as polÍticas anticÍclicas brasileiras da crise …

62
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO ANDRÉ GILBERTO KLEIN GRAUPEN AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE FINANCEIRA DE 2008: UMA ANÁLISE SETORIAL SÃO PAULO 2015

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Page 1: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO

ANDRÉ GILBERTO KLEIN GRAUPEN

AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE

FINANCEIRA DE 2008: UMA ANÁLISE SETORIAL

SÃO PAULO

2015

Page 2: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

ANDRÉ GILBERTO KLEIN GRAUPEN

AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE

FINANCEIRA DE 2008: UMA ANÁLISE SETORIAL

Dissertação apresentada à Escola de Economia

de São Paulo da Fundação Getulio Vargas,

como requisito para obtenção do título de Mestre

em Economia.

Campo de Conhecimento:

Macroeconomia Financeira

Orientador: Prof. Dr. Rogério Mori

SÃO PAULO

2015

Page 3: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

Klein Graupen, André Gilberto. As Políticas Anticíclicas Brasileiras da Crise Financeira de 2008: uma análise setorial / André Gilberto Klein Graupen. - 2015. 62 f. Orientador: Rogério Mori Dissertação (MPFE) - Escola de Economia de São Paulo. 1. Crise financeira global, 2008-2009. 2. Investimentos imobiliários. 3. Mercado financeiro - Brasil. 4. Política monetária - Brasil. 5. Política tributária - Brasil. I. Mori, Rogério. II. Dissertação (MPFE) - Escola de Economia de São Paulo. III. Título.

CDU 336.76(81)

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ANDRÉ GILBERTO KLEIN GRAUPEN

AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE

FINANCEIRA DE 2008: UMA ANÁLISE SETORIAL

Dissertação apresentada à Escola de Economia

de São Paulo da Fundação Getulio Vargas,

como requisito para obtenção do título de Mestre

em Economia.

Campo de Conhecimento:

Macroeconomia Financeira

Data da Aprovação:

____/____/_____

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Rogério Mori FGV-EESP

Prof. Dr. Emerson Fernandes Marçal FGV-EESP

Prof. Dr. Sérgio Goldbaum FGV-EAESP

Page 5: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

Aos meus pais, irmãos, amigos, colegas de

trabalho e a todas as pessoas que me

acompanharam nessa longa jornada, na

realização de um grande sonho.

Page 6: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, participaram da

minha vida acadêmica, ao longo desse tempo, em busca da realização do sonho de

concluir um curso de mestrado.

Em especial, gostaria de reconhecer o apoio incondicional dos meus pais,

Henriette Melanie Klein Graupen e José Franklin Graupen, pelo incentivo, pela

compreensão da falta de tempo, pela paciência durante os estudos, e de sempre

estarem ao meu lado nos momentos mais difíceis ao longo dessa jornada.

Agradeço meus irmãos Rodrigo e Karina, por todas as alegrias e

oportunidades que me deram, pelo incentivo, e por todo apoio com relação ao

mestrado.

Parabenizo meus amigos e colegas de trabalho, que suportaram os finais

de semana perdidos, a falta de tempo, as ajudas nas pesquisas e a conciliação do

tempo de trabalho e estudo, mas que sempre foram compreensivos e continuaram me

apoiando.

Agradeço a todas as demais pessoas que estiveram ao meu lado durante

todo o tempo da elaboração desse trabalho, perto ou longe, me entendendo e

aceitando os dias de dedicação exclusivos.

A mais sincera e singela homenagem aos professores, dos quais não

seríamos capazes de chegar até aqui, e que, com muita paciência, foram capazes de

nos transmitir tamanho conhecimento, contribuindo com nosso amadurecimento.

Por fim, agradeço ao meu orientador Professor Doutor Rogério Mori pela

dedicação ao longo desses meses e por toda a ajuda oferecida.

A todos vocês, minha imensa gratidão.

Page 7: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

“Uma hora essa política se esgota e o dinheiro

acaba. Com nossos principais parceiros

saindo, a música mudou, e o governo resolveu

mudar porque, senão, iríamos para uma

situação muito grave”.

Joaquim Levy

Page 8: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

RESUMO

A crise financeira internacional de 2008 afetou tanto a economia dos

Estados Unidos quanto a economia mundial. Assim, discutiu-se as origens da crise do

“subprime”, em uma contextualização histórica e entendeu-se a repercussão dessa

crise, com foco nas medidas anticíclicas brasileiras adotadas em nível setorial.

Através de estudos econométricos que visavam avaliar a eficácia dessas medidas de

políticas fiscal, monetária e creditícia, direcionadas aos setores automotivo, de

construção civil e de móveis e eletrodomésticos, buscou-se entender a eficácia das

medidas anticíclicas tanto como incentivo econômico, quanto na manutenção do nível

de emprego, dois dos principais focos das políticas anticíclicas brasileiras. A análise

empírica revelou, no lado do incentivo dos setores, que a política monetária

expansionista não teve o efeito esperado em nenhum dos três setores testados,

enquanto que as políticas creditícia e fiscal, também expansionistas, tiveram efeitos

positivos sobre os setores em estudo. Pelo lado da eficácia na manutenção do

emprego, as políticas fiscal e monetária foram eficazes para os três setores

analisados, o que nos permite concluir que as medidas do governo tiveram alguma

forma de eficácia. É importante ressaltar que se assumiu a premissa para as séries

de IPI sobre o setor de móveis e eletrodomésticos e a série de desemprego, que não

estavam disponíveis de forma específica, constituindo uma limitação ao trabalho.

Palavras-Chave: eficácia das políticas anticíclicas; crise do subprime; crise

financeira internacional; crise financeira de 2008; impactos da

crise sobre a economia brasileira; política fiscal; política

creditícia; política monetária.

Page 9: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

ABSTRACT

The international financial crisis of 2008 has affected both the US and the

world economies. Thus, we discussed the origins of the subprime crisis in a historical

context, understanding the impacts of this crisis focusing on countercyclical policies

adopted at a sectorial level. Through econometric studies to evaluate the effectiveness

of the fiscal, monetary and credit countercyclical policies focused on automotive,

construction and home furniture and appliances sectors of the economy, aiming to

understand the effectiveness of these policies both as an incentive for these industries

as well as maintenance of the employment rate of the economy, two focuses of the

Brazilian countercyclical policies. The empirical analysis revealed, on the side of

incentive of the sectors that the expansionary monetary policy did not have the

expected effect on any of the three sectors studied, while the credit and fiscal policies,

also expansionary, had a positive effects on the sectors studied. On the maintenance

of the unemployment rate of the economy side, fiscal and monetary policies were

effective for the three sectors analyzed, which allows us to conclude that the

government policies adopted had some form of efficacy. It is important to note that we

assumed premises regarding IPI on the home furniture and appliances sector and

unemployment series, which were not available in a specific way, constituting a

limitation to paper.

Keywords: effectiveness of countercyclical policies; subprime crisis;

international financial crisis; 2008 financial crisis; impacts of the

crisis on the Brazilian economy; fiscal policy, credit policy,

monetary policy.

Page 10: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Taxas de Juros dos Fundos Federais e Política Monetária

Expansionista, em % – Estados Unidos (2000-2007) ...................... 17

Gráfico 2 – Fluxo de Capital nos Países Emergentes, em US$ bilhões (1997-

2013) ............................................................................................... 18

Gráfico 3 – Produto Interno Bruto a preços básicos, em R$ (milhões) – Brasil

(2004-2014) ..................................................................................... 25

Gráfico 4 – IPCA e Taxa de Juros Over/Selic, em % – Brasil (2004-2014) ......... 26

Gráfico 5 – Taxa de Desemprego na região metropolitana de São Paulo, em

% – Brasil (2004-2014) .................................................................... 26

Gráfico 6 – Número de licenciamentos de automóveis, em unidades – Brasil

(2004-2014) ..................................................................................... 27

Gráfico 7 – Receita com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do

setor automotivo, em R$ (milhões) – Brasil (2004-2014) ................. 28

Gráfico 8 – Volume das operações de crédito ao setor privado – pessoas

físicas, em R$ (milhões) – Brasil (2004-2014) ................................. 28

Gráfico 9 – O PIB e o Crédito no setor de Construção Civil, em R$ (milhões) –

Brasil (2004-2014) ........................................................................... 29

Gráfico 10 – Índice de inflação IGP-DI, em % – Brasil (2004-2014) ..................... 30

Gráfico 11 – As Vendas ao Varejo e o IPI no setor de Móveis e Eletrodomésticos

– Brasil (2004-2014) ........................................................................ 30

Gráfico 12 – Taxas de Variação das Variáveis Normalizadas do Estudo ............. 32

Gráfico 13 – Variáveis de Hiato ………………………………………………….…... 33

Page 11: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Sumário dos Resultados das Políticas Anticíclicas – Análise

Agregada ........................................................................................ 22

Quadro 2 – Sumário dos Resultados das Políticas Anticíclicas – Análise

Setorial ........................................................................................... 23

Quadro 3 – Sumário das Variáveis de Hiato ...................................................... 34

Quadro 4 – A Eficácia das Medidas Anticíclicas no Incentivo ao Produto dos

Setores Automotivo, de Construção Civil, e de Móveis e

Eletrodomésticos durante a Crise ................................................... 45

Quadro 5 – A Eficácia das Medidas Anticíclicas no Incentivo do Emprego dos

Setores Automotivo, de Construção Civil, e de Móveis e

Eletrodomésticos durante a Crise ................................................... 47

Page 12: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Teste de Raiz Unitária ................................................................. 35

Tabela 2 – Estimativas da Equação (1) – Hiato do Desemprego, Juros,

Impostos e Créditos sobre o Hiato do Produto Automotivo .......... 38

Tabela 3 – Estimativas da Equação (2) – Hiato do Produto Automotivo,

Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Desemprego .......... 39

Tabela 4 – Estimativas da Equação (3) – Hiato do Desemprego, Juros,

Impostos e Créditos sobre o Hiato do Produto da Construção

Civil ............................................................................................. 40

Tabela 5 – Estimativas da Equação (4) – Hiato do Produto da Construção

Civil, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Desemprego.. 41

Tabela 6 – Estimativas da Equação (5) – Hiato do Desemprego, Juros,

Impostos e Créditos sobre o Hiato do Produto de Móveis e

Eletrodomésticos ........................................................................ 43

Tabela 7 – Estimativas da Equação (6) – Hiato do Produto de Móveis e

Eletrodomésticos, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do

Desemprego ............................................................................... 45

Tabela A.1 – Descrição das Variáveis de Estudo ............................................. 55

Tabela A.2 – Transformação das Variáveis de Estudo ..................................... 56

Page 13: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADF Test: Teste de Dickey-Fuller Aumentado.

ANFAVEA: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.

AR: Processo Autorregressivo.

ARIMA: Processo Autorregressivo Integrado e de Médias Móveis.

ARMA: Processo Autorregressivo e de Médias Móveis.

BACEN/BCB: Banco Central do Brasil.

BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

CEF: Caixa Econômica Federal.

CEPAL: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe.

CMN: Conselho Monetário Nacional.

COFINS: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.

FBCF: Formação Bruta de Capital Físico.

FGV: Fundação Getulio Vargas.

Filtro HP: Filtro Hodrick-Prescott.

FGC: Fundo Garantidor de Crédito.

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IGP-DI: Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (índice de inflação da FGV).

IOF: Imposto sobre Operações Financeiras.

IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (índice oficial de inflação).

IPEA: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

IPI: Imposto sobre Produtos Industrializados.

IR: Imposto de Renda Retido da Fonte.

IRPF: Imposto de Renda das Pessoas Físicas.

MA: Processo de Médias Móveis.

MIMIC: Múltiplos Indicadores e Múltiplas Causas.

MF: Ministério da Fazenda.

MQO: Mínimos Quadrados Ordinários.

PED: Pesquisa de Emprego e Desemprego.

PIB: Produto Interno Bruto.

PIS: Programa de Integração Social.

Page 14: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

PMC: Pesquisa Mensal de Comércio.

RMSP: Região Metropolitana de São Paulo.

SEADE: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados.

