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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO ASPECTOS GERAIS SOBRE O TERMO CIRCUNSTANCIADO REALIZADO PELA POLÍCIA MILITAR FELIPE BRUN Itajaí, (SC), novembro de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

ASPECTOS GERAIS SOBRE O TERMO CIRCUNSTANCIADO REALIZADO PELA POLÍCIA MILITAR

FELIPE BRUN

Itajaí, (SC), novembro de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

ASPECTOS GERAIS SOBRE O TERMO CIRCUNSTANCIADO REALIZADO PELA POLÍCIA MILITAR

FELIPE BRUN

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: RODRIGO JOSÉ LEAL

Itajaí, (SC), novembro de 2008

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus por ter me proporcionado a vida em sua plenitude.

Agradeço em especial aos meus pais, Irio e Vera, pois nunca deixaram de acreditar na minha capacidade e sempre permitiram que trilhasse meu caminho através dos estudos.

Aos Corpos Docente e Discente do curso de

Direito, pelo conhecimento ofertado.

Não poderia deixar de lembrar aquela que sempre esteve presente comigo, e sempre me apoiando deixamos assim de passarmos momentos juntos. Á minha amada companheira obrigado pelo apoio e incentivo nas horas difíceis.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Irio Antônio Brun e Vera Lourdes Brun, pois sempre se fizeram presentes, apesar da distância, nunca deixaram de dar-me coragem para continuar.

À Liciane Brun e Mariana Brun, minhas irmãs as quais amo muito.

Á minha noiva, Vívian Cardoso da Silva pelo

apoio, incentivo e paciência nos momentos de privação, para que hoje eu pudesse chegar até aqui.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 07 de novembro de 2008

FELIPE BRUN Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Felipe Brun, sob o título Aspectos

Gerais sobre o Termo Circunstanciado Realizado pela Polícia Militar, foi

submetida em 07 de novembro à banca examinadora composta pelos seguintes

professores: MSc. Rodrigo José Leal, Orientador e Presidente da Banca e

Coordenador da Monografia, MSc. Antônio A. Lapa; e aprovada com a nota :

Itajaí, 07 de novembro de 2008.

MSc. RODRIGO JOSÉ LEAL Orientador e Presidente da Banca

MSc. ANTÔNIO A. LAPA Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADIN = ADIn = ADI – Ação Direta de Insconstitucionalidade CP = CPB – Código Penal = Código Penal Brasileiro. CPP – Código de Processo Penal. CRFB = CF – Constituição da República Federativa do Brasil = Constituição Federal HC – Habeas Corpus. RTJ – Revista do Tribunal de Justiça. STF = Supremo Tribunal Federal. STJ = Superior Tribunal de Justiça. TCO = TC – Termo Circunstanciado de Ocorrência = Termo Circunstanciado

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Autoridade Policial

Conceito de “autoridade policial” como qualquer pessoa investida

de função policial - Comissão Nacional de Interpretação da Lei no 9099, de 26 de

setembro de 1995: “Nona – A expressão “autoridade policial” referida no art. 69

compreende quem se encontra investido em função policial, podendo a Secretaria

do Juizado proceder à lavratura de termo de ocorrência e tomar as providências

previstas no referido artigo”. Conceito de “autoridade policial” como qualquer

“autoridade pública”

A expressão ‘autoridade policial’, prevista no art. 69 da Lei

9.099/95, abrange qualquer autoridade pública que tome

conhecimento da infração penal no exercício do poder de polícia.1

Termo Circunstanciado

O conceito de Termo Circunstanciado está restringido na

Lei 9.099/95, sendo esta uma peça fundamental para a continuidade dos atos que

envolvem todos os crimes elencados pela presente lei, ou seja os crimes de até

dois anos de prisão, e as contravenções penais.

O termo circunstanciado de ocorrência, é uma peça que não

precisa se revestir de formalidades especiais e na qual a

autoridade policial que tomar conhecimento de infração penal de

menor potencial ofensivo, com autor previamente identificado,

registrará de forma sumária as características do fato [...]2.

1 Julio Fabbrini Mirabete, Juizados Especiais Criminais. São Paulo: Atlas, 3, 1998, p. 60.

2 JUNIOR, Joel Dias Figueira; LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 472.

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SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................ X

INTRODUÇÃO ................................................................................. 11

Capítulo 1 ........................................................................................ 12 ABRANGÊNCIA GERAL SOBRE OS PRINCÍPIOS NORTEADORES DA LEI N° 9.099/95.................................................................................................................12 1.1.1PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA LEI Nº 9.099/95....................................12 1.1.2 PRINCÍPIO DA ORALIDADE.......................................................................15 1.1.3 PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE ..................................................................16 1.1.4 PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE..............................................................17 1.1.5 PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL................................................18 1.2.1 INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO......................21 1.2.2 O TERMO CIRCUNSTANCIADO ................................................................24 CAPÍTULO 2..........................................................................................................28 ASPECTOS ABRANGENTES SOBRE AUTORIDADE POLICIAL......................28 2.1.1 AUTORIDADE POLICIAL............................................................................28 2.1.2 ALGUMAS AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE INTENTADAS SOBRE O TEMA...........................................................................35 2.1.3 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.............................................46 2.1.4 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA..................................................47 CAPÍTULO 3..........................................................................................................49 A LEGALIDADE DO TERMO CIRCUNSTANCIADO REALIZADO PELA POLÍCIA MILITAR.................................................................................................49 3.1.1 A LEGITIMIDADE DO TERMO CIRCUNSTANCIADO REALIZADO PELA POLÍCIA MILITAR.................................................................................................49 3.1.2 PROVIMENTO DO PODER JUDICIÁRIO....................................................51 3.1.3 POSIÇÃO INSTITUCIONAL - TC LAVRADO PELA BRIGADA MILITAR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL...................................................................52 3.1.4 PROVIMENTO n.º 04/99, DA CORREGEDORIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA..................................................55 3.1.5 CORREGEDORIA GERAL DE SANTA CATARINA ....................................56 31.6 MINISTÉRIO PÚBLICO................................................................................ 56 3.2.1 POSICIONAMENTOS DOUTRINÁRIOS......................................................57 3.3.1 VANTAGENS DECORRENTES DA LAVRATURA DO TERMO

CIRCUNSTANCIADO REALIZADO PELA POLÍCIA MILITAR ............................58

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CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................60 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS...............................................................62 ANEXOS................................................................................................................65

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RESUMO

Objetivando propiciar um entendimento teórico sobre os

aspectos gerais da execução do Termo Circunstanciado realizado pela Polícia

Militar, o presente trabalho vem para esclarecer, á luz da legislação pertinente,

alguns parâmetros básicos e fundamentais para a realização do estudo.

Regida sobre os critérios da CELERIDADE, da

SIMPLICIDADE, da INFORMALIDADE, da ORALIDADE e da ECONOMIA

PROCESSUAL, a Lei n.º 9.099/95 determinou, em seu artigo 69, que a autoridade

policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará Termo Circunstanciado e o

encaminhará imediatamente ao Juizado providenciando-se as requisições dos

exames periciais necessários, estabelecendo, ainda, que não se imporá prisão

em flagrante ao autor do fato que, após a lavratura do termo assumir o

compromisso de comparecer ao Juizado Especial Criminal.

Estes ensinamentos teóricos doutrinários, jurisprudenciais,

e principalmente legais, evidenciam que o Policial Militar é a autoridade policial

competente para a lavratura do termo circunstanciado.

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11

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto a legalidade para

a realização do Termo Circunstaqnciado pela Polícia Militar

O seu objetivo é esclarecer o entendimento que a

autoridade policial que trata o artigo 69 da lei 9.099/95, em matéria estadual,

além das polícias civis, é também a Polícia Militar

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando de

Apresentar uma abrangência geral sobre os princípios que regem a lei 9.099/95

No Capítulo 2, está consignado o conceito de autoridade

policial, numa abrangência expressiva da doutrina e jurisprudência

No Capítulo 3, trata-se da legalidade do Termo

Circunstanciado Realizado pela Polícia Militar

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das

reflexões sobre o termo circunstanciado realizado pela Polícia Militar.

Para a presente monografia foram levantadas as

seguintes hipóteses:

� O conceito de Autoridade Policial, tendo como premissa a lei 9.099/95; � A Polícia Militar é o órgão competente para a lavratura do termo circunstanciado;

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na

Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de

Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na

presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

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12

CAPÍTULO 1

ABRANGÊNCIA GERAL SOBRE OS PRINCÍPIOS

NORTEADORES DA LEI N° 9.099/95

1.1.1PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA LEI Nº 9.099/95

No ano de 1995, foi publicada a Lei n.º 9.099, que dispõe

sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, alterando assim o processo

penal brasileiro para implementar uma Justiça com mais eficácia, agilidade,

menos onerosa e mais abrangente.

Esta referida Lei é Regida pelos critérios da

CELERIDADE, da SIMPLICIDADE, da INFORMALIDADE, da ORALIDADE e

da ECONOMIA PROCESSUAL, princípios estes basilares no ordenamento

jurídico brasileiro.

O Juizado Especial Criminal, provido por Juízes togados

ou togados e leigos, tem a competência para a conciliação, o julgamento e a

execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, assim

consideradas, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena de

multa, restritiva de direitos ou privativa de liberdade cuja máxima não seja

superior a 02 (dois) anos.

O processo perante o Juizado Especial Criminal objetiva,

sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação

de pena não privativa de liberdade.

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13

Para atender os critérios da CELERIDADE, da

SIMPLICIDADE, da INFORMALIDADE, da ORALIDADE e da ECONOMIA

PROCESSUAL, devemos entender os princípios que norteiam tais critérios,

sob uma abrangência geral e simplificada.

De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello:

Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema,

verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia

sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo

de critério para sua exata compreensão e inteligência,

exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema

normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido

harmônico3.

Os princípios são preceitos morais, verdades

fundamentais, essência em que se baseia o sistema jurídico. Já os critérios são

menos abrangentes, são mais um modo de apreciação, uma propriedade de

distinção do falso e do verdadeiro, não possuindo o suporte fundamental que

os princípios detém. Sendo assim, o legislador equivoca-se ao referir-se como

"critérios" o que, na verdade, são verdadeiros "princípios" orientadores do

processo dos Juizados Especiais Criminais, já consagrados na teoria geral do

processo e, também, pelos principais doutrinadores4.

Com o intuito de evitar que a palavra princípios

supostamente pudesse indicar que estes fossem exclusivos aos Juizados

Especiais, porém já é sabido que os princípios não orientam apenas uma lei ou

outra, mas sim, a todo ordenamento jurídico.

É claro que não podemos deixar de fora, os princípios

gerais da ação penal, como o contraditório e ampla defesa, devido processo

3 MELLO, Celso Antônio Bernardes de. apud SOUZA, Lourival de J. Serejo. O Acesso à Justiça e aos Juizados Especiais. Op. cit., p. 30. 4 LENZA, Suzani de Melo. Juizados Especiais Cíveis. Goiânia: AB, 1997, pág. 91.

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14

legal, estado de inocência, imediata aplicação da nova lei processual, vedação

das provas ilícitas , entre outros.

O legislador dispôs nos artigos 2º da Lei nº 9.099/95 5que

o processo nos Juizados Especiais orientar-se-á pelos "critérios" da oralidade,

informalidade, economia processual, simplicidade e celeridade, porém, a

expressão mais adequada para a apreciação deste artigo, como bem

salientamos, deveria ser de "princípios".

Também está consignado os princípios no artigo 62 da

referida lei, que assim rege:

Art. 62. O processo perante o juizado especial orientar-se-á

pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade,

objetivando sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a

aplicação da pena não privativa de liberdade.

Conforme Assis:

Devemos salientar a importância da efetiva aplicação dos

princípios que orientam o Juizado Especial, de forma a atender

aos fins colimados com a criação destes, facilitando o acesso

das partes à prestação jurisdicional e à satisfação imediata

dessa prestação, contribuindo ainda para o

descongestionamento do Juízo Comum6.

Damásio Evangelista de Jesus, deixa claro em sua obra

que:

5 Art. 2° O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou transação. 6 ASSIS, Arnoldo Camanho de. Juizados Especiais Cíveis: Pedido Contraposto Formulado por Pessoa Jurídica. Brasília: Revista dos Juizados Especiais: Doutrina e Jurisprudência, n.4, v.8, p. 13-16, jan/jun 2000.

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15

Para uma lei que busca esclarecer linhas gerais de processo

no âmbito da competência legislativa concorrente, esses

princípios já são suficientes para delinear a forma e os

objetivos do procedimento especial. Sob outro aspecto, a

oralidade, a informalidade e a possibilidade de transação

atendem ao desejo do constituinte de agilização da máquina

judiciária, no sentido da pronta repressão das infrações penais

menos graves7.

A especificação de cada princípio que a lei regulamenta,

ou seja, os critérios orientadores, serão abordados e explicados a seguir.

1.1.2 Princípio da Oralidade

O princípio da oralidade é utilizado para dar maior

celeridade à atuação dos Juizados Especiais Criminais. Consiste num princípio

informativo do procedimento, onde há prevalência da palavra "falada". Esse

princípio torna o procedimento mais ágil e enxuto.

O princípio da oralidade consiste na prevalência de

procedimentos orais, inclusive no que cabe às declarações feitas perante o juiz.

Analisando o texto legal, observamos diversos dispositivos que expressam a

vontade do legislador neste sentido. Dentre eles, podemos citar:

O artigo 75, da lei 9.099/95 ao estabelecer que o direito

de representação poderá ser exercido verbalmente, não requerendo maiores

formalidades;

O artigo 77, da respectiva lei, possibilitando que o

Ministério Público possa oferecer denúncia oral;

O artigo 77, parágrafo 3º, da lei 9.099/95 consagrando

que o ofendido, no caso de ação penal privada, poderá oferecer queixa oral, “...

cabendo ao juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias do caso 7 Jesus, Damásio E. de, Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 3ª Ed – São Paulo : Saraiva, 1996, p. 27.

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16

determinam a adoção das providências previstas no parágrafo único do art. 66

desta Lei”; quer dizer, se as peças existentes devem ser encaminhadas ao

juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei;

O artigo 81, também da lei 9.099/95 é fiel ao princípio da

oralidade, informa que a defesa, as alegações das partes, os debates e a

sentença serão orais.

No entanto, a forma escrita não foi excluída e os atos

essenciais deverão ser escritos, conforme o disposto no art. 65, § 3º onde

consta que "serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos

como essenciais. Os atos realizados em audiência de instrução e julgamento

poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente".

