o papel da comunicaÇÃo interna na mediaÇÃo das relaÇÕes interpessoais nas organizaÇÕes
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O PAPEL DA COMUNICAÇÃO INTERNA NA MEDIAÇÃO DAS RELAÇÕES
INTERPESSOAIS NAS ORGANIZAÇÕES
Évelim Wroblewski1
RESUMO
A sociedade em rede de Castells se faz presente em nosso dia a dia, transformando nossos relacionamentos pessoais em relacionamentos virtuais, relegando a segundo plano a essência do ser humano, a interação. Diante desta nova perspectiva que se configura, este artigo analisa os impactos causados pelas tecnologias da comunicação e informação nos relacionamentos interpessoais dentro das organizações, bem como o papel da comunicação interna como agente transformador dessas relações.
Palavras-chave: comunicação interna, relações interpessoais, organizações.
RESUMEN
La sociedad en red de Castells se hace presente en nuestro cotidiano, transformando nuestras relaciones personales en relaciones virtuales, relegando a según plan la esencia de los seres humanos, la interacción. Delante de esta nueva perspectiva que se presenta, esto artículo hace una análisis de los impactos causados por las tecnologías de la comunicación y de la información en las relaciones interpersonales en las organizaciones, así como el papel de la comunicación interna como agente transformador de estas relaciones.
Palabras-llave: comunicación interna, relaciones interpersonales, organizaciones.
1 Évelim Wroblewski, Mestranda em Direção de Comunicação Corporativa, Universidade de Barcelona, [email protected].
INTRODUÇÃO
A propagação das tecnologias da informação e da comunicação vem possibilitando a
interligação entre pessoas, grupos e organizações, transformando a sociedade em uma rede de
relacionamentos que cresce progressivamente. Essa rede de relacionamentos, caracterizada
pela mediação tecnológica, está, entretanto, cada vez mais desprovida de sentimentos e
emoções, provocando um desconhecimento generalizado das relações humanas e suas
subjetividades.
Neste novo cenário que se configura, percebemos a emergência em nos voltarmos para
as necessidades subjetivas das pessoas que, diante de um mercado altamente competitivo e
movido pela utilização de ferramentas tecnológicas e digitais, vem relegando à margem de
nossas preocupações o contato humano.
Por isso, premente deve ser a discussão sobre os impactos da utilização de tecnologias
sobre seus usuários, ou seja, os trabalhadores. Quais os reflexos do uso sistêmico de
tecnologias nas relações interpessoais nas organizações? Como a Comunicação
Organizacional, representada nesta situação por sua ferramenta de comunicação com os
públicos internos – a Comunicação Interna – pode levar a um equilíbrio entre relacionamentos
virtuais e pessoais?
1 ORGANIZAÇÃO, CULTURA E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL
1.1 Organização
Desde o início da civilização os agrupamentos humanos são formados a partir da
necessidade intrínseca de promover o bem-estar dos indivíduos próximos, seja por meio de
ações de cunho social, econômico ou ideológico. Esta reunião de indivíduos por um objetivo
em comum requer que os membros do grupo possuam certas afinidades, como as mesmas
crenças e valores, favorecendo assim que todos trabalhem em prol do objetivo final, comum a
todos.
A essa estrutura podemos chamar “organização”, definida por Kunsch (2003, p. 25)
como “as mais diversas modalidades de agrupamentos de pessoas que se associam
intencionalmente para trabalhar, desempenhar funções e atingir objetivos comuns, com vistas
em satisfazer alguma necessidade da sociedade” e por Berlo (2003, p. 142) como
“consequências da necessidade que o homem tem de relacionar seu comportamento com o
comportamento dos outros, a fim de realizar seus objetivos”.
Por sua natureza relacional, é a comunicação fator preponderante na formação das
organizações, já que, responsável pela interação entre indivíduos, ela se torna o cerne de
qualquer empreendimento que envolva agrupamentos de pessoas. Como tecido resultante
deste relacionamento, encontramos a cultura organizacional, expressão das significações
construídas ao longo do tempo, as quais regem, mesmo que subjetivamente, as condutas de
todos os envolvidos no contexto organizacional.