SELIC: Sistema Especial de Liquidação e Custódia (taxa básica de juros da economia

brasileira).

SNIPC: Sistema Nacional de Preços ao Consumidor.

SRF: Secretaria da Receita Federal.

TJLP: Taxa de Juros de Longo Prazo.

VAR: vetores autorregressivos.

Page 15: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 14

2. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 16

3. ANÁLISE DESCRITIVA E O TRATAMENTO DA BASE DE DADOS .............. 24

4. AS MEDIDAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS E SUA EFICÁCIA .................. 36

4.1 Análise do Setor Automotivo .................................................................... 37

4.2 Análise do Setor de Construção Civil ....................................................... 40

4.3 Análise do Setor de Móveis e Eletrodomésticos ...................................... 42

4.4 A Eficácia das Medidas Anticíclicas Setoriais .......................................... 45

5. CONCLUSÃO .................................................................................................. 48

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 51

APÊNDICE A – Variáveis Utilizadas e suas Transformações ........................... 55

ANEXO A – Medidas Anticíclicas Brasileiras ..................................................... 57

Page 16: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

14

1. INTRODUÇÃO

A crise financeira de 2008 que assolou a economia mundial foi produzida,

basicamente, através das falhas de regulação vigentes à época, além da atuação dos

agentes econômicos na criação e comercialização de títulos securitizados, em um

movimento conhecido como inovação financeira, permitida pela grande integração das

economias mundiais e pelas políticas americanas de incentivo ao endividamento. Para

tanto, definiremos crises financeiras como uma interrupção nas altas dos preços dos

ativos que se seguem por momentos de pânico dos agentes econômicos. Esse

comportamento irracional leva a uma queda nos preços dos ativos, levando a um

efeito dominó, afetando taxas de câmbio e migrando para o lado real da economia,

corroborando a teoria de crises financeiras de Minsky, através do “Minsky moment”.

Dessa maneira, havia um excesso monetário provocado pelo crescente

endividamento da economia norte-americana, representado pela bolha do setor

imobiliário, composto pela facilidade de financiamento sem que se questionasse a

capacidade de pagamento das dívidas existentes dos agentes. De acordo com

Krugman (2009), essa crise financeira estava diretamente relacionada às questões de

informações assimétricas, seleção adversa e “moral hazard”.

A partir disso, a fragilização da economia norte-americana se deu com a

migração dos investimentos do mercado acionário para o mercado imobiliário que,

juntamente com a economia globalizada, permitiu a criação de uma integração

financeira internacional, gerando um grande fluxo de moeda para o mercado norte-

americano. Soma-se a isso, o fato de o Federal Reserve, através da política monetária

expansionista de Alan Greenspan, incentivar o endividamento dos agentes através da

redução da taxa de juros de financiamento imobiliário para patamares historicamente

baixos, com redução dos critérios de concessão de crédito, aumentando ainda mais o

movimento de expansão desse setor. Com a queda do preço dos ativos imobiliários,

eclodiu-se a crise financeira, em um movimento de desaceleração do setor imobiliário.

Assim, a crise passou a atingir o sistema bancário, onde tomou grandes proporções,

contagiando os outros setores da economia – migrou para o lado real.

Page 17: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

15

No Brasil, o início da crise se deu imediatamente após sua eclosão nos

Estados Unidos, com o rompimento da bolha imobiliária que desorganizou os

mercados financeiros e colapsou o sistema de crédito dos bancos (LOPES, 2009).

Motivo para um contágio tão rápido é dado pela alta exposição externa do sistema

financeiro do Brasil, de acordo com Kacef e Lopéz-Monti (2010). No entanto, o Brasil

não foi primariamente afetado por causa do aprendizado das crises anteriores, que

fizeram com que o país estivesse mais bem preparado para futuras crises.

Contextualizada a crise de 2008, foram selecionadas, dentre as medidas

anticíclicas adotadas, as políticas creditícias, monetárias e fiscais, com foco nos

setores automotivo, construção civil e móveis e eletrodomésticos da economia

brasileira, das quais se verificou sua eficácia através de testes econométricos

realizados para os setores estudados, concluindo que tais medidas de combate aos

efeitos da crise de 2008 adotadas pelo governo brasileiro tiveram sua eficácia

divergente de acordo com cada setor analisado, pelas óticas da produção (setor) e do

emprego. Dito isso, foi possível concluir que o governo, de forma geral, acertou em

adotar tais medidas de incentivo a determinados setores da economia de forma a

combater os efeitos do contágio da crise financeira de 2008, com a contrapartida de

uma elevação dos gastos do governo, aumentando o déficit nominal e,

consequentemente, elevando a dívida pública brasileira.

Feitas essas considerações, o trabalho será apresentado em cinco seções,

sendo esta primeira, a Introdução. A segunda seção trará a revisão literária utilizada

como embasamento aos testes empíricos realizados. A terceira seção dedicará

espaço para a análise estatística das séries de dados e suas transformações

necessárias para que as regressões não se tornassem espúrias. Na quarta seção,

serão construídas as estimativas dos impactos das políticas anticíclicas sobre os

setores analisados, enquanto que, na última seção, serão apresentadas as

conclusões deste trabalho.

Page 18: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

16

2. REVISÃO DE LITERATURA

O início das discussões sobre políticas anticíclicas atingiu importância

considerável a partir da eclosão da crise financeira do “subprime”, permitindo não só

a contenção ou minimização dos efeitos de contágio de uma crise financeira, como

também permitindo a formulação de medidas anticíclicas em outras circunstâncias ou

de forma mais específica, tais como para setores da economia ou determinados

países. Para tanto, baseado nas principais teorias recentes de utilização, não só de

política fiscal, mas também de políticas monetárias e creditícias, para combate a crises

setoriais, nacionais ou internacionais, alterando o paradigma de política econômica

pré-crise, foram selecionados estudos que pudessem contribuir com esse trabalho.

Nessa linha, Kaminsky, Reinhart e Végh (2003) apresentam as teorias de

contágio de crises financeiras, buscando entender os motivos de cada crise

apresentar sintomas diferentes em cada país. Para isso, conceitua contágio como

episódios onde há efeitos imediatos em outras regiões e/ou países, com destaque

para contágio através de efeito manada, de “links” comerciais e de conexões

financeiras. A partir disso, os autores demonstram casos práticos de crises

financeiras, tais como a crise financeira finlandesa de 1992, a crise da tequila (México,

1994), a crise russa de 1998, a crise brasileira de 1999 e o calote argentino de 2001,

comparando os casos entre si, através das óticas de mecanismos de transmissão,

fluxo de capital privado líquido e mercado acionário.

Taylor (2009), mais especificamente, buscou apresentar os principais

motivos que desencadearam a crise financeira de 2008, concluindo que, de forma

genérica, o excesso monetário foi o principal responsável pelo cenário, conforme o

gráfico a seguir, representado pelo ”housing boom” nos Estados Unidos. Dessa

maneira, ou autor reafirma que a política monetária expansionista do Federal Reserve,

junto com uma forte integração financeira internacional e inovações financeiras

contribuíram profundamente para a eclosão da crise e contágio internacional, que se

prolongou com as medidas precipitadas de combate dos governos, culminando em

uma grave crise de crédito.

Page 19: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

17

Gráfico 1 – Taxas de Juros dos Fundos Federais e Política Monetária Expansionista, em % – Estados Unidos (2000-2007)

Fonte: Federal Reserve Bank.

Pela ótica de Mohan (2009), há a busca em explicar tanto a formação da

crise financeira de 2008 como seu contágio internacional, passando pelos mercados

emergentes e terminando com a análise da economia indiana. De acordo com o autor,

a crise do “subprime” alterou os valores de prêmio de risco e causou profundas

alterações no fluxo de capital internacional, principalmente nos países emergentes.

Desse ponto em diante, Mohan explica tais quebras de paradigma com exemplos dos

efeitos desde a eclosão da crise, passando pelos impactos fiscais, na economia real

e no lado regulatório da economia da Índia. Por fim, elenca as principais medidas

adotadas pelo banco central e pelo governo indiano para minoração dos efeitos da

crise financeira de 2008.

Em seu texto, Kacef e López-Monti (2010) demonstram as principais

consequências do desembarque da crise, com foco na América Latina, destacando a

redução do volume de exportações e queda do preço das commodities. Assim, os

autores concluem que, como consequência, a crise iniciada no lado monetário da

economia migrou para o lado real, através da deterioração das expectativas dos

agentes econômicos, resultando em declínio do consumo e do investimento do setor

privado, principalmente naqueles países com maior exposição do mercado financeiro

ao setor externo.

Os autores também ressaltam as políticas de caráter anticíclico adotadas

na América Latina, ressaltando a importância da política fiscal para a manutenção dos

fluxos de gastos agregados, além de levantar a ineficácia possível nas decisões de

corte de impostos, principalmente naqueles países onde as taxas são baixas ou

apresentam grande incerteza. Também abordam a eficácia de subsídios focados em

0

1

2

3

4

5

6

7

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Taxas de Juros dos Fundos FederaisRegra de Taylor

Page 20: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

18

setores específicos e discorrem sobre as diferenças entre as medidas anticíclicas

adotadas nos países latino-americanos e suas particularidades.

Gráfico 2 – Fluxo de Capital nos Países Emergentes, em US$ bilhões (1997-2013)

Fonte: Fundo Monetário Internacional.

Passando para a revisão da literatura empírica que estudou a eficácia

dessas medidas na economia, temos, no trabalho de Rose e Spiegel (2011), a busca

de uma explicação sobre qual das causas da crise do “subprime” podem ser

vinculadas às consequências mais severas de forma empírica, através de uma

abordagem de “cross-section”. Em seu modelo de crise, chamado de Múltiplos

Indicadores e Múltiplas Causas (MIMIC), que usa diferentes manifestações de

intensidade de crise mensuradas em diferentes países, cada qual como uma “proxy”

imperfeita de intensidade. Esse modelo, portanto, é um sistema de 𝐽 equações com

as variáveis explicativas restritas e proporcionais entre si. Em conclusão, a análise

falhou em encontrar esse vínculo, obtendo como resultado, através de evidência fraca,

que países mais ricos sofrem sistematicamente mais em crises, enquanto que países

com relações comerciais mais estreitas com os Estados Unidos sofrem menos os

impactos da crise.

Dado que o estudo sobre as causas da crise e seus impactos não produziu

resultados estatisticamente aderentes, utilizamos o estudo de Blanchard, Das e

Faruqee (2010), que trata dos impactos da crise de 2008 nos países emergentes,

explorando o papel do colapso do comércio e do declínio nos fluxos de capital na

-800

-600

-400

-200

0

200

400

600

8001997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Investimento Direto Líquido Outros Investimentos Líquidos

Investimentos de Portfolio Líquido Balanco da Conta Corrente

Page 21: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

19

transmissão da crise dos países avançados para os emergentes, através da

elaboração de um modelo de equilíbrio dinâmico com economia aberta, que permite

mobilidade imperfeita de capital e efeitos potencialmente contracionistas de uma

depreciação cambial causados pela exposição da dívida externa, para entender os

impactos de políticas anticíclicas.

Em sequência, os autores passam a analisar os dados dos países

emergentes – Letônia, Rússia e Chile, comparando com o modelo, permitindo a

conclusão de um papel de destaque para a transmissão da crise do “subprime” tanto

no colapso do comércio quanto no choque financeiro, de um lado, mas pouco apoio

econométrico para as medidas anticíclicas de reservas ou regimes cambiais, de outro

lado.

Já Brito Gadelha (2011) trata da relação de crescimento econômico

brasileiro com a política fiscal, com destaque para as políticas fiscais anticíclicas

adotadas no período da crise financeira de 2008. Nesse sentido, o autor buscou

examinar a relação de precedência temporal entre os gastos públicos federais e o

produto interno bruto, investigando a prevalência das teorias de Wagner, keynesiana

e não-keynesiana.

