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4 Teoria e Debate 88 maio/junho 2010 de Lula, 2002 e 2006. Na primeira ele foi eleito pela base tradicional do PT, ampliada. Ou seja, o partido vinha construindo uma base desde 1982 na classe média – se considerarmos que os setores organizados da classe trabalhadora no Brasil fazem parte da classe média. Um metalúrgico é de classe média, o que soa um pouco estranho para quem usa categorias europeias, por exemplo. Trata-se de uma configuração própria do Brasil, um proletariado de classe média. As- sim, o PT constituiu uma base sólida, que foi se ampliando entre os seto- res organizados dos trabalhadores industriais, bancários, funcionários públicos, professores, estudantes. Em 2002, a candidatura Lula fez um movimento de ampliação desse eleitorado e chegou até a conseguir votos de todas as camadas sociais, mas, se olharmos a curva de intenção de votos, veremos que ela cresce com a renda e com a escolaridade, como sempre tinha sido desde 1989, quan- do Lula foi candidato pela primeira vez em uma eleição nacional. Isso me leva a dizer que, em 2002, ele se elege com uma base que é a clássica do PT, ampliada por um movimento de mo- deração em direção ao centro. Já em 2006 Lula se elege com uma base completamente diferente. Perde o eleitorado de classe média que ganha- ra em 2002 – as pesquisas não dizem se os novos eleitores de 2002 foram os que deixaram de votar quatro anos de- André Singer acredita que o PT precisa aproveitar a janela histórica que se abre para organizar e politizar os setores mais populares, que se aproximam do partido. Caso isso aconteça, virá uma grande transformação, ainda maior do que as que estão em curso Por Rose Spina O artigo “Raízes sociais e ideoló- gicas do lulismo”, de André Singer, desde sua publicação na revista No- vos Estudos nº 85, de novembro de 2009, vem sendo tema de debates nos meios acadêmicos e políticos. Nele, o professor do Departamento de Ciên- cia Política da USP e porta-voz da Presidência da República de 2003 a 2007, com base em estudo e pesquisas que mostram o comportamento e a cultura política do eleitorado bra- sileiro, sugere hipóteses para com- preender o realinhamento eleitoral ocorrido em 2006. O subproletariado, que sempre se mantivera distante de Lula, o reelege, ao mesmo tempo em que a classe média dele se afas- ta. Para Singer, os setores de baixa renda, beneficiados pelas ações do primeiro mandato, identificaram-se com o projeto que tinha à frente o presidente Lula – e o lulismo, assim, pode ter fincado raízes duradouras no subproletariado brasileiro. O que pode ser defini- do como lulismo? Estou sugerindo uma hipótese, a ser compro- vada pelo andamento do processo político da eleição de 2010, de que o lulismo vem a ser um realinhamento eleitoral ocorrido entre as eleições de 2002 e 2006, mais precisamente. Tal realinhamento seria a mudança de base eleitoral que se verificou na votação dessas duas candidaturas As raízes do 4-Singer.indd 4 4-Singer.indd 4 6/29/10 11:07 AM 6/29/10 11:07 AM

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de Lula, 2002 e 2006. Na primeira ele foi eleito pela base tradicional do PT, ampliada. Ou seja, o partido vinha construindo uma base desde 1982 na classe média – se considerarmos que os setores organizados da classe trabalhadora no Brasil fazem parte da classe média. Um metalúrgico é de classe média, o que soa um pouco estranho para quem usa categorias europeias, por exemplo. Trata-se de uma confi guração própria do Brasil, um proletariado de classe média. As-sim, o PT constituiu uma base sólida, que foi se ampliando entre os seto-res organizados dos trabalhadores industriais, bancários, funcionários públicos, professores, estudantes.