Diante disso, sabedores do conceito de organização e dos fatores que a influenciam e
por ela são influenciados – pessoas, relacionamentos e cultura organizacional – faz-se
necessário então definir tais tópicos e qual sua interdependência.
1.2 Cultura e Cultura Organizacional
Sendo o resultado de construções sociais, psicológicas e antropológicas, a cultura
provém da interação entre os membros de uma sociedade, do relacionamento do
comportamento de um com o comportamento dos demais e da concordância de todos sobre
aspectos que influenciam na vida do grupo. Mais do que o reflexo de ações aprendidas, a
cultura é a expressão de um povo, sua marca no tempo.
Por se tratar de um conhecimento consolidado ao longo do tempo, a cultura pressupõe
uma forte afinidade entre as partes, uma ligação que vai muito além do repasse de histórias.
Ela é a essência de um povo, um acordo formalizado e corroborado por todos que conviveram
e convivem nela. Esse acordo é travado por meio da linguagem, na construção de significados
que são partilhados pelos membros do grupo, pois, como afirma Marchiori, “(...) a cultura é
construída, mantida e reproduzida pelas pessoas, pois são elas – e não um autônomo processo
de socialização, ritos, práticas sociais – que criam significados e entendimentos.” (2006b, p.
79).
Como numa sociedade tribal, nas organizações, os valores e as regras são repassados
por aqueles que já internalizaram tais preceitos, formalizando a continuidade dos mitos e
tradições que se fundiram à imagem da organização. A partir de então, a cultura
organizacional passa a ser constantemente moldada e remoldada por aqueles que a integram,
ou seja, as pessoas que nela trabalham. Assim,
“cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação a esses problemas.” (SCHEIN, apud FLEURY, 1989, p. 20).
Como fruto da interação humana existente na organização, a cultura organizacional
pressupõe um elo entre as pessoas que a integram: a comunicação. É através da comunicação,
da criação de significados comuns, que as pessoas interagem, moldam, criam e recriam as
normas nas organizações; é por intermédio dela que a interação, a integração e a confluência
de ideias se torna possível, por isso, “(...) dificilmente culturas são planejadas ou presumíveis,
elas são produtos naturais da interação social e têm na comunicação sua formação.”
(MARCHIORI, 2006b, p. 83)
1.3 Comunicação e Comunicação Organizacional
Mais do que uma ferramenta de troca de informações, a comunicação é o meio que
possibilita ao ser humano viver em comunidade, aprender e repassar conhecimento ao longo
da história. A transmissão de conhecimento não depende apenas do ato de comunicar, leva em
consideração o contexto em que as pessoas estão inseridas, os códigos partilhados por todos, a
disposição de quem repassa e de quem recebe a comunicação, bem como o canal pelo qual a
comunicação é repassada.
Para Davis e Newstrom
“comunicação é a transferência de informação e compreensão de uma pessoa para outra. É uma forma de atingir os outros com ideias, fatos, pensamentos, sentimentos e valores. Ela é uma ponte de sentido entre as pessoas, de tal forma que elas podem compartilhar aquilo que sentem e sabem. Utilizando esta ponte, uma pessoa pode cruzar com segurança o rio de mal-entendidos que muitas vezes as separa”. (1996, apud Kunsch, 2003, p. 161).
Essa troca de experiências e de ideias promovida pela comunicação é que viabiliza a
existência das organizações, pois é a partir da interação que se descobrem afinidades e
objetivos em comum, formando-se grupos que visam a um mesmo fim.
