aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das ler

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Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção ASPECTOS DA ERGONOMIA QUE CONTRIBUEM NA PREVENÇÃO DAS LER/DORT NUM SETOR DA INDÚSTRIA CERÂMICA: UM ESTUDO DE CASO Dissertação de Mestrado Alessandra Cordeiro Rodrigues

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Page 1: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

Universidade Federal de Santa Catarina

Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção

ASPECTOS DA ERGONOMIA QUE CONTRIBUEM NA PREVENÇÃO

DAS LER/DORT NUM SETOR DA INDÚSTRIA CERÂMICA: UM

ESTUDO DE CASO

Dissertação de Mestrado

Alessandra Cordeiro Rodrigues

Page 2: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

Florianópolis 2003

Page 3: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção

ASPECTOS DA ERGONOMIA QUE CONTRIBUEM NA PREVENÇÃO

DAS LER/DORT NUM SETOR DA INDÚSTRIA CERÂMICA: UM

ESTUDO DE CASO

Alessandra Cordeiro Rodrigues

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção

da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do

título de Mestre em Engenharia de Produção com ênfase em Ergonomia.

Orientador: Prof. Dr. Eugenio Merino

Florianópolis 2003

Page 4: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

Alessandra Cordeiro Rodrigues

ASPECTOS DA ERGONOMIA QUE CONTRIBUEM NA PREVENÇÃO DAS LER/DORT NUM SETOR DA INDÚSTRIA CERÂMICA: UM

ESTUDO DE CASO

Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção, com ênfase em Ergonomia, no Programa de Pós-

Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 25 de Agosto de 2003.

_______________________________

Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr.

Coordenador do Programa

BANCA EXAMINADORA:

____________________________________________________

Prof. Eugenio A. D. Merino, Dr.

Orientador

____________________________________________________

Prof. Leila Amaral Gontijo, Dra.

____________________________________________________

Prof. Francisco Pereira Fialho, Dr.

Page 5: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

“Avança a tecnologia, esquece-se o homem

e o ergonomista está sempre lá, sinalizando,

problematizando, propondo soluções,

buscando o conforto e a segurança para o

homem no lar, no trabalho, no lazer, na

cidade”.

Moraes, A ., Soares, M..M.

Page 6: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

Dedico este trabalho a

duas pessoas muito especiais que

sempre me apoiaram e incentivaram:

Meus pais.

Page 7: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todas as pessoas

que compartilharam este período de minha

vida e que das mais variadas maneiras me

ajudaram, citando em especial:

- Ao Orientador Prof. Dr. Eugenio Merino pelo

acompanhamento pontual e competente.

- A banca examinadora, pelo reconhecimento

do meu trabalho.

- A minha família pelo carinho e compreensão

de minhas ausências nos finais de semana.

- Aos amigos e colegas de trabalho pelo

incentivo contínuo.

- A todos que, direta ou indiretamente,

contribuíram para a realização desta

pesquisa.

Page 8: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS xi

LISTA DE FIGURAS xii

LISTA DE GRÁFICOS xiii

LISTA DE SIGLAS xiv

RESUMO xvi

ABSTRAT xvii

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 1

1.1 APRESENTAÇÃO DA PROBLEMÁTICA ............................................................. 1

1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO................................................................................ 3

1.2.1 Objetivo geral....................................................................................................... 3

1.2.2 Objetivos específicos........................................................................................... 3

1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TRABALHO.............................................. 4

1.4 METODOLOGIA..................................................................................................... 5

1.5 DELIMITAÇÕES DO TRABALHO ......................................................................... 6

1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO .............................................................................. 6

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 8

2.1 LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER/DORT) 8

2.1.1 ASPECTOS CONCEITUAIS................................................................................ 8

2.1.2 VISÃO HISTÓRICA DAS LESÕES DE MEMBROS SUPERIORES

RELACIONADOS AO TRABALHO.................................................................... 10

2.1.2.1 LER/DORT - ENDEMIA E EPIDEMIA...................... ...................................... 16

2.1.3 VISÃO HOLÍSTICA DAS LER/DORT NO BRASIL ............................................ 18

Page 9: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

2.1.4 ASPECTOS CLÍNICOS ..................................................................................... 22

2.1.4.1 Neuropatias compressivas ............................................................................. 23

2.1.4.2 Tendinites e tenossinovites: ........................................................................... 23

2.1.4.3 Classificação ou estadiamento das LER/DORT............................................. 26

2.1.5 FATORES CAUSAIS......................................................................................... 31

2.1.5.1 Fatores biomecânicos..................................................................................... 32

2.1.5.2 Fatores organizacionais.................................................................................. 37

2.1.5.3 Fatores psicossociais ...................................................................................... 38

2.1.6 Resultados das principais pesquisas abordando outros fatores que não os

biomecânicos..................................................................................................... 44

2.1.6.1 A Influência dos fatores físicos e pessoais..................................................... 45

2.1.6.2 A Influência dos fatores psicológicos.............................................................. 46

2.1.6.3 A Influência dos fatores sociais. ..................................................................... 46

2.1.6.4 A influência dos fatores de organização do trabalho...................................... 47

2.1.7 RELAÇÃO ENTRE LER/DORT E ORGANIZAÇÃO DE TRABALHO................ 48

2.1.8 PERFIL DO TRABALHADOR PORTADOR DE LER/DORT ............................. 54

2.1.8.1 LER/DORT - Faixa etária................................................................................ 56

2.1.8.2 LER/DORT - Tempo na função ...................................................................... 57

2.1.8.3 LER/DORT - Escolaridade.............................................................................. 57

2.1.8.4 LER/DORT - Faixa salarial ............................................................................. 59

2.1.8.5 LER/DORT - Ramos de atividade econômica ................................................ 60

2.1.8.6 LER/DORT - Ocupações ................................................................................ 63

2.1.9 REPERCUSSÕES E CUSTOS LER/DORT ...................................................... 65

2.2 ERGONOMIA 69

2.2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS.............................................................................. 69

2.2.2 HISTÓRICO DA ERGONOMIA ......................................................................... 71

2.2.2.1 Fundação da IEA............................................................................................ 75

2.2.3 NORMATIZAÇÃO E LEGISLAÇÃO DE PROGRAMAS DE PREVENÇÃO DE

SAÚDE DOS TRABALHADORES E ERGONOMIA .......................................... 76

2.2.4 ABORDAGENS EM ERGONOMIA.................................................................... 78

2.2.5 CAMPOS DA ERGONOMIA E PRINCIPAIS MODALIDADES DE

INTERVENÇÃO................................................................................................. 80

2.2.6 O FUTURO DA ERGONOMIA........................................................................... 82

Page 10: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

2.2.7 A IMPORTÂNCIA DA ERGONOMIA NA PREVENÇÃO DAS LER/DORT........ 83

2.2.8 METODOLOGIA DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO - AET........... 85

2.2.8.1 Análise da demanda. ...................................................................................... 89

2.2.8.2 Análise da tarefa............................................................................................. 90

2.2.8.2.1 Descrição dos componentes do sistema homens-tarefas ........................... 91

2.2.8.2.2 Descrição dinâmica do sistema homens-tarefas ......................................... 92

2.2.8.2.3 Avaliação das exigências do trabalho ......................................................... 92

2.2.8.3 Análise da atividade........................................................................................ 95

2.2.8.3.1 Métodos de análise ergonômica da atividade ............................................. 96

2.2.8.4 Síntese ergonômica do trabalho..................................................................... 99

2.2.9 ANTROPOMETRIA ......................................................................................... 100

2.2.9.1 Aplicação dos dados antropométricos.......................................................... 102

2.2.9.2 Principais medições antropométricas estáticas............................................ 103

CAPÍTULO 3 - ESTUDO DE CASO: ANÁLISE ERGONÔMICA DO

TRABALHO EM UMA EMPRESA DE REVESTIMENTOS

CERÂMICOS 107

3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................ 107

3.2 APRESENTAÇÃO.............................................................................................. 108

3.3 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO ...................................................... 110

3.3.1 Demanda ......................................................................................................... 110

3.4 ANÁLISE DA TAREFA ...................................................................................... 110

3.4.1 Delimitação do sistema homem-tarefa ............................................................ 111

3.4.2 Perfil do sistema .............................................................................................. 111

3.4.3 Normas ............................................................................................................ 112

3.4.4 Hierarquia do sistema...................................................................................... 113

3.4.5 Função auxiliar de produção na classificação ................................................. 113

3.4.6. Função auxiliar de produção - mesa de classificação .................................... 114

3.4.7 Os funcionários................................................................................................ 115

3.4.8 Antropometria .................................................................................................. 115

3.4.9 Sexo................................................................................................................. 116

3.4.10 Idade.............................................................................................................. 116

3.4.11 Qualificação profissional................................................................................ 117

Page 11: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

3.4.12 Tempo de empresa........................................................................................ 118

3.4.13 Remuneração em 2001 e 2002 ..................................................................... 118

3.4.14 Absenteísmo devido distúrbios osteomusculares.......................................... 118

3.4.15 Custos com tratamento de funcionários com queixas iniciais de dor em

membros superiores e dos casos já diagnosticados de LER/DORT,

incluindo fisioterapias, acupuntura e medicamentos ..................................... 120

3.4.16 Estadiamento/Classificação das LER/DORT................................................. 122

3.4.17 Levantamento do número de comunicações de acidentes de trabalho

emitidas por doença ocupacional, devido LER/DORT ................................... 123

3.4.18 Funcionários com restrições.......................................................................... 124

3.4.19 Dados referentes ao meio ambiente.............................................................. 125

3.4.20 Entrada ......................................................................................................... 127

3.4.21 Saída ............................................................................................................. 128

3.4.22 Entrada das informações............................................................................... 128

3.4.23 Postura para a execução da tarefa................................................................ 128

3.4.24 Exigências físicas, mentais e sensoriais ....................................................... 133

3.5 RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO - CLASSIFICAÇÃO ............................... 133

3.6 CHECK-LIST PARA AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO RISCO DE TENOSSINOVITE E LESÕES POR TRAUMA CUMULATIVOS DOS MEMBROS SUPERIORES ................................................................................ 141

3.7 DIAGNÓSTICO .................................................................................................. 144

3.8 GINÁSTICA LABORAL ..................................................................................... 145

3.9 RECOMENDAÇÕES .......................................................................................... 145

3.10 RECOMENDAÇÕES PARA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ..................... 148

3.11 CONCLUSÕES DO ESTUDO DE CASO......................................................... 149

CAPÍTULO 4 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS

FUTUROS 154

REFERÊNCIAS 157

ANEXOS 166

Page 12: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Estadiamento, sinais e conduta nas lesões por esforços repetitivos .......... 29

Tabela 2 - Evidências científicas entre os fatores biomecânicos e as lesões .............. 35

Tabela 3 - Principais fatores determinantes das LER/DORT ....................................... 38

Tabela 4 - Relação exemplificada entre o trabalho e algumas patologias ................... 39

Tabela 5 - Fatores ocupacionais associados com mão, punho, cotovelo e ombro

predisponentes LER/DORT......................................................................... 41

Tabela 6 - Fatores físicos pessoais associados às LER/DORT ................................... 45

Tabela 7 - Fatores psicológicos associados às LER/DORT......................................... 46

Tabela 8 - Fatores sociais relacionados às LER/DORT. .............................................. 46

Tabela 9 - Fatores de organização do trabalho relacionados à LER/DORT. ............... 47

Tabela 10 - Medidas antropométricas dos funcionários ............................................. 116

Tabela 11 - Idade dos funcionários. ........................................................................... 117

Tabela 12 - Tempo de empresa. ................................................................................ 118

Tabela 13 - Absenteísmo............................................................................................ 118

Tabela 14 – Custos anos 2001 e 2002....................................................................... 120

Tabela 15 – Estadiamento/Classificação.................................................................... 122

Tabela 16 – Estadiamento / Outros setores. .............................................................. 123

Page 13: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Neuropatias compressivas. .......................................................................... 24

Figura 2 - Tendinites e tenossinovites .......................................................................... 26

Figura 3 - Esquema metodológico da análise ergonômica do trabalho........................ 88

Figura 4 - Fluxograma do processo de produção de revestimentos cerâmicos ......... 109

Figura 5 - Organograma do setor de classificação..................................................... 113

Figura 6 - Sugestão de modelo de caixa de classificação.......................................... 148

Page 14: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição dos atendimentos de LER por faixa etária (1994,1995,1996). 56

Gráfico 2 - LER X Escolaridade (1994, 1995) .............................................................. 58

Gráfico 3 - LER X Escolaridade (1996) ........................................................................ 58

Gráfico 4 - LER X Faixa Salarial (1994, 1995, 1996) ................................................... 59

Gráfico 5 - LER X Ramos de atividade econômica (1993, 1994) ................................. 60

Gráfico 6 - LER X Ramos de atividade econômica (1995, 1996) ................................. 61

Gráfico 7 - LER X Ocupações (1993) ........................................................................... 63

Gráfico 8 - LER X Ocupações (1994, 1995, 1996) ....................................................... 64

Page 15: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

LISTA DE SIGLAS

ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia

AET – Análise Ergonômica do Trabalho

BLS – Bureau of Labor Statistics

CAT – Comunicação de Acidente do Trabalho

CCQs – Círculos de Controle de Qualidade

CEPI – Centro de Epidemiologia do Paraná

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNAM – Conservatoire National des Arts e Métier

CTD – Cumulative Trauma Disorders

DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

D.O.U. – Diário Oficial da União

EPA – Agência Européia de Produtividade

IEA – Associação Internacional de Ergonomia

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social

INSS – Instituto Nacional de Segurança Social

LER – Lesões por Esforços Repetitivos

LTC – Lesões por Trauma Cumulativo

MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social

NR – Normas Regulamentadoras

NIOSH – National Institute for Occupational Safety and Health

NUSAT – Núcleo de Referência em Doenças Ocupacionais da Previdência

Social

OCD – Occupational Cervicobrachial Disorder

OOI – Occupational Overuse Injury

PAIR – Perda Auditiva Induzida pelo Ruído

PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

Page 16: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

RSI – Repetitive Strain Injuries

RTD – Repetitive Trauma Disorders

SESA – Secretaria de Estado da Saúde

SESMT – Serviços Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho

Page 17: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

RODRIGUES, Alessandra Cordeiro. Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER/DORT num setor da indústria cerâmica: um estudo de caso. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção, com ênfase em Ergonomia – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. UFSC, 2003.

RESUMO

As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), são doenças músculo-tendinosas que acometem principalmente membros superiores, ombros e pescoço, causadas pela sobrecarga de um grupo muscular em particular. Este trabalho visa demonstrar a contribuição da Ergonomia na redução das LER/DORT, visto que a Ergonomia utiliza conhecimentos de diversas áreas da ciência, engenharia e um completo entendimento das capacidades e limitações humanas. Quando estes princípios são aplicados no projeto de um posto de trabalho, na tarefa, no processo ou procedimento, além de uma melhoria das condições de trabalho, da qualidade e produtividade, pode-se esperar uma redução dos distúrbios decorrentes da falta de adaptação do trabalho ao homem e, portanto, das Lesões por Esforços Repetitivos. A metodologia utilizada neste Estudo de Caso foi a Análise Ergonômica do Trabalho aplicada em uma Indústria de Revestimentos Cerâmicos, com o objetivo de identificar as possíveis causas das LER/DORT entre os trabalhadores do setor de classificação, local que apresentava alta incidência de queixas de dor e desconforto em membros superiores relacionadas ao desempenho do trabalho. Os resultados mostram que as características das atividades no setor, e dos postos de trabalho, organização do trabalho, associado a outros fatores podem ocasionar as LER/DORT. São propostas sugestões e recomendações visando a melhoria das condições de trabalho, conforto e segurança. PALAVRAS-CHAVE: Lesões por Esforços Repetitivos (LER) / Distúrbios Osteomuculares Relacionados ao Trabalho (DORT); Ergonomia; Prevenção.

Page 18: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

RODRIGUES, Alessandra Cordeiro. Aspects of ergonomics that contribute to prevent work-related musculoskeletal disorders (WMSDs) in a ceramic industry sector: a case study. Production Engineering Masters Degree with ergonomics emphasis. Graduation in Production Engineering Program. UFS, 2003.

ABSTRACT

Repetitive Strain Injuries (RSI) and Work-Related Musculoskeletal Disorders(WMSDS) are painful disorders of muscles, tendons and nerves found usually in hands , wrists, elbows ,neck and shoulders caused by a forceful exertion in a particular group of muscles. This study intend to show the contribution of Ergonomics to decrease Repetitive Strain Injuries and Work-Related Musculoskeletal Disorders cases, once Ergonomics uses different knowledge areas such as science, engineering and a complex understanding of human capacities and limitations. When these principles are applied in a workplace project, task, in the process or procedure, we can count on better job conditions, more quality and productivity and a decrease in these disturbances related to a bad job adaptation to the man, in this case, RSI. The methodology used in this Case Study was the Ergonomic Analysis of the job applied in a Ceramic Revetments Industry, intending to identify the possible causes for RSI/WMSDS among the classification section workers ,a place with high pain complaints incidence particularly in superior members related to job performance. The results show characteristics section activities, workstations designs, job organization plus other factors can lead to RSI/WMSDS. Suggestions and recommendations are made to improve the job conditions, comfort and security.

KEY-WORDS: Repetitive Stain Injuries (RSI) / Work Related Musculoskeletal

Disroders (WMSDS); Ergonomy/ Prevention.

Page 19: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

RODRIGUES, Alessandra Cordeiro. Aspectos da

ergonomia que contribuem na prevenção das LER/DORT num setor da indústria cerâmica: um estudo de caso. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção, com ênfase em Ergonomia – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. UFSC, 2003.

Lesões por Esforços Repetitivos (LER) / Distúrbios Osteomuculares Relacionados ao Trabalho (DORT); Ergonomia; Prevenção.

Page 20: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

1

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação da problemática

O Brasil, à semelhança de outros países, vem assistindo, nos últimos quinze

anos, a explosão epidêmica das lesões de membros superiores por sobrecarga

funcional. SOROCK e COURTNEY (1996) consideram que fatores como: excessiva

exposição a movimentos repetitivos por demanda da tarefa, posturas incorretas,

emprego de força, baixa temperatura, vibração e fatores psicossociais como o

estresse, estão intimamente relacionados a distúrbios musculoesqueléticos, que são

mais comumente denominados: lesões por esforços repetitivos (LER) ou distúrbios

osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT).

No Japão, Maeda relatou a ocorrência de lesões desde 1958 entre

perfuradores de cartão. Nakaseko, em 1982, informou alta incidência de distúrbios

entre trabalhadores de linha de montagem, quando levantou os dados de taxa de

exposição entre 1.691.000 trabalhadores japoneses expostos e constatou que 10%,

em média, tinha sintomas em membros superiores. Destes, a maior prevalência -

20,9% - ocorria entre trabalhadores de linha de montagem. Entre os trabalhadores

de escritório, a prevalência era de 9,4% (COUTO, 2000).

Na Austrália, o fenômeno evidenciou-se na década de 80. HOCKING (1987)

relatou a ocorrência de lesões dos membros superiores na Telecom, durante o

período de 1981 a 1985, somando um total de 3.976 relatos. A ocupação com maior

incidência foi a de telefonista, contribuindo com um montante de 1.886 relatos e um

índice de 343 casos por 1000 digitadores durante os 5 anos citados.

Na Finlândia, RIHIMÄKI (apud COUTO, 2000) relatou que a incidência atingiu

seu ápice em 1990, quando foram registrados 17 casos para cada 10.000

trabalhadores do sexo feminino. Metade das ocorrências tiveram o diagnóstico de

tendinites, com menor incidência das síndromes de compressão de nervos.

Nos Estados Unidos, estas lesões osteomusculares relacionadas ao trabalho

representam, atualmente, 61% dos novos casos de doenças/lesões relacionadas ao

trabalho. A taxa de casos notificados aumentou de menos de 5 por 10.000

Page 21: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

2

trabalhadores, em 1981, para quase 30 por 10.000 trabalhadores, em 1991,

(SILVERSTEIN, 1995, p.36). Isto quer dizer que aumentou a proporção do número

de casos de LER/DORT em seis vezes para um período de dez anos.

No Brasil, os casos de LER/DORT se constituem na principal causa de

doença relacionada ao trabalho, contribuindo com mais de 65% dos casos

reconhecidos pela Previdência Social. Este distúrbio envolve várias categorias

profissionais e não somente os digitadores e trabalhadores de linha de produção,

como se acreditava no início (NUSAT, 1995).

HIGGS e MACKINNON (1995) referem que, apesar de quase duas décadas

de estudos, as LER continuam sendo o maior e o mais freqüente problema das

extremidades superiores relacionadas ao trabalho. Isso se explica pela incerteza nas

queixas e no desenvolvimento de tratamentos satisfatórios, o que tem gerado muitas

controvérsias em diversos países.

No Paraná, segundos dados da Secretaria de Estado da Saúde (SESA) e

Centro de Epidemiologia do Paraná (CEPI), baseados nos dados das Comunicações

de Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, observou que, em 1998, as

LER/DORT representavam 563 casos, com percentual de 41,3% das comunicações.

Em sendo assim, tal percentual correspondia a segunda doença profissional mais

prevalente, perdendo somente para a perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR), que

teve 567 casos registrados, com percentual de 41,6% .

O Departamento de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos (Bureau of

Labor Statistics) faz controle dos dados anuais de lesões por esforços repetitivos.

Identificou que na indústria privada há registros, em 1999, de 246.700 casos; em

2000, foram 241.800 e, em 2001, foram um total de 216.400. Portanto, existiu uma

variação pequena entre os anos com tendência à redução, mas ainda um número

muito alto de casos.

As LER/DORT são as principais doenças ocupacionais no Brasil e atingem

cerca de 10% da mão-de-obra formal, o que corresponde a quase 7 milhões de

trabalhadores numa projeção extra-oficial.

Na Itália, quase 1,5 milhão, num universo de 23 milhões de trabalhadores têm

LER/DORT. Nos Estados Unidos, o número chega a 4 milhões; na Alemanha, 3

Page 22: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

3

milhões e na região da Escandinávia, 1 milhão de trabalhadores, segundo dados

retirados do site (<http://www.icoh2003.com.br>, pesquisado em 30/6/03)

Para se entender como e por quê as LER/DORT se instalam e se

desenvolvem de forma assustadora nas sociedades industriais capitalistas

modernas, é de fundamental importância que se faça uma análise do trabalho em si

e do seu processo de organização, uma vez que as mesmas, segundo ALMEIDA

(1998), são manifestações no corpo dos trabalhadores dos desajustes entre eles e

os seus trabalhos.

Pela dimensão que assumiu a questão das LER/DORT, o problema passou da

esfera dos trabalhadores, empresas e sindicatos para a Saúde Pública e Previdência

Social, devido a grande proporção de afastados do trabalho e aposentadorias

precoces.

1.2 Objetivos do trabalho

1.2.1 Objetivo geral

Compreender os fatores causais e predisponentes das lesões por esforços

repetitivos em trabalhadores de linha de produção, verificando sua relação com as

mudanças no processo de trabalho e introdução de novas tecnologias e estudando

como a Ergonomia pode contribuir para minimizar as LER/DORT.

1.2.2 Objetivos específicos

• Estudar e compreender as LER/DORT e aplicar a Análise Ergonômica do

Trabalho numa situação real de um posto de trabalho.

• Analisar dados da população exposta.

• Levantar casos de distúrbios osteomusculares no setor de classificação e

verificar nexo com o trabalho.

• Mostrar condições atuais nestes postos de trabalho.

• Identificar problemas ergonômicos e na organização do trabalho.

Page 23: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

4

1.3 Justificativa e relevância do trabalho

Com todas as transformações ocorridas na tecnologia e organização do

trabalho, alguns tipos de trabalho se modificaram e, com isso, mudaram os desafios

ergonômicos.

Se, por um lado, a tecnologia solucionou muitos problemas ergonômicos do

antigo sistema de produção, por outro, trouxe muitos outros que, atualmente, são os

grandes desafios da Ergonomia.

Um dos maiores impactos da reestruturação produtiva calcada na recente

tecnologia, largamente utilizada por grandes empresas, foi a redução gradativa das

tarefas muito pesadas e em altas temperaturas. Isso porque, hoje, muitas destas

atividades são desenvolvidas por robôs, reduzindo o impacto para o ser humano.

Como exemplo, tem-se: as laminações de aço; nos processos que envolviam

atividades fisicamente pesadas, hoje são automatizadas; nos processos de solda e

pintura, altamente agressivos, hoje sob responsabilidade de robôs; nos cortes de

madeira, realizada anteriormente por motosserras e agora por haversters, cabendo

ao homem operar estas máquinas dentro de cabines.

Porém, a tecnologia trouxe para determinados ramos de atividade, o uso

excessivo dos computadores, alta repetitividade de tarefas, posturas estáticas,

trabalho de alta densidade, além de não conseguir modificar alguns processos como

a manutenção das linhas de produção tradicionais para produtos de baixo valor

agregado (indústria de vestuário, de calçados e de montagem eletrônica), o

manuseio não programável de cargas (como correios, mudanças de moradia,

movimentação de cargas dentro da indústria, em locais não cobertos por meios

informatizados e onde a variabilidade de movimentos é mais facilmente coberta pelo

homem) e problemas relacionados com a terceirização.

Quanto aos fatores ligados à organização do trabalho, pode-se observar que o

ritmo acelerado, exigência de tempo, falta de autonomia, fragmentação das tarefas,

cobrança de produtividade sob a forma de prêmios por produção, falta de conteúdo

das tarefas e dificuldade de relacionamento com chefias interferem nos

trabalhadores, gerando tanto tensão como sobrecarga osteomuscular. Ademais, a

persistência destas situações podem gerar as LER/DORT.

Page 24: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

5

Considerando os dados da Organização Mundial da Saúde, a qual demonstra

que, anualmente, a incidência de novos casos de doenças ocupacionais LER/DORT

é de 160 milhões por ano, ou seja, 61 casos registrados a cada mil empregados, em

relação a essa população economicamente ativa de 2,6 bilhões de pessoas

(GEREMIAS, 2002).

Portanto, é necessário que se identifiquem os fatores predisponentes e

contributivos do desencadeamento das LER/DORT na incidência atual. Este

trabalho, através do Estudo de Caso num setor de classificação, onde foram

observados maior número de queixas de dor e desconforto nos membros superiores

da fábrica, pretende analisar os aspectos da Ergonomia que contribuem na

prevenção das LER/DORT.

Com estes conhecimentos e entendendo o ambiente de trabalho como um

todo, talvez, seja possível estruturar medidas preditivas, preventivas e curativas mais

eficazes para esta patologia.

1.4 Metodologia

Esta dissertação apresenta as características de pesquisa aplicada,

qualitativa, explicativa, contando com procedimentos técnicos de pesquisa

bibliográfica e estudo de caso.

Foi realizada de acordo com as seguintes etapas. Na primeira etapa foi

realizado um levantamento bibliográfico das lesões por esforços repetitivos

(LER/DORT), enfocando principalmente seu histórico, aspectos clínicos, fatores

causais, perfil da população mais atingida. Com isso almeja-se adquirir um maior

entendimento da doença, podendo dimensionar seus efeitos sobre a saúde dos

trabalhadores.

Em seguida realizou-se uma revisão bibliográfica sobre Ergonomia,

abordando também a metodologia de Análise Ergonômica do Trabalho, enfatizando

a importância de sua aplicação nas investigações das LER/DORT.

Na segunda etapa foi realizado Estudo de Caso, através da Análise

Ergonômica do Trabalho no setor de classificação de uma fábrica de pisos e

Page 25: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

6

revestimentos cerâmicos na região metropolitana de Curitiba, a qual apresentava

alta incidência de dores e desconforto osteomusculares relacionados ao trabalho.

Na terceira etapa procedeu-se uma análise global dos dados coletados

confrontando-os com os encontrados na literatura, visando a chegar em um

diagnóstico da situação de trabalho. Feito isso, propuseram-se recomendações para

melhoria das condições de trabalho neste setor pretendendo, com isto, reduzir a

incidência das LER/DORT.

1.5 Delimitações do trabalho

O estudo foi realizado no setor de Classificação de azulejos de uma Empresa

de pisos e revestimentos cerâmicos, que conta com a mão-de-obra de 122

funcionários.

Optou-se por considerar o grupo alvo deste trabalho como sendo os

funcionários deste setor, devido ao arranjo físico inadequado do posto de trabalho e

maior número de queixas osteomusculares no ambulatório da empresa.

Outra delimitação foi concentrar mais os estudos nos fatores biomecânicos e

não se aprofundar tanto nos aspectos psicológicos e sociais dos portadores de

LER/DORT, apesar de estes serem muito relevantes na etiologia destes distúrbios.

1.6 Estrutura do trabalho

Este trabalho está dividido em quatro capítulos assim distribuídos:

• Capítulo 1 – Introdução

Composto da apresentação, dos objetivos, da justificativa e relevância, da

metodologia e da estrutura do trabalho.

• Capítulo 2 – Fundamentação Teórica, composto de dois itens: - Lesões por

Esforços Repetitivos – LER/DORT, onde são apresentados conceitos, visão

histórica, aspectos clínicos e fatores causais de LER/DORT; - Ergonomia, onde é

apresentada a definição, histórico, áreas de aplicação da Ergonomia, bem como

a relação e importância desta na prevenção e controle das LER/DORT e melhora

Page 26: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

7

da qualidade de vida dos trabalhadores. Apresentam-se, também, comentários

sobre Norma Regulamentadora - NR 17.

• Capítulo 3 – Estudo de caso

Demonstra a metodologia e a Análise Ergonômica do Trabalho – AET e inclui

as recomendações e conclusões do Estudo de caso.

• Capítulo 4 – Conclusões e sugestões para trabalhos futuros.

Expõe as conclusões e recomendações advindas do trabalho, bem como

sugestões para trabalhos futuros.

Page 27: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

8

CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomuculares relacionados ao trabalho - LER/DORT 2.1.1 Aspectos conceituais da terminologia

Nos últimos 20 anos, foram adotadas várias terminologias para definir as

lesões musculoligamentares relacionadas ao trabalho, aqui definidas como

LER/DORT. Entretanto, todas as conceituações têm em comum o relato do sobreuso

das extremidades dos membros superiores ocasionadas, geralmente – mas não

unicamente – por movimentos repetitivos.

Segundo COUTO (2000), a Austrália utilizou inicialmente a denominação de

Occupational Overuse Injury (OOI), ou seja, lesão ocupacional por sobre-esforço, e

em 1980, mudou para a terminologia Repetitive Strain Injuries (RSI), sendo traduzida

para o português como Lesões por Esforços Repetitivos (LER).

BROWNE et al. (1984, p. 330) as definiram como:

Doenças músculo-tendinosas dos membros superiores, ombros e pescoço,

causadas pela sobrecarga de um grupo muscular em particular, devido ao

uso repetitivo ou pela manutenção de posturas contraídas, que resultam em

dor, fadiga e declínio do desempenho profissional.

Nos Estados Unidos e demais países anglo-saxônicos, utiliza-se os termos

Cumulative Trauma Disorders (CTD) e Repetitive Trauma Disorders (RTD) que, em

português corresponde, respectivamente, a lesões por trauma cumulativo e lesões

por trauma repetitivo (COUTO, 1998).

ARMSTRONG (1986) usa o termo Lesões por Trauma Cumulativo (LTC)

referindo-se às lesões dos tecidos moles devido a movimentos e esforços repetitivos

do corpo. Embora possa ocorrer em todos os tecidos, os nervos, tendões, bainhas e

músculos da extremidade superior são os locais mais freqüentemente relatados.

Page 28: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

9

No Japão, foi adotada a terminologia Occupational Cervicobrachial Disorder

(OCD), que vem a ser um distúrbio ocupacional funcional e/ou orgânico produzido

pela fadiga neuromuscular devido a exercícios estáticos e/ou repetitividade dos

músculos dos braços e das mãos (AOYAMA et al apud ASSUNÇÃO, 1995).

No Brasil, estas lesões receberam a denominação de Lesões por Esforços

Repetitivos (LER), a partir da Portaria 4062 do INSS (6/8/87), seguindo a tendência

australiana. Esta terminologia foi conceituada através da resolução SS 197,

publicada pela Secretaria do Estado de Saúde de São Paulo, como um conjunto de

afecções que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias e

ligamentos, isolada ou associadamente, com ou sem degeneração de tecidos,

atingindo, principalmente – porém não somente – membros superiores, região

escapular e pescoço. Necessário se faz comentar que é de origem ocupacional e

decorrente, de forma combinada ou não, de: uso repetitivo de grupos musculares,

uso forçado de grupos musculares e manutenção de postura inadequada (SATO et

al, 1993).

A consideração de que o termo LER tende ao desaparecimento surge frente à

inadequada utilização e generalização do termo que abrange muitos tipos de

patologias. Além disso, o fato de haver outros fatores predisponentes afora a

repetitividade (como força, posturas viciosas dos membros superiores, compressão

mecânica, vibração) que podem cooperar para o desenvolvimento destas lesões e

tornando amplo o mecanismo causador da lesão, também contribui para a confusão

taxonômica, ou seja para definir a nomenclatura médica correta da doença

(PEREIRA e LECH, 1997).

OLIVEIRA (1998) ressalta, também, que o próprio termo LER foge da

taxonomia (nomenclatura) habitual médica. Nas suas definições e conceituações, ele

quase sempre se reporta ao segmento ou aparelho atingido e procura ainda definir o

tipo de alteração em curso (por exemplo: amigdalite, osteoartrite, gastrite).

Por outro lado, o termo LER pressupõe informar que dois fatores – o esforço e

a repetitividade – são os geradores das lesões. Apesar da validade desse

pensamento para grande número de casos, nem sempre esses fatores são os

únicos ou mais importantes elementos geradores de lesões.

Page 29: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

10

Por estas e por diversas outras razões é que, em 1986, a Real Sociedade

Australiana de Medicina recomendou, oficialmente, que o termo Repetive Strain

Injuries (Lesões por Esforços Repetitivos) fosse abandonado e passasse a utilizar o

termo Síndrome Dolorosa Regional de Origem Ocupacional.

Seguindo esta tendência e orientado por várias publicações como de

HAGBERG e cols. (1995), no Brasil, a Previdência Social vem adotando o termo

Distúrbios Osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT). Essa nomenclatura

passou a ser utilizada desde a publicação no Diário Oficial da União (D.O.U.) em

11/07/97, seção 3, p.14.

Esta denominação destaca o termo “distúrbios” ao invés de lesões, pois

corresponde ao que se percebe na prática, de ocorrerem distúrbios numa fase

precoce (como fadiga, peso nos membros, dolorimento), aparecendo as lesões mais

tardiamente.

Neste trabalho será usado, preferencialmente, o termo LER/DORT, numa

menção ao termo LER, já consagrado pelo uso e DORT, a terminologia considerada

correta pela Previdência Social. Às exceções se devem a textos e artigos publicados

com a terminologia isolada de LER ou DORT, que em respeito ao autor serão

mantidas conforme o autor escreveu.

2.1.2 Visão histórica das lesões de membros superiores relacionadas

ao trabalho

Provavelmente o primeiro relato sobre distúrbios funcionais dos membros

superiores associados a sobrecarga vem da Bíblia: “Eleazar permaneceu firme e

massacrou os filisteus até que sua mão se cansou e se enrijeceu sobre a espada”

(Livro II de Samuel, 23,10).

Hipócrates, considerado o pai da Medicina, escreveu um dos primeiros relatos

de distúrbios crônicos das mãos causado por movimentos repetitivos no trabalho.

Em Epidemias, ele descreve o quadro de um trabalhador que desenvolveu paralisia

da mão após esforço prolongado de torcer varas (RAMAZZINI apud COUTO, 2000).

Page 30: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

11

Outros manuscritos de lesões por trauma cumulativo encontrados na história

são os relatos de Ellenborg, o qual teria feito alusão a trabalhadores ourivesaria1 e

os de Paracelsus, em 1567, relatando as doenças dos mineiros (RIO et al, 1998).

Bernardino Ramazzini, médico italiano, que escreveu, em 1700, “De Morbis

Artificum Diatriba” (traduzido como As doenças dos Trabalhadores), obra que o

imortalizou e que lhe valeu o epíteto de “Pai da Medicina do Trabalho”, descreve

estas lesões em dois capítulos.

Na doença dos mineiros, ele cita:

O múltiplo e variado campo semeado de doenças para aqueles que

necessitam ganhar salário e, portanto, terão de sofrer males terríveis em

conseqüência do ofício que exercem, prolifera, segundo creio, devido a duas

causas principais: a primeira, e a mais importante, é a natureza nociva da

substância manipulada que pode produzir doenças especiais pelas exalações

danosas e poeiras irritantes que afetam o organismo humano; a segunda é a

violência que se faz à estrutura natural da máquina vital com posições

forçadas e inadequadas do corpo, o que, pouco a pouco, pode produzir grave

enfermidade (RAMAZZINI, 2000, p. 237).

Na doença dos escribas e notários ele comenta uma espécie de câimbra e

dormência que acometia aqueles que ganhavam o sustento somente com escritas e

atribui, como uma das causas, “contínuo e sempre o mesmo movimento da mão”

(RAMAZZINI, 2000, p; 237), como observado no trecho a seguir:

A necessária posição da mão para fazer correr a pena sobre o papel ocasiona

não leve dano que se comunica a todo braço, devido à constante tensão

tônica dos músculos e tendões, e com o andar do tempo diminui o vigor da

mão (RAMAZZINI, 2000, p. 237-238).

COUTO (2000) relata que Allard Dembe escreveu, em 1996, uma revisão

histórica dos diversos relatos de “epidemias” de distúrbios dos membros superiores

1 Ourivesaria: sf. 1) A Arte de ourives. 2) Oficina ou loja de ourives. Ourives: fabricante e/ou vendedor de artefatos de outro e prata (FERREIRA, 2002).

