aspectos de prevenção e controle de acidentes no trabalho com agrotóxicos

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    Presidente da RepblicaLuiz Incio Lula da Silva

    Ministro do Trabalho e EmpregoLuiz Marinho

    FUNDACENTRO

    Presidenta

    Rosiver PavanDiretor Executivo

    Antnio Roberto Lambertucci

    Diretora TcnicaArline Sydneia Abel Arcuri

    Diretora de Administrao e FinanasRenata Maria Celeguim

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    ASPECTOS DE PREVENO ECONTROLE DE ACIDENTES NO

    TRABALHO COM AGROTXICOS

    So Paulo2005

    Eduardo Garcia GarciaEngenheiro Agrnomo e de Segurana do Trabalho

    Doutor em Sade Pblica

    Pesquisador da Coordenao de Sade no Trabalho FUNDACENTRO

    Jos Prado Alves FilhoEngenheiro Agrnomo e de Segurana do Trabalho

    Mestre em Cincia AmbientalPesquisador da Coordenao de Segurana no Processo de Trabalho FUNDACENTRO

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    Garcia, Eduardo GarciaAspectos de preveno e controle de acidentes no traba-

    lho com agrotxicos/ Eduardo Garcia, Jos Prado AlvesFilho. So Paulo: Fundacentro, 2005.

    52 p.

    ISBN: 85-98117-08-0

    1. Agrotxicos. 2. Acidente no trabalho.

    I. Jos Alves Prado Filho II. Ttulo

    G216a

    Catalogao na Fonte Biblioteca Fundacentro.

    CIS/OIT Gia AsCDU 614.8:632.95.04

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    APRESENTAO

    Na primeira metade da dcada de 1990, o contexto proporcionado pelapromulgao da Lei dos Agrotxicos, que regulamentou os processos de im-portao, produo, comercializao e uso desses insumos qumicos no pas, eainda pela adoo da Agenda 21 (aprovada no mbito da Conferncia das

    Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento ECO-92), comseus captulos especficos sobre Promoo do desenvolvimento rural e agrco-la sustentvel e sobre o Manejo ecologicamente saudvel das substnciasqumicas txicas, propiciou a rediscusso de paradigmas at ento dominan-tes relativos segurana e sade no trabalho com agrotxicos. Trabalhos de-senvolvidos na Fundacentro evidenciaram as limitaes conceituais e prticasdo controle dos riscos provocados pelos agrotxicos centrado em medidas indi-viduais de segurana e mostraram a importncia e a necessidade fundamentalde medidas coletivas para esse propsito.

    J na segunda metade da dcada de 1990, outros trabalhos e atividades daFundacentro associaram novas dimenses aos estudos das estratgias de ges-to e controle dos riscos decorrentes do uso dos agrotxicos, investigando aslimitaes das polticas pblicas direcionadas adoo de medidas administra-tivas de controle, implantadas fora de um contexto institucional apropriado, in-dicando a necessidade de se considerar o perfil da rede scio-tcnica envolvida

    na implementao e manuteno de tais polticas de controle, de forma a ga-rantir seus resultados.

    Nesse contexto, uma experincia de pesquisa-ao surge, ainda ao finaldos anos de 1990, como oportunidade de estudo e interveno a partir de uma

    parceria estabelecida entre a Fundacentro e a Secretaria de Agricultura e Abas-tecimento do Estado de So Paulo. Tal parceria propicia oportunidade de arti-culao conjunta de atores e organizaes com responsabilidades no controledos agrotxicos, com o propsito de promover aes visando ao gerenciamentodos riscos associados ao uso desses produtos e difuso de tcnicas de manejofitossanitrio de menor impacto para a sade do trabalhador, do consumidor e

    para o meio ambiente.

    O Programa Segurana e Sade do Trabalhador Rural PSSTR, estabele-cido com essa finalidade, contou com cinco projetos bsicos, desenvolvidos deforma integrada, atuando nas seguintes reas: diagnstico sobre condies deuso de agrotxicos no estado de So Paulo; difuso de tecnologia (tcnicas decontrole de doenas e pragas na agricultura, alternativas ao uso de agrotxicos;e tcnicas de controle de riscos no uso de agrotxicos); pesquisa e desenvolvi-mento em sistemas de aplicao de agrotxicos; educao ambiental; e melhoriados sistemas de monitoramento e controle do uso de agrotxicos.

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    Para subsidiar as aes de capacitao e as posteriores atividades de difu-so, foi elaborado, por especialistas de diversas reas, material contendo textosabordando temas relacionados legislao, agricultura sustentvel, ao mane-

    jo ecolgico de pragas, aos impactos e ao controle de riscos no uso de agrotxicos,entre outros assuntos.

    O contedo aqui publicado tem por base parte integrante do referido mate-rial, dedicada a discutir o tema da segurana no trabalho com agrotxicos coma fundamental abrangncia e complexidade exigidas pelo tema.

    Nesse sentido, o contexto em que essa discusso se insere se mantmtotalmente atual, sobretudo considerando que a abordagem empregada,

    priorizando o controle coletivo de riscos e situando as condies em que asmedidas individuais so necessrias como complementao dessas medidas,tambm faz parte do repertrio incorporado pela Norma Regulamentadora deSegurana e Sade no Trabalho na Agricultura, Pecuria, Silvicultura, Explora-o Florestal e Aqicultura NR-31, aprovada atravs da Portaria n 86, doMinistrio do Trabalho e Emprego, em maro de 2005.

    Dessa forma, acreditamos que este trabalho apresenta informaes teis erelevantes e proporciona elementos importantes para a discusso e aconcretizao de aes relacionadas ao controle de riscos no trabalho comagrotxicos na agricultura.

    FUNDACENTRO

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    SUMRIO

    1 IMPACTOS DO USO DE AGROTXICOS SADE DO TRABALHADORE SUAS CAUSAS .................................................................................................... 9

    1.1 Impactos .............................................................................................................. 9

    1.2 Causas ................................................................................................................. 9

    2 RISCO X SEGURANA ..................................................................................... 11

    2.1 Conceituao ..................................................................................................... 11

    2.2 Fatores associados ao risco ................................................................................ 12O fator Toxicidade ..................................................................................................... 12O fator Exposio ...................................................................................................... 13

    3 CONTROLE DE RISCOS ................................................................................. 14

    3.1 Pressuposto bsico ............................................................................................ 14

    3.2 Medidas de controle e nveis de interveno ....................................................... 14No processo de produo ou na fonte de emisso do contaminante .......................... 16Na trajetria do agente danoso entre a fonte e o indivduo exposto ........................... 17No indivduo sujeito ao risco .................................................................................... 17

    3.3 Fatores externos de controle de riscos ............................................................... 17

    4 MEDIDAS COLETIVAS DE PROTEO ....................................................... 18

    4.1 O ambiente do trabalho agrcola e a atividade de aplicao de agrotxicos.......... 18

    4.2 A priorizao das medidas coletivas ................................................................... 19

    5 MEDIDAS INDIVIDUAIS DE PROTEO ..................................................... 20

    6 PERCEPO DE RISCOS ............................................................................... 21

    7 PRTICAS DE TRABALHO ............................................................................ 23

    7.1 O papel das prticas de trabalho: responsabilidade x capacidade de controle ...... 23

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    7.2 Medidas gerais preliminares ............................................................................. 25

    7.3 Preparo da aplicao .......................................................................................... 26

    7.4 Aplicao de agrotxicos ................................................................................... 27Medidas preliminares ................................................................................................ 27Medidas durante a aplicao..................................................................................... 28Medidas aps a aplicao ......................................................................................... 29

    7.5 Derrames e vazamentos ..................................................................................... 29Causas: ..................................................................................................................... 29Procedimentos: ......................................................................................................... 30

    7.6 Segurana no transporte de agrotxicos ............................................................ 30

    7.7 Instalaes necessrias para a utilizao de agrotxicos ................................... 31Instalaes para higienizao pessoal ....................................................................... 31Depsito para armazenamento de agrotxicos ........................................................... 32Locais para a guarda de equipamentos de aplicao de agrotxicos .......................... 34

    8 MEDIDAS HIGINICAS ..................................................................................... 34

    9 EPI NO TRABALHO COM AGROTXICOS ................................................. 35

    9.1 Consideraes preliminares sobre o uso de EPI no trabalho com agrotxicos .... 35

    9.2 Breve descrio sobre os principais equipamentos de proteo individual .......... 39

    10 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................ 49

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    1 Impactos do uso de agrotxicos sade do trabalhador e suascausas

    1.1 Impactos

    A Organizao Mundial da Sade (OMS)26 estimava, em 1990, que o usode agrotxicos no mundo era da ordem de 3 milhes de toneladas/ano, expondo,atravs do trabalho agrcola, mais de 500 milhes de pessoas. Tambm estimavaque os casos anuais de intoxicaes agudas no intencionais fossem de 1 mi-lho, com 20 mil mortes, sendo a exposio ocupacional responsvel por 70%desses casos de intoxicao. Embora reconhecendo que os efeitos crnicosso mais difceis de serem avaliados, foram estimados pela OMS 700 mil ca-

    sos/ano de dermatoses, 37 mil casos/ano de cncer em pases em desenvolvi-mento e 25 mil casos/ano de seqelas neuro-comportamentais persistentes oca-sionadas por intoxicaes ocupacionais por compostos organofosforados. Quinzeanos depois, em 2005, a OMS, em conjunto com a Organizao Internacionaldo Trabalho (OIT), passou a estimar em 7 milhes* os casos de intoxicaesagudas e de longo termo e 70 mil bitos 14 provocados por agrotxicos anual-mente no mundo, sobretudo nos pases em desenvolvimento.

    O Brasil um dos maiores consumidores de agrotxicos. O pas possui umgrande nmero de trabalhadores rurais potencialmente expostos a quantidades

    bastantes significativas e, portanto, sujeitos aos problemas anteriormente refe-ridos12. Apesar disso, so poucas as informaes existentes sobre os proble-mas acarretados pelo emprego macio desses produtos em nosso meio. Esti-ma-se que sejam15 milhes de pessoas expostas pelo trabalho rural e queocorram de 150 mil a 200 mil intoxicaes agudas por ano11.

