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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Arthur Guilherme Motter Muller ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA COPA DO MUNDO EM CURITIBA CURITIBA 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Arthur Guilherme Motter Muller

ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA COPA DO MUNDO EM

CURITIBA

CURITIBA

2010

ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA COPA DO MUNDO EM

CURITIBA

CURITIBA

2010

Arthur Guilherme Motter Muller

ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA COPA DO MUNDO EM CURITIBA

CURITIBA

2010

Trabalho apresentado à disciplina de Conclusão de Curso II, do curso de Educação Física, opção em Bacharelado, da Universidade Tuiuti do Paraná. Orientadora: Prof.a Msc. Euza Virginia Cagnato

TERMO DE APROVAÇÃO

Arthur Guilherme Motter Muller

ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA COPA DO MUNDO EM

CURITIBA

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do grau de Bacharel no Curso de Educação Física da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 01 de dezembro de 2010. __________________________________________

Curso de Educação Física Universidade Tuiuti do Paraná

Orientadora: Prof.a Msc. Euza Virginia Cagnato Prof.a Márcia Regina Walter

Prof. Marcos Ruiz

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi primeiro verificar alguns aspectos de um megaevento

como a Copa do Mundo de Futebol, especificando principalmente os econômicos e

sociais em relação à Curitiba; segundo descobrir o que poderá trazer de benefícios para

a população; terceiro alertar sobre a importância da transparência que deve haver na

forma como o dinheiro é empregado em eventos desse porte e quarto analisar os

investimentos que serão empregados em Curitiba em infraestrutura, urbanismo,

transporte e segurança. O que se obteve como resultado é que várias mudanças terão

que ser feitas, não apenas nos estádios, mas também em termos de facilidades

referentes ao transporte e vias de acesso e segurança em Curitiba. Também se

verificou que em termos sociais o que se espera é que os investimentos feitos tragam

benefícios à população da cidade e que as estruturas construídas e revitalizadas sejam

aproveitadas pela população depois do evento da Copa. Porém, o ponto mais

importante dentre todos os abordados e que mostrou ser o que mais preocupa é de que

forma o dinheiro será utilizado e como é preciso que haja um controle efetivo dos

gastos, para que não haja prejuízos à cidade de Curitiba e às demais cidades que

sediarão os jogos.

Palavras-chave: Copa do Mundo, megaevento, legados, aspectos econômicos e sociais.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8

1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 10

1.2 PROBLEMA ...................................................................................................... 11

1.3 OBJETIVO GERAL ........................................................................................... 11

1.3.1 Objetivo específico .......................................................................................... 12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................... 12

2.1 O LEGADO DE MEGAEVENTOS ESPORTIVOS ......................................... 12

2.2 O LEGADO PARA O PAÍS DO FUTEBOL ..................................................... 14

2.3 O QUE É A COPA DO MUNDO DE FUTEBOL ............................................. 16

3 O SIGNIFICADO DE MEGAEVENTO. .......................................................... 17

4 A SOCIEDADE NO ESPORTE ......................................................................... 19

5 O INVESTIMENTO PARA CURITIBA .......................................................... 22

5.1 INVESTIMENTOS E SEUS BENEFICIÁRIOS ............................................... 24

6 ASPECTOS NEGATIVOS DO FUTEBOL........................................................27

7 METODOLOGIA ................................................................................................ 24

7.1 TIPOS DE PESQUISA ....................................................................................... 29

7.2 POPULAÇÃO .................................................................................................... 29

7.2.1 Amostra ........................................................................................................... 29

7.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS ....................................................... 30

7.4 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................... 30

7.5 LIMITAÇÕES .................................................................................................... 30

8 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................ 30

9 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 40

APÊNDICES ........................................................................................................... 42

ANEXOS.................................................................................................................. 45

8

1 INTRODUÇÃO

A Copa do Mundo de Futebol é um dos maiores eventos do planeta, pois engloba

diferentes times de várias partes do mundo. Nas últimas décadas eventos desse porte

atraem milhares de espectadores que assistem aos jogos durante o período do evento,

demonstrando que o futebol é um esporte mundialmente reconhecido e apaixonante e que

mexe com as emoções, tornando a vida do povo mais alegre devido às expectativas da

vitória do seu time. O futebol no Brasil é esperança para jovens que vivem na condição de

miseráveis, buscando no esporte uma saída para tirar a família da pobreza.

A paixão do autor pelo futebol vem desde pequeno, por ser um torcedor e

admirador desse jogo. Assim, a curiosidade em saber como funciona a organização de

uma Copa do Mundo era algo natural e deu impulso ao estudo necessário para fazer a

pesquisa. Para conhecer um pouco do universo que envolve a Copa do Mundo de

Futebol, foram analisados dois pontos, que se considerou mais importantes: a sociedade

e a economia de um grande evento. O início da pesquisa ligada à Copa do Mundo teve

como base principal a coleta de dados na bibliografia e entrevistas para trazer

conhecimento sobre os seus valores e o seu legado para a sociedade, que muitas vezes

desconhece como é feito um evento dessa magnitude e que aspectos positivos e negativos

ela pode englobar.

Assim, a complexidade desse megaevento torna mais atrativo o estudo colocado

em pauta, pois o envolvimento da sociedade e a economia são fundamentais para o

desenvolvimento de uma Copa do Mundo. A preparação que a sociedade deve ter para um

9

megaevento é importante para a sua realização, pois turistas do mundo inteiro estarão em

no país sede da Copa, querendo consumir os produtos que o país pode oferecer.

Os principais produtos que um país oferece durante um evento são os pontos

turísticos de cada cidade e suas belezas naturais. Geralmente, os organizadores procuram

preparar materiais impressos que reúnam informações sobre esses locais e treinam

pessoas, que estejam preparadas para dar explicações sobre vias mais fáceis de acesso a

esses pontos, horários e preços de passeios e visitações, o que é algo fundamental.

Ainda, é importante que se tenha uma rede hoteleira com atendimento e logística

apropriados para acesso aos estádios e restaurantes. Os restaurantes podem oferecer

comidas típicas, trazendo informações sobre cada prato, o que torna o local mais atraente,

pois não apenas se serve a comida, mas também se dá a possibilidade de conhecer um

pouco da cultura. Hotéis e restaurantes devem ter atendentes treinados para falar inglês

fluentemente, o que traz uma facilidade para o turista.

Construir lojas ao redor dos estádios, vendendo souvenirs e artesanato local

também pode trazer a oportunidade de movimentar a economia local. Todo o preparo para

a logística de um evento desse tamanho deve ser planejado com muita antecedência e ter

recursos disponíveis.

A estimativa de investimento do governo Federal, Estadual e Municipal para a

realização da Copa do Mundo no Brasil é de algo em torno de 100 bilhões de reais,

dinheiro esse, que será distribuído para áreas de mobilidade urbana, aeroportos, turismo,

estádios e segurança.