Page 31: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

12

causados por sobrecargas funcionais na história recente do trabalho. Deste modo,

extrai-se daí alguns pontos principais, complementados por referências de autores

diversos, nominados em seus respectivos textos:

a) Em meados do século XIX, no auge da Revolução Industrial na Europa, com o

aumento gradativo da complexidade dos negócios, as organizações

necessitaram de um grande número de trabalhadores que tivessem um certo

nível de escolaridade e que fossem capazes de escrever bem, para

desempenhar funções de copiar, escrever, guardar livros, redigir instrumentos

legais e outras. Desde 1830, já se começou a registrar e descrever um grande

número deles que desenvolveram dor forte e incapacidade funcional, paralisia e

espasmos musculares das mãos, após esforço prolongado de escrever. Os

autores da época denominaram essa condição de câimbra do escrivão ou

paralisia dos escriturários. Nessa ocasião, já houve a tentativa de criar

dispositivos de conforto para facilitar a escrita.

b) Em 1830, Sir Charles Bell descreveu a câimbra dos escrivãos, que se

diferenciava das lesões por esforços repetitivos apenas pela alta incidência de

“espasmos na mão”.

c) Em 1851, foi instituída a rede telegráfica internacional e, com ela, passou a existir

a profissão de telegrafista. Trabalhando com movimentos repetidos e

sobrecarga funcional, os telegrafistas desenvolveram queixas muito

semelhantes às dos escrivãos, e que foram relatadas, em 20 de março de 1875,

na reunião da Sociedade de Biologia (Societé de Biologie), com o nome de

câimbra do telegrafista. Também nessa ocasião foram desenvolvidos tipos de

telégrafos que, na opinião de seus criadores, ocasionariam menor incidência de

queixas.

d) Segundo IRELAND (1995), em 1882 Robson descreveu a câimbra do telegrafista

e notou sua semelhança com a emergente câimbra do escrivão. Sua incidência

aumentou gradativamente, afetando 60% dos operadores após sua inclusão, em

1908, na lista de doenças cobertas pela previdência social britânica. Depois que

um comitê do Departamento dos Correios da Inglaterra e Irlanda concluiu que a

câimbra de telegrafista era um “colapso nervoso” devido a uma “instabilidade

nervosa e fadiga repetida”, a incidência do problema reduziu.

Page 32: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

13

e) Em 1888, Gowers escreveu sobre a câimbra do escrivão, chamando-a de

“neurose ocupacional” na sua extensa monografia Doenças do Sistema

Nervoso. Ele descartou isto como problema periférico e enfatizou “a origem

primária é essencialmente do sistema nervoso, o resultado de um desarranjo

nos centros relacionados com o ato de escrever”. Notou, também, que pessoas

com câimbras do escrivão freqüentemente “são de temperamento claramente

nervoso, irritáveis, sensíveis, tolerando mal o excesso de trabalho e a

ansiedade, e que ”é uma doença facilmente aceita por aqueles que têm

testemunhado o problema” (IRELAND, 1995, p. 554).

f) Em 1891, Fritz DeQuervain descreveu a tendinite dos tendões da base do polegar

(que hoje leva o seu nome) e, na ocasião, a identificou como entorse das

lavadeiras.

g) Segundo OLIVEIRA (1998, p. 57), em 1920, Bridge correlacionou a atividade de

tecer fios de algodão ao que chamou de câimbra ocupacional.

h) Já no século 20, entre os anos 20 e 40, houve uma denúncia importante de

casos de dores nos membros superiores associados às condições de trabalho,

especialmente baseados nos relatos do médico norte-americano Harry

Filkenstein. Não é sem razão que o primeiro reconhecimento previdenciário

desse distúrbio como relacionado ao trabalho ocorreu no estado norte-

americano de Ohio, em 1938. Um estudo clássico desta época foi o de Hammer,

em 1934, o qual estudou tendinites entre empacotadores, e chegou a descrever

que aqueles que desenvolviam menos de 2.000 movimentos por hora não

tinham lesão, e que trabalhadores com número de movimentos maior do que

aquele valor eram propensos a lesões.

i) Segundo MELHORN (1998, p. 111) no Japão, em 1958, foram descritos os

primeiros casos de LER relacionados à informática. O termo “distúrbio

cervicobraquial ocupacional” foi instituído inicialmente pela Associação

Japonesa de Saúde Industrial, em 1972. Entre os anos de 1960 e 1980 uma

“epidemia” de distúrbio cervicobraquial ocupacional foi relatado no Japão . Os

relatos iniciais destas lesões ocorreram em perfuradores de cartão mas,

posteriormente, o distúrbio foi encontrado em datilógrafos, operadores de micro-

computador, operadores de caixa registradora, operadoras de máquinas

Page 33: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

14

empacotadoras, incluindo trabalhadores de linha de produção. A freqüência

variava com 81% queixando de redução da movimentação do ombro (49%

apenas dor em ombro direito), 31% dor no pescoço, 13% sintomas no punho,

19% com mão, 13% com dedos, 82% fadiga geral, 59% cefaléia, 27% insônia, e

42% dor lombar baixa.

j) Em 1980, trabalhadores do Reino Unido tiveram uma “epidemia” de dor em

membros superiores. A dor geralmente era inespecífica e fugia dos padrões das

entidades reumatológicas bem conhecidas. A síndrome foi considerada

psicossocial e análoga à Síndrome da Fadiga Crônica. Um estudo baseado

numa amostra de mais de mil trabalhadores no Norte da Inglaterra revelou que,

em algum tempo, 9% dos homens e 12% das mulheres tiveram dor nos braços

ou pescoço, severa o suficiente para levá-los a consultar seus médicos

(MELHORN, 1998, p. 111).

k) Na década de 70 e principalmente de 80, ocorreu um aumento da incidência na

Escandinávia, especialmente na Suécia, nos setores de indústria de carne

(principalmente frango) e nos Estados Unidos da América, no setor

automobilístico.

l) Final dos anos 70, primeira metade dos anos 80 houve a “epidemia das LER” na

Austrália, com pico máximo de incidência por volta do ano 1985.

m) Segundo RIO (1998, p. 26), em 1985, o Australian Council of Hand Surgery

define as seguintes recomendações em relação às chamadas LER:

• A seriedade da “epidemia” nacional em relação aos custos para a

comunidade está reconhecida.

• A base patológica para explicar a continuação dos sintomas está

disponível apenas numa pequena proporção de casos.

• A maioria dos casos deriva de causas nervosas e pode claramente ser

caracterizada como neurose ocupacional.

• A condição é reversível.

• As LER podem ser chamadas de síndrome da fadiga reversível.

n) Também em 1987, a decisão judicial da Suprema Corte da Austrália, no caso

Cooper contra Comunidade das Nações, visando à indenização em casos

diagnosticados como LER. O empregador foi considerado não culpado,

Page 34: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

15

prevalecendo a hipótese dos empregados não terem sofrido lesões e todos os

custos foram atribuídos aos empregados e seus representantes. Para IRELAND

(1995) essa causa pode ser considerada como um marco determinante do fim

da “epidemia” na Austrália.

o) A Organização Mundial de Saúde (1985) classifica as doenças relacionadas ao

trabalho (worked-related diseases) como multifatoriais. Os fatores relacionados

ao trabalho contribuem de maneira importante para a gênese da doença, mas

eles são apenas uma classe de fatores, dentre outros, que contribuem para

essa gênese (RIO, 1998).

p) Em 1986, inicia o declínio da incidência da LER na Austrália, que passou a ser,

predominantemente, considerada como neurose conversiva.

q) SILVERSTEIN (1995), relata que em 1990 foram registrados, no Estados Unidos,

185.400 casos de lesões por trauma cumulativo (LER/DORT), representando

56% das patologias do trabalho e correspondendo a um aumento de 8% desde

1982.

r) Segundo RIO et al. (1998, p. 26) “em 1987 as LER não existem mais de forma

estatisticamente significativa na Austrália”.

s) Nos Estados Unidos, em 1997, o Instituto Nacional de Segurança e Saúde

Ocupacional (National Institute for Occupational Safety and Health – NIOSH)

definiu Lesão por Trauma Cumulativo (CTD) como a ocorrência de um ou mais

sintomas (dor, dolorimento, rigidez, queimação, dormência, formigamento) em

uma das quatro regiões articulares (pescoço, ombro, cotovelo/antebraço e

mão/punho), com duração acima de uma semana ou que ocorre pelo menos

uma vez ao mês ao longo de um ano. Estabeleceu, também, que para esta

caracterização não poderia ter ocorrido acidente articular prévio, além de que os

sintomas deveriam ter se iniciado no trabalho atual; tendo em vista que é

quando a atividade excede repetidamente a capacidade biomecânica do

trabalhador que as atividades tornam-se indutoras de trauma. Além destes

aspectos, o NIOSH estima que 15% a 20% da força de trabalho têm risco de

desenvolver CTD.

Page 35: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

16

t) Também em 1997, foi disponibilizado na Internet o trabalho de revisão

bibliográfica de fatores de risco para LER/DORT, pelo NIOSH. Foram avaliados

fatores de risco para cada articulação dos membros superiores e para o dorso.

Como se pode notar, as Lesões por Esforços Repetitivos são muito antigas,

muito embora tenham se acentuado com a Revolução Industrial devido ao aumento

na sobrecarga estática e dinâmica do sistema osteomuscular.

2.1.2.1 LER/DORT – Endemia e epidemia

Existem muitas evidências da correlação entre uso inadequado e/ou

excessivo de segmentos musculoesqueléticos com as LER/DORT e, quanto à sua

existência endêmica, sem maiores repercussões sociais, não há que se duvidar.

Entretanto, enquanto manifestações usuais, endêmicas, esses quadros

raramente são relatados na ciência médica da forma dramática com que se

manifestam nas chamadas “epidemias”. A palavra “epidemia” é utilizada por alguns

autores, não na sua correta acepção científica, caracterizando patologia

transmissível, mas como uma analogia para explicar aumentos repentinos em

grande escala desse tipo de problema. Em função da quantidade e da intensidade

de sentimentos que podem ser mobilizados, torna-se extremamente difícil a

compreensão das causas dessas “epidemias” e, conseqüentemente, do encontro

das soluções.

Segundo RIO et al. (1998), pode-se considerar como “epidemia” de

LER/DORT:

a) Câimbra do telegrafista na Grã-bretanha, entre 1908 e 1911;

b) A desordem ocupacional cervicobraquial no Japão, nos anos 60 e 70;

c) A LER na Austrália e Nova Zelândia, nos anos 70 e 80;

d) A LER nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte e de São Paulo, nos anos

90.

Dessas, a “epidemia” australiana foi a que obteve maior repercussão

internacional.

HOCKING (1987), alertou que não foi somente a informatização em grande

escala e o uso de teclados e terminais de computador que fizeram surgir as LER

Page 36: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

17

neste país e apresenta alguns dados sistematizados numa das organizações mais

afetadas pelo problema: a Telecom Australia, empresa que na época, empregava

cerca de 85.000 trabalhadores:

a) Alguns operadores de computador foram muito mais afetados que outros.

b) A incidência de LER não teve correlação consistente com a intensidade do uso

de teclado. Em alguns casos, essa correlação foi inversamente proporcional à

intensidade de uso do teclado.

c) A incidência variou muito entre diferentes regiões australianas, num mesmo

grupo ocupacional (504 por 1.000 em telefonistas situadas em Perth e Western

Australia, contra 182 por 1.000 em Sidney e New South Wales).

d) A incidência de LER não esteve correlacionada com a duração do trabalho com

teclado. Telefonistas que trabalhavam em tempo parcial apresentavam

incidência maior do que as que trabalhavam em horário integral. Maior

quantidade de anos como telefonista, também, não a apresentou correlação

com incidência.

Portanto, HOCKING (1987) concluiu que não houve evidência de uma relação

linear dose-resposta entre trabalho com teclado de computador e incidência de LER.

E também menciona que, nesta época, havia um estigma no país que qualquer dor

no braço poderia conduzir a uma completa incapacidade.

Por outro lado, BAMMER (1993) referiu que, até os anos 70, a Austrália

experimentou baixo índice de desemprego e um crescimento econômico estável. É

evidente que as desordens de pescoço e membros superiores relacionados ao

trabalho (DORT) existiam, mas não eram vistas como um problema maior;

provavelmente porque era mais fácil para os trabalhadores que estavam

desenvolvendo sintomas trocar de emprego do que postular uma indenização

trabalhista. Entretanto, nos anos 70, os índices de desemprego cresceram e os

postos de trabalho foram reestruturados a fim de – dizia-se – manter a

competitividade internacional. Para muitos trabalhadores, as mudanças significaram

aumento do ritmo e carga de trabalho e menor flexibilidade para a troca de emprego.

Um outro exemplo de aumento súbito das LER/DORT são os casos de

privatizações de Bancos. Segundo a coordenadora de Departamento de Saúde do

Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Dall’Agnol, os bancários ficam

Page 37: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

18

estressados, com medo das demissões, atingidos pela LER, e vivem sob tensão

para o futuro. Relata, ainda, que após a privatização, intensificou-se o número de

afastamentos para tratamento de saúde, conseqüência das políticas organizacionais

que determinam o aumento da produtividade do funcionário. As “cobranças de

metas, somadas aos outros fatores, aumentaram significativamente o número de

casos de LER/DORT” (DALL’AGNOL, 2001, p. 42).

Segundo dados do Sindicato dos Trabalhadores Bancários de Porto Alegre,

antes da privatização os afastamentos por doenças ocupacionais eram relativamente

baixos, compatíveis com os demais bancos, porém, após a privatização, houve um

salto no número de casos de LER/DORT, chegando ao indicador de 10% dos

trabalhadores do banco estarem em licença saúde.

Do exposto acima, pode-se notar que, em algumas ocasiões, as LER/DORT

surgiram como verdadeiras “epidemias”. Contudo, não se pode atribuir estes efeitos

somente ao aumento do grau de risco inerente às novas tecnologias, mas também

como um reflexo do conflito entre a força de trabalho e a nova realidade do processo

produtivo, considerada desfavorável ao trabalhador, não só pelo indivíduo mas

também pela sociedade, transformando-se num fenômeno de movimentação social.

Estas “epidemias” ocorrem em períodos favoráveis aos acometidos, pois lhe

propiciam ganhos secundários como estabilidade no trabalho e abrem oportunidade

de indenizações futuras.

2.1.3 Visão holística2 das LER/DORT no Brasil

No Brasil, segundo ASSUNÇÃO e ROCHA (1994), os primeiros relatos de

casos referem-se a incidência de tenossinovite em lavadeiras, limpadoras e

engomadoras, os quais foram apresentadas por CAMPANA et al (apud MENDES,

1995) no XII Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes do trabalho.

A partir de 1985, surgem publicações e debates sobre a associação entre

tenossinovite e o trabalho de digitação (FUNDACENTRO; MACIEL, CARVALHO e

2 Holístico – (adj.) que dá preferência ao todo ou a um sistema completo, e não à análise, à separação das respectivas partes componentes (FERREIRA, 2002).

Page 38: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

19

cols; ROCHA e col; SILVA apud MENDES, 1995) que resultaram no primeiro passo

para a aceitação oficial da LER como doença ocupacional.

Na data de 7 de novembro de 1986, foi publicada a circular número

501.001.55 nº 10, na qual a direção geral do INAMPS (Instituto Nacional de

Assistência Médica e Previdência Social) orientava as superintendências para que

reconhecessem a tenossinovite como doença do trabalho nas atividades com

exercícios repetitivos (CODO e ALMEIDA, 1995).

Em 1986, o termo LER foi introduzido no Brasil pelo médico Mendes Ribeiro,

como tradução de Repetitive Strain Injuries e referendado no 1º Encontro Nacional

de Saúde. Em 1987, o Ministério da Previdência e Assistência Social, através da

Portaria n.º 4.062, reconhece a tenossinovite como doença do trabalho (ALMEIDA,

CARNEIRO e PEGO, 1998).

Em 1992, em um seminário realizado em São Paulo, organizado por: Centro

de Vigilância Sanitária, Centro de Vigilância Epidemiológica, Programa de Saúde

dos Trabalhadores da Zona Norte/ERSA-6 e Sindicato dos Empregados em

Estabelecimentos Bancários de São Paulo, definiu-se a terminologia LER (SETTINI

e SILVESTRE, 1995).

Em 08 de junho de 1992, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo,

publicou a primeira resolução a respeito da questão das LER, definindo-a como um

conjunto de afecções que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, nervos,

fáscias e ligamentos, isolada ou associadamente, com ou sem degeneração de

tecidos, atingindo principalmente – porém não somente – membros superiores,

região escapular e pescoço, sendo de origem ocupacional e decorrente, de forma

combinada ou não do uso repetitivo de grupos musculares, uso forçado de grupos

musculares e manutenção de postura inadequada. Além da definição, a resolução

padroniza critérios e orienta, em linhas gerais, os profissionais de saúde sobre como

prevenir, diagnosticar, tratar e reabilitar trabalhadores acometidos pela doença, além

de estabelecer o fluxo entre o setor público da saúde, serviços médicos de empresa

e a Previdência Social. Posteriormente, o INSS (Instituto Nacional de Segurança

Social) publicou a Resolução nº 245/92 e, finalmente em março de 1993, o INSS

publicou LER/Normas Técnicas para avaliação de incapacidade, baseada nas duas

resoluções que a antecedem (SATO et al, 1993; SETTINI e SILVESTRE, 1995).

Page 39: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

20

No dia 05 de agosto de 1998, o Ministério da Previdência e Assistência Social

(MPAS) expediu a Ordem de serviço 606 – Norma para a avaliação de Incapacidade

para Fins de Benefícios Previdenciários – a qual utiliza a sigla DORT (Distúrbios

Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) para evitar “que na própria

denominação já se apontem causas definidas”. Essa mudança além de alterar a

sigla LER para DORT, anula todas as resoluções anteriores que tratavam do

assunto.

Segundo O’NEILL (<http://www.uol.com.br/prevler>, pesquisado em 5/2/03),

presidente do Instituto Nacional de Prevenção das LER (Prevler), a ocorrência de

LER/DORT, no Brasil, contatada no período de 1970 a 1985 era na proporção de 2

casos para cada 10 mil funcionários; e, de 1985 a 1992 a proporção se elevou para

4 casos em cada 10 mil trabalhadores. Atualmente, a incidência aumentou

consideravelmente para 14 casos para o mesmo número de funcionários.

Apresenta-se a seguir, um comparativo dos dados acima com a incidência de

doenças ocupacionais por 10 mil trabalhadores registrada em alguns países em

anos recentes: Portugal, 1980: 2,1 casos por 10 mil trabalhadores; Reino Unido,

1986: 2,7; Espanha, 1984: 2,9; Japão, 1985: 3,4; Singapura, 1987: 10,7; EUA, 1987:

17,2; Itália, 1995: 20,7; Chile, 1984: 27,7; Finlândia, 1984: 27,8. (BUSCHINELLI

apud OLIVEIRA, 1998).

O crescimento de 565% em Minas Gerais, de 1985 para 1990, reflete mais

provavelmente, os registros de casos que já existiam do que propriamente o número

de novas ocorrências. Pode-se correlacionar o crescimento dos registros à atuação

de serviços especializados em saúde do trabalhador no Estado, como o Ambulatório

de Doenças Profissionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) criado

em 1985 e o Núcleo de Referência em Doenças Ocupacionais da Previdência Social

(NUSAT), de 1989.

O reconhecimento oficial da existência das lesões por esforço repetitivos pelo

INSS, em 1987, repercutiu no número de doenças ocupacionais e, rapidamente

colocou-as como as mais freqüentes. Tanto o trabalho dos Serviços Especializados

em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) de algumas empresas como a

própria conscientização da comunidade também contribuíram para o aumento de

número de casos registrados no INSS.

Page 40: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

21

Durante os dias 19, 20 e 23 de Julho de 2001, foi realizada uma pesquisa pelo

Datafolha, encomendada pelo Instituto Nacional de Prevenção às LER, conduzida

por Maria José O’NEILL e que se encontra no site <http://www.uol.com.br/prevler>

(pesquisado em 5/2/03). Ela buscou compreender a realidade vivida pelos

trabalhadores paulistanos através de entrevistas para saber sobre: sua vida no

trabalho (atividades desempenhadas, carga horária, realização de horas extras,

existência de pausas e tempo para refeição, relacionamento com chefes e colegas

de trabalho, pressões no cotidiano, existência de riscos de acidentes ou de doenças

relacionadas ao trabalho, entre outros aspectos), e fora dele (prática de atividades

físicas, tempo para o sono e para o lazer). Ainda, esses trabalhadores também

foram indagados sobre aspectos de sua saúde, tais como a presença de dores

freqüentes, dormências ou formigamentos e inchaços, e alguns outros sintomas.

O objetivo dessa investigação foi identificar condições de trabalho e sintomas

que poderiam indicar a possibilidade de existência ou riscos de desenvolvimento de

LER/DORT.

O estudo mostrou, entre outros resultados, que 14% dos trabalhadores

paulistanos dos setores comercial, industrial, de serviços e da construção civil, com

idade acima de 16 anos, costumam sentir dores freqüentes, dormência ou

formigamento e inchaço em algumas partes do corpo, além de apresentar alguns

outros sintomas como: irritabilidade, exaustão física, falta de firmeza nas mãos, entre

outros. Relatam, ainda, que procuraram orientação médica e receberam um

diagnóstico de LER/DORT.

Esse percentual, transformado em números absolutos, mostra que cerca de

310.000 trabalhadores paulistanos dos setores da economia investigados na

pesquisa têm diagnóstico de LER/DORT, o que representa 6% deste universo.

Considerando-se o total da população da cidade de São Paulo com idade superior a

16 anos, verifica-se que 4% dos paulistanos sofrem deste problema.

Dos 14% dos trabalhadores paulistanos que receberam diagnóstico de

LER/DORT, 12% afirmam que a empresa na qual trabalhavam não emitiu a

Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT), documento que informa ao INSS que

o trabalhador adquiriu doença profissional ou foi vítima de acidente do trabalho. Tal

documento assegura ao trabalhador o direito a afastar-se do emprego para

Page 41: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

22

tratamento médico, receber benefícios previstos por lei e ter estabilidade após a alta

médica. Dentre os entrevistados, apenas 2% afirmaram que a empresa na qual

trabalhavam emitiu o documento.

Disso constata-se que o problema de subnotificação apontado nesta pesquisa

é um dos motivos que impede apresentar termos estatísticos reais e a noção

completa da gravidade desta patologia.

Segundo O’NEILL (<http://www.uol.com.br/prevler>, pesquisado em 5/2/03),

somente nos últimos cinco anos, foram abertas 532.434 CAT no Brasil devido a

LER/DORT, sem contar os trabalhadores que pleiteiam na Justiça o reconhecimento

do nexo causal, em milhares de ações movidas em todo País. Ademais, pode-se

verificar que a cada 100 trabalhadores na região Sudeste, por exemplo, um é

portador de Lesões por Esforços Repetitivos.

2.1.4 Aspectos clínicos

As manifestações clínicas das Lesões por Esforços Repetitivos (LER/DORT)

são bastante numerosas. Elas variam desde patologias bem definidas e que

proporcionam um diagnóstico rápido, até síndromes dolorosas crônicas de gênese

multifatorial, muitas vezes coincidindo com aspectos psicológicos importantes e

diversos sintomas não funcionais (parestesias, cefaléia, cansaço, sensação de

inchaço, dificuldade de concentração, etc) que podem dificultar o diagnóstico

(NICOLETT, s/d).

Devido ao conceito de LER/DORT englobar várias patologias – e para melhor

caracterizar o grupo muscular e/ou nervoso envolvidos, a fim de fornecer um

diagnóstico mais preciso da lesão – o Instituto Nacional de Seguridade Social

(INSS), através de Ordem de Serviço nº 606, de 05 de agosto de 1998, aprova a

Norma Técnica sobre Distúrbios Osteomusculares relacionados ao trabalho e na

seção 1 classifica-os da seguinte forma: Neuropatias Compressivas; Tendinites e

tenossinovites; Estadiamento das LER/DORT, que serão observados a seguir.

Page 42: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

23

2.1.4.1 Neuropatias compressivas As neuropatias compressivas ocorrem quando as estruturas mais delicadas

do membro superior, os nervos, que trafegam por arcos estreitos, são comprimidos

(apertados), por outras estruturas. Nas neuropáticas são as parestesias (alterações

de sensibilidade) e não a dor o sintoma mais importante.

Estas podem ser:

a) Síndrome do Desfiladeiro Torácico - é a compressão do feixe vascular e

nervoso, num estreito triângulo formado pelos músculos escaleno anterior e

médio e a primeira costela.

b) Síndrome do Supinador – o músculo supinador hipertrofiado comprime o nervo

interósseo posterior que passa dentro dele.

c) Síndrome do Pronador Redondo – compressão do nervo mediano, abaixo da

prega do cotovelo, entre dois ramos musculares do pronador redondo.

d) Síndrome do Interósseo Anterior- compressão do nervo na borda de origem

dos músculos flexores superficiais dos dedos.

e) Síndrome do Interósseo Posterior – é o comprometimento do ramo profundo

do nervo radial, após sua bifurcação na extremidade proximal do antebraço.

f) Síndrome do Túnel do Carpo – é a compressão do nervo mediano ao nível do

punho.

g) Lesão do Nervo Mediano na Base da Mão – conseqüência da compressão

extrínseca do nervo, como por exemplo causado por ferramentas como chave-

de-fenda de cabo curto, vibração.

h) Síndrome do Canal Cubital – opressão do nervo ulnar ao nível do túnel cubital.

i) Síndrome do Canal de Guyon – é a compressão do nervo ulnar ao nível do

canal de Guyon no punho.

Tais neuropatias compressivas podem ser visualizadas na figura 1.

2.1.4.2 Tendinites e tenossinovites

São decorrentes de processos inflamatórios que acometem as bainhas

tendíneas e os tendões.

Page 43: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

24

Figura 1 - Neuropatias compressivas (Fonte: Autora)

As tendinites e tenossinovites ocorrem com mais freqüência nas situações em

que se associam grande repetitividade à exigência de força. Ademais, o sintoma

mais característico em qualquer das suas formas é a dor.

As tendinites e tenossinovites podem ser:

a) Tenossinovite De Quervain – é a inflamação da bainha comum dos tendões do

abdutor longo e extensor curto do polegar no ponto onde eles passam juntos por

uma única polia: o sulco ósseo do processo estilóide do rádio. Foi descrita

originalmente em lavadeiras, mas incide em todas as atividades em que haja

fixação do polegar acompanhado de força, quer de torção, quer de desvio ulnar

do carpo.

b) Dedo em Gatilho – a inflamação dos tendões flexores dos dedos pode produzir

espessamentos e nódulos que dificultam o deslizamento dos mesmos em suas

bainhas. Ao vencer abruptamente a resistência ao movimento de extensão, o

dedo “salta”, caracterizando o diagnóstico.

c) Epicondilite Lateral – também conhecida como cotovelo de tenista, é a

inflamação da inserção dos músculos responsáveis pela extensão e supinação

do antebraço. A doença é desencadeada pelos movimentos de extensão, e

pronossupinação, como ao apertar parafusos.

Page 44: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

25

d) Epicondilite Medial – é a inflamação dos músculos flexores do carpo na borda

medial do cotovelo. Pode ocorrer em descascadores de fios elétricos e está

associada à flexão de punho. É menos freqüente que a epicondilite lateral.

e) Tendinite Bicipital - é a inflamação da bainha sinovial do tendão da porção

longa do bíceps, no ponto em que ela muda de direção: no sulco bicipital. Ocorre

mais freqüentemente associada a outras lesões da bainha rotatória do ombro,

ocupacionalmente ocorre nas atividades que o braço é mantido em elevação por

longos períodos.

f) Tendinite do Supra-espinhoso - também conhecida como síndrome do

impacto, é ocasionada pela compressão das fibras do supra-espinhoso pelo

acrômio ao realizar a abdução do braço acima de 45 graus. São incidentes em

adultos e podem não ser ocupacionais. O sedentarismo e a falta de estrutura

muscular são fatores predisponentes.

g) Tenossinovite dos Extensores dos Dedos e Extensores do Carpo – são

mais comuns em digitadores e operadores de mouse. Decorrem mais da

contratura estática desses músculos, para fim antigravitacional sobre o carpo e

dedos, que da contração dinâmica para o movimento dos dedos.

h) Tenossinovite dos Flexores dos Dedos e dos Flexores do Carpo –acometem

os tendões na face ventral do antebraço e punho em decorrência de movimentos

repetitivos e flexão dos dedos e da mão.

i) Tenossinovite do Braquiorradial – decorre de atividades que exijam

movimentos de flexão do antebraço pronado sobre o braço.

Tais neuropatias compressivas podem ser visualizadas na figura 2.

GUIDOTTI (1992) também listou os tipos de LER/DORT mais comumente

encontrados. São eles: no pescoço refere-se à síndrome tensional do pescoço e à

síndrome cervical; nos ombros cita a síndrome do desfiladeiro torácico, a tendinite

bicipital, a tendinite do supraespinhoso, a capsulite adesiva e a síndrome acrômio-

clavicular; no cotovelo, punho e mão cita a epicondilite, a tenossinovite de De

Quervain, a síndrome do túnel do carpo e a compressão do nervo ulnar.

Page 45: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

26

Figura 2 – Tendinites e tenossinovites (Fonte: Autora)

2.1.4.3 Classificação ou estadiamento das LER/DORT

O estadiamento da LER/DORT, ou seja, classificação do grau em que se

encontra a lesão ou distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho, ainda é um

tema controverso, pois os limites entre as fases não são bem precisos. Na literatura,

encontram-se sugestões de adotar o sintoma dor como critério de estadiamento.

Esta classificação auxilia no planejamento terapêutico, na avaliação da incapacidade

laborativa e no prognóstico.

Em 1993, o INSS através da Norma Técnica para Avaliação da Incapacidade,

classificou os estágios evolutivos da LER, objetivando o reconhecimento das fases

clínicas, bem como da orientação na conduta. Cada forma clínica da LER apresenta

quadro clínico específico, mas para melhor compreensão são considerados os

estadiamentos da LER em geral, em graus de comprometimento, conforme descrito

abaixo:

a) GRAU I: Sensação de peso e desconforto no membro afetado. Dor espontânea,

às vezes em pontadas, sem irradiação nítida, de caráter ocasional durante a

Page 46: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

27

jornada de trabalho sem interferir na produtividade. Melhora com o repouso. É

em geral leve e fugaz. Os sinais clínicos estão ausentes. Tem bom prognóstico.

b) GRAU II: a dor é mais persistente, mais localizada, mais intensa e aparece

durante a jornada de trabalho de modo intermitente. É tolerável e permite o

desempenho da atividade profissional, mas com redução da produtividade nos

períodos de exacerbação. Pode haver distúrbios da sensibilidade e irradiação

definida. A dor pode não melhorar com o repouso e a recuperação é mais

demorada. Os sinais clínicos estão ausentes. Prognóstico favorável.

c) GRAU III: a dor é mais persistente, mais forte e tem irradiação mais definida. O

repouso em geral só atenua a intensidade da dor. Há sinais de distúrbios

sensitivos mais graves. Há sensível queda da produtividade, quando não

impossibilita de executar a função. Sinais clínicos presentes e, freqüentemente,

o retorno à atividade produtiva é problemático. Prognóstico reservado.

d) GRAU IV: a dor é forte, contínua, por vezes insuportável e é exacerbada por

movimentos podendo estender-se por todo membro. Há perda da força e do

controle dos movimentos constantemente. Podem surgir deformidades. A

capacidade de trabalho é anulada e a invalidez se caracteriza pela

impossibilidade de um trabalho produtivo regular. Os atos da vida diária são

prejudicados. Comumente ocorrem alterações psicológicas. Prognóstico

sombrio.

Com relação à classificação, DENNET e FRY (1988) classificam a doença de

acordo com a localização da dor e com os fatores que possam desencadeá-la ou

agravá-la, da seguinte maneira:

a) Grau 1 - dor localizada em uma região durante a realização da atividade

causadora da síndrome.

b) Grau 2 - dor em vários locais durante a realização da atividade causadora da

síndrome.

c)

d)

Grau 3- dor desencadeada em outras atividades da mão, e sensibilidade das

estruturas. Pode aparecer a dor em repouso ou perda da função muscular.

Grau 4 - dor presente em qualquer movimento da mão, dor após atividade com

mínimo de movimento, dor em repouso e à noite, aumento da sensibilidade,

perda da função motora (perda do controle, fraqueza).

Page 47: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

28

e) Grau 5 - perda da capacidade de usar a mão devido a dor contínua, perda da

função muscular, particularmente fraqueza, sintomas gerais. (ASSUNÇÃO,

1995, p 192).

A classificação de BROWNE et al. (1984) também considera a dor como

critério de estadiamento e pode ser observada na seqüência:

1º Estágio: dor e cansaço nos membros superiores durante o turno de

trabalho, com melhora nos finais de semana, não apresentando alterações no

exame físico e com desempenho normal.

2º Estágio: dores recorrentes, sensação de cansaço persistente e distúrbios

do sono, com incapacidade para o trabalho repetitivo.

3º Estágio: sensação de dor, fadiga e fraqueza persistentes, mesmo com o

repouso. Distúrbios do sono e presença de sinais ao exame físico.

ASSUNÇÃO (1995) citou o quadro adotado pelo Ambulatório de Doenças

Profissionais do Hospital de Clínicas (UFMG) que correlaciona o estágio da doença

com as queixas e sinais no exame físico com a conduta.

Como se pode observar na tabela 1, a conduta no Ambulatório de Doenças

Profissionais do Hospital das Clínicas – Universidade Federal de Minas Gerais, é

que na fase 0 o principal é a orientação do trabalhador quanto à doença, relação

com ambiente de trabalho e acompanhamento, mesmo sem alterações no exame

físico. Entretanto, dificilmente o trabalhador procura assistência médica nesta etapa.

Na fase 1 ocorre a permanência dos sintomas porém de forma constante. Já

não existe alívio com o repouso e são identificadas alterações no exame físico e

sugere-se emitir a Comunicação de Acidentes do Trabalho – CAT, intervenção no

local de trabalho e repouso, contraste de temperatura para região afetada (com gelo)

se quadro localizado em punho ou mãos e repouso.

Na fase 2 ocorre a exacerbação dos sinais e sintomas, sem resposta ao

tratamento medicamentoso e fisioterápico. Existe já interferência nas atividades

laborais e no domicílio. No exame físico podem surgir sinais compatíveis com lesão

de nervos periféricos que, se comprovado a evolução, é mais lenta e pode deixar

seqüelas.

Page 48: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

29

Tabela 1 – Estadiamento, sinais e conduta nas Lesões por esforços repetitivos. Queixas Exames Membros

Superiores Conduta

FASE 0 Sensação de desconforto ou sensação de peso que aparece nos picos da produção, piora aos finais de jornada, e melhora com repouso

Normal

Orientar o trabalhador quanto à evolução da doença. Orientar o trabalhador quanto à duração, ao ritmo e às condições do ambiente de trabalho na relação com a doença Visitar a empresa Notificar o sindicato Acompanhamento periódico

FASE1 Sensação constante de desconforto ou sensação de peso nos membros superiores relacionados com os movimentos repetitivos com mais de um mês de duração

Dor à palpação Dor à movimentação ativa

Emissão CAT Estudos e intervenção no local de trabalho Afastamento Repouso Analgésico/antiinflamatório Desvio de função

FASE 2 Dor constante nos membros superiores com pequenos períodos de remissão que agrava com a realização de esforços repetitivos Inchaço Não melhora do quadro clínico com tratamento medicamentoso /fisioterápico Interferência nas atividades do trabalho e fora do trabalho

Dor à palpação, à movimentação passiva e ativa Aumento de volume Ausência de sinais sugestivos de compressão de nervos

Idem ao anterior mais: Avaliação fisioterápica

FASE 3 Acorda à noite com a dor, deixa objetos caírem das mãos Dificuldade para realizar tarefas fora do trabalho, higiene pessoal, lida doméstica

Presença de sinais sugestivos de compressão de nervos Edema importante

Emissão de CAT Estudo de intervenção no local de trabalho Repouso Encaminhamento à clínica de dor Avaliação fisioterápica

FASE 4 Dificuldade para realizar movimentos finos Exacerbação da dor e edema Impossibilidade de realizar tarefas domésticas e de trabalho Dificuldade de dormir devido à dor

Limitação dos movimentos Força muscular diminuída Atrofia e/ou deformidades

Emissão CAT Estudo e intervenção no local de trabalho Encaminhamento à clínica de dor para avaliar indicação de bloqueio de gânglio Avaliação fisioterápica

(Fonte: Ambulatório de Doenças Profissionais apud ASSUNÇÃO, 1995, p.

196, adaptado pela autora).

Page 49: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

30

Na fase 3 - há conseqüências das lesões neurológicas, com diminuição da

força muscular, alterações dos reflexos e da sensibilidade tátil. Pode haver edema

nos dedos, punho e antebraços, alterações emocionais – medo do futuro e atritos na

família e deve manter-se afastado do trabalho.

Na fase 4 - o paciente desenvolve quadro de distrofia simpático-reflexa: dor,

hiperestesia (aumento da sensação dolorosa), distúrbios vasomotores (alterações

nos vasos sangüíneos) e mudanças distróficas (alteração da estrutura músculos e

tendões). Pode haver deformidades, atrofias musculares e é freqüente a limitação

dos movimentos. É um quadro grave e de difícil tratamento.

A partir da construção do quadro evolutivo, a sintomatologia clínica observada

nos pacientes com LER envolve, geralmente, queixas nas extremidades superiores,

ombros e pescoço. O principal sintoma encontrado é a dor, a qual costuma se

agravar com o uso do membro, piorando com fatores como o frio, mudanças bruscas

da temperatura e o estresse emocional. Além da dor, os pacientes queixam-se de

parestesia (alteração da sensibilidade percebida como queimação ou formigamento),

edema subjetivo, rigidez matinal e alterações subjetivas da temperatura.