Isso posto, a Teoria de Wagner considera os gastos públicos como uma

variável endógena ao modelo, em que o crescimento da atividade econômica leva a

um aumento das atividades governamentais. Já a hipótese keynesiana trata, no curto

prazo, de efeito positivo de política fiscal sobre o nível da atividade econômica, através

do multiplicador de gastos (multiplicador keynesiano). Assim, a hipótese keynesiana

considera a política fiscal um instrumento exógeno de política econômica, que é

utilizado para corrigir flutuações cíclicas. Por fim, a hipótese não-keynesiana

considera efeitos inversos na política econômica: “contrações fiscais expansionistas e

expansões fiscais contracionistas, que resultam do impacto da política fiscal corrente

levando em conta a expectativa e a confiança dos agentes privados nas mudanças de

políticas econômicas futuras” (BRITO GADELHA, 2011, p. 31).

O teste proposto do Brito Gadelha é o de cointegração de Johansen com

quebras estruturais para as séries utilizadas, verificando a existência de equilíbrio de

longo prazo entre as variáveis. A partir disso, o autor propõe o estudo da causalidade

Page 22: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

20

multivariada de Granger em modelos de vetores autorregressivos (VAR)1 para

investimentos públicos, despesas previdenciárias, amortização de dívida pública e

transferências governamentais, concluindo que, pela ótica da hipótese keynesiana,

um aumento do investimento público leva a um aumento do crescimento econômico.

Por outro lado, uma redução das despesas previdenciárias ou da amortização da

dívida pública leva a um crescimento econômico e, portanto, se enquadra na ótica

não-keynesiana. Por fim, um aumento das transferências governamentais leva

também leva ao crescimento da economia, caracterizando a hipótese wagneriana.

De acordo com a nota técnica número 15 da Diretoria de Estudos

Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o foco do

trabalho se dá no impacto da redução do imposto sobre produtos industrializados de

automóveis sobre vendas, arrecadação e emprego. Dito isso, através da utilização de

séries integradas de primeira ordem, com alguma evidência de cointegração e

estimativas de mínimos quadrados ordinários (MQO), os autores concluíram que a

medida teve eficácia em todas as análises.

Considerando o estudo dos impactos da redução do IPI sobre vendas

automotivas, o IPEA utilizou uma função onde a quantidade de veículos é uma função

de preços, renda e crédito concedido, elaborando um estudo em que o impacto sobre

vendas é dado pela diferença entre as vendas previstas pelo modelo com os preços

vigentes à época e as vendas com preços sem a redução do IPI, concluindo que essa

medida contribui positivamente, incentivando as vendas automotivas.

Pelo lado dos impactos dessa medida sobre a arrecadação, o instituto

considerou, no estudo, que o impacto a ser mensurado seria dado pelo volume que o

governo deixou de arrecadar com a desoneração, menos a contribuição positiva do

corte do IPI sobre a arrecadação dos demais impostos, permitindo a conclusão de que

a perda com a arrecadação foi, de certa forma, compensada polo aumento da

arrecadação de outros tributos, dado o aumento de vendas do setor. Por fim, na ótica

dos impactos obre o emprego, a série apresentava uma tendência de elevação do

1 𝑋𝑡 = 𝐴0 +𝐴1𝑋𝑡−1 +𝐴2𝑋𝑡−2 +⋯+𝐴𝑝𝑋𝑡−𝑝 + 𝜁𝑡, onde 𝑋𝑡 é um vetor de variáveis estacionárias, 𝑝 é o

número de defasagens, 𝐴0 é um vetor de interceptos, 𝐴𝑖 são matrizes de coeficientes e 𝜁𝑡 é um vetor de resíduos não-autocorrelacionados e homocedásticos.

Page 23: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

21

desemprego no primeiro semestre de 2009, e as estimativas nos mostraram que a

desoneração do IPI levou a uma desaceleração dessa tendência.

Passando ao texto de Alvarenga et al. (2010), os autores aprofundam os

estudos da nota técnica número 15 do IPEA, objetivando mensurar os impactos do

corte do IPI nas vendas de veículos entre janeiro e novembro de 2009. Dessa forma,

também assumem que as vendas do mercado doméstico dependem do nível de

preços, da renda dos agentes e do crédito direcionado ao setor automotivo.

O modelo utiliza a metodologia de regressão simples2, com séries

dessazonalizadas pelo método X12 ARIMA e transformação das variáveis através do

logaritmo neperiano, para que a estimação das relações entre as variáveis se desse

em um contexto de elasticidade. Também analisa a presença de cointegração das

séries e verifica a existência de quebras estruturais ao longo do período analisado.

Em suas conclusões, os autores afirmam que a medida anticíclica de redução do

imposto sobre produtos industrializados foi de suma importância para o setor

automotivo, contribuindo efetivamente para o aumento de vendas de automóveis. No

entanto, abordam a importância, também, da política creditícia, afirmando não ser

possível, com o modelo utilizado, mensurar os efeitos de forma independente.

Por fim, Moreira e Soares (2010) buscaram explicar a eficácia das políticas

anticíclicas praticadas pelas autoridades brasileiras durante o período da crise

financeira de 2008-2009, verificando se as medidas foram adequadas no combate à

desaceleração da economia e contenção do aumento do desemprego, evitando que

a crise internacional se aprofundasse no Brasil. Nesse sentido, as análises foram

divididas em agregada e setorial.

Em se tratando da análise agregada, os autores discutiram os efeitos das

políticas fiscal, monetária e creditícia sobre o consumo das famílias, sobre o

investimento agregado e sobre o hiato do produto. Para todas essas estimações,

utilizaram-se as variáveis normalizadas e em forma de taxas de variação. Pela ótica

da análise dos impactos sobre o consumo das famílias, o texto utiliza a função de

consumo keynesiana estendida para incorporar a variável crédito. Em suas

conclusões, infere-se que o crédito afetou positivamente a demanda agregada,

2 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 = 𝑓(𝑝𝑟𝑒ç𝑜𝑠, 𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎, 𝑐𝑟é𝑑𝑖𝑡𝑜).

Page 24: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

22

aumentando, portanto, o consumo das famílias, sendo uma medida anticíclica eficaz

na análise agregada.

Passando para a análise da eficácia das medidas de combate à crise sobre

os investimentos – formação bruta de capital fixo (FBCF), os autores utilizaram a

função de investimento keyesiana, também estendida, para que incorporasse a

variável de crédito. Como conclusão ao estudo, Moreira e Soares ressaltam que a

taxa de juros real da economia não impactou o investimento, elencando dois motivos

para isso: (i) o principal fator determinante para as decisões de investimento ser as

expectativas dos agentes e, (ii) a taxa de juros de financiamento do investimento não

é a Selic. Por outro lado, a política creditícia adotada pelo governo foi fator

determinante para os investimentos privados, apesar da presença de pessimismo das

expectativas dos empresários.

Já analisando a eficácia das políticas fiscal, creditícia e monetária sobre o

produto, os autores utilizam um modelo de mínimos quadrados ordinários, inferindo a

ineficácia da política fiscal sobre o hiato do produto e, assim, sem efeitos mitigadores

da crise global de 2008 e 2009. A política monetária, representada pela taxa de juros,

afeta positivamente, de forma tímida, o produto devido à baixa elasticidade entre

essas variáveis. No entanto, durante a crise, os autores concluíram que esse efeito se

torna negativo. Por fim, a política creditícia teve impacto relevante sobre o hiato do

produto.

Política Monetária Política Creditícia Política Fiscal

Consumo das Famílias Não eficaz Eficaz Não testado

Investimento Não eficaz Não eficaz Não testado

Produto Eficaz Eficaz Não eficaz

Quadro 1 – Sumário dos Resultados das Políticas Anticíclicas – Análise Agregada Fonte: MOREIRA; SOARES, 2010, p.57

Em se tratando da análise setorial, os autores discutiram os efeitos das

políticas fiscal, monetária e creditícia sobre o setor automotivo, de construção civil e

de móveis e eletrodomésticos. Para todas essas estimações, utilizaram as variáveis

normalizadas e em forma de taxas de variação, através de suas representações de

Page 25: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

23

hiato (diferença entre a série e sua tendência, obtida pela metodologia do Filtro

Hodrick-Prescott).

Considerando o setor de construção civil, importante pelo seu grande efeito

multiplicador da economia, os autores testaram os impactos das políticas monetária e

creditícia. Como resultado, a política monetária produziu efeitos consideravelmente

significativos, enquanto que a política creditícia não foi efetiva para contenção dos

efeitos da crise sobre o setor.

Já no setor automotivo, alvo de políticas monetária, creditícia e fiscal, o

modelo revelou, estatisticamente, que a política fiscal não se mostrou eficaz no

incentivo do setor, assim como a política creditícia para o período de crise. Apenas a

política monetária se mostrou eficaz como política anticíclica. No entanto, para o

período anterior à crise, a política creditícia também contribuiu para incentivar o setor.

Em sequência, no setor de móveis e eletrodomésticos, os autores concluíram que

nenhuma das políticas adotadas pelo governo contribuiu para medidas anticíclicas

para incentivar o setor e minimizar os efeitos da crise internacional sobre esse setor

brasileiro.

Dessa maneira, os resultados obtidos, de forma resumida, se traduziram

em sensibilidade à política monetária expansionista, via redução de taxas de juros

reais, para os setores de construção civil e automobilístico. Em contrapartida, o setor

de móveis e eletrodomésticos não respondeu a nenhuma das três medidas anticíclicas

adotadas pelas autoridades. Por fim, apenas a política monetária mostrou ser uma

medida eficaz de combate à crise.

Política Monetária

Política Creditícia

Política Fiscal

Produto do setor de construção Eficaz Não eficaz Não testado

Vendas de automóveis Eficaz Não eficaz Não eficaz

Vendas de móveis e eletrodomésticos

Não eficaz Não eficaz Não eficaz

Quadro 2 – Sumário dos Resultados das Políticas Anticíclicas – Análise Setorial Fonte: MOREIRA; SOARES, 2010, p.62

Page 26: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

24

3. ANÁLISE DESCRITIVA E O TRATAMENTO DA BASE DE DADOS

A partir do exposto anteriormente, passaremos a entender se as medidas

de políticas anticíclicas adotadas pelo governo brasileiro foram efetivas em alcançar

seus objetivos propostos. Nesse sentido, para que seja viável realizar os testes

empíricos objetivando a validação e mensuração das medidas anticrise adotadas,

buscou-se encontrar e consolidar uma base de dados de qualidade, que pudesse

representar o cenário vigente à época, com variáveis significativas aos modelos e o

tratamento necessário para que os modelos idealizados pudessem ser executados.

Para tanto, as variáveis utilizadas nesse estudo foram retiradas de fontes

públicas, tais como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Associação Nacional dos Fabricantes de

Veículos Automotores (ANFAVEA) e o Banco Central do Brasil (BACEN). Tais

variáveis tinham um longo histórico disponível, partindo da década de 1990 em diante.

No entanto, sabe-se que esse período da história brasileira passou por muitas

turbulências, tais como planos econômicos anteriores ao Real, mudança do sistema

de câmbio fixo para o variável, em 1999, e diversas crises externas, dentre elas as

crises do México, Argentina e Rússia. Dessa forma, restringimos a periodicidade das

variáveis à forma trimestral, abrangendo desde o primeiro trimestre de 2004 até o

terceiro trimestre de 2014, o que gerou uma base de dados com 43 observações e 12

variáveis, abrangendo três setores da economia: automotivo, construção civil, e

móveis e eletrodomésticos.

Sendo assim, as variáveis utilizadas para os três setores são dadas pelo

Produto Interno Bruto a preços básicos (𝑌𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) e o índice de inflação IPCA (𝐼𝑃𝐶𝐴), do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; a Taxa de Juros Over/Selic (𝑆𝐸𝐿𝐼𝐶) do

Branco Central do Brasil; e a Taxa de Desemprego na região metropolitana de São

Paulo (𝑈𝑁𝐸𝑀𝑃𝐿𝑂𝑌𝑀𝐸𝑁𝑇) da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados –

Pesquisa de Emprego e Desemprego. Para esta última variável, assumiu-se a

premissa de a economia de São Paulo ser fortemente influenciada pelos setores em

estudo. Além dessas variáveis, também se utilizou uma variável instrumental

(𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠) com a finalidade de determinar o período da crise do “subprime”, que

Page 27: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

25

de acordo com Torres Filho (2008), estendeu-se no período entre o primeiro trimestre

de 2007 e o primeiro trimestre de 20103.

