aspectos sociais e hidropedológicos do riozinho do rola_acre

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REALIZAÇÃO REALIZAÇÃO PATROCÍNIO PATROCÍNIO PARCEIROS IMAC/AC SEMEIA/PMRB HOMEM E A FLORESTA, AS ÁGUAS E O SOLO: A INTEGRAÇÃO NECESSÁRIA PARA SUSTENTAÇÃO DA VIDA NA REGIÃO ACREANA, BRASIL

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O relatório mostra aspectos sociais e dos recursos naturais da Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rola, Estado do Acre. O projeto foi financiado pela Petrobrás Ambiental.

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Page 1: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

REALIZAÇÃO

REALIZAÇÃO PATROCÍNIO

PATROCÍNIO

PARCEIROS

IMAC/AC

SEMEIA/PMRB

HOMEM E A FLORESTA, AS ÁGUAS E O SOLO: A INTEGRAÇÃO NECESSÁRIA PARA SUSTENTAÇÃO DA VIDA

NA REGIÃO ACREANA, BRASIL

Page 2: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

2

HOMEM E A FLORESTA, AS ÁGUAS E O SOLO: A INTEGRAÇÃO NECESSÁRIA PARA SUSTENTAÇÃO DA VIDA NA REGIÃO

ACREANA, BRASIL

Equipe Função Herly Carlos Teixeira Dias

Engenheiro Florestal Dr. Manejo do solo e Nutrição de plantas

Professor do DEF/UFV Coordenador Técnico do Projeto

Orientador dos Estudos Maria de Nazaré Costa de Macêdo

Engenheira Agrônoma MSc. Extensão Rural

Pesquisadora Doutoranda em ciência Florestal –

DEF/UFV Izaias Fernandes Santos

Engenheiro Florestal Pesquisador

Mestrando em Ciência Florestal – DEF/UFV

Edson Alves de Araújo Engenheiro Agrônomo

Secretaria de Agricultura e Pecuária do Acre MSc. Manejo de Solos e Nutrição de Plantas

Pesquisador Doutorando em Manejo de Solos e

Nutrição de plantas – DPS/UFV Colaborador na Coleta de Solos

Maria France Gontijo Coelho Historiadora

Dra. em Sociologia

Co-orientadora dos estudos e cursos de capacitação

José Pereira Passos Tecnólogo em Topografia e Estradas

Técnico do Departamento de Recursos Hídricos do IMAC/AC

Marlene Fugiwara Aparecida Bióloga

Gerente do Departamento de Recursos Hídricos do IMAC/AC

Marconde Maia Ferreira Biológo

Técnico do Zoneamento do Município de Rio Branco

Nelson Antônio Carneiro Pinheiro Técnico administrativo do IMAC/AC

Responsável pela condução do barco

Antonio Marcos Silva Velásquez 1º Tenente BM, Corpo de Bombeiros.

Responsável pela segurança e bom desenvolvimento da viagem

Joane Geronimo Rodrigues Sargento BM, Corpo de Bombeiros.

Responsável pela segurança e bom desenvolvimento da viagem

José Valfredo Responsável pela condução do barco

Page 3: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

3

SUMÁRIO Páginas RESUMO EXECUTIVO 5 Objetivo 1 6 1. Construção do projeto e apresentação aos parceiros 6

a) Contato institucional para viabilização do projeto em Rio Branco, Acre

6

b) Programação das reuniões 6 Objetivo 2. 8

1.Capacitação de técnicos 8

a. Programação do curso em metodologias de abordagem participativas

8

b) Inscrições do curso e Certificados 9 Objetivo 3. 9 1.Capacitação de Técnicos 9

a. Programação do curso - Manejo Integrado de Bacias Hidrográficas

9

Objetivo 6. 10 1. Prospecção e estudo preliminar de solos e ambientes da bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla

10

1. Introdução 10 2. Metodologia de Trabalho 11 2.1. Preparo da viagem (Viçosa-MG) 11 2.2. Preparo da viagem (Rio Branco) 12 2.3. Logística da viagem – navegação no Riozinho e estudo

de solos e ambientes 12

3. Resultados Preliminares 16 3.1. Aspectos hidropedológicos da bacia hidrográfica do

Riozinho do Rôla 16

3.2. Impressões ao longo do Riozinho do Rola e afluentes 22 3.3. Relação solo paisagem em área de influência do

Riozinho do Rôla 30

2. Análise preliminar das características socioeconômicas da população ribeirinha do Riozinho do Rôla, Rio Branco – Acre

49

1. Introdução 49 2. Caracterização ambiental 49 3. Produção e fontes de renda 51 3.1. Extrativismo vegetal 51 3.2. Produção de subsistência 53 3.3. Produção tecnificada: as fazendas 55

Page 4: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

4

4. Povos ribeirinhos 56 5. Os usos e a relação dos recursos naturais com os ribeirinhos

58

6. Observações gerais 61 Objetivo 8 63 1. Percorrendo a bacia: primeira viagem 63

1.1. Instalação dos pluviômetros 66 1.2. Entrega de provetas 71

CONCLUSÕES 74 OBSERVAÇÕES 75 EQUIPE 76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77 ANEXOS 79

Page 5: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

5

RESUMO EXECUTIVO

Estudos voltados para os recursos hídricos no que se refere a sua dinâmica,

associada à preservação, ainda são deficientes na região Amazônica, principalmente no

Estado do Acre. Com características ambientais distintas dos demais estados da

Amazônia, o Acre possui aproximadamente 90 % de cobertura florestal, fator

importante para a manutenção e conservação dos corpos d’água. No entanto, a pressão

sobre os recursos hídricos no Acre continua a evoluir, em decorrência do avanço da

fronteira agrícola e abertura de novas vias de acesso.

Nesse contexto, a Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla, afluente do Rio

Acre, e com cerca de 7,6 km2, se destaca como uma bacia prioritária para conservação.

Além disso, é a única hidrovia de acesso às comunidades ribeirinhas aos centros

urbanos durante a maior parte do ano, garantindo-lhes o escoamento da produção, busca

de serviços, educação e saúde. Some-se a isso o fato de ainda exercer a função de

suprimento alimentar, através da pesca.

Sendo assim, torna-se prioritário o conhecimento dos recursos naturais da

região, a forma como as comunidades convivem com as dificuldades e limitações

impostas pelas distâncias e os problemas de acesso na região.

Para tanto, o presente projeto conta com uma equipe mutidisciplinar proveniente

de instituições federais, estaduais e muncipais, além da participação da comunidade

local.

O projeto inclui a capacitação de técnicos da região que irão contribuir com uma

abordagem técnica diferenciada das convencionais, visando à troca de conhecimentos

entre a população local e técnicos que possam refletir sobre estratégicas eficientes

direcionadas para a gestão dos recursos naturais.

Na fase inicial efetuaram-se os contatos inicias visando o fortalecimento das

parcerias, além da caracterização inicial da Bacia, referente às questões

socioeconômicas, solo, e água. Nesse processo, sempre que possível, tentou-se resgatar

o saber local, de fundamental para a gestão ambiental integrada.

O presente relatório tem como objetivo apresentar as atividades do referido

projeto que foram desenvolvidas com vistas na sua elaboração e atividades referentes ao

1º. Trimestre de 2007.

Page 6: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

6

Objetivo 1. 1. Construção do projeto e apresentação aos parceiros

a) Contato institucional para viabilização do projeto em Rio Branco, Acre

O processo de construção deste projeto teve um diferencial no que se refere a

sua implantação e implementação. Sendo que, o contato inicial teve como objetivo

conhecer as demandas do Estado em relação aos recursos hídricos e identificar qual área

os estudos pudessem vir a ser realizados. Assim, o Grupo de Pesquisa e Extensão em

Sistemas Agroflorestais do Acre – PESACRE, propôs como área – piloto e unidade de

análise a Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla, por ser uma área prioritária para

conservação em decorrência de sua contribuição no abastecimento de água para o

município de Rio Branco. Além disso, é considerada como uma área do município que

possui maior preservação dos recursos naturais, no entanto, o processo de pressão sobre

esses recursos está em expansão, correndo o risco de grandes impactos ambientais

futuramente.

A partir desse aceno iniciaram-se, de forma presencial os contatos com pessoas

chaves representantes de instituições que estão diretamente trabalhando na bacia

hidrográfica do Riozinho do Rôla, como: IMAC/AC, SEMEIA/PMRB, IBAMA, os

quais, vários encontros foram realizados em Janeiro de 2006. O principal assunto em

pauta nos encontros foi o apoio logístico para possibilitar a viabilização dos estudos na

região.

b) Programação das reuniões

Serão realizadas 3 reuniões de apresentação do projeto nas regiões do baixo,

médio e alto Riozinho do Rôla, com as comunidades que residem no local e instituições

parceiras. Essas reuniões têm como principal objetivo dar continuidade ao processo de

esclarecimento referentes às atividades que serão realizadas durante o período de

implementação do projeto na região, assim como esclarecer sobre seu objetivo,

instituições que estão envolvidas, sobre quem são os parceiros, quem está financiando o

projeto e consolidação da parceria com as comunidades. Para subsidiar a elaboração da

programação das reuniões, foi realizado um pré-contato com algumas lideranças, que

possibilitou identificar locais estratégicos para as reuniões com vistas em uma maior

Page 7: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

7

participação das comunidades que residem nas regiões do Alto, médio e Baixo da bacia.

Dessa forma, o Quadro 1 mostra a programação das reuniões.

Quadro 1. Programação das reuniões de apresentação do projeto para as comunidades que residem nas três regiões da bacia (Baixo, Médio e Alto).

HOMEM E A FLORESTA, AS ÁGUAS E O SOLO: A INTEGRAÇÃO NECESSÁRIA

PARA SUSTENTAÇÃO DA VIDA NA REGIÃO ACREANA, BRASIL PROGRAMAÇÃO DAS REUNIÕES

Apresentação do projeto as comunidades locais da Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla

1ª. Reunião 2ª. Reunião 3ª. Reunião Local: Assentamento Moreno

Maia Baixo Riozinho

Local: Colocação Conselho – Igarapé São Raimundo

Médio Riozinho

Local: Colocação Boa Vista

Alto Riozinho 12/08/2007 (Domingo) 18/08/2007 – Sábado 25/08/2007 - Sábado

Apresentação dos Participantes Apresentação dos Participantes Apresentação dos Participantes

Objetivo da reunião Objetivo da reunião Objetivo da reunião Explicar sobre Bacia Hidrográfica Explicar sobre Bacia

Hidrográfica Explicar sobre Bacia Hidrográfica

Apresentação do Projeto • Objetivos do projeto • Atividades que serão

realizadas no Riozinho • Medidores de chuva • Instituições parceiras e

apoio • Parceria da comunidade

Apresentação do Projeto • Objetivos do projeto • Atividades que serão

realizadas no Riozinho • Medidores de chuva • Instituições parceiras e

apoio • Parceria da

comunidade

Apresentação do Projeto • Objetivos do

projeto • Atividades que

serão realizadas no Riozinho

• Medidores de chuva

• Instituições parceiras e apoio

• Parceria da comunidade

Discussão sobre o projeto • Que beneficio está

levando para região • Continuidade do projeto • O que os moradores

acham do projeto

Discussão sobre o projeto • Que beneficio está

levando para região • Continuidade do

projeto • O que os moradores

acham do projeto

Discussão sobre o projeto • Que beneficio está

levando para região

• Continuidade do projeto

• O que os moradores acham do projeto

Encaminhamento das próximas atividades do Projeto na região

Encaminhamento das próximas atividades do Projeto na região

Encaminhamento das próximas atividades do Projeto na região

As reuniões serão realizadas nos finais de semana em decorrência da

disponibilidade dos moradores locais serem apenas nestes dias, pois durante a semana

estão trabalhando nas atividades produtivas. O contato com as comunidades será

realizado em forma de mensagem pela rádio difusora que alcança todo o estado em

horário nobre (6h e 18h) e através das instituições parceiras que trabalham na região.

Page 8: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

8

Objetivo 2.

1.Capacitação de técnicos

a) Programação do curso em metodologias de abordagem participativas

O projeto propõe a formação de uma equipe: técnico contratado pelo projeto,

três estagiários (agronomia, florestal e ciências sociais) estudantes da Universidade

Federal do Acre (UFAC) e um técnico do IMAC/AC, que irão realizar o processo de

articulação junto às comunidades locais e instituições parceiras para a viabilização das

atividades.

Com isso, está programado para o 2º. Trimestre um curso sobre metodologia de

abordagem participativa com carga horária de 16 horas para os técnicos do projeto e

técnicos das instituições parcerias que estão envolvidos com atividades na bacia

hidrográfica do Riozinho do Rôla.

Para ministrar o curso será uma equipe multidisciplinar, com professores da

UFV e profissionais da região, permitindo assim uma troca de conhecimento da

realidade local e garantindo que o curso tenha uma maior eficiência em relação ao seu

conteúdo.

Dessa Forma, o curso tem como objetivo treinar os técnicos em instrumentos

dinâmicos e interativos que irão possibilitar no campo um envolvimento maior com a

população, garantindo as comunidades o papel de agentes ativos no processo

permanente da busca pela sustentabilidade dos recursos naturais, favorecendo aos

técnicos um aprendizado constante. Assim, segue a lista de instituições e quantidade de

técnicos (as) que serão convidados para participar do curso (Quadro 2), assim como a

programação do mesmo (Anexo 1).

Quadro 2. Lista de instituições e quantidade de técnicos que serão convidados para o curso metodologia de abordagem participativa.

Quant. de

Técnicos (as) para participar

do curso

Instituição Técnicos (as)

4 PROJETO Atuando no projeto e Estagiários.

5 IMAC Atuando em atividades do Projeto. 1 CNPt/ XAPURI Trabalha na Reserva Extrativista Chico

Mendes, que está dentro da área do Riozinho.

Page 9: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

9

2 SEATER/XAPURI Trabalham na Reserva Extrativista. 2 SEATER/ BRASILÉIA Trabalham na Reserva Extrativista. 2 SEATER/RIOBRANCO Trabalham em assentamentos dentro da

área do Riozinho. 5 SEMEIA/PMRB Trabalham diretamente no Riozinho do

Rôla. 1 ZONEAMENTO/PMRB Trabalha com o Zoneamento de Rio

Branco. 1 IBAMA Coordena as ações da Reserva Extrativista

Chico Mendes. 1 PESACRE Realiza trabalho na região do Riozinho.

1 Centro dos Trabalhadores da Amazônia – CTA

Trabalha com comunidades rurais em geral.