1.1.3 Princípio da Simplicidade

Tal princípio rege que os atos processuais presentes na

lei 9.099/95 devem ser simples, ou seja, sem complexidades. A primeira das

aplicações práticas dessa formulação do princípio da simplicidade dá-se nas

decisões judiciais. A lei dos Juizados Especiais, em relação à sentença,

dispensa o relatório, estabelecendo um norte para o julgador, que deverá

prolatar decisão concisa, em patente intuito de abreviar o procedimento. Mas

também a linguagem da fundamentação das decisões deverá ser simplificada.

O princípio da simplicidade significa dispensar o

formalismo, buscando a concentração dos atos. A exemplo desse princípio,

verifica-se que as partes fazem jus a faculdade de estarem ou não assistidos

por advogado quando o valor da causa for inferior a 20 (vinte) salários

mínimos. O Legislador criou condições para parte agir em Juízo sem precisar

estar acompanhado de advogado, através da simplicidade dos atos.

Portanto, a simplicidade mesmo não estando tratada no

art. 62 da Lei nº 9.099/95 não pode ser desconsiderada no texto, ou seja, o

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17

artigo 2º deve aplicar-se tanto para os Juizados Especiais Cíveis quanto para

os Criminais, por tratar-se de um dispositivo geral .

Este princípio pretende diminuir a burocracia dos meios

aplicados para solucionar os casos concretos, simplificando o montante de

materiais utilizados sem comprometer o resultado da atividade jurisdicional.

1.1.4 Princípio da Informalidade

O princípio da informalidade dispensa o rigor do

processo. Esse princípio deve estar presente em todas as fases do processo

para não se ferir o seu escopo de processo rápido, devendo adequar-se

apenas ao princípio constitucional do devido processo legal como exigência de

segurança da parte.

No dizer de Damásio Evangelista de Jesus, este princípio

Imprime ao processo um ritmo sem formalidades inúteis.8 Como se observa, a

informalidade está intimamente ligada aos demais princípios norteadores do

processo de competência dos Juizados Especiais Criminais. Na realidade,

cada um deles vem reforçar e complementar o outro. Através do princípio da

informalidade alcançamos, por exemplo, incalculável economia da máquina

judiciária.

Figueira relata que:

Este princípio decorre do princípio da instrumentalidade das

formas (art. 154 do CPC) e demanda que seja dado ao

processo um andamento que retire as formalidades inúteis,

erradicando o excessivo rigorismo formal do processo dos

Juizados Especiais9.

8 Damásio E. de Jesus, 1996, p. 45. 9 FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Comentários à Lei dos juizados Especiais Cíveis e Criminais, São Paulo: RT, 2000, pág. 243

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18

Não se deve olvidar que o juiz deva observar um mínimo

de regras e formalidades que, são indispensáveis. Segundo Assis:

A informalidade objetiva não exclui atos processuais

necessários, mas retira atos solenes sem utilidade prática que

impedem a célere realização da justiça 10.

1.1.5 Princípio da Economia Processual

Trata-se de princípio consagrado no Direito Processual

pátrio, segundo o qual o ato eventualmente praticado em desacordo com o rito

estabelecido será válido, desde que não fira os fins da justiça. Deste modo, não

haverá anulação inútil de atos que não tenham causado prejuízo às partes.

Esse princípio recomenda que se obtenha o máximo

resultado na atuação da lei com o mínimo de atividades e atos processuais.

Mais, ainda, o Legislador se preocupou com as despesas que o jurisdicionado

poderia ter ao ingressar com pedido nos Juizados Especiais e assim, o isentou

de taxas e custas processuais.

Segundo o princípio da economia processual, entre

múltiplas alternativas deve ser escolhida a que trouxer menos encargos para as

partes ou para o Estado.

Constatamos que este princípio também informa o

processo nos Juizados Especiais, já que o espírito da lei é produzir “o máximo

de resultado com o mínimo de esforço”.11 Na verdade, é somente através do

processo que o Estado-Juiz aplicará o direito ao caso em concreto. Para isto,

deverá lançar mão de todos os meios possíveis para alcançar este objetivo.

10 ASSIS, Arnoldo Camanho de. Juizados Especiais Cíveis: Pedido Contraposto Formulado por Pessoa Jurídica, Brasília: Revista dos Juizados Especiais, 2000, pág. 13 - 16. 11 GRINOVER, Ada Pellegrini. As nulidades do processo penal. São Paulo:Malheiros, 1994, p. 28.

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19

A Lei nº 9.099/95 consagra este princípio no seu artigo

65:

Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem

as finalidades para as quais foram realizados, atendidos os

critérios indicados no art. 62 desta Lei.

Complementando, dispõe o parágrafo 1º do mesmo

artigo:

Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido

prejuízo.

1.1.6 Princípio da Celeridade

O princípio da celeridade vem atender soluções

imediatas aos conflitos de interesses , preconizando a resposta célere da

Justiça Criminal com rapidez nos procedimentos, agilizando a prestação

jurisdicional, diminuindo o tempo entre a infração e a solução e, assim,

atribuindo maior credibilidade à Justiça. Tanto é assim, que os atos

processuais poderão se realizar à noite em qualquer dia da semana (art. 64 da

Lei nº 9.099/95), nenhum ato será adiado (art. 80) e a citação poderá ser feita

no próprio Juizado (art. 66)(13).

Conforme ensina Victor Eduardo Rios Gonçalves:

Já o princípio da celeridade processual busca reduzir o tempo

entre a prática da infração penal e a decisão judicial, para dar

uma resposta mais rápida à sociedade12.

A Lei 9.099/95 investiu na criação de diversos institutos

que permitem a agilização do processo e uma solução mais rápida para o

12 GONÇALVES, Victor Eduardo Rios, Juizados Especiais Criminais doutrina e jurisprudência, São Paulo: Saraiva, 1998 p. 4.

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conflito de interesses apresentado ao Poder Judiciário. A suspensão

condicional do processo, incluída nesta Lei, é um dos mais notáveis institutos

inseridos no Direito Processual brasileiro. O chamado “sursis processual”

proporciona a extinção do processo e grande economia da "máquina" judiciária.

Deste modo, Luiz Flávio Gomes relata que:

A suspensão do processo, reivindicada há anos pela doutrina

nacional tem por base o princípio da oportunidade (...). É

indiscutivelmente a via mais promissora da tão esperada

desburocratização da Justiça Criminal (grande parte do

movimento forense poderá ser reduzido), ao mesmo tempo em

que permite a pronta resposta estatal ao delito, a imediata, na

medida do possível, reparação dos danos à vítima, o fim das

prescrições (essa não ocorre durante a suspensão), a

ressocialização do autor dos fatos, sua não reincidência, uma

fenomenal economia de papéis, horas de trabalho etc. Além

de tudo, é instituto que será aplicado imediatamente por todos

os juízes (não só os do juizado), não requer absolutamente

nenhuma estrutura nova e permitirá que a Justiça Criminal

finalmente conte com tempo disponível para cuidar com maior

atenção da criminalidade grave, reduzindo-se sua escandalosa

impunidade.13

Além deste, a composição civil é outro importantíssimo

instituto introduzido pela Lei nº 9.099/95 que proporciona celeridade. Conforme

dispõe o seu artigo 74, parágrafo único, que rege:

Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação

penal pública condicionada à representação, o acordo

homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou

representação.

13 GOMES, Luiz Flávio. O modelo consensual brasileiro de justiça criminal: notas aproximativas. In: REVISTA DO CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL, Brasília, vol 1, nº 8, jul./dez. 1996, p. 99.

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21

A celeridade é uma preocupação constante do

Legislador, procurando equilibrar segurança nos julgamentos com rapidez.

Esse princípio não pode intervir na cognição do Julgador, fazendo este decidir

a lide de forma superficial e sem segurança para as partes.

Contudo, não podemos deixar de considerar os princípios

que emanam de nossa própria Constituição Federal, lei maior que deve ser

respeitada por todo o ordenamento jurídico infraconstitucional. Assim, o

princípio da celeridade não pode se sobrepor aos princípios constitucionais do

devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório, e do duplo grau de

jurisdição.

1.2.1 INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL

OFENSIVO

Está previsto no art. 98, inciso I, da Carta Magna de

1988, a obrigatoriedade de criação dos Juizados Especiais Criminais para a

conciliação, o julgamento e a execução de infrações penais de menor potencial

ofensivo 14.

O artigo 61 da Lei nº 9.099/95 veio para definir como

infrações penais de menor potencial ofensivo as contravenções penais,

previstas no decreto lei N° 3.688, de 06 de outubro de 1941, e os crimes cuja

14 CRFB, Art. 98 - A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais, providos por juizes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;

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22

pena máxima prevista em abstrato não fosse superior a um ano15, excetuadas

aqui aquelas infrações em que a lei previsse procedimento especial.

No entanto, em 18 de março de 1999, surge a Emenda

Constitucional nº 22, que, alargando os juizados especiais à estrutura da justiça

federal16, deu origem à publicação da Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001,

trazendo consigo, o fato de que, para essa nova lei, consideram-se infrações

penais de menor potencial ofensivo não aquelas cuja pena máxima cominada

seja igual ou inferior a um ano, mas sim a dois anos17; como elemento

complicador àqueles de postura mais rígida na interpretação e aplicação da lei,

a norma mais benigna ainda teria deixado de excetuar os delitos cujo

procedimento processual seja especial. O resultado seria, objetivar o aumento

do rol de delitos menores, aos quais a própria Constituição e a lei permitem a

não aplicação de penas corporais (penas de prisão por exemplo), mas aquelas

comumente chamadas “penas alternativas”: as penas restritivas de direitos.

Posteriormente, conforme a Redação dada pela Lei nº

11.313, de 2006, alterou o artigo 61 da lei 9099/95, que assim rege:

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial

ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e

os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2

(dois) anos, cumulada ou não com multa. (Redação dada pela

Lei nº 11.313, de 2006).

Com a efetiva sanção e promulgação da Lei nº 9099, em

26 de setembro de 1995, o que se fez foi definir o disposto no artigo 98, I, da

Lei Maior. Com efeito, a Constituição Federal de 1988 propiciou um tratamento

diferenciado àquilo que chamou “infrações penais de menor potencial

ofensivo”. 15 Lei nº 9099/95, Art. 61 - Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial. 16 CRFB, Art. 98, Parágrafo único - Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça Federal. 17 Lei nº 10.259/01 - Art. 2o Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de competência da Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo. Parágrafo único. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa.

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23

Antes da entrada em vigor da Lei nº 9.099/95, aqueles

que praticavam pequenas infrações penais dificilmente recebiam a devida

resposta estatal. Muitas das infrações sequer chegavam ao conhecimento do

Ministério Público e do Poder Judiciário. Aquelas condutas típicas de pequena

monta que eram conduzidas às Delegacias pareciam tender, por diversos

motivos (corrupção, “arquivamentos” indevidos de inquéritos policiais, através

das já abordadas verificações preliminares de inquérito; prescrição e

decadência18, etc.), a raramente ter seu curso normal (e legal) fielmente

observado.

Conforme assegura Thales Nilo Trein, Promotor de

Justiça no Estado do Rio Grande do Sul,

...Tal realidade desencadeava dois males a uma só vez.

Primeiro, a sensação de impunidade que tomava conta desses

pequenos infratores, encorajando-os à reincidência e à

escalada dos demais degraus da criminalidade. (...) Em

segundo plano, verifica-se uma completa desconsideração do

Estado para com a posição das pessoas diretamente atingidas

pelos delitos..19

Seguindo o mesmo raciocínio, Weber Martins Batista

leciona:

... os Juizados surgem para atuar sobre essa gama de

conflitos até então ignorada pelo Estado, oferecendo uma

possibilidade de mitigação pelo Poder Judiciário, sem que com

isso tenha que submetê-los ao sistema processual vigente

que, como é notório, não tem capacidade para absorvê-los,

uma vez que impor a essas pessoas o modo tradicional de

18 Em matéria penal, prescrição e decadência são causas de extinção da punibilidade previstas no Código Penal Brasileiro, art. 107, IV. 19 TREIN, Thales Nilo. As polícias militares à porta dos juizados especiais. In: REVISTA UNIDADE, Porto Alegre, Ano XIV, nº 26, abr./jun. 96, p. 7.

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24

solução dos conflitos é o mesmo que negar a elas o direito de

exigir do Estado que lhes preste jurisdição.20

Este contexto parece ter provocado a promulgação da Lei

9.099, de 26 de setembro de 1995 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e

Criminais). A partir deste momento, as vítimas dos ilícitos de “bagatela”

passaram a contar com legislação extremamente célere, capaz de lhes

proporcionar a justa reparação pelo dano sofrido, reduzindo a desconfiança

dessas pessoas em relação à Justiça e atacando o sentimento de impunidade

que envolvia o ofensor.

A nova sistemática introduzida pelo mencionado texto

legal tem por objetivo reduzir a burocracia e racionalizar a Justiça Penal

(especialmente no caso dos Juizados Especiais Criminais), tornando o

procedimento mais ágil.

Relativamente às Polícias Militares, inúmeras mudanças

foram inseridas e serão merecedoras de destaque, já que seus integrantes são,

na grande maioria das vezes, as primeiros a tomar conhecimento da ocorrência

de infrações penais de menor potencial ofensivo.

Assim sendo, ressalvadas as infrações penais militares

(Lei n.º 9.099/95 - art. 90-A), são infrações penais de menor potencial ofensivo

aquelas em que a lei comine pena máxima não superior a dois anos ou multa;

bem como os crimes previstos na Lei n.º 10.741, de 01 de outubro de 2003

(Estatuto do Idoso), aos quais seja atribuída pena máxima não superior a

quatro anos21.

20 BATISTA, Weber Martins et al. Juizados especiais cíveis e criminais e suspensão condicional do processo penal. Rio de Janeiro:Forense, 1996, pp. 8-9. 21 Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro

de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.

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25

1.2.2 O TERMO CIRCUNSTANCIADO

O conceito de Termo Circunstanciado está consignado

na Lei 9.099/95, sendo esta uma peça fundamental para a continuidade dos

atos que envolvem todos os crimes elencados pela presente lei, ou seja os

crimes de até dois anos de prisão, e as contravenções penais.

Com o objetivo de tornar ágil o processo de competência

dos Juizados Especiais Criminais, tendo em vista os princípios abordados

alhures, o legislador substituiu os já conhecidos inquérito policial e auto de

prisão em flagrante pelo que conceituou de termo circunstanciado.

Joel Dias Figueira Jr. e Maurício Antônio Ribeiro Lopes,

conceituam o Termo Circunstanciado como:

O termo circunstanciado de ocorrência, ou simplesmente

termo de ocorrência, é uma peça que não precisa se revestir

de formalidades especiais e na qual a autoridade policial que

tomar conhecimento de infração penal de menor potencial

ofensivo, com autor previamente identificado, registrará de

forma sumária as características do fato [...]22.

