aspectos da alimentaÇÃo do pacu adulto, l2olo11oma, … · ao dr. haroldo pereira travasses, meu...

102
ANTÔNIA JOSÉ DA SILVA 05 B Z ASPECTOS DA ALIMENTAÇÃO DO PACU ADULTO, olo11om νlr (BERG, 1895) (PISCES, CHARACIDAE), NO PANTANAL DE MATO GROSSO Dissertação apresentada à Coordenação de Pós • Graduação em Zoologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas (Zoologia). RIO OE JANEIRO 1985

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ANTÔNIA JOSÉ DA SILVA •

05 B ', Z

ASPECTOS DA ALIMENTAÇÃO DO PACU ADULTO,

l2olo11oma, nulrei (BERG, 1895) (PISCES, CHARACIDAE),

NO PANTANAL DE MATO GROSSO

Dissertação apresentada à Coordenação de

Pós • Graduação em Zoologia da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, para obtenção

do título de Mestre em Ciências Biológicas

(Zoologia).

RIO OE JANEIRO

1985

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'

SILVA, ANTÔNIA JOSÉ

Aspectos da alimentação do pacu_rdul

to, Colossoma mitrei (Berg, 1895) (/isce&

Characidae),-no Pantana� de Mato Grosso.

Tese: Mestrado em Ciências BiolÓgi-

cas (Zoologi�) .

1. !etiologia 2. Alimentação : .

3. Cha-

racidae

5. Teses

4. Pantanal Mato-grossense

I. Universidade Federal do Rio de Janei-

ro

II. Título

Comissão examinadora

Antenor Leitão de Carvalho

Eugênio Izecksohn

MelguÍades Pinto Paiva

Rio de Janeiro, 27 de junho de 1985

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ii

.Trabalho realizado .B:º Departamento de Biologia, Centro de Ci-1 , -

ências Biológicas e da S�Úde da Universidad'

Federal de Mato

Grosso, com recursos do Convênio Instituto Euvaldo Lodi (IEL)­

NÚCleo Regional de Mato Grosso e Universidad( Federal de Mato

Grosso

i· .

\.-·

'

Orientador:

Prof. Dr. Sebastião Luiz de Oliveira e Silva

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'

J

)

Aos meus pais

iii

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� iv

"°" AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Sebastião Luiz de Oliveira e Sil,

, Universidade

Federal Rural do Rio de Janeiró, pela valiosa orientação e

apoio constante.

Ao Dr. Haroldo Pereira Travasses, meu primeiro orienta-. , . . . dor, cuJa rnem?ria agora reverencio.

Ao Dr. Arnaldo Campos dos Santos Coelho, Coordenador do

C�rso de P?�-Gradu�ção em Zoologia da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, e ao corpo docente do referido Curso,

compreensão, incentivo e atenciosa troca de idéias.

pela

À Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),através dos

ex-reitores, Dr. Gabriel Novis Neves e Dr. B. Pedro Dorileo e

ao Instituto

Dr. Otac.Ílio

Euvaldo Lodi (IEL), através do Diretor Regional, \.-

�orges Canavarros, pelo auxílio financeiro, sem

o qual esta pesquisa não seria realizada.

Às Professoras Jane B. G. Gouvêa1

ex-chefe do Departarneg

to de Biologia e Maria de Lourdes B. De Larnônica Freire da

antiga Coordenação de P?s-Graduação e Pesquisa, UFMT, pela

oportunidade e bolsa concedida através do Plano Institucional

de Capacitação de Docentes (PICD).

Ao Coordenador Regional da SUDEPE em Mato Grosso, Senhor

Aziz Calixto Said, pela providência da licença permanente pa­

ra se trabalhar no Pantanal.

Aos Mestres, Carolina Joana da Silva, Miriarn Arabela da

S. Serrano, Departanento de Biologia e Pedro Nonato da Concei

ção, Departamento de Engenharia F�9restal, UFMT, pela leitura

do manuscrito e sugestões •

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V

Aos docentes Cátia Nunes da Cunha, Carolina Joana da

Silva e Dr. Nagib S�ddi, Departamento de Bio�og;a, UFMT e Dr�

Graziela Maciel Barroso, ,,Jardim Botânico do fio de Janeiro,

pelo aux�lio na identificação e/ou confirrnaç� do material bo

tânico.

Ao Prof. _Jos� Roberto B. Monteiro, pelo aux�lio na esco­

lha e reconhecimento das áreas de estudo e aos laboratoris­

tas Benedito Rondon e Paulo P. de Morais, Departamento de Bio

logia, UFMT, pelo bom andamento das atividades de coleta de

campo.

À. Prof!!. Iolanda Antônia da Silva e à_s estagi�rias Aloí­

sia das. Rondon, Julieta c. Marques, Mariete da c. Rodrigues

e Narriman de A. Menezes e ao laboratorista Sebastião M. da

Silva, Departamento de Biologia, UFMT,pelo auxílio nos traba­

lhos de campo e/ou laboratório. ·\_.

À Dr!! . Tamara June Lister, Departamento de Biologia, UFM� ..

pela tradução do resumo.

Às Eng!!s. Sanitaristas Sara S. AtÍlio e Suzan L. de Andra

de, pelas ilustrações a nanquin.

' À_ Secretária Neusa Dorileo de F. Rondon, pelos serviços

de datilografia.

A todas as pessoas e Instituições que contribuíram, dirg

tamente ou indiretamente, para a realização deste trabalho.

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... ,. ABSTRACT

1 J

vi

The feeding of 11 pacu 11 , Colossoma mitrei (Berg, 1895) in

h 1 f . . . d/ h th t e Pantana o Mato Grosso, was investigate · in t e mon s

of February and March 1977 and in the period between February

1981 and January 1982.

Stomach fullness and diet composition in this species·

were directly related to the variation of the water levels in

the region and the availability of food in the

biotopes studied.

different

The stomachs contained both plant and animal food. The

pre�omination of plant items in the diet of this species

characterized it as being mainly herbivor�us, plthough its

diet did include secondary items suclf as fish, crustaceans

and occasional mollusks.

Fruits and seeds were the most important items among the

available food sources in the diet of e. mitrei and were

utilized in.both flooded and receding water periods. How the

clearing of land at the headwaters of the river and in flooded

areas threatens the survíval of this species is discussed.

, . .,,..

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vii

RESUMO

j A alimentação -do pacu, Colossorna mitrei perg, 1895), no

Pantanal de Mato Grosso, foi investigada nos meses de feverei

ro e março de 1977 e no período de fevereiro de 1981 a janei­

ro de 1982.

Foi constatado que as variações dos graus de repleção

dos estômagos e da composição-da dieta da espécie em estudo

estão relacionadas às flutuações do nível da água na região e

à disponibilidade de alimento nos diferentes biÓtopos estuda­

dos.

o espectro alimentar de e. mitrei compõe-se de elementos

vegetais e animais. Os vegetais foram os itens mais irnportag \.-·

tes no regime alimentar da espécie, caracterizando-a corno pr�

dorninanternente herbfvora, embora sua dieta possa também in-, , ...

cluir itens secundarios como peixes, crustaceos e, as vezes,

moluscos.

'

Dos recursos disponíveis no ambiente os frutos e semen-

tes constitu�ram o item mais importante na.dieta de Colossorna

mitrei, sendo utilizados pela e�pécie nos períodos de enchen­

te e vazante. Em razão disso, discute-se o que os desmatamen

tos das cabeceiras e das áreas inundáveis representam como a­

meaça à sobrevivência da espécie •

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... CONTEÚDO

J ' . ,·

1. INTRODUÇÃO ..•••.•.•.•.••...••.••.....•.•....

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 2.1. Pantanal Mato-grossense •••••••••••••••• 2.2. Locais de estudo ••••••••••••• -••••••••••

2. 2. 1. Calha do rio Cuiabá 2.2_2. Baía de Chacororé e Baía de Sá-Ma

_riana 2. 2. 3. Porto Cercado e Porto Jofre ___ ••

2. 2. 4. Rodovia Transpantaneira -··-·-···

3. MATERIAL E MÉTODOS 3 _ 1. Coleta de dados gerais .••• _ ••••••••••••• 3.2. Alimentação .•.•.••••.••••••••••.•.••••.

4. RESULTADOS . '-·

4. 1. Aspectos morfol�gicos de Colossoma mitrei � relacionados com a alimentaçãg

viii

PÁGINA

1

9

16 16

17 21 21

23 26

4.1.1. Dentes .......................... 33

'

4. 1. 2. iRastros branquiais 4. 1. 3. Aparelho Digestivo

4-2- Alimentação

. . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . .

4. 2-1- Graus de �epleção dos es�Ômagos e composição da dieta_ 4-2. 1-1. Calha do rio Cuiabá ··-· 4. 2. 1:2. Baía de Chacororé __ •••• 4. 2_1. 3. Baía de Sá-Mariana ••••• 4.2_1_4. Porto Cercado -········· 4_2_1.5. Porto Jofre ----�-----·-4-2.1.6. Rodovia Transpantaneira_

4_2_2_ Índice Alimentar (IA) ·····-·-··-

33 35

36 43 44 45 46 47 50

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ix

5. DISCUSSÃO . . . . - . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

-,.:• 1 •

6. CONCLUSÕES 79

7. REFER�CIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . .. . . _..,_ / ..

82

\.-·

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1.

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INTRODUÇÃO .. .... :.,

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º Pantanal constitui! ainda� dos

' ... .-. ·-� � .,. .. ��-

mais .!mpo��ari:es .::��

tros de reprodução da fauna e flora no Contyent� Americano

(BRASIL, SUDECO, 1978); todavia, do ponto de vista científico,

é urna das áreas menos estudadas·no Brasil (MEYERSON, 1981).

A região apresenta fisionomicamente duas fases distintas \

durante o ano. No período da cheia assume o aspecto de um

alagado, em conseqüência do tr ansbord�ento dàs calhas dos

rios componentes dà bacia do rio Paraguai. Tendo a

pouca declividade (0,03 a 0,15 rn/krn), o escoamento das

região

aguas

é lento; por isso elas extravasam para os campos e matas, re�

tando algumas áreas não atingidas pelas águas, 1 •

denominadas

"cordilheiras". No per�odo da seca, o quadro,hidrográfico as . \..-· .

surne a sua feição natural , os rios retornam aos respectivos

leitos e o lençol freático desce para mais de 10 m de profun­

didade (LOUREIRO et al., 1982).

A origem das cheias no Pantanal tem preocupado os pesqui .. sadores desde longa· data.· Assim, LEVERGER, o BARÃO DE MELGA-

ço, em seu roteiro de .·�navegação -c10 rio ·paraguai, constatou

que as cheias deste rio a jusante das grandes lagoas (Uberaba,

GuaÍba e Mandioré) são mais tardias em relação ao norte da

bacia (LEVERGER, 1862 apud FRANCO & PINHEIRO, 1982).

ORIOLI et al. (1982) salientam que as cheias e alagamen­

tos comÚns no Pantanal não es.tão ligados à pluviosidade local,

mas sim aos problemas de drenagem refletidos na dificuldade ,...._:.

de escoamento das águas. O sistema de drenagem denso,

fre-

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't

2

qüentemente obstruído por sedimentos aluviais transportados

pelas águas, condic1ona o aparecimento de am�ie�tes com caraE

terísticas próprias, conhecidas popularment� como "baías", "va

zantes" e "corixos", que favorecem o desenvo7imento da fauna

e da flora, onde se encontram espécies raras ou em extinção,

tornando a região um dos mais ricos recantos ecológicos já

vistos no mundo.

Os peixes, como toda a fauna pantaneirá, estão adaptados

para conviver com os ciclos de seca e cheia, de modo que a

ausência das enchentes influencia a sobrevivência das ,

espe-

cies, particularmente das espécies migradoras, cujos compor­

tamentos alimentares e reprodutivos são dependentes das osci­

lações hidrológicas da região.

Os movimentos cíclicos dos peixes no Pantanal, ou seja ;, \..·

"piracema", "rodada", e "lufada", também são dependentes das

variações do nível da água na região. S �gundo IHERING ( 19 2 9 ) ,

o termo indígena "piracema", que etimologicamente significa

"fluxo de peixe", tem dois significados distintos: refere-se

tanto aos cardumes que sobem os r.ios para desovar, como à pró­

pria ação da desova. _Em administração de recursos pesqueiros,

o termo é utilizado neste Último sentido, isto é, época de de

sova dos peixes migradores (LIMA, 1984), que ocorre no perío-

do da enchente. • ,

Durante e apos a desova;os cardumes rodam a

favor da correnteza em direção aos pantanais; por essa

este movimento descendente é denominado "rodada".

razao

Nessas

áreas inundáveis, onde a oferta alimentar é abundante, os pei

xes permanecem de 4 a 5 meses. , -

Quando as aguas vao baixando

(vazante) ,os peixes procuram sair precipitadarrente das baías,

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lagoas e corixos para os rios, conforme já assinalado por A­

GUIRRE (�945). Essa[movimentação de peixes é c�n�ecida regi2

nalmente como" época dá "lµfada". Todavia, n4,m todos os pei-

xes saem para o rio principal. , . -"" As especies ro migradoras

permanecem nos rios menores, baías, corixos e alagados perma­

nentes e temporários, na maioria das vezes, juntamente com os

jovens e os pré-adultos das esp�cies de piracema. Neste estu

do; "pré-adultos" são os indivíduos que já passaram da fase 1 .,

jovem, mas ainda não são adultos porque não atingiram o tama­

nho da primeira maturação gonadal, e, em conseqüência, não es

tão aptos para se reunir em cardumes e efetuar migração rio

ac�ma.

, Estudos sobre o regime ,alimentar de peixes, em areas i-

nundáveis no Brasil, relacionados à,s oscilações sazonais flu­

vi9métricas, foram realizados princi�almente na Amazônia (HON ' 'C

DA, 1974; CARVALHO, 1979; SANTÇ)S, 1979; PAIXÃO, ·1980; GOULDING

1980; ALMEIDA, 1980; CARVALHO, 1981; GOULDING & CARVALH0, 198�.

Pesquisas bibliogr�ficas mostram que, _além dos trabalhos '

de cunho sistem�tico, poucos estudos foram feitos sobre a bio

logia de peixes na região pantaneira (AGUIRRE, 1945; MACHADO,

1983; LIMA et al., 1984 a, b; SAZIMA & CARAMASCHI, 1984; SIL­

VA et al., 1984 a, b).

A falta de estudos biológicos e ecológicos sobre os pei­

xes do Pantanal, em particular de estudos que tratem das in­

ter-relações dos peixes com a flutu_ação do nível das águas na

região, motivou a realização deste tr_abalho, e para tal, esc2 .,. ....... :

lheu-se um dos peixes mais representativos da ictiofauna pan-

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4

taneira, conhecido vulgarmente como pacu, pacuguaçu, pacu-ca-"''

ranha e caranha (GODOY, 1975).

