aspectos da biologia, o Êxito reprodutivo, a dieta...

4
X Jornada de Iniciação Científica do PIBICIINPA • 04 a 06 de Julho de 2001 • Manaus - AM EGO-09 ASPECTOS DA BIOLOGIA, O ÊXITO REPRODUTIVO, A DIETA E A SELEÇÃO SEXUAL DE COLOSTETHUS CAERULEODACTYLUS: A RECÉM DESCRITA ESPÉCIE DE COLOSTETHUS DA AMAZÔNIA CENTRAL Vânia Marília L. Guida', Albertina P. Lima 2 , Cláudia Keller 3 'Bolsista CNPq; 20rientadora INPA/CPEC; 3Co-orientadora INPA/CPEC. Projeto financiado pelo CNPq através do Auxílio a Pesquisa N2 460233/00-9 A família Dendrobatidae é composta pelos gêneros Aromobates, Dendrobates, Epipedobates, Minyobates, Phyllobates e Colostethus os quais possuem mais de ISO espécies. Os Dendrobatideos são conhecidos por suas brilhantes cores de advertência (aposemáticas) e pela presença de alcalóides tóxicas na pele. (Ford, 1993). No entanto, o gênero Colostethus, o mais diversificado com cerca de 98 espécies, são cripticamente coloridos e não possuem toxinas na pele. Sua distribuição abrange principalmente a baixa América Central até sudeste do Brasil (Meyers et al., 1991). Na Amazônia o gênero Colostethus é constituído por um complexo de espécies morfologicamente semelhantes muitas destas ainda não foram identificadas e consideradas como pertencentes a um grupo de espécies denominado Marchesianus (Coloma, 1995). Recentemente, Lima & Caldwell (200 I) nomearam de Colostethus caeruleodactylus uma nova espécie encontrada próxima a Manaus, Amazônia Central. Esta espécie possui uma característica de cor única dentro do gênero onde os machos possuem os dedos da pata dianteira e os dígitos azuis. Os machos de Colostethus caeruleodactylus defendem territórios que variam de 7 a 13 m 2 (Lima et al., no prelo). Estes autores sugerem que a defesa de território nesta espécie beneficia os machos, pois provêem um espaço conhecido para coaxar e atrair fêmeas, local para a fêmea desovar, local para alimentar-se e realizar, sem interferência de rivais, a corte de acasalamento. A corte é complexa e dura mais de dez horas. Defesa de uma área alimentar e reprodutiva separada por indivíduos ocorre em uma variedade de vertebrados (Gordon, 1997). Quando a territorialidade de machos persiste ao longo da estação reprodutiva, os arranjos dos espaços dos territórios podem influenciar no sucesso de obtenção de fêmeas para acasalar (Hixon, 1987). Isto porque, em áreas limitadas como territórios, os recursos alimentares podem ser limitados. Esta falta de recurso alimentar pode deixar alguns indivíduos inaptos para manter o território ou coaxar para atrair fêmeas, conseqüentemente reduzindo o "fitness" devido à reduzida obtenção de energia. Neste estudo será avaliado se o tamanho do território, a disponibilidade de alimento e atividade de canto pode influenciar no sucesso de acasalamento de machos de 117

Upload: buinhu

Post on 12-Dec-2018

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ASPECTOS DA BIOLOGIA, O ÊXITO REPRODUTIVO, A DIETA …repositorio.inpa.gov.br/bitstream/123/6994/1/Vania Marilia L Guida.pdf · município do Castanho. Em uma floresta de chuva,

X Jornada de Iniciação Científica do PIBICIINPA • 04 a 06 de Julho de 2001 • Manaus - AM

EGO-09

ASPECTOS DA BIOLOGIA, O ÊXITO REPRODUTIVO, A DIETA E ASELEÇÃO SEXUAL DE COLOSTETHUS CAERULEODACTYLUS: ARECÉM DESCRITA ESPÉCIE DE COLOSTETHUS DA AMAZÔNIACENTRAL

Vânia Marília L. Guida', Albertina P. Lima2, Cláudia Keller3'Bolsista CNPq; 20rientadora INPA/CPEC; 3Co-orientadora INPA/CPEC.Projeto financiado pelo CNPq através do Auxílio a Pesquisa N2 460233/00-9

A família Dendrobatidae é composta pelos gêneros Aromobates, Dendrobates,

Epipedobates, Minyobates, Phyllobates e Colostethus os quais possuem mais de ISO espécies.

