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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
ASPECTOS DESTACADOS DA TRANSAÇÃO PENAL E DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
LEONARDO WOICIECHOVSKI DOMINGOS
Itajaí, novembro de 2009
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
ASPECTOS DESTACADOS DA TRANSAÇÃO PENAL E DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
LEONARDO WOICIECHOVSKI DOMINGOS
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em
Direito. Orientador: Professor Mdo. Fabiano Oldoni.
Itajaí, novembro de 2009
AGRADECIMENTO
Aos meus pais, que com muito carinho e
apoio, não mediram esforços para que eu
chegasse até esta etapa de minha vida.
Aos meus irmãos Lucas e Lara, sempre ao
meu lado quando precisei.
Aos meus tios Fábio e Michael, por todo o
incentivo e ajuda para a conquista de mais
esta etapa.
A minha namorada Raziela, por estar ao meu
lado, fazendo meus dias cada vez mais
felizes.
Ao professor Fabiano Oldoni, pela paciência
na orientação e incentivo que tornou possível
a conclusão deste trabalho.
Aos amigos e colegas, pelo incentivo e apoio
constantes.
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, pelo exemplo, amizade e
carinho, sem os quais eu certamente não
chegaria tão longe.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade
pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a
Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a
Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade
acerca do mesmo.
Itajaí, novembro de 2009.
LEONARDO WOICIECHOVSKI DOMINGOS Graduando
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Leonardo
Woiciechovski Domingos, sob o título Aspectos da Transação Penal e da
Suspensão Condicional do Processo nos Juizados Especiais Criminais, foi
submetida em 17 de novembro de 2009 à banca examinadora composta
pelos seguintes professores: Mdo Fabiano Oldoni (Presidente) e MSC Osmar
Diniz Fachinni (Membro) e APROVADA.
Itajaí, novembro de 2009.
Professor Mdo. Fabiano Oldoni Orientador e Presidente da Banca
Professor MSc Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AJUFE Associação Nacional dos Juízes Federais.
Ampl. Ampliada.
Art. Artigo.
Atual. Atualizada.
CF Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
CP Código Penal.
CPC Código de Processo Civil.
CPP Código de Processo Penal.
CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Des. Desembargador.
DJSC Diário da Justiça de Santa Catarina.
DJU Diário da Justiça da União.
DOU Diário Oficial da União.
Ed. Edição.
HC Habeas Corpus.
IBCCRIM Instituto Brasileiro de Ciências Criminais.
j. Julgado em.
JECrim Juizado Especial Criminal.
LEP Lei de Execução Penal.
Min. Ministro.
MP Ministério Público.
OAB Ordem dos Advogados do Brasil.
P. Página.
Rel. Relator.
REsp Recurso Especial.
Rev. Revista.
RHC Recurso em Habeas Corpus.
STF Supremo Tribunal Federal.
STJ Superior Tribunal de Justiça.
TACRIM Tribunal de Alçada Criminal (Acrescido da Sigla do Estado).
TJDF Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
TJRS Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí.
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos
operacionais.
Concurso Formal
… há concurso formal (também denominado ideal) próprio quando o
agente pratica dois ou mais crimes mediante uma só conduta (positiva ou
negativa), embora sobrevenham dois ou mais resultados puníveis.1
Concurso Material
Concurso material: ocorre quando o agente comete dois ou mais crimes
mediante mais de uma conduta, ou seja, mais de uma ação ou omissão.
Os delitos podem ser da mesma natureza (concurso homogêneo) ou não
(concurso heterogêneo).2
Crime Continuado
Crime continuado: há crime continuado (também chamado continuidade
delitiva) quando o agente comete dois ou mais crimes da mesma
espécie, mediante mais de uma conduta, estando os delitos, porém,
unidos pela semelhança de determinadas circunstâncias (condições de
tempo, lugar, modo de execução ou outras que permitam deduzir a
continuidade).3
Infração de Menor Potencial Ofensivo
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para
os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei
1 DELMANTO, Celso et al. Código Penal Comentado. 4. ed. São Paulo: Renovar, 1998. p. 121. 2 DELMANTO, Celso et al. Código Penal Comentado. 4. ed. São Paulo: Renovar, 1998. p. 123. 3 DELMANTO, Celso et al. Código Penal Comentado. 4. ed. São Paulo: Renovar, 1998. p. 120.
comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com
multa. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006).4
Penas Alternativas (Não Privativas de Liberdade)
As penas alternativas são denominadas atualmente de Direito Penal
Mínimo, pois buscam retribuir ao infrator uma pena proporcional ao delito
cometido, com penas que sejam alternativas à prisão. Tratam-se, pois, de
penas alternativas à prisão, que são concedidas para aqueles crimes
considerados de menor potencial ofensivo.5
Sistema de Exasperação da Pena
Agravar, tornar mais intenso. Sistema da exasperação da pena: aplica-se
a pena do crime mais grave, aumentada de um quantum determinado.
Foi adotada no concurso formal(ou ideal)(art. 70, caput, CP) e no crime
continuado(art. 71, CP).6
Sursis Processual
… a paralisação do processo, com potencialidade extintiva da
punibilidade, caso todas as condições acordadas sejam cumpridas,
durante determinado período de prova.7
Transação Penal
[…] o acordo entre Ministério Público e autor do fato, pelo qual é proposta
a este uma pena não privativa de liberdade, ficando este dispensado dos
riscos de uma pena de reclusão ou detenção, que poderia ser imposta
4 BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de Setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. DOU de 27.09.1995. 5 PAULA, Érica Maria Sturion de. Penas Alternativas. 11 de dezembro de 2007. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3893/Penas-alternativas Acesso em: 02 de novembro de 2009. 6 SILVA, Rafael Faria da. Dicionário InFormal. Disponível em: http://www.dicionarioinformal. com.br/buscar.php?palavra=exasperar Acesso em: 02 de novembro de 2009. 7 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 253.
em futura sentença, e, o que é mais importante, do vexame de ter de se
submeter a um processo criminal.8
8 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 616.
SUMÁRIO
RESUMO .......................................................................................... XIII
INTRODUÇÃO .................................................................................... 1
CAPÍTULO 1 ........................................................................................ 4
DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS .............................................. 4
1.1 HISTÓRICO ....................................................................................................... 4
1.2 COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ............................... 10
1.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ........... 13
1.3.1 PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL .............................................................. 15
1.3.2 PRINCÍPIO DA ORALIDADE ................................................................................. 17
1.3.3 PRINCÍPIO DA CELERIDADE PROCESSUAL .............................................................. 20
1.3.4 PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE .............................................................................. 22
1.3.5 PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE ........................................................................... 24
1.4 OBJETIVOS DA LEI 9.099/95 .......................................................................... 26
CAPÍTULO 2 ...................................................................................... 28
DA TRANSAÇÃO PENAL E DA SUSPENSÃO CONDICIONAL .......... 28
2.1 CONCEITO DE TRANSAÇÃO PENAL .............................................................. 28
2.2 CONDIÇÕES DE ADMISSIBILIDADE DA TRANSAÇÃO PENAL ...................... 31
2.3 CONSEQÜÊNCIAS DA ACEITAÇÃO DA TRANSAÇÃO PENAL ..................... 34
2.4 DESCUMPRIMENTO DA PROPOSTA DA TRANSAÇÃO PENAL ...................... 37
2.4.1 DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS .................................................................... 37
2.4.2 DAS PENAS DE MULTA ........................................................................................ 40
2.5 CONCEITO DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO ....................... 42
2.6 CONDIÇÕES DE ADMISSIBILIDADE DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO ............................................................................................................ 44
2.7 CONSEQÜÊNCIAS DA ACEITAÇÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO ............................................................................................................ 48
2.8 DA REVOGAÇÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO ........... 50
CAPÍTULO 3 ...................................................................................... 54
ASPECTOS ESPECIAIS DA TRANSAÇÃO PENAL E DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO ...................................................... 54
3.1 TRANSAÇÃO PENAL E AÇÃO PENAL PRIVADA ........................................... 54
3.2 DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA ................................................................................................... 60
3.3 APLICAÇÃO DA TRANSAÇÃO PENAL E DO SURSIS PROCESSUAL NAS HIPÓTESES DE CONCURSO DE CRIMES ............................................................... 62
3.4 DA APLICAÇÃO DA PROPOSTA DA TRANSAÇÃO PENAL E DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO APÓS SENTENÇA DE DESCLASSIFICAÇÃO .... 65
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 70
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ................................................ 72
RESUMO
A presente monografia tem por objeto analisar alguns
aspectos que ainda encontram-se controvertidos na doutrina e na
jurisprudência pátria, mesmo após mais de 14 anos de vigência da Lei nº
9.099/95. Para tanto, foram analisados aspectos destacados de dois dos
institutos ditos despenalizadores trazidos à legislação pátria, pela citada
Lei nº 9.099/95, quais sejam, a Transação Penal e a Suspensão Condicional
do Processo, em especial, critérios de aplicação, legitimidade para
oferecer as propostas, bem como a oportunização das propostas, em
casos específicos, como após a prolação de uma sentença
desclassificatória. Também foi realizada uma análise do conceito de crime
de menor potencial ofensivo, hoje pacificado na doutrina e na
jurisprudência, no entanto a matéria foi muito debatida, mormente após a
publicação da Lei nº 10.259/01. Para tanto, o presente trabalho restou
dividido em três capítulos: o primeiro traz um contexto histórico da
elaboração da Lei 9.099/95 e da Lei 10.259/01, bem como os princípios
que regem os Juizados Especiais Criminais; o segundo traz uma análise
mais detalhada dos institutos despenalizadores da Transação Penal e da
Suspensão Condicional do Processo; o terceiro trata especificamente dos
aspectos que ainda se encontram controvertidos, em relação aos
institutos elencados no capítulo segundo.
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto a análise de
aspectos controvertidos envolvendo os institutos despenalizadores da
Transação Penal e da Suspensão Condicional do Processo, tanto no
âmbito dos Juizados Especiais Criminais, trazidos pela Lei nº 9.099/95,
quanto, em algumas ocasiões, no âmbito já Justiça Estadual e Federal.
O assunto é relevante, uma vez que, mesmo estando
em vigor há pelo menos 14 anos, ainda existem aspectos controvertidos
em relação aos institutos despenalizadores elencados pela Lei 9.099/95.
Esta pesquisa tem como objetivos: institucional, produzir
monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; geral, investigar alguns pontos
ainda controvertidos na doutrina e na jurisprudência, em relação aos
institutos despenalizadores trazidos pela Lei nº 9.099/95.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando do
contexto histórico em que foram elaboradas as Leis 9.099/95 e 10.259/01,
estabelecendo a criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais nos
âmbitos da Justiça Estadual e Justiça Federal, respectivamente. Ainda,
restaram abordados os princípios norteadores do JECrim.
No Capítulo 2, tratando de aspectos gerais da
Transação Penal e da Suspensão Condicional do Processo, critérios de
admissibilidade dos institutos e conseqüências do descumprimento das
propostas.
No Capítulo 3, tratando dos aspectos que ainda
encontram-se controvertidos na doutrina e na jurisprudência pátria, tal
como a possibilidade de aplicação dos institutos despenalizadores em
2
crimes de ação penal privada ou, no caso de concurso de crimes, e ainda
após a prolação de sentença desclassificatória.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das
reflexões sobre os aspectos controvertidos da Transação Penal e da
Suspensão Condicional do Processo.
Para a presente monografia foram levantadas as
seguintes hipóteses:
1) O descumprimento da Transação Penal acarreta na
deflagração da respectiva ação penal.
2) Nos casos de concurso de crimes, para efeitos de
proposta de Transação ou Suspensão do processo, as penas cominadas
devem ser analisadas separadamente.
3) É possível o oferecimento da Transação Penal e da
Suspensão Condicional do Processo nos crimes de ação penal privada.
4) É viável a proposta da Transação Penal e da
Suspensão Condicional do Processo, após sentença desclassificatória.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na
Fase de Investigação9 foi utilizado o Método Indutivo10, na Fase de
9 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.
10 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 104.
3
Tratamento de Dados o Método Cartesiano11, e, o Relatório dos Resultados
expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas do Referente12, da Categoria13, do Conceito Operacional14 e da
Pesquisa Bibliográfica15.
11 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de Oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.
12 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 62.
13 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 31.
14 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 45.
15 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 239.
CAPÍTULO 1
DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
1.1 HISTÓRICO
O Código de Processo Penal Brasileiro – CPP está em
vigor há pelo menos 68 anos, possuindo vários pontos em que a legislação
tornou-se um tanto quanto ultrapassada e disfuncional, ante a
formalidade exigida pelo procedimento penal.
Diante desta situação fática, o legislador viu a
necessidade de modificar as leis processuais, instituindo ritos processuais
que desburocratizassem a prestação da tutela jurisdicional, na aferição de
crimes de menor lesividade.
Explica Júlio Fabbrini Mirabete:
Estando em vigor há mais de 50 anos, o Código de Processo
Penal brasileiro, de há muito se tem sentido a necessidade
de uma reforma das leis processuais com o fim de atualizar
aqueles pontos em que a legislação se tornou disfuncional e
ultrapassada, especialmente no eu tange ao inadiável
estabelecimento de ritos sumaríssimos para a apuração de
contravenções e de crimes de menor gravidade,
submetidos a um processo arcaico, formalista e
burocratizante que tem levado não só os estudiosos e
aplicadores do Direito, mas também os leigos, a um
sentimento de descrédito sobre a administração da Justiça
Penal.16
16 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 15.
5
Desta forma, os legisladores constituintes de 1988
vislumbraram que inúmeras infrações de menor lesividade ao bem jurídico
tutelado, acabavam por “travar” todo o sistema penal brasileiro, sem que,
contudo, houvesse uma efetiva prestação jurisdicional, vez que a
morosidade decorrente das formalidades exigidas pelo ordenamento
processual pátrio então vigente, acabava por beneficiar inúmeros réus
ante a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva estatal.
Retira-se da obra de Fernando da Costa Tourinho Filho:
Os constituintes de 1988, impressionados com o número
astronômico de infrações de pouca monta a emperrar a
máquina judiciária, sem nenhum resultado prático, uma vez
que, em regra geral, quando da prolação da sentença, ou
os réus eram beneficiados pela prescrição retroativa, ou
absolvidos em virtude da dificuldade de se fazer a prova, e
principalmente considerando a tendência do mundo
moderno de adotar um Direito Penal mínimo, procuraram
medidas alternativas que pudessem agilizar o processo,
possibilitando uma resposta rápida do Estado à pequena
criminalidade, sem o estigma do processo, à semelhança
do que ocorria com a legislação de outros países.17
Assim, seguindo os modelos europeus, já implantados
na Itália, França, Portugal dentre outros países, bem como pelos resultados
apresentados pelos Juizados de Pequenas Causas (implantados no Brasil
em 1984), os legisladores constituintes, segundo Tourinho Filho18,
“procuraram solução para o processo e julgamento das infrações de
menor potencial ofensivo”.
