria global atingir o desenvolvimentosustentável (FRANCO, 2001).

Dos países que foram contrários aqualquer medida de sustentabilidade, estãoos Estados Unidos uma vez que seus inter-esses põem em risco todo esforço de coop-eração entre as nações para a melhoria daqualidade de vida no planeta e as formasde utilização dos recursos naturais e da

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preservação dos grandes ecossistemas.Um dos últimos encontros realiza-

dos no início do mês de abril em NovaIorque não conseguiu chegar a um consen-so para uma medida única e certeira. OsEstados Unidos resistiram em comprome-ter-se com alguma atitude que levasse aum acordo comum. Japão e Alemanha sug-erem a criação de um Fundo deDesenvolvimento Ambiental (ZYLBERSZTA-JN, 1992).

A mais recente reunião a respeitodas questões ambientais no planeta ocor-reu na cidade de Johanesburgo (África doSul) de 26 de agosto a 04 de setembro de2002, recebendo o nome de Rio + 10 emque estiveram presentes vários represen-tantes do mundo, como das Nações Unidas,ONG’s, instituições financeiras de váriasordens e a sociedade que de uma forma oude outra se viram envolvidas com esteprocesso.

Em Johanesburgo, procurou-semostrar não somente os problemas deordem físico-natural, mas também asquestões de ordem social, política eeconômica desde 1992 (Agenda 21) até2002, em relação às estratégias de desen-volvimento, os desafios da sustentabilidadeem países mais pobres e das condições demiserabilidade de parte da sociedademundial.

Após uma década da Conferência dasNações Unidas referente ao Meio Ambiente eDesenvolvimento Mundial realizada no Rio deJaneiro procurou-se avaliar na África do Sulas condições existentes hoje e os compro-missos e objetivos feitos durante a Agenda21 quanto aos problemas ambientais viven-ciados no planeta, como a degradação dasflorestas, as mudanças climáticas, a dificul-dade de se obter a água potável, as diversasformas de produzir energia e como se utilizaros recursos dos oceanos.

Para tanto, discutiram-se os camin-hos da economia mundial, a busca denovas tecnologias e como ficariam os país-es mais pobres diante do mundo globaliza-do e da internacionalização das economias.Acrescentaram-se também os problemasde natureza ecológica e social bem como os

direitos da mulher, além de se mostrar asexperiências que deram certo, ou melhor,foram cumpridas diante dos acordos pro-postos.

Cabe mencionar ainda, o sistema detransporte e o seu consumo energético, osprogramas necessários para a promoção denovas tecnologias mais eficientes na buscade alternativas renováveis de energia, taiscomo: a biomassa, a solar, a hídrica e aeólica; a necessidade de se aumentar oreflorestamento e de se desenvolver umamudança de estratégias para melhorar aspolíticas públicas.

A miséria, as taxas de mortalidadeinfantil, o combate às doenças como aAIDS e a malária, o crescimento vegetativodos países subdesenvolvidos, a falta de tra-balho e as condições subumanas em que amaioria da sociedade mundial está sub-metida, não estão solucionados pelahumanidade.

O advento das aglomerações nascidades trouxe a necessidade de se discutiros problemas urbanos entre 19l5 até 1940por professores e alunos da Escola deChicago nos EUA.

A construção do pensamentoecológico feito através dos cientistas daEscola de Chicago trouxe uma contribuiçãopara as discussões posteriores de váriastendências conceituais no que tange aosassuntos envolvendo as análises dos ambi-entes urbanos.

Como característica principal dasteorias desenvolvidas na Escola de Chicagotem-se através do estudo empírico, cujapreocupação estava em resolver os dilemassociais a partir do conhecimento das situ-ações concretas vivenciadas no meiourbano. A importância destes sociólogos foia originalidade na pesquisa, usando méto-dos científicos, explorando várias fontes deobservação para as suas análises.

