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As sociabilidades virtuais glocalizadas na metrópole: experiências do ativismo cibernético do grupo

Direitos Urbanos no Recife

The Glocalized Virtual Sociabilities in the Metropolis: Experiences of the Cybernetic Activism of the Group

Direitos Urbanos in Recife

Resumo

No início da década de 1990 se testemunhou algo novo, que em pouco tempo transformou radicalmente o modo como as pessoas se comunicavam, organizavam seu cotidiano e agiam sobre o mundo: a popularização da Internet. Essas novas formas de comunicação serão aqui analisadas enquanto instrumento de mobilização e de organi-zação de práticas de ativismo social. Interessa-nos colocar questões que nos permitam construir instrumentos analíticos para pesquisa sobre ações coletivas que utilizam a web enquanto mediadoras de processos de comunicação e interação social. Os pontos co-locados serão ilustrados por um estudo empírico sobre uma plataforma virtual para a organização do debate sobre a cidade: o grupo Direitos Urbanos/Recife.

Palavras-Chave: Sociabilidades Virtuais Glocalizadas; Metrópole; Ativismo Ciber-nético; Direitos Urbanos; Recife.

Abstract

At the beginning of the 1990s something new was witnessed, which in a short ti-me radically transformed the way people communicated to themselves, organized their daily lives, and acted on the world: the popularization of the Internet. These new forms of communication will be analyzed here as an instrument for mobilizing and organizing practices of social activism. Our interest will be to ask questions that allow us to construct analytical tools for researching on collective actions that use the web as mediators of processes of communication and social interaction. The points presented here will be illustrated by an empirical study on a virtual platform for organizing the debate about the city: the Direitos Urbanos/Recife group.

Keywords: Glocalized Virtual Sociabilities; Metropolis; Cybernetic Activism; Direi-tos Urbanos; Recife.

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Cadernos

IHUideias

As sociabilidades virtuais glocalizadas na metrópole:

experiências do ativismo cibernético do grupo Direitos Urbanos no Recife

Breno Augusto Souto Maior FontesUniversidade Federal de Pernambuco – UFPE

Davi Barboza CavalcantiUniversidade Federal de Pernambuco – UFPE

ISSN 1679-0316 (impresso) • ISSN 2448-0304 (online) ano 15 • nº 262 • vol. 15 • 2017

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Cadernos IHU ideias é uma publicação quinzenal impressa e digital do Instituto Humanitas Unisinos – IHU que apresenta artigos produzidos por palestrantes e convidados(as) dos eventos promovidos pelo Instituto, além de artigos inéditos de pesquisadores em diversas universidades e instituições de pesquisa. A diversidade transdisciplinar dos temas, abrangendo as mais diferentes áreas do conhecimento, é a característica essencial desta publicação.

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino, SJVice-reitor: José Ivo Follmann, SJ

Instituto Humanitas Unisinos

Diretor: Inácio Neutzling, SJGerente administrativo: Jacinto Schneider

ihu.unisinos.br

Cadernos IHU ideiasAno XV – Nº 262 – V. 15 – 2017ISSN 1679-0316 (impresso)ISSN 2448-0304 (online)

Editor: Prof. Dr. Inácio Neutzling – Unisinos

Conselho editorial: MS Jéferson Ferreira Rodrigues; Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta; Prof. MS Gilberto Antônio Fag-gion; Prof. Dr. Lucas Henrique da Luz; MS Marcia Rosane Junges; Profa. Dra. Marilene Maia; Profa. Dra. Susana Rocca.

Conselho científico: Prof. Dr. Adriano Naves de Brito, Unisinos, doutor em Filosofia; Profa. Dra. Angelica Massuquetti, Unisinos, doutora em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade; Profa. Dra. Berenice Corsetti, Unisinos, doutora em Educação; Prof. Dr. Celso Cândido de Azambuja, Unisinos, doutor em Psicologia; Prof. Dr. César Sanson, UFRN, doutor em Sociologia; Prof. Dr. Gentil Corazza, UFRGS, doutor em Economia; Profa. Dra. Suzana Kilpp, Unisinos, doutora em Comunicação.

Responsável técnico: MS Jéferson Ferreira Rodrigues

Imagem da capa: Anne Petersen (Flickr)

Revisão: Carla Bigliardi

Editoração: Gustavo Guedes Weber

Impressão: Impressos Portão

Cadernos IHU ideias / Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Instituto Humanitas Unisinos. – Ano 1, n. 1 (2003)- . – São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2003- .

v.

Quinzenal (durante o ano letivo).

Publicado também on-line: <http://www.ihu.unisinos.br/cadernos-ihu-ideias>.

Descrição baseada em: Ano 1, n. 1 (2003); última edição consultada: Ano 11, n. 204 (2013).

ISSN 1679-0316

1. Sociologia. 2. Filosofia. 3. Política. I. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Humanitas Unisinos.

CDU 316 1

32

Bibliotecária responsável: Carla Maria Goulart de Moraes – CRB 10/1252

ISSN 1679-0316 (impresso)

Solicita-se permuta/Exchange desired.As posições expressas nos textos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores.

Toda a correspondência deve ser dirigida à Comissão Editorial dos Cadernos IHU ideias:

Programa Publicações, Instituto Humanitas Unisinos – IHU Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos

Av. Unisinos, 950, 93022-750, São Leopoldo RS Brasil Tel.: 51.3590 8213 – Fax: 51.3590 8467

Email: [email protected]

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AS SoCIABILIDADES VIRTUAIS GLoCALIzADAS NA METRóPoLE: EXPERIêNCIAS Do ATIVISMo CIBERNéTICo

Do GRUPo DIREIToS URBANoS No RECIFE

Breno Augusto Souto Maior Fontes Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Davi Barboza Cavalcanti Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Introdução

No início da década de 1990 se testemunhou algo novo, que em pouco tempo transformou radicalmente o modo como as pessoas se co-municavam, organizavam seu cotidiano e agiam sobre o mundo: a popu-larização da Internet1. Atualmente, as mudanças continuam e o futuro promete momentos ainda mais radicais, imprevisíveis mesmo hoje, quan-do o mundo se torna cada vez mais espetacular e interconectado, com as pessoas consumindo enormes quantidades de informação, comunicando-se globalmente a preços módicos e construindo laços e sociabilidades que ultrapassam os limites territoriais da interação face a face.

os cientistas sociais ficam paralisados diante deste novo e importan-te fenômeno. Como compreender, por exemplo, as práticas de ativismo político que têm como base importante de mobilização as interações me-diadas pela Internet? Quais são as peculiaridades desse novo fenômeno? Quais questões importantes devem ser acrescentadas aos tradicionais quadros de análise construídos a partir da observação de acontecimentos que pouco ultrapassavam os limites territoriais das comunidades locais, ou, caso o fizessem, eram alavancados pelas sociabilidades primárias?

As primeiras manifestações significativas de ativismo cívico podem ser observadas na década de 1990, com o movimento zapatista e as manifestações contra a globalização durante a reunião da organização

1 A internet é mais antiga, alguns falam de uso militar desde o final da década de 1950. o primeiro e-mail da história foi transmitido no final de 1970, mas a popularização dessa plataforma de comunicação tem início de fato somente a partir de 1990. Sobre o assunto, consultar Castells (1996).

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Mundial do Comércio, em Seattle2. o movimento zapatista é um caso exemplar de práticas de ações coletivas que ultrapassam o cenário local. Tendo por leitmotif o protesto de grupos organizados do Estado de Chia-pas, sul do México, contra a violação de direitos de grupos indígenas, o movimento zapatista espalhou-se amplamente pelo planeta a partir das ações midiáticas coordenadas pelo comandante Marcos.

os zapatistas combateram – e ainda combatem – fortemente a ex-ploração dos indígenas e a ocupação de territórios tradicionais por grupos econômicos do capitalismo global. Isso é feito através da luta pela auto-nomia dos povos indígenas e pelo direito à autodeterminação e contra a aniquilação de bases tradicionais de cultura e sociabilidade. Reivindica-ções como a gestão democrática participativa do território e a partilha de terras e de colheita se constituem, agora magnificadas pela ampla difusão nas redes sociais, em um libelo contra a globalização e a incorporação do capitalismo nos rincões ainda tradicionais.

As manifestações de Seattle em 1999 por ocasião da reunião da organização Mundial do Comércio, capitaneada por movimentos sociais e organizações não governamentais, encontraram também a partir da In-ternet visibilidade global. Nesse sentido, de repente práticas locais e com agenda fortemente marcadas pela reivindicação de grupos provincianos (o movimento zapatista), ou aquelas que espelhavam seus repertórios de mobilização em questões transterritoriais (as mobilizações em Seattle), ultrapassaram o cenário local e conquistaram adeptos em diversas partes do planeta. A denúncia de um mundo construído a partir de um modelo econômico fortemente excludente espalhado pelo globo passou a ser vi-sível em grande escala, permitindo campos de luta antes nunca vistos.

outros grandes movimentos sociais com escala global se sucedem aos supracitados: o movimento ecológico, com ações espetaculares com repercussão mundial capitaneadas pelo Greenpeace, e os Fóruns Glo-bais (de desenvolvimento sustentável, de oNGs, entre outros) são alguns exemplos. Mas a revolução da Internet não para por aí. A partir da primei-ra década deste século, abrem-se novas possibilidades para as práticas de sociabilidades mediadas pela web, com a introdução de uma série de aplicativos que permitem não somente a comunicação interpessoal (cor-reios eletrônicos ou leitura de textos e documentos), mas também a cons-trução de campos de interação on-line, os quais permitem às pessoas se comunicarem entre si, inclusive a partir de práticas interativas entre gru-pos. o Facebook, o Twitter e o Instagram fazem parte dessa gama de

2 Ver, entre outros, Laer (2009). Disponível em: <http://uahost.uantwerpen.be/m2p/publica-tions/1260489691.pdf>. Acesso em 24.03.2017.

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aplicativos que permitem a comunicação e a formação de comunidades on-line.

Fala-se agora em uma ágora eletrônica que, tal como nos espaços públicos da Grécia Clássica, torna possível discutir e deliberar sobre as questões de interesse público. os anos que sucedem 2008 são significa-dos em relação a esse fenômeno. Exemplos são a Primavera Árabe, os movimentos contra a demolição do parque Taksim Gezi (Turquia), o Oc-cupy Wall Street e a Geração à Rasca em Portugal (ALI et al., 2012; DoNK et al., 2004; WoLFSFELD, 2013). Todas essas mobilizações ti-nham o mesmo modus operandi: o uso das Novas Tecnologias de Infor-mação e Comunicação (NTIC) para promover o debate e a deliberação pública sobre as agendas de interesse comum. o caso mais emblemático desses novos tempos é o movimento dos Indignados, na Espanha. Inicial-mente dispersos em diversas redes mediadas pela Internet e animados por organizações Não Governamentais e movimentos sociais locais, este movimento toma uma dimensão inédita à medida que, a partir de maior densidade comunicativa entre plataformas antes desordenadas, inicia-se um grande debate nacional sobre o fracasso do modelo político-partidário e as possíveis alternativas para a democracia espanhola.

Grandes assembleias foram formadas (são emblemáticos os exem-plos das reuniões na Plaza Mayor, em Madri), e de lá partiam os debates e deliberações desta nova agenda política mediada pela Internet, em es-pecial utilizando-se do Twitter como plataforma de comunicação.

No Brasil, grandes mobilizações organizadas via internet também ocorreram. Em junho de 2013 (SoUSA; SoUzA, 2013) manifestações populares tomaram conta de 438 cidades do País3, chegando a obter 84% de simpatia da população4. A partir de março de 2015 – com aproximada-mente 65% da população brasileira acima de 12 anos presente na internet (107 milhões de pessoas5) –, outra nova leva de movimentos antigoverna-mentais espalhou-se pela nação tupiniquim, levando milhões de pessoas às ruas. Esses protestos tiveram entre os principais organizadores o Mo-

3 Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/06/23/pais-teve-protesto-em-438-municipios-de-todos-os-estados-diz-confederacao-nacional-de-munici-pios.htm>. Acesso em 30.08.2016.

4 Matéria do portal R7. Disponível em: <noticias.r7.com/brasil/manifestacoes-agradam-a-84-dos-brasileiros-diz-pesquisa-ibope-06082013>. Acesso em 23.09.2016.

5 Disponível em: <http://www.fnazca.com.br/wp-content/uploads/2015/10/f_radar-2015-revisado.pdf>. Acesso em 08.09.2016.

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vimento Brasil Livre (MBL) e o Vem pra Rua6, grupos fortemente ancora-dos no Facebook.

Assim, a exemplo do que acontecia em outras partes do mundo, a articulação de pessoas passou a ser intensamente organizada via redes sociais virtuais no Brasil. Pesquisa Datafolha (2015) focada no tema mo-bilização constatou que 45 milhões de brasileiros já haviam participado de movimentos sociais em 2015, sendo 13,7 milhões só pela internet, 18,2 milhões só presencialmente e 13,1 milhões de ambas as maneiras. o mesmo estudo identificou as redes sociais virtuais como sendo fontes substanciais de informação e conhecimento: sete, em cada 10 internau-tas, ficaram sabendo pela internet de movimentos sociais.