No âmbito organizacional, quando tratamos do ato de comunicar, costumamos nomeá-
lo Comunicação Organizacional, Empresarial ou Corporativa. Entretanto, por entendermos
que o termo Comunicação Organizacional possui maior abrangência quando se trata do mix de
comunicação voltado para os stakeholders das organizações, este será o termo utilizado ao
longo deste trabalho, pois, como afirma Kunsch,
“fenômeno inerente aos agrupamentos de pessoas que integram uma organização ou a ela se liga, a Comunicação Organizacional configura as diferentes modalidades comunicacionais que permeiam sua atividade. Compreende, dessa forma, a Comunicação Institucional, a Comunicação Mercadológica, a Comunicação Interna e a Comunicação Administrativa”. (2003, p. 149).
Por Comunicação Institucional, entende-se a comunicação voltada para o lado público
das organizações, ou seja, sua imagem e identidade. Comunicação Mercadológica, como o
próprio nome sugere, é a comunicação de marketing, voltada para a promoção da empresa e
de seus produtos. A Comunicação Administrativa constitui-se da comunicação viabilizada
pelos documentos internos da organização, com o objetivo de fazer com que os processos
administrativos transcorram sem muitos ruídos nas informações. Por fim, a Comunicação
Interna é a ferramenta de Comunicação Organizacional responsável pela comunicação entre
os interlocutores internos da organização, ou seja, os funcionários. É ela que alimenta a
comunicação formal e informal nas organizações, que “humaniza as relações entre
indivíduos” (MARCHIORI, 2006b, p. 218).
O caráter multidisciplinar conferido à Comunicação Organizacional depreende-se da
função conciliadora entre todas as atividades de comunicação desempenhadas por uma
organização e seus diversos setores, por isso a segmentação da comunicação em áreas
específicas – institucional, mercadológica, administrativa e interna – se justifica apenas para
fins de conceituação, uma vez que, como afirma Bueno (2003, p. 4-5), as atividades de
comunicação estão umbilicalmente interligadas, caminhando para o que podemos chamar de
comunicação integrada.
2 COMUNICAÇÃO INTERNA E MEDIAÇÃO DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
NAS ORGANIZAÇÕES
A Comunicação Interna pode ser compreendida como um conjunto de estratégias da
Comunicação Organizacional destinadas ao público interno das organizações, tendo suas
especificidades demarcadas pelas características dos públicos a que se destina, ou seja, ela
está diretamente relacionada à cultura organizacional e também às políticas gerenciais de cada
organização, bem como aos aspectos subjetivos das pessoas que a ela se ligam. É ela a
responsável pela manutenção dos relacionamentos interpessoais dentro das organizações, pois
suas atribuições perpassam pela promoção da interação social entre os atores organizacionais,
além de fomentar um ambiente agradável e de troca de conhecimentos. Nesse sentido,
“A qualidade da comunicação interna passa pela disposição da direção em abrir as informações; pela autenticidade, usando-se a verdade como princípio; pela implantação de uma gestão participativa, capaz de propiciar oportunidade para mudanças culturais necessárias; pela utilização de novas tecnologias; e por um gerenciamento feito por pessoas especializadas e competentes, que ensejem efetivamente uma comunicação simétrica de duas mãos em benefício da organização e de seus colaboradores.” (KUNSCH, 1997b, p. 130).
Depreendemos da afirmação de Kunsch que, para que haja uma comunicação efetiva e
de mão dupla, a qual considere o feedback uma peça importante para o desenvolvimento da
organização, é necessário que a gestão da organização esteja voltada para o elemento humano
e sua valorização.
O foco no desenvolvimento humano pode se dar de várias formas, entretanto, a
Comunicação Interna é o meio pelo qual se pode dar maior ênfase a esse aspecto dentro das
organizações, uma vez que ela é a propagadora das atividades sociais que são realizadas neste
ambiente, assim como se constitui no elemento que molda a cultura da organização.