    1.2 Causas

    comum ouvir que os problemas relacionados aos agrotxicos so decor-rentes do uso inadequado desses produtos. Tais argumentaes baseiam-sesobretudo nos seguintes pontos:

    * OIT/OMS. Comunicado conjunto El nmero de accidentes y enfermedades relacionadas con eltrabajo sigue aumentando. OIT, 2005. Disponvel em . [2005 ABRIL 28].

    no observao das orientaes e instrues transmitidas pelo em-pregador; no observao das orientaes e instrues contidas em r-tulos e bulas dos produtos;

    ausncia dos cuidados necessrios para manuseio e aplicao do produ-to; no utilizao dos equipamentos de proteo individual necessrios

    para o trabalho.

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    Segundo esse entendimento, a soluo para esses problemas seria a edu-cao do usurio dos agrotxicos utilizando treinamentos para o uso adequa-do ou para o uso correto e seguro. De fato, o uso inadequado pode serconsiderado a causa imediata dos problemas e capacitar o usurio funda-mental na tentativa de enfrent-los. No entanto, a utilizao inadequada e asdificuldades que existem para se conseguir mudanas significativas no padrode uso e na relao do usurio com os agrotxicos so conseqncias de diver-sos outros fatores que interferem diretamente nas condies e no meio ambientedo trabalho e que so decorrentes:

    do modelo de produo agrcola adotado e da estratgia de introduo edifuso dessa tecnologia sem abordar riscos, sem considerar odespreparo do usurio e a ausncia de recursos materiais e humanos

    para o controle dessas substncias; da grande disponibilidade de produtos e do fcil acesso aos mais perigo-

    sos; da induo, por vendedores e propagandas, ao uso excessivo; do difcil acesso informao tcnica pelo usurio; das condies precrias do trabalho; da instabilidade da poltica agrcola; dos determinantes socioeconmicos ms condies bsicas de educa-

    o, sade, moradia e de relaes no trabalho.

    Uma representao grfica da complexidade dos aspectos envolvidos na de-terminao dos impactos negativos relacionados ao uso de agrotxicos pode serobservada na Figura 1.

    Fatoresdo trabalho

    Fatorestcnico-agronmicos

    Fatoressocioeconmicos

    USO INADEQUADO OU INSEGURO

    Intoxicaesagudas

    Intoxicaescrnicas

    Contaminaoambiental

    Contaminaodos alimentos

    Incrementonos custos deproduo agrcola

    Figura 1 Fatores determinantes dos impactos decorrentes do uso de agrotxicos.

    Relaes detrabalho no

    campo

    Condiesde sade eeducao

    Instabilidadeda poltica

    agrcola

    Estruturaagrria

    Modelode

    produo

    Condiesambientais

    Adequaotecnolgica

    Acesso orientao

    tcnica

    Condiesde manuseiodos produtos

    txicosAdequao emanutenode mquinas,

    equipamentos einstalaes

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    Ao tratar a complexa questo dos impactos sade e ao ambiente provo-cados pela utilizao de agrotxicos como sendo um problema de mau uso

    pelos que trabalham com essas substncias, transfere-se ao aplicador, seja eleo prprio produtor rural ou o trabalhador, praticamente toda a responsabilidade

    pela contaminao ambiental e dos alimentos e por sua prpria intoxicao.

    Sob este enfoque simplista, a segurana no trabalho com agrotxicos ficarestrita basicamente recomendao de equipamentos de proteo individuale de uma srie de cuidados a serem observados pelos trabalhadores. evi-dente que essas recomendaes so fundamentais para a segurana do aplicadore do meio ambiente, mas ser que apenas o cumprimento dessas medidas suficiente para garanti-la? Afinal, se o mau uso dos agrotxicos decorrnciade um contexto de alta complexidade, intervir sobre esta realidade no podecentrar-se apenas no ensinar o usurio a como lidar com o produto.

    Levando isso em considerao, buscar-se-, aqui, discutir e ampliar a abor-dagem que comumente adotada na recomendao de medidas de seguranano trabalho com agrotxicos.

    2 Risco x Segurana

    2.1 Conceituao

    No que se refere utilizao de substncias qumicas, o risco pode serdefinido como:

    RISCO: a probabilidade de que uma substncia produza um danoem condies especficas de uso6.

    A segurana, por sua vez, pode ser definida como o contrrio de risco:

    SEGURANA: a probabilidade de que no se produza um danopelo uso de uma substncia em condies especficas6.

    RISCO = TOXICIDADE X EXPOSIO

    Como se pde observar nas definies apresentadas, o risco associado auma substncia uma funo de dois fatores: sua capacidade de produzir da-nos ao meio ambiente ou sade (toxicidade) e as condies que determinama exposio a essa mesma substncia7. Ou seja:

    Considerando essas definies, no se pode admitir que o risco no trabalhocom agrotxicos seja associado apenas a seu manuseio e aplicao, que sofatores importantes na determinao da exposio, mas no so os nicos fa-tores que determinam as condies especficas de uso. Tambm no se podedesconsiderar a questo da toxicidade, pois a capacidade dos agrotxicos produ-

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    zirem efeitos nocivos sobre os organismos vivos inerente a essas substncias,o que nunca deve ser menosprezado.

    Assim, o controle de riscos no emprego de substncias qumicas procuratrabalhar sobre esses dois fatores. Diminuindo a toxicidade e/ou a exposioestaremos diminuindo o risco. Eliminando ao menos um desses fatores, tera-mos o controle total do risco.

    2.2 Fatores associados ao risco

    O fator Toxicidade

    H uma tendncia em considerar que os processos de avaliao toxicolgica,de classificao toxicolgica e de registro aos quais os agrotxicos so subme-tidos seriam suficientes para controlar um dos fatores que compem o risco: atoxicidade. No entanto, sabe-se que, apesar dos avanos cientficos, h limitestcnicos para as avaliaes toxicolgicas e ambientais que implicam em diver-sos graus de incertezas e insuficincia de informaes que no permitem umaanlise de risco perfeitamente conclusiva7. A evoluo contnua dos conheci-mentos e dos processos de anlise e avaliao empregados nas investigaessobre os efeitos dessas substncias sempre levaro ao reconhecimento de no-vos dados toxicolgicos e ecotoxicolgicos a elas associados.

    Cabe observar, tambm, que existem fatores presentes nos ambientes detrabalho, ou inerentes ao prprio indivduo exposto, que podem influenciar atoxicidade de uma substncia.

    Entre os fatores ambientais esto a temperatura e a umidade, por exemplo,que podem interferir em determinadas propriedades fsico-qumicas da subs-tncia, como solubilidade, estabilidade, presso de vapor e reatividade qumica.A temperatura pode afetar a absoro, a distribuio e o modo de ao dasubstncia. Por exemplo, h indicaes de que a absoro do paration(organofosforado) a partir da pele humana mais rpida em ambientes maisquentes13 e que o aumento da temperatura ambiente torna piores os efeitostxicos dos agrotxicos26.

    Entre os fatores biolgicos relacionados ao prprio indivduo podemos citara idade, o sexo, o peso, caractersticas genticas, estado de sade e de nutrioe as condies metablicas (esforo fsico). Deficincias nutricionais como as

    proticas, por exemplo, potencializam os efeitos txicos de vrios agrotxicos ea desidratao pode aumentar a susceptibilidade intoxicao por inibidores de

    colinesterases6, 13, 26

    .Por essas razes, de fundamental importncia, seja para a determinao

    do risco ou para a proposio de medidas de segurana, conhecer no s osefeitos nocivos dessas substncias, mas tambm as condies que podem

    potencializar tais efeitos.

    A diminuio desse fator de risco pode ser conseguida pela substituio deum produto qumico por outro de menor toxicidade, mas sua eliminao s podese dar pela no utilizao de substncia txica.

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    O fator Exposio

    Diversos fatores interferem na exposio potencial de pessoas ou de ou-tros organismos e elementos do meio ambiente11:

    quantidades aplicadas; formulao e concentrao; mtodos e equipamentos de aplicao; tempo e freqncia das aplicaes; mtodos de trabalho; medidas de segurana, proteo e higiene adotadas; condies ambientais (vento, temperatura, umidade etc.); comportamento da substncia no ambiente onde est sendo lanada,

    entre outros.

    H, portanto, condies que interferem na exposio que extrapolam a aodireta e, s vezes, fogem vontade e ao controle do aplicador, como, por exem-

    plo: vento, caractersticas do terreno, caractersticas do local (fechado ou ao arlivre), tipos de vegetao, distncias percorridas e at fatores relacionados dinmica do trabalho, como o deslocamento do trabalhador (direo e ritmo) eos movimentos da lana de pulverizao, quando o mtodo de aplicao e osistema de trabalho assim exigem11.

    Deve-se considerar, ainda, que a eficincia das aplicaes muito ruim e amaior parte do produto no atinge o alvo, sendo perdida para o ambiente. Al-

    guns autores citam que raramente a eficincia de coleta do agrotxico (o que retido pelas plantas) ultrapassa 50% do que foi aplicado e que, em plantiosalinhados ou arbreos com baixa densidade de folhas, essa eficincia no ultra-

    passa 20% 16, 21. Ou seja, alm do produto retido nas plantas, pelo menos 50%a 80% do agrotxico aplicado estar contaminando o ambiente onde se encon-tra o aplicador no momento da aplicao, propiciando grande potencial de expo-sio. A eficincia nos sistemas de aplicao de agrotxicos to baixa que jhouve quem afirmasse que a aplicao desses produtos o processo maisineficiente at hoje praticado pelo homem16.

    Como se pode observar, embora a manipulao e a aplicao do agrotxicosejam fatores importantes na determinao da exposio do aplicador, h ou-tros fatores que interagem na determinao da exposio desse mesmo aplicador,

    que nem sempre podem ser totalmente controlados por ele e que tambm pro-piciam a exposio de outras pessoas e do meio ambiente.

    Portanto, o uso no pode ser considerado apenas como a aplicao e amanipulao direta do produto pelo usurio, mas deve ser entendido como ascondies de uso determinadas pelas condies do ambiente e de trabalho11.Esse um dos motivos principais que fazem com que o controle da exposiodeva ser prioritariamente exercido no ambiente onde ocorre o trabalho e nosobre o indivduo exposto.

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    3 Controle de riscos

    3.1 Pressuposto bsico

    Para discutir a questo da segurana no trabalho com agrotxicos no mbi-to do usurio desses produtos alguns pressupostos so necessrios. precisoconsiderar que s podemos passar a pensar na segurana das operaes deaplicao e das demais atividades de trabalho com agrotxicos se admitirmosque alguns aspectos anteriores ao uso dos produtos, propriamente dito, foramseriamente considerados.