Os Dendrobatideos são conhecidos por suas brilhantes cores de advertência (aposemáticas) e

pela presença de alcalóides tóxicas na pele. (Ford, 1993). No entanto, o gênero Colostethus, o

mais diversificado com cerca de 98 espécies, são cripticamente coloridos e não possuem

toxinas na pele. Sua distribuição abrange principalmente a baixa América Central até sudeste

do Brasil (Meyers et al., 1991). Na Amazônia o gênero Colostethus é constituído por um

complexo de espécies morfologicamente semelhantes muitas destas ainda não foram

identificadas e consideradas como pertencentes a um grupo de espécies denominado

Marchesianus (Coloma, 1995). Recentemente, Lima & Caldwell (200 I) nomearam de

Colostethus caeruleodactylus uma nova espécie encontrada próxima a Manaus, Amazônia

Central. Esta espécie possui uma característica de cor única dentro do gênero onde os machos

possuem os dedos da pata dianteira e os dígitos azuis. Os machos de Colostethus

caeruleodactylus defendem territórios que variam de 7 a 13 m2 (Lima et al., no prelo). Estes

autores sugerem que a defesa de território nesta espécie beneficia os machos, pois provêem

um espaço conhecido para coaxar e atrair fêmeas, local para a fêmea desovar, local para

alimentar-se e realizar, sem interferência de rivais, a corte de acasalamento. A corte é

complexa e dura mais de dez horas. Defesa de uma área alimentar e reprodutiva separada por

indivíduos ocorre em uma variedade de vertebrados (Gordon, 1997). Quando a territorialidade

de machos persiste ao longo da estação reprodutiva, os arranjos dos espaços dos territórios

podem influenciar no sucesso de obtenção de fêmeas para acasalar (Hixon, 1987). Isto

porque, em áreas limitadas como territórios, os recursos alimentares podem ser limitados. Esta

falta de recurso alimentar pode deixar alguns indivíduos inaptos para manter o território ou

coaxar para atrair fêmeas, conseqüentemente reduzindo o "fitness" devido à reduzida

obtenção de energia. Neste estudo será avaliado se o tamanho do território, a disponibilidade

de alimento e atividade de canto pode influenciar no sucesso de acasalamento de machos de

117

Page 2: ASPECTOS DA BIOLOGIA, O ÊXITO REPRODUTIVO, A DIETA …repositorio.inpa.gov.br/bitstream/123/6994/1/Vania Marilia L Guida.pdf · município do Castanho. Em uma floresta de chuva,

X Jornada de Iniciação Científica do PIBIC/INPA • 04 a 06 de Julho de 2001 • Manaus - AM

C. caeruleodactylus; se existe mudança da dieta com o crescimento dos sapos; e descrever a

variação no número de machos coaxando ao longo do ano.

O trabalho de campo esta sendo realizado na estrada de Autazes, Ramal do KM 12,

município do Castanho. Em uma floresta de chuva, que tem uma topografia formada por

pequenos platôs e vales. Os vales possuem pequenos igarapés que inundam durante as

enchentes dos rios Madeira e Paraná do Araçá. O estudo foi feito em 2 áreas de 200m2

marcadas por um sistema de grades subdivididos com seções de 5x5 metros. Os sapos'

capturados receberam uma marca individualizada e permanente, o método utilizado foi o corté

da falange apical de um ou dois dedos. Foi determinado o território de 15 machos através de

localizações repetidas de indivíduos marcados e de experimento de "playback" utilizando

gravações de vocalizações. Os tamanhos dos territórios foram estimados, pelo cálculo da área

mínima de um polígono convexo através do programa RANGES V. (Kenward & Hodder,

1995). O sucesso reprodutivo foi estimado pelo número de desova encontrada dentro do

território de cada macho. A dieta foi estimada por itens encontrados no estômago. Foram

encontradas quatorze categorias de presas, as que contribuíram com menos de 10% do

número na dieta de todas as categorias de tamanhos de sapos foram agrupados como "outros".

Na categoria "presas voadoras" incluí as Hymenopteras (não formigas) e Dípteras. Os sapos

foram agrupados nas seguintes classes de comprimento rostro-uróstilo (mm): < 8,0; 8,0- 8,9;

9,0- 9,9; 10,0- 10,9; 11,0- 11,9; 12,0- 12,9; 13,0- 13,9; 14,0- 14,9 e 15,0- 16,0. A

disponibilidade de presas foi estimada de amostras de solo com liteira, tirados com um trato

de 6.4 x 6.6 em de largura e 5 em de altura, coletadas no mês de Março, a fauna foi extraída

em funis de "Berlese-Tullgren" durante oito dias. Os invertebrados foram identificados ao

nível de ordem ou família. As amostras foram coletadas em um ponto no centro de cada

território. Para descrever o período reprodutivo ao longo do ano, foi contando o número de

machos coaxando dentro das duas áreas em intervalos de quinze dias. A persistência ou

freqüência da atividade de coaxar foi quantificada em intervalos de meia hora em períodos de

vinte dias no mês de março.

Colostethus caeruleodactylus come uma ampla diversidade de presas. Porém, somente

CInCO categorias (Formicidae, Coleoptera, Acarina, Collembola e Presas Voadoras)

representaram mais de 10% da dieta, em pelo menos uma das classes de tamanhos dos sapos.