Desta forma, restou consignado na Carta Magna, em
seu artigo 98, inciso I, a competência da União, em criar no Distrito Federal,
17 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 1. 18 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 1.
6
nos Territórios e nos Estados membros, Juizados Especiais, com a
competência para processar e julgar causas cíveis de menor
complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, transcreve-
se:
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os
Estados criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados
e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a
execução de causas cíveis de menor complexidade e
infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os
procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses
previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por
turmas de juízes de primeiro grau;19
Destaca-se que, paralelamente aos trabalhos da
Assembléia Constituinte, os juízes Pedro Luiz Ricardo Gagliardi e Marco
Antônio Marques da Silva, ambos do Estado de São Paulo, apresentaram
no Congresso Nacional, minuta do Anteprojeto de Lei Federal, que tratava
sobre a regulamentação dos Juizados Especiais.
Referido Anteprojeto foi discutido na Seccional da OAB
de São Paulo, sendo então aprimorado diante de inúmeras sugestões de
juristas, representantes do Ministério Público, juízes, advogados, etc., sendo
então, apresentado ao Deputado Michel Temer, que transformou o
Anteprojeto no Projeto de Lei nº 1.480/89.
Inúmeros outros projetos referentes à regulamentação
dos juizados especiais cíveis e criminais foram propostos, sendo que todos
esses projetos tiveram como relator o Deputado Ibrahim Abi-Ackel, o qual
selecionou o projeto do Deputado Michel Temer para reger a matéria
19 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 98, inciso I. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 10 de setembro de 2009.
7
criminal e o projeto do Deputado Nelson Jobim à matéria cível,
procedendo a unificação de ambos os projetos em um substitutivo sem,
contudo, alterar suas essências.
O substitutivo restou aprovado pela Câmara dos
Deputados, sendo então remetido ao Senado. Nesta fase legislativa, o
Senador José Paulo Bisol, entendeu por bem, elaborar um novo
substitutivo, remetendo-o novamente à Câmara dos Deputados, que re-
aprovou o substitutivo do Deputado Ibrahim Abi-Ackel, tornando-o
definitivo, sendo então publicada a Lei nº 9.099 de 26.09.1995.
Ocorre que, mesmo antes da regulamentação do
artigo 98, inciso I, da CRFB/88, levado a efeito pela Lei nº 9.099/95, alguns
estados brasileiros já haviam editado Leis Estaduais, criando Juizados
Especiais Criminais.
No entanto, referidas Leis Estaduais, ferem o artigo 22,
inciso I, da Carta Magna, o qual prevê a competência privativa da União,
em legislar sobre a matéria penal, bem como processual, transcreve-se:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; 20
Sobre o tema, Pazzaglini Filho, leciona:
[...] o Supremo Tribunal Federal julgou, incidentalmente, a
inconstitucionalidade do art. 50 da Lei 5466/91, que definiu
as infrações penais de menor potencial ofensivo no Estado
da Paraíba (H.C. 71173-6, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU,
4-11-94, p. 29827), sob o argumento de que a competência
para legislar em matéria penal é privativa da União, nos
20 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Artigo 22, inciso I. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 10 de setembro de 2009.
8
Termos do art. 22, inciso I, da Constituição de República
Federativa do Brasil.21
Verifica-se, portanto, serem inconstitucionais os
Juizados Especiais Criminais, criados antes do advento da Lei nº 9.099/95,
ante a competência privativa da União contida no artigo 22 da Lei Maior.
Já no âmbito já Justiça Federal, com o advento da
Emenda Constitucional nº 22 de 1999, a qual acrescentou o parágrafo
único (atual parágrafo primeiro, vez que restou renumerado pela Emenda
Constitucional nº 45 de 2004) ao artigo 98 da CRFB/88, havia a
necessidade de se criar uma Lei Federal, regulamentando a instituição dos
Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal.
Sobre o tema, discorre Agapito Machado:
Com ou sem emenda, a necessidade de lei federal
específica era indispensável para a instituição dos Juizados
Especiais no âmbito da Justiça Federal, já que a Lei nº
9.099/95, quanto a seu rito, tinha aplicação restrita perante
a Justiça Estadual, e apenas as suas quatro normas
despenalizadoras (composição civil, transação penal, lesão
corporal leve e culposa, que passaram a depender de
representação do ofendido, e suspensão condicional do
processo) se aplicavam às Justiças Federal, Eleitoral e Militar,
inclusive perante os tribunais.22
Assim sendo, ainda no ano de 1999, a Associação
Nacional dos Juízes Federais – AJUFE, no encontro realizado na cidade de
Fortaleza, apresentou um anteprojeto elaborado pelos Juízes César
Fonseca, Itagiba Cattapreta e Salomão Viana.
21 PAZZAGLINI FILHO, Marino; MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio; VAGGIONE, Luiz Fernando. Juizado Especial Criminal: Aspectos Práticos da Lei nº 9.099/95. São Paulo: Atlas S.A. 1996. 22 MACHADO, Agapito. Juizados especiais criminais na Justiça Federal. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 12-13
9
Após, foi realizado pelo Tribunal Regional Federal da 5ª
Região, um Seminário tendo por escopo o debate do tema, visando
apresentar sugestões ao STJ, “para este apresentar ao Congresso Nacional
um anteprojeto da Lei dos Juizados Especiais na Justiça Federal.”23
Após apresentação do anteprojeto ao Congresso
Nacional e da devida tramitação legislativa, restou aprovada a Lei nº
10.259 de 12 de julho de 2001, instituindo e regulamentando, finalmente, os
Juizados Especiais Federais.
Salienta-se, por oportuno, que a Lei nº 9.099/95, é
aplicável subsidiariamente, aos Juizados Especiais Federais, conforme
previsto no artigo 1º da Lei nº 10.259/01, transcreve-se:
Art. 1º São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Criminais
da Justiça Federal, aos quais se aplica, no que não conflitar
com esta Lei, o disposto na Lei n. 9.099, de 26 de setembro
de 1995.24
Assim, em apertada síntese, foram estes os aspectos
principais inerentes a criação e instauração dos Juizados Especiais, tanto
na Justiça Estadual, quanto na Justiça Federal.
Em matéria criminal, o advento das Leis nº 9.099/95 e
10.259/01, trouxeram várias alterações em relação à aplicação do
procedimento criminal, destaca-se, neste ínterim, o foco do presente
estudo, qual seja, o instituto da transação penal e o instituto da suspensão
condicional do processo, os quais serão oportunamente abordados.
23 MACHADO, Agapito. Juizados especiais criminais na Justiça Federal. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 13 24 BRASIL. Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001. Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal. DOU de 13 de julho de 2001. Artigo 1º. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/LEIS_2001/L10259.htm Acesso em: 03 de julho de 2009.
10
1.2 COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
Através da leitura do artigo 98, da CRFB/88, como visto,
regulamentado pela Lei nº 9.099/95, no âmbito da Justiça Estadual e pela
Lei nº 10.259/01, na competência da Justiça Federal, tem-se que os
Juizados Especiais Criminais, foram criados para o processamento e
julgamento dos crimes de menor potencial ofensivo, através de rito mais
célere, o então denominado “rito sumaríssimo”.
Neste norte, vale destacar o que se deve entender por
crime de menor potencial ofensivo.
Crime de menor potencial ofensivo, conforme o texto
original da Lei 9.099/95, em seu artigo 61, que é definido por Damásio
Evangelista de Jesus25 como sendo: “… a) as contravenções; e b) os
crimes a que a lei comina pena máxima abstrata não superior a um ano.
Exceções: casos em que a lei prevê procedimento especial.”
Entretanto, com a edição da Lei nº 10.259/01,
disciplinando os Juizados Especiais Federais, o conceito de crime de
menor potencial ofensivo restou ampliado para aqueles cujas penas
máximas não ultrapassem 02 (dois) anos.
Assim, ante a impossibilidade de se admitir efeitos
discriminatórios somente em virtude da competência para o
processamento e julgamento de certos delitos, estabeleceu-se certa
controvérsia sobre a definição de crime de menor potencial ofensivo.
Nereu José Giacomolli destaca que:
O tratamento desigual ao mesmo sujeito que pratica a
mesma infração, pelo simples fato de tê-la praticado em
local diverso, ou seja, abarcado pela competência da
25 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 13.
11
Justiça Federal ou da Justiça Estadual – distinção
puramente instrumental -, não conduz, por si só, a uma justa
aplicação do direito. Ao contrário, produz efeitos
discriminatórios, pois diferenciados em sua essência.26
Assim, tendo o artigo 2º, da Lei nº 10.259/01, ampliando
o conceito de crime de menor potencial ofensivo, este passou a ser
aplicado também aos Juizados Especiais Criminais da Justiça Estadual,
conforme explanado por Mariana de Souza27, ao comentar a Lei nº
10.259/01, afirmando que: “Tanto do ponto de vista da igualdade, quanto
da proporcionalidade, é possível aplicar o conceito de infração criminal
de menor potencial ofensivo à Justiça Estadual.”
Fernando Capez, tratando do assunto, analisa:
Embora a Lei nº 10.259/2001 se refira somente à Justiça
Federal, na verdade acabou fixando uma nova definição
que alcança não apenas as infrações de competência dos
Juizados Federais, mas também os Estaduais, provocando,
por conseguinte, a derrogação do art. 61 da Lei n. 9.099/95.
Com efeito, não é possível manter dois conceitos diversos
dessa expressão, um para as Justiças Estaduais e outro para
a Justiça Federal.28
Salienta-se que o grau de hierarquia entre as Leis nº
9.099/95 e 10.259/01, é o mesmo, ambas são Leis Ordinárias Federais,
portanto, a Lei 10.259/01 acabou por derrogar o artigo 61 da Lei nº
9.099/95.29
Finalmente, dirimindo qualquer entendimento diverso,
a Lei nº 11.313/2006, acabou por alterar o disposto no artigo 61 da Lei nº
26 GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados Especiais Criminais: Lei n. 9.099/95. 2ª Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 38. 27 LAUAND, Mariana de Souza e PODVAL, Roberto. Juizados Especiais Criminais. Boletim do IBCCRIM, 107, P. 22-23. 28 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 605. 29 GOMES, Luis Flávio. Nova competência dos juizados criminais e seus reflexos práticos. Boletim do IBCCRIM, 110, p. 3-4.
12
9.099/95, ampliando também para a justiça comum, para 02 (dois) anos, o
limite da pena para crimes de menor potencial ofensivo.
Portanto, para se compreender qual a competência
atribuída aos Juizados Especiais Criminais, deve-se entender por crimes de
menor potencial ofensivo, aqueles cuja pena máxima cominada não
ultrapasse 02 anos, bem como as contravenções penais, assim definidas
por Lei.
Assim, a competência ofertada aos Juizados Especiais
Criminais, nas palavras de, Julio Fabbrini Mirabete:
… aos Juizados Especiais cabe a conciliação, o processo, o
julgamento e a execução nas causas de sua competência.
Na área criminal, a expressão “conciliação” abrange a
composição (arts. 72 e 75) e a transação (art. 76).
E continua:
O procedimento sumaríssimo e o julgamento estão
disciplinados nos arts. 77 a 81. Quanto à execução,
entretanto, por disposição expressa não se podem executar
as penas restritivas de direitos e privativas de liberdade que
forem impostas na transação ou no julgamento do processo
sumaríssimo, mas somente as penas de multa (art. 84).30
No mesmo sentido, Damásio Evangelista de Jesus31,
discorre que os juizados especiais criminais são competentes “para a
conciliação e julgamento de infrações de menor potencial ofensivo e
execução das penas cominadas na legislação criminal e medidas
previstas nesta Lei”, certamente Lei nº 9.099/95.
30 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 21. 31 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 11.
13
Por fim, no âmbito Federal, ante a inexistência de
disposições regulamentando o procedimento criminal na Lei 10.259/01,
aplica-se, igualmente, o disposto na Lei 9.099/95.
1.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
Após se evidenciar qual a competência estabelecida
aos Juizados Especiais Criminais, tanto da justiça estadual, quanto da
justiça federal, cabe então estudar quais os princípios norteadores desta
norma.
Destaca-se, que princípio, por ser uma norma basilar,
não necessita obrigatoriamente de estar expressamente contida na “letra
da lei”. No entanto, em se tratando de Juizados Especiais, o artigo 2º da
Lei nº 9.099/95, previu expressamente 05 (cinco) princípios elementares,
sendo eles: oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade.
Julio Fabbrini Mirabete, explica que:
[...] além do respeito aos princípios gerais do processo,
alguns de caráter constitucional (juiz natural, contraditório,
ampla defesa, igualdade entre as partes etc.), de
aplicação obrigatória em todas as ações penais, impõe a
lei que o juiz se utilize no caso concreto desses critérios no
que se relaciona com as ações penais de competência dos
Juizados Especiais, em harmonia ou mesmo com
prevalência sobre outros, no interesse da adequada
aplicação da lei.32
Salienta-se que a norma reguladora dos Juizados
Especiais Federais, Lei nº 10.259/01, não previu, explicitamente, nenhum
32 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, Jurisprudência e Legislação. São Paulo: Atlas S.A. 5ª ed., 2002, p. 33.
14
princípio, no entanto, tal como já analisado, tem-se que à esta Lei aplica-
se subsidiariamente as disposições da Lei nº 9.099/95.
Por isso, entende-se serem aplicáveis aos Juizados
Especiais Federais, além dos princípios gerais do direito, ainda, os princípios
elencados pela Lei nº 9.099/95, como fonte subsidiária.
Assim dispõe o artigo 2º, da Lei 9.099/95:
Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação
ou a transação.33
Salienta-se que, ao tratar especificamente dos
Juizados Especiais Criminais, o artigo 62, da Lei 9.099/95, apresenta apenas
04 (quatro), dos cinco princípios elencados no art. 2º, transcreve-se:
Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á
pelos critérios da oralidade, informalidade, economia
processual e celeridade, objetivando, sempre que possível,
a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação
de pena não privativa de liberdade.34
Comentando referido artigo, Fernando da Costa
Tourinho Filho35, narra que “este dispositivo praticamente repete a regra
contida no art. 2º, ao salientar quais os princípios informativos do Juizado e
seus objetivos perseguidos.”