'· J· . ' O pacu pertence ao genero Colossoma (Ch�aciformes, Cha-

racidae) � possui amp0

la distribuição geográfil na América do

Sul, ocorrendo desde a bacia do rio Orenoco· (MAGO LECCIA,197{l,

na Venezuela·, até à, bacia do rio da Prata (RINGUELET et al.,

1967), no Uruguai. No Pantanal, o gênero Colossoma é repre­

sentado por uma Única espécie (H.A. _BRITSKI, com. pessoal), iC 1

identificada no presente estudo como Colossoma mitrei (Berg,

1895) Eigenmann, 1910 (Fig. 1). Segundo FOWLER (1950), pare­

ce ser uma esp�cie restrita à bacia Platina, encontrada nos

rio� Paraná, Paraguai e Uruguai e seus tributários.

1 Outras espécies do gênero Colossoma, e. macropomum (Cu­

vier e e. brachypomum (Cuvier), conhecidas popularmente como ' - � tambaqui e pirapitinga, respectivamente, são�quivalentes eco

lógicos de e. mitrei na bacia Àrnazônica. Estudos sobre a ali

mentação de e. macropomum foram realizados por RONDA (1974),

GOULDING (1980), CARVALHO (1981) e GOULDING & CARVALHO (1982) 4

e de e. bidens (= e. brachypomum) por GOULDING (1980). Esses

peixes, principalmente_c. macropomum, dese�enham importante

papel·no equilíbrio do ecossistema e na pesca comercial da A­

mazônia (GOULDING, 1979, 1980� GOULDING & CARVALHO, 1982).

(*) MACHADO-ALLISON (1982), em sua tese de Doutorado, identi­ficou a éspécie da bacia faraná-Paraguai _como Piaractus mitrei._, (Berg, 1895)� todavia, segundo o citado autor, o reconhecimento taxonômico formal do gênero será objeto de um trabalho ainda a ser publicado.

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6

Considerando os outros peixes de escama·do Pantanal Ma--..e-

tc-grossense, e. mitrei ocupa o segundo luga� e� tamanho e pe

so, sendo ul trapa·ssado apenas pelo. dourado <4almi�us maxillosus

Valenciennes). PescFdores antigos da região 'J!-irmam que, até

o início da década passada, a captura de exemplares com pe­

sos superiores a 10 quilogramas-era relativamente comum. Nes

te estudo, o maior exemplar coletado pesou 6,560 kg e mediu

60, 21cm de comprimento total. Esta �spécie tem posição de

destaque na pesca comercial de Mato Grosso (LIMA, 1981). Con

tribui para o sustento dos ribeirinhos, que têm na pesca de

subsistência a sua fonte de prote�nas e de renda. e. mitrei,

juntamente com o dourado, Salminus_rnaxillosus Val., e o pinta

do, Pseudoplatystorna corruscans (Agassiz), são os·alvos prin­

cipa±s dos pescadores esportivos. Infelizrnente,não há dados

sobre a pesca amadorista no Estado. ' �-H� quarenta e cinco anos,.RODOLPHO VON IHERING, cognomi-

. -nado 11 0 pai da piscicultura brasileira", 3:essaltava as poten-

cialidades da espécie em estudo, indicando-a corno uma das

�is promissoras para a piscicultura nacional. ( IHERING, 1940) •

Nesse sentido, trabalhos experimentais realizados por vários

autores- confirmam a viabilidade de cultivo <la espécie em am­

bientes.artificiais (GODINHO et al., 1977; CASTAGNOLLI & D0-

NALDSON, 1981; CESTAROLLI et al., 1984; PINTO & CASTAGNOLLI,

1984� TORLONI et al., 1984; VERANI et al., 1984).

e. mitrei apresenta de11tição robusta especializada para

fragmentar e triturar os alimentos, principalmente frutos, s�

mentes e folhas da vegetação encontrada nos diferentes biÓto­

pos do pantanal. Conforme FRYER & ILES (1972), peixes com

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tais hábitos alimentares são recomendados para projetos ....

piscicultura, como já_/ havia previsto

Apesar da.importância econômica,

e. mitrei para os países que integram

IHERIN!} (J. 940 ) •

soc.iaJ. j j eco.lÓgica

a bacia/Platina, ou

7

de

de

se-

ja, Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina, poucos estudos fo­

ram feitos acerca de sua biologia.e ecologia, em ambiente na­

tural. Destacam-se dois trabalhos recentes realizados por LI

MA et al. (1984 a,b). O primeiro trata de aspectos relaciona

dos 0

com' á repr�dução: '· )o segundo sobre o crescimento da· es-1'

pécie; ambos no rio Cuiabá, Mato Grosso. Considerando o regi

me alimentar da espécie, encontram-se na literatura algumas

informações gerais que consistem em_ citações muito I vagas (DE

VINCENZI & TEAGUE, ·1942; AGUIRRE, 1945; RINGUELET et. al. ,

1967) e uma relação dos organismos presentes n� conteúdo este

macal de um Único exemplar (GODOY, i'�i7 5) •

o esforço de pesca sobre e. _mitrei-cresce assustadoramen

te e os habita�s adequados para a alimentação e · reprodução

desse peixe vêm diminuindo de modo expressivo nos Últimos a-

nos. Estes fatos enfatizam cada vez mais que se defina uma

política de conservação da espécie. Desse programa conserva­

cionista dependerá o futuro não s� de e. mitrei como de ou­

tras espécies migradoras do Pantanal, sendo necessário um co

nhecimento consistente das necessidades ecológicas das

cies.

espe-

Por essa razão, o presente estudo tem como objetivo for­

necer informações sobr� .. a alimentação de C. mitrei em difereg . �· .. � .

tes bi�topos do Pantanal Mato-grossense e sua relação com a

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8

flutuação do nível das águas na região. Com esta.investiga­..,... ção pretende-se tambem iniciar estudos sobre ,as_ interações

existentes entre as plantas e a ictiofauna pJntaneira.

l

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... 2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1. Pantanal Mato-grossense J )

A área do presente estudo está posicionada entre os pa­

ralelos 1 5232•s e 1722s•s e os meridianos 552 5o•w e 57200 1 w,

na bacia do Alto Paraguai, integrante da bacia Platina. Os

locais de estudo estão situados nos municípios de cuiabá, San

to Antônio do'Leverger, Barão de Melgaço e Poconé (Fig. 2).

Esta área encaixa-se na unidade geornorfolÓgica definida

pelo projeto RADAMBRASIL corno "Planícies e Pantanais Mato­

grossenses" (FRANCO & PINHEIRO , 1982).

O termo 11 Pantanal 11 tem sido objeto de discussão para os

pesquisadores. WILHELMY (19 58), ern\.eu extenso trabalho so-

bre o Pantanal, consideroi:i o termo incorreto e supôs que as

viagens fluviais levaram os espanhóis; os portugueses à con­

vicção errônea 'de que o Pantanal era urna enorme área pantand-

5ip. Esse autor, após sobrevoar a região, afirma que, supreen

dentemente, não existem áreas exclusivamente pantanosas e que

em todos os lugares se encontra terra firme, que permanece s�

ca mesmo durante as grandes enchentes. Assim, STEFAN (1964)

apud FRANCO & PINHEIRO (1982) observou que, em Mato Grosso,

pantanal não é sinônimo de pântano, terreno brejoso, e sim de

vasta planície, bem drenada, sujeita a inundações periódicas

do rio Paraguai e seus afluentes. Para o MARECHAL RONDON, as

variações florísticas, fitofisionôrnicas e topográficas justifi >o-;.'lf."

cavam a existência de diversos pantanais, dentre os quais re-

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-· _ ·- LIMITE ESl'ADUAL

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Fig. 2 Mapa da região estudada; as setas indicam os locais

de coleta de amostras.

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11

conheceu de ·norte para sul: Pantanal do Cuiabá, do são Loureg

ço, do Taquari, do Rio Negro, do Aquidauana, ,do.M�randa, de

Corumbá, do Nabíleque, do Tererê e do rio Apt {PEREIRA, 1944

) , �

apud FRANCO & PINHEI�O, 198_2 • · Alem desses, _rtros autores

discordam do termo pantanal e tentaram adequar outras_denomi-

nações para a área. Todavia, o-termo é tão tradicionalmente

aceito que foi adotado pelos pesquisadores do projeto RADAM­

BRASIL, apenas adequando-o ao fato de existirem diferente fi-1

sionomias.

O clima da região, segundo a classificação de KBppen,

do tipo AW, com temperaturas médias oscilando entre 232

e

e

2s2c, as menores nos planaltos e as maiores nos Pantanais Ma­

to-gros�enses, onde as máximas absolutas ultrapassam 402C. P�

ra LOUREIRO et al. {1982), um dos fatores de maior influência

na climatologia da região é a sua co\npartimentação geomorfolÓ .. gica em duas grandes unidades: a Planície do Pantanal, que r�,

-cebe intensa radiação solar, refletida pelas altas temperatu­

ras, e os planaltos de leste, cujas altitudes fazem aumentar

a.pluviosidade, amenizando o clima. O regime de chuvas é tro

pical, com duas estações, a seca e a chuvosa, bem marcadas. O

período seco é de 4 a 5 meses, iniciando-se em maio e indo a­

té setembro. Os meses mais chuvosos vão de dezembro a feverei

ro. Nos totais das precipitações há uma diferença acentuada

entre os planaltos {totais de 1.200 a 1.500 mm) e a Planície

do Pantanal {médias anuais em torno de 1.000 mm).

FRANCO & PINHEIRO {1982) analisaram numerosa bibliogra­

fia sobre o Pantanal e confrontaram os resultados obtidos das

pesquisas anteriores com os baseados em imagens de radar. As

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12

sim , os referidos autores (op. cit.) afirmam que a região po-

de

de

.,... ser caracterizada como uma extensa planície de acumulação,

topografia bastante plana e freqüenteme�·ti sujeita a inun-

dações, cuja rede de drenagem é comandada peJ) rio Paraguai.

Constataram também que os pantanais constituem vasta superfí­

cie rebaixada. recoberta por sedimentos quaterná_rios, cuja de-

posição ainda não cessou. Sua gênese original prende-se as

movi�entações tectônicas terciárias e às fases erosivas e de-

posi,ciónais que se seguiram. Contudo, sua evolução atual es-. . . tá relacionada principalmente à atuação de fatores externos,

onde a dinâmica fluvial tem um papel relevante. Identifica­

ram duas· feições geomorfolÓgicas distintas nos pantanais: as

planÍci�s e as áreas de acumu�ação inundáveis. A primeira com

preende as pianÍcies fluviais ou fluviolacustres e se encon-

tra intimamente relacionada ao rio �raguai e seus tributá-

rios. A segunda situa-se em posição interfluvia� em relação

à drenagem de mais importância e apresenta uma drenagem inde­

cisa, composta _por corixos, vazantes e baías.

' FRANCO & PINHEIRO (op. cit) comentam ainda que os Pan-

tanais Mato-grossenses apresentam feições bastante peculiares

e terminologia tipicamente regional. É o câso das , "baias",

"cordilheiras", "vazantes" e "co,rixos". As "baías" consti

tuem áreas deprimidas contendo água, ... as vezes salobra, deli

neando formas circulares, semicirculares ou irregulares. Suas

dimensões variam de dezenas a até centenas de metros. As

"cordilheiras" são pequenas elevações do terreno, situad�s en

tre duas "baías" e em média com 2 m acima _do espelho de �gua. _ .....

Constituem areas quase nunca alagadas, atingi-

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13

das apenas durante cheias excepcionais, servindo de sítios pa �, 1

ra as sedes das fazendas e de abrigo para ºladó nos

das enchentes. As "vazantes" compreendem as amplas

sões situadas entre 'as "cordilheiras". Na é�ca de

períodos

depres­

enchente

essas depressões servem de escoadouro entre as "baías", adqui

rindo o caráter de curso fluvial intermitente, com vários qui

lômetros de extensão. Os "corixos" correspondem a pequenos

cursos de á9Ua de caráter perene, conectando "ba�as" contí-

guas·. Possuem maior poder erosivo que as "vazantes", origi-

nando canais estreitos e mais profundos. No presente estudo

o termo "corixo" tem um significado mais amplo;. engloba tam­

bém os pequenos cursos de água de caráter ternpor�rio.

Segundo o Departamento Nacional de Obras e Saneamento

(BRASIL, DNOS, 1974), os pantánais podem ser inundados pelas " �guas dos rios principais, pelas �guas dos pe�uenos rios e c2

... , , b ,. rixos, pela elevaçao do nivel da agua s� terranea e pelas chu

vas. A enchente anual dos rios principais� considerada an­

tes urna vantagem natural, que urna ocorrência perigosa." As "en

&entes comuns" são geralmente reduzidas e afetam pequenas

áreas, sem reabastecerem os corixos e baías mais distantes.As

"enchentes médias" ou "extraordinárias" são �onsideradas bené

ficas. Essas enchentes distribuem água através de corixos e

baías, reabastecendo os lenç�.is subterrâneos localizados a de

zenas de quilônetros de distância das áreas ribeirinhas. As

"enchentes excepcionais" são perigosas, porque atingem gran­

des extensões, chegando a cobrir as cordilh�iras. Nesses ca­

sos, a superf�cie da área inundada chega a atingir 10 a 30000

km2 (BRASIL, DNOS, 1974).

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Na unidade geornorfolÓgica II Planícies e Pantan.ais

...... grossenses" do mapeamento RADAMBRASIL foram definidas

14

Mato­

oito

subunidades de pantanais., A área con�ideraaJi neste e�tudo e�

tá incluída nas subutlidades: "Pantanal do cuy��. - Bento Go­

mes - Paraguaizinho" e "Pantanal do Paiaguás" (Fig. 3).

O Pantanal de CUiabá - Bento Gomes - Paraguaizinho é co-. ,

nhecido na região corno Pantanal de Pocone. De acordo com

FRANCO & PINHEIRO (1982), o referido pantanal apresenta wna

exténsa faixa de fraca inundaçã� a norte, áreas medianamente

inund�veis junto ao rio Cuiabá e à Província Serrana e wna

�rea de forte inundação ao sul. Em direção ao sul, as altirné

tricas decrescem para 100 a 110 rn. As áreas menos úmidas do

norte apresentam pequenos cursos fluviais com padrão de drena

gern dendr�tico e, à medida que se caminha para o sul, nas

áreas de mediano alagamento, os coriKos mostram um padrão pa­

ralelo e a jusante adquirem� padrão anastornosado. Por ve­

zes,ocorre a coalescência entre os espr�iamentos aluviais dos

principais drenes. Em todo o setor norte, desenvolvem-se so­

lfs do tipo Solonetz Solodizado. A vegetação é marcada pelo

Cerrado e Campo Limpo. , , Na �rea também registraram-se solos

LaterÍticos e HidrornÓrficos distrÓficos, reaobertos por vege-

tação de Campo Sujo e de Campo Limpo.