Esclarecendo, “o termo circunstanciado a que alude o

dispositivo nada mais é do que um boletim de ocorrência um pouco mais

detalhado”23, eliminando assim o formalismo composto na peça inquisitorial (

auto de prisão em flagrante e inquérito policial).

Conforme nos ensina Weber Martins Batista,

... Ao tomar conhecimento do fato, a autoridade lavrará um

termo, no qual fará constar tudo o que for importante para a

22 JUNIOR, Joel Dias Figueira; LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 472.

23 GRINOVER, Ada Pellegrini; FILHO, Antonio Magalhães Gomes; FERNANDES, Antonio Scarance; GOMES, Luiz Flávio. Juizados Especiais Criminais, 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p 111

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26

apuração do fato: como e por quem recebeu a notícia da

infração; como estava o ofendido; no caso de lesão, que tipo

de lesão apresentava; o que declarou ele; que versão deram

ao fato a pessoa apontada como autora e as testemunhas (se

compareceram e prestaram informações). Tudo isso, é

evidente, da forma mais sucinta possível.24

Observando a legislação vigente, a lavratura do termo

circunstanciado deverá conter somente os dados indispensáveis para a sua

composição. Dados estes que elencados pelo professor Gonçalves, são os

seguintes:

O termo, sempre que possível, deverá conter:

1) A qualificação (dados pessoais, endereço, etc.) do pretenso

autor da infração;

2) a qualificação da vítima

3) a maneira como os fatos se deram, com a versão das

partes envolvidas;

4) a qualificação das testemunhas, bem como resumo do que

presenciaram;

5) os exames que foram requisitados ( não é necessário o

resultado dos exames, mas tão somente que conste quais

foram requisitados); nos crimes de lesões corporais deverá

conter ao menos um boletim médico acerca das lesões ( art.

77, § 1º);

6) assinatura de todos os que participaram da elaboração do

termo circunstanciado.

O entendimento do doutrinador Damásio Evangelista de

Jesus, também fiel a este entendimento sobre a lavratura do termo

circunstanciado, nos ensina que:

24 Weber Martins Batista, 1996, pp. 307-308.

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27

Um simples boletim de ocorrência circunstanciado substitui o

inquérito policial. Deve ser sucinto e conter poucas peças,

garantindo o exercício do princípio da oralidade.25

No que diz respeito à finalidade do termo, reportamo-nos

ao professor Gonçalves, que explica:

A finalidade do termo circunstanciado é a mesma do inquérito

policial, mas aquele é realizado de maneira menos formal e

sem a necessidade de colheita minuciosa de provas. O termo

circunstanciado, portanto, deve apontar as circunstâncias do

fato criminoso e os elementos colhidos quanto à autoria, para

que o titular da ação possa formar a opinio delicti26.

Contudo, o referido Termo Circunstanciado previsto na lei

9.099/95, é inserido no nosso ordenamento jurídico para simplificar e agilizar

todos os delitos de menor potencial ofensivo, bem como as contravenções

penais.

Isto posto, não significa que o inquérito policial deixe de

existir, pois a objetividade da medida é notória quando não há o que se

investigar ou apurar, no mais das vezes os fatos e seus autores são bem

definidos, restando, por vezes, a certificação de materialidade delitiva a cargo

de exame pericial. Na verdade, excepcionalmente, o Inquérito Policial poderá

ser o instrumento adequado à apuração do caso mais complexo e assim dispôs

a lei27.

25 Damásio Evangelista de Jesus, op. cit., 1996, p. 50. 26 GONÇALVES, Victor Eduardo Rios, Juizados Especiais Criminais doutrina e jurisprudência, São Paulo: Saraiva, 1998 p. 19. 27 § 2º - Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei. Art. 66 - omissis Parágrafo único - Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.

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28

CAPÍTULO 2

ASPECTOS ABRANGENTES SOBRE AUTORIDADE

POLICIAL

2.1.1 Autoridade Policial

Para entender o correto conceito de autoridade policial, devemos

observar os conceitos determinados pela doutrina e jurisprudência, no que diz

respeito á autoridade policial.

Para o doutrinador Álvaro LAZZARINI, significa que:

Autoridade Policial é um agente administrativo que exerce

atividade policial, tendo o poder de se impor a outrem nos

termos a lei, conforme o consenso daqueles mesmos sobre os

quais a sua autoridade é exercida, consenso esse que se

resume nos poderes que lhe são atribuídos pela mesma lei,

emanada do Estado em nome dos cidadãos28.

28 LAZZARINI, Álvaro, Estudos de Direito Administrativo, 2 ed., São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 1999, p. 269.

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29

Fica demonstrado que Autoridade Policial é um conceito

abrangente e personalíssimo, assim descrito pelo legislador, que lhe é

outorgado poderes legais para agir em nome do Estado. Vindo desta

premissa, a critério da lei 9.099/95 no seu artigo 69 que rege:

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da

ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará

imediatamente ao juizado, com o autor do fato e a vítima,

providenciando-se as requisições dos exames periciais

necessários.

Parágrafo único - Ao autor do fato que, após a lavratura do

termo, for imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir

o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em

flagrante, nem se exigirá fiança.

Na doutrina, as opiniões divergem entre aqueles que

sugerem o modelo convencional, objetivando uma interpretação fechada do

disposto no artigo 144, § 4º, da Constituição Federal29.

Nogueira entende da seguinte forma:

A autoridade policial a que se refere o art. 69 só pode ser o

Delegado de Polícia, a quem, cabe presidir inquéritos policiais

e, como tal, também elaborar o termo circunstanciado. Não se

compreende que alguns queiram incluir com autoridade policial

os seus agentes, como os investigadores, os escrivães e até

mesmo os militares30.

Conforme a interpretação do autor, o mesmo inclui entre

os chamados “agentes da autoridade policial” os militares, entendidos como

29 CRFB, Art. 144, [...], § 4º - Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 30 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados especiais cíveis e criminais. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 78.

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30

policiais militares. Agentes são aqueles que agem em nome de outrem que

detém poder outorgado por lei; a questão deve ser analisada no campo do

direito administrativo, posto que somente pode ser dirimida pela via de análise

da estrutura do Estado e da característica presença de poder hierárquico e

disciplinar entre os ocupantes dos cargos distribuídos nos respectivos órgão

públicos. Há um equívoco do autor quando em seu raciocínio vincula policiais

militares ao Delegado de Polícia, e isso certamente o faz porque no dia-a-dia,

agindo na repressão criminal imediata e assim prendendo em flagrante delito

infratores, os policiais militares conduzem, nessas condições, pessoas aos

Delegados de Polícia para deliberação acerca da autuação do caso.

Entre outros autores no cenário jurídico, também

defendem a mesma tese de exclusividade dos Delegados de Polícia na

lavratura de termos circunstanciados, sendo que Mirabette assim explica:

As autoridades policiais são as que exercem a polícia judiciária

que tem o fim de apuração das infrações penais e da sua

autoria (art. 4º do CPP). Entretanto, tem-se afirmado que, no

que diz respeito às infrações penais de menor potencial

ofensivo, qualquer agente público que se encontre investido

da função policial, ou seja, de poder de polícia, pode lavrar o

temo circunstanciado ao tomar conhecimento do fato que, em

tese, possa configurar infração penal, incluindo-se aqui não só

as polícias federal e civil (art. 144, § 1º, IV, e § 4º da CF),

como à polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal e

polícias militares (art. 144, II, III e V, da CF). [...] Assim, todo

agente público regularmente investido na função de

policiamento preventivo ou de polícia judiciária poderia

conduzir o autor do fato à presença da autoridade policial civil

ou do próprio Juizado para lavratura do termo circunstanciado,

conforme disponham as legislações estaduais. Conceito de

“autoridade policial” como qualquer pessoa investida de

função policial - Comissão Nacional de Interpretação da Lei

no 9099, de 26 de setembro de 1995: “Nona – A expressão

“autoridade policial” referida no art. 69 compreende quem se

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31

encontra investido em função policial, podendo a Secretaria do

Juizado proceder à lavratura de termo de ocorrência e tomar

as providências previstas no referido artigo”. Conceito de

“autoridade policial” como qualquer “autoridade pública”

– Confederação Nacional do Ministério Público: Conclusão – “

1. A expressão “autoridade policial”, prevista no art. 69 da Lei

9099/95, abrange qualquer autoridade pública que tome

conhecimento da infração penal no exercício do poder de

polícia”. Não nos parece procedente tal interpretação. [...]

Conclui-se, portanto, que, à luz da Constituição Federal e da

sistemática jurídica brasileira, autoridade policial é apenas o

delegado de polícia, e só ele pode elaborar o termo

circunstanciado referido no art. 6931.

Contudo, observaremos que Mirabette é um dos poucos

notáveis doutrinadores que atendem essa tese. Fortes posicionamentos

indicam no sentido contrário:

Uma questão que pode gerar dúvida é o entendimento relativo

à expressão “autoridade policial”, conforme disposto no art. 69

da Lei n. 9099/95. Considerando que a finalidade da lei é

agilizar o processo, com uma estrutura que dispense a

apuração da autoria e materialidade pelas vias tradicionais, os

órgãos policiais que executarem a repressão imediata por

qualquer um dos seus integrantes poderão, ao se depararem

com a infração penal de competência dos juizados,

encaminhar os envolvidos diretamente à autoridade judiciária.

O termo “autoridade policial”, portanto, compreende quem se

encontre investido na missão policial. [...] Damásio Evangelista

de Jesus indica que nada impede que a autoridade policial

seja militar. Essa também é a posição de Ada Pellegrini

Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho, Antonio Scarance

Fernandes e Luiz Flávio Gomes32.

31 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados especiais criminais. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1997, p. 60-61. 32 SILVA, Marco Antonio Marques da. Juizados especiais criminais. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 107

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32

O autor cita Ada Pelegrini Grinover, Antônio Magalhães

Gomes Filho, Antônio Scarance Fernandes e Luiz Flávio Gomes, pois

publicaram:

Qualquer autoridade policial poderá ter conhecimento do fato

que poderia configurar, em tese infração penal. Não somente

as polícias federal e civil, que têm a função institucional de

polícia judiciária da União e dos Estados (art. 144, § 1º. IV, e §

4º), mas também a polícia militar33.

Vários outros doutrinadores, como Alexandre de Moraes,

Alexandre Pazziglini Filho, Giaampaolo Poggio Smânio e Luiz Fernando

Vaggione também concordam com este entendimento:

A lei, ao determinar que autoridade policial que tomar

conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o

encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e

a vítima, refere-se a todos os órgãos encarregados pela

Constituição Federal de defesa da segurança pública (art. 144,

caput), para que exerçam plenamente sua função de

“restabelecer a ordem34.

Em comentário a Lei dos Juizados Especiais Cíveis e

Criminais, Joel Dias Figueira Júnior e Maurício Antônio Ribeiro Lopes também

indicam que a atividade investigativa não deve ser despendida para as

infrações penais de menor potencial ofensivo:

As técnicas de investigação moderna devem ser reservadas

aos casos mais graves de infração à ordem jurídica, sendo

razoável que se dispense a instauração de procedimentos

administrativos complexos para realizar atos de investigação 33 FERNANDES, Antonio Scarance; GRINOVER, Ada Pelegrini; GOMES, Luiz Flávio; GOMES FILHO, Antonio Magalhães. Juizados especiais criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996, p. 96-7. 34 MORAES, Alexandre; PAZZIGLINI FILHO, Mariano; SMANIO, Giampaolo Poggio; VAGGIONE, Luiz Fernando. Juizado especial criminal. São Paulo: Atlas, 1996, p. 36

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33

com indispensável necessidade de reprodução judicial dos

mesmos em fase posterior, a fim de observação rigorosa dos

princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório,

profundamente sacrificados na espera policial. O Juizado de

Instrução, já mencionado e repelido pela Exposição de Motivos

do CPP, se não ganha foros de definitividade e de opção

manifesta do legislador, ao menos para as infrações de menor

potencial ofensivo torna-se praticamente a regra35.

Conforme questionamentos referentes à autoridade

policial restrita aos Delegados de Polícia, para fins do art. 4º do Código de

Processo Penal, parece-nos esclarecedora a menção a tal expressão no

contexto das infrações penais de menor potencial ofensivo.

A questão motivou a discussão e emissão de pareceres

por parte de colegiados nacionais, tais como a Confederação Nacional do

Ministério Público e Colégio Permanente de Presidentes dos Tribunais de

Justiça do Brasil.

Estabeleceu a Confederação Nacional do Ministério

Público, em sua primeira conclusão:

A expressão ‘autoridade policial’, prevista no art. 69 da Lei

9.099/95, abrange qualquer autoridade pública que tome

conhecimento da infração penal no exercício do poder de

polícia.36

No que concerne à conclusão do Colégio Permanente de

Presidentes dos Tribunais de Justiça do Brasil, observamos o seguinte:

...pela expressão autoridade policial se entende qualquer

agente policial, sem prejuízo da parte ou ofendido levar o fato

diretamente a conhecimento do Juízo Especial.37

35 FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias; RIBEIRO LOPES, Maurício Antônio. Comentários à lei dos juizados especiais cíveis e criminais. 2. ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 471. 36 Julio Fabbrini Mirabete, op. cit., 1998, p. 60. 37 Damásio Evangelista de Jesus, op. cit., 1996, p. 60.

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34

Reconhecendo a competência dos policiais militares para

a lavratura de termos circunstanciados, veio à lume a "carta de Cuiabá",

oriunda do XVII Encontro Nacional dos Corregedores-Gerais do Ministério

Público dos Estados e da União, a qual julgamos oportuno reproduzir:

CARTA DE CUIABÁ

Os Corregedores-Gerais do Ministério Público dos Estados e

da União, reunidos em Cuiabá, MT, nos dias 25 a 28 de

agosto de 1999, por ocasião do XVII Encontro Nacional,

considerando que o conceito de autoridade policial aludido

pelo art. 69, da Lei nº 9.099/95, não deve ser interpretado

restritivamente;

considerando os princípios da simplicidade, informalidade,

economia processual e celeridade, previstos nos artigos 2º

e 62, da Lei nº 9.099/95, e considerando que a atuação

ministerial, pautada pelos cânones do interesse público,

independe da origem do comunicado do ilícito criminal para

adoção das providências pertinentes;

concluem pela oportunidade da edição de recomendação

aos integrantes do Ministério Público dos Estados e da

União, observado o seguinte:

a) o reconhecimento da plena legalidade dos termos

circunstanciados lavrados por agentes públicos

regularmente investidos nas funções de policiamento;

b) a possibilidade da requisição direta de informações,

documentos, diligências, laudos, perícias, etc, quando

necessárias à elucidação dos fatos, não importando a origem

do correspondente termo circunstanciado;

c) a faculdade de remessa das peças ao juízo comum quando

a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a

formulação da denúncia, nos termos do § 2º, art. 77, da Lei

9099/95 .

