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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CURSO DE DIREITO
ASPECTOS DESTACADOS DO ALTO-MAR: NOÇÕES
HISTÓRICAS, REGULAMENTAÇÃO E RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL
SARA CRISTINA CARTURANI
Itajaí, junho de 2010.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CURSO DE DIREITO
ASPECTOS DESTACADOS DO ALTO-MAR: NOÇÕES
HISTÓRICAS, REGULAMENTAÇÃO E RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL
SARA CRISTINA CARTURANI
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel
em Direito. Orientador: Professora MSc. Márcia Sarubbi Lippmann
Itajaí, junho de 2010.
AGRADECIMENTO
Gostaria de agradecer primeiramente aos meus pais
e à minha família que dividiram comigo todos os
momentos até a concretização deste com muita
compreensão, apoio e incentivo.
Em segundo lugar, à minha orientadora, que, soube
como me ajudar didaticamente na condução deste.
"Se um homem não sabe a que porto se dirige,
nenhum vento lhe será favorável". (Sêneca).
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais que sempre me
influenciaram na busca pelo conhecimento.
4
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do
Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de
toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, junho de 2010.
Sara Cristina Carturani Graduanda
5
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Sara Cristina Carturani, sob o título
Aspectos destacados do alto-mar: noções históricas, regulamentação e
responsabilidade internacional e foi submetida em 23 de junho de 2010 à banca
examinadora composta pelos seguintes professores: MSc. Márcia Sarubbi Lippmann
(professora orientadora) e MSc. Heloisa Helena Leal Gonçalves (professora
examinadora), e aprovada com a nota [Nota] ([nota Extenso]).
Itajaí, junho de 2010.
Professora MSc. Márcia Sarubbi Lipmann Orientadora e Presidente da Banca
Professor MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
6
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CEEA Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar CCom Código Comercial brasileiro CIJ Corte Internacional de Justiça DIP Direito Internacional Público
COLREG Convention on the International Regulations for Preventing Collisions at Sea / Convenção sobre Regulamentos Internacionais para Prevenir Abalroamentos no Mar
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil DOU Diário Oficial da União DPC Diretoria de Portos e Costas
IMO International Maritime Organization/ Organização Marítima Internacional
ITLOS Tribunal Internacional do Direito do Mar LESTA Lei de segurança para o tráfego aquaviário OIT Organização Internacional do Trabalho OEA Organização dos Estados Americanos OMC Organização Mundial do Comércio OSC/OMC Órgão de Solução de Controvérsias da OMC ONU Organização das Nações Unidas RIPEAM Regras Internacionais para Evitar Abalroamento no Mar
SOLAS International Convention for the Safety of Life at Sea / Convenção Internacional Para Segurança da Vida no Mar
UNCLOS/ CNUDM United Nations Conference on the Law of the Sea / Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
UNESCO Organização das Nações Unidas Educacional, Científica e Cultural
ZEE Zona econômica exclusiva
As siglas e abreviaturas não constantes aqui serão
oportunamente destacadas no corpo do texto.
7
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que a autora considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Águas interiores: 1
Faixa autônoma das águas territoriais, que ocupa as reentrâncias do litoral, baías,
abras, recôncavos, estuários, enseadas, assemelhadas aos lagos e rios.
Alto-mar: 2
Todas as partes do mar não pertencentes ao mar territorial ou as águas interiores de
um Estado.
Direito Internacional: 3
Conjunto de normas jurídicas que regulam as relações mútuas dos Estados e,
subsidiariamente, as das demais pessoas internacionais, como determinadas
organizações, e dos indivíduos.
Direito Marítimo: 4
É o conjunto de normas que regem as relações jurídicas relativas à navegação e ao
comércio marítimo, fluvial, ou lacustre, bem como dos navios a seu serviço e os
direitos e obrigações das pessoas que por ofício se dedicam a essa espécie de
atividade.
Mar territorial: 5
1 RANGEL, Vicente Marotta. Natureza jurídica e delimitação do mar territorial. 2. ed. São Paulo: RT, 1970. p. 24.
2 Primeira conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, Genebra, 1958. Art. 1º.
3 ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 03.
4 NUNES, Pedro. Dicionário de tecnologia jurídica. 12. ed., Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1990. p. 343 apud LANARI, Flávia de Vasconcellos. Direito marítimo: contratos e responsabilidade. Belo Horizonte: Del Rey, 1999. p. 42.
5 ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 255.
8
Faixa de mar que se estende desde a linha de base até uma distância que não deve
exceder 12 milhas marítimas da costa e sobre a qual o Estado exerce a sua
soberania, com algumas limitações determinadas pelo Direito Internacional.
Pessoas Internacionais: 6
Pessoa física ou jurídica a quem a ordem internacional atribui direitos e deveres
sendo destinatários das normas jurídicas internacionais.
Tratado: 7
Acordo regido pelo Direito Internacional. Ato jurídico por meio do qual se manifesta o
acordo de vontades entre duas ou mais pessoas internacionais.
Zona econômica exclusiva: 8
É um espaço marítimo criado pela Terceira Conferência das Nações Unidas para
compensar os Estados que tiveram de diminuir a largura do seu mar territorial. 9
6 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 15. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p.345-346. v.2.
7 ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 23.
8 A zona contígua, que pertencia ao alto-mar, encontra-se atualmente incluída na zona econômica exclusiva, e vai até a largura de 24 milhas, medidas a partir da linha de base do mar territorial. Ela deixou de ser uma zona de alto-mar, como estabelecia a Conferência de 1930. In: MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 08.
9 V. Winston Conrad Extravour, The Exclusive Economic Zone, Leiden, Sijthoff, 1979. apud MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p.7-8.
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................... XI
INTRODUÇÃO .................................................................................... 1
CAPÍTULO 1 ....................................................................................... 4
NOÇÕES HISTÓRICAS E REGULAMENTAÇÃO DO MAR ............... 4
1.1 ORIGEM, EVOLUÇÃO E FONTES DO DIREITO DO MAR ............................ 4
1.2 LEGISLAÇÃO CODIFICADA VIGENTE ........................................................ 11
1.3 ASPECTOS DESTACADOS ACERCA DOS TRATADOS ............................ 16
1.4 DIREITO COSTUMEIRO ................................................................................ 24
CAPÍTULO 2 ..................................................................................... 27
O INSTITUTO ALTO-MAR ................................................................ 27
2.1 ASPECTOS FUNDAMENTAIS – CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA ..... 27
2.2 AS MUDANÇAS INTRODUZIDAS PELAS CONVENÇÕES E O NOVO DIREITO DO MAR ............................................................................................................... 29
2.3 DELIMITAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COM OUTROS INSTITUTOS ............ 32
2.4 LIBERDADES E RESTRIÇÕES À LIBERDADE DOS MARES .................... 35
CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 46
RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL ....................................... 46
TIPOS DE RESPONSABILIDADE ....................................................................... 46
3.2 SOLUÇÕES PACÍFICAS DOS CONFLITOS ................................................. 55
3.3 SOLUÇÕES DIPLOMÁTICAS DOS CONFLITOS ......................................... 56
3.4 SOLUÇÕES JURÍDICAS DOS CONFLITOS ................................................. 58
3.5 SOLUÇÕES POLÍTICAS DOS CONFLITOS ................................................. 62
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 68
x
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 70
ANEXOS ........................................................................................... 74
RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso será focado em Direito Internacional e Direito do Mar, abordando principalmente o alto-mar, tema escolhido devido à importância histórica do mar, desde as Navegações, às grandes guerras, até o comércio exterior moderno, desta forma influenciando econômica, social e politicamente todas as nações e tem por fim o estudo da responsabilidade internacional dos Estados no mar, as delimitações geográficas dos institutos lá existentes, as disposições regulamentadoras desses espaços, os direitos e deveres no mar e o cumprimento destes ou sua conseqüente sanção, inclusive no tocante à preservação marinha e ambiental, bem como a relevância do aproveitamento dos limites marítimos para a consolidação da soberania. O Brasil tem acolhida neste estudo também, tendo em vista seu interesse na defesa e exploração das suas áreas costeiras e marinhas e dos recursos nelas contidos. O enfoque desta pesquisa se dá justamente em razão do interesse legítimo da soberania dos países em relação às suas costas, tanto para proteção quanto para exploração, o que enfatiza a relevância e atualidade do presente tema. Desta forma, resta caracterizada a relevância social do presente trabalho bem como sua importância para a Ciência Jurídica do presente trabalho.
Palavras-chave: Alto-mar. Delimitação. Estado. Mar. Responsabilidade. Soberania. Solução de conflitos. Território.
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto aprofundar o
conhecimento no âmbito do mar, especificamente do alto-mar, suas características e
a responsabilidade internacional dos Estados.
O seu objetivo é produzir Monografia para obtenção do Título
de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.
O objetivo da pesquisa seria discorrer sobre o alto-mar,
demonstrar os direitos e deveres no mar, investigar de que modo se dá a
responsabilidade internacional, reunir as legislações pertinentes ao tema, examinar
os institutos abordados no presente trabalho, descobrir quais são as sanções
previstas para delitos ocorridos e de que modo se solucionam e quais órgãos fariam
cumprir as possíveis sanções estabelecidas.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando das fontes do
Direito do Mar, de seu histórico, de sua regulamentação por meio dos Tratados e
Convenções Internacionais pertinentes aos institutos que serão oportunamente
abordados e ainda da legislação vigente acerca do presente tema.
No Capítulo 2, analisa-se especificamente do instituto jurídico
alto-mar, em seus diversos aspectos, tais como sua conceituação, natureza jurídica,
relevância, diferenciação com outros institutos do mar bem como quais os direitos e
os limites da liberdade em alto-mar.
No Capítulo 3, trata-se da responsabilização das pessoas
internacionais em razão de sua participação direta ou indireta para o acontecimento
de evento em alto-mar e quais órgãos fazem cumprir quem descumpre os preceitos,
bem como os modos de solução de conflitos, sejam estes pacíficos ou coercitivos.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados,
2
seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre o alto-
mar.
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes
hipóteses:
1 No âmbito nacional não há legislação específica que englobe
todos os fatos e acontecimentos pertinentes ao alto-mar, sendo que os Estados,
inclusive o Brasil, são signatários de vários tratados e convenções internacionais
que regulamentam o tema no que a legislação interna for omissa ou obscura.
2 O alto-mar pertence a todos da comunidade internacional e lá
vigoram as normas de Direito Internacional, sendo que os Estados têm direito de
exercer sua soberania no mar porém sofrem também limitações no exercício desta.
3 A responsabilidade internacional do Estado pode se dar de
várias formas, por meio de atos ou omissões e em caso de conflitos, estes devem
ser resolvidos diplomaticamente.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de
Investigação10 foi utilizado o Método Indutivo11, na Fase de Tratamento de Dados o
Método Cartesiano12, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente
Monografia é composto na base lógica Indutiva.
10
“[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.
11 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 104.
12 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.
3
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas
do Referente13, da Categoria14, do Conceito Operacional15 e da Pesquisa
Bibliográfica16.
13
“[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 62.
14 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 31.
15 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 45.
16 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais”. PASOLD,Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 239.
CAPÍTULO 1
NOÇÕES HISTÓRICAS E REGULAMENTAÇÃO DO MAR
1.1 ORIGEM, EVOLUÇÃO E FONTES DO DIREITO DO MAR
Este capítulo introduz os aspectos básicos, mas fundamentais
para o estudo do Direito do Mar, trazendo noções gerais sobre o tema, para
demonstrar sua relevância e influência sobre vários aspectos, sobretudo econômicos
e jurídicos, no panorama dos institutos que envolvem o mar.
Na condição de dependentes do mar para a subsistência desde
tempos muito remotos, de várias maneiras pode-se demonstrar nossa estreita
relação com o mar, pois vários setores da economia mundial e nacional se
encontram interligados e necessitam do mar, como a pesca, o comércio, o turismo, a
extração de petróleo, entre outros, inclusive não podendo deixar de mencionar a
geração de empregos que ocorrem por meio dessa relação.
A principal dificuldade encontrada concernente ao tema é a
diferenciação da nomenclatura que acarreta considerar diferentes institutos jurídicos
que envolvem os ramos do Direito hoje existente.
O Direito do Mar não é Direito da Navegação tampouco é
Direito Marítimo, porém em certos aspectos se encontram bem próximos ou até se
confundem por tratarem muitas vezes dos mesmos institutos, mas de perspectivas
diferentes.
5
De acordo com Eliane M. Octaviano Martins o Direito do Mar ou
Law of the sea pode ser considerado um ramo do direito internacional público
marítimo. 17
Segundo a mesma autora esse ramo regulamenta
especificamente18:
“O tráfego internacional em alto-mar e em demais áreas, além de consagrar a soberania e a jurisdição dos Estados e ainda abrange o conjunto das normas legais que visam a reger o uso do mar, ao atuar na prevenção e na solução de conflitos”.
A origem do Direito do Mar, portanto se entrelaça com a do
Direito Marítimo e do Direito da Navegação, pois eles têm em comum a crescente
necessidade de se dar ao mar um regime jurídico devido à disputa dos Estados
pelos territórios marítimos, suas riquezas naturais e recursos vivos e também pelo
comércio marítimo que perdura intensamente até hoje.
Segundo SEITENFUS19 objeto do direito internacional do mar
é:
“O conjunto de água salgada do globo que se encontra em livre e natural comunicação, seu solo, subsolo e o espaço aéreo sobrejacente”.
O avanço das descobertas dos povos tanto em relação à
tecnologia tanto quanto em relação à ciência também contribuiu imensamente para
novos povos se aventurarem cada vez mais no mar, o que antes era atitude
arriscada devido à precariedade dos meios de comunicação e informação e até
mesmo pelo não conhecimento do que iriam encontrar em outros locais. Com o
aumento das viagens no mar, surgiram conflitos e sentiu-se a demanda por
normatizar o uso do mar em caráter internacional.
17
MARTINS, Eliane M. Octaviano. Curso de Direito Marítimo.São Paulo: Manole. 3. ed. rev. e ampl. p. 10. v. 1.
18 MARTINS, Eliane M. Octaviano. Curso de Direito Marítimo. p. 10. v. 1.
19 SEITENFUS, Ricardo. Ventura, Deisy. Introdução ao direito internacional público. 3. ed.rev.e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p.172.
6
O Direito do Mar remete historicamente à época das Grandes
Navegações, onde as civilizações viviam principalmente do comércio marítimo.
Alguns exemplos seriam os fenícios, egípcios, gregos e posteriormente os
portugueses, espanhóis, entre outros. 20
Até mesmo nesse período grandes povos utilizavam-se da
navegação de forma semelhante à pirataria e desencorajando outros povos com
histórias terríveis sobre as aventuras no mar, para manter o monopólio sobre o
comércio marítimo. Dessa maneira, durante muito tempo, os Estados estavam
requerendo para si grandes partes do alto-mar, exercendo sua jurisdição sobre
esses locais. 21
Com o advento de Roma, acabou a primeira grande época das
navegações, o princípio da liberdade foi afirmado, mas eles não tinham a noção de
mar territorial, fazendo o mar parte do jus gentium, chamavam-no de Mare Nostrum,
e mesmo dando pouca importância à pesca, ainda assim afirmavam sua jurisdição
sobre o Mediterrâneo e reivindicavam a proteção à navegação. 22
Na Idade Média, expandiu-se o interesse sobre o mar, tanto
econômico quanto estratégico, dando origem a regulamentações consuetudinárias e
começou a se considerar uma parte do mar em que pudesse se exercer sua
jurisdição, tentando-se justificar a criação do mar territorial, principalmente pelas
cidades marítimas italianas. 23
20
ANJOS, José Haroldo dos; GOMES, Carlos Rubens Caminha. Curso de Direito Marítimo. Rio de Janeiro: Renovar, 1992. p. 218 apud CASTRO JR, Osvaldo Agripino de. Introdução ao Direito Marítimo. Disponível em: <http://www.amc.org.br/novo_site/esmesc/arquivos/IntroducaoAo Direito Maritimo.doc. Acesso em 20 out. 2009.
21 REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 9. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 306.
22 VIANNA, Regina Cecere. O Direito do Mar na Idade Média. Apostilas de Direito do Mar. Curso de Direito – Furg. Biblos: Rio Grande-RS, 2007. p. 242-243. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/23741244/O-DIREITO-DO-MAR-NA-IDADE-MEDIA>. Acesso em 19 maio 2010.
23 VIANNA, Regina Cecere.O Direito do Mar na Idade Média. p. 244.
7
Essas normas seriam: 24
a) Leis de Rodes (Lex Rhodia de Jactu): Seriam datadas
do século III ou II a.C. sendo a máxima autoridade no Mediterrâneo, por seus
princípios de proteção contra os perigos do mar terem sido aceitos e utilizados pelos
gregos e romanos. Foram compiladas durante os séculos VII e IX, vigorando por
bastante tempo no Mediterrâneo, culminando no “Código Navale Rhodorium”;
b) Basilika: Código de direito bizantino, regulava o
comércio de Levante. Dependia da vontade do imperador e não dos comerciantes e
mercadores. Estabelecia princípios gerais que complementavam casos especiais
derivados das Leis de Rodes;
c) Consolato Del Mare (Consulado do Mar): Data do século
XIV, no Mediterrâneo, era uma instituição jurídico-mercantil medieval, quando o
comércio havia revivido após o declínio do Império Romano. Havia grande variedade
de estatutos locais, formada por um Prior e redigidos por vários Cônsules. O primeiro
foi o da cidade de Trani: compiladas por volta de 1603 pelos Cônsules da
Corporação de Navegantes, que eram as pessoas mais instruídas em questões
marítimas de todo o golfo Adriático, se estendendo rapidamente em outras cidades
como Constantinopla, Maiorca, Chipre, Barcelona;
d) A Tábua Amalfitana, do século X, versava sobre os usos
marítimos atinentes à cidade de Amalfi, na Itália;
e) Os assizes de Jerusalém surgiram da necessidade de
códigos adequados aos casos que envolvessem o mar, pois na época criaram-se
tribunais próprios pelos Cruzados para dirimir questões nas costas do Mediterrâneo.
Sua aplicação foi confiada aos Cônsules ou Magistrados marítimos, nomeados em
portos comerciais de grande importância, tais como Gênova, Veneza e Marselha;
24
MOURA, Danieli Veleda. Aspectos relevantes do Direito do Mar: da antiguidade à contemporaneidade. Revista Jus Vigilantibus. Publicado em 14 de julho de 2009. Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/40966>. Acesso em 19 de maio de 2010.
8
f) As leis de Oléron têm origem discutível, aparecendo no
litoral atlântico do Mediterrâneo devido ao contato com as Cruzadas. A teoria mais
aceita é a de que decorrem de sentenças pronunciadas pelo Tribunal Marítimo de
Oléron. Foram observadas no tráfico comercial entre os portos da França, Espanha
e Inglaterra;
g) As leis Wisbuenses ou Leis Marítimas de Gothland eram
uma coleção extraídas de três legislações diferentes (Leis de Oléron, Leis de
Amsterdã e Estatutos da Cidade de Lubeck). No século XI, os comerciantes de
Wisby, ilha da Suécia, dispuseram as suas próprias normas, mais tarde sancionadas
em Copenhague em 1505 como Leis Marítimas de Wisby;
Com o estudo sobre o monopólio dos mares surgiu uma
controvérsia entre Hugo Grotius, holandês, que publicou em 1609, Mare liberum,
que excluía as baías, golfos, estreitos e o mar próximo a terra, e defendia a
liberdade dos mares e o inglês John Selden, que em 1635 em resposta àquele
publicou o Mare clausum, obra que havia sido encomendada por Jacques I da
Inglaterra e sustentava que com base no Direito Romano, a ocupação do mar iria até
onde a vista alcançasse e que os mares pertenciam à Inglaterra, mas era permitida
a navegação por outros Estados. 25
A partir do final do século XIX, foi tido como referencial o
princípio ressaltado na obra de Grotius – liberdade dos mares - até hoje considerada
de grande relevância, apesar desse autor não ter sido o primeiro a discutir o tema. É
importante ressaltar que esse princípio sofre restrições, que serão tratadas
posteriormente em outro capítulo. 26
Com a queda de Constantinopla em 1453, o comércio marítimo
entre o Oriente e o Mediterrâneo foi prejudicado, assim em 1493 o Papa Alejandro
VI, expediu a Bula Inter Coetera, fixando limites entre as possessões espanholas e
portuguesas entre o meridiano que passava perto dos Açores e das Ilhas de Cabo
25
ACIOLLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. 11. ed. 10ª tiragem. rev. pelo Embaixador Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva. São Paulo: Saraiva, 1993. p.197.
26 ACIOLLY, Hildebrando.Manual de direito internacional público. p. 197.
9
Verde. As terras e mares a oeste pertenciam à Espanha e as situadas a leste seriam
de Portugal. Tal divisão não agradou aos portugueses que elaboraram com os
espanhóis o Tratado de Tordesilhas em 1494. 27
Já no século XVIII surge o mar territorial delimitado pelo tiro de
canhão. Galiani mediu como sendo três milhas que corresponderiam a uma légua. A
pesca ainda era bastante livre, porém começou-se a impor a pescadores
estrangeiros as mesmas condições exigidas dos pescadores nacionais. 28
Em 1945, o presidente americano Harry Truman na
“Proclamação Truman” declarou a soberania dos EUA sobre os recursos naturais
existentes na plataforma continental. 29
No final do século XVIII e início do século XIX é que a liberdade
dos mares foi consagrada globalmente, porém até a 1ª Guerra Mundial só foi
concedida aos Estados com litoral. 30
No século XIX têm-se as noções de zona contígua e de mar
territorial consolidadas internacionalmente pela prática, sendo o último consagrado
no Tratado internacional de Gand, levado em consideração pelos Estados Unidos da
América e pela Inglaterra, fixando em três milhas a distância de pesca exclusiva dos
nacionais. 31
Após isso, contemporaneamente, com o desenvolvimento
tecnológico e com acontecimentos relevantes como a Conferência de paz de Haia,
1907 e a de 1930, bem como os convênios firmados das organizações
internacionais como a ONU, o mar ampliou suas atribuições como, por exemplo, a
27
MOURA, Danieli Veleda. Aspectos relevantes do Direito do Mar: da antiguidade à contemporaneidade. Revista Jus Vigilantibus.