Essas novas formas de comunicação serão aqui analisadas enquan-to instrumento de mobilização e de organização de práticas de ativismo social. Interessa-nos colocar questões que nos permitam construir instru-mentos analíticos para pesquisa sobre ações coletivas que utilizam a web enquanto mediadoras de processos de comunicação e interação social. os pontos colocados serão ilustrados por um estudo empírico sobre uma plataforma virtual para a organização do debate sobre a cidade: o grupo Direitos Urbanos/Recife7.

Movimentos sociais na sociedade em rede, como investigá-los?

Parte importante do ativismo social contemporâneo tem se caracte-rizado por fazer uso da Internet como veículo para pôr em prática as suas bandeiras de luta. Diferentemente das práticas anteriores à Internet, nas quais os processos de mobilização e organização centravam-se nas arti-culações intermediadas por contatos face a face, propaganda impressa ou, eventualmente, veiculação pela mídia tradicional (escrita e televisiva), os movimentos contemporâneos têm por veículo importante as platafor-mas de comunicação na web. Estas, como mencionado anteriormente, também têm assistido a um importante movimento nas três últimas déca-das, desde veiculação de notícias, através de páginas web e de correio eletrônico (as listas de discussão), até, com o advento da chamada Inter-

6 o MBL surgiu em novembro de 2014, quando promoveu uma manifestação em São Paulo pedindo a investigação dos envolvidos na operação Lava Jato. o Vem pra Rua foi fundado em outubro de 2014.

7 Página do DU disponível em: <https://www.facebook.com/groups/direitosurbanos/?fref=ts>. Acesso em 24.03.2017.

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net 2.08, a construção de veículos onde a comunicação on-line e forma-ção de grupos de discussão se torna possível. Alguns pontos são impor-tantes para a análise desse fenômeno, a seguir descritos.

Temos, em primeiro lugar, o fato de que o conditio sine qua non para a ocorrência de ações coletivas mediadas pela Internet é naturalmente o acesso às facilidades da web. Conhecido por exclusão digital9, esse fenô-meno em sua concepção mais estreita indica as condições socioeconômi-cas, de um lado, mas também tecnológicas de acesso à rede10, de outro. é sabido que o custo das tecnologias informacionais tem diminuindo rapi-damente, mas mesmo assim parte significativa da população mundial ain-da não tem acesso às facilidades da web. o processo de acesso cada vez maior à rede é bastante particular em diversas regiões do planeta. Para o caso brasileiro, chama a atenção o fenômeno das lan houses, estabeleci-mentos comerciais que alugam computadores conectados por curtos pe-ríodos de tempo, o que permitiu a pessoas de comunidades de baixa renda usarem as facilidades da rede – jogos, acesso a informações, co-municação pessoal etc. Tal fato possibilitou o acesso a uma grande par-cela da população, colocando o País entre os cinco do mundo com maior acesso à rede. Posteriormente, no caminhar dos anos 2000, a populariza-ção dos smartphones e as contas pré-pagas tornaram possível o acesso à quase totalidade da população11.

o segundo ponto importante a considerar é o fato de que a imensa maioria dos usuários da Internet não é constituída de ativistas políticos. Fazem uso das facilidades da web para jogos, consultar e-mails ou inte-ragir nas redes sociais. Alguns autores, como Min (2010), sugerem que esse fenômeno pode ser também designado de exclusão digital de se-

8 Expressão que indica, a partir da primeira década deste século, uma importante modifica-ção na plataforma web: novas mídias foram construídas, permitindo a comunicação entre grupos de pessoas on-line instantaneamente e possibilitando, dessa forma, práticas inte-rativas (BART, 2008; CHADWICK, 2009). Estudiosos na área afirmam que essas novas possibilidades de uso da web se constituem em importante recurso para o ativismo social. Atualmente já se fala na web 3.0, com conteúdos mais personalizados para cada internauta.

9 A expressão inglesa internet divide, cunhada por cientistas sociais norte-americanos, inicial-mente fazia referência a disparidades de acesso entre diversas regiões do planeta.

10 Alguns países, principalmente aqueles localizados no continente africano, não dispõem de infraestrutura suficiente para a provisão de serviços de internet. Esforços importantes são mobilizados para a construção de fibras óticas, antenas celulares, entre outros, que possibilitem o acesso a um número maior de pessoas. Sobre o assunto, consultar Ali (2011), disponível em: <http://harvardhrj.com/wp-content/uploads/2009/09/185-220.pdf>. Acesso em 24.03.2017.

11 Segundo dados da Anatel, o Brasil em dezembro 2016 tinha 244,1 milhões de aparelhos celulares, o que dá uma densidade de 118,4 celulares por 100 habitantes. Destes, 162,8 milhões utilizam contas pré-pagas. Disponível em: <http://www.teleco.com.br/ncel.asp>. Acesso em 18.02.2017.

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gundo nível, associado com motivações e habilidades para o uso da Inter-net. outros atores têm outra opinião: acreditam que o ativismo digital im-plica variáveis bastante próximas àquelas que explicam as práticas de participação em movimentos sociais não ancorados na web, como cam-pos de sociabilidades e estruturas reticulares, fatores psicológicos, cálcu-lo de oportunidades para a ação, entre outros.

o que nos leva ao terceiro aspecto relevante: que as práticas de ativis-mo social ancoradas da web têm algumas características similares àquelas encontradas em campos de interação off-line, mas que apresentam tam-bém algumas características particulares. Em um inventário feito sobre prá-ticas de movimentos sociais e Internet, Van Laer (2010) descreve as princi-pais práticas observadas desses movimentos. Utilizando-se da definição de Diani (1992) sobre movimentos sociais12, Van Laer aponta dois ingredientes fundamentais a qualquer movimento: a rede de interações dos atores, de um lado, e o engajamento político, de outro. Essas características remetem a aspectos que se inscrevem em práticas que se localizam exclusivamente na Internet (internet based, segundo a tipologia de Laers), ou que são o resultado de práticas combinadas de interações on-line e off-line (internet supported). Há, portanto, um abandono de uma distinção rígida entre o mundo digital e o mundo off-line. Independentemente das práticas isoladas ou combinadas, as ações coletivas com base no mundo virtual apresentam facetas particulares, que serão mais adiante descritas.

Assim, o ativismo em rede apresenta algumas peculiaridades, que inclusive se apresentam como complicador para um estudo empírico. De-vemos considerar que existem níveis de participação política, e que o ativista, em tese, seria aquela pessoa que ocupa seu tempo com maior intensidade nas tarefas do movimento, e que provavelmente exerce posi-ções de liderança. A liderança em movimentos sociais é passível de ser medida a partir de indicadores como nível de participação e capacidade de influenciar na agenda do movimento e recrutar seguidores. Esses índi-ces são passíveis de serem verificados a partir de instrumentos tradicio-nais na pesquisa social, como entrevistas, questionários e observação direta. Para o caso dos movimentos mediados pela Internet, entretanto, há que se construir alguns instrumentos mais particulares – como vere-mos adiante – que possam captar com segurança esses indicadores a partir do acompanhamento das práticas políticas a partir da web13.

12 “Social movements can be defined as ‘networks of informal interaction between a plurality of individuals, groups and/or organizations, engaged ina a political or cultural conflict on the basis of a shared collective identity’” (Diani,1992:13 apud VAL AELST,2010:1147).

13 Há uma literatura específica sobre o assunto, e uma denominação particular para essas técnicas de pesquisa, a netnografia. Sobre o assunto, consultar Kozinets (2010).

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Por último (V), o ativismo digital também potencializa um fenômeno que recentemente tem tomado a atenção dos cientistas sociais: as práti-cas locais que repercutem para além do território de atuação, produzindo efeitos políticos mais amplos. A expressão glocalização14 designa este fenômeno. Práticas políticas, por exemplo, que têm por objetivo o protesto contra incorporadoras imobiliárias que revitalizam áreas urbanas, gentrifi-cando-as15, têm efeitos para além do campo local, recebendo apoio de diversas partes do planeta16.

3. Redes sociais e ação coletiva, uma ideia preliminar

A Internet é muito importante para se compreender a interação entre indivíduos na contemporaneidade, que se organizam reticularmente para a prática da vida cotidiana, estabelecem contato com pessoas de outras cidades, consomem notícias e participam de grupos de comunicação, co-mo Facebook, Twitter ou Instagram. Mas o que seriam essas redes? Uma rede pode ser interpretada como uma metáfora para se observar padrões de interação entre pessoas e sua inserção em círculos sociais, podendo ser vista a partir de laços entre dois indivíduos, “os atores (pessoas, insti-tuições ou grupos; os nós da rede) e as suas conexões (interações ou laços sociais)” (RECUERo, 2009, p. 24).

A teoria de redes é vasta (CHRISTAKIS, 2009; FoNTES, 2012; DE-GENNE e FoRSé, 1994; SCoTT, 2000; THACKER, 2004; WATTS, 2006) e uma revisão crítica dela, por meio de estudos da estrutura e dos laços estabelecidos entre atores, pode nos ajudar a compreender a ação de grupos políticos – que passa pela mobilização de recursos e pela coorde-nação de esforços, através de compromisso ou empenho numa estratégia coordenada, a ação coletiva.

Redes são consideradas neste trabalho como complexas, instáveis e plásticas. E, contrariamente ao que muitos afirmam, são extremamente heterogêneas. As posições dos indivíduos em uma estrutura reticular difi-cilmente são horizontais. Entre outras características, Barabási (2009) aponta que há uma distribuição de forças desiguais na articulação de re-

14 Ler sobre o assunto em Fontes (2012).15 Gentrificação é um neologismo utilizado pelos urbanistas para explicar o fenômeno de

expulsão de populações empobrecidas para dar lugar a grupos sociais de elite, que se apropriam do território, ressignificando-o: transforma-se em espaço nobre, de habitações de luxo.

16 Um exemplo interessante é o movimento ocupe Estelita, que tem por objetivo a resistên-cia a um empreendimento imobiliário de luxo na cidade do Recife. Esse movimento ganhou visibilidade nacional, incentivando a luta de resistência contra a gentrificação em diversas cidades brasileiras.

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10 • Breno Augusto souto MAior Fontes | DAvi BArBozA CAvAlCAnti

des, indicando que a posição central de um ator determina a chance de ter mais ou menos acesso a recursos. oliver (1989), por sua vez, defende que a centralidade da rede pode ser benéfica para a ação coletiva, devido à capacidade dos líderes17 de movimentos sociais de serem seletivos na escolha dos alvos para a organização, ou seja, à habilidade de concentrar seus esforços na mobilização de indivíduos cujas contribuições (recursos) são o maior potencial. Nessa linha de raciocínio, uma organização bem-sucedida, o que interessa à discussão, seria mais uma questão de “quem você pode mobilizar” do que “quantas pessoas você consegue reunir”.

Diante dessas ponderações, três características são fundamentais para estudar o tema redes no que se refere aos movimentos sociais na era da informação: os laços sociais do grupo (densidade total ou frequên-cia dos laços)18, a centralização19 (na medida em que as redes complexas são centralizados em poucos indivíduos) e o custo para se comunicar. Essas três questões são objeto de agendas de pesquisas inscritas na Análise de Redes Sociais, ou simplesmente ARS (HoLLSTEIN, 2011; MoLINA, 2001).

Desafios para a mobilização

Varanda et al. (2015) apontam para uma tensão existente, numa re-de social, entre a mobilização e a coordenação, forças presentes e com grau de importância, maior ou menor, na ação coletiva. A literatura aponta que, mesmo com objetivos únicos, ou talvez idênticos, apenas um coleti-vo de indivíduos não é suficiente para promover a ação coletiva, que de-pende de fatores como a capacidade de mobilização de recursos, os cus-tos, o empenho dos atores envolvidos na ação e um discurso sólido e convincente. A falta de um desses requisitos já pode gerar obstáculos à mobilização.

Assim, Varanda et al. explicam que na fase de planejamento da ação coletiva é necessário mobilizar recursos (humanos e financeiros, por exemplo) para o sistema social se abrir ao exterior. é nesse momento que

17 organizadores/líderes de um sistema social são identificados através da posição central na rede, de acordo com literatura de ARS.

18 Conforme oliver (1989), a questão da densidade era importante até mesmo para Marx, que argumentou que os funcionários em contato regular com outros iriam desenvolver um “hábito de cooperação”, sendo mais propensos a agirem coletivamente do que os empregados que trabalham isolados.

19 Densidade e centralidade são dois conceitos chaves na ARS. A densidade permite definir o número de ligações diretas existentes mediante o número total de ligações possíveis, descrevendo a coesão. Já a centralidade, em suma, mostra a posição do indivíduo na rede, pressupondo proximidade e intermediação.

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os laços fracos20 (GRANoVETTER, 1973) têm papel fundamental, pois a capacidade de bridging/brokerage dos mesmos, isto é, de fazer ligações com o exterior, vai permitir a abertura para o sistema social – com o aces-so a recursos potenciais, tais como informações e ideias (muitas vezes até desconhecidas) – e para indivíduos com as mais variadas formações. Sem a existência dos laços fracos, portanto, diferentes clusters (grupos sociais reduzidos, também conhecidos como “panelinhas”) presentes nu-ma rede não teriam acesso aos recursos dos outros.

Em contrapartida, um sistema social com maior capacidade de coor-denação21 é composto por “redes coesas”, às quais os atores estão liga-dos entre si por laços fortes. o risco de sanções nessas redes é mais elevado à medida que os custos de não respeitar as regras são maiores. o problema é que a coesão pode implicar também na diminuição da ca-pacidade de bridging/brokerage de um sistema social ou cluster, pois, como vimos, os laços fracos são fundamentais para a disseminação da inovação. o resultado: quanto menos laços fracos existirem num sistema social estruturado em clusters, menos bridges e menos inovação.

