aspectos da colonialidade na américa latina: reflexões

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3º Nas Nuvens... Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2017 – ANAIS Artigo Nas Nuvens... <http://musicanasnuvens.weebly.com/> 152 Aspectos da colonialidade na América Latina: reflexões teóricas e implicações no campo da música Gislene Marino 1 Categoria: Comunicação Resumo: Este artigo tem como principal objetivo trazer reflexões sobre a colonialidade a partir de referenciais teóricos. Os estudos do Grupo Modernidad/Colonialidad, que desenvolve um pensamento crítico sobre as relações de poder instaladas na América Latina, desde seu descobrimento, fundamentam este trabalho. O texto também apresenta exemplos de situações de subalternidade, de predomínio do pensamento eurocêntrico e de outros aspectos da colonialidade no campo da música, em contextos latino-americanos. Finalmente, expõe algumas perspectivas para a área de música, apoiadas no pensamento decolonial. Palavras-chave: Colonialidade. Decolonialidade. Música na América Latina. Aspects of coloniality in Latin America: theoretical reflections and implications in the field of music Abstract: This article has as main objective to bring reflections about coloniality from theoretical references. The studies of the Modernidad/Colonialidad Group, which develops critical thinking about power relations located in Latin America, since its discovery, base this work. The text also presents examples of subalternity situations, predominance of Eurocentric thinking and other aspects of coloniality in the field of music, in Latin American contexts. Finally, exposes some perspective to the music area, supported on decolonial thought. Keywords: Coloniality. Decoloniality. Music in Latin America. Introdução La colonialidad es el lado oscuro de la modernidad. (Mignolo) Este artigo tem como principal objetivo trazer reflexões sobre a colonialidade na América Latina. Ele também apresenta exemplos de situações de subalternidade, de predomínio do pensamento eurocêntrico e de outros aspectos da colonialidade no campo da música, em contextos latino-americanos. O texto inicia-se com algumas questões colocadas por Delgado (2007): 1 Mestre em Educação, Universidade do Estado de Minas Gerais, Escola de Música, [email protected].

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AspectosdacolonialidadenaAméricaLatina:reflexõesteóricaseimplicaçõesnocampodamúsica

GisleneMarino1

Categoria:Comunicação

Resumo: Este artigo tem como principal objetivo trazer reflexões sobre acolonialidade a partir de referenciais teóricos. Os estudos do GrupoModernidad/Colonialidad,quedesenvolveumpensamentocríticosobreasrelaçõesdepoderinstaladasnaAméricaLatina,desdeseudescobrimento,fundamentamestetrabalho. O texto também apresenta exemplos de situações de subalternidade, depredomíniodopensamentoeurocêntricoedeoutrosaspectosda colonialidadenocampo da música, em contextos latino-americanos. Finalmente, expõe algumasperspectivasparaaáreademúsica,apoiadasnopensamentodecolonial.Palavras-chave:Colonialidade.Decolonialidade.MúsicanaAméricaLatina.Aspects of coloniality in Latin America: theoretical reflections andimplicationsinthefieldofmusicAbstract:This article has as main objective to bring reflections about colonialityfrom theoretical references. The studies of the Modernidad/Colonialidad Group,which develops critical thinking about power relations located in Latin America,since itsdiscovery,basethiswork.Thetextalsopresentsexamplesofsubalternitysituations,predominanceofEurocentricthinkingandotheraspectsofcolonialityinthefieldofmusic, inLatinAmericancontexts.Finally,exposessomeperspectivetothemusicarea,supportedondecolonialthought.Keywords:Coloniality.Decoloniality.MusicinLatinAmerica.

Introdução

Lacolonialidadeselladooscurodelamodernidad.(Mignolo)

Este artigo temcomoprincipalobjetivo trazer reflexões sobrea colonialidade

naAméricaLatina.Eletambémapresentaexemplosdesituaçõesdesubalternidade,de

predomínio do pensamento eurocêntrico e de outros aspectos da colonialidade no

campo da música, em contextos latino-americanos. O texto inicia-se com algumas

questõescolocadasporDelgado(2007):

1MestreemEducação,UniversidadedoEstadodeMinasGerais,EscoladeMúsica,[email protected].

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[...] como se aproximar das lógicas próprias das tradiçõesmusicais dooutro?;comoapreenderprocessosdeensinoeaprendizagem,baseadosna transmissão oral e na linguagem corporal?; como ensinar a nossosestudantesqueapartituraéapenasumarepresentação incompletadoevento musical, e o que chamamos de ‘música’ é um acontecimentomuitomaisricoecomplexo?;comoconseguirqueoaparatoacadêmicoacolhaeintegreoutrostiposdeconhecimento?(DELGADO,2007,p.213,traduçãonossa).