1

Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do

Estado do Acre - COOPERACRE

Trabalha com comunidades extrativistas.

1

Associação de Moradores e Produtores da Reserva

Extrativista de Brasiléia – AMOPREB

Trabalha com comunidades rurais em geral do município de Brasiléia.

1

Associação de Moradores e Produtores da Reserva

Extrativista de Assis Brasil - AMOPREAB

Trabalha com comunidades extrativistas do município de Assis Brasil.

1

Associação de Moradores e Produtores da Reserva Extrativista de Xapuri -

AMOREX

Trabalha com comunidades extrativistas do município de Xapuri.

30

b) Inscrições do curso e Certificados

As inscrições serão realizadas quando estiver definido o local de realização do

curso, sendo que será encaminhado um oficio direcionado aos Secretários das

Instituições para indicação dos técnicos que irão participar do mesmo. Com isso, segue

o certificado (Anexo 2) a ser entregue aos participantes no encerramento do curso.

Objetivo 3. 1.Capacitação de Técnicos

b. Programação do curso - Manejo Integrado de Bacias Hidrográficas

Dando continuidade a capacitação da equipe do projeto e técnicos das

Instituições parceiras será realizado um curso sobre Manejo integrado de Bacias

Hidrográficas. Esse curso tem como objetivo fornecer noções básicas sobre manejo de

bacias hidrográficas e instrumentos técnicos que possam auxiliar na elaboração do

planejamento integrado e gestão dos recursos hídricos da região. Além disso, subsidiar

Page 10: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

10

com fundamentos técnicos a equipe com vistas garantir uma maior eficiência na atuação

das atividades na bacia, junto às comunidades locais.

O curso será realizado no 2º. Trimestre de 2007, com carga horária de 24 horas e

data a definir, tendo como facilitadores professores da UFV e profissionais da região

que atuam na área de recursos hídricos. Com isso, segue o plano do curso no Anexo 3, e

o certificado que será entregue aos participantes no encerramento do mesmo (Anexo 4).

Objetivo 6. 1.Prospecção e estudo preliminar de solos e ambientes da bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla

“Não existe mais lugar bom! Lugar bom é aonde a gente Tira nosso sustento” (Fantoca – Confluência Igarapé Espalha- Riozinho, Colocação Amapá).

1. Introdução

A bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla situa-se a Sudeste do estado do Acre,

na porção mais a oeste do município de Rio Branco. A bacia ocupa uma área de 7,6

km2, em sua maioria, no município de Rio Branco, e em menor proporção nos

municípios de Xapuri e Brasiléia. É o principal afluente do Rio Acre.

Durante boa parte do ano o Riozinho do Rôla não é navegável (sequer por

pequenas canoas), em virtude da grande oscilação de suas cotas fluviométricas. Durante

este período (geralmente de abril a novembro), alguns trechos do leito do rio chegam a

secar por completo. As populações que aí residem (seringueiros, ribeirinhos, assentados,

pecuaristas) fazem uso de estradas, ramais e varadouros para se deslocarem de suas

localidades. Os referidos ramais na estação chuvosa não apresentam condições de

trafegabilidade em virtude da atividade da argila (desliza e gruda) e da carência de

material graúdo para compor as estradas de barro.

Na estação de maior índice pluviométrico (dezembro a março) a região é tomada

por uma “explosão de vida”, uma vez que grandes extensões de terra próximas ao leito

do rio e igarapés (afluentes de natureza perenes e intermitentes) são inundadas

sazonalmente, formando ecossistemas semelhantes ao Pantanal Brasileiro e ao

Everglades nos EUA.

Com volume de água que chega a alcançar centenas de metros distantes do leito

e com uma pluviosidade anual considerável (cerca de 2000 mm), como se explica que

Page 11: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

11

determinados trechos do rio, durante a estação de menor índice pluviométrico, chegam a

secar por completo, sendo possível até transpor seu leito a pé?

Uma explicação provável para este fenômeno deve-se ao fato dos solos da

região, em sua maioria, serem bastante tamponados em relação a sua capacidade de

armazemanento de água, ou seja, o solum (horizontes A +B), em sua maioria, são rasos

(< 50 cm) a pouco profundos (≤ 100 cm). Essa característica é marcante em alguns solos

do Acre que tiveram os processos de pedogênese (formação do solo) retardados em

virtude da natureza pelítica do material sedimentar (argilitos e siltitos) da Formação

Solimões (Brasil, 1976). Isso faz com que estes solos apresentem uma baixa

permeabilidade (encharcam facilmente) e o excedente seja carreado por deflúvio

superficial.

Isso evidencia a importância da cobertura vegetal ao longo dos rios, igarapés e

nascentes de forma a evitar impactos negativos sobre o meio ambiente, tais como o

assoreamento, alterações no ciclo hidrológico e condições extremas de enchente e seca.

O objetivo deste relatório é apresentar as primeiras “impressões” e resultados

preliminares acerca do estudo dos solos e ambientes em áreas de influência direta e

indireta da bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla. Além disso, os resultados dessa

primeira viagem de reconhecimento da área para a coleta de solos irão contribuir com a

programação das viagens subseqüentes, garantindo sua eficiência e eficácia, e de

maneira integrada com os demais componentes do projeto, procurar maximizar o tempo

e os recursos necessários para sua consecução.

2. Metodologia de trabalho

2.1. Preparo da viagem (Viçosa - MG)

Preliminarmente efetuou-se uma pesquisa bibliográfica a respeito das informações

do meio físico e biótico da região de estudo. Os materiais encontrados, em sua maioria,

demonstram que na região de inserção do projeto, praticamente, inexistem estudos

detalhados do meio físico. Assim, encontraram-se estudos generalizados que

contemplam a área de estudo ou áreas próximas em levantamentos dos recursos naturais

do Projeto Radambrasil (Brasil, 1976), do PMACI I (IBGE, 1994), do Zoneamento

Ecológico e Econômico do Acre (Acre, 2000), e de estudos paleoambientais (Latrubesse

et al., 1997; Westaway, 2006), geoquímicos (Kronberg et al., 1989; Kronberg &

Benchimol, 1992), geológicos (Cavalcante, 2005) e acerca da fluviometria do Rio Acre

Page 12: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

12

(Resende & Pereira, 1988). Estas referências, a princípio, serviram para uma sondagem

preliminar e como subsídio para a metodologia de trabalho a campo e discussão do

presente relatórios, dentre outras que serão citadas.

De forma a facilitar a identificação das unidades de solos e ambientes da área de

influência direta e indireta do Riozinho do Rôla, elaborou-se o mapa de altitude da

região com o auxílio do Modelo Digital de Elevação (MDE), mapa de declividade, de

forma a estratificar as regiões por intermédio dessas duas variáveis, juntamente com o

mapa pedológico do Acre na escala de 1: 250.000 (Anexo 5).

2.2. Preparativo da viagem (Rio Branco)

Anteriormente a viagem de campo, período de 13 a 16 de março de 2007, a equipe

técnica realizou reuniões para discutir o roteiro da viagem, a logística de hospedagem e

alimentação no campo. Além disso, discutiram-se preliminarmente os objetivos da

viagem e a forma de prospecção e estudo a campo.

Nesse período também foi selecionado todo o material necessário para coleta de

dados a campo, tais como: GPS, pá, enxada, manual de descrição, caderneta de campo,

máquina fotográfica, pranchetas, filmadora dentre outros. Materiais que foram

emprestados pelas instituições parceiras.

2.3. Logística da viagem – navegação no Riozinho e estudo de solos e ambientes

A equipe técnica contou com o apoio de barcos tipo voadeira, sendo um com motor

de 25 HP, 40 HP, e de 8 HP, cedidos pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre –

IMAC/AC (Figura 1). Os barcos foram conduzidos por dois barqueiros (José Vidal e

José Valfredo), também cedidos pelo IMAC/AC.

A equipe saiu do porto de Rio Branco no final da tarde do dia 16 de março de 2007.

No Amanhecer do dia seguinte, a equipe técnica fez mais uma reunião com os

barqueiros de forma a esclarecer para os mesmos o objetivo da viagem e o itinerário a

ser realizado.

Durante a navegação pelo Riozinho e seus principais afluentes efetuavam-se

discussões, anotações e registro (fotografias e filmagens) de aspectos relevantes como o

uso da terra, a tipologia florestal, processos erosivos, assoreamentos e movimentos de

terra, dentre outros aspectos.

Page 13: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

13

Figura 1. Detalhe das voadeiras no porto de Rio Branco e que foram utilizadas na viagem ao

Riozinho do Rôla (Foto: Leandro Macedo, março de 2007).

Assim, as paradas eram realizadas em locais onde haviam sido instalados

previamente os pluviômetros

Em cada local efetuou-se conversas informais com o (a) morador (a) para obter

as primeiras impressões do local. Nessa fase procurou-se resgatar algumas informações

relacionadas à fertilidade dos solos, ao sistema de produção, ao uso agrícola das

planícies e praias após a vazante do rio, das condições gerais de vida da população

local, das dificuldades de acesso, dentre outros aspectos.

Feito isso, pedia-se ao morador (ra) para nos acompanhar da parte mais baixa

(área de influência do Riozinho) até a parte mais alta do terreno de sua propriedade,

tendo como finalidade mostrar as variações de solos existentes em cada segmento da

paisagem, ou degrau da paisagem. Em outras palavras, tentou-se entender as relações

solo-paisagem da região na área de influência do Riozinho com o uso de

toposseqüência, ou mais precisamente, fazendo uso do modelo de paisagem do tipo

segmento de vertente (Vidal-Torrado et al., 2005; Campos et al., 2006) subsidiado por

outros estudos realizados na bacia dos rios Acre e Purus (Latrubesse et al. 1997;

Westaway, 2005).

Page 14: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

14

Ao percorrer a propriedade com os moradores, aproveitou-se para gerar uma

conversar buscando resgatar o conhecimento local em relação ao solo e a utilização da

terra. Nesse momento, levantaram-se as seguintes questões: como ele diferenciava a

terra? Se o solo costumava encharcar muito na estação chuvosa. Em que qualidade de

solo ocorria mais castanheira? Porque as seringueiras que ocorriam as margens do

Riozinho não morriam quando eram inundadas? Se as árvores de seringueiras eram mais

produtivas que as de terra firme? Entre outras.

Na porção central de cada segmento (por exemplo, topo, meia encosta, fundo de

vale) efetuavam-se tradagens até a profundidade de 1 m. Nesses locais discutia-se com o

(a) morador (a) aspectos relacionados a cor e textura do solo, relevo, vegetação, de

forma a informá-lo do que estava sendo realizado naquele momento, sempre numa

linguagem acessível e procurando apreender, perceber e resgatar o conhecimento local

dos solos da região (Figuras 2 e 3). Cada um desses locais, quando possível, foi anotado

a localização por meio de coordenadas UTM com auxílio de GPS.

Figura 2. Participação do morador no processo de discussão e estudo de solos e ambiente da

região: Diones de Araújo (de camisa vermelha), agente multiplicador aferindo a cor do solo com os pesquisadores Edson Araújo (Chapéu de palha) e Izaias Fernandes e outro morador vizinho da Colônia Santo Antônio, baixo Riozinho do Rôla (Foto: Nazaré Macedo, março de 2007).

Page 15: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

15

Figura 3. Sebastião (à esquerda) morador do Seringal Cachoeira, Colocação Morada Nova, acompanhando a tradagem do solo. (Foto: Nazaré Macedo, março de 2007).

Na medida do possível, devido às condições alagadas do solo e a

compatibilização com as demais atividades, foram descritos perfis de solo e coletadas

amostras (Santos et al., 2005) em porções representativas da parte alta e baixa em área

de influência direta do Riozinho. Esse procedimento também foi realizado em conjunto

com a comunidade local, que em muitos casos auxiliaram nas etapas de abertura de

perfis de solo a campo, coleta de amostras e transporte das mesmas e discussões sobre o

ambiente (Figura 4a e b).

Page 16: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

16

Figura 4. Detalhe do morador local auxiliando nos procedimentos de amostragem e abertura de perfis de

solo: a) Ailton, morador do Seringal Passagem, Colocação Dominguinhos, auxiliando na coleta de solos (Foto: Isaias Santos, março de 2007); b) Senhor Aldo (segurando o boca-de-lobo) morador do Seringal Bom Destino, Colocação Novo Destino auxiliando no processo de abertura de trincheira em sua colocação, a esquerda Isaias Santos (Foto: Nazaré Macedo, março de 2007).

3. Resultados preliminares

3.1. Aspectos hidropedológicos da bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla

Nessa parte introdutória iremos discutir alguns aspectos relacionados ao solo e a

água que tornam o Acre distinto dos demais ecossistemas da Amazônia Ocidental.

A área onde está inserida a bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla encontra-se

na margem esquerda do Rio Acre e pertence basicamente a duas feições

geomorfológicas: a depressão do Rio Branco e a planície Amazônica (Cavalcante,

2005). A depressão do Rio Branco corresponderia a segmentos mais antigos da

paisagem pertencentes a sedimentos terciários da Formação Solimões. A planície

Amazônica é aqui representada por sedimentos holocênicos, sendo o mais recente do

período quaternário.

Os Rios do Acre, em especial os da bacia do Rio Acre, apresentam cotas

fluviométricas contrastantes (Resende & Pereira, 1988).

No Riozinho do Rôla essa variação é bem acentuada, alcançando a quase 10

metros entre os meses de seca e enchente (Figura 5). A variação entre a cota máxima e a

cota mínima, nos meses de dezembro, pode alcançar a mais de 5 metros.

Essa variação nas cotas fluviométricas significa que os solos da região não

funcionam como um potencial reservatório de água. Isso se deve a baixa capacidade de

(a) (b)

Page 17: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

17

armazenamento desses ambientes em que os solos tiveram seus processos de formação

retardado em função da natureza pelítica do material de origem (Brasil, 1976) e de

evidências de períodos mais secos que o atual (Kronberg et al., 1989; Kronberg &

Benchimol, 1992).

A preocupação tem sido o crescente desmatamento na região que pode resultar

em alterações no ciclo hidrológico e desta feita reduzir o volume de chuvas e

comprometer o abastecimento de água das comunidades locais e da população residente

nos centros urbanos. Essa preocupação é corroborada por Duarte (2005), que em seu

estudo constatou uma diminuição na precipitação média diária no município de Rio

Branco entre 1990 e 2003, período em que se intensificou o desmatamento na região,

em sua maioria para implantação de pastagens extensivas.

