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GUILHERME AUGUSTO TOSATO AS NOVAS EXIGÊNCIAS DO CORPO DE BOMBEIROS DA PMPR DE CONTROLE DE MATERIAIS DE ACABAMENTO E REVESTIMENTO PARA EDIFICAÇÕES ANTIGAS E EXISTENTES PERTENCENTES AO GRUPO F, DIVISÃO F-6 VERSUS O DIREITO ADQUIRIDO CASCAVEL 2014

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GUILHERME AUGUSTO TOSATO

AS NOVAS EXIGÊNCIAS DO CORPO DE BOMBEIROS DA PMPR DE CONTROLE DE MATERIAIS DE ACABAMENTO E REVESTIMENTO

PARA EDIFICAÇÕES ANTIGAS E EXISTENTES PERTENCENTES AO GRUPO F, DIVISÃO F-6 VERSUS O DIREITO ADQUIRIDO

CASCAVEL 2014

GUILHERME AUGUSTO TOSATO

AS NOVAS EXIGÊNCIAS DO CORPO DE BOMBEIROS DA PMPR DE CONTROLE DE MATERIAIS DE ACABAMENTO E REVESTIMENTO

PARA EDIFICAÇÕES ANTIGAS E EXISTENTES PERTENCENTES AO GRUPO F, DIVISÃO F-6 VERSUS O DIREITO ADQUIRIDO

Artigo científico apresentado à disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica como requisito parcial para a conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu – Especialização em Direito Militar Contemporâneo do Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada da Universidade Tuiuti do Paraná. Orientador: Dr. Jorge da Silva Giulian.

CASCAVEL 2014

AS NOVAS EXIGÊNCIAS DO CORPO DE BOMBEIROS DA PMPR DE CONTROLE DE MATERIAIS DE ACABAMENTO E REVESTIMENTO PARA EDIFICAÇÕES ANTIGAS E

EXISTENTES PERTENCENTES AO GRUPO F, DIVISÃO F-6 VERSUS O DIREITO ADQUIRIDO

RESUMO

Em 18 de fevereiro de 2014, o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do

Paraná divulgou a Portaria nº 001, a qual versa sobre exigências de Controle de

Materiais de Acabamento e Revestimento para edificações antigas e existentes

pertencentes ao Grupo F – Locais de Reunião de Público do Código de Segurança

Contra Incêndio e Pânico, Divisão F-6 (casas noturnas). Com essa Portaria tais

exigências seriam aplicadas inclusive às edificações que estivessem completa e

legalmente regularizadas anteriormente à vigência do Novo Código de Segurança

Contra Incêndio e Pânico do Corpo de Bombeiros, passando então, para a

irregularidade caso não atendessem. O objetivo desse estudo foi de verificar a

aplicabilidade do Direito Adquirido por parte de tais edificações, previsto no Artigo 5º

da Constituição Federal de 1988, contra as exigências supracitadas. Além disso,

verificar a influência do assunto perante a sociedade e a inviolabilidade da

incolumidade pública.

Palavras-chave: Controle de materiais de acabamento e revestimento. Direito

Adquirido. Segurança Contra Incêndio.

NUEVOS REQUISITOS DEL CUERPO DE BOMBEROS DE LA PMPR DE

CONTROL DE MATERIALE DE ACABADO Y REVESTIMIENTO PARA EDIFICIOS

VIEJOS Y EXISTENTE PERTENENCIA AL GRUPO F, F-6 DIVISION VERSUS LOS

DERECHOS ADQUIRIDOS

RESUMEN

El 18 de febrero de 2014, el Cuerpo de Bomberos de la Policía Militar del

Paraná emitió la Ordenanza N º 001, que se ocupa de requisitos de control de

materiales de acabado y de revestimiento para el viejo y los edificios existentes en el

Grupo F - Lugares de reunión pública Código de seguridad contra incendios y

Pánico División F-6 (discotecas). Con esta Ordenanza incluyendo los edificios que

estaban completos y legalmente regularizado antes de la vigencia del Nuevo Código

de Seguridad Contra Incendios y Pánico del Cuerpo de Bomberos, a continuación,

se mueven al caso la irregularidad no se cumplen tales requisitos se aplicarían. El

objetivo de este estudio fue evaluar la aplicabilidad de la Ley Adquirida por tales los

edificios tal como se establece en el artículo 5 de la Constitución Federal de 1988,

en contra de los requisitos anteriores. Además, revise la influencia del sujeto ante la

sociedad y la inviolabilidad de la seguridad pública.

Palabras clave: Control de materiales de acabado y de revestimiento. Derecho

adquirido. Seguridad contra Incendios.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6

2 O CMAR APLICADO A EDIFICAÇÕES ANTIGAS E EXISTENTES PERANTE O

EMBASAMENTO TÉCNICO E LEGAL DE ENCONTRO AO DIREITO ADQUIRIDO . 8

2.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL .................................................................................. 8

2.1.1 Direito Adquirido ................................................................................................. 8

2.1.2 Ato Jurídico Perfeito ........................................................................................... 9

2.1.3 Coisa Julgada ................................................................................................... 10

2.2 SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO ................................................. 10

2.2.1 Legalidade da fiscalização realizada pelos Corpos de Bombeiros ................... 11

2.2.1.1 Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná ......................................... 12