MILLER e TOPLISS (1988) verificaram os seguintes sintomas gerais

associados: ansiedade, irritabilidade, alteração do humor em 100% dos pacientes,

distúrbios do sono em 91%, fadiga crônica em 84% e cefaléia tensional em 61%.

O diagnóstico das LER/DORT é sugerido por dor musculoesquelética

persistente e recorrente dentro de seis semanas, sem causa traumática imediata e

influenciada por situação de trabalho (GUIDOTTI, 1992).

Segundo MELO (1998), o diagnóstico da LER/DORT costuma ser polêmico

quando o exame físico é normal e o único sintoma é a dor, a qual não é objetiva ou

mensurável. Afirma ainda que, na prática, não existe exame complementar que

comprove a existência destas lesões, todos pecam por falta de sensibilidade e/ou

especificidade. Nos estágios iniciais, os meios diagnósticos ditos “armados”

(radiografia, ultra-sonografia, eletromiografia, ressonância magnética, tomografia,

etc), ainda que utilizados e interpretados judiciosamente e com alta qualidade, são

pouco conclusivos. Quando positivos, já demonstram lesões graves, às vezes

irreversíveis. Portanto, tais exames têm indicação restrita, não se justificando seu

uso rotineiro e indiscriminado, ficando reservado para o diagnóstico diferencial e

Page 50: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

31

para determinação topográfica das síndromes neurológicas compressivas

periféricas.

Devido à vasta sintomatologia e à tendência ao caráter subjetivo da mesma, o

diagnóstico da LER geralmente é feito por exclusão, sendo essencialmente clínico e

baseando-se na história clínico-ocupacional completa, no exame físico detalhado, na

análise das condições de trabalho responsáveis pelo aparecimento da lesão.

Exames laboratoriais, Raio-X e eletromiografia podem auxiliar no diagnóstico, porém

são de pouca eficácia, principalmente nos estágios iniciais da doença (PEREIRA e

LECH, 1997).

Em função disso, o próprio INSS, através da Ordem de Serviço Nº 606 de

05.08.98, publicado em DOU em 19.08.98, reconhece que o diagnóstico é

eminentemente clínico, muitas vezes difícil e que sua caracterização não depende

de dados laboratoriais, mas apenas da correlação entre a lesão e o exercício do

trabalho.

Em razão da primeira e principal queixa ser a dor, cuja subjetividade não

permite sua visualização através de exames, o diagnóstico costuma ser adiado em

virtude da inexistência de provas objetivas da doença, ou fica na dependência da

credibilidade no discurso do doente. Tal fato ocorre porque, em geral, tudo o que o

médico tem como instrumento de diagnóstico são os sintomas e a história

profissional do paciente. Isto geralmente atrasa o início do tratamento e pode evoluir

de uma lesão simples na fase inicial para uma crônica, recidivante ou incapacitante.

2.1.5 Fatores causais

A Organização Mundial de Saúde caracterizou as doenças relacionadas ao

trabalho LER/DORT como sendo multifatoriais, para indicar que vários fatores de

risco, tais como: físicos, de organização do trabalho, psicossociais e socioculturais,

contribuem para causar estas doenças (OMS, 1985 citado no site

<http://www.cdc.gov/niosh/ergtxt1.html> pesquisado em 21/07/2003). Portanto, não

se pode atribuir somente ao ambiente de trabalho estas lesões, mas também a

predisposição dos indivíduos e as atividades extra-ocupacionais, como lazer. Este

Page 51: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

32

fato explica porque há algumas pessoas trabalham anos em locais desfavoráveis e

não desenvolvem distúrbios ou lesões.

COUTO e NICOLETTI (1998), seguindo a linha biomecânica, sugere que as

LER/DORT são decorrentes da interação inadequada de quatro fatores

biomecânicos principais – força, posturas incorretas de membros superiores,

repetitividade e compressão mecânica – associados a tempo insuficiente de

recuperação dos tecidos, os quais serão apresentados na seqüência.

2.1.5.1 Fatores biomecânicos

Fatores relacionados aos movimentos humanos.

• Força: como a capacidade de sustentabilidade e manejo de uma ferramenta ou

de manutenção de uma posição.

• Repetitividade: movimentos realizados por várias vezes.

• Posturas viciosas dos membros superiores: principalmente as de contração

muscular constante.

• Compressão mecânica dos nervos por posturas ou mobiliário.

• Vibração: gera microtraumas.

• Frio: pela vasoconstrição que leva a déficit circulatório.

• Sexo: maior incidência em mulheres.

• Posturas estáticas do corpo durante o trabalho: durante a contração estática o

suprimento sangüíneo para o músculo fica prejudicado, podendo favorecer a

produção de ácido lático, o qual é capaz de estimular os receptores da dor,

desencadeando-a, mantendo-a ou agravando-a.

A) Força Quanto mais força a tarefa exigir do trabalhador, tanto mais propenso estará o

mesmo a desenvolver lesões.

SILVERSTEIN (1985) propôs o critério para caracterização da força manual:

baixa (abaixo de 4 Kg) e alta (acima de 6 Kg); este valor se refere à média ajustada

ao longo do ciclo, e não a valores lineares. A média ajustada é definida como

(variância média + média). Desta forma, é possível que um esforço de 10 ou 15 Kg,

Page 52: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

33

uma vez no ciclo, não venha a caracterizar força excessiva, se o mesmo for raro no

ciclo e de curta duração.

O único movimento das mãos capaz de fazer força é o de prensão, outros

movimentos como pinça pulpar, pinça lateral, pinça palmar, compressão palmar e

compressão digital poderão resultar em fadiga e lesão dos tecidos.

B) Posturas incorretas dos membros superiores Ocasionam desde o impacto de estruturas duras contra estruturas moles

(como no caso do ombro, impacto do tendão contra o acrômio - projeção da

estrutura óssea da escápula), fadiga por contração muscular estática (pescoço) e até

mesmo compressão de nervos (punho).

As dez posturas críticas dos membros superiores são:

• Posturas estáticas em geral – manutenção da musculatura contraída e sem se

movimentar (por exemplo, manter braço elevado, sem apoio) constitui-se na

mais importante postura crítica. Este fator é tão importante que HAGBERG e

cols. (1995) a considera como um fator biomecânico à parte.

• Pescoço excessivamente estendido (dobrado para trás);

• Pescoço excessivamente fletido (dobrado para frente);

• Braços abduzidos (braços elevados na lateral do corpo);

• Braços elevados acima do nível dos ombros (formando ângulo de no mínimo 90º

com corpo);

• Membros superiores suspensos (elevados, sem apoio) por muito tempo;

• Sustentação estática dos antebraços pelos braços (suporte do peso dos

antebraços, pelos braços e ombros).

• Flexão exagerada do punho (punho dobrado em direção da face anterior de

antebraço);

• Extensão exagerada do punho (punho dobrado em direção da face posterior de

antebraço);

• Desvio ulnar da mão (lateralização da mão para lado dedo mínimo).

O risco é caracterizado pela freqüência desse tipo de ação (repetitividade) ou

pela manutenção da mesma (esforço estático).

Page 53: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

34

O esforço estático deve ter um tempo de duração mínimo e o limite seria

aquele compatível com a inexistência da fadiga muscular. Existem técnicas

científicas de medida da fadiga muscular, através da verificação das alterações dos

traçados eletromiográficos.

C) Repetitividade Quanto maior o número de movimentos desenvolvidos pelo trabalhador em

determinado intervalo de tempo, tanto maior será a probabilidade de o mesmo sofrer

as lesões de membros superiores.

SILVERSTEIN (1985) propôs o critério mais antigo sobre repetitividade, ao

sugerir que qualquer ciclo de trabalho de duração menor que 30 segundos seria

altamente repetitivo e que ciclos maiores de 30 segundos também seriam altamente

repetitivos caso um mesmo elemento do trabalho ocupasse mais que 50% do ciclo.

Atualmente, existe uma tendência de se avaliar o número de movimentos na

unidade de tempo.

KILBON (1987) fez uma meta-pesquisa dos estudos empíricos e científicos

existentes sobre o assunto e concluiu que, considerando todas as evidências

empíricas disponíveis e após estudos científicos feitos em animais por Obolenskaja,

o número de 25 a 33 movimentos por minuto não deveria ser excedido para se evitar

transtornos nos tendões.

D) Vibração e compressão mecânica Especialmente prejudiciais são as formas de vibração nas freqüências de 8 a

100 Hz, com alta aceleração. Também importantes são as compressões mecânicas

sobre os tecidos, como na base das mãos, no local onde termina o nervo mediano.

O peso de cada um dos fatores biomecânicos na origem das lesões de

pescoço e cintura escapular, ombro, cotovelo, punho e mão estão sintetizados na

tabela abaixo, realizada por pesquisadores da NIOSH:

Page 54: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

35

Tabela 2 – Evidências científicas entre os fatores biomecânicos e as lesões

Fator de risco Pescoço e Cintura Ombro Cotovelo Punho/ Mão

Escapular Sd do túnel do carpo Tendinites

Repetitividade +++ ++ +/- + + + +

Força + + +/ - + + + + + +

Postura + + + + + +/ - +/ - + +

Vibração +/ - +/ - + +

Combinação + + + + + + + + +

(FONTE: NIOSH, 97)

A evidência da relação com o trabalho a partir de estudos epidemiológicos

está classificada em uma das seguintes categorias: forte evidência de relação com o

trabalho (+++), evidência de relação com o trabalho (++), evidência insuficiente de

relação com o trabalho (+/-).

Forte Evidência de relação com o trabalho (+++): Uma relação causal é

muito provável entre uma exposição intensa e/ou de longa duração a fator(es) de

risco e LER/DORT, quando se usa critérios de causalidade. Uma relação positiva foi

observada entre a exposição ao fator de risco e lesão em diversos estudos nos quais

a probabilidade, a tendência e a confusão podiam ser eliminados com razoável

confiança.

Evidência de relação com o trabalho (++): Alguma evidência epidemiológica

convincente para uma relação causal usando os critérios epidemiológicos de

causalidade para exposições intensas e/ou de longa duração a fator (es) de risco

para as lesões. Uma relação positiva foi observada entre a exposição ao fator de

risco e lesão nos estudos em que a probabilidade, a tendência e a confusão não são

as prováveis explicações.

Evidência insuficiente de relação com o trabalho (+/-): Os estudos

disponíveis são de qualidade, consistência ou controle estatístico insuficiente para

permitir uma conclusão quanto à presença ou ausência de uma associação causal.

Alguns estudos sugerem uma relação com fatores específicos de risco, mas a

probabilidade, a tendência ou a confusão podem explicar a associação.

A combinação refere-se A dois ou mais fatores de risco apresentados na

tabela 2.

Page 55: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

36

COUTO e NICOLETTI (1998), fazem uma síntese desta tabela:

• Força excessiva, alta repetitividade de um mesmo padrão de movimento e

postura incorreta são fatores de peso aproximadamente igual;

• Existe, porém, uma predominância de alguns dos fatores sobre os outros,

dependendo da área dos membros superiores. Assim, no pescoço e na cintura

escapular, a má postura é o fator predominante, sendo também importantes o

esforço excessivo e a repetitividade. Na origem das lesões do ombro,

repetitividade e má postura são os fatores predominantes, enquanto que força

não se mostra importante; já para os cotovelos, o fator crítico é a força

excessiva. É bem conhecida a relação direta de esforço físico com epicondilites;

na origem da síndrome do túnel do carpo, repetitividade e força excessiva se

mostram como fatores causais, e a má postura mostra-se insuficiente; neste

caso, a vibração aparece como fator importante; para o desenvolvimento das

tendinites e tenossinovites de punho, os três fatores, força excessiva, alta

repetitividade e posturas incorretas mostram-se importantes.

• Estudo no NIOSH mostra a forte evidência da potencialização dos 4 fatores na

origem das lesões.

UPFAL (1994) considera que os fatores de risco para o aparecimento da

LER/DORT incluem movimentos repetitivos (repetição de tarefas por muitas horas),

movimentos fortes (como agarrar ou apertar), posturas estressantes (desvio lateral

do punho, extensão do pescoço), impacto mecânico de tecidos moles (bordos de

ferramentas que pressionam a palma da mão), vibração e ocasionalmente, baixas

temperaturas.

ATTARAN (1996) afirma, ainda, que as LER/DORT são causadas por

ambientes de trabalho pobremente projetados que não contemplam uma relação

harmônica entre homem e trabalho.

WILLIANS e WESTMORLAND (1994), a partir de um artigo de revisão sobre o

assunto, apontam os principais aspectos relacionados com o aumento das Lesões

por Esforços Repetitivos (LER/DORT). Estes incluem:

a) Força excessiva devido ao uso dos instrumentos de trabalho inadequados,

aumentando a força exigida para o trabalho manual.

Page 56: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

37

b) Atividades repetitivas: indivíduos que realizam atividades que exigem

movimentos repetitivos e uso de força estão 15 vezes mais sujeitos a

desenvolverem a LER. Os movimentos repetitivos rápidos aumentam a

probabilidade de fadiga e diminuem a capacidade de recuperação dos tecidos.

c) Posturas inadequadas: podem ser causadas por um inadequado projeto do local

de trabalho, bem como dos equipamentos. As posturas de trabalho são

influenciadas pela interação de muitos fatores individuais e ocupacionais

incluindo projeto do posto de trabalho, característica dos equipamentos e

ferramentas de trabalho (KEYSERLING et al., 1993).

d) Stress localizado: causado pelo contato entre uma região do corpo e o

instrumento de trabalho produzindo pressão.

e) Vibração: leva ao aumento na força necessária para sustentar o instrumento de

trabalho.

f) Baixas temperaturas: pela possibilidade de reduzir a sensibilidade ao tato e,

conseqüentemente, aumentar a força aplicada.

Alguns autores como: BAMMER (1987), KILBON (1987), STONE (1983) citam

ainda a carga estática, isto é o trabalho que os músculos fazem para manter o corpo

ou partes do corpo em determinadas posições, como um fator importante no

aparecimento das lesões musculotendíneas.

ARMSTRONG (apud OLIVEIRA, 1998) relatou que os dados epidemiológicos

mostram que o risco de tendinites das mãos e punhos em pessoas que executam

tarefas altamente repetitivas e forçadas é de 29 vezes maior do que em pessoas que

executam tarefas lentas e pouco repetitivas e forçadas.

PEREIRA e LECH (1997), além de apontar os fatores biomecânicos,

observam também que fatores organizacionais e psicossociais têm participação de

destaque no aparecimento das LER/DORT. Deste modo, abaixo estão listadas as

variáveis consideradas mais importantes pelos autores:

2.1.5.2 Fatores organizacionais

São fatores ligados ao ambiente de trabalho. Podem ser:

Page 57: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

38

• Tensão no trabalho: exigências de produtividade e de ritmo de trabalho podem

aumentar a tensão muscular, prejudicando a nutrição sangüínea dos músculos

com possibilidade de ocorrência de dor muscular, fadiga e predisposição a

LER/DORT.

• Desprazer: o sentir prazer desencadeia a liberação de endorfina (analgésico

interno). Devido a isso, pessoas insatisfeitas no trabalho podem ter maior

tendência a sentir dor do que as que trabalham prazerosamente.

• Traumatismos anteriores predispõem o indivíduo a LER/DORT e são fatores

importantes na sua incidência.

• Atividades anteriores: pelo fato da LER/DORT ser causada por traumas

cumulativos é necessária a análise da atividade exercida anteriormente.

2.1.5.3 Fatores psicossociais

São fatores relacionados à conduta mental.

• Perfil psicológico: as pessoas de personalidades tensas, as negativistas e as

que não toleram trabalho repetitivo são mais predispostas às LER/DORT.

A associação destes conjuntos de fatores biomecânicos, organizacionais e

psicossociais, pode ser os grandes responsáveis pelo aparecimento destas lesões

ou distúrbios. Segundo MACIEL (1995), de maneira geral, as funções onde as

LER/DORT aparecem com maior freqüência possuem algumas características

específicas que estão, portanto, relacionadas ao aparecimento da síndrome.

Apresentam-se os principais fatores do trabalho determinantes destas lesões:

Tabela 3 – Principais fatores determinantes das LER/DORT

Postura Movimento e Força Conteúdo do

trabalho e Fatores psicológicos

Características individuais

Posturas fixas, principalmente em trabalhos sedentários

Força e repetitividade de movimentos

Conteúdo mental das tarefas

Tipo de musculatura e características corporais

Posturas extremas (movimentações corporais envolvendo torções extremas do tronco)

Força moderada mas utilização de pequenos músculos repetidamente no tempo

Grau de flexibilidade da ação do trabalho

Estudos demonstram que as mulheres são mais sensíveis

Page 58: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

39

Más posturas de extremidades superiores (tais como desvio de punhos, elevação de ombros, braços torcionados)

Tempo e freqüência: Movimentos repetitivos e estereotipados em pequenos ciclos de tempo

Pressão em relação à produção

Técnica de realização do trabalho

Desvios de posturas influenciados por: a) características do posto de trabalho; b) características antropométricas do trabalhador

Contato mecânico localizado (contato físico entre uma parte do corpo ou das mãos e/ou punhos com um determinado objeto, sempre no mesmo local e na mesma posição ex. tesoura)

Qualidade da comunicação entre empregados e chefia

Distribuição de tarefas por sexo

Força exercida durante a realização de movimentos (levantamento, carregamento e utilização de ferramentas pesadas)

Recomenda-se mais estudos para estabelecer a relação entre o trabalho, stress e o sistema músculo esquelético*

Carga de trabalho

Exposição das extremidades superiores à vibração e baixas temperaturas

(Fonte: WALLACE e BUCKLE apud MACIEL, 1995, adaptado pelo autor)

Na ordem de serviço INSS/DSS n° 606, de 05 de Agosto de 1998, publicado

no Diário Oficial da União em 19 de Agosto de 1998 (pág 28), aparece a relação

exemplificativa entre o trabalho e algumas patologias.

Tabela 4 – Relação exemplificada entre o trabalho e algumas patologias Lesões Causas Ocupacionais Exemplos Alguns diagnósticos

diferenciais Bursite do cotovelo (olecraniana)

Compressão do cotovelo contra superfícies duras

Apoiar o cotovelo em mesas

Gota, traumatismos e artrite reumatóide

Contratura da fáscia palmar

Compressão palmar associada à vibração

Operar compressores pneumáticos

Heredo-familiar (contratura de Dupuytren)

Dedo em gatilho Compressão palmar associada à realização de força

Apertar alicates e tesouras

Diabetes, artrite reumatóide, mixedema, amiliodose e tuberculose pulmonar

Epicondilites do cotovelo

Movimentos com esforços estáticos e preensáo prolongada de objetos, principalmente com o punho estabilizado em flexão dorsal e nas promossupinações com utilização de força

Apertar parafusos, jogar tênis, desencapar fios, tricotar, operar moto-serra

Doenças reumáticas e metabólicas, hanseníase, neuropatias periféricas, traumas e forma T de hanseníase

Page 59: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

40

Síndrome do canal cubital

Flexão extrema do cotovelo com ombro abduzido. Vibrações

Apoiar cotovelo em mesa

Epicondilite medial, seqüela de fratura, bursite olecraniana e forma T de hanseníase

Síndrome do canal de Guyon

Compressão da borda ulnar do punho

Carimbar Cistos sinviais, tumores do nervo ulnar, tromboses da artéria ulnar, trauma, artrite reumatóide e etc.

Síndrome do interósseo anterior

Compressão da metade distal em antebraço

Carregar pesos, praticar musculação, apertar parafusos

Síndrome do pronador redondo

Esforço manual do antebraço em pronação

Carregar pesos, praticar musculação, apertar parafusos

Síndrome do túnel de carpo

Síndrome do desfiladeiro torácico

Compressão sobre o ombro, flexão lateral do pescoço, elevação do braço

Fazer trabalho manual sobre veículos, trocar lâmpadas, pintar paredes, lavar vidraças, apoiar telefones entre o ombro e a cabeça

Cérvico-braquialgia, síndrome da costela cervical, síndrome da primeira costela, metabólicas, artrite reumatóide e rotura do supra-espinhoso.

Síndrome do túnel de carpo

Movimentos repetitivos de flexão, mas também extensão com o punho, principalmente se acompanhados por realização de força

Digitar, fazer montagens industriais empacotar

Menopausas, tendinite da gravidez (particularmente se bilateral), artrite reumatóide, amiloidose, diabetes, lipomas. Neurofibromas, insuficiência renal, obesidade, lupus eritematoso, condrocalcinose do punho, trauma.

Tendinite da porção longa do bíceps

Manutenção do antebraço e fletido sobre o braço ou do membro superior em abdução

Carregar pesos Artropatias metabólicas e endócrinas, artrites, osteofitose da goteira bicipital, artrose acomio-clavicular e radiculopatias (C5-C6)

Tendinite do supra espinhoso

Elevação com abdução dos ombros associada a elevação de força

Carregar pesos sobre os ombros, jogar vôlei ou peteca

Bursite, traumatismo, artropatias diversas, doenças metabólicas

Tenossinovite de De-Quervain

Estabilização do polegar em pinça seguida de rotação ou desvio ulnar do carpo, principalmente se acompanhado de realização de força

Torcer roupas, apertar botão com o polegar

Doenças reumáticas, tendinite da gravidez (particularmente bilateral), estilóidite do rádio

Page 60: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

41

Tenossinovite dos extensores dos dedos

Fixação antigravitacional do punho. Movimentos repetitivos de flexão

Digitar, operar mouse

Artrite reumatóide, gonocócica, osteoartrose e distrofia simpático reflexa (síndrome ombro-mão)

Obs.: considerar a relevância quantitativa das causas na avaliação de cada caso. A presença de um ou mais dos fatores listados na coluna “outras causas e diagnóstico diferencial” não impede, a priori, o estabelecimento do nexo.

(Fonte: Ordem de Serviço INSS/DSS nº 606, de 05 de Agosto de 1998)

Como se pode notar na tabela acima, existe uma forte correlação entre certos

tipos de movimentos, exigidos de forma repetida, com os distúrbios osteomusculares

relacionados ao trabalho. Observa-se, também, a complexidade do diagnóstico

diferencial a ser realizado devido a grande variedade de patologias que podem ter

sinais semelhantes, o que, certamente, dificulta ou atrasa o diagnóstico final.

SILVERSTEIN (1995), em sua tese de doutorado, cita os fatores ocupacionais

associados com distúrbios de mãos, punhos, cotovelos e ombros e os autores que

fizeram estas referências e são indicados na tabela abaixo.

Tabela 5 – Fatores ocupacionais associados com mão, punho, cotovelo e ombro

predisponentes LER/DORT Distúrbios

Fatores Ocupacionais Referências

Síndrome do Túnel do Carpo

- Manter mãos em posição fixa por períodos

prolongados - Flexão repetida de punhos e dedos - Movimentos leves muito repetitivos do

punho - Flexão ou hipertensão repetida do punho

- Traumas repetidos de baixa intensidade - Compressão na base da palma da mão ou

punho

Melville (1972) Tanzer (1959) Mather (1981) Phiilips (1967), Miller (1980) Kaplan (1983), Inglis (1972) Biberck & Beer (1975) Armstrong & Chaffin (1979) Armstrong (1981), Wherle (1976), Rothfleisch & Sherman (1978) Bora, Osteman (1982), Sandezen (1981) Cannon et al (1991), Brain et al (1947) Swajian (1981) Feldman et al (1983), Armstromg (1983, 1984) Tichauer, Gage (1977), Kendall (1960)

Page 61: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

42

- Uso prolongado esforçado das mãos - Vibração - Compressão ou aperto - Desvio ulnar do punho e flexão em tarefas

repetitivas - Extensão do punho com forte compressão

Marin et al (1963), Kraft, Halvoroson (1983)Phalen (1972), Falck, Aarnio (1983) Cannon et al (1981), Werner (1984) Rothfleisch, Scherman (1978) Feldman et al (1983), Smith et al (1977) Tichauer (1966) Rabourn (1977), Perrott (1961)

Lesão do Nervo Ulnar (Túnel de Guyon)

- Uso da iminência hipotenar como martelo - Segurar com polegar e dedos com

pressão palma da mão - Flexão ou hipertensão (prolongado,

trabalho manual pesado) - Levantar objetos pesados com palma da

mão - Trauma repetitivo na palma da mão

Swanson et al (1983) Feldman et al (1983) Hunt (1911) Harris (1929), Lister (1984) Eckman et al (1975) Dupon et al (1965) Shea, McClain (1969) Urbaniak, Roth (1982), Overton (1967)

TenossinovitesTendinites, Doença de Quervain, Peritendinites

- Movimentos repetitivos especialmente em

combinação com desvio ulnar e polegar fixo - Uso excessivo durante movimentos

angulares - Traumas repetidos - Movimentos, repetitivos de mãos e punhos

- Flexão rápida dos dedos - Trabalho repetitivo não habitual - Trabalho repetitivo com polegar e dedo,

segurando e com desvio radial - Força persistente - Apertar, sacudir, vibração - Rotação repetitiva de punho - Carga cíclica nos tendões

Eichoff (1927), Filkelstein (1930) Lamphier et al (1965) Hochberg et al (1983) Lipscomb (1944) Hymovich, Lindholm (1966), Tichauer (1966), Welch (1972), Pozner (1942),Flowerdew, Bode (1942) Reed, Harcourt (1953) Wilson & Wilson (1957), Wells (1960) Bunnell (1964), Levine (1968) Bunnell (1944), Conn (1931), Thompson (1951), Howard (1937), Ellis (1951), Wilson & Wilson (1957) Muckart (1964) Zollinger (1927), Leao (1958) Rhodes (1947) Wood, Lincheld (1973) Goldstein (1981)

Page 62: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

43

- Posturas extremas das mãos com extensão máxima dos dedos

- Opressão seguida por rápida pronação

Luopajarvi et al (1979) Blood (1942)

Dedo em gatilho

- Flexão e extensão excessiva dos dedos

contra resistência - Uso prolongado do indicador com pistola

de ar

Fahey, Bollinger (1954) Lipscomb (1944) Tichauer (1978)

Epicondilites (lateral - mais comuns)

- Uso constante de martelo - Supinação/pronação repetidas

- Extensão forçada repetida do punho - Supinação com a mão e agarrando (algum

objeto) e com extensão do punho, atividade repetida dos pequenos músculos inseridos no epicôndilo

- Movimentos não habituais ou repetitivos

com antebraço ou extensores dos dedos - Micro/macro rupturas sob stress

inadequado - Traumas repetidos - Supinação repetitiva com cotovelo

flexionado e carga de 10 libras.

Mills (1928) Rasch, Brubaker (1957), Sinclair (1965), Gardner (1970), Lapidus, Guidotti (1970), Ferguson(1971), Wadsworth, Williams (1973) Cyriax (1978), Roto, Kivi (1984) Steiner (1976) Goldie (1964) Kurppa et al (1979) Cooper, Hooper (1973) Boyd, McLeod (1973) Perrott (1961)

Tendinite do Manguito Rotator

- Movimento excessivo ou forçado do ombro - Atividade repetitiva com rotação ou

elevação - Sobre uso em trabalho acima da cabeça - Puxar e elevar repetitivamente - Sobreuso - Flexão ou abdução sustentada ou

repetitiva - Trauma cumulativo

Booth, Marvel (1975) Simon (1975) Matsen, Kirby (1982) Neviaser (1980), Neer (1983) Bush (1983), Boyle (1969), McLaughlin (1946) Coventry (1953) Meyer (1937)

Page 63: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

44

- Trabalho com as mãos acima ou ao nível do acrômio.

- Tensão prolongada dos músculos

estabilizadores do ombro durante trabalho intensivo com as mãos

- Carga sobre os braços estando este com

abdução ou flexão acima de 60º - Uso excessivo de mão - Carga estática dos músculos

Bjelle et al (1979, 1981) Kvarnstrom (1983) Herberts, Kadefors (1976) Herbers et al (1981) Mason et al (1980) Luopajarvi et al (1979)

(Fonte: SILVERSTEIN, 1995, p. 10-15. Adaptado pela autora)

Nesta tabela foi demonstrada a patologia relacionada com a atividade que o

causa, citando os autores que fizeram referência desta situação em seus estudos.

Pode-se notar que, por exemplo, a Tendinite do Manguito Rotador ocorre por várias

condições biomecânicas desfavoráveis que podem ser encontradas isoladas ou até

mesmo em combinação numa jornada de trabalho. Mesmo apesar de estarem

realizando tarefas diferenciadas com padrões de movimentos diversos, como por

exemplo: trabalho com as mãos acima ou ao nível do acrômio (nível do ombro) e

após faz uso excessivo das mãos em frente ao corpo com carga estática dos

músculos, mudou o padrão de movimento, mas continuou a tensão sobre estes

músculos.

2.1.6 Resultado de pesquisas abordando outros fatores que não os

biomecânicos

Desde o início da década de 70, quando se começou a estudar com mais

profundidade as lesões de membros superiores relacionados ao trabalho, pôde-se

evidenciar a existência de fatores contributivos, seja de natureza pessoal, seja de

natureza social ou organizacional. BAMMER (apud COUTO e NICOLETTI, 1998)

transcreveu nas tabelas a síntese mostrada pelas principais pesquisas existentes no

mundo sobre o assunto, em meta-pesquisa.

Page 64: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

45

2.1.6.1 A influência dos fatores físicos e pessoais

Os resultados dos principais estudos estão mostrados na Tabela abaixo, na

qual se pode interpretar da seguinte forma: para cada um dos fatores relacionados,

o número indicado na coluna SIM representa o número de estudos que referem ser

aquele fator significativo; o número indicado na coluna NÃO indica o número de

estudos que informam não ser aquele fator significativo na origem das lesões.

Tabela 6 – Fatores físicos pessoais associados às LER/DORT Fator Sim Não

Lesão prévia

Altura e peso

Fumar

Força física e aptidão

Atividades de lazer

Tamanho e forma do pulso

Saúde em geral

Problemas oculares

Gênero

1

-

1

2

-

2

2

1

Inúmeros

2

4

4

-

2

1

-

-

-

(Fonte: Bammer apud Couto e Nicoletti, 1998)

Esta tabela demonstra que alguns fatores como: altura e peso, hábito de

fumar, existência ou ausência de atividades de lazer, não estão relacionadas à

existência destas lesões. Também demonstra não haver qualquer dúvida que alguns

fatores físicos pessoais estão nitidamente relacionados à existência destas lesões,

especialmente a força física e aptidão (relação negativa, ou seja, quanto maior a

força física e melhor a aptidão, menor predisposição) e a existência de problemas de

saúde em geral e a questão do gênero, em que inúmeras pesquisas confirmam que,

nas mesmas condições de exposição, as mulheres são duas a três vezes mais

predispostas a lesões.

BARTON (1997) menciona que as mulheres são mais acometidas por

LER/DORT em membros superiores, pois as atividades ocupacionais que mais estão

relacionadas ao seu aparecimento são efetuadas, sobretudo, por pessoas do sexo

Page 65: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

46

feminino. Além disso, pode-se citar a dupla jornada com os afazeres domésticos e

atividades repetitivas, não permitindo um repouso adequado.

2.1.6.2 A influência dos fatores psicológicos

Os principais resultados de pesquisa estão relacionados na tabela a seguir:

Tabela 7 – Fatores psicológicos associados às LER/DORT Fator Sim Não

Personalidade

Estilo de vida

Experiência emocional de vida

4

1

1

5

2

-

(Fonte: Bammer apud Couto e Nicoletti, 1998)

A questão da personalidade e sua propensão para as lesões permanecem

como um dos itens mais discutidos. Contudo, entre os estudiosos do assunto, não

há qualquer dúvida que algumas características de personalidade influenciam

positivamente no aparecimento de lesões (personalidade tensa, senso de ampla

responsabilidade sobre tudo, insegurança) e que outros fatores de personalidade, ao

contrário, podem contribuir para tornar a pessoa mais calma, e portanto, diminuir a

propensão para as lesões.

2.1.6.3 A influência dos fatores sociais

Pode ser observada na tabela 8.

Tabela 8: Fatores sociais relacionados às LER/DORT Fator Sim Não

Ajustamento familiar

Estilo de vida

Salário

Nível de escolaridade

Suporte social

Uso de álcool

2

1

-

-

-

-

1

1

1

2

2

3

(Fonte: Bammer apud Couto e Nicoletti, 1998)

Page 66: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

47

Esta tabela demonstra que o uso do álcool, nível de escolaridade e salário

não tem relação com o aparecimento das lesões. Entretanto, apresenta um dado

aparentemente contraditório: a inexistência de relação entre a ocorrência das lesões

e o suporte social. Parece estar evidente a relação negativa com o ajustamento

familiar e pouca conclusão quanto ao estilo de vida.

2.1.6.4 A influência dos fatores de organização do trabalho

Os resultados de várias pesquisas no mundo podem ser vistos na tabela

abaixo:

Tabela 9: Fatores de organização do trabalho relacionados a LER/DORT Fator Sim Não

Falta de variedade da tarefa

Trabalho em teclado

Horas de uso do teclado

Ausência de pausas

Velocidade de trabalho

Carga de trabalho inapropriado

Pressão no trabalho

Falta de autonomia

Insatisfação com o trabalho

Insegurança

8

6

12

2

2

1

8

8

2

1

1

3

3

-

1

-

-

1

2

-

(Fonte: Bammer apud Couto e Nicoletti, 1998)

Interpretando os resultados, observa-se a importância da falta de variedade

das tarefas, ocasionando a alta repetitividade de um mesmo padrão de movimento; a

relação não tão nítida quanto ao trabalho em teclado em si, mas a relação muito

nítida quanto ao número de horas de trabalho em teclado durante o dia (houve um

resultado de relação negativa); a ausência de pausas e a velocidade do trabalho são

significativas. Esta tabela ainda destaca a importância dos fatores psicossociais, ao

evidenciar que não existe qualquer dúvida em relação ao fator pressão no trabalho,

o qual está diretamente relacionado à ocorrência das lesões; destaca ainda o peso

do fator falta de autonomia.

Page 67: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

48

2.1.7 Relação entre LER/DORT e organização de trabalho

Segundo COUTO e NICOLETTI (1998, p. 35), as lesões por sobrecarga

funcional dos membros superiores são tão antigas quanto a história da humanidade.

Na evolução dos processos de trabalho, freqüentemente, há relatos de alta

incidência e surgimento de verdadeiras “epidemias”. Tais ocasiões coincidem com a

existência de mudanças no processo de trabalho (como é o caso da cãibra do

escrivão, cãibra do telegrafista, doença dos digitadores) da forma pela qual os

processos são organizados e pelas alterações nas relações de trabalho.

Frederick Winslow Taylor, considerado o “Pai da Organização Científica do

Trabalho”, é visto como uma referência primária pela Escola Clássica da

Administração no que se refere à organização e gerenciamento da produção. Em

suas teorias, encontram-se aspectos que poderiam favorecer e, alguns até reduzir

as chances de surgirem lesões por sobrecarga funcional. Seu objetivo principal era

“reduzir cada arte manual, ou ofício, a movimentos elementares que pudessem ser

exatamente cronometrados, descritos e ensinados a qualquer pessoa”. Em sendo

assim, o engenheiro, através da organização racional do trabalho, deveria

estabelecer uma única forma de realizar determinada tarefa: a mais eficiente e com

o menor tempo possível, mas que não necessariamente seria na melhor posição ou

mais confortável (TAYLOR, 1995, p. 9 e 16).

Segundo CARNEIRO (1998, p. 66), outro princípio da separação entre

concepção e execução, ou seja, o trabalho manual desvinculado do mental é aquele

em que “todo o planejamento que no antigo sistema era feito pelo trabalhador, como

resultado de sua experiência pessoal, deve necessariamente, no novo sistema, ser

feito pela gerência, de acordo com as leis da ciência”. Os trabalhadores, nesse

processo, não só perdem o controle sobre os instrumentos de produção, mas

também do seu próprio trabalho e do modo como é executado, portanto é

desapropriado do seu saber e da subjetividade o que causa tensão e insatisfação.

Outros postulados são da adaptação do homem ao trabalho através da

seleção de pessoas com compleição física, a qual é mais adequada para cada

função, e da remuneração diferenciada em que considerava os trabalhadores

Page 68: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

49

máquinas movidas a dinheiro dispostas a trabalhar mais (independente da

sobrecarga) em troca de uma compensação monetária.

Porém, Taylor sempre demonstrou preocupação com relação à fadiga e fez

estudos dos tempos necessários para sua recuperação, como se pode perceber

neste trecho de seu livro:

A lei aplica-se somente aos trabalhos em que é atingido o limite da

capacidade do homem pela fadiga. É a lei do trabalho penoso. Praticamente

todos esses trabalhos consistem em movimentos de extensão ou de flexão do

braço do trabalhador; em outras palavras, a força do homem se exerce para

empurrar ou puxar alguma coisa que ele segura com as mãos. A lei mostra

que, para cada um desses movimentos o trabalhador só pode ficar sob o peso

durante certa parte do dia. ...Por todo o tempo em que o homem está sob o

esforço de sustentar o peso, os tecidos dos seus músculos sofrem alterações

e há necessidade de repetidos períodos de descanso para que o sangue

possa fazer voltar esses tecidos à sua situação normal (TAYLOR, 1995, p. 52-

53).

Frank B. Gilbert desenvolveu o Estudo de Tempos e Métodos, onde pesquisou

os movimentos básicos do corpo, envolvidos em qualquer tipo de trabalho concreto,

combinado ao estudo de tempo, já desenvolvido por Taylor. Com os dados obtidos,

procurou projetar e adaptar, de forma racionalizada e objetiva, o “fator humano” ao

processo de trabalho, de forma a obter o máximo de produtividade (OLIVEIRA, 1998,

p. 67)

Na década de 20, Henry Ford preconizava o fordismo que, basicamente, é a

adaptação dos princípios tayloristas à linha de montagem, visando a produção em

grande escala, estandardizada, voltada para o consumo em massa, a um custo

unitário decrescente, tendo como objetivo final a acumulação. Os três princípios

básicos da organização de trabalho fordista foram: a) esteira de produção,

eliminando a movimentação ativa do trabalhador; b) ritmo do trabalhador ditado pelo

ritmo da esteira, com o tempo para a realização da tarefa alocado pelo engenheiro

de tempos e métodos; c) super-especialização do trabalhador naquela tarefa.

