as evidÊncias em cardiologia - multiperfil.co.ao · • considerado um novo paradigma na prática...
TRANSCRIPT
AS EVIDÊNCIAS EM CARDIOLOGIA DOS ESTUDOS À PRÁTICA CLÍNICA
Dr. Osvaldo AK Lourenço08 de outubro de 2017
Sumário
• Medicina Baseada em Evidência: o que é?
• O papel do julgamento clínico na abordagem do paciente
• Aplicação da BEM na prática clínica diária
• Nível de evidência
• Discussão de casos clínicos
Caso clínico
• Mulher de 67 anos de idade, negra, professora universitária. IMC=32. Actualmente está bem, apesar de algumas vezes ter palpitações taquicárdicas que duram alguns minutos; PA 188/102 mmHg, FC 89 bpm. Não fuma, não bebe. É diabética há cerca de 6 anos. Nunca teve evento CV grave.
• Medicação: Metformina+Sitagliptina (50/1000 mg). sem medicação anti-hipertensiva.
Caso clínico
Exames:
– Lab: LDL=130 mg/dl, CT=222, HDL=54, TG normais. Ureia = 43, creatinina 1.3 (VN < 1.3). HbA1C = 7.9%, Glicose 140 mg/dl
– ECG: sinusal, alteração inespecífica da repolarização.
– ECOTT: remodelamento concêntrico, FEVE 65%, restante OK.
– Holter: ritmo de base sinusal, períodos de fibrilação atrial com FC ~ 102 bpm
No começo era assim…
“É necessário estudar tudo aquilo que se pode ver, sentir e ouvir”
"Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panacea… aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e
entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém…”
… para cá
• No século XX, a medicina incorporou inovações tecnológicas importantes, sobretudo acerca do diagnóstico.
• A precisão da análise dos pacientes possibilitou uma série de novas perspectivas aos profissionais da área, tornando o trabalho mais dinâmico e os resultados mais eficazes.
1. LIMA, Darcy. História da medicina. Editora Medsi, 2003
Medicina Baseada em Evidências (MBE)
• Movimento surgido na década de 90
• Seus principais objectivos
– Melhorar os procedimentos diagnósticos
– Melhorar os endpoints do tratamento
• Considerado um novo paradigma na prática médica
• Ideia de que a opinião de especialista, julgamento clínico e o raciocínio mecanístico são menos confiáveis
1. Desmond J. Sheridan. J Am Coll Cardiol 2016;68:204–13
2. Health 2003;7:267-82.
Conquistas e Limitações
1. Assumiu a agenda para decidir o futuro da medicina;
2. The Cochrane Collaboration;
3. Maior número de ensaios e revisões de ensaios clínicos;
4. Maior interesse pelas diretrizes para melhorar a prática clínica
5. Reforma da ética e profissionalismo médicos para melhor prática clínica.
1. Visão restrita sobre as evidências: o julgamento clínico e o raciocínio mecanístico são formas menos confiáveis de evidência em medicina
2. Limitação dos ensaios clínicos
1. Desmond J. Sheridan. J Am Coll Cardiol 2016;68:204–13
Julgamento Clínico & Medicina Baseada emEvidências: o momento da reconciliação
• “Conflito” entre médicos mais experientes e especialistas mais jovens;
• Pontos de vistas diametralmente opostos;
• Opiniões extremas
• Animosidade
1. Ganesan Karthikeyan & Prem Pais. Indian J Med Res 132, November 2010, pp 623-626
Julgamento clínico
• Clínico dotado de sabedoria infinita e de uma clarividência deslumbrante, muito respeitado;
• Mais sobre o clínico do que sobre o julgamento
• Processos cognitivos envolvidos na tomada de decisão clínica
• Aplicação adequada de conhecimentos geral e conhecimentos individuais ao problema em questão
O alguns pensam? O que é
Ganesan Karthikeyan & Prem Pais. Indian J Med Res 132, November 2010, pp 623-626
O “problema” da experiência individual…
• Influenciado por vieses e preconcepções pessoais
• Tendência para pensamento heurístico: reduzir a complexa tarefa de avaliar probabilidades e prever valores, para operações de julgamento mais simples;
• Influenciado pelos resultados em um paciente similar que tratou anteriormente (a heurística de representatividade) e qualquer (facilmente lembrados) resultados dramáticos com o tratamento (a heurística de disponibilidade)
Medicina Baseada em Evidências
• Adesão servil à evidência externa ou extrapolação sem sentido dos resultados dos ensaios clínicos.