O Pantanal de Paiaguás, de acordo com FRANCO & PINHEIRO

(op. cit.), corresponde aos depósitos aluviais dos rios Para-

guai e Cuiabá, que caracterizam vasta planície fluviolacus-

tre. O rio Cuiabá registra sua entrada na área, ao norte da

cidade de Barão de Melgaço até alcançar o rio Paraguai. Pela

margem esquerda recebe os rios são Lourenço e Itiquira. Lade

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60°00' 59•00 · 58°00'

' Panlonal cio Coriao Gronc!e

Jaurv-Paroguoi

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Pantonal do Toquori

-Pontonol do Jocodigo - Nobileque

• O 55 ltOlna ·.; ._ ___ ....., ___ __.

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Bento Gomes-Paroguaizinho

Pontonol do Negro

� Pantonol do Poioguds

-Pontonol do ltiquiro

Sllo Lourenco-CuiGbd

-Pantanal do Mironda-Aquiclouana

Fig. 3 - Os Pantanais Mato-grossenses (De Franco & Pinheiro,

1982)

15

16 ° 00'

17°00'

111•00·

20•00· 5'1º00'

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16

ando a baía de Chacororé, a planície é caracterizada como la--.:

custre. Próxima ao rio Cuiabá se individualiza.como plánÍcie

fluviolacustre. Ao sul da baía a planície é/larga, apresen-�

tando urna série de baías e marcas de meandroyabandonados. P-ª

ra jusante, apresenta alta densidade de corixos e vazantes,

que mostram . um padrão de drenagem paralelo, porém com tra-

çados divagantes.' ... Os solos sao predominantemente do Grupo

Glei• Pouco H�ico eu trófico, ao longo dos vales fluviais e

dos Planossolos eutrÓficos para o interior da planície. Nos . .

primeiros, desenvolve-se a Floresta Estaciona! Decidual Alu­

vial, enquanto no segundo ocorre o domínio do Campo Limpo.

2 .2 . Locais de estudo

2 .2 .1. Calha do rio Cuiabá . '-·

o trecho do rio Cuiabá,considerado no presente e�t�

do,corresponde a urna extensão fluvial de aproximadamente 60

quilômetros, abrangendo os municípios de CUiabá e Santo Antô­

nio do Leverger (Fig. 2 ).

o rio Cuiabá, considerado o mais importante tributário

do rio Paraguai a montante do rio Apa, tem suas nascentes na

vertente noroeste da Serra Azul (BRASIL, DNOS, 1974), no Est-ª

do de Mato Grosso. Sua bacia possui �rea de 101.000 km2 (PAI­

VA, 1982 ). Esse rio, próximo às suas nascentes, recebe o seu

principal tributário no trecho montanhoso: o rio Manso e seu

afluente, o rio da Casca. Abaixo da confluência com o rio

Manso, o rio Cuiabá rec�be muitos pequenos tributários que ,.

drenam a Serra dos Guimarães à esquerda e a Serra do Tombador

,.

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17

t

à direita. Alguns desses tributários são intermitentes, mas

as fortes inclinações das suas bacias tornam�nO$ importantes '

para a formação de enchentes após pesadas cbpvas. No trecho

considerado para est.e estudo, o rio Cuiab� re}ebe, pelo lado

esquerdo, o rio CoxipÓ, na região ainda não pantaneira, e os

rios Aricá-Açu e Aricá-M�rim, no começo da região do Pantanal.

Abaixo dessa região, à esquerda do rio Cuiabá, observam-se as

baías de Chacororé e Sá-Mariana, que serão descritas mais adi

an�e. Até alcançar o rio Paraguai, o referido rio recebe, p�

lo lado esquerdo, os seus mais importantes tributários: os

rios são Lourenço e Itiquira.

A Figura 4 mostra as oscilações do n�vel d'água no rio

Cuiabá, em Santo Antônio do Leverger e Cuiabá.

A vegetação marginal do rio, no trecho estudado, encon­\.··

tra-se bastante perturbada, p�incipalmente pelos desmatamen-

tos e queimadas anuais efetuados pelos-agricultores, que uti-

lizam as margens do rio para os cultivas de ciclo curto.

tre as plantas nativas, destaca-se a presença constante

s�rã, da família Euphorbiaceae, que é bastante adaptada

De!!

do .. as

condições do ambiente, servindo para evitar a erosão das mar­

gens.

2. 2. 2. Baía de Chacororé e Baía de Sá-Mariana

As baías de Chacororé e Sá-Mariana estão localizadas ..

margem esquerda do rio Cuiab�, no Munic�pio de Barão de Melga

ço, Mato Grosso (Fig. 2).

As principais características morfométricas das referi-

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18

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Fig . 4 - Flutuação do n�vel d 1 água no rio C�iabá , em Santo

Antônio do Leverger (curva superior) e CUiabá (curva

inferior) , de janeiro a dezembro de 1981. Fonte : De

part amente Nacional de tguas e Energia Elétrica, Bra

s�lia , e Capitania dos Por�os de Cuiabá, MT, respec­

tivamente.

..·1

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das baías foram descritas por MARINS et al. ( 197�) e SILVA

{ 1980) . Ambas as ba!as permanecem ligadas ao rio Cuiabá · du-, . - '

rante o ano todo. Durante a cheia ,�ssa ligaJão é feita atra-. ' vés de quatro canais, { Baía de Chac�roré) e trf canais { Baía

de Sá-Mariana) . Durante a estação seca cessa o escoamento na

maior parte desses canais. Nesses �anais, a água pode correr

em ambos os sentidos e a ba�a de Chacororé, em particular, pa

rece ser alimentada pelo rio Cuiabá e não pela própria bacia

{BRASIL, DNOS, 1974) . Com relação a esse aspecto,essas baías

diferem fundamentalmente da maioria das baías localizadas na

parte sul do Pantanal, as quais, segundo WILHELMY ( 1957) , pos

suem o seu próprio abastecimento de água, dependendo dos rios

somente em alguns casos.

As duas baías são interligadas por ocasião da cheia, mas

são independentes no per�_odo da seca\· As áreas da baía de � 2

.

Chacorore e Sá-Mariana são de 50 e 15 km , respectivamente,no

período de seca ; em �guas altas, quandÕ elas se ligam, a su�

perf�cie � de cerca "de 2 50 km2, 150 dos quais são cobertos

p�r vegetação ou têm vegetação crescendo no fundo. Em aguas

mui to a_l tas, a superf�cie total das duas ·baías chega a ter 2 aproximadamente 450 km { BRASIL, DNOS, 1974) .

A Figura 5 mostra as oscilações do nível d ' água na bàía

de Chacororé e no rio Cuiabá, em Barão de Melgaço.

As alterações provocadas pela flutuação do nível da água

têm grande influência nos fatóres f�sicos, químicos e biolÓgi

cos das baías, corno já foi observado por MARINS et al. { 1978)

e SILVA ( 1980 ) .

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Fig . -5 - Flutuação do nível d' �gua no rio Cuiabá e na baía de

Chacororé (----), em Barão de Melgaço, de janeiro a

dezembro de 1981. Fonte : Departamento Nacional de

Águas e Energia Elétrica, Brasília.

�-,.\.º

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2.2.3. Porto Cercado e Porto Jofre

Essas áreas estão

to Grosso ( Fig. 2) .

As atividades de campo foram desenvolvidas nas áreas mar

ginais do ri9 Cuiabá, no final da enchente. Próximo ao local ... , . de coleta havia urna enorme quantidade de vegetaçao aquatica e

mata inundada. Na região de Porto Jofre foram observadas tam

�m. 11 zarnboeiras 11 ( moitas formadas pelas �rvores, paus podr�s,

cipós e outras trepadeiras) com mais de cinco metros de altu­

ra.

2. 2.4. Rodovia Transpantàneira

A Rodovia Transpantaneira está situada nç Município de ' , ·,. Pocon�, Mato Grosso ( Fig. 2) •

Os estudos de campo foram efetuados nos alagados margi­

nais da citada Rodovia, na altura do km 60,durante a enchente

( Fev/7 7) e no km 136 com o nível da �gua bem mais baixo ( Mar/ ' 77).

As plantas aquáticas destacam-se na fi�ionornia desses

campos inund�veis. C.J . SILVA & V. P . SI LVA ( comuni

cação pessoal), estudando as macrÓfitas aquáticas da Rodovia

Transpantaneira, constataram que a adaptação dessas plantas

às diferentes profundidades favorece a dominância e a repre­

sentatividade de algumas esp�cies. Segundo os citados auto­

res, ocorre urna zonação da vegetação aqu�tica, assim definida :

na �gua rasa ocorrem as espécies emergentes e, à medida que

i • .

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vai se aprofundando, estas são substituídas por formas fixas

com folhas flutuante), que por sua vez são substituídas por

plantas submersas e flutu,antes livres. J

Nessas áreas periodicamente alagadas sãlencon�radas es­

pécies arbustivas isoladas ou em grupos, al�m das " ilhas" de

vegetação, cdnhecidas popularmente como e apões. CUNHA ( 1982 ),

estudando essas formações,constatou certa preferência de al9!!

mas famílias pela região periférica, que é inundada periodic�

mente ; de outras pela região -intermediária, que permanece ape

nas úmida durante a cheia : e de outras pela região central da

" ilha", que permanece sempre seca. Margeando os corixos e os

rios encontra-se a mata de galeria.

'

p-··

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3 . MATERIAL E MÉTODOS

1 • 3 . 1. Coleta de dados gerais.

3 . 1. 1. Calha do rio Cuiabá l

A coleta de exemplares de c . mitrei foi feita ao longo

do rio Cuiabá no per�odo de fevereiro de 1981 a j aneiro de

1982 .

: • .

Foram utilizados vários tipos de aparelhos de pesca : ma­

lhadeiras em série , com malhas variando entre 18 , 0 a 24 , 0 cm

de nó � n� , �ias , espinhéis e linhas de anzol . As

foram efetuadas mensalmente, em barco de alumínio

durante os per�odos diurno e . noturno .

coletas

motorizado,

· Os adultos de C . mitrei , após �-desova , entram nas áreas

alagadas no período da cheia.: por essa razão, não foi possível

capturar exemplares na calha do rio CÚiabá nos meses de feve­

reiro , março e abril . O fato de a equipe ter dias preestabe­

lecidos de coleta também dificultou a captura de exemplares '

na estação de água baixa , ou sej a , vazante e seca , porque nem

sempre a data de coleta coincidia com a passagem dos cardumes .

Na vazante . os cardumes que migravam rio acima foram localiza­

dos com relativa facilidade.'; porém , na estação seca propria­

mente dita , ou seja , junho-julho e agosto, nenhum exemplar foi

capturado na calha do rio , porque os - cardumes já haviam pas­

sado Óu s� passariam no local onde a equipe se encontrava al­

guns dias mais tarde . O hábito dos peixes de piracema reuni-

rem-se em cardumes para migrar rio acima é muito conhecido

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24

dos pescadores da região. Apesar das previsões negativas de�

tes , os pescadores d�a equipe tentaram

ram sucesso . Como no Merpado P�blico

a pesca , .mas não ' . de Pe4es· h�via

obtive

grande

quantidade de c . mitrei coletados em ou_tras ãjeas �o rio cuia

bá , durante os meses da estação seca foram adquiri dos alguns

exemplares p�ra observação do conteúdo de seus estômagos. Es

ses dados não foram incluídos no presente estudo , por não se

saber ao certo a procedência do material.

3.1.2. Baía de Chacororé

O material de estudo da baía de Chacororé foi obtido no

mês de fevereiro de 1981.

Os peixes foram capturados com rede de espera , cujas ma­

lhas mediam 19 cm de nó a nó. Em outras redes, com malhas de '-· tamanhos diferentes , ne�um exemplar foi aprisionado. As col�

tas foram feitas durante o dia e à noi te, utilizando barco mo

�orizado de alumínio. SÓ à noite houve captura de exemplares.

' Como é sabido ,

que nessa epoca os peixes concentram-se em

grandes quantidades nas baías , acredito que o insucesso da

pesca se deveu , em parte, ao grande volume de água , que difi ­

cultou a localização dos cardumes pelos pescadores , e também

porque os peixes se encontravam pouco ativos , pelo fato de e�

tarem com os estômagos repletos de alimento , conforme fora

constatado na análise do conteúdo estomacal de cinco exempla-

res capturados.

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2 5

3 . 1 . 3 . Baía de S á-Mari ana ...

Os exemplares de e . mitrei da baí a foram

obtidos nos meses de julho e setembro de

de s f-M.,;rí ana

1981 . .7

Os peixes foram coletados durante o dia , em canoas de ma

deira , movidas a remo , utilizando linhas e anzói s com i scas

de peixes e i scas preparadas pelos pescadores ( cozido de fari

nha de mandioca mi sturado com granulados de refresco " Q -Suco':

s abor uva ) . A coleta com rede de espera foi infrutí fera , de­

vido ao alto grau de transparência da água .

3 . 1 . 4 . Porto Cercado e Porto Jofre

o material de estudo das áreas marginais do rio Cuiabá

foi obtido no mês de abril de 1981 .

�-

Os peixes foram capturados durante o di a e à noite com

linha e anzol iscado com caranguej o e à . noite com rede de es-

per a , cuj as malhas medi am 18 cm de nó a no , us ando barco moto

rizado de alumínio . Foram experimentadas redes de espera du-

rante o di a , mas sem sucesso .

3 . 1 . 5 . Rodovia Transpantaneira

, Os peixes das areas alagadas da Rodovia Transpantaneira

foram capturados nos meses de fevereiro e março de 197 7 .

A coleta dos exemplares foi feita em canoas de madeira ,

conduzidas a remo , uti l izando linha e anzol , com i scas prepa­

radas pelo pescador da região ( cozido de farinha de mandioca

e granulados de refresco 1 1 Q -Suco 11, sabor uva ) . A utilização

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2 6

de outro meio de coleta é praticamente impossível . nessa área ,

devido à abundância ele vegetação aquática.

3.2. Alimentação J l

Para o estudo da composição da dieta alimentar de e .

mitrei foram uti lizados 146 exemplares , de ambos os sexos,

com comprimento padrão variando entre 20,6 e 55,0 cm. De ca­

da exemplar foi anotado o comprimento padrão, em centímetros

(medi do da _ponta db • focinho até o final da linha lateral) e o

peso total do peixe fresco (exceto exemplares capturados na

Rodovia Transpantaneira que estavam form9lizados) em gramas.

A seguir, abriu- se a cavidade abdominal· e foi . feita a determi

nação do sexo dos espé _cimes. · Macroscopicamente só foi pos­

sÍ vel determinar, com precisão, o estádio de maturação gona­

dal das fêmeas. A escala de matura�o que melhor se adaptou

à esp�cié foi a proposta por PAIXÃO ( 1980 ) para Mylossoma

duriventris cuvier, 1818 ., Os cinco estidios de maturação de-, ' · terminados com ·base nos caracteres macroscopicos dos

, . ovarios

�ram : 1) jovem* : sexos indi stintos a olho nu ; 2) repouso :

sexos distintos a olho nu e Óvulos não vis ívei s ; 3) matura­

ção : �vulos de tamanho variável visívei s a olho nu : 4) madu­

ro : �vulos grandes , podendo ser expelidos sob pressão al::rlomi­

nal i 5) esgotado : ovários flácidos , com ·aspecto hemorrágico.