10

Para Curitiba acredita-se que o investimento será um dos menores devido às

condições já existentes na cidade. Será preciso investir em melhorias, principalmente, no

aeroporto e nas vias de acesso e também em segurança, mas em relação a outras sedes,

Curitiba já demonstra estar um passo à frente, pela infraestrutura organizada que tem,

podendo assim organizar com maior facilidade a recepção para este evento e proporcionar

um caminho para que a Copa do Mundo em Curitiba traga frutos para economia e para a

sociedade.

Há uma Comissão responsável pelo projeto de realização da Copa do Mundo em

Curitiba, da qual faz parte o ex-presidente do Clube Atlético Paranaense, Mario Celso

Petraglia. Desde que assumiu o Atlético em 1995 pensou em fazer o estádio da Arena da

Baixada de acordo com as diretrizes da FIFA para disputa do Brasileiro e da Copa

Libertadores. Foi então montada uma equipe que visitou estádios do mundo todo,

inclusive da África, buscando formas de tornar a Arena da Baixada um dos mais

modernos estádios do país e mais bem preparados para a Copa do Mundo de 2014.

Segundo Mario Celso Petraglia, o país e as cidades terão uma exposição de seis

anos, desde o ano da definição até a data dos jogos, sendo assim o ganho com o turismo

pode ser um dos carros chefes para a evolução da cidade de Curitiba.

1.1 JUSTIFICATIVA

Através deste estudo, busca-se possibilitar o entendimento sobre alguns aspectos

da Copa do Mundo de Futebol, o funcionamento de um megaevento e suas vertentes

11

econômicas e sociais, uma vez que estes dois fatores são o fundamento sobre o qual o

evento se desenvolve. Primeiramente, porque é a partir do aporte econômico que será

possível ser sede do evento e realizar as modificações necessárias, para garantir que se

cumpram as normas exigidas pela FIFA e segundo, porque a participação da sociedade

local é importante, para que o grande fluxo de pessoas que é recebido tenha um

acolhimento imprescindível a um evento dessa natureza. A pesquisa sobre esses aspectos

possibilitaria uma prévia para estudos com maior aprofundamento.

1.2 PROBLEMA Será que as pessoas que estão envolvidas com megaeventos como a Copa do

Mundo de Futebol, tais como organizadores, administradores ligados aos times de futebol

e representantes dos meios de comunicação acreditam que o evento de 2014 deixará um

legado para Curitiba?

1.3 OBJETIVO GERAL

O objetivo desse trabalho é verificar se as pessoas que estão envolvidas com

megaeventos, como a Copa do Mundo de Futebol, acreditam que o evento de 2014

deixará um legado para Curitiba.

12

1.3.1 OBJETIVO ESPECÍFICO

Investigar os aspectos sociais e econômicos que a Copa do Mundo traz para a

cidade sede, analisando o que os dirigentes e pessoas envolvidas pensam sobre a

realização desse evento na sua cidade e quais as possibilidades que este traz para haver

transformação para a sociedade local e o crescimento da economia.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 O LEGADO DE MEGAEVENTOS ESPORTIVOS

Hoje, as sociedades vivem um momento, em que o social e o tecnológico são

fatores para evolução e desenvolvimento das mesmas. No caso do Brasil, há muitas idéias

teóricas que poderiam mudar a nossa sociedade, o problema é colocar isso em prática. As

classes sociais em nosso país não têm um poder aquisitivo homogêneo. A discussão

dessa questão já gera uma polêmica em um país em que vai acontecer um megaevento,

pois seria importante pensar que todas as classes deveriam participar e se envolver nos

acontecimentos desse evento, porém, poucas pessoas têm o privilegio de acesso aos

estádios, mas será importante que se encontre formas de toda sociedade participar.

O legado de megaeventos envolve esporte, política, cultura, mercado de trabalho e

economia, sendo assim, pode proporcionar desenvolvimento para uma cidade ou um país,

trazendo uma melhor qualidade de vida para a população do local, os jogos são um

catalisador importante de melhorias da qualidade de vida. Podem ajudar a acelerar o

13

processo de regeneração de uma cidade nas mais diversas áreas como habitação,

transporte, segurança, convivência, educação e sucesso econômico apud

Rodrigues, 2008, p. 23)

O mais importante é a mobilização das diversas classes da sociedade no preparo,

recepção e interação nas diversas atividades e empregos proporcionados pelo evento e

também a organização de toda estrutura de recepção, para que depois de um megaevento

ainda se mantenha e se continue o desenvolvimento que beneficia essa sociedade.

O desenvolvimento na educação é um dos fatores para as mudanças sociais,

culturais, econômicas e ambientais, que um megaevento pode estimular. Porém, o que

torna um megaevento benéfico para a sociedade é a organização social urbana que

envolve todas as classes sociais, atendendo assim, todos os setores da sociedade. A

geração de emprego para a população durante o megaevento é fundamental para o

crescimento da economia da cidade e também para a melhora na qualidade de vida.

O desenvolvimento pós-megaevento seja em forma de infraestrutura melhorada na

cidade em geral, nos aeroportos e no transporte, por exemplo; melhor preparação para

empregos, na medida em que se treina as pessoas para relacionamentos interpessoais e

que se propicia o conhecimento de uma nova língua e de estruturas construídas que

possam ser utilizadas para outras atividades desenvolvidas nas cidades, depois que o

evento termina, são pontos positivos agregados ao local sede da Copa.

Porém, prejuízos também podem acontecer, por exemplo, se não houver um

controle na gestão econômica pode haver problemas como superfaturamento e dívidas

14

trazendo prejuízos incalculáveis às cidades sede, podendo levar anos para o pagamento da

divida e trazendo um retrocesso para a população.

A importância dos organizadores pesquisarem os pontos positivos e negativos de

megaeventos em outros países é descobrir o que a sociedade do lugar tinha como

característica e quais benefícios foram trazidos para esses locais ao sediarem a Copa.

Trazer esse aprendizado para um país que não tem tanta experiência como o Brasil, ajuda

a entender o que será necessário fazer e consequentemente enriquece o evento local,

tornando-o de grande sucesso.

2.2 O LEGADO PARA O PAÍS DO FUTEBOL

O Brasil vai sediar o maior evento esportivo do planeta em 2014, nas cidades que

já foram eleitas, que são Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus,

Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. É preciso com urgência

melhorar a infraestrutura, para que a Copa do Mundo nos traga benefícios. Os aeroportos

precisam de reformas; o transporte urbano, que é deficitário deve ser mais eficiente; a

segurança, que é um dos pontos mais críticos em nosso país, precisa ser revista, mas tudo

isso pode ser resolvido ou amenizado, se o dinheiro for bem empregado em uma política

de desenvolvimento. Outro ponto importante é a qualificação daqueles que recebem as

pessoas que virão visitar e se hospedar nas cidades escolhidas, pois falta mão-de-obra

para tais necessidades do turismo.