    Nesse sentido, pelo menos um aspecto de fundamental importncia: a

    existncia de orientao tcnica e acompanhamento da atividade de produobuscando garantir a adoo de prticas agrcolas que propiciem a reduo daincidncia de pragas e doenas e a proposio de tcnicas de manejofitossanitrio que minimizem os impactos sade e ao meio ambiente, garan-tindo inclusive que, se houver necessidade de indicao de uso de um agrotxico,isso se d dentro dos critrios agronmicos, ambientais e de sade mais rgidos

    possveis (o que raramente acontece).

    Se isso no for um pressuposto para a utilizao de agrotxicos, no hmedida de segurana que possa ser capaz de controlar os danos potenciaisdecorrentes do uso dessas substncias. Portanto, ou se propiciam condiesconcretas para lidar com agrotxicos, ou ao aplicador, quando muito, caberapenas lidar com aspectos paliativos de segurana, que nunca podero garantir

    a qualidade da sua sade, da do consumidor e do meio ambiente.3.2 Medidas de controle e nveis de interveno

    O princpio bsico do controle de riscos no trabalho controlar a exposiodos trabalhadores, de preferncia eliminando-a ou, se no for possvel, manten-do-a abaixo de limites considerados aceitveis. A escolha dos mtodos ade-quados de controle requer um amplo entendimento sobre as circunstncias quecompem o problema a ser enfrentado. Mas, pelos princpios da segurana ehigiene do trabalho, as aes de controle de riscos no devem ser prioritariamenteexercidas sobre os sujeitos expostos a esse riscos, mas sim sobre o ambiente eas condies de trabalho, incluindo, quando necessrio, a interveno sobre o

    prprio processo de produo8, 11, 20.

    Os mtodos de controle podem ser implantados por medidas de engenha-ria, administrativas e, tambm, por medidas individuais de controle8, 20. Os qua-dros a seguir mostram alguns exemplos dessas medidas.

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    O controle de riscos associados a agentes qumicos deve se dar, priorita-riamente, pelas medidas de engenharia, que so suplementadas, quando neces-srio, por medidas administrativas e individuais de controle. Medidas de prote-o incorporadas diretamente ao processo de produo (medidas de engenha-ria), garantindo boa condio e ambiente de trabalho, so preferveis porquegeralmente minimizam a necessidade de intervenes humanas, de procedi-mentos especiais, de treinamentos e de outras medidas que necessitam sercontinuamente implementadas e monitoradas para serem aceitas e obedeci-das22.

    Na aplicao dessas medidas, trs nveis de interveno so propostos paracontrolar exposies20:

    no processo de produo ou na fonte de emisso do contaminante; na trajetria do agente danoso entre a fonte e o indivduo exposto; no indivduo sujeito ao risco.

    Entende-se que sejam diferentes nveis de interveno porque se leva emconsiderao a priorizao das medidas coletivas sobre as individuais. Assimsendo, as aes sobre esses trs nveis de interveno devem dar-se, principal-mente, sobre o processo, a fonte e a trajetria do contaminante, buscando ga-rantir boas e seguras condies de trabalho e do ambiente de trabalho. Quandoestas medidas forem insuficientes ou temporariamente no factveis para con-trolar a exposio, as medidas de controle individual devem ser consideradas,sempre na perspectiva de complementar e no de substituir as medidas coletivas.

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    Seguem alguns exemplos de aes que podem ser consideradas medidas decontrole de riscos nos trs nveis de interveno mencionados:

    No processo de produo ou na fonte de emisso do contaminante

    O princpio aqui o de eliminar o risco ou reduzi-lo a limites consideradostecnicamente aceitveis atravs de intervenes diretas no processo de produoe nas fontes de risco presentes no ambiente de trabalho, de modo a garantir boascondies e um ambiente de trabalho seguro e saudvel.

    O mximo controle de risco possvel a eliminao do uso de agrotxicos. Aadoo de prticas agrcolas e tcnicas que resultem em maior equilbrio doagroecossistema, propiciem menor incidncia de pragas e doenas nas culturas e

    possibilitem diminuir o uso de agrotxicos ou, preferencialmente, prescindir da uti-lizao desses produtos estaro contribuindo para o controle do risco neste prioritrionvel de interveno e implicando, portanto, em menor impacto negativo para asade e o meio ambiente. Tais prticas incluem: bom manejo do solo; diversifica-o, consorciao e rotao de culturas; manejo fitossanitrio que minimize ouelimine a necessidade do controle qumico, como o manejo ecolgico e o ManejoIntegrado de Pragas (MIP), e ainda tcnicas no qumicas de controle de pragas,como:

    o controle biolgico (utiliza inimigos naturais: predadores, parasitas epatgenos);

    o controle mecnico (ex.: poda, capina, catao, remoo e destruiode insetos, uso de armadilhas, ensacamento de frutos);

    o controle fsico (fogo, radiaes, som, fatores fsicos e ambientais temperatura, luz e umidade);

    o controle por comportamento (uso de feromnios e de substnciasatraentes e repelentes);

    o uso de variedades resistentes (de plantas genticamente melhoradaspara serem menos suscetveis a danos ocasionados por pragas e doen-as).

    Se a avaliao tcnica do problema indicar a necessidade do controle qumico,

    evidentemente este deve ser o mais criterioso possvel, atentando para o uso dosprodutos mais seletivos, menos txicos e com menor impacto ambiental possveis epara a aplicao no momento certo com a dose recomendada, usando equipamen-tos de aplicao adequados, bem regulados e seguros. A segurana de mquinas eequipamentos representa um dos mais significativos fatores de controle de riscosem atividades de trabalho, com grande importncia na determinao e no controleda exposio dos operadores e da contaminao ambiental.

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    Na trajetria do agente danoso entre a fonte e o indivduo exposto

    Aqui o controle de risco trabalha principalmente com o princpio de isolamentoou enclausuramento, buscando, atravs do uso de barreiras, eliminar o contatoentre o agente e os sujeitos potencialmente expostos a esse mesmo agente oureduzir os nveis dos contaminantes nos ambientes e postos de trabalho a nveisconsiderados tecnicamente aceitveis.

    A natureza do trabalho com agrotxicos apresenta algumas limitaes paraa aplicao deste nvel de interveno, mas tecnicamente alguns exemplos po-dem ser indicados, como o uso de cabines isoladas em tratores para a proteodo tratorista ou o uso de equipamentos de aplicao que disponham de disposi-

    tivos que propiciem uma barreira prxima aos bicos de pulverizao para con-trolar a deriva do produto aplicado.

    No indivduo sujeito ao risco

    Este nvel de interveno complementar aos anteriores, sobretudo por quetem capacidade bastante limitada no controle de riscos. Enquanto os outros nveisde interveno buscam reduzir os riscos propriamente ditos presentes nos ambien-tes de trabalho, este nvel de interveno pode apenas tentar reduzir a exposioaos agentes danosos, no sendo capaz de interferir diretamente sobre os riscos. O

    princpio, portanto, agir sobre o indivduo exposto a um risco quando este aindano tenha sido completamente controlado por outras medidas de controle ou nveis

    de interveno.Consiste principalmente na utilizao de equipamentos de proteo indivi-

    dual e tambm inclui a adoo, pelos indivduos potencialmente expostos, dedeterminados comportamentos (ex.: no fumar durante a aplicao), de prti-cas de trabalho (ex.: no pulverizar contra o vento) e medidas de higiene pesso-al (ex.: lavar-se aps o manuseio de agrotxicos) visando reduo da exposi-o aos riscos ainda presentes no ambiente de trabalho. Ou seja, estas medidass so eficazes quando praticadas de forma complementar s medidas coletivas.

    3.3 Fatores externos de controle de riscos

    Alm desses trs nveis de interveno, certamente h mais um nvel que

    de grande importncia para a segurana e a sade no trabalho na agricultura,mas que, de certo modo, foge governabilidade direta dos empregadores etrabalhadores rurais, embora sejam eles os sujeitos que podem exigir e deman-dar a efetivao deste nvel de interveno: trata-se dos fatores que so exter-nos unidade de produo mas que so fundamentais para garantir a sade dotrabalhador, do consumidor e a integridade do meio ambiente, e que iremoschamar aqui de fatores externos de controle de riscos. Esses fatores vo desdea viabilizao do cumprimento e aplicao das normas legais que tratam das

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    questes fitossanitrias, dos agrotxicos e das questes relacionadas ao traba-lho definio de uma poltica de desenvolvimento rural consistente, passando

    por:

    investimentos em pesquisa nas reas de ecologia, entomologia, fitopato-logia, manejo fitossanitrio, MIP, controle biolgico e outros tipos de con-trole de pragas e doenas, melhoramento gentico, biotecnologia,tecnologia de aplicao de produtos fitossanitrios, tcnicas de seguran-a e de preveno de acidentes no trabalho, toxicologia e epidemiologiaentre outras;

    organizao de uma estrutura eficaz e eficiente para a avaliao e oregistro de agrotxicos, fiscalizao e controle de importao, exporta-o, produo, comercializao e utilizao de agrotxicos, assim comoo controle da propaganda;

    estruturao de uma poltica de difuso de informaes, extenso rural eassistncia tcnica que viabilize o acesso s informaes tcnicas ne-cessrias para o chamado desenvolvimento sustentvel da agricultura.

    4 Medidas Coletivas de Proteo

    4.1 O ambiente do trabalho agrcola e a atividade de aplicao deagrotxicos

    Diferentemente de uma unidade de produo fabril, onde o ambiente detrabalho pode ser influenciado pelas tcnicas de controle de ventilao, tempe-ratura, umidade, iluminao, adequao arquitetnica, condies ergonmicasdos postos de trabalho e outras medidas, no ambiente de produo rural, geral-mente as atividades de trabalho se do a cu aberto, o que no permite ocontrole total das interferncias climticas no ambiente de trabalho. Essa con-dio, evidentemente, limita e dificulta a proposio de medidas de engenharia

    para o controle direto sobre o ambiente de trabalho.