33 BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Artigo 2º. DOU de 27 de setembro de 1995, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm Acesso em: 03 de julho de 2009.. 34 BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Artigo 62. DOU de 27 de setembro de 1995, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm Acesso em: 03 de julho de 2009.. 35 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 37.
15
Desta forma, passa-se ao estudo de cada um dos
princípios expressamente elencados nos artigos 2º e 62, ambos da Lei
9.099/95.
1.3.1 Princípio da Economia Processual
O princípio da economia processual é de fácil
entendimento, visando, basicamente evitar desperdícios e gastos
desnecessários ao Estado e às partes, para tanto, propõe-se a
concretização do máximo de resultados, com a menor quantidade
possível de atos processuais, como destacado por Julio Fabbrini Mirabete:
Pelo princípio da economia processual se entende que se
deve escolher, entre duas alternativas, a menos onerosa às
partes e ao atuação do direito com o mínimo possível de
atos processuais ou despachos de ordenamento.36
Já na definição de Giacomolli:
Segundo este princípio, diante de múltiplas alternativas
processuais, opta-se por aquela que for menos gravosa ou
onerosa às partes. Desta forma, diante de uma resposta
consistente, o julgador poderá receber ou rejeitar a peça
incoativa, podendo, também, aplicar a pena como multa
ou a restritiva de direitos. Busca-se “o máximo de resultado
com o mínimo de esforço.37
Ainda sobre o princípio da economia processual,
discorre Pazzaglini Filho:
O princípio da economia processual, como os outros,
também foi adotado no Juizado Especial Criminal. Assim, os
atos processuais serão validos sempre que preencherem as
finalidades para as quais foram realizados (art. 65). E
36 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 25-26. 37 GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados Especiais Criminais: Lei n. 9.099/95. 2ª Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 58.
16
descabe a decretação de nulidade, quando acarretar
prejuízo para as partes (art. 65 § 1º).38
Para Tourinho Neto, para que haja uma maior
celeridade processual, é necessária a diminuição de algumas fazes
processuais:
A diminuição de fases e de atos processuais leva a rapidez,
economia de tempo, logo, economia de custos. O objetivo
é obter o “máximo resultado com o mínimo emprego de
atividades processuais”. 39
Fernando Capez40, descrevendo o princípio da
economia processual, salienta “corolário da informalidade, significa dizer
que os atos processuais devem ser praticados no maior número possível,
no menor espaço de tempo e de maneira menos onerosa.”
De maneira extremamente sucinta e objetiva, Damásio
Evangelista de Jesus41 conceitua o princípio sob análise visando “à
realização do maior número de atos processuais na mesma audiência”.
Vislumbra-se, portanto, que o princípio da economia
processual é uma forma de se evitar gastos desnecessários às partes, bem
como ao próprio Estado, com a realização da maior quantidade de atos
processuais com a menor movimentação da máquina judiciária possível,
desprezando-se aqueles atos desnecessários e que apenas trariam
prejuízos.
38 PAZZAGLINI FILHO, Marino; MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio; VAGGIONE, Luiz Fernando. Juizado Especial Criminal: Aspectos Práticos da Lei nº 9.099/95. São Paulo: Atlas S.A. 1996, p. 25. 39 TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados Especiais Cíveis e Criminais: Comentários à Lei 10.259, de 10.07.2001. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. 40 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 604. 41 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 24.
17
1.3.2 Princípio da Oralidade
Outro princípio de extrema relevância é o princípio da
oralidade, que, além de outros aspectos, prevê um maior contato entre as
partes e o Estado, personificado, no caso, na pessoa do juiz.
Neste sentido, Julio Fabbrini Mirabete, define o Princípio
da Oralidade:
Refere-se a lei ao princípio da oralidade, que preconiza a
adoção da forma oral no tratamento da causa, ou seja, a
afirmação de que as declarações perante os juízes e
tribunais possuem mais eficácia quando formuladas
verbalmente, sem que se exclua por completo,
evidentemente, a utilização da escrita, imprescindível na
documentação de todo o processo.42
O próprio artigo 64, § 3º, da Lei nº 9.099/95, prevê que
somente serão objetos de registro os atos tidos como essenciais.
Ainda na doutrina de Mirabete, retira-se que em
decorrência do princípio da oralidade outros princípios podem ser
observados, tais como o princípio da concentração, o princípio do
imediatismo, o princípio da identidade física do juiz e o princípio da
irrecorribilidade das decisões.
Já nas palavras de Giacomolli:
A adoção do princípio da oralidade tem como
conseqüências: a concentração dos atos em audiência
única, o contato pessoal do julgador com o acusado,
testemunhas e com todo o conjunto probatório –
42 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 22.
18
imediatidade -, e a vinculação do juiz nos processo em que
colheu a prova – identidade física do juiz.43
Damásio Evangelista de Jesus define o princípio em
comento:
Sua aplicação, na lei n. 9.099/95, limita-se a documentação
ao mínimo possível (arts. 65, caput, 67, 77, caput, e §§ 1º e
3º, e 81, § 2º). As partes debatem e dialogam, procurando
encontrar uma resposta penal que seja justa para o autor
do fato e satisfaça, para o Estado, os fins de prevenção
geral e especial.44
Já Tourinho Neto45, explica o princípio da oralidade,
como a “… predominância da palavra oral sobre a escrita, com objetivo
de dar maior agilidade à entrega da prestação jurisdicional,
beneficiando, desse modo, o cidadão”.
Destaca-se que deve ser observado o princípio da
oralidade, juntamente com o princípio da concentração, que tem por
escopo a realização de todos ou, pelo menos, do maior número de atos
processuais em uma audiência única, a fim de facilitar a busca da
verdade real dos fatos.
Sobre o tema, discorre Julio Fabbrini Mirabete:
Pelo princípio da concentração estabelece-se que os atos
processuais sejam reunidos, os mais concentrados possíveis
e que sejam realizados numa única etapa ou ao menos em
um numero mínimo de audiências. Quanto mais próxima
estas da decisão, menor é o perigo do esquecimento pelo
Juiz e pelas partes das impressões pessoais e dos fatos que a
43 GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados Especiais Criminais: Lei n. 9.099/95. 2ª Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 63 44 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 24. 45 TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados Especiais Cíveis e Criminais: Comentários à Lei 10.259, de 10.07.2001. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 65
19
memória registra, bem como maior a probabilidade de se
obter a verdade real.46
Por outro lado, acerca do princípio do imediatismo
deve-se entender que o juiz deverá colher as provas necessárias ao
deslinde do feito, conseqüentemente expor o conflito e imediatamente
propor a conciliação.
Para Julio Fabbrini Mirabete:
Pelo princípio do imediatismo, o Juiz deve proceder
diretamente à colheita de todas as provas, em contato
imediato com as partes, propondo a conciliação, expondo
as questões controvertidas da lide e etc. Com isso, o
magistrado recebe, sem intermediários, o material de que
servirá para julgar, obtém informações e toma
conhecimento de características e motivação das partes
etc.47
É também o entendimento de Tourinho Neto, para o
qual, em decorrência do princípio do imediatismo, somente o magistrado
que participou da audiência é que está hábil à julgar o feito, o que vai de
encontro com o princípio da pessoa física do juiz, que nas palavras de
Mirabete:
O princípio da identidade física do Juiz, ou da imutabilidade
do Juiz, corolário e complemento do princípio do
imediatismo do julgar, preconizar que o magistrado deve
seguir pessoalmente o procedimento desde o inicio até o
seu término, com a prolação da sentença. Evita-se, assim,
que o feito seja julgado por juiz que não teve contato direto
com os atos processuais. Embora não adotado tal princípio
no Código Processual Penal, diante da necessidade de
transcrição integral de depoimentos e das alegações finais,
46 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, Jurisprudência e Legislação. São Paulo: Atlas S.A. 5ª ed., 2002, p. 34. 47 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, Jurisprudência e Legislação. São Paulo: Atlas S.A. 5ª ed., 2002, p. 34.
20
impõe-se sua aplicação no rito sumaríssimo do Juizado
Especial Criminal, em que predomina, nesse campo, o
critério da oralidade, aplicando-se, por analogia, o art. 132
do Código de Processo Civil.48
Conclui-se, portanto, que o princípio da oralidade
deve ser entendido como um meio de dar maior celeridade aos atos
processuais, sendo documentados somente os atos tidos como essenciais,
tal como previsto no próprio texto legal.
1.3.3 Princípio da Celeridade Processual
O princípio em comento, tem por finalidade a
agilidade e a rapidez do processo em si, para que a prestação da tutela
jurisdicional seja efetuada o mais rápido possível, o que reduz a velha
sensação de impunidade.
Julio Fabbrini Mirabete entende que:
A referência ao princípio da celeridade diz respeito à
necessidade de rapidez e agilidade no processo, com o fim
de buscar a prestação jurisdicional no menor tempo
possível. No caso dos Juizados Especiais Criminais,
buscando-se reduzir o tempo entre a prática da infração
penal e a solução jurisdicional, evita-se a impunidade pela
porta da prescrição e se dá uma resposta rápida à
sociedade na realização da Justiça Penal.49
Para Nereu José Giacomolli50, o princípio da celeridade
processual, é uma decorrência de outros princípios adotados pela Lei nº
9.099/95, vez que “É a conseqüência lógica da dispensabilidade do
48 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, Jurisprudência e Legislação. São Paulo: Atlas S.A. 5ª ed., 2002, p. 34. 49 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 26. 50 GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados Especiais Criminais: Lei n. 9.099/95. 2ª Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 54
21
inquérito policial, da simplificação do rito processual, da adoção do
princípio da oralidade, com todos os seus consectários legais.
Damásio Evangelista de Jesus leciona:
A Lei visa a dar maior rapidez aos atos processuais, como
nas citações e intimações, que, no Juízo Comum, sempre
foram fonte de atrasos, corrupção e reclamações. Por isso,
impõe a regra da citação pessoal no próprio Juizado (art.
66) e a intimação por correspondência (art. 67).51
Já Fernando Capez52, entende que o princípio da
celeridade “visa à rapidez na execução dos atos processuais, quebrando
as regras formais observáveis nos procedimentos regulados segundo a
sistemática do Código de Processo Penal”.
Relacionando os princípios da economia processual e
da celeridade, Demócrito Ramos Reinaldo Filho, esclarece:
A celeridade, no sentido de se realizar a prestação
jurisdicional com rapidez e presteza, sem prejuízo da
segurança da decisão, e a economia processual, voltada à
consecução da finalidade do processo com o menor
dispêndio da atividade jurisdicional, apresentam-se como
dois dos mais relevantes princípios orientadores do processo
especial.53
Verifica-se, portanto, que o princípio da celeridade
decorre de outros princípios, tais como o da oralidade, informalidade e
economia processual, viabilizando uma maior rapidez na entrega da
prestação jurisdicional, diminuindo a sensação de impunidade.
51 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 24. 52 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 604. 53 REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Juizados especiais cíveis: comentários à Lei nº 9.099/95. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 15.
22
1.3.4 Princípio da Simplicidade
Entende-se por princípio da simplicidade, como sendo
a desburocratização do sistema, visando a objetividade do processo e da
prestação jurisdicional.
Conforme o entendimento de Tourinho Neto54 “O
procedimento do Juizado Especial deve ser simples, natural, sem aparato,
franco, espontâneo, a fim de deixar os interessados a vontade para
exporem seus objetivos.”
Já na definição de Mirabete:
Pela adoção do princípio da simplicidade ou simplificação
e pretende diminuir tanto quanto possível a massa dos
materiais que são juntados aos autos do processo sem que
se prejudique o resultado da prestação jurisdicional,
reunindo apenas os essenciais num todo harmônico.55
No próprio corpo da Lei nº 9.099/95, vislumbra-se
mecanismos que se traduzem na aplicação do princípio em comento,
como o artigo 66, que dispensa o Inquérito Policial, ou o artigo 77, onde
torna dispensável a produção de Exame de Corpo Delito, ou ainda, a
dispensa do relatório em sentenças proferidas pelos magistrados titulares
dos Juizados Especiais.
Ainda ensina Mirabete:
[...] a lei afasta do Juizado as causa complexas ou que
exijam maiores investigações (art. 77, § 2º), como remete ao
Juízo comum as peças existentes quando não for
54 TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados Especiais Cíveis e Criminais: Comentários à Lei 10.259, de 10.07.2001. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 68. 55 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 24.
23
encontrado o denunciado para a citação pessoal (art. 78, §
1º, c.c. o art. 66, parágrafo único) etc. 56
Tem-se ainda, que a própria Lei 9.099/95, em seu artigo
77, § 2º, exclui da competência dos Juizados Especiais, os crimes que
exijam maior investigação, transcreve-se:
Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não
houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato,
ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta
Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato,
denúncia oral, se não houver necessidade de diligências
imprescindíveis.
[…]
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não
permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público
poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças
existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.
Neste sentido, salienta Ada Pellegrini Grinover:
Aliás, a lei afasta do Juizado as causas complexas (art. 77, §
2º) e que exijam maior investigação. Por isso, como já
salientado, não basta para que se fixe a sua competência a
ocorrência de uma infração de menor potencial ofensivo,
sendo necessário também que a causa não seja
complexa.57
Neste prisma, verifica-se que, pelo princípio da
simplicidade, restam excluídos da competência dos Juizados Especiais, as
causas complexas.
56 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, Jurisprudência e Legislação. São Paulo: Atlas S.A. 5ª ed., 2002, p. 35-36. 57 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 84.
24
Ainda, referido princípio tem por escopo dar uma
maior celeridade à prestação jurisdicional, devendo ser aplicado
conjuntamente com os demais princípios elencados no presente trabalho.
1.3.5 Princípio da Informalidade
Pelo princípio da informalidade, tem-se que os
procedimentos submetidos aos Juizados Especiais não precisam seguir
todo o rigor previsto pela legislação cível ou criminal, tampouco as
formalidades dos atos processuais.
É o entendimento de Mirabete:
Decorrência do princípio da instrumentalidade das formas,
hoje reinante no Processo Civil (art. 154, do CPC), o princípio
da informalidade revela a desnecessidade da adoção no
processo de formas sacramentais, do rigorismo formal do
processo.58
E continua o autor:
Embora os atos do processuais devam realizar-se conforme
a lei, em obediência ao fundamental princípio do devido
processo legal, deve-se combater o excessivo formalismo
em que prevalece a prática de atos solenes estéreis e sem
sentido sobre o objetivo maior da realização da justiça.59
É de se destacar ainda, a lição de Hélio Bastos
Tornaghi, para o qual o princípio da informalidade visa combater a
desproporcionalidade do cumprimento das normas processuais e
cartorárias, vejamos:
Informalidade, desapego às formas processuais rígidas,
burocráticas. Procurarão o Juiz, os conciliadores e os
58 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 25. 59 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 25.