15

Para melhorar os aspectos referentes à infraestrutura, hotéis e aeroportos,

calcula-se um gasto tanto pelo setor público, como do privado de 60 a 110 bilhões de

reais, sendo que somente a reforma de estádios custa algo em torno de 5 bilhões de reais.

Porém, isso vai possibilitar que o Brasil se modernize e se desenvolva, pois há a previsão

de que em torno de 500 mil estrangeiros estarão presentes na Copa do Mundo de Futebol

trazendo benefícios para o turismo. O Brasil tem um fator positivo que são 8,5 mil

quilômetros de praias, além disso, há também a diversidade na gastronomia.

Tudo isso será uma prévia para o Brasil, que passará a ser observado e testado, pois

em 2016 haverá as Olimpíadas no Rio. Assim, é importante que haja seriedade no uso do

dinheiro gasto com obras, deixando benefícios e não tendo gastos absurdos como os que

ficaram comprovados no Pan de 2007.

Para evitar desperdício nos gastos, seria interessante que houvesse um

acompanhamento da população através de dados que as entidades responsáveis pela

organização do evento publicassem. Segundo Da Costa apud Rodrigues (2008), para que

haja maior publicidade e também seriedade esses registros devem apontar conteúdo,

forma e processos que foram utilizados na elaboração e realização de megaeventos

esportivos, o que tem se revelado essencial na construção de cenários futuros (anterior ao

evento) e na avaliação de seus impactos (posterior ao evento).

16

2.3 O QUE É A COPA DO MUNDO DE FUTEBOL

Para que se entenda como surgiu a Copa do Mundo é preciso se ter informação

sobre a instituição que rege o futebol, como foi seu surgimento e seus objetivos.

A FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado) é responsável por dirigir o

futsal, futebol de areia e o futebol.

Um de seus objetivos é espalhar e divulgar o futebol por cada canto do mundo,

mostrando sua prática, os seus valores, suas regras e há a crença de que através do futebol

há a possibilidade de oportunizar ao individuo mais necessitado a prática do esporte.

Segundo está estabelecido em seu site, a missão da FIFA é desenvolver o esporte,

sensibilizar o mundo e construir um mundo melhor.

O atual presidente da FIFA é Joseph Blatter, que comandou junto com João

Havelange as copas de 82 (Espanha), 86 (México), 90 (Itália) e 98 (França) e em 2002 foi

reeleito, durando o seu mandato até os dias de hoje.

A FIFA surgiu através do fortalecimento das federações na Europa e o início de

tudo foi a aprovação da Federação de Futebol da Inglaterra, que era a mais antiga. O

holandês Hirschmann teve um papel importante no estabelecimento de normas e

regulamentos da FIFA, sendo que França, Holanda, Bélgica, Dinamarca e Suécia são os

países fundadores da FIFA.

O futebol nasceu oficialmente em 1904, junto com ele veio a FIFA órgão

organizador e maior entidade referente ao futebol.

17

Desafios entre continentes aconteceram em meados de 1924 no Torneio Olímpico

em Paris, em que milhares de telespectadores puderam presenciar a vitória do Uruguai

sobre a Suíça na decisão. Outro torneio que chamou a atenção foi o torneio Olímpico de

Amsterdã, porém muitos países não participaram deste. Então a FIFA percebeu a

importância de fazer um torneio independente e novo e nessa época o futebol já começava

a se tornar profissional.

Em 1928, num congresso em Amsterdã, Jules Rimet, então presidente da FIFA

lança a proposta de que a primeira Copa do Mundo seja feita em 1930, tendo como

participantes os países que eram filiados da FIFA, sendo que a Copa seria de quatro em

quatro anos.

A partir de 1929, no congresso realizado em Barcelona ficou decidido o país em

que seria disputada a primeira Copa. O Uruguai foi escolhido e foram aceitas as propostas

do presidente Jules Rimet, para implementar a Copa.

A primeira Copa do Mundo teve a participação de treze países, sendo quatro

europeus, oito sul-americanos e um norte-americano. O primeiro campeão mundial foi o

Uruguai que venceu a Argentina com o placar de quatro a dois, na final.

3 SIGNIFICADO DE MEGAEVENTO

O megaevento se caracteriza pela mobilização de milhares de pessoas no local que

está recebendo o evento. Uma logística que facilite aos competidores, público e imprensa

a chegada nas competições ou nos pontos turísticos é desejável. Uma infraestrutura

18

adequada também é necessária para que tudo isso se torne possível, fazendo com que o

evento se torne um grande sucesso, atraindo turistas do mundo inteiro e a atenção dos

visitantes que perceberão a organização do local e terão vontade de voltar à cidade.

Diferentes autores trazem sua perspectiva e definição do que possa ser um megaevento:

o conceito de mega evento é um acontecimento de curta duração, com resultados permanentes por longo tempo nas cidades ou países que sediam e está associado à criação de infra-estrutura e comodidades para o evento. (ROCHE apud Matias, p. 177).

Porém, apesar de sua curta duração, é inegável que trazem ao país em que são

realizados a necessidade de toda uma organização e reorganização.

Megaeventos, por sua grandiosidade ou significado, são aqueles que produzem níveis extraordinariamente altos de turismo, cobertura da mídia, prestígio ou impacto econômico para a comunidade local ou de destino. O impacto econômico que acontece nas cidades é de uma enormidade trazendo durante o evento oportunidades para toda a população e envolvidos nesse megaevento. É importante que esse pacto econômico não se torne momentâneo, mas que traga um legado, trazendo benefícios futuros. (GETZ apud SILVA, 2005, p. 1).

O que demonstra que os impactos causados por um megaevento não são poucos e

exigem uma atenção toda especial, para que possam ser mantidos como um benefício

percebido, depois que o evento se encerre.

[...] eventos, diferentemente de operações de produção ou de serviços, são por sua definição, únicos em relação à localização onde eles são realizados, além de estritamente temporários e portanto, uma avaliação dos impactos a longo prazo são cheios de incertezas, múltiplas variáveis e medidas subjetivas. O mais importante de um megaevento é o seu legado e atender a todas classes sociais, descobrindo o que a população local mais necessita e as facilidades que essa terá para usufruir dos bens deixados. (ROSE apud RUBIO, 2008, p. 14).

Essa característica de que cada evento é único e que nem sempre os impactos

positivos ou negativos poderão ser avaliados com antecedência, sendo somente conhecida

sua repercussão depois do final, não devem desestimular a participação dos países.

19

4 A SOCIEDADE NO ESPORTE

A importância da participação da sociedade brasileira num evento como a Copa do

Mundo está na forma como ela se comporta durante um evento desse porte, na sua função

e na sua participação, que permite uma transformação no processo de crescimento da

mesma através do esporte.

O esporte hoje em dia funciona como um grande negócio, podendo se fazer uma

comparação entre esporte e a sociedade onde vivemos.