Cuiabá, MT, 28 de agosto de 1999 (grifos nossos).

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35

Diante do exposto, não parece restar dúvida de que o

policial militar está abarcado pelo raio de abrangência estabelecido pelo art. 69

da Lei n.º 9.099/95, em sua menção a “autoridade policial”.

No dizer de Damásio Evangelista de Jesus38, representa

a finalidade básica do art. 69: a agilização da “prestação jurisdicional final”.

2.1.2 Algumas Ações Diretas de Inconstitucionalidade intentadas sobre o

tema

É oportuno lembrar que, pelo mesmo motivo e mesma

fundamentação jurídica, o Partido Social Liberal (PSL) e o Conselho Superior

da Magistratura e a Secretaria de Segurança Pública paulistas (ADIN nº 2590-

SP) por ação distribuída à relatoria da eminente Ministra Ellen Gracie em 26 de

dezembro de 2001.

Posteriormente foi editado o Provimento nº 34 da

Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, que de igual

forma autorizou a Polícia Militar a lavrar termos circunstanciados em infrações

penais de menor potencial ofensivo, na data de 27 de fevereiro de 2002, o

(PSL), segue contra a Corregedoria-Geral de Justiça do Estado do Paraná e

intenta nova Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN nº 2618-PR).

Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2618-PR, Requerente

PARTIDO SOCIAL LIBERAL (PSL), Advogado Wladimir

Sérgio Reale, Requerido CORREGEDOR-GERAL DE

JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ - DECISAO: - Vistos. O

PARTIDO SOCIAL LIBERAL - PSL, com fundamento nos arts.

102, I, a e p, e 103, VIII, da Constituição Federal, propõe ação

direta de inconstitucionalidade, com pedido de suspensão

cautelar, do Provimento n. 34, de 28 de dezembro de 2000, da

Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Estado do

Paraná. A norma acoimada de inconstitucional tem o seguinte

38 Damásio Evangelista de Jesus, op. cit., 1996, p. 34.

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36

teor: Provimento n. 34, de 28.12.2000. Capitulo 18, Juizado

Especial Criminal. Seção, 2, Inquérito Policial e Termo

Circunstanciado: . 18.2.1 A autoridade policial, civil ou militar,

que tomar conhecimento da ocorrência, lavrara termo

circunstanciado, comunicando-se com a secretaria do juizado

especial para agendamento da audiência preliminar, com

intimação imediata dos envolvidos. (Grifamos).

Este Provimento autoriza a Polícia Militar, representada

por seus agentes por “autoridades policiais” a lavrar termos circunstanciados e

comunicar a secretaria do Juizado Especial para agendamento da audiência

preliminar. O Partido Social Liberal (PSL) ingressoucom uma Ação Direta de

Inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal, postulando que o

Provimento em questão feria a Constituição Federal

Seguiu o Relatório decisivo:

O autor diz, inicialmente, que o ato impugnado, o qual

possibilita o conhecimento de termos circunstanciados

lavrados pela Policia Militar, segundo o art. 69 da Lei 9.099/95,

não possui caráter regulamentar, dado que o referido

dispositivo legal não prescreve que deva ser regulamentado,

e, mesmo que o fizesse, a competência para tal ato seria do

Poder Executivo, nos termos do art. 84, IV, da Constituição

Federal.

Afirma, que o Provimento, no ponto indicado, tem o intuito de

inovar o ordenamento jurídico estadual, atribuindo a Policia

Militar competência que não detinha, criando procedimento de

Direito Processual Penal, sujeitando-se, portanto, ao controle

concentrado, por se mostrar genérico e abstrato. Sustenta,

mais, em síntese, o seguinte: a) afronta a competência

legislativa federal, a teor do art. 22, I, da Constituição Federal,

mormente porque a definição do modo de agir de um agente

publico para a realização de ato cujo escopo e deflagrar a

persecução penal revela-se como matéria de Direito

Processual Penal; ademais, ha também vulneração ao

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37

principio da legalidade, em face da edição de ato de natureza

infralegal;

O argumento oposto na ADIN é de que somente a União

tem competência para normatizar acerca de Direito Processual Penal, o que,

na opinião do PSL, teria feito incorretamente um órgão do Poder Judiciário, e

não do Legislativo, de um Estado, e não da União, sustentando sua tese de

que, por mais esse motivo, o Provimento nº 34 da Corregedoria-Geral do

Tribunal de Justiça do Estado do Paraná seria inconstitucional.

O PSL argumentou ainda, conforme síntese registrada no

relatório do Ministro Carlos Velloso:

b) ofensa a repartição constitucional de competências entre as

polícias civil e militar, porquanto o art. 144, §§ 4º e 5º, da

C.F./88, estabelece que compete a polícia civil as funções de

polícia judiciária, enquanto que a polícia militar compete as

funções de policiamento ostensivo e preservação da ordem

publica;

Seguindo na síntese dos argumentos sustentados pelo

autor, traz o relatório mais:

c) contrariedade ao princípio da repartição dos poderes, dado

que não pode o Poder Judiciário editar norma que tenha por

fim definir novas atribuições e competências as polícias civil e

militar, que são órgãos vinculados ao Poder Executivo.

Finalmente, sustentando a ocorrência do fumus boni juris e do

periculum in mora, especialmente porque os policiais militares,

sem formação superior em Direito, não tem habilitação

adequada para realizar a tipificação dos crimes, decidir pela

incidência do procedimento da Lei 9.099/95 e lavrar termos

circunstanciados, pede o autor a concessão da medida

cautelar liminar, inaudita altera pars, visando a suspensão, no

ponto, do Provimento n. 34/2000, de 28 de dezembro de 2000,

da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado do Paraná. (fl.

18). Solicitaram-se informações (fl. 126), na forma do art. 12

da Lei 9.868/99.

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38

Nesse sentido, alegou o PSL que a certeza do direito,

baseada na distribuição de competências distintas às polícias civil e militar pela

Constituição Federal em seu artigo 144, e o perigo causado pelo fato de que

policiais militares, sem formação jurídica adequada, estariam atuando no

registro de termos circunstanciados de ocorrência, deveria ser o suficiente para

a decisão imediata do Supremo Tribunal Federal.

Seguindo o relatório, o Ministro Carlos Velloso traz as

informações do Corregedor-Geral de Justiça do Estado do Paraná:

O Exmo. Sr. Corregedor-Geral da Justiça do Estado do

Paraná, as fls. 214/223, sustentou, em síntese, o seguinte: a)

inadequação da via eleita (ação direta de

inconstitucionalidade), uma vez que o ato impugnado, Código

de Normas da Corregedoria-Geral de Justiça, e provimento

que visa a uniformidade de procedimentos e, para tanto,

interpreta, ou regulamenta, dispositivo de norma

infraconstitucional. (fl. 217), não tendo efeito vinculante senão

para os serventuários da justiça, certo que, sendo

regulamentar o ato impugnado, não pode ser acoimado de

inconstitucional, resolvendo-se a questão no campo da

legalidade, mediante o confronto com a legislação ordinária; b)

constitucionalidade do ato impugnado, mormente porque o art.

69 da Lei 9.099/95, ao dispor que o termo circunstanciado

será lavrado pela autoridade policial, tão logo tome

conhecimento da ocorrência, não afastou a possibilidade de a

polícia militar ser assim considerada. (fl. 217); ademais, não

sendo o termo circunstanciado inquérito policial, mas tão-

somente comunicação de fato relevante a autoridade

judiciaria, não há porque atribuir a competência para lavrá-lo

exclusivamente a policia civil, vedando tal prerrogativa aos

demais órgãos da segurança pública relacionados no art. 144

da Constituição Federal.

O Advogado-Geral da União, na época Dr. Gilmar

Ferreira Mendes, seguido pelo Procurador-Geral da República, opinou pelo não

conhecimento da ação, ou seja, que a ação fosse sequer recebida:

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39

O eminente Advogado-Geral da União, Dr. Gilmar Ferreira

Mendes, as fls. 225/230, requer o não conhecimento da ação

direta de inconstitucionalidade, ou, alternativamente, a sua

improcedência. O Procurador-Geral da Republica, Prof.

Geraldo Brindeiro, opinou pelo não conhecimento da presente

ação direta de inconstitucionalidade, e, se conhecida, pela sua

improcedência (fls. 232/235).

Finalizando, conclui e decide o Relator, Ministro Carlos

Velloso:

Autos conclusos em 18.4.2002. Decido. Destaco do parecer

do ilustre Procurador-Geral da República, Professor Geraldo

Brindeiro: . (...) 8. Afirma o autor que o Provimento n. 34/2000,

de 28 de dezembro de 2000, da Corregedoria-Geral do

Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, não tem natureza

regulamentar, e, se regulamento fosse, seria da competência

do Poder Executivo. 9. Observa-se, sim, que o referido ato

impugnado, apenas visou interpretar a legislação

infraconstitucional. Logo, não tendo invocado no ordenamento

jurídico, consequentemente, não existe afronta ao principio da

legalidade (art. 5º, II, CF). 10. Ademais, já existindo a lei, a

questão só pode ser dirimida no campo da legalidade e não da

inconstitucionalidade. 11. Poder-se-ia, sim, alegar que a

expressão ou militar contida no item 18.2.1., do Capitulo 18,

do Provimento n. 34/2000, teria extravasado o que fora

estabelecido na lei. Nesse caso, possível extravasamento

revelado resolve-se no campo da legalidade. Descabe, na

hipótese, portanto, discuti-lo em demanda direta de

inconstitucionalidade. Nesse sentido, a decisão proferida pelo

Supremo Tribunal Federal na ADI n. 1.968-PE, relator o

eminente Ministro MOREIRA ALVES (DJ de 04.5.01, p. 02,

transcrição parcial): Ação direta de inconstitucionalidade.

Dispositivos do Provimento n. 07, de 02 de outubro de 1997,

do Corregedor-Geral da Justiça e do Ato PGJ n. 093, de 02 de

outubro de 1997, do Procurador-Geral de Justiça, ambos do

Estado de Pernambuco. (...) - Ademais, esse controle e

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40

regulado em leis federais e estadual, e se os textos atacados

ultrapassarem o nelas estabelecido ou com elas entrarem em

choque, estar-se-á diante de hipótese de ilegalidade, o que

escapa do controle de constitucionalidade dos atos

normativos. - O mesmo se dá se os dispositivos impugnados

atentarem contra quaisquer normas de processo penal. Ação

direta que, preliminarmente, não e conhecida. 12. E de se

concluir, pois, que a presente ação direta de

inconstitucionalidade não pode ser conhecida. No concernente

ao mérito, também, não assiste razão ao Partido requerente,

porquanto inexiste afronta ao art. 22, inciso I, da Constituição

Federal, visto que o texto impugnado não dispõe sobre direito

processual ao atribuir a Autoridade Policial-militar competência

para lavrar termo circunstanciado a ser comunicado ao juizado

especial. Não se vislumbra, ainda, nem mesmo afronta ao

disposto nos incisos IV e V, e §§ 4º e 5º, do art. 144, da

Constituição Federal, em razão de não estar configurada

ofensa a repartição constitucional de competências entre as

policias civil e militar, além de tratar, especificamente, de

segurança nacional. 13. Ressalte-se, outrossim, que a Lei n.

9.839, de 27 de setembro de 1999, ao acrescentar o artigo 90-

A a Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, dispôs em seu

art. 2º: As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da

Justiça Militar. Ante o exposto, opino no sentido do não

conhecimento da presente ação direta de

inconstitucionalidade, e prejudicado, portanto, o pedido de

medida liminar. Se conhecida a ação, o parecer e no sentido

da sua improcedência. (...) (fls. 234/235).

Sobre o Provimento nº 34 da Corregedoria-Geral do

Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, assim concluiu o STF:

Está correto o parecer. O ato normativo impugnado não e um

ato normativo primário, mas secundário, interpretativo de lei

ordinária, a Lei 9.099, de 1995. A questão, pois, não e de

inconstitucionalidade. Se o ato regulamentar vai alem do

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41

conteúdo da lei, pratica ilegalidade. Destaco da decisão que

proferi na ADIn 1.875-DF: . (...) A duas, porque o objeto da

ação e ato regulamentar, assim ato normativo secundário, que

regulamenta disposições da Lei n. 5.010/66. A questão assim

posta, portanto, não seria de inconstitucionalidade: se o ato

regulamentar vai alem do conteúdo da lei, pratica ilegalidade.

No despacho que proferi negando seguimento a ADIn 1.547-

SP, aforada pela ADEPOL e que teve por objeto dispositivos

do Ato 098/96, do Ministério Publico do Estado de São Paulo,

asseverei: (...) O ato normativo impugnado nada mais e do

que ato regulamentar, assim ato normativo secundário, que

regulamenta disposições legais, normas constantes da Lei

Complementar estadual n. 734, de 26.11.93, da Lei federal n.

8.625, de 12.02.93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério

Publico) e da Lei Complementar federal n. 75, de 20.05.93 (Lei

Orgânica do Ministério Publico da União). A questão assim

posta, não e de inconstitucionalidade. Se o ato regulamentar

vai além do conteúdo da lei, pratica ilegalidade. No voto que

proferi na ADIn 589- DF, lembrei trabalho doutrinário que

escrevi sobre o tema - Do Poder Regulamentar, RDP 65/39 -

em que registrei que, em certos casos, o regulamento pode

ser acoimado de inconstitucional: no caso, por exemplo, de

não existir lei que o preceda, ou no caso de o Chefe do Poder

Executivo pretender regulamentar lei não regulamentável.

Todavia, existindo lei, extrapolando o regulamento do

conteúdo desta, o caso e de ilegalidade.

Decidiu, então, o Supremo Tribunal Federal, na citada ADIn

589- DF, por mim relatada: Constitucional. Administrativo.

Decreto regulamentar. Controle de constitucionalidade

concentrado. I. - Se o ato regulamentar vai alem do conteúdo

da lei, pratica ilegalidade. Neste caso, não ha falar em

inconstitucionalidade. Somente na hipótese de não existir lei

que preceda o ato regulamentar, e que poderia este ser

acoimado de inconstitucional, assim sujeito ao controle de

constitucionalidade. II. - Ato normativo de natureza

regulamentar que ultrapassa o conteúdo da lei não esta sujeito

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42

a Jurisdição constitucional concentrada. Precedentes do STF:

ADINs 311 - DF e 536 - DF. III. - Ação direta de

inconstitucionalidade não conhecida. (RTJ 137/1100). Na ADIn

1347-DF, Relator o eminente Ministro Celso de Mello, o

Supremo Tribunal Federal decidiu que o eventual

extravasamento, pelo ato regulamentar, dos limites a que se

acha materialmente vinculado poderá configurar

insubordinação administrativa aos comandos da lei. Mesmo

que desse vicio jurídico resulte, num desdobramento ulterior,

uma potencial violação da Carta Magna, ainda assim estar-se-

a em face de uma situação de inconstitucionalidade

meramente reflexa ou obliqua, cuja apreciação não se revela

possível em sede jurisdicional concentrada. (DJ de 01.12.95).