25
servidores do Juizado evitar o máximo o formalismo, a
exigência desproporcional no cumprimento das normas
processuais e cartorárias; o cerimonial que inibe a
atormenta as parte; mas isso não quer dizer que o
tratamento seja intimo, é preciso que seja um pouco
cerimonioso; senhor e senhora esse deve ser o tratamento
usado. Uma formalidade cordial. A vulgaridade será sempre
reprovável. Somente as formas solenes, burocratizantes e
vexatórias, que não levam a nada, são desnecessárias à
perfeição dos atos.60
Na definição de Giacomolli:
A nova sistemática adotada tem por escopo agilizar a
investigação, o processamento, o julgamento e a execução
das infrações penais de menor potencial ofensivo, bem
como solver o conflito definitivamente, através da
composição civil e criminal.61
Fernando Capez finaliza:
b) Informalidade: isso significa dizer que os atos processuais
a serem praticados não serão cercados de rigor formal, de
tal sorte que, atingida a finalidade do ato, não há que se
cogitar na ocorrência de qualquer nulidade. Exemplo: o art.
81, § 3º, da lei dispensa o relatório da sentença.62
Destaca-se que, a aplicação do princípio da
informalidade não isenta o juiz de algumas formalidades de praxe, mas sim
de praticá-los de formas alternativas, mas que atinjam a sua finalidade.
Ademais, quando a Lei exige formalidade, como
ocorre, por exemplo, com a citação do réu, em que existe uma
determinação legal, o rigorismo deve ser seguido pelo magistrado.
60 TORNAGHI, Hélio Bastos. A Relação Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 2ª ed. rev. e atualizada, 1987. 61 GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados Especiais Criminais: Lei n. 9.099/95. 2ª Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 61. 62 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 604.
26
Desta feita, restou analisado o contexto histórico em
que foram elaboradas as Leis 9.099/95 e 10.259/01, bem como os princípios
basilares dos procedimentos dos Juizados Especiais.
1.4 OBJETIVOS DA LEI 9.099/95
Os objetivos da Lei nº 9.099/95, estão previsto na
segunda parte do artigo 2º, da Lei, bem como, especificamente em
relação aos Juizados Especiais Criminais, no artigo 62, do mesmo diploma.
Do artigo 62, da Lei 9.099/95, extraem-se como
objetivos do diploma, nos casos submetidos aos Juizados Especiais
Criminais, a reparação civil dos danos e a aplicação de pena não
privativa de liberdade.
Discorre Ada Pellegrini Grinover:
No tocante às finalidades, além daquelas genéricas da
conciliação e da transação, ainda são objetivos primordiais
do Juizado Especial Criminal a reparação dos danos sofridos
pela vítima e a aplicação de pena não privativa de
liberdade, conforme dispõe o art. 62.63
No mesmo sentido, Marino Pazzaglini Filho salienta:
O objetivo fundamental é a tutela da vítima mediante a
reparação, sempre que possível, dos danos por ela sofridos.
Daí, a ênfase dada à composição de danos, à
denominada transação civil, a ser buscada na fase
preliminar (art. 72). E, caso não tenha sido possível
empreendê-la nesse momento, abre-se, audiência de
instrução e julgamento (art. 79).64
63 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 67. 64 PAZZAGLINI FILHO, Marino; MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio; VAGGIONE, Luiz Fernando. Juizado Especial Criminal: Aspectos Práticos da Lei nº 9.099/95. São Paulo: Atlas S.A. 1996, p. 24.
27
E ainda:
O segundo objetivo é a aplicação de pena não privativa
de liberdade, ou seja, multa ou penas restritivas de direitos,
cabendo sua aplicação imediata, tal como a transação
civil, na audiência preliminar, após a ocorrência, ou não,
desta, ou no inicio da audiência de instrução e julgamento,
quando não foi possível naquela fase, desde que proposta
pelo Ministério Público e aceita pelo autor da infração e seu
defensor (art. 76). É a transação penal instituto moderno,
cediço na legislação de outros países [...]65
Verifica-se, portanto, que as finalidades da Lei nº
9.099/95, em matéria criminal, são a composição, e a Transação Penal,
matéria esta já prevista na própria CRFB/88, em seu artigo 98, inciso I, o
que possibilita uma rápida prestação jurisdicional.
No capítulo segundo, serão tratados os aspectos gerais
de dois institutos ditos despenalizadores, trazidos pela Lei 9.099/95, quais
sejam, a transação penal e a suspensão condicional do processo
(também chamado de sursis processual), a fim de que, após, possa-se
analisar os aspectos controvertidos destes institutos.
65 PAZZAGLINI FILHO, Marino; MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio; VAGGIONE, Luiz Fernando. Juizado Especial Criminal: Aspectos Práticos da Lei nº 9.099/95. São Paulo: Atlas S.A. 1996, p. 24.
28
CAPÍTULO 2
DA TRANSAÇÃO PENAL E DA SUSPENSÃO CONDICIONAL
2.1 CONCEITO DE TRANSAÇÃO PENAL
A Transação Penal é um instituto jurídico, que atribui
ao Ministério Público, titular exclusivo da ação penal pública, a faculdade
de dela dispor, desde que o cidadão acusado, preencha os requisitos
entabulados na Lei nº 9.099/95.
Salienta-se que o instituto em comento, também é
aplicável aos crimes de competência dos Juizados Especiais Federais,
conforme previsão expressa do parágrafo único do artigo 2º, da Lei
10.259/01.
Neste prisma, atendidas as exigências legais, cabe ao
representante do parquet, propor ao autor da infração de menor
potencial ofensivo, a aplicação imediata da pena, não privativa de
liberdade.
Tem-se ainda, que a aceitação da proposta da
Transação Penal, pelo cidadão acusado, impede que o representante do
Ministério Público, deflagre a respectiva ação penal, ou seja, com a
aceitação da Transação Penal, não há instauração do processo.
De forma clara, Fernando Capez define a Transação
Penal como sendo:
… a segunda fase compreende a transação penal, isto é, o
acordo entre Ministério Público e autor do fato, pelo qual é
proposta a este uma pena não privativa de liberdade,
29
ficando este dispensado dos riscos de uma pena de
reclusão ou detenção, que poderia ser imposta em futura
sentença, e, o que é mais importante, do vexame de ter de
se submeter a um processo criminal.66
Ainda, retira-se dos ensinamentos de Marino Pazzaglini
Filho:
A transação penal é um instituto decorrente do princípio da
oportunidade da propositura da ação penal, que confere
ao seu titular, o Ministério Público, a faculdade de dispor da
ação penal, isto é, de não promovê-la, sob certas
condições. Nos termos da Lei, como já foi anteriormente
mencionado, adotado o princípio da discricionariedade
regulada, o Ministério Público somente poderá dispor da
ação penal nas hipóteses previstas legalmente, desde que
exista a concordância do autor da infração e a
homologação judicial. (…)67
Por fim, é o entendimento de Sérgio Turra Sobrane:
… o ato jurídico através do qual o Ministério Público e o
autor do fato, atendidos os requisitos legais, e na presença
do magistrado, acordam em concessões recíprocas para
prevenir ou extinguir o conflito instaurado pela prática do
fato típico, mediante o cumprimento de uma pena
consensualmente ajustada.68
Trata-se ainda, de ato de discricionariedade limitada
do representante do MP, conforme ensina Julio Fabbrini Mirabete:
A transação é caso de discricionariedade limitada, só é
cabível em infrações de menor potencial ofensivo, não
implica em reconhecimento expresso da prática do fato
66 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 616. 67 PAZZAGLINI FILHO, Marino; MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio; VAGGIONE, Luiz Fernando. Juizado Especial Criminal: Aspectos Práticos da Lei nº 9.099/95. São Paulo: Atlas S.A. 1996, p. 45. 68 SOBRANE, Sérgio Turra. Transação Penal. São Paulo: Saraiva, 2001.
30
imputado e evita, em princípio, a instauração da ação
penal.69
Sintetizando, a transação penal é um instituto que
confere ao representante do parquet, o poder de dispor da ação penal,
desde que o cidadão acusado preencha certos requisitos expressos em
Lei, os quais serão oportunamente abordados.
Em outros termos, trata-se de uma proposta de
aplicação imediata da pena, que poderá ser pena restritiva de direitos ou
multas (art. 76, caput, da Lei 9.099/95), oferecida ao cidadão acusado
que pode aceitá-la ou não.
Salienta-se novamente que, aceita a proposta pelo
cidadão acusado, o representante do Ministério Público fica impedido de
instaurar a respectiva ação penal.
É o entendimento jurisprudencial:
TACRSP – “A aplicação imediata da pena impede a
instauração da ação penal e, como esta somente se
instaura com o recebimento da denúncia, não há como
recebê-la antes de se fazer a proposta prevista no art. 76 da
Lei nº 9.099/95 ao infrator.”70
Portanto, não restam dúvidas de que, uma vez aceita
a proposta da Transação Penal pelo cidadão acusado, o Ministério
Público, não poderá ofertar denúncia e, se ofertada, o magistrado não
poderá recebê-la.
69 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 85. 70 SÃO PAULO. Tribunal de Alçada do Estado de São Paulo. Recurso em Sentido Estrito nº 1.012.647/8, Sexta Câmara, Rel. Almeida Braga, j. 08 de julho de 1996, TJDTACRIM 32/475.
31
2.2 CONDIÇÕES DE ADMISSIBILIDADE DA TRANSAÇÃO PENAL
Exposto o conceito do instituto em comento, passa-se
a análise dos requisitos previstos pela Lei 9.099/95, para que o cidadão
acusado faça jus à proposta do benefício despenalizador.
Para tanto, se faz necessária, uma análise acerca das
causas impeditivas da proposta da Transação Penal, as quais são
determinadas pela própria Lei 9.099/95.
Neste ínterim, é vedado ao representante do Ministério
Público, oferecer a proposta da Transação Penal, ao acusado que: a)
tenha sido condenado à pena privativa de liberdade com sentença já
transitada em julgado; b) tenha sido beneficiado por um dos benefícios
despenalizadores trazidos pela Lei nº 9.099/95, no prazo de cinco anos; c)
tampouco será concedido o benefício ao cidadão que possua maus
antecedentes, a ponto de a medida se mostrar insuficiente.
É o que dispõe o artigo 76, § 2º, incisos I, II e III, da Lei
9.099/95, transcreve-se:
Art. 76. […]
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de
crime, à pena privativa de liberdade, por sentença
definitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de
cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos
termos deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as
32
circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da
medida.
Comentando o artigo supracitado, discorre Pedro
Manoel Abreu e Paulo de Tarso Brandão:
As únicas hipóteses impeditivas da transação estão previstas
no § 2º do artigo 76: a) ter sido o acusado da infração
condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva; b) ter sido beneficiado
anteriormente, no prazo de cinco anos, com aplicação de
pena restritiva ou multa, em transação; c) não indicarem
seus antecedentes, sua conduta social e a sua
personalidade, bem como os motivos e as circunstâncias,
ser necessária e suficiente a adoção da medida.71
Ainda tratando sobre o tema, discorre Paulo Lúcio
Nogueira:
Não se admitirá a proposta quando ficar comprovado ter
sido o autor da infração condenado pela prática de crime
à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; ter
sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de
cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa; não
indicarem os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da
medida, o que também robustece os argumentos de
possibilidade de divergência judicial.72
Ainda, não há que se confundir as causas impeditivas
previstas na legislação, com as condições da ação, conforme salienta
71 ABREU, Pedro Manoel. BRANDÃO, Paulo de Tarso. Juizados especiais cíveis e criminais: aspectos destacados. Florianópolis: Obra Jurídica, 1996, p. 128 72 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados Especiais Cíveis e Criminais: comentários. São Paulo: Saraiva. 1996, p. 89-90.
33
Ada Pellegrini Grinover73, “pois nesse momento processual ainda não há
ação nem processo”.
Tem-se, portanto, que as causas impeditivas foram
elaboradas com o intuito de vedar a concessão reiterada do benefício
despenalizador ao cidadão cuja personalidade seja voltada para a
prática de infrações penais.
Neste ínterim, destaca-se que a Transação é um direito
subjetivo do cidadão que preencha os requisitos suso mencionados, sendo
obrigação do representante do Ministério Público ofertá-la, caso não haja
qualquer das hipóteses impeditivas ou qualquer outra vedação legal.
Retira-se dos ensinamentos de Pedro Manoel Abreu:
Logicamente, diante de uma das causas impeditivas de
transação, o Ministério Público não pode apresentar
qualquer proposta. No entanto, a transação, quando não
haja vedação legal, é direito subjetivo do cidadão acusado
da prática de ato infracional de menor potencial ofensivo e
não discricionariedade facultada ao membro do Parquet.74
No mesmo sentido são os ensinamento de Fernando
da Costa Tourinho Filho:
Muito embora o caput do art. 76 diga que o Ministério
Público “poderá” formular a proposta, evidente que não se
trata de mera faculdade. Não vigora, entre nós, o princípio
da oportunidade. Uma vez satisfeitas as condições objetivas
e subjetivas para que se faça a transação, aquele poderá
73 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 159 74 ABREU, Pedro Manoel. BRANDÃO, Paulo de Tarso. Juizados especiais cíveis e criminais: aspectos destacados. Florianópolis: Obra Jurídica, 1996, p. 128.
34
converte-se em deverá, surgindo par o autor do fato um
direito a ser necessariamente satisfeito.75
Por fim, ensina Maurício Antônio Ribeiro Lopes76 que
“preenchidos os requisitos legais objetivos e subjetivos o argüido torna-se
titular de um direito subjetivo à obtenção da transação, como também
da suspensão do processo.”
Desta forma, tem-se que o representante do Ministério
Público não tem a liberdade de opção entre ofertar a denúncia ou
formular a proposta de transação, não se tratando, portanto, de ato
discricionário, mas sim de obrigação, caso inexistam causas impeditivas.
No entanto, há doutrinadores que afirmam tratar-se de
poder discricionário limitado do representante do MP, uma vez que
preenchidos os requisitos legais, este apenas poderá escolher qual das
penas alternativas irá propor ao cidadão acusado.
Conclui-se, portanto, que ante a inexistência de causas
impeditivas, a proposta de Transação Penal torna-se um direito subjetivo
do cidadão acusado, sendo que a discricionariedade do representante
do Ministério Público reside em qual das penas alternativas propor.