Os princípios da sociedade capitalista mercantil determinam estruturalmente o esporte, as categorias socioeconômicas encontram correspondência nas categorias esportivas: a especialização esportiva é produto da divisão social do trabalho (técnica do corpo); a busca do máximo rendimento torna o recorde similar a uma medida da capacidade produtiva almejada: o esporte é uma corrida contra o relógio (tempo capitalista); o espetáculo esportivo torna-se uma mercadoria; os esportistas perdem sua individualidade (despersonalização e massificação). A produtividade do sistema esportivo é medida pelo número de atletas produzidos e /ou pelo número de medalhas obtidas. (PRONI, 2002, p. 43).

A medalha ou um campeonato na visão dos atletas e dirigentes devem ser

conquistados a qualquer custo, ou seja, a sociedade capitalista tem muito a ver com isso,

pois os objetivos finais são o lucro e a compensação, sem que se leve em conta valores

mínimos necessários para se viver em sociedade, o que de certa forma se transferiu para o

esporte.

A Copa do Mundo é vista pela mídia como um evento que traz milhares de

espectadores para frente da TV, gerando milhões de dólares em publicidade e

influenciando diretamente a sociedade que acredita que a Copa do Mundo só traz

benefícios para as cidades sedes. A sociedade deve se preparar para um megaevento, mas

20

com uma mente pensante e critica, para que assim possa encontrar a melhor forma de

trazer crescimento, buscando benefícios de cultura, lazer e estrutura para que um evento

desse porte gere pontos positivos no desenvolvimento da qualidade de vida da população.

O esporte hoje em dia tem sido também um grande negócio político e econômico

para as grandes empresas.

A primeira função social do esporte diz respeito as suas aplicações econômicas. O mercado esportivo não é diferente, nos seus fundamentos, de outros mercados. O esportista troca sua força de trabalho por uma renda cujo preço se determina numa bolsa de valores esportivos. (BROHM apud PRONI, 2002, p. 143).

O esporte tornou-se um negócio rentável e de grandes proporções, em que a

multinacionais fazem um investimento enorme, patrocinando atletas e competições,

hoje estão à

mercê tanto de empresários como dos clubes a que pertencem. Essa supervalorização do

atleta está em parte ligada à valorização que a sociedade dá ao esporte e aos jogadores,

que passaram a ser respeitados pelo prestigio e vida privilegiada que têm, motivos que

fazem com que uma Copa seja tão bem recebida, pois o futebol cresceu com este

prestígio.

Outro aspecto importante do lado social, o esporte ajuda a população a se unir

num único objetivo, que é representar bem o nosso país, não importa a cor e nem a classe

social, ficando evidente em épocas de Copa a nacionalidade de um povo o esporte ajuda

a criar uma identidade nacional, porque o esporte está cheio de símbolos com os quais a

coletividade se identifica (bandeiras, escudos, hinos e heróis) funcionando como uma

21

para as massas ou como emblema da sociedade. (PRONI, 2002,

p. 47).

Através do futebol um país que está em crise pode amenizar a situação em que vive

através do orgulho, alegria e satisfação para a população, o povo esquece seus problemas

momentaneamente.

A sociedade espera que um megaevento traga suporte para a qualidade de vida,

sanando problemas que o país tem dificuldade de resolver, trazendo oportunidades para a

mesma, porém, ao mesmo tempo, organizadores e patrocinadores visam os lucros e

enriquecimento próprio.

O desporto era visto como lazer voltado para o prazer, envolvendo mais o corpo que a mente e sem nenhum valor econômico. Hoje isso mudou devido à evolução do ser humano e de como o mundo capitalista funciona, temos acesso a tudo com muita facilidade trazendo o mundo materialista a tona e deixando que valores como família e educação fiquem em segundo plano. (ELIAS apud RIBEIRO).

Mas, isto não é impedimento para que se vejam os benefícios do esporte. É

essencial lembrar que através do esporte pode-se atrair a atenção dos jovens para a

importância da prática do exercício, como forma de trazer saúde, educação e respeito e,

além disso, o esporte ajuda o indivíduo a cumprir regras e manter a disciplina.

O esporte é entendido num sentido restrito, como uma prática motora/corporal: a) orientada a comparar um determinado desempenho entre indivíduos ou grupos; b) regida por um conjunto de regras que procuram dar aos adversários iguais condições de oportunidade para vencer a contenda e, dessa forma, manter a incerteza do resultado, e c) com essas regras institucionalizadas por organizações que assumem (exigem) a responsabilidade de definir e homogeneizar as normas de disputa e promover o desenvolvimento da modalidade, com o intuito de comparar o desempenho entre diferentes atores esportivos (por exemplo, a nível mundial). (GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER 2005)

22

5 O INVESTIMENTO PARA CURITIBA

Economicamente, o ponto fundamental é saber os valores que uma Copa do

Mundo de Futebol gera, quem são os beneficiários e qual parte da economia cresce mais

durante e após uma Copa do Mundo, para tanto é preciso analisar o investimentos que

serão feitos e quais áreas têm uma maior necessidade para a Copa.

Curitiba, a cidade que é a capital do Paraná, está situada na região sul do Brasil,

com 26 municípios e uma população 1,8 milhões de habitantes. A Prefeitura juntamente

com o governo Estadual, o governo Federal e o Clube Atlético Paranaense vão realizar a

Copa do Mundo 2014 e trazer também a Copa das Confederações1 em 2013. Segundo o

site portal transparência, os investimentos em obras públicas como sistema de transporte e

estádio serão de R$ 703.400.000,00 de reais.

Curitiba será um dos palcos em que se realizarão os jogos da Copa de 2014. O

estádio escolhido foi o Joaquim Américo que terá a capacidade para 41 mil torcedores,

levando dois anos para ser construído. O estádio terá cobertura, o que possibilita que

possa ser usado depois em multi-eventos, terá também praça de alimentação, centro

comercial e estacionamento para quase 2.000 carros. Com um investimento previsto de

184 milhões de reais.

O trânsito e os meios de transporte público também deverão ser pontos a melhorar.

Curitiba apresenta uma situação caótica em relação ao trânsito e os acessos a diferentes

1 Evento organizado pela FIFA, que é disputado um ano antes da Copa do Mundo de Futebol, reunindo seis campeões continentais mais o país sede e o campeão mundial somando oito países na disputa.

23

pontos da cidade estão comprometidos. Pensando nisso e com o objetivo de atender a

população e os turistas durante a Copa do Mundo de 2014, o site portal transparência2

informa que há a previsão da expansão do sistema já existente na Avenida Cândido de

Abreu, que será revitalizado para receber a passagem do novo ônibus Ligeirão

Boqueirão/Centro Cívico e que ganhará um calçadão para pedestres com um investimento

de 5,10 milhões de reais. Transporte do aeroporto para a rodoferroviaria será feito com a

linha TRO (Trânsito Rápido de Ônibus), num investimento de 107 milhões de reais.