    Alm disso, a aplicao de agrotxicos apresenta uma particularidade que

    muito importante: provavelmente a nica atividade produtiva em que a con-taminao do ambiente de trabalho intencional e, mais do que isso, o prop-sito da atividade. Normalmente, as contaminaes de ambientes de trabalhoso indesejveis e devem ser evitadas e controladas. Mas como proceder quandoa contaminao a finalidade da atividade? esta contradio que faz dautilizao dos agrotxicos uma atividade de alto risco e de difcil tratamentotcnico no que se refere aos aspectos de segurana.11

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    Sob estas condies (impossibilidade de exercer controle direto sobre oambiente de trabalho e contaminao proposital desse mesmo ambiente) asmedidas individuais, como as prticas de trabalho e o uso de equipamentos de

    proteo individual, ganham particular importncia. Mas no o suficiente parajustificar aes de controle unicamente de carter individual, como vem ocor-rendo na atividade agrcola. Inclusive porque as caractersticas sociais, cultu-rais e de relaes e organizao do trabalho nessa atividade favorecem muito

    pouco a implantao das medidas individuais. Elas so de difcil aplicao econtrole.11

    Alm disso, a centralizao das aes de segurana do trabalho nas medi-das individuais de controle de riscos insuficiente para enfrentar os problemas,

    pois a eficcia das medidas individuais est diretamente relacionada s condi-es do ambiente de trabalho: quanto piores essas condies, maiores sero osnveis de proteo necessrios, o que implica uso de mais equipamentos de

    proteo individual, maior desconforto e maior exigncia de ateno do traba-lhador, portanto, com maior sobrecarga de trabalho e menor eficcia no contro-le do risco.11

    4.2 A priorizao das medidas coletivas

    As medidas coletivas so mais eficazes. Todas as medidas de proteoque exeram sua ao sobre as condies e o ambiente do trabalho, e nodiretamente sobre o sujeito que trabalha, so chamadas aqui de medidas cole-tivas de proteo. Elas propiciam maior reduo de riscos e no sobrecarre-gam o trabalhador; ao contrrio, propiciam melhores condies de trabalho eum ambiente mais confortvel e saudvel. Por isso, os princpios e mtodos dasegurana e higiene do trabalho que justificam prioritariamente a aplicao demedidas de carter coletivo tambm devem ser considerados nas atividades daagricultura.11

    Essa indicao pode ser observada inclusive nas legislaes mais recentesde pases desenvolvidos, como o Reino Unido, por exemplo, que substituiu alegislao que dava nfase ao uso de equipamentos de proteo individual como

    principal medida de proteo por outra que prope a combinao de medidasde controle de riscos na seguinte ordem de preferncia15:

    substituio de produtos por outros de menor risco; controle por tcnicas e medidas de engenharia (equipamentos de aplica-

    o mais seguros, sistemas fechados de abastecimento, embalagens maisseguras etc.);

    controles operacionais (ex.: opo por sistemas de aplicao que ex-pem menos o operador);

    uso de equipamentos de proteo individual.

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    Tambm no Brasil, a Norma Regulamentadora de Segurana e Sade noTrabalho na Agricultura, Pecuria, Silvicultura, Explorao Florestal e Aqicultura(NR-31)17 prev:

    31.3.3 Cabe ao empregador rural ou equiparado:

    ...

    I) adotar medidas de avaliao e gesto dos riscos com a seguinte ordemde prioridade:

    1. eliminao dos riscos;2. controle de riscos na fonte;3. reduo do risco ao mnimo atravs da introduo de medidas tcnicas ou

    organizacionais e de prticas seguras inclusive atravs de capacitao;4. adoo de medidas de proteo pessoal, sem nus para o trabalhador, de

    forma a complementar ou caso ainda persistam temporariamente fatoresde risco.

    5 Medidas individuais de proteoEntender o papel complementar das medidas individuais de proteo em

    relao ao conjunto de medidas de controle de riscos no trabalho com agrotxicos de fundamental importncia e representa um ponto relevante na busca demaior segurana para o aplicador.

    Conforme j ressaltado nos tpicos anteriores, em um programa de pre-veno de acidentes nas atividades de manejo fitossanitrio, em que agrotxicosso utilizados, as preocupaes com a definio e a adoo de medidas de

    proteo individual devem comear a surgir aps terem sido esgotadas as de-mais possibilidades de interveno no ambiente de trabalho, a comear pela

    busca da eliminao do risco, prescindindo do uso de agrotxicos, sempre quepossvel.

    A Conveno no 170 da Organizao Internacional do Trabalho OIT(relativa Segurana na Utilizao dos Produtos Qumicos no Trabalho), pro-mulgada no Brasil atravs do Decreto 2.657/982, j preconizava em seu artigo13 uma seqncia hierrquica de atuao tcnica para o controle dos riscos:

    Os empregadores devero avaliar os riscos dominantes da utilizao de

    produtos qumicos no trabalho, e assegurar a proteo dos trabalhadorescontra tais riscos pelos meios apropriados, e especialmente:

    a) escolhendo os produtos qumicos que eliminem ou reduzam ao mnimoo grau de risco;

    b) elegendo tecnologia que elimine ou reduza ao mnimo o grau de risco;

    c) aplicando medidas adequadas de controle tcnico;

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    d) adotando sistemas e mtodos de trabalho que eliminem ou reduzamao mnimo o grau de risco;

    e) adotando medidas adequadas de higiene do trabalho;

    f) quando as medidas que acabam de ser enunciadas no forem sufi-cientes, facilitando, sem nus para o trabalhador, equipamentos de prote-o pessoal e roupas protetoras, assegurando a adequada manuteno ezelando pela utilizao desses meios de proteo.

    No sendo possvel a eliminao do risco qumico representado pelos

    agrotxicos, torna-se importante ento a adoo de medidas de controle. Tam-bm neste caso, a proposio de uma seqncia de raciocnio em relao smedidas a serem adotadas tecnicamente desejvel, iniciando-se com o con-trole na fonte ou processo, passando pela definio das medidas de controle natrajetria e finalmente o estabelecimento de medidas no indivduo. As interven-es tcnicas nestes trs nveis so complementares e a preocupao com a

    proteo individual parte fundamental do trabalho de preveno em seguran-a qumica.

    Podemos, para efeito de melhor compreenso, classificar as medidas indi-viduais de proteo em pelo menos trs categorias8, 20:

    prticas de trabalho;

    medidas higinicas; e uso de equipamentos e vestimentas de proteo.

    Antes de abordarmos com mais detalhes cada uma das categorias de me-didas de controle de riscos no plano individual, torna-se importante frisar que osucesso de qualquer ao preventiva no mbito individual depender da formacomo ser trabalhada a questo da percepo dos indivduos em relao aosriscos aos quais esto expostos.

    6 Percepo de riscos fundamental compreender a percepo que um determinado grupo de

    trabalhadores tem em relao ao risco oferecido pelos agrotxicos para que, a

    partir deste ponto, se possa estabelecer condies de implantao de um planoeficaz de interveno junto ao indivduo. A ateno com o tema da percepode riscos dever ser observada desde o momento da elaborao do plano deinterveno at sua execuo e manuteno.

    O reconhecimento dos riscos potenciais sade por parte de quem mani-pula agrotxico o ponto inicial que motiva a atitude de controle individual.Nesse aspecto, importante garantir ao usurio o maior nmero possvel deinformaes sobre as caractersticas toxicolgicas do produto, o modo de ao

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    dos produtos no organismo humano, os efeitos sade, dentre outras. A preo-cupao com a segurana no trabalho somente ser efetiva se o usurio tiverem mente que, no obstante possa haver, do ponto de vista produtivo, resulta-dos imediatos no controle das pragas e doenas atravs do uso da tecnologiaqumica na agricultura, a utilizao dos agrotxicos envolve srios riscosambientais e sade humana que precisam ser considerados de forma conscien-te, madura e responsvel.

    Uma das limitaes do controle dos riscos exercidos no mbito individualdiz respeito ao fato de que a questo da percepo dos riscos no dependeapenas do indivduo. A percepo de riscos fruto de um processo de constru-o social que vai muito alm da abordagem puramente psicolgica e individual

    do fenmeno10

    .Importantes fatores de ordem cultural, social, econmica e psicolgica in-

    fluenciam a percepo dos indivduos aos riscos a que esto submetidos emsuas rotinas de trabalho. Estes fatores contribuem para o desenvolvimento deestratgias adaptativas de convivncia com a situao de risco por parte da

    pessoa exposta que tenta, assim, diminuir a ansiedade ante o risco.

    Nas atividades de trabalho em que os riscos qumicos esto presentes,sempre haver risco residual, mesmo aps a implantao de medidas coletivasde controle, uma vez que a fonte de risco (o produto qumico) no foi eliminadado ambiente de trabalho. Nessas situaes, o risco residual deve ser assumidoindividualmente, gerando problemas relacionados ao medo no trabalho e suasconseqncias. Alguns autores dedicados a estudos sobre ergonomia, percep-o de riscos e psicopatologia do trabalho4, 25 propem denominaes para iden-tificar as estratgias utilizadas por trabalhadores expostos a riscos residuais.

    Osenso de imunidade subjetiva, ou a minimizao da probabilidade deque algo negativo (o acidente) possa ocorrer no ambiente de trabalho, seriauma dessas estratgias que os trabalhadores desenvolvem a fim de fazer fren-te ao problema do medo no trabalho sob condies de risco e com alta incerte-za. Outros mecanismos poderiam ser identificados configurando, assim, umaespcie de ideologia ocupacional defensiva, a qual buscaria na negao do

    perigo (embora conhecido) a possibilidade de se continuar realizando o traba-lho, sem desencadear uma ruptura das defesas psquicas construdas social-mente para superar o medo no trabalho.

    As situaes em que os trabalhadores colocam-se como imunes a umeventual processo de intoxicao, mesmo quando expostos a situaes de tra-balho sem condies de segurana, podem ser explicadas pelo desenvolvimen-to de um desses mecanismos.

    Outro exemplo seria o caso em que, impossibilitado de alterar a situao deconvvio com os agrotxicos, o trabalhador desenvolve um sistema de negaoou desprezo sobre a existncia do risco, inclusive agravando sua exposio,como forma indireta de demonstrar certo domnio sobre a situao. Esses ca-

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    sos so passveis de verificao em vrias situaes em que o trabalhador,mesmo conhecedor das caractersticas potenciais de risco dos agrotxicos,expe-se aos produtos sem observao de medidas de segurana. Tambmaqui, numa viso parcial e simplista, comum se concluir pela responsabilizaodo indivduo frente ao controle dos riscos, especialmente tendo como causa dos

    problemas a falta de informao por parte do usurio. Tal entendimento, noraro, leva proposio de medidas de interveno que se resumem ao mbitoda capacitao individual e do treinamento para as tarefas, sem questionar ocontedo do trabalho e as condies de segurana oferecidas nos ambientesonde sero executados.