2.3 LEGALIDADE PERANTE AS NORMAS ESPECÍFICAS ..................................... 13

2.3.1 Normas Brasileiras Regulamentadoras ............................................................ 14

2.3.2 Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico .............................................. 15

2.3.2.1 Definição de Edificação Nova, Antiga e Existente ......................................... 15

2.3.2.2 Medidas de Segurança Contra Incêndio ....................................................... 16

2.4 CONFLITO ENTRE LEGISLAÇÃO NOVA E EDIFICAÇÕES ANTIGAS E

EXISTENTES ............................................................................................................ 18

2.4.1 Efeito Boate Kiss – Santa Maria/RS ................................................................. 19

2.5 CONFLITO ENTRE O DIREITO ADQUIRIDO E OS DIREITOS À SEGURANÇA,

VIDA .......................................................................................................................... 21

3 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 23

4 ANEXOS ................................................................................................................ 25

5 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 27

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AS NOVAS EXIGÊNCIAS DO CORPO DE BOMBEIROS DA PMPR DE CONTROLE DE MATERIAIS DE ACABAMENTO E REVESTIMENTO

PARA EDIFICAÇÕES ANTIGAS E EXISTENTES PERTENCENTES AO GRUPO F, DIVISÃO F-6 VERSUS O DIREITO ADQUIRIDO

Guilherme Augusto Tosato1

1 INTRODUÇÃO

O Corpo de Bombeiros, integrante da Polícia Militar do Paraná, tem por

competências o previsto na Constituição do Estado do Paraná em seu Art. 48:

“Art. 48. À Polícia Militar, força estadual, instituição permanente e regular, organizada com base na hierarquia e disciplina militares, cabe a polícia ostensiva, a preservação da ordem pública, a execução de atividades de defesa civil, prevenção e combate a incêndio, buscas, salvamentos e socorros públicos, (...)” (PARANÁ, 1989).

Por meio de Vistorias em estabelecimentos e Análises de Planos de

Segurança Contra Incêndio e Pânico, o órgão atua na Prevenção.

As suas normativas e exigências estão explicitadas no Código de Segurança

Contra Incêndio e Pânico, em vigor desde 8 de janeiro de 2012. Dentre os diversos

itens a serem verificados e medidas de segurança a serem aplicadas para tornarem

uma edificação segura está o Controle de Materiais de Acabamento de

Revestimento (CMAR), regulado pela Norma de Procedimento Técnico (NPT) nº

010. Basicamente, é uma medida a limitar o uso a determinados materiais com o

intuito de redução da propagação de chama e emissão de fumaça e gases tóxicos à

saúde humana.

Em 18 de fevereiro de 2014, o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do

Paraná divulgou a Portaria nº 001, a qual versa sobre exigências de aplicação da

NPT 010 para edificações antigas e existentes pertencentes ao Grupo F – Locais de

1 Nascido em 3 de fevereiro de 1991. Bacharel em Segurança Pública pelo Curso de Formação de

Oficiais Bombeiro-Militar da Polícia Militar do Paraná na Academia Policial-Militar do Guatupê em 2011. Atualmente é o Chefe do Serviço Contra Incêndio e Pânico do 9º Grupamento de Bombeiros, sediado em Foz do Iguaçu.

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Reunião de Público do Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico, Divisão F-6

(casas noturnas). Essa medida veio após ao evento ocorrido em Santa Maria, Rio

Grande do Sul: um grande incêndio em uma boate chamada Kiss que resultou na

morte de 242 pessoas, muitas delas pela inalação de gases tóxicos.

Todavia, tal medida de segurança não possuía regulamentação e,

obviamente, não era cobrada anteriormente à vigência do CSCIP em 2012. Mesmo

as edificações antigas e existentes perfeitamente regulares e com Certificado de

Liberação do Corpo de Bombeiros agora (com a Portaria 001/14 do Comando do

Corpo de Bombeiros) deveriam alterar suas características originais, disponibilizar

grandes quantias para arcar com os custos com o objetivo de atender essas novas

exigências.

Nesse sentido, apresenta-se a seguinte pergunta de pesquisa:

As novas exigências de Controle de Materiais de Acabamento e

Revestimento para edificações antigas e existentes pertencentes ao Grupo F –

Locais de Reunião de Público do Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico,

Divisão F-6 por parte do Corpo de Bombeiros da PMPR ferem o Direito Adquirido da

Constituição Federal?

Como hipótese de pesquisa tem-se que edificações antigas e existentes

pertencentes ao à Divisão anteriormente citada teriam Direito Adquirido ferido pelas

novas exigências de Controle de Materiais de Acabamento e Revestimento.

O objetivo geral da pesquisa:

Objetivo geral é elencar os elementos conceituais e aplicar o Direito

Adquirido previsto na Constituição Federal de 1988 em edificações antigas e

existentes pertencentes ao Grupo F – Locais de Reunião de Público do Código de

Segurança Contra Incêndio e Pânico, Divisão F-6.

Objetivos específicos

I. Caracterizar edificações antigas e existentes e fundamentar a não cobrança

do CMAR à época.

II. Verificar a necessidade e aplicabilidade do Controle de Materiais de

Acabamento e Revestimento.