É preciso ressaltar ainda que a comunicação nas organizações não ocorre apenas pelas
vias formais – reuniões, memorandos, intranet, etc. – ela também ocorre por vias informais,
ou seja, aquelas que não são estabelecidas pela organização. A comunicação informal, aquela
praticada fora das vias consideradas lícitas pela organização, é também de extrema
importância para que se construa um ambiente de verdadeira interação entre as pessoas. Além
de promover um ambiente saudável e de criação de valor para os funcionários, as
organizações devem perceber que estes podem e devem ser informados a respeito da atividade
da organização, bem como de seus objetivos e metas financeiras e mercadológicas. Dessa
forma, cientes da visão da empresa e qual seu papel para alcançar as metas estipuladas, os
trabalhadores sentir-se-ão parte do todo e criarão mutuamente um sentimento de
responsabilidade para com a organização e seus colegas, promovendo uma comunicação
verdadeiramente transparente e democrática. Entretanto, tal prática não se concretiza na
maioria das organizações, nas quais a Comunicação Interna é vista como uma despesa a ser
cortada. Com o foco voltado para o mercado, as organizações investem muito na comunicação
externa visando atrair o público consumidor e esquecem-se do público número um, aquele
que, “em princípio, [são] os maiores interessados no sucesso da organização, pois projetam
nela suas expectativas de crescimento pessoal e profissional.” (BUENO, 2005, p. 32)
Havendo estímulo para que as pessoas interajam, a comunicação com certeza fluirá de
maneira clara e segura. Entretanto, esse aspecto da comunicação – a interação entre os
envolvidos – depende também dos fluxos de comunicação exercidos pela organização. Neste
âmbito, as tecnologias da informação e da comunicação exercem grande influência, pois são
elas que atualmente intermedeiam as comunicações interpessoais. É por meio delas que nos
comunicamos com nossos clientes, amigos, colegas de trabalho e familiares.
Indispensável se faz, então, discutir sobre como essas tecnologias influenciam nossas
vidas dentro das organizações e como a Comunicação Interna, como instrumento de mediação
dos relacionamentos interpessoais, pode contribuir para que nossos relacionamentos não se
tornem estritamente virtuais. Sobre esse tema, discorreremos a seguir.
3 ORGANIZAÇÃO VIRTUAL E COMUNICAÇÃO INTERNA – A CONSTRUÇÃO
DE UM NOVO CENÁRIO
A grande transformação sofrida pelos trabalhadores durante a Revolução Industrial
não se deu somente no exercício do trabalho, mas sim, e principalmente, na nova forma de
relacionamento que se desenvolveu entre eles, passando de uma economia familiar para uma
relação profissional, de patrão e empregado, contudo sem alterar os moldes da hierarquia,
onde o centro de poder continuava na figura do chefe, assim como o poder de decisão sobre a
atividade industrial em si.
Somente em meados da década de 1950 é que os três principais alicerces das
organizações passaram a ser discutidos por estudiosos – gestão de pessoas, cultura
organizacional e comunicação – contribuindo assim para a compreensão na nova revolução
que se configurava: a Revolução Informacional.
Por Revolução Informacional podemos compreender o conjunto de instrumentos –
informática, automação, telecomunicações, etc. – que possibilitam a armazenagem e a difusão
de uma grande massa de informações a públicos anteriormente excluídos da sociedade
intelectual (LOJKINE, 2002, p. 15).
Para Castells (1999), o termo informacional está estreitamente ligado à formação e à
disseminação de conhecimento. Sendo o conhecimento o elemento chave da nova realidade
que se configura e as tecnologias da comunicação e da informação os meios pelos quais esse
conhecimento se dissemina, torna-se válido considerar que, nas palavras de Srour (2005), a
Revolução Informacional é também Digital, uma vez que essas tecnologias “é que têm
dominado o mercado”. Para o autor, a Revolução Digital se mostra como uma terceira
Revolução Tecnológica, na qual a informatização dos processos delineia uma nova realidade
para os indivíduos, a do trabalho mental.
Constrói-se assim um novo panorama organizacional, baseado na utilização de
tecnologias que visam a suprir a dinâmica flexível que a economia globalizada exige. Tanto a
execução de tarefas quanto o ato de criar, modelar e reestruturar processos agora perpassa,
indiscutivelmente, pelas tecnologias da informação e da comunicação, levando as
organizações à virtualização tanto do trabalho quanto dos relacionamentos.