2.3 CONSEQÜÊNCIAS DA ACEITAÇÃO DA TRANSAÇÃO PENAL
A aceitação da proposta da Transação Penal pelo
cidadão acusado, não acarreta em reconhecimento de culpa pelo
mesmo, tampouco gera reincidência ou efeitos civis.
Neste sentido, retira-se da obra de Pedro Manoel
Abreu e Paulo de Tarso Brandão:
75 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 99. 76 LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Juizados Especiais Criminais. Revista dos Tribunais, 1995, p. 344
35
É de reafirmar-se, aqui, o dito anteriormente: a aceitação
da transação não envolve o reconhecimento de culpa. Por
isso, esta forma de conciliação não induz reincidência e
nem pode ser considerada para efeito de antecedentes,
bem como não gera efeitos civis (artigo 76, §§ 4º e 6º).
Exatamente por isso é que as medidas aplicáveis na fase de
transação não possuem natureza penal.77
Ainda, frisa Fernando Capez78 que “a aceitação da
proposta não implica reconhecimento da culpabilidade.”
No mesmo sentido, Ada Pellegrini Grinover discorre que:
“… a aceitação da sanção pelo autuado configura
submissão voluntária à pena não privativa de liberdade,
mas não indica reconhecimento a culpabilidade penal.
Seguro indício disto é que a aplicação da sanção penal
não gera reincidência.”79
De forma didática, assevera Damásio Evangelista de
Jesus:
“A sentença do juiz especial (§ 5º), homologando a
aceitação da proposta, não gera: a) condenação; b)
reincidência (§4); c) o lançamento do nome do autor do
fato no rol dos culpados (§ 4º, parte final); d) efeitos civis; e)
maus antecedentes.80
Neste sentido, já decidiu o egrégio Superior Tribunal de
Justiça:
Penal. Pena. Fixação. Transações penais anteriores.
Consideração como maus antecedentes. Impossibilidade. –
77 ABREU, Pedro Manoel. BRANDÃO, Paulo de Tarso. Juizados especiais cíveis e criminais: aspectos destacados. Florianópolis: Obra Jurídica, 1996, p. 128. 78 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 612. 79 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 170. 80 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 68.
36
A sentença homologatória de transação penal, realizada
nos moldes da Lei 9.099/95, não obstante o caráter
condenatório impróprio que encerra, não gera
reincidência, nem fomenta maus antecedentes, acaso
praticada posteriormente outra infração. precedentes desta
corte. Ordem concedida.81
Ademais, o único registro que deverá ser feito, quando
da aceitação da proposta da Transação Penal, serve para vedar a nova
concessão do benefício, no prazo de cinco anos, neste sentido, Damásio
Evangelista de Jesus82 afirma que “A sentença é registrada “apenas para
impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos” (§ 4º).”
É justamente o que dispõe o artigo 76, parágrafos 4º e
6º, da Lei nº 9.099/95:
Art. 76 […]
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo
autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos
ou multa, que não importará em reincidência, sendo
registrada apenas para impedir novamente o mesmo
benefício no prazo de cinco anos. […]
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo
não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo
para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá
efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível
no juízo cível.
Destarte, aceita a proposta pelo cidadão acusado,
este não poderá ter nenhum registro desabonador, sendo a sentença
homologatória registrada, somente para efeitos de inibir nova concessão
do benefício no prazo de cinco anos (causa impeditiva).
81BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 13.525, da 6ª Turma, Rel. Min. Fernando Gonçalves, j. 24.10.2000, DJU 04.12.2000, p. 100. 82 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 68
37
Ainda como conseqüência da aceitação da proposta
da Transação Penal, é o impedimento do representante do parquet, em
oferecer denúncia contra o cidadão acusado.
Vislumbra-se assim que, aceita a proposta, o cidadão
acusado compromete-se a cumprir determinada condição (cumprimento
de pena restritiva de direito ou pagamento de multa), estabelecida pelo
representante do Ministério Público, com o fito de não ver-se submetido a
processo penal.
2.4 DESCUMPRIMENTO DA PROPOSTA DA TRANSAÇÃO PENAL
2.4.1 Das penas restritivas de direitos
Sendo a Transação Penal, uma espécie de aplicação
imediata da pena, não privativa de liberdade, esta sujeita ao cidadão
acusado ao cumprimento de determinadas condições a serem
estabelecidas pelo representante do Ministério Público, quando da
proposta, impedido a instauração da persecução criminal.
No entanto, qual a medida a ser aplicada em caso de
descumprimento da proposta?
Segundo o entendimento de Fernando Capez, deve-se
dar vistas ao representante do Ministério Público a fim de que seja
ofertada a denúncia, instaurando-se (após o recebimento desta), a ação
penal, vejamos:
… em caso de descumprimento da pena restritiva de
direitos imposta em virtude de transação penal, não cabe
falar em conversão em pena privativa de liberdade, já que,
se assim ocorresse, haveria ofensa ao princípio de que
ninguém será privado de sua liberdade sem o devido
processo legal (CF, art. 5º, LIV). No lugar da conversão, deve
o juiz determinar a abertura de vista ao Ministério Público
38
para oferecimento da denúncia e instauração do processo-
crime…83
No mesmo sentido, Damásio Evangelista de Jesus84,
afirma que no caso de descumprimento da pena restritiva de direitos,
deve haver a “retomada ou a propositura da ação penal que fora
evitada pela composição”
Já na jurisprudência:
Transação penal. Descumprimento do acordo firmado com
o Ministério Público. Oferecimento de denúncia.
Possibilidade. Homologação de transação penal. Natureza
de coisa julgada formal. Descumprimento do acordo pode
gerar oferta de denúncia. Interpretação do art. 76 da Lei
9.099/95.85
No mesmo sentido:
Lei 9.099/95. Transação penal. Coisa julgada formal. – “A
sentença que homologa a transação penal gera, única e
exclusivamente, coisa julgada formal. Princípio rebus sic
stantibus. Deste modo, a partir do momento em que o autor
da infração descumpre o acordo, surge para o Ministério
Público o dever de promover a ação penal pública.86
Isto posto, para esta corrente doutrinaria e
jurisprudencial, verifica-se que o descumprimento da Transação,
consistente em pena restritiva de direitos, acarreta na possibilidade de o
Representante do Ministério Público em ofertar a denúncia, para a
conseqüente persecução criminal.
83 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 613. 84 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 72 85 SÃO PAULO. Tribunal de Alçada do Estado de São Paulo. Apelação Criminal nº 1.069.079/7, 1ª Câmara, Rel. Damião Cogan, RJTACRIM 38/224, j. 08 de janeiro de 1998. 86 SÃO PAULO. Tribunal de Alçada do Estado de São Paulo. Habeas Corpus nº 327.496/2, 2ª Câmara, Rel. Osni de Souza. RJTACRIM 11/05, j. 24 de setembro de 1998.
39
Ainda, verifica-se a impossibilidade da conversão
direta da pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade, uma
vez que tal situação acarretaria em grave ofensa a diversos princípios
constitucionais, dentre eles destaca-se o princípio do devido processo
legal, o princípio do contraditório, o princípio da ampla defesa, etc.
Em contrapartida, tem-se que a jurisprudência tem
firmado entendimento de que após a homologação da Transação Penal,
por sentença transitada em julgado, não haveria a possibilidade de se
propor a ação penal.
Em recente acórdão da lavra do Ministro Paulo Gallotti,
restou decidido:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
TRANSAÇÃO PENAL.HOMOLOGAÇÃO. SENTENÇA.
DESCUMPRIMENTO. PROPOSITURA DE AÇÃO PENAL.
IMPOSSIBILIDADE. 1. É firme a orientação firmada nesta
Corte no sentido de não ser possível propor ação penal na
hipótese de descumprimento de transação penal
homologada por sentença. 2. Agravo regimental
desprovido.87
Ainda neste sentido:
HABEAS CORPUS . DIREITO PROCESSUAL PENAL. DELITO DE
TRÂNSITO. CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.
TRANSAÇÃO PENAL. ACEITAÇÃO. APLICAÇÃO DE PENA DE
MULTA. INADIMPLEMENTO. OCORRÊNCIA. OFERECIMENTO
DA DENÚNCIA. INCABIMENTO. ORDEM CONCEDIDA. 1. É
firme a jurisprudência do Excelso Supremo Tribunal Federal e
a deste Superior Tribunal de Justiça no sentido de afirmar o
incabimento de propositura de ação penal, na hipótese de
descumprimento da transação penal (artigo 76 da Lei nº
87 BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento, nº 1131076/MT, 6ª Turma, Rel. Min. Paulo Gallotti, j. 21 de maio de 2009, DJ 08.06.2009.
40
9.099/95). 2. Ressalva de entendimento contrário do Relator.
3. Ordem concedida.88
Outro não é o entendimento dos Tribunais estaduais,
vejamos:
TRANSAÇÃO CRIMINAL HOMOLOGADA. DESCUMPRIMENTO.
O trânsito em julgado da decisão que homologa a
transação criminal produz a eficácia de coisa julgada. Com
a superação da fase de conhecimento, a pretensão
cabível é a de cunho executório, e não acusatória.
Correição Parcial indeferida.89
No mesmo sentido:
TRANSAÇÃO PENAL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À
COMUNIDADE. NÃO CUMPRIMENTO. INVIABILIDADE DE
PROSSEGUIMENTO DO FEITO. CABE APENAS EXECUÇÃO.
Havendo sentença homologatória, com trânsito em julgado,
porque tal possibilidade não constou no acordo.90
Esta corrente entende que a homologação por
sentença da Transação Penal, faz coisa julgada formal e material, não
havendo que se falar, portanto, em deflagração da ação penal, em caso
de descumprimento do acordo por parte do cidadão acusado.
2.4.2 Das penas de multa
No entanto, em sendo a medida proposta consistente
no pagamento de multa, a doutrina e a jurisprudência pátria, divergem
quanto a possibilidade do oferecimento da denúncia, conforme se infra-
analisará.
88 BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 60941/MG, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, j. 09.04.2007. 89 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Correição nº 71000170126, Turma Recursal de Ijuí/RS, Rel. Nereu José Giacomolli, j. 08.02.2001. 90 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação nº 71000253583, Turma Recursal Criminal de Uruguaiana, Rel. Katia Elenise Oliveira da Silva, j. 29.11.2001.
41
Damásio Evangelista de Jesus, afirma que, caso haja o
descumprimento da proposta consistente no pagamento de multa quatro
são alternativas:
“… 1º) inicia-se a ação penal. Não há conversão em pena
privativa de liberdade. … 2º) Converte-se a multa em pena
restritiva de direitos (art. 85, desta Lei), não se retoma ou se
inicia a ação penal, uma vez encerrado o procedimento
com a transação penal. … 3º) Converte-se a multa em
prestação de serviço à comunidade, aplicando-se por
analogia o art. 182, § 1º, da LEP; … 4º) A multa deve ser
executada, nos termos da Lei nº 9268/96 e do art. 51, caput,
do CP. …”91
Já o egrégio Superior Tribunal de Justiça decidiu que o
descumprimento da Transação consistente no pagamento de multa, não
é capaz de ensejar a deflagração da respectiva ação penal, transcreve-
se o acórdão da lavra do Ministro Jorge Scartezzini:
Transação penal. Sentença homologatória. Eficácia.
Descumprimento do acordado. Impossibilidade de
oferecimento de nova denúncia. “esta Corte vem
decidindo que a sentença que homologa transação penal
possui a eficácia de coisa julgada material e formal. Assim,
diante do descumprimento do acordo por ela homologado,
não existe a possibilidade de oferecer-se denúncia,
determinando o prosseguimento da ação penal e
considerando-se insubsistente a transação homologada.
Assim, considerando, agiu com acerto a magistrada de
primeiro grau, ao rejeitar a denúncia oferecida contra o
paciente, ponderando que ‘com a homologação judicial
encerrou-se a atividade jurisdicional no âmbito criminal,
restando ao Ministério Público executar o autor da infração
pela dívida de valor decorrente o não pagamento da pena
de multa imposta’ Ademais, o art. 77 da Lei 9.099/95,
estabelece que o Ministério Público ofertará denúncia nos
91 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 71-72
42
seguintes casos: quando não houver aplicação de pena
diante da ausência do autor do fato, ou, ainda, quando
não houver transação. No caso em tela, houve transação e,
em face do descumprimento do acordo realizado, dever-
se-á aplicar o art. 85, da lei 9.099/95, c/c o art. 51, do CP,
obedecendo-se a nova redação conferida pela Lei
9.286/96. Precedentes. Ordem concedida para anular o
decisum que, reformando a decisão de primeiro grau,
determinou o recebimento da denúncia e o processamento
do feito.”92
Desta forma, verifica-se que a matéria é controvertida,
uma vez que há entendimento no sentido de ser possível a deflagração
da ação penal em caso de descumprimento da Transação Penal
consistente da pena de multa, enquanto o STJ já decidiu em sentido
contrário, ou seja, de que o descumprimento da medida alternativa não
seria capaz de ensejar a instauração do respectivo processo criminal.
2.5 CONCEITO DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
Assim como a Transação Penal, a Suspensão
Condicional do Processo é um instituto dito “despenalizador”, o qual
também foi incorporado ao ordenamento jurídico pátrio pela Lei nº
9.099/95, e tem como fito evitar a imposição de pena nos crimes de menor
potencial.
Tal instituto encontra amparo no artigo 89, da Lei
9.099/95, transcreve-se:
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for
igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o
Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a
suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o
acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos 92 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 11111. 5ª Turma, Rel. Ministro Jorge Scartezzini, j. 13 de setembro de 2000, DJU de 18.12.2000, p. 219.
43
que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77
do Código Penal).93
Fernando Capez94, define o instituto da Suspensão
Condicional do Processo, como sendo “instituto despenalizador, criado
como alternativa à pena privativa de liberdade, pelo qual se permite a
suspensão do processo, por determinado período e mediante certas
condições.
Já para Damásio Evangelista de Jesus95, a Suspensão
Condicional do Processo é “uma alternativa à jurisdição penal, um instituto
de despenalização: sem que haja exclusão o caráter ilícito do fato, o
legislador procura evitar a aplicação de pena.”
Ada Pellegrini Grinover96, sustenta que a Suspensão
Condicional do Processo é “… a paralisação do processo, com
potencialidade extintiva da punibilidade, caso todas as condições
acordadas sejam cumpridas, durante determinado período de prova.”
Destaca-se que, diferentemente da Transação Penal,
na Suspensão Condicional do Processo há a deflagração da ação penal
para a posterior proposta do benefício.