    O conhecimento detalhado dos fatores que interferem na percepo dos

    trabalhadores em relao aos riscos presentes no ambiente de trabalho consti-tui ferramenta fundamental para os que pretendem construir uma atividadeeducativa realmente transformadora junto a esse pblico.

    O grau de clareza e de profundidade dedicado ao trabalho de educaofrente aos riscos representados pelos agrotxicos ir definir o potencial deefetividade do processo de discusso, anlise e mudana de atitudes por partedo trabalhador que individualmente assume o risco residual existente nas tare-fas envolvendo o uso de agrotxicos.

    O processo de capacitao dos trabalhadores expostos a riscos qumicosdever ser abrangente na abordagem das limitaes das medidas de controlede riscos, em especial quanto aos aspectos relativos ao risco residual presentecomo conseqncia da manuteno da fonte de risco.

    Tambm constituem contedos fundamentais de um programa de capa-citao a exposio e discusso das controvrsias que envolvem a percepode riscos, de forma a possibilitar um processo de aprendizado que promovaatitudes inovadoras e compromissadas em relao ao tema da segurana por

    parte dos que so capacitados. Isto somente pode ser alcanado na medida emque o trabalhador exposto direta ou indiretamente aos agrotxicos tem garantidoo direito bsico de conhecimento sobre os riscos aos quais est submetido.

    7 Prticas de trabalho

    7.1 O papel das prticas de trabalho: responsabilidade x capacidade de

    controleDiversas experincias desenvolvidas em mbito internacional, visando

    reduo dos riscos relacionados ao trabalho com agrotxicos, concentram aten-o especial para questes relacionadas com as prticas de trabalho aplicadasnesta atividade. Os principais pases consumidores de agrotxicos desenvol-vem programas intensos de capacitao dos trabalhadores expostos a riscosqumicos como parte importante das polticas pblicas aplicadas nas reasambientais e de segurana e sade do trabalhador1.

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    Tais programas de reduo dos riscos inerentes ao uso dos agrotxicosenvolvem estratgias em vrias reas de atuao, em sua maioria com relaodireta melhoria das prticas de trabalho a serem observadas com estes insumos,em toda a cadeia produtiva, tais como: a certificao dos fornecedores e distri-

    buidores; a difuso de informaes aos usurios; a melhoria da rotulagem dosagrotxicos; o aperfeioamento da legislao sobre segurana do trabalhador;o desenvolvimento de formulaes e embalagens mais seguras; a destinaoapropriada para descarte de embalagens e sobras de produto; e, sobretudo, os

    programas de capacitao dos usurios.

    Considerando-se que as prticas de trabalho, em geral, caracterizam-secomo cuidados e recomendaes a serem observadas pelos indivduos enquan-

    to sujeitos da ao de utilizao de agrotxicos, torna-se fundamental que taisrecomendaes sejam colocadas num contexto em que medidas coletivas (deengenharia e administrativas) j tenham sido consideradas. Esse pressupostocoloca a questo da efetividade de adoo de boas prticas de trabalho emrelao direta com a existncia de recomendao e orientao tcnicas res-

    ponsveis e compromissadas com os princpios da preveno de riscos. Estefoi um dos princpios que estavam presentes na concepo inicial dos precurso-res da adoo do receiturio agronmico como instrumento de gesto dos ris-cos decorrentes do uso de agrotxicos1.

    Neste contexto fica claro que a transmisso de um conjunto de recomen-daes e cuidados a serem observados no uso de agrotxicos, aqui denomina-dos como prticas de trabalho, somente poder trazer resultados efetivos para

    a preveno se for colocada sob a perspectiva de um processo claro e honestode educao para reconhecimento dos riscos, sem depreciao ou exagero, deforma a fundamentar as razes que justifiquem as recomendaes oferecidas1.

    Conforme observa Paulo Freire9 em um de seus estudos sobre o processoeducativo que v no homem que aprende o sujeito da ao:

    Conhecer, ...no o ato atravs do qual um sujeito, transformado emobjeto, recebe, dcil e passivamente, os contedos que outro lhe d ouimpe. O conhecimento, pelo contrrio, exige uma presena curiosa dosujeito em face do mundo... necessrio que ele (o sujeito) reflita sobreo porqu do fato, sobre suas conexes com outros fatos no contexto

    global em que se deu.

    A partir das discusses acima apresentadas podemos apontar uma visogeral das prticas de trabalho a serem observadas em cada uma das etapas deuso dos agrotxicos, salientando-se a necessidade de que tais prticas estejamsempre precedidas da ateno no oferecimento de condies adequadas detrabalho, contexto este fundamental para justificar a adoo dessas estratgiasde controle no mbito individual.

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    7.2 Medidas gerais preliminares

    As diversas tarefas que envolvem o uso de agrotxicos oferecem sriosriscos que devem ser conhecidos para o estabelecimento de medidas eficazesde controle. Tais tarefas podem ser assim descriminadas:

    transporte;

    armazenamento;

    preparo da calda;

    calibragem do equipamento antes do uso;

    carregamento;

    aplicao;

    manuteno do equipamento;

    trabalho em reas de lavouras recm-tratadas;

    limpeza e descontaminao dos equipamentos de aplicao, aps o uso;

    disposio final de sobras de caldas e trplice lavagem de embalagens

    vazias;

    disposio final de embalagens;

    limpeza e descontaminao de derrames e vazamentos;

    limpeza e descontaminao dos equipamentos de proteo individual(EPI).

    Para alm das disposies legais que regulamentam o uso de agrotxicosno Brasil, como decorrncia das disposies da Lei N 7.802, de 11 de julho de19893, h tambm normas regulamentadoras especficas no mbito da segu-rana e sade do trabalhador17 que devem ser observadas por ocasio do usode agrotxicos nas atividades de trabalho no campo.

    A Norma Regulamentadora de Segurana e Sade no Trabalho na Agri-cultura, Pecuria, Silvicultura, Explorao Florestal e Aqicultura (NR-31)17

    apresenta um captulo especfico envolvendo os agrotxicos e faz uma srie derestries para o trabalho com esses insumos, tais como: veda a manipulaode produtos que no estejam registrados e autorizados pelos rgos governa-mentais competentes; veda a manipulao dos produtos por menores de dezoi-

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    to anos, maiores de sessenta anos e por gestantes; estipula que o empregadorrural ou equiparado afastar a gestante das atividades com exposio direta ouindireta a agrotxicos imediatamente aps ser informado da gestao; veda amanipulao em desacordo com a receita e as indicaes do rtulo e da bula;veda o trabalho em reas recm-tratadas, antes do trmino do intervalo dereentrada estabelecido nos rtulos dos produtos, salvo com o uso de equipa-mento de proteo recomendado; e tambm veda a entrada e permanncia dequalquer pessoa na rea a ser tratada durante a pulverizao area, dentreoutras disposies.

    A primeira e mais importante medida de preveno de acidentes e doenasrelacionadas ao uso de agrotxicos a busca de orientao tcnica capacitada

    para uma avaliao detalhada sobre a existncia ou no de problemas signifi-cativos relativos ao ataque de pragas e doenas e das reais necessidades deuso de agrotxicos como fator de controle. Para tanto, e ainda conforme preva legislao, preciso a participao tcnica de um profissional habilitado (en-genheiro agrnomo ou florestal) para a resoluo do problema de proteo das

    plantas e para a eventual prescrio da receita agronmica1.

    Aps a aquisio do insumo sob recomendao tcnica, fundamental quese proceda, por parte do usurio, a leitura do rtulo e da bula que acompanha oagrotxico para alm das recomendaes da receita agronmica, conferindoinformaes sobre: restries de uso, se o produto de fato indicado ao proble-ma, se a formulao e a concentrao do produto a adequada ao que foi

    prescrito na receita, se o produto pode ser usado de forma segura nas condi-

    es existentes no local, quais as medidas e precaues necessrias sob oponto de vista ambiental, qual o equipamento de aplicao indicado, quais osequipamentos de proteo individual indicados, quais as medidas a serem to-madas em caso de emergncia, qual o perodo de carncia ou intervalo desegurana do produto, qual o perodo a ser observado para reentrada nasreas recm-tratadas, entre outras.

    7.3 Preparo da aplicao

    ler novamente as informaes da receita agronmica, do rtulo e da bulado produto a ser utilizado;

    vestir os equipamentos de proteo exigidos para a operao de preparoda calda, lembrando-se de que a manipulao de produtos concentradosoferece um grau de risco adicional, sendo esta uma das etapas maiscruciais nas tarefas com agrotxicos. Os equipamentos bsicos neces-srios so: respirador com filtro para agrotxicos, culos de segurana,luvas de nitrila, avental impermevel, calas e camisa de mangas com-

    pridas, botas impermeveis, chapu ou capuz impermevel;

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    preparar os equipamentos a serem usados no preparo da calda: tamborpara a mistura, doseador, basto para a pr-mistura e para a calda, funilpara transferir a calda do tambor para o pulverizador, peneira fina parareter impurezas ou grnulos que possam depois provocar entupimentos;

    executar a tarefa em local aberto e ventilado;

    na pr-mistura, verter cuidadosamente o produto em recipiente j abas-tecido de gua, evitando-se o respingo do produto concentrado;

    abastecer o equipamento de aplicao utilizando-se de funil apropriado,

    evitando respingos e derrames.

    7.4 Aplicao de agrotxicos

    Medidas preliminares

    a aplicao de agrotxicos s deve ser realizada por pessoal treinadoespecificamente para esta atividade, recebendo instrues sobre os se-guintes tpicos, entre outros: escolha do equipamento, checagem, abas-tecimento, calibragem, operao, medidas de segurana e de emergn-cia em casos de mal funcionamento ou de acidentes, limpeza, manuten-

    o e reposio de peas, deteco de defeitos do equipamento, execu-o de simples reparos etc.;

    fazer a leitura do rtulo e da bula dos produtos, do manual do equipamen-to de aplicao e das especificaes e instrues dos equipamentos de

    proteo individual (EPI), certificando-se de estar ciente de todas asinformaes necessrias para o trabalho;

    avaliar os riscos da aplicao para outras pessoas, animais e meio ambi-ente e tomar as precaues necessrias para evit-los;

    organizar um sistema de monitoramento sade dos trabalhadores ex-postos, em especial nos casos de produtos organofosforados e carbamatos,

    cujos riscos esto bastante relacionados com a freqncia de uso; realizar a checagem e a calibragem do equipamento de aplicao;

    conferir a disponibilidade, a adequao e o estado dos equipamentos deproteo individual e as vestimentas necessrias para o trabalho;

    planejar como a aplicao vai ser realizada, montando um esquema paraao em caso de emergncia;

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    conferir se as condies climticas sero satisfatrias, em especial ob-servando-se as condies de vento e de chuva;

    certificar-se de que esto estabelecidas as condies seguras para alavagem das embalagens vazias e a disposio das guas de lavagemdos equipamentos e das sobras de caldas.