Em relação à coordenação e à mobilização, a conclusão de Varanda et al. é que a harmonia dessa relação vai permitir o sucesso de um siste-ma social: a “superação destas tensões, ou seja, mobilizar através de la-ços fracos (bridging/brokerage) e coordenar fechando a rede (closure) através de laços fortes, é que permite que um sistema social se desenvol-va e se mantenha no tempo” (VARANDA et al., 2015, p. 50). Assim, essa relação entre coordenação e mobilização é importante para a compreen-são de grupos sociais como o DU22, quando veremos mais adiante, quan-do da análise dos dados do nosso estudo empírico.

Lideranças e ação coletiva

outro fator bastante importante para a nossa análise diz respeito ao lugar da liderança na mobilização dos recursos necessários à ação cole-

20 Granovetter aponta para a importância dos laços fortes (strong ties) e fracos (weak ties) numa relação social. os primeiros são aqueles caracterizados pela proximidade (muitas vezes as interações não são orientadas por um telos, mas simplesmente acontecem, como é o caso dos campos interativos familiares) entre pessoas, enquanto os segundos são um contato que vemos menos, com relações mais tênues e com pouca intimidade. Segundo Granovetter, os laços fracos seriam mais importantes para a alocação de recursos, pois evitam a redundância de informações.

21 Embora não utilizando a noção de rede, olson (1971) explica que, para as ações coletivas compostas por grande número de pessoas, os incentivos seletivos são importantes. Para aquelas ações formadas por um menor número, apenas a pressão social do grupo exercida sobre pessoas seria suficiente para evitar o exit ou o free rider.

22 DU, iniciais para Direitos Urbanos, grupo do Facebook objeto de nossa investigação.

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tiva. Empiricamente, nota-se que, com uma liderança competente, as pessoas se sentem estimuladas e mais dispostas a arriscarem. Contudo, há vários movimentos contemporâneos bem-sucedidos que ganharam repercussão mesmo sem a existência de lideranças formais (aquelas que não fazem parte de uma estrutura rígida e verticalizada, a exemplo das do Occupy Wall Street e Indignados). Porém, realmente há grupos sem lide-ranças? A literatura de rede a qual compartilhamos é clara ao defender que não existem sistemas sociais sem atores centrais (BARABÁSI, 2009); pode, sim, haver uma busca pela horizontalidade, mas esta nunca será completa. Por isso este artigo foca no estudo das lideranças, uma tentati-va de se compreender o papel e relevância desses atores centrais.

Valente (apud KAUFMAN, 2012) aborda o impacto da influência ex-terna e de opinião de líderes no processo da difusão de inovações. Se-gundo Valente, diante da incerteza ou percepção de risco, “a tendência é buscar referências com os indivíduos que tenham tido experiência prévia com o tema ou objeto” (KAUFMAN, 2012, p. 210). Ganz (2008) também ressalta a importância do organizador/líder no movimento social. De acor-do com ele, a eficácia da organização muitas vezes depende do amplo desenvolvimento de lideranças, ou grupos de indivíduos, que devem as-sumir o papel de líderes por terem interesse especial no projeto coletivo.

Entre outras atribuições, Ganz aponta que os líderes bem-sucedidos devem assumir riscos, cultivar a experiência de valores compartilhados, motivar outras pessoas e construir narrativas públicas. A aplicação de recursos (conhecimento, experiência, materiais etc.) dos líderes pode ser feita através do capital social do ator, que, gerado a partir de interações, pode facilitar a ação colaborativa de todos os tipos (PUTNAM, 2000). As-sim, os líderes, sejam de organizações formais ou informais, podem de-sempenhar, sim, um papel fundamental na promoção da ação coletiva. E para compreendê-los devem ser ponderados fatores como os recursos do organizador, o tamanho da rede do organizador e os recursos dos mem-bros da rede dele (MARWELL; oLIVER, 1989).

Os significados da ação coletiva a partir das falas dos protagonistas: a Teoria do Discurso

Para ajudar na interpretação das relações sociais, este artigo uniu a ARS à Teoria do Discurso (TD). Afinal, como alertam Ferreira e Fontes (2014), a ARS, quando limitada apenas ao exame fluxos interativos entre atores, pode resultar em generalizações abusivas, pois dessa maneira ignora os conteúdos das relações, tarefa em que a TD pode ajudar a esclarecer.

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Hollstein (2012) também destaca a importância de unir métodos qua-litativos à ARS, à medida que a pesquisa qualitativa oferece ferramentas para fazer frente aos desafios enfrentados na pesquisa de rede, a exem-plo de elucidar a complicada relação entre agência/estrutura e outras questões relativas à constituição e dinâmica das redes sociais. Além dis-so, métodos como entrevistas, observações, análise do discurso e docu-mental podem servir para validar os dados e descrever práticas e orienta-ções da rede.

Portanto, a TD propõe aos pesquisadores de movimentos sociais uma reflexão política sobre a circulação e articulação de significados, res-pondendo a algumas das questões deixadas em aberto pela Teoria de Redes. Uma dessas respostas é “a percepção de que a realidade social é constituída de significados, de sentido, e não apenas de padrões” (FoN-TES e FERREIRA, 2014, p. 22).

Segundo Howard (2005), um dos objetivos centrais da TD é esclare-cer os objetos de estudos problematizados, “mediante sua descrição, compreensão e interpretação” (id, p. 43). Para o autor, o objetivo principal da TD:

Não é só revelar novas descrições ou feitos sobre os objetos espe-cíficos da investigação, mas também produzir novas interpretações, seja revelando fenômenos visíveis não detectados anteriormente pelos enfoques teóricos predominantes, ou problematizando as des-crições existentes e articulando explicações alternativas23 (id, p. 46).

Os territórios urbanos e os campos de luta glocalizados: a experiên-cia dos Direitos Urbanos no Recife

Desde 2012 o movimento on-line Direitos Urbanos (DU) vem cres-cendo no Recife. De grupo restrito, onde poucas pessoas discutiam e participavam, tornou-se com o passar do tempo um dos principais espa-ços para se ler e escrever acerca dos problemas e destinos do município. Com mais de 31 mil membros, o grupo atualmente discute e articula vá-rias mobilizações, a exemplo do #ocupeEstelita24, movimento que alcan-

23 Tradução dos autores para: “No es sólo proveer nuevas descripciones o hechos sobre los objetos específicos de investigación, sino producir nuevas interpretaciones ya sea develando fenómenos visibles no detectados anteriormente por los enfoques teóricos predominantes, o problematizando las descripciones existentes y articulando explicaciones alternativas”.

24 Um dos objetivos principais desse protesto, que acontece ainda hoje, é manter vivo o debate sobre a verticalização e as formas de ocupação do espaço público adotadas pelo Recife nas últimas décadas. Página do Movimento disponível em: <https://www.facebook.com/groups/348480681859986/>. Acesso em 06.10.2016.

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çou repercussão mundial ao combater a construção de 12 torres no Cais José Estelita, área situada no centro do Recife. A visibilidade deste grupo, que ultrapassa os limites do território da cidade onde atua, é uma das características mais intrigantes das práticas contemporâneas de ação co-letiva mediadas pela comunicação on-line, o que permite a mobilização de um grupo considerável de pessoas e a extensão de sua visibilidade para níveis globais. De fato, o exemplo mais interessante desta glocaliza-ção é o movimento ocupe Estelita, capitaneado pelo DU. Inspirados de certa forma nas ações ocorridas no Recife, pessoas de outras partes do País se mobilizaram – e ainda se mobilizam – contra a especulação imo-biliária e a gentrificação. As discussões promovidas pelo DU e ocupe Estelita viajaram pelo globo e pessoas de várias partes do mundo aderi-ram ao movimento, trazendo experiências de renovação urbana de cida-des da Europa, Estados Unidos e Ásia.

A experiência do DU é aqui resgatada a partir de um estudo empírico que se orienta a partir de três questões centrais: (I) a importância da lide-rança para o recrutamento de participantes, (II) a dinâmica da construção das estratégias de luta e (III) as articulações entre as lideranças e partici-pantes do grupo para a mobilização25. Estas questões serão trabalhadas a partir de informações recolhidas durante a pesquisa de campo: entrevis-tas semiestruturadas com líderes do movimento, levantamento direto de informações na página do DU a partir de ficha pré-codificada e levanta-mento na imprensa.

o levantamento de dados ocorreu em dois momentos. No primeiro se observou durante 30 dias (de 15 de julho a 13 de agosto de 2015), através de uma ficha pré-codificada, a dinâmica da página do grupo do DU no Facebook26. Durante esse período, foram separadas as cinco pos-tagens por dia com maior número de curtidas, verificando pontos como: (I) assunto do post, (II) maneira como está exposto, (III) número de curti-das27, (IV) número de comentários, (V) internauta que mais comentou, (VI) comentário mais curtido, (VII) autor do post e (VIII) horário do post. Esse procedimento serviu para entender melhor o funcionamento da pá-

25 os dados empíricos aqui utilizados foram extraídos de Cavalcanti (2016) em realização de pesquisa de dissertação de mestrado.

26 o DU possui um grupo no Facebook e uma fanpage. Fanpages são espaços de discussões mais gerais, os quais apenas moderadores postam e internautas seguem a partir do momento em que a curtem ou a acessam. Já nos grupos, hipótese que verifiquei no pré-campo, há uma interação maior. As pessoas participam mais e podem, também, postar neles. Por isso a escolha metodológica de acompanhar apenas o grupo do DU no Facebook.

27 A opção de “curtir”, do Facebook, é um recurso onde os usuários podem indicar se gostaram de certos conteúdos.

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gina do DU e para identificar as pessoas mais atuantes e com maior al-cance dentro do grupo durante o período acompanhado.

Num segundo momento foram realizadas entrevistas semiestrutura-das com seis moderadores/ex-moderadores do DU (considerados previa-mente “líderes” do grupo28) selecionados através da técnica de amostra-gem não probabilística Bola de Neve (snowball)29, mais quatro participantes atuantes do DU, identificados através do acompanhamento diário da pá-gina no Facebook. Aos seis possíveis “líderes” do DU também se aplicou um questionário fechado, dividido em duas partes. A primeira recolheu informações socioeconômicas dos líderes, enquanto a segunda recolheu dados acerca dos internautas com os quais esses atores centrais mais se relacionavam. o objetivo geral do questionário foi identificar as redes pri-márias dos moderadores/ex-moderadores dentro do DU, verificando me-didas de centralidade da ARS (que mensuram, entre outras coisas, a lo-calização estratégica e a influência de um determinado ator numa rede).

A partir de agora se iniciam os resultados empíricos da pesquisa. Entre 15 de julho e 13 de agosto de 2015 foram realizadas 958 postagens na página do DU no Facebook30, média de 31,93 por dia. o dia da semana com maior média de postagens foi a quinta-feira (37 posts), enquanto o menor foi domingo (23 posts). os números mostram que o DU é mais ativo durante a semana. As 150 postagens analisadas do DU nesta pes-quisa receberam juntas 20.411 curtidas, média de 136,07 curtidas por cada. A faixa de horário que concentrou o maior número de postagens foi a tarde, entre as 12h01 e 18h.

A escolha dos moderadores/ex-moderadores31 do grupo que apre-sentavam perfis de liderança foi feita através da Bola de Neve, como men-cionado, a partir da informante privilegiada Apau32, escolhida por ser uma participante bastante presente na página do DU no Facebook, ser funda-

28 Em busca de uma definição operacional para o conceito de liderança, esta pesquisa considerou líderes, inicialmente, moderadores e ex-moderadores do grupo.

29 A Bola de Neve é uma amostra onde os participantes iniciais indicam novos; estes, por sua vez, sugerem outros novos participantes, e assim sucessivamente, até que seja alcançado o ponto de saturação e o objetivo proposto. No decorrer da pesquisa, após a realização da sexta entrevista com um moderador do DU, as respostas começaram a se repetir, sem mais novidades e, assim, decidiu-se que as informações necessárias para a análise haviam sido alcançadas.

30 Vale ressaltar que no período analisado não houve nenhum fato muito atípico no Recife ou decisão polêmica. Assim que, embora não seja possível afirmar, imagina-se que em períodos onde as tensões políticas na cidade sejam mais intensas a atividade do grupo seja maior.

31 Incluímos também nesta lista alguns ex-moderadores que, embora estivessem afastados desta tarefa, ainda são bastante influentes no grupo, recebendo reconhecimento dos demais.

32 os nomes das pessoas foram deliberadamente omitidos, substituídos por apelidos.

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dora do grupo e ser um dos membros que representa o DU em entrevistas à imprensa.

