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AS RELAÇÕES CAMPO-CIDADE E O PAPEL DA AGROINDÚSTRIA E DO AGRONEGÓCIO NOS MUNICÍPIOS DA MICRORREGIÃO DE FRUTAL (MG): UMA ANÁLISE PRELIMINAR. Letícia Parreira Oliveira 1 Universidade Federal de Uberlândia, [email protected] Mária Bruna Pereira Ribeiro [email protected] INTRODUÇÃO O desenvolvimento técnico-científico que atingiu várias instâncias da sociedade, chegou à agroindústria e juntamente com a modernização do campo implicou na maior interação do meio rural com o urbano, transformando as relações socioeconômicas e espaciais, além de determinar a maior inserção do capital nas atividades do campo. Analisar a relação cidade-campo é decisivo para a compreensão das dinâmicas urbanas, sobretudo, quando se trata de pequenas cidades. Considerando a demanda com esse porte, especialmente, no estado mineiro, que chega a 10,94% das cidades mineira (IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010), se torna fundamental entender a dinâmica das atividades do campo e das agroindústrias. Neste sentido, analisamos a presença das atividades agroindustriais e do setor do agronegócio nos municípios foi essencial para avaliar o papel das pequenas cidades na rede urbana, assim como entender a interferência das atividades do campo nos setores urbanos como, por exemplo, no comércio e serviços, objetivando visualizar a possível reestruturação urbana das mesmas. Dessa forma, entendendo a função da Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba para a dinâmica socioeconômica e populacional do estado de Minas Gerais, o presente trabalho visa estudar uma de suas 6 microrregiões, a de Frutal (MG). O objetivo geral da pesquisa é compreender quais as principais atividades agroindustriais dos municípios da microrregião, bem como as principais empresas do ramo. Além disso, busca-se entender o papel do agronegócio nas economias municipais e, de forma inicial, nas cidades. As bases metodológicas perpassaram pelo levantamento bibliográfico sobre 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia, bolsista FAPEMIG

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AS RELAÇÕES CAMPO-CIDADE E O PAPEL DA

AGROINDÚSTRIA E DO AGRONEGÓCIO NOS MUNICÍPIOS DA

MICRORREGIÃO DE FRUTAL (MG): UMA ANÁLISE

PRELIMINAR.

Letícia Parreira Oliveira1

Universidade Federal de Uberlândia, [email protected]

Mária Bruna Pereira Ribeiro

[email protected]

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento técnico-científico que atingiu várias instâncias da sociedade,

chegou à agroindústria e juntamente com a modernização do campo implicou na maior

interação do meio rural com o urbano, transformando as relações socioeconômicas e

espaciais, além de determinar a maior inserção do capital nas atividades do campo.

Analisar a relação cidade-campo é decisivo para a compreensão das dinâmicas

urbanas, sobretudo, quando se trata de pequenas cidades. Considerando a demanda com

esse porte, especialmente, no estado mineiro, que chega a 10,94% das cidades mineira

(IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010), se torna fundamental

entender a dinâmica das atividades do campo e das agroindústrias.

Neste sentido, analisamos a presença das atividades agroindustriais e do setor do

agronegócio nos municípios foi essencial para avaliar o papel das pequenas cidades na

rede urbana, assim como entender a interferência das atividades do campo nos setores

urbanos como, por exemplo, no comércio e serviços, objetivando visualizar a possível

reestruturação urbana das mesmas.

Dessa forma, entendendo a função da Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto

Paranaíba para a dinâmica socioeconômica e populacional do estado de Minas Gerais, o

presente trabalho visa estudar uma de suas 6 microrregiões, a de Frutal (MG). O objetivo

geral da pesquisa é compreender quais as principais atividades agroindustriais dos

municípios da microrregião, bem como as principais empresas do ramo. Além disso,

busca-se entender o papel do agronegócio nas economias municipais e, de forma inicial,

nas cidades. As bases metodológicas perpassaram pelo levantamento bibliográfico sobre

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia, bolsista FAPEMIG

a região, obtenção de dados no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e

IPEADATA sobre as produções agropecuárias e PIB (Produto Interno Bruto), assim

como nos sites das Prefeituras Municipais e demais órgãos relacionados para identificar

as principais agroindústrias. Em seguida, foram elaboradas as tabelas e gráficos para

todos os municípios da microrregião com os dados levantados. Por fim, fez-se uma análise

dessas informações e relacionando-as com a presença do agronegócio na microrregião e

quais as possíveis interferências no campo que surgiram com essas mudanças.