28 MOURA, Danieli Veleda. Aspectos relevantes do Direito do Mar: da antiguidade à contemporaneidade. Revista Jus Vigibulantibus.
29 A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Disponível em: <http://www.infomar.110mb.com/direitos_do_mar.htm.> Acesso em: 19 maio 2010.
30 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p. 1246. v. 2.
31 MOURA, Danieli Veleda. Aspectos relevantes do Direito do Mar: da antiguidade à contemporaneidade. Revista Jus Vigilantibus.
10
exploração de petróleo e o poderio naval, mantendo outras como o comércio
marítimo, a pesca, a soberania das costas, etc.
Quanto às fontes do Direito do Mar, estas se deram no início
em razão do costume, para mais tarde passar a ser regulamentada, quando
houveram tentativas em 1930 e 1939, respectivamente na Comissão de Juristas
para a codificação do Direito Internacional, que não vingou, e na 1ª Reunião de
Consultas dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, no
Panamá, que resultou na “Declaração do Panamá”, mas só em 1958 na Convenção
de Genebra foi iniciada a codificação.32
As principais fontes do Direito do Mar codificadas e vigentes
até hoje são as Convenções de Genebra de 1958 e a Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar de 1982, em Montego Bay na Jamaica, que
regulamentou amplamente o tema. 33
No âmbito internacional, portanto, temos: Cartas da ONU,
Convenções, Tratados, Acordos, Resoluções, o costume, a doutrina, bem como a
jurisprudência dos Tribunais competentes, como, por exemplo, do Tribunal
Internacional do Direito do Mar, da Corte Internacional de Justiça, entre outros, que
serão especificados no próximo subtítulo.
No Brasil, durante muito tempo, por conta da colonização
portuguesa, seguiram-se os preceitos de outras legislações, principalmente pelas
Ordenações Afonsinas, Manoelinas e Filipinas, sendo esta última o regimento
majoritário do período colonial brasileiro. Com a independência do Brasil em 1822,
manteve-se as leis anteriores até que outras leis nacionais a substituíssem como
ocorreu com o Código Comercial de 1850.
Quanto às fontes no âmbito interno atualmente temos no
ordenamento jurídico pátrio: as Convenções e os Tratados internacionais que foram
internalizadas pelo nosso ordenamento jurídico, bem como a legislação esparsa, a
32
JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. 2. ed. São Paulo: LTr, 2004. p. 514.
33 SEITENFUS, Ricardo. Ventura, Deisy. Introdução ao direito internacional público. p. 173.
11
doutrina, a jurisprudência, o costume, a equidade, os princípios gerais do Direito
entre outros que serão abordados oportunamente.
1.2 LEGISLAÇÃO CODIFICADA VIGENTE
Tem como objetivo elencar sucintamente as legislações
pertinentes acerca da matéria, demonstrando a codificação atual que rege o tema a
ser estudado.
A regulamentação jurídica internacional do alto-mar, a
resolução dos conflitos internacionais advém da Corte Internacional de Justiça (CIJ)
com sede em Haia, na Holanda, do Tribunal Internacional do Direito do Mar (ITLOS),
sediado em Hamburgo na Alemanha, da Organização Marítima Internacional (OMI),
sediada em Londres e das Convenções Internacionais principalmente a de Genebra
de 1958 e da Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar 34 (UNCLOS I,
II, III).
A CIJ é o principal órgão judicial das Nações Unidas, começou
seus trabalhos em 1946 na Holanda, atualmente a Corte é composta de 15 juízes e
julga casos de divergências conforme a disposição da legislação internacional, entre
os Estados submetidos à essa legislação bem como presta assessoria em lides
encaminhadas por órgãos devidamente autorizados das Nações Unidas e agências
especializadas. A Corte não tem jurisdição para resolver lides entre indivíduos,
organizações não-governamentais, corporações ou qualquer outro ente privado nem
em casos contra autoridades de qualquer Estado. 35
Já o Tribunal Internacional do Direito do Mar é um órgão
judicial independente estabelecido pela Convenção de 1982 de Montego Bay para
34
RIBEIRO, Marilda Rosado de Sá. BEZERRA, Luiz Gustavo Escorcio. Soberania, Direito Internacional do Mar e a exploração de petróleo e gás nas áreas offshore do Brasil. Disponível em:< http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4906>.
Acesso em 25 maio 2010.
35 Corte Internacional de Justiça: perguntas freqüentes. Disponível em: <http://www.icj-cij.org/information/index.php?p1=7&p2=2>. Acesso em 20 maio 2010.
12
adjudicar disputas decorrentes da interpretação e aplicação da Convenção. É
composto por 21 membros independentes, eleitos entre pessoas da maior reputação
de justiça e integridade e de reconhecida competência no campo do Direito do Mar.
É dividida em Câmaras: Câmara de Procedimento Sumário, Câmara para Questões
de Pesca, Câmara para Questões de Ambiente Marinho e Câmara para Questões
de Delimitação Marítima. A jurisdição deste órgão abrange todas as disputas
submetidas em conformidade com a Convenção e também se estendem a todas as
questões específicas contanto que esteja em qualquer outro acordo que conceda
jurisdição a este órgão. 36
Finalmente a Organização Marítima Internacional37, antes
chamada de Organização Consultiva Marítima Intergovernamental (que foi alterada
por emenda de 1977) é considerada uma instituição especializada das Nações
Unidas, foi aberta à adesão dos Estados na Convenção de Genebra de 1958 e logo
começou a vigorar, tendo suas funções definidas no artigo 1º do Ato Constitutivo.
Seus membros se dividem entre associados (conforme artigo 72 do Ato Constitutivo
são territórios que manifestam o desejo de participar, mas não tem direito a voto) e
plenos (são membros das Nações Unidas que firmarem a Convenção, os não-
membros que participaram da reunião de 1948 ou qualquer outro Estado que
cumpra o rito de ingresso). O poder decisório se encontra nas mãos das potências
marítimas. 38
No caso das leis, decretos e regulamentos é que provêm
muitas vezes os conceitos dos institutos abordados. Exemplo de lei nesse sentido:
Lei 9.534/97 – Lei de segurança do tráfego aquaviário, que trouxe, por exemplo, o
conceito de navegação em mar aberto no artigo 2º, inciso XI, como: “realizada em
águas marítimas consideradas desabrigadas”.
36
Tribunal Internacional do Direito do Mar. Disponível em:<http://www.itlos.org/start2_en.html>. Acesso em 20 maio 2010.
37 Organização Marítima Internacional. Disponível em: <http://www.imo.org/>. Acesso em 20 maio 2010.
38 SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Introdução ao Direito Internacional Público. p. 172-173.
13
No tocante às normas e Convenções Internacionais dos quais
o Brasil é signatário temos: 39
a) Aviso de 2 de Abril de 1986, torna pública, em texto
único, a Convenção da Organização Marítima Consultiva Intergovernamental,
adotada pela Conferência Marítima das Nações Unidas realizada em Genebra em 6
de Março de 1948 (CEEA);
b) Resolução da Assembléia da República nº. 60-B, de 14
de Outubro, aprova para ratificação a Convenção das Nações Unidas Sobre o
Direito do Mar (Convenção de Montego Bay), de 10 de Dezembro de 1982 (CEEA),
internalizada por meio do Decreto nº. 1.530, de 22 de junho de 199540;
c) Convenção de Direito Internacional Privado (Código de
Bustamante) – A Convenção foi assinada em Havana, em 20 de fevereiro de 1928;
sancionada pelo Decreto 5.647, de 08/01/29; ratificada pelo Brasil em 25 de julho de
1929, e promulgada pelo Decreto nº. 18.871, de 13 de agosto de 1929;
d) Convenção Internacional para Unificação de Certas
Regras Relativas aos Privilégios e Hipotecas Marítimas – Bruxelas, em 14 de abril
de 1928, aprovada pelo Decreto nº. 5.814;
e) Convenção Internacional para Unificação de Certas
Regras Respeitantes às Imunidades dos Navios de Estado – Bruxelas, 14 de abril de
1927, ratificada pelo Brasil em 23/12/30 e promulgada pelo Decreto nº. 1.126/30;
f) Convenção Internacional para Unificação de Certas
Regras em Matéria de Abalroamento, Assistência e Salvamento Marítimo –
Bruxelas, em 23 de setembro de 1910, e promulgada pelo Decreto 10.773, de
18/02/14;
39
Segundo RAPHAEL, Leandro. Direito Marítimo. São Paulo: Aduaneiras, 2003.p. 15-17.
40 PEDRO, Antônio Fernando Pinheiro. Direito do mar e gerenciamento da costa brasileira. Disponível em: <http://www.pinheiropedro.com.br/biblioteca/artigos_publicacoes/temas_ambientais/ 06_direito_do_mar_gerenciamento_costa.php>. Acesso em 19 maio 2010.
14
g) Convenção Internacional para Unificação de Certas
Regras Relativas à Limitação da Responsabilidade dos Proprietários de Embarcação
Marítima – Bruxelas, em 24 de dezembro de 1924, sendo promulgada pelo Decreto
nº. 350, de 01/10/35;
h) Convenções Internacionais da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), referente ao Trabalho Marítimo;
i) Convenções Internacionais da Organização Marítima
Internacional (IMO);
j) Convenção Internacional sobre Regulamento para
Prevenir Colisões no Mar, 1983;
k) Convenção Internacional Sobre a Salvaguarda da Vida
Humana no Mar – Londres, 1929;
l) Convenção Internacional para a Unificação de Certas
Regras de Direito Concernentes aos Conhecimentos Marítimos – Bruxelas, 1924 –
Regras de Haia e alterada pelas Regras de Visby (Conferência do Comitê Marítimo
Internacional, em Estocolmo, em junho de 1963 – Protocolo de Bruxelas, 1968);
m) Convenção Internacional para Unificação de Certas
Regras sobre Arresto de Navios – Bruxelas, 1952;
n) Convenção Internacional para Unificação de Regras
Relativas à Competência Civil em Matéria de Abalroamento e outros Acidentes da
Navegação – Bruxelas, 1952 – Brasil assinou, porém não ratificou;
o) Convenção Internacional para Unificação de Regras
Relativas à Competência Penal em Matéria de Abalroamento e outros Acidentes da
Navegação – Bruxelas, 1952 – O Brasil assinou, mas não ratificou;
p) Convenção Internacional sobre o Limite de
Responsabilidade dos Proprietários de Navios de Alto-Mar – Bruxelas, 1957;
15
q) Convenção Internacional sobre Limitação de
Responsabilidade em Reclamações Marítima – Londres, 1976;
Merece ser mencionado o Código Internacional de Sinais,
regulamentando o uso de sinais e luzes pelos navios, que não resultou em uma
convenção internacional, mas que é adotado por quase todos Estados marítimos. 41
E quanto à legislação do ordenamento jurídico pátrio sobre o
Direito do Mar temos42:
a) Brasil. Lei 2.180 de 05 de fevereiro de 1954, que dispõe
sobre o Tribunal Marítimo;
b) Brasil. Lei 6.421, de 06 de junho de 1977, que dispõe e
fixa as diretrizes para a proteção à utilização dos faróis, faroletes e demais sinais
visuais de auxílio à navegação na costa brasileira;
c) Brasil. Lei 7.661, de 16 de maio de 1988, que institui o
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e dá outras providências;
d) Brasil. Lei 8.617 de 04 de janeiro de 1993, que dispõe
sobre o mar territorial, a zona contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma
continental brasileiros, e dá outras providências;
e) Brasil. Lei 9.537, de 11 de dezembro de 1997, que
dispõe sobre a segurança do tráfego aquaviário em águas sob jurisdição nacional e
dá outras providências;
f) Brasil. Lei 9.966, de 28 de abril de 2000, que Dispõe
sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada por lançamento
de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional
e dá outras providências (Lei do óleo);
41
ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 198.
42 Segundo RAPHAEL, Leandro. Direito Marítimo. p. 15-17.
16
g) Decreto 1.530, de 22 de junho de 1995, que declara a
entrada em vigor da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar,
concluída em Montego Bay, Jamaica, em 10 de dezembro de 1982;
h) Decreto 87.648, de 24 de setembro de 1982, que aprova
o Regulamento para o Tráfego Marítimo.
1.3 ASPECTOS DESTACADOS ACERCA DOS TRATADOS
Os tratados são fontes primordiais do Direito Internacional
Público bem como do Direito do Mar, assim sendo merecem destaque no presente
estudo. Os acordos, convenções, protocolos, entre outros, podem ser confundidos,
porém constituem formas de tratados.
Os tratados podem ter várias funções, como criar, alterar e
extinguir direitos e obrigações entre as partes. A sua importância se deve à
crescente necessidade da comunidade internacional de celebrar acordos devido à
intensificação da interdependência e cooperação entre as nações. 43
Os principais textos legais que dispõem sobre os tratados são
a Carta da ONU em seu artigo 63 e as Convenções de Viena sobre o Direito dos
Tratados de 1969 (art.3º) e 1986. 44
Quanto à sua definição na visão de Ricardo Seitenfus45:
“São acordos concluídos entre dois ou mais sujeitos de direito internacional, (...) destinam-se a produzir efeitos jurídicos e são regidos pelo direito internacional. Estão previstos no artigo 2º, I, da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969. „Tratado‟ pode tanto designar o conteúdo do acordo, bem como o instrumento que o formaliza.”
43
MONCADA, Antônio Cabral de. Curso de direito internacional público. 1.ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1998. p.224.
44 MONCADA, Antônio Cabral de. Curso de direito internacional público. p. 227-228.
45 SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Introdução ao Direito Internacional Público. p.37.
17
Segundo a Convenção de Viena46, tratado seria:
Art. 2º - “O acordo internacional celebrado por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação particular.”
Muitos doutrinadores dão a impressão de que pelas várias
denominações empregadas, as convenções, acordos, entre outros, são diferentes
de tratados. Entretanto, mesmo com denominações diferentes, estes são tipos de
tratados, pois tratado é a expressão genérica e as várias denominações se dão em
razão da forma, conteúdo, objeto ou fim do tratado, sendo importante ressaltar que
denominações distintas não alteram o valor legal do tratado. 47
Assim, brevemente explicitam-se alguns conceitos: 48
Convenção: tratado multilateral de característica legislativa, por
isso muito utilizado para a codificação de normas legais internacionais em várias
áreas do Direito Internacional.
Acordo: é empregado quando o tratado principal é menos
importante e solene do que o próprio tratado ou convenção. Usado quando são
poucas as partes envolvidas, tem forma simples, com característica administrativa e
técnica.
Protocolo: tratado de nível mais baixo e adicional do que a
convenção, geralmente utilizado para dirimir questões adicionais como, por exemplo,
interpretação de um acordo. Usado também para complementar posteriormente
alguns conteúdos do tratado ou acordo feito anteriormente.
Carta, Constituição, Estatuto: utilizados para representar o
tratado constitutivo das entidades internacionais. No caso da ONU utiliza-se a Carta
46
SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p. 40.
47 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.29.
48 JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. p. 87-88.
18
e no caso da UNESCO, por exemplo, dentre outras organizações especializadas,
utiliza-se constituição. Quando um tratado contém o tratado constitutivo junto com as
regras operacionais da entidade, que é menos política e mais especializada, como a
CIJ, empregando-se então o termo estatuto.
Dentre as classificações para os tratados, tem-se como: 49
Pelo número de partes contratantes, assim sendo bilaterais
(celebrado entre duas partes) ou multilaterais (quando as partes são numerosas);
Quanto à possibilidade de adesão (por cláusula constante do
tratado) se dividem entre abertos e fechados;
Quanto à natureza jurídica do ato, dividindo-se entre tratados-
contratos (procuram regular interesses recíprocos dos Estados e através dele as
partes realizam uma operação jurídica), tratados-leis (geralmente celebrados entre
muitos Estados para fixar as normas do Direito Internacional, se assemelhando às
leis por imporem as mesmas obrigações e criarem efeitos normativos) e tratados-
normativos (utilizados contemporaneamente para a criação de uniões internacionais
administrativas, como a OMS, por exemplo).
A estrutura de um tratado divide-se em: preâmbulo (enuncia o
rol das partes pactuantes, os motivos, circunstâncias e pressupostos do ato
convencional), o dispositivo (artigos ou cláusulas que resumem o que foi acordado)
e os anexos (parte do teor compromissivo do tratado, sendo que conforme a
natureza do tratado pode consistir numa lista de produtos químicos, de espécies da
fauna marinha, etc.).50
Para que um tratado seja válido, é necessário que este atenda
a certos requisitos, tidos como: capacidade das partes contratantes, habilitação dos
49
REZEK, J.F. Direito internacional público: curso elementar. 9.ed.São Paulo: Saraiva, 2002. p.28.
50 REZEK, J.F. Direito internacional público. p.45-46.
19
agentes signatários (apresentação de instrumento de plenos poderes),
consentimento mútuo (acordo de vontades) e objeto lícito e possível. 51
O artigo 53 da Convenção de Viena consagrou a obediência ao
jus cogens, ou seja, a necessidade de se observar os princípios gerais de Direito
Internacional e que não podem ser violados na celebração dos tratados. 52
Existe um qualificativo do consentimento que se chama reserva
e se encontra disposto no artigo 2°, §1°, d, da Convenção de Viena e consiste na
declaração unilateral do Estado que consente visando a excluir ou modificar o efeito
jurídico de certas disposições do tratado em relação a esse Estado. 53
O consentimento pode ser “viciado” por erro, dolo, corrupção e
coação, eivando-os de nulidade absoluta ou relativa. Uma vez declarada ou
reconhecida essa nulidade, o tratado é considerado nulo ab initio e, portanto, atos de
execução também são nulos, pois todos os efeitos jurídicos que ocorreram devem
ser eliminados e as coisas devem retornar ao estado primitivo em que se
encontravam. 54
Diz-se que a nulidade relativa só pode ser alegada pelo Estado
vítima do erro, dolo ou corrupção e pode ser sanada por acordo expresso ou
aquiescência posterior da parte interessada, já a nulidade absoluta pode ser alegada
por qualquer Estado interessado e deve ser declarada por um tribunal competente
ou por outro órgão encarregado da aplicação do tratado, mesmo que não tenha sido
invocada pelas partes contratantes, bem como não pode ser sanada. 55
Em casos de normas contraditórias entre dois tratados, se as
partes contratantes forem as mesmas, prevalecem as normas do tratado anterior
51
SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.31-32.
52 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.49.
53 REZEK, J.F. Direito internacional público. p.66.
54 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.50.
55 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.51.
20
não conflitantes com o posterior. Já se as partes forem outras, prevalece o tratado
posterior naquilo que não for contrário ao anterior. 56
Devem as partes também se vincular com base no Direito
Internacional Público, pois se os acordos forem somente políticos, por exemplo, eles
não poderão recorrer ao Tribunal Internacional de Justiça para eventual solução de
litígios. 57
Os efeitos dos tratados estão consagrados na Convenção de
Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 e 1986. Os principais efeitos seriam: 58
a) ex consensu advenit vinculum, ou seja, do consentimento
advém o vínculo;
b) pacta sunt servanda, que afirma que uma vez prestado o
consentimento59 à vinculação, está obrigado ao cumprimento da mesma e com boa-
fé (art. 26 das Convenções de Viena);
c) pacta tertiis nec nocent nec prosunt, diz que os preceitos
concluídos entre Estados ou Organizações que não tenham prestado os respectivos
consentimentos no momento da conclusão ou mais tarde não as vinculam aos
direitos e obrigações constantes na mesma.
Os tratados só produzem seus efeitos após a ratificação,
assim, um Estado participante só pode alegar vício dali em diante, conforme
estabelecido no artigo 28 da Convenção de Viena. 60
56
SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.57.
57 MONCADA, Antônio Cabral de. Curso de direito internacional público. p. 229-230.
58 MONCADA, Antônio Cabral de. Curso de direito internacional público. p. 235-237.
59 O consentimento tem várias modalidades, porém deve ser verificado, sendo que as Convenções podem ser revistas e alteradas para manterem o consentimento que as funda ou podem ser denunciadas caso o consentimento não possa ser mantido e ainda autoriza que em certos casos, o consentimento eivado de vício pode fazer com que a convenção venha a ser anulada. In: MONCADA, Antônio Cabral de. Curso de direito internacional público. p. 236.
60 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.56.
21
Importante ressaltar que em relação a terceiros, conforme o
artigo 34 das Convenções de Viena, um tratado não cria nem obrigações nem
direitos para um terceiro Estado sem o seu consentimento. 61
Porém existem algumas exceções, sendo elas: 62
Um tratado não pode ser fonte de obrigações, mas pode
acarretar consequências nocivas a terceiros. Nesse caso, o Estado lesado pode
protestar e procurar assegurar seus direitos bem como tem o direito de pedir
reparações. Ainda se o tratado não violar direitos, mas for somente prejudicial a
seus interesses, o Estado lesado poderá reclamar diplomaticamente, porém não terá
recurso jurídico.
Pode também do tratado resultar conseqüências favoráveis
para Estados não-participantes ou ainda que os contratantes, por manifestação de
vontade expressa concedam direitos ou privilégios a terceiros. Nesse caso, o
terceiro beneficiado tem direito ao reconhecimento e à exigência da execução da
estipulação que lhe é favorável pelo acordo de vontades.
A prova em juízo da existência de um tratado compete, em
regra, à parte que a invoca. 63 Além disso, a vigência de um tratado é definida pelas
partes (artigo 24 da Convenção de Viena). 64
O rito de um tratado está previsto no artigo 11 da Convenção
sobre o Direito dos Tratados e estipula que a ordem como sendo a de negociação, a
de assinatura, a troca ou depósito dos instrumentos constitutivos do tratado, para
posterior ratificação, registro, publicação65:
61
SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 32.
62 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 32-33.