Tabela 1 - Os moderadores e ex-moderadores entrevistados do DU

Nome/Apelido Ctav Lalv Apau Merl Nfau Clac

Sexo Masculino Masculino Feminino Masculino Feminino Feminino

Idade 50 anos 30 anos 54 anos 31 anos 49 anos 36 anos

Nível de escolaridade

Superior completo

Superior completo

Superior completo (com doutorado)

Superior completo (mestrando)

Superior completo

Superior completo (com mestrado)

Posição política

ProProgressista Progressista Progressista Progressista Progressista gressista

Classe social Média Média alta Média Média Média Média alta

Renda mensal da família (com salário mínimo a R$ 788)

4 a 10 Salários mínimos

10 a 20 SM 4 a 10 SM 2 a 4 SM Acima de 20 SM

Acima de 20 SM

Domicílio de nascimento

Recife Recife Recife Recife Recife Recife

Região onde reside

Zona Norte do Recife

Zona Norte do Recife

Zona Norte do Recife

Zona Norte do Recife

Centro do Recife

Zona Norte do Recife

Estado conjugal

União estável

União estável

Solteira Solteiro União estável

Separada

Fonte: Pesquisa própria. Tabela elaborada pelos autores.Nota: Dados coletados através de questionários para traçar o perfil dos

entrevistados. Vale frisar que as respostas estão exatamente como os entrevistados responderam.

A Tabela 1 traz algumas informações interessantes. Primeiramente, destaque para o nível de escolaridade dos atores, todos com nível supe-rior e alguns com mestrado e doutorado. Em segundo lugar, chamou aten-ção a região do Recife onde essas pessoas moravam, cinco na zona Norte do Recife e uma na Área Central33. Por último, destaque para a classe social dessas pessoas. Das seis, quatro disseram ser classe mé-

33 Percebeu-se empiricamente que no Recife, a exemplo de outras cidades, as regiões onde as pessoas residem refletem em alguma medida os seus gostos e personalidades; e, assim, as maneiras de ver/lidar com os problemas do município. Essa informação, embora seja bastante sucinta, pode nos indicar que o grupo tem um alto grau de homofilia, repercutindo inclusive territorialmente.

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dia e duas classe média alta, indício de que o “núcleo duro” do DU seria composto por pessoas com bons rendimentos e escolaridade.

Agora serão exibidos os resultados de uma rede com os membros do DU mais próximos a cada um dos seis entrevistados, feita da seguinte maneira. Solicitou-se ao entrevistado que citasse até 15 pessoas com as quais mais se relacionasse dentro do DU; a partir daí, gerou-se uma rede única com as redes egocentradas desses seis entrevistados. A análise dessa rede deu ênfase a medidas de centralidade, uma vez que, tratando-se do estudo de lideranças, houve interesse em saber a posição estraté-gica de um ator dentro da rede estudada, a qual pode implicar em maior controle dos fluxos de comunicação (FoNTES, 2012). As medidas anali-sadas foram grau de centralidade, grau de intermediação e centralidade do autovetor – estas mensuram as posições estruturais dos membros de uma rede e a maior ou menor capacidade de se comunicar com os de-mais, ou de intermediar processos comunicativos34.

A primeira rede formada (Figura 1) é dos membros do DU que foram citados pelos entrevistados35.

Figura 1 - os internautas do DU que mais interagem com os líderes entrevista-dos. Nota: Nesta rede, os “nós” verdes são os entrevistados que fizeram parte da nossa amostra e os azuis são os citados pelos verdes. Fonte: Pesquisa própria.

Figura elaborada pelos autores.

34 Essas medidas são explicadas em detalhe no tutorial do Unicet feito por Hanneman e Riddle, disponível em: <http://faculty.ucr.edu/~hanneman/nettext/>. Acesso em 13.01.2016. Para detalhes metodológicos na construção desses índices, consultar Wassaman e Faust (1998).

35 A figura 1 foi feita a partir da questão: “cite até 15 pessoas com as quais você mais interage do DU”.

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Este primeiro gráfico nos permite informações interessantes sobre os índices de indegree e outdegree. o outdegree (quantas pessoas foram citadas pelos entrevistados36) não apresenta nada de interessante, uma vez que praticamente todos os entrevistados citaram a mesma quantida-de de pessoas. Quando, porém, nos deparamos com o indegree (indican-do o número de pessoas que receberam indicações)37, observamos que foram citadas pessoas que não faziam parte da amostra inicial, alguns inclusive não participando diretamente do DU38.

A análise desses índices nos permite observar de forma indireta tan-to as posições estruturais dos atores na rede, como também as aberturas para “fora” desta matriz reticular inicial. Porque, além dos seis entrevista-dos, a rede se estende para outros, não inscritos originalmente na matriz. Pode-se, com isso, com certeza inferir que a rede se estende para além dos limites dos atores centrais; o que também indica que as conexões podem resultar em pontes para outros campos reticulares, possibilitando alianças estratégicas com atores de outros movimentos e segmentos da sociedade civil.

Tabela 2 - Indegree e outdegree dos atores inscritos no sociograma da Figura 1

Ator Outdegree Indegree

Lalv 15,000 5,000

Apau 15,000 5,000

Nfal 15,000 5,000

Ctav 14,000 5,000

Clac 15,000 4,000

Merl 14,000 3,000 Rraf 0,000 6,000 Lcis 0,000 6,000

Nreg 0,000 6,000

Cbor 0,000 4,000

Rcan 0,000 4,000

Ealc 0,000 4,000

Fonte: Pesquisa própria. Tabela elaborada pelos autores.

36 ou, segundo Wasserman (1998), o número de originados em nj (o nodo de referência).37 Ainda segundo Wasserman, o número de arcos terminando no nodo nj.38 A participação direta aqui é indicada pelo fato de as pessoas serem moderadores do grupo,

quer dizer, que indicam agendas, que podem eventualmente exercer o poder de censura sobre comentários postados julgados inoportunos etc.

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o segundo índice de rede analisado foi o grau de intermediação (betweenness), o qual mensura a quantidade de vezes que um “nó” pode intermediar relações.

Tabela 3 – Graus de intermediação da figura 2

Fonte: Pesquisa própria. Tabela elaborada pelos autores

Na tabela 3, vê-se que Apau foi o ator com melhor betweenness (31.000), o que significa que, dos seis entrevistados, Apau tem a maior capacidade de intermediar contato entre eles; e que é o ator que interme-deia mais contatos para fora da rede original (os contatos assinalados abaixo em cor laranja), servindo com certeza de ponte para outros atores, e introduzindo estes atores no campo reticular mais específico dos líderes do movimento DU.

Figura 2 - Comparação entre a mesma rede “com” e “sem” a presença de Apau. Nota: à esquerda, a rede com a presença do “nó” Apau (quadrado preto) e com

os cinco “nós” (cor de laranja) aos quais Apau tem acesso. À direita, a mesma re-de sem a presença de Apau e suas ligações. Fonte: Pesquisa própria.

Tabela elaborada pelos autores.

os dados reticulares apresentados nos dão informações sobre as redes egocentradas dos líderes do movimento, caracterizados antes por serem predominantemente de classe média, com formação universitária,

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residindo majoritariamente na zona Norte do Recife. Referidas informa-ções podem refletir a estrutura reticular desses atores, com sinais claros de homofilia39.

Também nos permitiu constatar que a rede apresenta uma estrutura assimétrica, com posições dos atores hierarquizadas. é uma rede centra-lizada, com atores mais ou menos posicionados na estrutura da rede e consequentemente com maior ou menor influência em seu interior, e com laços para o exterior do campo reticular mais ou menos importantes. Em-bora seja uma panela40, as conexões dos atores se estendem para além da clique, incluindo outros não presentes no círculo original. Isso é obser-vado a partir de atores – fora do núcleo central da rede – que foram mais citados, com índices de outdegree visivelmente superiores aos de alguns “líderes” entrevistados. o que permite também considerar que alguns ato-res localizados no subset reticular original apresentam maior capacidade de estabelecer ligações intensas com o ambiente – e, portanto, controlar os fluxos comunicativos vis-à-vis a outros atores.

Vale a ressalva de que apresentamos dados reticulares de uma rede formada pelos líderes do movimento entrevistados, e que, para uma me-lhor compreensão do processo de mobilização do DU, teríamos que ter informações sobre o campo reticular mais vasto, incluindo os participan-tes ocasionais, os que se apresentam nas discussões de forma mais im-portante e aqueles que contribuem efetivamente com o grupo, participan-do com pautas para discussão e postando informações importantes. Mas o nosso objetivo aqui foi mais restrito: analisar a dinâmica das lideranças do DU a partir, de um lado, da relação entre os participantes do núcleo central do movimento, e, de outro, aportando informações que nos permi-tam compreender mais claramente as práticas desses líderes.

Continuamos nossa análise com as entrevistas realizadas com membros do DU. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas aplica-das com dez membros do DU, realizadas entre setembro e novembro de 2015. Além dos seis moderadores/ex-moderadores do DU, também en-trevistamos quatro atores atuantes do grupo identificados a partir do acompanhamento mensal da página no Facebook.

Para analisar as entrevistas com os moderadores/ex-moderadores do DU foram criadas categorias analíticas objetivando esclarecer algu-

39 Ver sobre o conceito em Christakis (2009).40 Redes ou subgrafos fortemente ligados entre si, com poucas articulações fora do círculo

mais restrito. A literatura de língua inglesa se refere a esse fenômeno utilizando a expressão “clique”, definida como um subgrafo de três ou mais nodos, todos adjacentes, não existindo algum que não seja adjacente à totalidade dos membros do clique.

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mas questões relativas à dinâmica do movimento DU. As categorias de análise utilizadas seguem abaixo.

Tabela 4 – Campos Discursivos de participantes do DU

Fonte: Cavalcanti (2016).

A organização dos campos discursivos dos atores do DU, exposta na Tabela 04, criou um caminho para se entender o papel dos líderes na ação coletiva. As análises levaram em consideração dois problemas: (I) as “racionalizações retrospectivas”, quando os entrevistados de movi-mentos sociais articulam frases que estão de acordo com as versões que alimentam o discurso do movimento; e as (II) “representações hiperbóli-cas”, quando o passado e o presente são descritos de maneira demasia-da otimista ou pessimista pelo entrevistado (HoWARD, 2005). Além das questões contempladas na Tabela 4, outras foram abordadas para inves-tigar (I) como os entrevistados viam a estrutura do DU, (II) se acreditavam na existência de lideranças no grupo e (III) o que pensavam sobre o papel da moderação.

Em relação à estrutura do DU, os entrevistados relataram que é pre-cária e funciona de maneira espontânea e voluntariosa. Um comentário que chamou a atenção foi o de Lalv, ao explicar que o DU tem duas fren-tes de atuação, o “grupão” e o “núcleo duro”. Segundo ele, o primeiro é o canal de divulgação do grupo, onde os mais de 31 mil membros podem

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participar; já o segundo é restrito, prevalecendo a confiança por trabalhar com temas sigilosos e sensíveis.

Acerca da existência de lideranças, a opinião dos entrevistados ficou dividida. Três disseram que “há líderes no DU” (Apau, Nfau e Lalv), dois que “não existem” (Merl e Clac) e um (Ctav) apenas reconheceu que a “horizontalidade absoluta” é utópica. Percebeu-se, no entanto, que a pa-lavra “líder”, talvez pelo que traga consigo no seu extradiscursivo, por vezes era evitada, a exemplo de quando Ctav usou a expressão “pessoas de referência”.

No que se refere às funções da moderação, a fala de Clac talvez seja a que resumiu melhor essa questão. Segundo ela, a moderação tem co-mo papel envolver o grupo na principal pauta do DU, o direito à cidade, o qual explicou o que pode ser (temas de legislação urbanística, mobilida-de, meio ambiente, desenvolvimento urbano, etc.) e o que não é (algum caso de corrupção em Brasília, por exemplo). Ao definir isso, Clac apon-tou, quiçá, para a principal função da moderação, buscar unir diferentes atores sociais em torno do tema direito à cidade.

As falas dos entrevistados foram decompostas em três grandes blo-cos, a seguir analisados: (a) trajetória, (b) articulação e (c) mobilização. Esses três grandes campos discursivos nos permitem investigar detalha-damente as nuances do processo de ação coletiva do DU, tal como per-cebem os seus “líderes”. São, naturalmente, representações recortadas por visões de mundo que talvez não correspondam nem mesmo àquela construída pela maioria de seus 31.000 membros. Mas são importantes campos discursivos, na medida em que, enquanto líderes, essas pessoas têm poder de mediar, filtrar e provocar agendas.

Trajetória

Consideramos, para esse item, duas questões centrais: (a) história dos líderes e a (b) contribuição ao DU. Solicitou-se aos entrevistados que discorressem sobre sua inserção no DU. Falar sobre trajetórias de ativis-tas políticos significa lembrar os itinerários de socialização política que os levaram ao movimento, experiências que, posteriormente, instrumentali-zaram-se em capital político. Embora os atributos individuais do líder se-jam importantes (carisma, capacidade de mobilização, agilidade em to-mar decisões etc.), as posições dos atores em uma estrutura reticular contribuem significativamente para o acesso a possibilidades de aprendi-zado e inserção em campos de luta.

As trajetórias de socialização política e de recrutamento são, na maior parte dos casos, semelhantes para os ativistas on-line e os que não

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fazem uso dos recursos da Internet. Mas existem algumas particularida-des, como, por exemplo, o fato bastante comum de que os laços on-line se sobrepõem aos estabelecidos em contatos face a face – quer dizer, pessoas normalmente conhecem as pessoas com quem mantêm contato via internet; ou, o que também é comum, campos reticulares estabelecen-do pontes; ou relés41 para círculos sociais antes distantes. Ainda existem os casos relativamente únicos, quando o contato com o grupo virtual é feito a partir de “sugestão” do próprio Facebook, como é o caso de Lalv:

Lalv: Eu acho que o Facebook que indicou. Tem uma barrinha do lado que fazia sugestões, né? o formato daquela época era dife-rente, isso foi no segundo semestre de 2012. Então eu acho que eu tinha ouvido falar do Estelita, vagamente, assim. Eu não conhecia ninguém do Direitos Urbanos. Então foi indicação do Facebook, pelo que eu me lembro. Aí eu entrei, comecei a participar, ler, a aprender, que para mim aquilo ali foi um espaço de aprendizado, naquela épo-ca tinha acho que cinco mil membros, no máximo.