ApÕ.s a observação das gônadas retirou-se o ·tubo digestivo ,

, ... .,,,.

* Não houve ocorrência de jovens nos bi�topos estudados.

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2 '1

que foi amarrado com barbante no nível do esôfago_, etiquetado

e posto em solução âé formal a 10%. Decorridos. 30 dias no rní

nirno , este material foi l.avado em á,gua e pre.'5ervado em álcool

a 70%. ) Para a análise da dieta , apenas o conteúdo do estômago foi

utilizado . o conteúdo intestinal foi examinado somente para

verificar a presença e a integridade dos frutos e sementes .

O conteúdo estomacal de cada exemplar foi colocado em placa

, de Petri e examinado a olho nu , sob o estereornicroscópio e ,

quando necessário , também sob o microscópio Óptico. Os itens

alimentares foram tabelados em categorias julgadas convenien­

tes para o presente estudo (por exemplo : caule , folhas , . fru­

tos e sementes , peixes , etc . ) .

Em seguida , foi feita a estimativa dos graus de repleção '-··

( enchimento) do estômago através do rné�odo de wntos (HYNES ,

1950 ) , com algumas adaptações . Para diminuir a subjetividade

na atribuição dos pontos , seguiu-se o procedimento adotado por

GIBSON & EZZI ( 1978 ) , que consiste em usar papel rnilirnetrado

e�aixo da pl aca de Petri corno 1 1 guia 11 na separação dos itens

alimentares . Mesmo assim , essa técnica de estimativa de volu .

me continua sendo passível de crítica , por não levar em conta

q altura e a digestão diferencial dos itens alimentares , con-

forme fora notado por GIBSON & EZZI (op . cit . ) . De acordo

com a quantidade de alimento contido em cada estômago , atri­

buiu-se urna porcentagem que indicou o grau de repleção ( Tabe­

la I ) .

HYSLOP ( 1980 ) comentou que a repleção estomacal avaliada

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2 8

através do método de pontos apresenta algumas falhas , por não

levar em consideração as diferenças na capacidad� estomacal

do peixe. Assim , em dois exemplares , o volllif de um item ali

mentar que representa 50% do conteúdo estomac7 em ambos os

casos , é menor no peixe com capacidade estoma�al inferior , mes

mo se o item alimentar possu i a mesma proporção no estômago

dos dois exemplares . Por essa razao , foram uti lizados totais

de pontos diferentes para o mesmo grau de repleção em peixes

de di ferentes tamanhos ( Tabela II ) , de acordo com a metodolo­

gi a de CADWALLADER ( 1 97 5 ) .

Para veri ficar possíveis vari ações no volume do conteúdo

inger ido em relação à flutuação do nível da água , foi fe ita

uma análise da freqüência dos di ferentes graus de repleção do

estômago , em di ferentes biÓtopos associ ados à época de captura

dos exemplares. Julgou-se oportuno �bém comparar a freqüên

eia dos graus de repleção dos estômagos '1dos exemplares fê­

meas , com gônadas no estádio maduro e esgotado , tendo em vis­

ta constatar graus de vari ação na quantidade de alimento ingg

rido durante a época reprodutiva . Nesse sent ido , com a fina-

lidade de se obter uma visão mais clara dos resultados , calcu

lou-se o volume médio do alimento cont ido no� estômagos das

fêmeas maduras e esgotadas .

Para a determinação do regime alimentar, adotou-se um mé­

todo qual itativo ( freqüênci a de ocorrênci a ) e outro quantita-

tivo ( método vo lumétri co) , revistos e discuti dos por HYNES

( 19 50 ) e HYSLOP ( 1980 ) . Na est imat iva da freqüência de ocor­

rênci . .a (% ) de c ada item alimentar , considerou-se como 100% o

número total de ocorrênci as dos diversos itens para todos os

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2 9

...

TABELA I - Escala para estimativa dos graus -4e repleção dos

estômagos de Colossoma mitrei )

Condição do estômago Grau de repleção

<. 1% Vazio

1% t- 6, 25% Traço

6,25% t- 25% " 1/4 cheio 25% t- 50% 1/2 cheio

50% t- 75% 3/4 cheio

75% 1- 100% 4/4 cheio > 100% - Distendido

..

TABELA II - Pontos máximos atribuídos aos diferentes graus de

repleção dos estômagos de Colossoma mitrei

Comp. padrão Grau de repleção Bo peixe 1/4 1/2 3/4 Disten (cm ) Vazio Traço cheio cheio cheio Cheio dido-

20 30 o 0,50 2 4 6 8 16

31 40 o 0,75 3 6 9 12 24

> 41 o 1 4 8 12 16 32

� f ,

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30

estômagos analisado s . No método volumétri co , o vo lume é ex-. ...

presso na forma percentual , cons iderando o vollJIIle de cada

i tem alimentar em relaç ão ao volume de todos/ os itens al imen­

tares presentes nos estômagos . O volume foi /eterrninado pelo

deslocamento da coluna de águ a , ut ilizando-se provetas gradua

das de 10 , 50 ou 100 rnl , conforme a quantidade do alimento .

Corno salientado por WINDELL ( 1968 ) , o método de freqüên­

cia de ocorrência n ão fornece informaç ão sobre a quant idade

de cada item alimentar consumido e não leva em conside r ação o

acúmulo de partes de organismos resi stentes à digestão . No

presente estudo , o primeiro problema foi sanado , j á que se

adotou também um método quantitativo ( volumétri co ) . Quanto ao

segundo problema , além de ser 9e difícil soluç ão (HYSLOP , 1980 ) , ­

é também apresentado por outros métodos ( CARAMASCHI , 197 9 ) .

'-

PILLAY ( 1 952 ) apud BASILE-MARTINS ( 1978 ) cons iderou que

a determinaç ão volumétrica dos i ten s p�esentes no co nteúdo e s

tomacal dos pe ixes , realizada por deslocamento da coluna de

água em proveta graduada , constitui o método mais prec iso pa­,

ra estudos de alimentaç ão . De acordo com WINDELL ( 1968 ) , en-

tretanto , tal técni c a , razoavelmente s imples e segura , só po­

de ser aplicada quando o volume do alimento é grande e o núme

ro de itens a ser triado , pequeno . Tais argumentos s ão con­

cordantes com a natureza do material alimentar encontrada na

dieta de c . mitrei . Por essa razão , o mencionado método foi

considerado o mai s sati sfatório . Conforme HYSLOP ( 1980 ) , o

princ ipal problema encontrado na aplicação desse método é a

quantidade de água aprisionada nos itens alimentares ; que po­

de causar erros signi ficat ivos na e stimativa do volume ( no

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31

presente trabalho, por exemplo, folhas carnosas aprisionam

maior qu antidade de 1água que fru tos e sementes secos ). P ara 1 - - -

atenuar o problema, ante� da determinação v4"umétrica, os

itens alimentare s p�rmaneceram expostos à t7era�ur_a ambien­

te durante dois ou três di as, até que o excesso de águ a tive�

se sido vi sualmente evaporado. _

Segundo KAWAKAMI & VAZZOLER ( 197 8 ) , a análise independeg

te por um dos dois métodos cons iderados acima pode levar a e�

timati vas errôneas, porque nem sempre o' · item mais freqüente é

o mais volumoso, e vice-versa, conduz indo a uma super ou sub­

estimativa da importância do item no espectro alimentar. As­

sim, com a conjugação dos dois métodos, num sistema de coorde

nadas ( freqüência de ocorrência (%) na ordenada e volume per­

centu al na absci ssa ) , obtêm-se qu adriláteros cu jas áreas ofe­

recem a pos ição de cada item no esp�tro alimentar. Desse mo

do, a partir da razão entre o produto da freqüênci a de ocor­

rência e o volume, em ambos os cas�s em valores percentuais,

de cada item, e da somatória dos produtos para todos os itens

constatados, é possível estimar . um " Índice alimentar". As-, sim sendo, foi calculado o Índice alimentar (IA ) proposto por

KAWAKAMI & VAZZOLER ( op. cit. ) para avaliar. a importância re­

lativa de cada item na alimentação da espécie.

Os resultados das análises dos conteúdos estomacais, obti

dos através dos diferentes métodos, foram re lacionados aos

períodos de enchente , vaz ante e seca e associados aos locai s

de captura.

r,,,.,.

Com a finalidade de tornar possível a identificação das

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• 32

plantas pelos botânicos, foram feitas coletas posteriores, no

período de frutificaç"ão, nos locais de estudo,. _Além de fru­

tos e semente�! coletou-se , ma.terial botânico, fe vem sendo in­

corporado ao Herbári� Central da UniversidadeJede�al de Mato

Grosso.

.., , . Para fins de cornparaçao com outras especies de regime

alimentar semelhante, foram contados os rastros da face exte�

na do primeiro arco branquial esquerdo e os cecos pilÓricos

de ' 40 e 85 exemplares·, respectivamente. Mediu-se, também, o

cÓmprimento do intestino ( início dos cecos pilÓricos à região

anal) de 108 exemplares .

\.·

'

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4. RESULTADOS

4. 1. Aspectos morfológicos de Colossoma t

i trei

dos com a alimentação

4. 1. l. Dentes

rel aciona

Cada pré-maxilar contém 2 séries de dentes molar iformes

com cÚspides cortantes . A série externa possui 5 dentes e a

interna 2. A série externa direita é separada da esquerda , . por um espaço entre os dentes medi anos , ao passo que a serie

interna forma uma file ira contínua. Cada dentári o possui 6 a

7 dentes também molari formes , com cÚspides cortantes

externa e um dente na série interna, apoiado sobre o

, . na serie

primeiro

dente da série externa. Os 2 primeiros dentes da série exter

na s ão maiores e mais largos que os demais , inclus ive os do �

pré-maxi lar. O maxil ar apres�nta um par de dentes diminutos

na arti culação com o pré-maxil ar. ( Fig. 6 ) .

4. 1. 2. Rastros branquiais

' O s r astros branquiais da face externa do primeiro arco

branqui al variam , em nÚmero, de 30 a 40. são . relat ivamente cur

tos , espaçados , alcançando maior t amanho ao longo da porçao

inferior do referido arco ( máximo de 10 mm de comprimento )

( Fig. 7 ) . Na face interna do referi do arco , os rastros bran­

quiai s s ão rudimentares ao longo da porção superior e , na por-

ção inferior, apenas na extremidade notam-se alguns

vestigi ais.

rastros

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: 1 •• •• 1

'

1- VISTA FRONTAL

2- PERFIL

A - pré-maxilar

B • maxilar

\.- e - 1 dentário

Fig. 6 - Disposição, nÚrnero e tipo de dentes de mitrei.

34

Colos soma

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3 5

Fig. 7 - Prime i ro arco branqu ial esque rdo de Colossoma mitre i

4. 1.3. Aparelho digest ivo

o es ôfago é cu rto , com paredes grossa s ; o estômago é bem

del im itado e razoavelmente elást ico. Na reg ião pilÓ rica en-

cent ram -se os cecos pilÓ ricos bem desenvolv idos , em numero

que va ria de 36 a 73 e uma méd ia em torno de 50 . O intest i

no é relativamente longo e de diâmet ro grosso ; mede 1, 10 ve ­

zes a 2, 11 vezes o comprimento padrão do pe ixe e uma méd ia de

1 , 58 .

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4. 2. Alimentação

,.:,

4 . 2. 1. Graus de da dieta

4 . 2 . 1 . 1 .

repleção dos

Calha do rio

36

estômajos· e composição

l Cuiabá

A observação . da Tabela III mostra que, dos 25 exemplares

adultos de e . mitrei (comprimento padrão variando entre 36 e

50 cm) analisados durante o período da vazante, 23 (92%). apr�

sentavam estômagos com pouco alimento, ou se ja, com graus de

repleção inferiores a 25%, e na enchente, dos 51 exemplares

adultos analisados (comprimento padrão entre 38 e 55 cm), 34

(66,67%) estavam com estômagos com· graus de repleção acima de

25%. Considerando apenas os exemplares fêmeas com gônadas no

estádio maduro e esgotado no período da piracema, observou-se \.·

que �s fêmeas esgotadas apresentavam estômagos com graus , de

repleção mais elevados , e, conseqüente)Jlente, com maior volume

de alimento no estômago que as fêmeas maduras, constatado tam

bém em termos de volume médio (Tabela IV) .

'

A Tabela V apresenta os dados reiativos à freqüência de

ocorrência e volume percentual dos itens encontrados na análi

se do conteúdo estomacal de e . mitrei durante as época� de va

zante e seca.

Durante o per�odo da vazante, constatou-se que os vegetais

foram os itens mais explorados pela espécie, tanto em termos

de porcentagem de freqüência (81,9%) como em termos de porcen

tagem de volume (92,1%). No per�odo da enchente, embora os

vegetais fossem os itens mais expressivos da dieta de e •

..

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37

-r·

\ . )

TABELA III - Freqüência de ocorrência · (%) dos diferentes graus de repleção do estômago de Colossoma mitrei , na calha do rio Cuiabá , no período da vazante e en­chente.

Grau de repleção Vazante Enchente do estômago N % N %

, .. Vazio Traço 8 32 , 00 1/4 cheio 15 60 , 00 17 33 , 33 1/2 cheio 2 8 , 00 14_ 27 , 45 . 3/4 cheio 9 17 , 64

' 4/4 cheio 2 3 , 93 Distendido 9 1 7 , 65

Total 25 100 , 00 51 100 , 00

N ; nÚmero de indivíduos examinados

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I

38

TABELA IV - Freqüência de ocorrência (%) dos diferentes graus de repleção dos estômagos de exemplares fêmeas de Colossoma mitrei no estágio maduro e esgotado, em out/nov/dez/1981 e jan/1982.

Grau de repleção Fêmeas maduras Fêmeas esgotadas do estômago N % N . -%

Vazio Traço 1/ 4 cheio 10 40, 00 '-

1/2 cheio 7 2&_ 00 3 33 , 33

3/4 cheio .. 5 20, 00 1 11, 11 4/ 4 cheio 1 4,00 1 11, 11 Distendido 2 8, 00 4 44, 45

Total ·25 100, 00 9 100, 00

Volume médio : 2,9 Volume médio : 5,7

N = , numero de fêmeas analisadas

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' -

39 •

TABELA V . - Freqüência �e ocorrência (%) e vo+Jme percentual dos diferentes itens encontrados no conteúdo esto-

, I

'

N

macal de Colossoma mitrei na calha do rio durante os períodos de vazante e enchente .

Cuiabá

Vazante (N = 25) Itens

Ocorrência Volume

Caule 11,3 2,2 Folhas 18,2 11,6 Flor Fruto/ semente 22,8 53, 3 R'..estos _ vegetais 29-1_6 25 , 0

Moluscos '-· , Crustaceos 6', 8 5,4

Insetos

Peixes 6,8 0,0

Restos animais

Material digerido 4,5 2,5

Areia/pedrinhas

Madeira -Carvão

, de indivíduos = numero analisados.

�;, ·"

- Enchente (N = 51) .