Nas ADIns 708-DF, Relator o Sr. Ministro Moreira Alves (RTJ

142/718) e 392-DF, Relator o Sr. Ministro Marco Aurélio (RTJ

137/75), outro não foi o entendimento da Corte. (...) No voto

que proferi no RE 189.550-SP, de cujo acórdão me tornei

relator, rememorei a jurisprudência da Casa no sentido acima

exposto, portando referido acórdão a seguinte ementa:

EMENTA: - CONSTITUCIONAL. COMERCIAL. SEGURO

MARITIMO. REGULAMENTO. REGULAMENTO QUE VAI

ALEM DO CONTEÚDO DA LEI: QUESTAO DE ILEGALIDADE

E NAO DE INCONSTITUCIONALIDADE. Decreto-lei n. 73, de

21.11.63. Decretos n.s 60.459/67 e 61.589/67. I. - Se o

regulamento vai além do conteúdo da lei, ou se afasta dos

limites que esta lhe traça, comete ilegalidade e não

inconstitucionalidade, pelo que não se sujeita, quer no controle

concentrado, quer no controle difuso, a jurisdição

constitucional. Precedentes do STF: ADIns 536-DF, 589-DF e

311- DF, Velhos, RTJ 137/580, 137/1100 e 133/69; ADIn 708-

DF, Moreira Alves, RTJ 142/718; ADIn 392-DF, Marco Aurélio,

RTJ 137/75; ADIn 1347- DF, Celso de Mello, .DJ. de 01.12.95.

II. - R.E. não conhecido. Do exposto, nego seguimento a ação.

(...).. Assim posta a questão, nego seguimento a ação.

Publique-se. Brasília, 03 de maio de 2002. Ministro CARLOS

VELLOSO – Relator”.

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43

Entretanto, em 28 de fevereiro de 2002, sucumbia a

ADIN nº 2618-PR, sem julgamento de mérito, pelo fato de que o partido

perdera a representatividade no Congresso Nacional.

Se esse processo restou terminado, ainda que sujeito à

pendenga intentada, prosseguiu o mesmo causídico, dessa vez representando

outro partido político – o Partido Liberal (PL) –, que com a mesma causa

petendi, e fundamentação jurídica, voltava à tona contra o Provimento 758/01

do Conselho Superior da Magistratura paulista e a Resolução nº 403/01 da

Secretaria de Segurança Pública, através de nova Ação Direta de

Inconstitucionalidade (ADIN nº 2862-SP), distribuída por prevenção à Ministra

Ellen Gracie em 26 de março de 2003, que foi julgado improcedente.

Nesse tema, ainda que fora do controle de

constitucionalidade concentrado, exclusivo do Supremo Tribunal Federal,

convém trazer ao conhecimento do feito que o Superior Tribunal de Justiça, ao

julgar o Habeas Corpus nº 7.1999-PR, já se posicionou:

RELATÓRIO: O EXMO. SR. MINISTRO VICENTE LEAL

(RELATOR): A ilustre Subprocuradora-Geral da República

Maria Eliane Menezes de Farias, oficiando nos presentes

autos, assim resumiu a espécie, verbis: “Cuida-se de habeas-

corpus impetrado por Elias Mattar Assad e outro, em favor de

Marcius de Paula Xavier Goms, apontando como autoridade

coatora o Governador do Estado do Paraná (fls.02/12).

Narram os autos que o Paciente foi autuado por fiscal da

Prefeitura de Guaratuba, e conduzido por policiais militares do

Estado até um Cartório da Polícia Militar, onde foi lavrado um

termo circunstanciado (fls.40), nos moldes da lei n.9099/95,

tendo o Paciente se recusado a assinar o compromisso do

artigo 69, parágrafo único, da Lei 9.099/95. Diante de tal fato,

impetrou habeas corpus perante o Juízo Monocrático,

apontando como autoridade coatora o comandante do 9º

Batalhão da Polícia Militar, sustentando constrangimento ilegal

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44

em virtude de o Paciente Ter sido ilegalmente notificado por

policial militar a comparecer ao Juizado Especial Criminal da

Comarca de Guaratuba por envolvimento em fato delituoso de

menor potencial ofensivo.” O Governador do Estado,

respondendo a expediente da defesa, afirmou, verbis:

“Consultada sobre o assunto, a Secretaria de Estado da

Segurança Pública informou que tanto o Poder Judiciário

quanto o Ministério Público, já se posicionaram a respeito da

competência da Polícia Militar sobre o assunto, ou seja, a

“lavratura de Termo Circunstanciado” previsto na Lei n

9099/95...” (fls.13). A ordem foi denegada, entendendo o

Magistrado que não houve nenhum prejuízo para o Paciente

com a lavratura do termo circunstanciado e sua cientificação

quanto à data da audiência preliminar, ao contrário, foi

cumprida a finalidade prevista na lei, de trazer o caso

imediatamente à apreciação do Juizado Especial Criminal da

Comarca (fls.17/36). Por meio do presente writ, alega o

Impetrante que a chefia do Poder Executivo violou preceito

constitucional ao permitir o uso da força policial militar em

funções tipicamente de polícia judiciária. Pretende seja o

Paciente desobrigado de comparecer a qualquer repartição

pública estadual sem que seja prévia e legalmente chamado

por autoridade competente, decretando-se, ademais, a

nulidade absoluta do termo circunstanciado, e, por fim, que

seja determinada a suspensão da ordem governamental e

cientificado o Comando Geral da Polícia Militar para que se

abstenha dessa prática.”(fls.112/113). E na parte conclusiva

do parecer, a nobre representante do Ministério Público

Federal opina pela denegação da ordem (fls.114/116). É o

relatório. VOTO: O EXMO.SR.MINISTRO VICENTE LEAL

(RELATOR): “Sustentam os impetrantes que o paciente foi

vítima de constrangimento porque, tendo sido acusado de

prática de infração de menor potencial ofensivo, a lavratura do

termo circunstanciado e a notificação para comparecer em

Juízo foi efetuado por autoridades da Polícia Militar. Ora, tal

fato não consubstancia qualquer ilegalidade, nem afronta o

direito de locomoção do paciente. É certo que, como

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45

acentuado no parecer do Ministério Público, tal providência

deve ser realizada, a priori, pela Polícia Judiciária, através do

Delegado de Polícia. Todavia, não tendo a Polícia Civil

estrutura para atender a demanda desses serviços, não há

impedimento legal que desautorize o Poder Executivo

Estadual utilizar os órgãos da Polícia Militar, em regra

destinados à relevante tarefa de policiamento ostensivo

fardado. A propósito, transcreva-se excerto do parecer

mencionado: “Outrossim, tecnicamente também não há

prejuízo algum para o Paciente. Como não se trata de

inquérito policial, não se deve exigir exclusividade do

Delegado para lavrar o termo, como afirma o Impetrante, em

vista de seus conhecimentos técnicos. Ora, a Polícia Militar

está qualificada para atender a chamados de ocorrência de

delitos, e, com certeza, saberá identificá-los, não com o rigor

técnico de um profissional do Direito, mas com a experiência

de sua digna atividade. Ademais, o termo circunstanciado

apenas informa a ocorrência do delito e a data em que haverá

a audiência perante o Juiz.” (fls.115). Correto, o

pronunciamento da ilustre representante do Ministério Público

o qual incorporo a este voto, adotando como razão de decidir.

Isto posto, denego o habeas-corpus. É o voto.”39

E, nos termos do relatório e voto do Relator decidiu o

Superior Tribunal de Justiça:

Superior Tribunal de Justiça – Habeas Corpus nº 7.1999/PR

(REG 98.00196625-0) - Relator: Exmo. Sr. Ministro Vicente

Leal - Impetrantes: Elias Mattar Assad e outro – Impetrado:

Governador do Estado do Paraná - Paciente: Marcus de Paula

Xavier Gomes – Ementa Penal: Processual Penal. Lei nº

9.099/95. Juizado Especial Criminal. Termo Circunstanciado e

notificação para audiência. Atuação de policial militar.

Constrangimento ilegal. Inexistência. Nos casos de prática de

39 Disponível em http://www.stj.gov.br

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46

infração penal de menor potencial ofensivo, a providência

prevista no art.69, da Lei n. 9.099/95, é da competência da

autoridade policial, não consubstanciando, todavia, ilegalidade

a circunstância de utilizar o Estado o contigente da Polícia

Militar, em face da deficiência dos quadros da Polícia Civil.

Habeas Corpus denegado. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e

discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma

do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, denegar o

habeas corpus, na conformidade dos votos e das notas

taquigráficas a seguir. Votaram com o Sr.Ministro-Relator os

Srs. Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro, Anselmo Santiago e

Fernando Gonçalves. Ausente, por motivo de licença, o

Sr.Ministro William Patterson. Brasília-DF, 1º de julho de 1998

(data do julgamento) -

2.1.3 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE NO TRIBUNAL DE

JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Tratando-se do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul,

também manifestou-se da seguinte forma:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PORTARIA

DA SECRETARIA DE ESTADO DA JUSTIÇA E DA

SEGURANÇA. ART. 69 DA LEI Nº 9.099-95. ATRIBUIÇÃO DE

COMPETÊNCIA À POLÍCIA MILITAR COM ALEGADA

OFENSA AOS ARTS. 129 E 133 DA CONSTITUIÇÃO

ESTADUAL. ATO REGULAMENTAR. HIPÓTESE SUJEITA À

JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL. LAVRATURA DE TERMO

CIRCUNSTANCIADO POR QUALQUER AUTORIDADE

INVESTIDA EM FUNÇÃO POLICIAL. COMPETÊNCIA DO

SECRETÁRIO DE ESTADO PARA O ATO. IMPROCEDÊNCIA

DO PEDIDO.

[...] MÉRITO. Não verifica afronta à repartição constitucional

das competências entre as polícias civil e militar. Expressão

autoridade policial referida no art. 69 da Lei nº 9.099-95

compreende quem se encontra investido em função policial, ou

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47

seja, a qualquer autoridade. Ato que insere nas atribuições

específicas do titular da Secretaria da Justiça e da Segurança,

a quem é assegurada a competência sobre serviço policial

militar e serviço policial civil (art. 8º, I, da Lei Estadual nº

10.356-95). Prévio acordo entre o Ministério Público e a Polícia

Estadual é decorrência do limitado alcance regulamentar do

ato, de modo a programar paulatinamente sua observância

nas comarcas que estiverem preparadas para o cumprimento

das ações concretas do órgão da Administração responsável

pelos serviços policiais. Hipótese de improcedência do

pedido… (Ação Civil Pública n. 70014426563, Tribunal Pleno,

rela. Desa. Maria Berenice Dias, j. 12/03/2007).

2.1.4 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE NO TRIBUNAL DE

JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

[...] HABEAS CORPUS - LEI N. 9.099/95 - AUTORIDADE

POLICIAL - POLICIAL MILITAR - LAVRATURA DE TERMO

CIRCUNSTANCIADO - POSSIBILIDADE - INDICIAMENTO

EM INQUÉRITO POLICIAL POR PRETENSA USURPAÇÃO

DE FUNÇÃO - INADMISSIBILIDADE DIANTE DOS

PRINCÍPIOS REGEDORES DA LEI N. 9.099/95 - FALTA DE

JUSTA CAUSA - TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

- ORDEM CONCEDIDA.

A Constituição Federal, ao prever uma fase de consenso entre

o Estado e o agente, nas infrações penais de menor potencial

ofensivo, criou um novo sistema penal e processual penal,

com filosofia e princípios próprios.

Para a persecução penal dos crimes de menor potencial

ofensivo, em face do sistema previsto na Lei dos Juizados

Especiais Criminais, e dando-se adequada interpretação

sistemática à expressão “autoridade policial” contida no art. 69

da Lei n. 9.099/95, admite-se lavratura de termo

circunstanciado por policial militar, sem exclusão de idêntica

atividade do Delegado de Polícia.

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48

O termo circunstanciado, que nada mais é do que “um registro

oficial da ocorrência, sem qualquer necessidade de tipificação

legal do fato”, prescinde de qualquer tipo de formação técnico-

jurídica para esse relato (Damásio E. de Jesus) (HC n.

00.002909-2, rel. Des. Nilton Macedo Machado, j. 18.4.2000).

Contudo, fica assim exposto que a autoridade

competente para a lavratura do termo circunstanciado, é também o Policial

Militar, prosperando assim, uma procedência jurídica ampla e célere para o

nosso ordenamento jurídico atual.

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49

Capítulo 3

A LEGALIDADE DO TERMO CIRCUNSTANCIADO REALIZADO

PELA POLÍCIA MILITAR

3.1.1 A LEGITIMIDADE DO TERMO CIRCUNSTANCIADO REALIZADO

PELA POLÍCIA MILITAR

Consoante no que tange a legalidade do termo

circunstanciado realizado pela polícia militar, devemos observar os seguintes

aspectos legais que regulam esse tema.

O legislador, tratando-se da lei 9.099/95, teve a clara

intenção desafogar o Poder Judiciário, por meio de um mecanismo que trata de

maneira diferenciada os delitos de menor potencial ofensivo, daqueles de maior

gravidade e que necessita de maiores diligências para instruir o juízo. A

abrangência do Artigo 69, sem a definição das autoridades que podem lavrar

os Termos Circunstanciados, criou em todo País uma disputa por espaço entre

as policias administrativas e judiciais. Contudo, hoje a maioria dos juristas

defende a confecção e o encaminhamento do Termo Circunstanciado pelas

policias militares, visando atender os preceitos que norteiam a Lei nº 9.099/95.

Em conformidade com a legislação vigente, não foi

possível identificar nenhum dispositivo que fosse de encontro com as

aspirações da Polícia Militar em exercer o legítimo dever de confeccionar e dar

o devido encaminhamento aos Termos Circunstanciados. Portanto não é

inconstitucional a atuação da Policia Militar em lavrar e encaminhar o Termo

Circunstanciado.