Na transcrição acima é intrigante a maneira como Lalv ingressou no Facebook: por indicação da própria rede americana, que através de algo-ritmos faz uma seleção de conteúdos (com sugestão de amizades, gru-pos, produtos para comprar etc.) para aparecer no feed notícias dos usu-ários. Não se sabe ainda muito bem como esses algoritmos são elaborados e funcionam, mas tudo indica que levam em consideração ações no Fa-cebook, como curtidas em fotos e acesso a páginas/pessoas, verificando aspectos como comentários e compartilhamentos42.

outros entrevistados entraram no DU através de contatos no Face-book, caso de Nfal, que ingressou no DU a convite de uma amiga logo após criar uma conta na rede social norte-americana. Aos poucos, Nfal foi ficando conhecida no DU e num dia um dos integrantes mais ativos puxou conversa com ela por inbox (chat para conversas pessoais do Facebook) convidando-a para ser moderadora.

A transterritorialidade do DU também é interessante. A designer Clac começou a participar do grupo a mais de três mil quilômetros de distância de onde o grupo nasceu. Recifense, Clac passou num concurso em Porto Alegre e morava ali quando ingressou no DU, após ter interesse em dis-cussões acerca da demolição do prédio Caiçara e da Lei Marília Arraes. Retornando ao Recife, Clac participou de protestos organizados pelo DU

41 Ver sobre relé social em Fontes (2007). o conceito também é explicado mais à frente.42 outras informações sobre os algoritmos do Facebook, que mudam constantemente,

disponíveis em: <http://oglobo.globo.com/economia/tecnologia/pesquisadora-americana-revela-os-segredos-por-tras-dos-algoritmos-do-facebook-13673692#ixzz3yTumfdeM>. Acesso em 27.01.2016.

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e aproximou-se de um subgrupo menor mais ligado à tecnologia, o dos “nerds”, como chamou. Depois de se destacar nesse pequeno grupo, foi convidada para ser moderadora.

Nesse ponto da trajetória de Clac, chama a atenção um cluster (grupo social reduzido) da rede dela, o grupo dos “nerds”. Ao longo das próximas páginas se verá que outros membros do DU possuem grupos específicos de trabalho com os quais interagem com maior frequência, e que, no fim, o DU é uma rede social constituída por vários clusters (BATISTA, 2015).

os únicos fundadores do DU entrevistados foram Apau e Ctav. A primeira participa desde os 17 anos de movimentos sociais, entre eles o movimento estudantil e o feminista. Além disso, foi uma das fundadoras do PT em Pernambuco. Diferentemente de Apau, Ctav nunca tinha parti-cipado de movimento social, mas interessou-se sempre por política, defi-nindo-se como “de esquerda”.

outra questão importante que nos ajuda a compreender a trajetória do movimento é o lugar dos ativistas segundo a contribuição que julgam ser importantes para o movimento. Já falamos acima sobre as caracterís-ticas do líder nos processos de socialização política e seu lugar enquanto peça chave para a mobilização de novos militantes. Para o caso de ativis-tas de movimentos que têm como fonte principal as redes sociais media-das pela internet, alguns pontos parecem ser mais centrais, como as ha-bilidades profissionais e os círculos sociais que pertencem, lugares para recrutamento de novos militantes.

os entrevistados disseram que geralmente contribuem ao DU com a sua especialidade (formação em direito, comunicação, design, arqui-tetura etc.), mas que essa contribuição depende muito do tempo dispo-nível. Ao longo das entrevistas, a intensidade da participação no DU foi identificada como importante para ganhar espaço no grupo. Não à toa, os membros considerados com maior influência sobre os internautas pelos moderadores e ex-moderadores entrevistados foram os que mais postaram no grupo.

Segundo os entrevistados, cada membro do “núcleo duro” do DU tem algumas tarefas predefinidas, que variam de acordo com as suas habilidades e redes de contatos. Ctav, por exemplo, continua atuando no grupo praticamente da mesma maneira de quando entrou: articulando pessoas e fazendo visitas ao Ministério Público (MP). Já Clac costuma promover discussões sobre tecnologia.

Clac: Com a minha rede eu tenho acesso a um tipo de informação, sobre tecnologia, smart city [...]. Então eu tenho acesso mais rápido e eu posto aquilo ali no grupo. Do mesmo jeito que outras pessoas

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de outros grupos de rede, de outros assuntos, podem captar aquilo ali e postar em outros grupos. Por isso que acho que aquilo ali fica tão rico. Vai muito do acesso pessoal aos temas.

Assim, Clac utiliza a sua rede de contatos com pessoas de tecnolo-gia, entre elas profissionais do CIn (Centro de Informática da UFPE) e Cesar (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), para fazer pontes com o DU quando se trata do universo de cultura digital, inovação e tecnologia. Nesse ponto, vale refletir sobre a Teoria de Redes, quando esta diz que um ator que faz intermediações com outros indivíduos ou grupos é importante para o desenvolvimento/crescimento da rede, pois dá acesso a recursos que talvez fossem inalcançáveis. outra reflexão inte-ressante é sobre o fenômeno “relé social”, que trata da mobilização de indivíduos para novas redes, formando assim “redes de redes”. o termo relé social foi utilizado no passado como instrumento analítico para expli-car processos de mobilização e recrutamento de militantes de movimen-tos sociais, podendo ser usado para “desconstruir redes” e entender pro-cessos subjacentes a sua formação (FoNTES, 2007).

Retornando ao DU, cada moderador/ex-moderador entrevistado aju-da da maneira como pode. Entre outras coisas, as entrevistas mostraram que Ctav contribui com a sua rede de contatos e com idas ao MP; Apau com a sua boa relação com outros movimentos sociais; Nfal postando informações no DU e gerando pautas; Clac trazendo informações de tec-nologia e fazendo pontes com o universo digital; Merl com os seus conhe-cimentos em arquitetura e urbanismo; e Lalv com a sua rede de contatos e experiência em ações junto ao MP.

Articulação

Para promover a ação coletiva, o DU precisa articular as pessoas em torno de uma causa em comum. Com empenho e atos bem dirigidos, a mobilização torna-se viável. A articulação é, desta forma, ao lado da mo-bilização – como veremos mais adiante – um dos fatores centrais para o sucesso do movimento. Neste sentido, são empreendidas ações objeti-vando promover as agendas centrais do movimento, com a necessária comunicação com a esfera pública e seus diversos atores (imprensa, mo-vimentos sociais, sindicatos, entre outros).

Enquanto grupo, o DU tem uma temática central que é discutir o di-reito à cidade e questões de patrimônio histórico, o que tem muito a ver com o seu surgimento. Acontece que o DU foi se expandindo e passou a ser “um muro de lamentações”, como alguns membros relataram (Clac e

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Merl). Nesse processo, o papel dos líderes é exatamente o de extrair o máximo de interessante do que é postado no “grupão” e de planejar bem as ações (se é necessário entrar na justiça ou não, por exemplo).

Periodicamente, a agenda política do DU e as ações realizadas são discutidas no “núcleo duro” do grupo, uma espécie de balanço para se tratar o que vai seguir em frente e o que deve parar. Além disso, a própria noção do que é direito à cidade vai se ampliando, e novas pautas e de-mandas podem entrar no DU, como informou Merl, ao destacar que acre-dita que questões de gênero e de raça no Recife, “que a princípio não eram pautas do DU”, atualmente “poderiam ser”. Essas mudanças podem demandar um pouco de tempo, uma vez que dependem da própria trans-formação dos movimentos sociais, espécies de alvos em movimento (CASTELLS, 2003).

Como já observado, a plataforma do DU é aberta e qualquer inter-nauta que está no grupo pode postar, com algumas questões rendendo mais do que outras. Segundo Apau, as pessoas que se mobilizam, em geral, são aquelas mais próximas ao problema. Assim, a moderação do DU tenta colaborar com coletivos e pessoas interessadas em assuntos relacionados à pauta do DU, para depois deixá-los seguirem sozinhos. Na definição das estratégias e ações, as reuniões com as pessoas mais cen-trais do DU acontecem frequentemente.

Apau: A gente tem grupos fechados de moderação, de núcleo polí-tico, que aí a gente conversa todo dia. A gente tá permanentemente em diálogo. Tanto tem reunião para discutir uma atividade específica, como tem reunião de vez em quando para discutir nós mesmos, tá entendendo? Pensar coisas mais estratégicas.

os atores mais centrais do DU se reúnem em vários chats internos no processo articulatório. o que agrega mais membros tem cerca de 40 pessoas, mas Apau mencionou que a ideia é ter ainda mais gente, para aumentar o poder de atuação. Dentro do DU também há vários outros coletivos e representantes de movimentos sociais, entre eles a Marcha das Vadias, Ameciclo, Leões do Norte, Casa Amarela Saudável e Susten-tável, Coque Vivo43 etc. o relacionamento com esses grupos melhorou, segundo Apau, após o DU ser visto por um tempo com certa desconfiança por oNGs tradicionais, PT, CUT e outros movimentos de esquerda.

43 Levantamento feito por oliveira (2013) apontou que, além dos coletivos citados, estão no DU: Escambo Coletivo, Mídia Lunar, Pernambuco Sustentável, Produtor Culturalpe, DCE Unicape, Muda Direito, Coletivo Bagaceiro, Via do Trabalho, Arricirco do Recife, CIC - Coletivo de Luta Comunitária, SoS Corpo, Marcha da Maconha olinda, Revocultura, Amigos do Mangue, Folhetim Bicicletada, Tatuí Crítica de Arte, Fórum da Música, Dacs UFPE etc.

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Mobilização

Quais são as condições para a mobilização? o que faz com que se mobilize? Entre outros fatores, a mobilização depende da capacidade de mobilização de recursos, dos custos, do empenho dos atores envolvidos na ação e de um discurso sólido e convincente de um indivíduo ou grupo de pessoas. Isso sem contar as condições políticas necessárias e o rela-cionamento com outros movimentos sociais, muitas vezes fatores tam-bém fundamentais para uma ação bem-sucedida, conforme bem apontou a Teoria do Processo Político (ALoNSo, 2009).

Questionado sobre o tema mobilização, Merl disse que nunca refletiu sobre o assunto fora do DU. Dentro do grupo, contudo, observa que o ponto de partida é dado quando os membros começam a acreditar que a realidade (uma cidade melhor, por exemplo) pode se concretizar através da união de atores, ou seja, a compreensão de que um coletivo de indiví-duos engajados tem força para promover mudanças sociais. Nesse pro-cesso, a ida à rua tem uma grande pressão sobre o poder público, com-plementou Merl. Assim, a fala de Merl leva à compreensão de que o nível de interesse pelas pautas por parte dos integrantes de um grupo virtual e o engajamento destes numa ação tradicional (passeatas, abaixo-assina-dos, atos públicos etc.) faz parte do processo de mobilização.

Clac acrescentou que o DU tem algumas bandeiras que sempre pro-vocaram muita discussão, a exemplo de mobilidade e preservação do patrimônio histórico. Nfal, por sua vez, apontou dois novos ingredientes que podem levar à mobilização no DU: (I) que o Recife chegou a um nível de “cidade ruim”, e que, com as pessoas viajando mais, elas (II) começa-ram a comparar regiões do globo. Já Ctav frisou as diferenças do DU em relação às formas de atuação dos movimentos tradicionais, sendo dife-rente por manter uma plataforma de debate e ao mesmo tempo de distri-buição de conteúdo, o que não se tem “normalmente associado a movi-mentos sociais”, nos quais geralmente as pessoas possuem as pautas e depois as “disseminam em campanhas”.

A literatura aponta que para a mobilização ocorrer é preciso de pau-tas e de um discurso. Na Teoria do Discurso, o discurso destaca-se pelo princípio do descentramento do sujeito, uma vez que as complexidades das relações contemporâneas colocaram em xeque um centro fixo, cons-tituidor de identidades. Nesse sentido, o discurso – composto por estrutu-ras descentradas, com sentidos constantemente sendo negociados e construídos (MUTzENBERG, 2003) – é o terreno primário onde a realida-de se constitui, tomando o pressuposto de que a linguagem é constituido-ra da realidade.

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Mas para o discurso ser formado, é preciso a prática articulatória, processo no qual os elementos (formações discursivas ainda não articu-ladas e dispersas) buscam se tornar momentos provisórios de sentido, ou seja, articulam-se em torno de pontos nodais através de cadeias de equi-valência até chegar ao discurso (as demandas propriamente ditas).

Pensando no movimento ocupe Estelita (antes organizado pelo DU e hoje funcionando de maneira mais independente), podemos imaginar um grupo com indivíduos (o DU, à época) com inúmeras ideias desarti-culadas e reivindicações (tais como qualidade de vida ruim, ruas esbu-racadas, gentrificação da cidade etc.). Aí surge o Projeto Novo Recife, como exterior e ponto antagônico, o qual precisa de um discurso contra ele. é quando, através de cadeias de equivalências, os elementos se transformam em momentos provisórios discursivos, em torno do ponto nodal direito à cidade. Daí ocorre a lógica da hegemonia, que represen-ta a prática de construção de alianças e coalizões políticas entre diferen-tes atores sociais e demandas em um discurso comum, para construir um sujeito político mais universal. Além do DU, essa lógica é observada na atuação de outros movimentos políticos brasileiros de esquerda (CoSTA; PRADo, 2011).