    Medidas durante a aplicao

    utilizar os equipamentos de proteo individual e as vestimentas indicadas;

    fazer a aplicao somente nos perodos de temperaturas mais amenasdo dia, evitando-se assim maior estresse no trabalho, amenizando o des-conforto provocado pelo uso do EPI e diminuindo as possibilidades deabsoro drmica dos produtos eventualmente depositados sobre a pele,que do contrrio seria potencializada pelo efeito do calor na abertura dos

    poros e na formao de camadas de suor sobre a pele, propiciando aentrada de produtos;

    no beber, comer ou fumar durante a aplicao, evitando-se possvelcontaminao;

    nunca promover o desentupimento de bicos ou mangueiras com a boca,

    o que certamente causaria a contaminao e o decorrente processo deintoxicao;

    no permitir a entrada ou a presena de pessoas estranhas, crianas eanimais nas reas a serem tratadas;

    manter ateno em relao s condies e mudanas climticas, esta-belecendo a paralisao do trabalho, caso necessrio, por mudanas nadireo e na velocidade dos ventos ou por presena de chuvas;

    nunca deixar abertas ou destampadas as embalagens, tambores e equi-pamentos contendo agrotxicos;

    nos casos de derrames e vazamentos acidentais, promover a imediatalimpeza das partes do corpo atingidas, a troca de roupas, equipamentos evestimentas de proteo e, em seguida, promover a limpeza edescontaminao da rea onde ocorreu o vazamento, conforme instru-es j anteriormente relacionadas.

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    Medidas aps a aplicao

    descartar as eventuais sobras de caldas na prpria rea da lavoura trata-da, fazendo o repasse da aplicao;

    descartar as embalagens vazias de agrotxicos, adjuvantes e produtosafins, observando a destinao final estipulada na legislao vigente *

    sinalizar as reas tratadas para evitar a entrada de pessoas estranhas ecrianas;

    limpar e descontaminar os equipamentos de aplicao e os EPI, lavandoas luvas ao final, antes de tir-las;

    lavar intensamente mos, face, pescoo e outras partes do corpo quepossam ter sido contaminadas;

    aps a operao, tomar banho, trocar a roupa e providenciar a lavagemda mesma;

    fazer o registro sobre a aplicao realizada, anotando-se o produto e asquantidades utilizadas, a rea tratada, a data, o nome dos aplicadores;estas informaes podem ser teis para o bom gerenciamento da ativida-de e para a consulta em caso de problemas posteriores de doenas ouintoxicaes;

    observar o perodo de reentrada para a realizao de outras tarefas nasreas tratadas; no caso de necessidade de entrada durante esse perodo,devero ser utilizados todos os mesmos equipamentos de proteo indi-cados para o momento da aplicao.

    7.5 Derrames e vazamentos

    Causas

    rompimento de embalagens por manuseio imprprio; rompimento de embalagens por excesso de calor ou umidade;

    * Decreto N 4.074, de 04 de janeiro de 2002, regulamenta a Lei 7.802, de 11 de julho de 1989, quedispe sobre a pesquisa, a experimentao, a produo, a embalagem e rotulagem, o transporte, oarmazenamento, a comercializao, a propaganda comercial, a utilizao, a importao, a exporta-o, o destino final dos resduos e embalagens, o registro, a classificao, o controle, a inspeo e afiscalizao de agrotxicos, seus componentes e afins, e d outras providncias.

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    danos embalagem por objetos cortantes existentes no compartimentode transporte;

    falta de habilidade, cuidado ou uso de instrumentos inadequados para sedespejar o produto no equipamento de aplicao;

    falhas nos equipamentos de aplicao por entupimento ou rompimentode vlvulas ou outros componentes.

    Procedimentos

    tomar medidas imediatas evitando-se a ampliao da rea contamina-da;

    manter outras pessoas, animais e veculos fora do local contaminado;

    utilizar equipamentos e vestimentas de proteo adequadas aos riscosoferecidos pelo produto;

    recolher o produto derramado utilizando-se de material absorvente, taiscomo areia seca, terra ou p de serra no caso de produtos lquidos, eremover o material contaminado com a ajuda de uma p e vassoura,depositando-o, de forma segura, em saco plstico resistente ou em outraembalagem apropriada;

    no caso de vazamento de produto em forma de p, recomenda-se depo-sitar areia molhada sobre o produto e depois recolher o material seguin-do o mesmo procedimento para o caso de lquidos;

    aps o recolhimento do produto derramado, limpar com gua o local dovazamento, incluindo os compartimentos do veculo, drenando-se a guacontaminada para um local seguro;

    lavar-se ou banhar-se imediatamente em seguida operao.

    7.6 Segurana no transporte de agrotxicos

    somente produtos acondicionados em embalagens adequadas e em bomestado devem ser aceitos no momento da compra; as embalagensdanificadas ou com vazamentos devem ser refutadas;

    todo veculo a ser utilizado para transporte de embalagens de agrotxicosdeve estar livre de elementos pontiagudos (pregos, parafusos e outrassalincias) no compartimento onde sero acondicionadas as embalagens,evitando-se, assim, qualquer dano que possa dar origem a vazamentosde produtos;

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    as embalagens devem ser dispostas nos veculos de forma a evitar-se,ao longo do percurso, colises desnecessrias ou quedas violentas, o que

    poderia causar vazamentos e derrames de produtos;

    os produtos devem ser transportados em suas embalagens originais, con-tendo o rtulo e a bula, que devem sempre ser conservados junto aosmesmos;

    os agrotxicos sempre devem ser transportados de forma isolada dequaisquer outros produtos;

    embalagens de papel, papelo ou hidrossolveis devem estar protegidas

    da chuva e do mal tempo, em compartimentos fechados ou cobertoscom material impermevel;

    agrotxicos no devem ser carregados na cabine do motorista e dospassageiros do veculo de transporte;

    operaes de transporte de produtos txicos em geral, inclusiveagrotxicos, mesmo em pequenas quantidades, devem ser planejadas e

    precedidas de cuidados logsticos prvios, tais como: disponibilidade devestimentas e EPI para uso caso necessrio, disponibilidade de instru-mentos para coleta e guarda de materiais resultantes de derrames ouvazamentos e materiais para limpeza e descontaminao (gua, sabo,toalhas).

    7.7 Instalaes necessrias para a utilizao de agrotxicos

    O emprego de agrotxicos em uma propriedade agrcola exige instalaesque propiciem condies de segurana para controlar alguns dos riscos que ouso desses produtos oferece para as pessoas que moram ali, para os que nelatrabalham, para os animais domsticos e de criao e para o meio ambiente.

    A propriedade deve contar com, pelo menos, as seguintes instalaes eequipamentos:

    instalaes para higienizao pessoal;

    depsito para armazenamento de agrotxicos; local para a guarda de equipamentos de aplicao de agrotxicos.

    Instalaes para higienizao pessoal

    fundamental que haja um local para todos aqueles que trabalham e aju-dam a aplicar agrotxicos tomarem banho depois da aplicao e onde possamlavar-se e trocar de roupa. Esse local no deve estar localizado dentro de mo-radias de famlia.

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    As roupas de uso comum devem ficar em um local limpo para serem ves-tidas outra vez depois do banho.

    As roupas de trabalho utilizadas para aplicar agrotxicos devem ser lava-das, sempre, aps cada servio de aplicao.

    Elas nunca devem entrar em casa, mesmo depois de lavadas, porque elaspodem levar veneno para dentro de casa.

    As roupas contaminadas devem ser guardadas em um saco plstico paraserem lavadas imediatamente aps o servio e nunca devem ser lavadas comoutras roupas.

    Depsito para armazenamento de agrotxicosOs agrotxicos nunca devem ser guardados dentro de casa.

    preciso ter um local adequado e seguro para guardar esses produtostxicos, de maneira que se evitem acidentes com pessoas desavisadas, crian-as e animais e que no se permita a contaminao do meio ambiente, mesmose ocorrerem problemas indesejveis de vazamentos. Alm disso, durante oarmazenamento, os agrotxicos esto mais vulnerveis a roubo, vandalismo,uso equivocado (acidental ou deliberado) ou ainda aos efeitos de condiesclimticas extremas. Assim, importante conhecer as condies mnimas paraconstruo e manuteno de um local apropriado para a guarda de produtos demaneira segura, tanto para o usurio como para terceiros e para o ambiente:

    os agrotxicos devem ser armazenados em locais apropriados, de prefe-rncia especficos para este fim, separados de outros materiais inflam-veis;

    a localizao do depsito de agrotxicos deve ser bem planejada, levan-do-se em conta os riscos ambientais em casos de derrames e vazamen-tos. O local deve ser separado de moradias, seco, devendo estar situadolonge de reas sujeitas inundao e distante de habitaes, rios, lagos,audes, poos ou reservatrios de gua para abastecimento ou parairrigao;

    as dimenses do depsito devem ser suficientes para proporcionar aguarda do estoque mximo em condies seguras e de fcil acesso;

    a construo do armazm dever ser feita com material de construoslido e resistente a fogo, a temperaturas elevadas e ao ataque de produ-tos qumicos;

    o local deve ter o tamanho adequado para que caibam todos os agrotxicosempregados na propriedade;