A virtualização das organizações é a utilização desenfreada de tecnologias da
informação e da comunicação, entre outras, que, além de auxiliar as pessoas a executarem
suas atividades no ambiente de trabalho, relegam, por sua natureza digital, os relacionamentos
interpessoais a segundo plano, tornando os indivíduos seres reclusos num mundo considerado
globalizado.
Castells (1999) afirma que a informação é a matéria-prima deste novo cenário
econômico e social que se configura, tendo como efeito a modelagem de nossa existência
individual e coletiva pelas tecnologias da informação. E complementa: enquanto a tecnologia
da informação caminha para uma rede global de comunidades virtuais, a tendência social e
política vai em direção da construção de identidades primárias e da busca por significado e
espiritualidade. (CASTELLS, 1999). Essa busca por significação encontra raízes no
desmoronamento do sentimento de segurança que se tinha ao tratar da figura do Estado e de
outras instituições que hoje se encontram à mercê do abandono, como a religião e a família.
Em lugar das instituições consideradas de apoio à espiritualidade e à subjetividade do
indivíduo, as organizações tornaram-se o alicerce de que as pessoas precisavam para edificar
suas crenças e expectativas.
Cada vez mais harmonizado com o ambiente virtual e a desnecessidade de se deslocar
para estabelecer contato com outra pessoa, o indivíduo organizacional vem se tornando um
ser recluso, mantenedor de relações superficiais, as quais, mediadas pelas tecnologias da
informação e da comunicação, concorrem com a natureza humana que, primordialmente,
esteve enraizada na interação entre indivíduos.
“O ciberespaço proporciona uma conectividade e uma vivência coletiva sem precedentes, porém desprovida de aprendizado afetivo, emocional e de percepção do outro. Em um mesmo momento em que as TI’s tendem a diminuir as barreiras comunicacionais dentro do ambiente organizacional, podemos encontrar um outro tipo de barreira que é justamente aquela do não conhecimento do outro, o não saber perceber e o não saber interpretar seus gestos, expressões e emoções”. (SANCHEZ, 2006, p. 188).
Depreendemos, dessa forma, que estamos conectados à coletividade e, ao mesmo
tempo, isolados do afeto e do contato humano. Apegamo-nos a aparências construídas,
motivadas pela agilidade da informação e colocamos à margem de nossas atenções o que
temos de mais importante: o relacionamento com o próximo. A interação pessoal deixou de
ser o elemento básico do convívio humano, tornando os indivíduos, mais uma vez, um
apêndice das máquinas.
O processo comunicacional se volta para os modelos clássicos das teorias da
comunicação, em que o contexto no qual os indivíduos em interação estão imersos não é
considerado, formalizando então a comunicação como mero processo de transmissão de
dados. Sabedores de que estes modelos há muito já não se aplicam, como então estabelecer
um equilíbrio entre o lado humano e o tecnológico das organizações, a fim de que ambos
caminhem lado a lado na busca pelo desenvolvimento e pela obtenção de resultados?
Por meio de uma Comunicação Interna clara e objetiva, sem entraves para o
relacionamento interpessoal, é possível resgatar o convívio entre as pessoas, a troca de ideias
e experiências, sem que se descarte o uso das ferramentas tecnológicas que estão a nosso
dispor.
3.1 O papel da comunicação interna na construção de um novo cenário organizacional
“(...) a Comunicação Interna tem uma função importante no sentido de fazer circular as informações novas, promover a interação entre os vários segmentos da organização e, sobretudo, capacitar os funcionários para os novos desafios.” (BUENO, 2005, p. 33).
Responsável pela disseminação de conhecimento e informação, a Comunicação
Interna, mais do que manter os funcionários informados a respeito de suas atividades e
resultados, tem por objetivo preparar estes para as constantes mudanças exigidas pelo
mercado. Essas mudanças são fruto de uma dinâmica flexível e veloz, provocada pelos
constantes avanços tecnológicos e também pela competitividade acirrada que hoje as
organizações vivem.