Neste campo, também é interessante observar o fato de que as re-des se estruturam em subgrafos, integrados entre si, e com campos de sociabilidade distintos. A importância dos líderes, ou atores centrais, con-siste exatamente em formar pontes entre diversos campos reticulares, permitindo a mobilização de atores variados, às vezes com interesses específicos, mas mobilizados em torno de uma bandeira única.

Fazendo um paralelo com a Razão Populista (LACLAU, 2005), o DU funciona na internet como um aglomerado de diferentes demandas, de distintos campos da sociedade. Nele, há uma busca pela convergência para dar nascimento ao sujeito político (“o povo”), que visa colocar pro-postas mais democráticas à cidade, em sua concepção. Esse processo de agrupar as demandas num mesmo campo acontece ao definir o inimi-go comum do outro lado da fronteira, as empreiteiras e o poder público, no caso do DU.

os atores do DU cooperam a partir de interesses e competências particulares, em uma sinergia que é determinante para o sucesso do mo-vimento. Vemos, para o nosso caso em análise, que cada entrevistado contribui da maneira como pode, o que depende de fatores como a forma-ção profissional e o tempo dedicado ao DU. Entre outras colaborações, alguns exemplos são interessantes: Ctav (com a sua rede de contatos e indo ao Ministério Público); Apau (boa relação com outros movimentos sociais); Nfal (postando informações no DU e gerando pautas); Clac (tra-

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zendo informações e fazendo pontes com o universo digital); Merl (com conhecimentos em arquitetura e urbanismo); e Lalv (com a sua rede de contatos e experiência em ações junto ao MP).

outro ponto que merece destaque diz respeito aos métodos utiliza-dos pelos líderes do DU para mobilizar participantes, que podem ser de naturezas diversas: a) participam de chats específicos para discutir ações estratégicas, b) costumam realizar postagens com frequência ou em momentos de maior mobilização, c) tentam manter o debate dentro da pertinência temática e, talvez o mais importante, d) buscam um dis-curso único em torno de um ponto nodal que aglomere os mais diversos atores e grupos sociais (cientes previamente das pautas que atraem mais pessoas).

Finalmente, há que assinalar a forma como as agendas políticas são gestadas. Nesse sentido, constatou-se que as pautas podem vir de diver-sos lugares, como do “grupão” ou de reportagens de periódicos. Porém, um caminho recorrente é os temas serem debatidos no “grupão” e, em paralelo, discutidos em chats privados do “núcleo duro”, onde as ações são planejadas. observou-se ademais que, segundo os entrevistados, as principais pautas do DU estão relacionadas à mobilidade urbana e à pre-servação do patrimônio histórico do Recife, o que também se constatou no acompanhamento mensal do DU.

Considerações finais

os achados desta pesquisa, embora modestos – por conta inclusive de seu desenho metodológico, nos permite alguns insights interessantes. As ações coletivas mediadas pela Internet, como vimos, têm-se constituí-do em importantes práticas contemporaneamente, articulando novas for-mas de comunicação com as práticas tradicionais de mobilização. Além disso, essas práticas não se restringem a um campo territorial específico, expandindo-se e atingindo, às vezes, dimensões globais. o conhecido fenômeno de glocalização (neologismo que indica a combinação variada de efeitos comunicativos a nível local e global) é exemplar para o caso dos movimentos sociais.

Ações com agendas bastante localizadas, como o protesto contra projetos urbanísticos que produzem segregação espacial, podem rever-berar para outros territórios, provocando impactos midiáticos fortemente favoráveis ao pensar urbano. Para o nosso caso, o movimento Direitos Urbanos, alguns achados nos permitem visualizar melhor práticas políti-cas desta natureza.

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Em primeiro lugar, destaque para a estrutura do DU. Viu-se que o grupo pode ser dividido em duas “partes” para melhor compreendê-lo: o “grupão” e o “núcleo duro”. o primeiro é mais espontâneo e serve como um canal divulgador de notícias, acontecimentos e debates, enquanto o segundo é um grupo restrito dos membros mais centrais, que se reúne em diversos chats diários para discutir as ações e estratégias do grupo. Nes-se processo, a moderação tem papel importante, com o principal objetivo de manter as discussões em torno da pertinência temática à qual o grupo se propõe. Isso rebate conclusões apressadas de alguns analistas de re-des sociais que enxergam as redes como movimentos mais horizontaliza-dos, com papel reduzido das lideranças.

As redes, no entanto, sejam ancoradas em interação face a face ou mediadas pela Internet, são assimétricas e têm por característica funda-mental o fato de existirem atores posicionados mais ou menos central-mente na estrutura reticular. E esse fato, ao contrário de indicar alguma limitação, indica a posição estratégica desses atores centrais, que possi-bilitam, a partir de suas posições reticulares, acessar outros subgrafos, ou seja, círculos sociais estranhos ao movimento de que fazem parte e que se constituem em potenciais aliados.

outro fato interessante merece destaque ao analisarmos o Direitos Urbanos. Viu-se que o grupo trabalha em parceria com outros coletivos e movimentos sociais, buscando as convergências ante tantas divergên-cias. o movimento, dessa forma, tem maior probabilidade de sucesso quando constrói alianças e consegue articular campos discursivos diver-sos que se ancoram em lutas específicas.

os processos de mobilização também são um ponto de destaque em nosso artigo. Assim, vimos que os líderes do DU entrevistados: a) partici-pam de chats específicos para discutir ações estratégicas, b) pautam o grupo realizando postagens, c) mantêm o debate dentro da pertinência temática (filtrando o conteúdo e deletando posts), d) relacionam-se com outros coletivos e atores sociais e públicos (a exemplo do Ministério Pú-blico), e) e, cientes das pautas que atraem mais pessoas, buscam um discurso único que aglomere os mais diversos grupos sociais.

Por fim, o tema é relevante na medida em que nos coloca desafios teóricos e metodológicos importantes. Parte importante da literatura sobre movimentos sociais é construída para a análise das ações coletivas tradi-cionais, com estratégias de mobilização ancoradas em interações face a face, com forte conteúdo territorial. Agora temos um desafio a enfrentar, o de compreender, de um lado, como as mobilizações mediadas pela Inter-net acontecem, e, de outro, como essas práticas se comunicam com as tradicionais. Isso porque, como vimos, a mobilização mediada pela Inter-

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net não acontece em um vazio territorial. E que, consequentemente, há sempre a articulação entre processos de sociabilidade mediados pela web e aqueles tradicionalmente ancorados em interação face a face.

Este é um desafio que se impõe aos que pesquisam redes virtuais: como construir, metodologicamente, protocolos de pesquisa que deem conta dessa complexa relação. Aqui apresentamos apenas alguns dados empíricos e algumas informações que nos permitiram refletir sobre alguns problemas de pesquisa que certamente são enfrentados pelos que aden-tram neste complexo e fascinante tema de pesquisa.

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CADernos iHu iDeiAs • 35

__________. Neworks, Swarms, Multitudes. Part Two. Critical Theory, 2004b. Dis-ponível em: <http://www.ctheory.net/printer.aspx?id=423>. Acesso em 04.02.2016.

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CADERNOS IHU IDEIAS

N. 01 A teoria da justiça de John Rawls – José NedelN. 02 O feminismo ou os feminismos: Uma leitura das produ-

ções teóricas – Edla Eggert O Serviço Social junto ao Fórum de Mulheres em São

Leopoldo – Clair Ribeiro Ziebell e Acadêmicas Anemarie Kirsch Deutrich e Magali Beatriz Strauss

N. 03 O programa Linha Direta: a sociedade segundo a TV Globo – Sonia Montaño

N. 04 Ernani M. Fiori – Uma Filosofia da Educação Popular – Luiz Gilberto Kronbauer

N. 05 O ruído de guerra e o silêncio de Deus – Manfred ZeuchN. 06 BRASIL: Entre a Identidade Vazia e a Construção do No-

vo – Renato Janine RibeiroN. 07 Mundos televisivos e sentidos identiários na TV – Suza-

na KilppN. 08 Simões Lopes Neto e a Invenção do Gaúcho – Márcia

Lopes DuarteN. 09 Oligopólios midiáticos: a televisão contemporânea e as

barreiras à entrada – Valério Cruz BrittosN. 10 Futebol, mídia e sociedade no Brasil: reflexões a partir

de um jogo – Édison Luis GastaldoN. 11 Os 100 anos de Theodor Adorno e a Filosofia depois de

Auschwitz – Márcia TiburiN. 12 A domesticação do exótico – Paula CaleffiN. 13 Pomeranas parceiras no caminho da roça: um jeito de

fazer Igreja, Teologia e Educação Popular – Edla EggertN. 14 Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prática políti-

ca no RS – Gunter AxtN. 15 Medicina social: um instrumento para denúncia – Stela

Nazareth MeneghelN. 16 Mudanças de significado da tatuagem contemporânea –

Débora Krischke LeitãoN. 17 As sete mulheres e as negras sem rosto: ficção, história

e trivialidade – Mário MaestriN. 18 Um itinenário do pensamento de Edgar Morin – Maria da

Conceição de AlmeidaN. 19 Os donos do Poder, de Raymundo Faoro – Helga Irace-

ma Ladgraf PiccoloN. 20 Sobre técnica e humanismo – Oswaldo Giacóia JuniorN. 21 Construindo novos caminhos para a intervenção socie-

tária – Lucilda SelliN. 22 Física Quântica: da sua pré-história à discussão sobre o

seu conteúdo essencial – Paulo Henrique DionísioN. 23 Atualidade da filosofia moral de Kant, desde a pers-

pectiva de sua crítica a um solipsismo prático – Valério Rohden

N. 24 Imagens da exclusão no cinema nacional – Miriam Rossini

N. 25 A estética discursiva da tevê e a (des)configuração da informação – Nísia Martins do Rosário

N. 26 O discurso sobre o voluntariado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – Rosa Maria Serra Bavaresco

N. 27 O modo de objetivação jornalística – Beatriz Alcaraz Marocco

N. 28 A cidade afetada pela cultura digital – Paulo Edison Belo Reyes

N. 29 Prevalência de violência de gênero perpetrada por com-panheiro: Estudo em um serviço de atenção primária à saúde – Porto Alegre, RS – José Fernando Dresch Kronbauer

N. 30 Getúlio, romance ou biografia? – Juremir Machado da Silva

N. 31 A crise e o êxodo da sociedade salarial – André GorzN. 32 À meia luz: a emergência de uma Teologia Gay – Seus

dilemas e possibilidades – André Sidnei Musskopf

N. 33 O vampirismo no mundo contemporâneo: algumas con-siderações – Marcelo Pizarro Noronha

N. 34 O mundo do trabalho em mutação: As reconfigurações e seus impactos – Marco Aurélio Santana

N. 35 Adam Smith: filósofo e economista – Ana Maria Bianchi e Antonio Tiago Loureiro Araújo dos Santos

N. 36 Igreja Universal do Reino de Deus no contexto do emer-gente mercado religioso brasileiro: uma análise antropo-lógica – Airton Luiz Jungblut

N. 37 As concepções teórico-analíticas e as proposições de política econômica de Keynes – Fernando Ferrari Filho

N. 38 Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil Colonial – Luiz Mott

N. 39 Malthus e Ricardo: duas visões de economia política e de capitalismo – Gentil Corazza

N. 40 Corpo e Agenda na Revista Feminina – Adriana BragaN. 41 A (anti)filosofia de Karl Marx – Leda Maria PaulaniN. 42 Veblen e o Comportamento Humano: uma avaliação

após um século de “A Teoria da Classe Ociosa” – Leonardo Monteiro Monasterio

N. 43 Futebol, Mídia e Sociabilidade. Uma experiência etno-gráfica – Édison Luis Gastaldo, Rodrigo Marques Leist-ner, Ronei Teodoro da Silva e Samuel McGinity

N. 44 Genealogia da religião. Ensaio de leitura sistêmica de Marcel Gauchet. Aplicação à situação atual do mundo – Gérard Donnadieu

N. 45 A realidade quântica como base da visão de Teilhard de Chardin e uma nova concepção da evolução biológica – Lothar Schäfer

N. 46 “Esta terra tem dono”. Disputas de representação sobre o passado missioneiro no Rio Grande do Sul: a figura de Sepé Tiaraju – Ceres Karam Brum

N. 47 O desenvolvimento econômico na visão de Joseph Schumpeter – Achyles Barcelos da Costa

N. 48 Religião e elo social. O caso do cristianismo – Gérard Donnadieu

N. 49 Copérnico e Kepler: como a terra saiu do centro do uni-verso – Geraldo Monteiro Sigaud

N. 50 Modernidade e pós-modernidade – luzes e sombras – Evilázio Teixeira

N. 51 Violências: O olhar da saúde coletiva – Élida Azevedo Hennington e Stela Nazareth Meneghel

N. 52 Ética e emoções morais – Thomas Kesselring Juízos ou emoções: de quem é a primazia na moral? –

Adriano Naves de BritoN. 53 Computação Quântica. Desafios para o Século XXI –

Fernando HaasN. 54 Atividade da sociedade civil relativa ao desarmamento

na Europa e no Brasil – An VranckxN. 55 Terra habitável: o grande desafio para a humanidade –