0

2

4

6

8

10

12

14

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezMeses do ano

Cot

a flu

viom

étric

a (m

)

Maxima

Minima

Figura 5 – Gráfico das cotas fluviométricas máximas e mínimas mensais para o período de 1989

a 2005 para o Riozinho do Rôla (Fonte: ANA, 2007). No Riozinho do Rôla e afluentes (igarapés) com a variação das cotas chega

quase a secar o canal do Rio principal (Figura 6a e b). Isso impede a navegação e a

população local fica sem poder deslocar-se para outras localidades dentro da bacia ou

para os centros urbanos.

Page 18: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

18

(a) (b)

Figura 6. Fotografias tiradas no mesmo local do igarapé São Raimundo, afluente do Riozinho do Rôla, mostrando a variação do nível do igarapé em duas épocas distintas. A foto (a) foi tirada em setembro de 2006 (período de grande seca) e a (b) em março de 2007 (período de grande cheia). (Fotos: Nazaré Macedo).

Nesse caso o transporte é feito por ramais e varadouros que alcançam a rodovia

AC-090 (Transacreana) que se encontra asfaltada até a altura do km 60.

Portanto, essas variações, tendem a acompanhar a precipitação pluviométrica na

região (Figura 7). A precipitação média anual é bastante variável, com valores entre

1296 a 2560 mm. Observa-se que o menor valor corresponde ao ano de 2005, ano em

que a Amazônia foi castigada com o fenômeno da seca (Figura 8).

0

50

100

150

200

250

300

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Média MensalCV

Figura 7. Gráfico da precipitação média mensal do Riozinho do Rôla nos anos de

1991,1992 e 1997 a 2005 (Fonte: ANA, 2007)

Page 19: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

19

1757

2560

1296

2039

2202

1503

1977

1844 1874 1782

1596

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

1991 1992 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Anos

Prec

ipita

ção

méd

ia a

nual

(mm

)

Figura 8. Gráfico da precipitação média anual do Riozinho do Rôla nos anos de 1991,

1992 e 1997-2005 (Fonte: ANA, 2007).

Comportamento similar pode ser observado para os dados de vazão (Figura 9).

Quando se compara os meses de maior volume de vazão (fevereiro e março) com os

meses de menor vazante (julho, agosto e setembro), observa-se que o escoamento da

água reduz significativamente, chegando nesse período a cessar em algumas regiões da

bacia.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Meses do ano

Vaz

ão (m

3/s)

MáxMinMédia

Figura 9. Dados médios mensais de vazão do Riozinho Rôla, referentes aos anos de 1998, 1999 e

2001 a 2004 (Fonte: ANA, 2007).

Page 20: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

20

Vale ressaltar que os dados de precipitação, fluviometria e vazão foram obtidas

de uma única estação da ANA (Fazenda Santo Afonso), localizada próxima a foz do

Riozinho do Rôla (19L – E 603744 N 8886501). Isso demonstra a importância de se

expandir os pontos de observação hidrológica na bacia, sendo este um dos objetivos do

presente projeto.

Ao longo da Rodovia Estadual AC 090 (Transacreana) é comum observar a

construção de açudes como criatório de peixes, reservatório de água para criação de

animais em regime extensivo e para abastecimento local (Figura 10).

Figura10. Açude construído ao longo da Rodovia Estadual AC 090 (Transacreana)

como reservatório de água para criação de gado em regime extensivo (Foto: Edson Araújo, março de 2007).

Esse armazenamento de água é facilitado devido à baixa permeabilidade dos

solos nessa região, que são rasos a pouco profundo e originário de sedimentos argilosos

e siltosos, que podem ser facilmente visualizados na porção inferior dos barrancos que

são cortados para a construção da rodovia (Figura 11).

Page 21: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

21

Figura 11. Detalhe da pouca profundidade do solo em corte de estrada ao longo da Rodovia Estadual AC 090 (Trasacreana). Ao fundo é possível notar a coloração acinzentada do horizonte C, em ambiente de Plintossolos e Argissolos plínticos (Foto: Edson Araújo, março de 2007).

A baixa permeabilidade e alta atividade da argila desses materiais também

dificultam a circulação de veículos na estação chuvosa por estradas e ramais não

pavimentados e sem cobertura de material grosseiro (Figura 12).

Figura 12. Veículo tipo Toyota atoleiro, quando do trabalho de campo em ramal próximo a

Transacreana, em área onde foi instalado um pluviômetro (Foto: Leandro Macedo, março de 2007).

Horizonte C

Page 22: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

22

3.2. Impressões ao longo do Riozinho do Rôla e afluentes

A confluência do Riozinho do Rôla com o Rio Acre se dá na margem esquerda

do Rio Acre, aproximadamente 1 hora de voadeira do porto de Rio Branco (Figura 13).

Figura 13. Confluência entre o Riozinho do Rôla e o Rio Acre no período das cheias, março de 2007 (Foto: Edson Araújo, março de 2007)

Nessa época do ano a navegação pelo Rio Acre é muito perigosa e requer

bastante atenção em virtude das correntezas e do material vegetal (troncos, galhos) que

é transportado pelo Rio em decorrência do deslizamento de barrancos. Sendo necessária

muita atenção do barqueiro e dos demais ocupantes da voadeira, no sentido de avisar

sobre a ocorrência desses materiais no Rio.

Por vezes a navegação torna-se impraticável devido ao volume das águas em

alguns trechos do canal do Riozinho do Rôla e seus afluentes. Isso se deve ao fato da

vegetação adentrar o leito do rio e igarapés, motivo pelo qual a comunidade em parceria

com Prefeitura de Rio Branco realiza operações de limpeza (adjunto).

Levando-se em conta o aspecto visual constatou-se que a carga de sedimentos

em suspensão do Rio Acre é superior a do Riozinho. Essa observação é corroborada

inclusive com a fala da população local, que afirma: “a água do Rio Acre é uma lama

só, a do Riozinho a qualidade da água é 10”.

Rio Acre

Riozinho do Rôla

Page 23: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

23

Esse fato sugere que as águas do Rio Acre devem funcionar como uma espécie

de “barramento natural” ao livre escoamento de água (vazão) do Riozinho do Rôla. Essa

diferença pode estar associada à antropização das margens do Rio Acre e da natureza

arenosa de seus aluviões. A Figura 14 ilustra a concentração de sedimentos em

suspensão para o Rio Acre. Verifica-se que a concentração de sedimentos é coincidente

com os meses de maior precipitação na região.

Torna-se importante ressaltar que a diferença de sedimentos em suspensão será

determinada futuramente por intermédio da mensuração dos sedimentos em suspensão e

do nível de turbidez das águas, tanto na estação chuvosa como na estação seca

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

Jan Mar Abr Jun Jul Ago Out Dez

Meses do ano

Con

cent

raçã

o (m

g L-1

)

Figura 14 – Gráfico de concentração média mensal de materiais em suspensão do Rio

Acre para os anos de 1984, 1985 e 1987 a 2006 (Fonte: ANA, 2007) .

No trecho entre o porto de Rio Branco e a foz do Riozinho do Rôla encontra-se a

estação de captação e tratamento de água, junto à ponte que foi recentemente construída

sobre o Rio Acre (Figura 15a e b). Isso evidencia a expansão e o crescimento do

município de Rio Branco, tornando-se preocupante a contaminação do Rio pelo lixo e

dejetos humanos na zona de captação de água e tratamento de água. Outro fato atentado

é a quantidade de produtos químicos que deve ser empregado na água para separar os

sólidos em suspensão nesses corpos d´água.

Page 24: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

24

Isso demonstra a importância de estudos relacionados aos corpos d’ água do

Riozinho do Rôla, no que se refere a sua conservação, por ser este um dos tributários

fundamentais no fornecimento de água para o abastecimento da cidade de Rio Branco.

(a)

(b) Figura 15. (a) Estação de captação de água do município de Rio Branco; e (b) Ponte sobre o Rio

Acre (Foto: Edson Araújo).

Ponte Estação de Captação

de Água

Page 25: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

25

As águas do Riozinho do Rôla são classificadas na Amazônia como sendo águas

brancas, ou seja, são verdadeiramente marrom-barrentas (Prance, 1980). Isso decorre

em virtude dos sedimentos em suspensão oriundos da erosão e escoamento superficial

às margens do Rio.

Na área de influência da foz do Riozinho do Rôla encontrava-se no limite

máximo, ou seja, no último degrau do Rio. Nesse trecho inicial o Rio é bem mais

amplo, podendo em muitos casos atingir cerca de 200 m de largura. A navegação é

menos perigosa em decorrência da menor incidência de material vegetal no leito do Rio.

Mas, mesmo assim requer atenção.

No trecho, compreendido entre a foz do Riozinho do Rôla e a confluência do

igarapé Caipora, verificou-se à margem esquerda do Rio, nas porções mais elevadas,

rachaduras no solo, tipo movimento de massa, no qual o uso é com pastagem extensiva.

Isso pode estar relacionada ao desmatamento e a ação dos processos erosivos que

atuaram na desestabilização do terreno. E também a processos decorrentes da atividade

da argila e a ciclos de umedecimento e secagem do solo. Fato observado desde a década

de 50 no município de Rio Branco, quando a população ainda era inexpressiva (Guerra,

1955).

Esse fato é bastante comum no perímetro urbano do município de Rio Branco,

próximo ao Rio Acre, onde ocorrem desbarrancamentos e prejuízos associados a

rachaduras de ruas, demolição de casas e perigo estrutural para alguns prédios (Figura

16a e b).

(a) (b) Figura 16. Processo erosivo e movimento de massa na Rua Rio Grande do Sul, localizada no núcleo

urbano de Rio Branco, a margem esquerda do Rio Acre (ao fundo a direita) (Fotos: Lúcia Hall, julho de 2007).

Page 26: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

26

A planície inundável do Riozinho possui um caráter sazonal, ou seja, só é

inundada uma parte do ano. Nesse caso, de forma a padronizar a linguagem e

fundamentando-se na literatura, esta várzea seria caracterizada pela inundação anual das

florestas por águas brancas, ou seja, recebe a denominação de várzea estacional (Prance,

1980).

Na várzea estacional, região baixa do Riozinho do Rôla surge algumas praias

quando na vazante do Rio, mas que não é cultivada. Esse fato, segundo conversa com

moradores da comunidade local, decorre da pequena extensão dessas praias, do déficit

hídrico, baixa fertilidade e estabilidade estrutural (Figura 17). Em outras palavras,

nessas áreas costumam surgir “rachaduras” dando inicio ao processo de

desmoronamento, não permitindo o cultivo de plantas anuais como feijão, milho,

mandioca, melancia, que é bastante comum nas praias do Rio Acre e de outros Rios, tais

como o Juruá e Moa.

Figura 17. Detalhe do aspecto da pequena praia formada em segmento da paisagem na

margem esquerda do Riozinho do Rôla, na parte baixa da bacia. (Foto: Nazaré Macedo, março de 2007)

Em alguns trechos observou-se o uso predominante com pastagens extensivas,

no qual o desmatamento alcança as margens do Rio, desrespeitando a área de

preservação permanente (Figura 18).

Page 27: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

27

Figura 18. Margem esquerda do Riozinho do Rôla, na parte baixa da bacia, mostrando o

uso com pastagem em área de preservação permanente (Foto: Edson Araújo, março de 2007).

Em decorrência desse fato, durante a viagem, surgiram alguns questionamentos

com relação ao desmatamento mais intenso nessa porção da bacia, que foram:

1. A mudança de cobertura florestal decorrente da conversão de floresta em

pastagem poderia estar contribuindo para um aumento na carga de sedimentos

do Rio?

2. Em caso afirmativo isso contribuiria para sinergizar efeitos adversos como o

assoreamento e a diminuição do oxigênio dissolvido na água?

3. A quantidade de carbono orgânico dissolvido na água tenderia a se alterar?

4. Alterações na dinâmica do carbono decorrentes da mudança de cobertura

poderiam ser detectadas a partir de análises do 13C dissolvido na água?

Muitos desses questionamentos serão respondidos ao longo do desenvolvimento

do projeto, mas observa-se de uma forma geral que são todos resultantes de processos

degradativos, conseqüência do desflorestamento e fragmentação desses ambientes,

bastante dinâmicos, e como tal requerem que sejam monitorados ao longo do tempo.

Em locais onde já foi desmatado, ou mesmo nos trechos do Rio onde a mata

adentra o leito do mesmo, observou-se com freqüência a presença de imbaúba

(Cecropia spp) (Figura 19). Isso mostra a dinamicidade da vegetação, mesmo em área

de pouca antropização e a resiliência desses ecossistemas em virtude da abundância de

Page 28: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

28

água em alguns períodos do ano e a existência de propágulos vegetativos oriundos da

floresta circundante.

Figura 19. Árvore de Imbaúba (Cecropia spp) às margens do Riozinho do Rôla (Foto:

Edson Araújo, março de 2007).

Em alguns trechos do médio e alto Riozinho do Rôla o leito começa a se

estreitar, ou seja, vai tornando-se mais encaixado Nesses locais a navegação é

dificultada em virtude da tortuosidade do Rio, da presença de arbustos com espinhos e

devido ao espraiamento da água. Um dos espinhos mais freqüentes na região é o

conhecido popularmente como espera-aí.

Com o alagamento da planície inundável, a navegação muitas vezes é facilitada

pela presença do que é denominado na região de “furo”. O furo seria uma espécie de

atalho ou curso temporário do Rio que surge em função da planície inundável e que

permite encurtar as distâncias, uma vez que evita as curvas do rio. Entretanto, muitas

vezes a utilização do “furo” não é viável, sendo necessário voltar ao ponto de onde se

adentrou no “furo” para daí seguir o curso original do Rio. Muitas vezes também não se

consegue distinguir facilmente o “furo” do leito normal do Rio (Figura 20).

Page 29: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

29

Figura 20. Estreitamento do canal do Rio e alagamento do segmento de planície

inundável do Riozinho do Rôla com “furo”(Foto: Edson Araújo, março de 2007).

Em muitos locais, a vegetação invade o curso do Rio, sendo necessário o uso de

motosserra ou terçado de forma a abrir uma picada que permita a navegação.

Algumas árvores se destacam próximas ao leito, assim como a tipologia florestal

com bambu. Dentre as árvores, destacam-se: a seringueira (Hevea brasieliensis),

castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa), o mulateiro ou pau-mulato (Calycophyllum

spruceanum), a samaúma, pau ferro (Machaerium scleroxylon), tingui (Dictyoloma

vandellianum) e copaíba (Copaifera spp.).