Este grupo de pesquisadores daEscola de Chicago contribuiu para o desen-volvimento de um modelo científico, funda-mentado em idéias deterministas,baseadas em princípios da biologia em queos mais aptos e capazes passam a seadaptarem no ambiente.

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Para os pesquisadores da Escola deChicago, o mesmo iria ocorrer na cidade,pois as populações mais preparadas ocu-pariam os melhores lugares no espaçourbano. Embora houvesse diferenças entreseus pares nas formas de organização dopensamento, seria necessário fazer oplanejamento da cidade evitando o seucrescimento desordenado bem como osproblemas relacionados à violência, àmigração, ao racismo e às condições devida da população.

Ainda que os pesquisadores daEscola de Chicago tivessem enfatizado osassuntos como criminalidade, delinqüênciae os entraves étnicos, as análises foramessenciais para outros estudos sociológicosa respeito do habitat e das relações sociaisem diversas cidades e comunidades, queforam escolhidas para o levantamento dedados. Entre os principais expoentes quetrabalharam nas pesquisas em áreasurbanas estão Robert Park, Ernest W.Burgess e Roderick D. Mackenzie.

Os sociólogos da Escola de Chicagomostraram as observações feitas a respeitodas condições ecológicas nas cidades,envolvendo-se nas relações do homem como seu ambiente e suas implicações nasociedade (Ecologia Humana). Porém, asanálises foram feitas excluindo os conflitosdas diferentes classes sociais.

Logo, as concepções trazidas pelaBiologia e pela teoria da evolução e seleçãonatural das espécies pelo cientista CharlesDarwin com base na competição entre osanimais para manter a sua sobrevivência,passaram a ser a fundamentação teórica daecologia e da Ecologia Humana. Dentrodestas abordagens, a organização social eo meio ambiente são frutos das formas deassentamentos humanos.

Na Escola de Chicago, dois assuntosprincipais se destacaram: a primeira, volta-da para as características comportamen-tais, partindo-se da interação humana e dadistribuição demográfica da população nacidade, tendo como influência os fatoresbehavioristas na explicação dos padrõesespaciais. A segunda, dando ênfase no pós-guerra à visão sistêmica dos ajustamentos

da sociedade ao meio ambiente, fruto dacompetição econômica existente.

As idéias propostas pelos principaisautores da Escola de Chicago passaram asofrer várias críticas, inclusive, por autoresque defendiam uma postura dialética quepudesse ser entendida como a fundamen-tação teórica e filosófica contrária àsanálises positivistas baseadas nas teoriasde Augusto Comte (1798 – 1857).

O Positivismo defendia, através dométodo científico, a principal forma de sechegar à totalidade das questões levan-tadas pelo homem. Tinha como pressupos-to a racionalidade empírica como métododo conhecimento máximo para o estudo dasociedade, opondo-se à metafísica e àssuas concepções abstratas, que perdiam asua essência. A idéia de “física social”passa a ser chamada de Sociologia.

Para Park, a natureza era concebidacomo a relação do meio biótico e o cultur-al. Baseado na competição darwinistasocial, os indivíduos mais aptos, mais tal-entosos ocupariam os melhores mercados.A cidade passa a definir os limites entre osmais capacitados para cumprir suasfunções dentro deste modelo na divisão dotrabalho, associando-se aos interesses eco-nomicistas, nos quais a liberdade de escol-ha os faz cooperarem ou competirem entresi.

Portanto, criou-se uma ordem moralpara controlar a conduta pessoal, estabele-cendo sentimentos comuns específicos acada cultura. Na explicação de Park, tantoa dimensão cultural como o nível bióticoestava ligado aos aspectos sócio-biogêni-cos da interação humana e aos fatoreseconômicos na base de sustentação doespaço, dando maior importância para onível biótico (GOTTDIENER, 1993).