Page 69: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

50

Esta forma de organização do trabalho possui vários elementos que levam à

sobrecarga muscular como a eliminação da movimentação ativa do trabalhador,

deixando-o estático, fixo, numa determinada posição junto da esteira, sem a

possibilidade de trocar padrão de movimentos; e a super-especialização que

concentra movimentos críticos num só trabalhador, surgindo o recrutamento de

pessoas destinadas a fazer tarefas repetitivas como os datilógrafos, perfuradores de

cartão (COUTO e NICOLETTI, 1998, p. 43).

OLIVEIRA (1998) menciona que a base eletromecânica desenvolvida pela

grande indústria é utilizada para disciplinar e intensificar o trabalho, impondo-lhe o

ritmo próprio das máquinas, controlado pela gerência. A esta é reservado o controle

do conhecimento e da organização do trabalho e, ao trabalhador, o adestramento e

a adaptação às tarefas mecânicas e padronizadas, num ritmo rápido e repetitivo,

envolvendo um pequeno número de gestos pré-determinados e fixos, com margem

mínima aceitável de erros.

Uma das características do fordismo é a estrutura hierarquizada, rígida com

gerência autoritária sobre a massa trabalhadora, trazendo como conseqüência a

parcialização do trabalho, fragmentação, a alienação, o esvaziamento do conteúdo

e, principalmente, a apropriação do saber do trabalhador sobre seu trabalho.

De fato, desde a década de 50, encontra-se na literatura das Ciências da

Administração referências à fragmentação do trabalho, inerente a essa forma de

organização do processo de produção, e suas conseqüências sobre o trabalhador:

alienação, movimentos estereotipados, redução do trabalhador à condição de

autômato, de robô, fatores esses de decisiva importância na origem da tensão pela

dissociação corpo-mente, conforme preconiza a interpretação estruturalista das

causas das LER (DEJOURS, 1992).

Segundo COUTO e NICOLETTI (1998) esta forma de organização do trabalho

prevaleceu durante seis décadas nas indústrias de produção de massa, mas estava

associada ao modelo humanista de administração de recursos humanos, que

pressupunha uma série de atitudes administrativas que visavam ao bom equilíbrio

entre o trabalhador e seu trabalho evitando, portanto, a deterioração da relação do

trabalho. Havia um espaço para o funcionário se queixar e manifestar eventuais

satisfações, podendo reclamar do ritmo de trabalho e da sobrecarga e estes fatores

Page 70: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

51

eram considerados e resultavam em menor sobrecarga. Estes fatores somados a

grande oferta de empregos das décadas de ouro do século podem ser a explicação

para a ocorrência relativamente limitada de lesões por sobrecarga funcional até o

início dos anos 70.

Na década de 80, na qual as LER se manifestaram com maior intensidade, os

países mais industrializados sentiram profundas transformações decorrentes da

crise mundial da maioria dos países capitalistas e socialistas. As contradições e

crises decorrentes de tais formas de organização do trabalho, bem como as próprias

transformações tecnológicas e científicas e a evolução dos sistemas de produção

resultaram em transformações bastante profundas e abrangentes no modo da

produção e do processo de trabalho.

Em muitos países capitalistas os padrões tayloristas-fordistas de organização

do trabalho vêm sendo substituídos por formas mais participativas, integradas,

descentralizadas e flexíveis, baseadas na adoção dos Círculos de Controle de

Qualidade (CCQs) e da experiência japonesa (toyotismo ou ohhnismo). Esse novo

modelo que se constitui como um processo moderno, ágil e lucrativo na produção de

mercadorias e serviços foi implantado, inicialmente, na indústria japonesa, mas

atinge hoje escala mundial.

Dentre suas características, algumas foram assim resumidas por ANTUNES

(1995):

a) polivalência do trabalhador, no sentido de operar simultaneamente várias

máquinas, trazendo o rompimento da relação homem-máquina do fordismo e

transformando o especialista em trabalhador multifuncional;

b) aumento da produtividade e, conseqüentemente, da produção, sem aumentar o

número de trabalhadores;

c) produção somente do necessário e no menor tempo possível (reposição de

estoques somente após a venda), seguindo o modelo Kanban ou just in time

adotados pelos supermercados, com estoque mínimo;

d) expansão do mercado para empresas subcontratadas e fornecedores;

e) capacidade para satisfazer a um mercado diferenciado e competitivo, com uma

variedade enorme de produtos (produção voltada e conduzida pela demanda);

Page 71: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

52

f) desestruturação do sindicalismo combativo e cooptação do movimento sindical

ao ideário patronal e/ou da empresa (caso japonês).

Percebe-se, então, que o trabalho passa a ser realizado em equipe,

flexibilizando-se, assim, a sua organização. Outra conseqüência é a chamada

horizontalização da produção, estendendo-se esta a uma rede de fornecedores,

subcontratadas ou “terceiras”.

O modelo toyotista, segundo ANTUNES (1995, p. 27), acarreta a

intensificação da exploração do trabalho, na medida em que possibilita que um

operário possa operar simultaneamente várias máquinas, intensificando

enormemente o ritmo de trabalho e diminuindo a chamada “porosidade”, ou seja, os

tempos considerados improdutivos. Tal sistema supõe, para atingir completamente

as suas metas de flexibilização da produção, a possibilidade de flexibilização do

trabalho, através de direitos flexíveis, trabalho temporário, horas extras, de forma a

que as empresas se estruturem a partir de um número mínimo de trabalhadores, o

qual é ampliado precariamente em função direta das necessidades do mercado

consumidor.

As modificações importantes ocorridas com a evolução do processo de

produção, voltadas unicamente para o aumento da produtividade e da acumulação

de riquezas, aumentam consideravelmente as condições para o aparecimento de

doenças como as LER no trabalhador moderno.

Em primeiro lugar, verifica-se a diminuição da classe operária industrial

tradicional, acompanhada da ampliação do trabalho assalariado no setor de

serviços, o crescimento da mão-de-obra feminina no mercado de trabalho, a

flexibilização do trabalho formal, através da expansão do trabalho parcial, contrato

temporário, precário, da subcontratação e/ou terceirização, do crescimento da

economia informal, provocando a subproletarização da classe operária.

Outra conseqüência preocupante é o desemprego estrutural, atingindo

principalmente o terceiro mundo numa escala global, em função da automatização e

da revolução tecnológica industrial.

OFFE e BERGER (1991) destaca um crescimento em escala mundial do setor

terciário e de serviços, caracterizando as sociedades modernas como “sociedades

de serviços”. O movimento de terceirização iniciado na década de 70 tinha uma série

Page 72: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

53

de objetivos, sendo o principal a concentração da empresa nos seus reais objetivos,

repassando para outros (terceiros) tarefas em que o terceiro (denominado parceiro)

pudesse se especializar mais, agregando valor. Por este motivo, também foi

chamado de focalização.

No entanto, para COUTO e MORAES (2001), a terceirização foi bastante

desvirtuada, e uma das formas mais evidentes foi a terceirização das atividades

penosas, perigosas e insalubres. Saindo do foco de atenção das empresas-núcleo,

esse tipo de tarefa passou a ser feito por trabalhadores sub-qualificados, com

pequeno ou nenhum cuidado na sua execução. Em sendo assim, a sobrecarga e os

problemas decorrentes dela são esperados.

Com relação à classe trabalhadora, outra conseqüência é a redução

quantitativa e a alteração qualitativa do trabalho, ou seja, em alguns ramos,

presencia-se a qualificação do trabalho, com a criação de um segmento de

“operários de alta responsabilidade” como técnico de manutenção, técnico de

pesquisa, engenheiro, programador, controle de qualidade. Por outro lado, em parte

da classe operária, verifica-se a desespecialização (trabalhadores temporários,

subcontratados) que constitui a periferia da força de trabalho. Este grupo

caracteriza-se pela alta rotatividade no trabalho e pela falta de segurança no

emprego.

BRAVERMAN (1987), cuja tese básica é de que a reestruturação produtiva

em geral reduz, em muito, a qualificação profissional, tornando os trabalhadores

cada vez mais semelhantes a simples ferramentas com mínimo uso de sua

capacidade intelectual, defende também que a desqualificação do trabalhador com a

reestruturação produtiva é uma opção do sistema capitalista, ao aplicar e ampliar

cada vez mais o princípio de se retirar intencionalmente do trabalhador o controle

sobre o processo de trabalho (princípio de Babbage). Somente em alguns pontos de

sua obra, esse autor considera a existência de uma polarização de qualificações,

entre a grande maioria de trabalhadores pouco qualificados e alguns poucos

superqualificados.

TAIULE (apud COUTO e MORAES, 2001), induz à conclusão de que a

desqualificação não é uma estratégia ligada em si ao modelo capitalista, mas uma

decorrência da necessidade de se obter vantagens competitivas, como: qualidade,

Page 73: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

54

flexibilidade, integração vertical ou horizontal, redução de defeitos e menor custo.

Em síntese, segundo esse autor, quem não adotar as estratégias produtivas atuais

(que em grande parte resultam em significativa desqualificação da mão-de-obra)

certamente irá ser vencido pela concorrência.

Existe uma dicotomia entre o ser que produz e aquele que acumula as

riquezas decorrentes do trabalho. Isso resulta, no que Marx conceituou, como

“estranhamento” do produtor em relação a seu trabalho, tendo como conseqüência a

“desrealização” do ser social (MARX apud ANTUNES, 1995). O trabalho não é mais

voluntário, torna-se compulsório, forçado.

Segundo CARNEIRO (1998), associa-se a essa característica a

racionalização crescente da indústria moderna que, ao eliminar as propriedades

qualitativas do trabalhador, na decomposição do trabalho em operações parciais,

transforma-o em atividade mecanicamente repetitiva, empobrecendo seu conteúdo

e, conseqüentemente, o ser que produz. O trabalhador está despossuído não só do

saber, mas também do poder sobre a produção.

2.1.8 Perfil do trabalhador portador de LER/DORT

Para demonstrar o perfil do trabalhador portador de LER/DORT, serão

utilizados os dados do Núcleo de Referência em Doenças Ocupacionais da

Previdência Social – NUSAT, criado em 1989, que é considerado um dos Centros de

Referência e fonte de dados sobre a realidade das LER/DORT no Brasil.

Este serviço recebe pacientes portadores das doenças ocupacionais que dão

entrada nos postos de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS,

com suspeita ou diagnóstico confirmado de doença relacionada ao trabalho, com a

Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT emitida, proveniente de Belo

Horizonte e Região Metropolitana, gerando controles epidemiológicos e estatísticos

com tais dados.

O Paraná, por sua vez, faz controle do número de casos de LER/DORT,

através das Comunicações de Acidentes de Trabalho – CAT, o que o faz dispor de

dados estatísticos mais sucintos. Em sendo assim, serão utilizados os dados

apresentados NUSAT.

Page 74: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

55

Vários autores como: WALLACE e BUCKLE (1987), BAMMER (1993),

QUINTNER (1991) mencionam que há uma maior incidência de casos de LER em

mulheres. O relatório do Nusat/MG, entre os anos de 1990 e 1996, também

demonstra esta característica:

O relatório do NUSAT/MG (1994) demonstra, ainda, a predominância das

LER/DORT no sexo feminino, que é de 72,2%; no sexo masculino é 27,2% .

KILBOM (1987) coloca que a incidência de desordens em mulheres é devido a

diferenças na organização do trabalho e na carga de trabalho. Os homens têm mais

liberdade para escolher suas tarefas de trabalho e não desempenharem funções

repetitivas e trabalho monótono.

CANDIDO (1994) comenta que o número superior de mulheres acometidas de

LER se verifica pelo fato de existir uma maior presença feminina naquelas funções,

nas quais predominam movimentos repetitivos e acelerados e onde o desgaste físico

e psíquico pode ser observa com maior intensidade em relação a outros postos de

trabalho ocupados por trabalhadores do sexo masculino.

CARNEIRO (1998) explica que as mulheres estão sendo mais afetadas

negativamente pelas LER/DORT, mas elas são também as mais afetadas pelos

efeitos da desqualificação, da recessão (baixos salários e desemprego) e pelo

controle autoritário nos ambientes de trabalho. Além de ocuparem, na maior parte

das vezes, cargos ou funções mais repetitivas (com ciclos mais reduzidos), com

maior exigência de atenção, habilidade manual, destreza e controle sobre a

produtividade, a própria divisão social das tarefas relacionadas à criação dos filhos,

tarefas domésticas e alimentação da família, são geralmente atribuídas às mulheres,

sobrecarregando ainda mais a sua jornada de trabalho (dupla jornada).

Outro fator importante é a pressão das chefias e o gerenciamento autoritário

que é exercido sobre a mão-de-obra feminina com mais freqüência, devido à maior

possibilidade de obediência decorrente de condicionamento social e cultural.

As mudanças tecnológicas, freqüentemente, são acompanhadas da utilização

de mão-de-obra feminina, pelo fato de ser esta mais barata e maleável. A

participação das mulheres em trabalho não-qualificado aumenta em todos os

setores, atingindo cerca de 85% a 90% da mão-de-obra das fábricas de montagem,

sobretudo no setor eletrônico e de vestuário. Outros ramos industriais, como:

Page 75: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

56

indústria alimentícia, têxtil, agroindústria, dentre outros, possuem também quase que

exclusivamente mão-de-obra feminina.

2.1.8.1 LER/DORT – Faixa Etária

Na revisão do NIOSH, os fatores individuais associados com as LER/DORT,

são considerados, em muitos estudos, sendo a idade um importante fator associado

às lesões (GUO et al. 1995; BIERING-SORENSEN, 1983; ENGLIH et al. 1995;

OHLSSON et al. 1994; RIIHIMAKI et al 1989; TOOMINGAS et al. 1991). Para outros

autores, como: HERBERTS et al. (1981), PUNNET et al. (1985) (site

<http://www.cdec.gov/niosh/ergtx1.html> pesquisado em 21/7/2003), isso não ocorre.

A distribuição dos trabalhadores portadores de LER atendidos no NUSAT, no

período 1994-1996, demonstra que a faixa etária predominante situa-se entre 20 a

39 anos, concentrando-se, nessa faixa, mais de 70% das ocorrências, mantendo-se

constante durante o período estudado.

Gráfico 1 – Distribuição dos atendimentos de LER por faixa etária (1994 ,1995, 1996)

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

não declarado

50 ou +

40 - 49

30 - 39

20 - 29

Faix

a et

ária

% LER/DORT

199619951994

(Fonte: NUSAT/INSS-MG, 1994-1996)

Page 76: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

57

Essa distribuição reflete a composição da mão-de-obra trabalhadora,

concentrando nas faixas de maior produtividade e capacidade de trabalho as

ocorrências de doenças.

CARNEIRO (1998) comenta que esses dados demonstram que,

diferentemente, das outras doenças profissionais, a LER atinge o trabalhador em

pouco tempo, revelando a agressividade dos fatores geradores da patologia, que se

manifestam bastante precocemente. A alta incidência na faixa etária de 20 a 29 anos

é característica peculiar.

As conseqüências sociais desse fato são graves e impactantes em todos os

sentidos, pois uma população trabalhadora muito jovem está sendo alijada do

mercado de trabalho, muitas vezes sem condições de exercer outras atividades

laborativas. Ademais, essas pessoas passam a ser mantida precariamente pelos

órgãos de Previdência Social e, conseqüentemente por toda a sociedade, que, em

última instância, arca com todos os prejuízos que a agressividade dos processos de

trabalho e das formas de sua organização na sociedade moderna provocam no

sujeito trabalhador.

2.1.8.2 LER /DORT – Tempo na função

Segundo FORTUNATO (1992), a média de tempo na função para os

portadores de LER/DORT é de 2,7 anos para o ramo da indústria de material elétrico

e eletrônico; 8,4 anos para as entidades financeiras (bancos e caixas); 4,4 anos para

o comércio varejista (supermercados e magazines) e 8,0 anos para o serviço de

processamento de dados. Como aponta KILBON (1987), é preciso analisar porque

alguns trabalhadores desenvolvem prontamente a doença, enquanto outros podem

trabalhar por muitos anos sem desenvolver qualquer sintoma. Vê-se, então, que é

uma área de investigação importante.

2.1.8.3 LER /DORT– Escolaridade

Os dados de registro de escolaridade nos anos de 1994 e 1995 de pacientes

portadores de LER no NUSAT, estão demonstrados no gráfico abaixo:

Page 77: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

58

Gráfico 2 – LER/DORT X Escolaridade (1994, 1995)

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

1ª a 4ª

5a. A 8a.

2º grau

superiorEs

cola

ridad

e

% LER/DORT

19951994

(Fonte: NUSAT/INSS-MG, 1994-1995)

No ano de 1994, a maioria dos casos apresentou níveis de escolaridade de 2º

grau e superior. Em 1995, manteve-se a predominância de trabalhadores com 2º

grau completo (39,66%) vindo, em seguida, aqueles com 1º grau completo (28,19%).

É bastante significativo o percentual de trabalhadores com nível superior (15%).

Gráfico 3 – LER/DORT x Escolaridade (1996)

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Não alfabetizado

1 grau

2º grau

superior

não declarado

Esco

larid

ade

% LER/DORT

(Fonte NUSAT/INSS- MG, 1996)

Page 78: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

59

Em 1996, houve um acréscimo do percentual de trabalhadores com nível de

escolaridade de 1º grau e uma diminuição no nível superior (de 15% para 12%).

Alguns trabalhos sobre o nível de qualificação da força de trabalho brasileira

constatam que este é ainda muito precário. Contudo, observa-se, atualmente, uma

tendência de elevação dos níveis de escolaridade, devido a um aumento das

exigências para admissão de empregados.

2.1.8.4 LER/DORT- Faixa salarial

No período entre 1994 e 1996, os pacientes portadores de LER atendidos no

NUSAT, tiveram suas faixas salariais distribuídas da seguinte forma:

Gráfico 4 – LER/DORT X Faixa Salarial (1994, 1995, 1996)

0 5 10 15 20 25 30

n.d.

s.rend.

>10s.m.

5 a 10 .m.

3 a 5 s.m.

2 a 3 s.m.

1 a 2 s.m.

< 1 s.m.

Faix

a sa

laria

l

% LER/DORT

199619951994

Fonte: NUSAT/ INSS- MG (1994-1996)

CARNEIRO (1998) fez algumas observações sobre estas estatísticas. No ano

de 1994, as faixas salariais predominantes foram as de três a cinco salários mínimos

(23,65%) e a de mais de dez salários mínimos (20,03%). Já no ano de 1995, a

Page 79: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

60

distribuição apresentou maior concentração na faixa de três a cinco salários mínimos

(27,67%), vindo em seguida a faixa de dois a três salários mínimos (20,26%).

Comparando-se as duas distribuições, constata-se uma queda acentuada na

faixa salarial com mais de dez salários mínimos, a qual representava 20% dos

salários dos trabalhadores com LER no ano de 1994, caindo para 7,59% no ano de

1995 e 6,22% em 1996. No ano de 1996, observa-se um aumento da faixa de 1 a 2

salários mínimos.

Estas observações comprovam que a maioria dos portadores de LER

concentra-se nas faixas salariais inferiores.

2.1.8.5 LER/DORT – Ramos de atividade econômica

Os dados dos trabalhadores portadores de LER atendidos no NUSAT, no

período de 1993 a 1996, são os seguintes:

Gráfico 5 – LER/DORT X Ramos de atividade econômica (1993,1994)

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Instituições financeiras

Indústria de material elétrico-eletrônico

Comercio varejista

Serviço auxiliar de diversos

Serviço de comunicação

Indústria transportadora

Serviço de administração e locação debens móveis

Serviço de saúde

Serviço de utilidade pública

outros ramos

Ram

os d

e at

ivid

ade

econ

ômic

a

% LER/DORT

19941993

(Fonte: NUSAT/INSS- MG, 1993-1994)

Page 80: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

61

Gráfico 6 – LER/DORT X Ramos de atividade econômica (1995, 1996)

0 5 10 15 20 25 30 35

Instituições financeiras

Indústria de materiais elétrico-eletrônico

Comércio varejista

Serviço auxiliar diversos

Serviço de comunicação

Indústria de transporte

Serviço de administração e locação debens móveis

Serviço de saúde

Serviço de utilidade pública

Outros ramos

Ram

os d

e at

ivid

ade

econ

ômic

a

% LER/DORT

19961995

(Fonte: NUSAT/INSS- MG, 1995-1996)

As instituições financeiras (bancos, caixas econômicas), apresentaram-se

como o ramo de atividade com maior percentual de casos diagnosticados. Isto se

deve, principalmente, às transformações ocorridas no processo de trabalho bancário.

A rápida e acelerada informatização do setor resultou na transformação do

trabalho bancário em um grande número de funções manuais, pouco diversificadas,

esvaziadas de conteúdo e repetitivas. Além disso, a forma de organização do

trabalho no setor impõe um elevado controle sobre os trabalhadores, com pressão

na realização das tarefas, exigência de rapidez, precisão e responsabilidade,

provocando enorme tensão.

Agravando a situação, as mudanças na economia, aumentando os índices de

desemprego no setor e reduzindo drasticamente os postos de trabalho e agências

bancárias, provocam competitividade individual entre os trabalhadores, aumentando

ainda mais os riscos de lesão.

Outro importante ramo de atividade gerador de riscos no aparecimento das

LER em Minas Gerais é o da indústria de material elétrico-eletrônico e de

comunicação, responsável pela produção de componentes elétricos utilizados na

indústria automobilística. Este setor aparece, ao longo do período estudado, em

posição de destaque (entre os três primeiros).

Page 81: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

62

Tal ramo caracteriza-se pela utilização combinada do trabalho repetitivo, às

vezes minucioso, com a exigência de esforço físico pesado, o uso de força, em

posturas inadequadas e posições incômodas. O trabalho é executado sob pressão

intensa das chefias, com cobrança e prêmios de produção de acordo com o número

de peças produzidas, vigorando os requisitos do sistema just in time adotado pelas

montadoras.

No ramo de serviços de locação de bens e serviços, onde se encontram,

predominantemente, as atividades de limpeza, cozinha, telefonia, digitação,

compensação, que em sua grande parte foram terceirizados, observa-se que as

condições de trabalho dos contratados são muito piores e mais precárias do que dos

efetivos. Deste modo, os trabalhadores desse ramo ficaram mais expostos a

adoecer, além de a rotatividade de mão-de-obra ser um mecanismo utilizado para

minimizar esses efeitos.

As mudanças tecnológicas no setor de telecomunicação, nos últimos anos,

trouxeram algumas conseqüências danosas aos trabalhadores dos ramos de

comunicação (telefonia e correio), como o aumento do ritmo de trabalho, advindo da

introdução de novos equipamentos e também o controle sobre a produção dos

trabalhadores, com maior exigência em termos de produtividade (controle do tempo

de fala e do número de chamadas atendidas). Como conseqüência, verificou-se a

intensificação do ritmo de trabalho e o aumento da tensão envolvida na atividade.

Outros fatores como falta de autonomia, relações autoritárias de chefias, o medo de

demissão e a pressa para produção, também foram apontados como determinantes.

A indústria automobilística, com sua forma de organização de trabalho, em

que se verifica a incorporação das novas tecnologias e das novas técnicas

gerenciais, juntamente com a terceirização das tarefas menos qualificadas e de

maior risco, continua a ocupar posição de destaque em relação aos fatores de risco

para o desenvolvimento das LER.

Uma característica verificada com relação à variável ramo de atividade

econômica é que a LER, hoje, se dissemina em todos os ramos, demonstrando que

as inovações tecnológicas e a informatização se generalizaram e se espalharam em

larga escala, muitas vezes sem as devidas medidas de prevenção e proteção.

Page 82: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

63

Segundo relatórios do NUSAT/MG (1993), os setores econômicos com maior

incidência de LER/DORT apresentam algumas características em comum, como:

realização de atividades repetitivas e pouco diversificadas, um tipo de organização

do trabalho que impõe um elevado controle sobre os trabalhadores, com pressões e

exigência de rapidez, precisão e eficiência no desempenho das atividades.

2.1.8.6 LER/DORT – Ocupações

O perfil das ocupações dos trabalhadores com diagnóstico de LER/DORT

atendidos no NUSAT, durante esses anos, acompanha a trajetória da doença nos

ramos de atividade econômica, refletindo as mudanças tecnológicas e as formas de

organização do trabalho, assim como os movimentos sociais e econômicos.

Inicialmente, a maior incidência de diagnósticos verificou-se na categoria dos

digitadores, trabalhadores que, em primeiro lugar, conseguiram o reconhecimento da

LER como doença ocupacional pelos órgãos de Previdência Social, em 1987.

Gráfico 7 – LER/DORT X Ocupações (1993)

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Digitador

Auxiliar escritório

Bancário

Telefonista

Escriturário

Caixa comercial

Operador de produçâo

Montador de chicote

Outras

Ocu

paçõ

es

% LER/DORT

199119921993

(Fonte: NUSAT/INSS-MG, 1993)

Page 83: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

64

Os dados de ocupações computados pelo NUSAT, em 1991 apresentam

como categorias com maior número de diagnósticos, os digitadores (26,06%), as

telefonistas (11,82%) e os auxiliares de produção (10,3%).

Em 1992, destacaram-se as ocupações de digitador (26,56%), auxiliar

administrativo/auxiliar de escritório (11,28%) e telefonista (9,76%), havendo uma

dispersão muito grande em relação a outras funções.

Em 1993, a ocupação com maior percentual dentre as diversas categorias

profissionais foi a de digitador e a função de auxiliar de escritório com digitação veio

em segundo lugar, com 17,45%. Em seguida, destacaram-se as atividades de

auxiliar de produção em indústria de equipamento elétrico para veículos (9,27%),

caixa bancário (7,82%), escriturário (7,27%) e caixa comerciário (5,82%).

Gráfico 8: LER/DORT X Ocupações (1994, 1995, 1996)

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Digitador

Auxiliar de escritório c/ digitação

Caixa bancário

Telefonista

Escriturário

Caixa comercial

Serviços de saúde

Montador de chicote

Auxiliar de produção da indústria

Outras

Ocu

paçõ

es

% LER/DORT

199419951996

(Fonte: NUSAT/INSS-MG, 1994-1996)

Page 84: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

65

Em 1994, novamente as ocupações de digitador, caixa bancário, auxiliar de

escritório, escriturário de banco e telefonista foram as mais significativas, sendo

responsáveis em conjunto por quase 60% dos casos.

No ano de 1995, em primeiro lugar, destacaram-se os trabalhadores de

serviço de escritório e auxiliares administrativos, contribuindo com 10,26% dos

diagnósticos de LER. Em segundo lugar destacaram-se os caixas bancários com

9,66% dos casos, e em terceiro lugar os trabalhadores em serviços de saúde,

responsáveis por 8,19% dos diagnósticos. Logo em seguida encontram-se os

montadores de chicote da indústria de material elétrico para veículos, com 7,07%

dos casos, as telefonistas e os digitadores.

Em 1996, persistiu a liderança dos auxiliares administrativos e auxiliares de

escritório, vindo em seguida os digitadores, caixas bancários, faxineiros e auxiliares

de limpeza e dos caixas comerciários (supermercados e hipermercados). A grande

variedade de funções que apresentam diagnóstico de LER/DORT explica o número

elevado da categoria “outros”.

2.1.9 Repercussões e custos LER/DORT

Segundo o INSS (1993), a principal conseqüência da LER é a perda da

capacidade de realizar movimentos, o que interfere diretamente sobre a condição

social e psicológica do indivíduo. Isso se verifica quando a lesão impede, temporária

ou permanentemente, o homem de realizar o trabalho, já que este ato passa a ser

um elemento de degradação física e emocional.

LOWY (1993) estudou a percepção dos impactos causados pela LER nos

trabalhadores e descobriu que a doença afetou tanto a vida no trabalho como no lar.

Isso se explicou pela redução da capacidade de realizar trabalho assalariado como

os afazeres de casa. Observou, também, relatos de rompimento nas relações

familiares, ocasionando necessidades financeiras, emocionais e físicas. A

participação em esportes e atividades de lazer também foi comprometida pelas

limitações da doença e pela falta de motivação.

O custo social de uma doença que se instala precocemente durante a idade

produtiva acarreta prejuízo não apenas para o trabalhador, que além de perder a

Page 85: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

66

saúde, corre o risco de perder o emprego e tornar-se incapacitado para o trabalho,

mas também para toda a sociedade, e neste contexto estão incluídos a família e

todas as relações sociais que envolvam um indivíduo nessa situação. COUTO e NICOLETTI (1998) citam que nos Estados Unidos, 56% dos casos

de patologia ocupacional são LER, as quais oneraram as empresas, no período de

um ano, a cifra de 7 bilhões de dólares entre a perda de produtividade, despesas

com atenção médica e ressarcimento do trabalhador, Além disso, existem nos

tribunais 2.000 processos de indenização, podendo vir a custar às empresas até 20

bilhões de dólares.

BOTTING et al (1996), em estudos na Lear Corp, uma indústria multinacional

de peças de automóveis, descobriu que a LER representa mais de 40% das

doenças ocupacionais e 70% dos custos de compensação dos trabalhadores desta

empresa.

ATTARAN (1996) afirma que os trabalhadores especializados são os que mais

correm risco de apresentar LER. Tal doença é responsável por mais de 60% de

todas as doenças do trabalho nos Estados Unidos. Cerca de 35% de todos os

custos de compensação dos trabalhadores – mais de 10 bilhões anualmente – são

resultantes da LER.

Um estudo minucioso de CARNEIRO e COUTO (1997) realizado num

estabelecimento bancário brasileiro apurou que, no ano de 1995, este apresentava

152 afastados por LER/DORT em todo Brasil e – somando-se as despesas com os

quinze primeiros dias de afastamento, adicional por tempo de serviço, auxílio creche,

adicional de função, 13º salário proporcional, gratificações, INSS, FGTS e

assistência médica – os autores concluíram que aquele banco gastou R$621.952,93

no total ou seja uma média de R$4.091,80 por empregado afastado.

Dados da Previdência Social mostram também que no Brasil se gasta por ano

mais de 4 bilhões de dólares em acidentes de trabalho e doenças profissionais

(PEREIRA e LECH, 1997)

Segundo a Organização Mundial de Saúde (apresentado no site

<http://www.uol.com.br/prevler>, pesquisado em 5/02/2003), em 1998, nos Estados

Unidos ocorreram 650 mil novos casos de LER/DORT, responsáveis por dois terços

das ausências ao trabalho, a um custo estimado de 15 a 20 bilhões de dólares.

Page 86: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

67

Segundo COUTO (2000) os prejuízos para as organizações decorrentes das

LER atingem diversas áreas, tanto no que se refere à redução da produtividade

quanto a aumento de custos: alto absenteísmo médico, com comprometimento da

capacidade produtiva das áreas operacionais e da empresa, necessidade de

retreinamento, aumento do custo de produção, altos valores despendidos no

tratamento médico do acometido, afastamentos prolongados, custos com processos

de reintegração ao trabalho e processos indenizatórios de responsabilidade civil.

Para embasar os processos sobre responsabilidades usam-se critérios

definidos na própria Constituição Federal. No seu artigo 7º é citado que:

são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à

melhoria de sua condição social: XXII – Redução dos riscos inerentes ao

trabalho, por meio de normas de saúde e segurança; XXVIII – Seguro contra

acidente de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a

que está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa (MONTEIRO apud

CODO e ALMEIDA, 1995, p. 265).

As ações movidas pelos funcionários acometidos por LER/DORT contra as

empresas, normalmente, são de dois tipos: trabalhista e cível.

Nos processos de natureza trabalhista estão compreendidos pedidos de

reintegração, indenização decorrentes do afastamento proveniente da estabilidade

devido à caracterização do acidente de trabalho ou doença profissional. Essas

situações têm por fundamento legal a Lei nº. 8.213/91, art 118, que reza a garantia

de emprego por 12 meses, contados da cessação do auxílio-doença acidentário,

como também as Convenções e Acordos Coletivos de Trabalho. No Judiciário é

importante haver a presença de três aspectos a seguir relacionados: se houve

afastamento, a percepção de auxílio-doença-acidentário e alta médica. Preenchendo

estes critérios, o empregado terá direito à estabilidade prevista em lei.

Na ação cível são pleiteadas indenizações por dano material (incapacidade

laborativa), por dano moral ou por dano estético.

Alguns dos valores referentes às indenizações encontram fundamento na

faixa etária, no grau de incapacidade laborativa, no salário percebido pelo

Page 87: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

68

reclamante/autor, além daqueles que podem ser arbitrados pelo juiz como

compensação por prejuízos morais.

Existe um diferencial entre as Justiças Trabalhista e Cível. A primeira baseia-

se nos direitos que são concedidos pela lei ao empregado; enquanto a segunda,

com maior amplitude, tem sua atenção especial no aspecto fático com necessidade

de se provar a lesão alegada e reflexos no cotidiano social e profissional.

Portanto, qualquer que seja o grau de culpa, a indenização por acidente de

trabalho ou doença ocupacional é um direito do trabalhador assegurado pela

Constituição Federal (MONTEIRO, 1997), fundamentando a responsabilidade civil do

empregador nestes casos.

No tocante aos processos de responsabilidade criminal, deve-se ressaltar a

possibilidade de duas situações: crime doloso e crime culposo.

O Código Penal define o que é crime doloso. No art.18 está: “diz-se o crime: I

– doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo (...)”

ANTONALIA (2001, p. 62) cita exemplo prático de crime doloso

A empresa que promove diversos casos de afastamento pela doença,

corroborados por relatórios Médicos e de Segurança identificando “Pontos de

Estrangulamento da Infortunística” e sugerindo medidas ergonômicas para

melhoria dos postos de trabalho, e nenhuma providência é tomada para sanar

os fatores críticos. Dessa forma, é cristalina a conduta da empresa no sentido

de assumiu os riscos dos infortúnios e poderá ser penalizada por essa

conduta, ou mesmo seus sócios/representantes que são penalmente

responsáveis em razão de crimes praticados quando da direção da pessoa

jurídica.

Com relação aos Crimes Culposos, assim preceitua o Código Penal: Art. 18.

“Diz-se o crime: (...) II- Culposo, quando o agente deu causa ao resultado por

imprudência, negligência ou imperícia (...).”

Quanto às modalidades de culpa pode-se expor: imprudência (prática de ato

perigoso), negligência (falta de precaução) e imperícia (falta de aptidão técnica,

teórica ou prática).

Page 88: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

69

ANTONALIA (2001), cita que nos casos referentes a LER/DORT, talvez o

maior interesse resida nas modalidades de culpa – negligência e imperícia –

situação essa intimamente ligada ao Médico do Trabalho e ao Engenheiro de

Segurança do Trabalho que integrariam o pólo passivo (como réus) de uma eventual

ação no Judiciário.

Nos Estados Unidos, um estudo americano calculou em US$ 300,00 por ano o

prejuízo médio anual por funcionário que sofre da Lesão por Esforço Repetitivo e

Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT). Este estudo

leva em conta horas perdidas, treinamento de substitutos e perdas produtivas. Em

contrapartida, outro estudo – da Universidade de Cornell (NY), afirma que, se a

empresa investir US$ 150/ano por funcionário durante cinco anos, vai eliminar

qualquer risco de lesão (<http://www.appdort.org.br> pesquisado em 22/07/03).

Analisando os custos diretos e indiretos com os casos de LER/DORT, que

incluem além do tratamento médico, fisioterápico, medicamentoso, os gastos com

indenizações, custas processuais e até mesmo com inquéritos policiais, observa-se

que as empresas que investem na melhoria das condições do trabalho e prevenção

destes distúrbios não estão fazendo apenas despesas, mas sim um investimento

para o ser humano, além de defender o capital da empresa. Isto porque, com tais

investimentos, a empresa evita um passivo que pode levar à perda de grande parte

dos lucros ou até mesmo à falência da instituição.

2.2 Ergonomia 2.21 Aspectos conceituais

A palavra Ergonomia é de origem grega; ergon = trabalho e nomos = regras,

leis. Portanto, seu significado literal é estudo das leis que regem o trabalho

(MORAES e MONT’ALVÃO, 1998).

WISNER (1987, p.12) definiu Ergonomia como o “conjunto dos conhecimentos

científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de ferramentas,

máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo conforto,

segurança e eficácia”.

Page 89: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

70

LAVILLE (1977) conceituou Ergonomia como o conjunto de conhecimentos a

respeito do homem em atividade, afim de aplicá-los à concepção de tarefas, dos

instrumentos, das máquinas e dos sistemas de produção.

Segundo CHRISTENSEN (apud RIO e PIRES, 2001, p. 25):

Ergonomia é ramo de ciência e tecnologia que inclui o que é conhecido e

teorizado sobre o comportamento e características biológicas humanas que

podem ser validamente aplicadas à especificação, design, avaliação,

operação e manutenção de produtos e sistemas para aumentar a segurança,

o efetivo e satisfatório uso por indivíduos, grupos e organizações.

IIDA (1990, p. 1), define Ergonomia como “o estudo da adaptação do trabalho

ao homem”. O trabalho aqui tem uma acepção bastante ampla, abrangendo não

apenas as máquinas e equipamentos utilizados para transformar os materiais, mas

também toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e seu

trabalho. Isso envolve não somente o ambiente físico, mas também os aspectos

organizacionais de como esse trabalho é programado e controlado para produzir os

resultados desejados.

Seguindo o mesmo princípio, GRANDJEAN (1998, p. 7) conceitua a

Ergonomia como “a ciência da configuração de trabalho adaptado ao homem” e

complementa que, no início, considerou-se a configuração das ferramentas, das

máquinas e do ambiente de trabalho. O alvo da Ergonomia era – e ainda é – o

desenvolvimento de bases científicas para a adequação das condições de trabalho

às capacidades e realidades da pessoa que trabalha.