Ocorrência : volume

8,0 9,7 25, 8 47, 7

1, 2 0, 1 7, 4 0, 8

· 11,7 1_1, 2

I, 2 1, 9 1,2 0, 1 o I 6· - 14,1 16,7 1,9 0, 5

15,3 8, 1 6, 1 2,2 1, 2_ . 0,6 4,3 0,4 ..

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40

m i trei , ob se rvou-se dim inu ição em relação ao período da vazan

te , tanto qual i tativa ( 54 , 1%) como quantitat,ivq.ITI.epte (69 , 5% ) .

Com relação à pa rte do vegetal que fo i cons./mida pela espécie , "

notaram- se diferenças marcantes , em se trata�o do período

da vazan te ou da enchente. Na vazante a quantidade de frutos

e semente s consum ido s foi alta (53 , 3%) ao pa sso que na enchen

te fo i mu ito ba ixa (0 , 8%). Na vazante , o consumo de folhas fo i

re lativamente ba ixo (18 , 2%) em re lação ao pe ríodo da enchente ,

que fo i compara tivamente al to (4 7 , 7%). Observou-se também que

as quant idades do s re stos vegeta is fo ram mais exp ressivas na

vazante ( 2 5%) que na enchente (11 , 2%) .

A ma ioria do s vegetais não fo i identificada a níve l taxo

n ômico inferior , porque qua se toda s as semente s se encontravam

praticamen te tritu rada s e as fo lha s , me smo as in teiras , eram

de difíc i l iden tificação , po i s a fl�a marginal do rio Cu iabá

é pouco conhecida. Foram ob servadas diferentes espécies de -

p lantas no conteúdo estomaca l do s exemplares , sugerindo que o

pacu , na ca lha do rio , além de ser um predador* de sementes ,

<ion some grande quan tidade de fo lha s , principalmente de plan­

tas de origem alÓctone. Os poucos vegetai s identificado s fo­

ram rep re sentados , na vazante , pe la s semen te s de tucum

(Bactris sp. , Pa lmae ) e na enchente por folhas de algodoe iro

(Ipomoea sp. , Convolvu laceae ) , folhas de sarã (Euphorbiaceae } ,

folha s ·de Leguminosae , de stacando -se o ingazeiro (Inga spp. )e

* Segundo JANZEN (1971 ) , um animal é con siderado predador de· semente s , quando ocas iona a morte das semente s consumidas •

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41

frutos alados de Cordia sp . ( Boraginaceae ) . ·

A quantidade de matéria animal consumidà pela espécie n

- ' f , . foi proporcionalmente bem menor em rel açao a �ateria vegetal,

/ , tanto no período da 'vazante ( 5 , 4%) quanto noi periodo da en-

chente ( 19 , 2%) . Na enchente , o volume da matéria animal foi

representado principalmente por peixes ( 16,7%) e na vazante

não foi regi strada a ocorrênci a deste i tem em termos quantita

tivas , apenas em termos de freqüênci a de escamas ( 6 , 8% ) . o

i tem peixes também não pôde ser identi ficado a nível taxonômi

co inferior , devido ao avançado /processo', de digestão . Sua pr_g

sença na di eta foi evidenci ada através de escamas , fragmentos

de ossos da c abeça, da coluna vertebral e das nadadeiras , além

de músculos . Os crustáceos mostraram certa representativida­

de na dieta ,"principalmente na vazante . Os moluscos e os inse

t os foram muito pouco explorados na �limentaç ão dos exempla-

res, aparecendo na enchente .

A presença de madeira seca e c arvão no conteúdo estorna-

c al de e . mitrei no período da enchente era esperado ,

,, d -as gran es queimadas que ocorrem no cerrado na estaçao

A presença desses i tens e do i tem areia no estômago da

cie em estudo parece ser devida a ingestão acidental .

devido

seca .

espe-

A Tabela VI apresenta os valores percentuais de freqüên-

eia de ocorrênci a e volume dos i tens encontrados na análise

do conteúdo estomacal de e . mitrei durante todo o período es­

tudado ( vaz ante + enchente ) .

A s sim, na calha do rió Cuiabá , os vegetais destac aram-se

como os elementos bás icos do regime alimentar da espécie, a-

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42

...

TABELA VI - Freqüênc ia de ocorrência e volumt percentual dos

diferentes itens encontrados no c�nteÚdo es tomacal

de 76 exemplares de Colossoma m i t're i , na calha do

r io Cuiabá , durante todo o período es tudado .

Ocorrência Volume I tens

N % ml %

Caule 18 8 , 7 17 , 9 8 , 5

Folhas 50 24 , 2 88 , 7 42 , 2

Flor 2 1 , 0 0 , 2 0 , 1

Fruto/semente 2 2 10 , 6 18 ,4 8 , 8

Restos vege ta is 3 2 15 ,4 2 7 , 9 1 3 , 3

Moluscos 2 1 , 0 3 , 5 1 , 7

Crus táceos 5 0 , 5 l_, 9 0 , 9

Insetos l '2 ,4

Pe ixes 2 6 li2 , 5 29 , 7 14 , l

Restos anima is 3 1 , 4 0 , 9 0 ,4

Material d igerido 2 7 13 ,0 1 5 , 3 7 , 3 Are ia/pedr inhas 10 4 , 9 3 , 9 1 ,9 Made ira 2 1 ,0 1 , 0 0 , 5 Carv ão 7 3 ,4 0 , 7 0 , 3

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través da an álise pelos métodos de freqüência de "ocorrência , ,�·

· ( 59·; �% ) e volumetrico ( 7 2 , 9"/4). Dentre os anirna :j_s , o item pei

xes foi o mais consumido ,tanto em termos quaj.itat �vos (12 , 5%)

corno em termos quant,itativos (14 , 1%). Os deo/is alimentos de

origem animal , moluscos , crust áceos e insetos , figuram na di�

ta com proporções bastante reduzidas . Observou-se também, no

conteúdo estomacal dos exemplares, a presença de material di­

gerido , que foi mais freqüente (13%) que abundante (7 ,3%). Os

outros itens , representados por areia , madeira seca e carvão ,

podem ser considerados ocasionais.

4. 2.1. 2. Baía de Chacororé

Os cinco exemplares adultos de f . mitrei (comprimento pa

drão entre 4 2 , 3 e 4 5 , 5 cm ) capturados na baía _de Chacororé . ,no

período da enchente, apresentavam gr &lde quantidade de alirnen-'1

to no est ômago ou graus de repleção superiores a 50% (Tabela

VII ) .

Os itens encontrados no conteúdo estomacal dos espécimes ' examinados e suas porcentagens de ocorrência e volume estão

na Tabela VIII.

Os vegetais , representados principalmente por frutos , s�

mentes e folhas , destacaram-se corno os constituintes princi ­

pais do regime alimentar da espécie , pelo método de freqüên­

cia de ocorrência (7 5 , 1%) e pelo método volumétrico (98 ,8%).

Todas as amostras continham , além das sementes trituradas , fr�

tos e/ou sementes inteiros , tornando mais fácil a identifica­

ção pelos botânicos. Entre outros, destacam -se os frutos e/

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44.

ou sementes de tucum ( Bactris , sp . , Palmae ) , algodoeiro-do-Pa!:!_

t anal ( Ipomoea sp . , 'convolvulaceae ) e folhas e . frutos de Leg.!:!

minosae .

A matéri a anima.l foi pobremente represenjada por crustá-

ceos e peixe s , com freqüênci a e abundânci a inexpressivas .

4 . 2 . 1 . 3 . Baía de S á-Mariana

Dos 32 exemplares pré-adultos de C . mitrei ( compr imento

padrão ent re 20 , 6 e 28 , 3 cm ) �oletados na baía de S á-Mariana

no período da seca , 28 ( 87 , 5%) apre sentavam estômagos com

graus de repl eção entre 6 , 2 5 a 50% ( Tabel a VI I ) .

Os itens encontrados no conteúdo estomacal dos espé.cime s

examinados e suas porcentagens de ocorrênci a e de volume es­

tão na Tabela VII I .

Os vegetais foram os itens mai s expressivos na al imenta­

ção dos exempl ares da baí a , pr incipalmente em termos de volu­

me ( 7 6 , 5%) . Não foram identi ficados por falta de estudos bo­

tânicos para fins comparat ivos e , princ ipalmente , por se apr�

sentarem· em adiantada fase de digestão , haja vista a elevada

porcentagem de restos vegetais no estômago , que pode ser cons

tatada tanto pelo método de ocorrência ( 2 8 , 9%) quanto

volumétrico ( 5 3 , 8%) .

pelo

Na categori a animal , o item pe ixes foi o mais consumido .

Considerando-se os outros biÓtopos estudados , os peixes apre­

sentaram as s uas mai s altas porcentagens de ocorrênci a ( l 7 , 8%) ,

embora a contribuição em termos de volume n;o tenha sido tão

expre ss iva ( 8 , 0%) • Os restos de pe ixes eram constituídos pri!l

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4 5

cipalmente de escamas e em um exemplar observaram-se pedaços

de ossos triturados .' As escamas , às vezes , eram numerosas ,

atingindo mais de 50 em alguns exemplares . fcomo os peixes 1

dessa baía foram capturados com isca de peda�/ de peixe, pro

vavelmente isto terá contribuído também para aumentar a fre­

qüência do referido item na dieta dos exemplares .

As algas ( 5 , 6%) e o zoop lâncton (7 , 8%) apresentaram por­

centagens de ocorrência expressivas neste local . Como nessa

, primeira fase do trabalho nenhuma tentativa foi feita para

quantificar ou identificar os referidos organismos , , ,

e prova-

ve l que a contribuição desses itens na dieta do pacu , pri nci­

pa lmente na estação seca , seja mais importa nte que a reve lada

neste estudo .

Observou-se também , no conteúdo estomaca l- dos exemplares , '-

a presença de materia l digerido , que foi mais abundante (l4 , 6%)

que freqüente (8 , 7%) . A presença de areia foi devida a inge�

tão acidental .

' 4 . 2 . 1 .4 . Porto Cercado

Os 11 exemp lares adu ltos ( 29, 0 a 36 ,4 çm de comprimento

padrão ) capturados na margem alagada do rio Cuiabá , na região

de Porto Cercado e no fina l da enchente , apresentavam estôma­

gos com graus de rep leção entre 2 5% e 7 5% ( Tabe la VI I ) .

A Tabe la VII I mostra os itens encontrados nos estômagos

ana lisados e suas porcentagens de ocorrência e de volume .

Em termos qualitativos , a matéria vegeta l (4 6 ,4%) e a

anima l (4 6 , 5%) mantêm-se em proporç ões seme lhantes ; porém , em

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termos quantitativos , verifica-se prevalência da .matéria vege . -tal ( 91 , 2%} sobre a 'animal ( 5 , 7%} . Destaca-se a quantidade de

frutos e/ou sementes consumidos ( 77 , 5%} , rep�esentados por � 1

tucum (Bactris sp . , �almae } , ucuuba (Virola ,. , Myristicaceae},

murta ( Siphonengena sp . , Myrtaceae } , e �alma-de-sapo (Cissus

sp . , Vitaceae } . Observaram-se �inda no conteúdo estomacal

dos exemplares folhas de ingazeiro ( Inga sp . , Leguminosae } , en

tre outras , em fase de identificação.

Na categoria animal , crustáceos , peixes e moluscos mos­

traram certa representatividade na dieta , principalmente em

termos de porcentagem de ocorrência . Em termos de volume , ape

nas o item crustáceos foi expressivo.

4 . 2 . 1 . 5 . Porto Jofre

" Dos 16 exenq:,l�res de e. mitrei ( 40 a 49 , 5 cm de comprimeg

to padrão} capturados na margem alagad� do rio Cuiabá , na re­

gião de Porto Jofre , no final da enchente , 14 (87 , 5%} apresen

tavam estômagos com graus de repleção entre 25% e 75% (Tabela

�I } .

Os itens encontrados no conteúdo esto�acal dos espécimes

examinados e suas porcentagens de ocorrência e de volume es­

tão na Tabela VIII .

Alta porcentagem de matéria vegetal ( 96 , 5%} foi encontr�

da nos estômagos dos exemplares de Porto Jofre , através do mé

todo volumétrico , embora o método de ocorrência tenha regis­

trado uma porcentagem bem menor ( 68 , 6%} . Os frutos e/ou se­

mentes representavam 84 , 5% do volume de vegetais consumidos •

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As sementes de urna Rubiaceae foram as mais ex.plo�adas pela es

pécie nessa região. � Essas sementes

mes quantidades , chegando a atingir

pequenas constituíam enor . - -700 uni�des no estômago

e 8.000 unidades no �ntestino dos exemplares ; outras semen­

tes que ocorreram em proporções comparativamente menores fo­

ram palma-de-sapo { Cissus sp., Vitaceae) , parada { Sapotaceae)

e jenipapo { Genipa americana , Rubiaceae) , entre outras ainda

não identificadas. As folhas consumidas foram principalmente

de aguapé { Eichornia sp � , Pontederiaceae), algodoeiro-do-Pan-� . .

tanal { Ipomoea sp., Convolvulaceae) e ingazeiro { Inga sp. , Le

gurninosae)

A matéria animal foi . representada exclusivamente por cru�

táceos.

4. 2. 1. 6. Rodovia Tràl-spantaneira

Os seis indivíduos pré-adultos e �dultos { 2 7 , 5 a 35 , 7 cm

de comprimento padrão) coletados nas áreas periodicamente inl.J.!!

dáveis da Rodovia Transpantaneira , no pico da enchente e inÍ­

c1o da vazante , aprese�tavarn estômagos com graus de repleção

superiores a 25% { Tabela VII).

Na Tabela VI II são mostrados os itens encontrados nos es

tômagos examinados e suas porcentagens de ocorrência e de vo­

lume.

Os vegetais foram consumidos em grande quantidade { 94 , 9%),

principalmente frutos e sementes { 82 , 8%). Assim , em ordem de

importância , destacam-se os _frutos da canjiqueira {Byrson�ma

sp. , Malpighiaceae) e murta { Siphonengena sp. , Myrtaceae) , se

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mentes de Rubiaceae e frutos do algodão-do-Panti;lrlal (Ipomoea

sp._, Convolvulaceae}, entre outros ainda não identificados. ' -A matéria animal foi representada por Jernas• de insetos,

fragmentos de crustáceos e de moluscos gastrlodos (Pomacea ) .

No estômago de um exemplar registrou-se a presença de mais de

70 moluscos·, constatada através do exame de seus opérculos.

4.2.2. Índi ce alimentar

De acordo com a estimativa do "Índice al;i.mentar 11, consta

teu-se que os itens mais importantes na dieta da espécie es­

tão relacionados à procedência dos exemplares, à época de caE . .

tura, à oferta alimentar e à,s necessidades ecológicas da espé

cie.