63 MONCADA, Antônio Cabral de. Curso de direito internacional público. p. 232-239.
64 SEITENFUS, Ricardo. VENTURA, Deisy. Introdução ao Direito Internacional Público. p.38-43.
65 Classificação segundo SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p. 58-62.
22
a) A negociação se dá ou por convite por meio de nota
diplomática (em tratados bilaterais) ou em congressos e conferências internacionais,
onde é discutido o objeto do acordo. Essa fase se encerra com a elaboração final do
tratado, que deverá ser aprovado por no mínimo 2/3 dos presentes no caso das
conferências, segundo o artigo 9° da Convenção de Viena.
b) A assinatura serve atualmente para autenticar o texto
dos tratados e para o início da contagem dos prazos para troca ou depósito dos
instrumentos de ratificação.
c) A ratificação é o ato unilateral e administrativo mediante
o qual o Estado confirma tratado firmado, declarando aceito o que foi
convencionado, geralmente concedida por documento chamado carta de ratificação.
A troca ou o depósito dessa carta de ratificação é o que tornam perfeito e acabado,
válido o tratado. A dispensa da ratificação ocorre se assim o tratado o dispuser.
d) Registro e publicação: De acordo com o artigo 102 da
Carta das Nações Unidas, endossado pelo artigo 80 da Convenção de Viena, diz
que o tratado deve ser registrado no Secretariado e por este publicado.
No Brasil, o rito de incorporação de um tratado pode ser de
várias formas:
a) Por iniciativa, negociação e assinatura do acordo pelo
Presidente da República, que pode delegar e geralmente o faz, as atribuições ao
Ministério das Relações Exteriores, que pode valer-se de instituições federais;
b) Envio de mensagem pelo Presidente da República ao
Congresso Nacional, com exposição de motivos e texto integral do acordo, para dar
início ao processo de aprovação ou não do tratado pelo Poder Legislativo;
c) Apreciação e deliberação da Comissão das Relações
Exteriores da Câmara dos Deputados, onde será formulado um projeto de Decreto
Legislativo, para posterior análise da Comissão de Justiça e outras Comissões da
23
Casa, que de acordo com o tema do tratado, apreciam e deliberam em plenário,
enviando o projeto de Decreto ao Senado Federal;
d) Apreciação do projeto pela Comissão das Relações
Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, seguido, quando necessário,
somente por interposição de recurso para apreciação em plenário para a posterior
promulgação do Decreto pelo Presidente do Senado Federal, com publicação no
DOU e no Diário do Congresso Nacional;
e) Ratificação do Presidente da República, com troca ou
depósito do instrumento de ratificação, com a promulgação do tratado pelo
Executivo através de Decreto, publicado no DOU, devidamente acompanhado do
texto do acordo internacional.
f) A interpretação dos tratados está disposta nos artigos
31 a 33 das Convenções de 1969 e 1986, estipulando a boa-fé como regra geral,
sendo que os tratados devem ser interpretados como um todo. 66
O tratado deve ser aplicado na totalidade do território dos
estados-partes, a menos que no próprio corpo do tratado mencione partes não
atingidas. A solução para casos de não-execução do texto do tratado devem ser
encontrados no próprio tratado, que serve de instrumento para a solução de
controvérsias, ressalte-se que existem várias formas de garantias de execução de
um tratado, tais como materiais e financeiras.67
Existem casos de nulidade, extinção (significa o
desaparecimento do tratado da ordem legal internacional). Pode se dar pelo
consentimento das partes, pelo término do prazo de vigência do tratado, pela
violação do tratado, por mudanças circunstanciais, pela vontade unilateral de uma
parte, pela não vontade das partes – por ter surgido uma nova norma imperativa
conflitante, por eclosão de guerra – ou ainda pelo cumprimento do objetivo do
66
SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.38-39.
67 SEINTENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Introdução ao Direito Internacional Público. p. 50.
24
tratado) e suspensão de aplicação dos tratados (é a interrupção temporária da
aplicação do tratado), que se encontram elencados nos artigos 46 a 72 das
Convenções de Viena. 68
1.4 DIREITO COSTUMEIRO
O costume, considerado fonte primordial e tradicional do Direito
Internacional, abriu espaço para outras fontes de codificação, mas mesmo havendo
mudanças no contexto internacional, não perdeu sua importância, pois nos casos de
tratados internacionais, por exemplo, que ainda não tenham entrado em vigor, o
costume faz jus como prova. 69
“É o conjunto de normas consagradas pelo longo uso e observadas na ordem internacional como obrigatórias. Tem caráter impositivo e obrigatório, pois se não for cumprido acarreta sanção.” 70
Trata-se de uma fonte não convencional do Direito
Internacional Público e existem duas correntes sobre o tema: a primeira,
voluntarista, afirma que o costume baseia-se no acordo tácito entre os Estados.
Segundo SILVA tal teoria peca por não considerar ser o costume uma prática
evolutiva. 71
Já a segunda corrente, a objetiva ou sociológica diz que as
regras provêm de uma manifestação social, que obriga os sujeitos de direito em sua
totalidade e visa atender as suas necessidades. É a teoria que prevalece
atualmente, pois vê o costume como produto da evolução da sociedade. 72
“Dois elementos são indispensáveis à formação de um costume. O elemento material traduz-se pela repetição de atos, comportamentos e opiniões, na administração de suas relações externas ou da
68
JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. p.118-125.
69 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.44.
70 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.98.
71 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.102.
72 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p. 103.
25
organização interna, pelos sujeitos de direito internacional. [...]. Um segundo elemento, de caráter subjetivo, manifesta-se pela existência, livremente consentida, de uma convicção de parte dos sujeitos, no sentido de que sua aplicação é obrigatória, pois trata-se de um novo direito. Ou seja, está em tela a expressão da opinio juris sive necessitatis73 (a convicção do direito ou da necessidade). Sua obrigatoriedade a distingue das regras de cortesia internacional.” 74
Têm previsão no Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça
em seu artigo 38, I, “b” como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito
e ajuda em grande parte na urgência na solução de problemas. 75
A prova do costume deve ser feita pela parte que dela deseja
beneficiar-se. Busca-se a prova material do costume em atos estatais, não só os
executivos, mas também os diplomáticos, no teor dos tratados quando classificados
em razão da matéria, permitem a dedução de alguns valores consuetudinários em
temas como, por exemplo, a extradição e também nos textos legais, no consenso da
doutrina76 e ainda nas decisões judiciárias - jurisprudência internacional - da CIJ ou
de outros órgãos internacionais que disponham sobre temas de interesse do direito
das gentes. 77
Não existe método preciso de interpretação do costume,
apenas certos princípios que são aceitos, como o que diz que o costume especial
derroga o geral e o posterior derroga o anterior.
Alguns doutrinadores como ACCIOLY78 dizem que a
codificação do costume está longe de ocorrer, porém segundo ROBERTO LUIZ
SILVA: 79
73
A Corte Internacional de Justiça consagrou a opinio juris no Acórdão sobre a Plataforma Continental do Mar do Norte em 1969. In: REZEK, J.F.Direito internacional público. p.101.
74 MONCADA, Antônio Cabral de. Curso de direito internacional público. p. 56.
75 REZEK, J.F. Direito internacional público. p. 113.
76 A doutrina, baseada em decisão da CIJ em 1969, reconhece a importância das convenções multilaterais não-ratificadas como fonte desse instituto. In: SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.45.
77 REZEK, J.F. Direito internacional público. p. 117-118.
78 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.45.
26
“Nos últimos anos têm-se manifestado uma tendência para se codificar o costume, como se nota pela conclusão das Convenções de Viena sobre Relações e Imunidades Diplomáticas (1961) [...] do Direito dos Tratados (1969), além da Convenção de Montego Bay sobre o Direito do Mar (1982). São evidentes as vantagens conseguidas pela codificação do Direito Consuetudinário através dos Tratados, à medida que as normas se tornam mais precisas e acessíveis e os novos Estados se mostram mais dispostos a acatar normas de cuja elaboração tenham participado, mas, em contrapartida, a codificação tem o inconveniente de fixar os costumes e de tornar a sua evolução mais difícil.”
Neste capítulo, buscou-se demonstrar a importância do ramo
do Direito Internacional Público, o Direito do Mar, com seu histórico até os dias
atuais, bem como as fontes do Direito do Mar, que provêm principalmente dos
tratados e do costume internacional bem como expôs a legislação vigente
internacional e nacionalmente.
79
SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p. 106.
CAPÍTULO 2
O INSTITUTO ALTO-MAR
2.1 ASPECTOS FUNDAMENTAIS – CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA
Neste capítulo aprofunda-se o estudo do tema principal, em
seus diversos aspectos, definindo a trajetória do instituto e buscando explicitar sua
importância jurídica como instituto do Direito do Mar bem como seu desenvolvimento
até os dias atuais.
A importância do tema resta demonstrada pelo que nos rodeia.
A superfície do nosso planeta tem cerca de quinhentos e dez milhões de quilômetros
quadrados, sendo que ¾ são ocupados pelo mar, ou seja, mais de trezentos milhões
de quilômetros quadrados de água. Além de conter mais de trezentas mil espécies
de animais que o povoam, produz cerca de trinta milhões de toneladas de alimentos
pela pesca, sendo que quase 90% do comércio mundial se processam pelo mar. 80
Segundo Mello81 a definição desse instituto é trazida de
maneira uniforme pela doutrina e pelas convenções internacionais. Conforme dispõe
a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, reunida em
Genebra em 1958, em seu artigo 1º conceitua tal instituto desse modo: “Entende-
se por „alto-mar‟ todas as partes do mar não pertencentes ao mar territorial ou as
águas interiores de um Estado”.
É um conceito excludente, que define o alto-mar pelo que ele
não é. Nesse sentido a Terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do
Mar, reunida de 1973 a 1982, concluiu em 1982 com a assinatura da Convenção de
Montego Bay (Jamaica), em seu artigo 86 o seguinte:
80
LANARI, Flávia de Vasconcelos. Direito marítimo: contratos e responsabilidade. Belo Horizonte: Del Rey, 1999. p. 23.
81 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p. 1243. v. 2.
28
Art. 86 – Âmbito de aplicação da presente Parte
As disposições da presente Parte aplicam-se a todas as partes do mar não incluídas na zona econômica exclusiva, no mar territorial ou nas águas interiores de um Estado, nem nas águas arquipelágicas de um Estado arquipelágico. O presente artigo não implica limitação alguma das liberdades de que gozam todos os Estados na zona econômica exclusiva de acordo com o art. 58.
A natureza jurídica desse instituto é dividida basicamente entre
o estudo das teorias res nullius e res communis. Monier 82 explica o sentido das
expressões citadas: res comunnis são as coisas que estão subtraídas à propriedade
privada, estando afetadas ao uso comum de todos os homens, já res nullius são
aquelas que não pertencem a qualquer pessoa, bem como as coisas que não
podem pertencer a qualquer indivíduo porque elas estão consagradas aos Deuses
ou afetadas ao uso público.
Segundo a primeira teoria, que é a mais antiga dentre as
relacionadas ao alto-mar, tendo surgido segundo MELLO83 no século XVII, para
defender o alto-mar das reivindicações de soberania dos Estados, o alto-mar não
estaria sujeito a nenhuma regulamentação jurídica, uma vez que não existe direito,
os Estados opõem o seu direito sobre o alto-mar.
De acordo com o autor retro mencionado essa corrente é a
sugerida por alguns autores, que afirmam que o “mar livre não é dominado”, “não
tem proprietário nem soberano” ou ainda que “está fora do comércio”. Segundo ele,
essa teoria é inaceitável, pois se o alto-mar é inapropriável os Estados teriam uma
liberdade sem limitação, principalmente nos casos de guerra.
Já a segunda teoria diz que o alto-mar seria de propriedade da
sociedade internacional, ou seja, de todos os Estados. É a posição de diferentes
fontes do direito romano, como Grotius. 84 Conforme essa teoria, o alto-mar seria
82
R. Monier, Petit Vocabulaire de Droit Romain, Paris, Les Editions Domat-Montchrestien, 1941, 3.ed., p. 250-2 apud MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p.13.
83 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p. 1243. v. 2.
84 GROTIUS, Hugo. De Jure Belli ac Pacis Libri Tres, Classics of International Law, Washington, 1925, p. 209 e 210 apud MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. p.15.
29
uma espécie de “condomínio”, o que também não pode ser considerado, já que os
co-proprietários em um condomínio tem o direito de polícia em relação aos outros,
por exemplo.
A doutrina da res communis é a que encontra maior número de
seguidores, porém compreendida como no sentido que possuía no Direito Romano,
a de que o alto-mar seria coisa destinada ao uso público, sendo assim, todos tem os
mesmo direitos sobre o alto-mar e de que o mesmo é impassível de apropriação. 85
Este parece ser o entendimento mais correto, pois decorre do
artigo 2° da Convenção de Genebra sobre o alto-mar o seguinte:
“O alto-mar estando aberto a todas as nações, nenhum Estado pode legitimamente pretender submeter uma parte qualquer a sua soberania.”
Modernamente, sabe-se que o alto-mar caracteriza-se pelo
regime de liberdade, inclusive reafirmado no artigo 87 da Convenção de 1982, que
serão abordados oportunamente no presente estudo, e também que o instituto retro
mencionado é bem de uso comum, não tem “dono”, é res publica, ou melhor, é de
domínio público, pois pertence à sociedade internacional. 86
Entretanto, a liberdade do alto-mar sofre uma série de
limitações de origem costumeira. Estas limitações restringem a regra de não
interferência. A finalidade delas é regulamentar de certo modo a utilização do alto-
mar. 87
2.2 AS MUDANÇAS INTRODUZIDAS PELAS CONVENÇÕES E O NOVO DIREITO DO MAR
A Convenção de 1982 além de reafirmar o princípio da
liberdade de navegação para os navios de todos os Estados, tendo eles litoral ou
85
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p. 1244. v. 2.
86 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p. 528.
87 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p. 1249. v. 2.
30
não, estabeleceu regimes jurídicos distintos para o alto-mar e para os fundos
marinhos situados além das jurisdições nacionais. A Convenção preocupou-se de
forma particular com a administração e conservação dos recursos vivos. Sob esse
aspecto, cada Estado tem dupla obrigação: exigir dos navios nacionais que adotem
medidas para restringir a poluição e cooperar entre si com vistas à preservação do
ambiente marinho. 88
A Convenção de 1982 pela primeira vez na história considerou
o solo e o subsolo marinhos como sendo patrimônio comum da humanidade, assim
nenhum Estado poderá reivindicar a soberania sobre qualquer área dos fundos
marinhos. Com isso, firma-se a idéia de que os recursos naturais existentes no
fundo dos mares são inalienáveis, cabendo à autoridade internacional, que seria sua
gestora, deliberar sobre o destino e a utilização das riquezas que venham a ser
exploradas.89
A Convenção referida acima também reconheceu os avanços
tecnológicos e de pesquisa científica que ocorreram nos últimos tempos,
reconhecendo o direito de cada Estado de explorar seu mar territorial e sua
plataforma continental, direito esse limitado pelo dever de preservar o meio
ambiente. Entretanto, a problemática dessa decisão é o abismo entre países
desenvolvidos com condições técnicas e recursos financeiros para a exploração das
riquezas oceânicas dessas áreas.
Para evitar que isso ocorresse, a Convenção favoreceu a
transferência de tecnologia em condições equitativas para os países em
desenvolvimento, por meio de programas bilaterais, regionais e multilaterais que
tenham por objetivo acelerar o desenvolvimento econômico dos Estados menos
desenvolvidos, fazendo as nações desenvolvidas desenvolverem programas de
assistência técnica, científica e educativa aos outros Estados que não tenham todo o
aparato necessário disponível.90
88
AMARAL JUNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. São Paulo: Atlas, 2008.p. 351.
89 AMARAL JUNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. p. 351.
90 AMARAL JUNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. p. 353.
31
Já a Terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Direito
do Mar apesar da demora para alcançar o quórum para aprovação e ratificação, do
ponto de vista material, logrou êxito significativo em relação às Convenções
anteriores, pois a maioria das reivindicações dos países em desenvolvimento foi
acolhida (principalmente no tocante à extensão da plataforma continental, nos
países que tinham extensão acima de 200 milhas marítimas) e reafirmou a liberdade
de navegação por meio do direito da passagem inofensiva. Entretanto, ela deixou a
desejar quando foi vaga acerca da construção de ilhas e portos artificiais.91
A Terceira Conferência da ONU sobre o Direito do Mar
manteve dois tipos de normas, umas auto-aplicáveis, como a garantia da liberdade
da navegação e outras que dependem da aprovação e adoção dos Estados para
vigerem, como as medidas a serem adotadas, as providências necessárias para a
proteção e preservação do meio ambiente.92
O Brasil teve papel significativo no âmbito dessa Convenção,
pois a delegação brasileira endossou a proposta apresentada pelo representante de
Malta perante a Assembléia Geral das Nações Unidas e também lutou pela
ampliação das jurisdições nacionais para a exploração do solo e do subsolo dos
mares. 93
Especificamente quanto ao Brasil, a Convenção de 1982
atendeu às reivindicações pátrias da ampliação do mar territorial para 200 milhas
marítimas, a criação da zona econômica exclusiva garantiu acesso à exploração dos
recursos naturais na extensão do mar territorial no país e além disso, a distinção no
uso militar da área de 200 milhas pelo mar territorial diferentemente do uso na zona
econômica exclusiva.94
Apesar de não dispor explicitamente sobre o assunto, a
Convenção de 1982 em seu artigo 310 permite que o Brasil adote medidas
91
AMARAL JUNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. p. 355.
92 AMARAL JUNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. p. 355.
93 AMARAL JUNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. p. 354-355.
94 AMARAL JUNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. p. 353-354.
32
protetivas em relação à sua costa, proibindo a colocação de estruturas e instalações
para fins militares nas áreas de jurisdição nacional.
O desafio do novo Direito do Mar é regular a exploração dos
recursos naturais de modo que haja um equilíbrio entre a gestão dos recursos e o
repasse desse conhecimento e dessa riqueza.
2.3 DELIMITAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO COM OUTROS INSTITUTOS
A caracterização do alto-mar bem como a livre navegação
tornou-se mais difícil com a Convenção de Genebra de 1958 e também com a
Convenção de Montego Bay de 1982 que introduziu diversas novas zonas no
domínio marítimo.
Antes da explanação é necessário o esclarecimento de que
existe grande divergência doutrinária em relação à largura do mar territorial e da
zona contígua.
Estes outros institutos seriam95:
a) Mar territorial (art. 2° da Convenção de 1982): inclui as
águas do leito do mar, o subsolo, o espaço aéreo sobrejacente e sua extensão são
de 12 milhas marítimas (art. 3° da Convenção de 1982) contadas a partir da linha de
base da costa (litoral continental e insular) na maré baixa. Nessa faixa existem
direitos soberanos e a única restrição é o direito de passagem inocente, que é
concessão obrigatória do Estado para os navios que trafegam. Quanto aos
submarinos, estes só poderão navegar na superfície do mar nessa área. O mar
territorial brasileiro é de 12 milhas marítimas conforme Lei 8617/9396. Quando há
uma ilha pertencente ao Estado, é necessário fazer uma projeção a partir da ilha
95
SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. 2. p. 175.
96 HUSEK, Carlos Roberto. Curso de direito internacional público. 3.ed. São Paulo: LTr, 2000. p.85.
33
para contar as doze milhas, não sendo consideradas as ilhas artificiais ou
plataformas construídas pelo Estado mar adentro. 97
b) Zona contígua (Artigo 24 e 33 da Convenção de 1982):
Faixa adjacente ao mar territorial. Esta região não integra o território, mas o Estado
tem a possibilidade de exercer seu poder de polícia nesta área e nela o Estado
exerce a soberania em relação à fiscalização sanitária, alfandegária e de imigração.
Sua principal função é evitar o contrabando. Essa faixa era de limite máximo de
largura de 12 milhas na Convenção de 1958 e foi estendida para 24 milhas
marítimas na Convenção de 1982, contados a partir da linha de base98 do mar
territorial. Serve para a captação de recursos fiscais do Estado costeiro e em relação
à segurança, mas teve sua importância limitada devido à criação de zona de pesca,
da zona econômica exclusiva bem como da plataforma continental.
c) Zona econômica exclusiva (artigo 55 da Convenção de
1982): Importante ressaltar que segundo VARELLA a zona contígua faz parte da
zona econômica exclusiva.99 Se situa além do mar territorial e seria a planície
submarina (faixa de terra e coluna d‟água) que vai gradativamente se aprofundando
até o limite de 200 metros de profundidade. Nessa área o Estado tem direito
soberano exclusivo de exploração dos recursos em sua plataforma continental
(artigo 76). Segundo a Convenção de 1982 existem duas maneiras de fixar o limite
dessa plataforma: I) Se o Estado atingir o limite de 200 metros rapidamente, como é
o caso da Oceania, este será o limite; II) Se o mar se aprofunda lentamente, como
no Brasil, continua sendo de 200 metros, mas a faixa alcançará no máximo 350
milhas de largura.
Na Convenção de 1982 cita que os países costeiros não
podem abusar de seus direitos exclusivos (artigos 62 e 69-71) e caso não consigam
explorar todos os recursos vivos até a totalidade permissível, devem fazer acordos
para compartilhar os excedentes com outros Estados interessados, mediante
97
VARELLA, Marcelo Dias. Direito internacional público. São Paulo: Saraiva, 2009. p.208.
98 A linha de base normal é determinada pela linha de baixa-mar ao longo da costa. In: SILVA, G.E.; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.257.
99 VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público. p. 208.
34
pagamento adequado (artigo 62). Entretanto, gozam de liberdade de navegação,
aeronaves, cabos e dutos submarinos nessa área. (artigo 58).
d) Alto-Mar (artigo 86 da Convenção de 1982):
Compreende espaço, regiões além da zona econômica exclusiva dos Estados100,
considerado a parte total do mar não pertencente a nenhuma jurisdição ou domínio
direto de nenhum Estado (conceito negativo), faz parte do patrimônio comum da
humanidade e cuja preservação é de interesse de todos. Presume-se que nessa
área os navios estejam sob a jurisdição do seu Estado patrial e os navios de guerra
podem exercer autoridade sobre navios mercantes de igual bandeira.