Podem-se acrescentar outras perguntas às primeiras: Por que o repertório

musical erudito europeu ainda predomina nos conservatórios e universidades

brasileiras?Porqueasculturasdospovoslatino-americanossãoconsideradasmenores

peranteaeuropeia?

Alguns esclarecimentos e talvez até respostas possam ser encontrados para

essas questões nos estudos sobre o colonialismo, a modernidade/colonialidade, o

eurocentrismoeadecolonialidade–categoriasdesenvolvidasdesdeofinaldoséculoXX

pelo Grupo Modernidad/Colonialidad2. Segundo seus pesquisadores, é necessário

“transcender a suposição de certos discursos acadêmicos e políticos, segundo a qual,

com o fim das administrações coloniais e a formação dos estados-nação na periferia,

vivemos agora em um mundo descolonizado e pós-colonial” (CASTRO-GÓMEZ e

GROSFOGUEL, 2007, p. 13). Eles acreditam que não houve transformações na divisão

internacional do trabalho entre centros e periferias3, nem na hierarquização étnico-

racial das populações. O que se vê é uma “transição do colonialismo moderno à

colonialidadeglobal”(CASTRO-GÓMEZeGROSFOGUEL,2007,p.13).

O conceito modernidade/colonialidade considera que há um vínculo

inseparável entre o fenômeno modernidade e os efeitos da colonialidade nos povos

subalternizados. Quijano (2007) afirma que o eurocentrismo, que foi constituído do

século XVI ao XIX, marca também, o nascimento da modernidade. “Os europeus

ocidentaisimaginaramseraculminaçãodeumatrajetóriacivilizatóriadesdeumestado

denatureza”(QUIJANO,2008,p.122),considerando-secomoportadoresexclusivosda

2OGrupoModernidad/Colonialidaddistingue-sedosEstudosCulturaisePós-coloniais,poisestesanalisamo sistema-mundo sob uma perspectiva culturalista, sem integrá-la aos aspectos da economia política(CASTRO-GÓMEZeGROSFOGUEL,2007).3 O “centro” refere-se aos países desenvolvidos do Atlântico Norte, cuja economia é considerada comohomogêneaeintegrada.Emcontrapartida,a“periferia”sãoospaíseslatino-americanos,quetêm“vocaçãoagrícola”eeconomiaheterogêneaedesintegrada(RICUPERO,2011,p.95).

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modernidade, além de serem seus criadores e protagonistas. Ademais, eles “foram

capazesdedifundir ede estabelecer essaperspectivahistóricahegemônicadentrodo

novo universo intersubjetivo do padrãomundial do poder” (QUIJANO, 2008, p. 122).

Portanto, faz-se necessário criticar o paradigma europeu da

racionalidade/modernidade,poisfoiainstrumentalizaçãodarazãopelopodercolonial

queproduziuparadigmasdistorcidosdeconhecimento.

1ColonialismoeColonialidade

Colonialismo e colonialidade são conceitos distintos. Colonialismo refere-se a

umarelaçãopolíticaeeconômica,naqualumpovoounaçãoexerceasoberaniasobre

outro/a,constituindo-seemumimpério.Colonialidadeestárelacionadaaumpadrãode

poderqueemergiucomoresultadodocolonialismomodernoesobreviveaeste;refere-

seà“formacomootrabalho,oconhecimento,aautoridadeeasrelaçõesintersubjetivas

articulam-se entre si, através do mercado capitalista mundial e da ideia de raça”

(MALDONADO-TORRES,2007,p.131).Sobesseprisma,ahistóriapodeserreconstruída

a partir do descobrimento da América, quando nascem, simultaneamente, a

modernidade, o capitalismo e a América Latina. O emergente poder capitalista

mundializa-se, sendo que seus eixos centrais hegemônicos – a colonialidade e a

modernidade–localizadosnaEuropa,estabelecemumnovopadrãodedominação.

Aconjugaçãoentreocapitalismo–relaçãoeconômicaesocialjáexistente–eas

diversas formas de dominação e subordinação foram primordiais para se manter e

justificar o controle sobreos sujeitos colonizadosnasAméricas (QUIJANO,1991apud

QUIJANO,2007).Estabelecem-sedois eixosdepoderquedefinemamatrizdoque foi

chamadoAmérica:a ideiaderaçaeocontroledo trabalho.A ideiaderaçacodificaas

diferenças entre conquistadores e conquistados, e naturaliza uma situação de

inferioridade de uns em relação a outros. As novas identidades criadas – europeu,

branco, índio, negro, mestiço – estabeleceram uma relação vertical entre os sujeitos

(QUIJANO, 1992, apud MALDONADO-TORRES, 2007). O etnocentrismo, desenvolvido

entreoseuropeusdominadorescoloniaisapartirdaconcepçãodeEuropacomocentro

do mundo moderno, era fundamentado e justificado pela classificação racial da

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população do mundo, depois da conquista da América, naturalizando as categorias

sociaisqueidentificampapeiselugaresnasrelaçõesdepoder.