A AGRICULTURA E AS RELAÇÕES DAS AGROINDÚSTRIAS E DO

AGRONEGÓCIO

Analisar as características gerais que podem determinar tipos de produção agrícola

e inserção de grandes empresas ligadas ao agronegócio. A microrregião de Frutal (MG),

localizada na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, especificamente, na

porção sul do Pontal do Triângulo Mineiro (figura 1), faz divisa com a microrregião de

Ituiutaba (MG), Uberlândia (MG) e Uberaba (MG), no estado mineiro, além do noroeste

paulista e sul de Goiás.

A Microrregião de Frutal é a que possui o maior número de municípios da

mesorregião do Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba, totalizando doze, conforme mostra a

figura 01. Com população acima de 10 mil habitantes destaca-se apenas Frutal (MG) e

Iturama (MG) com 53.474 e 34.440 habitantes respectivamente.

Figura 01 – Delimitação da Microrregião Geográfica de Frutal (MG)

Fonte: Geominas, 2010. Adaptado por: Letícia Parreira Oliveira, 2015.

Com um total de 179.525 habitantes, a microrregião possui todos com população

abaixo de 60 mil habitantes, sendo que dentre eles, 5 possuem população com até 10 mil

habitantes. Comendador Gomes (MG), Pirajuba (MG) e União de Minas (MG) são os

municípios com menor número populacional, sendo 2972, 4664 e 4424 habitantes

respectivamente.

Para entender a estrutura da microrregião é válido se embasar nos conceitos

geográficos. O conceito de região utilizado na pesquisa se fundamenta nas análise Bezzi

(2004), no qual a autora considera que o “conceito de região deve ser analisado dentro do

contexto histórico em que foi emitido e da realidade em que então se situava” (BEZZI,

2004, p. 242). A autora ainda conclui “[...] propõe-se entender a região como um recorte

espacial (subespaço) dinâmico, que se estrutura e se reestrutura em um determinado

tempo, considerando as transformações ambientais, humanas/sociais, históricas/políticas

e culturais nele engendradas” (BEZZI, 2004, p. 256).

Por isso, para entender a dinâmica da microrregião de Frutal (MG), destacamos

que os municípios da microrregião possuem estreitas relações com as atividades

desenvolvidas no campo.

Tabela 01– Microrregião de Frutal: percentual de população rural e urbana (1950-2010)

Municípios 1970 1980 1991 2000 2010

Campina Verde Urbana 37,57 53,82 67,22 70,21 74,69 Rural 37,57 46,18 32,78 29,79 25,31

Carneirinho Urbana - - - 61,9 73,65 Rural - - - 38,1 26,35

Comendador Gomes Urbana 17,9 20,35 28,91 41,31 50,74 Rural 82,1 79,65 71,09 58,69 49,26

Fronteira Urbana 50,26 76,24 79,45 76,75 93,26 Rural 49,74 23,76 20,55 23,25 6,74

Frutal Urbana 57,83 69,97 80,22 83,78 86,2 Rural 42,17 30,03 19,78 16,22 13,8

Itapagipe Urbana 21,69 39,59 50,37 59,23 69,99 Rural 78,31 60,41 49,63 40,77 30,01

Ituramã Urbana 15,05 48,76 69,31 93,11 94,61 Rural 84,95 51,24 30,69 6,89 5,39

Limeira do Oeste Urbana - - - 59,66 72,82 Rural - - - 40,34 27,18

Pirajuba Urbana 66,53 57,98 74,16 78,62 88,72 Rural 33,47 42,02 25,84 21,38 11,28

Planura Urbana 69,03 73,96 91,97 94,89 97,18 Rural 30,97 26,04 8,03 5,11 2,82

São Francisco de Sales Urbana 21,02 36,55 56,3 65,05 75 Rural 78,98 63,45 43,7 34,95 25

União de Minas Urbana - - - 48,99 61,7 Rural - - - 51,01 38,3

Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010. Primeiros Resultados

do Censo 2010. Organização: Letícia Parreira Oliveira (2015).