De acordo com GOTTDIENER,

No início dainvestigação na década de20, por exemplo, havia umclaro entendimento de que apesquisa concreta da cidaderevelaria a ação organizadade princípios formais de com-

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portamento humano. Issosignificava que os padrõesurbanos deveriam ser expli-cados pelo que Park denomi-nou natureza humana. Emessência, se isso tivesse sidoconcebido como uma influên-cia constante, não teria sidocapaz de explicar a variaçãoespacial observada nas difer-entes áreas da cidade(GOTTDIENER, 1993, p.37).

Para BURGESS a teoria do espaçodefendida pelos sociólogos da Escola deChicago firmava-se na noção de que o cen-tro da cidade determinava as ações em seuentorno. Quanto mais fosse a divisão dotrabalho, maior a competição espacial, cau-sando dois processos: centralização edescentralização, estabelecendo aschamadas zonas concêntricas.

GOTTDIENER explica que:

S e g u n d oBurgess, a cidade crescia porum processo dual de aglom-eração central e descentral-ização comercial, à medidaque surgiam novos negóciostanto em áreas marginaisquanto no distrito comercialcentral, a fim de satisfazer asnecessidades das atividadesfuncionalmente diferenciadasem toda a região em expan-são (GOTTDIENER, 1993,p.40).

Na distribuição da população, oecólogo também verifica as mesmasquestões econômicas por uma outra per-spectiva. O homem procura sempre equa-cionar suas posições numa comunidade,mantendo certo equilíbrio entre as forçascompetidoras. Assim, o espaço torna-serelativo na proporção em que há maiorimportância das forças, estas ganhando eperdendo.

O modelo inferido pelos sociólogosda Escola de Chicago tinha as seguintes

proposições que marcaram a EcologiaHumana: primeiro, em associar a cidadecomo uma unidade organizada externa-mente ao espaço onde a disputa existenteé produto dos impulsos biogênicos nãorelacionados aos entraves sociais e aoambiente construído; segundo, emdestacar que a organização espacial estavaligada aos efeitos da interação social, lem-brando das forças evolutivas destacadaspor Darwin para este contexto.

Por último, há a dificuldade dossociólogos da Escola de Chicago em recon-hecer os valores culturais que influencia-ram o processo de escolha da localizaçãodo espaço urbano que é fruto da com-petição econômica como critério predomi-nante na interação social. Na dialéticamarxista, indagava-se a ordem social e suaeconomia, pois suas diferenças na cidadesão inevitáveis em função da estrutura docapitalismo (CLARK, 1985).

Outro autor a questionar os princí-pios defendidos pelos sociólogos da Escolade Chicago, assim como, a teoria deBurgess é Castells. Este concluiu que osproblemas urbanos não eram de inte-gração, e sim, da gestão do sistema sociale do conjunto urbano (MARCONDES,1999).

Em suas análises, Castells explica opapel do Estado na intervenção dasociedade, indo além das relaçõeseconômicas, realçando a luta da classe tra-balhadora por meio da introdução de pes-soas, que tradicionalmente não estãointegradas no conflito contra os interessescapitalistas. Em seu principal livro, “AQuestão Urbana”, o autor dá ênfase para aanálise das estruturas e da suas práticasem seu processo dialético.

Para CASTELLS,

As combi-nações e transformaçõesentre os diferentes sistemase elementos da estruturafazem-se por intermédio daspráticas sociais, quer dizer,da ação dos homens, deter-minada por sua inserção par-

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ticular nos diferentes locaisda estrutura assim definida(CASTELLS, 1983, p.159).

Conforme Castells havia uma articu-lação entre estrutura urbana e a estruturasocial, culminando na transformação dosistema urbano bem como na modificaçãoda relação de força na luta de classes e naalteração no próprio poder do Estado.

Castells explica que embora osadeptos da Escola de Chicago analisassemas relações entre o homem e o meio, fazi-am essa mesma discussão a partir dasbases do funcionalismo presentes até hojenos debates em que está envolvida aquestão ambiental (MARCONDES, 1999).