Analisando-se as variáveis supracitadas, pode-se concluir que o produto

interno bruto a preços básicos (𝑌𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) foi diretamente afetado com a eclosão da crise

de 2008, com forte queda no primeiro trimestre de 2008, recuperando-se a partir das

medidas de combate adotadas pelo governo. Também podemos inferir que a crise

contribuiu para alterar o padrão sazonal presente nessa série, conforme demonstrado

no gráfico abaixo.

Gráfico 3 – Produto Interno Bruto a preços básicos, em R$ (milhões) – Brasil (2004-2014)

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Já em relação ao índice de inflação IPCA (𝐼𝑃𝐶𝐴) e à Taxa de Juros

Over/Selic (𝑆𝐸𝐿𝐼𝐶), podemos concluir que houve um grande aumento da inflação

oficial no período inicial da crise, que voltou a cair após o final do segundo trimestre

de 2008. Esse movimento veio em meio a um ciclo de redução da taxa de juros, que

se inverteu a partir do primeiro trimestre do primeiro ano da crise, o que levou a um

aumento considerável da taxa de juros real da economia, buscando atrair o

investimento estrangeiro novamente ao Brasil.

3 A variável instrumental (𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠) assume o valor 1 para o período 2007.01 até 2010.01, ou seja, para a época da crise, e 0 caso o contrário.

300

400

500

600

700

800

900

1.000

1.100

1.200

Page 28: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

26

Gráfico 4 – IPCA e Taxa de Juros Over/Selic, em % – Brasil (2004-2014) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Branco Central do Brasil.

Com relação à Taxa de Desemprego na região metropolitana de São Paulo

(𝑈𝑁𝐸𝑀𝑃𝐿𝑂𝑌𝑀𝐸𝑁𝑇), da qual foi assumida a premissa de representar o desemprego

no Brasil, pode-se concluir que havia uma tendência de queda no período analisado.

No entanto, essa tendência foi rompida a partir do terceiro trimestre de 2008 até a

metade do ano de 2009, com aumento desse indicador provocado pela queda do

consumo por parte da população e redução dos investimentos por partes das

indústrias. Entretanto, com as medidas anticíclicas adotadas pelo governo central, já

foi possível verificar uma volta da taxa de desemprego para patamares pré-crise no

final de 2009.

Gráfico 5 – Taxa de Desemprego na região metropolitana de São Paulo, em % – Brasil (2004-2014) Fonte: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados – Pesquisa de Emprego e Desemprego.

Com foco na indústria automotiva, as variáveis selecionadas foram o

número de licenciamentos de automóveis, que representam as vendas nacionais de

veículos novos (𝐴𝑈𝑇𝑂), da ANFAVEA; a receita com o Imposto sobre Produtos

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

5

SELIC

IPCA

0

5

10

15

20

25

Page 29: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

27

Industrializados (IPI) do setor automotivo (𝐼𝑃𝐼𝐴𝑢𝑡𝑜), do Ministério da Fazenda; e o

volume das operações de crédito ao setor privado – pessoas físicas (𝐶𝑅𝐸𝐷𝑃𝑟𝑖𝑣), do

Banco Central do Brasil, também utilizado para as estimações do setor de móveis e

eletrodomésticos. Dessas variáveis é possível extrair, após a análise descritiva das

séries, que o início da crise no Brasil levou a uma queda das vendas de automóveis,

dado que o número de licenciamentos se reduziu. No entanto, houve uma

recuperação do setor, já a partir do último trimestre de 2008, após o anúncio do

governo brasileiro de redução de IPI e maior acesso ao crédito para financiamento.

Gráfico 6 – Número de licenciamentos de automóveis, em unidades – Brasil (2004-2014)

Fonte: ANFAVEA.

Tal redução do imposto sobre produtos industrializados do setor automotivo

pode ser facilmente vista pelo gráfico da arrecadação proveniente desse imposto,

onde se nota uma forte redução a partir do terceiro trimestre de 2008, quando se deu

o anúncio do corte desse imposto. A partir do final desse ano, até o final do período

de crise, em 2010, as alíquotas desse imposto foram elevadas gradativamente,

devolvendo ao setor público a arrecadação obtida no período pré-crise.

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

Page 30: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

28

Gráfico 7 – Receita com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do setor automotivo, em R$ (milhões) – Brasil (2004-2014) Fonte: Ministério da Fazenda.

Já no lado da concessão de crédito e financiamento privado, não houveram

indícios de interferência da crise, dada a peculiaridade desse setor, que é puxado por

crédito subsidiado por bancos públicos e pelo consignado, o que levou à manutenção

do aquecimento interno de crédito, beneficiando os setores automotivo e de móveis e

eletrodomésticos, conforme visto a seguir.

Gráfico 8 – Volume das operações de crédito ao setor privado – pessoas físicas, em R$ (milhões) – Brasil (2004-2014) Fonte: Banco Central do Brasil.

Partindo para o estudo da indústria da construção civil, as outras variáveis

utilizadas foram o Produto Interno Bruto da Indústria da Construção (𝑌𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙), do IBGE;

e o volume de operações de crédito ao setor privado no setor imobiliário (𝐶𝑅𝐸𝐷𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙),

do Banco Central do Brasil. Dessas séries históricas, pode-se inferir que esse setor

apresenta forte sazonalidade, e que foi pouco afetado pela crise, já que apresentou

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

1.600

1.800

2.000

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

Page 31: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

29

uma oferta abundante de crédito, onde, a partir de 2009, é possível notar uma

mudança no produto desse setor, pois os bancos públicos haviam ampliado os

subsídios ao financiamento de imóveis, além do programa social “Minha Casa, Minha

Vida”, que contribuiu para a manutenção do crescimento do setor de construção civil

durante o período de adversidade causado pela crise financeira do “subprime”.

(a) Produto Interno Bruto da Indústria da Construção Civil (b) Volume de Operações de crédito ao setor privado no setor imobiliário

Gráfico 9 – O PIB e o Crédito no setor de Construção Civil, em R$ (milhões) – Brasil (2004-2014) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Branco Central do Brasil.

Por último, no setor de móveis e eletrodomésticos, além da variável do

volume das operações de crédito ao setor privado – pessoas físicas (𝐶𝑅𝐸𝐷𝑃𝑟𝑖𝑣), do

Banco Central do Brasil, analisada anteriormente, foram selecionadas as variáveis do

índice de inflação IGP-DI (𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼), da Fundação Getúlio Vargas; as vendas reais no

varejo de móveis e eletrodomésticos (𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜), do IBGE; e a receita com o

Imposto sobre Produtos Industrializados de outros setores da economia (𝐼𝑃𝐼𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜), do

Ministério da Fazenda, do qual assumimos a premissa de ser do setor em questão por

falta de informações mais acuradas.

A inflação IGP-DI apresentou uma alteração de seu comportamento em

2008, já que houve um aumento das demandas doméstica e de exportação, além de

uma contração do comércio internacional, que reduziu o nível de importações e,

consequentemente, aqueceu o mercado doméstico. No entanto, essa alteração volta

a se normalizar em 2009, conforme visto no gráfico a seguir.

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

0200.000400.000600.000800.000

1.000.0001.200.0001.400.0001.600.000

Page 32: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

30

Gráfico 10 – Índice de inflação IGP-DI, em % – Brasil (2004-2014)

Fonte: Fundação Getúlio Vargas.

Ao analisarmos a série de vendas reais no varejo de móveis e

eletrodomésticos, podemos perceber que os efeitos da crise foram sentidos apenas

em 2008, com alteração do padrão histórico. Além disso, há forte presença de

sazonalidade, dado que esse setor é altamente dependente de festividades e datas

comemorativas, tais como Natal, Dia das Mães, entre outros. Nessa mesma linha, a

série de receita com o IPI de outros setores da economia, assumida para esse setor,

demonstra forte impacto das medidas anticíclicas – redução da alíquota de IPI para a

linha branca, onde, a partir do início de 2008, percebe-se uma redução substancial de

arrecadação com esse imposto, sendo absorvida pelo mercado apenas em 2009 e

2010. Após esse período, a arrecadação volta aos patamares anteriores à crise de

2008, consequência direta do fim da política de combate à crise.

(a) Vendas reais no varejo de móveis e eletrodomésticos, em

índice (média 2011 = 100)

(b) Receita com o Imposto sobre Produtos Industrializados de

outros setores da economia, em R$ (milhões)

Gráfico 11 – As Vendas ao Varejo e o IPI no setor de Móveis e Eletrodomésticos – Brasil (2004-2014)

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Ministério da Fazenda.

250

300

350

400

450

500

550

0

50

100

150

2.0002.5003.0003.5004.0004.5005.0005.5006.000

Page 33: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

31

A partir dessas variáveis, buscou-se então transformar as séries em

estacionárias, evitando, assim, regressões espúrias. Nesse sentido, o objetivo

proposto foi de retirar os efeitos de sazonalidade e crescimento das séries históricas.

Dito isso, as variáveis do número de licenciamentos de automóveis (𝐴𝑈𝑇𝑂), receita

com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do setor automotivo (𝐼𝑃𝐼𝐴𝑢𝑡𝑜),

volume das operações de crédito ao setor privado – pessoas físicas (𝐶𝑅𝐸𝐷𝑃𝑟𝑖𝑣),

Produto Interno Bruto da Indústria da Construção (𝑌𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙), volume de operações de

crédito ao setor privado no setor imobiliário (𝐶𝑅𝐸𝐷𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 ) e vendas reais no varejo de

móveis e eletrodomésticos (𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜) foram normalizadas através do Produto

Interno Bruto a preços básicos (𝑌𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐). Já a variável receita com o Imposto sobre

Produtos Industrializados (IPI) de outros setores da economia (𝐼𝑃𝐼𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜) foi

normalizada com o índice de inflação IGP-DI (𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼).

Após aplicar essas técnicas de normalização, as variáveis foram

transformadas em taxas de variação, em primeira diferença, e renomeadas4, sendo,

respectivamente, 𝑑(𝐴𝑈𝑇𝑂𝑡/𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐), 𝑑(𝐼𝑃𝐼𝑡

𝐴𝑢𝑡𝑜/𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐), 𝑑(𝐶𝑅𝐸𝐷𝑡

𝑃𝑟𝑖𝑣/𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐), 𝑑(𝑌𝑡

𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙/

𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐), 𝑑(𝐶𝑅𝐸𝐷𝑡

𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙/𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐), 𝑑(𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜/𝑌𝑡

𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) e 𝑑(𝐼𝑃𝐼𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜/𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼𝑡).

Além disso, buscou-se efetuar as regressões com a taxa de juros real,

objetivando-se maior aderência, em que a variável de juros real ex-post (𝑟𝑟𝑒𝑎𝑙) foi

calculada a partir da diferença entre a Taxa de Juros Over/Selic (𝑆𝐸𝐿𝐼𝐶) e o índice de

inflação IPCA (𝐼𝑃𝐶𝐴). Assim, as variáveis da taxa de juros real e de desemprego foram

transformadas em taxa de variação, seguindo a mesma metodologia, em primeira

diferença, e renomeadas, sendo, respectivamente 𝑑(𝑟𝑡𝑟𝑒𝑎𝑙) e 𝑑(𝑈𝑁𝐸𝑀𝑃𝐿𝑂𝑌𝑀𝐸𝑁𝑇).

Analisando-se os resultados de estacionarização, percebeu-se que nem

todas as variáveis foram efetivamente estacionarizadas, o que nos levou a buscar um

incremento dessa metodologia. Assim, calculou-se o hiato dessas variáveis, através

do filtro de Hodrick-Prescott (filtro HP), definindo como hiato a diferença entre a

variável estudada e a tendência extraída do filtro HP (“trend”).