Alguns desses municípios chegam a ter uma população rural bastante

significativa, como é o caso de Comendador Gomes com 49,26% de pessoas vivendo na

área rural em 2010 (IBGE), Itapagipe com 30,01% e União de Minas com 38,3% (tabela

2).

Portanto, as atividades desenvolvidas na porção rural do município também

podem impactar na cidade. Desse modo, é importante entender quais são as principais

atividades e selecionar as indústrias que estão ligadas a elas e ao agronegócio. O setores

da econômica que se destacam no Brasil são os relacionados a agropecuária e

agroindústria. Para Graziano e Navarro (2015), o país, tanto tecnologicamente, quanto

em dimensão territorial é reconhecido mundialmente pelas atividades agropecuárias,

pelos elevados números nas safras de grãos e desenvolvimento de tecnologias que

aumentam a produtividade.

Todo esse processo de dominação do campo, segundo os autores, passou a ser

persistente após a “modernização capitalista, que tirou o país da condição de

subdesenvolvimento e o integrou, com uma economia emergente, no mundo globalizado”

(GRAZIANO, NAVARRO, 2015, p. 9-10).

Desse modo, a abrangência cada vez maior do desenvolvimento técnico-cientifico

que atingiu a agroindústria implicou na maior interação do meio rural com o urbano,

modificando as formações espaciais, as redes urbanas e as relações socioespaciais. Assim,

A industrialização do campo, afetou não apenas a estrutura fundiária, gerando

maior concentração da propriedade rural, mas também as relações de

produção, gerando a diminuição do número de pequenos proprietários,

rendeiros e meeiros e o aumento do número de assalariados, particularmente

aqueles de trabalho temporário. (CORRÊA, 2011, p. 9).

Nesse contexto, é imprescindível compreender os complexos ligados ao

agronegócio, os quais modifica de forma intensa a realidade local e regional. Assim, as

pequenas cidades próximas a essas estruturas são diretamente afetadas. Portanto, “a

reestruturação produtiva da agropecuária cria demandas até então inexistentes nas áreas

de difusão do agronegócio” (ELIAS, 2011, p. 159).

Esse complexo do agronegócio gera um aumento das atividades de comércio e

serviços desenvolvidos nas cidades, reorganizando a agropecuária e as indústrias, além

de reger esses setores e os demais relacionados a economia agrária. (ELIAS, 2011). Dessa

maneira, as atividades do campo impactam na demanda de mão de obra, na chegada de

imigrantes e no crescimento populacional do município que possui uma agroindústria,

assim como dos que estão no seu entorno.

O agronegócio carrega consigo uma ressignificação das atividades do campo, as

quais já não mais ultrapassadas e tende a lidar diretamente com o capital externo e a

dinâmica capitalista mundial.

Dessa forma, a atividade agrícola,

[...] não é mais a atividade sedentária submetida à codificação tradicional. Ela

capta os fluxos de capitais, rendas e mão-de-obra; fá-los circular sob forma de

produtos como parte integrante do sistema mecanizado. Põe-nos em

movimento e está em movimento perpétuo. A agricultura capitalista não é,

pois, nem atividade natural, nem a operação da propriedade fundiária

codificada [...]. (AMIM, VERGOPOULOS, 1977, p. 85).

Com a expansão da fronteira agrícola e, consequentemente, ocupação das áreas

do Cerrado brasileiro, as regiões Centro-Oeste e Norte se tornaram locus dos complexos

agroindustriais. Esse processo se deu no decorrer dos anos por meio das interferências

políticas e de capital financeiro nacional e internacional, de forma seletiva e pouco

homogênea ano espaço.

Salim (1986, p. 302) contribui com a análise realizada acima afirmando que “uma

agropecuária organizada nas bases apontadas, que é estimulada por programas

governamentais e diversas medidas de política agrícola, só é acessível a um número

reduzido de produtores.” Esse contexto do Cerrado também comtemplou Minas Gerais,

como a região do Triângulo Mineiro, na qual se localiza a microrregião de Frutal (MG).