Um fato interessante observado foi com relação à ocorrência de seringueiras,

sempre entre o segundo e terceiro segmento da paisagem (Figura 21). Esse fato pode

estar relacionado à forma de dispersão de suas raízes por intermédio da correnteza do

Rio, uma vez que suas sementes quando caem são lançadas a grande distância e tem a

capacidade de flutuar na água. Segundo informação local a seringueira nessas condições

produz, no entanto, sua produtividade seria menor e o látex extraído de qualidade

inferior.

“Furo”

Page 30: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

30

Figura 21. Árvore de seringueira (Hevea brasiliensis), de ocorrência em

área inundável situada entre o segundo e terceiro segmento da paisagem (Fotografia: Edson Araújo, março de 2007)

3.3. Relação solo-paisagem em área de influência do Riozinho do Rôla

O Riozinho do Rôla, a exemplo dos demais Rios da Amazônia Ocidental, foi

sedimentado em tempo geológico relativamente recente por sedimentos oriundos dos

Andes, por intermédio de uma incisão fluvial (Westaway, 2006). Isso indica que a

maioria da paisagem erodida observada, foi causada por esse aprofundamento ou corte

na paisagem.

Assim, a bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla é constituída basicamente de

sedimentos holocênicos do quaternário e sedimentos do terciário pertencentes a

Formação Solimões (Cavalcante, 2005).

Os sedimentos holocênicos são mais expressivos na porção mais baixa da bacia,

ou seja, na desembocadura do Riozinho do Rôla. Isso explica a maior largura do Rio

nessa porção e a maior quantidade de sedimentos arenosos encontrados nos segmentos

de vertente a partir do canal do Rio.

Quando se navega da foz para as cabeceiras, o Rio torna-se mais encaixado, com

predomínio de sedimentos do terciário, em sua maioria de textura argilo-siltosa a

argilosa. Isso de certa forma propicia uma maior estabilidade estrutural aos barrancos e,

com isso, a ocorrência de desbarrancamentos será menos freqüente (Figura 22).

Page 31: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

31

Figura 22. Barranco às margens do Riozinho do Rôla com estabilidade estrutural em

virtude de sua textura predominantemente argilo-siltosa (Foto: Edson Araújo, março de 2007).

A cor do solo nos barrancos do alto e médio Riozinho é geralmente

avermelhada, principalmente, nas partes que não são submersas. Nesses locais o ferro

presente no sistema permanece mais tempo exposto à oxidação, por isso a coloração

avermelhada. O fornecimento de ferro é contínuo em virtude do transporte lateral de

ferro dos segmentos mais elevados da paisagem.

Em locais onde o barranco é submerso, observa-se pontuações avermelhadas e

cinzentas, em virtude da exposição do mesmo a processos de oxidação (aeração) e

redução (alagamento) do solo (Figura 23).

Figura 23. Mostra de barranco em época de seca no Igarapé Espalha, afluente do

Riozinho do Rôla, evidenciando o horizonte C e a coloração avermelhada e cinzenta (Foto: Nazaré Macêdo, setembro 2006)

Horizonte C

Pontuações avermelhadas e

cinzentas

Page 32: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

32

Como a planície inundável tem um caráter de várzea Estacional, a depender do

tempo de exposição ao alagamento podemos ter uma combinação de classes de solos

como Plintossolos e Gleissolos coexistindo lado a lado. Obviamente, nestes locais o

processo de pedogênese (formação do solo) não é contínuo, ou seja, está sempre se

renovando em virtude de material sedimentar trazido do Rio ano a ano. Assim a

caracterização desses ambientes torna-se difícil em virtude de sua variabilidade natural.

Em alguns casos, a lâmina de água contida na várzea estacional permite a

navegação de pequenas canoas (Figura 24), na qual é utilizada pela população local para

se deslocar de uma colocação para outra, atravessar o Rio e trabalhar em seu roçado.

Figura 24. Navegação em área de planície inundável do Igarapé Espalha, Colocação

Samaúma às margens do Riozinho do Rôla (Foto: Edson Araújo, março de 2007).

Na vazante, o caminho por essas áreas é bastante dificultado em decorrência da

lama e algumas poças d´água que se formam (Figura 25a e b).

Page 33: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

33

(a)

(b)

Figura 25. Detalhe da dificuldade que se tem ao percorrer determinadas áreas quando o acesso é realizado pela planície inundável. A fotografia (a) mostra uma condição mais extrema e a (b) um local em que água já desaguou. (Fotografias: Edson Araújo, março, de 2007).

A seguir são apresentados e comentados os perfis descritos a campo e as

tradagens e observações realizadas.

Page 34: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

34

PERFIL 1

Descrição Geral Data – 18.03.2007 Classificação SiBCS (provável) - Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico plíntico, A moderado, textura média/argilosa, fase tropical subcaducifólia, relevo suave ondulado e ondulado. Localizaçao, municipio, estado e coordenadas – Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rola, margem esquerda do alto Riozinho, Colocação Dominguinhos. Município de Rio Branco – Acre. Coordenadas UTM: 19L E 520015 N 8882930N (Ponto 135 GPS). Situação, declive e cobertura vegetal sobre o perfil – descrito e coletado em topo de elevação (em clareira de mata) com aproximadamente 8 a 20 % de declive, sob vegetação de capoeira e cultivo agrícola. Altitude - 219 metros Litologia – sedimentos argilo-arenosos Formação geológica – Formação Solimões. Cronologia - Terciário. Material Originário – sedimentos da Formação Solimões. Pedregosidade – não pedregoso. Rochosidade - não rochoso. Relevo Local - suave ondulado. Relevo Regional – suave ondulado a ondulado. Erosão – não aparente. Drenagem – moderadamente a imperfeitamente drenado. Vegetação primária Uso Atual – capoeira e cultivo de mandioca. Clima Descrito e coletado por – Edson Araújo, Izaias Santos e Ailton Descrição Morfológica A 0-12 cm, bruno avermelhado (5YR 5/4, úmida); franco-arenosa; moderada

pequena a grande granular, ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa; transição plana e clara.

AB 12-30 cm, vermelho-amarelado (5YR 4/6, úmido), franco-argilo-arenosa;

moderada pequena a grande blocos subangulares, ligeiramente plástica a plástica e ligeiramente pegajosa a pegajosa; transição ondulada e clara.

BA 30-50 cm, vermelho-amarelado (5YR 5/6, úmida); franco argilosa;

moderada pequena a média blocos subangulares, plástica e pegajosa, transição plana e gradual.

Page 35: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

35

Bt1 50-80 cm, vermelho-amarelado (5YR 5/6, úmida); argila; moderada média blocos subangulares; friável, plástica e pegajosa; transição plana e difusa.

Bt2 80-100 cm, bruno-forte (7,5YR 5/8, úmida); argila, friável, plástica e

pegajosa. Raízes – comuns, finas e médias no A e AB; poucas, média e finas no BA; raras finas e médias no Bt1. Observações – Perfil descrito após chuva torrencial no dia anterior; depois de aberta a minitrincheira começou a minar água; o horizonte Bt2 foi coletado com trado na profundidade de 80-100 cm da superfície; na profundidade de 60 cm da superfície, observaram-se pequenas pontuações cinza e avermelhada, denotando processos de oxi-redução de ferro através do acúmulo de água; a estrutura não foi determinada de forma satisfatória em virtude de o solo estar bastante encharcado; do mesmo modo não foi possível diagnosticar se a presença ou não de cerosidade e a consistência do solo quando seco.

O perfil 1 mesmo tendo sido descrito na porção superior da paisagem, apresenta

alguma restrição de drenagem (Figuras 26 e 27). Isso pode ser constatado tanto pela

água que minava a 60 cm da superfície, logo após a abertura da minitrincheira, como

também devido a evidências deixadas pelas pontuações cinza avermelhada no solo.

Esse fato denota a baixa permeabilidade desses solos e a baixa capacidade de

armazenamento de água, numa área que poderá ser denominada de “zona de recarga”

dos aqüíferos. Sendo assim, essas áreas deveriam ser mantidas cobertas pela floresta

nativa, por representarem maior capacidade como reservatório de água, uma vez que o

fluxo de água nesses interflúvios é dominantemente vertical. Além disso, esses solos,

devido ao gradiente textural (textura média/argilosa) quando desnudos seriam mais

suscetíveis a erosão hídrica, que predisporia esses ambientes a perdas de nutrientes,

matéria orgânica e a dispersão de minerais de argila. Podendo em última análise

impactar negativamente os corpos d´água da bacia.

Nessa porção da paisagem seria onde encontraríamos solos mais pedogeneizados

oriundos de sedimentos terciárias da Formação Solimões.

Page 36: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

36

Figura 26. Minitrincheira de Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico plíntico descrito em topo de elevação (Fotografia: Edson Araújo, março de 2007).

Figura 27. Detalhe do ambiente do perfil anterior em área de capoeira situada em clareira de mata (Foto: Izaias Santos, março de 2007).

Page 37: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

37

PERFIL 2

Descrição Geral Data – 21.03.2007 Classificação SiBCS (provável) - Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico, A moderado, textura média/argilosa, relevo suave ondulado. Localizaçao, municipio, estado e coordenadas – Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rola, margem direita do médio Riozinho, Seringal Bom Destino, Colocação Novo Destino. Município de Rio Branco – Acre. Coordenadas UTM: 19L – E 543302 N 8897652 (Ponto 165 GPS). Situação, declive e cobertura vegetal sobre o perfil – descrito e coletado em topo de elevação com aproximadamente 10 % de declive, sob pastagem de Brachiaria brizanta (brizantão). Altitude Litologia – sedimentos argilo-arenosos Formação geológica – Formação Solimões. Cronologia - Terciário. Material Originário – sedimentos da Formação Solimões. Pedregosidade – não pedregoso. Rochosidade - não rochoso. Relevo Local - suave ondulado. Relevo Regional – suave ondulado. Erosão – ligeira laminar. Drenagem – bem drenado. Vegetação primária Uso Atual – Pasto de B. brizanta cv Marandu. Clima Descrito e coletado por – Edson Araújo, Nazaré Macêdo, Izaias Santos e Aldo Lopes. Descrição Morfológica A 0-11 cm, bruno (7,5YR 4/4, úmida); franco-argilo-arenosa; forte pequena

granular, duro friável ligeiramente plástica a plástica e ligeiramente pegajosa; transição plana e clara.

AB 11-27 cm, amarelo-avermelhado (5YR 6/6, úmido), franco; moderada média

blocos subangulares, duro friável ligeiramente plástica a plástica e ligeiramente pegajosa a pegajosa; transição plana e gradual.

BA 27-40 cm, vermelho-amarelado (5YR 5/6, úmida); franco; moderada média

blocos subangulares, duro friável ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa, transição plana e gradual.

Page 38: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

38

Bt1 40-90 cm, vermelho-amarelado (5YR 5/6, úmida); argila; moderada média a grande blocos subangulares; cerosidade fraca e comum, duro friável, plástica e pegajosa; transição plana e gradual.

Bt2 90-130 cm, vermelho-amarelado (5YR 4/6, úmida); argila, moderada média

a grande blocos subangulares, cerosidade moderada a forte e comum, duro friável, plástica e pegajosa.

Raízes - muitas finas e médias no A, AB e BA; poucas e finas no Bt1; raras e finas no Bt2.

O perfil 2 foi descrito em uma situação de relevo menos movimentado. Nesse

sentido, os processos de gênese atuaram mais intensamente, resultando num solo mais

profundo e com evidência de que a água percola mais livremente nesse sistema, em

virtude da presença de cerosidade constatada e que recapiava os agregados do solo

(Figuras 28 e 29).

Figura 28. Perfil de Argissolo Vermelho-Amarelo descrito em área de pastagem de

B. brizantha de 10 anos. (Fotografia: Edson Araújo, março de 2007).

Page 39: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

39

Figura 29. Aspecto do ambiente onde foi descrito o perfil da figura anterior. Relevo suave

ondulado (Fotografia: Edson Araújo, março de 2007).

No entanto, num segmento da paisagem mais acima, constatou-se uma extensa

área com síndrome de morte de B. brizantha cv Marandu (braquiarão) (Figura 30). Isso

denota que esses solos quando mal manejados também apresentam tal problemática.

Figura 30. Síndrome de morte do capim braquiarão em área de Argissolo Vermelho-Amarelo

Page 40: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

40

Nesse ambiente, realizou-se caminhada com o morador nos diversos segmentos

da paisagem, partindo-se do canal do Riozinho até a porção mais elevada (Figura 31).

Page 41: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

41

Figura 31. Esquema ilustrativo mostrando transecto percorrido e diversos segmentos da paisagem (degraus) da Colocação Novo Destino, em área de influência do Riozinho

do Rôla e Mosaico de fotografias com esses ambientes (maiores detalhes ver Quadro 3).

1 2

40 m 3

4

5 6

Aproximadamente 2000 m

Page 42: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

Os locais amostrados, sua posição na paisagem e algumas características observadas

encontram-se no Quadro 3 abaixo:

Quadro 3. Algumas características de solo e ambiente dos diferentes segmentos (degraus) na margem direita do Riozinho, Seringal Bom Destino, Colocação Novo Destino

Nº -Coordenadas UTM

Segmentos na Paisagem

(degraus) Características observadas

1 – Não obtido devido a cobertura vegetal existente

1. Canal do riozinho do

Rola

À época encontrava-se preenchido pela água. Na época de menor pluviosidade costuma baixar seu volume

2 - 543389/8898122

2. Sopé aluvial (1º

degrau)

Possui uma extensão de poucos metros

3 - 543380/8898103

3. Planície aluvial não inundável (2º degrau)

Porção mais plana e extensa da paisagem; geralmente predominam Plintossolos e por vezes Gleissolos quando permanecem por um período de tempo mais prolongado. Essas planícies se alternam em níveis discordantes, ou seja, uma se apresenta em cota mais elevadas e a outra em porções mais elevadas. Dessa forma, a planície que se encontra em porções mais baixas tende a ser inundada. No entanto a depender da magnitude da enchente, por vezes as duas margens podem vir a alagar, conforme relato do morador local. Os solos existentes nessa área geralmente são acinzentados ou descoloridos, denotando restrição de drenagem e, ou acúmulo de água e matéria orgânica. Nesse ambiente é comum a ocorrência de ciperáceas (tiririca) e capim nativo.