Em 2002, a candidatura Lula fez um movimento de ampliação desse eleitorado e chegou até a conseguir votos de todas as camadas sociais, mas, se olharmos a curva de intenção de votos, veremos que ela cresce com a renda e com a escolaridade, como sempre tinha sido desde 1989, quan-do Lula foi candidato pela primeira vez em uma eleição nacional. Isso me leva a dizer que, em 2002, ele se elege com uma base que é a clássica do PT, ampliada por um movimento de mo-deração em direção ao centro.

Já em 2006 Lula se elege com uma base completamente diferente. Perde o eleitorado de classe média que ganha-ra em 2002 – as pesquisas não dizem se os novos eleitores de 2002 foram os que deixaram de votar quatro anos de-

André Singer acredita

que o PT precisa

aproveitar a janela

histórica que se abre

para organizar e

politizar os setores

mais populares, que se

aproximam do partido.

Caso isso aconteça,

virá uma grande

transformação, ainda

maior do que as que

estão em curso

Por Rose Spina

O artigo “Raízes sociais e ideoló-gicas do lulismo”, de André Singer, desde sua publicação na revista No-vos Estudos nº 85, de novembro de 2009, vem sendo tema de debates nos meios acadêmicos e políticos. Nele, o professor do Departamento de Ciên-cia Política da USP e porta-voz da Presidência da República de 2003 a 2007, com base em estudo e pesquisas que mostram o comportamento e a cultura política do eleitorado bra-sileiro, sugere hipóteses para com-preender o realinhamento eleitoral ocorrido em 2006. O subproletariado, que sempre se mantivera distante de Lula, o reelege, ao mesmo tempo em que a classe média dele se afas-ta. Para Singer, os setores de baixa renda, benefi ciados pelas ações do primeiro mandato, identifi caram-se com o projeto que tinha à frente o presidente Lula – e o lulismo, assim, pode ter fi ncado raízes duradouras no subproletariado brasileiro.

O que pode ser defi ni-do como lulismo?

Estou sugerindo uma hipótese, a ser compro-

vada pelo andamento do processo político da eleição de 2010, de que o lulismo vem a ser um realinhamento eleitoral ocorrido entre as eleições de 2002 e 2006, mais precisamente. Tal realinhamento seria a mudança de base eleitoral que se verifi cou na votação dessas duas candidaturas

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ENTREVISTA

coração do que chamo de subprole-tariado, usando um conceito que o professor Paul Singer sugeriu ao ana-lisar a estratifi cação social brasileira nos fi ns dos anos 1970 (Dominação e Desigualdade, de Paul Singer. Paz e Terra, 1981).

A integração promovida pelas polí-ticas sociais do governo não é mais frágil do que a promovida por Getú-lio Vargas, por meio da CLT?

Há os que dizem que, diferente-mente do período de Getúlio, não foram conquistados novos direitos. Uma das diferenças é que essas me-didas que mencionei não se confi gu-ram como direito, enquanto a CLT é um conjunto de direitos que foram conquistados pelos trabalhadores urbanos. Uma coisa de extrema im-portância é que todo o meio rural, naquela época muito signifi cativo, fi cou de fora.

Penso que o Bolsa Família, embora tenha sido instituído como um progra-ma, tende a se tornar um direito no Brasil. O governo já anunciou que vai propor a consolidação das leis sociais (CLS), que, com o Bolsa Família e ou-tros programas, será uma espécie de CLT. No caso específi co do Bolsa Famí-lia, seu impacto foi tão profundo que os candidatos majoritários no Brasil, como fi ca evidente na campanha do PSDB, dizem que não só o manterão como também o ampliarão. Eviden-temente já está posto que ninguém mexerá no Bolsa Família. Além disso,

LULISMO

pois, mas houve redução do eleitorado de classe média, quantitativamente equivalente à ampliação que tivera. Então, em 2006 volta aos patamares anteriores, de 1998, mas, em contra-partida, tem a adesão de eleitores de baixíssima renda. Isso é o que eu cha-mo de realinhamento eleitoral. Houve uma troca de bases eleitorais que não é simplesmente um zigue-zague oca-sional, parece ser o fi m de uma época e o início de uma nova.