Em assim sendo, tem-se que a Suspensão Condicional
do Processo, também denominada de “sursis processual”, é a efetiva
suspensão da tramitação processual, por determinado período e
mediante o preenchimento de certas condições, sendo que, ultrapassado
o período de prova estipulado, extingue-se a punibilidade do agente.
93 BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de Setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Art. 89. DOU de 27.09.1995. 94 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 624-625. 95 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 100. 96 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 253.
44
2.6 CONDIÇÕES DE ADMISSIBILIDADE DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO
Assim como a Transação Penal, prevista no artigo 76,
da Lei nº 9.099/95, para a concessão do sursis processual, o cidadão
acusado deve preencher uma série requisitos, cumulativos.
Ada Pellegrini Grinover, assevera que a Suspensão do
Processo é aplicável:
Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou
inferior a um ano, o Ministério Público, por força do art. 89
da Lei 9.099/95, ao oferecer a denúncia, pode propor a
suspensão do processo, desde que o acusado preencha
alguns requisitos legais.97
Já na doutrina de Fernando da Costa Tourinho Filho:
Assim, são condições para a admissibilidade da proposta de
suspensão: 1) a pena mínima cominada ao crime não pode
ultrapassar um ano; 2) não pode haver em relação ao réu
outro processo em curso; 3) inexistência de condenação
anterior por outro crime; e 4) a culpabilidade, os
antecedentes, a conduta social e a personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias,
autorizem a concessão do benefício.98
Já para Damásio Evangelista de Jesus:
A pena mínima abstrata não superior a um ano, sejam os
crimes apenados com reclusão ou detenção e se incluam
ou não na competência dos Juizados Especiais Criminais; b)
o acusado não pode estar sendo processado por outro
crime; c) o denunciado não pode ter sido condenado por
97 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 252. 98 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 170.
45
outro crime; d) estejam presentes as outras condições do
sursis prevista no art. 77 do CP.99
Por fim, complementa Fernando Capez:
Está previsto no art. 89 da Lei n. 9.099/95, pelo qual se
admite a possibilidade de o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, propor a suspensão condicional do processo,
pelo prazo de dois a quatro anos, em crimes cuja pena
mínima cominada seja igual ou inferior a um ano,
abrangidos ou não por esta lei, desde que o acusado
preencha as seguintes exigências legais: não estar sendo
processado ou não ter sido condenado por outro crime +
estarem presentes os demais requisitos que autorizariam a
suspensão condicional da pena (art. 77 do CP).100
Portanto, que à aplicação do instituto em comento,
está condicionada ao preenchimento cumulativo dos seguintes requisitos:
1) crime cuja pena máxima cominada não ultrapasse 01 (um) ano; 2) o
cidadão acusado não pode possuir outro processo em tramitação contra
si; 3) inexistência de condenação por outro crime; 4) estarem presentes os
requisitos subjetivos autorizadores da suspensão condicional da pena
(conforme artigo 77, inciso II, do CP).
Neste sentido, transcreve-se o artigo 77, do Código
Penal:
Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não
superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4
(quatro) anos, desde que: […]
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e
personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias autorizem a concessão do benefício; […]
99 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 112-113. 100 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 625.
46
Assim, deve-se acrescentar aos requisitos já expostos,
os previstos no inciso II , do artigo 77, do Código Penal.
Sobre a questão, discorre Maurício Antônio Ribeiro
Lopes:
São outros requisitos legais pertinentes à matéria de
suspensão os seguintes: a culpabilidade, os antecedentes, a
conduta social e personalidade do agente, bem como os
motivos e circunstâncias do crime indicarem a concessão
do benefício como medida necessária e suficiente [...]101
Por fim, acrescenta, Julio Fabbrini Mirabete:
Só poderá ser proposta e homologada a suspensão do
processo quando tais circunstâncias forem totalmente
favoráveis ao acusado. Tratando-se de medida de
“despenalização”, exige a lei que tais circunstâncias
indiquem a ausência de periculosidade do acusado e a
presunção de que o ilícito praticado foi apenas um
incidente excepcional em sua vida. Qualquer indício de
que é provável que o réu volte a delinqüir deve, na dúvida,
impedir a proposta de suspensão condicional do
processo.102
Por fim, salienta-se que há divergência quanto a
subjetividade da aplicação do instituto em comento.
Há corrente doutrinária e jurisprudencial no sentido de
que assim como na Transação Penal, sendo preenchidos os requisitos
exigidos em Lei, o acusado faria jus à proposta da Suspensão Condicional
do Processo.
101 LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais: Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995 anotada. São Paulo: Revista dos Tribunais. 1995, p. 78. 102 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, Jurisprudência e Legislação. São Paulo: Atlas S.A. 5ª ed., 2002. p. 322.
47
Neste sentido já decidiu o Superior Tribunal de Justiça,
em acórdão da lavra do Ministro Vicente Leal, transcreve-se:
Penal. Processual penal. Suspensão condicional do
processo. Direito subjetivo do réu. Encerramento da
instrução. Lei 9.099/95. Art. 89. – “A suspensão condicional
do processo, solução extrapenal para o controle social de
crimes de menor potencial ofensivo, é um direito subjetivo
do réu, desde eu presentes os pressupostos objetivos.
Preenchendo o acusado as condições inscritas no art. 89 da
Lei 9.099/95, impõe-se a concessão do benefício, mesmo
que se encontre encerrada a instrução ou tenha sido
proferida sentença condenatória fixando a pena em um
ano de reclusão.103
No mesmo sentido, é o entendimento de Damásio
Evangelista de Jesus, o qual entende que “preenchidas as condições
legais, a suspensão provisória do processo é um direito do acusado, não
configurando sua proposição uma faculdade do Ministério Público”. 104
Por outro lado, há forte entendimento no sentido
diametralmente oposto, ou seja, de que mesmo tendo o acusado
preenchido os requisitos entabulados na legislação, a proposta da
Suspensão do Processo seria ato discricionário do representante do
Ministério Público.
Neste sentido, retira-se dos ensinamentos de Fernando
Capez:
Não se trata, portanto, de direito subjetivo do réu, mas de
ato discricionário do Parquet. Na hipótese de o promotor de
justiça recusar-se a fazer a proposta, o juiz, verificando
presentes os requisitos objetivos para a suspensão do
processo deverá aplicar, por analogia, o art. 28 do CPP,
103 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 10.254, 6ª Turma, Rel. Min. Vicente Leal, j. 02 de março de 2000, DJU 27.03.2000, p. 136. 104 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 101.
48
encaminhando os autos ao Procurador Geral de Justiça a
fim de que este se pronuncie sobre o oferecimento ou não
da proposta.105
Referido entendimento até mesmo restou sumulado
pelo Supremo Tribunal Federal (súmula 696),
Neste sentido:
Súmula 696 do STF - Reunidos os pressupostos legais
permissivos da suspensão condicional do processo, mas
recusando o promotor de Justiça a propô-la, o juiz,
dissentindo, remeterá a questão ao Procurador Geral,
aplicando-se por analogia o art. 28 do CPP.106
Verificados, portanto, os requisitos a serem observados
à concessão do benefício em comento, passa-se à análise das
conseqüências decorrentes da aceitação da proposta da Suspensão
Condicional do Processo.
2.7 CONSEQÜÊNCIAS DA ACEITAÇÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO
Ao denunciar, o representante do Ministério Público,
desde que preenchidos os requisitos já elencados, poderá propor a
Suspensão Condicional do Processo pelo período de 02 à 04 anos,
mediante o cumprimento de certas condições.
Referidas condições estão previstas nos parágrafos 1º e
2º, do artigo 89, da Lei nº 9.099/95, transcreve-se:
Art. 89. […]
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na
presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá
105 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 624. 106 RT 817/482.
49
suspender o processo, submetendo o acusado a período de
prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de freqüentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem
autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo,
mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica
subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e
à situação pessoal do acusado.107
Comentando referidos dispositivos legais, ensina
Damásio Evangelista de Jesus:
O juiz (do Juizado Especial ou do Juízo Comum), ao receber
a denúncia, suspende o processo determinando um
período de prova de dois a quatro anos, mediante certas
condições (§ 1º, I a IV). Essas condições são: a) legais (§ 1º I
a IV); b) judiciais (§ 2º): condições impostas pelo juiz de
acordo com as circunstâncias do fato e pessoais do
acusado. As condições do § 1º não são exclusivas, podendo
o Juiz escolher outras, como consta do § 2º.108
Ainda para Damásio Evangelista de Jesus109, o
parágrafo 2º do artigo supracitado, abre um leque enorme de
possibilidades ao magistrado, quando da especificação das condições
do período de prova da Suspensão Condicional do Processo, no entanto,
107 BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de Setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Art. 89. DOU de 27.09.1995 108 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 124. 109 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 124.
50
tem-se que estas devem ser adequada ao caso concreto, não podendo
expor o acusado a vexame ou constrangimento.
O objetivo maior do período de prova é analisado com
destreza por Ada Pellegrini Grinover:
Período de prova consiste no lapso temporal em que o
acusado que aceitou a suspensão deve cumprir
determinadas condições. É sobretudo durante o período de
prova que o acusado deve demonstrar autodisciplina e
senso de responsabilidade.110
Por fim, salienta-se que, caso decorra o prazo de
Suspensão sem que o acusado tenha dado ensejo à revogação do
benefício, impõe-se a extinção da punibilidade do agente, sem que,
contudo, seja proferida qualquer sentença condenatória.
Neste sentido, salienta Damásio Evangelista de Jesus111
que, findo o período de prova sem que haja a revogação “extingue-se a
punibilidade por sentença meramente declaratória (§ 5º). O legislador
criou uma nova causa extintiva da punibilidade, incidindo sobre a
pretensão punitiva.”
2.8 DA REVOGAÇÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
A Lei nº 9.099/95, em seu artigo 89, parágrafos 3º e 4º,
prevê as hipóteses em que poderá ser revogado o benefício sob análise.
Transcreve-se:
Art. 89. […]
110 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 344. 111 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 127.
51
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o
beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não
efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a
ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou
descumprir qualquer outra condição imposta.
Neste diapasão, verifica-se que a revogação do
benefício pode se dar de forma obrigatória, nos casos previstos no § 3º do
artigo 89, da Lei 9.099/95, ou de forma facultativa, nas hipóteses do § 4º.
Neste sentido, transcreve-se parte da obra de Ada
Pellegrini Grinover:
Pelo que ficou estatuído nos parágrafos terceiro e quarto do
art. 89, quatro são as causas que revogam ou podem
revogar a suspensão condicional do processo: a) ser
processado por outro crime no curso do período de prova;
b) não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do
dano; c) ser processado, no curso do período de prova, por
contravenção; e d) descumprir qualquer outra condição
imposta. As duas primeiras são causas obrigatórias de
revogação do instituto (§ 3º: “a suspensão será
revogada…”); já as duas últimas são causas facultativas (§
4º: “a suspensão poderá ser revogada…”).112
Comentando sobre o tema, ensina Júlio Fabbrini
Mirabete:
Será ela revogada, em primeiro lugar, se o beneficiário vier
a ser processado por outro crime. É indispensável, portanto,
que já se tenha instaurado a ação penal pelo outro crime,
com o recebimento da denúncia ou queixa, não bastando
112 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 359.
52
à notícia da prática de crime ou mesmo da instauração de
inquérito policial contra o beneficiário.113
Especificamente quanto a revogação obrigatória,
retira-se da obra de João Roberto Pariazatto:
Estabeleceu o parágrafo 3º do art. 89 da lei n.º 9.099, de 26
de setembro de 1995, da mesma forma que o Código Penal
(art. 81), como causa de revogação obrigatória da
suspensão do processo, se durante o período de prova (dois
a quatro anos), o beneficiário vier a ser processado por
outro crime (excetuando-se a contravenção), ou não
efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano,
imposta como condição legal ao benefício (inciso I do
parágrafo 1º do art. 89 da Lei n.º 9.099, de 26 de setembro
de 1995), deixando de cumprir tal condição aceita quando
do benefício legal.114
Complementando o raciocínio, novamente discorre
Júlio Fabbrini Mirabete:
A primeira delas é a instauração de ação penal por
contravenção. Embora não seja obrigatória a revogação
na hipótese, o Juiz deve revogá-la quando a nova ação
penal revela que a suspensão condicional do processo não
é suficiente para prevenir infrações penais por parte do
beneficiário. A segunda causa facultativa de revogação
decorre do descumprimento de qualquer outra condição
imposta, seja ela obrigatória ou facultativa. Assim, a
freqüência a lugares proibidos, a ausência prolongada da
comarca onde reside sem autorização do Juiz, a falta de
comparecimento pessoal a Juízo para informar e justificar
suas atividades nas datas aprazadas, bem como a
desobediência às restrições impostas pelo Juiz, adequadas
113 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, Jurisprudência e Legislação. São Paulo: Atlas S.A. 5ª ed., 2002, p. 377. 114 PARIZATTO, João Roberto. Juizados Especiais Cíveis e Criminais: Justiça Federal. Ouro Fino: Edipa, 2ª ed., 2002, p. 236
53
ao fato e à situação pessoal do acusado, são causas
facultativas da revogação do benefício.115
Conclui-se, portanto, que a Suspensão Condicional do
Processo poderá ser revogada, caso o acusado descumpra qualquer das
condições impostas, ou ainda, no caso de cometimento de novo ilícito
penal.
Como conseqüências da revogação, esclarece Ada
Pellegrini Grinover:
A conseqüência primeira da revogação da suspensão,
obviamente, é o reinício processo. O processo que estava
paralisado voltará a ter curso. E nesta altura a denúncia já
foi recebida. Nesse sentido: “Também em casos de
descumprimento das condições impostas, sejam
obrigatórias (incisos I a IV do § 1º, do artigo 89) ou
facultativas (§ 2º, do artigo 89), com a respectiva
declaração da revogação do benefício, será o processo
reiniciado, voltando ao seu normal andamento” (STJ, REsp
264.183-PR, rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, m j 25.08.2004).116
Ora, trata-se de Suspensão Condicional do Processo,
ou seja o trancamento da ação penal mediante o cumprimento de
determinadas condições. Não sendo estas obedecidas, o processo torna
ao seu curso normal.
115 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, Jurisprudência e Legislação. São Paulo: Atlas S.A. 5ª ed., 2002, p. 382. 116 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 362-363.
54
CAPÍTULO 3
ASPECTOS ESPECIAIS DA TRANSAÇÃO PENAL E DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
3.1 TRANSAÇÃO PENAL E AÇÃO PENAL PRIVADA
Há grandes divergências na doutrina e na
jurisprudência, acerca da possibilidade da proposta da Transação Penal
nos crimes de ação penal privada, bem como acerca de quem possui a
legitimidade para propor tal benefício ao cidadão acusado, tal como se
infra-analisará.