4.- 543302/8897652

4. 3º degrau Nesse ponto já há a ocorrência de Argissolo Vermelho-Amarelo A fraco textura média/argilosa em relevo suave ondulado. O solo tradado apresentava zonas de redução nos primeiros 10 cm da superfície em decorrência do pisoteio do gado.

5 - 543302/8897652

5. 4º degrau Local onde foi descrito o perfil 2.

6.- 543899/8896326

6. Ponto mais alto da toposseqüência (5º degrau)

Local situado no topo, ou seja, na porção mais elevada da paisagem em área de floresta densa com palmeira. No local tentou-se cavar uma trincheira, mas não se obteve sucesso devido à textura predominantemente arenosa e o lençol freático à superfície. O local provavelmente deve ser um meandro abandonado, resultante de uma antiga área de deposição de sedimentos onde o rio antigamente devia correr. Por questões de estabilidade o rio deve ter abandonado esse trecho.

Na planície aluvial do segmento 3 da Colocação Novo Destino (2º degrau)

constatou-se em área de quebra de borda algumas concreções maciças de Ferro (Fe) e

Manganês (Mn). Essa área por situar-se em relevo tabular, ao encontrar condições de

acúmulo desses elementos, deve formar-se por ciclos de umedecimento e secagem do solo

que propiciam os processos de redução, mobilização e transporte (Figura 32). Constatou-se

in loco a presença do Mn através da efervescência com água oxigenada.

Page 43: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

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Figura 32. Concreções escurecidas de Fe e Mn em condição de quebra de borda na planície

aluvial não inundável da Colocação Novo Destino, Seringal Bom Destino, em área de Influência direta do Riozinho do Rôla (Foto: Edson Araújo, março de 2007).

Constatou-se também nesse segmento da paisagem a presença de tiririca do brejo

(Cyperus spp.), uma invasora adaptada a condições de encharcamento do solo (Figura 33).

Figura 33. Ocorrência de tiririca do brejo (Cyperus spp.) em área da planície aluvial não

inundável na Colocação Novo Destino. (Foto: Nazaré Macedo, março de 2007.).

Page 44: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

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De acordo com informações do morador local o plantio de culturas, como o milho e

feijão não estão dando bons resultados nessas condições, o que pode estar associado às

condições de encharcamento do solo e, ou da toxidex por Fe e Mn. Nessas condições foram

coletadas amostras para análise de fertilidade e futuramente para micronutrientes como Fe e

Mn, como forma retornar para a comunidade resultados e sugerir alternativas de uso.

Na colocação Samaúma, situada no alto do Riozinho, igarapé Espalha, o relevo é

mais movimentado e a distância entre o canal do rio (1º segmento da paisagem) e a porção

mais elevada da paisagem (área de topo ou interflúvio tabular) são menos extensas,

chegando a alcançar, nesse caso, 400 m (Figura 34).

Figura 34. Esquema ilustrativo mostrando transecto percorrido em diversos segmentos da paisagem (degraus)

da Colocação Samaúma, margem esquerda do Igarapé Espalha. (Para maiores detalhes de cada segmento da paisagem, consulte o Quadro 4).

Quadro 4 Algumas características de solo e ambiente dos diferentes segmentos (degraus) na margem esquerda do Igarapé Espalha, Colocação Samaúma.

Nº - Coordenadas UTM

Segmentos na Paisagem

(degraus) Características observadas

1 – Não obtido 1. Canal do riozinho do Rola À época encontrava-se preenchido pela água. Na época de menor pluviosidade costuma também baixar seu volume

2 – Não obtido

2. Sopé aluvial (1º degrau) Possui uma extensão de poucos metros

3 – 0533248/8871416

3. Planície aluvial ou várzea estacional (2º degrau)

Porção mais plana e extensa da paisagem. Na ocasião este segmento estava inundado, não sendo possível amostrar o solo ou efetuar algum tipo de tradagem. No entanto, presume-se que área deva contemplar solos com alguma restrição de drenagem, tais como Plintossolos e Gleissolos.

4. 4 Área de encosta. Área de encosta 5.0533255/8871598 (Pasto)

0533278/8871492(mata)

5. Topo de elevação Nesse ponto da paisagem efetuamos a tradagem em área de pasto de B. brizantha e de mata nativa. Pelas características morfológicas o solo tradado se enquadria na classe de Plintossolo Háplico, ou seja, existe a presença de plintita em quantidade considerável a partir de 40 cm da superfície. Existe o relato também da ocorrência da síndrome da morte de pastagem. O que pode ser justificado pela drenagem deficiente e a suscetibilidade dessa gramínea a condições de encharcamento do solo. A área de mata nativa tradada, situada na mesma posição do relevo

1 23

4

5

Margem esquerda Margem direita

Aprox. 200 m

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45

mostrou as mesmas características do solo da pastagem, somente com um declínio (aspecto visual) no teor de matéria orgânica do solo. A vegetação nativa é do tipo Floresta aberta com Bambu. Pelo relato do morador local, nessas condições de solo a castanheira (Bertholletia excelsa) ocorre com menor freqüência. Fato que pode ser explicado pela ocorrência da mesma em áreas de terra firme e com melhores condições de drenagem e profundidade do solo. Isso pode ser constatado por sua maior ocorrência na região Leste do Acre, onde ocorrem solos mais profundos e bem drenados.

Na margem esquerda da Colocação Samaúma onde se localiza a planície inundável

a textura do solo é predominantemente argilosa.

Na margem direita a textura, em sua maioria, é de natureza arenosa. A tradagem

realizada até 1 m de profundidade na área de Sistema Agroflorestal revelou que a partir daí

o solo começa a ficar mais “carregado” em argila. Segundo informações do morador do

local, as castanheiras costumam ocorrer com maior freqüência nessa porção da paisagem.

Isso demonstra mais uma vez que as castanheiras adaptam-se melhor a condições de terra

onde predominam melhores condições de drenagem e maior profundidade do solo.

Nesse ambiente coletaram-se amostras na profundidade de 0-20 cm (5 amostras

simples para compor uma composta) em locais onde o cupuaçu (Theobroma grandiflorum)

apresentava sinais de amarelecimento das folhas (Figura 35).

Figura 35. Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) com folha mostrando sinais de amarelecimento

(Foto: Nazaré Macêdo, março de 2007).

Page 46: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

46

O mesmo procedimento foi efetuado para o plantio de pimenta-do-reino (Piper

nigrum), que estava morrendo e apresentava sinais de amarelecimento das folhas (Figura

36). Esse fato pode estar relacionado a alguma deficiência nutricional e, ou alguma doença

e origem fúngica ou virótica.

Figura 36. Pimenta- do- reino (Piper nigrum) apresentando amarelecimento nas folhas.

(Foto: Edson Araújo, março de 2007).

Nas áreas visitadas, a utilização das terras com culturas anuais, tipo cultivo

itinerante, utiliza preferencialmente as áreas situadas distantes das margens do Rio e em

pequenos módulos que variam de 1 a 2 ha (Figura 37). Isso, de certo modo é um fator

positivo, uma vez que traria menos impactos negativos aos corpos d´água e a capoeira

tenderia a regenerar-se rapidamente em função dos propágulos vegetativos oriundos da

floresta.

No entanto, muitas das vezes após um período de cultivo de 1 a 2 anos em virtude

das terras ficarem “cansadas”, o agricultor tende a desmatar novas áreas. Isso de certa

Page 47: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

47

forma pode contribuir para o aumento gradativo da descaracterização da cobertura vegetal

original da região.

O tamanho dos roçados varia em função da mão-de-obra familiar existente e da

conjugação com outras atividades exercidas por cada morador. Geralmente o seringueiro

concilia essa atividade produtividade com a extração de castanha e borracha.

Figura 37. Utilização da terra com culturas anuais (roçado) no sistema itinerante em clareira de

mata. No primeiro plano, área recém desmatada e queimada e ao fundo cultivo com milho e mandioca. (Foto: Edson Araújo, março de 2007).

A seguir são listados alguns pontos estratégicos que se utilizou para fazer tradagens

e observações concernentes a solo e ambiente e que servirão de base para os próximos

passos do levantamento do meio físico (Quadro 5).

Quadro 5. Tradagens e observações realizadas em área de influência direta e indireta do Riozinho do Rôla.

Localização e

Georeferenciamento (UTM) Características de solos e ambiente

Colocação Conselho (1) 577874/8886678

Tradagem na margem esquerda do igarapé São Raimundo, distante aproximadamente 50 m de seu leito. Apresenta A fraco, textura argilosa, classificação provável – Argissolo Vermelho Amarelo com caráter plíntico. Cor do horizonte B 5YR 5/6 (vermelho-amarelado). Não se tirou a cor do horizonte A em virtude de queima recente. A área aberta próximo a moradia apresentava grande incidência de tiririca do brejo, capim relógio, plantio de bananeira e pasto nativo.

Colocação Conselho (2) 577736/8886522

Tradagem em área de mata, floresta densa com palmeira e presença de castanheira (Bertholletia excelsa). A textura avaliada foi

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48

predominantemente arenosa até 1m. Mais escurecido em decorrência da matéria orgânica. Abaixo disso o solo adquiriu uma tonalidade amarelada; relevo suave ondulado; bem drenado. A ocorrência de solo arenoso nesse segmento da paisagem (planície aluvial não inundável) pode estar relacionada à deposição de sedimentos dessa natureza no passado. Uma vez que esse segmento pode ter sido um antigo leito do rio ou um meandro abandonado.

Colocação Conselho (3) 577582/8886446

Tradagem realizada em área de roçado de aproximadamente 2 há com plantio de macaxeira e banana. O mesmo encontrava-se encapoeirado com plantas tipo imbaúba (Cecropia spp)e sapé (Imperata brasiliensis); Textura média/argilosa, bem drenado, relevo plano a suave onduladoe floresta densa com palmeira

Colocação Morada Nova, Seringal Cachoeira (1)

Tradagem feita a 1 m de profundidade em topo superior de elevação, próxima a área de roçado; a textura Franco-arenosa vigora predomina até a quase 1 m, a partir daí já começa a carregar na argila; apresenta horizonte A fraco, relevo local plano, regional ondulado, floresta densa com palmeiras e musácea, bem drenado.

Colocação Morada Nova, Seringal Cachoeira (2)

580474/8882196

Mini trincheira de escavada a 60 cm da superfície em posição de meia encosta; Apresenta A moderado, textura argilosa, imperfeitamente drenado em área de floresta densa com palmeira; Provavelmente deva se enquadrar na classe de Plintossolo Argilúvico

Colocação Morada Nova, Seringal Cachoeira (3)

580810 /8881593

Observação feita na planície inundável, na margem esquerda do igarapé Vai-Se-Ver; O solo tradado apresentou cores cinzentas cinzentas e é de natureza argilo-siltosa; muito provavelmente deva tratar-se de um Gleissolo, no entanto, será necessária a prospecção a maiores profundidades na estação seca para se atestar realmente sua classificação.

Colocação Morada Nova, Seringal Cachoeira (4)

580700/8881278

Tradagem realizada a 1 m de profundidade em área de pastagem nativa a aproximadamente 250 m da margem direita do igarapé Vai-Se-Ver; relevo Plano, floresta densa com musácea; cor do horizonte B 5YR 5/8 (vermelho amarelado), textura média/arenosa; A fraco; bem drenado, sem evidência de encharcamento

Colônia Santo Antônio 609475/8886793

Tradagem em área de pasto; A moderado, bem drenado, relevo plano a suave ondulado, floresta densa com musácea; uso com pasto nativo.

609309/8886593 Observação feita em barranco existente na área: Argissolo Vermelho-Amarelo, textura argilosa, A moderado, bem drenado, relevo suave ondulado; presença de cerosidade no horizonte B expressiva; seqüência de horizontes A-AB-Bt. Nesse local também se marcaram os pontos no GPS correspondente a cada segmento da paisagem: 2º segmento – 609638/8886973 (154 m); 3º segmento – 609601/8886914 (174 m) corresponde ao nível da moradia

Page 49: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

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2. Análise preliminar das características socioeconômicas das populações ribeirinhas do Riozinho do Rôla, Rio Branco, Acre.

1. Introdução

Na Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla (BHRR), grande parte do escoamento

da produção é realizada durante o período das chuvas, época em que o Rio é navegável por

grandes embarcações (batelões). No período de seca, em virtude das baixas cotas

fluviométricas do Rio, a navegação Rodovia Estadual AC – 090 (Transacreana), principal

via de acesso ao núcleo urbano de Rio Branco.

Neste sentido, destaca como uma bacia prioritária para conservação, uma vez que é

a única via de acesso às comunidades ribeirinhas durante a maior parte do ano, garantindo-

lhes o escoamento da produção, busca de serviços, educação e saúde na cidade de Rio

Branco. Além disso, para muitos, ainda exerce a função de suprimento alimentar, através da

pesca.

Assim, essa parte do relatório tem como objetivo apresentar um levantamento

preliminar das características socioeconômicas de algumas famílias ribeirinhas que vivem

em área de influência direta do Riozinho do Rôla e seus afluentes.

Além disso, com este levantamento será possível ter um pré-diagnóstico das

condições socioeconômicas da bacia, que irá contribuir com informações fundamentais

para uma abordagem eficiente as comunidades locais. Ao mesmo tempo subsidiará

atividades de pesquisa que, posteriormente, explicarão as possíveis questões referentes às

relações das populações com os recursos naturais.

Assim visando não atrasar o cronograma das atividades do projeto, esse estudo

preliminar foi realizado entre os dias 16 a 28 de março de 2007, tendo apoio das

instituições parceiras, como no caso o Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC) e

CNPq.

2. Caracterização ambiental.

Alguns núcleos populacionais estão situados às margens do Riozinho do Rôla. Em

decorrência do processo de ocupação no período da intensa exploração da borracha, as

casas dos ribeirinhos foram construídas próximas ao Rio. Isso facilita, em época de cheia, a

comunicação e o deslocamento da população para a cidade de Rio Branco e outras

localidades, assim como o escoamento da produção (Figura 38). Observou-se em vários

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50

pontos ao longo do Rio a construção de estruturas como paióis e currais, além do plantio de

algumas culturas de subsistência, o que faz com que a vegetação ciliar seja, em parte,

retirada.

Figura 38. Embarcação utilizada (batelão) pelos ribeirinhos para o

escoamento da produção agrícola da região.

Em alguns pontos nota-se o assoreamento do leito do Rio. Esse processo é mais

evidente na região mais próxima à foz do que na cabeceira. A dinâmica anual de enchente e

vazante do Rio explica esse fenômeno, embora se tenha um maior ou menor efeito em

função da ação antrópica.