Haverá a ampliação de três quilômetros da Linha Verde entre o Pinheirinho e o Contorno

Sul com um gasto de 18 milhões de reais. Será criado um corredor de 52 km na Região

Metropolitana ligando Curitiba, Almirante Tamandaré, Pinhais, Colombo, Piraquara,

São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande e Araucária, num investimento de

130 milhões de reais. Requalificação da Rua Marechal Floriano, num trecho de 8 km,

principal ligação entre aeroporto e o centro de Curitiba representando um investimento

30 milhões de reais. Ainda serão feitas melhorias na rodoferroviaria num total de

36 milhões de reais, nos terminais de ônibus num total de 12 milhões de reais. Os

sistemas de vias de acesso contarão com melhorias nos semáforos e segurança e no

transporte coletivo haverá câmeras de monitoramento, que significam um investimento de

69 milhões de reais e por último, investimento de 36 milhões de reais nas vias de

integração radial metropolitanas.

2 Disponível em: http://www.portaltransparencia gov.br/.copa2014. Acesso em: 28 out. 2010.

24

A necessidade de ampliação do aeroporto é iminente, a previsão de investimento é

de 31milhões de reais segundo o portal de transparência. Atualmente, o aeroporto

comporta 3,5 milhões de pessoas por ano, depois das obras serão 8 milhões, segundo o

Ministério do Esporte esse projeto tem como objetivo a ampliação do sistema de táxi e

ampliação da pista. Um dos problemas do aeroporto Afonso Pena são os nevoeiros, que

aumentam na época de julho, quando será disputado o Mundial, portanto, é preciso

investir em equipamentos para vôos baixos. A logística também é importante, pois o

transporte de passageiros do aeroporto para os hotéis é necessário devido à distância do

aeroporto até o centro da cidade. Para receber os turistas tem que haver uma rede

hoteleira que possa proporcionar a eles viabilização e comodidade na acomodação. A

capacidade atual é de 19 mil leitos e a previsão para 2014 será de aproximadamente 21

mil.

5.1 INVESTIMENTOS E SEUS BENEFICIÁRIOS

Uma vez que há a previsão de tantos investimentos, é preciso saber quem irá ser

beneficiado. Imagina-se que a população possa usufruir de todos esses investimentos, que

trarão uma qualidade de vida, mas na prática nem sempre é assim que funciona:

os efeitos da Copa do Mundo em 2006 na Alemanha, constataram que as expectativas estavam sobrevalorizadas, de forma que os empregos adicionais eram apenas temporários e os custos de infra-estrutura e promoção da Copa-2006 foram significativos. Eles concluíram que os principais beneficiários dos eventos foram a FIFA e a German Foootball Association (DFB). (BRENGE e WAGNER apud DOMINGUES, 2009, p. 3).

25

Falando da Copa da África do Sul tem-se que:

na Copa da África do Sul, os empregos gerados pela construção de estádios são temporários e após o evento esportivo o desemprego urbano poderá subir. A comparação entre os dois países deixa claro que o dinheiro investido na África foi direto nos estádios, enquanto que na Alemanha foi só adequações pois já existiam estádios modernos. É importante destacar que os investimentos em grandes eventos muitas vezes recarregam o setor público tornando-se inviável o pagamento trazendo dividas enormes durante anos. (PILLAY e BASS, 2008, p. 3).

países em desenvolvimento o custo de capital é maior, pois o dinheiro gasto

no evento representa dinheiro não gasto em outras áreas como a área da saúde

(SWINEM; VANDEMORTELE apud DOMINGUES, p. 3). O que permite a comparação

do Brasil com a África, por todos os problemas que existem em termos de corrupção e

desigualdade social nos dois países, porém o Brasil está em ascensão econômica, assim se

poderia usufruir melhor desse momento investindo em áreas que necessitam maior

atenção. Em termos de geração de empregos, muitos deles são gerados antes e durante a

competição, o que pode então permitir à população melhorar a sua qualidade de vida,

porém, muito provavelmente a grande maioria deles não se manterá e poderá então haver

prejuízos à população, assim a África é um exemplo, para que não ocorram os mesmos

erros.

Em termos de investimento é preciso controlar os gastos, principalmente em

estádios construídos com o dinheiro de ordem pública, pois caso isso não ocorra, grandes

despesas podem ser geradas e a divida do país sede pode aumentar, consequentemente

ocasionando aumento de impostos para a população. Sabe-se que megaeventos em outros

países trouxeram dívidas e o pagamento durou anos trazendo prejuízos para a população.

26

A mensuração do impacto econômico para o país sede não pode ser ilusória,

portanto, é necessária uma avaliação criteriosa, para que não se gaste mais do que a

receita inicial e que o retorno não deixe de suprir as expectativas trazendo prejuízos

imensuráveis.

Ainda é preciso programar de que forma será feita a manutenção dos estádios e

construções que ficam ociosas depois de um megaevento, que gerarão uma perda dos

investimentos e um alto custo se abandonados, de forma que não haja nenhum plano para

sua utilização depois do Mundial, sendo então considerados verdadeiros

:

para atenuar tais situações, além do planejamento, é necessário avaliar a demanda de longo-prazo de residentes locais e turistas. Tais turistas, além de gerar retorno para os investimentos despendidos nos estádios, também despendem recursos na economia local, estimulando a renda e trabalho para os residentes locais. A renda e trabalho adicional produzem uma maior receita de impostos para o orçamento público, que poderá ser usada para financiar novos projetos. (Golden Goal apud Domingues, 2010, p. 4).

Segundo Marcos Malucelli, presidente do Clube Atlético Paranaense, em

reportagem do dia 29 de outubro da Gazeta do Povo3, a Copa do Mundo é um absurdo.

Para ele os gastos são muito grandes, nas construções dos estádios os valores chegam a

700 milhões de reais e haverá uma despesa de bilhões com a qual o governo terá que

arcar, quando o Brasil necessita investir esse dinheiro em outras áreas, o que mostra a

faceta absurda da situação. A posição de Marcos Malucelli desde o inicio foi de que se o

Clube Atlético Paranaense não conseguisse o apoio financeiro do governo ele seria contra

a realização da Copa do Mundo no estádio Joaquim Américo. Mas através da viabilização 3 Disponível em: [email protected]. Acesso em: 29 out. 2010.

27

do potencial construtivo e da possibilidade de empréstimo de recurso do Fundo de

Desenvolvimento Econômico (FDE) do Estado, vai ser possível a conclusão do estádio. A

opinião de Malucelli é de que o clube não tem nenhuma responsabilidade com esses

recursos e que a Copa é responsabilidade da cidade de Curitiba, o Atlético apenas está

emprestando o estádio.