Assim, durante o per�odo da en&ente, frutos e sementes

foram o item mais importante na dieta de C. mitrei em todos os

biÓtopos q�e são inundados periodicam;nte pelo transbordamen­

to das águas, a saber : Baía de Chacororé (Fig. 8 ) , Porto ce·r­

�ado (Fig. 9 ) , Porto Jofre (Fig. 10 ) e Rodovia Transpantanei­

ra (Fig. 11 ) . Espécimes adultos de e. mit rei encontrados ne�

ses biÓtopos já se reproduziram e necessi tam de grande quanti ·

dade de alimento de alto teor proteico para armazenar reservas

de gordura que serão utilizadas durante o período da seca, é-

peca em que se verifi ca escassez alimentar para as , . especies

herbívoras, e nos processos migrat�rios e reprodutivos. No

entanto, na calha do rio Cuiab�, nos primeiros meses de en­

chente, ou seja, outubro, novembro, dezembro e início de ja-

neiro, não se verificou consumo de frutos e sementes pela es-

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p�cie. Pelo contrário, o item mais irnpo�tante foi representa

do por folhas (Fig. \'2 ) . Isto sugere que os ,peix�s envolvidos

com a mi gração rio acima ·(piracema ) e rio abÍi.xo (rodada ) , se

servem do alimento mais prontamente �isponíve/ nas margens do

rio, que nessa época são as plantas afogadas pela inundação,

destacando-se o algodoeiro-do-Pantanal (Convolvulaceae) ,

(Euphorbiaceae ) e várias Legurninosae, entre outras.

sara

Ainda nesse período e nesse bi�topo, o item peixes, ape-, .. i • , sar de secundario, mostrou certa importância na dieta da espe

cie em estudo. Esse fato provavelmente também está relacion�

do com o movimento migratório dos peixes. Sabe-se que, durag

te a piracema e a rodada, enormes cardumes de peixes menores

acornpanh� os cardumes de peixes. maiores. Nessas condições,

é natural que e . mitrei, mesmo possuindo boca .

d l . f l ·" ' d pequena, entes mo ari ormes e mu ticuspi ados,

relativamente

isto é, carac

terísticas não adaptadas à piscivoria , tenha encontrado rela­

tiva facilidade para capturar presas.

O item crustáceo também merece ser destacado no período

da enchente, embora tenha irnportânci·a secundária na alimenta-

ção da esp�cie. Experimentos no campo COitlJ?rovaram que e.

mitrei tem preferência alimentar por esse item. No final da

enchente em Porto Jofre, foram utilizados diversos tipos de

isca (Lambari, muçurn, caranguejo e frutos de tucurn, canjiquei

ra e rebenta-laço) na captura de e. mitrei. Todos os exernpl�

res foram capturados com isca de caranguejo, mesmo os que apr�

sentavam o estômago e o intest� no repletos de frutos e semen-, ,=

· tes. Em vista disso, e admiss�vel supcir que o consumo de cru�

táceos por e. mitrei está diretamente relacionado com a dispo

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5 7

nibil idade da re fe rida presa no amb iente . Ta lvez o mesmo ra -

ciocÍnio pude sse ser ...ext rapolado pa ra o item molu scos , ma s o ' -

nÚmero de exemp la re s de e .,

mitrei captu radosr

a ár�a

rência de sse item é mu ito reduzido , impedindol

ue se

guma conclu são .

Out ros iten s ob servado s no conteúdo e stoma cal de

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mitre i no pe ríodo da enchente , na calha do rio Cu iabá , nao t i

veram impo rtância na dieta da e spéc ie . A s s im , mate ria l dige ­

rido re su ltou da sem id i gestão de re sto s anima i s e ve geta i s e

os itens are ia , made ira seca e ca rvão foram ingerido s aciden­

ta lmente .

O item ma i s impo rtante na dieta de C . mitrei adu lto no

pe ríodo da vazante , na ca lha do rio Cu iabá (Fi g . 1 3) , cont i-

nuou sendo fruto s e semente s , embo ra ba stante triturado s . Tu -.....

cum (Bactri s sp . , Pa lmae) fo i a Ún ica espécie pos sí vel de se r

ident ificada . Outra s partes da s p lanta s ( folhas , cau le , etc).

também se en contra vam completamente tritu rada s e em ad iantado

estádio de d igestão , perm it indo que se reconhe ce sse apena s a

suâ origem vegetal . I sto contribu iu pa ra o aumento da impor-

tância do item re sto s ve geta is no conte údo estomacal , su gerin

esca sseando , e. do que , quando os frutos e sementes vão

mitrei se serve princ ipa lmente de folha s , as veze s cau le ( ga-

lhos),que são ut il izados como re cu r sos alimenta re s alte rnati-

vos às cond içõe s adve rsa s do me io . O item crustáceo ,

de ser o a l imento pre fer ido de C . mitre i , con forme já

ape sa r

fora

most rado atra vé s de expe rimento s no campo no pe ríodo da enchen

te , cont ribuiu muito pouco na al imenta ção da espécie na vazan

te , su ger indo que o re fe rido i tem não e sta va di sponível pa ra

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e . mi trei no ambiente de es tudo • ....

Na es tação seca , na ba ía de Sá-Mar iana J

Fig. ' 14 ) , o item

restos vegetais , resul tante da sernid iges tão princ ipalmente de

folhas , fo i o ma is importante no conteúdo es/ornacal de pré-a ­

dultos de e . mi trei , revelando que , na ausênc ia de frutos e

sementes , esses pe ixes se se rvem de ou tros Órgãos das planta �

espec ialmente folhas , corno al imentos alternativos. O item

pe ixes , apesa r de te r papel secundário na dieta da espécie ,

mostra ce rta impo rtânc ia nessa época do ano e nesse bió topo ,

porque são util izados corno subs titutos de al imen tos essenc ia is,

devido à redução da ofe rta al imen tar no ambiente. É possível

que a isca de pedaços de pe ixe, utilizada pelos pescado res , te­

nha contribu ído em pa rte para aumentar a rep resentatividade

desse item no conteúdo estomacal dos espécimes analisados , em - -bora exames mais criteriosos das es2'amas encontradas no conte

'1 Údo es tomacal dos espécimes revelassem urna fase ad iantada de

digestão em ce rtas amostras , sugerindo que nem todas as esca-

mas eram provenientes das iscas dos pescadores. Com exceçao

� um exemplar, não se ve rif icou a presença de músculos e os -

sos de pe ixes nas amos tras . Essa constatação sugere duas in-

te rpretaç ões: 1 ) as escarnas eram ma is res±s tentes à digestão

que outras es truturas (músculos e ossos ) , consequentemente per

rnanece ram ma is tempo no es tômago ; 2 ) as escarnas foram ingeri

das aciden talmen te por e . mi tre i jun tamente com o ma ter ial de

fundo , ha ja vista que , em todas as amostras com escarnas em es

tádio avançado de digestão , verificou-se também a presença de

are ia mu ito fina . Neste caso , a presença de esc arnas no con­

teúdo estomacal parece não es tar relac ionada à predação e sim

.. a inges tão acidental .

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5 . DISCUSSÃO

Segundo BERG ( 197 9 ) , o grau de repleçãojdo t�bo digesti-

vo do peixe , ou se j a , o

indicação das condições

, volume de alimento in/�rido , e

do nicho ecológico , �a vez que

uma

é in-

fluenci ado pela competição al imentar , diminuição da oferta de

al imento , condição fi siológica do peixe e fatores abiÓt icos .

Anali sando- se os graus de repleção do estômago de Colos­

soma mitrei em relação às flutuações do nÍ_vel da água em dife

rentes biÓtopos no Pantanal Mato-grossense , constatou-se que ,

no período da enchente , a maioria dos exemplares apresenta es

tômago com grande quantidade de alimentos , ou se j a , com ele­

vado grau de repleção . GOULDING ( 1980 ) , estudando adultos de

Colossoma macropomum e C . bidens ( = f. brachypomum ) na bacia

do rio Madeira , na Amazônia , observO'1 que as c itadas espécies

apresentaram estômagos com gr aus de repleção mais elevados du

rante o período da cheia , époc a em que . procuram as florestas

inundadas para se al imentar de frutos e sementes . Situação

semelhante foi observada para adultos de C . mi trei no Panta-

nal , no período da inundação .

Como salientado por JUNK ( 1980 ) e GOULDING ( 1980 ) , a épo

ca seca é um período de escassez alimentar para as espécies

herbívoras . Esse fato foi observado para C . mitrei na calha

do rio Cuiabá no período da vazante , através da constatação

dos baixos graus de repleção dos estômagos analisados . Obser

vações posteriores em estômagos de alguns exemplares , no perÍ�

do da seca propri amente dito ( junho/ julho/ agosto } , evidenciam

que a disponibi li dade de al imento nesse biótopo reduz-se mais

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ainda , obrigando os peixes a se util izarem da reserva de gor-

dura acumulada duraoce o período da inundação . Segundo GOUL-

DING & CARVALHO ( 1 982 ) , os depósitos de gordjra de Colossoma

macropomum , formados durante a chei a , servem /mo reservas

energéticas , estrategicamente uti lizadas pel� espécie no pe­

ríodo da seca , época em que os frutos e as sementes não mais

e stão disponíve i s e , também , nos processos migratórios e re­

produtivo s .

Na estação seca ( julho/ setembro ) na baí a de Sá-Mariana ,

nao se observaram e stômagos vazios nos pré-adultos examinados,

pelo contrário , todos apresentavam estômagos com algum conteú

do , sugerindo que , em condições adversas do meio , esses indi­

víduos s ao capazes de explorar fontes al imentares alternati vas,

embora não apresentem uma caracterís tica adaptativa peculiar ,

como os r astros branquiais longos e Qumerosos de Colossoma

macropomum na Amazônia , adaptados para explotar zoopl âncton

no período da seca (RONDA , 1974 ) , prinéipalmente na fase ju­

venil ( CARVALHO , 1 981 ) .

, Comparando- se os graus de repleção do estômago dos exem­

plares fêmeas de C . mitrei , provenientes da calha do rio Cui�

bá na enchente , com gônadas no estádio madu�o e esgotado , ob­

servou-se uma diminuição do ri tmo da atividade alimentar . I s

to sugere que C . mitrei , durante o período reprodutivo , cons2

me pouco al imento , porém não paral iza totalmente esta ativida

de .

A redução da intensidade al imentar por ocasião do perío­

do reprodÜtivo foi constatada para peixes de piracema de ou-

'

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6 3

tras regiões do Brasi l . GODOY (19 59 ) observou que Prochilodus

scrofa Steindachner, no rio Mogi -Guaçu , Estado

nao se alimenta ou alimenta-se pouco ou quas�

de �ão Pau lo,

nada durante o �

período de desova , que ocorre de novembro a f/vereiro. BA SI -

LE-MARTINS (1978 ) , em seu trabalho sobre a alimentação de

Pime lodus maculatus Lacépede , nos rios Jaguari e Piracicaba, E�

tado de S . Pau lo , sugeriu que a maior freqüência de exempla­

res com estômago vazio , registrada durante a estação quente ,

estava re laciona da com a reprodução da espécie , que, segundo

GODINHO (1972 ) , ocorre no período de dezembro a fevereiro.

SANTOS (1979 ) constatou que , para Schizodon fasciatus Agassiz

e Rhytiodus microlepis Kner , do lago Janauacá , Estado do Amazo

nas , a atividade alimentar é reduzida por ocasião da desova.

Entretanto , para Rhytiodus argenteofuscus Kner, da mesma área,

esse fenômeno não foi observado , em �ecorrênci�, segundo o au

tor (op. cit. ) , do pequeno nÚrrero de espécimes amostrados . Re

su ltados discordantes destes são citados para Mylossoma

duriventris Cuvier no lago Janauacá , Estado do Amazonas , no

estudo de PAIXÃO (1980 ). Segundo a autora (op. cit. ) , a espe '

rada e marcante parada na . atividade alimentar da espécie nao

foi constatada , pois até as fêmeas em fase de maturação gona

da l avançada apresentavam estômagos com elevados graus de

rep leção.

Com base no exposto acima , é possíve l supor que a varia­

ção estaciona l dos graus de rep leção dos estômagos dos exem­de

plares C. mitrei está re lacionada com a flutuação do nível

da água na região , associada à condição fisiológica do peixe,

e com a disponibilidade de alimento nos diferentes biÓtopos

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64

do Pantanal .

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A s s im , os graus de repleção foram eleva1os no periodo da

enchente , embora tenha ocorrido variação de um., biótopo para

outro e até num me sm� biótopo , dependendo da (ondição fis iolÓ

gica do peixe ( época reprodutiva ) . O período da seca e uma

época de escas sez alimentar p ara os adultos na calha do rio

Cui abá � porém , na baí a , parece que a oferta alimentar nao e

tão reduzida como no rio . Tai s indíci os sugerem que as baías

do Pantanal , como a baí a de S á-Mariana, que permanece ligada

ao rio principal durante o ano todo , pos suem um papel semelhan

te aos l agos de várzea da Amazôni a , em termos de ofer ta ali ­

mentar . Nesses biÓtopos , RONDA ( 1974 ) , SANTOS ( 1 979 ) , PAIXÃO

( 1980 ) , ALMEIDA ( 1 980 ) e CARVALHO ( 1 981 ) não observaram varia

ção estacional marcante no ri tmo alimentar das _ espécies estu-

d 1 d " '- 1 · 1 da as . O percentua e estomago com a imento mostrou-se e e-

vado durante o ano todo, mesmo por ocas ião do período de água

baixa .

No período da chei a ( novembro a março ) , a planície do 4

Pantanal , na área considerada no presente estudo , é totalmen-

te alagada . e . mitrei adulto , após a desova, penetra nos c�

pos inundados , nas baías e nos cori xos à procura de al imento s ,

princ ipalmente frutos e sementes maduros que estão c aindo em

grande quantidade das fruteiras ( árvores , arbus tos e trepadef

ras ) , por essa ocasi ão . Esses frutos s ão mui to conhecidos dos

pantanei ros ( pescador , peão e fazendei ro ) , que às vezes os uti

lizam na alimentação .

Através da análise do c onteúdo estomacal de e . mitrei , f�

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6 5

ram confirmados mui to s dos frutos e sernentes ' citádos pelos

de muitos

com rique

�� pantaneiros corno alimentos da espécie . A vivênc.i.�

deJcrever anos no Pantanal autori za essas pessoas a

za de detalhes os hábitos dos peixes na regiã7" A contempla­

ç ão de c ardumes de e . mi trei e outras espéci es de peixes , em­

baixo das fruteiras , é um fato roti nei ro para o homem do Pan-

tanal . Entre essas fruteiras destacam-se : figueira ( Moraceae ),

pimenteira ( Chrysobalanaceae ) , caj azeiro ( Anacardiaceae ) , rog

cador ( Melastornataceae ) , marmel ada ( Rubiaceae ) e can j iqueira

(Malpighiaceae ) . Os pantaneiros utilizam esses hábitos de

e . mitrei para obter sucesso na pescari a . Munidos de urna li­

nha de pescar curta , cerca de 1,50 rn de comprimento, com o an

zol i s c ado com fruto , ficam embaixo das frutei ras , usando urna

, , c anoa de madeira ou a pe com a agua na altura do umbigo . Quag

' , do o c ardume de e . mi trei se aproxirn�, o anzol e lançado e

produz um ruído semelhante aos frutos que estão �aindo das ár

vores . Dessa forma , a c aptura é relativamente fáci l .