Um instituto quase não mencionado nessas convenções seria
as águas interiores, que consistem em portos (artigo 11 da Convenção de 1982),
baías (artigo 10) e ancoradouros (artigo 12). As águas dos portos, estuários101, rios,
lagos e canais devem ser considerados nacionais. São reguladas principalmente
pelo direito consuetudinário. 102
e) Os estreitos ou canais seriam uma linha de água, parte
de mar que liga dois mares ou oceanos diferentes, sendo que os estreitos são
naturais e os canais são artificiais, criados pelo homem, onde os navios e aeronaves
têm “direito de passagem em trânsito”, mesmo de navios militares Disposto na
Convenção de 1982 em seus artigos 34-45. Um exemplo seria o Estreito de
Gibraltar. 103 Se a largura do estreito for superior a 24 milhas, o mar territorial de
cada Estado terá 12 milhas marítimas.
f) A plataforma continental deve ser considerada uma
extensão natural do território e surgiu da crescente reivindicação dos Estados pelos
direitos exclusivos sobre os recursos do leito e subsolo do alto-mar. Cuida-se da
parte do leito do mar adjacente à costa do Estado costeiro, até o limite do talude
continental (região de declive mais acentuada) e nessa área pode explorar os
100
VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público. p.215.
101 Ocorre quando um rio antes de chegar ao oceano perde o aspecto que tinha e se torna uma baía. In: SILVA, G.E.; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 264.
102 JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. p. 518.
103 JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. p. 523.
35
recursos naturais exclusivamente. 104 A sua largura raramente atinge 200 milhas
marítimas, mas é possível que ocorra, sendo que nesse caso o direito de exploração
exclusiva do Estado sobre o leito do mar vai até onde for a plataforma continental,
não ultrapassando 350 milhas marítimas. Importante ressaltar que não há uma
extensão nesse caso da zona econômica exclusiva.
g) A zona dos fundos marinhos oceânicos, também
chamada de “área” deve ser regulada pela Autoridade Internacional dos Fundos
Marinhos e foi fruto de grande expectativa pela exploração dos recursos nele
contidos e por isso a Convenção de 1982 em seu artigo 136 objetivou garantir a
participação no compartilhamento dos benefícios pela atividade comercial nos
fundos marinhos. Fica além dos limites da jurisdição nacional e o princípio que rege
essa área é o da herança comum da humanidade. 105
Existem ainda locais chamados de “domínio público”, onde não
restou definido ainda a quem pertence à jurisdição. Seriam eles: o Pólo Norte, a
Antártida, etc. 106
Algumas regiões do mar são consideradas zonas de paz. Um
exemplo seria o Oceano Índico, aprovado pela Assembléia-geral das Nações Unidas
em 1971. A zona de paz atinge as águas arquipelágicas, a plataforma continental, a
zona econômica exclusiva e a zona contígua. Se o Estado aceita zona de paz, ela
também se estende a seu mar territorial. 107
2.4 LIBERDADES E RESTRIÇÕES À LIBERDADE DOS MARES
Constitui parte fundamental do capítulo, pois o mar por ser
patrimônio comum dos Estados, necessita da observância de algumas normas, que
104
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p.1254. v.2.
105 JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. p.531.
106 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p. 179-180.
107 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.p.64-65.
36
regem as relações que ali se desenvolvem assim como existem direitos
resguardados.
Os Estados possuem soberania, o que significa que ele tem
competência sobre o seu território, as pessoas e coisas que nele se encontram.
Todavia, existem certas pessoas ou coisas, ou até mesmo trechos de seu território
nos quais o Estado não tem uma competência plena, sendo estas restrições aos
seus direitos fundamentais. 108
O Estado tem autonomia dentro de seu território, como visto
anteriormente, entretanto o limite de seu território pode ser fixado de forma natural,
por acidentes geográficos ou rios, lagos, divisores de águas, etc. ou de forma
artificial, por convenções humanas, como a latitude e longitude. Este fato acaba
causando conflitos entre Estados limítrofes pela disputa de território e pela
exploração das riquezas ali contidas.
No decorrer da História, a liberdade dos mares era vista sob
uma ótica negativa, de que o mar não se submetia à jurisdição de nenhum Estado.
Atualmente resta bastante regulamentada e despida desse cunho negativista, como
se vê a seguir.
O sentido de liberdade não foi o mesmo em todas as épocas,
assim inicialmente a liberdade visava evitar os assaltos praticados por piratas, e
depois no sentido de propriedade e de liberdade de navegação, atualmente a
preocupação com questões sócio-econômicas como a conservação da
biodiversidade e dos recursos vivos e o aproveitamento dos minerais. 109
108
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 14.ed.(ver. e aum.). Rio de Janeiro Renovar, 2002. p. 461.v.1.
109 ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 252.
37
A noção de liberdade dos mares surgiu no início do século
XVII, uma vez que até então o direito feudal se guiava pelo conceito de dominium
maris do direito romano. 110
Agora prevalece a idéia de igualdade de uso do mar, o que
significa que nenhum Estado pode reivindicar para si a utilização dos espaços
marítimos. Os direitos são iguais para todos os Estados, o mar é de uso comum.
A liberdade em alto-mar significa a exclusão do uso arbitrário
ou exclusivo de um Estado e a abertura do seu uso 111.
Para ACIOLLY as restrições à liberdade dos mares derivam ou
da natureza das coisas – no sentido de que a liberdade de cada Estado, no alto-mar
não deve ir até prejudicar a liberdade de qualquer outro – ou provem de acordos ou
convenções internacionais. 112
Tais liberdades, entretanto devem ser exercidas com
observância dos interesses de outros Estados e dos direitos relativos às atividades
nas áreas que são herança comum da humanidade. 113
O alto-mar é regido também pela regra da não-interferência,
em tempo de paz, isto é, o navio de um Estado não pode interferir na navegação de
um navio de outro Estado. A regra da não-interferência sofre limitações com as
restrições na liberdade do alto-mar. 114
Outro princípio seria o da utilização pacífica, que inclusive
encontra respaldo normativo no artigo 88 da Convenção de 1982. Era inicialmente
uma restrição à liberdade dos mares, mas passou a ser um princípio. Devido a isso
110
SILVA, G.E.; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.333.
111 JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. p. 529.
112 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 197.
113 JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. p. 529.
114 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. p.40.
38
não é permitida a instalação de estabelecimento militar em alto-mar por um Estado,
desde que seja de domínio público internacional. 115
Existem alguns direitos do Estado em alto-mar, que merecem
destaque: 116
a) Jurisdição do Estado de bandeira sobre navio – o
Estado de bandeira exerce sua jurisdição sobre navios que arvorem sua bandeira
em alto-mar. Previsto no art. 6º da Convenção de 1958 e art. 92 da Convenção de
1982. A Convenção de 1982 no que se refere à nacionalidade dos navios pretende
condenar os chamados “pavilhões facilitários” ou “de complacência”, sendo estes
Libéria, Panamá, Chipre, ao mencionar que deve sempre haver um vínculo entre o
Estado e o navio que arvora sua bandeira. Assim presume-se que em alto-mar todo
navio se encontra sob a jurisdição de seu Estado patrial. O navio de guerra exerce
autoridade sobre navios mercantes de mesma bandeira.
b) Direito de revista117 e aproximação em alto-mar –
utilizado para verificação de documentos, e quando estes não forem suficientes,
pode-se proceder a bordo do navio. O direito de aproximação visa à identificação do
navio e o direito de revista é exercido após a identificação se as suspeitas
persistirem. Alguns casos elencados no artigo 22 da Convenção de Genebra de
1958 e no artigo 110 da Convenção de 1982 apontam motivos razoáveis que
ensejam tal prática, tais como: I) pirataria; II) tráfico de escravos; III) transmissões
não autorizadas; IV) falta de nacionalidade; V) uso de bandeira falsa. A visita deve
ser fundamentada senão o navio visitado deverá ser indenizado por perdas e danos
que tenha sofrido. É considerado restrição à navegação;
c) Direito de perseguição em alto-mar - consiste em
perseguir um navio estrangeiro em alto-mar que tenha violado os direitos do Estado
costeiro, desde que o navio perseguido se encontre nas águas interiores, mar
115
JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p. 528.
116 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p. 529.
117 A nomenclatura pode variar de acordo com o entendimento do autor, sendo que a Convenção de Genebra utiliza-se da expressão “direito de revista” e a Convenção de Montego-Bay de 1982 adota a expressão “direito de visita”. In: MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p. 1250. v. 2.
39
territorial ou zona contígua do Estado costeiro. A perseguição precisa ser imediata e
ininterrupta e só pode ser exercida por navios de guerra ou aeronaves militares
sendo que somente podem ser objeto de perseguição os navios de comércio, uma
vez que os navios públicos gozam de imunidade completa de jurisdição. Previsto no
artigo 23 da Convenção de Genebra de 1958 e no artigo 111 da Convenção de
1982;
d) Direito à autodefesa em alto-mar – variam conforme o
local e baseia-se no direito de um Estado reclamar o direito de interferir em navios
comerciais estrangeiros com base nesse princípio;
e) Direito de passagem inocente – é originariamente direito
costumeiro e se refere à navegação de navio estrangeiro pelo mar territorial de um
outro Estado de forma contínua e rápida “que não é prejudicial à paz, ao bem ou à
segurança do Estado costeiro”, a não ser por incidente da navegação ou por força
maior, sem adentrar as águas interiores ou se o fizer que aja sem prejuízo à paz, à
boa ordem ou à segurança do Estado costeiro. Não existe direito de passagem
inocente nas águas internas do Estado. No caso dos submarinos devem navegar na
superfície e com suas bandeiras visíveis. Encontra-se esse direito reconhecido pelo
costume internacional e está regulado nos artigos 17 a 32 da Convenção de 1982.118
Deixa de ser inocente, quando há (Art. 18 e ss da Convenção
de Montego Bay): qualquer ameaça ou uso de força contra a soberania, integridade
territorial ou independência política do Estado costeiro, exercício ou manobras com
armas de qualquer tipo, quando praticado ato destinado a obter informações
prejudiciais ao Estado costeiro, qualquer ato de propaganda destinado a atentar
contra a defesa ou segurança do Estado costeiro, o lançamento, pouso ou
recebimento de qualquer aeronave ou dispositivo militar, embarque ou desembarque
de qualquer produto ou pessoa com violação das leis e regulamentos aduaneiros,
fiscais, de imigração ou sanitários do Estado costeiro, qualquer ato intencional e
grave de poluição, qualquer atividade de pesca, qualquer ato destinado a perturbar
118
JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. p. 521.
40
quaisquer sistemas de comunicação, serviços ou instalações do Estado costeiro ou
que não esteja diretamente relacionada com a passagem.119
f) Direito de jurisdição do Estado ribeirinho, em matéria
civil e penal – ocorre no mar territorial do próprio Estado e decorre do direito de
soberania. É limitado pelo direito de passagem inocente (no caso de navios
estrangeiros). Para navios nacionais, estes se submetem à jurisdição. Os navios de
guerra estão isentos da jurisdição local, apesar de ter que respeitar algumas leis e
regulamentos feitos pelo Estado ribeirinho para assegurar sua segurança. 120
No artigo 2º da Convenção de Genebra de 1958 encontram-se
dispostas mais algumas liberdades (limitadas, claro) em alto-mar, tais como:
g) Liberdade de navegação – entendida como
conseqüência da liberdade dos mares e disposta principalmente no artigo 90 e 131
da Convenção de 1982, sendo que os Estados sem litoral têm direito de acesso ao
mar, decidido em Convenção em 1965 sob o comando da ONU, e ao livre trânsito
entre os Estados próximos ao litoral para poder a este ascender, bem como o
Estado sem litoral tem direito a transporte de suas mercadorias sem pagar direitos
aduaneiros no território do Estado que se coloca entre ele e o mar. Modernamente o
direito da navegação vem sendo exercido pelas organizações internacionais como,
por exemplo, no transporte de tropas pela ONU; 121
h) Liberdade de pesca – é reconhecido a todos os
Estados, inclusive os sem litoral e o controle da pesca pelos Estados aplicável aos
pesqueiros é para os que arvoram o seu pavilhão. Encontra-se previsto no artigo
116 da Convenção de 1982; 122
i) Direito de colocar cabos e oleodutos submarinos – faz
parte do interesse mundial pela rapidez das comunicações e se encontra previsto no
119
VARELLA, Marcelo Dias. Direito internacional público. p. 213.
120 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.259.
121 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. p. 44.
122 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 336.
41
artigo 26 da Convenção de Genebra de 1958 e no artigo 112 da Convenção de
Montego Bay de 1982, sendo que no artigo 113 e 114 a ruptura ou danificação dos
mesmos ensejam sanções por prejudicar as comunicações telegráficas ou
telefônicas. Poderão ser destruídos ou apreendidos em caso de guerra ou
excepcionalmente em caso de grande necessidade. O Estado que assim o fizer
deverá repô-los ou reconstruí-los tão logo se conclua a paz, ficando sujeito ao
pagamento das indenizações fixadas. A matéria encontra-se regulada pela
Convenção de Paris, firmada em 1884 por 26 países signatários inclusive o Brasil;123
j) Liberdade de sobrevôo – o espaço aéreo tem o mesmo
regime jurídico da superfície. Assim, no Brasil encontra-se disposto no artigo 11 do
Código Brasileiro de Aeronáutica124 e considera-se o espaço aéreo como submetido
à soberania estatal. 125
O artigo 87 da Convenção de 1982 aumentou as
possibilidades, acrescentando-se126:
k) A liberdade de construir ilhas artificiais e outras
instalações permitidas pelo direito internacional – situa-se em alto-mar, gerando em
torno de si um território marítimo e uma zona contígua de mar livre. A superfície
aquática que entre eles medeia será sujeita ao controle do Estado. Assim ocorre
com Fernando de Noronha, que se localiza a 350 km da costa brasileira. Podem ter
uma zona de segurança de 500 metros de largura, devendo ter sinais de
identificação e não serão colocadas em rotas de navegação; 127
l) Liberdade de investigação científica – estabelece que
todo Estado está autorizado, porém deve ser feito para fins pacíficos, com métodos
123
MATTOS, José Dalmo Fairbanks Belforde. Manual de direito internacional público. São Paulo: Saraiva: EDUC, 1979. p. 84.
124 BRASIL.Lei nº 7565, de 19 de dezembro de 1986, dispõe sobre o Código Brasileiro de Aeronáutica, Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, data publicação 20 dez. 1986.Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7565.htm>. Acesso em: 19 maio 2010.
125 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. p.87-88.
126 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 334.
127 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p.1256. v.2.
42
e meios específicos, o responsável deve justificar os objetivos do projeto, bem como
é responsável se ocorrer poluição e as pesquisas não justificam a reivindicação
sobre o meio marinho128;
m) Prática de manobras navais – é permitido não somente
no alto-mar, mas também na zona econômica exclusiva e decorre também da
proteção da soberania do Estado costeiro. 129
Entre os deveres a serem observados pelos Estados
estariam130:
a) Colaborar na conservação dos recursos vivos do alto-
mar – trata principalmente da regulação da pesca, mamíferos marinhos, espécies
migratórias, etc. e com base em pesquisas científicas permite a troca de informação
bem como uma possibilidade de tomar medidas mais eficazes na conservação.
Mesmo com a norma afirmando que nenhum Estado costeiro possui qualquer direito
além das 200 milhas a Convenção de Genebra de 1958 admite “posição especial”
para medidas de conservação além desse espaço, pelo artigo 7°, desde que seja
com caráter urgente e for fundamentada em estudos científicos. Alguns locais
também têm a pesca proibida em certas épocas devido à reprodução de espécies
marinhas em extinção. Previsto no artigo 119 da Convenção de Montego Bay131. A
preocupação com o meio-ambiente, a poluição e a manutenção da biodiversidade
presente na vida marinha se reflete no Direito do Mar, daí advém a preocupação
com a pesca excessiva ou de espécies ameaçadas, por exemplo. 132
128
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p.1255. v.2.
129 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. p. 64.
130 REZEK, J.F. Direito internacional público. p.307.
131 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. p. 71-72.
132 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 335-336.
43
b) Prevenção à poluição133 – cabe ao Estado onde o navio
está refugiado aplicar as sanções, lembrando que ocorrem muitos vazamentos de
petróleo no mar e este apresenta perigo de incêndio e causa danos à flora e fauna;
c) Repressão ao tráfico de escravos – Se encontra no
artigo 13 da Convenção de Genebra e no artigo 99 da Convenção de Montego Bay
que proíbe o tráfico de escravos. No Congresso de Viena em 1815 e também nos
Tratados de Paris de 1814 e 1815, que previram medidas acerca do tema, bem
como a Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1948 prevê no artigo 23
que todo homem tem direito à livre escolha de emprego, repetida em 1950 na
Convenção Européia de Direitos Humanos no artigo 4º, sendo que no Brasil durante
muito tempo fazia parte da cultura o comércio de escravos, mas com a pressão da
Inglaterra após a Independência em 1822, assina em 1826 uma convenção com os
ingleses e em 1831 uma lei é promulgada proibindo o tráfico;
d) Repressão ao trânsito e comércio ilícito de drogas – Tem
mobilização internacional pelo mal causado à saúde do ser humano. Regulada no
artigo 108 da Convenção de 1982, sendo que o órgão internacionalmente
competente para a matéria é o Conselho Econômico e Social (interno das
Organizações das Nações Unidas), que tem uma comissão especializada sobre o
assunto, sendo que em 1961 a ONU criou uma convenção e um órgão chamado de
Órgão Internacional para o Controle de Estupefacientes. A sanção é o embargo, ou
seja, a proibição da importação e exportação; 134
133
Várias foram as tentativas de criar normas em relação à poluição no meio ambiente, porém as de maior repercussão e coerção internacional em matéria de Direito do Mar foram em 29 de abril de 1958, uma versando sobre a poluição no mar por hidrocarbonetos e detritos radioativos e outra versando sobre a pesca e a conservação dos recursos biológicos do alto-mar. In: CYSNE, Maurício; AMADOR, Teresa Eds. Direito do ambiente e redação normativa: teoria e prática nos países lusófonos. Centro de Direito Ambiental da UICN, Alemanha, p. 12. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?id=y1gnr_8mZOYC&pg=PA12&lpg=PA12&dq=conven%C3%A7%C3%A3o+de+londres+de+1962&source=bl&ots=ihh_8y1lL&sig=pFoqSOi7hu1huio4yr2cbtjBCZ0&hl=ptBR&ei=DTQNTJ6VKsWMuAe1n_GVCw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CB8Q6AEwAg#v=onepage&q=conven%C3%A7%C3%A3o%20de%20londres%20de%201962&f=false>. Acesso em 19 maio 2010.
134 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. p.143.
44
e) Repressão a transmissões não autorizadas135 –
Encontra-se previsto no artigo 109 da Convenção de 1982 e refere-se
principalmente ao domínio das telecomunicações e do problema das “rádios piratas”,
situadas em navios em alto-mar ou em instalações colocadas na plataforma. A
Convenção de Genebra de 1958 não se refere à matéria, já a Convenção de
Genebra de 1959 sobre radiocomunicação já proibia o estabelecimento de estações
fora dos limites territoriais do Estado; 136
f) Repressão à pirataria – o conceito de pirataria advém do
artigo 101137 da Convenção de 1982, é uma das mais antigas restrições à liberdade
e na Convenção de 1958 definem-se os atos considerados de pirataria no artigo 15,
sendo como atos ilícitos, de violência, entre outros, sendo que quem pode praticar a
pirataria são navios ou aeronaves privadas, tendo em vista sua intenção de lucro. Se
os navios agem em nome do Estado, a responsabilidade será deste; 138
g) Salvaguardar a vida humana139 - regulamentada na
Convenção de Montego Bay no artigo 98 como o dever de prestar assistência em
casos de desaparecimento, perigo, abalroamento140 de embarcação bem como
busca e salvamento;
h) Proteger os objetos de aspecto arqueológico e histórico
(previsto no artigo 303 da Convenção de 1982).
Ainda importante ressaltar que os navios de guerra em alto-mar
possuem imunidade, previsto no artigo 95 da Convenção de Montego Bay.
135
Transmissão não autorizada é a geração de programas radiofônicos e televisivos dirigidos, do alto-mar, ao público em geral, sem que Estado algum tenha a emissora sob registro e receba de seus exploradores algum tributo. In: REZEK, J.F. Direito internacional público. p. 316.
136 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. p.147.
137 a) Todo ato ilegal de violência, de detenção ou toda depredação cometida para fins pessoais pela tripulação ou passageiros de um navio privado ou de uma aeronave privada, e dirigidos:
i) no alto-mar, contra outro navio ou aeronave, ou contra pessoas e bens a seu bordo.
138 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. p. 117-124.
139 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p.1254.v.2.
140 Previsto nas Regras Internacionais para Evitar Abalroamento no Mar (RIPEAM), consagradas na Convenção de Londres de 1972. In: MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. p.179.
45
Um problema ainda não resolvido definitivamente é o de
despejo de dejetos radioativos no mar. A Convenção de 1958 em seu artigo 25 já
estabelecia norma que dizia que os Estados devem tomar medidas para evitar a
poluição dos mares por esses dejetos, já a Convenção de 1982 não possui nenhum
dispositivo específico sobre o tema. 141
Existe também o Tratado de Moscou concluído em 1963 que
interdita os ensaios de armas nucleares na atmosfera, no espaço exterior e sob a
água. O fundo dos mares e seu subsolo foram desmilitarizados em 1971, em um
tratado concluído sobre os auspícios da ONU, sendo considerado o único tratado de
aspecto amplo sobre o assunto. 142
Neste capítulo tratou-se de demonstrar a relevância do alto-
mar como instituto fonte de riquezas, mas também de disputas, de conflitos, com
sua conceituação, aspectos gerais, delimitação em detrimento de outros institutos
existentes no mar bem como os direitos e deveres que devem ser observados pelos
países internacionalmente.
141
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. p. 151.
142 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Alto-mar. p. 152-154.
CAPÍTULO 3
RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL
TIPOS DE RESPONSABILIDADE
Este capítulo trata da responsabilidade internacional do Estado,
também abordando a responsabilidade em alto-mar, porém exclui algumas
responsabilidades que embora conectadas ao tema, fogem do alcance do mesmo
por serem abordados por outros ramos.