Fernando Capez, afirma que um dos pressupostos para
a concessão da Transação Penal, é justamente ser o crime de iniciativa
pública condicionada ou não, transcreve-se:
Os pressupostos para a celebração do acordo penal são: -
tratar-se de crime de ação penal pública incondicionada
ou condicionada à representação do ofendido (caso em
que ela deverá ser oferecida). Assim, não é cabível em
crime de ação penal de iniciativa privada.117
Fernando Capez embasa seu entendimento no
princípio da disponibilidade (o ofendido poderá desistir do processo, o que
não ocorre nos crimes de ação pública), imperativo nos crimes de ação
penal de iniciativa exclusivamente privada.
Mais adiante na mesma obra, Fernando Capez
complementa:
117 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 617.
55
… se a ação penal for privada, não cabe transação, pois,
como vigora o princípio da disponibilidade, a todo tempo o
ofendido poderá, por outros meios (perdão e perempção),
desistir do processo; entretanto, não tem autoridade para
oferecer nenhuma pena, limitando-se a legitimidade que
recebeu do Estado à mera propositura da ação.118
Compartilhando do mesmo entendimento, Damásio
Evangelista de Jesus119 também sustenta ser incabível a proposta da
Transação Penal, em crimes de ação penal de iniciativa privada.
Esta corrente doutrinária embasa sua tese, vedando a
concessão da Transação Penal aos crimes de ação privada, sob o
argumento de que inexiste texto legal prevendo esta situação.
Outro não é o entendimento de Marino Pazzaglini Filho:
A lei não contempla a hipótese de transação penal para a
ação penal de iniciativa privada, uma vez que menciona
apenas a possibilidade de elaboração de proposta por
parte do Ministério Público.120
Fortalecendo esta corrente, destaca Julio Fabbrini
Mirabete:
Não prevê a lei a possibilidade de transação na ação penal
de iniciativa privada. Isto porque, na espécie, o ofendido
não é representante titular do jus puniendi, mas somente do
jus persequendi in juditio. Não entendeu possível que
pudesse, assim, a aplicação de pena na hipótese de
118 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 618. 119 JESUS, Damásio Evangelista. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 62 120 PAZZAGLINI FILHO, Marino; MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio; VAGGIONE, Luiz Fernando. Juizado Especial Criminal: Aspectos Práticos da Lei nº 9.099/95. São Paulo: Atlas S.A. 1996, p. 55.
56
infração penal de menor potencial ofensivo, permitindo a
vítima transacionar sobre uma sanção penal.121
Portanto, para esta corrente, apenas o Ministério
Público é o detentor do jus puniendi, ou seja, o poder de punir conferido
ao Estado. Por tal motivo, não seria permitido ao ofendido, transacionar
sobre uma sanção penal.
O extinto Tribunal de Alçada Criminal do estado de
São Paulo, assim decidiu:
Juizado Especial Criminal. Transação penal. Aplicação à
ação penal privada. Impossibilidade. – “A transação penal
é inaplicável à ação penal privada, pois, instituto de
natureza consensual, não constitui direito público subjetivo
do autor do fato, não podendo ser deferido contra a
vontade expressa de uma das partes”122
Já o Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em acórdão
da lavra do Desembargador Mário Machado, transcreve-se:
Ação penal privada. Transação penal. Ilegitimidade do
Ministério Público. – “Tratando-se de ação penal privada,
não tem legitimidade o Ministério Público para propor e
acertar transação penal, nos termos do art. 76 da Lei
9.099/95. A referida norma é expressa quanto a que
transação penal, a ser proposta pelo Ministério Público,
poderá ter lugar, ‘havendo representação ou tratando-se
de crime de ação penal pública incondicionada’, o que
não engloba crime de ação penal privada. Sentença
anulada, para que, inviável ao Ministério Público, no caso,
propor transação penal, prossiga o processo, como de
direito”.123
121 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, Jurisprudência e Legislação. São Paulo: Atlas S.A. 5ª ed., 2002, p. 137. 122 TACRIM-SP, Apelação Criminal nº 137.761-5/1, Rel. René Ricupero, j. 19.08.2003, Rolo-flash 2013/951. 123 TJDF, Apelação Criminal nº 1755897, Rel. Mário Machado, DJU 03.12.1997, p. 29.887.
57
Em contrapartida, Rui Stoco sustenta ser imprescindível
a concordância do ofendido, para que seja viabilizada a proposta da
Transação Penal ao querelado, transcreve-se:
Da mesma forma, a nosso ver, em se tratando de ação
penal privada, não há que se negar aplicação dos Juizados
Especiais Criminais. A diferença essencial nesses casos está
no papel da parte (querelante), a quem cabe consentir ou
não com a transação penal, pois, em se tratando de ação
penal privada, é a parte o titular da ação e não o Ministério
Público.124
Salienta-se que, para esta corrente, a proposta da
Transação Penal não é oferecida diretamente pelo ofendido, o qual
simplesmente consente para que o representante do parquet, ofereça a
proposta ao cidadão acusado.
O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou
favorável a esta corrente, em acórdão da lavra do Ministro Fernando
Gonçalves, transcreve-se:
Recurso de habeas corpus. Juizados Especiais Criminais.
competência. Crime de difamação. Ação penal de
iniciativa privada. Proposta de transação. Ministério Público.
Possibilidade. – “1 – A teor do disposto nos arts. 519 usque
523, do CPP, o crime de difamação, do art. 139 do CP, para
o qual não está previsto procedimento especial, submete-se
à competência dos Juizados Especiais Criminais. 2 – Na
ação penal de iniciativa privada, desde que não haja
formal oposição do querelante, o Ministério Público poderá,
validamente, formular proposta de transação que, uma vez
aceita pelo querelado e homologada pelo juiz, é definitiva
e irretratável. 3 – Recurso improvido”.125
124 STOCO, Rui, et al. Código de Processo Penal e sua interpretação jurisprudencial. 2ª Ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 423-424. 125 STJ, RHC nº 8123, Rel. Fernando Gonçalves, j. 16.04.1999, DJU 21.06.1999.
58
Tal como salientado pelo Ministro Fernando Gonçalves,
há a possibilidade de o representante do MP oferecer da proposta da
Transação Penal em crimes de ação privada, desde que não haja
oposição por parte do ofendido.
Há, ainda, aqueles que defendem ser possível a
proposta da Transação Penal pelo parquet, mesmo sem o consentimento
do ofendido.
Neste sentido, retira-se dos ensinamentos de Ada
Pellegrini Grinover:
A vítima, que viu frustrado o acordo civil do art. 74, quase
certamente oferecerá a queixa, se nenhuma outra
alternativa lhe for oferecida. Mas, se pode o mais, porque
não poderia o menos? Talvez sua satisfação, no âmbito
penal se reduza à imposição imediata de uma pena
restritiva de direitos ou multa, e não se vêem razões válidas
para obstar-se-lhe a via da transação que, se aceita pelo
autuado, será mais benéfica para este. […]126
Mais adiante na mesma obra, complementa:
Dentro desta postura, é possível ao juiz aplicar por analogia
o disposto na primeira parte do art. 76, para que também
incida nos casos de queixa, valendo lembrar que se tratar
de norma prevalentemente penal e mais benéfica…127
Defendendo esta posição, o Superior Tribunal de
Justiça já decidiu:
[…] A Terceira Seção desta Egrégia Corte firmou o
entendimento no sentido de que, preenchidos os requisitos
autorizadores, a Lei dos Juizados Especiais Criminais aplica-
126 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 150. 127 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 150.
59
se aos crimes sujeitos a ritos especiais, inclusive àqueles
apurados mediante ação penal exclusivamente privada.
Ressalte-se que tal aplicação se estende, até mesmo, aos
institutos da transação penal e da suspensão do processo.
[…]128
No mesmo sentido:
Processual penal. Habeas corpus. Lei 9.099/95. Ação penal
privada. – “A Lei 9.099/95, desde que obedecidos os
requisitos autorizadores, permite a transação e a suspensão
condicional do processo, inclusive nas ações penais de
iniciativa exclusivamente privada (precedentes). Habeas
corpus concedido.129
Verifica-se, portanto, que há entendimentos
diametralmente opostos na doutrina e jurisprudência pátria, em relação a
possibilidade de aplicação da Transação Penal, aos crimes de ação
penal de iniciativa privada.
Na tentativa de unificar o entendimento, a Comissão
Nacional da Escola Superior da Magistratura, criada para a apreciação
da Lei 9.099/95, em sua 11ª conclusão, estatuiu, in verbis “O disposto no
art. 76 abrange os casos de ação penal privada”.
Desta feita, entende-se ser perfeitamente aplicável o
instituto da Transação Penal, aos crimes de ação penal privada, sendo o
Ministério Público o detentor de legitimidade para efetuar a proposta da
transação, uma vez que não seria viável autorizar o ofendido a
transacionar sobre a “pena” a ser aplicada ao cidadão acusado,
mormente em face de sua parcialidade.
128 Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 34085/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 08.06.2004, DJ 02.08.2004, p. 457. 129 STJ, HC 13337, Rel. Felix Fischer, j. 15.05.2001, DJU 13.08.2001.
60
3.2 DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO NOS CRIMES DE AÇÃO
PENAL PRIVADA
Em se tratando da Suspensão Condicional do Processo,
após a publicação da Lei nº 9.099/95, inúmeros doutrinadores entenderam
ser inaplicável o instituto em comento aos crimes de ação penal privada.
Tal fato decorre de que o próprio texto legal, legitimou apenas o Ministério
Público para o oferecimento da proposta.
Entretanto, o egrégio Superior Tribunal de Justiça,
entendeu também ser aplicável o sursis processual aos crimes de ação de
iniciativa privada, transcreve-se alguns julgados:
A Lei n. 9.099/95, desde que obedecidos os requisitos
autorizadores, permite a transação e a suspensão
condicional do processo, inclusive nas ações penais de
iniciativa exclusivamente privada.130
No mesmo sentido:
A Lei dos Juizados Especiais incide nos crimes sujeitos a
procedimentos especiais, desde que obedecidos os
requisitos autorizadores, permitindo a transação e a
suspensão condicional do processo, inclusive nas ações
penais exclusivamente privadas.131
Ademais, o fato de o texto legal supor que o instituto é
privativo aos crimes de ação penal pública, há doutrinadores que
entendem ser cabível também em crimes de ação privada.
Neste sentido discorre Ada Pellegrini Grinover:
130 Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 13.337/RJ, Rel. Min. Felix Fischer, j. 15.05.2001, DJ 13.08.2001. 131 Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 33.929/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 19.08.2004, DJ 20.09.2004.
61
… o fato de o artigo 89 mencionar exclusivamente
"Ministério Público", "denúncia", não é obstáculo para a
incidência da suspensão na ação penal privada, por causa
da analogia (no caso in bonan partem), que vem sendo
reconhecida amplamente na hipótese do art. 76.132
Já no que tange a legitimidade para a propositura da
proposta da Suspensão Condicional do Processo, há várias correntes
doutrinárias.
A primeira entende que o legitimidade, in casu, seria
do querelante, detentor da ação penal privada.
[...] Suspensão condicional do processo instaurado
mediante ação penal privada: acertada, no caso, a
admissibilidade, em tese, da suspensão, a legitimação para
propô-la ou nela assentir é do querelante, não, do Ministério
Público.133
No mesmo sentido:
[…] A Lei nº 9.099/95, desde que obedecidos os requisitos
autorizadores, permite a suspensão condicional do
processo, inclusive nas ações penais de iniciativa
exclusivamente privada, sendo que a legitimidade para o
oferecimento da proposta é do querelante. (Precedentes
desta Corte e do Pretório Excelso). Queixa recebida em
relação ao crime previsto no art. 139 c/c art. 141, inciso III,
do Código Penal, determinando-se a abertura de vista ao
querelante a fim de que se manifeste a respeito da
suspensão condicional do processo, em observância ao art.
89 da Lei nº 9.099/95.134
132 Ada Pellegrini Grinover, et al. Juizados Especiais Criminais – Comentários. 2ª Ed, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, pág. 246. 133 Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 81720/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 19.04.2002, p. 49. 134 Superior Tribunal de Justiça. Ação Penal nº 390/DF, Rel. Min. Felix Fischer, j. 06.03.2006, DJ, 10.04.2006.
62
Em contrapartida, há crescente entendimento
doutrinário e jurisprudencial, no sentido de ser possível o representante do
Ministério Público propor a Suspensão Condicional do Processo, também
nos crimes de iniciativa privada.
No entanto, assim como ocorre nas hipóteses de
Transação Penal, para que o MP proponha a Suspensão do Processo, não
poderá existir qualquer oposição do ofendido, o qual detém a
legitimidade ativa, in casu.
3.3 APLICAÇÃO DA TRANSAÇÃO PENAL E DO SURSIS PROCESSUAL NAS
HIPÓTESES DE CONCURSO DE CRIMES
Outra grande discussão gira em torno da aplicação
dos institutos da Transação Penal e da Suspensão Condicional do
Processo, nas hipóteses de concurso de crimes.
O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento de
que para efeitos da proposta dos institutos sob análise, deve-se levar em
consideração o somatório das penas, em caso de concurso material, ou
da exasperação, em caso de concurso formal ou crimes continuados.
Neste sentido, chegou a editar a súmula 243, que assim
estabelece:
O benefício da suspensão do processo não é aplicável em
relação às infrações penais cometidas em concurso
material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando
a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela
incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01)
ano.135
Neste sentido existem inúmeras outras decisões da
Corte Especial, transcreve-se:
135 STJ, súmula nº 243, editada em 11.12.2000.
63
[…] Prevalece o entendimento de que a suspensão
condicional do processo prevista no art. 89 da Lei nº
9.099/95 é inaplicável aos crimes cometidos em concurso
material, formal ou em continuidade, quando a soma das
penas mínimas cominadas a cada crime, a consideração
do aumento mínimo de 1/6, ou o cômputo da majorante do
crime continuado, conforme o caso, ultrapassar o quantum
de 01 ano, hipótese dos autos.[…]136
Já em relação à Transação Penal:
[…] 2. Ocorre que, no caso de concurso de crimes, a pena
considerada para fins de fixação de competência será o
resultado da soma, no caso de concurso material, ou a
exasperação, na hipótese de concurso formal ou crime
continuado, das penas máximas cominadas ao delitos.