Na zona ripária (mata ciliar) parece existir a predominância de espécies mais

adaptadas às condições de alagamento como a imbaúba (Cecropia spp.), o ingá (inga spp) e

uma espécie conhecida popularmente na região de espera-aí. Outros vegetais como o

cumaru-preto (Dipteryx spp.), a samaúma (Ceiba petandra) e o buriti (Mauritia spp.) estão

localizadas em solos mais drenados e são também de maior porte.

A fauna existente na mata ciliar parece ser diversa apresentando aves de diferentes

espécies, primatas e alguns quelônios (tracajá). Segundo os moradores a piscosidade do Rio

não é boa e relatam que os motivos que levaram à diminuição da quantidade de peixes, são:

o alto uso de tingui (Magonia spp.) e açacu (Hura crepitans L.) na cabeceira; a seca

ocorrida em 2005, o aumento do número de famílias na região e a pesca realizada por

pessoas da cidade.

Os impactos ambientais observados sobre o Riozinho do Rôla, principalmente, na

região da foz, além da retirada da vegetação ciliar, foram: o fluxo de embarcações

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motorizadas; o lançamento, em certos pontos, de lixo e a lavagem de roupas. Os motores

dos barcos que são utilizados para o deslocamento das pessoas no Riozinho, afugentam os

animais da zona ripária. O lançamento de combustível e óleos na água do Rio altera sua

qualidade desfavorecendo a fauna aquática do mesmo. Em alguns pontos são notados,

próximo as casas dos moradores ribeirinhos, o lançamento de lixo doméstico. Como essas

observações foram realizadas em época de cheia do Rio, em períodos mais secos o

lançamento de lixo pode ser bem maior. Esse fato reforça ainda mais a necessidade de

ações junto às comunidades que possam contribuir com a educação ambiental, garantindo

assim uma maior conservação da bacia.

Foi notado também que algumas famílias lavam suas roupas no Rio. Quando o

mesmo está com uma maior vazão. Essa prática pode não comprometer a qualidade da água

nem a fauna aquática em função da diluição destes produtos no Rio. Porém, em época de

seca e dependendo do número de famílias que o fazem o impacto poderá ser bem maior.

É notado um gradiente de preservação da mata ciliar da foz à nascente do Riozinho.

No baixo Riozinho é claramente notado a interferência ao meio ambiente, sendo que existe

uma maior concentração de casas. São residências mais estruturadas e com uma relação

maior com a cidade de Rio Branco, pois utilizam materiais de alvenaria e em algumas casas

existe energia elétrica.

Parece que a navegação no Riozinho se dá por diferentes motivos e distintos

públicos. Dentre os motivos destaca-se o escoamento da coleta da castanha e da borracha, o

transporte da população para Rio Branco, ou para outras localidades dentro da bacia, e o

deslocamento de benefícios e políticas públicas para as comunidades. Em época de cheia o

público que navega por ele são em sua maioria castanheiros, agentes de saúde e técnicos do

governo ou de ONG's. Existem embarcações que levam os ribeirinhos para a cidade de Rio

Branco em barcos coletivos, onde se cobra pela viagem, ou em barcos familiares, onde se

viaja a família inteira. Portanto, a navegação no Rio nesta época do ano é a mais fácil e a

possível de ser realizada já que os “ramais” são praticamente intransitáveis.

3. Produção e fontes de renda.

3.1. Extrativismo vegetal.

Na época de inverno, ocorre a colheita da castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa).

Esse período, geralmente, vai de final de dezembro a março. Com isso, castanha apresenta-

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52

se como uma fonte de renda importante e significativa para as comunidades ribeirinhas, já

que o preço pago é relativamente maior. Aparentemente é um número considerável de

famílias envolvidas nesta prática e conseqüentemente um volume significativo de castanha

é comercializada (Figura 39).

Segundo o IBGE (2006) o Acre extraiu e comercializou 11.142 toneladas de

castanha para o ano de 2005. Somente o município de Rio Branco comercializou 2.823

toneladas o que representou em torno de 3,896 milhões de Reais.

A comercialização da castanha é particularmente preferida pelos ribeirinhos por dois

motivos: facilidade na coleta e bom preço de mercado. Segundo os agricultores a castanha

não sofre ou não depende de variações do ambiente, como a chuva. O trabalho que se tem

com essa atividade é a coleta e a quebra do ouriço. Toda família é envolvida neste trabalho.

O preço pago por uma lata de 20 litros de castanha em uma das associações de

moradores no Riozinho do Rôla é de R$12,00. No caso do seringueiro comercializar

diretamente no mercado em Rio Branco, este valor pode chegar a R$14,00. Segundo os

ribeirinhos é uma quantia boa para o pouco trabalho que realizam. Neste sentido reclamam

que o período de coleta e comercialização é pequeno, apenas três meses.

Além da castanha-do-brasil, outra fonte de renda obtida pelos ribeirinhos é a

extração de látex da seringueira (Hevea brasiliensis)1. Diferentemente da castanha, a

seringa tem sua produção garantida por todo ano, porém sofre variações de qualidade em

função da quantidade de chuvas e do local de sua ocorrência. Os seringueiros consideram

que se trata de um produto de pouco rendimento, onde 200 litros de látex fornecem,

aproximadamente, de 8 a 10 quilos de borracha. Este aspecto, associado à variação de

produção de diferentes seringais faz com que a produção de seringa oscile em termos de

quantidade e qualidade. Essas alterações têm por conseqüência, segundo os moradores, a

obtenção de uma renda não constante durante o ano, o que os força a buscar alternativas de

renda, como a criação de gado, dentre outros.

A ocorrência destes dois produtos principais de extrativismo, a castanha e a seringa,

segundo os ribeirinhos, são em áreas mais drenadas, longe de matas ciliares. Segundo os

ribeirinhos, a ocorrência de seringueiras em áreas um pouco mais úmidas ou sob condições

de drenagem deficientes, tem como conseqüência a produção de um látex de baixa

qualidade e pouco produtivo. O aparecimento da seringueira em áreas mais alagadas são

casos isolados. No entanto, observou-se uma grande concentração de seringueiras

1 Ainda de acordo com o IBGE (2006), em 2005 foram retiradas 2073 toneladas de látex (3,61 milhões de Reais).

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distribuídas ao longo do leito do Rio em épocas de cheia. Ocorrência que deverá ser

estudada com maiores detalhe posteriormente (Figura 40).

3.2. Produção de subsistência.

A dinâmica de produção utilizada pelos ribeirinhos se dá a partir de uma agricultura

itinerante: ocorre a implantação de uma lavoura em uma determinada área e quando cessa

ou diminui a produtividade migra-se para outra área.

A produção se dá seguindo o esquema de desmate, limpeza da área, plantio de

culturas e formação do pasto. No que se refere ao plantio de culturas, geralmente têm-se

uma seqüência que é o plantio de arroz, depois o milho e em seguida o feijão. Em áreas

mais altas se cultiva comumente a mandioca, pois são culturas mais adaptadas as condições

de menor umidade e fertilidade. O trabalho de Morán (1990) apresenta um exemplo

interessante sobre como o conhecimento local forma a base de estratégias de sobrevivência

destas populações na floresta Amazônica.

A utilização da lavoura de subsistência como, arroz, feijão, milho e mandioca é

realizada por meio de um processo dinâmico que envolve o desmate, a queima da floresta,

o cultivo, a colheita, a mudança de área produtiva, repouso (pousio) e, finalmente, retorno a

área. Geralmente esse retorno se dá em um período de 2 a 3 anos, a depender das condições

de fertilidade do solo.

Figura 40. Árvore de seringa no leito do Riozinho do Rôla (Foto: Edson Araújo, março 2007)

Figura 39. Produção de castanha esperando para ser transportada no Riozinho do Rôla (Foto: IzaiasFenandes, março 2007)

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Por se tratar de uma região com características climáticas e biológicas específicas

com altas temperaturas, disponibilidade hídrica e fontes de dispersão, o processo de

regeneração natural é relativamente rápido. Nota-se que em áreas onde se iniciou a cultura

tem-se a presença de algumas espécies pioneiras, como a imbaúba. As Figuras 41, 42 e 43

ilustram diferentes áreas de produção em distintos estágios de regeneração após a limpeza e

conseqüente plantio de culturas.

Figura 41. Área recém desmatada para plantio de culturas na Colocação Dominguinhos, Seringal Passagem no Riozinho Rôla (Foto: Izaias Fernandes, março de 2007)

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Figura 42. Área plantada com culturas agrícolas onde inicia um processo de regeneração, Colocação Dominguinhos, Seringal Passagem no Riozinho do Rôla (Foto: Izaias Fernandes, março de 2007).

Figura 43. Área onde foi realizado o plantio de milho, em seguida será plantado feijão,

Colocação Dominguinhos – Seringal Passagem no Riozinho do Rôla (Foto: Izaias Fernandes, março de 2007)

3.3. Produção tecnificada: as fazendas.

As fazendas localizadas mais a leste da bacia hidrográfica têm a criação de gado

como principal atividade produtiva. Com isso, a ação antrópica se apresenta como

extremantemente degradatória, seja pela retirada da vegetação nativa, seja pelas formas de

manejo utilizadas (Figuras 44).

Essas atividades não possuem uma adequada assistência técnica o que faz com que

as práticas de manejo, muitas vezes, não são conservacionistas, como: utilização

indiscriminada de agrotóxicos; superpastejo; desmatamento de matas ciliares; etc. Os

fazendeiros são proprietários capitalizados que constroem uma estrutura fundada na

contratação de empregados para o manejo do gado durante o ano e de instalações dentro da

fazenda.

As atividades de produção desenvolvidas são exclusivamente para a geração de

lucro e para se abastecer. Os produtos alimentícios cultivados dentro da propriedade são

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56

para o próprio consumo da fazenda e a exploração dos recursos florestais, quando existe,

são para aumentar a área de pastos ou para a comercialização da madeira.

A maioria das fazendas encontradas na bacia está localizada em pontos estratégicos

que facilitam sua comunicação e deslocamento. A localização próxima à Rodovia Estadual

AC 090 (Trasacreana) e a pouca distância com a cidade de Rio Branco facilita e

potencializa as atividades produtivas a serem desenvolvidas pelas fazendas.

4. Os povos ribeirinhos

As casas dos ribeirinhos possuem uma estrutura diferenciada de saneamento com a

presença de banheiros e um escoamento de dejetos para locais mais baixos do terreno. A

obtenção de água de qualidade para as atividades domésticas tem duas fontes básicas: as

nascentes ou vertentes e o Riozinho. Segundo os ribeirinhos a qualidade da água da

nascente é melhor. Em época de chuva a água do Riozinho fica turva e em época de seca a

quantidade (vazão) compromete seu uso. Não é toda família que tem acesso a uma água de

qualidade, de nascente. Muitas delas dependem exclusivamente da água do Rio para

execução de todas as atividades domésticas e produtivas.

O nível de instrução máximo observado para essas populações é o ensino básico, 4ª

série do primeiro grau. Essa pouca escolaridade pode ser explicada pela falta de professores

e escolas para outras séries; à distância e possibilidade de deslocamento para a cidade e, por

fim, a impossibilidade dos pais em manter seus filhos na cidade de Rio Branco estudando.

Figura 44. Pastagem com aparecimento de áreas erosivas ao longo da Rodovia AC 090 (Transacreana) (Foto: Edson Araújo, março 2007)

Page 57: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

57

Em um local onde a comunicação é deficiente, a instrução é mínima e a distância de

agentes de aplicação de políticas de controle de natalidade é grande, foi observado um

número relativamente alto de crianças por casal. Geralmente, a união entre casais se dá

prematuramente: a mulher se casa com idades variando entre 14 e 15 anos. A esposa se

dedica aos cuidados da casa e dos filhos, já o homem com a lida com o gado, à coleta de

castanha e a extração de seringa. Em algumas atividades produtivas a mulher tem maior

participação com a criação de pequenos animais e auxílio ao homem no plantio e colheita

da lavoura de mandioca, de feijão e de milho. A Figura 45 apresenta uma atividade

produtiva onde a mulher tem principal participação, a criação de pequenos animais.

Figura 45. Criação de pequenos animais na Colocação Ipiranga no Riozinho do Rôla (Foto:

Nazaré Macêdo, março 2007).

Embora seja uma morada simples, com poucos utensílios domésticos convencionais,

a casa do ribeirinho é asseada, muito limpa e de um aconchego característico. Geralmente a

casa é construída em um nível superior de aproximadamente 0,5 a 1 metro. Isso evita a

entrada dos animais para o interior da moradia.

Foi relatado pelos ribeirinhos sobre a ocorrência em maior ou menor grau de

doenças como malária, dengue e leshimaniose, dependendo da época do ano. São

enfermidades que, segundo os moradores, diferentes membros da família as contraíram por

diversas vezes. Ao mesmo tempo em que se observa a ocorrência dessas enfermidades,

existe a dificuldade de tratamento em função da distância e pelas dificuldades impostas

Page 58: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

58

dependendo da época do ano. A pouca ou nenhuma presença de unidades médicas em

diferentes regiões também dificulta a vida e o tratamento médico destes ribeirinhos.

5. Os usos e a relação dos recursos naturais com os ribeirinhos.

Os ribeirinhos elaboraram estratégias de sobrevivência neste ambiente o que

envolve um delicado processo de adaptação e um grande conhecimento sobre o ambiente

que os cerca. Neste sentido, o uso e a dependência dos recursos naturais que a floresta

oferece são grandes.

De acordo com Colchester (2000) as populações ribeirinhas, foco desta pesquisa,

podem ser consideradas populações tradicionais: grupos étnicos que usam de técnicas

apuradas de produção, com uso de simbolismos relacionado com sua cultura e que é

passado entre gerações.

A dependência para com os recursos naturais também se relaciona com uma maior

integração entre homem e natureza o que faz surgir um conhecimento fundamentado na

experiência vivenciada pelos ribeirinhos (Begossi, 2001). Essa dependência para com os

recursos naturais se dá de várias formas: deslocamento, produção, fonte de renda, lazer,

fonte de alimentação, construções rurais, fontes de energia, produtos medicinais, entre

outros.

Em época de chuvas, como aqui comentado, a principal forma de transporte é o

Riozinho e seus afluentes. Desta forma, o aumento da vazão do Rio se torna o meio de

utilização direta do deslocamento para as comunidades dentro e fora da BHRR. Neste

sentido, as embarcações utilizadas têm como principal matéria prima a madeira extraída da

floresta. Em embarcações grandes, como os chamados batelões, ou de porte menor como as

construídas de uma peça única de madeira, os recursos florestais sempre utilizados.