Segundo GOULDING ( 1980 ) , adultos de Colossorna rnacropornurn

e ,Colossorna brachyPornurn explora.iram um nÚmero relativamente pe

queno de espéci es frutí feras na Amazônia . Situ ação inversa

foi encontrada para e . mitrei no Pantanal . · De acordo com os

resultados , este peixe , durante o período de inundação , explo

rou um grande nÚmero de espécies de plantas ,

c atalogadas 1 1 famí l i as frut í feras .

sendo

A palrneirinha tucurn ( Bactris sp . , Palrnae ) , com sua am­

pla distribuição , foi a espéc ie mais freqüente no tubo diges-

tivo de C . mitrei , ocorrendo de fevereiro a maio . Entre as

árvores destacam-se : o ingazeiro ( Inga sp . , Legurninosae ) , mar

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t 66

melada (Rub�aceae) , ucuuba (Virola sp. , Myristic_àceae) , jeni-�a· • ,

papeiro (Genipa americana , >Rubiaceae) , loureiro· .. (Cordia sp. ,

Boraginacea�.)�---pa::�:( Sapctaceae) e sarã (Juphorbiaceae) , t.Q

das ocorrendo principalmente nas margens dos /5-0s � corixos.

Os arbustos foram representados na dieta de e. mitrei por fru

tos de canjiqueira e canj icão (Byrsonima spp. , Malpighiaceae)

e murta (Siphonengena sp. , Myrtaceae) • . Os dois primeiros são

encontrados em grande abundância nos alagados , predominando \

nas áreas mais secas. são consideradas plantas invasoras.

Siphonengena sp. (Myrtaceae) ocorreu principalmente nos ca­

pões (ilhas de vegetação) nas �reas de maior disponibilidade

hídrica. CUNHA (1982) constatou que essa família tem prefe-_... ·.

rência peta região periférica do 11 capão 11, que é inundada pe­

riodicamente. Em razão disso·, no período da cheia, C. mitrei

e outros peixes frugÍvoros do Pantanel são enc�ntrados embai-

. xo desses arbustos , �limentando-se dos frutos que caem na

água. O algodoeiro-d<:>_-pantanal ( Ipomoea sp. , Convol vulaceae)

é urna hidr�fita herbácea , cujos frutos e folhas ocorreram com

relativa freqüência na dieta da espécie em estudo. A , . unica

trepadeira identificada no presente estudo foi palma-de- sapo

(Cissus sp. , Vitaceae).

Apesar de algumas plantas frutificarem durante toda a es

tação cheia, outras frutificam no início e ainda outras no

final da mesma. Constatou-se também que algumas plantas oco� ­

reram em todos os biÓtopos considerados neste estudo � outras

tiveram ocorrência mais restrita. A distribuição está rela­

cionada com a adaptabilid��e da espécie aos diferentes regi­

mes de inundação.

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..

Yale ressaltar que , embora o consumo seja dependente

disponibilidade do fruto no ambiente, qu�ndo encontra

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da

seus

frutos favoritos , como tui::t,rn, marmelada, canJiq;i�a . murta,

entre outros, e. mitrei alimentou-se exclusivjlrente desses fru

tos , demonstrando preferência alimentar.

A quantidade ingerida variou de acordo com o tamanho dos ,

frutos e sementes e com a epoca e local de captura. Assim , o

fruto dó tucum (Bactris sp. , ), que possui uma semente (caroço)

globosa relativamente grande (15 _ mm de di·âmetro} ·, . atingiu o

máximo de 48 unidades no tubo intesti nal de um indivíduo na

baía de Chacororé , no pico da enchente. , . Urna especie de rnarrne

lada (Rubiaceae) , de semente relativamente pequena e achatada

(5 mm de diâmetro) , chegou a ter aproximadamente 8.000 semen­

tes no conteúdo intestinal de outro exemplar c�pturado na mar

gem do ri� Cuiabá, em Porto Jofre, n�· final da enchente •

As sementes inteiras encontradas _ao longo do intestino

sugerem que e. mitrei , além de agente predador, é também dis­

persor de sementes. Estudos envolvendo experimentos devem ser

cinduzidos para elucidar a questão. Com relação a esse aspe�

to , GOULDING (1980) e CARVALHO _(1981) pesquisando adultos e

jovens, respectivamente, de Colossoma rnacropomum na Amazônia, ·

concluíram que esta espécie é importante agente de predação e

dispersão de sementes.

GOULDING (1980) levantou quatro hip�teses para explicar

as razões que levaram Colossoma macropomum a selecionar fru-

tos e sementes de seringueira (Hevea spruceana) e

(Astrocarym jauary) para a sua alimentação : 1) elevado

jauari

con-

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�eúdo proteico d�s frutos : 2 ) ampla distribuiçã� e abundância

dessas plantas : 3 ) sementes grandes:1e 4) seme,nte_s com caroços

duros impossibilitando o seu consumo pela maf,ria de outros

peixes. Essas supos�ções não podem ser extratlad�s para e.

mitrei , no estágio atual deste trabalho , haja vista o conheci

mento precário da flora e ictiofauna do Pantanal .

No final da enchente , o nível da água vai baixando � veri

fica-se um deslocamento dos peixes das partes altas das áreas

inundá;eis para as mais baixas . Durante a vazante ( abril e

maio ) , e . mitrei e outras espé_cies de peixes procuram sair

precipitadamente para o rio Cuiabá . Essa corrida de peixe re

cebe a denominação regional de " lufada" , já registrada por

AGUIRRE ( 1945 ) . Segundo os pescadores , e. mitrei é um dos pri

meiros peixes a sair das áreas inundáveis . SÓ os adultos

saem para o rio Cuiabá: os jovens e ·b·s pré-adultos permanecem,

principalmente , nos rios menores , corixos permanentes e baías

que têm conexão com o rio principal , durante o ano todo .

GOULDI NG & CARVALHO ( 1982 ) sugeriram duas estratégias ec2

l�gicas para explicar a migração de adultos de Colossoma

macropomum dos lagos de várzea da Amazônia para os rios apos

as enchentes anuais: 1 ) reduzir a competição intra:especÍfica

entre adultos e jovens por zooplâncton durante a estação se­

ca e 2 ) evitar que os adultos aptos à reprodução fiquem apri­

sionados nos lagos que são formados durante a seca . É prová­

vel que essas estratégias també� expliquem a migração de e.

mitrei no Pantanal , embora estudos em andamento de jovens de

1 5 , 0 a 2 0 , 5 cm de comprimento padrão , que pennanecerarn nos

rios menores e corixos permanentes , na estação seca , sugiram

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. 69

que a competição , nessa classe de tamanho , nao está diretamen

te rel acionada com a ... dieta zoopl anctônica (A .. J. _SILVA , obser­

vação pessoal ) .

Referênci as sobre a alimentaç ão de Colos<oma mitrei sao

encontradas em DEVINCENZI & TEAGUE ( 1942 ) , AGUIRRE ( 1945 ) , RI�

GUELET et al . ( 1967 ) e GODOY ( 1 97 5 ) .

DEVINCENZI & TEAGUE ( 1942 ) , ao descreverem a espécie

Colossoma canterai ( = C . mitre i ) como espécie nova , observa­

ram que a citada espécie , no rio Uruguai , em Montevidéu , apre

senta uma al imentação consti tuída de crustáceos e planta s

aquáticas ( folhas de Cephalanthus glabratus } , frutos de

Eugeni a myrci anthes e Chrysophyllum lucumi fol ium e de outros

frutos .

AGUIRRE ( 1 945 ) , descrevendo a p�sca no Pantanal , embora

sem precisar a metodologi� adotada , informou que Myleus sp .

( = Colossoma mitrei ) se al iment a de muitos fruto s : taiui á ( Cur-

cubitaceae ) , can j iquinha , marme l ada , pimenta , goi aba silves­

tre , araçá , jenipapo e caj azinho . Dos frutos citados , canji-,

quinha (Malpighi aceae } , marmel ada ( Rubiaceae ) e jenipapo

( Rubiaceae ) foram constatados n o conteúdo estomacal de e .

mitrei , no presente estudo.

RINGUELET et al . ( 1 967 ) , em seu trabalho sobre os peixes ,

de agua doce da Argentina , comentaram que e . mitrei , no rio

Paraná , alimentou-se de frutos , crustáceos e vegetais ( folhas )

e t ambém de caracóis e peixes pequenos .

, . GODOY ( 1 97 5 ) , estudando as espec1es de peixes do r io Mo-

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gi -Guaçu, s ão Paulo , encontrou n o conteúdo estomacal do Único

. , .. exemplar de e . mitrei examinado, restos de diver�os ve9etais

( folhas e galhinhos ) , algumas sementes e muitas penas d� 1vei .

Os comentários 'constantes da bibliografia acima são per-

tinentes, haj a vi sta que quase todos os itens citados pelos

referidos autores ( frutos , sementes, folhas , crustáceos , pei ­

xes, moluscos , exceto pena de aves ) foram encontrados no con-

teÚdo estomacal de e . mitrei no Pantanal . Entretanto, a fal

ta de informação acerca da freqüência e do volume dos alimen-

-tos ingeridos impede qualquer tipo de comparaçao com os dados

obtidos no presente estudo . É conveniente sal ientar que o

objetivo de sses autores não era propri amente estudar a alimen

tação da e spécie , mas apenas fornecer informações gerais so­

bre o seu regime alimentar .

, BASILE-MARTINS ( 1 978 ) , apos ana�i sar a numerosa bibliogr a

fia que comenta as falhas e os méritos dos vários métodos de

análise do conteúdo estomacal de peixes , concluiu que a esco­

lha do método mai s apropri ado depende, em primeiro lugar , da

p�Ópri a natureza do material alimentar .

HYSLOP ( 1 980 ) . comentou 1 que a expressão · " item alimentar im

portante na dieta" , embora sej a freqüentemente empregada na

literatura , não é bem definida . Segundo o referido autor, p�

ra se obter um resultado mai s satisfatório da " importância do

i tem na dieta" é necessário associar um método qualitativo a

outro quanti tativo . Recomendou ainda que o volume do alimen

to deve ser relacionado ao t amanho do peixe ou da c apacidade

e stomacal.

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Segundo KAWAKAM I & VAZZOLER (197 8 ) , a conjugação de dois

métodos - freqüênc ia ... ·de ocorrênc ia e volumétrico - perm ite uma ' - '

aval iação ma is real de cada item na dieta, f�cilitando a com-

preensão do que é "mais importante". Assim, ;ftpresentando-se

num gráfico a freqüênc ia relativa de ocorrênc ia na ordenada e

o volume percentual na abscissa,. obtêm-se quadriláteros cujas

áreas correspondem proporc ionalmente a uma estimat iva da im­

portância al imentar de cada item no espectro al imentar. Des­

sa forma , a part ir da som atÓria das áreas dos quadriláteros é

possível calcular um "Índice al imentar " para cada item. O "Ín

dice alimentar " determ ina , clar amente , a importânc ia efetiva

de cada item na al imentação da espéc ie.

Considerando os aspectos ac ima discutidos , dec id iu-se

optar pe lo método de freqüência de ocorrência e o método volu

métrico , cujos resultados foram anal �sados isoladamente do

� modo convenc ional e em conjunto , segundo metodolog ia de KAWA­

KAMI & VAZZOLER (op. cit. ).

Os vegetais foram os itens mais importantes no reg ime ali

m�ntar de C. mitre i , em todos os _b iÓtopos cons iderados no pre-

sente estudo. Segundo KEENLEYSIDE (1979 ) , as adaptações al i-

mentares bás icas de peixes herbívoros são de natureza estrutu

ral e não etolÓgica. Isto porque as plantas não possuem meca-

n ismos de defesa e , consequentemente , os pe ixes nao neces-

sitam de estratég ias específ icas de captura para utilizá-las

como alimento . Característ icas estruturais assoc iadas com o

reg ime al imentar como 1 ) dent ição , 2 ) rastros branquiais , 3 )

nÚmero de cecos pilÓricos e 4 ) compr imento do intest ino (LA-

GLER et al. , 197 7 , NIKOLSKY, 19 63 ) sugerem que essa , .

espec ie

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possui dieta predominantemente herbívora . A · dentição de e .

mitre i , constituída ãe dentes molari formes co� �Úspides cor-

t antes , está adaptada para fragmentar os ali�entos em pedaços

menores , como também . triturar frutos e sement,1 de caroços d�

ros , como o tucum e outros . GODOY ( 197 5 ) , ao estudar essa

espécie no rio Mogi-Guaçu , afirmou que a dentição especi aliza

da do peixe serve para cortar e moer os alimentos . Para GOUL

DING ( 1980) , a presença de dentes molariformes , entre os Cha­

racoidei , está relacionada com a dieta frugÍvora . GOULDING &

CARVALHO ( 1982) presumiram que o princ ipal fator que contri­

buiu seletivamente para o porte avantaj ado de Colossoma macro­

pomum na Amazônia tenha sido a robustez da mandíbula e da den

tiçao , que permitiria ao peixe ingerir sementes grandes como

as de seringue ira , que peixes frugÍvoros menores eram incapa­

zes de uti l izar , com exceção de Colos soma bracliyPomum e uma

ou duas espécies de Brycon . Embo ra não haj a estudos sobre os

hábitos al imentares de outras e spécies _frugÍvoras no Pantanal,

e . mit rei é a espécie que atinge maior t amanho e peso ; portan

to , julgo bastante aceitável sugerir o mesmo raciocínio para

' , . esta especie .

Os rastros branquiais , além de protegerem os delicados

filamentos branqui ai s , s ão também especializados em relação à

naturez a do alimento consumido ( LAGLER et al . , 1977 ) . As-

sim , comparando-se o t amanho e o número de rastros branquiai s

de C . mitre i , peixe com dieta predominantemente vegetar i ana , e

Colossoma macropomum , que principalmente na fase

explora doi s tipos de al imentos , ou se j a , vegetais

jovem

( fru-

tos e sementes ) e zooplâncton , constatou-se que C . mitrei tem

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rastros branqui ais curtos e em menor nÚrnero .( 30 a 40) e C.

macropomum , com base-- nos dados de GOULDING & CARVALHO ( 1982) ,

tem-nos alongados e numerosos ( 85 a 100 ) .

Segundo LAGLER et al. , ( 197 7 ) , os cecos /i lÓri cos , quan­

do presentes , podem ter função de absorção , di gest iva ou am­

bas. Para NIKOLSKY ( 1963 ) , o nÚrnero de cecos pi lÓr icos é mui

to variável , podendo variar inclusive numa mesma espéc ie em

rel ação à natureza do al imento consumido. e . mitrei possui

v�ri aç ão gr ande de cecos pilÓricos ( 36 a 7 3 ) e médi a em torno

de 50. É provável que o grande nÚrnero de cecos pilÓri cos te

nha rel ação com o regime vegetari ano da espécie , conforme . , Jª

foi sugerido por SANTOS ( 197 9 ) para três espéc ies de Anosto­

midae do lago J anauacá , Amazonas , consi deradas herbívoras quan

to ao regime alimentar.