O segundo eixo refere-se à constituição de uma nova estrutura de controle e

exploraçãodotrabalhoedeseusrecursoseprodutos,naqualseincluíamaescravidão,a

servidão,apequenaproduçãomercantil,areciprocidadeeosalário.Todasestasformas

existiamdemaneirasimultâneanomesmoespaço/tempo,articulando-secomocapitale

o mercado mundial, e estabelecendo-se “uma nova, original e singular estrutura de

relações de produção na experiência histórica do mundo: o capitalismo mundial”

(QUIJANO, 2007, p. 118). Surge, deste modo, a diferença colonial, que emerge do

conceitoderaça, criadanoséculoXVIparaclassificarapopulaçãomundialedefinira

divisão do trabalho (DELGADO, 2007). A diferença colonial pode ser expressa em

diversasformas,configurando-seemprodutosdacolonialidadedopoder,dosaberedo

ser(MALDONADO-TORRES,2007).

A colonialidade do poder refere-se à interrelação entre formas modernas de

exploração e dominação e parte do princípio de que omundonão foi completamente

descolonizado,poisasmetrópoleslimitaram-seadarapenasaindependênciajurídico-

política às colônias, deixando intactas as hierarquias das relações raciais, étnicas,

sexuais,epistêmicas,econômicasedegênero(CASTRO-GÓMEZeGROSFOGUEL,2007).

A descrição de uma pessoa como índio, branco ou negro servia como princípio para

definir a sua posição na divisão social do trabalho, sendo que esta diferença

racial/colonialaindasemantém,mesmoquerearticuladaemoutrostermosediscursos

(DELGADO,2007).

Opontoéque,alémdasbasessocioeconômicasdaideiaderaça,estaéuma categoria epistêmica e de controle do conhecimento e daintersubjetividade:acolonialidadedopodernãosóclassificaaossereshumanosemescaladeinferiorasuperiordeacordocomsuaraça,masordena os conhecimentos e as maneiras de saber daqueles a quemclassifica.Destamaneira,oconhecimentoqueproduzohomembrancoégeralmente qualificado como “científico”, “objetivo” e “racional”,enquanto aquele produzido por homens de cor (ou mulheres) é“mágico”,“subjetivo”e“irracional”(DELGADO,2007,p.199).

A colonialidade do saber relaciona-se com a epistemologia e as atividades de

produçãodeconhecimento,visandoareproduçãoderegimesdepensamentocoloniais.

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Ela refere-se ao processo no qual o pensamento moderno subalterniza todo o

conhecimento produzido fora dos parâmetros de sua racionalidade, o que engloba as

epistemes tradicionais e ancestrais das colônias (MIGNOLO, 2000 apud FLORES-

FLORES,2007).Acolonialidadedoservemresponderasperguntassobreosefeitosda

colonialidadenasexperiênciasvividasedeseuimpactonalinguagem,nãosónamente

dos sujeitos subalternos (MALDONADO-TORRES, 2007). Portanto, a diferença colonial

refere-se à colonialidade do saber quando se relaciona a aspectos epistêmicos, e à

colonialidade do ser quando trata de aspectos ontológicos. Em ambos os casos,

relaciona-se com o poder por meio da exploração, dominação e controle (QUIJANO,

2007).

2Eurocentrismo

OdescobrimentodaAmérica,em1492,permitiuqueaEuropaseconvertesse

nocentrodomundo,pois,atéentão,elaeraapenasoextremoocidentedoimportante

núcleolideradopelaÍndia,ÁsiacentraleMediterrâneooriental(DUSSEL,1998,p.51-52

apud QUIJANO, 2007). Daí surge o eurocentrismo de uma cultura que pretendeu

constituir-seumamatrizeseruniversalizada.

O conjunto de práticas e valores dessa matriz será conhecido comoeurocentrismo,palavra-chavequedesignaomodelocivilizatórioqueseimpôsaorestodascivilizaçõesnosplanosmateriale filosófico,ecomopráticas em conformidade com as hierarquias de privilégio dohomemheterossexual/branco/patriarcal/cristão/militar/capitalista/europeu(GROSFOGUEL,2010apudURQUIDI,2013).

A cultura dos dominadores fez-se impor sobre os dominados em todos os

aspectos nos quais isso fosse útil para reproduzir a dominação, nos campos de

atividadesmateriais,tecnológicas,subjetivase,especialmente,religiosas,configurando-

se,portanto,emumacolonizaçãodacultura.Houverepressãoàs“formasdeprodução

deconhecimentodoscolonizados,seuspadrõesdeproduçãodesentidos,seuuniverso

simbólico, seus padrões de expressão e de objetivação da subjetividade” (QUIJANO,

2008,p.121).