A Sociedade de Pesquisas de Ergonomia, da Inglaterra, (Ergonomics

Research Society) citado por IIDA (1990, p. 1) apresenta a seguinte definição:

“Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho,

equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de

anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse

relacionamento”.

COUTO (1995, p. 14) definiu Ergonomia como “um conjunto de ciências e

tecnologias que procura fazer um ajuste confortável e produtivo entre o ser humano

Page 90: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

71

e seu trabalho, basicamente procurando adaptar as condições de trabalho às

características do ser humano”.

Em Agosto de 2000, a Associação Internacional de Ergonomia (IEA) adotou a

definição oficial mencionada abaixo, também utilizada pela Associação Brasileira de

Ergonomia (ABERGO).

A Ergonomia (ou Fatores Humanos) é a disciplina científica relacionada ao

entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou

sistemas e a aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de

otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema.

Os ergonomistas contribuem para o planejamento, projeto e a avaliação de

tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas, de modo a torná-los

compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas

(http://www.iea.cc/ergonomics> pesquisado em 28/7/03).

2.22 Histórico da Ergonomia

A Ergonomia começou, provavelmente, com o primeiro homem pré-histórico

que escolheu uma pedra de formato que melhor se adaptasse à forma e movimentos

de sua mão, para usá-la como arma. A preocupação de adaptar os objetos artificiais

e o ambiente natural ao homem sempre esteve presente desde os tempos da

produção artesanal, não mecanizada, segundo informa IIDA (1990).

A otimização dos modos de produção, principalmente após a revolução

industrial, com a intensificação do trabalho e a identificação das conseqüências

físicas e sociais, torna-se crescente a necessidade do conhecimento acerca das

capacidades e limitações humanas, com a finalidade de melhorar as relações entre

trabalho e trabalhador, definindo-se assim o primeiro estágio histórico da Ergonomia

(BROWN; TAVEIRA FILHO apud SILVA, 1998).

Na Inglaterra, durante a I Guerra Mundial (1914-1917), fisiologistas e

psicólogos foram chamados para colaborarem no esforço de aumentar a produção

de armamentos, com a criação da Comissão de Saúde dos Trabalhadores na

Indústria de Munições, em 1915. Com o fim da guerra, a mesma foi transformada no

Page 91: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

72

Instituto de Pesquisa da Fadiga Industrial, que realizou diversas pesquisas sobre o

problema da fadiga na indústria.

Esse instituto foi reformulado, em 1929, para transformar-se no Instituto de

Pesquisa sobre Saúde no Trabalho. Tendo o seu campo de atuação ampliado,

realizou pesquisas sobre posturas no trabalho, carga manual, seleção, treinamento,

iluminação, ventilação e outras. Entretanto, o maior mérito desse instituto foi o de ter

introduzido trabalhos interdisciplinares, agregando novos conhecimentos de

fisiologia e psicologia ao estudo do trabalho (IIDA, 1990).

Contudo, foi com a II Guerra Mundial que a Ergonomia mais se desenvolveu.

Neste cenário, os esforços da tecnologia (engenharias) e das ciências humanas

(psicologia, antropologia, fisiologia), são somados com o intuito de resolver os

problemas causados pela operação de equipamentos militares complexos (DUL e

WEERDMEESTEER, 1995).

Concomitantemente a guerra, e como conseqüência dela (pois grande parte

da mão-de-obra disponível teve que se engajar no serviço militar), houve um

excesso de oferta de postos de trabalho, criando-se a necessidade de postos de

trabalhos mais adequados aos homens comuns (FIALHO e SANTOS, 1997).

Em 1948, houve outro impulso da Ergonomia através do projeto da cápsula

espacial norte-americana, quando foi necessário fazer todo um replanejamento de

tempo e de meios de se fazer a viagem ao espaço, em decorrência do desconforto

pelo qual passaram os astronautas no primeiro protótipo da cápsula espacial. Deste

modo, surgia o conceito de que o fundamental não é adaptar o homem ao trabalho,

mas procurar adaptar as condições de trabalho ao ser humano. (COUTO, 1995, p.

14).

Ao contrário de muitas outras disciplinas científicas cujas origens se perdem

no tempo, a Ergonomia tem uma data “oficial” de nascimento: 12 de julho de 1949.

Neste dia, reuniram-se, pela primeira vez, na Inglaterra, um grupo de cientistas e

pesquisadores interessados em discutir e formalizar a existência desse novo ramo

de aplicação interdisciplinar da ciência. Na segunda reunião desse mesmo grupo,

ocorrida em 16 de fevereiro de 1950, foi proposto o neologismo Ergonomia.

Esse termo já tinha sido anteriormente usado pelo polonês Woitej

Yastembowsky (1857), o qual publicou um artigo intitulado “Ensaios de Ergonomia

Page 92: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

73

ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”.

Entretanto, foi só a partir da fundação, no início da década de 50, da Ergonomics

Research Society, na Inglaterra, que a Ergonomia se expandiu no mundo

industrializado.

A terminologia Ergonomia foi adotada nos principais países europeus, entre

eles: Inglaterra, França, Holanda, Alemanha e Polônia, onde se fundou a Associação

Internacional da Ergonomia, a qual realizou o seu primeiro congresso em Estocolmo,

em 1961.

Nos Estados Unidos foi criada a Human Factors Society, em 1957. Este país,

bem como o Canadá, utilizam ainda com freqüência o termo human factors (fatores

humanos), human factors engineering (engenharia de fatores humanos), man-

machine engineering (engenharia homem-máquina) com sentido similar à Ergonomia

(IIDA, 1990).

No Brasil, a Ergonomia se anunciou no início da década de 60, com a

abordagem do tópico “O produto e o homem”, na disciplina Projeto de Produto

(Engenharia Humana), na Politécnica da USP. Também nesta Universidade, o

Professor Sérgio Penna Khel encorajou Itiro Iida a desenvolver a primeira tese

brasileira em Ergonomia. Seis anos mais tarde, quase simultaneamente, houve a

introdução da disciplina Ergonomia nos cursos de Engenharia de Produção, da

COPPE/URFJ, de Desenho Industrial, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro

(UERJ), de Psicologia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ), e na USP Ribeirão

Preto.

Além disso, Paul Stemphaneek introduziu o tema na Psicologia Industrial.

Nesta época, no Rio de Janeiro, o Professor Alberto Mibielli de Carvalho

apresentava Ergonomia aos estudantes de Medicina das duas faculdades mais

importantes do Rio, a Nacional (UFRJ) e as Ciências Médicas (UEG, depois UERJ).

Com a publicação do livro “Ergonomia: notas de aula” (IIDA, 1990) e a defesa

de tese de doutorado “A Ergonomia do manejo” (IIDA, 1990), na Politécnica da USP,

deu-se um significativo salto para a consolidação da Ergonomia no meio acadêmico

brasileiro.

Ademais, dois fatos marcaram a evolução da Ergonomia no Brasil. São eles:

- O Primeiro Congresso Brasileiro de Ergonomia, na FGV/RJ, 1974;

Page 93: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

74

- A fundação da ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia, em 31 de

agosto de 1983, na FGV/RJ, que é uma Associação sem fins lucrativos cujo

objetivo é o estudo, a prática e a divulgação das interações das pessoas com

a tecnologia, a organização e o ambiente, considerando as suas

necessidades, habilidades e limitações.

Na Universidade Federal de Santa Catarina, já na década de 70, cadeiras de

Ergonomia eram oferecidas no curso de Engenharia. Nesta Universidade surge, em

1989, o primeiro Mestrado de Ergonomia, dentro do Programa de Pós-Graduação de

Engenharia de Produção.

Cumpre ainda salientar, na cronologia da Ergonomia brasileira, os seguintes

Congressos Brasileiros de Ergonomia: Rio de Janeiro (1984, 1989 e 2000), São

Paulo (1987 e 1991), Florianópolis (1993) e Recife (2002). Tais eventos apresentam-

se como um canal para difusão e divulgação da produção técnico-científica da

Ergonomia no Brasil, com a participação de pesquisadores nacionais e

internacionais.

Em 1995, realiza-se, no Rio de Janeiro, o Congresso Internacional de

Ergonomia, marco que sinaliza o reconhecimento, pela comunidade mundial, dos

trabalhos de pesquisadores brasileiros.

Hoje o Brasil ocupa uma posição hegemônica na Ergonomia latino-americana

e uma situação de destaque quando se consideram os países de língua portuguesa

e espanhola. Tal se deve à atuação de alguns precursores que trataram de difundir a

Ergonomia à política do CNAM (Conservatoire National des Arts e Métier – Paris) de

apoio a formação de ergonomistas e à atuação dos profissionais brasileiros que

sempre se preocuparam em produzir e publicar seus trabalhos (VOLPI, 1998, p. 84).

Com relação à evolução e aplicabilidade da Ergonomia, COUTO (2000),

considera que a Ergonomia costuma ser aplicada quando existe uma pressão

(econômica, social, sindical) para que seja realizada. Atualmente, no Brasil, muitas

medidas de Ergonomia são adotadas em decorrência da pressão da fiscalização do

trabalho, de sindicatos e do Ministério Público.

No entanto, outro grande motivo do rápido desenvolvimento da Ergonomia no

mundo foi o surgimento das lesões do sistema osteomuscular. Elas costumam ser

muito dolorosas e incapacitantes, geram absenteísmo e, quando o trabalhador sai

Page 94: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

75

da empresa, costumam originar processos de indenização pelo dano. Assim, um dos

motivos da alta difusão da Ergonomia foi o custo da não Ergonomia, pois costuma

ser mais barato adotar a solução ergonômica do que se contrapor ao custo da

condição não ergonômica.

É importante destacar que muitas empresas adotam a Ergonomia porque

julgam ser o correto. Isto faz parte de uma filosofia gerencial e de valores

compatíveis com a empresa-cidadã, que procura o lucro, mas o quer legitimado

socialmente. Também a preocupação recente com a qualidade de vida no trabalho,

nestes tipos de empresa, tem sido um dos fatores a alavancar as ações de

Ergonomia.

2.22.1 Fundação da Associação Internacional de Ergonomia (IEA)

As raízes da Associação Internacional de Ergonomia (IEA) estão intimamente

relacionadas com um projeto iniciado pela Agência Européia de Produtividade

(EPA), a qual é uma ramificação da Organização para a Cooperação Econômica

Européia.

A EPA estabeleceu uma seção de Recursos Humanos, em 1955. Em 1956,

foram convidados nove especialistas de países europeus para visitar os EUA para

observar pesquisas em recursos humanos. A fase seguinte de projeto EPA foi um

Seminário Técnico com tema: “Adaptando o trabalho ao trabalhador” na

Universidade de Leiden, em 1957. Nesta ocasião, um conjunto de propostas foi

apresentado para a formação de uma Associação Internacional de Cientistas do

Trabalho.

Foi organizado um Comitê para desenvolver as propostas e organizar uma

Associação Internacional. Os membros do Comitê eram: Prof. G.C.E. Burger, Prof S.

Forssman, Prof. E. Grandjean, Prof. G. Lehman, Prof. B. Metz, Prof. K.U. Smith e Mr.

R.G. Stansfield. Apesar de haver alguma relutância no uso do termo Ergonomia no

título da nova associação pelo fato de cientistas ingleses terem fundado a Sociedade

de Pesquisas Ergonômica, em 1949, o Comitê decidiu adotar o nome de

“Associação Internacional de Ergonomia” até que um nome melhor fosse

encontrado.

Page 95: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

76

No encontro de Paris, em Setembro de 1958, eles decidiram dar continuidade

na organização da Associação e preparar um Congresso Internacional em 1961. em

sendo assim, foi eleito o Comitê para a Associação Internacional de Cientistas em

Ergonomia, sendo eleito como presidente Prof. G.C.E. Burger, tesoureiro Prof.

K.U.Smith e secretário Prof. E. Grandjean.

O comitê para a Associação Internacional de Cientistas em Ergonomia

encontrou-se em Zurique em março de 1959, durante uma conferência organizada

pela EPA, quando então decidiram manter o nome IEA.

Em 6 de Abril de 1959, no encontro em Oxford, Inglaterra, o Prof Grandjean

declarou fundada a IEA. O Comitê também se encontrou, mais tarde, em Oxford,

para formalizar o estatuto escrito pelo secretário com ajuda dos membros do comitê

e participantes da EPA. Este estatuto foi posteriormente aprovado na Primeira

Assembléia Geral da Associação, no primeiro Congresso da IEA, em Estocolmo, em

1961.

Desde então a Associação Internacional de Ergonomia organiza Congressos a

cada três anos (<http://www.iea.cc/about/history>, pesquisado em 5/2/2003).

2.2.2 Normatização e legislação de programas de prevenção de saúde

dos trabalhadores e Ergonomia

Ao se observar a história, nota-se que o Estado, em muitos momentos, faz

sua intervenção na relação capital-trabalho, seja por vontade própria ou por pressão

externa. No Brasil, o primeiro passo para a normatização desta relação foi a

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo decreto-lei nº 5452 de 1°

de maio de 1930, onde, entre outros assuntos, trata de segurança e da medicina do

trabalho (PORTO, 1998).

A Lei nº.6514, de 22 de dezembro de 1977, referente à Segurança e Medicina

do Trabalho, estabelece as Normas Regulamentadoras, como as NR-5, que tratam

da organização da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA); a NR-7,

que trata do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO); a NR-

9, que aborda o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e a NR-17,

que trata sobre a Ergonomia.

Page 96: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

77

Vê-se que esta lei estabeleceu critérios de forma a não permitir que os

trabalhadores sejam expostos aleatoriamente a situações de risco, bem como para

obter melhorias nos ambientes de trabalho, prevenindo e/ou minimizando as

doenças ocupacionais (MONTEIRO, 1997).

O Ministério do Trabalho e Previdência Social instituiu a Portaria nº 3751 em

23 de Novembro de 1990, que se refere à Norma Regulamentadora NR-17 de

Ergonomia. Esta norma visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das

condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de

modo a proporcionar o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. As

condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e

descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais

do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. Para avaliar a adaptação

das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores,

cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma

abordar, no mínimo, as condições de trabalho conforme estabelecido nesta Norma

Regulamentadora.

O texto da NR-17, em suas 4 páginas, evidentemente, não consegue

estabelecer parâmetros fixos e definidos para se avaliar a adaptação das condições

de trabalho às mencionadas características. Para DINIZ (1992) tais características

fazem parte de todo conhecimento atual sobre fisiologia a psicologia humana,

particularmente aquelas relacionadas ao homem em situação de trabalho, submetido

a diversas influências ambientais simultâneas. Este autor relata, ainda, que o

objetivo da análise ergonômica do trabalho é determinar os fatores que contribuem

para a sua sub ou sobrecarga.

Portanto, a NR-17 fornece algumas orientações sobre Ergonomia, mas não

esgota o tema. Inúmeras questões que ligam o trabalhador ao seu trabalho, não

estão nela contemplados, ou o foram de forma superficial. Entretanto, sugerindo a

realização da análise ergonômica do trabalho, esta norma tende a preencher as

lacunas encontradas na escrita deste texto e desperta o interesse dos empresários

para Ergonomia, visto que existe regulamentação a este respeito. Deste modo, se

houver fiscalização nas empresas e as mesmas não cumprirem as diretrizes

básicas, estarão sujeitas a sanções e multas.

Page 97: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

78

2.2.4 Abordagens em Ergonomia

De acordo com MONTMOLLIN (1984), existem duas correntes dentro da

Ergonomia: uma corrente com a visão mais americana e a outra com a visão mais

européia.

A visão mais antiga de Ergonomia, atualmente a corrente americana, enfoca a

Ergonomia visando, principalmente, os aspectos físicos da interface homem-

máquina (Human factors). É a Ergonomia sendo enfocada como tecnologia. Estes

ergonomistas consideram:

• Características Antropométricas: alturas, comprimentos, pesos e larguras de

diferentes partes do corpo que são medidas em algumas populações

(transformadas em tabelas pré-existentes que são divididas por sexo, idade), ou

estas medidas são realizadas no próprio ambiente de trabalho (individualizando

o trabalhador).

• Características ligadas ao esforço muscular: verificando as contrações

musculares por eletromiografia ou pelo consumo de oxigênio e ritmo cardíaco.

• Características ligadas à influência do meio ambiente: temperaturas do

ambiente, ruído, poeiras, agentes tóxicos, vibrações e acelerações bruscas.

• Características psicofisiológicas: visão e audição nas diversas condições e

também olfato, tato e os tempos de reação.

• Características dos ritmos circadianos: alternância de estado de vigília e sono e

as perturbações devido às equipes alternantes e seus efeitos sobre a saúde.

Estes ergonomistas também estudam os efeitos do envelhecimento,

principalmente fisiológicos e psicológicos. Além disso, esta corrente reuniu um

apanhado de conhecimentos bastante significativos referentes à “máquina humana”

e seus limites.

A outra corrente, considerada mais européia – particularmente francesa –

enfoca principalmente a organização do trabalho. O trabalho é observado dentro do

processo de interação operador e seu ambiente. Este enfoque é mais psicológico e

cognitivo (portanto visa mais a parte de comportamento e não somente biomecânica)

preocupando-se com a identificação de estratégias de adaptação do trabalhador,

Page 98: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

79

particularizando cada caso, perdendo a capacidade de generalização

(MONTMOLLIN, 1984).

Na verdade, estes dois enfoques se complementam e não devem coexistir

separados. Atualmente, fazem parte de uma visão global da relação do trabalhador

com seu trabalho.

Segundo HENDRICK (apud ULBRICHT, 2000), a Ergonomia está na sua

terceira geração, pois se considera que a primeira é a corrente americana, a

segunda é a corrente francesa e a terceira – atual – resulta do aumento progressivo

da automação de sistemas em fábricas e escritórios e do surgimento da robótica.

Esta geração privilegia a macroergonomia ou organização global em nível de

máquina/sistema e se concentra no desenvolvimento para auxiliar os gerenciadores

de processo a decidir sobre a adoção de cursos de ação que atendam aos múltiplos

objetivos do mesmo.

Entretanto, FIALHO (1998) definiu como quatro as gerações ou períodos pelos

quais a Ergonomia passou. Ele enfatizou os seguintes aspectos principais:

O primeiro período da Ergonomia corresponde aos sistemas de interface

homem-máquina. A segunda geração, da década de 60, representa um momento de

mudança de foco dos aspectos físicos e perceptuais do trabalho para a sua natureza

cognitiva. Essa alteração refletiu a presença dos sistemas computacionais no meio

do trabalho. Esse segundo estágio é considerado como estágio da “tecnologia de

interface sistema-usuário”. O terceiro, por sua vez, está focalizado no nível

macroergonômico ou no nível global da “tecnologia da interface organização-

máquina”.

A visão macroergonômica evolui de um primitivo relativo a uma tecnologia

homem/máquina para um conceito mais abrangente. A ecoergonomia surge, então,

como uma quarta geração, na qual se estende a visão antropocêntrica para uma

visão biocentrada, em que soluções devem contemplar não só os aspectos sócio-

econômicos, mas também aqueles relativos ao subjetivismo humano e ao meio

ambiente que se inserem. O construtivismo, aqui, rende justiça à dimensão reflexiva

das ciências cognitivas, conduzindo a uma abordagem ergonômica dentro de uma

visão globalizante.

Page 99: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

80

2.2.5 Campos da Ergonomia e principais modalidades de intervenção

WISNER (1987, p. 17-18) distinguiu dois campos principais na Ergonomia: a

de produto e a de produção.

a) Ergonomia do produto: voltada para a concepção de produtos adequados às

características dos usuários, levando em consideração conforto,

dimensionamento do produto e, por conseqüência, redução de custos

desnecessários na produção.

b) Ergonomia da produção: aplicada aos processos produtivos, ao estudo do

trabalho em ação.

WISNER, (1987) considera que a freqüência e a eficácia da ação do

ergonomista serão diferentes segundo as modalidades de sua ação: correção,

concepção e mudança.

c) Ergonomia de correção: visa à correção de inadequações ergonômicas

existentes nos meios e processos de trabalho. É uma situação em que a ação

do ergonomista aparecerá, claramente, com seus sucessos e seus limites, com

custo das modificações em geral elevado.

d) Ergonomia de concepção: atua na concepção de produtos e processos de

trabalho, visando sua concepção de acordo com os conhecimentos

ergonômicos. Permite agir precocemente sobre a máquina, a oficina e até sobre

a fábrica quando se trata apenas da especificação dos produtos, do primeiro

projeto. A ação costuma ser eficaz e de baixo custo, mas exige do ergonomista

uma experiência considerável, para evitar que deixe passar um inconveniente

grave ou até mesmo o crie.

e) Ergonomia de mudança: refere-se a um processo ergonômico contínuo numa

organização. Permite reunir as vantagens das outras modalidades de

intervenção sem seus inconvenientes. Na empresa tudo muda sem que o

visitante ocasional o perceba. Diminui-se ou aumenta-se o volume de produção

devido às variações de mercado, renovam-se as máquinas, reformam-se os

edifícios. Todas essas mudanças podem ser ocasião para uma mudança das

condições de trabalho. Neste caso, como também para a Ergonomia de

correção, se conhecerá bem a situação, antes e depois, mas o custo será

Page 100: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

81

contabilizado dentro do orçamento geral destinado aos trabalhos necessários e

não exclusivamente àquele destinado às condições de trabalho.

Para COUTO (1995) a Ergonomia apresenta cinco grandes áreas aplicadas

ao trabalho que são:

a) Ergonomia na organização do trabalho pesado - planeja o sistema de

trabalho em atividades fisicamente pesadas, ou seja com alto dispêndio

energético, no sentido que não sejam tão fatigantes; a fadiga decorre do

acúmulo de ácido lático no sangue, com a possibilidade de acidose metabólica.

Também estuda o trabalho em ambientes com alta temperatura, devido sua

associação freqüente com trabalho pesado.

b) Biomecânica aplicada ao trabalho - a biomecânica pesquisa os movimentos

humanos sob a luz da mecânica. Em sendo assim, estuda a coluna vertebral

humana e prevenção das lombalgias, as diversas posturas no trabalho e

prevenção da fadiga e outras complicações; através da mecânica dos membros

superiores conclui as causas de tenossinovites e outras lesões por traumas

cumulativos e, ainda, faz alusão as principais regras para organizar um posto de

trabalho sentado.

c) Adequação geral do posto de trabalho – através, principalmente, da

antropometria, pode-se medir as dimensões humanas e seus ângulos de

conforto/desconforto. Com base nisso, é possível planejar postos de trabalho

corretos tanto para trabalho sentado, como semi-sentado ou de pé, bem como

para trabalho leve ou pesado.

d) Prevenção da fadiga no trabalho - a Ergonomia procura a prevenção da fadiga

física, objetivando propor soluções capazes de diminuir esta sobrecarga.

e) Prevenção do erro humano - promove a adoção das medidas necessárias para

que o indivíduo acerte no seu trabalho, aumentando a confiabilidade humana no

desenho de painéis e demais elementos do posto de trabalho. Sabe-se que nem

toda forma de erro humano é devida a condições ergonômicas adversas, mas

elas constituem uma causa relativamente freqüente de erro humano.

VIDAL (2000) sistematiza as formas específicas da Ergonomia de acordo com

as tendências atuais:

Page 101: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

82

a) Quanto à Abordagem ► Ergonomia de Produto

► Ergonomia de Produção

b) Quanto à Perspectiva ► Ergonomia de Intervenção

► Ergonomia de Concepção

c) Quanto à Finalidade ► Ergonomia de Enquadramento

► Ergonomia de Remanejamento

► Ergonomia de Modernização

Independente da denominação fornecida pelos autores para os campos e

modalidades de intervenção da Ergonomia, os objetivos principais são mencionados

cada um de sua forma mas, globalmente, incluem melhoria da qualidade e

produtividade das condições dos postos de trabalho e dos produtos, visando a

atender melhor os usuários e proporcionar maior conforto e segurança na finalidade

que se destinam.

2.2.6 O futuro da Ergonomia

Segundo IIDA (1990, p. 14) a Ergonomia tem feito progressos notáveis

durante estas quatro décadas de sua existência “oficial”. Contudo, o caminho a

percorrer ainda é muito grande. Nos próximos anos, a demanda por novas

pesquisas e desenvolvimentos provavelmente terão origem nos seguintes

segmentos:

a) Sistemas complexos – Novos sistemas, como os de defesa, comunicação e

transportes, os quais não poderão basear-se mais em conhecimentos empíricos

sobre o desempenho humano e sim ser substituídos cada vez mais por

informações cientificamente comprovadas, visto que uma única falha poderá

provocar resultados bastante desastrosos.

b) Novas áreas – Ainda há muitas áreas do trabalho humano praticamente

inexploradas pela Ergonomia como na agricultura, mineração, setor de serviços

e na vida diária dos cidadão comum, que deverão surgir como áreas de

crescente interesse nos próximos anos.

c) Trabalhadores - Estes, na medida em que ficarem mais instruídos, melhor

informados e mais organizados, tendem a exigir condições melhores de

Page 102: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

83

trabalho. Na Europa já são freqüentes as análises das condições de trabalho

solicitadas pelos sindicatos dos trabalhadores. Essa luta por melhores

condições de trabalho deverá prosseguir em todos os países do mundo.

d) Consumidores – Os consumidores estão se tornando cada vez mais exigentes e

sofisticados, exigindo produtos diversificados, adaptados às suas necessidades,

de boa qualidade e seguros. Por outro lado, a crescente atuação das entidades

de defesa dos consumidores deverá valorizar aqueles produtos que atendam

aos requisitos ergonômicos.

e) Competição industrial – O aumento da competição industrial em nível mundial

deverá estimular as empresas a oferecerem produtos de melhor qualidade,

ressaltando os requisitos ergonômicos como uma das vantagens competitivas.

Finalmente, a demanda por novos conhecimentos na área de Ergonomia

deverá ser estimulada pela maior difusão dos resultados de pesquisas e resultados

já conseguidos, principalmente através do fortalecimento das diversas associações,

de Ergonomia em níveis nacionais e internacionais.

2.2.7 A importância da Ergonomia na prevenção das LER/DORT

A prevenção das LER/DORT nas empresas depende de um conjunto de

ações, de caráter multidisciplinar nas quais os ergonomistas têm muito a colaborar

devido a sua formação e conhecimento sobre a estrutura física humana, seus pontos

frágeis e limites, aliado às informações sobre a área industrial e produção. Abaixo se

observam opiniões de diversos autores que compactuam com esta tese.

Segundo THOMPSON e PHELPS (1990), a conduta mais efetiva para evitar

as LER/DORT continua sendo a prevenção. Mudanças de natureza ergonômica,

organizacional e comportamental podem reduzir ou eliminar estas lesões; e esta

prevenção diminui mais a incidência das LER/DORT do que o tratamento médico.

KROEMER (1989), BAMMER (1993), HIGGS e MACCKINNON (1995),

enfatizam que as más condições de trabalho favorecem o surgimento dos distúrbios

osteomusculares relacionados ao trabalho e a aplicação de princípios ergonômicos é

fundamental para reduzir sua incidência.

Page 103: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

84

WILLIAMS e WESTMORLAND (1994) mencionaram, também, a importância

atribuída por diversos autores à implantação das medidas ergonômicas no local de

trabalho para o controle destas lesões. Acreditam na importância do envolvimento e

participação dos trabalhadores em programas de treinamento, a fim de tornar o local

de trabalho mais saudável e seguro.

Estes autores ressaltam a importância da participação dos trabalhadores para

levantar as condições de trabalho desfavoráveis, pois eles são os principais

envolvidos e têm a percepção das inadequações de seus postos, podendo, assim,

contribuir muito nas intervenções ergonômicas.

STOBBE (1996) afirma que os princípios ergonômicos são baseados na

combinação de ciência, engenharia e um completo entendimento das capacidades e

limitações humanas. Quando estes princípios são aplicados no projeto de um posto

de trabalho, seja na tarefa, no processo ou procedimento, a incidência de lesões

musculoesqueléticas diminui.

MONTEIRO (1997) diz que o papel da Ergonomia no sistema de produção

visa a contribuir mais efetivamente na transformação do trabalho, participando

ativamente na implantação de projetos ergonômicos que apontem modificações para

os ambientes de trabalho, proporcionando assim, condições laborais, físicas e

psicologicamente aceitáveis.

Conforme o exposto acima, em absoluto, pretende-se restringir os campos e

possibilidades de atuação da Ergonomia – os quais são ilimitados – mas demonstrar

mais uma contribuição desta ciência a um problema que tem tomado grandes

dimensões, que são as LER/DORT, e causado prejuízo aos trabalhadores e

organizações.

ALMEIDA, CARNEIRO e PÊGO (1998) também consideram que é através da

Ergonomia que se encontrará o mais eficaz instrumento preventivo para evitá-la.

Contudo, salienta-se que a proposta da Ergonomia é muito mais ampla que apenas

a sua prevenção.

Page 104: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

85

2.2.8 Metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho - AET

No Estudo de caso – o qual será apresentado na seqüência – será utilizada a

Análise Ergonômica do Trabalho (AET), como ferramenta para avaliar a adequação

dos postos de trabalho às características das pessoas que nele operam, observando

aspectos como segurança, conforto, desempenho e qualidade de vida.

Segundo LAVILLE (1977) a análise ergonômica apresenta uma possibilidade

de compreensão mais abrangente da situação de trabalho através do estudo de

todos os componentes envolvidos numa situação de desempenho produtivo,

relacionando-os da mesma forma que se processam no cotidiano da empresa.

Sendo assim, a análise ergonômica do trabalho tem por objetivo a análise das

exigências e condições reais da tarefa e análise das funções efetivamente utilizadas

pelos trabalhadores para realizar sua tarefa.

MONTMOLLIN (1982) afirma que a análise ergonômica do trabalho permite

não somente categorizar as atividades dos trabalhadores, como também estabelecer

a narração dessas atividades permitindo, conseqüentemente, modificar o trabalho ao

modificar a tarefa. O fato de a análise ser realizada no próprio local de trabalho, em

oposição às análises de laboratório, permite a apreensão dos fatores que

caracterizam uma situação de trabalho real, envolvendo aspectos como organização

do trabalho e relações sociais.

Para WISNER (1994) a AET é familiar aos autores de língua francesa desde o

livro de Ombredane e Faverge, publicada em 1955, no qual mostra o interesse de

estudar a atividade real de trabalho dos operadores, não raro muito diferente da

atividade prescrita pela organização. O inventário das diferenças entre atividades

reais e atividades prescritas é extremamente útil para descobrir tudo o que é difícil,

ou até impossível de realizar no trabalho prescrito ou o que foi mal compreendido.

Este inventário exige, em todo caso, formas diversas de melhoramento do trabalho.

FRANCO (1998) estabelece que a análise ergonômica do trabalho tem como

objetivo produzir dados que permitam reduzir a distância entre as concepções

formuladas do trabalho (prescrições, regras, procedimentos oficiais e explícitos) e a

atividade real do operador (aspectos informais, implícitos, imprevistos de condutas

do trabalho). Esta distância é a fonte de desequilíbrio do sistema de produção. A

Page 105: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

86

análise ergonômica procura fazer uma análise da própria atividade, partindo do

pressuposto de que a atividade é o elo entre o trabalhador e as formas próprias de

organização.

FIALHO e SANTOS (1997, p. 24) afirmam que “só existe Ergonomia se existir

análise ergonômica do trabalho e só existe análise ergonômica do trabalho se ela for

realizada empiricamente em uma situação real de trabalho”.

BARCELOS (1997) destaca que a AET torna possível o reconhecimento da

realidade do trabalho e dos trabalhadores, considerando todos os elementos que

interagem nesta relação. Acrescenta, ainda, que a AET permite não só identificar o

trabalho, mas descrever todos os modos operatórios, os agravantes, as

comunicações, o coletivo de trabalho, as competências requeridas pela função e as

competências que os operadores já possuem.

Segundo FIALHO e SANTOS (1997) a análise ergonômica do trabalho

comporta três fases: análise da demanda, análise da tarefa e análise das atividades,

que devem ser cronologicamente abordadas de forma a permitir uma coerência

metodológica.

a) Análise da demanda é a definição do problema a ser analisado, a partir de uma

negociação com os diversos atores sociais envolvidos;

b) Análise da tarefa é o que o trabalhador deve realizar e as condições

ambientais, técnicas e organizacionais desta realização;

c) Análise das atividades é o que o trabalhador, efetivamente, realiza para

executar a tarefa. É a análise do comportamento do homem no trabalho.

Estas fases devem ser cronologicamente abordadas de forma a garantir uma

coerência metodológica e evitar percalços, os quais são comuns nas pesquisas

empíricas de campo.

Segundo FIALHO (1998) o levantamento de dados de uma determinada

situação de trabalho, do ponto de vista ergonômico, consiste na pesquisa

sistemática de variáveis pertinentes, seja para formulação de hipóteses, seja com

relação às hipóteses anteriormente formuladas. A escolha das variáveis para análise

das atividades de trabalho dependerá, normalmente, das hipóteses previamente

formuladas, quando da análise da demanda e da análise da tarefa, sobre as

Page 106: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

87

relações condicionantes/determinantes desta situação de trabalho. Este

levantamento é baseado em três pontos chaves:

Em primeiro lugar, a análise ergonômica do trabalho baseia-se em técnicas

comparativas que permitem uma amostragem bastante aproximada da atividade de

trabalho, apesar das variabilidades intra e interindividuais. Na medida do possível,

deve-se comparar trabalhadores com diferenças significativas (qualidade, idade,

sexo, antigüidade no posto de trabalho) e variar nos momentos da observação (na

jornada de trabalho, na semana e, se possível, nas diversas estações do ano).

Em segundo lugar, técnicas de levantamento de dados, como entrevistas,

observações, enquetes e medidas serão utilizadas no sentido de evidenciar

variáveis pertinentes sobre a atividade de trabalho do indivíduo que, normalmente,

não são observáveis diretamente, porque podem ser inconscientes, automatizadas

ou, ainda, mascaradas.

Enfim, os dados levantados ao final de cada fase, conforme esquematizado na

figura 3 demonstrada na seqüência, permitem formular hipóteses de trabalho que

delineiam os rumos a serem seguidos, assim como a obtenção de um conjunto de

informações que formam uma parte dos resultados. Ao curso da realização de cada

uma das fases sucessivas, novos dados serão obtidos, novas hipóteses serão

formuladas para a progressão dos estudos e novos resultados parciais serão

definidos. Os resultados assim obtidos podem subdividir-se em duas categorias:

- Uns são específicos da fase estudada;

- Outros se relacionam à fase precedente e completam aqueles que foram já

obtidos. Deste modo obtém-se, constantemente, ao curso do estudo, um

feed-back sobre os resultados das etapas precedentes. Por exemplo, é

possível que os resultados obtidos na última fase permitam compreender e

definir os elementos que foram objeto da primeira fase.

Através das etapas anteriores, pode-se chegar à Síntese Ergonômica do

Trabalho, pois através do diagnóstico chega-se ao caderno de encargos e

recomendações ergonômicas.

Page 107: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

88

Figura 3 – Esquema metodológico da análise ergonômica do trabalho

Quadro técnico de referência

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Análise da demanda: definição do problema Análise da tarefa: análise das condições Análise das atividades:

de trabalho análise do comportamento Hipóteses do homem no trabalho Hipóteses Dados Hipóteses Dados Dados

SÍNTESE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Caderno de encargos de Diagnóstico:

recomendações ergonômicas modelo operativo da situação de trabalho

(Fonte: FIALHO e SANTOS, 1997)

Page 108: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

89

Ainda segundo FIALHO e SANTOS (1997), no desenvolvimento da análise e

em cada uma das fases, os seguintes aspectos devem ser considerados:

a) Apresentação do estudo, dos objetivos e dos resultados a quem apresentou a

demanda.

b) Apresentação do estudo, dos objetivos e dos resultados esperados, aos

trabalhadores cuja atividade vai ser analisada.

c) Apresentação, em particular aos trabalhadores, dos meios de análise, do tipo de

dados que serão recolhidos e do tipo de interpretação que será feita.

d) Apresentação dos resultados obtidos em curso e após análise a todas as

pessoas envolvidas pelo estudo e em particular aos trabalhadores.

As conclusões de uma análise ergonômica devem conduzir e orientar

modificações para melhorar as condições de trabalho sobre os pontos críticos que

foram evidenciados, assim como melhorar a produtividade e a qualidade dos

produtos ou serviços que serão produzidos ou realizados. Esta fase de elaboração

de recomendações é a razão de ser da análise ergonômica do trabalho.

2.2.8.1 Análise da demanda

Segundo WISNER (1987), esta é uma fase sempre importante do estudo ou

da pesquisa: deve-se analisar a representatividade do autor da demandada, a

origem da demanda (demanda real e demanda formal), os problemas (aparentes e

fundamentais), as perspectivas de ação e os meios disponíveis.

Para ABRAHÃO (1993) a demanda pode apresentar, muitas vezes, objetivos

contraditórios, sendo sua formulação inicial geralmente colocada em termos de

problemas a serem resolvidos, isolados do contexto. Portanto, a análise da demanda

permite reformular e hierarquizar os diferentes problemas colocados, articulá-lo entre

si e, algumas vezes, pode até mesmo evidenciar novos problemas.

FERREIRA et al. (1993) considera ser nesta fase que o ergonomista esclarece

os prazos, custos, condições de acesso às informações da empresa e ao local de

trabalho, forma de apresentação dos resultados, relações profissionais com as

partes envolvidas (trabalhadores e seus representantes, empregados e técnicos) e

ética profissional na condução do estudo.

Page 109: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

90

FIALHO e SANTOS (1997) referem que análise da demanda permite

compreender a natureza e a dimensão dos problemas apresentados, assim como

elaborar um plano de intervenção para abordá-los. Normalmente, os problemas

apresentados pela demanda precisam ser evidenciados porque, em certos casos,

aqueles que são formulados são de menor importância e mascaram outros de maior

relevância do ponto de vista ergonômico. Por outro lado, a análise ergonômica da

demanda permite a definição de um contrato e a delimitação da intervenção nos

seus diversos aspectos: objetos da demanda, situação de trabalho a ser analisada,

prazos para sua realização, acesso às informações, dentre outros.