Assim, o ambiente urbano como seobserva não é produto do meio físico, nat-ural, mas da construção de uma dada for-mação social, das condições históricas pro-duzidas pela sociedade através da suaestrutura econômica, política e ideológica.A cidade por sua vez é a expressão materi-al onde ocorre a acumulação do capital edas disparidades ocorridas na sociedade.

A separação homem-natureza tempromovido a simplificação no discursoecológico, pois há uma tendência a neu-tralizar as relações sociais e suas con-tradições em detrimento do meio natural, eeste, como objeto de apropriação dosgrandes empreendedores e investidores docapital, dificulta ainda mais a compreensãodos fatos, à medida que o problema denatureza física do ambiente é o “concreto”e as relações sociais o “abstrato”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A evolução do pensamento ecológi-co tornou-se importante para as discussõessobre as relações entre o homem e anatureza. Entretanto, há muito a seavançar do ponto de vista prático, no quese refere à preservação, à conservação doambiente e de modelos sustentáveis paraas cidades.

Deve-se considerar que as relaçõessociais desiguais existentes na sociedadeem seus diferentes níveis de escala: local,

regional e global fazem parte do processoque envolve a degradação sócio-ambientalno planeta.

Vários foram os pensadores quecontribuíram para as análises sobre obinômio homem-natureza desde as visõesnaturalistas e biologicistas as quais pos-suíam uma tendência mecanicista, comoaqueles que consideravam as relações declasse, envolvidas na lógica do capital, dassuas contradições e os que se utilizavam davisão holística para a explicação dasquestões ambientais.

De todo modo, os discursos sobre osproblemas sócio-ambientais têm envolvidonão somente os especialistas da área, mastambém o Estado, os governos locais, asorganizações não governamentais – ONG’se a sociedade como um todo.

A relação homem-natureza nãodeve servir como discurso político de umadeterminada sociedade ou apenas de umaclasse social defendendo suas ideologiaspara a manutenção de seus interesses,mas deve alertar a todos para as condiçõesexistentes na forma de organização destasociedade que pode colocar em risco osseus recursos naturais e pôr em “xeque” asobrevivência dos ecossistemas, da suacapacidade de suporte, contribuindo paraacelerar o grau de degradação sócio-ambi-ental no planeta.

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Valter Luís Barbosa 1

Antônio Fernandes Nascimento Júnior 2

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ABSTRACT

This work looks for an analy-sis to the environment question betweensociety, urban ecology and society; for this,this paper makes a discussion about wayappropriation of nature and utilization ofthe score of nature, like this yours implica-tion to bio-nature and to human.

Key Words: Urban Environment,Maitenance

1 Geógrafo, Mestre em Planejamento Urbano e Regional e Dr. em Ecologia e Recursos Naturais pela UniversidadeFederal de São Carlos – UFSCar.2 Professor Assistente Doutor da Área de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional: Assentamentos Humanos – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação – UNESP, Campus de Bauru - SP.

UMA REFLEXÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE AMBIENTE URBANO E SUSTENTABILIDADE

(2ª PARTE)

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1.3 – A CIDADE SUSTENTÁVEL

Na busca de saídas para o cresci-mento urbano, procura-se uma “harmonia”entre a preservação ambiental e a expan-são do crescimento econômico, evitando-seo desequilíbrio ecológico, essencialmente,nas áreas urbanas.

Quando se trata das adversidadesno urbano, a compreensão dos problemasambientais, inclusive nas cidades, estãoimbricadas no entendimento das causashumanas, estas fundamentais para umaação política alternativa (FOLADORI,2001).

Uma das soluções para a interaçãohomem x ambiente está no desenvolvi-mento sustentável das cidades uma vezque o esgotamento e a finitude dos recur-sos naturais passaram a preocupar asociedade.

O desenvolvimento pelo lucro imedi-ato, destruindo florestas inteiras, contami-nando os rios e tirando os recursos compráticas ultrapassadas é a causa da econo-mia caminhar velozmente para o lado con-trário à ecologia e à preservação.