O conhecimentoeuropeu revestiu-sedeuma superioridadequeafetoumuitas

áreas da vida; os conhecimentos subalternos foram excluídos, omitidos e ignorados,

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constituindo um silenciamento legitimado sobre a ideia de que “tais conhecimentos

representavam uma etapa mítica, inferior, pré-moderna e pré-científica do

conhecimentohumano”(CASTRO-GÓMEZeGROSFOGUEL,2007,p.20).

Oeurocentrismonãoéapenasumaperspectivacognitivadeeuropeus,masde

todas aquelas pessoas que foram educadas sob sua hegemonia, naturalizando as

experiênciasdossujeitosnessepadrãodepoder.

Consolidou-seassim,juntocomessaideia,outrodosnúcleosprincipaisda colonialidade/modernidade eurocêntricas: uma concepção dehumanidade, segundo a qual a população domundo se diferencia eminferiorese superiores, irracionaise racionais,primitivose civilizados,tradicionaisemodernos(QUIJANO,2007,p.94-95).

Essedualismotambémafetaasrelaçõesentreocorpoeonão-corponasquestões

relativas à produção de conhecimento e nos discursos e experiências sobre raça e

gênero.Oeurocentrismopodeserentendido,então,tantocomo“umprocessohistórico

como uma forma de operar intelectualmente e de construir nossa realidade social”

(GARCÉS, 2007, p. 219). Ele enraizou-se de tal maneira nas experiências históricas

latino-americanas que “a perspectiva eurocêntrica de conhecimento opera como um

espelhoquedistorceoquereflete”(QUIJANO,2008,p.129-130).

Quer dizer, a imagem que encontramos nesse espelho não é de todoquimérica, jáquepossuímostantose tão importantes traçoshistóricoseuropeus em tantos aspectos, materiais e intersubjetivos. Mas, aomesmo tempo, somos tão profundamente distintos. Daí que quandoolhamos nosso espelho eurocêntrico, a imagem que vemos sejanecessariamenteparcialedistorcida(QUIJANO,2008,p.129-130).

Essa afirmação é um convite à desconstrução desse paradigma que tem feito

parteintrínsecadasvidasdossujeitoslatino-americanos,cujasculturasesubjetividades

têmsidooprimidas,invisibilizadasesubjugadasduranteséculos.

O texto prossegue trazendo algumas situações que evidenciam as relações de

poderesubalternidadenocampodamúsica,emcontextoslatino-americanos.

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3OcasodoBambuco4:acolonialidadedopodernosestudosmusicais

Aevoluçãoeodesenvolvimentododiscursosobreobambucocolombiano,de

meadosdoséc.XIXameadosdoséc.XX,foramestudadosporCarolinaDelgado(2007)e

ilustra o problema da inacessibilidade epistêmica dos saberesmestiços e sua relação

conflitivacomomundoacadêmico.

O bambuco originou-se, provavelmente, nos grupos de sopros e percussão de

indígenasenegrosnaprovínciadeGranCauca(MIÑANA,1997apudDELGADO,2007),

sendo transmitidode formaoral, eao finaldoséculoXIX, ele jáera tocadonossalões

aristocráticos de Bogotá. Popularizou-se entre artesãos como uma forma urbana de

bambuco-canção,acompanhadaporinstrumentosdecorda,tornando-seumsímboloda

jovemnaçãocolombiana.Aospoucos,instrumentossinfônicoseuropeus,comoviolinos,

violoncelos e flautas, foram associados aos instrumentos de cordas autóctones, e a

tradição oral passa a tradição escrita, o que facilitou a difusão desta música local e

possibilitouasprimeiras gravações.Entretanto, algumaspessoas creditavamaorigem

do bambuco a uma práticamusical própria de escravos negros, e outras defendiam a

origemespanholadogênero,poisobambucosópoderiatornar-sesímbolonacionalse

fosse totalmenteeuropeizado,negandosuasraízesnativas.Pretendeu-se“purificar”5o

bambucoparaqueelepudesserepresentaronovocidadãorepublicano:homem,branco,

letrado, demonstrando-se a discriminação sobre a origem nativa do gênero e a

desvalorizaçãodaculturadenegroseindígenas.