Os mesmos autores consideram a análise da demanda como a definição do

problema, a partir de uma negociação com os diversos atores sociais envolvidos. A

demanda pode ter origem nos diversos atores sociais da empresa, direta ou

indiretamente envolvidos pelos problemas ergonômicos existentes na situação de

trabalho a ser analisada. Além do mais, pode-se ter três grandes grupos de

demandas de intervenção ergonômicas. Essas demandas são formuladas com o

objetivo de:

a) Buscar recomendações ergonômicas para implantação de um novo sistema de

produção.

b) Resolver disfunções do sistema de produção já implantado, relativas aos

comportamentos do homem, da máquina, ou ainda, da organização, que se

traduzem em problemas ergonômicos (sofrimento físico e mental, doenças

profissionais, incidentes, absenteísmo, turn-over, baixa produtividade, qualidade

insuficiente e outros.).

c) Identificar as novas condicionantes de produção, numa determinada situação de

trabalho, introduzidas pela implantação de uma nova tecnologia e/ou pela

introdução de novos modos organizacionais.

2.2.8.2 Análise da tarefa

MONTMOLLIN (1984) considera a tarefa como o conjunto constituído pela

máquina e suas manifestações e reações, a performance exigida dentro da situação

Page 110: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

91

de trabalho estudada e os procedimentos prescritos, completados pelos

conhecimentos necessários.

O autor enfatiza que estes três aspectos da tarefa não podem ser analisados

separadamente. O termo máquina refere-se à máquina propriamente dita, os

instrumentos, ferramentas, matérias-primas, informações em geral e o ambiente

físico do posto de trabalho. As performances exigidas se referem aos métodos de

trabalho, estabelecidos pelos procedimentos prescritos.

De acordo com FIALHO e SANTOS (1997) a tarefa é definida como o objetivo

a ser atingido. Neste sentido, sua análise coincide com a análise das condições

dentro das quais o trabalhador desenvolve suas atividades de trabalho.

Segundo POYET (apud SANTOS e FIALHO, 1997), pode-se considerar três

diferentes níveis de tarefa: prescrita, induzida e atualizada.

a) Tarefa prescrita: Trata-se do conjunto de objetivos, procedimentos, métodos e

meios de trabalho fixados pela organização para os trabalhadores. É o aspecto

formal e oficial do trabalho, isto é, o que deve ser feito e os meios colocados à

disposição para sua realização.

b) Tarefa induzida ou redefinida: É a representação que o trabalhador elabora da

tarefa, a partir dos conhecimentos que ele possui das diversas componentes do

sistema É o que o trabalhador pensa realizar. Pode-se falar, neste caso, em

tarefa real ou efetiva.

c) Tarefa atualizada: Em função dos imprevistos e das condições de trabalho, o

trabalhador modifica a tarefa induzida às especificidades da situação de

trabalho, atualizando, assim, a sua representação mental referente ao que

deveria ser feito.

Para analisar a tarefa ou as condições de trabalho, é conveniente separá-las

em fases distintas:

2.2.8.2.1 Descrição dos componentes do sistema homens-tarefas

Aqui ocorre a identificação das exigências do trabalho. Esta descrição tem

dois objetivos principais. Em primeiro lugar, a aquisição de um conhecimento

aprofundado a respeito da tarefa a ser analisada e, em segundo lugar, a definição

Page 111: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

92

dos diferentes componentes do sistema (materiais, organizacionais e ambientais),

que são pertinentes às funções dos operadores do sistema.

Esta descrição engloba os seguintes itens:

▪ Dados referentes ao homem e à máquina.

▪ Dados referentes às entradas e saídas.

▪ Dados referentes às informações e ações.

▪ Dados referentes ao meio ambiente de trabalho.

▪ Dados referentes às condições organizacionais de trabalho.

2.2.8.2.2 Descrição dinâmica do sistema homens-tarefas

Após levantar os dados de base necessária à descrição estática do sistema

homens-tarefas, procede-se uma descrição dinâmica de seu funcionamento. O

objetivo é esquematizar o desenvolvimento lógico/temporal das operações, segundo

os encadeamentos e as eventuais alternativas.

2.2.8.2.3 Avaliação das exigências do trabalho Completa a descrição do sistema homens-tarefas, na medida em que procura

determinar a importância do que é solicitado dos operadores, a respeito de cada

exigência identificada.

São necessários vários tipos de avaliação, que são:

- avaliação das exigências físicas;

- avaliações referentes à tarefa;

- avaliações referentes à tarefa e à situação - compreende os esforços

dinâmicos, como deslocamentos a pé, transporte de cargas e utilização de

escadas. As avaliações englobam a enumeração destes esforços durante

uma jornada de trabalho, considerando-se sua freqüência, duração, amplitude

e a expressão de força exigida. E os esforços estáticos, que dependem da

postura requerida em determinada atividade, podem ser caracterizadas a

partir de certas medidas dos postos de trabalho, complementados por

estimativas de duração e freqüência.

Page 112: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

93

- avaliações referentes ao organismo humano – a fisiologia do trabalho permite

avaliar as exigências físicas a partir de dados relativos ao estado do

organismo humano e suas modificações. Esta avaliação é feita a partir dos

levantamentos de estados julgados mais ou menos críticos (em função de

critérios anatomo-patológicos) e de medidas relativamente complexas,

baseadas sobre reações metabólicas ou funcionais.

Nas exigências ambientais, procede-se a análise do ambiente luminoso.

Avaliar a iluminação no posto de trabalho e geral, observando se é satisfatória, se

não causa ofuscamento e se seguem as recomendações das normas técnicas (ISO,

ABNT), bem como às exigências de normas regulamentadoras do Ministério do

Trabalho.

No ambiente térmico, observam-se as principais variáveis que afetam as

trocas térmicas do organismo humano com o meio ambiente exterior que são: a

temperatura do ar (seca ou úmida), umidade relativa do ar, velocidade do ar e

temperatura das superfícies (paredes, tetos e solos).

No ambiente sonoro, faz-se a avaliação da influência do ruído sobre o

desempenho do homem no trabalho e seu conforto.

Nas Exigências Sensoriais: faz-se Avaliações referentes às fontes de

informação, em que se procura avaliar os dados que permitam identificar as

exigências do trabalho relativas às fontes de informação, incluindo as formais e

aquelas não previstas pela organização, mas que são fundamentais para o

desempenho de suas atividades.

Nas avaliações referentes aos órgãos sensoriais, verificam-se os principais

aspectos da situação de trabalho, que dificultam a percepção dos sinais de trabalho

por parte do trabalhador, em particular em relação à percepção visual e auditiva.

Nas Exigências Sensoriais- motoras estão os dispositivos sinais-comandos.

Aqui se procura avaliar os aspectos quantitativos e qualitativos dos diversos

dispositivos de sinais e comandos, existentes na situação de trabalho, que são

utilizadas pelo trabalhador no desempenho de sua atividade no trabalho.

Nas características do operador observam-se as exigências antropométricas:

posição dos comandos em relação às zonas de alcance das mãos e pés, notar

também posturas, gestos, ações simultâneas das mãos e pés.

Page 113: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

94

Com relação às Exigências Mentais, estão as avaliações referentes à tarefa,

em que se procura avaliar as exigências fixadas pela tarefa que solicitam o

trabalhador do ponto de vista mental, particularmente nos aspectos perceptivos e

cognitivos. Da mesma forma, deve-se procurar identificar como está estruturada a

tarefa, do ponto de vista organizacional.

Nas avaliações referentes ao operador vê-se que, nesta categoria, encontram-

se todos os métodos conhecidos de avaliação: de carga perceptiva, mnemônica, ou

mais globalmente, mental. O objetivo, aqui, é determinar um valor médio,

correspondente ao posto de trabalho e não de estimar a carga de um indivíduo.

Após, deve-se proceder uma avaliação destas exigências. As técnicas

empregadas na análise ergonômica da tarefa baseiam-se na análise de

documentos, em observações sistemáticas, entrevistas com diversas pessoas

envolvidas (direção, gerentes, supervisores e trabalhadores) e nas medidas

realizadas sobre o ambiente de trabalho.

Normalmente, utilizam-se vários procedimentos para recolher as informações

sobre a tarefa, que podem ser utilizados de forma simultânea ou consecutiva, em

função do tipo do posto a ser analisado, do tempo disponível e, também, da

experiência pessoal do analista. Os seguintes procedimentos são mais comumente

utilizados:

a) Análise de documentos - para identificar os aspectos formais do trabalho,

levanta-se a história do posto de trabalho a ser analisado, sua localização no

organograma da empresa, suas relações funcionais e hierárquicas com outros

setores, plantas de instalações, notas de serviços, regulamentos internos, relatórios

de reuniões realizadas por encarregados e órgãos envolvidos, dentre outros.

b) Entrevistas – discussões mais ou menos dirigidas são indispensáveis com

as pessoas envolvidas na situação de trabalho (trabalhadores, técnicos,

supervisores), os quais podem dar informações úteis.

c) As observações – permitem traçar uma primeira idéia do trabalho, de

levantar as principais operações a serem efetuadas pelo trabalhador: sua

freqüência, duração e como são realizadas.

Page 114: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

95

d) Os questionários – após as entrevistas preliminares, pode-se elaborar um

questionário e solicitar aos trabalhadores preenchê-los, com dados característicos

da população, do posto, das máquinas, possíveis incidentes, dentre outros.

e) As medidas – permitem quantificar medidas do posto de trabalho e das

condições físicas: iluminação, ruído, temperatura, vibração e outros.

Como a tarefa é o objetivo principal a ser atingido, a sua análise coincide com

a análise das condições dentro das quais o trabalhador desenvolve suas atividades

de trabalho. Para analisar a tarefa, é conveniente distinguir três fases, que são a

delimitação do sistema homem-tarefa a ser analisado, em seguida realizar uma

descrição de todos os elementos que compõe este sistema, isto é, a identificação

dos componentes do sistema que condicionam as exigências do trabalho, para,

depois, proceder uma avaliação destas exigências. Com estes dados em mãos

pode-se passar para a próxima etapa que é a análise das atividades. Finalmente,

pode-se concluí-las confrontando-as com base na demanda.

2.2.8.3 Análise da atividade

MONTMOLLIN (1984) considera que a atividade é o que se faz realmente

enquanto a tarefa indica o que deve ser feito. Desse modo, a atividade sugere o

modo que o sujeito encontra para realizar as ordens fixadas.

Para GUÉRIN (1985) a atividade corresponde à maneira pela qual o homem

dispõe de seu corpo (seu sistema nervoso, órgãos sensoriais, etc.), sua

personalidade (seu caráter, sua história) e suas competências (formação,

aprendizagem, experiência) para realizar um trabalho. Também apresenta os

aspectos físicos, sensoriais, mentais e relacionais à atividade do trabalho:

a) Componentes físicos: atividade muscular estática e dinâmica, forças

exercidas.

b) Componentes sensoriais: correspondem à utilização dos órgãos visuais,

auditivos, tácteis, olfativos, que recolhem as diversas informações e as

transmitem ao sistema nervoso central.

c) Componentes mentais: correspondem às atividades ou processos (estes,

não diretamente observáveis) de tomada e processamento de informações e

Page 115: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

96

que envolvem a identificação, análise e interpretação dos dados ambientais,

das tarefas, de problemas na situação de trabalho e dos resultados da própria

ação, pelo operador.

d) Componentes relacionais: essenciais para a realização do trabalho, embora

a organização formal do trabalho tenda a prescrever as tarefas como

independentes entre si, minimizando ou desconhecendo a utilidade das

relações sociais de trabalho.

Para FERREIRA et al. (1993) a Ergonomia se preocupa com as relações que

ocorrem entre o homem e a situação de trabalho. Sua unidade de análise só pode

ser a atividade porque a atividade é exatamente a mediação que existe entre o

homem e o que ele vai produzir ou quer modificar. A mesma autora considera a

atividade um fio condutor que se desenrola à medida que a análise progride e que

traz consigo todos os aspectos da situação de trabalho e dos próprios trabalhadores.

A análise das atividades, ao parecer de FIALHO e SANTOS (1997), é o que o

trabalhador, efetivamente, realiza para executar a tarefa. É a análise do

comportamento do homem no trabalho. Nesta fase, é realizada a análise das

atividades desenvolvidas pelos trabalhadores, face às condições e aos meios que

lhe são colocados à disposição. Trata-se da análise dos comportamentos de

trabalho: posturas, ações, gestos, comunicações, direção do olhar, movimentos,

verbalizações, raciocínios, estratégias, resoluções de problemas, modos operativos,

enfim, tudo que pode ser observado ou inferido das condutas dos indivíduos. Os

dados assim obtidos poderão ser confrontados com os das fases precedentes,

comprovando as hipóteses para a elaboração de um pré-diagnóstico da situação de

trabalho analisada.

2.2.8.3.1 Métodos de análise Ergonômica da atividade

Um método de análise das atividades de trabalho pode ser definido como o

conjunto de meios e procedimentos práticos de análise que permitem dar um

conteúdo às categorias de um modelo. De fato, um método é um procedimento de

pesquisa de solução a problemas teóricos. Com a utilização de métodos e técnicas

de análise, relativos a uma determinada situação de trabalho, é possível permitir a

Page 116: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

97

obtenção de resultados concretos, a partir do conhecimento desta realidade do

trabalho.

FIALHO (1998) cita os seguintes métodos, abaixo relacionados:

- Análise das atividades em termos gestuais: este método é aplicado quando a

atividade motora, na execução da tarefa, é preponderante e quando as atividades

sensorial/perceptivas e cognitivas podem ser, relativamente negligenciadas. É o

caso das tarefas do tipo repetitivas, cíclicas, parcializadas, isto é, do tipo taylorista,

em que os eventos aleatórios são raros e representam uma fraca carga de trabalho,

para os quais os problemas de aquisição de informação, de diagnóstico, de

resolução de problemas e a tomada de decisão praticamente desaparecem após

período de aprendizagem.

O método de análise é simples. Trata-se de levantar os seguintes aspectos

fundamentais da atividade gestual de trabalho: os gestos, o conteúdo, o tempo,

duração e o processo de trabalho propriamente dito. Com isto, tem-se uma idéia

global do conteúdo e processo de trabalho.

- Análise das atividades em termos de informações – do ponto de vista

ergonômico, o homem pode ser considerado como um sistema de detecção e

tratamento da informação. Neste sentido, pode-se analisar as atividades

desenvolvidas por um trabalhador, em termos de informações, isto é, em termos da

percepção e do tratamento das informações e das ações correspondentes por ele

realizadas.

Na análise do trabalho, pode-se distinguir três níveis de percepção dos sinais

pelo homem: a detecção, a discriminação e a interpretação.

a) Detecção: são os mecanismos fisiológicos e psicológicos que permitem ao

homem receber um sinal, em oposição a não recebê-lo.

b) Discriminação: são os mecanismos fisiológicos e psicológicos que permitem a

distinção de sinais.

c) Interpretação: são os mecanismos fisiológicos e psicológicos que permitem dar

um significado a um determinado sinal, isto é, uma resposta adequada. A

interpretação dos sinais constitui o essencial do trabalho, em todos os postos a

serem analisados.

Page 117: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

98

- Análise das atividades em termos de regulação – esta análise completa o

circuito de processo sinal/ação. De fato o trabalhador confronta os resultados de sua

ação com os objetivos preestabelecidos para ajustar suas novas ações. Este

esquema de realimentação, na atividade de trabalho é conhecido como regulação.

Portanto, a análise de trabalho em termos de regulação pode ser descrita como a

atividade do trabalhador na medida em que ela é dirigida no sentido de alcance e do

respeito a uma norma de produção, ou no sentido de manutenção de um equilíbrio.

Esta análise é guiada pelos objetivos, intenções e contratos do trabalhador e das

diversas células do sistema de produção.

- Análise das atividades em termos de processos cognitivos – é o método mais

contemporâneo da análise ergonômica do trabalho. A maioria das pesquisas

recentes em Ergonomia aborda o trabalho humano do ponto de vista dos processos

cognitivos de detecção da informação, de tratamento da informação, da tomada de

decisão e da ação sobre os controles e comandos do sistema de produção

(RASMUSSEN, 1986).

Dentro desse enfoque, três aspectos têm sido, geralmente, estudados: a

planificação pessoal do trabalho, as representações mentais de trabalho e os

raciocínios heurísticos do homem no trabalho.

a) A planificação pessoal do trabalho – O estudo das atividades de planificação

ocupa um lugar cada vez mais importante na análise das atividades em termos de

processos cognitivos. De fato o trabalhador deve possuir, além dos conhecimentos e

das competências a respeito das tarefas a serem executadas, capacidades para

planificar as atividades que ele irá desenvolver para atingir os objetivos de produção

estabelecidos, nas condições de trabalho existentes. A exemplo da regulação das

atividades, a planificação é variável segundo a flexibilidade de trabalho deixada para

o trabalhador.

A planificação pessoal do trabalho pode ser analisada a partir da análise das

suas diversas etapas que são a avaliação da tarefa, definição da tarefa e dos

procedimentos a serem empregados.

b) A representação mental da atividade de trabalho – as atividades de

planificação são elaboradas a partir de uma representação mental que o trabalhador

possui da estrutura do sistema de produção, de seus estados e de suas regras de

Page 118: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

99

funcionamento. Não se pode planificar uma operação de montagem mecânica de

uma instalação se não se tem uma representação dos estados intermediários e do

estado final desta instalação.

c) Os raciocínios heurísticos do homem no trabalho – na maioria das situações

de trabalho, os comportamentos desenvolvidos pelos trabalhadores são baseados

em habilidades e regras. Entretanto, em situações de resolução de problemas, o

trabalhador deve elaborar procedimentos através de raciocínios heurísticos. Cabe

ressaltar que, com a evolução tecnológica dos sistemas de produção, esta

solicitação do raciocínio é cada vez mais freqüente.

Uma situação de trabalho é, potencialmente, um conjunto de condicionantes,

isto é, um conjunto de cargas de trabalho de diversas naturezas: econômicas,

sociais, técnicas e organizacionais. Para a realização de uma determinada tarefa,

frente a essa situação, o homem coloca em funcionamento mecanismos de

adaptação e de regulação. O analista tem necessidade de conhecer em detalhe o

que permite (e o que dificulta) ao trabalhador desenvolver seu trabalho. Neste

sentido, ele é levado a descrever o conteúdo do trabalho.

2.2.8.4 Síntese ergonômica do trabalho

A partir da análise ergonômica de uma determinada situação de trabalho,

pode-se estabelecer uma síntese dos resultados, na forma de um diagnóstico

ergonômico e elaboração de um caderno de encargos de recomendações

ergonômicas.

Segundo FIALHO e SANTOS (1997), no diagnóstico ergonômico, todos os

dados levantados na análise ergonômica da situação de trabalho considerada são

reagrupados, confrontados uns com os outros, sintetizados e interpretados na forma

de síndromes ergonômicas. Estas síndromes se constituem em um conjunto de

sintomas e sinais que caracterizam um estado patológico, do ponto de vista

ergonômico, desta situação de trabalho.

Em sendo assim, o diagnóstico diz respeito às patologias do sistema homem-

tarefa que foi delimitado, dentro do qual intervêm fatores cuja natureza, modo de

influência e as possibilidades de transformação podem ser inferidos pelos

Page 119: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

100

conhecimentos em Ergonomia. É necessário aplicar o princípio da globalidade que

procura analisar a atividade humana tanto do ponto de vista fisiológico como do

ponto de vista psicológico.

A partir do diagnóstico estabelecido sobre as disfunções do sistema homem-

tarefa considerado, pode-se propor a redação de um caderno de encargos de

recomendações ergonômicas que permitam alcançar esta transformação. Este

caderno de encargos estabelecerá, de forma condensada, as diversas

especificações sobre a situação futura, tanto em termos ambientais como

organizacionais. Esta etapa constitui a razão de ser da Ergonomia.

A redação de um caderno de encargos em Ergonomia, segundo FIALHO e

SANTOS (1997), baseia-se em normas e especificações: as especificações são

levantadas a partir da análise ergonômica do trabalho. O diagnóstico de uma

situação de trabalho analisada permite estabelecer um conjunto de especificações

ergonômicas, relativas a:

a) decisões de base;

b) implantação geográfica dos postos de trabalho;

c) implantação geográfica dos operadores;

d) implantação e arranjo físico das zonas de intervenção;

e) documentação;

f) meio ambiente de trabalho;

Portanto, pode-se considerar o diagnóstico como o confronto da análise da

tarefa com a atividade com base na demanda.

2.2.9 Antropometria

Este item foi inserido neste capítulo para fornecer base técnico-científica sobre

Antropometria e aplicação dos dados antropométricos, os quais serão utilizados no

capítulo do Estudo de Caso. Além disso, serão utilizados nas recomendações

ergonômicas, para sugerir alterações na altura das bancadas dos postos de

trabalho, para propiciar maior conforto e segurança para seus operadores.

O termo Antropometria é de origem grega, segundo Velho Loureiro, Peres e

Pires Neto (apud PETROSKI, 1999, p. 10), sendo que Antropo identifica “Homem” e

Page 120: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

101

Metry significa “medida”. Para estes autores, a Antropometria serve para a

determinação objetiva dos aspectos referentes ao desenvolvimento do corpo

humano, assim como para determinar as relações existentes entre físico e

performance.

Segundo FRANÇA e VÍVOLO (1984) existem indícios de que a preocupação

em mensurar o corpo é antiga, pois já os egípcios dão informes antropométricos

curiosos, relacionados à proporção entre o todo e as partes do corpo. Com as

antigas civilizações da Índia, Grécia e Egito, iniciou-se o uso das dimensões

corporais como primeiro padrão de medida, quando então se tentava estabelecer as

proporções do corpo humano

Marco Polo, o navegador italiano, entre 1273 e 1295, constatou, em suas

diversas viagens pelo mundo, que havia significativas diferenças de estrutura e

tamanho corporal entre as diversas raças, povos e culturas existentes. Pode-se,

então, considerar que estas observações são as precursoras da Antropologia Física

(PETROSKI, 1999).

O início da Antropometria Científica, contudo, se deu quando Albrecht Durer

(1471-1528) publicou a obra “Four Books of Human Proportions”. Quase um século

depois, em 1628, Gerard Thibault analisou dimensões de um esgrimista com riqueza

de pormenores, utilizando a cabeça como índice para determinar proporcionalidade

(DE ROSE, 1984).

Acredita-se que, em 1659, o termo Antropometria foi utilizado pela primeira

vez em seu sentido contemporâneo, na tese de graduação do alemão Sigismund

Elsholtz. A tese intitulada “Antropometria – da mútua proporção dos membros do

corpo humano: questões atuais de harmonia”, foi inspirada nas leituras de Pitágoras

e Platão e na filosofia médica da época (BEUNEN e BORMS, MAIA e JANEIRA

apud PETROSKI, 1999).

Lambert Adolfhe Jaques Quetelet (1786-1874) é considerado o pai da

Antropometria Científica por ter aplicado, em 1841, métodos estatísticos nos estudos

dos serem humanos, abandonando padrões subjetivos e adotando a análise

científica (PETROSKI, 1999, p. 18).

A partir da década de 40, começou a haver a necessidade de medidas

antropométricas cada vez mais detalhadas e confiáveis, devido à necessidade de

Page 121: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

102

produção em massa. Como exemplo pode-se citar o projeto de um carro, já que um

dimensionamento de alguns centímetros a mais, sem necessidade, pode provocar

um aumento considerável nos custos de produção, se considerar a série de

centenas de milhares de carros produzidos. Um outro exemplo é o da indústria

aeroespacial, onde cada centímetro ou quilograma tem uma influência significativa

no desempenho e economia da aeronave.

Assim, segundo IIDA (1990), até a década de 40, as medidas antropométricas

visavam determinar apenas as grandezas médias da população, como pesos e

estaturas médias. Depois, passou-se a determinar as variações e os alcances dos

movimentos. Hoje, o interesse maior se concentra no estudo das diferenças entre

grupos e a influência de certas variáveis como etnias, regiões e culturas. Com o

crescente volume do comércio internacional, pensa-se hoje em determinar os

padrões mundiais de mediadas antropométricas.

Para OLIVEIRA (1998) um dos grandes desafios da ergonomia aplicada ao

trabalho é adaptar postos de trabalho e ferramentas à grande diversidade

morfológica das populações. Esse problema é mais crítico quando uma população é

composta por diferentes raças, como é o caso do Brasil.

Para a adaptação dos postos e ferramentas, a antropometria é usada para

determinar uma medição acurada dos diversos segmentos do corpo humano. Para

proporcionar uma boa postura e conforto nos postos de trabalhos, assim como

segurança e eficiência dos trabalhadores, é necessário que se tenha um

conhecimento prévio das medidas dos segmentos corporais dessa população.

2.2.9.1 Aplicação dos dados antropométricos

A melhor forma para se obter um posto de trabalho adequado é projetá-lo de

acordo com as medidas antropométricas dos trabalhadores que irão utilizá-lo.

Também muito importante nessa fase do projeto é o conhecimento detalhado das

atividades, bem como dos equipamentos que serão utilizados, pois só assim as

alturas e dimensões estarão corretas.

Page 122: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

103

2.2.9.2 Principais medições antropométricas estáticas

De acordo com PETROSKI (1999), as principais medições antropométricas

estáticas, realizadas na posição de pé. São:

- Estatura: é a distância vertical do chão ao ponto mais alto da cabeça (vértex),

tomado com a pessoa ereta e com os olhos dirigidos para frente.

Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática,

procurando pôr em contato com o instrumento de medida as superfícies posteriores

do calcanhar, cintura pélvica, cintura escapular e região occipital. A cabeça deve

estar orientada no plano de Frankfurt.

Posição do avaliador: em pé, ao lado direito do avaliado, se necessário subir

num banco para realizar a medida.

Procedimento: o cursor em ângulo de 90º em relação à escala, toca o ponto

mais alto da cabeça no final de uma inspiração. São realizadas três medidas,

considerando-se a média das mesmas como valor real da altura total. A cada

medida, pede-se para o avaliado sair e retornar à posição.

Utilidade: serve para determinar a altura mínima para portas e passagens.

- Altura do ombro: denominada também de altura acromial, é a distância vertical do

processo acromial ao chão.

Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braços

estendidos ao lado do corpo e com as palmas das mãos voltadas para a coxa.

Posição do avaliador: agachado, no lado direito do avaliado.

Procedimento: utiliza-se a fita métrica metálica com hastes, posicionando a

haste fixa no acrômio e conduzindo a haste móvel, em linha reta, até o chão.

Utilidade: serve para determinar a altura de alcance do braço na posição em

pé.

- Altura do cotovelo: denominada de altura radial, é a distância rádio ao chão.

Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braços

estendidos ao lado do corpo e com as palmas das mãos voltadas para a coxa.

Posição do avaliador: agachado, no lado direito do avaliado.

Procedimento: utiliza-se a fita métrica metálica com hastes, posicionando a

haste fixa no ponto proximal do rádio e conduzindo a haste móvel até o chão.

Page 123: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

104

Utilidade: serve para determinar a altura da bancadas para trabalhos

moderados.

- Altura do punho: é a altura estiloidal, é a distância estílio ao chão.

Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braços

estendidos ao lado do corpo e com as palmas das mãos voltadas para a coxa.

Posição do avaliador: agachado, no lado direito do avaliado.

Procedimento: utiliza-se a fita métrica metálica com hastes, posicionando a

haste fixa no ponto estiloidal e conduzindo a haste móvel até o chão.

- Altura da mão: é a altura dactiloidal, distância do dactílio ao chão. Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braços

estendidos ao lado do corpo e com as palmas das mãos voltadas para a coxa.

Posição do avaliador: agachado, no lado direito do avaliado.

Procedimento: utiliza-se a fita métrica metálica com hastes, posicionando a

haste fixa no dactílio e conduzindo a haste móvel até o chão.

- Altura da linha mamilar: é a distância vertical do 5º espaço intercostal, junto ao

osso esterno até o chão.

Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braços

estendidos ao lado do corpo.

Posição do avaliador: em pé, ao lado direito do avaliado.

Procedimento: utiliza-se a fita métrica metálica com hastes, posicionando a

haste fixa no 5º espaço intercostal, junto ao osso esterno e conduzindo a haste

móvel até o chão.

Utilidade: serve para determinar a altura da bancada para trabalhos leves.

- Altura do púbis: é a distância vertical do osso púbis ao chão.

Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braços

estendidos ao lado do corpo.

Posição do avaliador: agachado, no lado direito do avaliado.

Procedimento: utiliza-se a fita métrica metálica com hastes, posicionando a

haste fixa no púbis e conduzindo a haste móvel até o chão.

Utilidade: serve para determinar a altura da bancada para trabalhos pesados.

- Tamanho do braço: denominado também de comprimento do braço, é a distância

entre os pontos acromial e proximal do rádio.

Page 124: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

105

Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braço

flexionado ao lado do tronco num ângulo de 90º com o antebraço, e palma da mão

voltada para dentro.

Posição do avaliador: em pé, ao lado direito do avaliado.

Procedimento: utiliza-se o paquímetro ou uma fita métrica metálica com

hastes, posicionando a haste fixa na parte superior do acrômio e conduzindo a haste

móvel até a parte proximal do rádio.

Utilidade: serve para determinar a distância de alcance máximo na superfície

do trabalho (painéis, mostradores).

- Tamanho do antebraço: é o comprimento do antebraço, considerado como a

distância entre os pontos proximal do rádio e estílio.

Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braço

flexionado ao lado do tronco num ângulo de 90º com o antebraço, e palma da mão

voltada para dentro.

Posição do avaliador: em pé, ao lado direito do avaliado.

Procedimento: utiliza-se o paquímetro ou uma fita métrica metálica com

hastes, posicionando a haste fixa no ponto radial e conduzindo a haste móvel até o

estílio.

Utilidade: serve para determinar a distância de alcance ótimo na superfície de

trabalho.

- Tamanho da mão: é o comprimento da mão, é a distância entre os pontos do

estílio e dactílio.

Técnica de mensuração: Posição do avaliado: em posição ortostática, braço

flexionado ao lado do tronco num ângulo de 90º com o antebraço, e palma da mão

voltada para dentro.

Posição do avaliador: em pé, ao lado direito do avaliado.

Procedimento: utiliza-se o paquímetro ou uma fita métrica metálica com

hastes, posicionando a haste fixa no estílio e conduzindo a haste móvel até o

dactílio.

Utilidade: serve para dimensionar ferramentas e tamanho de luvas.

No estudo de caso do capítulo seguinte serão utilizadas as medidas acima

citadas.

Page 125: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

106

Existem ainda outras medidas antropométricas estáticas que seriam altura dos

olhos, do mento, da mão, do joelho, do umbigo, sendo que todas estas medidas

devem ser feitas desde o ponto de referência até o chão e cada uma tem a sua

finalidade e contribuição para o dimensionamento dos postos de trabalho.

Page 126: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

107

CAPÍTULO 3 ESTUDO DE CASO: ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO EM

UMA EMPRESA DE REVESTIMENTOS CERÂMICOS

O estudo de caso foi realizado no setor de Classificação de azulejos de uma

Indústria de Revestimentos Cerâmicos na Região Metropolitana de Curitiba.

Optou-se por este setor devido a um maior número de queixas de dor e

desconforto osteomusculares relacionadas ao trabalho apresentadas no Ambulatório

da empresa e para avaliar as reais condições de trabalho deste local.

3.1 Procedimentos metodológicos

A metodologia utilizada no estudo do setor escolhido foi a Análise Ergonômica

do Trabalho, seguindo o que preconiza FIALHO e SANTOS (1997), abordando as

distintas fases já explicitadas no capítulo 3, que são: Análise da demanda, da tarefa

e análise das atividades, seguida do diagnóstico e recomendações, visando

promover uma transformação da situação do trabalho.

Este modelo metodológico permitiu evidenciar as condições de execução do

trabalho no local estudado e suas conseqüências para a saúde dos indivíduos.

Os procedimentos adotados foram os seguintes:

a) Entrevistas com pessoas envolvidas diretamente com o setor, como

supervisores e líderes de produção, médico e enfermeiro do trabalho, técnicos

de segurança, trabalhadores, o que permitiu uma compreensão inicial dos

problemas existentes e do trabalho realizado;

b) Observações abertas e sistemáticas das atividades de trabalho e principais

dificuldades;

c) Registro das atividades de trabalho em vídeo e através de fotos, como

instrumento de consulta dos dados coletados das observações em campo;

d) Elaboração e aplicação de questionário aos trabalhadores, utilizando amostra

casual simples, definidas por sorteio, através de perguntas abertas e

fechadas, que permitiram evidenciar as dificuldades e queixas encontradas no

Page 127: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

108

desempenho do trabalho e permitiu confrontar os problemas apontados pelos

trabalhadores com os dados obtidos através das observações sistemáticas. O

questionário aborda também fatores extra-ocupacionais como serviço em

casa, se tem filhos pequenos (esforço de carregá-los no colo),

relacionamento, tensão e satisfação. O modelo do questionário está colocado

como anexo;

e) Realização do levantamento antropométrico dos funcionários do setor e do

mobiliário, e colocado dados no Programa de Estatística Aplicada - DocEstat

da Editora Ergo, que forneceu o cálculo dos percentis desejados;

f) Avaliação das medições de Ruído do PPRA, realizadas da seguinte forma: o

medidor de nível de pressão sonora – Dosímetro Q-300 da marca Quest, foi

colocado na altura do ouvido do trabalhador (zona auditiva), no seu posto de

trabalho, e mantido por 75% da jornada de trabalho. Avaliação da aferição e

iluminamento ambiental, através do Luxímetro, Metroux 3, da Metrawatt,

colocado no campo de trabalho e repetido a leitura após 10 minutos;

g) Avaliação dos dados e elaboração do diagnóstico da situação de trabalho.

3.2 Apresentação

O estudo de caso foi realizado em Indústria de Revestimento Cerâmico no

Paraná, fundada em 1954.

O produto final principal desta empresa é o azulejo, que deriva do árabe

“azullavcha”, que significa “pequena pedra cintilante”, designando uma placa de

barro cozido, de forma regular, com uma das faces vidradas que lha dão cor e brilho.

O azulejo fabricado nesta empresa é um produto cerâmico, constituído de um

biscoito poroso, tendo em uma das faces o esmalte/vidrado, com motivos decorados

ou não. Este produto confere uma série de características, tais como:

impermeabilidade, durabilidade, resistência ao calor e a raios ultravioletas, entre

outras.

Devido à diversificação dos formatos e investimentos na qualidade do design,

a função inicial de impermeabilizar paredes foi sendo substituída pela função

decorativa dos revestimentos cerâmicos.

Page 128: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

109

O Fluxograma da fabricação de azulejos é o seguinte:

A matéria-prima que inclui uma variedade grande de argila, xisto e feldspato

são misturados com água em um misturador (moinho) para formar uma suspensão

aquosa. Esta solução passa por uma câmara de spray, que a pulveriza em

pequenas partículas, em seguida são conformadas despejando este material em um

molde e prensando a seco, a peça passa por uma queima a 1.100ºC. Após a

queima, a parte tosca é rebarbada através de lixas de polimento, em seguida recebe

a esmaltação (decoração) e passa pelo forno a 1.000ºC para secar acabamento e

vai para classificação e expedição dos produtos.

Abaixo, verifica-se o fluxograma resumindo do processo de produção:

Matéria Prima Preparação Massa Prensagem

Secagem 1ª Queima Esmaltação

Figura 4 - Fluxograma do processo de produção de revestimentos cerâmicos.

ClassificaçãoExpedição

2ª Queima

(Fonte: Gerência Industrial)

O trabalho de análise ergonômica foi realizado de abril a junho de 2001 e

complementado com novos dados no final de 2002.

Como já mencionado, a pesquisa foi desenvolvida em uma Indústria de

Revestimentos Cerâmicos, na Região Metropolitana de Curitiba, e o foco do estudo

foi o setor de Classificação, onde basicamente os azulejos são retirados dos

vagonetes, selecionados que, após descartar as peças que estão com defeitos, as

de boa qualidade são colocados em caixas e estas depositadas sobre a esteira

rolante. Portanto, este setor localiza-se no final do processo produtivo, sendo

seguido apenas da expedição.

Page 129: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

110

3.3 Análise ergonômica do trabalho

3.3.1 Demanda

Avaliação e readequação do posto de trabalho do Setor de Classificação. A

origem da demanda baseia-se no aumento de queixas de dores em membros

superiores e coluna, com alguns casos de doenças reconhecidas pelo INSS através

de Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT), absenteísmo e aumento da

procura por sessões de fisioterapia pelos funcionários deste setor.

A formulação da demanda partiu da direção da empresa com objetivos de

prevenção de novos casos de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho,

fornecendo melhores condições laborais aos seus funcionários e evitando o passivo

ocupacional.

Este estudo de caso se concentrou mais nos fatores biomecânicos e não

tanto nos aspectos psicológicos e sociais dos portadores de LER/DORT, apesar de

considerá-los de grande relevância na etiologia destes distúrbios.

A metodologia utilizada foi estruturada através de visitas à empresa,

entrevistas e questionários com os funcionários, entrevistas com supervisores e

líderes de produção, realizada a mensuração do mobiliário. Realizada, ainda, a

filmagem juntamente a registros fotográficos considerando os problemas de saúde,

Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e Programa de

Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). Após isso, foram realizadas as análises

do material e recomendações.

3.4 Análise da tarefa

Análise das condições dentro das quais o trabalhador desenvolve suas

atividades de trabalho prescrito.

Na visão da Ergonomia, um sistema é um conjunto de componentes: homem,

tecnologia, organização e meio ambiente de trabalho, dinamicamente relacionados

em uma rede de comunicações, formando uma atividade, para atingir um objetivo,

agindo sobre sinais, energia e matérias-primas, para fornecer informação, energia ou

Page 130: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

111

produto. Nesta análise, na entrada estão a matéria-prima, os azulejos a serem

classificados e, na saída, o produto final os azulejos já embalados e prontos para a

comercialização.