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    o piso deve ser projetado para conter eventuais derrames e vazamentose ser construdo com material no escorregadio, cuja superfcie seja defcil limpeza;

    as paredes externas devem ser impermeveis e as internas devem ter asuperfcie lisa e ser facilmente lavveis;

    as portas e janelas devem ser construdas de forma que impossibilitem aentrada de gua proveniente de chuvas e ainda a incidncia de luz solardireta sobre os produtos armazenados;

    as portas devem ter dimenses suficientes para permitir a movimenta-

    o segura de materiais; as janelas e demais aberturas para ventilao devem ser protegidas com

    tela fina, a fim de evitar a entrada de pssaros e outros animais;

    as embalagens de agrotxicos, tanto fechadas como as j em uso, nodevem ser guardadas junto com sacarias de raes para animais, cere-ais, adubos ou alimentos;

    todas as vias de acesso ao depsito de agrotxicos devem apresentarsinalizao de advertncia, ressaltando com frases e smbolos a presen-a de material txico e perigoso;

    as portas e janelas devem ser mantidas trancadas, impedindo o acessode pessoas estranhas;

    o arranjo das embalagens dentro do depsito deve seguir uma ordemadequada em relao classe do produto, ao tipo de embalagem, aotempo de entrada no estoque, mantendo-se sempre os rtulos e as bulaoriginais bem visveis ao acesso do usurio;

    todas as embalagens devem ser acondicionadas sobre estrado de ma-deira, evitando-se o contato das embalagens diretamente com o piso sobefeito de umidade;

    as condies gerais de acondicionamento das embalagens e o nmerode camadas para empilhamento so informaes que devem ser obser-

    vadas a partir das instrues contidas em rtulos e bula dos produtos;

    as embalagens de formulaes lquidas devem ser guardadas semprecom os fechos voltados para cima, evitando-se vazamentos;

    um ponto de suprimento de gua deve estar disponvel em local prximoao depsito (mas no dentro do mesmo), bem como materiais para lim-

    peza e descontaminao (sabo em pedra, detergente, toalhas). Da

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    mesma forma, deve ser mantido um local apropriado para depsito deEPI e vestimentas de proteo, com fcil acesso do usurio, antes daentrada no depsito de agrotxicos;

    manter um registro atualizado do estoque armazenado, contendo a des-crio dos produtos guardados, informao esta que pode ser til emcaso de incndio ou uso inadvertido;

    poder ser previsto um local no depsito para a guarda de embalagensvazias de produtos aps o processo da trplice lavagem j realizado nocampo, antes do destino final;

    o depsito deve ser trancado chave; a ele, somente o aplicador deve

    ter acesso; o depsito deve ser sinalizado com avisos de perigo e de veneno.

    Locais para a guarda de equipamentos de aplicao de agrotxicos

    Mesmo que os equipamentos de aplicao sejam lavados aps o uso, sem-pre h o risco deles ainda permanecerem contaminados com os agrotxicosque aplicaram. Por isso, e para melhor conservao dos mesmos, tambm deveexistir um local apropriado para guard-los. Esse local deve ter as mesmascaractersticas do depsito de agrotxicos.

    Se equipamentos e agrotxicos forem guardados no mesmo local, preciso

    proteger e isolar o local das embalagens com divisrias resistentes e tranc-las,alm de seguir as demais recomendaes para o depsito de agrotxicos.

    8 Medidas higinicasA observao de medidas higinicas pelos indivduos expostos aos

    agrotxicos visa diminuir as possibilidades de contaminao e absoro dosprodutos pelas vias tradicionais de entrada dessas substncias no organismohumano. Alguns pontos bsicos de observao podem ser apontados, tais como:

    No comer, beber ou fumar durante o manuseio e a aplicao deagrotxicos; ao faz-lo aps o trabalho, deve-se antes lavar as mos e aface com gua limpa em abundncia e sabo em pedra (alcalino). Adiminuio da absoro das quantidades de produtos eventualmente de-

    positados na pele do aplicador de agrotxicos pode ser conseguida pelalavagem imediata, de preferncia com sabo em pedra (alcalino). Comomedida preventiva, os operadores de bombas manuais devem fazer alavagem das mos e dos braos cada vez que a bomba for carregada.

    fundamental propiciar condies sanitrias adequadas prximas aoslocais onde se dar a aplicao de agrotxicos. Assim, com o mesmozelo com que se planeja e organiza os equipamentos e insumos necess-

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    rios para a aplicao, o apoio logstico que viabilize a adoo de medidashiginicas deve ser planejado e oferecido para os trabalhadores expos-tos aos agrotxicos. Isso significa colocar disposio dos trabalhadoresgua limpa (que pode estar acondicionada em tambores limpos e tampa-dos), sabo em pedra (alcalino), toalhas e trocas de roupas, dentre ou-tras, suficientes para o atendimento das situaes de limpeza rotineiras eainda para as eventuais lavagens em situaes de emergncia.

    Os aplicadores devem ser orientados a evitar o fumo nos ambientesonde os agrotxicos esto presentes. O ato de fumar pode propiciar quea mistura do fumo absorvido juntamente com resduos de agrotxicoseventualmente presentes na mucosa dos lbios, na boca ou mesmo no

    cigarro contaminado venha a agravar os riscos sade. Alm de nofumar durante o trabalho, os aplicadores no devem trazer consigo osmaos de cigarros nos bolsos, pois estes podem ser contaminados du-rante a aplicao.

    Outro cuidado fundamental diz respeito proteo de eventuais alimen-tos levados ao campo onde se dar o uso de agrotxicos. Tal atitudedeve ser evitada, mas caso a situao exija, preciso um planejamentologstico prvio para garantir a no contaminao dos alimentos. Deveser feito o acondicionamento em recipientes apropriados e o local para aalimentao dever ter gua limpa e sabo em pedra (alcalino) para alavagem de mos, braos e rostos antes de qualquer refeio.

    Ao final da atividade de manuseio de agrotxicos, faz-se necessrio queo indivduo exposto possa tomar um banho e trocar a roupa utilizada notrabalho. Essa roupa deve ser tratada como um instrumento de trabalho,isto , somente se deve utiliz-la para aquela operao. Tambm fun-damental providenciar a manuteno rotineira de tais vestimentas, fa-zendo-se a higienizao e os eventuais reparos aps cada jornada detrabalho.

    Os equipamentos de proteo individual e as vestimentas devem serlavados diariamente, nos locais apropriados para esta finalidade, enten-dendo-se esta operao como parte das atividades e rotinas do trabalhoe no como tarefa domstica. Assim, em hiptese alguma estas roupase equipamentos podem ser misturados com as roupas da famlia.

    9 EPI no trabalho com agrotxicos

    9.1 Consideraes preliminares sobre o uso de EPI no trabalho comagrotxicos

    O pressuposto bsico de uma operao bem-sucedida de aplicao deagrotxicos a certeza de que a eficincia da aplicao atingiu nveis satisfatrios,

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    ou seja, apenas os alvos identificados foram expostos aos produtos aplicados.Entretanto, esta situao ideal de difcil realizao prtica nas principais ativi-dades agrcolas.

    Na agricultura, a maioria das situaes de trabalho com agrotxicos rea-lizada a cu aberto, dificultando o controle direto dos fatores ambientais quedeterminam a eficincia da aplicao e a disseminao da contaminaoinvoluntria para alm dos alvos definidos para a operao. Neste contexto, aquesto da proteo individual atravs do uso de equipamentos e vestimentasexerce papel fundamental no plano de ao preventiva de acidentes e doenasrelacionados exposio aos agrotxicos.

    O equipamento de proteo individual, conhecido pela sigla EPI, definido

    pela Norma Regulamentadora no 6, aprovada pela Portaria no 3.214/78, doMinistrio do Trabalho17, como: todo dispositivo ou produto, de uso individualutilizado pelo trabalhador, destinado proteo de riscos suscetveis de amea-ar a segurana e a sade no trabalho.

    Do ponto de vista tcnico e legal, para serem considerados como EPI, osequipamentos devem possuir um certificado de aprovao, denominado pelasigla C.A., expedido pelo Ministrio do Trabalho. Este certificado identifica queo equipamento passou por um processo de registro junto ao rgo controlador.

    Nesse processo, o fabricante ou importador fornece ao rgo registrante,dentre outros documentos, um memorial descritivo do E.P.I., incluindo, no mni-mo, as suas caractersticas tcnicas principais, os materiais empregados na sua

    fabricao e o uso a que se destina.Tambm deve ser apresentado um laudo de ensaio do E.P.I. emitido por

    laboratrio devidamente credenciado pelo Ministrio do Trabalho. Os ensaiosque do origem aos laudos seguem normas tcnicas nacionais e internacionaise visam simular, em condies de laboratrio, as situaes de uso dos equipa-mentos, medindo assim sua capacidade de controle dos riscos a que se pro-

    pem a controlar.

    A partir da anlise e aprovao do registro do equipamento, este passa ater um nmero de C.A., o qual, juntamente com o nome da empresa fabricanteou importadora, dever constar do equipamento em caracteres indelveis e

    bem visveis.

    A responsabilidade em fornecer equipamentos de proteo individual evestimentas adequadas aos riscos, que no propiciem desconforto trmico pre-judicial ao trabalhador, cabe ao empregador rural ou equiparado e, para tanto,este pode contar com o apoio das recomendaes tcnicas do Servio Especi-alizado em Segurana e Sade (SESTR), apoiadas tambm pelo trabalho daComisso Interna de Preveno de Acidentes (CIPA), conforme previsto na

    NR-3117.

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    Por se tratarem de dispositivos que, mesmo quando bem indicados, sempreacarretam desconforto para os usurios e, principalmente, considerando-se ocarter parcial deste fator de proteo, o uso de E.P.I. preconizado apenasnas seguintes circunstncias:

    1. sempre que as medidas de proteo coletiva forem tecnicamente com- provadas inviveis ou quando no oferecerem completa proteo con-tra os riscos decorrentes do trabalho;

    2. enquanto as medidas de proteo coletiva estiverem sendo implanta-das;

    3. para atender situaes de emergncia.

    Portanto, sua utilizao deve ser entendida como um fator complementardentro de um programa de segurana e sade no trabalho. Em algumas cir-cunstncias, em que o controle dos riscos no pode ser exercido na fonte emque gerado, este recurso ganha importncia nos esforos de controle dosriscos. Esse o caso das atividades de manejo fitossanitrio com uso deagrotxicos. Nessas operaes, os trabalhadores se expem a riscos pouco ou

    parcialmente controlados por outros meios tcnicos de segurana, e assim ga-nha importncia o emprego de meios individuais de proteo, cuja indicaodever ser feita em cada ambiente e situao de trabalho.