De modo geral, as ações governa-mentais inviabilizam a preservação doambiente com as políticas adotadas que,muitas vezes, vão ao encontro dos inter-esses privados, ora através de leis brandas,ora com a conivência de projetos que alter-am profundamente os ecossistemasurbanos, aprovando projetos de naturezamuito mais política do que de preservaçãoambiental.

Surge a efetiva desvinculação daprodução capitalista com a degradação domeio, aparecendo, então, dificuldades parase recuperar os estragos causados como:processos erosivos, esgotamento doslençóis freáticos, derramamento de produ-tos químicos tóxicos, recuperação e reorga-nização das áreas urbanas.

A idéia de cidade sustentável estárelacionada com a qualidade de vida doindivíduo numa determinada sociedade.Qualidade de vida pode ser definida pelograu de prazer, pela satisfação e pelas real-izações alcançadas por uma pessoa

durante a sua existência.Se as mudanças de valores são

necessárias para o futuro sustentável,deve-se também levar em consideração asidéias do tipo cornucopianas, ou seja, emque se resolvem os problemas dahumanidade pela tecnologia e pela visãomais romântica ao envolver os padrões deconsumo e o modo de vida das pessoaspara que possam ser reformulados (FRAN-CO, 2001).

De modo geral, a noção de desen-volvimento sustentável, explícito ou nãoem ações do governo federal, estadual emunicipal veio com base no relatório deBrundtland feito pela Comissão Mundialsobre o Meio Ambiente e Desenvolvimentoem 1987 intitulado “Our commom future”(“Nosso futuro comum”), redigido nosEstados Unidos, numa tentativa de sefazer uma Agenda Global para a sistemati-zação de uma mudança na utilização dosrecursos naturais.

A definição de “necessidade” e de“limite” começou a ser reformulada e abusca por estratégias de desenvolvimentosustentável tornou-se cada vez mais discu-tida pela humanidade.

A idéia de sustentabilidade para orelatório “Nosso Futuro Comum” passou aser definida como “aquela que atende àsnecessidades do presente sem comprome-ter a possibilidade de as gerações futurasatenderem a suas próprias carências”. (inALMEIDA JUNIOR, 1993, p.292).

Assim, ALMEIDA JUNIOR comenta:

A década de 90começa com um mundo semgrandes barreiras ideológicasentre o ocidente e o oriente,e mais plenamente conscien-tizado sobre os cenários deecocatástrofe. Mas é ummundo ainda assolado porcrescentes indicadores demiséria, marginalizaçãosocial, falência econômica,disparidade psicossocial ecultural, da degradaçãoambiental, violência, cor-

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rupção e discórdia (ALMEIDAJUNIOR, 1993, p.292).

Em junho de 1992, na cidade do Riode Janeiro, foi realizada uma ConferênciaInternacional a respeito do meio ambientee do desenvolvimento urbano. Como resul-tado da Conferência, foi elaborado um pro-grama intitulado “Agenda 21” para a regu-lamentação dos princípios da sustentabili-dade e da preservação do ambiente, evi-tando o esgotamento dos recursos naturaisde maneira predatória.

Para algumas Organizações Não-Governamentais - ONG’s, segundo ACSEL-RAD:

E meio à críticados limites do conteúdo quegovernos e instituições ofici-ais vêm atribuindo ao desen-volvimento que pretendemsustentável, alguns vêem nasustentabilidade uma novacrença destinada a substituira idéia de progresso, con-struir "um novo princípioorganizador de um desen-volvimento centrado nopovo", e ser capaz de“tornar-se a visão mobi-lizadora da sociedade civil eo princípio guia da transfor-mação das instituições dasociedade dominante”(ACSELRAD, 2001, p.28) in(PEOPLE C.D.F., 1992).

Entretanto, a expressão sustentabili-dade remete a várias abstrações porqueestá carregada de subjetividade com posi-cionamentos políticos e ideológicos de diver-sas formas pelas representações de valorescom um significado lógico e concreto.