Precedentes. 3. Dessa forma, sendo o total das penas, em
abstrato, do caso vertente, superior a 2 (dois) anos, resta
afastada, de plano, a competência dos Juizados Especiais,
não fazendo jus o paciente ao benefício da transação
penal. […]137
Em contraposição ao entendimento emanado pelo
STJ, há doutrinadores que entendem ser equivocada a soma ou
exasperação das penas, para efeitos da aplicação dos benefícios
despenalizadores, da Lei 9.099/95.
O Min. Sepúlveda Pertence138, em voto proferido no
Habeas Corpus nº 77.242, entendeu que “no concurso de crimes, cada
infração deve ser apreciada isoladamente, considerando a pena mínima
abstrata, e não a soma delas…”, no entanto, o Min. Sepúlveda Pertence
teve seu voto vencido. (Plenário, DJU de 25.1.2001).
136 Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Habeas Corpus, nº 19183/BA, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 12.09.2006, DJU 09.10.2006, p. 313. 137 Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 41891/RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 28.06.2005, DJ 22.08.2005, p. 319. 138 Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 77.242. Rel. Min. Moreira Alves, j. 18.03.1999, DJ 25.05.2001, p. 11.
64
Para esta corrente, deve-se analisar individualmente as
penas cominadas, para efeitos da proposta da Transação ou Suspensão,
aplicando-se, por analogia, o artigo 119, do CP, juntamente com a súmula
497, do STF, transcreve-se:
Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da
punibilidade incidirá sobre a pena de cada um,
isoladamente.139
Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-
se pela pena imposta na sentença, não se computando o
acréscimo decorrente da continuação. 140
Defensora desta corrente, leciona Ada Pellegrini
Grinover:
… não importa qual seja a natureza do concurso: material,
formal ou crime continuado. A concessão da suspensão, em
qualquer hipótese, deve ser regida pelo critério bifásico
individual-global. No primeiro momento, pensamos que de
modo algum podem ser somadas as penas mínimas de
cada delito para o efeito de excluir, ab initio, a suspensão.
Quanto à pena (requisito objetivo), o critério de valoração é
o individual (CP, art. 119 e Súmula 497 do STF). Cada crime
deve ser considerado isoladamente, com sua sanção
mínima abstrata respectiva. Se temos, por exemplo, cinco
crimes em concurso (cinco estelionatos, ad exemplum) e
cada um deles, no mínimo abstrato, não excede o limite de
um ano, em tese, pela pena cominada, todos admitem a
suspensão.141
Ainda defendendo esta posição, é o entendimento de
Damásio Evangelista de Jesus142, para o qual o fundamento básico é
139 BRASIL. Código Penal, art. 119. 140 Supremo Tribunal Federal. Súmula 497. DJ 10.12.1969, p. 5931. 141 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 3ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 254. 142 JESUS, Damásio Evangelista de. Leis dos Juizados Criminais Anotado. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 122.
65
também a aplicação por analogia da questão com a da prescrição,
analisando-se isoladamente as penas cominadas.
Ora, se no concurso de crimes as penas não
cominadas não são somadas, nem mesmo para efeitos da prescrição da
pretensão punitiva, tampouco exasperadas, nos casos de crimes
continuados ou de concurso formal, tem-se perfeitamente viável a
aplicação por analogia dos dispositivos que regulam a matéria.
Embora minoritária, tem-se perfeitamente aplicável o
entendimento desta corrente, por analogia ao artigo 119 do Código
Penal, bem como pela Súmula 497, do Supremo Tribunal Federal, que
regulam a prescrição.
3.4 DA APLICAÇÃO DA PROPOSTA DA TRANSAÇÃO PENAL E DA SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO APÓS SENTENÇA DE DESCLASSIFICAÇÃO
Passa-se a analisar, então, a possibilidade da proposta
da Transação Penal e da Suspensão do Processo nos casos em que a
sentença desclassifica o delito, para um crime de menor potencial.
A questão merece destaque, uma vez as propostas, in
casu, são oferecidas após todo o trâmite processual, o que contraria o
disposto na própria Lei nº 9.099/95.
Neste sentido, é sabido que a Transação Penal é
ofertada ao cidadão acusado, na segunda parte da audiência
preliminar, sem que, contudo, haja o oferecimento da denúncia.
Em contrapartida, a Suspensão Condicional do
Processo, deve ser ofertada ao acusado, juntamente com a denúncia,
sendo que o magistrado, ao receber a denúncia, determina o
sobrestamento do feito.
66
Verificado isto, a questão é a seguinte: e se o cidadão
é denunciado por um delito que foge a competência do JECrim, no
entanto, em sentença, o magistrado desclassifica o delito para um de
menor potencial ofensivo, deve ser oferecido os benefícios da Lei nº
9.099/95?
A jurisprudência tem se manifestado favorável à
proposta dos institutos.
O egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em
acórdão da lavra do Des. Sérgio Paladino, manifestou-se:
AÇÃO PENAL. JÚRI. TENTATIVA DE HOMICÍDIO. Conselho de
Sentença que afasta o animus necandi, devolvendo a
matéria ao juiz singular. Sustentação, pela defesa, em
plenário, da desclassificação para o delito de disparo de
arma de fogo. Condenação. Agente que visava lesionar a
vítima. … Crime de lesão corporal leve. Demonstrado, pelas
provas, que o agente disparou contra a vítima, buscando
lesioná-la, não há ensejo a que o magistrado profira
sentença condenatória pelo crime previsto no art. 15 da Lei
nº 10.826/03. … Lesão corporal leve. Materialidade e autoria
comprovadas. Condenação que se impõe. Recurso
provido. Comprovada a materialidade e a autoria do crime,
impõe-se a condenação. Crime de menor potencial
ofensivo. Sobrestamento dos efeitos do acórdão para que
na origem seja analisado o cabimento dos benefícios a que
aludem a Lei nº 9.099/95. Tanto a transação penal, quanto a
suspensão condicional do processo constituem-se em direito
subjetivo do acusado, tornando imperativo que se lhe
submetam as respectivas propostas quando estiverem
presentes os requisitos, incumbindo a análise do cabimento,
ou não, ao promotor de justiça, sob pena de supressão de
instância.143
143 TJSC. Apelação Criminal nº 2009.029860-2, de Chapecó. Segunda Câmara Criminal, Rel. Des. Sérgio Paladino; DJSC 22.10.2009; p. 346.
67
No mesmo sentido, o Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul, já decidiu:
[…] É cabível a suspensão condicional do processo na
desclassificação do crime e na procedência parcial da
pretensão punitiva¿. No caso, houve desclassificação,
sendo que o delito praticado pelo acusado admite, em
tese, a transação penal ou a suspensão condicional do
processo. … Na hipótese, não foi oportunizado ao
denunciado, pelo Ministério Público, o oferecimento de
eventual suspensão condicional do processo ou transação
penal, razão pela qual devem ser remetidos os autos ao
juízo competente, Juizado Especial Criminal, para que tome
as medidas que entender cabíveis. […]144
Firmando o entendimento, especificamente no casos
de Suspensão Condicional do Processo, o Superior Tribunal de Justiça,
editou a súmula 337145, a qual prevê que “é cabível a suspensão
condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência
parcial da pretensão punitiva.”
Exemplificando o tema, discorre Honildo Amaral de
Mello Castro:
Iniciada a ação penal perante o juízo comum, proferiu-se
sentença condenatória, havendo sido interposto recurso
próprio e tempestivo ao Tribunal de Justiça. No julgamento
que se processou perante a Corte, houve-se por bem
reconhecer a desclassificação da tipificação contida na
sentença para uma capitulação mais branda, cuja pena
mínima cominada em concreto é igual ou inferior a um ano,
surgindo, via de conseqüência, ao curso do julgamento do
recurso e a partir desta decisão a incidência da Lei nº
144 TJRS, Apelação Criminal nº 700727821818, Rel. Des. Marco Antônio Ribeiro de Oliveira, j. 15.04.2009, DJ 06.05.2009. 145 STJ, súmula 337, editada em 09.05.2007.
68
9.099/95, devendo ser julgado originalmente neste
Tribunal.146
Destaca-se que, preenchidos os requisitos elencados
pela Lei 9.099/95, é também viável a proposta da Transação Penal.
Por fim, mesmo havendo o recebimento da denúncia,
bem como o regular trâmite processual, não resta impedida a proposta
da transação ou do sursis processual, quando a sentença desclassifica o
delito, para um de menor potencial ofensivo.
Destaca-se que não há qualquer impedimento legal
para que seja oportunizada a transação e/ou suspensão do processo, aos
casos de sentença desclassificatória.
Ademais, a transação e a suspensão do processo, são
muito mais benéficas ao acusado do que a pena corporal que seria
imposta em sentença, caso não fosse oportunizada a proposta dos
institutos despenalizadores.
Trata-se, portanto, de omissão legislativa, devendo ser
suprida atendendo as finalidades previstas pela Lei 9.099/95, sem que haja
obstáculos à aplicação da Justiça Consensual.
Salienta-se, por oportuno que no caso de sentença
desclassificatória ou acórdão desclassificatório, os autos deverão ser
remetidos ao órgão ministerial, para que este verifique o preenchimento
das condições entabuladas em Lei, para então, se for o caso, ofertar as
propostas de transação ou suspensão.
Neste sentido:
HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO. PROCEDÊNCIA PARCIAL DA
146 CASTRO, Honildo Amaral de Mello. Revista dos Tribunais nº 748, pág. 519.
69
DENÚNCIA. CABIMENTO DO SURSIS PROCESSUAL. 1. Em se
fazendo cabível a suspensão condicional do processo, por
força de desclassificação ou procedência só parcial da
denúncia, é dever do Juiz suscitar a manifestação do
Ministério Público, a propósito da sua suficiência como
resposta penal, excluindo, como exclui, a imposição da
pena correspondente ao fato-crime. 2. Em casos tais, não se
há de anular a denúncia e, tampouco, tudo mais do
processo no primeiro grau de jurisdição, mas tão-só
desconstituir a condenação decretada na sentença, para
determinar que seja ouvido o Ministério Público sobre a
proposta de suspensão do processo referida no artigo 89,
caput, da Lei nº 9.099/95. Precedente do Supremo Tribunal
Federal (RHC 81.925/SP, Relatora Ministra Ellen Gracie, in DJ
21/2/2003). 3. Ordem concedida.147
Assim, conclui-se ser perfeitamente cabível a proposta
da Transação Penal e do sursis processual, nos casos em que sentença
desclassificatória, verifique a ocorrência de crimes de menor potencial
ofensivo, abrangidos pela Lei nº 9.099/95, desde que o acusado preencha
os requisitos de admissibilidade.
147
Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 28663/SP, Rel. Min. Habilton Carvalhido, j. 16.12.2004, DJ 04.04.2005.
70
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo investigar
alguns aspectos controvertidos em relação aos institutos despenalizadores
da Transação Penal e da Suspensão Condicional do Processo,
principalmente questões ligadas a legitimidade e possibilidade de
proposta em circunstâncias específicas.
Embora esteja em vigor há mais de uma década,
muito ainda se discute a respeito da Transação Penal e do sursis
processual, principalmente em relação à legitimidade, em crimes de ação
penal privada, bem como em casos de sentença desclassificatória ou
ainda, na hipótese de concurso de crimes.
Para o seu desenvolvimento lógico, o trabalho foi
dividido em três capítulos.
No primeiro capítulo restou estudado um breve
contexto histórico em que se desenvolveu os trabalhos para a elaboração
das Leis nº 9.099/95 e 10.259/01, bem como os princípios norteadores dos
Juizados Especiais Criminais.
No segundo capítulo foi tratado especificamente da
Transação Penal e da Suspensão Condicional do Processo, partindo-se do
conceito dos institutos, analisando-se os critérios de admissibilidade e,
ainda, questões ligadas à aceitação e descumprimento das propostas.
No terceiro e último capítulo, foram analisados
aspectos controvertidos da Transação Penal e da Suspensão Condicional
do processo, tal como a legitimidade para a propor os institutos nos casos
de crimes de ação penal privada ainda, restou analisada a possibilidade
71
da concessão do benefício nos casos de concurso de crimes e nos casos
de sentença desclassificatória.
Por derradeiro, retorna-se as hipóteses da pesquisa:
1º O descumprimento da Transação Penal acarreta na
deflagração da respectiva ação penal. Hipótese não confirmada.
2º Nos casos de concurso de crimes, para efeitos de
proposta de Transação ou Suspensão do processo, as penas cominadas
devem ser analisadas separadamente. Hipótese confirmada.
3º É possível o oferecimento da Transação Penal e da
Suspensão Condicional do Processo, nos crimes de ação penal privada.
Hipótese confirmada.
4) É viável a proposta da Transação Penal e da
Suspensão Condicional do Processo, após sentença desclassificatória.
Hipótese confirmada.
Por fim, ressalte-se que o presente trabalho não tem a
finalidade de exaurir a matéria, o estudo da Transação Penal e da
Suspensão Condicional do Processo é extremamente controvertido, sendo
que o trabalho visa apenas apresentar e analisar algumas destas
controvérsias.
72
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS
ABREU, Pedro Manoel. BRANDÃO, Paulo de Tarso. Juizados especiais cíveis e criminais: aspectos destacados. Florianópolis: Obra Jurídica, 1996.
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Súmula nº 243, Corte Especial, editada em 11.de dezembro de 2000, DJ 05.02.2001. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=%40docn+243&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=1 Acesso em: 31 de outubro de 2009.
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento, nº 1131076/MT, 6ª Turma, Rel. Min. Paulo Gallotti, j. 21.05.2009, DJ 08.06.2009, Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=RESUMO&processo=1131076&b=ACOR Acesso em: 30 de outubro de 2009.
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 13337, 5ª Turma, Rel. Felix Fischer, j. 15 de maio de 2001, DJU 13.08.2001, Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=13337&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=3 Acesso em: 30 de outubro de 2009.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 10 de setembro de 2009.
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 23 de setembro de 2009.
BRASIL. Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001. Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal. DOU de 13 de julho de 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/LEIS_2001/L10259.htm Acesso em: 03 de julho de 2009.
BRASIL. Lei nº 11.313, de 28 de junho de 2006. Altera os arts. 60 e 61 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e o art. 2o da Lei no 10.259, de 12 de julho de 2001, pertinentes à competência dos Juizados Especiais Criminais, no âmbito da Justiça Estadual e da Justiça Federal. DOU 29 de junho de 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11313.htm#art1 Acesso em: 09 de junho de 2009.
73
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. DOU de 27 de setembro de 1995, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm Acesso em: 03 de julho de 2009.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Ação Penal nº 390/DF, Corte Especial, Rel. Min. Felix Fischer, j. 06 de março 2006, DJ, 10.04.2006, Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=390&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=2 Acesso em: 30 de outubro de 2009.
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