III. Constatar a aplicabilidade do Direito Adquirido.

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2 O CMAR APLICADO A EDIFICAÇÕES ANTIGAS E EXISTENTES PERANTE O

EMBASAMENTO TÉCNICO E LEGAL DE ENCONTRO AO DIREITO ADQUIRIDO

2.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A Constituição Federal de 1988 é a atual Carta Magna da República

Federativa do Brasil. Considerada a mais abrangente entre as constituições

brasileiras, com destaque para os vários aspectos que garantem o acesso à

cidadania, motivo pelo qual assumiu o apelido de constituição cidadã.

Os princípios fundamentais do ser humano, como a vida, a liberdade e a

propriedade, estão todos previstos no art. 5° da Constituição Federal.

Diversas garantias dos direitos jurisdicionais, processuais e de direito

material são asseguradas pelo texto Constitucional. Restrições a direitos somente

são permitidos com a observância de todas as garantias constitucionais.

Os direitos de tal Artigo estão numerados em 78(setenta e oito) incisos.

Dentre eles, especialmente nesse estudo, verifica-se o previsto no inciso XXXVI: “a

lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;”

(BRASIL, 1988).

Esse inciso constitui cláusula pétrea, não podendo ser abolido por Emenda

Constitucional. A interpretação desse inciso é fundamental para a conclusão desse

estudo.

2.1.1 Direito Adquirido

De acordo com o § 2º do Art. 6º do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro

de 1942:

“§ 2º - Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.”(BRASIL, 1942)

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Em jurisprudência do Supremo Tribunal Federal SS: 4170 SP , Relator: Min.

Presidente, Data de Julgamento: 06/04/2010, Data de Publicação: DJe-068 DIVULG

16/04/2010 PUBLIC 19/04/2010, verifica-se que

“A retroatividade da lei nova só não é possível naquilo que diz respeito às normas de competência estabelecidas no regime da lei anterior. A isto se chama direito adquirido. Em outras palavras, se a lei antiga contém normas que estabelecem as condições para que alguém se veja constituído em tais e quais direitos, diz-se que, satisfeitas essas condições, ou seja, incidindo plenamente a norma de competência, esses direitos estão adquiridos e se encontram no abrigo da lei velha, a salvo, portanto, da incidência da lei nova. Porém, o princípio do direito adquirido não protege o sujeito contra os efeitos retroativos de uma lei no que diz respeito à incidência de novas normas de conduta.”(STF, 2010).

É o direito de seu titular poder exercê-lo, ou alguém por ele. Vantagem legal,

adquirida nos termos da lei aplicável no momento e incorpora definitivamente a sua

herança.

2.1.2 Ato Jurídico Perfeito

De acordo com Livia Tuvacek:

“É o ato consumado sobre a norma de conduta da norma antiga não pode ser atingido pela lei posterior. A diferença entre o ato jurídico perfeito e o direito adquirido é que o primeiro protege o titular (o sujeito do direito adquirido) que exerceu seu direito conforme as normas de conduta já o segundo protege a situação de titular já adquirida. Um exemplo clássico para ilustrar tal instituto é a necessidade de ser titular do direito de propriedade de imóvel para aliená-lo, mas para realizar a venda é preciso conformar-se as normas de conduta que disciplinam o ato de vender. Uma lei nova pode alterar as normas de conduta que regulam o ato de vender, mas não atingem se o ato já foi consumado, sendo assim um ato jurídico perfeito.” (TUVACEK, 2013).

Um ato jurídico perfeito é um ato realizado de acordo com a legislação

existente, antes da promulgação de qualquer alteração e que cumpriu os requisitos

formais para ser válida. Então significa que é aquele que, sob o regime de lei, foi

capaz de dar à luz a seu efeito, após a devida a verificação de todos os requisitos

essenciais.

10

2.1.3 Coisa Julgada

De acordo com o § 3º do Art. 6º do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro

de 1942:

“§ 3º - Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.” (BRASIL, 1942)

Resumidamente, coisa julgada é aquilo que passou por julgamento. Ilana

Flávia Cavalcanti Silva afirma que:

“A coisa julgada é instituto protegido pela Constituição, que, ao lado dos institutos do direito adquirido e do ato jurídico perfeito, previstos como direitos fundamentais do ordenamento jurídico brasileiro, consagra os princípios constitucionais da segurança e da certeza jurídicas.” (SILVA, 2005)

Importa ressaltar, inclusive, que disposta entre os direitos fundamentais do

Estado de Direito, a coisa julgada constitui cláusula pétrea, não podendo ser abolida

por Emenda Constitucional.

2.2 SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO

A segurança contra incêndio é o conjunto de ações e recursos internos e

externos à edificação e áreas de risco que permite controlar a situação de incêndio.

Cabe ao Serviço de Prevenção Contra Incêndio e Pânico (SPCIP) do Corpo de

Bombeiros da Polícia Militar do Paraná (CBPMPR) desenvolver as atividades

relacionadas à prevenção e proteção contra incêndio nas edificações e áreas de

risco, observando-se o cumprimento das exigências estabelecidas no Código de

Segurança Contra Incêndio e Pânico (CSCIP) do CBPMPR.

O CSCIP é a atual norma vigente no Estado do Paraná que regula as

normativas relacionadas a Prevenção. Foi lançado em 8 de outubro de 2011,

assinado pelo Cel. QOBM Hércules William Donadello, passando a vigorar em toda

a Unidade Federativa a partir de 8 de janeiro de 2012. Revogou o Código de

11

Prevenção de Incêndios do Corpo de Bombeiros da PMPR instituído pela Diretriz n°

001/2001 de 01 de fevereiro de 2001.