Como a matéria-prima deste novo cenário é a informação, importante se faz, então,
disseminar entre os trabalhadores a relevância da utilização das tecnologias da informação e
da comunicação, mas, também, do contato interpessoal com os demais colegas. A junção
destes dois fatores – criatividade humana e tecnologia – pode ser iniciado com encontros
presenciais para discutir o avanço tecnológico e os impactos causados nas organizações, pois,
assim, os próprios envolvidos poderão levantar suas dificuldades perante as novas ferramentas
disponíveis para o desenvolvimento de seu trabalho. Com essa ação, não só a comunicação
formal, mas também a informal – aquela que ocorre por vias não padronizadas pela
organização – será estimulada, tornando o ambiente mais agradável e próximo ao cotidiano
das pessoas. Além disso, estimulada a comunicação e a troca de experiências, o aprendizado
se torna mais fácil, levando a organização a estabelecer uma cultura de aprendizagem mútua.
Construindo uma relação de troca, a organização, como fator desencadeador de
oportunidades para os trabalhadores, deve considerar as necessidades subjetivas destes –
expectativas, anseios, medos, etc –, alimentando-os com informações e feedbacks periódicos
sobre o desempenho de suas atividades. Esta é também uma tarefa da Comunicação Interna
que, como promotora dos relacionamentos interpessoais, deve fornecer subsídios para que os
trabalhadores estejam cientes de suas atribuições e resultados dentro da organização. Tais
subsídios devem estar intrínsecos na cultura da organização, mas também devem ser
lembrados constantemente por meio de uma Comunicação Interna que privilegie as demandas
não só da organização como também de seus funcionários. Dessa forma, é possível
desenvolver ferramentas ligadas à comunicação que auxiliem os trabalhadores em seus
empreendimentos tanto profissionais quanto pessoais.
Para tornar essas premissas realidade, há que se trabalhar a Comunicação Interna
como “atividade-meio” da interação pessoal, ou seja, trazer à tona sua natureza de construtora
das relações interpessoais nas organizações. Nessa perspectiva, podemos considerar como
meios para a superação desse desafio a promoção de “(...) espaços de interação democráticos,
verdadeiramente participativos, onde a divergência com responsabilidade seja estimulada.”
(BUENO, 2005, p. 24). Esses espaços não necessitam ser somente físicos, como salas de
reunião ou afins, podem também assumir o caráter tecnológico das salas de “bate-papo” ou as
conferências via mensagens instantâneas, contanto que promovam efetivamente o
relacionamento entre as pessoas, não havendo uso exclusivo de uma ou de outra ferramenta,
uma vez que “(...) a comunicação envolve uma interdependência física, isto é, fonte e receptor
são conceitos diádicos, cada qual exige o outro pela própria definição, cada qual precisa do
outro para a própria existência” (Berlo, 2003, p. 134).
A facilidade promovida pelas tecnologias da informação e da comunicação estão
estreitamente ligadas à Internet que, ao possibilitar o contato com pessoas, organizações,
conteúdos, informações, conhecimento, etc., constrói uma rede de relacionamentos que se
multiplica a cada instante, formando assim a sociedade em rede de Castells.
Para Torquato (2004), as ferramentas internas de comunicação devem passar por uma
reformulação, ajustando o conteúdo das mesmas às expectativas dos trabalhadores. Para ele, a
Comunicação Interna deve contemplar assuntos que digam respeito ao cotidiano das pessoas
que fazem parte da organização, como motivação, orientação profissional, educação,
associativismo, entretenimento, etc. O autor ainda considera que as atividades voltadas ao
contato humano devem ser melhor difundidas, visando, assim, a uma conscientização maior
sobre a importância de se conhecer uns aos outros. Essas atividades, segundo Torquato
(2004), perpassam por campanhas para mudança de padrões culturais, de prevenção de
acidentes, de integração entre departamentos, de competitividade, de aperfeiçoamento
profissional e de criatividade.