Gilberto DupasN. 56 O decrescimento como condição de uma sociedade

convivial – Serge LatoucheN. 57 A natureza da natureza: auto-organização e caos –

Günter KüppersN. 58 Sociedade sustentável e desenvolvimento sustentável:

limites e possibilidades – Hazel HendersonN. 59 Globalização – mas como? – Karen GloyN. 60 A emergência da nova subjetividade operária: a sociabi-

lidade invertida – Cesar SansonN. 61 Incidente em Antares e a Trajetória de Ficção de Erico

Veríssimo – Regina ZilbermanN. 62 Três episódios de descoberta científica: da caricatura

empirista a uma outra história – Fernando Lang da Sil-veira e Luiz O. Q. Peduzzi

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N. 63 Negações e Silenciamentos no discurso acerca da Ju-ventude – Cátia Andressa da Silva

N. 64 Getúlio e a Gira: a Umbanda em tempos de Estado No-vo – Artur Cesar Isaia

N. 65 Darcy Ribeiro e o O povo brasileiro: uma alegoria huma-nista tropical – Léa Freitas Perez

N. 66 Adoecer: Morrer ou Viver? Reflexões sobre a cura e a não cura nas reduções jesuítico-guaranis (1609-1675) – Eliane Cristina Deckmann Fleck

N. 67 Em busca da terceira margem: O olhar de Nelson Pe-reira dos Santos na obra de Guimarães Rosa – João Guilherme Barone

N. 68 Contingência nas ciências físicas – Fernando HaasN. 69 A cosmologia de Newton – Ney LemkeN. 70 Física Moderna e o paradoxo de Zenon – Fernando

HaasN. 71 O passado e o presente em Os Inconfidentes, de Joa-

quim Pedro de Andrade – Miriam de Souza RossiniN. 72 Da religião e de juventude: modulações e articulações –

Léa Freitas PerezN. 73 Tradição e ruptura na obra de Guimarães Rosa – Eduar-

do F. CoutinhoN. 74 Raça, nação e classe na historiografia de Moysés Vellinho

– Mário MaestriN. 75 A Geologia Arqueológica na Unisinos – Carlos Henrique

NowatzkiN. 76 Campesinato negro no período pós-abolição: repensan-

do Coronelismo, enxada e voto – Ana Maria Lugão RiosN. 77 Progresso: como mito ou ideologia – Gilberto DupasN. 78 Michael Aglietta: da Teoria da Regulação à Violência da

Moeda – Octavio A. C. ConceiçãoN. 79 Dante de Laytano e o negro no Rio Grande Do Sul –

Moacyr FloresN. 80 Do pré-urbano ao urbano: A cidade missioneira colonial e

seu território – Arno Alvarez KernN. 81 Entre Canções e versos: alguns caminhos para a leitura

e a produção de poemas na sala de aula – Gláucia de Souza

N. 82 Trabalhadores e política nos anos 1950: a ideia de “sindicalismo populista” em questão – Marco Aurélio Santana

N. 83 Dimensões normativas da Bioética – Alfredo Culleton e Vicente de Paulo Barretto

N. 84 A Ciência como instrumento de leitura para explicar as transformações da natureza – Attico Chassot

N. 85 Demanda por empresas responsáveis e Ética Concor-rencial: desafios e uma proposta para a gestão da ação organizada do varejo – Patrícia Almeida Ashley

N. 86 Autonomia na pós-modernidade: um delírio? – Mario Fleig

N. 87 Gauchismo, tradição e Tradicionalismo – Maria Eunice Maciel

N. 88 A ética e a crise da modernidade: uma leitura a partir da obra de Henrique C. de Lima Vaz – Marcelo Perine

N. 89 Limites, possibilidades e contradições da formação hu-mana na Universidade – Laurício Neumann

N. 90 Os índios e a História Colonial: lendo Cristina Pompa e Regina Almeida – Maria Cristina Bohn Martins

N. 91 Subjetividade moderna: possibilidades e limites para o cristianismo – Franklin Leopoldo e Silva

N. 92 Saberes populares produzidos numa escola de comuni-dade de catadores: um estudo na perspectiva da Etno-matemática – Daiane Martins Bocasanta

N. 93 A religião na sociedade dos indivíduos: transformações no campo religioso brasileiro – Carlos Alberto Steil

N. 94 Movimento sindical: desafios e perspectivas para os próximos anos – Cesar Sanson

N. 95 De volta para o futuro: os precursores da nanotecno-ciência – Peter A. Schulz

N. 96 Vianna Moog como intérprete do Brasil – Enildo de Mou-ra Carvalho

N. 97 A paixão de Jacobina: uma leitura cinematográfica – Ma-rinês Andrea Kunz

N. 98 Resiliência: um novo paradigma que desafia as religiões – Susana María Rocca Larrosa

N. 99 Sociabilidades contemporâneas: os jovens na lan house – Vanessa Andrade Pereira

N. 100 Autonomia do sujeito moral em Kant – Valerio RohdenN. 101 As principais contribuições de Milton Friedman à Teoria

Monetária: parte 1 – Roberto Camps MoraesN. 102 Uma leitura das inovações bio(nano)tecnológicas a par-

tir da sociologia da ciência – Adriano PremebidaN. 103 ECODI – A criação de espaços de convivência digital

virtual no contexto dos processos de ensino e aprendi-zagem em metaverso – Eliane Schlemmer

N. 104 As principais contribuições de Milton Friedman à Teoria Monetária: parte 2 – Roberto Camps Moraes

N. 105 Futebol e identidade feminina: um estudo etnográfico sobre o núcleo de mulheres gremistas – Marcelo Pizarro Noronha

N. 106 Justificação e prescrição produzidas pelas Ciências Humanas: Igualdade e Liberdade nos discursos educa-cionais contemporâneos – Paula Corrêa Henning

N. 107 Da civilização do segredo à civilização da exibição: a família na vitrine – Maria Isabel Barros Bellini

N. 108 Trabalho associado e ecologia: vislumbrando um ethos solidário, terno e democrático? – Telmo Adams

N. 109 Transumanismo e nanotecnologia molecular – Celso Candido de Azambuja

N. 110 Formação e trabalho em narrativas – Leandro R. Pinheiro

N. 111 Autonomia e submissão: o sentido histórico da adminis-tração – Yeda Crusius no Rio Grande do Sul – Mário Maestri

N. 112 A comunicação paulina e as práticas publicitárias: São Paulo e o contexto da publicidade e propaganda – Denis Gerson Simões

N. 113 Isto não é uma janela: Flusser, Surrealismo e o jogo contra – Esp. Yentl Delanhesi

N. 114 SBT: jogo, televisão e imaginário de azar brasileiro – So-nia Montaño

N. 115 Educação cooperativa solidária: perspectivas e limites – Carlos Daniel Baioto

N. 116 Humanizar o humano – Roberto Carlos FáveroN. 117 Quando o mito se torna verdade e a ciência, religião –

Róber Freitas BachinskiN. 118 Colonizando e descolonizando mentes – Marcelo

DascalN. 119 A espiritualidade como fator de proteção na adolescên-

cia – Luciana F. Marques e Débora D. Dell’AglioN. 120 A dimensão coletiva da liderança – Patrícia Martins Fa-

gundes Cabral e Nedio SeminottiN. 121 Nanotecnologia: alguns aspectos éticos e teológicos –

Eduardo R. CruzN. 122 Direito das minorias e Direito à diferenciação – José

Rogério LopesN. 123 Os direitos humanos e as nanotecnologias: em busca de

marcos regulatórios – Wilson EngelmannN. 124 Desejo e violência – Rosane de Abreu e SilvaN. 125 As nanotecnologias no ensino – Solange Binotto FaganN. 126 Câmara Cascudo: um historiador católico – Bruna Rafaela

de LimaN. 127 O que o câncer faz com as pessoas? Reflexos na litera-

tura universal: Leo Tolstoi – Thomas Mann – Alexander Soljenítsin – Philip Roth – Karl-Josef Kuschel

N. 128 Dignidade da pessoa humana e o direito fundamental à identidade genética – Ingo Wolfgang Sarlet e Selma Rodrigues Petterle

N. 129 Aplicações de caos e complexidade em ciências da vida – Ivan Amaral Guerrini

N. 130 Nanotecnologia e meio ambiente para uma sociedade sustentável – Paulo Roberto Martins

N. 131 A philía como critério de inteligibilidade da mediação comunitária – Rosa Maria Zaia Borges Abrão

N. 132 Linguagem, singularidade e atividade de trabalho – Mar-lene Teixeira e Éderson de Oliveira Cabral

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N. 133 A busca pela segurança jurídica na jurisdição e no processo sob a ótica da teoria dos sistemas sociais de Nicklass Luhmann – Leonardo Grison

N. 134 Motores Biomoleculares – Ney Lemke e Luciano Hennemann

N. 135 As redes e a construção de espaços sociais na digitali-zação – Ana Maria Oliveira Rosa

N. 136 De Marx a Durkheim: Algumas apropriações teóricas para o estudo das religiões afro-brasileiras – Rodrigo Marques Leistner

N. 137 Redes sociais e enfrentamento do sofrimento psíquico: sobre como as pessoas reconstroem suas vidas – Breno Augusto Souto Maior Fontes

N. 138 As sociedades indígenas e a economia do dom: O caso dos guaranis – Maria Cristina Bohn Martins

N. 139 Nanotecnologia e a criação de novos espaços e novas identidades – Marise Borba da Silva

N. 140 Platão e os Guarani – Beatriz Helena DominguesN. 141 Direitos humanos na mídia brasileira – Diego Airoso da

MottaN. 142 Jornalismo Infantil: Apropriações e Aprendizagens de

Crianças na Recepção da Revista Recreio – Greyce Vargas

N. 143 Derrida e o pensamento da desconstrução: o redimen-sionamento do sujeito – Paulo Cesar Duque-Estrada

N. 144 Inclusão e Biopolítica – Maura Corcini Lopes, Kamila Lockmann, Morgana Domênica Hattge e Viviane Klaus

N. 145 Os povos indígenas e a política de saúde mental no Bra-sil: composição simétrica de saberes para a construção do presente – Bianca Sordi Stock

N. 146 Reflexões estruturais sobre o mecanismo de REDD – Ca-mila Moreno

N. 147 O animal como próximo: por uma antropologia dos movi-mentos de defesa dos direitos animais – Caetano Sordi

N. 148 Avaliação econômica de impactos ambientais: o caso do aterro sanitário em Canoas-RS – Fernanda Schutz

N. 149 Cidadania, autonomia e renda básica – Josué Pereira da Silva

N. 150 Imagética e formações religiosas contemporâneas: en-tre a performance e a ética – José Rogério Lopes

N. 151 As reformas político-econômicas pombalinas para a Amazônia: e a expulsão dos jesuítas do Grão-Pará e Maranhão – Luiz Fernando Medeiros Rodrigues

N. 152 Entre a Revolução Mexicana e o Movimento de Chia-pas: a tese da hegemonia burguesa no México ou “por que voltar ao México 100 anos depois” – Claudia Wasserman

N. 153 Globalização e o pensamento econômico franciscano: Orientação do pensamento econômico franciscano e Caritas in Veritate – Stefano Zamagni

N. 154 Ponto de cultura teko arandu: uma experiência de inclu-são digital indígena na aldeia kaiowá e guarani Te’ýikue no município de Caarapó-MS – Neimar Machado de Sousa, Antonio Brand e José Francisco Sarmento

N. 155 Civilizar a economia: o amor e o lucro após a crise eco-nômica – Stefano Zamagni

N. 156 Intermitências no cotidiano: a clínica como resistência inventiva – Mário Francis Petry Londero e Simone Mai-nieri Paulon

N. 157 Democracia, liberdade positiva, desenvolvimento – Stefano Zamagni

N. 158 “Passemos para a outra margem”: da homofobia ao respeito à diversidade – Omar Lucas Perrout Fortes de Sales

N. 159 A ética católica e o espírito do capitalismo – Stefano Zamagni

N. 160 O Slow Food e novos princípios para o mercado – Eri-berto Nascente Silveira

N. 161 O pensamento ético de Henri Bergson: sobre As duas fontes da moral e da religião – André Brayner de Farias

N. 162 O modus operandi das políticas econômicas keynesia-nas – Fernando Ferrari Filho e Fábio Henrique Bittes Terra

N. 163 Cultura popular tradicional: novas mediações e legitima-ções culturais de mestres populares paulistas – André Luiz da Silva

N. 164 Será o decrescimento a boa nova de Ivan Illich? – Serge Latouche

N. 165 Agostos! A “Crise da Legalidade”: vista da janela do Consulado dos Estados Unidos em Porto Alegre – Carla Simone Rodeghero

N. 166 Convivialidade e decrescimento – Serge LatoucheN. 167 O impacto da plantação extensiva de eucalipto nas

culturas tradicionais: Estudo de caso de São Luis do Paraitinga – Marcelo Henrique Santos Toledo

N. 168 O decrescimento e o sagrado – Serge LatoucheN. 169 A busca de um ethos planetário – Leonardo BoffN. 170 O salto mortal de Louk Hulsman e a desinstitucionaliza-

ção do ser: um convite ao abolicionismo – Marco Anto-nio de Abreu Scapini

N. 171 Sub specie aeternitatis – O uso do conceito de tempo como estratégia pedagógica de religação dos saberes – Gerson Egas Severo