O CSCIP tem como objetivos o previsto no Art. 2º:

“I - proteger a vida dos ocupantes das edificações e áreas de risco, em caso de incêndio; II - dificultar a propagação do incêndio, reduzindo danos ao meio ambiente e ao patrimônio; III - proporcionar meios de controle e extinção do incêndio; IV - dar condições de acesso para as operações do Corpo de Bombeiros; V - proporcionar a continuidade dos serviços nas edificações e áreas de risco.” (CSCIP, 2011).

2.2.1 Legalidade da fiscalização realizada pelos Corpos de Bombeiros

Pela Carta Magna, as atividades dos Corpos de Bombeiros estão previstas

no §5º, Art. 144:

“§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.” (BRASIL, 1988).

Entende-se como defesa civil:

“É o conjunto de medidas permanentes que visam evitar, prevenir ou minimizar as consequências dos eventos desastrosos e a socorrer e assistir as populações atingidas, preservando seu moral, limitando os riscos de perdas materiais e restabelecendo o bem-estar social.” (DEFESA CIVIL DO ESTADO DO PARANÁ).

Prevenção de Incêndio é o conjunto de medidas que visam evitar o incêndio;

permitir o abandono seguro dos ocupantes da edificação e áreas de risco; dificultar a

propagação do incêndio; proporcionar meios de controle e extinção do incêndio e

permitir o acesso para as operações do Corpo de Bombeiros.

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2.2.1.1 Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná

A Constituição do Estado do Paraná de 1989 prevê a atuação do Corpo de

Bombeiros, integrante da Polícia Militar do Paraná, em seu Art. 48:

“Art. 48. À Polícia Militar, força estadual, instituição permanente e regular, organizada com base na hierarquia e disciplina militares, cabe a polícia ostensiva, a preservação da ordem pública, a execução de atividades de defesa civil, prevenção e combate a incêndio, buscas, salvamentos e socorros públicos, o policiamento de trânsito urbano e rodoviário, de florestas e de mananciais, além de outras formas e funções definidas em lei.” (PARANÁ, 1989).

As vistorias do Corpo de Bombeiros no Estado do Paraná são

regulamentadas pelo Decreto Lei nº 13976 de 26 de dezembro de 2002, o qual criou

o Fundo Estadual do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná, com a finalidade de

prover recursos para aplicação em despesas correntes e de capital nas ações

administrativas e operacionais do Corpo de Bombeiros, pela Lei nº14.278 de 07 de

janeiro de 2004, que altera o anexo único da Lei 13.976/2002 e, pela Lei nº 16.567

de 09 de setembro de 2010, que institui normas gerais para a execução de

atividades concernentes à prevenção e combate à incêndio:

“II - atividades de prevenção e combate a incêndios: a) edição de normas para a instituição de medidas de segurança; b) as operações de combate a incêndio; c) a supervisão sobre a atividade de bombeiros civis; d) a definição técnica de hidrantes e outros equipamentos, a serem observadas pelo prestador do serviço público de abastecimento de água; e) o exercício do poder de polícia administrativo, visando assegurar o adequado cumprimento das normas de prevenção e combate ao incêndio, inclusive por meio de:

1. análise e aprovação de planos de segurança, de projetos de edificação e de áreas de risco; 2. autorização para que determinado imóvel ou espaço possa ser utilizado; 3. ações de vistoria e de requisição e análise de documentos; 4. declaração de que determinada área é de risco, inclusive com interdição de seu acesso a pessoas não expressamente autorizadas; 5. realização de perícias técnicas e estudos visando avaliar as causas de incêndio, bem como o desempenho das medidas de segurança;” (PARANÁ, 2010)

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2.3 LEGALIDADE PERANTE AS NORMAS ESPECÍFICAS

O objetivo desse estudo foi de verificar a aplicabilidade do Direito Adquirido

ante as exigências de Controle de Materiais de Acabamento e Revestimento para

edificações antigas e existentes pertencentes ao Grupo F – Locais de Reunião de

Público do Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico, Divisão F-6 por parte do

Corpo de Bombeiros da PMPR.

As exigências supracitadas entraram em vigor com a publicação da Portaria

nº 001, de 18 de fevereiro de 2014, do Comando do Corpo de Bombeiros da PMPR

(Anexo – Figura 1). Em especial, a aplicação do Art. 1º:

“Art. 1° O Serviço de Prevenção Contra Incêndio e Pânico – SPCIP, deverá observar, em todo o âmbito do Corpo de Bombeiros da PMPR, para a adequação de edificações antigas e existentes pertencentes ao Grupo F – Locais de Reunião de Público do Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico (CSCIP), Divisão F-6, o contido na NPT-10 - Controle de Materiais de Acabamento e Revestimento (CMAR). Parágrafo Único: A presente disposição se aplica especificamente às edificações ocupadas como casas noturnas, boates e casas de Shows.” (PORTARIA 001, 2014).