A prática do bambuco e outros gênerosmusicais andinos também encontrou

oposições dentro domundo acadêmicomusical. O ConservatórioNacional adotou, em

1905,omodelodoconservatóriofrancês,excluindoapráticadequalquertipodemúsica

nãoacadêmicadentrodainstituição,comoumareaçãodasclassessuperiorescontrao

avançosocialdasclassessubordinadasesuamúsica.“Amúsicatradicionalestavafora

dosobjetivosartísticos,estéticoseintelectuaisdaacademia”(DELGADO,2007,p.203),

ratificandoahierarquizaçãodossaberes,avalorizaçãoexclusivadorepertóriomusical4http://www.todacolombia.com/folclor-colombia/musica-colombiana/canciones/cuatro-preguntas.html.5“Purezadesangue”:refere-seaosistemataxonômicodeclassificaçãoétnica,quedefiniaolugarquecadapessoaocupavana estruturada sociedade colonial, dependendodaquantidadede seu sangue “branco”espanhol.Omestiço(paiespanhol/mãeindígena)poderialimparseusanguedepoisdeduasgerações,seseusfilhos/assecasassemcomespanhóis.Estemecanismotambémfoiusadonoséc.XIXpara“purificar”práticas sociais de maneira simbólica, entre elas a música, associadas a diferentes grupos étnicos(DELGADO,2007).

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europeu em contextos formais de ensino e os dualismos erudito/popular,

acadêmico/nãoacadêmico,dentreoutros.

Outracontrovérsiasobreobambuco foiemrelaçãoasua transcrição,poisele

não se encaixava bem dentro de nenhuma métrica, fazendo com que muitos o

considerassem “defeituoso”. O ritmo do bambuco caracteriza-se pelo uso das seis

colcheias,comumaoutrospadrõesrítmicoslatinoamericanos,quepodeserescritonos

compassos 3/4 ou 6/8. A dificuldade surgiu na coexistência dos dois sistemas de

acentuação,quesepercebequandoos finaisde fraseedearticulaçãodamelodia(que

coincidemcomosacentosdotexto)raramentecoincidemcomosacentosdobaixoedas

mudanças harmônicas.Nomomento da execução, é habitual que as duas acentuações

coexistam,sendoqueosmúsicossaltamdeumaacentuaçãoparaoutra,oquefazparte

do jogo de destreza para manter a síncope. O problema estava na tentativa de

transcreverumamúsicatradicionaloraldentrodosistemaeuropeudeescritamusical,

cuja métrica funciona com temporalidades simétricas que choca com maneiras não

simétricas de contar e subdividir o tempo, encontradas na música tropical de raízes

africanas.

NoiníciodoséculoXXI,concluiu-sequeofatodeobambuconãoseencaixarna

métricaeuropeiaeraconsequênciadesteparadigmaserinsuficiente,limitadoeincapaz

de traduzir de maneira escrita o que se expressa de maneira performática. Seria

necessáriorompercomahegemoniadasmodosescritosdeconhecer, sobreosmodos

orais, intrínseca ao academicismo do séc. XIX, que quis fixar tudo no papel,

menosprezandoatransmissãooralprofessor-alunoeinvalidandoaexperiênciacorporal

comomeio de adquirir conhecimento. “Isto demonstra as profundas raízes que ainda

tem a colonialidade em nossas maneiras de saber, entender e assimilar tradições

musicaisquenãocorrespondemdetodoaparâmetrosmusicaiseuropeus”(DELGADO,

2007,p.212).

Osfatosocorridosemtornodobambucolevantamquestõesimportantesparaa

discussãosobreaspráticasmusicais,aaprendizagemformaleinformal,eaaceitaçãode

um gênero tradicional pela academia que afetam as concepções de ensino

instrumental/vocal, ainda impregnadas de pressupostos inculcados pela colonialidade

dosaber.

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4 Eurocentrismo e colonialidade do saber nas práticasmusicais e no ensino de

música

Tomando-se o Brasil como referência, podem-se destacar alguns fatos e

características das práticasmusicais e do ensino demúsica, desde o período colonial,

queevidenciamoeurocentrismoeacolonialidadedosaber.

Quandooprocessodecolonização foi instauradonoBrasil,aqui jáaconteciam

práticasmusicais sob formas ritualísticasde cantoedançavivenciadaspelosdiversos

povosameríndios.Comachegadadosjesuítas,em1549,começa-seacatequizaçãodos

indígenas, na qual a música teve papel preponderante. “Justamente em um cenário

religioso é que se trouxeram as primeiras informações da tradição musical erudita

europeia” (FUCCI-AMATO,2012, p. 22).Durante o séculoXVI, a Igreja foi responsável

portodaaeducaçãomusicalformal,desenvolvidapormeiodepráticassistemáticasao

modoeuropeu.JánoséculoXVII,oensinodemúsicacomeçouaatenderaeliteeocorria

nasresidências,conservatóriosouescolasdemúsica.Comavindadafamíliarealparao

Brasil, houve uma expansão das atividades artísticas, a importação de músicos, a

construçãodeteatros,sempreemfunçãodamúsicaeruditaeuropeia.Emcontrapartida,

aproduçãomusicalindígenaeafricanapermaneceucomopráticadetransmissãoorale

assistemática, excluída do ensino musical formal; sendo que chegou-se até a proibir

expressõespúblicasdamúsicadeorigemafricana(FUCCI-AMATO,2012).