    No entanto, uma srie de dificuldades e limitaes na abordagem estrita da

    questo dos EPI nos trabalhos agrcolas poderiam ser observadas, tais como:

    inexistncia de normas nacionais e internacionais para ensaios de equi-pamentos em situaes simulando as condies do trabalho na agricultu-ra;

    fragilidade da estrutura de preveno de acidentes estabelecida nasempresas e unidades de produo agrcola;

    pouca disponibilidade de profissionais habilitados para atuar junto a ser-vios tcnicos de preveno no campo;

    dificuldades de acesso comercial aos equipamentos de proteo indivi-

    dual; viso geral equivocada e socialmente difundida no meio tcnico sobre o

    alcance, a eficcia e a viabilidade tcnica de indicaes generalizadas deuso dos EPI como fator de controle de riscos nos uso de agrotxicos;

    a responsabilidade colocada ao engenheiro agrnomo na indicao deEPI (conforme estabelece a Lei dos Agrotxicos), sendo que este pro-fissional no tem formao especfica para tal indicao.

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    Em relao a este ltimo ponto, podemos salientar que a indicaohomogeneizada de EPI para as operaes com agrotxicos, exercitada semse considerar as situaes de cada ambiente de trabalho, tem contribudo paraa mistificao dessa medida de controle, fato este rapidamente absorvido pelousurio o aplicador que, ao perceber as controvrsias e incongruncias decertas especificaes, reage de forma indesejada em relao ao uso de prote-o, como as reaes j anteriormente assinaladas quando tratamos do temada percepo dos riscos.

    Mas nesses casos preciso observar que, se por um lado existem de fatolimitaes em relao aos equipamentos de proteo individual disponveis parao trabalho com agrotxicos (e, neste particular, essa situao compartilhada

    em mbito mundial, em especial nos demais pases de clima tropical), por outroh tambm parte desta inadequao que reside na ausncia de preparo e estru-tura tcnica para o exerccio da indicao de uso do EPI no trabalho na agricul-tura em geral (carncia de profissionais com conhecimentos sobre segurana ehigiene do trabalho atuando no campo) e no trabalho com agrotxicos.

    Talvez por isso seja bastante comum se constatar argumentaes sobre asdificuldades de uso de EPI no trabalho de aplicao de agrotxicos. Indicaesgenricas de uso de EPI levam prescrio de situaes em que as vestimentase os equipamentos de proteo passam a ser confundidos com trajes espaci-ais, obviamente imprprios para o trabalho.

    claro que o entendimento da definio de EPI e de seu uso na formaprevista nos dispositivos legais representa a garantia de que pressupostos tc-nicos fundamentais puderam ser seguidos para que determinado equipamentoviesse a receber tal denominao.

    A discusso acima apresentada resume de certa forma a principal limita-o para que haja eficcia dessa medida de controle individual, qual seja: aespecificao correta dos equipamentos de proteo individual deve ser feita

    para cada situao de trabalho atravs de uma avaliao tcnica qualificadadas questes de segurana envolvidas em determinado ambiente de trabalho.

    A simplificao, generalizao e o reducionismo no entendimento do quedeve ser a indicao tcnica e o alcance do uso da proteo individual dentrode um plano de preveno de acidentes leva mistificao das recomenda-es, constatao prtica de sua inadequao e ao descrdito do usurio em

    relao ao uso, alimentando-se assim as reaes de negao ou desprezo so-bre a existncia do risco e o reforo dos conceitos construdos sobre imunida-de subjetiva e ideologia ocupacional defensiva, j comentados.

    Existe tambm a possibilidade de que uma recomendao de uso de EPIseja entendida como soluo final para a segurana do aplicador, induzindo ousurio a imaginar que, seguindo as recomendaes de uso de vestimentas eequipamentos de proteo, no haveria mais a presena do risco no desenvol-vimento da atividade de trabalho. Essa situao de induo falsa sensao de

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    segurana pode levar o trabalhador a atitudes de exposio exagerada ao risco,uma vez que pressupe estar sendo totalmente protegido pelo uso das prote-es individuais indicadas.

    Nesse contexto, procuramos deixar claras as limitaes tcnicas existen-tes na questo do controle de riscos no indivduo a partir do uso de vestimentase equipamentos de proteo individual. Ao mesmo tempo, reconhecemos aimportncia e a utilidade deste recurso para melhoria das condies de segu-rana, desde que seu uso seja precedido de informao clara e explcita sobresuas limitaes e sobre a necessidade de este ser um sistema de controle com-

    plementar a medidas de mbito coletivo.

    O que pretendemos aqui mostrar que entre as duas situaes extremas

    existe um caminho a ser percorrido na busca de uma atuao tcnica maisefetiva, no qual exercem papis fundamentais as questes do acesso infor-mao, o reconhecimento das limitaes e controvrsias do tema, a visoabrangente sobre segurana no trabalho, o estudo localizado de cada situao ea responsabilidade tcnica, que deve incorporar a questo da segurana e sa-de do trabalho com o mesmo nvel de dedicao e investimento proporcionadosaos aspectos de eficincia na aplicao de agrotxicos.

    H ainda um outro problema concreto relacionado ao uso dos equipamen-tos de proteo que diz respeito s restries econmicas dos usurios emrelao compra dos equipamentos. Alguns usurios de agrotxicos abremmo da compra dos equipamentos por questes de custos, mesmo conhecendoos riscos do trabalho sem proteo, mas, ao mesmo tempo, no cogitam de

    prescindir do uso e da compra dos agrotxicos, que por sua vez tambm repre-sentam um valor significativo na composio de seus custos de produo. Aquitambm se pode concluir, de forma precipitada, sobre o eventual comporta-mento deliberado do trabalhador, que deixa de priorizar a segurana, aumen-tando os riscos. Entretanto, uma anlise mais atenta ir mostrar que fatoreseconmicos e sociais, externos ao ambiente de trabalho, esto pressionando atomada de decises em detrimento da segurana e da sade do trabalhador.

    9.2 Breve descrio sobre os principais equipamentos de proteo indi-vidual

    Apresentamos a seguir uma breve descrio dos principais equipamentos

    de proteo individual que podem ser recomendados para uso nas variadassituaes de utilizao de agrotxicos em ambientes de trabalho no campo5,19,23,24.

    Vestimentas e equipamentos de proteo no trabalho com agrotxicos

    O objetivo em se usar vestimentas e equipamentos de proteo individualno trabalho com agrotxicos a tentativa de se controlar a exposio a esses

    produtos atravs da proteo das principais rotas de entradas dessas substn-

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    cias no organismo. Outro papel desempenhado pela proteo individual o deservir como barreira para evitar aes localizadas no contato direto do produtocom alguma parte do corpo da pessoa exposta.

    Como sabemos, as principais vias de penetrao dos agrotxicos no orga-nismo do trabalhador exposto durante o emprego de agrotxicos no campo so:a via digestiva, a via respiratria e a via drmica. Na maioria das operaescom agrotxicos, a exposio drmica a rota mais importante de contamina-o por derramamentos, respingos ou mesmo pelo contato com a nvoa de

    pulverizao.

    Do ponto de vista tcnico, evidente que a proteo individual da exposi-o drmica a agentes txicos pode ser feita pelo uso de roupas impermeveis;

    e isso pode ter aplicao em determinadas situaes. Ocorre entretanto que otrabalho na agricultura em condies climticas como as existentes no pas,associado ao intenso esforo fsico despendido na atividade praticamenteinviabiliza o uso da impermeabilizao geral de todas as partes do corpo comoindicao de proteo.

    Na tentativa de contornar as limitaes de uso de vestimentas imperme-veis no trabalho com agrotxicos, em regies de clima quente, o uso de umconjunto mnimo de vestimentas pode representar um nvel importante de pro-teo. So eles:

    calas compridas de brim grosso e de cor clara;

    camisa de brim ou algodo, com mangas compridas e de cor clara;

    ou macaco de brim grosso (tambm com mangas compridas e de corclara);

    luvas de segurana;

    sapatos ou botas impermeveis (de PVC, preferencialmente);

    proteo impermevel para a cabea

    Outros itens complementares devero ser acrescentados de acordo comas condies de trabalho e, por conseqncia, do perfil de exposio da opera-o, que pode ser definido por uma srie de variveis, tais como: a classetoxicolgica do produto, a formulao, a concentrao, o tipo de operao rea-lizada, o equipamento de aplicao utilizado, o porte da cultura trabalhada, atemperatura do local, a umidade relativa do ar, as condies e a direo dosventos, as condies fsicas do operador (presena ou no de ferimentos) den-tre outros pontos.

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    De maneira geral, os itens complementares de proteo individual podemser assim descritos:

    protetores faciais e culos de segurana;

    aventais, perneiras e outros acessrios impermeveis;

    respiradores com filtro adequado

    Denominar tais itens como complementares no significa reduzir a impor-tncia de seu uso na hora de se compor o conjunto de equipamentos de prote-o individual para determinada situao de trabalho. Ao contrrio, tais equipa-mentos, j considerados como EPI propriamente ditos, devem ser cuidadosa-mente especificados, levando-se conta cada uma das etapas das operaescom agrotxicos, tais como: o transporte de embalagens, o manuseio ao prepa-rar-se a calda, a aplicao propriamente dita, o descarte dos rejeitos contami-nados, a reentrada em reas tratadas etc.

    Luvas de segurana

    Um componente fundamental nas operaes de transporte e abertura deembalagens, no preparo de calda, no enchimento dos tanques de equipamentosde aplicao, na aplicao com equipamento costal, no descarte de resduostxicos, dentre outras atividades, a utilizao de luvas de segurana.

    As luvas para o trabalho com agrotxicos devem ser resistentes ao ataquede solventes orgnicos, alm, claro, de serem impermeveis. As luvas nitrlicasatendem de forma geral a essas especificaes, uma vez que so resistentes amuitos dos solventes existentes nas formulaes de agrotxicos.

    Luvas de borracha natural no so recomendadas nas aplicaes de pro-dutos que contenham solventes orgnicos (por ex.: nos concentradosemulsificados), tendo em vista que a borracha natural facilmente atacada poressas substncias. Entretanto, seu uso pode ser indicado para proteo contra

    produtos dissolvidos em gua ou ainda nas formulaes granuladas ou em p.

    Tambm no se recomenda o uso de luvas com revestimento interno (for-radas) no manuseio e na aplicao de agrotxicos em formulaes lquidas; oforro pode facilitar a contaminao interna e dificultar a descontaminao dasluvas.

    Alm da higienizao rotineira das luvas aps o trabalho com agrotxicos,faz-se necessria a inspeo cuidadosa visando verificar a existncia de even-tuais furos que podem servir de entrad