Primeiramente, o conceito de materiais de acabamento, revestimento e

termo-acústicos, são encontrados na Norma de Procedimento Técnico (NPT) nº 010

do CBPMPR:

“4.2 Materiais de revestimento: todo material ou conjunto de materiais empregados nas superfícies dos elementos construtivos das edificações, tanto nos ambientes internos como nos externos, com finalidades de atribuir características estéticas, de conforto, de durabilidade etc. Incluem-se como material de revestimento, os pisos, forros e as proteções térmicas dos elementos estruturais. 4.3 Materiais de acabamento: Todo material ou conjunto de materiais utilizados como arremates entre elementos construtivos (rodapés, mata-juntas, golas etc.). 4.4 Materiais termo-acústicos: Todo material ou conjunto de materiais utilizados para isolação térmica e/ou acústica.” (NPT 010, 2012)

O controle dos mesmos, perante a Prevenção de Incêndio, objetiva aplicar

as condições a serem atendidas pelos materiais de acabamento e de revestimento

empregados nas edificações, para que, na ocorrência de incêndio, restrinjam a

14

propagação de fogo e o desenvolvimento de fumaça propiciando assim, o acesso

das pessoas à local seguro e facilitar a extinção de princípios de incêndio.

2.3.1 Normas Brasileiras Regulamentadoras

As Normas Brasileiras Regulamentadoras (NBRs) são documentos emitidos

pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a qual é:

“(...) órgão responsável pela normalização técnica no Brasil, fornecendo a base necessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro. Trata-se de uma entidade privada e sem fins lucrativos e de utilidade pública, fundada em 1940” (ABNT, 2013)

As NBRs que tratam do controle de materiais de acabamento e de

revestimento são as seguintes:

NBR 8660 - Revestimento de piso - determinação da densidade

crítica de fluxo de energia térmica – método de ensaio.

NBR 9442 - Materiais de construção - determinação do índice de

propagação superficial de chama pelo método do painel radiante -

método de ensaio.

Ambas tratam de métodos de ensaio. A primeira objetiva:

“1.2 O índice obtido por este ensaio é aplicável para medir e descrever a propriedade de um material manter a chama na sua superfície, quando exposto à radiação térmica; não deve ser utilizado para fixar o grau de segurança ao incêndio. Os valores obtidos permitem, entretanto, verificar comparativamente qual o material mais conveniente para a segurança ao incêndio, por ocasião do levantamento dos fatores que fixam este grau de segurança para um projeto particular, face ao incêndio real.” (NBR 8660, 1984)

A segunda:

“1.1 O índice obtido por este ensaio é aplicável para medir e descrever a propagação superficial de chama nos materiais e não deve ser utilizado para fixar o grau de segurança contra incêndio; entretanto, os valores obtidos permitem verificar comparativamente qual o material mais conveniente para a segurança contra incêndio, por ocasião do levantamento dos fatores que fixam este grau de segurança para um projeto particular face a incêndio real.” (NBR 9442, 1986)

15

Essas duas normativas definem as bases da NPT nº 010 do CBPMPR, a

qual aplica o controle de materiais de acabamento e revestimento no Estado do

Paraná.

2.3.2 Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico

A aplicação do CSCIP é prevista no Art. 5º do mesmo:

“Artigo 5º – As exigências de segurança previstas neste Código se aplicam às edificações e áreas de risco no Estado do Paraná, devendo ser observadas, em especial, por ocasião da: I - construção de uma edificação ou área de risco; II - reforma de uma edificação; III - mudança de ocupação ou uso; IV - ampliação de área construída; V - aumento na altura da edificação; VI - regularização das edificações ou áreas de risco.” (CSCIP, 2012)

Entende-se que tal aplicação se dá tanto em edificações novas, como para

antigas e existentes (desde que enquadradas em algum dos incisos).

2.3.2.1 Definição de Edificação Nova, Antiga e Existente

Como edificação nova se entende: edificação que tenha sido construída ou

possua Alvará de Construção emitido e aprovado pela prefeitura municipal local

posteriormente 8 de janeiro de 2012.

A definição de edificação antiga é: edificação que comprovadamente foi

construída anteriormente ao ano de 1976, desde que mantidas as mesmas áreas e

ocupações da época de sua construção.

Por edificação existente se entende: edificação que tenha sido construída ou

possua Alvará de Construção emitido e aprovado pela prefeitura municipal local

16

depois de 1976 e anteriormente a 8 de janeiro de 2012, desde que mantidas as

áreas e ocupações constantes do respectivo Alvará.

2.3.2.2 Medidas de Segurança Contra Incêndio

As Medidas de Segurança contra Incêndio estão previstas no Art. 23 do

CSCIP, dentre elas, no inciso V, “controle de materiais de acabamento”.

Para dimensionamento das medidas de segurança em uma edificação, o

Código orienta nos Art. 24 e 25:

“Artigo 24º – Na implementação das medidas de segurança contra incêndio, as edificações e áreas de risco devem atender às exigências contidas neste capítulo e nas tabelas de exigências anexas a este Código. Parágrafo único – Consideram-se obrigatórias as medidas de segurança assinaladas com “X” nas tabelas de exigências, devendo ser observadas as ressalvas, em notas transcritas logo abaixo das referidas tabelas. Artigo 25º – Cada medida de segurança contra incêndio, constante das tabelas 4, 5, 6 (6A a 6M), 7, deve obedecer aos parâmetros estabelecidos na NPT respectiva.” (CSCIP, 2012)

Como descrito no Art. 24, cada Ocupação de Edificações deve ter as

medidas de segurança implementadas conforme previsto nas tabelas específicas,

anexas no Código.