Um antagonismo permaneceu comomarca doBrasil desde o início daColôniaatémeadosdaRepúblicanoséculoXX:adicotomiaentre,deumlado, a música de origem e cultivo popular e a educação musicalinformal, notadamente nas camadas populares – nas quais as culturasameríndiaenegrapodiampenetraresedifundir–,e,deoutro,amúsicaerudita e a educação musical formal para os mais abastados, estaspraticadas e transmitidas pela Igreja Católica, no ensino particular emdomicílioe,depois,nosconservatórios(FUCCI-AMATO,2012,p.24).

Acatequizaçãodosindígenas,naqualamúsicaestevepresente,foi,certamente,

um processo de imposição cultural e religiosa da metrópole sobre os colonizados.

Percebe-sequeasmúsicasdosnegroseindígenasalémdeseremconsideradasmenores

e excluídas do ensino formal, foram proibidas de serem executadas publicamente em

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diversas circunstâncias, evidenciando-se, mais uma vez, aspectos inerentes à

colonialidadedosaber.

Osconservatóriostambémexerceramumpapelfundamentalnareproduçãoda

músicaeuropeianoBrasil.OsprimeirosaseremcriadosforamoConservatóriodoRio

deJaneiro,em1841,eem1906,oConservatórioDramáticoeMusicaldeSãoPaulo,“que

iria consolidar-se como grande matriz brasileira do modelo europeu de formação

musical”(FUCCI-AMATO,2012,p.27).Havianãosóapretensãodeseimplantaraquio

ensino musical aos moldes europeus, como também uma crença de que este era o

melhoreúnicomodeloaserseguido,reiterando-seahegemoniaculturaleuropeia.

Fucci-Amato (2006) relata em estudos sobre os conservatórios musicais

brasileiros,quesemantémumgranderigorpedagógico,eaênfaseaovirtuosismoeà

performancederepertóriosmusicaisdosséculosXVIIIeXIX.Aautoradestacaque,aose

optar por um repertório dos períodos barroco, clássico e romântico, demonstra-se

desconhecimento e desinteresse pela produção musical contemporânea. Ela aponta,

também,acategorizaçãodegrupossociaisapartirdofatodeserounãoseralunodeum

conservatório, sendoque adisciplina e o estudo comafincodiferemos estudantesde

conservatóriosdaquelesqueestudammúsicapopular, cujosestudos sãoconsiderados

como amadores, por não utilizarem a leitura musical, tocarem “de ouvido” e

improvisarem, “princípios abomináveis dentro da culturamusical dos conservatórios”

(FUCCI-AMATO,2005apudFUCCI-AMATO,2006,p.10).Todosessesfatoresrevelama

visão eurocêntrica na formação musical oferecida pelos conservatórios, que

incorporaramereproduziramomodeloeuropeu.

A tradição dos conservatórios foi levada a instituições de ensino superior,

devidoaofatodegrandepartedoscursosdebachareladoemmúsicatersidocriadaa

partir da absorção de conservatórios por universidades (CERQUEIRA, 2010). Assim

sendo,aformaçãomusicaldebacharéisestabelece-senoscentrosdeformaçãomusical

em nível superior, reiterando a hegemonia da música erudita europeia. Este

pensamento, que sustentou a educação musical formal no Brasil, ainda apresenta

reflexos em instituições formadoras, tanto no nível básico quanto superior. Muitos

conservatórios e cursos de bacharelado em música mantêm em seus currículos um

repertório essencialmente europeu, demonstrando o predomínio do pensamento

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eurocêntriconaformaçãomusicalformal,nopaís.Damesmamaneira,afetaaformação

deprofessoresemalgunspaísesdaAméricaLatina,comoArgentinaeMéxico,pelofato

deestasedartantoemconservatórioscomoemuniversidades.

Segundo Cáceres (2001), a educação sistemática domúsico nos países latino-

americanos mantém-se fundamentalmente centrada nos Conservatórios de Música e

esta concepção encontra-se tão arraigada que o próprio nome carrega o sentido de

conservaramúsicaemseuestadooriginal.“Estapalabrahatenidotalfuerza,sobretodo

en nuestra Latinoamérica, que removermínimamente aquello que con tanto esmero ‘se

conserva’esrealmenteunatareadetitanes.Alparecer,loscolonizadosnopuedencambiar

lo que inventaron los colonizadores” (p. 1). O autor critica os intérpretes de música

clássica, cuja ambição é tocar muito bem os compositores eruditos e viajar para a

Europaparaaperfeiçoar-seemumaescolaalemãoufrancesa.Cáceresargumentaqueos

própriosmúsicoseuropeusjáestãoabertosanovostiposdemúsicaeafirma,deforma

irônica,quenosúltimoscemanos tambémnasceramcompositoresnaÁfrica,América

LatinaeÁsia.Eledenunciaopersistentepredomíniodopensamentoeuropeu sobreo

ensino e as práticasmusicais latino-americanas, visando despertar os sujeitos para a

valorizaçãodaproduçãomusicaldeseuspaíses,aindasubalternizados.