Tendo em vista todos os aspectos citados anteriormente, é preciso um controle nos

gastos e uma fiscalização de todos os projetos, trazendo uma transparência a todo o

processo e permitindo que a Copa do Mundo no Brasil deixe um legado por muitos anos.

6 ASPECTOS NEGATIVOS DO FUTEBOL

O futebol se tornou um esporte mundialmente conhecido, tendo milhões de adeptos

que se encantam com o jogo que mexe com as emoções das pessoas e, muitas vezes, até

transformam a vida das mesmas. Mas o futebol tem o seu lado obscuro que, muitas vezes,

não é passado para a população, a qual ingenuamente acredita que o futebol é um jogo

limpo. Mas nos bastidores, políticos e dirigentes fazem negócios em que há muito

dinheiro envolvido, para o seu favorecimento, através de patrocinadores e de seus

interesses. Segundo Simson e Jennings trata-se de um domínio secreto, elitista, em que as

decisões sobre o esporte, o nosso esporte, são tomadas a portas fechadas, onde se gasta

rios de dinheiro para criar um estilo de vida fabuloso para um círculo restrito de dirigentes

em vez de providenciar melhores condições para os atletas, onde o dinheiro destinado ao

28

esporte acaba desviado para contas bancárias no exterior e onde os dirigentes se

perpetuam no poder, sem se perturbar com eleições.

Os dirigentes do futebol devem se preocupar com os atletas que são os

responsáveis pelo o espetáculo, cuidando de suas carreiras e valores como honestidade,

educação e respeito pelo adversário e pela população que paga o ingresso e quer ver um

jogo limpo, sem compra de resultados ou compra de jogadores para favorecer times,

empresários e patrocinadores. Outro ponto citado por Jennings são as eleições a portas

fechadas e as contas geradas por esses dirigentes, que deveriam tornar público todos esses

valores de transação entre patrocinadores e competições. As eleições devem ter maior

transparência e ter um estatuto para renovação de cargos com prazo de dois em dois anos,

para que o dirigente não fique no poder por muitos anos como acontece na FIFA no caso

de João Havelange e Joseph Blatter, que comandam a instituição por muito tempo,

favorecendo os seus interesses e trazendo a corrupção para o futebol.

Sem dúvida, em época de Copa do Mundo esse desejo do lucro cresce e deve ser

controlado de perto, de forma que todos os valores gastos e recebidos tenham a destinação

certa.

29

7 METODOLOGIA

7.1 TIPOS DE PESQUISA

Pesquisa qualitativa, descritiva, que tem como objetivo a interpretação e análise

quantitativa dos dados, por meio da utilização de descrição rica, narrativa e interpretativa.

Ela progride em um processo indutivo o desenvolvimento de hipóteses e teoria, à medida

que os dados são descobertos (GLASSER; STRAUSS, 1976).

7.2 POPULAÇÃO

Dirigentes responsáveis pela administração privada do evento na cidade de

Curitiba e pessoas envolvidas com o tema em questão.

7.2.1 Amostra

Neste estudo foram entrevistados um gestor de time de futebol da capital

paranaense, dois jornalistas do esporte, dois administradores de empresas, que já

acompanharam eventos esportivos, e dois professores que são pesquisadores deste tema

no Brasil.

30

7.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS

O instrumento utilizado na pesquisa foi uma entrevista com sete questões

elaboradas sobre os aspectos econômicos e sociais inerentes à um evento como a Copa do

Mundo de Futebol.

7.4 ANÁLISE DOS DADOS

Análise interpretativa através das respostas dos entrevistados. 7.5 LIMITAÇÕES

Pesquisar as cidades que já tiveram Copa do Mundo para tentar entender as

transformações econômicas e sociais e buscar saber qual será o resultado da realização da

Copa do Mundo no Brasil. Dificuldade de entrevistar pessoas do grupo mobilizador, por

não conseguir acesso pessoal, já que a entrevista deveria ser feita in loco.

8 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Questão 1- Transformação de países em desenvolvimento

O objetivo é saber se o Brasil, que está em pleno desenvolvimento, terá uma

transformação socioeconômica em virtude de uma Copa do Mundo.

31

Com relação aos sete entrevistados, seis afirmaram categoricamente

haverá uma transformação tendo em vista uma visibilidade para o país sede. Citam que

países como Barcelona e até mesmo a África recuperaram áreas degradadas e trouxeram

qualidade para setores como transporte, urbanismo, esporte, turismo e segurança. Apenas

um acha que a Copa é um custo muito alto e comenta que durante a competição todas as

receitas irão para os organizadores. Para a entrevistada Kátia Rúbio:4

a possibilidade de uma mudança sempre existe, uma vez que esse país ganha visibilidade internacional e também recebe a diversidade em seu território. A questão está na disponibilidade de incorporação desses valores após o término da competição.

Golden Goal apud Domingues (2010) menciona que é necessário que se faça uma

avaliação em que se possa enxergar os custos, benefícios e potenciais riscos a longo

prazo, enxergando-se além do planejamento do momento, avaliando-se a demanda de

longo-prazo de residentes locais e turistas.

Acredita-se que o país sede deve ser o maior beneficiário com a arrecadação do

evento, se isso ocorrer, não há dúvida de que se gerará desenvolvimento e transformação

no país.

Questão 2- Infraestrutura em virtude da Copa do Mundo

Essa questão aborda a responsabilidade das instituições antes e depois do evento.

Os entrevistados dão ênfase ao investimento aplicado em infraestrutura para a

população e na maior aplicação de dinheiro que devem ser feitas por empresas privadas e

4 Kátia Rubio é professora associada da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, orientadora nos programas de Pós-graduação da EEFE-USP e FE-USP. Escreveu e organizou 15 livros acadêmicos nos últimos 10 anos na área de Psicologia do Esporte e Estudos Olímpicos, abordando os temas Psicologia do Esporte, Estudos Olímpicos, Psicologia Social do Esporte, Psicologia do Esporte Aplicada e Esporte e Cultura.

32

que o investimento público seja voltado apenas para a população. Vale a pena ressaltar

que a Copa do Mundo é um evento privado que depende do poder público para ser

realizado. Para o entrevistado Cristian Toledo:5

Quanto ao eixo público a responsabilidade é cuidar para que o dinheiro seja investido de forma correta, evitando que haja desperdício e superfaturamento, são essas coisas que imaginamos de uma autoridade pública e entidades privadas passar o máximo de vantagens para que o eixo público gaste menos, passando benefícios para que o Estado não fique onerado por conta da Copa do Mundo de Futebol.

Segundo Brenke e Wagner apud Domingues (2009) os efeitos da Copa do Mundo

em 2006 na Alemanha não foram os esperados, houve uma sobrevalorização, sendo os

empregos adicionais apenas temporários, com custos de infraestrutura e promoção

significativos para a Copa de 2006. Chegando-se à conclusão de que os principais

beneficiários foram a FIFA e a German Foootball Association.