A responsabilidade decorre do descumprimento de uma
obrigação imposta por um sistema jurídico. No direito interno, a responsabilidade se
divide em civil e penal, sendo a civil subdividida em contratual e extracontratual,
baseada na ocorrência ou não da culpa. Essas normas de direito interno foram
incorporadas pelo Direito Internacional por serem reconhecidas pela maioria das
nações. 143
Já no direito externo, no Direito Internacional, o Estado
responsável pela prática de um ato ilícito deve ao Estado a que tal ato tenha
causado dano uma reparação adequada. 144
A responsabilidade de um Estado decorre da ação ou omissão
de indivíduos que induzem à responsabilização do Estado, considerando também
que os Estados, internacionalmente, gozam de igualdade entre si. 145
Conforme Luis Ivani Amorim de Araújo146:
143
JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p. 437.
144 REZEK, J.F. Direito internacional público. p. 261.
145 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p. 438.
47
“As relações entre os Estados se alicerçam nas bases das obrigações recíprocas e dos direitos mútuos. Toda vez que um Estado viola os seus deveres, motivando um prejuízo a outro Estado ou a um nacional deste, ele se torna responsável perante a sociedade internacional.”
As características da responsabilidade internacional são
distintas da responsabilidade do direito interno e tem finalidade reparatória. As
regras sobre a responsabilidade internacional foram formadas a partir da segunda
metade do século XIX, principalmente pelas jurisprudências de arbitragem
internacional. Ainda hoje essa área rege-se pelas regras costumeiras. 147
No início, a responsabilidade do Estado concentrava-se na
proteção de estrangeiros. Porém, agora engloba principalmente as atividades das
entidades públicas e privadas. Além disso, a responsabilidade pode advir de atos ou
lacunas do próprio Estado, quando deixa de cumprir o dever de manter a ordem ou é
negligente, sendo que a vítima pode ser tanto o Estado (quando, por exemplo, sua
soberania é ofendida) ou um indivíduo (que necessita de proteção diplomática). 148
Como ainda não está codificada, essa área é regulada em sua
maioria pelos Tratados, sendo alguns exemplos a Convenção de Haia IV, de 1907,
sobre a responsabilidade dos militares; a Convenção de Bruxelas de 1962 sobre
atividades nucleares; a Convenção de 1971 sobre o lançamento de satélites; a
Convenção de Bruxelas de 1969 sobre a contaminação do mar por materiais
advindos do petróleo; a Convenção da Europa de 1976 sobre a exploração dos
recursos do fundo do mar, entre outras. 149
Segundo Mello houve tentativas de se codificar essa matéria,
principalmente na Conferência de Haia de 1930, mas não se obteve sucesso com tal
iniciativa. 150
146
ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim, p. 143 apud JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p. 438.
147 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p. 438.
148 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p.438.
149 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p 442.
150 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p.505. v.1.
48
A responsabilidade é direta quando deriva de atos do próprio
governo ou de seus agentes ou são movidos contra o governo de um Estado, seus
órgãos e funcionários. A indireta é quando é movida contra uma coletividade que se
encontra sob a responsabilidade desse Estado ou quando resulta de atos praticados
por simples particulares, mas maneira que possa ser imputável ao governo. 151
Existem ainda duas correntes sobre a natureza da
responsabilidade, que seriam: 152
a) A subjetiva ou teoria da culpa, já existente no Direito
Romano, desenvolvida por Hugo Grotius e afirma que um Estado, para ser
responsável, necessita não apenas violar uma norma internacional, mas também
deve violá-la com culpa (entretanto é grande a discussão doutrinária acerca do
alcance dessa culpa);
b) A objetiva ou teoria do risco, que é relativamente recente
e defende que o Estado é responsável porque violou uma norma internacional,
surgindo a responsabilidade sempre que existir um nexo de causalidade entre o
ilícito e o Estado.
Uma terceira teoria elaborada por Triepel e Strupp chamada
mista não teve maior consagração. Segundo Mello a teoria do risco é a melhor
delas, pois traz maior segurança ao Estado porque o ilícito é sempre reparado e já
foi adotada em inúmeras decisões e foi consagrada em diversos tratados, tais como
no Tratado sobre a exploração do espaço da ONU em 1967 e na Convenção sobre
responsabilidade civil por danos nucleares em Viena em 1963, entretanto o mesmo
autor salienta que a jurisprudência internacional consagra ainda predominantemente
a teoria da culpa, que protege mais o Estado. 153
151
SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.287-288.
152 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p.509-510. v.1.
153 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p.510-511. v.1.
49
A Comissão de Direito Internacional da ONU afirma a
existência de um elemento objetivo, que é a violação de uma norma internacional, e
de um elemento subjetivo, que é a atribuição dessa violação a um Estado. 154
As características da responsabilidade internacional são: o ato
ilícito, a imputabilidade e o dano. 155
De acordo com REZEK o ato ilícito deve representar uma
afronta ao direito das gentes, ou seja, um princípio geral, uma regra costumeira, um
dispositivo de tratado em vigor, etc. 156
O ato ilícito é a violação dos deveres ou obrigações
internacionais do Estado, quer se trate de uma ação ou de uma omissão. Tais
obrigações não resultam apenas de tratados ou convenções, mas também podem
decorrer do costume ou dos princípios gerais do Direito. É o elemento essencial da
responsabilidade, o prejuízo causado. 157
Já no tocante à imputabilidade essa seria o nexo que conecta o
autor do ilícito ao fato, sendo que este nem sempre é diretamente responsável
perante a ordem internacional. Esta exige certo nexo jurídico entre o agente do dano
e o Estado, é preciso que o agente tenha praticado o ato na qualidade oficial de
órgão do Estado ou com meios de que dispõe em virtude de tal qualidade. 158
O dano, sendo este tanto moral quanto material e seria o
elemento essencial gerador da responsabilidade, o prejuízo sofrido, o direito lesado.
159
A imputabilidade do sujeito do Direito Internacional divide-se160:
154
SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.287.
155 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p. 440.
156 REZEK, J.F. Direito internacional público. p. 263.
157 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p. 441.
158 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.149-150.
159 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p. 441.
50
a) Atos de órgãos governamentais: qualquer ato do órgão
governamental feito em nome do Estado/governo é considerado como ato do
Estado, não importando o cargo do funcionário. Também pouco importa a área, se
legislativa, executiva ou judiciária (responsabilidade direta).
b) Atos de órgãos governamentais sem poder: se um órgão
governamental praticou ato fora de sua competência ou contrário à instrução
referente à sua atividade, esse ato deve ser considerado como ato do Estado do
Direito Internacional (responsabilidade direta).
c) Atos de particulares: atos de particulares não constituem
atos do Estado. Entretanto, nesses casos, o ato do particular pode imputar
responsabilidade ao Estado, como nos casos em que o Estado não toma medidas
para evitar, prevenir ou minimizar o prejuízo (responsabilidade indireta).
Existem casos em que, determinadas circunstâncias fazem
com que nem sempre o ato violador constitua um ato internacionalmente ilícito ou
então ainda que possam excluir a responsabilidade do Estado, como nos casos em
que: 161
a) Quando o ato perde o caráter ilícito, transformando-se
no exercício de um direito reconhecido;
b) Aqueles em que o ato determinante da
responsabilidade, apesar de ilícito em si mesmo, não pode acarretar as
conseqüências naturais dos fatos ilícitos;
c) Em caso de decurso do tempo também extingue a
responsabilidade;
d) Aqueles que representam a conseqüência direta do
comportamento inconveniente e censurável do indivíduo lesado.
160
JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p. 446-447.
161 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.166-167.
51
Como exemplo dos tipos de exclusão supracitado tem-se: 162
a) A legítima defesa se encaixa no primeiro caso (ataque
ilícito com proporcional e adequada reação de defesa pelo agredido);
b) O segundo caso é o das represálias (atos que em si
mesmos seriam ilícitos, mas que se “justificam” como único meio de combate a
outros atos igualmente ilícitos);
c) O terceiro caso é o da prescrição liberatória (quando o
lesado silencia e transcorre um lapso temporal, fica-se impossibilitado de entrar com
a ação de responsabilidade internacional, sendo que a jurisprudência arbitral já
determinou que a dita prescrição só deverá ser aplicada quando invocada e quando
houver fortes argumentos para aceitá-la, sendo a apreciação desta da competência
discricionária do juiz ou árbitro internacional);
d) O quarto caso é a culpa pelo comportamento do próprio
indivíduo, considerando que este agiu de tal modo que se pode dizer ter sido a
própria causa do fato gerador do dano ou ter fortemente contribuído para que este
ocorresse.
Existem ainda duas outras situações mencionadas pelos
doutrinadores como possíveis para a exclusão da responsabilidade, que seriam:
e) O caso fortuito, a força maior ou o estado de
necessidade: quando um Estado se vê ameaçado em seus interesses vitais, no
obstáculo ao seu progresso e desenvolvimento, pode defendê-los ainda que lesione
interesses legítimos de outros Estados. Quando há conflito no interesse entre
Estados. 163
f) Cláusula Calvo: decorre da doutrina do argentino Carlos
Calvo e seria a renúncia decorrente de quando um indivíduo, em contato particular
162
SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.167.
163 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.293.
52
com um governo estrangeiro, se compromete a não recorrer à proteção
diplomática164 de seu próprio governo em qualquer questão relacionada com as
disposições do referido contrato. É comum em contratos de concessões entre
governos e sociedades latino-americanos ou indivíduos estrangeiros. Esta cláusula
se encontra em desuso. 165
A principal conseqüência jurídica da responsabilidade
internacional seria a obrigação de reparar o dano causado. Na reparação
geralmente encontra-se implícito o dano material e o dever de restabelecer as coisas
ao estado anterior. 166
Reparação difere de sanção, pois esta contém característica
penal e crítica moral e visa manter a ordem da sociedade. A reparação é civil e tem
aspecto político no sentido de evitar o uso da força ou a guerra. Existem diferentes
modos de reparação, tais como: 167
a) Restituição integral, direta ou restitutio in integrum -
quando o Estado responsável é chamado a restabelecer a situação existente antes
do ato ilícito cometido;
b) Compensação/ indenização – é a forma mais comum,
cabível quando não é possível a restituição integral, sendo um problema para a
jurisprudência internacional a obtenção da base de cálculo da compensação, sendo
que a indenização não é uniforme, varia conforme o caso, o dano, etc., mas é
pacífico que abrange os danos diretos (dano emergente e lucro cessante);
c) Satisfação - utilizada para reparar o dano moral, aceitos
como formas de pedido de desculpas, danos morais ou ainda qualquer outro ato que
demonstre o pesar pelo ato cometido e o respeito pelo Estado bem como a
164
Somente pode reclamar para si, em caso de não-cumprimento do contrato a proteção de seu país nas hipóteses de denegação da justiça ou de injustiça manifesta. In: SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 168.
165 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.168.
166 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p.449.
167 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p.450.
53
desaprovação de atos contrários à honra e à dignidade do Estado, devendo ser
públicas. A medida dessa satisfação deve-se buscar na natureza e gravidade das
ofensas.
d) E ainda as garantias e/ou promessas de não-repetição,
que podem ser reclamadas isoladamente ou em combinação.
A maioria dos casos demonstrados acima seria em questões
de litígios de Estado para Estado. Acontece, entretanto, que no caso de pessoas
físicas e jurídicas ou funcionários de organizações internacionais, no caso de haver
prejuízo causado por ato ilícito do Estado contra aqueles, ocorre a proteção
diplomática ou funcional.
Existe a proteção diplomática formada a partir da jurisprudência
e do costume e se traduz na possibilidade de os particulares terem acesso aos
tribunais internacionais, que ocorreria através de seu Estado, pois dele é a
prerrogativa do exercício desse direito (poder discricionário). Assim, o Estado
endossa reclamação de um indivíduo ou de uma sociedade, tornando-a sua (teoria
do endosso). Algumas condições para essa proteção ocorrer seriam: a
nacionalidade do autor da reclamação deve ser a do Estado, o esgotamento dos
recursos internos pela legislação interna do Estado que cometeu o ato lesivo, o autor
da reclamação deve ter conduta ilibada. 168
Existe ainda a proteção funcional, que é concedida por
organizações internacionais aos seus agentes que sofrem qualquer restrição à
prática de seus serviços. Essa proteção é diferente da diplomática, pois quem
exerce o direito é a organização internacional, com base em sua função e não com
base na nacionalidade do funcionário. 169
De acordo com Mello atualmente se sustenta que o Estado não
é responsável pelos atos de particulares, sejam nacionais ou estrangeiros,
cometidos no seu território. A responsabilidade não é automática, deriva da atitude
168
SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.288-289.
169 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.290.
54
do Estado, pois este tem a obrigação de cumprir com seus deveres: prevenir o ilícito
e o de reprimi-lo, pois é responsável por manter a ordem pública. 170
A responsabilidade internacional dos Estados no tocante ao
alto-mar se dá igualmente em relação aos atos ilícitos ou não proibidos e omissões,
praticados por particulares, funcionários públicos ou de organizações internacionais
ou ainda o próprio Estado. Exemplos destes casos seriam a pirataria, o ataque a
tropas ou a grupos nacionais ou ainda um Chefe de Estado, fazer propaganda
injuriosa, no caso de particulares, já no tocante aos atos de Estados, seriam atos ou
fatos praticados ou que não foram praticados, de efeito danoso, contra uma norma
aceita pela comunidade internacional como norma de Direito Internacional, ou contra
um outro Estado ou a súditos deste. Em relação a atos de funcionários públicos
No caso de navios, uma abordagem rápida, por se tratar de
responsabilidade civil, matéria de Direito Internacional Privado, no caso de colisão,
em águas territoriais vale a lei do lugar da colisão, já em alto-mar se submete a
diversos critérios de conexão, como a lei do pavilhão, por exemplo, sempre com as
limitações de ordem pública. Em muitos casos também se aplica, principalmente em
alto-mar a lei do foro ou a lex loci celebrationis (lei do lugar de celebração, no caso
de contratos) e as normas a serem aplicadas dependem das circunstâncias do caso
concreto que devem ser analisadas cuidadosamente. A responsabilidade do capitão
e do armador é ilimitada, de acordo com o Código Comercial de 1850 (art. 494). 171
No caso de derramamento de petróleo, causada por navios, a IMO é responsável
pela prevenção (inclusive com várias Convenções que tratam do assunto, como a de
Convenção Internacional de Nairóbi para Remoção de Ruínas, de 2007) e o país de
bandeira do navio é responsável pelo dano e sua reparação.172
A responsabilização decorrente de dano ambiental, é disposta
em alto-mar, na Convenção sobre Direito do Mar, no Anexo III, artigo 22 e na Seção
IX, em seu artigo 235, estabelecendo que os Estados devem zelar pelo cumprimento
170
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p.517. v.1.
171 STRENGER, Irineu. Responsabilidade civil no direito interno e internacional. 2.ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 291-293.
172 Organização Marítima Internacional. Disponível em: <http://www.imo.org/>. Acesso em 20 maio 2010.
55
das suas obrigações internacionais relativas à proteção e preservação do meio
marinho. Estes devem assegurar, através do direito interno, meios e recursos que
permitam obter uma reparação adequada de danos sofridos em áreas sob sua
jurisdição, podendo ser até uma indenização. Assim sendo, qualquer Estado que
faça parte da referida Convenção pode pedir a uma Organização Internacional que
informe o responsável pelo dano e o alcance dessa responsabilidade. 173
3.2 SOLUÇÕES PACÍFICAS DOS CONFLITOS
Os Estados podem tentar solucionar suas controvérsias antes
mesmo que as mesmas ponham em perigo a paz e a segurança da comunidade
internacional e sem a necessidade de apelar para a guerra. Existem diversos
processos, sejam pacíficos ou coercitivos, que podem resolver as diferenças entre
os litigantes e existem organizações internacionais ou de caráter regional que
estabelecem que os desentendimentos que por acaso surgirem devem ser
solucionados por meios pacíficos, sendo estes diplomáticos ou jurídicos. 174
As controvérsias internacionais podem ter diversas causas,
mas as jurídicas principalmente decorrem da violação de tratados ou convenções,
do desconhecimento por um Estado dos direitos do outro, da ofensa a princípios de
Direito Internacional e as políticas resultam de choque de interesses políticos ou
econômicos ou de ofensa à honra ou à dignidade de um Estado. 175
A Carta das Nações Unidas impõe em seu artigo 33 a
obrigação dos Estados de recorrerem à solução pacífica dos litígios. Se caso não
ocorra um acordo entre as partes litigantes, o próprio Conselho de Segurança da
173
PEREIRA, Luis César Ramos. Ensaio sobre a responsabilidade internacional do Estado e suas consequências no direito internacional: (a saga da responsabilidade internacional do Estado). São Paulo: LTr, 2000.p. 138-139.
174 ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p.315.
175 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 428.
56
ONU ex officio tomará as medidas cabíveis para que as partes em litígio o
resolvam.176
Antes, porém de se chegar à ONU, deve-se tentar resolver
internamente o litígio ou ainda por meio de entidades regionais, conforme artigo 52-2
da Carta da ONU. 177
Os modos pacíficos de solução dos conflitos, como
conseqüência da proibição do uso e ameaça do uso da força nas relações
internacionais tida como jus cogens, podem ser classificadas entre jurisdicionais e
não jurisdicionais.178
O conceito de conflito internacional é: 179
Todo desacordo, oposição ou divergência sobre certo ponto de direito ou de fato entre os sujeitos do direito internacional. Exprime-se pela existência de uma oposição de interesses entre as partes envolvidas e pela vontade das mesmas de solucionar, de qualquer maneira, o conflito.
3.3 SOLUÇÕES DIPLOMÁTICAS DOS CONFLITOS
Os modos diplomáticos de solução dos conflitos são: as
negociações diplomáticas, os bons ofícios, a mediação, o sistema consultivo, os
congressos e conferências.
A negociação, principalmente a feita diretamente entre as
partes é o meio usual e de melhores resultados na solução de divergências. Essas
negociações variam segundo a gravidade do problema, sendo que nos casos de
menos importância basta um entendimento verbal entre a missão diplomática e o
Ministério das Relações Exteriores local. As partes apresentam seu ponto de vista e
176
ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p.315.
177 HUSEK, Carlos Roberto. Curso de direito internacional público. p.182.
178 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.404.
179 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p.553.
57
assim ou desistem de sua pretensão total ou parcialmente, ou a vêem reconhecida
ou ainda há a possibilidade de as partes concordarem com concessões
recíprocas180.
Já nos mais graves a solução deverá ser alcançada mediante
entendimento entre os altos funcionários dos dois governos, que podem ser os
próprios Ministros das Relações Exteriores. 181
Os bons ofícios seriam um meio de solução de controvérsia de
maneira amistosa de uma terceira potência, ou de várias potências, no sentido de
levar os litigantes a um acordo. O(s) Estado(s) que aceitarem a oferta ou se
oferecerem os bons ofícios não tomam parte direta nas negociações, nem no acordo
a que possam chegar os litigantes. A recusa dos bons ofícios não constitui ato
inamistoso. Um exemplo de organismo que já atuou nesse sentido seria a Comissão
Interamericana de Paz, criada em Havana em 1940 por ocasião da 2ª Reunião de
Consulta. 182
A mediação consiste na interposição amistosa de um ou mais
Estados, entre outros Estados, para a solução pacífica de um litígio e é regulada
pelas Convenções de Haia (1899 e 1907). O mediatário não é juiz, não prolata
sentença, somente sugere opções que possam levar ao entendimento entre as
partes. 183 Na prática é difícil distingui-la dos bons ofícios, mas se limita a superar a
ruptura das relações internacionais entre os Estados litigantes. 184
A consulta pode ser definida como uma troca de opiniões entre
dois ou mais governos interessados direta ou indiretamente num litígio internacional,
no intuito de alcançarem uma conciliação para o caso. Primeiramente visava à
manutenção da paz no continente, porém após algumas ampliações adotadas na
180
ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p.317.
181 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 439-440.
182 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.440-441.
183 ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p.318.
184 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.442.
58
Conferência de Lima, se aplica a qualquer questão que justifique esse processo e
em cujo exame os Estados tenham interesse comum. Também proclamada na
ocasião da Conferência como processo de coordenação das vontades soberanas
das repúblicas americanas, para tornar efetiva a sua solidariedade. 185
Os congressos e conferências ocorrem quando a matéria em
litígio interessa a diversos Estados, daí a resolverem o assunto em conjunto, ou
quando se tem em vista a solução de inúmeras questões sobre as quais existem
divergências. Tendem atualmente a ser resolvidas na Assembléia Geral das Nações
Unidas, no Conselho Geral da ONU ou no caso de questões latino-americanas, na
Organização dos Estados Americanos, a OEA. 186
3.4 SOLUÇÕES JURÍDICAS DOS CONFLITOS
Decorre da necessidade de resolução de conflitos quando não
há acordo e as soluções seriam a arbitragem, as comissões de inquérito, a solução
judiciária, que seria a sujeição aos órgãos superiores na hierarquia da comunidade
internacional que agem nesse sentido, tal como a ONU com seu Conselho de
Segurança.
Segundo Mello a arbitragem pode ser definida como sendo: 187
“Aquele modo pacífico de solução de litígios internacionais por meio de juízes escolhidos pelas partes litigantes.”
A arbitragem de Direito Internacional Público, que é o objeto
deste subtítulo, se diferencia da arbitragem de Direito Internacional Privado, portanto
vamos nos limitar à primeira categoria.
185
SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.444.
186 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p.440.
187 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p.1441. v. 2.
59
O Ato de Genebra (1928) revisto pela Assembléia Geral da
ONU (1949) admite que qualquer litígio seja resolvido pela arbitragem, exceto
quando a cláusula do documento expressamente dispuser o contrário e nomear
algum órgão para o julgamento, tal como a CIJ.
A arbitragem é um dos institutos mais antigos, de origem
consuetudinária. Na Grécia já é encontrado em 3100 a.C. no tratado entre Eanatum
e os homens de Umma. 188
Charles Rousseau identificou através da análise histórica da
arbitragem, três tipos distintos:
a) A realizada por chefes de Estado – Comum no período
medieval, desapareceu com a Reforma. Porém essa modalidade continuou a ser
utilizada e os árbitros são os chefes de Estado, sem que haja um superior (“árbitro
natural”);
b) A realizada por comissões mistas – Iniciou-se no fim do
século XVIII. Era formada por dois membros, sendo um indicado pelas partes
litigantes. Depois é substituída por uma “comissão mista arbitral”, que era composta
por comissionários de número ímpar, com árbitro para desempate, geralmente
escolhido entre os nacionais de terceiro Estado.
c) A realizada por um Tribunal, que proveio do caso
Alabama (INGLATERRA x ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA). A maioria dos juízes
não é nacional das partes contratantes.