Tendo em vista a edificação com ocupação pertencente ao Grupo F – Locais

de Reunião de Público do Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico, Divisão

F-6, (boates, clubes em geral, salões de baile, restaurantes dançantes, clubes

sociais, bingo, bilhares, tiro ao alvo, boliche e assemelhados), as medidas de

segurança a serem aplicadas são:

Controle de Materiais de Acabamento, Saídas de Emergência,

Iluminação de Emergência, Sinalização de Emergência, Extintores,

Brigada de Incêndio (exigido para lotação superior a 100 pessoas),

para edificações com área menor que 1.000m² e/ou altura igual ou

inferior a 6,0m. (Anexo – Figura 2)

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Acesso de Viatura na Edificação, Segurança Estrutural contra

Incêndio, Compartimentação Horizontal (áreas), Compartimentação

Vertical, Controle de Materiais de Acabamento, Saídas de

Emergência, Plano de Emergência (somente para locais com público

acima de 1.000 pessoas), Brigada de Incêndio, Iluminação de

Emergência, Detecção de Incêndio (para os locais onde haja carga de

incêndio como depósitos, escritórios, cozinhas, pisos técnicos, casa

de máquinas etc. e nos locais de reunião onde houver teto ou forro

falso com revestimento combustível), Alarme de Incêndio, Sinalização

de Emergência, Extintores, Hidrante e Mangotinhos, para área igual

ou superior a 1.000m² e/ou altura superior a 6,0m (Anexo – Figura 3).

De acordo com o CSCIP do CBPMPR, Norma de Procedimento Técnico é “o

documento elaborado pelo CBPMPR que regulamenta os procedimentos técnicos

referentes à segurança contra incêndio e pânico das edificações e áreas de risco”

(CBPMPR, 2012).

A NPT nº 010 tem por objetivo:

“Esta Norma de Procedimento Técnico estabelece as condições a serem atendidas pelos materiais de acabamento e de revestimento empregados nas edificações, para que, na ocorrência de incêndio, restrinjam a propagação de fogo e o desenvolvimento de fumaça, atendendo ao previsto no Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico das edificações e áreas de risco do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná.” (NPT 010, 2012)

Esta NPT classifica os materiais do piso, paredes e divisórias e do forro, com

critérios avaliados por meio de ensaios, estabelecendo índices mínimos que devem

ser exigidos para todas as Ocupações as quais o CSCIP impor o controle de

materiais de acabamento e revestimento (CMAR).

Lançada na mesma data do Código, passou a vigorar em 8 de janeiro de

2012. Antes dessa data, o CBPMPR nunca tinha cobrado ou exigido a utilização

dessa medida de segurança.

Com certeza é um grande avanço para a segurança das edificações, pois o

CMAR limita (ou quase inibe) a propagação do fogo e gera índices mínimos de

emissão de fumaça e, consequentemente, significativa diminuição dos gases

tóxicos, muitos letais aos seres humanos.

18

O grande problema encontrado pelos proprietários de edificações ou

responsáveis pelo uso das mesmas quanto ao CMAR está no elevado preço dos

produtos disponíveis no mercado, os quais chegam a custar em torno de quatro a

vinte vezes mais caros que os materiais ditos “convencionais”.

2.4 CONFLITO ENTRE LEGISLAÇÃO NOVA E EDIFICAÇÕES ANTIGAS E

EXISTENTES

No item anterior, elencou-se a importância e a efetividade da segurança que

o CMAR gera nas edificações em geral. Todavia, também verificou-se que os custos

desse tipo de material são mais elevados que os ditos “convencionais”.

As edificações antigas e existentes, definidas no item 2.3.2.1 deste Artigo, à

sua época de construção ou regularização estavam sujeitas ao antigo Código do

CBPMPR, chamado Código de Prevenção de Incêndios 2001 (CPI 2001), como

afirma Gerson Luiz Carneiro:

“A partir de 2001, o Governo do Estado do Paraná aprovou lei especifica criando o Fundo do Corpo de Bombeiros, o que requer eu a criação de uma legislação estadual para a proteção contra incêndio s, sendo promulgada a Portaria 001/2001 do Comando do Corpo de Bombeiros, que institui o Código de Prevenção de Incêndios do Paraná.” (CARNEIRO, 2010).

Esse Código foi um marco no avanço da Prevenção de Incêndios no Estado

do Paraná, entretanto, comparado ao CSCIP 2012, trazia pouquíssimas exigências,

principalmente no que diz respeito aos aspectos estruturais das edificações, como

afirmam Vânia Cristina Teixeira e Doralice Ap. Favaro Soares ao comparar o Código

atual com o anterior:

“Modificações foram introduzidas no Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico (2012) como a compartimentação, que visa reduzir o risco de propagação do fogo. Na proteção estrutural do imóvel a exigência não constava no Código anterior, a mesma situação obteve maior importância para o material de acabamento. Seguindo a mesma prerrogativa, as saídas de emergência devem possuir escadas pressurizadas e sistema de controle da fumaça, com mapa de risco do local afixado em destaque.” ().

19

No CPI 2001 não se encontra menção a controle de materiais de

acabamento e revestimento, mesmo que já existisse legislação federal que

abordasse o assunto: a NBR 8660, de novembro de 1984, e a NBR 9442, de agosto

de 1986.