4 Ver Apêndice A – Variáveis Utilizadas e suas Transformações.

Page 34: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

32

(a) Taxa de variação da variável do número de licenciamentos de automóveis

(b) Taxa de variação da variável da receita do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do setor automotivo

(c) Taxa de variação da variável do volume das operações de crédito ao setor privado – pessoas físicas

(d) Taxa de variação da variável do Produto Interno Bruto da Indústria da Construção

(e) Taxa de variação da variável do volume de operações de crédito ao setor privado no setor imobiliário

(f) Taxa de variação da variável de vendas reais no varejo de móveis e eletrodomésticos

(g) Taxa de variação da variável da receita do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de outros setores da economia

(h) Taxa de variação da variável da taxa de juros real

Gráfico 12 – Taxas de Variação das Variáveis Normalizadas do Estudo Fonte: elaboração própria.

O resultado obtido se deu nas seguintes variáveis: hiato dos licenciamentos

automotivos (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜), hiato da taxa de juros real (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡

𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙), hiato da arrecadação

com o IPI automotivo (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜), hiato das operações de crédito ao setor privado

– pessoas físicas (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣), hiato do desemprego (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡

𝑈𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡), hiato do

-0,30-0,20-0,100,000,100,200,300,40

200

4.0

1

200

4.0

4

200

5.0

3

200

6.0

2

200

7.0

1

200

7.0

4

200

8.0

3

200

9.0

2

201

0.0

1

201

0.0

4

201

1.0

3

201

2.0

2

201

3.0

1

201

3.0

4

201

4.0

3

-2,00

-1,00

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

200

4.0

1

200

4.0

4

200

5.0

3

200

6.0

2

200

7.0

1

200

7.0

4

200

8.0

3

200

9.0

2

201

0.0

1

201

0.0

4

201

1.0

3

201

2.0

2

201

3.0

1

201

3.0

4

201

4.0

3

-0,10

-0,05

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

200

4.0

1

200

4.0

4

200

5.0

3

200

6.0

2

200

7.0

1

200

7.0

4

200

8.0

3

200

9.0

2

201

0.0

1

201

0.0

4

201

1.0

3

201

2.0

2

201

3.0

1

201

3.0

4

201

4.0

3-0,10

-0,05

0,00

0,05

0,10

0,15

200

4.0

1

200

4.0

4

200

5.0

3

200

6.0

2

200

7.0

1

200

7.0

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200

8.0

3

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2

201

0.0

1

201

0.0

4

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1.0

3

201

2.0

2

201

3.0

1

201

3.0

4

201

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3

-0,10

-0,05

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

200

4.0

1

200

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200

5.0

3

200

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2

200

7.0

1

200

7.0

4

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3

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2

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3

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4

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3

-0,30-0,20-0,100,000,100,200,300,40

200

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1

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7.0

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4

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-0,40-0,30-0,20-0,100,000,100,200,300,40

200

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-40,00

-30,00

-20,00

-10,00

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2

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1

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3.0

4

201

4.0

3

Page 35: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

33

PIB da construção civil (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙), hiato das operações de crédito ao setor privado

– imobiliário (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶), hiato das vendas reais no varejo de móveis e

eletrodomésticos (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜) e hiato da arrecadação com o IPI de móveis e

eletrodomésticos (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜).

(a) Hiato dos licenciamentos

automotivos

(b) Hiato do PIB da construção civil (c) Hiato das vendas reais no varejo de

móveis e eletrodomésticos

(d) Hiato da arrecadação com o IPI

automotivo

(e) Hiato da arrecadação com o IPI de

móveis e eletrodomésticos

(f) Hiato da taxa de juros real

(g) Hiato das operações de crédito ao

setor privado – pessoas físicas

(h) Hiato das operações de crédito ao

setor privado – imobiliário

(i) Hiato do desemprego

Gráfico 13 – Variáveis de Hiato Fonte: elaboração própria.

Visto isso, as variáveis 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜 , 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡

𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 e 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜, quando

positivas, representam o excesso de demanda, enquanto que negativas, representam

a capacidade ociosa das indústrias analisada, sendo elas a automotiva, a de

construção civil e de móveis e eletrodomésticos, respectivamente. Já a variável

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙, quando positiva, significa uma politica monetária restritiva, sendo o

oposto, uma política monetária expansionista. Ainda nesse sentido, 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 e

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 representam, quando positivos, uma política fiscal restritiva e, caso

-0,30-0,20-0,100,000,100,200,300,40

200

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0,05

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-0,40-0,30-0,20-0,100,000,100,200,300,40

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-0,40-0,30-0,20-0,100,000,100,200,300,40

200

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0,05

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1

201

4.0

1

Page 36: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

34

contrário, uma política fiscal expansionista para os setores automotivos e móveis e

eletrodomésticos, respectivamente. 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 e 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡

𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 demonstram uma

política creditícia expansionista, quando positivas, e restritiva quando negativas. Por

fim, 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑈𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡

apresenta um aumento do desemprego se for positivo,

enquanto uma diminuição do desemprego quando negativo.

Variável Valores Positivos Valores Negativos

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜

Excesso de Demanda Capacidade ociosa da Indústria 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜

Política Fiscal Restritiva Política Fiscal Expansionista 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡

𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣

Política Creditícia Expansionista Política Creditícia Restritiva 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡

𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 Política Monetária Restritiva Política Monetária Expansionista

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑈𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡

Aumento do Desemprego Diminuição do Desemprego

Quadro 3 – Sumário das Variáveis de Hiato Fonte: Elaboração própria.

A partir das variáveis de hiato obtidas, testou-se a hipótese de raiz unitária,

visando comprovar que essas variáveis são estacionárias. Essa metodologia foi

utilizada no estudo, pois, apesar da análise do gráfico sugerir que não há raiz unitária,

optou-se pelo embasamento estatístico através do teste de Dickey-Fuller aumentado

(“ADF Test”), testando empiricamente se as séries seriam estacionárias. Assim,

conclui-se que todas as variáveis transformadas são estacionárias e permitem a

sequência do estudo.

Dado todo esse tratamento das variáveis, ainda se utilizou o quadrado de

algumas variáveis com o objetivo de identificar possíveis relações não lineares entre

essas variáveis e a variável dependente a cada modelo, sendo elas: (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣)²

e (𝐼𝑃𝐼𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜/𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼𝑡)².

Page 37: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

35

Tabela 1 – Teste de Raiz Unitária Teste ADF com Intercepto e Tendência

Variável Valor Crítico (5%) Valor Crítico (10%) Estatística t Probabilidade

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜 -3.523623 -3.192902 -8.303188 0.0000

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙

* -3.544284 -3.204699 -5.411184 0.0005

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 * -3.529758 -3.196411 -34.41281 0.0000

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜

-3.520787 -3.191277 -8.429442 0.0000

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜

-3.540328 -3.202445 -4.716172 0.0029

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣

-3.533083 -3.198312 -3.550402 0.0481

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶

-3.533083 -3.198312 -3.710218 0.0337

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙

-3.520787 -3.191277 -6.611049 0.0000

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑈𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡

-3.536601 -3.200320 -4.171531 0.0115

Fonte: elaboração própria. Nota: * teste ADF em primeira diferença.

Page 38: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

36

4. AS MEDIDAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS E SUA EFICÁCIA

A partir do exposto no capítulo anterior, passaremos a analisar a eficácia

das políticas anticíclicas adotadas pelo Brasil durante a crise financeira de 2008.

Assim, o foco desse estudo se dá no fato de verificar se tais medidas – fiscal,

monetária e creditícia – tiveram uma efetividade junto a seus objetivos, que de acordo

com o governo, eram a manutenção do emprego e aumento das vendas, ou seja,

incremento do produto interno desses setores.

Dito isso, os setores específicos que serão analisados são: (i) o setor

automotivo, que foi foco das medidas fiscal, com redução do Imposto sobre Produtos

Industrializados, da medida creditícia, com menores taxas de juros, que visava

aumentar a atratividade do financiamento desses bens, e da medida monetária; (ii) o

setor de construção civil, do qual o governo também reduziu impostos5, mas mais

intensivamente, focou-se em medidas monetárias e creditícias; e (iii) o de móveis e

eletrodomésticos, também chamado de “linha branca”, foco das três medidas

anticíclicas adotadas.

A metodologia aplicada às análises econométricas adotou o modelo de

estimação por mínimos quadrados ordinários (MQO), com dessazonalização das

séries através do IPCA, IGP-DI ou método X12 ARIMA.

Portanto, nesse capítulo, serão apresentados os principais resultados dos

testes econométricos realizados em complemento aos trabalhos abordados no

capítulo de revisão de literatura, utilizando como base o estudo de Moreira e Soares

(2010) e incluindo a variável de desemprego no estudo. Dessa maneira, o capítulo

será dividido, a seguir, na análise do setor automotivo no primeiro tópico, seguido pela

análise do setor de construção civil, a análise do setor de móveis e eletrodomésticos

no terceiro tópico e, por fim, a eficácia dessas medidas nos setores abordados,

estabelecendo um comparativo com os estudos anteriores.

5 O setor de construção civil foi amplamente afetado por políticas fiscais expansionistas, através de redução de impostos para bens da cadeia intermediária, tais como aço e concreto.

Page 39: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

37

4.1 Análise do Setor Automotivo

Dentre as principais medidas de combate à crise adotadas pelo governo

brasileiro, com foco no setor automotivo, podemos elencar a redução do imposto

sobre produtos industrializados e a expansão do crédito. Nesse sentido, a equação

que foi estimada para mostrar a eficácia dessas medidas com relação ao estímulo

desse setor, focando o estudo em aumento de vendas e manutenção do emprego, é

dada por:

𝐻𝑖𝑎𝑡�̂�𝐴𝑢𝑡𝑜

= �̂�0+ �̂�

1𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡+ �̂�

2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠

+ �̂�3𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 + �̂�

4𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�

5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜

+ �̂�6𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�

7𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 + �̂�

8𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣

∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�9(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣)2 + 𝑢𝑡

(1)

A partir da equação (1), observa-se a interferência do nível de emprego e

das medidas fiscal, monetária e creditícia no nível de vendas do setor automotivo, bem

como testamos se há alguma relação não-linear nesse modelo. Isso significa que um

aumento de 1% do hiato da taxa de desemprego no período anterior, ou seja, redução

do desemprego, leva a um aumento no hiato das vendas automotivas em 66,985% no

período seguinte, pois interfere, tanto diretamente na produção desses bens, quanto

proporciona fonte renda para o trabalhador comprar esse item. Essa interferência

pode ser percebida de maneira ainda mais acentuada durante a crise, representando

um aumento de 158,849%.

Do lado da política fiscal, obteve-se que um aumento do hiato do imposto

sobre produtos industrializados do setor automotivo em relação ao PIB reduz a

diferença do hiato automotivo em 23,672%, enquanto que no período da crise, ocorreu

o inverso, com crescimento do hiato das vendas automotivas em 4,687%,

corroborando com a teoria de que essa medida incentivou o consumo desses bens.

Isso se deve a uma expansão creditícia ainda mais forte, que proporcionou uma

explosão de vendas nesse setor, com aumento de 163,836% do hiato das vendas

Page 40: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

38

automotivas para cada expansão do hiato da razão crédito/PIB de 1%. Por fim, a

eficácia das medidas monetárias não foi comprovada durante a crise. Ainda assim, se

considerarmos uma estatística de significância de 10%, temos que uma redução do

volume do hiato de vendas automotivas na ordem de 0,381% para cada aumento de

1% no hiato da taxa de juros real da economia. Tanto a relação não linear, quanto o

intercepto foram estatisticamente não significativos, resultando em um processo

autorregressivo e de médias móveis (ARMA), 𝐴𝑅𝑀𝐴(1,17). A tabela 2 descreve o

resultado da estimação.