A última modalidade é a mais utilizada, e segundo MELLO a
mais desenvolvida. 189
A arbitragem não é obrigatória, sendo fundada na vontade das
partes. O processo arbitral é consagrado no compromisso arbitral, que nada mais é
que o acordo entre os litigantes. Da validade deste tratado depende a validade de 188
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p.1442. v. 2.
189 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p. 1444. v. 2.
60
toda a arbitragem. Apresenta as seguintes características: a) as partes fixam o
objeto do litígio; b) os árbitros são escolhidos; c) a decisão é obrigatória. 190
É um tratado internacional e está sujeito a todas as condições
de validade deste. O compromisso arbitral é uma cláusula que contém o que foi
acordado entre as partes (os requisitos que devem constar no compromisso estão
dispostos no artigo 52 da Convenção de Haia) 191 nas quais os juízes se
fundamentam para julgar, no caso de divergência na interpretação ou execução,
mas no silêncio deste prevalece o disposto no artigo 38 do Estatuto do CIJ ou as
regras previstas nas Convenções de Haia.
A decisão arbitral é passível de anulação, que deve ser
invocada pelas partes, mas ocorre somente no caso de violação de um princípio
fundamental do processo, erro na sentença ou corrupção de membro do tribunal. 192
A Corte Permanente de Arbitragem foi criada na 1ª Conferência
de Haia, na Holanda, em 1899, e revista na 2ª Conferência, em 1907 e sua
finalidade era tornar a arbitragem um tipo judicial. 193
Atualmente, predomina a arbitragem por tribunal, em que existe
pelo menos um membro estranho às partes litigantes. As comissões mistas
deixaram de ser utilizadas neste século, segundo ACCIOLY, pois eram formas
primitivas de arbitragem e sua esfera de atuação envolvia geralmente questões de
fronteiras ou reclamações de particulares sobre danos em seus bens. Não se devem
confundir estas comissões mistas, que são de execução de serviços de interesse
mútuo com as comissões mistas incumbidas de resolver controvérsias
internacionais194.
190
SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.408.
191 ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p. 328.
192 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. p.409-410.
193 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. p. 1451. v. 2.
194 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 442.
61
A partir de 1960, quando o Conselho Administrativo da Corte
Permanente de Arbitragem decidiu encorajar o uso das facilidades da Corte para
arbitragens entre Estados e sociedades comerciais, vêm-se falando em arbitragem
comercial, que foi regulamentada pela Convenção de 1958, na ONU, em Nova
Iorque, em 1961.
Na jurisdição internacional se distinguem vários órgãos, alguns
tidos como tribunais internacionais permanentes, tais como: a Corte Permanente de
Justiça Internacional (criada em 1919 como órgão autônomo da Liga das Nações e
encerrou suas atividades em 1940, prolatando nesse interstício 32 sentenças e
respondendo a 27 consultas) 195, a Corte Internacional de Justiça, também chamada
de “Corte Mundial”, atualmente considerado o principal órgão judiciário das Nações
Unidas (art. 92 da Carta da ONU) e funciona de acordo com um Estatuto
considerado parte da Carta da ONU, o Tribunal Criminal Internacional, a
Organização Mundial do Comércio (OMC) com seu órgão de Solução de
Controvérsias196, na jurisdição regional da Europa tem-se a Corte de Justiça da
União Européia, a Corte Européia de Direitos Humanos, a Corte da América Central
de Justiça, o Tribunal Internacional para o Direito do Mar, dentre outros.197
Nos artigos 33 e 36-2 do Estatuto da Carta das Nações Unidas,
faz-se mister evidenciar que esta dispõe que em qualquer fase o Conselho de
Segurança pode fazer recomendações para solucionar o conflito e as controvérsias
de caráter jurídico (aquela que visa a interpretar tratados, questões de Direito
Internacional, violações de compromissos internacionais, etc.) devem ser
submetidas à CIJ.198
As comissões de inquérito e conciliação seriam criadas para
facilitar soluções de litígios no caso de fatos controvertidos, por meio de uma
investigação imparcial e criteriosa. A criação dessas comissões se deu na Primeira
Conferência de Paz em Haia na Holanda e foi incluída na Convenção para a
195
ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p. 322.
196 VARELLA, Marcelo Dias. Direito internacional público. p. 370.
197 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p.569.
198 HUSEK, Carlos Roberto. Curso de direito internacional público. p.185.
62
Solução Pacífica dos Conflitos Internacionais em 1899. São quase sempre
compostas por cinco membros, dos quais cada parte indica dois deles e o quinto é
escolhido de comum acordo pelas partes litigantes. A função precípua dessas
comissões é investigar os fatos sobre os quais versa o litígio e apresentar conselhos
ou sugestões que permitam a conciliação nos pontos divergentes. Seu papel é
meramente consultivo e o método utilizado é o da persuasão. 199
3.5 SOLUÇÕES POLÍTICAS DOS CONFLITOS
Seriam as dadas pelas organizações internacionais, que no
exercício de suas funções podem ajudar a solucionar os conflitos. Os meios de
solução que podem ser aplicados seriam pacíficos ou coercitivos (pois estas
medidas forçam o adversário a solucionar o desacordo existente entre ambos)
políticos ou judiciários, visando eliminar a ameaça à paz e recuperá-la. A ONU, com
seu Conselho de Segurança bem como com a Assembléia Geral podem intervir nos
conflitos entre os Estados. O meio político seria através do Secretário-geral da ONU
e a solução pacífica seria feita pela Assembléia Geral por meio de bons ofícios ou
mediação em vários casos. 200
As formas coercitivas de solução seriam: retorsão, represálias,
embargo, bloqueio pacífico, boicotagem e rompimento das relações diplomáticas.
A retorsão é201:
“A medida de um Estado com o intuito de revidar de maneira idêntica a violência ou o prejuízo sofrido por outro Estado. As medidas são legítimas, pois decorrem do exercício da soberania do Estado, embora causem prejuízo aos demais e estes adotem processo idêntico para fazer retornar ao status quo ante.”
199
SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 450-452.
200 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p.568.
201 ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p. 333.
63
Um exemplo dessa forma de coerção seria quando um Estado
resolve elevar excessivamente as tarifas alfandegárias referentes a mercadorias
provenientes de determinado Estado ou ainda quando impede a entrada de navio
estrangeiro em seu território sem justificativa plausível. Um caso internacional que
ilustra essa situação seria o da antiga URSS que proibiu que suas instalações
militares fossem visitadas pelas forças armadas norte-americanas sediadas na
capital soviética fazendo com que os Estados Unidos adotassem medida idêntica em
relação não só aos militares soviéticos, mas também estendeu tal proibição aos
nacionais dos países dos Estados da chamada “cortina de ferro”. 202
A represália ocorre quando um Estado revida as ofensas ou
violências recebidas por outro Estado com medidas contrárias ao Direito das
Gentes, que devem ser proporcionais às ofensas recebidas e contra somente ao
Estado e não aos seus cidadãos. Seu conceito segundo o autor seria 203:
“São medidas coercitivas, derrogatórias das regras ordinárias do direito das gentes, tomadas por um Estado, em conseqüência de atos ilícitos praticados, em seu prejuízo, por outro Estado e destinadas a impor a este, por meio de um dano, o respeito do direito”.
Alguns requisitos devem ocorrer para se justificar o emprego
de tal medida, sendo eles: a) existência de um ato anterior contrário ao Direito
Internacional; b) impossibilidade ou esgotamento de emprego de outros meios de
solução; c) proporcionalidade entre a ação sofrida e a ação empregada; d) tentativa
anterior de obter satisfação, reparação para o Estado violador. 204
Um exemplo seria romper relações diplomáticas, reter os
navios do Estado que se encontram ancorados em seus portos, etc. As represálias
podem ser negativas (quando um Estado se nega a cumprir uma obrigação ou
202
ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p. 333.
203 GADELHA, Paulo. Teoria jurídica dos conflitos internacionais. In: Revista Eletrônica da Escola de Magistratura Federal da 5ª Região – ESMAFE. n. 4. Recife, 2002. p. 46. Disponível em: <http://www.trf5.jus.br/documento/?arquivo=Teoria+juridica.pdf&tipo=p11>. Acesso em 20 maio 2010.
204 HUSEK, Carlos Roberto. Curso de direito internacional público. p.187.
64
executa atos que lhe são proibidos) ou positivas (quando um Estado se apodera de
pessoas e bens do Estado com quem está em discordância). 205
A principal diferença entre represália e retorsão é que a
primeira é mais grave por decorrer de ato ilícito do Estado, já a segunda é motivada
por um ato que o Direito não proíbe ao Estado estrangeiro. 206
Na prática internacional, existem ainda as contramedidas que
seriam atos de retaliação, ou represália, feitos pelo Estado ofendido que deixou de
obedecer às obrigações para com o Estado responsável pelo ato ilícito cometido, a
fim de induzi-lo a obedecer a suas obrigações. São proibidas algumas práticas
nesse sentido, que seriam: a ameaça ou o uso de força, a coerção econômica ou de
política externa que arrisquem a integridade territorial ou a independência política do
Estado infrator, qualquer conduta que infrinja a inviolabilidade de agentes
diplomáticos ou consulares, premissas, arquivos e documentos, bem como qualquer
outra conduta considerada contravenção em Direito Internacional. 207
O embargo consiste na imobilização de navios de comércio
estrangeiro para fazer pressão sobre o Estado. Um exemplo seria em tempos de faz,
o Estado efetuar o seqüestro de navios mercantes de um Estado estrangeiro
ancorados em seus portos ou em suas águas territoriais com o objetivo de protestar
contra um ato nocivo ao direito e que foi praticado por aquele Estado. 208
Não se deve confundir este embargo com o “embargo do
príncipe” (proibição por questões sanitárias, judiciais ou de polícia da saída de
navios fundeados em um porto do Estado que adota a referida medida) nem com o
direito de angária (que seria a requisição por parte de um Estado dos navios
mercantes estrangeiros baseados em seus portos para que transportem soldados,
armas ou munições, mediante pagamento, sendo que em tempos de guerra os
205
ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p. 333-334.
206 ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p. 334.
207 JO, Hee Moon. Introdução ao direito internacional. p.452-453.
208 ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p. 335.
65
neutros podem se utilizar desse direito sobre os navios mercantes dos beligerantes
que se encontrarem em seu território). 209
O bloqueio pacífico seria o impedimento em tempos de paz,
por meio de belonaves (navios de guerra), que um Estado mantenha suas
comunicações com os demais Estados. Segundo o autor é bastante controvertida a
legitimidade dessa ação perante os juristas, pois a ONU proíbe o uso de força nas
relações internacionais. Um exemplo desse caso ocorreu no Brasil entre 1862 a
1863 quando navios britânicos bloquearam o porto do Rio de Janeiro e aprisionaram
navios mercantes visando obter reparação contra supostos ilícitos que o nosso
governo teria praticado quando do naufrágio do navio “Prince of Wales”. 210
A boicotagem é a suspensão, interrupção ou até a proibição de
serem adquiridas mercadorias ou serem mantidas relações comerciais de um Estado
que violou as regras de Direito Internacional ou que causou prejuízos aos interesses
de um Estado ou de seus nacionais. 211
Encontra-se previsto no artigo 16 do Pacto da Liga das Nações
e no artigo 41 da Carta das Nações Unidas como medida coercitiva legítima. Este
recurso, a boicotagem, pode ser feito por ato oficial do governo ou obra de meros
particulares. Geralmente diz-se que neste caso de atos de particulares não acarreta
responsabilidade ao Estado, mas há uma discussão entre alguns autores de que se
forem atos em que participarem direta ou indiretamente funcionários ou agentes do
Estado, este pode vir a ser responsabilizado ou que os atos de particulares se
dividem entre boicotagem voluntária (ato legítimo, não acarretando
responsabilização do Estado) e compulsória (ato ilegítimo pelo qual o Estado pode
responder). 212
A ruptura das relações diplomáticas é uma cessação
temporária das relações oficiais entre dois Estados resultante da violação dos
209
ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p. 335.
210 ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p. 336.
211 ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p. 336.
212 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 458.
66
direitos de um dos Estados ocasionado pelo outro Estado. É um meio de pressão a
fim de modificar atitude ou chegar a um acordo e se encontra no artigo 41 da Carta
das Nações Unidas. 213
O rompimento de relações diplomáticas acontece quando se
atinge um ponto extremo entre os Estados litigantes, podendo ocorrer com a entrega
de passaportes, a retirada dos diplomatas e da missão do Estado culpado. 214
As relações deixam de existir quando deixar de ter o elemento
consentimento mútuo disposto no artigo 2º da Convenção de Viena. Um exemplo
seria o rompimento dos EUA com Cuba, encarregando a Suíça de resolver seus
interesses em Havana. 215
Caso os meios supracitados não sejam suficientes para
solucionar os problemas criados na sociedade internacional, o Conselho de
Segurança da ONU é o responsável pela solução, que pode ser inclusive militar,
conforme artigo 44 da Carta da ONU. 216
Se todas as alternativas anteriores de resolução de conflitos
não surtirem efeitos positivos que caminhem em direção a um acordo as
divergências são levadas a uma última possibilidade, a guerra.
Neste capítulo foram abordados os tipos de responsabilidade,
bem como suas características, seus agentes e suas conseqüências. Também foi
exposta a solução dos conflitos internacionais, sejam eles diplomáticos, jurídicos ou
políticos, com o objetivo de fazer respeitar seus direitos e cumprir os deveres nas
relações internacionais. A conexão deste capítulo com o tema escolhido advém da
necessidade de se explicitar como se resolveriam os conflitos ocorridos no mar, que
seriam pelos meios acima elencados caso a controvérsia seja passível de acordo ou
213
SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. p. 459.
214 ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. p. 336.
215 SEINTENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Introdução ao Direito Internacional Público. p. 136.
216 HUSEK, Carlos Roberto. Curso de direito internacional público. p.188-189.
67
ainda pelo Tribunal Internacional do Mar no caso de necessidade de intervenção no
litígio.
68
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os objetivos do presente estudo foram cumpridos,
principalmente o objetivo institucional que seria a produção de monografia para
obtenção do título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI.
Foram igualmente cumpridos os objetivos investigatórios, que
seriam investigar o alto-mar em seus aspectos gerais e específicos, demonstrar os
direitos e deveres dos Estados pelo estudo da liberdade dos mares, examinar a
responsabilidade internacional do Estado, reunir a legislação e dos Tratados
Internacionais acerca do tema bem como desvendar os métodos de solução dos
conflitos de âmbito internacional.
O tema foi escolhido pela curiosidade em relação ao mar, sua
delimitação e natureza jurídica e a responsabilidade dos Estados em alto-mar e
também pelo interesse na área de Direito Internacional Público.
A primeira hipótese foi confirmada, pois há grande quantidade
de tratados e convenções internacionais reguladores de vários temas de Direito
Internacional, tanto em relação ao mar territorial, à zona de pesca, à zona
econômica exclusiva, quanto especificamente em relação ao alto-mar, que seriam as
Convenções de Genebra de 1958 e a de Montego Bay de 1982 e o Brasil é
signatário de várias Convenções que regulam temas como o alto-mar onde a
legislação é omissa ou insuficiente.
A segunda hipótese também foi confirmada, pois o alto-mar é
regulado pelas normas de Direito Internacional e os Estados têm direitos e deveres
no mar, por exemplo, o direito de passagem pelo litoral de outro Estado, mas que
deve ser feita de forma pacífica e contínua, de modo a não interferir no exercício da
soberania do Estado litorâneo.
69
A terceira hipótese foi confirmada, devido à responsabilização
dos Estados decorrentes de atos de particulares ou de pessoas em exercício da
função ou até mesmo por demora na resposta do próprio Estado em agir, e em
casos de conflitos internacionais, a busca pela solução deve se dar de modo
pacífico, diplomático, para evitar reprimendas maiores e prejudiciais ou até guerras.
O presente estudo demonstra a grandiosidade dos interesses
no mar, a variedade dos institutos que nele se encontram bem como os diversos
órgãos reguladores dos acontecimentos no mar. Importante ressaltar que cada vez
mais o mar será cobiçado, tanto pelas riquezas quanto pelas oportunidades que
proporciona pela navegação, pela exploração, pela troca entre os países, sendo
assim o Direito do Mar tende a ser cada vez mais valorizado.
70
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ANEXOS
DECRETO Nº 1.530, DE 22 DE JUNHO DE 1995
Declara a entrada em vigor da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito
do Mar, concluída em Montego Bay, Jamaica, em 10 de dezembro de 1982.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art.
84, inciso VIII, da Constituição, e
Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto
Legislativo nº 5, de 9 de novembro de 1987, a Convenção das Nações Unidas sobre
o Direito do Mar, concluída em Montego Bay, Jamaica, em 10 de dezembro de 1982;
Considerando que o Governo brasileiro ratificou a referida Convenção em 22
de dezembro de 1988;
DECRETA:
Art. 1º Fica declarado que a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do
Mar, concluída em Montego Bay, Jamaica, em 10 de dezembro de 1982, entrou em
vigor internacional e para o Brasil em 16 de novembro de 1994, de conformidade
com o seu art. 308, parágrafo 1.
Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 22 de junho de 1995; 174º da Independência e 107º da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Luiz Felipe Lampreia
75
CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR
Os Estados Partes nesta Convenção:
Animados do desejo de solucionar, num espírito de compreensão e cooperação
mútuas, todas as questões relativas ao direito do mar e conscientes do significado
histórico desta Convenção como importante contribuição para a manutenção da paz,
da justiça e do progresso de todos os povos do mundo;
Verificando que os fatos ocorridos desde as Conferências das Nações Unidas sobre
o Direito do Mar, realizadas em Genebra em 1958 e 1960, acentuaram a
necessidade de uma nova convenção sobre o direito do mar de aceitação geral;
Conscientes de que os problemas do espaço oceânico estão estreitamente inter-
relacionados e devem ser considerados como um todo;
Reconhecendo a conveniência de estabelecer por meio desta Convenção, com a
devida consideração pela soberania de todos os Estados, uma ordem jurídica para
os mares e oceanos que facilite as comunicações internacionais e promova os usos
pacíficos dos mares e oceanos, a utilização equitativa e eficiente dos seus recursos,
a conservação dos recursos vivos e o estudo, a proteção e a preservação do meio
marinho;
Tendo presente que a consecução destes objetivos contribuirá para o
estabelecimento de uma ordem econômica internacional justa e equitativa que tenha
em conta os interesses e as necessidades da humanidade, em geral, e, em
particular, os interesses e as necessidades especiais dos países em
desenvolvimento, quer costeiros quer sem litoral;
Desejando desenvolver pela presente Convenção os princípios consagrados na
Resolução n.º 2749 (XXV), de 17 de Dezembro de 1970, na qual a Assembléia Geral
76
das Nações Unidas declarou solenemente, inter alia, que os fundos marinhos e
oceânicos e o seu subsolo para além dos limites da jurisdição nacional, bem como
os respectivos recursos, são patrimônio comum da humanidade e que a exploração
e o aproveitamento dos mesmos fundos serão feitos em benefício da humanidade
em geral, independentemente da situação geográfica dos Estados;
Convencidos de que a codificação e o desenvolvimento progressivo do direito do
mar alcançados na presente Convenção contribuirão para o fortalecimento da paz,
da segurança, da cooperação e das relações de amizade entre todas as nações, de
conformidade com os princípios de justiça e igualdade de direitos, e promoverão o
progresso econômico e social de todos os povos do mundo, de acordo com os
propósitos e princípios das Nações Unidas, tais como enunciados na Carta;
Afirmando que as matérias não reguladas pela presente Convenção continuarão a
ser regidas pelas normas e princípios do direito internacional geral;
Acordam o seguinte:
PARTE I Introdução
Artigo 1.º Termos utilizados e âmbito de aplicação 1 - Para efeitos da presente Convenção:
1) «Área» significa o leito do mar, os fundos marinhos e o seu subsolo além dos
limites da jurisdição nacional;
2) «Autoridade» significa a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos;
3) «Atividade na área» significa todas as atividades de exploração e aproveitamento
dos recursos na área;
4) «Poluição do meio marinho» significa a introdução pelo homem, direta ou
77
indiretamente, de substâncias ou de energia no meio marinho, incluindo os
estuários, sempre que a mesma provoque ou possa vir a provocar efeitos nocivos,
tais como danos aos recursos vivos e à vida marinha, riscos à saúde do homem,
entrave às atividades marítimas, incluindo a pesca e as outras utilizações legítimas
do mar, alteração da qualidade da água do mar, no que se refere à sua utilização e
deterioração dos locais de recreio;
5) «Estados Partes» significa os Estados que tenham consentido em ficar obrigados
pela Convenção e em relação aos quais a Convenção esteja em vigor.
6) A Convenção aplica-se mutatis mutandis às entidades mencionadas nas alíneas
b), c), d), e) e f) do n.º 1 do artigo 305.º que se tenham tornado Partes na presente
Convenção de conformidade com as condições relativas a cada uma delas e, nessa
medida, a expressão «Estados Partes» compreende essas entidades.
PARTE II
Mar territorial e zona contígua
SECÇÃO 1
Disposições gerais Artigo 2.º
Regime jurídico do mar territorial, seu espaço aéreo sobrejacente, leito e subsolo.
1 - A soberania do Estado costeiro estende-se além do seu território e das suas
águas interiores e, no caso de Estado arquipélago, das suas águas arquipelágicas, a
uma zona de mar adjacente designada pelo nome de mar territorial.
2 - Esta soberania estende-se ao espaço aéreo sobrejacente ao mar territorial, bem
como ao leito e ao subsolo deste mar.
3 - A soberania sobre o mar territorial é exercida de conformidade com a presente
Convenção e as demais normas de direito internacional.
78
SECÇÃO 2
Limites do mar territorial Artigo 3.º Largura do mar territorial
Todo o Estado tem o direito de fixar a largura do seu mar territorial até um limite que
não ultrapasse 12 milhas marítimas, medidas a partir de linhas de base
determinadas de conformidade com a presente Convenção.