Portanto, verifica-se que o Corpo de Bombeiros da PMPR somente passou a

exigir o CMAR com a vigência do novo Código em 8 de janeiro de 2012.

Salienta-se que anteriormente ao CSCIP 2012 as edificações também

passavam por fiscalização por parte do CBPMPR. Inúmeras foram aprovadas e

receberam Laudos de Vistoria e Certificados de Vistoria, garantindo o total

funcionamento e garantia de segurança segundo as normas vigente à época.

O Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico 2012 ressalta essa

legitimidade. Em seu artigo 5º (citado no item 2.3.2 deste Artigo) verifica-se que

edificações e áreas de risco somente deverão atender as exigências de segurança

previstas nele por ocasião de construção de uma edificação ou área de risco (ou

seja, para edificações novas), reforma de uma edificação, mudança de ocupação ou

uso, ampliação de área construída, aumento na altura da edificação ou

regularização das edificações ou áreas de risco.

Presume-se que uma edificação ou área de risco que não sofreu nenhuma

das observâncias anteriores não necessita atender esse novo Código, muito menos

as exigências de CMAR, as quais surgiram somente a partir dele. Logicamente, essa

suposição vale para as edificações legalmente regularizadas à sua época, inclusive

perante Corpo de Bombeiros.

2.4.1 Efeito Boate Kiss – Santa Maria/RS

Um grande incêndio ocorreu na Boate Kiss, em 27 de janeiro de 2013, na

cidade de Santa Maria, estado do Rio Grande do Sul. A ocorrência matou 242

pessoas e feriu outras 116.

O incêndio na casa noturna principiou-se ao contato de um sinalizador,

aceso por um membro de uma banda que se apresentava naquele instante, com o

material de revestimento acústico do teto. A imprudência e a falta de segurança

mataram as mais de duzentas pessoas presentes no local.

20

“A espuma usada no teto da boate Kiss, altamente inflamável e que produz gás cianídrico quando entra em combustão, foi a causa da morte das 235 vítimas do incêndio da boate Kiss, na madrugada de domingo. A conclusão da polícia se baseou em mais uma sessão de perícia nos escombros da casa noturna, realizada nesta quinta-feira, e que recolheu restos do material que não queimou no incêndio. A espuma, usada especialmente sob o teto do palco, ocupava cerca de um terço da área da boate, de 615 metros quadrados. Nas áreas onde não havia espuma, segundo a investigação da polícia, praticamente não houve danos causados pelo incêndio.” (ILHA, 2013).

A repercussão do incêndio foi internacional. A população e o Governo

Brasileiro passaram a cobrar que atitudes preventivas fossem tomadas em todas as

casas de show do Brasil para que nunca mais ocorresse um evento tão desastroso

no território nacional.

No âmbito do território do Estado do Paraná, o comandante do Corpo de

Bombeiros da PMPR instituiu a Portaria nº 04, de 07 de fevereiro de 2013, como

sendo uma resposta imediata à população às autoridades, com o intuito de evitar

novos acontecimentos semelhantes ao citado. Esta Portaria definiu procedimentos

para adequação de edificações pertencentes ao Grupo F – Locais de Reunião de

Público do Código de Segurança Contra Incêndios e Pânico do Corpo de Bombeiros

do Estado do Paraná (CSCIP) Divisões F-1 (Museus, centro de documentos

históricos, galerias de arte, bibliotecas e assemelhados), F-2 (Igrejas, capelas,

sinagogas, mesquitas, templos, cemitérios, crematórios, necrotérios, salas de

funerais e assemelhados), F-5 (Teatros em geral, cinemas, óperas, auditórios de

estúdios de rádio e televisão, auditórios em geral e assemelhados) e F-6 (Boates,

clubes em geral, salões de baile, restaurantes dançantes, clubes sociais, bingo,

bilhares, tiro ao alvo, boliche e assemelhados) no tocante a Controle de Materiais de

Acabamento e Revestimento.

A Portaria nº 04/13 foi, no ano de 2014, revogada pela Portaria 01 do

Comando do Corpo de Bombeiros, objeto desse estudo.

21

2.5 CONFLITO ENTRE O DIREITO ADQUIRIDO E OS DIREITOS À SEGURANÇA,

VIDA

Uma edificação, como Pessoa Jurídica, construída e regularizada

anteriormente o Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico, em vigor a partir de

2012, têm os direitos previstos no inciso XXXVI do Art. 5º da Constituição Federal: “a

lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;”

(BRASIL, 1988).

Portanto, entende-se que no momento que surge uma legislação retroagindo

sobre um ato jurídico perfeito, ferindo o direito adquirido da Pessoa Jurídica.

“A regra adotada pelo ordenamento jurídico é de que a norma não poderá retroagir, ou seja, a lei nova não será aplicada às situações constituídas sobre a vigência da lei revogada ou modificada (princípio da irretroatividade). Este princípio objetiva assegurar a segurança, a certeza e a estabilidade do ordenamento jurídico.” (BIJOS, 2013)

Todavia, no caso da Boate Kiss, verificado no item 2.4.1 desse estudo,

mesmo que a edificação estivesse regularizada à época, a Legislação de Segurança

desse período não foi suficiente para garantir a incolumidade pública.