Mudanças como as propostas por Torquato (2004) afetam diretamente a cultura da
organização, por isso o autor considera que esta deva ser uma das atividades trabalhadas pela
Comunicação Interna. O maior impacto dessas mudanças recai sobre o relacionamento
humano que, mesmo dentro das organizações, influencia e é influenciado pelos valores que
cada funcionário tem como seus fora do ambiente de trabalho, tornando assim o contato com
o outro algo de extrema importância para que se edifiquem valores semelhantes dentro da
organização. Esta última depende da construção de significados partilhados por todos que a
integram para que sua cultura seja consolidada. Dessa forma, a compreensão mútua deve se
fazer presente em todas as relações estabelecidas, sejam elas interpessoais ou virtuais.
Trabalhamos, vivemos, conversamos e trocamos experiências por meio da
comunicação, por isso,
“Comunicação e relacionamento são dois conceitos interdependentes. Necessitamos e precisamos nos relacionar com nossos familiares, amigos, parceiros de trabalho, clientes e, principalmente, com nós mesmos. É através das relações humanas que emergem a consciência, o conhecimento, a sabedoria, a linguagem e todas as formas mais elaboradas do uso da criatividade e da produção humanas(...). Tudo isso é resultado da transformação incessante que se produz no contato do homem com seu eu, com os outros e com o mundo.” (Matos, 2006, p. 116).
Além do contato consigo próprio, com os outros e com o mundo, como afirma Matos
(2006), relacionamo-nos com a tecnologia, com as ferramentas provindas dela; logo, na
construção de um novo cenário organizacional, em que as pessoas tenham mais uma vez lugar
de destaque, precisamos aliar esses adventos tecnológicos à nossa natureza primordial, o
relacionamento face a face.
Travamos assim um embate entre os benefícios adquiridos com as inovações
tecnológicas – principalmente as de informação e comunicação – e a necessidade primordial
do ser humano que é a interação. Intrínseco em nós está a imprescindibilidade do contato com
o outro, do falar, do ouvir, de nos envolvermos com nossos semelhantes, por isso o papel da
comunicação se faz tão importante neste novo cenário que se desenha, cheio de desafios
perante uma sociedade basicamente tecnológica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos à conclusão de que no cerne das organizações está a interação pessoal, a
natureza relacional do ser humano, e que este é o caminho para revalorizarmos o elemento
humano como um ser biopsicossocial, que possui suas subjetividades e que estas devem ser
consideradas no ambiente organizacional, para que se estabeleça um novo cenário para as
organizações e seus integrantes.
Compreendemos que não podemos nos abster do contato com as tecnologias que
surgem a cada dia, pois se assim fosse, condenaríamos as organizações, bem como toda a
sociedade, a um retrocesso evolutivo sem precedentes.
Chegamos ao desenho de novas expectativas para os atores organizacionais por meio
de políticas de Comunicação Interna que propiciem tanto o contato humano quanto a
utilização de ferramentas tecnológicas no ambiente das organizações, concluindo, então, que é
preciso estabelecermos uma linha, mesmo que tênue, que separe nossas expectativas pessoais
e profissionais da dependência do uso de ferramentas que foram criadas para auxiliar na
obtenção de nossos desejos e que estabeleça um limite para que não nos tornemos seres
isolados devido à demanda mercadológica a que estamos submetidos.
Entretanto, percebemos que o assunto apresentado não se esgota, devendo ser
trabalhado mais profunda e amplamente, pois a interação humana é algo ainda misterioso para
todos nós. A complexidade dos relacionamentos interpessoais e o impacto que estes sofrem
diante dos avanços tecnológicos sem precedentes são fatores que devem ser melhor
trabalhados nas organizações, uma vez que estas são constituídas por pessoas, as quais, por
sua vez, são dotadas de subjetividades.
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