Artigo 4.º Limite exterior do mar territorial
O limite exterior do mar territorial é definido por uma linha em que cada um dos
pontos fica a uma distância do ponto mais próximo da linha de base igual à largura
do mar territorial.
Artigo 5.º Linha de base normal
Salvo disposição em contrário da presente Convenção, a linha de base normal para
medir a largura do mar territorial é a linha da baixa-mar ao longo da costa, tal como
indicada nas cartas marítimas de grande escala, reconhecidas oficialmente pelo
Estado costeiro.
Artigo 6.º Recifes
No caso de ilhas situadas em atóis ou de ilhas que têm cadeias de recifes, a linha de
base para medir a largura do mar territorial é a linha de baixa-mar do recife que se
encontra do lado do mar, tal como indicada por símbolo apropriado nas cartas
reconhecidas oficialmente pelo Estado costeiro.
Artigo 7.º Linhas de base retas
79
1 - Nos locais em que a costa apresente recortes profundos e reentrâncias ou em
que exista uma franja de ilhas ao longo da costa na sua proximidade imediata, pode
ser adotado o método das linhas de base retas que unam os pontos apropriados
para traçar a linha de base a partir da qual se mede a largura do mar territorial.
2 - Nos locais em que, devido à existência de um delta e de outros acidentes
naturais, a linha da costa seja muito instável, os pontos apropriados podem ser
escolhidos ao longo da linha de baixa-mar mais avançada em direção ao mar e,
mesmo que a linha de baixa-mar retroceda posteriormente, essas linhas de base
retas continuarão em vigor até que o Estado costeiro as modifique de conformidade
com a presente Convenção.
3 - O traçado dessas linhas de base retas não deve afastar-se consideravelmente da
direção geral da costa e as zonas de mar situadas dentro dessas linhas devem estar
suficientemente vinculadas ao domínio terrestre para ficarem submetidas ao regime
das águas interiores.
4 - As linhas de base retas não serão traçadas em direção aos baixios que emergem
na baixa-mar, nem a partir deles, a não ser que sobre os mesmos se tenham
construído faróis ou instalações análogas que estejam permanentemente acima do
nível do mar, ou a não ser que o traçado de tais linhas de base retas até àqueles
baixios ou a partir destes tenha sido objeto de reconhecimento internacional geral.
5 - Nos casos em que o método das linhas de base ritos for aplicável, nos termos do
parágrafo 1, poder-se-á ter em conta, ao traçar determinadas linhas de base, os
interesses econômicos próprios da região de que se trate, cuja realidade e
importância estejam claramente demonstradas por uso prolongado.
6 - O sistema de linhas de base retas não poderá ser aplicado por um Estado de
modo a separar o mar territorial de outro Estado do alto mar ou de uma zona
econômica exclusiva.
Artigo 8.º
80
Águas interiores
1 - Excetuando o disposto na parte IV, as águas situadas no interior da linha de base
do mar territorial fazem parte das águas interiores do Estado.
2 - Quando o traçado de uma linha de base reta, de conformidade com o método
estabelecido no artigo 7.º, encerrar, como águas interiores, águas que anteriormente
não eram consideradas como tais, aplicar-se-á a essas águas o direito de passagem
inofensiva, de acordo com o estabelecido na presente Convenção.
Artigo 12.º Ancoradouros
Os ancoradouros utilizados habitualmente para carga, descarga e fundeio de navios,
os quais estariam normalmente situados, inteira ou parcialmente, fora do traçado
geral do limite exterior do mar territorial, são considerados como fazendo parte do
mar territorial.
Artigo 14.º
Combinação de métodos para determinar as linhas de base
O Estado costeiro poderá, segundo as circunstâncias, determinar as linhas de base
por meio de qualquer dos métodos estabelecidos nos artigos precedentes.
Artigo 15.º
Delimitação do mar territorial entre Estados com costas adjacentes ou situadas
frente a frente
Quando as costas de dois Estados são adjacentes ou se encontram situadas frente
a frente, nenhum desses Estados tem o direito, salvo acordo de ambos em contrário,
de estender o seu mar territorial além da linha mediana cujos pontos são
equidistantes dos pontos mais próximos das linhas de base, a partir das quais se
mede a largura do mar territorial de cada um desses Estados. Contudo, este artigo
não se aplica quando, por motivo da existência de títulos históricos ou de outras
81
circunstâncias especiais, for necessário delimitar o mar territorial dos dois Estados
de forma diferente.
SECÇÃO 3
Passagem inofensiva pelo mar territorial
SUBSECÇÃO A
Normas aplicáveis a todos os navios
Artigo 17.º Direito de passagem inofensiva
Salvo disposição em contrário da presente Convenção, os navios de qualquer
Estado, costeiro ou sem litoral, gozarão do direito de passagem inofensiva pelo mar
territorial.
Artigo 18.º Significado de passagem
1 - «Passagem» significa a navegação pelo mar territorial com o fim de:
a) Atravessar esse mar sem penetrar nas águas interiores nem fazer escala num
ancoradouro ou instalação portuária situada fora das águas interiores;
b) Dirigir-se para as águas interiores ou delas sair ou fazer escala num desses
ancoradouros ou instalações portuárias.
2 - A passagem deverá ser contínua e rápida. No entanto, a passagem compreende
o parar e o fundear, mas apenas na medida em que os mesmos constituam
incidentes comuns de navegação ou sejam impostos por motivos de força maior ou
por dificuldade grave ou tenham por fim prestar auxílio a pessoas, navios ou
aeronaves em perigo ou em dificuldade grave.
Artigo 19.º
82
Significado de passagem inofensiva
1 - A passagem é inofensiva desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à
segurança do Estado costeiro. A passagem deve efetuar-se de conformidade com a
presente Convenção e demais normas de direito internacional.
2 - A passagem de um navio estrangeiro será considerada prejudicial à paz, à boa
ordem ou à segurança do Estado costeiro, se esse navio realizar, no mar territorial,
alguma das seguintes atividades:
a) Qualquer ameaça ou uso da força contra a soberania, a integridade territorial ou a
independência política do Estado costeiro ou qualquer outra ação em violação dos
princípios de direito internacional enunciados na Carta das Nações Unidas;
b) Qualquer exercício ou manobra com armas de qualquer tipo;
c) Qualquer ato destinado a obter informações em prejuízo da defesa ou da
segurança do Estado costeiro;
d) Qualquer ato de propaganda destinado a atentar contra a defesa ou a segurança
do Estado costeiro;
e) O lançamento, pouso ou recebimento a bordo de qualquer aeronave;
f) O lançamento, pouso ou recebimento a bordo de qualquer dispositivo militar;
g) O embarque ou desembarque de qualquer produto, moeda ou pessoa com
violação das leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários do
Estado costeiro;
h) Qualquer ato intencional e grave de poluição contrário à presente Convenção;
i) Qualquer atividade de pesca;
83
j) A realização de atividades de investigação ou de levantamentos hidrográficos;
k) Qualquer ato destinado a perturbar quaisquer sistemas de comunicação ou
quaisquer outros serviços ou instalações do Estado costeiro;
l) Qualquer outra atividade que não esteja diretamente relacionada com a
passagem.
Artigo 20.º Submarinos e outros veículos submersíveis
No mar territorial, os submarinos e quaisquer outros veículos submersíveis devem
navegar à superfície e arvorar a sua bandeira.
Artigo 21.º Leis e regulamentos do Estado costeiro relativos à passagem inofensiva
1 - O Estado costeiro pode adotar leis e regulamentos, de conformidade com as
disposições da presente Convenção e demais normas de direito internacional,
relativos à passagem inofensiva pelo mar territorial sobre todas ou alguma das
seguintes matérias:
a) Segurança da navegação e regulamentação do tráfego marítimo;
b) Proteção das instalações e dos sistemas de auxílio à navegação e de outros
serviços ou instalações;
c) Proteção de cabos e ductos;
d) Conservação dos recursos vivos do mar;
e) Prevenção de infrações às leis e regulamentos sobre pesca do Estado costeiro;
84
f) Preservação do meio ambiente do Estado costeiro e prevenção, redução e
controle da sua poluição;
g) Investigação científica marinha e levantamentos hidrográficos;
h) Prevenção das infrações às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração
ou sanitários do Estado costeiro.
2 - Tais leis e regulamentos não serão aplicados ao projeto, construção, tripulação
ou equipamentos de navios estrangeiros, a não ser que se destinem a aplicação de
regras ou normas internacionais geralmente aceites.
3 - O Estado costeiro dará a devida publicidade a todas estas leis e regulamentos.
4 - Os navios estrangeiros que exerçam o direito de passagem inofensiva pelo mar
territorial deverão observar todas essas leis e regulamentos, bem como todas as
normas internacionais geralmente aceitos em relação das com a prevenção de
abalroamentos no mar.
Artigo 22.º Rotas marítimas e sistemas de separação de tráfego no mar territorial
1 - O Estado costeiro pode, quando for necessário à segurança da navegação, exigir
que os navios estrangeiros que exerçam o direito de passagem inofensiva pelo seu
mar territorial utilizem as rotas marítimas e os sistemas de separação de tráfego que
esse Estado tenha designado ou prescrito para a regulação da passagem de navios.
2 - Em particular, pode ser exigido que os navios-tanques, os navios de propulsão
nuclear e outros navios que transportem substâncias ou materiais radioativos ou
outros produtos intrinsecamente perigosos ou nocivos utilizem unicamente essas
rotas marítimas.
85
3 - Ao designar as rotas marítimas e ao prescrever sistemas de separação de
tráfego, nos termos do presente artigo, o Estado costeiro terá em conta:
a) As recomendações da organização internacional competente;
b) Quaisquer canais que se utilizem habitualmente para a navegação internacional;
c) As características especiais de determinados navios e canais;
d) A densidade de tráfego.
4 - O Estado costeiro indicará claramente tais rotas marítimas e sistemas de
separação de tráfego em cartas marítimas a que dará a devida publicidade.
Artigo 24.º Deveres do Estado costeiro
1 - O Estado costeiro não deve pôr dificuldades à passagem inofensiva de navios
estrangeiros pelo mar territorial, a não ser de conformidade com a presente
Convenção. Em especial, na aplicação da presente Convenção ou de quaisquer leis
e regulamentos adotados de conformidade com a presente Convenção, o Estado
costeiro não deve:
a) Impor aos navios estrangeiros obrigações que tenham na prática o efeito de negar
ou dificultar o direito de passagem inofensiva; ou
b) Fazer discriminação de direito ou de fato contra navios de determinado Estado ou
contra navios que transportem cargas provenientes de determinado Estado ou a ele
destinadas ou por conta de determinado Estado.
2 - O Estado costeiro dará a devida publicidade a qualquer perigo de que tenha
conhecimento e que ameace a navegação no seu mar territorial.
Artigo 25.º
86
Direitos de proteção do Estado costeiro
1 - O Estado costeiro pode tomar, no seu mar territorial, as medidas necessárias
para impedir toda a passagem que não seja inofensiva.
2 - No caso de navios que se dirijam a águas interiores ou a escala numa instalação
portuária situada fora das águas interiores, o Estado costeiro tem igualmente o
direito de adotar as medidas necessárias para impedir qualquer violação das
condições a que está sujeita a admissão desse navios nessas águas interiores ou
nessa instalação portuária.
3 - O Estado costeiro pode, sem fazer discriminação de direito ou de fato entre
navios estrangeiros, suspender temporariamente em determinadas áreas do seu
mar territorial o exercício do direito de passagem inofensiva dos navios estrangeiros,
se esta medida for indispensável para proteger a sua segurança, entre outras, para
lhe permitir proceder a exercícios com armas. Tal suspensão só produzirá efeito
depois de ter sido devidamente tornada pública.
Artigo 28.º Jurisdição civil em relação a navios estrangeiros
1 - O Estado costeiro não deve parar nem desviar da sua rota um navio estrangeiro
que passe pelo mar territorial, a fim de exercer a sua jurisdição civil em relação a
uma pessoa que se encontre a bordo.
2 - O Estado costeiro não pode tomar contra esse navio medidas executórias ou
medidas cautelares em matéria civil, a não ser que essas medidas sejam tomadas
por força de obrigações assumidas pelo navio ou de responsabilidades em que o
mesmo haja incorrido durante a navegação ou devido a esta quando da sua
passagem pelas águas do Estado costeiro.
3 - O parágrafo precedente não prejudica o direito do Estado costeiro de tomar, em
relação a um navio estrangeiro que se detenha no mar territorial ou por ele passe
87
procedente das águas interiores, medidas executórias ou medidas cautelares em
matéria civil conforme o seu direito interno.
SUBSECÇÃO C
Normas aplicáveis a navios de guerra e a outros navios de Estado utilizados para
fins não comerciais
Artigo 29. Definição de navios de guerra
Para efeitos da presente Convenção, «navio de guerra» significa qualquer navio
pertencente às forças armadas de um Estado, que ostente sinais exteriores próprios
de navios de guerra da sua nacionalidade, sob o comando de um oficial
devidamente designado pelo Estado cujo nome figure na correspondente lista de
oficiais ou seu equivalente e cuja tripulação esteja submetida às regras da disciplina
militar.
Artigo 30.º
Não cumprimento das leis e regulamentos do Estado costeiro pelos navios de guerra
Se um navio de guerra não cumprir as leis e regulamentos do Estado costeiro
relativos à passagem pelo mar territorial e não acatar o pedido que lhe for feito para
o seu cumprimento, o Estado costeiro pode exigir-lhe que saia imediatamente do
mar territorial.
Artigo 31.º
Responsabilidade do Estado de bandeira por danos causados por navio de guerra
ou outro navio de Estado utilizado para fins não comerciais.
Caberá ao Estado de bandeira a responsabilidade internacional por qualquer perda
ou dano causado ao Estado costeiro resultante do não cumprimento por um navio de
guerra ou outro navio de Estado utilizado para fins não comerciais das leis e
88
regulamentos do Estado costeiro relativos à passagem pelo mar territorial ou das
disposições da presente Convenção ou demais normas de direito internacional.
Artigo 32.º
Imunidades dos navios de guerra e de outros navios de Estado utilizados para fins
não comerciais
Com as exceções previstas na subsecção A e nos artigos 30.º e 31.º, nenhuma
disposição da presente Convenção afetará as imunidades dos navios de guerra e
outros navios de Estado utilizados para fins não comerciais.
SECÇÃO 4
Zona contígua Artigo 33.º Zona contígua
1 - Numa zona contígua ao seu mar territorial, denominada «zona contígua», o
Estado costeiro pode tomar as medidas de fiscalização necessárias a:
a) Evitar as infrações às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou
sanitários no seu território ou no seu mar territorial;
b) Reprimir as infrações às leis e regulamentos no seu território ou no seu mar
territorial.
2 - A zona contígua não pode estender-se além de 24 milhas marítimas, contadas a
partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial.
PARTE III
89
Estreitos utilizados para a navegação internacional
SECÇÃO 1
Disposições gerais
Artigo 34.º
Regime jurídico das águas que formam os estreitos utilizados para a navegação
internacional
1 - O regime de passagem pelos estreitos utilizados para a navegação internacional
estabelecido na presente parte não afetará, noutros aspectos, o regime jurídico das
águas que formam esses estreitos, nem o exercício, pelos Estados ribeirinhos do
estreito, da sua soberania ou da sua jurisdição sobre essas águas, seu espaço
aéreo sobrejacente, leito e subsolo.
2 - A soberania ou a jurisdição dos Estados ribeirinhos do estreito é exercida de
conformidade com a presente parte e as demais normas de direito internacional.
Artigo 35.º Âmbito de aplicação da presente parte Nenhuma das disposições da presente parte afeta:
a) Qualquer área das águas interiores situadas num estreito, exceto quando o
traçado de uma linha de base reta, de conformidade com o método estabelecido no
artigo 7.º, tiver o efeito de englobar nas águas interiores áreas que anteriormente
não eram consideradas como tais;
b) O regime jurídico das águas situadas além do mar territorial dos Estados
ribeirinhos de um estreito como zonas econômicas exclusivas ou do alto mar; ou
c) O regime jurídico dos estreitos em que a passagem esteja regulamentada, total ou
parcialmente, por convenções internacionais de longa data em vigor que a eles se
refiram especificamente.
90
Artigo 36.º
Rotas de alto mar ou rotas que atravessem uma zona econômica exclusiva através
de estreitos utilizados para a navegação internacional.
A presente parte não se aplica a um estreito utilizado para a navegação
internacional se por esse estreito passar uma rota de alto mar ou uma rota que
atravesse uma zona econômica exclusiva, igualmente convenientes pelas suas
características hidrográficas e de navegação; em tais rotas aplicam-se as outras
partes pertinentes da Convenção, incluindo as disposições relativas à liberdade de
navegação e sobrevôo.
SECÇÃO 2
Passagem em trânsito Artigo 37.º Âmbito de aplicação da presente secção
A presente secção aplica-se a estreitos utilizados para a navegação internacional
entre uma parte do alto mar ou uma zona econômica exclusiva e uma outra parte do
alto mar ou uma zona econômica exclusiva.
Artigo 38.º Direito de passagem em trânsito
1 - Nos estreitos a que se refere o artigo 37.º, todos os navios e aeronaves gozam
do direito de passagem em trânsito que não será impedido a não ser que o estreito
seja formado por uma ilha de um Estado ribeirinho desse estreito e o seu território
continental e do outro lado da ilha exista uma rota de alto mar ou uma rota que
passe por uma zona econômica exclusiva, igualmente convenientes pelas suas
características hidrográficas e de navegação.
91
2 - «Passagem em trânsito» significa o exercício, de conformidade com a presente
parte, da liberdade de navegação e sobrevôo exclusivamente para fins de trânsito
contínuo e rápido pelo estreito entre uma parte do alto mar ou de uma zona
econômica exclusiva e uma outra parte do alto mar ou uma zona econômica
exclusiva. Contudo, a exigência de trânsito contínuo e rápido não impede a
passagem pelo estreito para entrar no território do Estado ribeirinho ou dele sair ou a
ele regressar sujeito às condições que regem a entrada no território desse Estado.
3 - Qualquer atividade que não constitua um exercício do direito de passagem em
trânsito por um estreito fica sujeita às demais disposições aplicáveis da presente
Convenção.
Artigo 39.º Deveres dos navios e aeronaves durante a passagem em trânsito
1 - Ao exercer o direito de passagem em trânsito, os navios e aeronaves devem:
a) Atravessar ou sobrevoar o estreito sem demora;
b) Abster-se de qualquer ameaça ou uso de força contra a soberania, a
integridade territorial ou a independência política dos Estados ribeirinhos do
estreito ou de qualquer outra ação contrária aos princípios de direito
internacional enunciados na Carta das Nações Unidas;
c) Abster-se de qualquer atividade que não esteja relacionada com as
modalidades normais de trânsito contínuo e rápido, salvo em caso de força
maior ou de dificuldade grave;
d) Cumprir as demais disposições pertinentes da presente parte.
2 - Os navios de passagem em trânsito devem:
a) Cumprir os regulamentos, procedimentos e práticas internacionais de
92
segurança no mar geralmente aceites, inclusive as Regras Internacionais para a
Prevenção de Abalroamentos no Mar;
b) Cumprir os regulamentos, procedimentos e práticas internacionais geralmente
aceites para a prevenção, a redução e a controlo da poluição proveniente de
navios.
3 - As aeronaves de passagem em trânsito devem:
a) Observar as Normas de Trânsito Aéreo estabelecidas pela Organização da
Aviação Civil Internacional aplicáveis às aeronaves civis; as aeronaves do Estado
cumprirão normalmente essas medidas de segurança e agirão sempre tendo em
conta a segurança da navegação;
b) Manter sempre sintonizada a radiofrequência atribuída pela autoridade
competente de controlo de tráfego áereo designada internacionalmente ou a
correspondente radiofrequência internacional de socorro.
Artigo 40.º Atividades de investigação e levantamentos hidrográficos
Durante a passagem em trânsito pelos estreitos, os navios estrangeiros,
incluindo navios de investigação científica marinha e navios hidrográficos, não
podem efetuar quaisquer atividades de investigação ou de levantamentos
hidrográficos sem autorização prévia dos Estados ribeirinhos dos estreitos.
Artigo 41.º
Rotas marítimas e sistemas de separação de tráfego em estreitos utilizados para
a navegação internacional
1 - Os Estados ribeirinhos de estreitos podem, de conformidade com a
disposição da presente parte, designar rotas marítimas e estabelecer sistemas
93
de separação de tráfego para a navegação pelos estreitos, sempre que a
segurança da passagem dos navios o exija.
2 - Tais Estados podem, quando as circunstâncias o exijam e após terem dado a
devida publicidade a esta medida, substituir por outras rotas marítimas ou sistemas
de separação de tráfego quaisquer rotas marítimas ou sistemas de separação de
tráfego por eles anteriormente designados ou prescritos.
3 - Tais rotas marítimas e sistemas de separação de tráfego devem ajustar-se à
regulamentação internacional geralmente aceite.
4 - Antes de designar ou substituir rotas marítimas ou de estabelecer ou substituir
sistemas de separação de tráfego, os Estados ribeirinhos de estreitos devem
submeter as suas propostas à organização internacional competente para sua
adoção. A organização só pode adotar as rotas marítimas e os sistemas de
separação de tráfego que tenham sido acordados com os Estados ribeirinhos dos
estreitos, após o que estes Estados poderão designar, estabelecer ou substituir as
rotas marítimas ou os sistemas de separação de tráfego.
5 - No caso de um estreito, em que se proponham a criação de rotas marítimas ou
sistemas de separação de tráfego que atravessem as águas de dois ou mais
Estados ribeirinhos do estreito, os Estados interessados cooperarão na formulação
de propostas em consulta com a organização internacional competente.
6 - Os Estados ribeirinhos de estreitos indicarão claramente todas as rotas marítimas
e sistemas de separação de tráfego por eles designados ou prescritos em cartas de
navegação, às quais darão a devida publicidade.
7 - Os navios de passagem em trânsito respeitarão as rotas marítimas e sistemas de
separação de tráfego aplicáveis, estabelecidos de conformidade com as disposições
do presente artigo.