N. 172 Theodor Adorno e a frieza burguesa em tempos de tec-nologias digitais – Bruno Pucci

N. 173 Técnicas de si nos textos de Michel Foucault: A influência do poder pastoral – João Roberto Barros II

N. 174 Da mônada ao social: A intersubjetividade segundo Levinas – Marcelo Fabri

N. 175 Um caminho de educação para a paz segundo Hobbes – Lucas Mateus Dalsotto e Everaldo Cescon

N. 176 Da magnitude e ambivalência à necessária humani-zação da tecnociência segundo Hans Jonas – Jelson Roberto de Oliveira

N. 177 Um caminho de educação para a paz segundo Locke – Odair Camati e Paulo César Nodari

N. 178 Crime e sociedade estamental no Brasil: De como la ley es como la serpiente; solo pica a los descalzos – Lenio Luiz Streck

N. 179 Um caminho de educação para a paz segundo Rousseau – Mateus Boldori e Paulo César Nodari

N. 180 Limites e desafios para os direitos humanos no Brasil: entre o reconhecimento e a concretização – Afonso Ma-ria das Chagas

N. 181 Apátridas e refugiados: direitos humanos a partir da éti-ca da alteridade – Gustavo Oliveira de Lima Pereira

N. 182 Censo 2010 e religiões:reflexões a partir do novo mapa religioso brasileiro – José Rogério Lopes

N. 183 A Europa e a ideia de uma economia civil – Stefano ZamagniN. 184 Para um discurso jurídico-penal libertário: a pena como

dispositivo político (ou o direito penal como “discurso-li-mite”) – Augusto Jobim do Amaral

N. 185 A identidade e a missão de uma universidade católica na atualidade – Stefano Zamagni

N. 186 A hospitalidade frente ao processo de reassentamento solidário aos refugiados – Joseane Mariéle Schuck Pinto

N. 187 Os arranjos colaborativos e complementares de ensino, pesquisa e extensão na educação superior brasileira e sua contribuição para um projeto de sociedade susten-tável no Brasil – Marcelo F. de Aquino

N. 188 Os riscos e as loucuras dos discursos da razão no cam-po da prevenção – Luis David Castiel

N. 189 Produções tecnológicas e biomédicas e seus efeitos produtivos e prescritivos nas práticas sociais e de gêne-ro – Marlene Tamanini

N. 190 Ciência e justiça: Considerações em torno da apropria-ção da tecnologia de DNA pelo direito – Claudia Fonseca

N. 191 #VEMpraRUA: Outono brasileiro? Leituras – Bruno Lima Rocha, Carlos Gadea, Giovanni Alves, Giuseppe Cocco, Luiz Werneck Vianna e Rudá Ricci

N. 192 A ciência em ação de Bruno Latour – Leticia de Luna FreireN. 193 Laboratórios e Extrações: quando um problema técnico

se torna uma questão sociotécnica – Rodrigo Ciconet Dornelles

N. 194 A pessoa na era da biopolítica: autonomia, corpo e sub-jetividade – Heloisa Helena Barboza

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N. 195 Felicidade e Economia: uma retrospectiva histórica – Pedro Henrique de Morais Campetti e Tiago Wickstrom Alves

N. 196 A colaboração de Jesuítas, Leigos e Leigas nas Univer-sidades confiadas à Companhia de Jesus: o diálogo en-tre humanismo evangélico e humanismo tecnocientífico – Adolfo Nicolás

N. 197 Brasil: verso e reverso constitucional – Fábio Konder Comparato

N. 198 Sem-religião no Brasil: Dois estranhos sob o guarda-chuva – Jorge Claudio Ribeiro

N. 199 Uma ideia de educação segundo Kant: uma possível contribuição para o século XXI – Felipe Bragagnolo e Paulo César Nodari

N. 200 Aspectos do direito de resistir e a luta socialpor moradia urbana: a experiência da ocupação Raízes da Praia – Natalia Martinuzzi Castilho

N. 201 Desafios éticos, filosóficos e políticos da biologia sintéti-ca – Jordi Maiso

N. 202 Fim da Política, do Estado e da cidadania? – Roberto Romano

N. 203 Constituição Federal e Direitos Sociais: avanços e recuos da cidadania – Maria da Glória Gohn

N. 204 As origens históricas do racionalismo, segundo Feyera-bend – Miguel Ângelo Flach

N. 205 Compreensão histórica do regime empresarial-militar brasileiro – Fábio Konder Comparato

N. 206 Sociedade tecnológica e a defesa do sujeito: Technological society and the defense of the individual – Karla Saraiva

N. 207 Territórios da Paz: Territórios Produtivos? – Giuseppe Cocco

N. 208 Justiça de Transição como Reconhecimento: limites e possibilidades do processo brasileiro – Roberta Cami-neiro Baggio

N. 209 As possibilidades da Revolução em Ellul – Jorge Barrientos-Parra

N. 210 A grande política em Nietzsche e a política que vem em Agamben – Márcia Rosane Junges

N. 211 Foucault e a Universidade: Entre o governo dos outros e o governo de si mesmo – Sandra Caponi

N. 212 Verdade e História: arqueologia de uma relação – José D’Assunção Barros

N. 213 A Relevante Herança Social do Pe. Amstad SJ – José Odelso Schneider

N. 214 Sobre o dispositivo. Foucault, Agamben, Deleuze – San-dro Chignola

N. 215 Repensar os Direitos Humanos no Horizonte da Liberta-ção – Alejandro Rosillo Martínez

N. 216 A realidade complexa da tecnologia – Alberto CupaniN. 217 A Arte da Ciência e a Ciência da Arte: Uma abordagem

a partir de Paul Feyerabend – Hans Georg FlickingerN. 218 O ser humano na idade da técnica – Humberto GalimbertiN. 219 A Racionalidade Contextualizada em Feyerabend e

suas Implicações Éticas: Um Paralelo com Alasdair MacIntyre – Halina Macedo Leal

N. 220 O Marquês de Pombal e a Invenção do Brasil – José Eduardo Franco

N. 221 Neurofuturos para sociedades de controle – Timothy LenoirN. 222 O poder judiciário no Brasil – Fábio Konder ComparatoN. 223 Os marcos e as ferramentas éticas das tecnologias de

gestão – Jesús Conill SanchoN. 224 O restabelecimento da Companhia de Jesus no extremo sul

do Brasil (1842-1867) – Luiz Fernando Medeiros RodriguesN. 225 O grande desafio dos indígenas nos países andinos:

seus direitos sobre os recursos naturais – Xavier AlbóN. 226 Justiça e perdão – Xabier Etxeberria MauleonN. 227 Paraguai: primeira vigilância massiva norte-americana e

a descoberta do Arquivo do Terror (Operação Condor) – Martín Almada

N. 228 A vida, o trabalho, a linguagem. Biopolítica e biocapita-lismo – Sandro Chignola

N. 229 Um olhar biopolítico sobre a bioética – Anna Quintanas Feixas

N. 230 Biopoder e a constituição étnico-racial das populações: Racialismo, eugenia e a gestão biopolítica da mestiça-gem no Brasil – Gustavo da Silva Kern

N. 231 Bioética e biopolítica na perspectiva hermenêutica: uma ética do cuidado da vida – Jesús Conill Sancho

N. 232 Migrantes por necessidade: o caso dos senegaleses no Norte do Rio Grande do Sul – Dirceu Benincá e Vânia Aguiar Pinheiro

N. 233 Capitalismo biocognitivo e trabalho: desafios à saúde e segurança – Elsa Cristine Bevian

N. 234 O capital no século XXI e sua aplicabilidade à realidade brasileira – Róber Iturriet Avila & João Batista Santos Conceição

N. 235 Biopolítica, raça e nação no Brasil (1870-1945) – Mozart Linhares da Silva

N. 236 Economias Biopolíticas da Dívida – Michael A. PetersN. 237 Paul Feyerabend e Contra o Método: Quarenta Anos do

Início de uma Provocação – Halina Macedo LealN. 238 O trabalho nos frigoríficos: escravidão local e global? –

Leandro Inácio WalterN. 239 Brasil: A dialética da dissimulação – Fábio Konder

ComparatoN. 240 O irrepresentável – Homero SantiagoN. 241 O poder pastoral, as artes de governo e o estado moder-

no – Castor Bartolomé RuizN. 242 Uma crise de sentido, ou seja, de direção – Stefano ZamagniN. 243 Diagnóstico Socioterritorial entre o chão e a gestão –

Dirce KogaN. 244 A função-educador na perspectiva da biopolítica e da

governamentalidade neoliberal – Alexandre Filordi de Carvalho

N. 245 Esquecer o neoliberalismo: aceleracionismo como ter-ceiro espírito do capitalismo – Moysés da Fontoura Pinto Neto

N. 246 O conceito de subsunção do trabalho ao capital: rumo à subsunção da vida no capitalismo biocognitivo – Andrea Fumagalli

N. 247 Educação, indivíduo e biopolítica: A crise do governa-mento – Dora Lilia Marín-Díaz

N. 248 Reinvenção do espaço público e político: o individualis-mo atual e a possibilidade de uma democracia – Rober-to Romano

N. 249 Jesuítas em campo: a Companhia de Jesus e a questão agrária no tempo do CLACIAS (1966-1980) – Iraneidson Santos Costa

N. 250 A Liberdade Vigiada: Sobre Privacidade, Anonimato e Vigilantismo com a Internet – Pedro Antonio Dourado de Rezende

N. 251 Políticas Públicas, Capitalismo Contemporâneo e os horizontes de uma Democracia Estrangeira – Francini Lube Guizardi

N. 252 A Justiça, Verdade e Memória: Comissão Estadual da Verdade – Carlos Frederico Guazzelli

N. 253 Reflexões sobre os espaços urbanos contemporâneos: quais as nossas cidades? – Vinícius Nicastro HoneskoN. 254 Ubuntu como ética africana, humanista e inclusiva –

Jean-Bosco Kakozi KashindiN. 255 Mobilização e ocupações dos espaços físicos e virtu-

ais: possibilidades e limites da reinvenção da política nas metrópoles – Marcelo Castañeda

N. 256 Indicadores de Bem-Estar Humano para Povos Tra-dicionais: O caso de uma comunidade indígena na fronteira da Amazônia Brasileira – Luiz Felipe Barbosa Lacerda e Luis Eduardo Acosta Muñoz

N. 257 Cerrado. O laboratório antropológico ameaçado pela desterritorialização – Altair Sales Barbosa

N. 258 O impensado como potência e a desativação das má-quinas de poder – Rodrigo Karmy Bolton

N. 259 Identidade de Esquerda ou Pragmatismo Radical? – Moysés Pinto Neto

N. 260 Itinerários versados: redes e identizações nas perife-rias de Porto Alegre? – Leandro Rogério Pinheiro

N. 261 Fugindo para a frente: limites da reinvenção da política no Brasil contemporâneo – Henrique Costa

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Breno Augusto Souto Maior Fontes. Doutorado em Estudos das Sociedades Latino-Americanas na Universidade de Paris III – Sor-bonne-Nouvelle (1990). Realizou estagio de pós-doutorado na Har-vard University (1998-1999), Université de Nanterre (2002-2003) e Hamburg Universität (2010-2011). Professor titular na Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, vinculado ao Programa de Pós-Gra-duação em Sociologia. Pesquisador Produtividade CNPQ, nível 2. Orienta estudantes de Graduação, Mestrado e Doutorado que execu-tam atividades de pesquisa no NUCEM (Núcleo de Cidadania) do PP-GS/UFPE e no Grupo de Pesquisa sobre Redes e Poder Local, que

coordena. Atua na área de Sociologia construindo uma agenda de pesquisas sobre redes, sociabilidades e poder local; no âmbito desta agenda, tem realizado pesquisas nas áreas de saúde, movimentos sociais, ONGs, gestão urbana e participação popular.

Algumas publicações do autor

FONTES, Breno Augusto Souto Maior. Redes Sociais e Poder Local. 02. ed. Recife: Editora da UFPE, 2013.

_____. Redes, Práticas Associativas e Poder Local. Curitiba: Editora Appris, 2011.

_____. Movimentos Sociais. Motivação, Representação e Produção de Sentido. Recife: UFPE, 1999.

Outras contribuiçõesFONTES, Breno Augusto Souto Maior. Redes Sociais e enfrentamento psíquico: sobre como as pessoas reconstroem suas vidas. Cadernos IHU Ideias (UNISINOS), vol. 08, n. 137, p. 03-34, 2010.

Davi Barboza Cavalcanti. Doutorando em Ciência Política na Uni-versidade Federal de Pernambuco – UFPE. Mestrado em Sociologia (2016) pela mesma instituição. Graduação em Jornalismo (2012) na Universidade Católica de Pernambuco. Durante a graduação, tam-bém estudou Producción Cinematográfica (2010) na Universidad de Salamanca. Foi repórter durante dois anos e seis meses no Sistema Jornal do Comércio de Comunicação (PE), com passagens pela Rá-dio Jornal, TV Jornal/SBT, JCOnline e NE10. Também foi correspon-dente do Jornal Zero Hora (RS), da Rádio Gaúcha (RS) e de outros periódicos do Grupo RBS entre 2013 e 2014 - à época, cobriu a pre-

paração do Recife para a Copa do Mundo. Tem interesse em mídias digitais, globalização, ciberativismo, comunicação, ciência política, redes sociais e movimentos sociais.

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