De acordo com FRANCO,

A sustentabili-dade, de acordo comBartelmus, tem origem noconceito ecológico do "com-portamento prudente", que

faz com que um predadorevite explorar sua presa emdemasia para assegurar uma"produção ótima sustentáv-el". Da mesma forma emeconomia, a "renda" é uma"orientação para uma condu-ta prudente". Dessa forma, arenda pode ser definidacomo "o valor máximo quese pode consumir numa sem-ana e ainda continuar tãopróspero no fim do períodoquanto estava no início", ou,em outras palavras, dar àspessoas uma idéia de quantopodem consumir sem empo-brecer. Essa idéia generaliza-da para a população de umpaís gera o conceito de rendanacional, a qual representa aquantia que uma populaçãopode consumir durante umcerto período sem empobre-cer. A escassez recente nosuprimento de recursos e deserviços ambientais deabsorção de dejetos levou àextensão do critério de sus-tentabilidade do capital pro-duzido para incluir o "capitalnatural" (FRANCO, 2001,p.40 in Bartelmus, 1994,p.157).

De modo geral, a palavra sustentáv-el refere-se à conservação e à manutençãode equilíbrio dinâmico no plano político,econômico, social, cultural e ambiental.Envolve complementaridade e interde-pendência entre o desenvolvimentoeconômico e a conservação da natureza.

O conceito de sustentabilidademuitas vezes está mediado pela resiliênciaecossistêmica das necessidades humanas esuas limitações não só na utilização dosrecursos naturais bem como na questão dacidadania, das condições econômicas e cul-turais. Por outro lado, envolve tambémuma prática contrária ao interesseeconômico mundial, à questão da sobera-

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nia dos países e às ações das grandes cor-porações industriais em detrimento dascausas sociais, contribuindo para umavisão utilitária da natureza.

Para ALMEIDA JR,

Aí por que asconseqüências práticas dodesenvolvimento sustentávelfar-se-ão sentidas tanto nomundo dos valores como nomundo do conhecimento e daação. Ou seja: a idéia de sus-tentabilidade planetária dev-erá permear as concepções,os planos, as políticas e asagendas de ação de umanova ordem mundial, - se odesenvolvimento sustentávelfor tentado na prática(ALMEIDA JR., 1993, p.297).

Assim, sãonecessárias ações políticas e educacionaiscom inovações tecnológicas e a partici-pação dos movimentos sociais, reivindican-do seus direitos. Tudo isto resultaria numdesenvolvimento sustentável e “harmôni-co”, ou seja, o uso dos recursos do planetacom reposição e reparos.

O paradigma de uma cidade susten-tável parece estar longe do modelo dacidade ideal a ser alcançada, pois a noçãode tempo, da preservação das diferentesáreas, da importância do lugar, dos bairros,das praças, dos córregos, da manutenção,da preservação dos mananciais e até aprópria identidade dos lugares, da culturatêm sido alterado de forma significativa.

Para tanto, BRITO de e RIBEIROexplicam que:

No que pesemas críticas, porém, deve-sereconhecer o valor heurísticode muitas dessas teses e atéa função de "guia" para umadiscussão construtiva sobre ofuturo do desenvolvimento.Pois é evidente a crise teóri-ca e prática que vive a

sociedade moderna, achamada crise da mod-ernidade, cuja percepção setorna ainda mais contun-dente diante do discurso dasustentabilidade que colabo-ra para o reconhecimento deseus limites, pois se nãoaponta necessariamentepara a superação desse pro-jeto, impõe o questionamen-to de seus supostos queperderam o caráter domi-nante de explicação da atualsociedade (BRITO de eRIBEIRO, 2002, p.150).

Através das condições histórico-sociais se determina e materializa a fragili-dade do sistema sustentável ao se contra-por à desvinculação das questões denatureza biologicista e naturalista, mas aocontrário, deve-se ressaltar a dinâmica dasrelações sociais envolvidas na produção doambiente.