Deacordocomoexposto,pode-seperceberqueoeurocentrismoinfluenciaas

práticas musicais e fundamenta as concepções de ensino musical, afetando tanto o

conteúdo (ênfaseno repertório europeu, desprestígiodaproduçãomusical local) e as

estratégiaspedagógicas(rigortécnico, foconovirtuosismo),quantoasrelaçõessociais

(distinções e hierarquias entre o músico erudito e o popular). Ainda hoje, ensino e

práticasmusicaisencontram-seimpregnadosporconcepçõeseurocêntricas,apesardejá

sevislumbrarmovimentoscontráriosaesseparadigma.

5Oprocessodedecolonização:contribuiçõeseperspectivas

O GrupoModernidad/Colonialidad acredita que é necessário encontrar novos

conceitos e linguagens que deem conta das hierarquias de gênero, raça, classe,

sexualidadeeconhecimentoconsolidadasemtodoomundo,foradosparadigmasatuais,

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paraquesealcanceumpensamentoheterárquico6(GROSFOGUEL,2005apudCASTRO-

GÓMEZeGROSFOGUEL,2007).Adecolonialidade,então,éconcebidacomoaaberturae

a liberdade de pensamento e “de formas de vida-outras (economias-outras, teorias

políticas-outras);alimpezadacolonialidadedoseredosaber;orompimentodaretórica

damodernidadeedeseuimaginárioimperialarticuladocomaretóricadademocracia”

(MIGNOLO,2007,p.29).

Naperspectivadecolonial,“aculturaestásempreentrelaçada(enãoderivada)

aos processos da economia-política” (CASTRO-GÓMEZ e GROSFOGUEL, 2007, p. 16);

sendo assim, reconhece-se que há uma estreita relação entre capitalismo e cultura.

Mignolo(2007)afirmaqueadecolonialidadeéaenergiaquenãosedeixamanejarpela

lógica da colonialidade, e que o pensamento decolonial emergiu desde a fundação da

modernidade/colonialidade, como sua contrapartida. Portanto, a proposta do Grupo

Modernidad/Colonialidad é dar visibilidade aos conhecimentos “outros”, colocando a

diferença colonial no centro do processo de produção de conhecimentos (MIGNOLO,

2000apudCASTRO-GÓMEZeGROSFOGUEL,2007).

Castro-Gómez (2007) propõe decolonizar la universidad, envolvendo o

favorecimentodedoisaspectos:a)datransdisciplinaridade,quetrocaalógicaexclusiva

(istoouaquilo)pela lógica inclusiva(istoeaquilo);b)da transculturalidade,queabre

diálogos e práticas articuladoras com conhecimentos que foram excluídos do mapa

modernodasepistemesporseremconsideradosmíticos,supersticiososepré-racionais,

e submetidos ao domínio colonial europeu. O autor atenta para o sentido da palavra

“trans”quetemamesmaraizetimológicadapalavra“três”esignificaatransgressãodo

dois, quer dizer, “aquele que vai alémdospares binários quemarcaramodevenir do

pensamentoocidentaldamodernidade:natureza/cultura,mente/corpo,sujeito/objeto,

matéria/espírito,razão/sensação,unidade/diversidade,civilização/barbárie”(CASTRO-

GÓMEZ,2007,p.90).Eleenfatizaquenãosetratadeircontraaciênciamoderna,masir

alémdascategoriasdeanáliseedasdisciplinasmodernas,semnegá-lasoutrocá-laspor

algomelhor.

6Opensamentoheterárquicoéumatentativadeconceituarasestruturassociaiscomumanovalinguagemque transbordaoparadigmada ciência social eurocêntricaherdadado séculoXIX (GROSFOGUEL,2005apudCASTRO-GÓMEZeGROSFOGUEL,2007,p.18).

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Delgado (2007) acredita que é possível encontrar novos caminhos

metodológicos, se consideramos as abordagens de Mignolo (MIGNOLO, 2000 apud

DELGADO,2007)sobreaproduçãodeconhecimentos fronteiriços. “Pensarapartirda

fronteira significa refletir e construir a partir da consciência de nossa posição

intermediária,entreoeurocentrismoacadêmicoeasculturastradicionaisoupopulares”

(DELGADO,2007,p.213).