Assim, é de suma importância o controle dos gastos, sendo de total

responsabilidade do governo e da FIFA que o que foi deixado em termos de

infraestrutura, novas construções e revitalização, por todos os investimentos necessários

para sediar a Copa, tenha uma utilidade por muito tempo.

Questão 3- Execução dos projetos de infraestrutura

A questão aborda o que é necessário em termos de infraestrutura para a realização

da Copa. Três dos entrevistados abordaram que o país sede deve se adequar aos encargos

da FIFA para a realização do megaevento, um cita que o custo é altíssimo para um país

5 Cristian Toledo é apresentador do "Tribuna no Esporte", da Rede Record, plantão da Rádio Transamérica de

Curitiba e sub-editor de esportes do jornal O Estado do Paraná. Já trabalhou, entre outras, nas rádios Difusora, Cidade e Clube.

33

em desenvolvimento como o Brasil, sendo que levará anos para o retorno do

investimento. Outro diz que deve ser feito de forma organizacional e que o dinheiro deve

ser empregado de forma correta. Um comenta que a população deve indicar aonde deve

ser empregado o dinheiro, trazendo um legado pós-copa. Para o entrevistado Cristian

Toledo:

com relação à FIFA há todo um caderno de encargos, usando uma preparação que tem que ser feita, as coisas tem que estar prontas antes da Copa, essas obrigatoriedades terão que ser cumpridas, tantos nos estádios particulares como públicos. Devemos sim, seguir os encargos da FIFA, mas respeitando a população, verificando o que ela mais necessita em termos de infraestrutura para termos um legado e servirmos de referência para outros países.

Questão 4 - Vantagens e Desvantagens da Copa

O que a Copa trará para a sociedade, pontos positivos e negativos.

Cinco dos entrevistados destacam que a vantagem seria o turismo que as cidades

teriam, deixando o comércio forte e tendo como consequência o desenvolvimento das

cidades, fora a sua exposição para o resto do mundo. Dois dizem que se bem aplicado o

dinheiro com projetos que visam o pós-copa poderá trazer bens culturais e melhorias à

segurança e ao transporte da população. Dos sete entrevistados seis acreditavam haver

desvantagens e um acreditava haver apenas pontos positivos. Como desvantagens um

deles cita a expectativa da população em ser beneficiada, podendo se decepcionar com o

resultado, um cita os jogos como os de Montreal 76, que levaram quase à falência a

prefeitura e a Copa da África, em que os investimentos foram feitos apenas em estádios.

Três apontam o superfaturamento em projetos e a renúncia fiscal em benefícios dos

organizadores, trazendo prejuízos à população. Um comenta sobre o possível crescimento

34

desenfreado da cidade, prejudicando todo o planejamento. Para o entrevistado Roberto

Mehler 6 necessário comprometimento de todas as partes envolvidas, idoneidade para

realizar o trabalho de forma eficaz e com organização.

Assim, uma gestão social com um bom planejamento torna possível que haja um

legado positivo para o futuro.

Acredita-se que a população será beneficiada com aspectos que representam mais

pontos positivos que negativos, os pontos positivos vão desde os estádios até a parte de

segurança e o principal seria o turismo para o Brasil, que poderá receber turistas do

mundo inteiro, que desconhecem as qualidades de certas cidades como Curitiba,

tornando-a assim uma cidade turística mais conhecida e procurada. E os pontos negativos

seriam o dinheiro mal investido, como já foi citado, e a falta de fiscalização no uso de

dinheiro público tornando os impostos mais caros.

Questão 5- Economia retorno para as cidades

Em termos econômicos, qual será o retorno para as cidades.

Dos sete entrevistados, cinco acreditam que a economia ficará aquecida durante o

Mundial havendo um ganho de muitos anos em infraestrutura, fora a vinda dos

estrangeiros consumindo os produtos oferecidos e trazendo consequentemente empresas

estrangeiras para futuros investimentos. Um dos entrevistados não visualiza um retorno

econômico, acredita em turismo apenas durante a Copa e que no final das contas quem vai

6 Roberto Mehler é formado em Administração de empresa na FAE, trabalhou durante um ano no clube méd na parte de recreação e esteve presente na Copa do Mundo de Futebol na Alemanha 2006.

35

pagar as contas será a população. Outro acredita que a única cidade beneficiada será a

cidade do Rio de Janeiro que terá os jogos mais importantes, atraindo assim a mídia

internacional, ele cita o exemplo da África, em que Johanesburgo foi disparado o centro

das atenções da imprensa.

Para o entrevistado Fernando César Dias Silva:7

As cidades terão um retorno financeiro gigantesco, se imaginarmos que cada torcedor que virá para Curitiba vai gastar uma quantia muito grande, isso já nos leva a pensar o quanto será vantajoso para a cidade esse evento. Sem contar também com os milhares de empregos que serão gerados durante a Copa.

O conceito de megaevento é de um acontecimento de curta duração, com

resultados permanentes por longo tempo nas cidades ou países que sediam e está

associado à criação de uma infraestrutura para o evento e que deve se reverter em

comodidades para o futuro.

É difícil mensurar em termos monetários o retorno para as cidades, especialmente

Curitiba, mas acredita-se que durante a Copa o comércio ficará forte e

auto-sustentável, trazendo empregos e lucros aos envolvidos.

Questão 6- Qualificação da população na Copa

Como se pode qualificar e treinar as pessoas para a Copa do Mundo no Brasil e

receber os turistas passando uma boa impressão.

7 Fernando César Dias Silva é radialista da banda B e apresentador de esporte na rede CNT, já esteve em competições como a Copa América de Futebol e Copa do Mundo de Futebol.

36

Dos sete entrevistados dois dão ênfase à necessidade da população aprender uma

língua estrangeira, dois citam que na FIFA há programas para voluntários, em que eles

fazem todo o treinamento para receber os turistas e os outros três focam no aspecto da

educação e organização, tendo em vista também um entendimento de um evento desse

porte.

Para o entrevistado Vilson Ribeiro de Andrade,8 a FIFA existem programas de

voluntários para a Copa do Mundo. É de fundamental importância que essas pessoas

dominem fluentemente a língua Inglesa A possibilidade de se ter uma rede hoteleira de

qualidade com atendimento e a logística para os acessos aos estádios e que tenha recursos

humanos com um inglês fluente, pode fazer a diferença.

Pode-se pensar em primeiro lugar na receptividade, organização e na educação. A

população local deverá aprender no mínimo uma língua estrangeira, saber mostrar os

principais pontos turísticos e as vias de acesso mais fáceis, trazendo consigo panfletos dos

melhores restaurantes e hotéis da cidade, chamando assim a atenção dos turistas.

Questão 7- O que representa para cidade

Para a cidade o que vai representar sediar uma Copa do Mundo.

Dos sete entrevistados todos acham que trará uma visibilidade para a cidade,

podendo se tornar um ponto turístico atrativo.