Por quê?Essa mudança de bases eleitorais

corresponde muito diretamente ao que foi o programa do governo Lula, que pôs de pé um projeto até certo ponto novo. Ele articulou duas coisas que nunca tinham sido articuladas dessa maneira: de um lado, um forte pro-grama de benefícios aos brasileiros de menor renda, que tem a ver com um pacote de medidas que parece ca-minhar na direção de uma mudan-ça estrutural, com formalização do emprego, Bolsa Família, aumento do salário mínimo e expansão do crédito. Essas quatro ações de governo, soma-das, estão provocando uma mudança nas condições de vida de milhões de brasileiros que estavam na base da pirâmide. De outro, promoveu essas mudanças sem ameaça à ordem, sem radicalização e confronto políticos, porque, fundamentalmente, o gover-no decidiu manter certas orientações na conduta macroeconômica no pri-meiro mandato, autonomia do Banco Central, câmbio fl utuante e superávits primários altos.

Essa combinação – mudan-ças importantes e signifi-

cativas e sua promoção sem um processo de

confronto políti-co, que, histori-camente, a es-querda sempre achou que tinha de haver – fala diretamente ao Ce

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é bastante provável que o programa se integre à legislação como um direito, porque marca o piso de renda a que qualquer brasileiro tem direito desde que comprove obter um rendimento aquém do que a sociedade considera aceitável. Tendo a achar que é uma transformação que caminha para ser uma transformação estrutural, como foi a CLT.

Você escreveu em seu artigo que “o lulismo pode ter fi ncado raízes duradouras no subproletariado bra sileiro”. Em que medida? Quão profundas são essas raízes?

Essa é justamente a questão que o tempo terá de dirimir. Minha hipó-tese é de que isso pode ter acontecido porque acho que, de fato – até soa um pouco engraçado, mas vou usar uma expressão que todos andam ouvindo muito –, nunca antes neste país se deu essa combinação. No período de Getú-lio, quando uma série de direitos im-portantes foi fi xada, deixou-se de fora justamente esse setor que está sendo pela primeira vez benefi ciado. Essa é a grande novidade, e há um reconhe-cimento dessa mudança por parte dos que estão sendo contemplados, que se expressa, em primeiro lugar, na reelei-ção do presidente Lula em 2006. Esse foi o setor da sociedade que sustentou a reeleição contra a classe média, que se afastou. Houve um movimento po-lítico. Se dependesse da classe média, observando as curvas de intenção de voto, o presidente eleito seria Alckmin. Em segundo lugar, percebe-se que a

adesão desse setor ao presidente Lula até cresceu durante o segundo manda-to, porque boa parte da aprovação do governo, que é alta, se deve também a isso – não apenas, porque 70%, 80% abarcam outros segmentos –, assim como a ascensão, agora, da ex-ministra Dilma Rousseff . Está claro que esse se-tor demora mais tempo para receber a informação porque está mais distante dos acontecimentos políticos, mas, à medida que se dá conta de que ela é a candidata apoiada pelo presiden-te Lula, declara crescentemente sua intenção de votar nela. Como, aliás, escrevi para a própria Teoria e Debate, no ano passado, que ainda no fi nal do primeiro semestre de 2010 isso iria acontecer. Além do que me parece uma hipótese logicamente plausível, há vários sinais empíricos de que isso está acontecendo.

Você acredita que a opção desse seg-mento se dá por um projeto de país? Não seria um movimento mais prag-mático de fazer valer seus interesses?