• capacidade do clínico de compreender a natureza e a força da evidência e aplicá-la adequadamente a pacientes individuais no seu cuidado
• Essa capacidade de avaliar a evidência externa disponível no contexto de pacientes é julgamento clínico.
O alguns pensam? O que é
Ganesan Karthikeyan & Prem Pais. Indian J Med Res 132, November 2010, pp 623-626
Evidence Based Medicine Working Group. JAMA 1992;268:2420-5.
O Que é MBE?
“Uso consciente, explícito e criterioso da melhor evidência disponível ao tomar decisões sobre o cuidado de pacientes
individuais“
"Aquele que estuda medicina sem livros navega num mar desconhecido, mas ele que estuda medicina sem pacientes não
vai ao mar“ - Sir William Osler
1. Sackett DL et al. BMJ 1996;312:71
2. Osler W. Books and men. In: Aequanimitas, With Other Addresses to Medical Students, Nurses and Practitioners of Medicine
A evolução da evidência e do conceito de MBE
• Sempre houve BEM
• Outro significado de “evidência”
• Experiência individual do médico era a maior e a fonte mais fácil da evidência disponível;
• O tempo mudou
1. Ganesan Karthikeyan & Prem Pais. Indian J Med Res 132, November 2010, pp 623-626
O motivo do “conflito”
• As limitações dos ensaios clínicos e das revisões sistemáticas
• Preconceitos e ideias erradas sobre BEM:
– Rebaixa o julgamento clínico
– Não se aplica aos cuidados de pacientes individuais
– Ignora os valores e preferências do paciente
1. Ganesan Karthikeyan & Prem Pais. Indian J Med Res 132, November 2010, pp 623-626
O motivo do “conflito”
• As limitações dos ensaios clínicos e das revisões sistemáticas
• Preconceitos e ideias erradas sobre BEM:
– Rebaixa o julgamento clínico
– Não se aplica aos cuidados de pacientes individuais
– Ignora os valores e preferências do paciente
1. Ganesan Karthikeyan & Prem Pais. Indian J Med Res 132, November 2010, pp 623-626
O motivo do “conflito”
• As limitações dos ensaios clínicos e das revisões sistemáticas
• Preconceitos e ideias erradas sobre MBE:
– Rebaixa o julgamento clínico
– Não se aplica aos cuidados de pacientes individuais
– Ignora os valores e preferências do paciente
1. Ganesan Karthikeyan & Prem Pais. Indian J Med Res 132, November 2010, pp 623-626
O que é evidência
• Prova de que um tratamento é melhor do que o tratamento anterior, ou que este cura a doença do paciente
• Não é absoluta
• Diferentes níveis segundo a ausência de vieses
• Onde buscar a evidência?
1. Indian Journal of Ophthalmology Vol. 61 No. 5. Em http://www.ijo.in
2. CriticalCareNurse Vol 34, No. 2, APRIL 2014
Onde buscar as evidencias
• Busca em periódicos primários
– Revistas
• Busca em bancos de dados eletrônicos
– Medline (pubmed)
– Embase
• Cochrane library
• Sociedades e organizações oficiais
Questionário Modelo PICO
INTERVENÇÃOO que desejo fazer ao paciente?Exame diagnóstico, tratamento, procedimento
PACIENTE /POPULAÇÃO
Quem é o meu paciente?Idade, sexo, raça, estado de saúde, nível económico
COMPARAÇÃO Quais são as alternativas a considerar?Outro tratamento ou procedimento? Conduta expectante
OUTCOME (RESULTADO)
Qual o objectivo da minha intervenção?Melhor diagnóstico? aliviar ou melhorar os sintomas? manter a qualidade de vida? evitar complicação?
MBE
Sackett DL et al. BMJ 1996;312:71Rosenberg W, Donald A. Evidence based medicine: An approach to clinical problem-solving. BMJ. 1995;310:1122-1126
O lugar da MBE e do Julgamento Clínico
• A MBE exige apenas que o clínico suficientemente
– Esteja familiarizado com a base de evidências na sua especialidade e
– seja capaz de avaliá-lo objetivamente, para que
– possa aplicá-lo adequadamente na prática.
• A MBE é uma fase importante na evolução da prática da medicina, que tenta fornecer cuidados médicos de alta qualidade de maneira uniformemente .
Caso clínico
• Mulher de 67 anos de idade, negra, professora universitária. IMC=32. Actualmente está bem, apesar de algumas vezes ter palpitações taquicárdicas que duram alguns minutos; PA 188/102 mmHg, FC 89 bpm. Não fuma, não bebe. É diabética há cerca de 6 anos. Nunca teve evento CV grave.