A lei n° 9.099/95, inovando a sistemática até então vigente,

adotou o modelo consensual de jurisdição, já existente no no

ordenamento jurídico dos países mais desenvolvidos,

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50

rompendo com os tradicionais dogmas da jurisdição conflitiva

seguida pelo CPP. Buscando sempre a agilização da

prestação jurisdicional para as infrações de diminuto potencial

ofensivo, consagrou novos postulados, como o da supremacia

da autonomia da vontade do acusado ou suspeito, sobre

princípios antes tidos como obrigatórios, como os da defesa e

do contraditório. Nessa nova sistemática, os princípios ora

aplicáveis são os da informalidade, celeridade e economia

processual, levando-nos a uma releitura da expressão

´´autoridade policial`` , para seus fins específicos. A

interpretação mais fiel ao espírito da lei, aos seus princípios e

à sua finalidade, bem como a que se extrai da análise literal do

texto, é a de que ´´autoridade policial`` , para os estritos fins da

Lei comentada, compreende qualquer servidor público que

tenha atribuições de exercer o policiamento, preventivo ou

repressivo. Se interpretarmos a lei nova sob a ótica do CPP,

não resta dúvida de que autoridade policial é o Delegado de

Polícia (arts. 4º, 6º, 7º, 13, 15, 16, 17, 23, 320, 322. etc.). Se,

entretanto, a analisarmos à luz da CF e dos princípios que a

informam, encontraremos conceito de maior amplitude, o que

atende à finalidade do novo sistema criminal.40

Este atual entendimento sobre o conceito de autoridade

policial para fins de aplicação da Lei n.º 9.099/95 abrangendo o policial civil e o

policial militar vem sendo confirmado pelo Poder Judiciário, através de

provimentos, enunciados de fóruns, encontros e congressos de Presidentes de

Tribunais de Justiça e Desembargadores, bem como em decisões judiciais

proferidas em todas as instâncias. Tal compreensão vem sendo ratificada,

também, pelo Ministério Público, mediante termos de cooperação, pareceres,

entre outras formas de posicionamento. A própria doutrina majoritariamente

segue este entendimento.

Recentemente, consolidando o alcance e a importância

da lavratura do termo circunstanciado pela Polícia Militar, o próprio Poder

40 Damásio E. de Jesus, 1996, p. 61

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51

Executivo nos Estados vem disciplinando os procedimentos de seus

organismos policiais neste sentido. Como exemplos, podem ser citados os

Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e

Santa Catarina.

É de suma importância destacar que a possibilidade da

lavratura do Termo Circunstanciado pela Polícia Militar é matéria pacífica entre

os mais destacados órgãos e instituições inseridas neste processo. Seguindo

esta linha, o entendimento é um só como passaremos a analisar os

posicionamentos pelos seguintes órgãos:

3.1.2 PROVIMENTO DO PODER JUDICIÁRIO

PROVIMENTO Nº 758/2001. Regulamenta a fase preliminar

do procedimento dos Juizados Especiais Criminais.

O CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA, no uso de

suas atribuições legais, Considerando o decidido no Processo

CG-851/00; Considerando os princípios orientadores do

procedimento do Juizado Especial Criminal, que são a

oralidade, a simplicidade, a informalidade, a economia

processual e a celeridade, Resolve:

Artigo 1º – Para os fins previstos no art. 69, da Lei 9.099/95,

entende-se por autoridade policial, apta a tomar conhecimento

da ocorrência, lavrando o termo circunstanciado,

encaminhando-o, imediatamente, ao Poder Judiciário, o

agente do Poder Público investido legalmente para intervir na

vida da pessoa natural, atuando no policiamento ostensivo ou

investigatório.

Artigo 2º – O Juiz de Direito, responsável pelas atividades do

Juizado, é autorizado a tomar conhecimento dos termos

circunstanciados elaborados pelos policiais militares, desde

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52

que assinados concomitantemente por Oficial da Polícia

Militar.

Artigo 3º – Havendo necessidade da realização de exame

pericial urgente, o policial militar deverá encaminhar o autor do

fato ou a vítima ao órgão competente da Polícia Técnico-

Científica, que o providenciará, remetendo o resultado ao

distribuidor do foro do local da infração.

Artigo 4º – O encaminhamento dos termos circunstanciados

respeitará a disciplina elaborada pelo juízo responsável pelas

atividades do Juizado Especial Criminal da área onde ocorreu

a infração penal. Artigo 5º – Este Provimento entrará em vigor

na data da sua publicação. São Paulo, 23 de agosto de 2001.

(aa) Márcio Martins Bonilha, Presidente do Tribunal de Justiça,

Álvaro Lazzarini, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça, e

Luís de Macedo, Corregedor Geral da Justiça.41

3.1.3 Posição Institucional - Parecer TC lavrado pela Brigada Militar do

Estado do Rio Grande do Sul:

MAURO HENRIQUE RENNER, Subprocurador-Geral de

Justiça para Assuntos Insitutcionais. CRIME DE MENOR

POTENCIAL OFENSIVO. TERMO CIRCUNSTANCIADO.

LAVRATURA PELA BRIGADA MILITAR. POSSIBILIDADE.

DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA. COMPETÊNCIA

SUPLEMENTAR DOS ESTADOS-MEMBROS. Historicamente,

a elaboração do inquérito policial constitui uma das funções da

Polícia Judiciária, hoje denominada Polícia Civil. Tal atribuição

foi mantida com a Constituição Federal de 1988, que prevê em

seu art. 144, §4º que "às polícias civis, dirigidas por delegados

de polícia de carreira, incumbem [...] as funções de polícia

judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as

militares". Segundo TOURINHO FILHO , "o Código de

41Provimento N° 758/2001, Disponível em http://www2.oabsp.org.br/asp/clipping_jur/ClippingJurDetalhe.asp?id_noticias=11193&AnoMes=20019, acessado em 10/09/2008.

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53

Processo, no seu art. 4º, deixa bem clara tal função: 'A Polícia

Judiciária (civil) será exercida pelas autoridades policiais no

território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a

apuração das infrações penais e da sua autoria" TOURINHO

FILHO, Fernando da Costa – Processo Penal – 1ª Volume –

19. Ed. Rev. E atual. – São Paulo: Saraiva, 1997, p. 188. Por

outro lado, no Capítulo referente ao Poder Judiciário, prevê a

Constituição Federal que a União e os Estados membros

criarão juizados especiais competentes para a conciliação, o

julgamento e a execução de infrações penais de menor

potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e

sumaríssimo (CF, art. 98, I). Dando eficácia a tal dispositivo, o

legislador editou a Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995,

reconhecendo à autoridade policial que tomar conhecimento

da ocorrência de fato delituoso a função de lavrar o respectivo

termo circunstanciado (art. 69). Percebe-se que o legislador na

Lei n.º 9.099/95 utilizou-se da expressão autoridade policial,

em relação à polícia judiciária do Código de Processo Penal.

Nitidamente aquela expressão é mais ampla do que esta. Por

tal razão, a doutrina especializada entendeu que "qualquer

autoridade policial poderá ter conhecimento do fato que

poderia configurar, em tese, infração penal. Não somente as

polícias federal e civil, que têm função institucional de polícia

judiciária da União e dos Estados (art. 144, §1º, inc. IV e §4),

mas também a polícia militar." GRINOVER, Ada Pellegrini e

outros – Juizados Especiais Criminais: Comentários à Lei

9.099, de 26.09.1995 – 3. Ed. Ver. E atual. – Sâo Paulo:

Editora revista dos Tribunais, 1999, p. 107. Esta também é a

posição de NEREU JOSÉ GIACOMOLLI, para quem a Polícia

Militar pode "[...] lavrar o termo circunstanciado e apresentar

os envolvidos ao Juizado, diretamente, ao invés de levá-los à

Delegacia de Polícia”. Juizados Especiais Criminais. Ademais,

não se pode perder de vista que o termo circunstanciado é

procedimento pré-processual que se insere na esfera do

direito processual penal como procedimento, à semelhança do

que sucede com relação ao inquérito policial e ao inquérito

civil, este em face do direito processual civil. Daí a

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54

possibilidade de os Estados-membros legislarem,

concorrentemente (competência complementar), com a União

acerca de procedimentos em matéria processual (CF, arts. 24,

XI c/c 24, §2º), pois "a Constituição brasileira adotou a

competência concorrente não cumulativa ou vertical, de forma

que a competência da União está adstrita ao estabelecimento

de normas gerais, devendo os Estados e o Distrito federal

especificá-las, por meio de suas respectivas leis." MORAES,

Alexandre de – Constituição do Brasil interpretada e legislação

constitucional – 2. Ed. – São Paulo: Atlas, 2003, p. 697. O

próprio artigo 98, inciso I, da Constituição Federal ao falar em

procedimentos, também autoriza os Estados a legislarem

sobre juizados especiais. Sendo assim, perfeitamente possível

que determinado Estado-membro, no uso de sua competência

complementar (ou suplementar), interprete a expressão

autoridade policial, prevista na norma geral do art. 69, da

Lei n.º 9.099/95, como gênero de que são espécies as

polícias civil e militar. No Estado do Rio Grande do Sul, a

Secretaria da Justiça e da Segurança expediu a Portaria SJS

n.º 172, de 16 de novembro de 2000, resolvendo que "todo

policial, civil ou militar, é competente para lavrar o Termo

Circunstanciado previsto no artigo 69 da Lei n.º 9.099, de 26

de setembro de 1995", sendo que a lavratura por Policiais

Militares somente ocorrerá nas Comarcas em que houver

acordo entre a Polícia Estadual e o Ministério Público, o que

restou ajustado por meio do Termo de Cooperação n.º 03, de

22 de janeiro de 2001, celebrado entre o Governo do Estado e

o Ministério Público. Sendo assim, a norma geral federal

estampada no artigo 69 da Lei dos Juizados Especiais foi

complementada pela Portaria SJS n.º 172 em conjunto com o

termo de cooperação. Admitida a possibilidade de a Brigada

Militar confeccionar o Termo Circunstanciado, logicamente

cumpre a ela instruir o feito com os documentos necessários à

prova da materialidade, podendo para tanto requisitar as

perícias que se fizerem necessárias (quem pode o mais, pode

o menos). Observa-se que, dentro dos princípios que norteiam

a Lei n.º 9.099/95 (celeridade, oralidade, informalidade,

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55

economia processual), para a primeira fase do procedimento

sumaríssimo (fase preliminar) precinde-se de laudo pericial

formal, podendo ser postergado ante a existência de outro

documento que permita aferir a materialidade (Lei n.º

9.099/95, art. 77, §1º). Seria inconcebível conferir atribuição à

Brigada Militar para confecção de Termo Circunstanciado e

exigir que a perícia seja realizada por intermédio de requisição

de Delegado de Polícia. Conclui-se, portanto, não haver

conflito de atribuições entre as polícias civil e militar, tendo em

vista a atribuição conferida à Brigada Militar para a confecção

dos Termos Circunstanciados, de acordo com a interpretação

doutrinária e jurisprudencial dominantes acerca da

abrangência do termo "autoridade policial" prevista no art. 69,

da Lei n.º 9.0099/95, bem como por haver legislação estadual

tãosomente complementando a referida norma geral federal.42

3.1.4 Provimento n.º 04/99, da Corregedoria do Tribunal de Justiça de

Santa Catarina:

No Estado de Santa Catarina, a Corregedoria-Geral da

Justiça resolveu a questão ao editar o Provimento n.º 04/99, esclarecendo que

autoridade, nos termos do art. 69 da Lei n.º 9.099/95, é o agente do Poder

Público com possibilidade de interferir na vida da pessoa natural, enquanto o

qualitativo policial é utilizado para designar o servidor encarregado do

policiamento preventivo ou repressivo (art. 1º); e ainda que, ressalvando o

parágrafo único do art. 4º do Código de Processo Penal43, a atividade

investigatória de outras autoridades administrativas, ex vi do art. 144, parágrafo

42 BRIGADA MILITAR, Associação dos Oficiais. Coletânea de Legislação Policial Militar Federal, Estadual e Interna da BM. Nota de Instrução nº 133 BM/EMBM 2.002. Primeiro semestre de 2002, Volume VII. P. 328-361. 43 In verbis: Art. 4º - A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. Parágrafo único - A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.

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56

5º, da Constituição da República44, nada obsta, sob o ângulo correicional, que

os Exmos. Srs. Drs. Juízes de Direito ou Substitutos conheçam de 'termos

circunstanciados' realizados, cujo trabalho tem também caráter preventivo,

visando assegurar ,a ordem pública e impedir a prática de ilícitos penais (art.

2º).

3.1.5 Corregedoria-Geral de Justiça de Santa Catarina:

Art. 1º - Esclarecer que autoridade, nos termos do art. 69 da

Lei 9.099/95, é o agente do Poder Público com possibilidade

de interferir na vida da pessoa natural, enquanto o qualificado

policial é utilizado para designar o servidor encarregado do

policiamento preventivo ou repressivo.

Art 2º - Ressalvado o parágrafo único do art. 4º do CPP, a

atividade investigatória de outras autoridades administrativa,

ex vi do art 144 parágrafo 5º da Constituição da República,

nada obsta, sob ângulo correcional, que os Exmos. Srs. Drs.

Juízes de Direito ou Substitutos conheçam de “Termo

Circunstanciado” realizado, cujo trabalho tem também caráter

preventivo, visando assegurar a ordem pública e impedir a

prática de ilícitos penais.

3.1.6 Ministério Público :

Termo de Cooperação para Implemento de Ações

Integradas contra a Violência do Trânsito - Termo de

Cooperação que entre si celebram o Ministério Público do

Estado de Santa Catarina, a Secretaria de Estado da

Segurança Pública, a Polícia Militar e a

Superintendência da Polícia Rodoviária Federal de Santa

Catarina, datado de 04 de janeiro de 2001 – No item 6,

44 O qual estabelece a competência das polícias militares para o exercício da polícia ostensiva e a preservação da ordem pública.

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57

do Anexo 1, do Primeiro Aditivo está expresso que “será

lavrado Termo Circunstanciado - TC em todas as

condutas típicas que constituírem infração penal de

menor potencial ofensivo, ou seja, nos crimes em que a

lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, ou

somente multa (Lei Federal n.º 9.099, de 26 de dezembro

de 1995 combinada com a Lei Federal n.º 10.259, de 12

de julho de 2001, art. 2º parágrafo único), tanto em

relação as condutas previstas no CTB, quanto em

relação aquelas previstas no CP, na LCP e outras leis” a

ser “elaborado pelas Polícias Civil, Militar e Rodoviária

Federal, as quais o encaminharão, incontinenti a juízo,

após os devidos registros”. (grifo nosso)

3.2.1 POSICIONAMENTOS DOUTRINÁRIOS

Diante disso, cabe salientar o posicionamento da jurista

Ada Pellegrini Grinover, integrante da comissão de juristas que elaborou o anteprojeto da Lei 9.099/95, assinalou que:

Qualquer autoridade policial poderá dar conhecimento do

fato que poderia configurar, em tese, infração penal. Não

somente as polícias federal e civil, que têm a função

institucional de polícia judiciária da União e dos Estados

(art. 144, § 1º, inc. IV, e § 4º), mas também a polícia

militar."( Juizados Especiais Criminais: Comentários à lei

9.099, de 26.9.1995. Revista dos Tribunais, 1995, p. 96/97).