André Ramos Tavares conceitua direitos sociais como direitos que:

“exigem do Poder Público uma atuação positiva, uma forma atuante de Estado na implementação da igualdade social dos hipossuficientes. São, por esse exato motivo, conhecidos também como direitos a prestação, ou direitos prestacionais.” (TAVARES, 2012).

A Constituição Federal garante no caput do Art. 5º que será garantido “aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à

liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 1988).

O primeiro dos direitos apresentados é o direito à vida, e ele não foi

colocado nessa posição aleatoriamente. O direito à vida é o mais fundamental de

todos os direitos, já que se constitui em pré-requisito à existência e exercício de

todos os demais direitos.

“A Constituição Federal proclama, portanto, o direito à vida, cabendo ao Estado assegurá-lo em sua dupla acepção, sendo a primeira relacionada ao

22

direito de continuar vivo e a segunda de se ter vida digna quanto à subsistência.” (DINIZ, 2009)

O procurador Daniel de Resende Salgado afirma que:

“(...) a segurança pessoal é uma variável importante a ser considerada nas discussões e estratégias de respeito aos direitos humanos. Tanto quanto a saúde, a educação e o trabalho, a segurança é um dever do Estado democrático perante seus cidadãos.” (SALGADO, 2012)

O direito à segurança também aparece no caput do Artigo 5º. O Estado tem

o compromisso de manutenção da segurança, a qual entende-se por relativa

proteção da exposição a riscos de qualquer tipo.

Assim sendo, como garantia dos direitos à vida, segurança, com a

manutenção da incolumidade pública o Governo do Estado do Paraná, representado

pelo Corpo de Bombeiros no tocante a Segurança Contra Incêndio, aplica suas

Normas e tem a competência para legislar acerca de tal assunto.

Um local de reunião de público, do tipo casa noturna, (Divisão F-6 do

CSCIP) caso não atenda ao controle de materiais de acabamento e revestimento,

previsto na NPT 010 do CSCIP e obrigatória aplicação em edificações antigas e

existentes de tal divisão na Portaria 01/2014 do Comando do Corpo de Bombeiros, é

uma real ameaça à vida e segurança das pessoas que estão nesses ambientes,

com principal exemplo o ocorrido na Boate Kiss.

Portanto, é legítima a cobrança do CMAR para edificações antigas e

existentes (mesmo que possuam regularização anterior à vigência do Código 2012)

para ocupações de reunião de público, da Divisão F-6 (casas noturnas), para a

manutenção das garantias fundamentais: vida e segurança.

23

3 CONCLUSÃO

O Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná é o Órgão Público

competente para avaliar, regular e cobrar as Medidas de Segurança que devem ser

atendidas pelas edificações e áreas de risco. Dentre essas medidas, se encontra o

Controle de Materiais de Acabamento e Revestimento (CMAR) o qual visa, durante a

ocorrência de um incêndio, restringir a propagação de fogo e o desenvolvimento de

fumaça e propiciar dessa maneira o acesso das pessoas à local seguro e facilitar a

extinção de princípios de incêndio.

Essa é uma medida de segurança inegavelmente eficaz e eficiente no

cumprimento de sua função. Considera-se de fundamental importância sua

aplicação em edificações e áreas de risco, principalmente em locais de reunião de

público.

Entretanto, tal medida passou a ser implementada somente a partir de 8 de

janeiro de 2012 em edificações novas, construídas depois dessa data, ou

edificações existentes que foram enquadradas em reforma, mudança de ocupação

ou uso, ampliação de área construída, aumento na altura, ou que necessitem de

regularização. Teoricamente, as edificações antigas e existentes que foram

construídas anteriormente à vigência do Código de Segurança Contra Incêndio e

Pânico não necessitariam aplicar essa medida.

Porém, após o “Efeito Boate Kiss” em todo território nacional, o Corpo de

Bombeiros da PMPR lançou a exigência de que todas as edificações classificadas

na divisão F-6 (casas noturnas, boates) deveriam atender as exigências de CMAR,

independente de possuírem Laudos de Vistoria do Corpo de Bombeiros ou qualquer

outra liberação. Esse fato pareceu ferir o Direito Adquirido da época, ainda mais

para as edificações que cumpriram o Ato Jurídico Perfeito.

Nesse estudo buscou-se aplicar o Direito Adquirido, que define-se como o

direito que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo

começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição preestabelecida inalterável, a

arbítrio de outrem, nas edificações Antigas e Existentes, desobrigando-as do uso do

CMAR por comprovação desse Direito.

Todavia, tendo em vista o princípio de manutenção da incolumidade pública,

o qual é dever do Estado, e de manutenção do Direito à vida e à segurança,

24

verificou-se que são de maior importância sobre qualquer outro ato jurídico ou direito

adquirido.

Portanto, é legal a exigência por parte do Corpo de Bombeiros de aplicação

do CMAR a qualquer edificação enquadrada na divisão F-6 e, mais que isso, de

fundamental importância que isso ocorra e que as edificações sejam completamente

fiscalizadas para o cumprimento das exigências, com a finalidade de continuidade

do bem-estar social.

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4 ANEXOS

Figura 1 - Portaria nº 001, de 18 de fevereiro de 2014.

26

Figura 2 - Tabela 5 do CSCIP

Figura 3 - Tabela 6 do CSCIP

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5 REFERÊNCIAS

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28

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