Há um substrato ideológico nesse setor da sociedade. Tenho uma visão de ideologia que vai em direção a Gramsci, a ideologia vai permeando a sociedade toda, ainda que fi ltrada por diferentes gramáticas e códigos. O código ideológico pelo qual se ex-pressa uma pessoa de baixa escola-ridade não é o mesmo que o de um estudante universitário. Isso não quer dizer que ele não tenha uma concepção de mundo. As pesquisas a que tive acesso desde a eleição 1989

mostram que esse setor de menor ren-da rejeita o confl ito político. Essa foi a razão, a meu ver, pela qual esse setor nunca votou no PT em massa, pois o partido sempre foi uma proposta explicitamente radical e de confl ito. Nessas pesquisas, a rejeição às greves aumenta com a queda da renda e da escolaridade. Há nesse setor uma hos-tilidade ao confl ito político bastante compreensível, uma vez que é o setor mais vulnerável. Ao mesmo tempo, é preciso tomar muito cuidado ao tratá-lo como conservador, porque ele quer mudanças importantes, quer que o Estado intervenha na economia para promover o que chamamos de distri-buição de renda – pode usar outras palavras, mas sabe o que quer.

O lulismo é um fenômeno novo, não está mobilizando só uma opção pragmática, envolve também aspectos ideológicos importantes. Claro que, se perguntarmos a uma pessoa de baixa escolaridade qual é seu projeto de país, talvez ela diga que não sabe ou então

À MEDIDA QUE O SETOR DE BAIXA RENDA SE DÁ CONTA DE QUE DILMA É A CANDIDATA DO PRESIDENTE LULA, DECLARA CRESCENTEMENTE SUA INTENÇÃO DE VOTAR NELA

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to porque tanto ela quanto o centro viveram muito tempo de mobilizar, pelo medo, esse setor da sociedade ao qual estamos nos referindo. Então, havia o medo da desordem que, nos momentos-chave, como em 1989, era mobilizado para votar contra Lula e o PT. Se minha hipótese do lulismo estiver correta, isso acabou. Então, há o grande desafi o, para a direita e o centro, de reconquistar a viabilidade eleitoral a partir de um outro projeto.

Para a esquerda e, particularmen-te, para o PT, abre-se uma enorme avenida, como nunca antes, que é a aproximação de setores que podemos chamar de populares, que represen-tam cerca de metade da sociedade brasileira, ao partido. Essa é uma possibilidade imensa para o PT, que precisa tomar duas decisões: concen-trar esforços para organizar e politizar esse setor da sociedade e manter um rumo à esquerda. Nessa nova confi -guração, manter-se à esquerda repre-senta um desafi o. Estamos diante de

uma daquelas janelas históricas, que se abrem muito de vez em quando, e o PT precisa aproveitar a oportunidade para politizar e organizar esse setor da sociedade. Se isso acontecer, haverá uma grande transformação, além das que já estão em curso.

Como isso poderia se dar na práti-ca, uma vez que o partido tem em sua trajetória o trabalho com cate-gorias organizadas?

O primeiro caminho é por meio da Escola Nacional de Formação Política. Um aspecto fundamental é dar a esses setores a formação que, por defi nição, não têm, pois nunca mantiveram, por exemplo, contato com a vida sindical. São pessoas que estiveram por muito tempo desempregadas ou em condi-ções de trabalho informal. O segundo caminho é o retorno ao trabalho de base. O momento é extremamente fértil para o contato e a organização dos movimentos nas periferias.

O lulismo parece uma contradição em processo. Por exemplo, se de um lado promove a expansão das universidades federais, de outro cria o ProUni, que, embora importante para jovens de baixa renda, sustenta o ensino privado. Qual sua opinião sobre esse tipo de ambiguidade?

Como o projeto de governo mistura elementos de mudança e de conserva-ção simultaneamente, esse é um bom exemplo, pois há uma expansão do ensino público superior que aponta na direção do programa da esquerda e, ao mesmo tempo, há um programa em parceria com o ensino privado, que se expandiu enormemente no Brasil e acabou por deixar o ensino superior público como ilhas dentro de um universo privado. A privatização da educação vem ocorrendo desde a

responda em termos muito diferentes daqueles que estou expondo, mas acho que acabaríamos por encontrar em sua resposta esse substrato ideológico que o lulismo mobiliza.

Mas esse setor entende perfeita-mente quando Lula diz que o brasi-leiro tem de tomar café da manhã, almoçar e jantar.