Toda modernização do campo, por meio dos incentivos financeiros

governamentais, pela avanço no maquinário, pelo desenvolvimento de sementes e adubos

mais eficientes, levam os setores agroquímico, laboratorial e de manutenção a uma

ascensão. Assim, a cidade comporta todos esses equipamentos e serviços especializados

destinados especificamente a atender as demandas rurais. Dessa forma, entender as

principais atividades do campo dos municípios da microrregião estudada e sua

potencialidade, permitirá compreender o papel de cada ramo nas cidades.

Avaliando as lavouras permanentes e temporárias, em 2014, no campo da

microrregião, constata-se que há predominância de dois tipos de plantios: laranja e cana-

de-açúcar (tabela 03), sendo que alguns municípios ainda possuem resquícios da

produção de grãos, como o milho e a soja. Contudo, segundo dados do IBGE, a chegada

da cana-de-açúcar a partir de 1980 reduziu significativamente o plantio de soja, milho e

arroz, diminuindo uma produção que chegava a 60 mil toneladas à 2 mil em determinados

municípios.

Tabela 02– Microrregião de Frutal: principais lavouras (2014)

Municípios Lavoura Permanente Lavoura Temporária

Campina Verde Laranja Cana, milho e soja

Carneirinho Palmito Cana e milho

Comendador Gomes Laranja Abacaxi, cana e milho

Fronteira Laranja Abacaxi, cana e milho

Frutal Laranja Abacaxi, cana e milho

Itapagipe Laranja Abacaxi, cana e milho

Iturama Borracha Cana e milho

Limeira do Oeste Banana e Borracha Cana e milho

Pirajuba Borracha Cana e milho

Planura Laranja Cana e milho

São Francisco de Sales Laranja Cana e mandioca

União de Minas Borracha Cana e milho Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal, 2014. Organização: Letícia Parreira Oliveira (2015).

O estado mineiro é o terceiro maior produtor de laranja no Brasil, com 816.875

toneladas colhidas, ficando atrás de São Paulo, com 14.269.383 toneladas, e da Bahia

(BA), com 987.813 toneladas (IBGE, 2010b). O Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (MG)

é a mesorregião com a maior produção no estado, com 650.357 toneladas (IBGE, 2010b).

A microrregião de Frutal (MG) é a que apresenta os maiores números de produção

de laranja na mesorregião geográfica, chegando a 2012 com 470.000 toneladas colhidas,

sendo Uberlândia (MG) a segunda maior produtora, com 98.625 toneladas (IBGE, 2012).

Até 2012, o municipio de Frutal (MG) apresentava o maior índice de colheita dessa

monocultura, com 243.000 toneladas, seguido de Comendador Gomes (MG), com

200.200 toneladas (IBGE, 2012). Os dois municípios são responsáveis por

aproximadamente 68,14% da produção de laranja no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba

(MG).

Quando analisada toda microrregião, Frutal (MG) apresenta 12,65% de sua área

destinada ao plantio de cana-de-açúcar, ao passo que Pirajuba (MG), Fronteira (MG),

Planura (MG) e Iturama (MG) apresentam as maiores porcentagens de hectares com o

planio dessa monocultura.

Tabela 03 – Microrregião de Frutal (MG): área plantada de cana-de-açúcar (2010)

Município Extensão Territorial (ha) Área Plantada (ha) Área Plantada (%)

Campina Verde 365074,9 9.520 2,61

Carneirinho 206331,5 7.000 3,39

Comendador Gomes 104104,7 1.000 0,96

Fronteira 19998,7 5.290 26,45

Frutal 242696,5 30.689 12,65

Itapagipe 180243,6 9.000 4,99

Iturama 140466,3 30.900 22,00

Limeira do Oeste 131903,6 18.000 13,65

Pirajuba 33798 14.000 41,42

Planura 31752 7.500 23,62

São Francisco de Sales 112886,4 12.000 10,63

União de Minas 114740,7 16.000 13,94

Fonte: Fonte: IBGE, Produção da Agrícola Municipal 2010. Organização: Letícia Parreira Oliveira,

2014.