'-· Para muitos autores , o comprimento do tubo digest ivo tem

estre ita correl ação com a natureza do alimento ingerido. As­

sim sendo , AL-HUSSAINI ( 1949 ) apud BASILE-MARTINS ( 1978 ) , afiE

r • . mou que os pe ixes carnivoros possuem intesti no curto ; os her-

bjvoros , longo ; e que é próprio dos onívoros o de comprimento

intermedi ário. NIKOLSKY ( 196_3 ) constatou que , entre os peixes

Cyprinoidei , o compr imento do intest ino da� espécies c arn ívo-

, , ras e menor que o comprimento do corpo , ao passo que nas espe

cies herbívoras é maior. FRYER & ILES ( 1972) fizeram a mesma

constatação para as espéc ies de Cichlidae dos grandes l agos

da África. LAGLER et al. ( 197 7 ) afirmaram que as

carnívoras apresentam intesti no mais curto que as

espéc ies

espécies

herbívoras , porque os alimentos de origem animal são mais fá-

ceis de serem digeridos que os de origem vegetal. Em média ,

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o comprimento do intestino de e . m itrei foi 1 , 5 vezes ma ior

que o comprimento paàrão do pe ixe. HONDA (1974) ' . constatou

uma re laç ã-& super ior (2 a 2, 5) para C. biden4 (=s;_.' macropomum).

AL-HUSSAINI & KHOLY � 1954) apud BASILE-MARTI N7 (1978) afirma -, - ,

ram que o comprimento do intestino dos peixes depende nao so

da natureza do alime nto, como também, no caso dos herbívoros,

da quantidade de vegeta l inger ido, sendo que uma maior quant i

dade deste ocasionaria um aumento do comprimento do intestino.

Os animais, representados por peixes, crustáceos e molus

cos, tiveram pape l secundário na alimentação da espécie, embo

r.a a importância do item pe ixes tivesse s ido aumentada em de­

terminadas circunstâncias, quando foi consumido como alimento

alternativo, no período de reprodução (p iracema e rodada) na

calha do rio Cuiabá na enchente e como al imento substituto ,

em época adve rsa na baía de sá-Maria,a na estação seca.

'1

Segundo AZAVEDO (1972) , "a espec i �icidade alimentar dos

peixes, embora existente, não é, t odavia, de urna rigidez abso

luta, podendo var iar, dentro de determinados limites, depen­

d�do, evidentemente, da abundância deste ou daque le alimen­

to, neste ou naquele ambiente ". Este fato foi constatado pa­

ra C. mitre i , cu jo hábito al imentar é herbívoro, embora a pre

sença de anima is tenha sido const ante na sua dieta, suger indo

e levado grau de oportunismo al imentar. GOULDING & CARVALHO

(1982) também constataram a presença de an imais na dieta de

jovens e adultos de Colossoma macropomurn na Amazôn ia; todavi a,

não lhes atribuíram muita import ância no regime alimentar da , .

espec ie.

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7 5

De acordo com LARKIN ( 19 5 6 ) , o s ambientes de água doce 2

ferecem poucas oportunidades para especializa�ão_ dos peixes .

Em conseqüênci a, muitas espéc ies apresentam tilerâ�ci a relati

vamente ampla ao t ipo de habit at, flexibilidao/ nos hábitos

aliment ares e , em geral , comparti lham com outras espéc ies os

recursos do ambi ente .

KEENLEYSIDE ( 1979 ) reconheceu três tipos gerais de peixes

herbívoros : 1 ) past adores ( " gr azers " ) : que catam algas j unto

ao substrato ; 2 ) podadores ( " browsers " ) : que , se servem de par

tes das plantas acima do substrato; 3 ) fitoplanctívoros : que

se alimentam princ ipalmente de fitoplâncton .

Com base na anál ise do conteúdo estomacal e das car acte­

rísticas estruturai s relacionadas c om a al imentação , pode- se

afirmar que

ra , do t ipo

e . mitrei é uma espécie predominantemente he rbÍvo -�

-

podador , com preferênci as frugÍvora e/ou granÍvo-

ra , embora sua dieta possa também incluir itens secundári os

c omo pe ixes , crustáceos e , ' as vezes , moluscos. Uma

mais detalhada revela que , no período da enchente , nas

pe'riodicamente i nundada_s ( baía de Chacororé, alagados

anál ise

areas

margi-

nais do rio Cuiabá e da Rodovi a Transpantaneira ) , e . mitrei �

presentou hábito alimentar muito e spec i al izado , ou sej a , foi

quase exclusivamente frugÍvoro e/ou granívoro ; porém , nos três

primei ros meses da enchente na calha do rio Cui abá , foi um fi

l Ófago com tendênc i a à ictiofagi a . No período da vazante , na

c alha do rio Cui abá , foi um podador nao especializado , ou se j a,

alimentou-se tanto de fruto s e sementes quanto de folhas ; e ,

durante a seca na baí a de Sá-Mari ana foi um f ilÓfago com ce'r-

to grau de oportuni smo em relação ao i tem peixes .

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Mesmo que e . mitrei , em determinadas circuns4::.ânci as , uti

lize fontes alimentar'es a.1.t.ernati vas , não é c,orr_et_o supor que

essa espéci e possa sobreviver às custas dess�s fontes . São

recursos que a espécie uti liza em situações efremas e que pos

suem c aráter temporário. O futuro dessa espécie está di reta­

mente relacionado à existênci a de inúmeras plantas frutí feras

encontradas durante o período de enchente no Pantanal .

Por essa r azão , dentre as atividades humanas a mais preocupan

te no momento é o desmatamento das cabeceiras , das margens dos

rios e das áreas periodicamente alagadas .

Ciente de que Mato Grosso está entre os Estados com maio

res taxas de crescimento populacional do país ( FUNDAÇÃO IBGE ,

1982) e que o esforço de pesca sobre e . mitrei tem aumentado

assustadoramente nos Últimos anos , pode-se dizer , com certo

grau de otimismo , que urna política d� pesca abrangente e sa­

di a , associ ada a urna fiscalizaç ão eficiente , pode;á neutrali­

zar os efe itos da pesca predatóri a na regi ão . No entanto , os

efei tos do desmatamento são irreversíveis.

' Segundo MEYERSON ( 1 981 ) , o desmatamento pode ser dividi-

do em duas áreas : 1 ) desmatamento das cabeceiras e 2) desmata

mento das margens dos rios . O primeiro , além de seus efei tos

negativos n a área em que ocorre , aumenta a erosão e reduz a

c apacidade de absorção do solo . Os efeitos con j ugados destes

dois fatores alteram o ritmo das enchentes rio abaixo . Em ge

ral , os níveis dos rios ficam mais altos que o normal durante

as che i as e mais baixos durante as secas . As enchentes tor­

nam-se mais intensas e de duração mais curta (MEYERSON , op .

cit . ) . Em conseqüênci a , C . mitrei é forçado a reduzir o pe-

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......

1 77

t

rÍodo de permanência nas áreas periodicamente alagadas , onde

se verifica a grandE!-' fartura de frutos e sementes . O segundo ' - ..

está acontecendo tanto n�s cerrados quanto + ·áreas baixas

da bacia do Alto Paz:aguai (MEYERSON , .QE.• cit/ · A vegetação

ao longo das margens ajuda a manter as ribanceiras durante os

períodos das inundações intensas . Quando essa vegetação é re

movida , " bocas" abrem-se mais facilmente nas ribanceiras e

ma.is erosão ocorre nas terras vizinhas . As vezes , o rio pode

usar as "bocas" para mudar o seu curso totalmente . Por exem­

plo , rios corno o Itiquira e o Taquari já mudaram seus cursos

muitas vezes , por vezes desembocando no rio Paraguai em pontos r

completamente diferentes dos de hoje (MEYERSON, 2.E· cit . ) . P-ª

ra as comunidades de peixes do Pantanal , o desmatamento das

margens dos rios , baías , corixos e das áreas periodicamente i

nundadas , além de reduzir as áreas de proteção, alimentação e . . �

reprodução das espécies , tem efeitos diretos sobre a história

natural de C . mitrei . Urna redução expFessiva da oferta ali-

rnentar durante o período da enchente impossibilitaria essa

es�cie de armazenar reserva de gordur.a que seria rnet-aboliza­

d� no per�_odo de escassez alimentar , na estação seca e nos

processos migratórios e reprodutivos . Conseqüentemente , em

poucos anos , · a ocorrência dã especii não mais se verificaria

em condições naturais no Pantanal de Mato Grosso.

Esta é urna forma muito simplista de apresentar o proble-

ma. � claro que muitos outros fatores , não menciona-

dos neste contexto, entram em jogo -quando se analisam as int�

rações ecológicas num ecossistema tão complexo quanto é o Pan,

tanal , conforme já foi observado pelos pesquisadores do Plano

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--

de Desenvolvimento da Bacia do Alto Paraguai, na. Fase de Pré­

Diagnóstico: " Pelo I)Õuco que se conhe�e do Pantc!Ilal , sabe-se

que esse é um ecossistema frágil e que qualq4er alteração sig

nificativa, decorren�e da ocupação humana, p? ca�sar gran­

des prejuízos " ·( BRASIL , SUDECO , 197 8 ) ; acrescento , ainda , pef:

das irreparáveis , como no c aso _das espécies migradoras de ' .

destacada importância econômica , social e ecológica na região.

Outros fatores ecológicos relacionados com a sobrevivên­

cia de e . mitrei , tais como construção de diques , · usinas hi­

drelétricas e de �lcool , implantação de grandes firmas de

agropecuária e de garimpo , entre outros , também devem ser le­

vados em consideração no estudo biológico da espécie. Nesse

sentido , seria interessante uma pesquisa sobre a história na­

tural de e . mitrei , incluindo as fases larval e juvenil , em di-

ferentes biÓtopos do Pantanal . 1 \.-..

PAIVA ( 1984) , ªP?S ter feito uma �análise a respeito do

aproveitamento de recursos faunísticos do Pantanal , recomen­

dou as pesquisas necessárias e sugeriu o desenvolvimento de

sistemas de produçã� mais a�equados � região. Segundo MEYER­

SON ( 1981) , o Pantanal Mato-grossense poderia ser economica--- - . , - -----mente produtivo e reter as caracteristicas que fazem dele um

. , . e_cossistema unice e valioso, se desenvolvido adequadamente e

com atenção . Alerta, ainda, que uma palavra resumiria tudo

em relação ao desenvolvimento futuro da região : PRUD�CIA .

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6 . CONCLUSÕES

1. A análi se das freqüênci as dos di feref:es graus de re-

pleção atribuídos aos estômagos mostrou uma v/

i ação estacio­

nal no volume de alimento ingerido por Colossoma mitrei . Es

sa vari ação está relacionada com a flutuação do nível da água

na regi ão e com a di sponibi lidade de al imento nos di ferentes

biÓtopos do P antanal .

2 . Estômagos com graus ?e repleção mai s elevados ocor­

reram no período da enchente , independentemente da procedên­

c i a dos exemplares , embora tenha s ido observada variação de

um biótopo para outro e até num mesmo biótopo , dependendo da

condição fisiol ógica do peixe ( época reprodutiva ) . Estômagos

com baixos graus de repleção foram observados no período da

vazante na calha do rio Cuiabá e com'-.9raus de repleção inter­

mediários no período da seca na baía de S á-Mariana .

3 . O espectro alimentar da espécie em estudo é constituí

do por categori as de natureza vegetal e animal � porém, a maté­

r�a vegetal foi mai s express iva , evidenci ada pelo método de

freqüênci a de ocorrênci a , método volumétrico e através da

conjugação dos dois métodos (método gráfico ) , com estimativa

do Índice alimentar .

4 . Os resultados obtidos na análise do conteúdo estoma­

cal, pelos métodos de freqüênci a de ocorrênci a e volumétrico ,

foram semelhantes quando os itens alimentares mais freqüentes

foram os mai s volumosos e divergentes quando ocorreram em pro

porções di ferentes .

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5. A variação na composiç ão da dieta de e . mitrei está

diretamente rel acionàda à flutuação d'o nível .da _áqua na re­

gião , assoc iada à procedênci a dos exempl aresj ( biÓtopos ) .

6. Na enchente , · o item mais impor t ante dieta de e .

mitrei foram frutos e sementes , em todos os biÓtopos estuda-

dos , periodicamente inundados , ou se j a , baía de Chacororé ,

alagados marginais do r io Cui abá e da Rodovia Transpantaneir�

porém na c alha do rio Cuiabá , nos três prime iros meses da en­

chente , foi observado alto consumo de folhas.

7. No período da vazante , na calha do rio Cuiabá , apesar

dos baixos graus de repleção dos estômagos , frutos e sementes

e Lestos vegetais (princ ipalmente folhas em processo avanç ado

de digestão ) constituíram os i tens principais no c onteúdo es-

tomacal. Supõe-se que as folhas tenham sido ut ili zadas como �

, . alimento alternativo pela especi e. ..

8. Na estaç ão sec a , na baía de Sá-Mariana , o item mais

import ante no estômago de C. mitrei foram restos vegetais , rg

s�ltantes da semidigestão , principalmente , de folhas. É mui-

to provável que as folhas tenham sido uti l izadas pela espécie

como alimento alterna t ivo.

9. Peixes sao um item secundário na alimentação de e .

mitrei , embora sua importânci a t ivesse sido aumentada na en-

chente na ca lha do rio Cuiabá , quando foram consumidos como

al imento alternativo na época reprodut iva (piracema e rodada }

e como al imento substituto em condições adversas do meio , na

estação seca. ' na baí a de Sá-Mariana.

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10 . Crustáceos t ambém s ao um item secundário na dieta de

c . mitrei . .....

O seu consumo pel a e spécie

do com a disponibili dade das referidas

parece . es±ar relaciona ' -l b . presa� no am l ente . Com

rel ação ao item moluscos nenhuma suposição pogé ser feita no

estágio atual do presente trabalho .

11 . I tens como insetos, arei a , madeira seca e carvao po­

dem ser ·considerados acidenta is no conteúdo estomacal de c .

mitrei , devido ao baixo consumo .

12 . C . mi trei é uma espécie predominantemente herbívora,

podadora, embora sua dieta inclua também itens de origem ani ­

mal . N o presente estudo , apresentou vari ação n a dieta em fun

ção da época do ano e do biótopo . Na enchente, nas áreas pe­

riodicamente inundadas, foi quase exclusivamente frugÍvora e/

ou granívora e na c alha do ri o Cuiab� foi filÓfaga com tendêg ....

eia à ictiofagia . � No período da vazante, na calha do rio

Cuiabá, foi podadora não especi al izada; na baí a de Sá-Mariana,

durante a seca, foi filÓfaga, com certo grau de oportunismo em

relação ao item peixe s . '

1 3 . A sobrevivência de c . mi trei, uma das espéci e s econo

micamente mai s importantes da ictiofauna mato-grossense , está

diretamente relacionada à exi stência de inÚrneras plantas fru­

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