Algumas espécies têm preferência para este tipo de construção a jacareúba, a

itajubá, a guariúba e até mesmo a castanheira. Estas espécies apresentam uma maior

durabilidade em condições de grande umidade. As Figuras 46 e 47 apresentam as

embarcações comumente utilizadas pelas populações ribeirinhas fabricadas de madeira.

Page 59: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

59

Para a construção de suas moradias os ribeirinhos utilizam determinadas espécies

florestais, dependendo de sua função estrutural: telhado, parede ou piso. Nas casas mais

simples, por exemplo, é comum que a casa seja construída de paxiúba (Iriartea Deltóidea)

que é uma palmeira em que suas folhas são usadas na cobertura das casas. A jarina

(Phytelephas spp.) também é utilizada e, segundo os ribeirinhos possibilita uma cobertura

melhor. As Figuras 48, 49, 50 e 51 apresentam diferentes residências dos ribeirinhos. Cada

uma com aspectos e espécies florestais diferentes.

Figura 46. Batelões utilizados para o transporte de diferentes produtos

Figura 47. Embarcação construída com uma peça única de madeira

Figura 48. Residência de um ribeirinho construída de madeira retirada da floresta na Colocação Boa Vista, Riozinho do Rôla (Foto: Nazaré Macêdo, março de 2007)

Figura 49. Escola construída de paxiúba e jarina, Colocação Ipiranga, Riozinho do Rôla (Foto: Izaias Fernandes, março 2007)

Page 60: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

60

Uma variedade de plantas é usada pelos ribeirinhos, muitas das quais em práticas

medicinais (Amorozo & Gély, 1988). A utilização de plantas e outros recursos para a cura

das enfermidades é comum. Algumas espécies utilizadas por eles como medicinais são o

jatobá (Hymenae spp.), a unha-de-gato (Mimosa bimucronata) e o cajiru que são, também,

extraídos da floresta.

Outro fato é a domesticação de animais silvestres realizado pelas famílias de

ribeirinhos, como o loro (Papagaio). Esta domesticação não chega a privar a liberdade dos

animais, uma vez que são capturados e criados em liberdade nos arredores da casa dos

ribeirinhos. Desta forma, o animal pode ir embora quando desejar.

Os animais constituem importante parte da dieta do ribeirinho. Begossi, Amaral &

Silvano (1995) estudando os habitantes do Alto Juruá afirmam que a caça é uma fonte de

proteína muito importante, principalmente durante a estação chuvosa. A caça realizada

pelos ribeirinhos não é comercial e sim de subsistência. O que preocupa é a pressão sobre

os animais com o aumento do número de famílias ribeirinhas. Também contribui para esta

pressão a presença constante de pessoas da cidade que caçam nas matas. Os ribeirinhos,

embora digam que exista ainda muita caça nas matas, o número de animais eram maiores

em anos passados.

Uma caça preferida pelos seringueiros é a carne de Anta. Entretanto, é este animal

que promove a dispersão das sementes de castanha que é comumente encontrada na região.

Essa caça pode comprometer a propagação desta espécie vegetal.

Outro uso dos recursos florestais é como fonte de energia, combustível. A

castanhinha é exemplo desta utilização.

Figura 50. Interior da casa de um ribeirinho, Colocação Ipiranga, Riozinho do Rôla (Foto: Izaias Fernandes, março 2007)

Figura 51. Casa de ribeirinha construída de palha de paxiúba, Colocação Dominguinhos , Riozinho do Rôla (Foto: Izaias Fernandes , março 2007)

Page 61: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

61

Esses diferentes usos feitos pelos ribeirinhos demonstram o conhecimento que estas

comunidades têm para com os recursos que lhes são oferecidos, mas também sua grande

adaptabilidade de sobrevivência. O que pode ser comprovado ao se ouvir uma ribeirinha

dizer: “Não se passa fome na floresta. Sempre se tem um recurso disponível”.

6. Observações gerais

As populações em sua maioria que residem na bacia têm sua origem na região

nordeste do país através dos fluxos migratórios que ocorreram no início do século XIX

durante o ciclo da borracha. Com isso herdaram costumes e o modo de vida destas

populações: a linguagem e a alimentação refletem bem essa importação de cultura.

De acordo com Ribeiro (2006), o declínio dos seringais fez com que, estas

populações que extraiam o látex, por estarem marginalizadas economicamente, se

encontravam em uma situação de adaptação as formas de vida regional. Tiveram que caçar

utilizando arco e flecha para poupar munição; abrir roçado usando instrumentos

rudimentares e se alimentavam de comidas da terra como a tartaruga e o jacaré. Até então o

dono do seringal fornecia produtos industrializados vindos de fora do seringal.

No caso da região em estudo, a adaptabilidade dos povos ribeirinhos as diferentes

condições apresentadas pela floresta pode ser explicada por fatores como a transferência de

conhecimentos de povos indígenas nativos da Amazônia, por saberes trazidos de suas

regiões de origem, mas também de conhecimentos construídos dentro da Floresta. Neste

aspecto, é importante verificar a presença de pessoas de conhecimento dentro destas

comunidades e entender se existe uma transferência de saber para populações mais jovens.

Essas pessoas de conhecimentos são denominadas de especialistas por Brandão (1981).

Ao que parece, essa transferência ocorre e se trata de um processo que se inicia

cedo. Como aqui comentado, a permanência e freqüência na escola para esta região é

difícil, por isso é interessante verificar esse repasse de conhecimento tradicional apreendido

durante toda a vida e repassado pelos pais. Entender esse conhecimento é importante para

que se pense em estratégias educacionais ajustados as condições de vida dos ribeirinhos.

Em um local de uma grande abundância de recursos naturais, a noção de

conservação ou até mesmo de preservação ambiental é um tanto quanto deturpada. Por se

tratar da floresta Amazônica têm-se uma idéia de que os recursos naturais ali disponíveis

nunca ou dificilmente se extinguirão, a partir de um período de tempo que para nós é

conhecido. Ribeiro (1997) apresenta uma visão semelhante por parte de agricultores

Page 62: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

62

familiares residentes na região da zona da mata mineira, especificamente na região do Vale

do Jequitinhonha e do Mucuri durante os primeiros anos de colonização da área.

Por isso, é importante reconhecer como estas populações enxergam seus recursos e

se têm a noção de um manejo mais conservacionista. É preciso entender como se dá o

manejo destes recursos naturais pelos diferentes agentes que residem dentro da bacia

hidrográfica com o intuito de propor estratégias de uso e gestão mais ajustadas a diferentes

visões de conservação da natureza.

Sobre a coleta da castanha é importante avaliar alguns aspectos que se relacionam a

disponibilidade deste recurso. O número de famílias envolvidas na coleta pode contribuir

para uma pressão sobre esse recurso. O melhor preço pago pela castanha pode causar uma

maior procura o que pode ser negativo pelo ponto de vista conservacionista.

A extração do látex apresenta algumas normas que são seguidas pelos seringueiros:

o descanso de árvores que não produzem ou produzem pouca quantidade e um respeito para

com a delimitação das áreas de extração da seringa. Mas, e a exploração de outros recursos

da floresta que são por eles utilizados? Existe alguma regra ou norma formulada para sua

utilização? Em que ponto estas regras podem contribuir para a formulação de estratégias de

gestão de bacias? Estes aspectos são importantes para se pensar na formulação de um plano

de manejo de bacias participativo e consciente.

Talvez seja importante levantar e identificar, dentre os ribeirinhos, estratégias

tradicionais de manejo da natureza. Isso possibilita que entendamos como se deu esse

processo, valorizar esse conhecimento, mas também pode contribuir para a ciência

acadêmica em aspectos que lhes possa ser desconhecida.

O aumento constante de desmatamento pode comprometer a coleta da castanha e

prejudicar no incremento de renda para as famílias ribeirinhas. As associações existentes no

Riozinho podem contribuir com a organização do ponto de vista produtivo e de

comercialização, atuando no sentido de sensibilizar as famílias sobre estas questões

apontadas anteriormente.

A renda familiar do ribeirinho parece ser dispersa e variável dependendo da

atividade. Investigar esta renda dá suporte para criação de alternativas de renda mais justas

e conservacionistas, em sobreposição a formas de manejo, que embora possam parecer mais

rentáveis, são degradatórias ao ambiente de estudo, como no caso da criação de gado.

Parecem existir dois principais públicos que desenvolvem diferentes atividades: os

agricultores familiares extrativistas (ribeirinhos) e o pecuarista. A separação destes dentro

da bacia parece ser nítida. No baixo Riozinho há a presença de fazendeiros que se dedicam

Page 63: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

63

a criação de gado, já no alto e médio Riozinho do Rôla há predominância de agricultores

familiares que mesclam suas atividades entre a extração de seringa, a coleta da castanha, a

agricultura de subsistência. Esse agricultor extrativista realiza uma criação de gado que

varia de acordo com a propriedade em termos do tamanho do rebanho e do pasto.

A maior dependência dos recursos da floresta pelos agricultores extrativistas ou

ribeirinhos pode ser em função da maior distância até a cidade de Rio Branco, o que

dificulta a obtenção de recursos vindos destas áreas urbanas, como recursos públicos e

serviços. Esse relativo isolamento favoreceu uma maior interação destes para com a

floresta.

Por outro lado, parece existir uma maior utilização dos recursos por parte dos

fazendeiros do baixo Riozinho e, conseqüentemente, uma maior degradação. Outro aspecto

é a interferência das áreas urbanas para com os recursos dentro da bacia: quanto mais

próximo da cidade mais degradado são os recursos.

Enfim, as atividades pecuaristas são grandes áreas concentradas no baixo Riozinho

do Rôla, dedicadas exclusivamente a criação de gado e empregam, relativamente, poucas

pessoas. Portanto, comparando com os pequenos proprietários do alto Riozinho, a geração

de renda destas propriedades traz pouco ou nenhum benefício para o município e para a

natureza. Neste sentido, seria interessante relacionar a importância destas duas atividades

conflitantes dentro da bacia investigando estas distintas unidades produtivas para que a

elaboração de programas e projetos de desenvolvimento para a bacia hidrográfica seja o

mais eficiente possível.

Objetivo 8. 1. Percorrendo a bacia: primeira viagem

Uma primeira viagem foi realizada no período de 24 de abril a 15 de maio de 2006,

tendo como finalidade observar aspectos sociais, e ambientais da bacia, dando início a um

processo de Feedback com as comunidades locais, a fim de que o projeto tivesse em sua

estrutura elementos direcionados para a realidade local Devido ser o período que o Rio

começar a baixar sua águas, a viagem, da foz em direção a montante do Rio foi possível

chegar até a o Projeto Oriente, onde está localizada a Escola Estadual Verdes Florestas

(Figura 52).

Page 64: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

64

O Riozinho do Rôla foi percorrido por barco tipo voadeira por 4 dias, nesta viagem

observou-se uma vasta região, que mesmo sendo próxima da capital de Rio Branco, possui

uma diversidade cultural, social, econômica e ambiental, que a cada momento era

percebida.

Durante a viagem, o pernoite foi realizado nas residências dos moradores locais,

tendo como finalidade realizar conversas informais com vistas a compreender a diversidade

cultural que existe na bacia, assim como identificar as reais necessidades dos moradores e

suas prioridades em relação aos aspectos dos recursos hídricos.

Ao chegar à foz do Rio, subindo em direção até a 3ª. Ponte (União) observa-se as

margens em sua maioria desmatadas, utilizadas com pastagem extensiva por grandes

fazendas e também por agricultores ribeirinhos que residem em área de assentamento do

INCRA, assim como a água com uma maior carga de sedimentos em suspensão e (Figura

53).

Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla, Rio Branco - Acre

Figura 52. Pontos visitados durante 4 dias na Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla no período de 24 de abril a 15 de maio de 2006

Page 65: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

65

Ainda nessa região, em direção à foz, ocorre a predominância de solos arenosos

(estratos arenosos) (Figura 54), fato que será verificado com maiores detalhes após a

realização da caracterização de ambiente e levantamento de solos, nas regiões do baixo,

médio e alto da bacia. Além disso, observa-se ainda a predominância de solos Neossolos

Flúvicos (Aluviais) em suas margens, principalmente, quando se aproxima da região mais

baixa da bacia, seguindo para a foz.

Entretanto, ao percorrer essa região (parte média) em direção as nascentes, pelo

menos até a Escola Estadual Verdes Florestas, verificou-se a ocorrência de mudanças no

gradiente florestal, aspectos de moradias, qualidade da água (cor mais clara) (Figura 55) e

manutenção de florestas as margens do Rio de forma substancial (Figura 56).

Figura 53. Margens desmatadas e água com sedimentos em

suspensão ao longo do Riozinho do Rôla (Foto: Ferreira, maio de 2006)

Figura 54. Extratos de solos arenosos no fundo, ao longo do Riozinho do Rôla (Foto: Ferreira,

maio de 2006)

Estratos de solos arenosos

Page 66: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

66

Durante todo o trajeto da viagem (subida e descida do Rio) os pesquisadores,

buscaram selecionar os pontos de instalação dos pluviômetros, utilizando GPS. Devido às

condições do Rio, que já na vazante, não foi possível chegar até as nascentes,

impossibilitou a seleção de pontos para a instalação de pluviômetros naquela região. No

entanto, por meio de coordenadas do mapa de campo foi possível identificar apenas 20

locais potenciais para a realização desta atividade. No entanto, alguns critérios foram

estabelecidos para realizar esta seleção, tais como: o pluviômetro deverá ser instalado na

propriedade dos produtores (as), sendo que a leitura será realizada pelos mesmos; conversar

primeiramente com o (a) morador (a) sobre o trabalho e possível instalação dos

pluviômetros em sua propriedade; que a decisão de instalação do pluviômetro na

propriedade fosse do (a) próprio (a) morador (a); que a instalação dos pluviômetros fosse

realizada ao longo do Riozinho do Rôla, próxima a foz dos afluentes e nas nascentes. 1.1. Instalação de Pluviômetros

Mesmo sendo selecionados os 20 pontos para instalação de pluviômetros na bacia, é

pretensão do projeto a instalação de uma maior quantidade de pluviômetros, em

decorrência de se obter uma melhor precisão nas análises do volume e distribuição da

precipitação na região.

Dessa forma, foi realizada uma viagem no período de 21 de setembro a 06 de

outubro de 2006, tendo como finalidade a instalação de pluviômetros nos pontos

selecionados in loco e por meio do mapa de campo.