Essa tabela apresenta que os municípios com presença de usinas sucroenergéticas

possuem maior porcentagem da sua extensão territorial destinada ao cultivo da cana-de-

açúcar. No caso de Fronteira (MG), existe a Destilaria Rio Grande S/A com enfoque de

produção no etanol hidratado que tem como destinos tanto o mercado nacional, quanto o

internacional. Já o município de Frutal (MG) possui duas usinas: Usina de Álcool e

Açúcar Frutal e Usina Cerradão. Segundo Oliveira (2015)

A Usina de Frutal pertence ao Grupo Bunge2 e iniciou sua produção em 2007.

Já a Usina Cerradão, instalou-se em Frutal (MG) no ano de 2009 por meio de

intervenções e projetos realizados pelos Grupos Queiroz de Queiroz3 e

Pitangueiras. (OLIVEIRA, 2015, p. 68-69).

No município de Iturama (MG) está instalada a filial da usina Coruripe, a qual se

destaca em termos de produção de cana no ranking do estado mineiro em terceiro lugar

com 3,2 toneladas na safra 2007/2008. (CARVALHO, 2009). Já Pirajuba (MG) possui a

usina Santo Ângelo LTDA e acaba por atender outras como, por exemplo as de Frutal

(MG), devido à proximidade territorial o que justifica os 41, 42% de sua extensão

municipal ser destinada ao plantio da cana-de-açúcar, conforme mostra a tabela 04.

Planura (MG) não possui usina instalada em seu município. Apesar disso, sua

localização é determinante para o plantio dessa monocultura, uma vez que ela se encontra

entre os Frutal (MG) e Pirajuba (MG), na microrregião de Frutal (MG), e Conceição de

Alagoas (MG), na microrregião de Uberaba (MG), que possui a usina Delta, uma das

maiores em produção do centro-sul.

Carneirinho (MG) também possui uma usina sucroenergética desde 2008 do grupo

Tercio Wanderley e se vinculou a usina Coruripe em 2012. O município de União de

Minas (MG) apresenta uma usina de processamento da cana-de-açúcar instalada desde

2008, que também é do grupo Tercio Wanderley (Reis, 2013).

2 Empresa norte-americana ligada à produção de alimentos, à bioenergia e ao agronegócio. Para mais

esclarecimentos, acessar: www.bunge.com.br 3 O Grupo Queiroz de Queiroz exerce atividades há mais de 200 anos na região do Triângulo Mineiro (MG)

e trabalha diretamente com armazenamento, bem como com as atividades agrícolas e pecuárias, com foco

na cana-de-açúcar, soja, sorgo e milho, além do confinamento e da pecuária leiteira. Para mais informações,

confira: www.queirozdequeiroz.com.br

Apesar de não serem destaques na porcentagem de território destinado ao cultivo

da cana-de-açúcar, os municípios de Itapagipe (MG) e Limeira do Oeste (MG) possuem

usinas sucroenergéticas instaladas no seu território. No primeiro está a filial da Bunge,

uma das maiores processadoras de cana do Brasil e, no segundo, outra filial da usina

Coruripe.

Desse modo, pode-se constatar a interferências das atividades do agronegócio nas

economias municipais. Em quatro desses - Comendador Gomes (MG), Limeira do Oeste

(MG), São Francisco de Sales (MG) e União de Minas (MG) – os maiores valores do PIB

são responsáveis pela agropecuária.

Já no setor industrial, os destaques são Comendador Gomes (MG), Fronteira

(MG), Iturama (MG), Pirajuba (MG) e Planura (MG). A presença do setor do agronegócio

da cana-de-açúcar está diretamente relacionado a determinação desses valores (gráfico

01).

Gráfico 01 – Microrregião de Frutal (MG): PIB Municipal (2011)

Fonte: Fonte: IBGE, Produto Interno Bruto 2011. Organização: Letícia Parreira Oliveira, 2015.

A imponência do setor industrial em Fronteira (MG) também justifica-se devido

a presença das agroindústrias em relação, sobretudo, à demanda populacional. O

município de Frutal (MG), tem maior desenvolvimento da disponibilização de serviços

que é explicado pela maior presença de comércios que atendem as atividades

desenvolvidas no campo, assim como a destinada ao setor da saúde e de lazer, com lojas,

bares, hospitais e clínicas que atendem um público municipal e das cidades de sua

hinterlândia.