Não se trata de assumir uma visãoneomalthusiana ao estabelecer umarelação entre as questões ambientais e ofim dos recursos naturais e nem de ver adiferença entre sustentabilidade e desen-volvimento da cidade na forma de como ocapital se organiza, mas de enfatizar quesão as contradições de classe que engen-dram a uma lógica adversa para umacidade sustentável.

Assim, para FOLADORI,

O interesse daburguesia como classe não éa natureza como meio devida, mas à medida que estapossibilite o aumento da taxade exploração do trabalhoassalariado, quer dizer, ageração do lucro, emboracomo pessoas defendam omeio ambiente (FOLADORI,2001, p.112).

A visão de uma cidade sustentávelparece muito mais como uma idéia que se

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perde no tempo do que para a sua con-cretização por causa das políticas públicasque inviabilizam para a reversão dos dese-quilíbrios ecológicos no meio urbano.

A construção de uma outra con-cepção de modelo para a cidade deve serrepensada, ou seja, sair das visões ecocên-tricas calcadas em relações harmoniosasentre sociedade e natureza no seu sentidoextremo e nem tecnocêntricas como asolução para todos os problemas, resultadodas combinações entre a tecnologia, mer-cado e governo.

O conceito de “sustentabilidade”ecológica relaciona-se à recomposição dosrecursos naturais renováveis e namanutenção dos recursos não-renováveispara as gerações futuras (MARCONDES,1999 p. 38).

Segundo ACSELRAD:

A sustentabili-dade é também articuladapor um discurso da ética, queelabora a conduta humanadiante dos valores construí-dos de bem e de mal.Destacam-se aqui asintenções das ações que têmpor objeto uma base materi-al biofisicamente comum,interligando espaços, home-ns e tempos. Reconhece-se,igualmente, que tais ações eos juízos que sobre elas seaplicam, se dão emcondições de acentuadadesigualdade jurídica,econômica e política de aces-so ao espaço ambiental pelosdistintos agentes sociais(ACSELRAD, 2001, p.35-36).

Para QUEIROZ NETO (1993), há anecessidade de se conhecer os ciclos danatureza, bem como as suas relações como homem pelo entendimento concreto dotempo-espaço, aperfeiçoando o conheci-mento entre causa e efeito, inclusive astécnicas da gestão no controle para a min-imizar a degradação.

Vivenciamos por todos os lados acrise ambiental no planeta. Não se pode,entretanto, compreender as relações dohomem com seu meio, sem antes verificaras formas de como a sociedade tem-seorganizado na sua estrutura econômica,política, cultural e ambiental, além de seconsiderar o modo de produzir e de con-sumir da sociedade.

Meio ambiente, desenvolvimentosocial e econômico não pode ser visto sep-aradamente. O desenvolvimento econômi-co não se sustentará se a natureza não forpreservada e se não forem repensados osmodelos de crescimento econômico dospaíses e as formas de utilização danatureza.

As políticas públicas não deverãoser feitas de forma isoladas dos problemasque causam os desequilíbrios ecológicos nomundo, colocando as organizações institu-cionais, as indústrias de um lado e asociedade e o meio ambiente do outro.

As posturas ideológicas dos paísesdeveriam rever o uso do ambiente físicourbano sem considerar os interesses partic-ulares do capital que se apropria danatureza. Por outro lado, dever-se-iamcolocar à frente de uma maior conscientiza-ção em relação aos conflitos existentes nasociedade.

É importante pensar a respeito daquestão da relatividade da análise urbanaem que pesem suas relações sociais e ascondições ecológicas as quais ficam sub-metidos os ambientes da cidade.

O que se coloca então, é como acidade enfrentará os diversos problemascausados ao ambiente se considerarmos oavanço do meio abiótico causado pela pro-dução, pelo consumo e pela tecnologia?

Caberá a sociedade buscar a inte-gração necessária diante destes novos ediferentes sistemas de crescimentoeconômico e social, garantir uma qualidadede vida e ao mesmo tempo a evoluçãodeste processo de desenvolvimento carac-terístico do paradigma contemporâneo.

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