Para Cândido Rangel Dinamarco:

Impõe-se interpretar o art. 69 no sentido de que o termo só

será lavrado e encaminhado com os sujeitos dos juizado,

pela autoridade, civil ou militar, que em primeiro lugar haja

tomado contato com o fato. Não haverá a interferência de

uma Segunda autoridade policial. A idéia de imediatidade,

que é inerente ao sistema e está explícita na lei, manda

que, atendida a ocorrência por uma autoridade policial, ela

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propicie desde logo o conhecimento do caso pela

autoridade judiciária competente: o emprego do advérbio

imediatidade no texto do art. 69, está a indicar que

nenhuma pessoa deve mediar entre a autoridade que

tomou conhecimento do fato e o juizado, ao qual o caso

será levado.(Lei 9.099/95, Por que burocratizar? In Jornal do

Estado do Paraná, seção Direito e Justiça, 17/12/95, p. 1).

Damásio E. de Jesus segue raciocínio no mesmo sentido

do até aqui exposto:

A interpretação mais fiel ao espírito da lei, aos princípios e

a sua finalidade, bem como a que se extrai da análise literal

do texto, é a de que 'autoridade policial', para os estritos

fins da Lei comentada, compreende qualquer servidor

público que tenha atribuições de exercer o policiamento,

preventivo ou repressivo.(in Lei do Juizados Especiais

Criminais Anotada. Editora Saraiva, São Paulo, p. 61)

Diante o exposto, podemos confirmar, através desta

reflexão sobre o termo circunstanciado realizado pela Polícia Militar, que a

legalidade está estampada sob a égide da própria hermenêutica jurídica que

reflete intensivamente sobre o nosso ordenamento jurídico.

3.3.1 Vantagens decorrentes da lavratura do Termo Circunstanciado pelo

Policial Militar

Tendo em vista que uma das maiores preocupações da

sociedade brasileira atual, é a segurança pública, é visto que uma das grandes

preocupações com os delitos de maior gravidade é a impunidade das infrações

de menor potencial ofensivo. Seguindo este raciocínio, a lavratura do termo

circunstanciado pelo policial militar surge como uma forte alternativa, visto que

só irá trazer benefícios a população.

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O policial militar é, na maioria das vezes, a primeira

autoridade policial a chegar ao local da ocorrência, reduzindo o tempo de

resposta na solução dos problemas daqueles que estão em situações de

emergência

Desta forma, a celeridade presenciada neste

procedimento contribui na valorização do trabalho policial militar pela

comunidade, obedecendo no que se refere ao dispositivo legal já mencionado

no art. 62° da lei 9.099/9545.

45 Vide Capítulo I, Princípio da Celeridade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lei nº 9.099/95 (alterada pela Lei n.º 10.259/01)

inaugurou nova sistemática processual relativa às denominadas infrações

penais de menor potencial ofensivo, isto é, as infrações penais sancionados

com pena privativa de liberdade não superior a 02 (um) anos.

A Lei trouxe profundas mudanças no cenário jurídico

brasileiro, requerendo o seu conhecimento por todos e, sobretudo, por aqueles

órgãos integrantes do Sistema Criminal, dentre os quais, as polícias militares.

A principal barreira que se impõe é a referente à

compreensão da expressão “autoridade policial” prevista no caput do art. 69 da

Lei.

Neste sentido, conforme exaustivamente demonstrado,

encontramos não apenas fundamentação meramente legal para que passemos

a adotar a sistemática ora proposta, mas também legitimidade (expressa na

correta e aprofundada leitura das missões constitucionalmente atribuídas à

nossa Instituição), bem como, se não bastasse, entendimentos favoráveis

expressos em doutrina e na jurisprudência pátria.

Deste modo, apesar de eventuais posicionamentos

doutrinários desfavoráveis (convenientes à manutenção das resistências por

parte das autoridades de polícia judiciária), o policial militar é autoridade

policial, sendo-lhe reservado importante espaço na nova ordem estabelecida

pela dita legislação.

Acreditamos que o fato de os policiais militares serem

autoridades policiais (não confundamos com autoridades de polícia judiciária -

não mencionadas nos diplomas legais em comento), enseja a necessidade de

que passem o mais rápido possível a lavrar o termos circunstanciados de

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Ocorrência (peça criada pelo legislador em lugar dos conhecidos instrumentos

de polícia judiciária representados pelo inquérito policial e pelo auto de prisão

em flagrante) no Brasil todo, conforme exemplos de Estados da nossa

Federação, já citados alhures.

Diante do exposto, importante asseverar que a finalidade

da discussão remete ao cumprimento das normas vigentes e, sobretudo, ao

atendimento do bem comum. A sociedade exige uma solução para os

problemas sociais, principalmente os relacionados à segurança pública, e é na

autoridade policial que ela vem buscar assistência. Portanto, de maneira

alguma o policial poderá se eximir dos deveres que a lei imprime, seja ele civil

ou militar.

A interpretação firmada de que a autoridade policial

competente para a lavratura do termo circunstanciado é tão-somente o

Delegado de Polícia indica entendimento equivocado. Resta evidenciado,

portanto, com base na doutrina, jurisprudência e legislação, que também o

policial militar é autoridade competente para a lavratura o termo

circunstanciado.

O policial militar não pode abrir mão de sua missão

constitucional de preservação de ordem pública. A lavratura do termo

circunstanciado faz parte de sua labuta diária, o que não caracteriza, como

entende uma minoria mal esclarecida, invasão na missão de qualquer outro

órgão de segurança pública.

Por fim, importante destacar que o policial militar ao

lavrar o termo circunstanciado atende a determinação legal disposta na Lei

9.099/95, com isso proporciona ao cidadão a certeza de que a lide será

submetida rapidamente ao Juizado Especial Criminal, efetivando a justiça e a

satisfação de todos.

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62

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

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ANEXOS

LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995.

Mensagem de veto Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

Disposições Gerais

Art. 1º Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência.

Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.

Capítulo II

Dos Juizados Especiais Cíveis

Seção I

Da Competência

Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:

I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;

II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;

III - a ação de despejo para uso próprio;

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IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo.

§ 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução:

I - dos seus julgados;

II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário mínimo, observado o disposto no § 1º do art. 8º desta Lei.

§ 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial.

§ 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.

Art. 4º É competente, para as causas previstas nesta Lei, o Juizado do foro:

I - do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local onde aquele exerça atividades profissionais ou econômicas ou mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou escritório;

II - do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;

III - do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações para reparação de dano de qualquer natureza.

Parágrafo único. Em qualquer hipótese, poderá a ação ser proposta no foro previsto no inciso I deste artigo.

Seção II

Do Juiz, dos Conciliadores e dos Juízes Leigos

Art. 5º O Juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar as provas a serem produzidas, para apreciá-las e para dar especial valor às regras de experiência comum ou técnica.

Art. 6º O Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum.

Art. 7º Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os segundos, entre advogados com mais de cinco anos de experiência.

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Parágrafo único. Os Juízes leigos ficarão impedidos de exercer a advocacia perante os Juizados Especiais, enquanto no desempenho de suas funções.

Seção III

Das Partes

Art. 8º Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.

§ 1º Somente as pessoas físicas capazes serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas.

§ 2º O maior de dezoito anos poderá ser autor, independentemente de assistência, inclusive para fins de conciliação.

Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória.

§ 1º Sendo facultativa a assistência, se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na forma da lei local.

§ 2º O Juiz alertará as partes da conveniência do patrocínio por advogado, quando a causa o recomendar.

§ 3º O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo quanto aos poderes especiais.

§ 4º O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser representado por preposto credenciado.

Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio.

Art. 11. O Ministério Público intervirá nos casos previstos em lei.

seção IV

dos atos processuais

Art. 12. Os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária.

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Art. 13. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais forem realizados, atendidos os critérios indicados no art. 2º desta Lei.

§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.

§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio idôneo de comunicação.

§ 3º Apenas os atos considerados essenciais serão registrados resumidamente, em notas manuscritas, datilografadas, taquigrafadas ou estenotipadas. Os demais atos poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente, que será inutilizada após o trânsito em julgado da decisão.

§ 4º As normas locais disporão sobre a conservação das peças do processo e demais documentos que o instruem.

seção v

do pedido

Art. 14. O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado.

§ 1º Do pedido constarão, de forma simples e em linguagem acessível:

I - o nome, a qualificação e o endereço das partes;

II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta;

III - o objeto e seu valor.

§ 2º É lícito formular pedido genérico quando não for possível determinar, desde logo, a extensão da obrigação.

§ 3º O pedido oral será reduzido a escrito pela Secretaria do Juizado, podendo ser utilizado o sistema de fichas ou formulários impressos.

Art. 15. Os pedidos mencionados no art. 3º desta Lei poderão ser alternativos ou cumulados; nesta última hipótese, desde que conexos e a soma não ultrapasse o limite fixado naquele dispositivo.

Art. 16. Registrado o pedido, independentemente de distribuição e autuação, a Secretaria do Juizado designará a sessão de conciliação, a realizar-se no prazo de quinze dias.

Art. 17. Comparecendo inicialmente ambas as partes, instaurar-se-á, desde logo, a sessão de conciliação, dispensados o registro prévio de pedido e a citação.

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Parágrafo único. Havendo pedidos contrapostos, poderá ser dispensada a contestação formal e ambos serão apreciados na mesma sentença.

Seção VI

Das Citações e Intimações

Art. 18. A citação far-se-á:

I - por correspondência, com aviso de recebimento em mão própria;

II - tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado;

III - sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória.

§ 1º A citação conterá cópia do pedido inicial, dia e hora para comparecimento do citando e advertência de que, não comparecendo este, considerar-se-ão verdadeiras as alegações iniciais, e será proferido julgamento, de plano.

§ 2º Não se fará citação por edital.

§ 3º O comparecimento espontâneo suprirá a falta ou nulidade da citação.

Art. 19. As intimações serão feitas na forma prevista para citação, ou por qualquer outro meio idôneo de comunicação.

§ 1º Dos atos praticados na audiência, considerar-se-ão desde logo cientes as partes.

§ 2º As partes comunicarão ao juízo as mudanças de endereço ocorridas no curso do processo, reputando-se eficazes as intimações enviadas ao local anteriormente indicado, na ausência da comunicação.

Seção VII

Da Revelia

Art. 20. Não comparecendo o demandado à sessão de conciliação ou à audiência de instrução e julgamento, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados no pedido inicial, salvo se o contrário resultar da convicção do Juiz.

Seção VIII

Da Conciliação e do Juízo Arbitral

Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclarecerá as partes presentes sobre as vantagens da conciliação, mostrando-lhes os riscos e as

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conseqüências do litígio, especialmente quanto ao disposto no § 3º do art. 3º desta Lei.

Art. 22. A conciliação será conduzida pelo Juiz togado ou leigo ou por conciliador sob sua orientação.

Parágrafo único. Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada pelo Juiz togado, mediante sentença com eficácia de título executivo.

Art. 23. Não comparecendo o demandado, o Juiz togado proferirá sentença.

Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão optar, de comum acordo, pelo juízo arbitral, na forma prevista nesta Lei.

§ 1º O juízo arbitral considerar-se-á instaurado, independentemente de termo de compromisso, com a escolha do árbitro pelas partes. Se este não estiver presente, o Juiz convocá-lo-á e designará, de imediato, a data para a audiência de instrução.

§ 2º O árbitro será escolhido dentre os juízes leigos.

Art. 25. O árbitro conduzirá o processo com os mesmos critérios do Juiz, na forma dos arts. 5º e 6º desta Lei, podendo decidir por eqüidade.

Art. 26. Ao término da instrução, ou nos cinco dias subseqüentes, o árbitro apresentará o laudo ao Juiz togado para homologação por sentença irrecorrível.

Seção IX

Da Instrução e Julgamento

Art. 27. Não instituído o juízo arbitral, proceder-se-á imediatamente à audiência de instrução e julgamento, desde que não resulte prejuízo para a defesa.

Parágrafo único. Não sendo possível a sua realização imediata, será a audiência designada para um dos quinze dias subseqüentes, cientes, desde logo, as partes e testemunhas eventualmente presentes.

Art. 28. Na audiência de instrução e julgamento serão ouvidas as partes, colhida a prova e, em seguida, proferida a sentença.

Art. 29. Serão decididos de plano todos os incidentes que possam interferir no regular prosseguimento da audiência. As demais questões serão decididas na sentença.

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Parágrafo único. Sobre os documentos apresentados por uma das partes, manifestar-se-á imediatamente a parte contrária, sem interrupção da audiência.

Seção X

Da Resposta do Réu

Art. 30. A contestação, que será oral ou escrita, conterá toda matéria de defesa, exceto argüição de suspeição ou impedimento do Juiz, que se processará na forma da legislação em vigor.

Art. 31. Não se admitirá a reconvenção. É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor, nos limites do art. 3º desta Lei, desde que fundado nos mesmos fatos que constituem objeto da controvérsia.

Parágrafo único. O autor poderá responder ao pedido do réu na própria audiência ou requerer a designação da nova data, que será desde logo fixada, cientes todos os presentes.

Seção XI

Das Provas

Art. 32. Todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda que não especificados em lei, são hábeis para provar a veracidade dos fatos alegados pelas partes.

Art. 33. Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.

Art. 34. As testemunhas, até o máximo de três para cada parte, comparecerão à audiência de instrução e julgamento levadas pela parte que as tenha arrolado, independentemente de intimação, ou mediante esta, se assim for requerido.

§ 1º O requerimento para intimação das testemunhas será apresentado à Secretaria no mínimo cinco dias antes da audiência de instrução e julgamento.

§ 2º Não comparecendo a testemunha intimada, o Juiz poderá determinar sua imediata condução, valendo-se, se necessário, do concurso da força pública.

Art. 35. Quando a prova do fato exigir, o Juiz poderá inquirir técnicos de sua confiança, permitida às partes a apresentação de parecer técnico.

Parágrafo único. No curso da audiência, poderá o Juiz, de ofício ou a requerimento das partes, realizar inspeção em pessoas ou coisas, ou determinar que o faça pessoa de sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado.

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Art. 36. A prova oral não será reduzida a escrito, devendo a sentença referir, no essencial, os informes trazidos nos depoimentos.

Art. 37. A instrução poderá ser dirigida por Juiz leigo, sob a supervisão de Juiz togado.

Seção XII

Da Sentença

Art. 38. A sentença mencionará os elementos de convicção do Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensado o relatório.

Parágrafo único. Não se admitirá sentença condenatória por quantia ilíquida, ainda que genérico o pedido.

Art. 39. É ineficaz a sentença condenatória na parte que exceder a alçada estabelecida nesta Lei.