Tabela 2 – Estimativas da Equação (1) Hiato do Desemprego, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Produto Automotivo

Variável Coeficiente Desvio-Padrão Estatística t Probabilidade

𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑝𝑡𝑜 -0,013798 0,020335 -0,678543 0,5028

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡

0,669858 0,225259 2,973722 0,0059

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,918641 0,328018 2,800580 0,0090

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 -0,003811 0,001923 -1,981647 0,0571

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,007020 0,012178 -0,576416 0,5688

�̂�5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 -0,236725 0,058825 -4,024199 0,0004

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,283597 0,069666 4,070791 0,0003

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 + �̂�8 -0,281681 0,497398 -0,566310 0,5755

�̂�8𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 1,638365 0,825443 1,984832 0,0567

(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣)2 0,681782 5,629625 0,121106 0,9044

𝐴𝑅(1) -0,606455 0,157519 -3,850042 0,0006

𝑀𝐴(17) 0,916619 0,041514 22,07975 0,0000

R² 0,862791 Estatística F 16,57790

Estatística Durbin-Watson 2,501636 Prob(Est.F) 0,000000

Fonte: elaboração própria Nota: estimação realizada via metodologia dos mínimos quadrados ordinários (MQO)

Agora que foi visto que as políticas anticíclicas foram eficazes quando

tratamos do hiato do produto automotivo, devemos verificar se tais medidas

mantiveram o nível de emprego, conforme objetivo do governo quando do anúncio de

tais medidas. A partir da equação (2), descrita abaixo, notou-se que as políticas

monetária e fiscal tiveram eficácia na manutenção e geração de novos empregos,

enquanto que a política creditícia mostrou uma relação de não-linearidade e que

pouco interferiu na contenção dos efeitos da crise financeira de 2008.

Page 41: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

39

𝐻𝑖𝑎𝑡�̂�𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡

= �̂�0+ �̂�

1𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐴𝑢𝑡𝑜 + �̂�

2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐴𝑢𝑡𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�

3𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙

+ �̂�4𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 + �̂�

6𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜

∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�7𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 + �̂�

8𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠

+ �̂�9(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣)2 + 𝑢𝑡

(2)

Com isso, temos que o hiato da produção automotiva interfere diretamente

no nível de emprego desse setor, de forma geral, com variação de 37,666% para cada

1% de mudança nessa variável. No entanto, durante a crise, essa estatística não foi

significativa. A política monetária também foi eficaz, com uma estatística de

significância de 10%, bem como a política fiscal, cujos resultados demonstraram um

aumento no hiato do desemprego de 0,409% e 7,773%, respectivamente, em um

cenário sem a crise, e durante a crise, de aumento do hiato do desemprego de 1,762%

e queda de 0,132% para cada variação de 1% de cada uma dessas variáveis,

comprovando que as medidas tiveram eficácia.

Tabela 3 – Estimativas da Equação (2) – Hiato do Produto Automotivo, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Desemprego

Variável Coeficiente Desvio-Padrão Estatística t Probabilidade

𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑝𝑡𝑜 -0,039861 0,014657 -2,719526 0,0111

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐴𝑢𝑡𝑜 0,376666 0,075259 5,004894 0,0000

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐴𝑢𝑡𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,023856 0,129489 -0,184229 0,8552

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙

0,004098 0,000860 4,765992 0,0001

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,013519 0,007290 1,854481 0,0742

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 0,077731 0,026044 2,984571 0,0058

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,079048 0,028940 -2,731488 0,0108

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 0,323940 0,109147 2,967939 0,0061

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,051648 0,295121 0,175007 0,8623

(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣)2 13,60628 4,541803 2,995788 0,0057

𝐴𝑅(2) -0,747114 0,134195 -5,567387 0,0000

𝑀𝐴(14) -0,909952 0,034750 -26,18558 0,0000

R² 0,905034 Estatística F 24,25842

Estatística Durbin-Watson 1,973560 Prob(Est.F) 0,000000

Fonte: elaboração própria Nota: estimação realizada via metodologia dos mínimos quadrados ordinários (MQO)

Page 42: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

40

4.2 Análise do Setor de Construção Civil6

Replicando o estudo do setor automotivo para o setor de construção civil,

de grande importância pelo seu efeito multiplicador da economia, tem-se um modelo

econométrico, representado a seguir, que insere as principais medidas adotadas pelo

governo, dentre elas, a política monetária, com as taxas de juros e a política de

incentivo ao crédito mais barato através dos bancos públicos.

𝐻𝑖𝑎𝑡�̂�𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙

= �̂�0+ �̂�

1𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡+ �̂�

2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠

+ �̂�3𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 + �̂�

4𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�

5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶

+ �̂�6𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + 𝑢𝑡

(3)

Tabela 4 – Estimativas da Equação (3) – Hiato do Desemprego, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Produto da Construção Civil

Variável Coeficiente Desvio-Padrão Estatística t Probabilidade

𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑝𝑡𝑜 -0,001498 0,004280 -0,350058 0,7285

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡

0,429091 0,061511 6,975845 0,0000

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,296008 0,121261 2,441073 0,0200

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 -0,002500 0,000738 -3,386094 0,0018

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,007373 0,007008 1,052005 0,3002

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶

-0,311501 0,099581 -3,128107 0,0036

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,042502 0,130014 -0,326899 0,7457

𝑀𝐴(14) -0,865957 0,055210 -15,68487 0,0000

R² 0,808821 Estatística F 20,54911

Estatística Durbin-Watson 2,038126 Prob(Est.F) 0,000000

Fonte: elaboração própria Nota: estimação realizada via metodologia dos mínimos quadrados ordinários (MQO)

Nesse sentido, infere-se, a partir do resultado da regressão da equação (3),

representada pela tabela 4, que as variáveis do intercepto, dos hiatos da taxa de juros

e do crédito privado ao setor de construção civil, durante a crise, não são

6 Os efeitos da política fiscal sobre esse setor não foram testados, dado que tais políticas focaram na cadeia intermediária, tais como concreto e aço. No entanto, dado o crescimento significativo da demanda durante esse período, os preços dos bens finais apresentaram tendência de aumento, o que “mascarou” os efeitos das medidas de caráter anticíclico.

Page 43: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

41

estatisticamente significativas, resultando em um processo de médias móveis (MA),

𝑀𝐴(14). Com isso, nossa análise se traduz no fato de que apenas a manutenção do

emprego, durante a crise, foi capaz de incentivar o setor. Todas as demais variáveis

apresentaram interferência de maneira natural, quando o país não enfrentava a crise.

Dado que as medidas adotadas pelo governo brasileiro para incentivar o

produto da construção civil não surtiram efeitos, analisamos, também, sua eficácia

com relação ao nível de emprego, onde inferimos que as políticas creditícia e

monetária não incentivaram o setor durante a crise, pois, em adição à variável do

intercepto, todos os coeficientes não foram estatisticamente significativos. A equação

(4) representa o modelo de impacto das medidas implementadas para a manutenção

do emprego no setor da construção civil.

𝐻𝑖𝑎𝑡�̂�𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡

= �̂�0+ �̂�

1𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 + �̂�

2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�

3𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙

+ �̂�4𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�

5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 + �̂�6𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶

∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�7𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 + 𝑢𝑡

(4)

Tabela 5 – Estimativas da Equação (4) – Hiato do Produto da Construção Civil, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Desemprego

Variável Coeficiente Desvio-Padrão Estatística t Probabilidade

𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑝𝑡𝑜 -1,69E-05 0,012581 -0,001347 0,9989

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 0,681389 0,362317 1,880643 0,0733

�̂�2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,133821 0,521350 -0,256682 0,7998

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 -0,003018 0,001129 -2,672546 0,0139

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,002932 0,017978 0,163082 0,8719

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶

0,573330 0,226289 2,533621 0,0189

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,402532 0,375492 -1,072010 0,2953

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 0,890196 0,327849 2,715262 0,0126

𝐴𝑅(10) -0,565451 0,168909 -3,347668 0,0029

𝑀𝐴(4) 0,883545 0,087365 10,11331 0,0000

R² 0,695608 Estatística F 5,586142

Estatística Durbin-Watson 1,885563 Prob(Est.F) 0,000479

Fonte: elaboração própria Nota: estimação realizada via metodologia dos mínimos quadrados ordinários (MQO)

Page 44: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

42

Assim, temos que esse setor não sofreu interferências do governo durante

a crise financeira de 2008, dado que muitas das vendas trabalham com financiamento

que já eram subsidiados pelo Estado, e que esse setor não teve grandes impactos no

que diz respeito ao contágio da crise. A tabela 5 apresenta os resultados estatísticos

da regressão da equação (4), de processo 𝐴𝑅𝑀𝐴(10,4).

4.3 Análise do Setor de Móveis e Eletrodomésticos

O setor de móveis e eletrodomésticos, assim como o setor automotivo, teve

como medidas de combate à crise adotadas pelo governo brasileiro, a redução do

imposto sobre produtos industrializados, a expansão do crédito e a mudança da

política monetária. Nesse sentido, a equação que foi estimada para mostrar a eficácia

dessas medidas com relação ao estímulo desse setor, focando o estudo em aumento

de vendas, é dada por:

𝐻𝑖𝑎𝑡�̂�𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜

= �̂�0+ �̂�

1𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡+ �̂�

2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠

+ �̂�3𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 + �̂�

4𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�

5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜

+ �̂�6𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�7𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 + �̂�

8𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣

∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�9(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜)2 + 𝑢𝑡

(5)

Assim, a partir da equação (5), observa-se a interferência do nível de

emprego e das medidas fiscal, monetária e creditícia no nível de vendas do setor

moveleiro e de eletrodomésticos. Em outras palavras, conclui-se que um aumento de

1% do hiato da taxa de desemprego no período anterior, ou seja, redução do

desemprego, leva a uma queda no hiato das vendas desse setor em 25,652% no

período seguinte, com efeito contrário durante a crise, dado por um aumento do hiato

das vendas do setor na ordem de 24,686%.

Com relação à política monetária, as medidas do governo foram eficazes

tanto em período de crise, onde um aumento do hiato da taxa de juros real de 1%

Page 45: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

43

reduziria o hiato do consumo do setor de móveis e eletroeletrônicos em 1,181%, como

em períodos de estabilidade econômica, que, de certa forma, não resultaria em

grandes variações para o setor, com variação de 0,187%.

Do lado da política fiscal, obteve-se uma estimação de que um aumento do

hiato do imposto sobre produtos industrializados do setor em relação ao PIB aumenta

a diferença do hiato de vendas de móveis e eletroeletrônicos em 44,763% durante a

crise. Por fim, as medidas creditícias foram eficazes apenas durante o período que

abrangeu a crise financeira de 2008, considerando uma estatística de significância de

10%, afetando negativamente o hiato das vendas desse setor em 62,798% para um

acréscimo de 1% no hiato de crédito.

Portanto, nesse modelo com processo 𝐴𝑅𝑀𝐴(4,2), as variáveis do hiato do

crédito, intercepto, hiato do imposto sobre produtos industrializados do setor e a

relação não-linear, testadas, demostraram não ser estatisticamente significativas,

conforme demonstrado na tabela 6.

Tabela 6 – Estimativas da Equação (5) – Hiato do Desemprego, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Produto de Móveis e Eletrodomésticos

Variável Coeficiente Desvio-Padrão Estatística t Probabilidade

𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑝𝑡𝑜 -0,010183 0,020936 -0,486381 0,6308

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡

-0,256523 0,109140 -2,350405 0,0266

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,503385 0,213397 2,358907 0,0261

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 0,001870 0,000858 2,179339 0,0386

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,013683 0,004724 -2,896443 0,0076

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜

-0,014091 0,062231 -0,226423 0,8226

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,447636 0,103522 4,324051 0,0002

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 -0,083338 0,235353 -0,354097 0,7261

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,627988 0,306612 -2,048149 0,0508

(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜)2 7,07E-05 0,000190 0,371761 0,7131

𝐴𝑅(4) 0,906998 0,017692 51,26699 0,0000

𝑀𝐴(2) -0,932594 0,027264 -34,20612 0,0000

R² 0,974869 Estatística F 91,68917

Estatística Durbin-Watson 1,878167 Prob(Est.F) 0,000000

Fonte: elaboração própria Nota: estimação realizada via metodologia dos mínimos quadrados ordinários (MQO)

Page 46: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

44

Seguindo a mesma metodologia aplicada aos setores automotivo e de

construção civil, passaremos a estudar os efeitos das medidas anticíclicas

implementadas pelo governo no setor de móveis e eletrodomésticos na manutenção

do nível de emprego. Consequentemente, partir da equação (6), descrita abaixo,

notou-se que as políticas monetária, creditícia e fiscal tiveram eficácia na manutenção

e geração de novos empregos, inclusive com a política fiscal apresentando uma

relação de não-linearidade durante a crise financeira de 2008.