O sistema homem-tarefa visa uma abordagem sistêmica dos homens e

máquinas, ou seja, não compreende só as máquinas, mas também as condições

organizacionais e ambientais do trabalho.

3.4.1 Delimitação do sistema homem-tarefa

- Missão do Sistema - Cooperar no sucesso dos clientes no mercado de

produtos para a construção, vantagem competitiva e agregando valor em tudo o

que se faz.

- Visão - Prover produtos e serviços que vão ao encontro das necessidades dos

clientes, oferecendo oportunidades de carreira, aperfeiçoamento aos

colaboradores e cooperando nas comunidades onde atua como empresa

integrante da companhia global.

- Valores - Ética -Comprometimento - Inovação contínua - Espírito de equipe –

Dinamismo

- Política da Qualidade - Satisfazer no dia a dia as expectativas de nossos

clientes. Atender as exigências das normas internacionais sobre produtos.

Orientar todos os processos e colaboradores na construção da excelência.

- Objetivo do Setor - Dispor os produtos para os clientes de acordo com os

padrões de qualidade e tonalidade.

As fontes destas informações são das diretrizes de Gerência e Diretoria da

empresa.

3.4.2 Perfil do sistema

- Retirar azulejos dos vagonetes;

- Classificar os azulejos e descartar os com defeitos; - Colocar as peças dentro de caixas; - Identificar produto e funcionária que o classificou;

Page 131: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

112

- Depositar as caixas nas correias transportadoras.

3.4.3 Normas

- Classificar os azulejos conforme amostra padrão e orientação do líder de

classificação;

- Usar equipamentos de proteção individual (EPI´s) determinados pelo

Departamento de Segurança do Trabalho que são: protetor auricular tipo plug de

inserção em silicone, modelo pomp plus,da 3M, com NRR 21 dB(A) – C.A. 5745,

luva de látex, calçado de segurança, uniforme;

- Existe um controle de qualidade por amostragem que abre as caixas,

identificadas com o carimbo com código individual e verifica como está a

qualidade da classificação e compara com a padronização, cuja meta é de 3%

de C, no “A” e 1% de A no comercial. Sendo tipo A – azulejos de primeira linha e

tipo C – Segunda linha ou comercial.

A cada 100 peças do produto são abertas caixas aleatoriamente das

funcionárias e verifica-se a qualidade da classificação que, até 3% de C no A, é

aceitável. Se o resultado for acima, conversa-se com a funcionária orientando-a.

Entretanto, se for acima de 5% de C no A retreina-se a mesma, colando num painel

um conjunto de 100 peças e mistura 10 tipo C no A e pede para ela classificar para

verificar se apresenta dificuldade ou errou por distração. Quando se encontra por

duas vezes acima de 5% é aberto relatório de não conformidade e é reclassificado

novamente todo o produto.

Page 132: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

113

3.4.4 Hierarquia do sistema

Figura 5 – Organograma do Setor de Classificação

Diretoria Industrial

01 Gerente

01 Chefe de Classificação

01 Líder de Classificação

05 Ajudantes

122 Funcionários

3.4.5 Função auxiliar de produção na classificação

Foto 1 – Demonstra as atividades da Auxiliar de produção da Classificação.

Existem 02 setores de classificação em cada extremo da fábrica. No lado

direito, foco deste estudo, encontram-se 04 linhas de produção com 08 funcionárias

cada, trabalhando 32 pessoas por turno.

Page 133: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

114

O lado esquerdo também possui 04 linhas de produção mas cada qual com

10 funcionárias, no total de 40 trabalhadoras por turno.

Portanto, na mesa de Classificação, trabalham 122 funcionárias e 22

temporários, e uma vez por semana, fazem rodízio para retirar as quebras, ou seja,

as peças com defeito de todas as mesas e levam este material para caçamba

colocada no lado de fora do galpão, ainda, levam caixas para as funcionárias das

mesas de classificação.

Existem mais 09 funcionárias que trabalham fora da mesa, realizando serviço

de montar caixas, abastecer as linhas com caixas de papelão, colar etiquetas nas

embalagens e classificar acessórios, que são peças pequenas e num ritmo de

trabalho mais lento, onde são alocadas as funcionárias com restrições.

Outros 03 funcionários recolhem as caixas prontas e empilham em pallets e,

após, deslocam os pallets com paleteiras manuais para o final da linha de produção

para serem retirados pelos operadores de empilhadeira. Uma pessoa por turno

amarra o suporte, deixando fixas as caixas já colocadas nos pallets.

3.4.6 Função auxiliar de produção – Mesa de classificação

Foto 2 – Atividades da Auxiliar de produção na mesa de Classificação

Neste setor encontram-se padrões internos que estabelecem a tarefa

prescrita e orienta as atividades da seguinte forma:

Page 134: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

115

- Verificar a amostra recebida onde constam as informações inerentes ao produto

tais como: tipo de classificação, nome do produto e tonalidade.

- Retirar com luvas apropriadas, as peças dos vagonetes (entre 2 a 8 peças cada

vez);

- Comparar com amostra padrão identificada;

- Separar qualidade de acordo com o tipo de classificação especificado na

amostra;

- Classificar conforme painel de defeitos e orientação do Líder de classificação;

- Colocar as peças em pilhas por qualidade, podendo colocar as peças

diretamente dentro das caixas;

- Pegar embalagens etiquetadas e encaixotar o revestimento;

- Carimbar as caixas com o código individual;

- Colocar as caixas nas correias transportadoras para paletização.

3.4.7 Os funcionários

Os funcionários são registrados como Auxiliares de produção e se distribuem

nos seguintes horários:

• Primeiro turno: ⇒ 2ª à 6ª feira das 6:00 às 14:00 horas.

Sábado das 6:00 às 10:00 horas.

• Segundo turno: ⇒2ª à 6ª feira das 14:00 às 22:00 horas.

Sábado das 10:00 às 14:00 horas.

• Horário normal: ⇒2ª à 6ª feira das 7:12 às 17:00 horas.

Os mesmos têm 30 minutos para realizar as refeições conforme acordo

coletivo com o Sindicato e aprovado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

3.4.8 Antropometria

Foram realizadas as medidas em 92 funcionários sendo 86 mulheres e 6

homens. As medidas foram: estatura, altura do ombro, cotovelo, punho, mão, linha

mamilar, púbis em relação ao chão e tamanho do braço, antebraço e mão e podem

ser mais bem observadas na tabela em questão:

Page 135: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

116

Tabela 10 – Medidas antropométricas dos funcionários

Percentis Desejado

ALTURA

Altura Ombro

Altura Cotovelo

Altura Punho

Altura Mão

Linha Mamilar

Altura Púbis

Tamanho Braço

Tamanho Antebraço

Tamanho Mão

5 149,50 123,00 92,00 73,00 57,00 107,00 78,00 30,00 24,00 15,50

20 156,00 127,00 96,00 76,00 60,00 112,00 82,00 31,50 25,00 16,50

50 161,50 132,00 101,00 79,00 62,00 116,00 84,00 33,00 26,00 17,00

80 167,00 137,00 103,00 82,00 64,00 121,00 88,00 35,00 28,00 18,50

95 170,00 141,00 106,00 86,00 68,00 124,00 92,00 37,00 30,00 19,50

Foi realizado o levantamento antropométrico dos funcionários deste setor

para comparar com a altura da bancada e correia transportadora, isto é, para se

verificar se o posto de trabalho está adaptado às características físicas dos

empregados. Segundo Grandjean (1998), para um trabalho eficiente, é

imprescindível a adaptação do local de trabalho às medidas do corpo humano e,

para tanto, devem ser levantadas as medidas antropométricas.

3.4.9 Sexo

• Feminino – 105 pessoas equivale a 86,07%.

• Masculino – 17 pessoas equivale a 13,93%.

Segundo Carneiro (1998), como já citado no perfil do trabalhador com

LER, esta estatística ratifica seu parecer em que as mulheres são mais

acometidas por LER/DORT, pelo fato de existir maior presença feminina nas

funções que predominam movimentos repetitivos e acelerados, Ademais, é onde

o desgaste físico e psíquico pode ser observado em maior intensidade em

relação aos postos ocupados por trabalhadores do sexo masculino.

Nesta empresa as mulheres são mais acometidas que os homens, pois na

revisão das Comunicações de Acidente de Trabalho (CAT), não foi encontrada

nenhuma CAT deste setor aberta para funcionário do sexo masculino.

3.4.10 Idade

A idade varia de 20 anos e 1 mês até 51 anos e 1 mês, assim distribuídos:

Page 136: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

117

Tabela 11 – Idade dos funcionários

Faixa etária Número de pessoa Porcentagem 20 a – 25 a

26 a - 30 a

31 a – 35 a

36 a – 40 a

41 a – 45 a

> 46 a

38

17

25

35

07

04

30,16%

13,50%

19,84%

27,78%

5,55%

3,17%

TOTAL 126 100%

A faixa etária com maior concentração de funcionários é a de 20 a 25 anos

(30,16%), seguida da faixa de 36 a 40 anos (27,78%) e, em terceiro lugar, os

funcionários de 31 a 35 anos (19,84%).

Portanto, é uma população jovem, que representa a mão-de-obra

trabalhadora neste setor, com grande capacidade produtiva, mas exposta ao

risco dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/DORT).

As estatísticas do NUSAT do período de 1994 a 1996 revelaram que entre

os 20 e 39 anos se concentram 70% dos casos de LER/DORT em Minas Gerais,

coincidindo com a maior concentração de trabalhadores nesta faixa etária.

3.4.11 Qualificação profissional

Cada novo funcionário na mesa de classificação recebe um treinamento

de vinte dias no qual é acompanhado por funcionários de maior experiência

durante toda a jornada.

Inicialmente, o funcionário novo apenas observa os movimentos de

descarregar os vagonetes e classificar, após alguns dias começa a realizar as

atividades com orientação do colega. Em geral, as novas admissões são

efetuadas pela Empresa após um período experimental em uma empresa de

terceirização de serviços que varia de três à seis meses e conforme a demanda

do produto no mercado.

O nível de escolaridade exigido é de 1º grau.

Page 137: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

118

3.4.12 Tempo de empresa

O tempo de empresa varia de 3 meses e 25 dias a 22 anos e 2 meses.

Tabela 12 – Tempo de empresa

Tempo de empresa Número de pessoa Porcentagem 3 m – 11 meses

1 a – 5 a

6 a – 10 a

11 a – 15 a

16 a – 20 a

> 21 a

05

75

12

21

11

02

3,97%

59,52%

9,52%

16,67%

8,73%

1,59%

TOTAL 126 100%

Nota-se que este setor dispõe de 59,25% de funcionários com 1 a 5 anos de

Empresa e 85,71% está concentrado entre 1 a 15 anos de trabalho, somente

10,32% de funcionários trabalhando acima de 16 anos.

Portanto, a maioria dos funcionários é jovem e com pouco tempo de trabalho.

3.4.13 Remuneração em 2001 e 2002

A faixa salarial era de R$ 468,65, que estaria enquadrado na faixa entre 2 a 3

salários mínimos. Segundo dados do NUSAT, esta faixa comportava 20,26% dos

trabalhadores atendidos naquele centro em 1995, já em 1996 houve aumento dos

acometidos nesta faixa salarial.

3.4.14 Absenteísmo devido distúrbios osteomusculares

Tabela 13 – Absenteísmo

ANO 2001 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho

Horas trabalhadas 137.744 141.396 147.166 134.806 144.009 141.133

Horas de Atestado Fábrica 1.076 516 885 484 907 842

% Horas de Atestados Fábrica 0,78% 0,36% 0,60% 0,36% 0,63% 0,60%

Horas trabalhadas na Classificação 23.057 23.397 24.048 21.443 22.337 21.925

Page 138: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

119

Horas de Atestado na Classificação 203 208 270 58 66 72

% Horas de Atestados na Classificação 0,88% 0,89% 1,12% 0,27% 0,30% 0,33%

% Horas de Atestados da Classificação

X Horas Atestados Fábrica 18,9% 40,3% 30,5% 12,0% 7,3% 8,6%

Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

Horas trabalhadas 138.616 148.863 137.375 139.256 135.968 132.032

Horas de Atestado Fábrica 606 910 368 472 487 136

% Atestados Fábrica 0,44% 0,61% 0,27% 0,34% 0,36% 0,10%

Horas trabalhadas na Classificação 21.567 24.417 23.741 24.869 24.337 24.010

Horas de Atestado na Classificação 132 208 112 107 172 92

% Atestados na Classificação 0,61% 0,85% 0,47% 0,43% 0,71% 0,38%

%Atestados da Classificação X

Atestados Fábrica 21,8% 22,9% 30,4% 22,7% 35,3% 67,6%

ANO 2002 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho

Horas trabalhadas 151.933 158.725 155.557 169.292 155.732 163.573

Horas de Atestado Fábrica 806 629 837 812 501 684

% Horas de Atestados Fábrica 0,53% 0,40% 0,54% 0,48% 0,32% 0,42%

Horas trabalhadas na Classificação 24.526 25.286 24.649 26.411 23.037 24.406

Horas de Atestado na Classificação 40 184 336 112 80 136

% Horas de Atestados na Classificação 0,16% 0,73% 1,36% 0,35% 0,56%

% Horas de Atestados da Classificação

X Horas Atestados Fábrica 5,0% 29,3% 40,1% 13,8% 16,0% 19,9%

Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

Horas trabalhadas 167.036 162.428 150.056 149.916 149.628 135.387

Horas de Atestado Fábrica 364 735 309 311 687 530

% Atestados Fábrica 0,22% 0,45% 0,21% 0,21% 0,46% 0,39%

Horas trabalhadas na Classificação 24.783 25.197 21.622 20.961 20.687 20.068

Horas de Atestado na Classificação 112 344 56 48 88 104

% Atestados na Classificação 0,45% 1,37% 0,26% 0,23% 0,43% 0,52%

%Atestados da Classificação X

Atestados Fábrica 30,8% 46,8% 18,1% 15,4% 12,8% 19,6%

0,42%

Em 2001, na Fábrica, foram trabalhados no total 1.678.364 e em 2002 foram

1.869.263 – uma diferença de 190.899 horas, que representa 10,21%.

Page 139: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

120

Em 2001, na Classificação, foram trabalhadas 279.148 horas e em 2002, um

total de 281.633, uma diferença entre os dois anos de 2.485, que representa 0,8%.

Portanto, o aumento de número de horas trabalhadas na classificação representou

1,3% em relação às horas da fábrica.

A porcentagem de horas de atestados na classificação em relação às horas

trabalhadas variou de 0,27 a 1,12%, em 2001, e em 2002 variou de 0,16 a 1,37%

por mês.

Nota-se, também, que em 2001, a média de porcentagem de atestados da

classificação em relação aos atestados da fábrica foi alta, sendo que em dezembro

representou 67,6% dos atestados da fábrica, em fevereiro 40,3%, novembro 35,3%,

março 30,5%, setembro 30,4%.

Em 2002, estes índices também se mantiveram elevados, mas com picos

menores como 46,8% em agosto, 40,1% março, 30,8% julho e 29,3% em fevereiro.

Portanto, pode-se concluir que os atestados da classificação foram responsáveis por

grande parte do absenteísmo devido distúrbios osteomusculares na fábrica nos anos

de 2001 e 2002.

3.4.15 Custos com tratamento de funcionários com queixas iniciais de

dor em membros superiores e dos casos já diagnosticados de

LER/DORT, incluindo fisioterapias, acupuntura e medicamentos

Abaixo apresenta-se a tabela 14 para demonstrar os custos com tratamento

de funcionários, nos anos de 2001 e 2002.

Tabela 14 – Custos anos 2001 e 2002

ANO 2001

Custos/ Meses Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho

Fisioterapia 130,2 238,7 43,4

Acupuntura 75 150 180 260

Medicamentos 198,32 24,55 121,4 33,15 57,35 110,61

Exames 134,86 63,82 118,13

Total 538,38 477,07 419,53 293,15 100,75 110,61

Page 140: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

121

Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

Fisioterapia 82,4 43,4 43,4

Acupuntura 80 180 80

Medicamentos 59,87 120,29 17,8 19,63

Exames 102,84

Total 139,87 305,53 223,4 97,8 19,63 43,4

Total = 2.769,12

ANO 2002

Custos/ Meses Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho

Fisioterapia 78,12 34,72 34,72 78,12 56,42 78,12

Acupuntura 240

Medicamentos 51,17 107,02 83,98 63,52

Exames 201,7 54

Total 570,99 34,72 34,72 239,14 140,4 141,64

Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

Fisioterapia 34,72 121,52 34,72 34,72 34,72 34,72

Acupuntura 80 180 80

Medicamentos 17,69 308,48 55,64 43,41

Exames 273,39

Total 132,41 703,39 214,72 170,36 78,13 34,72

Total: 2.495,34

No Ano de 2001, o custo de fisioterapias, acupuntura, medicamentos e

exames foi de R$ 2.769,12 e no Ano de 2002 R$ 2.495,34.

Portanto, somente em dois anos, foram gastos neste setor R$ 5.264,46. Um

valor alto, uma vez que não foi utilizado para investimentos ou melhoria das

condições de trabalho e por isso, não se pode esperar um retorno deste montante,

apenas mais prejuízo se as LER/DORT não evoluírem de forma satisfatória para a

regressão dos sintomas. Mas neste valor não estão incluídos alguns custos

indiretos, mais difíceis de calcular, como a redução da produtividade do setor,

aumento do absenteísmo médico, treinamento de substitutos na função, custos com

processos trabalhista e cível e das indenizações.

Page 141: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

122

Esta empresa, atualmente, está com doze processos aguardando julgamento

na Justiça e, destes, cinco são de ex-funcionários do setor e quatro alegando

LER/DORT e pedindo vultuosas indenizações. Portanto, a classificação contribui

com 41,67% dos processos da fábrica.

3.4.1.6 Estadiamento/Classificação das LER/DORT

Em 2002, foi realizado uma revisão dos prontuários médicos dos funcionários

da Classificação e outros setores da Fábrica com queixas osteomusculares de

membros superiores relacionados ao trabalho, que fizeram consultas no Ambulatório

por este motivo.

Em seguida, utilizou-se a classificação da Norma Técnica do INSS de 1993 e

a Classificação de BROWNE et al. (1984), já apresentadas no capítulo 2 para

estadiamento das LER/DORT, para poder se dividir os casos em graus e estágios

respectivamente, como se pode observar abaixo:

Tabela 15 – Estadiamento/Classificação

Classificação INSS

Classificação Browne et al.

Grau I – 3 casos

Grau II – 2 casos

Grau III – 3 casos

Grau IV – não houve casos

1º Estágio – 3 casos

2º Estágio – 2 casos

3º Estágio – 3 casos

No total ocorreram 08 casos de LER/DORT no setor de classificação em

2002, divididos em graus e estágios conforme demonstrado acima.

O total em todos os outros setores da fábrica foi de 13 casos, com a seguinte

distribuição:

Page 142: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

123

Tabela 16 – Estadiamento/Outros Setores

Classificação INSS

Classificação Browne et al.

Grau I – 4 casos

Grau II – 6 casos

Grau III – 3 casos

Grau IV – não houve casos

1º Estágio – 4 casos

2º Estágio – 6 casos

3º Estágio – 3 casos

Observa-se um número alto de casos na classificação em relação a todos os

outros setores da fábrica.

Porém, pode-se notar que houve maior gravidade nos casos dos outros

setores da fábrica, com maior número de casos nos graus II e III e no 2º estágio pela

classificação do INSS e BROWNE et al. (1984), respectivamente.

3.4.17 Levantamento do número de Comunicações de Acidentes de

Trabalho emitidas por Doença Ocupacional, devido LER/ DORT

Constata-se que nos últimos 06 anos, os números de CAT foram

assim distribuídos: - 1997 – 6 CAT (Sendo 1 reabertura e 5 CAT da Classificação)

- 1998 - 1 CAT

- 1999 – 2 CAT (Sendo 1 de reabertura e da Classificação)

- 2000 – 6 CAT (Sendo 3 da Classificação)

- 2001 – 2 CAT (Sendo 1 da Classificação)

- 2002 – 02 CAT No total, houve 19 Comunicações de Acidentes de Trabalho – CAT. Do setor

de Classificação, foram 10 o que representa 52,63% das Comunicações de Doenças

Ocupacionais devido às LER/DORT.

Este número demonstra que o setor de Classificação contribui de forma

significativa para elevar as estatísticas de Doenças Ocupacionais da Fábrica.

Page 143: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

124

3.4.18 Funcionários com restrições

Funcionários com restrições, ou seja colocados em outra função de menor

esforço e sem repetitividade, para recuperação de dores ou distúrbios

osteomusculares relacionados ao trabalho, são funcionários que normalmente

produzem menos. Entretanto, constam na lista de setor como funcionários ativos.

- Classificação 2001 – 16 funcionários, sendo 8 acima de 20 dias.

(Representando 39% dos funcionários com restrições em 2001)

2002 – 13 funcionários, sendo 11 acima de 20 dias.

(Representando 28,9% dos funcionários com restrições em

2002, porém aumentou o tempo de afastamento acima de 20 dias se comparado

com 2001)

- Acima de 20 dias são considerados afastamentos mais longos.

- Outros setores 2001 – 25 funcionários, sendo 10 acima de 20 dias.

2002 – 32 funcionários, sendo 17 acima de 20 dias.

Portanto, observa-se um número significativo de funcionários com restrições

na classificação, em comparação com os demais setores da Fábrica.

Estrutura Geral do Setor de Classificação

Foto 3 - No primeiro plano estão as mesas de classificação e ao seu lado a

correia transportadora (que se eleva a partir da 4ª mesa) e ao fundo os vagonetes

(de onde são retirados os azulejos para classificar).

Page 144: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

125

3.4.19 Dados referentes ao meio ambiente

Este setor está localizado dentro de um galpão industrial, com altura variando

de 08 a 10 metros, com telhas de fibrocimento.

Possui ventiladores aeólicos e ventiladores individuais em cada mesa. A

iluminação natural se faz através das telhas translúcidas, portas e janelas, porém as

últimas não estão dispostas próximo deste setor e iluminação artificial no teto e

sobre as mesas de classificação, o nível de iluminação sobre as mesas é de 600 lux.

O nível equivalente de ruído é de 83.6 dB(A), o ruído é proveniente do manuseio dos

azulejos e tem ruído de fundo de outras máquinas como a das prensas. Portanto,

está acima do nível de ação e abaixo do limite de tolerância.

Os funcionários trabalham com as mesas perpendiculares à esteira rolante e

aos vagonetes, cada linha apresenta 08 mesas, com as seguintes alturas:

Variantes/Mesas 1ª Mesa 2ª Mesa 3ª Mesa 4ª Mesa

Altura da mesa de trabalho

Altura do tablado ao chão

Altura da correia

Largura da correia

Distância da luz à superfície

de trabalho

Distância da mesa ao

vagonete

84.5 cm

54.5 cm

88 cm

31 cm

105 cm

43 cm

79 cm

55,5 cm

68,5cm

32,5 cm

110 cm

45 cm

78,5 cm

55,5 cm

65,5cm

32,5 cm

116 cm

46 cm

78,5 cm

55,5 cm

68,5 cm

31,5 cm

110 cm

40 cm

Foto 4 – Visão geral das primeiras mesas Foto 5 – Elevação da

de classificação com plataforma correia ao lado das mesas

Page 145: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

126

Variantes/Mesas 5ª Mesa 6ª Mesa 7ª Mesa 8ª Mesa

Altura da mesa de trabalho

Altura da correia

Largura da correia

Distância da luz à superfície

de trabalho

Distância da mesa ao

vagonete

(Não apresentam tablado)

86,5 cm

103 cm

31,5 cm

105 cm

38 cm

81,5 cm

84,5 cm

31,5 cm

112 cm

38 cm

81 cm

85,5 cm

31,5 cm

120 cm

42 cm

82,2 cm

85 cm

31,5 cm

115 cm

45 cm

Foto 6 – Mesas de classificação mais baixas, sem tablado

Em dezembro de 1999, um fisioterapeuta fez avaliação do setor e sugeriu

algumas modificações, como: elevar a altura das mesas auxiliares nas quais eram

colocadas as caixas vazias, que antes eram 40-45 cm mais baixas, o que forçava as

funcionárias a fazer flexão da coluna, cada início do ciclo. Conforme sua

recomendação, as mesas de classificação foram aproximadas dos vagonetes, para

facilitar o descarregamento. Foi sugerido, também, aumentar a altura da correia de

0,67 para 0,80m em toda sua extensão (o que foi atendido em parte, conforme

medidas anteriores e criticado pelas empregadas que sentiram mais lombalgia ao ter

que elevar a caixa para depositá-la sobre a correia transportadora). E, na parte

central das mesas de classificação, colocou as funcionárias que tinham altura entre

Page 146: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

127

1,64 e 1,70m e elevou a altura dos tablados e das mesas em 12 cm e orientou as

funcionárias a pegarem as peças da porção intermediária dos vagonetes.

Nas mesas mais altas, distribuiu as funcionárias com estatura acima de 1,70m

e elevou a altura das mesas em 16 cm e do tablado em 12cm, para alcançarem os

azulejos na parte superior dos vagonetes, sem excessiva sobrecarga de membros

superiores. Após estas modificações, fez-se um questionário (o qual será

demonstrado no final deste capítulo), demonstrando a opinião das funcionárias deste

setor a respeito das mudanças.

3.4.20 Entrada

A matéria-prima vai se transformar em azulejos que são produzidos em vários

formatos, sendo os principais 15 X 15 cm, 15 X 20 cm, 20 X 25 cm, 20 X 30 cm, 11 X

11 cm e trims que são peças de acabamento com diversos tamanhos, dentre elas

está: 3 X 10, 3 X 8, 6 X 2, que são retirados dos vagonetes e classificados pelas

funcionárias.

Durante a jornada de trabalho podem ser produzidos vários formatos,

conforme a demanda do mercado mas, normalmente, pelo menos dois tipos

diferentes são selecionados na mesma linha de produção. Cada vagonete transporta

800 unidades e cada funcionária descarrega 4 “casão” ou 4 “casão e meio”, o que

equivale a 96 a 100 peças.

Foto 7 - Diversos formatos de azulejos e acessórios

Page 147: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

128

3.4.21 Saída

Azulejos já selecionados, conforme padrão de qualidade, são colocados em

caixas e estas depositadas sobre a esteira rolante.

3.4.22 Entrada das informações

Comparar peças com amostra padrão identificada que é distribuída para

funcionárias na mesa de classificação a cada troca de formato de peças.

Existe um critério de classificação - Tipo “A” e comercial

A- peças tipo exportação. C- peças de 2ª linha (comercial).

3.4.23 Postura para a execução da tarefa

Posição ortostática sem intercalar com a posição sentada, faz a rotação

lateral do tronco para pegar as peças dos vagonetes, retorna à posição neutra da

coluna lombar quando está classificando as peças, mas realiza a flexão da coluna

cervical.

Fotos 8 e 9 – Observa-se posição da coluna e ombros abduzidos.

Realiza a seguinte seqüência de movimentos com os membros superiores:

Page 148: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

129

Pegar um conjunto de azulejos com preensão interdigital, com membro superior

direito fletido acima e em alguns casos abaixo do nível do ombro; o antebraço em

pronação.

Foto 10 – Notar posição dos dedos para pegar os azulejos e pronação do punho

Os azulejos são colocados sobre a palma da mão esquerda ente 8 a 12

peças.

Fotos 11 - Demonstra a posição do punho exigida na função e a sustentação da

pilha de azulejos com a mão esquerda

Page 149: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

130

Com a mão direita, estes azulejos são retirados da pilha, um a um, verificando

defeitos e os seus bordos, com movimentos de flexo-extensão rápidos de punho

direito associado à leve desvio ulnar e pronossupinação de antebraço direito.

Pode-se notar que a mão esquerda sustenta o peso da pilha de azulejos a ser

classificados (esforço estático).

Foto 12 – Observar posição de pinça pulpar mão direita

(preensão do polegar com outros dedos)

Foto 13 – Final do movimento de pronação do antebraço direito

Gira as peças para observar se existem defeitos, com flexo-extensão de

punhos.

Page 150: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

131

Foto 14 – Posição de girar os azulejos para verificar defeitos nas laterais

Coloca as pilhas na frente estendendo os ombros e antebraços e

repete os movimentos anteriores para realizar outro ciclo, até colocar na

mesa número suficiente de peças para completar a caixa. Deposita os azulejos com a mão direita, nas caixas, que são fechadas com a

abdução e adução dos ombros e flexão dos antebraços.

Foto 15 – Demonstra a abdução completa de ombro direito ao colocar as peças na

caixa

Page 151: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

132

Foto 16 – Caixa completa, pronta para fechar e colocar na correia

● Coloca a caixa na esteira rolante. O peso das caixas varia de 5 Kg a 21,5 Kg, conforme o produto.

O único deslocamento exigido nesta função restringe-se a um metro, que é a

distância da extremidade lateral da mesa de classificação até a correia

transportadora.

Principais situações de sobrecarga para os membros superiores no trabalho,

identificadas na Análise da Atividade acima:

- Postura estática por manter braços acima do nível dos ombros e/ou braços e antebraços suspensos: esta posição leva a um prejuízo no fluxo de

sangue para o músculo, com a possibilidade de ocorrência de acúmulo de ácido

lático e dor.

- Pescoço excessivamente fletido (dobrado para frente) – leva à contração

muscular estática do trapézio, além de favorecer a protusão posterior dos discos

intervertebrais da coluna cervical.

- Abdução do ombro – leva à compressão do músculo supra-espinhoso

entre a cabeça do úmero e o acrômio (Tendinite de Supra-Espinhoso), e pode levar

ao desenvolvimento de bursite nesta região.

- Desvio ulnar do punho (associado à força) – leva a que dois músculos

existentes na base do polegar – tendões dos músculos extensor curto do polegar e

abdutor longo do polegar, que passam juntos através de um sulco na cabeça do

osso rádio, passem a se atritar, podendo desenvolver a inflamação local conhecida

como Tendinite de De Quervain.

Page 152: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

133

- Flexão do punho – costuma ocasionar aumento de pressão no túnel do

punho (local onde o nervo mediano entra para a mão) e a conseqüente sobrecarga

sobre este nervo (Síndrome do Túnel do carpo), ou infamação dos tendões ao nível

do punho, devido repetidas flexões do punho - Tendinite de flexores.

- Extensão do punho – também costuma ocasionar aumento de pressão no

túnel do Carpo (ainda maior que a flexão), com a conseqüente sobrecarga sobre o

nervo e tendência à ocorrência de compressão do mesmo (Síndrome do Túnel do

carpo) ou infamação dos tendões ao nível do punho, devido a repetidas extensões

do punho - Tendinite de extensores.

MARRAS E SCHOENMARKLIN (1991), a partir de um estudo com

trabalhadores em linha de montagem, consideram que a aceleração do movimento

de punho no plano de flexão-extensão é o maior indicador do risco de desenvolver a

LER. Reconhecem que a aceleração do movimento tem um potencial para aumentar

a força, aumentando a carga dos tendões.

Podem ocorrer, também, a Epicondilite lateral pela extensão e supinação

repetida do antebraço e a Síndrome do Pronador Redondo devido a pronação

forçada e repetida para retirar as peças dos vagonetes.

3.4.24 Exigências físicas, mentais e sensoriais

Acuidade visual, percepção e concentração - para realizar a seleção visual

das peças boas das com defeitos.

Memorização dos padrões de seleção básicos.

Coordenação motora de membros superiores.

Boas condições musculares para manutenção de postura (esforço estático) e

para realização de movimentos repetitivos (esforço dinâmico).

Existe um curto espaço de tempo para realizar as tarefas e com pequena

margem de erro aceitável, o que gera uma carga psíquica.

3.4.5 Resultados do questionário - Classificação

As perguntas e respostas do questionário, foram:

Page 153: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

134

01) O que achou da mudança de altura da mesa de trabalho, deixando-a mais alta?

Piorou11 pessoas -

35,48%

Melhorou09 pessoas -

29,04%

Indiferente11 pessoas -

35,48%

02) Você percebeu que nesta posição não precisa dobrar (fletir) tanto a coluna para

frente?

3 pessoas não responderam

9,68%

Não10 pessoas -

32,26%

Sim18 pessoas -

58,06%

03) A altura da mesa ficou boa em sua opinião?

- Sim – 19 – 61,30%

- Não – 12 – 38,70%

Page 154: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

135

04) O que achou de subir a correia transportadora?

Piorou20 pessoas -

64,52%

Melhorou06 pessoas -

19,35%

Indiferente05 pessoas -

16,13%

05) As funcionárias foram separadas por alturas (altas, medianas e baixas), para

trabalhar nas mesas e com isto pegar as peças até o seu alcance máximo, sem

ter que forçar tanto as costas e os braços para alcançar os azulejos. O que você

achou?

Indiferente10 pessoas -

32,26%

Não responderam02 pessoas -

6,45%

Piorou06 pessoas -

19,36%

Melhorou13 pessoas -

41,93%

06) Você tem apresentado dores nos braços ou na coluna?

Page 155: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

136

Não10 pessoas -

32,26%

Sim - Frequentes7 pessoas -

22,58%

Sim - raras14 pessoas -

45,16%

07) Em qual região do corpo predomina as dores? OBS: Pode assinalar mais de uma

região:

Braço5 pessoas -

16,13%Cotovelo

2 pessoas -6,45%

Antebraço5 pessoas -

16,13%

Punho5 pessoas -

16,13%

Coluna5 pessoas -

16,13%

Costas6 pessoas -

19,35%

Ombro14 pessoas -

45,16%

Pescoço8 pessoas -

25,80%

08) Sentiu melhora das dores após estas mudanças (mesa e correia)?

Não16 pessoas -

51,61%

Sim6 pessoas -

19,35%

Não responderam9 pessoas -

29,04%

Page 156: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

137

09) Procurou o serviço médico para falar das dores?

Não14 pessoas -

45,16%

Não responderam10 pessoas -

32,26

Sim7 pessoas -

22,58%

10) Tem feito Ginástica Laboral diariamente?

Sim27 pessoas -

87,1%

Não responderam2 pessoas-

6,45%

Não2 pessoas -

6,45%

11) Perguntas pessoais:

11- a) Faz o serviço da casa? (lavar roupa/louça/limpeza)

Não2 pessoas -

6,45%

Não respondeu1 pessoa -

3,23%

Sim28 pessoas -

90,32%

Page 157: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

138

11-b) Tem filhos pequenos?

Não responderam2 pessoas -

6,45%

Não12 pessoas -

38,71%

Sim17 pessoas -

54,84%

11-c) Tem se sentido mais nervosa ou irritada ultimamente?

Não responderam2 pessoas -

6,45%

Sim16 pessoas -

51,61%Não

13 pessoas -41,94%

11-d) Quando trabalha o dia parece demorar muito para terminar?

Não22 pessoas -

70,97%

Não responderam4 pessoas -

12,90%

Sim5 pessoas -

16,13%

Page 158: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

139

11-e) Tem apresentado problemas pessoais ou na família?

Não23 pessoas -

74,19%

Sim6 pessoas -

19,36%Não

responderam2 pessoas -

6,45%

11-f) Tem apresentado problema de relacionamento com colegas de trabalho?

Não28 pessoas -

90,32%

Não responderam2 pessoas -

6,45%

Sim1 pessoa -

3,23%

11-g) Se fosse avaliar sua vida que nota daria entre 0 a 10?

não responderam2 pessoas (6,45%)

dez4 pessoas

(12,90)

nove6 pessoas (19,35%)

oito e meio1 pessoa (3,23%)

oito11 pessoas (35,49%)

cinco2 pessoas (6,45%)

seis3 pessoas (9,68%)

sete2 pessoas (6,45%)

Page 159: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

140

A automação normalmente fica reservada para tarefas de alta repetitividade,

devido ao seu alto custo. Tem retorno considerável somente para processos de

produção previstos para muito tempo e de grande volume de peças. Seu negativo

está no social, por causar aumento do desemprego, uma vez que a máquina

substitui muitos postos de trabalho.

Em dezembro de 2001, a gerência desta empresa definiu a automatização de

uma linha de classificação para reduzir custos e fornecer melhores condições de

trabalho aos funcionários. Esses permaneceram na linha, pois o processo de

classificação ficou, através de uma máquina com esteira rolante, por onde passam

as peças a serem classificadas através de um risco com giz, sem necessidade das

auxiliares de produção pegarem as peças na mão. Deste modo, ficariam quatro

pessoas por turno para retirar todas as peças dos vagonetes e colocar sobre a

esteira rolante, as quais fazem rodízio com outros funcionários e duas funcionárias

para classificar as peças com giz.

Entretanto, a máquina, até o final de 2002 e início de 2003, ainda está

recebendo alguns ajustes e manutenção e, com freqüência, precisa de intervenções.

Em sendo assim, continuam com o quadro completo de funcionários, pois quando a

máquina passa por reparos as funcionárias a substituem nas duas linhas. Um

exemplo é que em maio de 2003, a produção classificada diariamente é de 19.000

m2, sendo que 15,79% era realizada pela máquina de classificação e 84,21% pelas

auxiliares de produção na mesa de classificação. Então, a máquina está realizando

68% do serviço proposto inicialmente, sendo um número abaixo do esperado.

Foto 17 – Visão geral da máquina Foto 18 – Atividade da auxiliar

de Classificação de produção na máquina de produção

Page 160: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

141

3.4.6 Check-list para avaliação simplificada do risco de tenossinovite e lesões por trauma cumulativos dos membros superiores (COUTO, 1995)

As respostas sublinhadas representam a avaliação do posto de trabalho da

Classificação.

1. Sobrecarga física 1.1 O trabalho pode ser feito sem que haja contato da mão ou do punho ou dos

tecidos moles com alguma quina viva de objeto ou de ferramenta?

Não (0) Sim (1)

1.2 – O trabalho exige o uso de ferramentas vibratórias?

Sim (0) Não (1)

1.3 – A temperatura efetiva do ambiente de trabalho está entre 20 e 23 graus

centígrados?