Art. 40. O Juiz leigo que tiver dirigido a instrução proferirá sua decisão e imediatamente a submeterá ao Juiz togado, que poderá homologá-la, proferir outra em substituição ou, antes de se manifestar, determinar a realização de atos probatórios indispensáveis.

Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o próprio Juizado.

§ 1º O recurso será julgado por uma turma composta por três Juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.

§ 2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado.

Art. 42. O recurso será interposto no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.

§ 1º O preparo será feito, independentemente de intimação, nas quarenta e oito horas seguintes à interposição, sob pena de deserção.

§ 2º Após o preparo, a Secretaria intimará o recorrido para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.

Art. 43. O recurso terá somente efeito devolutivo, podendo o Juiz dar-lhe efeito suspensivo, para evitar dano irreparável para a parte.

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Art. 44. As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 13 desta Lei, correndo por conta do requerente as despesas respectivas.

Art. 45. As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento.

Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.

Art. 47. (VETADO)

Seção XIII

Dos Embargos de Declaração

Art. 48. Caberão embargos de declaração quando, na sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.

Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão.

Art. 50. Quando interpostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo para recurso.

Seção XIV

Da Extinção do Processo Sem Julgamento do Mérito

Art. 51. Extingue-se o processo, além dos casos previstos em lei:

I - quando o autor deixar de comparecer a qualquer das audiências do processo;

II - quando inadmissível o procedimento instituído por esta Lei ou seu prosseguimento, após a conciliação;

III - quando for reconhecida a incompetência territorial;

IV - quando sobrevier qualquer dos impedimentos previstos no art. 8º desta Lei;

V - quando, falecido o autor, a habilitação depender de sentença ou não se der no prazo de trinta dias;

VI - quando, falecido o réu, o autor não promover a citação dos sucessores no prazo de trinta dias da ciência do fato.

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§ 1º A extinção do processo independerá, em qualquer hipótese, de prévia intimação pessoal das partes.

§ 2º No caso do inciso I deste artigo, quando comprovar que a ausência decorre de força maior, a parte poderá ser isentada, pelo Juiz, do pagamento das custas.

Seção XV

Da Execução

Art. 52. A execução da sentença processar-se-á no próprio Juizado, aplicando-se, no que couber, o disposto no Código de Processo Civil, com as seguintes alterações:

I - as sentenças serão necessariamente líquidas, contendo a conversão em Bônus do Tesouro Nacional - BTN ou índice equivalente;

II - os cálculos de conversão de índices, de honorários, de juros e de outras parcelas serão efetuados por servidor judicial;

III - a intimação da sentença será feita, sempre que possível, na própria audiência em que for proferida. Nessa intimação, o vencido será instado a cumprir a sentença tão logo ocorra seu trânsito em julgado, e advertido dos efeitos do seu descumprimento (inciso V);

IV - não cumprida voluntariamente a sentença transitada em julgado, e tendo havido solicitação do interessado, que poderá ser verbal, proceder-se-á desde logo à execução, dispensada nova citação;

V - nos casos de obrigação de entregar, de fazer, ou de não fazer, o Juiz, na sentença ou na fase de execução, cominará multa diária, arbitrada de acordo com as condições econômicas do devedor, para a hipótese de inadimplemento. Não cumprida a obrigação, o credor poderá requerer a elevação da multa ou a transformação da condenação em perdas e danos, que o Juiz de imediato arbitrará, seguindo-se a execução por quantia certa, incluída a multa vencida de obrigação de dar, quando evidenciada a malícia do devedor na execução do julgado;

VI - na obrigação de fazer, o Juiz pode determinar o cumprimento por outrem, fixado o valor que o devedor deve depositar para as despesas, sob pena de multa diária;

VII - na alienação forçada dos bens, o Juiz poderá autorizar o devedor, o credor ou terceira pessoa idônea a tratar da alienação do bem penhorado, a qual se aperfeiçoará em juízo até a data fixada para a praça ou leilão. Sendo o preço inferior ao da avaliação, as partes serão ouvidas. Se o pagamento não for à vista, será oferecida caução idônea, nos casos de alienação de bem móvel, ou hipotecado o imóvel;

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VIII - é dispensada a publicação de editais em jornais, quando se tratar de alienação de bens de pequeno valor;

IX - o devedor poderá oferecer embargos, nos autos da execução, versando sobre:

a) falta ou nulidade da citação no processo, se ele correu à revelia;

b) manifesto excesso de execução;

c) erro de cálculo;

d) causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, superveniente à sentença.

Art. 53. A execução de título executivo extrajudicial, no valor de até quarenta salários mínimos, obedecerá ao disposto no Código de Processo Civil, com as modificações introduzidas por esta Lei.

§ 1º Efetuada a penhora, o devedor será intimado a comparecer à audiência de conciliação, quando poderá oferecer embargos (art. 52, IX), por escrito ou verbalmente.

§ 2º Na audiência, será buscado o meio mais rápido e eficaz para a solução do litígio, se possível com dispensa da alienação judicial, devendo o conciliador propor, entre outras medidas cabíveis, o pagamento do débito a prazo ou a prestação, a dação em pagamento ou a imediata adjudicação do bem penhorado.

§ 3º Não apresentados os embargos em audiência, ou julgados improcedentes, qualquer das partes poderá requerer ao Juiz a adoção de uma das alternativas do parágrafo anterior.

§ 4º Não encontrado o devedor ou inexistindo bens penhoráveis, o processo será imediatamente extinto, devolvendo-se os documentos ao autor.

Seção XVI

Das Despesas

Art. 54. O acesso ao Juizado Especial independerá, em primeiro grau de jurisdição, do pagamento de custas, taxas ou despesas.

Parágrafo único. O preparo do recurso, na forma do § 1º do art. 42 desta Lei, compreenderá todas as despesas processuais, inclusive aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição, ressalvada a hipótese de assistência judiciária gratuita.

Art. 55. A sentença de primeiro grau não condenará o vencido em custas e honorários de advogado, ressalvados os casos de litigância de má-fé. Em

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segundo grau, o recorrente, vencido, pagará as custas e honorários de advogado, que serão fixados entre dez por cento e vinte por cento do valor de condenação ou, não havendo condenação, do valor corrigido da causa.

Parágrafo único. Na execução não serão contadas custas, salvo quando:

I - reconhecida a litigância de má-fé;

II - improcedentes os embargos do devedor;

III - tratar-se de execução de sentença que tenha sido objeto de recurso improvido do devedor.

Seção XVII

Disposições Finais

Art. 56. Instituído o Juizado Especial, serão implantadas as curadorias necessárias e o serviço de assistência judiciária.

Art. 57. O acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou valor, poderá ser homologado, no juízo competente, independentemente de termo, valendo a sentença como título executivo judicial.

Parágrafo único. Valerá como título extrajudicial o acordo celebrado pelas partes, por instrumento escrito, referendado pelo órgão competente do Ministério Público.

Art. 58. As normas de organização judiciária local poderão estender a conciliação prevista nos arts. 22 e 23 a causas não abrangidas por esta Lei.

Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento instituído por esta Lei.

Capítulo III

Dos Juizados Especiais Criminais

Disposições Gerais

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por Juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo. (Vide Lei nº 10.259, de 2001)

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)

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Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis. (Incluído pela Lei nº 11.313, de 2006)

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial. (Vide Lei nº 10.259, de 2001)

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)

Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

Seção I

Da Competência e dos Atos Processuais

Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal.

Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se em horário noturno e em qualquer dia da semana, conforme dispuserem as normas de organização judiciária.

Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais foram realizados, atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei.

§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.

§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação.

§ 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por essenciais. Os atos realizados em audiência de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente.

Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado.

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Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.

Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.

Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os interessados e defensores.

Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de citação do acusado, constará a necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado, com a advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor público.

Seção II

Da Fase Preliminar

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002))

Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo possível a realização imediata da audiência preliminar, será designada data próxima, da qual ambos sairão cientes.

Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvidos, a Secretaria providenciará sua intimação e, se for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts. 67 e 68 desta Lei.

Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade

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da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.

Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conciliador sob sua orientação.

Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções na administração da Justiça Criminal.

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.

Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.

Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.

Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.

§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;

II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz.

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§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.

§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei.

§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.

Seção III

Do Procedimento Sumariíssimo

Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.

§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.

§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.

§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias do caso determinam a adoção das providências previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei.

Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus advogados.

§ 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na forma dos arts. 66 e 68 desta Lei e cientificado da data da audiência de instrução e julgamento, devendo a ela trazer suas testemunhas ou apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias antes de sua realização.

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§ 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos termos do art. 67 desta Lei para comparecerem à audiência de instrução e julgamento.

§ 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na forma prevista no art. 67 desta Lei.

Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de instrução e julgamento, se na fase preliminar não tiver havido possibilidade de tentativa de conciliação e de oferecimento de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei.

Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando imprescindível, a condução coercitiva de quem deva comparecer.

Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.

§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.

§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença.

§ 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz.

Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.

§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.

§ 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.

§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 65 desta Lei.

§ 4º As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento pela imprensa.

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§ 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.

Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.

§ 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão.

§ 2º Quando opostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo para o recurso.

§ 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

Seção IV

Da Execução

Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumprimento far-se-á mediante pagamento na Secretaria do Juizado.

Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declarará extinta a punibilidade, determinando que a condenação não fique constando dos registros criminais, exceto para fins de requisição judicial.

Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita a conversão em pena privativa da liberdade, ou restritiva de direitos, nos termos previstos em lei.

Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, ou de multa cumulada com estas, será processada perante o órgão competente, nos termos da lei.

Seção V

Das Despesas Processuais

Art. 87. Nos casos de homologação do acordo civil e aplicação de pena restritiva de direitos ou multa (arts. 74 e 76, § 4º), as despesas processuais serão reduzidas, conforme dispuser lei estadual.

Seção VI

Disposições Finais

Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.

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Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:

I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;

II - proibição de freqüentar determinados lugares;

III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;

IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.

§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.

§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.

§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.

§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.

§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.

Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver iniciada. (Vide ADIN nº 1.719-9)

Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar. (Artigo incluído pela Lei nº 9.839, de 27.9.1999)

Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura da ação penal pública, o ofendido ou seu representante legal será intimado para oferecê-la no prazo de trinta dias, sob pena de decadência.

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Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.

Capítulo IV

Disposições Finais Comuns

Art. 93. Lei Estadual disporá sobre o Sistema de Juizados Especiais Cíveis e Criminais, sua organização, composição e competência.

Art. 94. Os serviços de cartório poderão ser prestados, e as audiências realizadas fora da sede da Comarca, em bairros ou cidades a ela pertencentes, ocupando instalações de prédios públicos, de acordo com audiências previamente anunciadas.

Art. 95. Os Estados, Distrito Federal e Territórios criarão e instalarão os Juizados Especiais no prazo de seis meses, a contar da vigência desta Lei.

Art. 96. Esta Lei entra em vigor no prazo de sessenta dias após a sua publicação.

Art. 97. Ficam revogadas a Lei nº 4.611, de 2 de abril de 1965 e a Lei nº 7.244, de 7 de novembro de 1984.

Brasília, 26 de setembro de 1995; 174º da Independência e 107º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Nelson A. Jobim

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 27.9.1995

15.7 LEI FEDERAL 10259/01

Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal.

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O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Criminais da Justiça Federal, aos quais se aplica, no que não conflitar com esta Lei, o disposto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Art. 2o Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de competência da Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo.

Parágrafo único. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa.

Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.

§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:

I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;

II - sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais;

III - para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;

IV - que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a militares.

§ 2o Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de competência do Juizado Especial, a soma de doze parcelas não poderá exceder o valor referido no art. 3o, caput.

§ 3o No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta.

Art. 4o O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no curso do processo, para evitar dano de difícil reparação.

Art. 5o Exceto nos casos do art. 4o, somente será admitido recurso de sentença definitiva.

Art. 6o Podem ser partes no Juizado Especial Federal Cível:

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.........................................................................................................

Art. 18. Os Juizados Especiais serão instalados por decisão do Tribunal Regional Federal. O Juiz presidente do Juizado designará os conciliadores pelo período de dois anos, admitida a recondução. O exercício dessas funções será gratuito, assegurados os direitos e prerrogativas do jurado (art. 437 do Código de Processo Penal).

Parágrafo único. Serão instalados Juizados Especiais Adjuntos nas localidades cujo movimento forense não justifique a existência de Juizado Especial, cabendo ao Tribunal designar a Vara onde funcionará.

Art. 19. No prazo de seis meses, a contar da publicação desta Lei, deverão ser instalados os Juizados Especiais nas capitais dos Estados e no Distrito Federal.

Parágrafo único. Na capital dos Estados, no Distrito Federal e em outras cidades onde for necessário, neste último caso, por decisão do Tribunal Regional Federal, serão instalados Juizados com competência exclusiva para ações previdenciárias.

Art. 20. Onde não houver Vara Federal, a causa poderá ser proposta no Juizado Especial Federal mais próximo do foro definido no art. 4o da Lei no

9.099, de 26 de setembro de 1995, vedada a aplicação desta Lei no juízo estadual.

Art. 21. As Turmas Recursais serão instituídas por decisão do Tribunal Regional Federal, que definirá sua composição e área de competência, podendo abranger mais de uma seção.

§ 1o Não será permitida a recondução, salvo quando não houver outro juiz na sede da Turma Recursal ou na Região.

§ 2o A designação dos juízes das Turmas Recursais obedecerá aos critérios de antigüidade e merecimento.

Art. 22. Os Juizados Especiais serão coordenados por Juiz do respectivo Tribunal Regional, escolhido por seus pares, com mandato de dois anos.

Parágrafo único. O Juiz Federal, quando o exigirem as circunstâncias, poderá determinar o funcionamento do Juizado Especial em caráter itinerante, mediante autorização prévia do Tribunal Regional Federal, com antecedência de dez dias.

Art. 23. O Conselho da Justiça Federal poderá limitar, por até três anos, contados a partir da publicação desta Lei, a competência dos Juizados Especiais Cíveis, atendendo à necessidade da organização dos serviços judiciários ou administrativos.

Art. 24. O Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal e as Escolas de Magistratura dos Tribunais Regionais Federais criarão programas

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de informática necessários para subsidiar a instrução das causas submetidas aos Juizados e promoverão cursos de aperfeiçoamento destinados aos seus magistrados e servidores.

Art. 25. Não serão remetidas aos Juizados Especiais as demandas ajuizadas até a data de sua instalação.

Art. 26. Competirá aos Tribunais Regionais Federais prestar o suporte administrativo necessário ao funcionamento dos Juizados Especiais.

Art. 27. Esta Lei entra em vigor seis meses após a data de sua publicação.

Brasília, 12 de julho de 2001; 180o da Independência e 113o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo de Tarso Tamos Ribeiro Roberto Brant Gilmar Ferreira Mendes