• Medicação: Metformina+Sitagliptina (50/1000 mg). sem medicação anti-hipertensiva.
Caso clínico
Exames:
– Lab: LDL=130 mg/dl, CT=222, HDL=54, TG normais. Ureia = 43, creatinina 1.3 (VN < 1.3). HbA1C = 7.9%, Glicose 140 mg/dl
– ECG: sinusal, alteração inespecífica da repolarização.
– ECOTT: remodelamento concêntrico, FEVE 65%, restante OK.
– Holter: ritmo de base sinusal, períodos de fibrilação atrial com FC ~ 102 bpm
Quem é a nossa paciente?
1. mulher de 67 anos,
2. hipertensa não controlada,
3. diabética não controlada,
4. obesa grau I
5. fibrilação auricular paroxística
O que queremos fazer com a Sra?
1. Tratar diabetes
2. Tratar hipertensão
3. Dar antiagregante
4. Dar anticoagulante
5. Dar estatina
6. Reduzir o peso
Dar antiagregante plaquetário
1. Dar antiplaquetário
Aspirina
Clopidogrel
Prasugrel
Ticagrelol
2. Não dar antiplaquetário
Low dose aspirin at cardiovascular risk people: randomized trial in general pratice
• In presence of at least one major risk factor, low-dose aspirin given in addition to treatment of specific risk factors contributes an aditional preventive effect, with an acceptable safety profile
1. Lancet 2001; 357: 89–95
• Routine use of aspirin for primary prevention is not warranted and treatment decisions need to be considered on a case-by-case basis
In this study of patients with type 2 diabetes without a history of atherosclerotic disease, low-dose aspirin as primary prevention did not reduce the risk of cardiovascular events.
Devo dar estatina? Qual?
• Statin and Aspirin Therapy for the Prevention of Cardiovascular Events in Patients With Type 2 Diabetes Mellitus: CT Trial
1. Lancet. 2008;371:117–125. © (2008)high-risk diabetic patients receive statin therapy for primary prevention of CV events regardless of baseline lipid levels
Anticoagulação
1. Anticoagulante?
1. Warfarina?
2. NACO’s
2. Antiplaquetário apenas
3. ACo + Antiplaquetário
Qual melhor anti-hipertensivo? Monoterapia ou múltiplas drogas?
1. IECA/BRA
Captopril, Enalapril, Ramipril
Losartana, Candesartana
2. BCC?
3. Diurético?
4. Betabloquador?
5. Combinação?
Tratar o diabetes mellitus - Comparar
1. Manter Janumet
2. Adicionar glicazida/glibenclamida?
3. Trocar por um inibidor do co-transporte Na-Glucose?
ex: Canagliflozina, dapagliflozina, e empagliflozina
• 39% relative risk reduction in HHF,
• 51% reduction in all-cause death,
• 46% reduction in the HHF or death composite
RESULTADOS
P-value for SGLT2i vs other glucose-lowering drug: <0.001 Heterogeneity p-value: 0.166
Slide cedido por:Circulation. 2017;136:249–259.
Quais os resultados queremos atingir?
1. Evitar ou reduzir o risco das complicações cardiovasculares
Conclusões
• A prática do MBE é obrigatória para todos e, embora inicialmente tediosa, melhora significativamente o atendimento ao paciente.
• A prática de MBE não é apenas uma ferramenta de pesquisa para publicar artigos, mas é essencial para gerenciar adequadamente os pacientes em um nível individual.
• Todos os níveis de evidência, embora não tão importantes, são necessários na prática clínica.
Bibliografia consultada
1. Sackett DL Et Al. Bmj 1996;312:71
2. Rosenberg W, Donald A. Evidence Based Medicine: An Approach To Clinical Problem-solving. Bmj. 1995;310:1122-1126
3. Mary H. Peterson, Et Al. Choosing The Best Evidence To Guide Clinical Practice: Application Of AACN Levels Of Evidence. Criticalcarenurse Vol 34, No. 2, April 2014
4. Sackett DL, Straus SE, Richardson WS, Rosenberg W, Haynes RB. Evidence-based Medicine: How To Practice And Teach EBM. 2nd Ed. Edinburgh & New York: Churchill Livingstone, 2000. P. 1.
5. Hisao Ogawa, et al. JAMA. 2008;300(18):2134-2141
6. Otávio Berwanger. Evidence-Based Cardiology: Where to Find Evidence. Arquivos Brasileiros de Cardiologia - Volume 86, Nº 1, Janeiro 2006