Anterior a viagem, com apoio do Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC/AC),

as peças dos pluviômetros foram compradas e montadas em Rio Branco. Em decorrência da

Figura 56. Manutenção de florestas as margens do Riozinho do Rôla (Foto: Ferreira)

Figura 55. Água mais escura com menor carga de

sedimentos em suspensão ao longo do Riozinho do Rôla (Foto: Ferreira, maio de 2006)

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67

escassez de recursos os pluviômetros foram fabricados com canos de PVC, conforme

especificação como mostra o Quadro 6 a seguir:

Quadro 6. Especificações das peças para montagem de 1 pluviômetros

Material Quantidade Descrição

Tubo Esgoto 30,0 cm 150 mm Redução PVC 1 1 ¼ x 1

Redução Esgoto 1 50 x 40 Redução Esgoto 1 100 x 50 Redução Esgoto 1 150 x 100

Tubo cola para (PVC) 1 Tubo pequeno Registro PVC 1 1

Proveta 1 1000 ml Proveta 1 500 ml Proveta 1 100 ml

Luva de Correr 1 150 mm

Como era período de seca, o acesso aos locais foi realizado por meio de veículo tipo

Toyota e caminhadas, no qual foram exploradas várias áreas da bacia para poder encontrar

os pontos selecionados, ou identificar novos locais potenciais para instalação (Figuras 57,

58, 59, 60).

Figura 57. Inicio da expedição da equipe para identificar os locais potenciais e instalar os pluviômetros (à direita professor Herly da UFV, no centro Marlene – técnica do IMAC/AC e Nazaré Macêdo – pesquisadora do projeto). Balsa do Rio Xapuri - Foto: José Passos

Figura 58. Moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes, Colocação São João do Guarani, e pesquisadores após conversa sobre o projeto. Município de Xapuri (Foto: José Passos)

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68

Mesmo tendo o mapa como o referencial, houve dificuldades em encontrar os

pontos selecionados, decorrente da falta de informação sobre as localidades, assim como o

difícil acesso no interior da bacia, principalmente, para se chegar às nascentes. O que se

observou foi que não existe um cadastro dos moradores que residem em toda a área de

drenagem da bacia do Riozinho. Isso dificulta o dimensionamento da densidade

populacional dos moradores da bacia, assim como uma assistência por parte do poder

público aos moradores locais com maior eficiência.

Para conseguir chegar aos locais selecionados tivemos que seguir as coordenadas ou

ir perguntando aos moradores que residem ao longo dos ramais, que tinham acesso sobre as

localidades que pretendíamos chegar. Sempre nos referíamos as regiões da bacia, como

nascentes ou foz. Com isso, foi possível ter noção onde estávamos e onde pretendíamos

chegar.

Para poder garantir e iniciar um processo de consolidação da participação dos

moradores potenciais para realizar as medições de precipitação, e acima de tudo garantir

que os mesmos começassem a se sentir agentes diretos desse processo de construção do

conhecimento foi realizado uma abordagem com as famílias nas propriedades,

especialmente, em locais que ainda não tinham conhecimento da equipe. Assim, o referido

projeto foi detalhado, argumentando o seguinte: o que era o projeto; quem estava

envolvido; que atividades seriam desenvolvidas; porque seriam desenvolvidas; porque era

importante a participação das famílias nesse processo; e após várias discussões sobre o

assunto, perguntava-se se os mesmos estariam interessados em participar (Figuras 61).

Figura 59. Sentido município de Assis Brasil em busca da nascente do Riozinho do Rôla, entrada da Reserva Extrativista Chico Mendes, pesquisadores no carro e o motorista Raimundo de blusa vermelha (Foto: Herly Dias)

Figura 60. Caminhada de 4 horas com moradores da região para chegar a uma das nascentes do Riozinho do Rôla, na Colocação Boa Vista, Reserva Extrativista Chico Mendes (Foto: José Passos)

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69

Outro ponto importante de ser ressaltado, é que as pessoas da família deveriam indicar

alguém para realizar essas medições, contando que fosse uma pessoa alfabetizada, fato esse

lidado com muito cuidado e respeito para não haver constrangimento com relação às

pessoas diante da situação.

Com isso, diante das dificuldades encontradas, o período de tempo gasto para a

instalação dos pluviômetros foi insatisfatório, uma vez que era necessário indagar e realizar

todas as discussões, tirar dúvidas, ter uma conversar tranqüila com a família sobre o projeto

e também sobre o processo de instalação dos pluviômetros. Além disso, o processo de

abordagem com as famílias, ou seja, a chegada na propriedade foi inesperada e muito

brusca, tendo um desencontro entre os membros da equipe em relação ao diálogo inicial

para com os moradores que se acredita ter deixado-os em alguns momentos confusos com

tanta informação. Esse processo possibilitou a equipe, analisar metodologia de abordagem e

replanejar suas ações em períodos mais longos de permanência com as famílias chaves.

Após o morador aceitar a instalação em sua propriedade, locais estratégicos foram

selecionados, considerando os seguintes aspectos:

• O pluviômetro deve ser instalado aproximadamente a 1.5m de altura.

• A boca do pluviômetro deve estar a esta altura.

• Em geral se instala em um poste de madeira ou em qualquer objeto que

permita que o instrumento esteja à altura indicada e que não bloqueie a parte

superior do pluviômetro, por donde deve passar a água de chuva.

Figura 61. Pesquisadores (à direita Nazaré Macêdo, no centro José Passos), conversando sobre instalação dos pluviômetros com o professor da escola local, João (à esquerda – blusa vermelha) na colocação São João do Guarany - Reserva Extrativista Chico Mendes (Foto: Marlene)

Page 70: Aspectos sociais e hidropedológicos do Riozinho do Rola_Acre

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• O poste deve aderir-se a uma estrutura de madeira ou algo que permita

colocar o pluviômetro.

• A maneira mais fácil de aderir este suporte é utilizando um arame e

ajustando-o até que o suporte fique bem fixo no poste.

Em seguida foi solicitada a contribuição do morador para realizar a instalação em

conjunto com os pesquisadores, sendo importante essa participação no sentido de se

aproveitar para explicar o processo que deveria ser realizado na medida da precipitação

(chuva), assim como os cuidados a serem tomados com o aparelho (Figuras 62a, b e 63). A

Figura 64 mostra a distribuição na bacia hidrográfica do Riozinho de 13 pluviômetros que

foram instalados durante essa expedição. Conforme foi ressaltado anteriormente, serão

instalados mais quatro pluviômetros um em cada nascente dos afluentes do Riozinho do

Rôla, que são: Igarapé Espalha, Vai-Se-Ver, São Raimundo e Caipora.

(a) (b)

Figura 62. (a e b) Fincamento do mourão para instalação do pluviômetro - Colocação Santana, Igarapé Caipora – Afluente do Riozinho do Rôla (Pesquisadores e morador local) Foto: Nazaré Macêdo, outubro de 2006

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Figura 63. Pluviômetro instalado na Colocação Samaúma, Reserva Extrativista Chico Mendes (Foto: Marlene Fugiwara, setembro de 2006)

1.2.Entrega das provetas

Na viagem de instalação dos pluviômetros não foi possível entregar as provetas

(coletor de chuva para posterior medição) em decorrência de não estar disponível no

comercio local de Rio Branco. Com isso, o pedido foi realizado pelo Instituto de Meio

Ambiente do Estado do Acre sendo em seguida efetuada a compra.

Figura 64. Localização dos pluviômetros instalados na bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla, município de Rio Branco - Acre

Bacia Hidrográfica do Riozinho do Rôla, Acre

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Esse processo foi agilizado devido à preocupação por parte do coordenador e

pesquisadores do projeto em não perder o período de chuvas da região, fato que poderia

prejudicar na coleta dos dados e seqüência diária da quantidade de chuva mensurada. Além

disso, um breve retorno teria que ser realizado para as famílias que se propuseram em

contribuir com a medição da precipitação em suas propriedades. Sendo assim, outra viagem

foi realizada no período de 16 a 28 de março de 2007, com vistas à entrega das provetas e

caracterização preliminar da região no que se refere à dinâmica de relevo e solos, aspectos

socioeconômicos como referido neste relatório.

A entrega das provetas possibilitou readequar a metodologia anterior de abordagem

e realizar a capacitação de forma tranqüila das pessoas que foram selecionadas pelas

próprias famílias para medir a chuva, ou seja, foi oportunizado um período de tempo maior

nas propriedades. Isso possibilitou explicar com maior nível de detalhe as medições que

deveriam ser realizadas e o registro das mesmas.

Dessa forma, esse processo tem como objetivo proporcionar a auto- aprendizagem

referente às questões ambientais, tanto para os pesquisadores quanto para os moradores

locais, assim como, permitir que ambos possam entender como ocorre à dinâmica e

distribuição das chuvas que abastece a bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla.

Ao realizar as primeiras explicações para a comunidade sobre como medir a chuva

utilizando a proveta percebeu-se que as mesmas estavam ficando constrangidas, pois os

outros membros da equipe observavam e muitas vezes tentavam ajudar de alguma forma,

aumentando ainda mais o nervosismo do morador (a).

Com isso, ficou claro naquele momento que esta forma de abordagem estava

restringindo os moradores em pensar sobre o que estávamos explicando, e até mesmo a

executar a prática para realizar a medição, fato preocupante no momento, sendo que

poderia vir a prejudicar o processo de construção da troca de conhecimento. Com isso, após

identificar esse ocorrido, os demais membros da equipe era deslocado para outras áreas de

estudo, ficando apenas um pesquisador, que de forma seqüenciada, passou a explicar sobre

o processo de medição da precipitação, tentando resgatar a importância da participação

local, mostrando o valor da parceria comunitária para o desenvolvimento do projeto, assim

como a troca de informações sobre as questões ambientais (Figura 65).

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Em seguida, observou-se que o morador (a) foi ficando mais tranqüilo, realizando e

entendendo todo o procedimento (Figura 66, 67 e 68a e b). A partir desse momento todas as

demais explicações foram realizadas seguindo essa estratégia, ter apenas uma pessoa da

equipe para explicar sobre a medição da precipitação.

Figura 66. Sra Fátima realizando a prática (Foto: Edson Araújo, março de 2007)

Figura 67. Johny Araújo realizando a prática, Colônia Santo Antônio, Riozinho do Rôla (Foto: Nazaré Macêdo , março de 2007)

Figura 65. Pesquisadora Nazaré Macêdo explicando para a Sra. Fátima como realizar a coleta de chuva para posterior medição – Colocação Dominguinhos, Seringal Passagem, no Riozinho do Rôla (Foto: Edson Araújo, março 2007)

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(a) (b) (c) Figura 68. Seqüência mostrando os procedimentos de coleta (a), medição (b) e registro (c) realizado na prática

pelo Sr. José Augusto, morador da Colocação Macaúba, foz do Igarapé Espalha, afluente do Riozinho do Rôla (Foto: Nazaré Macêdo, março 2007)

CONCLUSÕES

Diante dos resultados que foram explicitados, torna-se importante ressaltar que o

processo de construção do projeto no que se refere à consolidação das parcerias no estado

do Acre está em fase de consolidação, sendo que todas as instituições estão interessadas no

fortalecimento das parcerias, com isso, será realizada uma reunião em agosto para propor

ações integradas com vistas em uma maior eficiência das atividades dentro da bacia.

Com a realização das atividades que foram realizadas e que estão descritas neste

relatório foi possível se aproximar ainda mais das comunidades que residem na bacia,

considerando que, ao percorrer a bacia, e também por ter a preocupação de parar nas

propriedades e informar o que a equipe estava realizando na região, além de que foi

notificado no rádio local por meio de mensagem sobre o projeto, observou-se que o projeto

está sendo disseminado na região, fato importante, pois irá possibilitar em um maior

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entendimento pelas famílias que residem no interior da bacia, assim como do seu entorno,

sobre as ações do projeto, assim como os resultados.

Quanto à caracterização dos ambientes pode-se perceber que esse estudo preliminar

irá contribuir com ações futuras de levantamento de solos e até mesmo pode ser

considerado como o primeiro passo que foi dado, no resgate do saber local, pois como já foi

relatado, buscou-se integrar os moradores nas atividades de caracterização, proporcionando

assim uma valoração deste saber, além de que se pode compreender que moradores locais

da bacia possuem conhecimentos tradicionais sobre o seu ecossistema que podem

contribuir e garantir a preservação dos recursos hídricos da região.

No que se refere ao monitoramento de precipitação pode-se considerar que uma

base de coleta já está montada na bacia, no entanto, serão instalados mais quatro

pluviômetros para possibilita a coleta de dados de chuvas nas nascentes. Outro fato

importante é com relação aos agentes multiplicadores, pessoas selecionadas para medir a

quantidade de chuva, pois se iniciou um processo de troca de conhecimento entre técnicos e

comunitários, processo esse que é de fundamental importância para a compreensão da

dinâmica do balanço hídrico da bacia.

OBSERVAÇÕES

Conforme descrito neste relatório, algumas atividades somente serão realizadas a

partir de agosto, fato esse que poderá ser justificado em decorrência do atraso na liberação

dos recursos do projeto. Esse atraso impossibilitou a contratação dos técnicos, um

agrônomo e o assessor de imprensa e marketing. Esse fato retardou a realização de algumas

atividades que dependem de uma articulação maior com as comunidades locais. Dentre elas

incluem-se: reuniões para apresentação do projeto, reunião do conselho gestor e reunião

para definição do plano de uma rede de comunicação entre moradores locais e instituições.

Dessa feita, essas atividades já se encontram em andamento para realização.

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Objetivos/atividades Equipe Objetivo 1. Herly C

T. Dias Ma. de Nazaré C.

Macêdo Edson Araújo Izaias

Fernandes France Gontijo

José Passos

Marlene Marcondes Ferreira

Contato institucional para viabilização do projeto em Rio Branco, Acre

x

Programação das reuniões x Objetivo 2. Programação do curso em metodologias de abordagem participativas

x x

Inscrição do curso e certificado x Objetivo 3. Programação do curso - Manejo Integrado de Bacias Hidrográficas

x x

Objetivo 6 Prospecção e estudo preliminar de solos e ambientes da bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla

x x x x x

Análise preliminar das características socioeconômicas das populações ribeirinhas do Riozinho do Rôla, Rio Branco, Acre.

x x x x x x

Objetivo 8. Percorrendo a bacia: primeira viagem x x x Instalação de pluviômetros x x x x Entrega de provetas x x x x

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ANEXOS