As proporções do número de Acarina e "Presas Voadoras" na dieta diminuíram (r2=0,90;

F1,4=38,7; P=0.003 e r2=0,90; FI,5=47,6; P=O.OOl respectivamente), e as proporções de

"Outros" aumentaram (r2=0,77; F1,6=19,9; P=0.004) com o aumento no tamanho de C.

caeruleodactylus. Já as proporções de Coleoptera aumentaram até um tamanho intermediário

118

Page 3: ASPECTOS DA BIOLOGIA, O ÊXITO REPRODUTIVO, A DIETA …repositorio.inpa.gov.br/bitstream/123/6994/1/Vania Marilia L Guida.pdf · município do Castanho. Em uma floresta de chuva,

X Jornada de Iniciação Científica do PIBIC/INPA • 04 a 06 de Julho de 2001 • Manaus - AM

e diminuíram quando os animais alcançaram maiores tamanhos (r2=0,65; F2,6=5,6; P=0,043).

Não houve relação estatisticamente significativa entre as proporções de Formicidae (P=0,3)

ou Collembola (P=0,7) e o tamanho dos sapos. O número de desovas nos territórios foi

relacionado positivamente com freqüência de canto (r2=0,44; FI,II =8,5; P=0.014), porém não

foi relacionado com a disponibilidade de presas nos territórios (P>0.38) ou com o tamanho

do território (P>0.9). Os machos começaram a cantar no começo de fevereiro com pico em

março e pararam em junho.

Colostethus caeruleodactylus mudam os tipos de suas presas conforme vão crescendo.

No entanto, tem sido sugerido que parte da mudança é divido à distribuição dos tamanhos

médios dos tipos de presas disponíveis serem diferentes para os diferentes tamanhos dos

sapos (Lima & Moreira, 1993; Lima & Magnusson, 1998; Lima, 2000). Estes autores

sugerem que os sapos pequenos estariam limitados a comer acarina e collembola. No entanto,

C. caeruleodactylus continuou comendo grandes proporções de collembola mesmo quando

atingiu estágio adulto. Indicando que está espécie parece ter uma grande seleção para esta

presa. A persistência em cantar influenciou positivamente o sucesso reprodutivo de C.

caeruleodactylus. Enquanto a disponibilidade de alimento e o tamanho do território não

tiveram efeito. As fêmeas de C. caeruleodactylus não são territoriais e movem entre o

território de vários machos. E machos quando carregando girinos para à água, eventualmente

passam pelos territórios de outros machos. O recurso alimentar nos territórios tem sido

sugerido não ser um fator limitante para espécies no qual machos e/ou fêmeas passam pelos

territórios do vizinho Prõhl (1997). Territorialidade em C. caeruleodactylus, como em outros

dendrobatides, é um local para reproduzir sem interferência de outros machos rivais e

tamanho do território não parece ser um fator usado pela fêmea para medir a qualidade do

macho, como acontece em E. femoralis (Roithmair, 1992). No qual as fêmeas selecionaram os

machos com maiores territórios (Roithmair, 1992). A atividade de coaxar envolve alto custo

de energia (Taigen & Wells, 1985). Em C. caeruleodactylus a freqüência de coaxar foi

positivamente associada ao sucesso reprodutivo do macho, portanto nós sugerimos que isto

foi usado pelas fêmeas para medir a qualidade dos machos. Os machos de C.

caeruleodactylus coaxaram continuamente do fim de fevereiro até o fim de maio, meses com

a média anual de chuvas mais alta. Atividade reprodutiva em conjunção com a estação

chuvosa ocorre em outras espécies de Colostethus, incluindo C. iguinalis (Wells, 1980), C.

marchesianus e C. stepheni (Moreira & Lima, 1991).

Coloma, L. A. Miscellaneous Publication, 87: 1-72, (1995).

119

Page 4: ASPECTOS DA BIOLOGIA, O ÊXITO REPRODUTIVO, A DIETA …repositorio.inpa.gov.br/bitstream/123/6994/1/Vania Marilia L Guida.pdf · município do Castanho. Em uma floresta de chuva,

X Jornada de Iniciação Científica do PIBICIINPA • 04 a 06 de Julho de 2001 • Manaus - AM

Ford, L. Ethology Ee,ology & Evolution, 5: 219-231, (1993).

Gordon, D. M. TREE, 63-64, (1997).

Hixon, M.A. Am zool, 27: 229-248, (1987).

Kenward, R.; Hodder, K. H. Norwejian Inst. Nat. Res./ US Nat. BioI. Serr. 65, (1995).

Lima, A. P. ; Magnusson, W. E. Oecologia, 116: 259-266, (1998).

Lima, A. P. ; Caldwell, J. P. Herpetologica, 57: 180-189, (2001),

Lima, A. P. ; Moreira, G. Oecologia, 95: 93-102, (1993).

Lima,A. P. et aI. Copeia, No prelo, (2001).

Lima, A. P. Journal of Herpetology, 32: 392- 399, (1998).

Moreira, G. ; Lima, A. P. Herpetologica, 47: 295-300, (1991).

Murphy, P. W. Butt, 75-114, (1962).

Myers, C. W. et al. American Museum Novitates, 3002: 2-33, (1991).

Prohl, H. Amphibia-Reptilia, 18: 437-442, (1997).

Roithmair, M. E. Ethology, 92: 331-343, (1992).

Taigen, T. L.; Wells, K. D. J. Comp. Physiol, 155: 163-170, (1985).

Wells, K. D. Behav. Eco!, Sociobiol,6: 199-209, (1980).

120