8 Vilson Ribeiro de Andrade é CEO (Chief Executive Officer) da HSBC Seguradora. Advogado especialista em Direito Administrativo e Direito Constitucional e atualmente é vice presidente do Coritiba Foot Ball Club.

37

Para o entrevistado Gustavo Rolin:9

A cidade sede vive um momento único durante a realização da Copa do Mundo. Só se fala, só se vê, só se respira Copa do Mundo nestes 30 dias. A economia da cidade fica superaquecida, obras de infraestrutura são realizadas e, realizando um bom trabalho, pode-se criar um novo pólo turístico. Barcelona é um grande exemplo de que sedes de eventos importantes (Olimpíadas 92) pode se tornar um pólo turístico após a realização do evento.

Preuss (2008) aponta que os jogos são catalisadores importantes para uma vida

digna, podendo trazer melhorias em áreas como habitação, transporte, segurança,

conveniência, educação e econômica.

Acredita-se na visibilidade e que dependendo da organização de cada cidade, esta

poderá se tornar uma opção na rota internacional, se tornando uma cidade turística.

9 Gustavo Rolin é formado em Administração de Empresa na FAE e é um dos responsáveis pelo site furacao.com e esteve presente na Copa do Mundo de Futebol na África.

38

9 CONCLUSÃO

De tudo que foi abordado concluísse que a Copa do Mundo pode ter seu lado

benéfico, mas ao mesmo tempo pode trazer prejuízos, o que dependerá da forma como

sejam conduzidas as ações necessárias à recepção dos milhares de turistas, que virão para

o evento.

Espera-se que no Brasil, especialmente em Curitiba, haja frutos positivos a se

colher nos aspectos sociais e econômicos. É possível que haja um crescimento da

economia e enormes benefícios à população. O fato de se investir em aspectos como

segurança, infraestrutura, transporte, já permite visualizar os benefícios, que se espera

sejam mantidos no período pós-copa e possam ainda ser implementados de forma mais

decisiva depois dos jogos, para que se perceba que as vantagens não foram perdidas ao

longo do tempo. Além disso, a visibilidade da cidade a nível internacional deve trazer

turismo para Curitiba durante e depois da Copa.

Porém, não é possível se ter uma previsão tão segura do que possa acontecer de

fato depois do término dos jogos. O que se pode dizer é que o ponto principal a ser

sempre questionado e que deve ter um controle rigoroso é a aplicação do dinheiro, para

que as cidades sede não sejam injustamente oneradas com um megaevento que não é só

delas, mas do país todo.

É preciso apenas que haja controle nos investimentos e que eles sejam feitos

naquilo que seja mais prioritário, evitando-se superfaturamento por instituições privadas

39

como a FIFA, fazendo com que o evento se torne muito caro, trazendo dividas e

conseqüentemente prejudicando o país sede.

O cenário futuro difícil de prever só poderá realmente ser estudado após a Copa, o

que por si só já deixa a possibilidade de que este estudo se amplie e avalie as reais

condições existentes após a Copa e seu legado.

40

REFERÊNCIAS ALVARES, Tânia Nogueira, VIEIRA, Maria Cândida Vieira. As cidades da Copa de

2014. Revista Valor Especial. Set. 2009. BRASIL. CONFEF /Ministério do Esporte. RODRIGUES et al. Legados de Megaeventos

Esportivos. 2008. BRASIL. FIFA. Disponível em: www.fifa.com. Acesso em 10 de nov. 2010. BRASIL. Ministério do Esporte. Disponível em: http://www.esporte.gov.br/ Acesso em: 05 nov. 2010. BRASIL. Portal Transparência. Disponível em: http://www.portaltransparencia gov.br/. copa2014. Acesso em: 28 out. 2010. DOMINGUES, Edson Paulo Junior, BETARELLI, Admir Antonio, MAGALHÃES Aline Souza. Copa do mundo 2014: impactos econômicos no Brasil. Minas Gerais. DUARTE, Orlando. Enciclopédia Todas as Copas do Mundo. São Paulo: Makron Books 1998. GONZÁLEZ, Fernando Jorge; FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo. Dicionário Crítico de

Educação Física. Ijuí: Unijuí, 2005. SIMSON, Vyv; JENNINGS, Andrew. Os Senhores dos Anéis. Best Seller.

LAZZARI, Robson de. Copa 2014. Disponível em: [email protected]. Acesso em: 29 out. 2010. PILLAY, U.; BASS, O. Mega-events as a response to Poverty Reduction: The 2010 FIFA World Cup and its Urban Development Implications. Urban Forum, v. 9, 2008.

41

PRONI, Marcelo; LUCENA, Ricardo. Esporte História e Sociedade. Autores associados, Campinas SP, 2002. RODRIGUES, Rejane Penna; PINTO, Leila Mirtes Santos de Magalhães. Subsídios para

pensar os legados de megaeventos esportivos e seus tempos presente, passado e futuro. Disponível em: http://www.confef.org.br/extra/conteudo/default.asp?id=131. Acesso em: 23 out. 2010. PREUSS, Holger. Impactos econômicos de Magaeventos: Copa do Mundo de Futebol e

Jogos Olímpicos. Disponível em: http://www.confef.org.br/extra/conteudo/default.asp?id =131. Acesso em: 23 out. 2010. RÚBIO, Kátia (Dir.). Megaeventos esportivos, legados e responsabilidade sócial. São Paulo: Casa PSI, 2008. SANTOS, Sergio Ribeiros dos. Esporte e lazer: Uma reflexão sociológica. SILVA, José. Gestão de Segurança em Megaeventos Esportivos, Artigo de 30/09/2005. THOMAS, Jerry R.; NELSON, Jack K. Métodos de Pesquisa em Atividade Física. Artmed, 2002.

42

APÊNDICES

43

APÊNDICE 1

QUESTÕES DA ENTREVISTA

44

ENTREVISTA

O objetivo das perguntas é verificar e analisar os aspectos econômicos e sociais da Copa do

Mundo de Futebol no Brasil

1- Na sua opinião, é possível uma transformação dos países em desenvolvimento em virtude de

uma Copa do Mundo? Quais seriam?

2- Quanto à infraestrutura em virtude de uma Copa do Mundo, qual a responsabilidade das

instituições responsáveis ou detentoras destas, antes e após?

3 - O que é necessário para a execução dos projetos de infraestrutura para a realização deste

megaevento a partir das exigências dos organizadores e da estrutura já existente?

4- Quais vantagens e desvantagens que uma Copa trará para sociedade local?

5- Com relação à economia qual é o retorno que as cidades sedes terão?

6- Como qualificar e treinar pessoas para a Copa do Mundo no Brasil?

7- O que representa para cidade sediar uma Copa do Mundo?

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ANEXOS

46

ANEXO 1

TERMO DE CONSENTIMENTO

47

ANEXO 2

TERMO DE VALIDAÇÃO