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

Agropecuária Indústria Serviços

Nesse contexto, Iturama (MG) apresenta o maior valor do PIB na indústria em

relação as atividades desenvolvidas no município. O setor sucroenergético tem elevada

porcentagem de responsabilidade nesses dados. Contudo, existem outras indústrias

importantes que incentivam tais resultados e, uma delas é o Frigorífico JBS Friboi, sendo

que em Iturama (MG), o seu papel é o de processar e distribuir as carnes. Os dados de

número de estabelecimentos comerciais e total de pessoas ocupadas por área de atuação

também identificam a relação das atividades desenvolvidas no campo com as das cidades

da microrregião estudada. Para Elias (2011)

As novas relações entre a cidade e o campo, impostas pela agricultura científica

e pelo agronegócio, representam um papel fundamental para a expansão da

urbanização e para o crescimento das cidades locais e médias, fortalecendo-as,

seja em termos demográficos ou econômicos (ELIAS, 2005, p. 4479).

Esse fator determina a relação intrínseca cidade-campo, identificando,

especialmente, que o agronegócio determina atividades de comércio e serviços nas

cidades elencando novas lojas e novos postos de empregos. Elias (2011) compreende que

A ressignificação do campo foi possibilitada pelas modernas técnicas de

produção, que conferem uma maior eficiência à atividade agrícola, pois

aumentam a escala de produção e, em contrapartida, reduzem o seu tempo,

modificando a organização social, que passa a ser determinada pela

racionalidade industrial e possibilita a maior presença de relações capitalistas

no campo (ARAÚJO, SOARES, 2009, p. 212).

Os dados do censo demográfico de 2010 do IBGE, mostram que em 5 municípios

– Fronteira (MG), Frutal (MG), Iturama (MG), Pirajuba (MG) e Planura (MG) - da

microrregião de Frutal (MG) os estabelecimentos agropecuários não são os

predominantes como nas demais cidades. As maiores distinções são em Frutal (MG), que

possui 1543 agropecuários e 2646 estabelecimentos com outras funções e, Iturama (MG)

com 614 e 1814 unidades respectivamente. Os demais municípios possuem o total de

estabelecimentos agropecuários superior a todos os demais selecionados na cidade.

Itapagipe (MG) é a segunda maior em número de unidades desse setor, com 1017

estabelecimentos, ficando atrás apenas de Frutal (MG) (IBGE, 2010).

O total de pessoas ocupadas por setores da econômica permeiam os já

mencionados. Iturama (MG) e Limeira do Oeste (MG) possuem mais trabalhadores no

ramo da indústria e transformação – 3517 e 700 pessoas respectivamente - do que nas

atividades do campo – 2014 e 581 pessoas. As demais cidades possuem maior

porcentagem da população ocupada nos setores a agricultura, pecuária e pesca, sendo os

maiores em Frutal (MG) - com 4885 - Campina Verde - com 2598 - Itapagipe (MG) –

com 2166 – e Iturama (MG) – com 2041 pessoas (IBGE, 2010).

Dessa maneira, pode-se constatar que as atividades agrícolas são diretamente

responsáveis pela dinâmica dos setores da indústria e de comércio e serviços presentes na

cidade. O papel do agronegócio, especificamente da cana-de-açúcar, é importante para as

econômicas municipais. Assim, as cidades acabam por serem impactadas por todo esse

processo e também estão a mercê dessas atividades, uma vez que todas são de pequeno

porte e praticamente não possuem outras indústrias e setores que as permitam ascender

economicamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todo o contexto da agricultura na microrregião de Frutal (MG) é determinante

para entender o papel das cidades na rede urbana, assim como para a delimitação das

atividades econômicas desenvolvidas nas áreas centrais municipais.

Os dados levantando permitem visualizar a posição e o desenvolvimento de cada

setor da economia em cada municípios, elencando a necessidade de análise de outros

ramos, como o da pecuária. O papel de cada um na microrregião foi constatado e ao

entrelaça-los com os valores populacionais é possível entender, de forma inicial, em qual

segmento econômico cada cidade está vinculada.

REFERÊNCIAS

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Janeiro, 1977.

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BEZZI, Meri lourdes. Região: uma (re)visão historiográfica – da gênese aos novos

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CORRÊA, R. L. As pequenas cidades na confluência do urbano e do rural. Geousp, São

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Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia,

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