Pode-se considerar, comoum exemplo, o trabalho que tem sido desenvolvido

peloFLADEM7–FórumLatino-americanodeEducaçãoMusical, que éuma instituição

autônomaeindependente,formadaporeducadoresmusicaisdedezoitopaíses,quevisa

ofortalecimentodaEducaçãoMusicallatino-americana.Suacriaçãofoiumarespostaà

imposiçãodemodelosevaloresculturaisdecorrentesdoneoliberalismoeglobalização,

reagindo à dominação de pressupostos pedagógicos eurocêntricos e/ou

norteamericanos “que marcaram e que seguem influenciando o pensamento e as

trajetóriasdaeducaçãomusicalnaAméricaLatina”(BRITO,2012,p.105).Osprincípios

doFLADEM“trazemaEducaçãoMusicalcomoumdireitodoserhumano,detentorade

elementosculturais latino-americanos, representantedasdiversas identidades locaise

da identidade do povo latino-americano como um todo”8, acreditando-se que se deve

quebrarestereótiposebuscarapreservaçãodasraízesmusicaisdospovosqueformam

aAméricaLatina.

Contudo,hápelafrenteosdesafiosdereinterpretar-seahistória,

[...]paraencontraracolonialidadesubjacente[econseguirque]acríticaà diferença colonial vá além da dimensão política, e comece a afetarrealmente a maneira como as escolas de música se enfrentam com apesquisa e o ensino de músicas não acadêmicas (DELGADO, 2007, p.212-213).

Portanto,“acumplicidadedasciênciassociaiscomacolonialidadedopoderexige

aemergênciadenovoslugaresinstitucionaisenãoinstitucionaisdeondeossubalternos

possamfalareserescutados”(CASTRO-GÓMEZeGROSFOGUEL,2007,p.21).Torna-se

imprescindível amudançadeparadigmas, apartir da conscientizaçãodas implicações

7FLADEM:http://www.fladem.info8Disponívelem:http://www.fladembrasil.com.br

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que a modernidade trouxe para a constituição da identidade dos sujeitos latino-

americanos.

ReferênciasBRITO,T.deA..FLADEM–FórumLatinoamericanodeEducaçãoMusical:porumaEducaçãoMusicalLatinoamericana.RevistadaABEM,Londrina,v.20,n.28,p.105-117,2012.CÁCERES,E..Músicaeidentidad:lasituaciónlatinoamericana.Revistamusicalchilena,v.55,n.196.Santiago:jul./2001.Disponívelem:<http://dx.doi.org/10.4067/S0716-27902001019600007>.Acessoem:17mai.2016.CASTRO-GÓMEZ,Santiago.Decolonizarlauniversidad:lahybrisdelpuntoceroyeldiálogodesaberes.In:CASTRO-GÓMEZ;GROSFOGUEL(Org.).Elgirodecolonial:reflexionesparaunadiversidadepistémicamásalládelcapitalismoglobal.Bogotá:SiglodelHombreEditores,2007,p.79-92.CASTRO-GÓMEZ,S.;GROSFOGUEL,R.(Org.).Elgirodecolonial:reflexionesparaunadiversidadepistémicamásalládelcapitalismoglobal.Bogotá:SiglodelHombreEditores;UniversidadCentral,InstitutodeEstudiosSocialesContemporáneosyPontificiaUniversidadJaveriana,InstitutoPensar,2007.CERQUEIRA,D.L..Perspectivasprofissionaisdosbacharéisempiano.RevistaEletrônicadeMusicologia,v.XIII,jan./2010,pp.1-18.Disponívelem:<http://www.rem.ufpr.br/_REM/REMv13/06perspectivas_bachareis_piano.htm>.Acessoem:08mai.2016.DELGADO,C.S..Elbambucoylossaberesmestizos:academiaycolonialidadedelpoderenlosestudiosmusicaleslatinoamericanos.In:CASTRO-GÓMEZ;GROSFOGUEL(Org.).Elgirodecolonial:reflexionesparaunadiversidadepistémicamásalládelcapitalismoglobal.Bogotá:SiglodelHombreEditores,2007,p.195-215.FLORES-FLORES,J..Lecturanoeurocéntricadelosmovimientossocialeslatinoamericanos:lasclavesanalíticasdelproyectomodernidad/colonialidade.In:CASTRO-GÓMEZ;GROSFOGUEL(Org.).Elgirodecolonial:reflexionesparaunadiversidadepistémicamásalládelcapitalismoglobal.Bogotá:SiglodelHombreEditores,2007,p.243-266.FUCCI-AMATOR.C..Educaçãopianística:origorpedagógicodosconservatórios.RevistaMúsicaHodie,v.6,n.1.Goiás:RevistadoProgramadePós-graduaçãoStricto-SensudaEscoladeMúsicaeArtesCênicasdaUniversidadeFederaldeGoiás,2006.______.EscolaeEducaçãoMusical:(des)caminhoshistóricosehorizontes.Campinas:Papirus,2012.(ColeçãoPapirusEducação).

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