𝐻𝑖𝑎𝑡�̂�𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡

= �̂�0+ �̂�

1𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 + �̂�

2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�

3𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙

+ �̂�4𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 + �̂�

6𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜

∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�7𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 + �̂�8𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)

𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠

+ �̂�9(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜)2 + 𝑢𝑡

(6)

Por conseguinte, temos que o hiato da produção de móveis e

eletrodomésticos interfere diretamente no nível de emprego desse setor, de forma

geral, com variação negativa de 28,150% para cada 1% de mudança nessa variável

em um cenário sem a crise financeira, e, caso contrário, uma variação negativa de

58,799% ao nível de significância de 10%. A política monetária também foi eficaz, cujo

resultado demonstrou um aumento no hiato do desemprego de 0,371% quando não

havia crise financeira, em conjunto com a política creditícia, que proporcionava uma

variação de 55,244%.

Durante a crise, apenas as medidas fiscais de redução do imposto sobre

produtos industrializados desse setor que foram eficazes, com resultado de aumento

de 32,855% do hiato de vendas de móveis e eletrodomésticos para um aumento do

hiato do IPI desse setor em 1%. Esse modelo de processo de média móvel de ordem

8, ainda apresentou que as medidas anticíclicas do lado monetário e creditício não

tiveram eficácia, dado que não são estatisticamente significativas.

Page 47: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

45

Tabela 7 – Estimativas da Equação (6) – Hiato do Produto de Móveis e Eletrodomésticos, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Desemprego

Variável Coeficiente Desvio-Padrão Estatística t Probabilidade

𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑝𝑡𝑜 0,091860 0,030352 3,026439 0,0049

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 -0,281506 0,077240 -3,644546 0,0010

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,306482 0,164132 -1,867291 0,0713

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙

0,003714 0,000962 3,860426 0,0005

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,004523 0,008137 -0,555884 0,5823

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 -0,074125 0,090526 -0,818828 0,4191

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,328554 0,131992 2,489198 0,0184

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣

0,552441 0,166949 3,309035 0,0024

𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,258876 0,228659 1,132149 0,2663

(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜)2 -0,000889 0,000271 -3,277454 0,0026

𝑀𝐴(8) 0,854310 0,047204 18,09824 0,0000

R² 0,842643 Estatística F 16,60047

Estatística Durbin-Watson 2,580655 Prob(Est.F) 0,000000

Fonte: elaboração própria Nota: estimação realizada via metodologia dos mínimos quadrados ordinários (MQO)

4.4 A Eficácia das Medidas Anticíclicas Setoriais

Conforme visto nos estudos realizados para os setores automotivo, de

construção civil, e de móveis e eletrodomésticos, obtiveram-se resultados esperados

para o incentivo de cada setor, dadas as peculiaridades de cada um deles. Nesse

sentido, os setores que mais foram influenciados pelas medidas de políticas

anticíclicas implementadas pelo governo brasileiro foram o automotivo e de móveis e

eletrodomésticos. O setor de construção civil foi o único que não apresentou eficácia

das medidas durante a crise.

Setor Automotivo

Setor de Construção Civil

Setor de Móveis e Eletrodomésticos

Política Fiscal Eficaz Não testado Eficaz

Política Monetária Não comprovada Não eficaz Eficaz

Política Creditícia Eficaz Não eficaz Eficaz

Emprego Eficaz Eficaz Eficaz

Quadro 4 – A Eficácia das Medidas Anticíclicas no Incentivo ao Produto dos Setores Automotivo, de Construção Civil, e de Móveis e Eletrodomésticos durante a Crise Fonte: elaboração própria.

Page 48: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

46

A partir do quadro 4, podemos perceber que houve grande assertividade

do governo central na eficácia das medidas de política anticíclica no combate aos

efeitos da crise financeira de 2008, principalmente no que diz respeito às vendas nos

setores de bens duráveis, tais como o automotivo e o setor de móveis e

eletrodomésticos, que dependem de acesso a crédito e das condições de preço e

juros para financiamentos, e que, portanto, foram incentivados com tais medidas,

apresentando vendas significativas e crescentes durante esse período. Já o setor de

construção civil, por ser de bem imóvel, não foi influenciado, pois depende, mais

exclusivamente, de crédito, e já era foco de outros programas do governo brasileiro,

tais como o “Minha Casa, Minha Vida”, com taxas de juros de financiamento

subsidiadas.

Comparando os resultados obtidos da análise das medidas anticíclicas pela

ótica do incentivo aos setores com os estudos que embasaram esse estudo, pode-se

perceber que a eficácia das medidas adotadas foi, em grande maioria, coincidente.

Dito isso, no o setor automotivo, os resultados se alinharam fortemente com os

estudos da Nota Técnica 15 do IPEA (2009) e com Alvarenga et al. (2010), onde as

medidas anticrise foram eficazes nesse setor.

Analisando os resultados obtidos para o setor de construção civil, testado

apenas no estudo de Moreira e Soares (2010), as medidas de política fiscal e creditícia

coincidiram, sendo apenas a política monetária divergente entre as análises. Já no

setor de móveis e eletrodomésticos, o estudo desses autores concluiu que nenhuma

medida de combate aos efeitos da crise foi eficaz, enquanto que, em nossa conclusão,

todas as medidas resultaram eficazes para o setor.

É válido ressaltar, também, que onde os resultados coincidiram, alguns dos

coeficientes apresentados foram muito mais significativos, quando da mensuração

dos impactos, como, por exemplo, o impacto do emprego sobre a produção

automotiva na crise (aproximadamente 159%) quando da redução em 1% no Hiato do

Desemprego.

Assim como a eficácia sobre o produto dos setores, o quadro 5 resume a

eficácia das medidas anticíclicas no incentivo ao emprego durante o contágio da crise

Page 49: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

47

de 2008 no Brasil, onde percebemos que o setor de construção civil também não foi

afetado, dado que as construções demandam tempo e a demanda por esses bens

permaneceu elevada.

Setor Automotivo

Setor de Construção Civil

Setor de Móveis e Eletrodomésticos

Política Fiscal Não comprovada Não testado Eficaz

Política Monetária Não eficaz Não eficaz Não eficaz

Política Creditícia Não eficaz Não eficaz Não eficaz

Produto Não eficaz Não eficaz Não comprovada

Quadro 5 – A Eficácia das Medidas Anticíclicas no Incentivo do Emprego dos Setores Automotivo, de Construção Civil, e de Móveis e Eletrodomésticos durante a Crise Fonte: elaboração própria.

Por conseguinte, o setor de móveis e eletrodomésticos, apenas, foi capaz

de absorver tais medidas, para manter ou até mesmo incentivar o emprego, o que nos

permite concluir que as medidas do governo foram, de forma geral, ineficazes para

esses setores.

Page 50: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

48

5. CONCLUSÃO

A crise financeira de 2008-2009 se deu como resultado de inúmeros fatores

que, combinados, permitiram a eclosão de uma das piores crises de todos os tempos.

Fundamentada em integração e inovação financeira, com endividamento da economia

norte americana e expansão monetária promovida pelas políticas de acomodação

monetária do Federal Reserve, criou-se a condição ideal para a eclosão da crise.

A partir dessa constatação, e estabelecendo-se um paralelo com a teoria

de Minsky, conclui-se que, quanto maior a alavancagem financeira dos agentes e a

liquidez dos ativos no mercado, maior será o preço desses ativos. A demanda por tais

ativos também será maior que a oferta, o que exigiu a criação de novos ativos, dos

quais não se tem histórico sobre o retorno financeiro e que, portanto, tem sua

precificação fundamentada nas expectativas econômicas e de retorno possível. Em

caso de estabilidade econômica, obter-se-á lucros, incentivando os agentes a

aumentar ainda mais sua alavancagem, o que caracteriza esse modelo como pró-

cíclico. Desse cenário para a desalavancagem dos agentes e inversão desse ciclo,

chama-se de Crise de Minsky.

Essa foi exatamente a realidade percebida, com a criação de novos ativos,

de alta complexidade, que proporcionavam retornos expressivos aos investidores, que

demandavam ainda mais inovações, todas fundamentadas no mercado imobiliário. A

partir do momento de um choque, com aumento dos juros, o esquema Ponzi foi

desmantelado, o que iniciou um ciclo de inadimplência do setor imobiliário, gerando

uma corrida contra estes ativos, que desvalorizaram, aumentando a intensidade dessa

corrida, resultando em perdas para as instituições financeiras e paralisando o mercado

de crédito que, por fim, culminou em contágio para o lado real da economia.

Tal contágio se deu de diferentes maneiras e teve impactos diferenciados

em cada país. Assim, os principais mecanismos de transmissão responsáveis pelo

contágio da crise de 2008-2009 na economia internacional, de acordo com Lopes

(2009), foram o comércio internacional, a deterioração das expectativas dos agentes,

a destruição de valor causado pela queda dos preços dos ativos e a redução da

alavancagem do sistema financeiro internacional.

Page 51: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

49

Através da transmissão da crise pelos canais supracitados, tornou-se

possível o entendimento das consequências do desembarque dessa crise na

economia mundial, estabelecendo um paralelo entre os mecanismos de transmissão,

seus efeitos e as principais medidas de combate adotadas de maneira genérica,

entendendo que as condições combinadas da crise permitiram um contágio “fast and

furious” e afetaram praticamente todas as economias do planeta.

Por conseguinte, após o entendimento dos efeitos na economia

internacional, abordaram-se as consequências do alastramento da crise na economia

brasileira. A partir disso, ficou mais simples entender como foi o desembarque da crise

em território nacional, para que então, elencássemos as principais medidas

anticíclicas que visaram combater a crise em solo brasileiro. Dentre as principais

medidas adotadas, tivemos as políticas creditícias, monetárias e fiscais, com foco em

setores específicos da economia, das quais se verificou a eficácia como medida de

combate à crise.

Vimos, fundamentada em estudos dessa natureza realizados

anteriormente, e que embasaram esse estudo, que as medidas de combate aos

efeitos da crise de 2008 adotadas pelo governo brasileiro, tiveram sua eficácia

divergente de acordo com cada setor analisado. Para tanto, aplicou-se a teoria

econométrica em modelos que pretendiam mensurar o efeito de tais políticas no

incentivo ao produto e à manutenção do nível de emprego para os setores de móveis

e eletrodomésticos, automotivo, e de construção civil.

Nesse sentido, o setor menos afetado pelas medidas aplicadas pelo

governo brasileiro foi o de construção civil, pois não apresentou nenhuma variável

relacionada à crise com estatísticas significativas e, portanto, mostrou uma ineficiência

de política econômica. Isso é devido ao fato de que esse setor já vinha sendo

incentivado por outras políticas, como taxas de juros subsidiadas, principalmente pela

Caixa Econômica Federal (CEF) e pelo programa governamental “Minha Casa, Minha

Vida”. Além disso, dada uma oferta limitada desses bens, que demandam tempo para

serem finalizados e vendidos, a demanda ficou reprimida, o que permitiu um

sobreaquecimento desse setor, mesmo durante a crise financeira de 2008.

Por outro lado, os setores automotivos e de móveis e eletrodomésticos

demonstraram ser mais sensíveis às políticas de combate à crise, com alteração

Page 52: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

50

significativa de seus níveis de produto (vendas) e manutenção de emprego, com a

maioria das estatísticas do modelo apresentando significância. Dito isso, esses

setores dependem mais de crédito para parcelamento e de campanhas promocionais

com oferta de produtos mais baratos, pontos esses que foram diretamente afetados

com a redução de juros e aumento da oferta de crédito, e redução do imposto sobre

produtos industrializados, respectivamente, corroborando com a eficácia dessas

políticas econômicas direcionadas assumidas pelo governo.