O presidente fala diretamente para ele. E entende também quando Lula diz que o governo precisa agir como uma dona de casa, não pode gastar mais do que tem. É uma linguagem bastante compreensível.

Como fi cam os partidos políticos nesse contexto, especialmente o PT?

O lulismo apresenta para o con-junto dos partidos um desafi o por-que há uma rearrumação ideológica, de projeto, e promove também uma rearrumação da própria estratifi ca-ção social. A direita precisa encontrar um novo discurso e um novo proje-

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ditadura militar, e isso é muito forte no ensino superior. Esse é um bom exemplo das contradições que há no projeto em curso e diante das quais o PT teria de se reposicionar. O partido deveria voltar a discutir a hipótese de tornar todo o ensino superior pú-blico, inclusive, de alguma maneira, tornando públicas essas instituições de ensino privado. Essa bandeira, que é claramente de esquerda, não tem aparecido nos debates do PT.

Você disse que a direita não empla-ca mais a tática do terror, como em 1989. Mas, acompanhando a mídia nesse início de campanha, é visível que continua tentando.

Não acredito que ela tenha sucesso. Há uma transformação, e a direita não conseguirá desviar a convicção profun-da de que a continuidade dessas políti-cas interessa a esse setor da sociedade, que vai perceber, crescentemente, que é a candidata Dilma que representa isso. Também não acredito na possibi-lidade de distorções que levem ao voto pelo medo. A eleição de 2006 signifi -

cou uma ruptura. Os assim chamados formadores de opinião não formaram a opinião. Eles estavam convencidos de que o mais grave era a corrupção e, portanto, era importante derrotar Lula com os problemas de 2005. Se eles tivessem prevalecido, Lula não teria sido reeleito. Então, essas tentativas de distorcer a imagem de Dilma, que não têm fundamento, não serão bem-sucedidas. Houve uma transformação estrutural – por isso insisto na hipótese do lulismo. O que vai sustentar a elei-ção de Dilma é o lulismo.

Já que a base do lulismo é o sub-proletariado, qual é a base atual do antilulismo?

A base sólida do antilulismo é a classe média tradicional e também a base sólida do PSDB. Embora o PSDB

tenha uma base sólida no Brasil, ela é minoritária, e com essa base ele não ganha eleição.

Em sua opinião, que papel terá o presidente Lula daqui para a frente?

Tenho a impressão de que ele con-tinuará sendo a figura de primeira grandeza da política brasileira por um bom tempo. Principalmente porque se converteu em um líder incontes-te de um setor enorme da sociedade brasileira. Além de estar deixando o governo com uma aprovação inédita, encarna um projeto que responde por um contingente importante da po-pulação brasileira, e, como é jovem, continuará por muito tempo como uma liderança política decisiva.

Como petista e cientista político, o que recomendaria à coordenação de campanha de Dilma?

Eu gostaria, como militante da esquerda do PT, que fossem apro-veitadas todas as oportunidades possíveis de avançar no sentido de um programa mais progressista. A chamada política real e pragmática impõe limites, mas um partido de esquerda responsável tem de procu-rar ampliar esses limites. Penso, por exemplo, que a autonomia do Banco Central é um problema. O país conti-nua praticando taxas de juros muito altas e, mais adiante, vamos ter de mexer nisso, que está relacionado ao câmbio, à questão orçamentária. Essa ideia de que temos de caminhar para a eliminação da miséria e da pobreza no Brasil é o programa fundamental, essa é a tarefa histórica que temos de enfrentar, e para isso o país precisa ter altas taxas de crescimento e dis-tribuição de renda. ✪

Rose Spina é editora de Teoria e Debate

ESSAS TENTATIVAS DE DISTORCER A IMAGEM DE DILMA, QUE NÃO TÊM FUNDAMENTO, NÃO SERÃO BEM-SUCEDIDAS. O QUE VAI SUSTENTAR A ELEIÇÃO DE DILMA É O LULISMO

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