Não (0) Sim (1)

1.4 – A tarefa pode ser feita sem a necessidade do uso de luvas?

Não (0) Sim (1)

1.5 – Entre um ciclo e outro há a possibilidade de um pequeno descanso? Ou há

pausa bem definida de cerca de 5 a 10 minutos por hora?

Não (0) Sim (1)

2. Força com as mãos

2.1- Aparentemente as mãos fazem pouca força?

Não (0) Sim (1)

2.2 – A posição de pinça (pulpar, lateral ou palmar) é utilizada para fazer força?

Sim (0) Não (1)

2.3 – Quando usamos para apertar botões, teclas ou componentes, para montar ou

inserir, ou para exercer compressão digital, a força de compressão exercida pelos

dedos ou pela mão é pequena?

Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)

3. Postura

3.1 – O trabalho pode ser feito sem flexão ou extensão do punho?

Não (0) Sim (1)

Page 161: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

142

3.2 – As ferramentas de trabalho ou manoplas da máquina levam a flexão ou

extensão do punho?

Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)

3.3 – O trabalho pode ser feito sem desvio lateral do punho?

Não (0) Sim (1)

3.4 – As ferramentas de trabalho ou manoplas da máquina causam desvio lateral do

punho?

Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)

3.5 – O trabalhador tem flexibilidade na sua postura durante a jornada?

Não (0) Sim (1)

3.6 – A tarefa pode ser desenvolvida sem elevação dos braços ou abdução dos

ombros?

Não (0) Sim (1)

3.7 – Existem outras posturas forçadas de membro superior?

Sim (0) Não (1)

4. Posto de trabalho

4.1 – O posto de trabalho permite regulagem na inclinação e na posição dos objetos

nele colocados?

Não (0) Sim (1)

Desnecessária a regulagem de inclinação e posição dos objetos (1)

4.2 – A altura do posto de trabalho é regulável?

Não (0) Sim (1)

4.3 – É possível haver flexibilidade no posicionamento das ferramentas, dispositivos

ou componentes?

Não (0) Sim (1)

Não há ferramentas, dispositivos, componentes (1)

5. Repetitividade 5.1 – O ciclo de trabalho é maior que 30 segundos?

Não (0) Sim (1) Não há ciclos (1)

5.2- No caso de ciclo maior que 30 segundos, há diferentes padrões de movimentos

(de forma que nenhum elemento ocupe mais que 50% do ciclo?)

Não (0) Sim (1) Ciclo < 30s (0) Não há ciclos (1)

Page 162: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

143

5.3 – Há rodízio (revezamento) nas tarefas?

Não (0) Sim (1)

6. Ferramentas de trabalho (quando usada com certa freqüência).

6.1 – Para esforços em prensão:

O diâmetro da manopla da ferramenta tem entre 20 e 25 mm (mulheres) ou entre 25

e 35 mm (homens)?

Para esforços em pinça:

O cabo não é muito fino nem muito grosso, e permite boa estabilidade da pega?

Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)

6.2 – A manopla da ferramenta é feita de outro material que não seja metal?

Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)

6.3 – A ferramenta pesa menos de 1 Kg?

Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)

6.4 – No caso de ferramenta pesar mais de 1 Kg, a mesma se encontra suspensa

por balancim?

Não (0) Sim (1) Não se aplica (1)

Critério de Interpretação - Acima de 22 pontos: baixíssimo risco de tenossinovites e LTC.

- Entre 19 e 22 pontos: baixo risco de tenossinovites e LTC.

- Entre 15 e 18 pontos: risco moderado de tenossinovites e LTC.

- Entre 11 e 14 pontos: alto risco de tenossinovites e LTC.

- Abaixo de 11 pontos: altíssimo risco de tenossinovites e LTC. Resultado do Check-list: Resultado do Check-list da Classificação = 12 pontos,

Vê-se, portanto, alto risco de tenossinovites e LTC (LER/DORT), o que indica

que se não for modificado o modo de trabalho e o ritmo, existe grande chance das

funcionárias deste setor desencadearem as LER/DORT.

Page 163: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

144

3.4.7 Diagnóstico

A partir dos resultados obtidos no Estudo de Caso – o qual utilizou como

ferramenta a Análise Ergonômica do Trabalho – pode-se citar alguns pontos que

merecem ser ressaltados visando à melhoria das condições de trabalho e

conseqüentemente a preservação da saúde dos trabalhadores.

O setor de classificação impõe ao trabalhador alta carga física e mental

(necessidade de manter a atenção contínua). O ritmo de produção é intenso,

levando a movimentos repetitivos com os membros superiores e posturas

inadequadas (flexão da coluna cervical, abdução do ombro acima de 90 graus,

flexão e extensão freqüentes do punho direito e pronossupinação de antebraço

direito), além do trabalho estático da musculatura do antebraço esquerdo (ao

sustentar azulejos que estão sendo classificados).

Nos postos de trabalho não há a possibilidade de alternar as posturas de pé e

sentado. Ademais, as funcionárias não utilizam apoio para os pés.

Não existem pausas formais durante o trabalho, somente no almoço, o qual

tem horário reduzido de trinta minutos. Há, também, uma vez antes e após a

refeição uma pequena pausa, quando a funcionária é substituída por outra colega

para ir ao toalete.

A função desempenhada é monótona e repetitiva. Como o ritmo de produção

é alto e ininterrupto, a percepção de sinais fica comprometida, diminuindo a eficácia

da detecção, discriminação e interpretação dos sinais. Portanto, o trabalho exige

atenção constante, pois a distração pode acarretar erro na classificação e

comprometer a qualidade final do produto.

Não ocorrem rodízios de funções entre as funcionárias, apesar de as tarefas

serem repetitivas.

Não existe um dimensionamento adequado das bancadas de trabalho e

postos de trabalho, como a altura dos vagonetes, baseado na antropometria dos

funcionários. Dessa forma, os trabalhadores são levados a assumir continuamente

posturas inadequadas.

Como se pode observar no Estudo de Caso, existem várias funcionárias com

restrições de trabalhar nas mesas de classificação. Tal fato contribui para a carga

Page 164: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

145

excessiva de trabalho para as funcionárias sem queixas, o que leva a um círculo

vicioso: cada vez maior número de funcionárias se afastam desta tarefa e as que

ficam se lesionam por aumentar a sobrecarga de serviço, iniciam com dor e também

precisarão ficar afastadas.

Deste modo, pode-se considerar que embora não houve uma redução do

número de funcionárias no setor nestes dois anos, existiu um número significativo de

empregadas com restrições, o que dificulta o gerenciamento da área.

3.4.8 Ginástica laboral

Um ponto positivo a ressaltar é que esta empresa possui Programa de

Ginástica Laboral desde agosto de 1999, orientado por professora de

educação física, a qual faz treinamento dos monitores que repassam os

exercícios para seus colegas de trabalho. As séries de exercícios são trocadas

a cada três meses, quando são realizadas as aulas inaugurais pela professora

em cada setor e, uma vez por mês, é realizada a supervisão para identificar os

problemas e dificuldades encontradas nos setores na realização da Ginástica

Laboral.

Antes de iniciar o programa foi realizado estudo preliminar dos principais

movimentos e esforços físicos nos postos de trabalho, para que pudesse ser

avaliada sua conseqüência nos trabalhadores. Baseada nestes dados foram

escolhidos os exercícios da ginástica de distensionamento e compensatória.

Os exercícios são realizados dez minutos ao dia, sempre no início do turno em

horários pré-determinados pelos setores.

3.4.9 Recomendações

Um dos grandes desafios da ergonomia aplicada ao trabalho é conceber

ou adaptar postos de trabalho à grande diversidade morfológica da população.

Antropometria é o estudo das medidas físicas do corpo humano, através da

medição acurada de diversos segmentos corpóreos. As medidas

antropométricas variam conforme o tipo morfológico, raça, idade, sexo, clima.

Page 165: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

146

Utilizando a medida antropométrica do cotovelo, que é a distância

vertical do chão ao cotovelo, pode-se determinar a melhor altura da bancada

para trabalhos moderados. O ideal é que a bancada seja regulável, com

sistema rosca sem fim na mesa, para cada funcionária adaptar da altura mais

confortável. Contudo, caso não seja possível devido ao alto custo destas

modificações, é recomendado utilizar o percentil 95 e colocar estrados para os

mais baixos

Deste modo, sugere-se utilizar o valor 106cm, mas como a classificação

é a tarefa predominante em sua atividade, seria recomendado deixar 25 a

30cm abaixo deste nível devido à altura dos objetos que estão sendo

manuseados – neste estudo de caso, são os azulejos que estão são colocados

nas caixas.

Se for adotado o percentil 95 da altura do cotovelo sem este desconto

de 25–30 cm, exigiria a abdução dos ombros para encaixotar as peças.

Portanto, recomenda-se a altura de 81cm (se utilizar o desconto de 25) e 76cm

(se utilizar o de 30cm).

A altura do púbis, que é a distância vertical do chão até o púbis, pode

ser utilizada para determinar a altura da bancada para trabalhos pesados. Na

análise feita, este momento seria bem representado quando é colocada a

caixa sobre a esteira rolante, pois este movimento exige maior esforço físico

dos funcionários.

A altura da correia foi modificada há 2 anos, quando foi elevado o nível

da esteira. Várias funcionárias se queixaram da nova altura da esteira e

mencionaram que sentiram mais dores nos membros superiores e na

musculatura paravertebral lombar, pois tem que erguer a caixa em vez de

trazer na altura do púbis e colocar direto sobre a esteira.

Portanto, a recomendação da altura da correia deverá utilizar o percentil

20 que equivale à 82cm para evitar a elevação da caixa pela maioria pois,

neste caso, não se pode contar com o auxílio do estrado com altura

diferenciada somente ao lado da esteira rolante.

A altura dos vagonetes onde as funcionárias descarregam os azulejos

para classificar, segundo recomendação de COUTO (1995), deveria estar

Page 166: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

147

entre o púbis e o ombro e, preferencialmente, entre o cotovelo e a altura do

ombro.

A colocação em níveis mais inferiores deve ser evitada pois

compromete a coluna. Em níveis mais elevados também deve ser evitada pois

compromete os ombros. Portanto, sugere-se adotar percentil 5 para altura de

ombros (123cm) e altura de cotovelo (92cm) e se for necessário utilizar a altura

do púbis (78cm).

A largura da correia está adequada pois tem largura de 31 a 32,5 cm,

dentro da área de alcance normal dos trabalhadores, se for somado o valor do

tamanho do antebraço e metade da mão. Porém, o alcance dos vagonetes se

enquadra no alcance máximo que é definido como semicírculo feito pelos

antebraços e braços na horizontal.

Ao analisar a função de classificação, observa-se um esforço grande do

antebraço esquerdo de apoiar os azulejos enquanto os mesmos são

classificados com a mão direita. Para isto, sugere-se um teste com uma caixa

com bordos laterais reguláveis (para se adaptar aos diversos formatos), nos

quais as peças seriam colocadas e classificadas através de movimentos de

flexo-extensão dos dedos, com apoio para a face ulnar das mãos em sua

lateral. Após isso, viram-se as peças para classificar defeitos no lado de baixo.

Entretanto, esta sugestão – a qual é apresentada na figura 4 – precisaria ser

avaliada pelas funcionárias e chefias para sua aprovação.

COUTO (1995), sugere colocar pequenos degraus de 10 a 15 cm de altura

para que o trabalhador que executa sua atividade de pé possa alternar o apoio sobre

as pernas.

A automação, normalmente, fica reservada para tarefas de alta repetitividade,

devido ao seu alto custo e apresenta retorno considerável somente para processos

de produção previstos para muito tempo e de grande volume de peças. Esta foi uma

das opções lançadas pela empresa em dezembro de 2001, para tentar reduzir os

problemas neste setor.

Page 167: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

148

Figura 4 – Sugestão de modelo de caixa de classificação

Contudo, como já citado, a máquina ainda está passando por várias

intervenções para manutenção e ajustes e ainda não conseguiu superar o

desempenho das funcionárias que classificam mais rápido e com maior destreza.

Porém, com este fato, também não ocorreram as demissões inicialmente previstas,

uma vez que todo o quadro ainda é necessário para suprir a demanda que a

máquina não consegue atender. Não existe uma previsão de comprar outra máquina

desta, para suprir a outra linha, portanto, este serviço repetitivo ainda vai continuar e

necessita de uma reorganização.

3.4.10 Recomendações para organização do trabalho

Na medida do possível, deve-se enriquecer o trabalho, colocando o

trabalhador para fazer diversas etapas da operação, de forma a se ter um ciclo

completo, com início, meio e fim. Portanto, sugere-se que a função de montar as

caixas também seja realizada pelas auxiliares de produção da classificação – e não

somente separar as peças e classificá-las. Desta forma, estaríamos acrescentando

outros padrões de movimento, que exigem movimentos de outros grupos musculares

Page 168: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

149

e envolvimento do indivíduo com seu trabalho e, portanto, melhorando sua qualidade

de vida no trabalho.

Na impossibilidade de se realizar rodízio devido às características das

operadoras que recebem treinamento e são cobradas quanto à qualidade da

classificação, as pausas são necessárias. Quando elas não ocorrem, elimina-se um

dos mecanismos de recuperação da integridade das estruturas.

A existência de uma pausa durante a realização de um esforço físico ajuda a

prevenir as lesões por 3 mecanismos:

a) durante a pausa, se estiver havendo um esforço muscular estático, com

produção de ácido lático, haverá o fluxo normal de sangue que irá “lavar” o

ácido lático do músculo, prevenindo possíveis lesões;

b) durante a pausa, se estiver havendo alta repetitividade de um mesmo

movimento, haverá o tempo suficiente para que os tendões voltem à sua

estrutura natural, uma vez que são viscoelásticos, e demoram um certo

tempo a readquirirem a conformação natural;

c) durante a pausa ocorre a lubrificação dos tendões pelo líquido sinovial

(uma espécie de óleo existente entre o tendão e sua bainha sinovial),

evitando-se assim, o atrito entre as duas estruturas.

Portanto, o resultado final da preservação da integridade ou de lesão

dos tecidos irá depender da possibilidade dos mecanismos de reparação

compensarem a velocidade dos mecanismos de lesão, e as pausas têm um

papel extremamente importante na recuperação dos tendões.

As pausas poderiam ser realizadas durante a troca dos vagonetes, ou

forma de micropausas.

3.4.11 Conclusões do Estudo de Caso

COUTO (1995, p. 150) enumera várias causas de esforço estático mais

comuns no trabalho. Entretanto, cita-se as que têm relação com estudo de

caso apresentado:

- Trabalhar com o corpo fora do eixo natural;

- Sustentar cargas pesadas com os membros superiores;

Page 169: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

150

- Trabalhar com os braços acima do nível dos ombros;

- Trabalhar com os braços abduzidos de forma sustentada (posição de “asas

abertas”);

- Realizar esforços de manusear, levantar ou transportar cargas pesadas;

- Manter esforços estáticos de pequena intensidade, porém durante um

grande período de tempo.

- Trabalhar sem apoio para os antebraços, e tendo que sustentá-los pela

ação dos músculos dos braços;

- Trabalhar em pé, parado.

Como se pode observar, são várias causas de esforço muscular estático

além do esforço dinâmico já citado no Estudo de caso que são predisponentes

das LER/DORT.

Através da análise ergonômica do trabalho e antropometria, pode-se

sugerir medidas que evitem o esforço muscular estático e posturas

inadequadas. Tais posturas, ao longo do tempo podem causar dor,

desconforto, lombalgia e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho.

Sendo assim, pode-se recomendar suporte para pesos no momento da

classificação e apoio para os pés para alternar o apoio sobre as pernas,

sugestão de modificações na organização do trabalho através de micro-

pausas, revezamento e práticas corretas no trabalho.

Dessa forma, concebe-se Ergonomia como uma concepção de vida,

através da qual buscam-se maneiras de melhorar o sistema humano, pois de

acordo com KROEMER (1995), o corpo usado dentro da razão é uma barreira

forte para o surgimento de LER/DORT.

CARSON (1993) acredita que o aumento na incidência das LER/DORT

e os elevados custos associados a elas, são razões suficientes para iniciar-se

um programa ergonômico. Acrescenta, ainda, que o sucesso de um programa

ergonômico inclui muitos aspectos, entre eles: as análises ergonômicas das

tarefas, treinamento em ergonomia para todos os níveis hierárquicos, além de

mudanças administrativas de engenharia. Assim, a partir de um programa de

Ergonomia, pode-se reduzir a incidência e severidade destas lesões, diminuir

Page 170: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

151

custos com serviços médicos e com indenizações trabalhistas, bem como as

ausências e melhorar a produtividade.

Como se pode notar no estudo de caso, o setor de Classificação foi

responsável por grande parte do absenteísmo devido a distúrbios

osteomusculares na fábrica. Ademais, mantém um custo elevado de

tratamento médico, fisioterapias e acupuntura, além de considerar o sofrimento

humano que não se tem como medir, mas que são passíveis de indenização

através de processos cíveis.

Portanto, investir em Ergonomia e melhoria dos postos de trabalho, não

é simplesmente uma despesa, mas compensa com o retorno da satisfação e

na melhora na qualidade de vida do trabalho e dos produtos.

Através do questionário foi possível cruzar os dados obtidos através das

avaliações em campo, com a percepção dos funcionários deste setor e pôde-

se constatar que as modificações que ocorreram anteriormente sem a

participação dos trabalhadores, não surtiram grandes efeitos em nível de

prevenção dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Tal fato

ocorreu porque os mesmos se sentiram excluídos das decisões e, portanto,

embora tivessem ocorrido melhorias, não valorizaram as mesmas.

Como no exemplo da mudança da altura das mesas, antes os

funcionários ficavam com a coluna lombar mais fletida gerando maior esforço

da musculatura para-vertebral neste nível. Entretanto, como se pôde perceber

no questionário, apenas 61,3% notaram melhoria com a mudança.

Quanto à alteração da correia transportadora, não foi realizado um

estudo antropométrico dos funcionários que trabalhavam naquele setor e foi

elevada a correia, aumentando a fadiga no trabalho.

Nota-se nas perguntas sobre dor nos braços e coluna, que 67,74%

referiram dor, sendo que deste total 22,58% eram freqüentes e 14,16% raras.

O local das dores em ordem decrescente era: ombros (45,16%),

pescoço (25,80%), costas (19,35%) e braços, antebraços, punho e coluna

(16,13% cada). As queixas de ombro e pescoço já eram esperadas devido à

análise do trabalho, mas acreditava-se encontrar um valor maior para as

queixas de punho e antebraço.

Page 171: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

152

É interessante ressaltar também, que 45,16% dos entrevistados não

procuravam o serviço médico para falar de suas queixas. Neste item, 32,26%

não responderam e somente 22,58% responderam que recorriam a

atendimento médico devido às dores. Este é um fato que causa atraso no

diagnóstico e início do tratamento e pode influir de forma negativa também na

recuperação, pois quanto antes se inicia o tratamento melhor é o prognóstico.

Este item sugere que seja montado um Programa de Educação e

Treinamento dos sintomas iniciais das LER/DORT e conscientização que se

não for tratada na fase inicial, pode trazer um prejuízo funcional ou até deixar

seqüelas nas empregadas. Portanto, as funcionárias devem procurar o serviço

médico da Empresa para serem avaliadas sempre que sentirem dor nos

membros superiores e coluna.

O programa de ginástica laboral conta com a participação de 87,1% dos

entrevistados, o que representa uma boa adesão ao programa.

As perguntas pessoais abordavam fatores multicausais das LER/DORT,

e destacam-se algumas respostas abaixo: 90,32% fazem serviço de casa

como lavar roupa, louça e limpeza, o que configura a dupla jornada de trabalho

para as mulheres nas empresas e em casa, favorecendo maior incidência das

lesões no sexo feminino.

Outro dado a considerar é que 54,84% têm filhos pequenos e, com isto,

a sobrecarga de segurá-los no colo. Além disso, mais de cinqüenta por cento

sente-se mais nervosa ou irritada ultimamente e 19,36% queixou-se de

problemas pessoais ou na família que podem gerar tensão, contratura da

musculatura, redução do fluxo sangüíneo e maior predisposição às

LER/DORT.

Na pergunta para avaliar a satisfação que tem em relação à sua vida

22,58% avaliou entre 5 e 7, dentro de uma escala de 0 a 10, o que é um

percentual relativamente alto e sugere instituir um programa de motivação e

qualidade de vida, valorizando as qualidades e conquistas que as pessoas já

dispõem, bem como auxiliá-las a ter planos e metas na vida.

Como conclusão do estudo de caso, poderíamos ressaltar a importância

da Análise Ergonômica do Trabalho que diferencia o trabalho prescrito do

Page 172: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

153

realmente realizado. Além do mais, evidencia quais as dificuldades que as

mesmas encontram e as alternativas que adotam para atingir o objetivo, ou

seja, concluir o produto final. Portanto, esta ferramenta auxilia a detectar

muitas situações que passam desapercebidas aos olhos dos trabalhadores

que vivenciam esta situação no seu cotidiano, ou a ela se acostumam sem

questionar.

Page 173: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

154

CAPÍTULO 4 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Este estudo ressaltou a contribuição da Ergonomia na investigação dos

fatores causais das LER/DORT no setor de Classificação de uma Indústria de

Revestimentos Cerâmicos, tendo em vista que os fatores são multicausais, mas os

fatores biomecânicos possuem um peso especial na gênese destas lesões.

Portanto, apesar de se verificar uma diversidade de fatores apontados como

causa das LER/DORT, apenas enumerá-los não é suficiente para seu entendimento.

Torna-se necessário evidenciar o mecanismo de como cada um destes fatores

atuam e interagem entre si. Assim, a pesquisa e a discussão em torno das causas

de ocorrência destas lesões têm que ser aprofundadas, a partir de análises das

situações em que elas ocorrem, considerando-se a interação entre os fatores

importantes para seu aparecimento e sua relação com as situações de trabalho e os

indivíduos presentes.

A Análise Ergonômica do Trabalho, através da observação das tarefas e

atividades, detectou as condições nas quais os trabalhadores se encontravam

expostos, identificou os problemas de saúde que poderiam ser causados em

decorrência dos movimentos repetitivos e posturas inadequadas, e demonstrou a

relação clara entre as queixas de dor e desconforto dos funcionários com o seu

ambiente de trabalho. Mas também observou o período de transição que estava

ocorrendo com a automatização de parte do setor e as conseqüências que isto

causa nos funcionários, como ansiedade, tensão, insegurança devido medo de

perder emprego, desmotivação.

Estes fatores todos estavam envolvidos nos aumento de custos de

fisioterapias e tratamentos, embora não tenha surgido casos novos de tendinite,

ocorreu um aumento das dores musculares e contraturas. Segundo CODO e

ALMEIDA (1995), “se o trabalho propicia o surgimento de LER/DORT, o homem

também determina a seu modo”.

Como citado no capítulo 2, próximo de uma alteração do sistema de trabalho

surgem “epidemias” de LER, nesta empresa não houve um surto, porque houve

espaço para informações e orientações que a nova tecnologia não tinha finalidade

Page 174: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

155

somente de reduzir o quadro de funcionárias, mas para facilitar o serviço e melhorar

as condições de trabalho, pois as máquinas se encarregariam dos formatos maiores

e mais pesados, justamente os que causavam mais dor nas funcionárias que os

classificavam.

Através das entrevistas e questionários realizados com os funcionários,

notamos sua percepção do que deveria ser mudado e as queixas de dor nas partes

do corpo correspondentes, conforme demonstrado no capítulo 4.

A literatura disponível sobre lesões por esforços repetitivos, recomenda que

seja dada maior atenção a estes tipos de sintomas ou queixas nos membros

superiores, associadas ao desempenho de tarefas produtivas. Tais queixas podem

muitas vezes indicar o início do aparecimento das LER/DORT ou mesmo a

manifestação de estágios evolutivos mais avançados. As queixas de dor, por

exemplo, representam a principal e, muitas vezes, única expressão clínica da

existência de doenças (ALVES, 1995).

É importante ressaltar que estes sintomas podem ser prevenidos com o

revezamento da tarefa (rodízios) e o repouso através de micropausas ou pausas de

5 a 10 minutos por hora trabalhada em atividades repetitivas, conforme orientações

dadas no capítulo anterior.

Segundo CODO e ALMEIDA (1997), a prevenção da LER baseia-se em

medidas relativas quanto ao tempo de exposição ao agente agressor, alterações no

processo e organização do trabalho, adequação de máquinas, mobiliário,

dispositivos, equipamentos e ferramentas de trabalho às características dos

trabalhadores.

Assim concluímos que a Ergonomia que estuda as relações de trabalho sobre

os vários aspectos: posturais, fatores ambientais, aspectos da tarefa, da informação

entre outros; baseando-se em conhecimentos de várias áreas científicas, como

antropometria, biomecânica, desenho industrial, eletrônica, informática e gerência

industrial, pode também utilizar todo este conhecimento para melhorar as condições

de trabalho e minimizar as LER/DORT que estão apresentando alta incidência no

Brasil e em outros países e se tornando um problema insustentável para

Trabalhadores, Empresas, Sindicatos, Saúde Pública e Previdência Social.

Page 175: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

156

Sugestões para Trabalhos Futuros:

Algumas sugestões recomendadas para trabalhos futuros:

Realizar Análise Ergonômica do Trabalho em outros setores considerados

críticos na Empresa.

Promover pesquisas para analisar e quantificar problemas de LER/DORT em

outras empresas do ramo com atividades semelhantes, para comparar resultados e

trocar experiências.

Fazer um estudo de acompanhamento (follow-up) dos funcionários com

diagnóstico de LER/DORT e sua reintegração na Empresa em outra atividade.

Revisar a prescrição da tarefa e reescrevê-la conforme possibilidades dos

funcionários, baseada em análise ergonômica.

Desenvolver atividades para os funcionários de modo a trabalhar melhor suas

expectativas com a introdução de mudanças tecnológicas, aumentando a motivação.

Levantamento da incidência das LER/DORT nas Indústrias Cerâmicas.

Page 176: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

157

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ANEXOS

NR – 17 – ERGONOMIA

Redação dada pela Portaria nº 3.751, de 23-11-1990.

17.1 Esta Norma Regulamentadora visa estabelecer parâmetros que permitam a

adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos

trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e

desempenho eficiente.

17.1.1 As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento,

transporte e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização

de trabalho.

17.1.2 Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características

psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe as empregador realizar a análise

ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de

trabalho conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora.

17.2 Levantamento, transporte e descarga individual de materiais.

17.2.1 Para efeito desta Norma Regulamentadora:

17.2.1.1 Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da

carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o

levantamento e a deposição da carga.

17.2.1.2 Transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de

maneira contínua ou que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual

de cargas.

17.2.1.3 Trabalhador jovem designa todo trabalhador com idade inferior a dezoito

anos e maior de quatorze anos.

17.2.2. Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um

trabalhador, cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança.

(C = 117.001-5/l =1)

Page 186: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

167

17.2.3 Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que

não as leves, deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos

métodos de trabalho que deverá utilizar com vistas a salvaguardar sua saúde e

prevenir acidentes. (C = 117.002-3/l =2)

17.2.4 Com vistas a limitar ou facilitar o transporte manual de cargas deverão ser

utilizados meios técnicos apropriados.

17.2.5 Quando mulheres e trabalhadores jovens forem designados para o transporte

manual de cargas deverá ser nitidamente inferior àquele permitido para os homens,

para não comprometer a sua saúde ou sua segurança. (C = 117.003-1/l = 1)

17.2.6 O transporte e a descarga de materiais, feitos por impulsão ou tração de

vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico

deverão ser executados de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador

seja compatível com sua saúde ou sua segurança. (C = 117.004-0/l =1)

17.2.7 O trabalho de levantamento da material feito com equipamento mecânico de

ação manual deverá ser executado de forma que o esforço físico realizado pelo

trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua

saúde ou sua segurança. (C = 117.005-8/l =1)

17.3 Mobiliário dos postos de trabalho.

17.3.1 Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de

trabalho deve ser planejado para esta posição. (C = 117.006-6/l =1).

17.3.2 Para o trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito de pé, as

bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador

condições de boa postura, visualização e operação e devem atender aos seguintes

requisitos mínimos:

a) ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de

atividade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a

altura do assento; (C = 117.008-2/l =2)

b) Ter área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador; (C =

117.008-2/l = 2)

Page 187: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

168

c) Ter características dimensionais que possibilitem posicionamento e

movimentação adequados dos segmentos corporais. (C = 117.009-0/l =2)

17.3.2.1 Para trabalho que necessite também da utilização dos pés, além dos

requisitos estabelecidos no subitem 17.3.2, os pedais e demais comandos para

acionamento dos pés devem ter posicionamento e dimensões que possibilitem fácil

alcance, bem como ângulos adequados entre as diversas partes do corpo do

trabalhador, em função das características e peculiaridades do trabalho a ser

executado. (C = 117.010-4/l =2)

17.3.3 Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes

requisitos mínimos de conforto:

a) altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; (C =

117.011-2/l =1)

b) características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento; (C =

117.012-0/l =1)

c) borda frontal arredondada; (C = 117.013-9/l =1)

d) encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lobar.

(C = 117.014-7/l =1)

17.3.4 Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados sentados, a

partir da análise ergonômica do trabalho, poderá ser exigido suporte para os pés que

se adapte ao comprimento da perna do trabalhador. (C = 117.015-5/l =1)

17.3.5 Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados em pé, devem

ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por

todos os trabalhadores durante as pausas. (C = 117.016-3/l=2)

17.4 Equipamentos dos postos de trabalho.

17.4.1 Todos os equipamentos que compôe umposto de trabalho devem ser

adequado às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do

trabalho à ser executado.

17.4.2 Nas atividades que envolvam leitura de documentos para digitação,

datilografia ou mecanografia deve:

Page 188: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

169

a) ser fornecido suporte adequado para documentos que possa ser ajustado

proporcionando boa postura, visualização e operação evitando movimentação

freqüente do pescoço e fadiga visual; (C= 117.017-1/l =1)

b) ser utilizado documento de fácil legibilidade, sempre que possível, sendo vedada

a utilização de papel brilhante, ou qualquer outro tipo que provoque ofuscamento.

(C= 117.018-0/l =1)

17.4.3 Os equipamentos utilizados no processamento eletrônico de dados com

terminais de vídeo devem observar o seguinte:

a) condições de mobilidade suficientes para permitir o ajuste da tela do

equipamento à iluminação do ambiente, protegendo-a contra reflexos, e

proporcionar corretos ângulos de visibilidade ao trabalhador; (C= 117.020-1/l =2)

b) o teclado deve ser independente e Ter mobilidade, permitindo ao trabalhador

ajustá-lo de acordo com as tarefas a serem executadas: (C= 117.020-1/l=2)

c) a tela, o teclado e o suporte para documentos devem ser colocados de maneira

que as distâncias olho-tela, olho-teclado e olho-documento sejam

aproximadamente iguais; (C= 117.021-0/l=2)

d) serem posicionados em superfícies de trabalho com altura ajustável. (C=

117.022-8/l =2).

17.4.3.1 Quando os equipamentos de processamento eletrônico de dados com

terminais de vídeo forem utilizados eventualmente, poderão ser dispensadas as

exigências previstas no subitem 17.4.3, observada a natureza das tarefas

executadas e levando-se em conta a análise ergonômica do trabalho.

17.5 Condições ambientais de trabalho.

17.5.1 As condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às

características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser

executado.

17.5.2 Nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam

solicitação intelectual e atenção constantes, tais como: salas de controle,

Page 189: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

170

laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos, dentre

outros, são recomendados as seguintes condições de conforto:

a) níveis de ruído de acordo com o estabelecido na NBR 10152, norma brasileira

registrada no INMETRO; (C =117.023-6/l=2).

b) Índice de temperatura efetiva entre 20 e 23ºC; (C=117.024-4/l=2)

c) Umidade relativa do ar não inferior a 40% (quarenta por cento). (117.026-0/l=2)

17.5.2.1 Para as atividades que possuam as características definidas no subitem

17.5.2, mas não apresentam equivalência ou correlação com aquelas relacionadas

na NBR 10152, o nível de ruído aceitável para efeito de conforto será de até 65 dB

(A) e a curva de avaliação de ruído (NC) de valor não superior a 60 dB.

17.5.2.2 Os parâmetros previstos no subitem 17.5.2 devem ser medidos nos postos

de trabalho, sendo os níveis de ruído determinados próximo à zona auditiva e as

demais variáveis na altura do tórax do trabalhador.

17.5.3 Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou

artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade.

17.5.3.1 A iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa.

17.5.3.2 A iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e instalada de forma

a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos.

17.5.3.3 Os níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos locais de

trabalho são os valores de iluminâncias estabelecidas na NBR 5413, norma

brasileira registrada no INMETRO. (C= 117.027-9/l =2)

17.5.3.4 A medição dos níveis de iluminamento previstos no subitem 17.5.3.3 deve

ser feita no campo de trabalho onde se realiza a tarefa visual, utilizando-se de

luxímetro com fotocélula corrigida para a sensibilidade do olho humano e em função

do ângulo de incidência. (C=117.028-7/l=2)

17.5.3.5 Quando não puder ser definido o campo de trabalho previsto no subitem

17.5.3.4 este será um plano horizontal a 0,75m do piso.

17.6 Organização do trabalho.

Page 190: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

171

17.6.1 A organização do trabalho deve ser adequada às características

psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.

17.6.2 A organização do trabalho, para efeito desta NR, deve levar em

consideração, no mínimo:

a) as normas de produção;

b) o modo operatório;

c) a exigência de tempo;

d) a determinação do conteúdo de tempo;

e) o ritmo de trabalho;

f) o conteúdo das tarefas;

17.6.3 Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do

pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise

ergonômica do trabalho, deve ser observado o seguinte:

a) todo e qualquer sistema de avaliação de desempenho para efeito de

remuneração e vantagens de qualquer espécie deve levar em consideração as

repercussões sobre a saúde dos trabalhadores; (C=117.029-5/l=3)

b) devem ser incluídas pausas para descanso; (C=117.030-9/l=3)

c) quando do retorno ao trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou

superior a 15 (quinze) dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno

gradativo aos níveis de produção vigentes na época anterior ao afastamento.

(C=117.031-7/l=3)

17.6.4 Nas atividades de processamento eletrônico de dados deve-se, salvo o

disposto em convenções e acordos coletivos de trabalho, observar o seguinte:

a) o empregador não deve promover qualquer sistema de avaliação dos

trabalhadores envolvidos nas atividades de digitação, baseado no número

individual de toques sobre o teclado, inclusive o automatizado, para efeito de

remuneração e vantagens de qualquer espécie; (C=117.032-5/l=3)

Page 191: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

172

b) o número máximo de toques reais exigidos pelo empregador não deve ser

superior a 8.000 por hora trabalhada, sendo considerado toque real, para efeito

desta NR, cada movimento de pressão sobre o teclado; (C=117.033-3/l=3)

c) o tempo efetivo de trabalho de entrada de dados não deve exceder o limite

máximo de 5 (cinco) horas, sendo que no período de tempo restante da jornada,

o trabalhador poderá exercer outras atividades, observando o disposto no art.

468 da Consolidação das Leis de Trabalho, desde que não exijam movimentos

repetitivos, nem esforço visual; (C = 117.034-1/l=3)

d) nas atividades de entrada de dados deve haver, no mínimo, uma pausa de 10

minutos para cada 50 minutos trabalhados, não deduzidos da jornada normal de

trabalho; (C = 117.035-0/l=3)

e) quando do retorno ao trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou

superior a 15 (quinze) dias, a exigência de produção em relação ao número de

toques deverá ser iniciada em níveis inferiores ao máximo estabelecido na alínea

b a ser ampliada progressivamente. (C = 117.036-8/l=3).

Page 192: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

173

QUESTIONÁRIO CLASSIFICAÇÃO FÁBRICA II

1- O que você achou da mudança de altura da mesa de trabalho, deixando-a mais

alta?

melhorou a posição para trabalhar não sentiu diferença piorou

Por quê?_______________________________________________________

2- Você percebeu que nesta posição, não precisa dobrar (fletir) tanto a coluna para

frente?

Sim Não

3- Na sua opinião a altura da mesa ficou boa?

Sim Não

Por quê? _______________________________________________________

4- O que você achou de subir a correia transportadora?

Melhorou a posição Não sentiu diferença piorou

Por quê?_______________________________________________________

5- As funcionárias foram separadas por alturas (altas, medianas e baixas), para

trabalhar nas mesas e com isto pegar as peças até seu alcance máximo, sem ter

que forçar tanto as costas e os braços para alcançar os azulejos. O que você

achou?

melhorou desta forma Não sentiu diferença Piorou

Page 193: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

174

Por quê? _______________________________________________________

6- Você tem apresentado dores nos braços ou na coluna?

Sim Freqüentes Raras Não

Há quanto tempo? _______________________________________________

7- Em qual região do corpo predomina as dores?

Direito Esquerdo

Pescoço

Ombro

Braço

Cotovelo

Antebraço

Punho

Coluna

Costas

8- Você sentiu melhora das dores após estas mudanças (mesa e correia)?

Sim Não

9- Procurou o serviço médico para falar das dores?

Sim Não

Page 194: Aspectos da ergonomia que contribuem na prevenção das LER

175

Por quê? _______________________________________________________

10- Você tem feito ginástica laboral diariamente?

Sim Não

Por quê? _______________________________________________________

11- Perguntas pessoais:

- Você faz o serviço da casa? (lavar roupa/louça/limpeza) Sim Não

- Tem filhos pequenos? Sim Não

- Tem se sentido mais nervosa ou irritada ultimamente? Sim Não

- Quando você trabalha o dia parece demorar para terminar? Sim Não

- Tem apresentado problemas pessoais ou na família? Sim Não

- Tem apresentado problema de relacionamento com colegas? Sim Não

- Se você fosse avaliar sua vida que nota daria entre 0 e 10?

12- Deseja fazer algum comentário sobre o seu posto de trabalho?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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