Por fim, o governo, de forma geral, acertou em adotar tais medidas de

incentivo a determinados setores da economia de forma a combater os efeitos do

contágio da crise financeira de 2008. Mas será que apenas esses setores eram

merecedores de tais ações? E esses incentivos adotados ficaram vigentes pelo

melhor período de tempo? Dito isso, comprovou-se um benefício de curto prazo na

adoção dessas medidas de incentivo aos setores e à manutenção do nível de

emprego, mas abriu espaço para outros questionamentos, como a eficácia de longo

prazo, já que elevou os gastos do governo e reduziu sua arrecadação, que colocou as

contas públicas em um caminho de desregulação. Ainda assim, estudos dessa

natureza contribuem no fornecimento de elementos para a formulação de políticas

anticíclicas em outras circunstâncias.

Page 53: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

51

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Page 57: AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE …

55

APÊNDICE A – Variáveis Utilizadas e suas Transformações

A.1. As Variáveis Originais.

Tabela A.1 – Descrição das Variáveis de Estudo

Variável Sigla Unidade de

Medida Fonte

PIB - preços básicos 𝑌𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 R$ (milhões) IBGE/SNC

Taxa de juros - Over / Selic 𝑆𝐸𝐿𝐼𝐶 (% a.t.) BACEN, Boletim, Seção mercado financeiro e de

capitais

Inflação - IPCA 𝐼𝑃𝐶𝐴 (% a.t.) IBGE/SNIPC

Dummy de determinação da crise de 2008

𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 Binária 0 -> período fora da crise

1 -> período de crise

Taxa de desemprego na RMSP 𝑈𝑁𝐸𝑀𝑃𝐿𝑂𝑌𝑀𝐸𝑁𝑇 (% a.t.) Seade/PED

Licenciamentos - Automóveis - nacionais

𝐴𝑈𝑇𝑂 Unidades Anfavea

Imposto sobre produtos industrializados (IPI) - automóveis - receita bruta

𝐼𝑃𝐼𝐴𝑢𝑡𝑜 R$ (milhões) MF/SRF

Operações de crédito ao setor privado - pessoas físicas

𝐶𝑅𝐸𝐷𝑃𝑟𝑖𝑣 R$ (milhões) BACEN, Boletim, Seção

Moeda e Crédito

PIB - indústria - construção 𝑌𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 R$ (milhões) IBGE/SNC

Operações de crédito ao setor privado - imobiliário

𝐶𝑅𝐸𝐷𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 R$ (milhões) BACEN, Boletim, Seção

Moeda e Crédito

Inflação - IGP-DI 𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼 (% a.t.) FGV, Conjuntura Econômica - IGP

Vendas reais - varejo - móveis e eletrodomésticos

𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜 Índice (média 2011 = 100)

IBGE/PMC

Imposto sobre produtos industrializados (IPI) - outros - receita bruta

𝐼𝑃𝐼𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 R$ (milhões) MF/SRF

Fonte: elaboração própria

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A.2. As Transformações das Variáveis.

Tabela A.2 – Transformação das Variáveis de Estudo

Variável Original Variável Estacionarizada Variável em 1ª Diferença Variável Final

𝑌𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 - - -

𝑆𝐸𝐿𝐼𝐶 𝑟𝑡𝑟𝑒𝑎𝑙 𝑑(𝑟𝑡

𝑟𝑒𝑎𝑙) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙

𝐼𝑃𝐶𝐴

𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 - - -

𝑈𝑁𝐸𝑀𝑃𝐿𝑂𝑌𝑀𝐸𝑁𝑇 - 𝑑(𝑈𝑁𝐸𝑀𝑃𝐿𝑂𝑌𝑀𝐸𝑁𝑇) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑈𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡

𝐴𝑈𝑇𝑂 𝐴𝑈𝑇𝑂𝑡/𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 𝑑(𝐴𝑈𝑇𝑂𝑡/𝑌𝑡

𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜

𝐼𝑃𝐼𝐴𝑢𝑡𝑜 𝐼𝑃𝐼𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜/𝑌𝑡

𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 𝑑(𝐼𝑃𝐼𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜/𝑌𝑡

𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜

𝐶𝑅𝐸𝐷𝑃𝑟𝑖𝑣 𝐶𝑅𝐸𝐷𝑡𝑃𝑟𝑖𝑣/𝑌𝑡

𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 𝑑(𝐶𝑅𝐸𝐷𝑡𝑃𝑟𝑖𝑣/𝑌𝑡

𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣

𝑌𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 𝑌𝑡𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙/𝑌𝑡

𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 𝑑(𝑌𝑡𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙/𝑌𝑡

𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙

𝐶𝑅𝐸𝐷𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 𝐶𝑅𝐸𝐷𝑡𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙/𝑌𝑡

𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 𝑑(𝐶𝑅𝐸𝐷𝑡𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙/𝑌𝑡

𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶

𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼 - - -

𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜 𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜/𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 𝑑(𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜/𝑌𝑡

𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜

𝐼𝑃𝐼𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 𝐼𝑃𝐼𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜/𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼𝑡 𝑑(𝐼𝑃𝐼𝑡

𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜/𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼𝑡) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜

Fonte: elaboração própria

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57

ANEXO A – Medidas Anticíclicas Brasileiras

Em seguida serão detalhadas as mais importantes medidas anticíclicas e a

cronologia do combate à crise. Em especial, as medidas serão subdivididas pelos

meses de sua aplicação7.

Setembro de 2008

i. 19 de setembro de 2008: quatro dias após a falência do Lehman Brothers,

fato considerado marcante para a crise atingir níveis globais, a taxa de

câmbio brasileira sofria depreciação de 5%. Objetivando conter o

aprofundamento da depreciação ou, conforme Dornbusch (1976), evitar um

overshooting da taxa de câmbio, o BCB faz um leilão de US$ 500 milhões.

ii. 24 de setembro de 2008: o BCB, por meio da Circular n. 3.405, elevou de R$

100 milhões para R$ 300 milhões o valor a ser deduzido pelas instituições

financeiras do cálculo da exigibilidade adicional sobre os recursos à vista,

depósitos a prazo e depósitos de poupança. Adiou a implantação do

recolhimento do compulsório bancário sobre as operações de leasing. A data

para entrada em funcionamento da taxa de recolhimento de 25% sobre os

recursos captados foi transferida de 16 de janeiro para 13 de março de 2009.

Outubro de 2008

iii. 1º de outubro de 2008: o Banco do Brasil antecipa a liberação de crédito de

R$ 5 bilhões para o financiamento da safra agrícola.

iv. 2 de outubro de 2008: o BCB permite que os bancos reduzam em até 40% o

recolhimento do compulsório bancário, desde que comprem operações de

crédito de outras instituições financeiras. O objetivo, nesse caso, é permitir a

7 Essa seção foi extraída de Moreira e Soares (2010), páginas 36-39.

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transferência de carteiras de bancos que apresentassem problemas de

liquidez.

v. 6 de outubro de 2008: a Presidência da República edita a Medida Provisória

n. 442 dando poderes ao BCB para comprar carteiras de bancos sediados no

Brasil. Nesse caso, buscava-se demonstrar aos clientes dos bancos a

intenção do governo de defender os depósitos e, assim, evitar corridas

bancárias.

vi. 8 de outubro de 2008: tendo em vista a poderosa depreciação cambial, acima

de 9%, o BCB decide vender dólar no mercado à vista.

vii. 9 de outubro de 2009: na mesma semana em que foi editada a medida

provisória permitindo que o BCB comprasse carteiras de bancos com

problemas de liquidez, o CMN faz sua regulamentação.

viii. 13 de outubro de 2008: o BCB eleva o limite de dedução do compulsório

bancário com o objetivo de elevar a liquidez da economia.

ix. 14 de outubro de 2008: o BCB reduz de 45% para 42% a alíquota do

recolhimento compulsório e do encaixe obrigatório incidente sobre os recursos

à vista.

x. 16 de outubro de 2008: o BCB permite a venda de ativos entre os bancos com

o objetivo de aumentar a disponibilidade de caixa.

xi. 21 de outubro de 2010: é editada a Medida Provisória n. 443, que autoriza o

Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a constituírem subsidiárias e a

adquirirem participação em instituições financeiras sediadas no Brasil.

xii. 22 de outubro de 2008: o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é

reduzido à zero nas operações de liquidação de câmbio referentes à entrada

de investimentos no Brasil. Buscava-se estimular a entrada de capitais e,

dessa forma, reduzir a pressão sobre o mercado cambial.

xiii. 27 de outubro de 2008: os bancos que adiantassem sessenta contribuições

mensais ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) poderiam abater o respectivo

valor do depósito compulsório à vista. Ao desonerar o depósito compulsório,

esperava-se aumentar a liquidez da economia.

xiv. 30 de outubro de 2008: o Federal Reserve, banco central norte-americano, e

o BCB estabelecem linha de swap no montante de US$ 30 bilhões, com

vencimento em 30 de abril de 2009. O objetivo era melhorar a liquidez do

sistema financeiro internacional.

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xv. 30 de outubro de 2008: o BCB altera a remuneração do depósito compulsório

a prazo objetivando aumentar o crédito no mercado.

Novembro de 2008

xvi. 4 de novembro de 2008: o BCB altera as regras dos leilões de dólares para

financiar as exportações. Tendo em vista o já citado congelamento do

mercado de crédito comercial internacional, o BCB atuou no sentido de criar

crédito aos exportadores.

xvii. 6 de novembro de 2008: o governo federal libera créditos no montante de

US$ 6,9 bilhões para pequenas e médias empresas e para o setor

automobilístico.

xviii. 11 de novembro de 2008: o governo do Estado de São Paulo lança linha

de crédito de R$ 4 bilhões para o setor automotivo. No mesmo dia, a Caixa

Econômica Federal amplia o limite de empréstimos para a compra de

materiais de construção de R$ 7.000 para R$ 25.000.

xix. 12 de novembro de 2008: a Caixa Econômica Federal libera linha de crédito

para pessoa física de R$ 2 bilhões. O crédito era voltado para a compra de

eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, móveis e materiais de

construção.

xx. 13 de novembro de 2008: a partir de 1º de dezembro de 2008, o

recolhimento compulsório adicional sobre os depósitos à vista e a prazo e

sobre a poupança seriam feitos com base em títulos públicos. Com isso,

era ampliada a capacidade de financiamento do setor público.

xxi. 14 de novembro de 2008: a Presidência da República edita a Medida

Provisória n. 447, que estendeu em dez dias o prazo de recolhimento do

Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), do Imposto de Renda Retido

na Fonte (IR) e da Contribuição Previdenciária. Além disso, o prazo de

recolhimento do Programa de Integração Social e da Contribuição para o

Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) foi estendido em cinco

dias. Estimava-se que a mudança na data de recolhimento dos impostos

contribuiria com R$ 21 bilhões para o caixa das empresas.

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60

xxii. 21 de novembro de 2008: é editado um decreto reduzindo o IOF de 3,38%

para 0,38% nos financiamentos de motocicletas, motonetas e ciclomotores.

Dezembro de 2008

xxiii. 11 de dezembro de 2008: o Decreto n. 6.687 reduziu as alíquotas do IPI

incidentes sobre a venda de veículos e caminhões. Tal medida vigoraria de

15 de dezembro de 2008 a 31 de março de 2009.

xxiv. 11 de dezembro de 2008: o Decreto n. 6.691 reduziu as alíquotas do IOF

incidentes sobre operações de crédito com pessoas físicas.

xxv. 15 de dezembro de 2008: é anunciada pelo governo federal, por meio da

Medida Provisória n. 451, a alteração nas alíquotas do Imposto de Renda

das Pessoas Físicas (IRPF).

Janeiro de 2009

xxvi. 22 de janeiro de 2009: é editada a Medida Provisória n. 453, que constitui

fonte adicional de recursos para o Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) no valor de R$ 100 bilhões, cujo objetivo era

aumentar a disponibilidade de crédito de longo prazo.

Ainda no ano de 2009, a implementação de medidas anticíclicas teve conti-

nuidade. Pode-se destacar a redução das alíquotas do IPI incidentes sobre os eletro-

domésticos da linha branca. Também foram desonerados temporariamente do IPI os

bens de capital e os materiais de construção. Em relação ao crédito, outras medidas

também foram adotadas, como a redução da taxa de juros de longo prazo (TJLP).