Artigo 42º
94
Leis e regulamentos dos Estados ribeirinhos de estreitos relativos à passagem em
trânsito
1 - Nos termos das disposições da presente secção, os Estados ribeirinhos de
estreitos podem adotar leis e regulamentos relativos à passagem em trânsito pelos
estreitos no que respeita a todos ou a alguns dos seguintes pontos:
a) A segurança da navegação e a regulamentação do tráfego marítimo, de
conformidade com as disposições do artigo 41.º;
b) A prevenção, redução e controlo da poluição em cumprimento das
regulamentações internacionais aplicáveis relativas a descarga no estreito de
hidrocarbonetos, de resíduos de petróleo e de outras substâncias nocivas;
c) No caso de embarcações de pesca, a proibição de pesca, incluindo o
acondicionamento dos aparelhos de pesca;
d) O embarque ou desembarque de produto, moeda ou pessoa em contravenção
das leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários dos Estados
ribeirinhos de estreitos.
2 - Tais leis e regulamentos não farão discriminação de direito ou de fato entre os
navios estrangeiros, nem a sua aplicação terá, na prática, o efeito de negar, dificultar
ou impedir o direito de passagem em trânsito tal como definido na presente secção.
3 - Os Estados ribeirinhos de estreitos darão a devida publicidade a todas essas leis
e regulamentos.
4 - Os navios estrangeiros que exerçam o direito de passagem em trânsito cumprirão
essas leis e regulamentos.
5 - O Estado de bandeira de um navio ou o Estado de registro de uma aeronave que
goze de imunidade soberana e atue de forma contrária a essas leis e regulamentos
95
ou a outras disposições da presente parte incorrerá em responsabilidade
internacional por qualquer perda ou dano causado aos Estados ribeirinhos de
estreitos.
Artigo 43.º
Instalações de segurança e de auxílio à navegação e outros dispositivos.
Prevenção, redução e controlo da poluição
Os Estados usuários e os Estados ribeirinhos de um estreito deveriam cooperar
mediante acordos para:
a) O estabelecimento e manutenção, no estreito, das instalações de segurança e
auxílio necessárias à navegação ou de outros dispositivos destinados a facilitar a
navegação internacional; e
b) A prevenção, redução e controlo da poluição proveniente de navios.
Artigo 44.º Deveres dos Estados ribeirinhos de estreitos
Os Estados ribeirinhos de um estreito não impedirão a passagem em trânsito e
darão a devida publicidade a qualquer perigo de que tenham conhecimento e que
ameace a navegação no estreito ou o sobrevôo do mesmo. Não haverá nenhuma
suspensão da passagem em trânsito.
SECÇÃO 3
Passagem inofensiva
Artigo 45.º Passagem inofensiva
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1 - O regime de passagem inofensiva, de conformidade com a secção 3 da parte II,
aplicar-se-á a estreitos utilizados para a navegação internacional:
a) Excluídos da aplicação do regime de passagem em trânsito, em virtude do n.º 1
do artigo 38.º; ou
b) Situados entre uma parte de alto mar ou uma zona econômica exclusiva e o mar
territorial de um Estado estrangeiro.
2 - Não haverá nenhuma suspensão da passagem inofensiva por tais estreitos.
PARTE IV
Estados arquipélagos
Artigo 46.º Expressões utilizadas Para efeitos da presente Convenção:
a) «Estado arquipélago» significa um Estado constituído totalmente por um ou vários
arquipélagos, podendo incluir outras ilhas;
b) «Arquipélago» significa um grupo de ilhas, incluindo partes de ilhas, as águas
circunjacentes e outros elementos naturais, que estejam tão estreitamente
relacionados entre si que essas ilhas, águas e outros elementos naturais formem
intrinsecamente uma entidade geográfica, econômica e política ou que
historicamente tenham sido considerados como tal.
Artigo 47.º Linhas de base arquipelágicas
1 - O Estado arquipélago pode traçar linhas de base arquipelágicas retas que unam
os pontos extremos das ilhas mais exteriores e dos recifes emergentes do
arquipélago, com a condição de que dentro dessas linhas de base estejam
97
compreendidas as principais ilhas e uma zona em que a razão entre a superfície
marítima e a superfície terrestre, incluindo os atóis, se situe entre um para um e
nove para um.
2 - O comprimento destas linhas de base não deve exceder 100 milhas marítimas,
admitindo-se, no entanto, que até 3% do número total das linhas de base que
encerram qualquer arquipélago possam exceder esse comprimento, até um máximo
de 125 milhas marítimas.
3 - O traçado de tais linhas de base não se deve desviar consideravelmente da
configuração geral do arquipélago.
4 - Tais linhas de base não serão traçadas em direção aos baixios a descoberto,
nem a partir deles, a não ser que sobre os mesmos se tenham construído faróis ou
instalações análogas, que estejam permanentemente acima do nível do mar ou
quando um baixio a descoberto esteja total ou parcialmente situado a uma distância
da ilha mais próxima que não exceda a largura do mar territorial.
5 - O sistema de tais linhas de base não pode ser aplicado por um Estado
arquipélago de modo a separar do alto mar ou de uma zona econômica exclusiva o
mar territorial de outro Estado.
6 - Se uma parte das águas arquipelágicas de um Estado arquipélago estiver situada
entre duas partes de um Estado vizinho imediatamente adjacente, os direitos
existentes e quaisquer outros interesses legítimos que este Estado tenha exercido
tradicionalmente em tais águas e todos os direitos estipulados em acordos
concluídos entre os dois Estados continuarão em vigor e serão respeitados.
7 - Para fins de cálculo da razão entre a superfície marítima e a superfície terrestre,
a que se refere o n.º 1, as superfícies podem incluir águas situadas no interior das
cadeias de recifes de ilhas e atóis, incluindo a parte de uma plataforma oceânica
com face lateral abrupta que se encontre encerrada, ou quase, por uma cadeia de
ilhas calcárias e de recifes emergentes situados no perímetro da plataforma.
98
8 - As linhas de base traçadas de conformidade com o presente artigo devem ser
apresentadas em cartas de escala ou escalas adequadas para a determinação da
sua posição. Tais cartas podem ser substituídas por listas de coordenadas
geográficas de pontos em que conste especificamente a origem geodésica.
9 - O Estado arquipélago deve dar a devida publicidade a tais cartas ou listas de
coordenadas geográficas e deve depositar um exemplar de cada carta ou lista junto
do Secretário-Geral das Nações Unidas.
Artigo 48.º
Medição da largura do mar territorial, da zona contígua, da zona econômica
exclusiva e da plataforma continental
A largura do mar territorial, da zona contígua, da zona econômica exclusiva e da
plataforma continental é medida a partir das linhas de base arquipelágicas traçadas
de conformidade com o artigo 47.º.
Artigo 49.º
Regime jurídico das águas arquipelágicas, do espaço aéreo sobre águas
arquipelágicas e do leito e subsolo dessas águas arquipelágicas
1 - A soberania de um Estado arquipélago estende-se às águas encerradas pelas
linhas de base arquipelágicas, traçadas de conformidade com o artigo 47.º,
denominadas «águas arquipelágicas», independentemente da sua profundidade ou
da sua distância da costa.
2 - Esta soberania estende-se ao espaço aéreo situado sobre as águas
arquipelágicas e ao seu leito e subsolo, bem como aos recursos neles existentes.
3 - Esta soberania é exercida de conformidade com as disposições da presente
parte.
99
4 - O regime de passagem pelas rotas marítimas arquipelágicas, estabelecido na
presente parte, não afeta em outros aspectos o regime jurídico das águas
arquipelágicas, inclusive o das rotas marítimas, nem o exercício pelo Estado
arquipelágico da sua soberania sobre essas águas, seu espaço aéreo sobrejacente
e seu leito e subsolo, bem como sobre os recursos neles existentes.
Artigo 50.º Delimitação das águas interiores
Dentro das suas águas arquipelágicas, o Estado arquipélago pode traçar linhas de
fecho para a delimitação das águas interiores, de conformidade com os artigos 9.º,
10.º e 11.º
Artigo 51.º Acordos existentes, direitos de pesca tradicionais e cabos submarinos existentes
1 - Sem prejuízo das disposições do artigo 49.º, os Estados arquipélagos respeitarão
os acordos existentes com outros Estados e reconhecerão os direitos de pesca
tradicionais e outras atividades legítimas dos Estados vizinhos imediatamente
adjacentes em certas áreas situadas nas águas arquipelágicas. As modalidades e
condições para o exercício de tais direitos e atividades, incluindo a natureza, o
alcance e as áreas em que se aplicam, serão, a pedido de qualquer dos Estados
interessados, reguladas por acordos bilaterais entre eles. Tais direitos não poderão
ser transferidos a terceiros Estados ou a seus nacionais, nem por eles
compartilhados.
2 - Os Estados arquipélagos respeitarão os cabos submarinos existentes que
tenham sido colocados por outros Estados e que passem pelas suas águas sem
tocar terra. Os Estados arquipélagos permitirão a conservação e a substituição de
tais cabos, uma vez recebida a devida notificação da sua localização e da intenção
de os reparar ou substituir.
Artigo 52.º
100
Direito de passagem inofensiva
1 - Nos termos do artigo 53.º e sem prejuízo do disposto no artigo 50.º, os navios de
todos os Estados gozam do direito de passagem inofensiva pelas águas
arquipelágicas, de conformidade com a secção 3 da parte II.
2 - O Estado arquipélago pode, sem discriminação de direito ou de fato entre navios
estrangeiros, suspender temporariamente, e em determinadas áreas das suas águas
arquipelágicas, a passagem inofensiva de navios estrangeiros, se tal suspensão for
indispensável para a proteção da sua segurança. A suspensão só produzirá efeito
depois de ter sido devidamente publicada.
Os artigos 39.º, 40.º, 42.º e 44.º aplicam-se, mutatis mutandis, à passagem pelas
rotas marítimas arquipelágicas.
PARTE V
Zona econômica exclusiva
Artigo 55.º Regime jurídico específico da zona econômica exclusiva
A zona econômica exclusiva é uma zona situada além do mar territorial e a este
adjacente, sujeita ao regime jurídico específico estabelecido na presente parte,
segundo o qual os direitos e a jurisdição do Estado costeiro e os direitos e
liberdades dos demais Estados são regidos pelas disposições pertinentes da
presente Convenção.
Artigo 56.º
Direitos, jurisdição e deveres do Estado costeiro na zona econômica exclusiva
1 - Na zona econômica exclusiva, o Estado costeiro tem:
a) Direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e
101
gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito
do mar, do leito do mar e seu subsolo e no que se refere a outras atividades com
vista à exploração e aproveitamento da zona para fins econômicos, como a
produção de energia a partir da água, das correntes e dos ventos;
b) Jurisdição, de conformidade com as disposições pertinentes da presente
Convenção, no que se refere a:
i) Colocação e utilização de ilhas artificiais, instalações e estruturas;
ii) Investigação científica marinha;
iii) Proteção e preservação do meio marinho;
c) Outros direitos e deveres previstos na presente Convenção
.
2 - No exercício dos seus direitos e no cumprimento dos seus deveres na zona
econômica exclusiva nos termos da presente Convenção, o Estado costeiro terá em
devida conta os direitos e deveres dos outros Estados e agirá de forma compatível
com as disposições da presente Convenção.
3 - Os direitos enunciados no presente artigo referentes ao leito do mar e ao seu
subsolo devem ser exercidos de conformidade com a parte VI da presente
Convenção.
Artigo 57.º Largura da zona econômica exclusiva
A zona econômica exclusiva não se estenderá além de 200 milhas marítimas das
linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial.
Artigo 58.º Direitos e deveres de outros Estados na zona econômica exclusiva
102
1 - Na zona econômica exclusiva, todos os Estados, quer costeiros quer em litoral,
gozam, nos termos das disposições da presente Convenção, das liberdades de
navegação e sobrevôo e de colocação de cabos e ductos submarinos, a que se
refere o artigo 87.º, bem como de outros usos do mar internacionalmente lícitos,
relacionados com as referidas liberdades, tais como os ligados à operação de
navios, aeronaves, cabos e ductos submarinos e compatíveis com as demais
disposições da presente Convenção.
2 - Os artigos 88.º a 115.º e demais normas pertinentes de direito internacional
aplicam-se à zona econômica exclusiva na medida em que não sejam incompatíveis
com a presente parte.
3 - No exercício dos seus direitos e no cumprimento dos seus deveres na zona
econômica exclusiva, nos termos da presente Convenção, os Estados terão em
devida conta os direitos e deveres do Estado costeiro e cumprirão as leis e
regulamentos por ele adotados de conformidade com as disposições da presente
Convenção e demais normas de direito internacional, na medida em que não sejam
incompatíveis com a presente parte.
Artigo 59.º
Base para a solução de conflitos relativos à atribuição de direitos e jurisdição na
zona econômica exclusiva
Nos casos em que a presente Convenção não atribua direitos ou jurisdição ao
Estado costeiro ou a outros Estados na zona econômica exclusiva e surja um
conflito entre os interesses do Estado costeiro e os de qualquer outro Estado ou
Estados, o conflito deveria ser solucionado numa base de equidade e à luz de todas
as circunstâncias pertinentes, tendo em conta a importância respectiva dos
interesses em causa para as partes e para o conjunto da comunidade internacional.
Artigo 60.º Ilhas artificiais, instalações e estruturas na zona econômica exclusiva
103
1 - Na zona econômica exclusiva, o Estado costeiro tem o direito exclusivo de
construir e de autorizar e regulamentar a construção, operação e utilização de:
a) Ilhas artificiais;
b) Instalações e estruturas para os fins previstos no artigo 56.º e para outras
finalidades econômicas;
c) Instalações e estruturas que possam interferir com o exercício dos direitos do
Estado costeiro na zona.
2 - O Estado costeiro tem jurisdição exclusiva sobre essas ilhas artificiais,
instalações e estruturas, incluindo jurisdição em matéria de leis e regulamentos
aduaneiros, fiscais, de imigração, sanitários e de segurança.
3 - A construção dessas ilhas artificiais, instalações ou estruturas deve ser
devidamente notificada e devem ser mantidos meios permanentes para assinalar a
sua presença. As instalações ou estruturas abandonadas ou inutilizadas devem ser
retiradas, a fim de garantir a segurança da navegação, tendo em conta as normas
internacionais geralmente aceites que tenham sido estabelecidas sobre o assunto
pela organização internacional competente. Para efeitos da remoção, devem ter-se
em conta a pesca, a proteção do meio marinho e os direitos e obrigações de outros
Estados. Deve dar-se a devida publicidade da localização, dimensão e profundidade
das instalações ou estruturas que não tenham sido completamente removidas.
4 - O Estado costeiro pode, se necessário, criar em volta dessas ilhas artificiais,
instalações e estruturas zonas de segurança de largura razoável, nas quais pode
tomar medidas adequadas para garantir tanto a segurança da navegação como a
das ilhas artificiais, instalações e estruturas.
5 - O Estado costeiro determinará a largura das zonas de segurança, tendo em
conta as normas internacionais aplicáveis. Essas zonas de segurança devem ser
concebidas de modo a responderem razoavelmente à natureza e às funções das
104
ilhas artificiais, instalações ou estruturas, e não excederão uma distância de 500 m
em volta das ilhas artificiais, instalações ou estruturas, distância essa medida a partir
de cada ponto do seu bordo exterior, a menos que o autorizem as normas
internacionais geralmente aceites ou o recomende a organização internacional
competente. A extensão das zonas de segurança será devidamente notificada.
6 - Todos os navios devem respeitar essas zonas de segurança e cumprir as normas
internacionais geralmente aceites relativas à navegação nas proximidades das ilhas
artificiais, instalações, estruturas e zonas de segurança.
7 - Não podem ser estabelecidas ilhas artificiais, instalações e estruturas nem zonas
de segurança à sua volta, quando interfiram na utilização das rotas marítimas
reconhecidas essenciais para a navegação internacional.
8 - As ilhas artificiais, instalações e estruturas não têm o estatuto jurídico de ilhas.
Não têm mar territorial próprio e a sua presença não afeta a delimitação do mar
territorial, da zona econômica exclusiva ou da plataforma continental.
Artigo 61.º Conservação dos recursos vivos
1 - O Estado costeiro fixará as capturas permissíveis dos recursos vivos na sua zona
econômica exclusiva.
2 - O Estado costeiro, tendo em conta os melhores dados científicos de que
disponha, assegurará, por meio de medidas apropriadas de conservação e gestão,
que a preservação dos recursos vivos da sua zona econômica exclusiva não seja
ameaçada por um excesso de captura. O Estado costeiro e as organizações
competentes sub-regionais, regionais ou mundiais cooperarão, conforme o caso,
para tal fim.
3 - Tais medidas devem ter também a finalidade de preservar ou estabelecer as
populações das espécies capturadas a níveis que possam produzir o máximo
rendimento constante, determinado a partir de fatores ecológicos e econômicos
105
pertinentes, incluindo as necessidades econômicas das comunidades costeiras que
vivem da pesca e as necessidades especiais dos Estados em desenvolvimento, e
tendo em conta os métodos de pesca, a interdependência das populações e
quaisquer outras normas mínimas internacionais geralmente recomendadas, sejam
elas sub-regionais, regionais ou mundiais.
4 - Ao tomar tais medidas, o Estado costeiro deve ter em conta os seus efeitos sobre
espécies associadas às espécies capturadas, ou delas dependentes, a fim de
preservar ou restabelecer as populações de tais espécies associadas ou
dependentes acima de níveis em que a sua reprodução possa ficar seriamente
ameaçada.
5 - Periodicamente devem ser comunicadas ou trocadas informações científicas
disponíveis, estatísticas de captura e de esforço de pesca e outros dados
pertinentes para a conservação das populações de peixes, por intermédio das
organizações internacionais competentes, sejam elas sub-regionais, regionais ou
mundiais, quando apropriado, e com a participação de todos os Estados
interessados, incluindo aqueles cujos nacionais estejam autorizados a pescar na
zona econômica exclusiva.
Artigo 62.º Utilização dos recursos vivos
1 - O Estado costeiro deve ter por objetivo promover a utilização ótima dos recursos
vivos na zona econômica exclusiva, sem prejuízo do artigo 61.º
2 - O Estado costeiro deve determinar a sua capacidade de capturar os recursos
vivos da zona econômica exclusiva. Quando o Estado costeiro não tiver capacidade
para efetuar a totalidade da captura permissível, deve dar a outros Estados acesso
ao excedente desta captura, mediante acordos ou outros ajustes e de conformidade
com as modalidades, condições e leis e regulamentos mencionados no n.º 4, tendo
particularmente em conta as disposições dos artigos 69.º e 70.º, principalmente no
que se refere aos Estados em desenvolvimento neles mencionados.
106
3 - Ao dar a outros Estados acesso à sua zona exclusiva nos termos do presente
artigo, o Estado costeiro deve ter em conta todos os fatores pertinentes, incluindo,
inter alia, a importância dos recursos vivos da zona para a economia do Estado
costeiro correspondente e para os seus outros interesses nacionais, as disposições
dos artigos 69.º e 70.º, as necessidades dos países em desenvolvimento da sub-
região ou região no que se refere à captura de parte dos excedentes e a
necessidade de reduzir ao mínimo a perturbação da economia dos Estados cujos
nacionais venham habitualmente pescando na zona ou venham fazendo esforços
substanciais na investigação e identificação de populações.
4 - Os nacionais de outros Estados que pesquem na zona econômica exclusiva
devem cumprir as medidas de conservação e as outras modalidades e condições
estabelecidas nas leis e regulamentos do Estado costeiro. Tais leis e regulamentos
devem estar de conformidade com a presente Convenção e podem referir-se, inter
alia, às seguintes questões:
a) Concessão de licenças a pescadores, embarcações e equipamento de pesca,
incluindo o pagamento de taxas e outros encargos que, no caso dos Estados
costeiros em desenvolvimento, podem consistir numa compensação adequada em
matéria de financiamento, equipamento e tecnologia da indústria da pesca;
b) Determinação das espécies que podem ser capturadas e fixação das quotas de
captura, que podem referir-se, seja a determinadas populações ou a grupos de
populações, seja à captura por embarcação durante um período de tempo, seja à
captura por nacionais de um Estado durante um período determinado;
c) Regulamentação das épocas e zonas de pesca, do tipo, tamanho e número de
aparelhos, bem como do tipo, tamanho e número de embarcações de pesca que
podem ser utilizados;
d) Fixação da idade e do tamanho dos peixes e de outras espécies que podem ser
capturados;
107
e) Indicação das informações que devem ser fornecidas pelas embarcações de
pesca, incluindo estatísticas das capturas e do esforço de pesca e informações
sobre a posição das embarcações;
f) Execução, sob a autorização e controlo do Estado costeiro, de determinados
programas de investigação no âmbito das pescas e regulamentação da realização
de tal investigação, incluindo a amostragem de capturas, destino das amostras e
comunicação dos dados científicos conexos;
g) Embarque, pelo Estado costeiro, de observadores ou de estagiários a bordo de
tais embarcações;
h) Descarga por tais embarcações da totalidade das capturas ou de parte delas nos
portos do Estado costeiro;
i) Termos e condições relativos às empresas conjuntas ou a outros ajustes de
cooperação;
j) Requisitos em matéria de formação de pessoal e de transferência de tecnologia de
pesca, incluindo o reforço da capacidade do Estado costeiro para empreender
investigação de pesca;
k) Medidas de execução.
5 - Os Estados costeiros devem dar o devido conhecimento das leis e regulamentos
em matéria de conservação e gestão.
Artigo 64.º Espécies altamente migratórias
1 - O Estado costeiro e os demais Estados cujos nacionais pesquem, na região, as
espécies altamente migratórias enumeradas no anexo I devem cooperar, quer
diretamente, quer por intermédio das organizações internacionais apropriadas, com
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vista a assegurar a conservação e promover o objetivo da utilização ótima de tais
espécies em toda a região, tanto dentro como fora da zona econômica exclusiva.
Nas regiões em que não exista organização internacional apropriada, o Estado
costeiro e os demais Estados cujos nacionais capturem essas espécies na região
devem cooperar para criar uma organização deste tipo e devem participar nos seus
trabalhos.
2 - As disposições do n.º 1 aplicam-se conjuntamente com as demais disposições da
presente parte.